As fases da poesia de Drummond
Objetivos-Analisar nos poemas inditos a gnese da formao potica
de Carlos Drummond de Andrade em comparao com sua obra madura.-
Contextualizar a obra de Drummond como um dos marcos da gerao de
1930.-Destacar os elementos caractersticos da poesia de Carlos
Drummond de Andrade em especial: a ironia, o humor, a poesia de
matiz social e a anlise metafsica do mundo.- Observar a influncia
da obra potica de Drummond na poesia e na msica do sculo 20.- -
Comparar os poemas de Drummond com a sua obra de formao e com canes
e poemas de outros autores.AnosEnsino MdioContedos- Gerao de 1930-
Poesias de Carlos Drummond de Andrade- Comparao literriaTempo
estimado Quatro aulasMateriais necessrios- Cpias da reportagem "A
pr-histria de Drummond" (Bravo!, edio 178, junho de 2012)- Cpias
dos poemas "Poema das sete faces"; "O amor bate na aorta"; "Jos" e
"A morte do leiteiro", de Carlos Drummond de Andrade e do poema
"Com licena potica", de Adlia Prado para todos os alunos.- Cpias
das letras das canes "Lets play that", de Jards Macal e Torquato
Neto, e "At o fim", de Chico Buarque.- Computador com projetor de
vdeo para a exibio do curta-metragem"O Fazendeiro do ar", dirigido
por Fernando Sabino e David Neves.
Introduo
Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira radicado no Rio
de Janeiro, um autor de dimenso universal. Sua obra das mais
significativas, no apenas para a literatura brasileira, mas para
toda a literatura de Lngua Portuguesa.As caractersticas de sua
poesia podem ser analisadas como um processo. Inicialmente, notvel
a influncia da gerao heroica do Modernismo, especialmente Mrio de
Andrade, Oswald de Andrade e Manual Bandeira. Em 1930, Drummond
publica o livro Alguma poesia. Neste volume, ficam claras a ironia,
a coloquialidade, o prosaico e uma leitura no convencional do
cotidiano. A viso de mundo do poeta aparece como um modo de propor
uma reflexo subjetiva sobre temas amplos como ser brasileiro, o
amor, a literatura, a poltica, a religio e impresses poticas de
viagens e cidades. Muitos poemas desta obra surgem de
acontecimentos do cotidiano, aparentemente banais, mas que servem
como reflexes poticas e lricas sobre a vida. tambm clara a filiao
ao Modernismo, evidente com o uso do verso livre, uma sequncia
natural das rupturas estticas e temticas proporcionadas pelo
movimento de 1922.Nos livros seguintes, Brejo das Almas, Sentimento
do Mundo, Jos e A rosa do povo, o poeta busca um aprofundamento
desta subjetividade. A ironia e o humor vo se diluindo em uma viso
de relativa amargura que culmina em um clima de denncia social,
prprio do intervalo entre 1930 e 1945. No Brasil, estava em curso a
Era Vargas e a ditadura do Estado Novo. Na Europa, acontecia a
ascenso de Hitler e do nazi-fascismo, a revoluo comunista e a
escalada de violncia e dos conflitos polticos que culminaram na
Segunda Guerra Mundial.Este esprito da poca reflete-se na poesia de
Drummond. Nota-se a presena da angstia sobre o destino da
humanidade, a incerteza sobre a efemeridade da vida, a dvida sobre
o carter benevolente do ser humano e uma relativa obscuridade. Por
meio de um tom social, o poeta expe os absurdos do "mundo, vasto
mundo", onde as rimas no so propriamente solues, mas expresses, ora
irnicas, ora angustiadas, do esprito de seu tempo.A poesia de
Drummond assume, aps este perodo, um vis metafsico e
existencialista. O questionamento passa a ser a prpria condio
humana e o poeta resgata as marcas irnicas e as preocupaes formais
que marcaram sua obra. Ao final de sua vida, na passagem dos anos
1970-1980, produziu uma obra mais sentimental, menos preocupada com
as inovaes formais ou as angstias metafsicas do incio.Na reportagem
"A pr-histria de Drummond", BRAVO! destaca o aparecimento do livro
25 poemas da triste alegria, escrito em um nico exemplar durante a
juventude do poeta e desconhecido por boa parte da crtica. As
poesias, que ficaram inditas por quase 90 anos, foram descobertas e
sero publicadas neste ms. A reportagem publica seis dos 25 poemas,
que so um bom ponto de partida para analisar as caractersticas da
poesia de Drummond.Leia maisDrummond: um caminho sem
pedrasDesenvolvimentoAula 1Antes de iniciar, leia a reportagem de
Bravo! e destaque nas poesias inditas de Drummond elementos que
possam indicar a gnese de sua poesia. Observe a influncia da
esttica penumbrista e menes a palavras e temas que so estranhos
obra madura do poeta. Destaque a preocupao com a musicalidade e o
ritmo das palavras e do interesse por questes de seu tempo,
aspectos que seriam aprofundados posteriormente. Compare, por
exemplo, a ironia presente em "A sombra do homem que sorriu" com a
terceira e a quarta estrofes do"Poema das sete faces". Procure
encontrar as principais diferenas entre o poeta em formao daquele
que viria a ser considerado, na maturidade, um dos mais importantes
da nossa lngua.Comece a aula contando sobre a vida e obra de
Drummond. Informe seu local de origem e a formao em Belo Horizonte.
