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Atenção: este é um site pessoal, não oficial e todo o seu
conteúdo possui caráter
meramente cultural/educacional, sem finalidade lucrativa.
Seleção de cartas e tratados que Nitiren Daishonin escreveu para
seus discípulos.
As Escrituras de Nitiren DaishoninJossei Toda , o segundo
presidente da Soka Gakkai teve a idéia de publicar as escrituras de
Daishonin para comemorar o aniversário de setecentos anos