Conte tambm sobre a colaborao com a imprensa e a necessidade de
trabalhar como funcionrio pblico que o impediu (segundo suas
prprias palavras) de se tornar um anarquista militante. Demonstre
que Drummond e outros poetas da chamada gerao de 1930 do Modernismo
no necessitavam da afirmao esttica, to cara aos pioneiros de 1922.
Isso permitiu a variedade de temas, que torna, especificamente no
caso do poeta mineiro, a poesia mais reflexiva e participativa. Em
outros autores, essa liberdade proporcionada pela gerao de 1922
deixou o caminho aberto para a utilizao de versos livres ou
tradicionais, e tambm uma temtica que em alguns momentos tendeu ao
sentimentalismo e ao retorno s formas e estticas tradicionais, como
o soneto (em Jorge de Lima e Vincius de Morais) e o Simbolismo (em
especial, na poesia de Ceclia Meireles).Aps esta apresentao,
distribua turma cpias da reportagem "A pr-histria de Drummond".
Destaque a importncia da publicao de Os 25 poemas da triste alegria
pela possibilidade de observar neles a gnese da obra lrica que
marcaria a poesia brasileira no sculo 20. Ainda que considerados
"menores", os poemas encontrados no livro so importantes para a
formao do poeta. A seguir, faa uma leitura coletiva do "Poema das
sete faces". Explique o modo como este poema, que abre o primeiro
livro de Drummond, pode ser lido como uma apresentao que o autor
faz de sua poesia. Em sete estrofes (as sete faces) so apresentados
sete aspectos da personalidade do eu-lrico.Explique que o poema
apresenta, em tom de ironia amargurada, uma profisso de f do poeta,
que expe sua posio em relao ao mundo. Logo na primeira estrofe, a
face revelada a de um gauche, palavra francesa que indica um
indivduo com dificuldades de adaptao, de caminho tortuoso e opes
equivocadas, marginal inadaptado desde o incio da vida. Isso pode
ser comparado com a viso de mundo angustiada e irnica, mas sempre
sensvel, que marcou a obra potica de Drummond. Na segunda estrofe,
h a insinuao do erotismo como uma busca desenfreada, um fim em si
mesmo, que acaba se tornando um elemento de tristeza, que impede a
tarde de se tornar azul, brilhante, por conta da vinculao aos
desejos incontidos.Na terceira "face" do poema, o eu-lrico remete
vida frentica e sem descanso das grandes cidades, com seus bondes
cheios de pernas, idas e vindas sem sentido aparente - note que so
"pernas" e no "rostos", o que remete coletivizao e desumanizao das
pessoas em sua busca pela sobrevivncia. O corao do poeta questiona
o motivo de tanta correria desenfreada, mas seus olhos, analticos e
frios, resignam-se em apenas observar, como quem se resigna diante
de um fato sobre o qual no se tem influncia. Na quarta estrofe, os
"olhos" do eu-lrico observam um homem que se apresenta com uma aura
aparente de seriedade, simplicidade e fora. No entanto, podemos
interpretar o bigode como uma mscara social que torna o homem comum
um ser com dificuldades de convivncia, e o faz fechado em si mesmo.
Mesmo quando o homem tem um rosto e no apenas uma perna, sua
identidade tambm se dilui na busca pelas aparncias, mais importante
do que a essncia de seu esprito.Na quinta estrofe, observamos um
retorno ao problema do modo tortuoso que o eu-lrico vive a vida.
Este trecho indica uma dificuldade de adaptao e faz referncia
passagem bblica em que Cristo pergunta a Deus por que o havia
abandonado. A inadaptao, aliada s contradies do gauche, deixam
evidente a angstia desta condio, que leva o eu-lrico a se
identificar com o sofrimento angustiado da expiao de Cristo. A
sexta "face" pode ser interpretada como uma crtica ao modo
parnasiano de fazer potico - a busca pela rima perfeita que no
produz solues angstia do ser nem ao problema da tortuosidade e da
inadaptao, mas apenas resolve o problema do poema, da arte
distanciada da realidade. Finalmente, a stima estrofe revela o
motivo de tanta digresso, por parte do eu-lrico: a distoro se
apresenta em tom de confidncia, como se a viso angustiada e tambm
irnica presente no poema fosse fruto de uma comoo causada pelo
excesso de bebida e de luar. Aps a leitura e anlise do "Poema de
sete faces", indique turma que leia"A mulher do elevador". Pea que
encontrem elementos comparativos entre os dois poemas.Questione as
possveis relaes entre a saudade de uma mulher "sem cara", que sobe
em um elevador, e passa como uma sombra fugaz, com as "pernas" que
passam num bonde, ou homem que se esconde atrs de uma mscara
social. Para a prxima aula, pea aos alunos que escrevam as
concluses a que chegarem a partir da leitura e das caractersticas
da obra mais madura de Drummond.
AvaliaoObserve se os textos produzidos demonstram compreenso do
contexto da obra de Drummond. Utilize as discusses como base para
saber se a turma entendeu os elementos irnicos, sociais e analticos
e a influncia desta obra potica na literatura do sculo 20.
Verifique tambm se os alunos conseguiram encontrar elementos
relacionados obra do poeta quando jovem e a sua obra na
maturidade.
Ilustraes ndio San
Ilustrao sobre foto de Carlos Drummond de Andrade, tirada em
1932, em Belo Horizonte. O poeta havia editado o livro desconhecido
oito anos antesH um anjo protetor dos literatos novos, escreveu
certa vez Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Ocupa-se em dar
sumio a textos juvenis para salvar autores do embarao de se
confrontar, anos depois, com a prpria imaturidade. O que um dos
maiores poetas da lngua portuguesa deixou de prever foi a existncia
de um anjo protetor dos leitores, a operar atrs desse material
perdido para coloc-lo nas mos de um editor.Um desconhecido (e nico)
volume escrito pelo moo Drummond chegou faz pouco tempo at Antnio
Carlos Secchin, ensasta e crtico literrio dedicado a abastecer de
raridades sua biblioteca em Copacabana, no Rio de Janeiro um osis
que abriga 12 mil obras de literatura brasileira. Encadernadas numa
firma de bairro, sob capa elegantemente azul, as pginas de aprendiz
reuniam versos datilografados por uma jovem Dolores Dutra de
Morais, j noiva do poeta de Itabira (MG). Esses mesmos 25 Poemas da
Triste Alegria, assim intitulados, saem em meados deste ms, quase
um sculo depois de concebidos, pela Cosac Naify. A edio a nata de
uma srie de lanamentos e relanamentos que, desde o incio de 2012,
vem celebrando os 110 anos do escritor. Ele tambm receber justssima
homenagem na 10 Festa Literria Internacional de Paraty, programada
para o comeo de julho.No meio do caminho que vai desde 1924, quando
se deu a publicao artesanal, at os dias atuais, o tal volume nico
foi presenteado por Drummond ao amigo Rodrigo Mello Franco de
Andrade e este o emprestou a uma terceira pessoa ou o devolveu ao
poeta, segundo diferentes verses. Ao menos dois outros autores
modernistas leram os poemas: Mrio de Andrade, que enviou carta a
Drummond com uma apreciao quase demolidora em 1926, e Manuel
Bandeira, que se referiu a alguns em tom mais ameno numa crnica de
1958. Quem forneceu o exemplar a Secchin outro biblifilo, cuja
identidade o crtico prefere manter em sigilo. Gosto de dizer que
livro raro no tem procedncia. Tem destino, brinca o estudioso, que
jamais ouvira falar da obra at v-la pela primeira vez. O biblifilo
que descobre um livro desses, exemplar nico, comprova que o paraso
existe, mas fica na Terra.PIOR COISA DO MUNDOInusitada por revelar
a face extraviada do aprendiz de poeta, a obra carrega graa e valor
adicionais por aquilo que ocupa seus espaos em branco: os
comentrios ao lado de cada poema feitos mo pelo prprio Drummond,
quando teve o volume novamente consigo em algum momento de 1937.
Nas muitas linhas, que preenchem s vezes pgina inteira, ele ironiza
o jovem que havia sido 13 anos antes. Mrio de Andrade figura entre
os mais citados nas anotaes: (O poema) Momento Feliz a coisa pior
deste mundo, escreve o literato mineiro, concordando com a crtica
do autor de Macunama, que ameaara romper a amizade se aquilo fosse
publicado. Mais adiante, ao reler versos de Convite Semanal, Quase
Noturno e Ningum Sabe, Drummond confessa sentir orgulho por ter
abandonado a retrica, o penumbrismo (corrente literria fortemente
intimista de incios do sculo 20) e outras covardias intelectuais.
Esfora-se para encontrar ali alguma substncia mais vivida do que
literria, e no acha.No prefcio que redigiu para o lanamento da
Cosac Naify, Secchin define Os 25 Poemas da Triste Alegria como um
quase livro de pr-poeta, constitudo de dois livros paralelos. Um o
do jovem e hesitante autor, antes de ser modernista. Outro, o do
crtico de si mesmo. Ambos os ngulos podem ser contemplados pelo
leitor nessa reedio, fac-similar. As imagens das pginas originais
que se espalham ao longo de todo o novo volume foram fotografadas
por Vicente de Mello, especialista em reproduzir obras de arte. A
caligrafia pequena do escritor no dever causar desconforto. A parte
manuscrita mantida, mas h tambm sua transcrio em letra de frma para
que se tenha mais uma opo de leitura, explica o editor Milton
Ohata. O livro inclui, ainda, textos de poca assinados por Drummond
e encontrados em arquivos mineiros, que ajudam a compreender o que
ele pensava sobre poesia.O poeta aprovaria tal inconfidncia? O
mtodo infalvel para proscrever um livro juvenil destruir os
originais, responde Secchin. Se no o fez, e ainda por cima o
repassou a outrem, quem sabe at para evitar tentaes predatrias,
porque desejava preserv-lo. Se menor o valor literrio, avalia,
muito maior o valor como documento da formao do autor. Desde a
redescoberta do livro, a ideia da reedio agradou famlia
Drummond.PEITO ABERTODe trajetria clandestina, lembrado muito
esparsamente pelo escritor e pelos amigos que viram esses primeiros
versos, o novo volume de inditos surpreender at seus leitores mais
dedicados. Entre lembranas, entusiasmo e humor, poetas e crticos
que h dcadas acompanham a obra do mineiro receberam parte da edio
pela internet para coment-la livremente, a pedido de BRAVO. O
fac-smile me levou de volta aos 20 anos, quando organizei uma
coletnea de minhas poesias e mandei os originais a Drummond,
recorda-se a paranaense Josely Vianna Baptista, autora de Ar,
Corpografia e do recente Roa Barroca.Ela conta que o poeta lhe
escreveu uma carta amistosa, com aquela mesma letrinha inconfundvel
de 1937, na qual citava versos seus dos quais no a salvou o anjo
protetor dos literatos novos. Vm-me cabea as frases, entre gentis e
travessas, em que ele dizia ser importante no temer malambas nem
remandiolas, palavras que cometi no tal poema e que, revisitadas de
prprio punho por Drummond, com o tempo passaram a me parecer
brejeiramente irreverentes. Sobre a correspondncia entre Drummond e
Mrio de Andrade, observa: Interlocuo de primeira, sem
suscetibilidades nem narcisismos feridos, sria, sincera e nada
sisuda.Poeta drummondiano nascido no Rio, Armando Freitas Filho,
autor de obras como A Mo Livre e Lar, garante que nada falaria
sobre o livro oculto se Drummond estivesse vivo, pois ele brigaria
comigo. Como teme que o fantasma do amigo venha lhe puxar o p, ele
diz o bvio e verdadeiro: ningum analisa melhor os poemas do que o
prprio autor. Ouso, contudo, afirmar que esse Drummond inicial
esboou em Ningum Sabe a potncia que irromperia em Jos, muitos anos
depois. Que poeta aprendiz conseguiria tamanho feito, com tal
excelncia, sobre sua potica futura? Uma anteviso desse teor no
meramente inconsciente, mas fruto coeso de uma vocao irrepreensvel
e insupervel.Para os estudiosos, o valor do livro como documento de
formao o que mais sobressai. Trata-se de uma coletnea fascinante,
comemora John Gledson, crtico literrio ingls que traduz e estuda,
alm do poeta mineiro, o romancista carioca Machado de Assis. O que,
naqueles versos juvenis, seria estranho ao Drummond mais conhecido?
A adeso a uma esttica penumbrista, a influncia avassaladora de
lvaro Moreyra, de Ronald de Carvalho e de Guilherme de Almeida, as
repeties de certas palavras, como ironia e indiferena, alm das
indefectveis menes a paisagens crepusculares, jardins e estrelas,
responde Gledson.Os inditos tambm reforam ngulos do poeta ainda
pouco estudados. Nenhum desses poemas ter feito qualquer falta obra
de Drummond, mas todos interessam por demonstrarem que o jovem
escritor sabia bem o que fazer com a msica e o ritmo das palavras,
afirma Alcides Villaa, crtico literrio da Universidade de So Paulo
e autor, entre outros, da coletnea de ensaios Passos de Drummond.Na
opinio de Srgio Alcides, crtico literrio da Universidade Federal de
Minas Gerais, o mais emocionante no livro so os comentrios do
Drummond maduro, ou nem to maduro, mas j feito. H mistura de
carinho e repulsa nesse reencontro consigo mesmo. O maior
desconforto do poeta, ao reler suas tentativas antigas, que elas so
meramente literrias (no mau sentido). Os artigos de crtica includos
na edio tambm merecem ateno, pois mostram que Drummond se expe mais
do que passaria a fazer depois da dcada de 1940, diz o professor da
UFMG. Os textos revelam a ateno que um jovem poeta de provncia
dedicava ao contemporneo, aos debates do seu tempo, com muita nsia
de participao, de tomada de posio. Ele escrevia de peito aberto,
mas sem nenhuma leviandade o que muito bonito e raro numa pessoa
assim to jovem.Os poemas que acompanham esta reportagem so
fac-smiles da edio do autor (comoA Sombra do Homem que Sorriu) ou
transcries que mantm a grafia original (caso dePrimavera nas
Folhinhas e nos Jardins).
PRIMAVERAS NAS FOLHINHAS E NOS JARDINSO PERFUME DAS ROSAS
ENTRA-ME PELO QUARTO,NUMA LUFADA DE PRIMAVERA.E EU FICO,
DESVAIRADO, A SENTIR O PERFUME,O PERFUME DAS ROSAS, PELO
QUARTO...NUMA LUFADA DE PRIMAVERA!QUE BOM, LER OS POETAS SADOS,E NO
SABER DA LUA, DAS ESTRELLAS,E NO SABER DO AMOR! E NO SABER DE
TI!(DE TI QUE S PALLIDA E FEIA,PALLIDAMENTE FEIA E MELANCOLICA.)MAS
APENAS SENTIR, ALLUCINANTE E FORTE,O PERFUME DAS ROSAS, PELO
QUARTONUMA LUFADA DE PRIMAVERA!
V COMO A AGUA SUSSURRAV COMO A AGUA SUSSURRA NO FUNDO DOS
TANQUES ERMOS,COMO A AGUA, INTIMAMENTE, CHRA.E NA FACE DOS TANQUES
ERMOSBOIAM FLORES AZUES, GRANDES FLORES INDIFFERENTES.A AGUA
ESPADANA NO AR, EM FLORIDO REPUXO.A ALEGRIA DA AGUA, SUBINDOSOBRE A
INDIFFERENA AZUL DAS GRANDES FLORES!- V O REPUXO CAHINDONOVAMENTE,
SOBRE OS TANQUES ERMOS.NOS JARDINS,A IRONIA DA VIDA FEITA DE
BELLEZA.(QUE RIDICULO PENSAMENTO...)
A MULHER DO ELEVADORA QUE FICOU L LONGE, NA GRANDE CIDADE...A
QUE EU VI APENAS UM MINUTO, UM MINUTO SOMENTE,NO ELEVADOR QUE
SUBIA.COM QUE SAUDADE INEDITA EU ME LEMBRODA QUE NO FOI NEM UMA
SOMBRA, UMA SOMBRA FUGAZ,NO MEU DESTINO.DA QUE FICOU, SORRINDO, COM
UM POUCO DE MIM,COM UM POUCO DO MEU SER ANONYMO E VULGAR,A MILHARES
DE KILOMETROS, NA GRANDE CIDADE...Joslia Aguiar jornalista e
doutoranda em histria. Edita o blogLivros Etc. naFolha.com.O
Livro:Os 25 Poemas da Triste Alegria, de Carlos Drummond de
Andrade. Editora Cosac Naify.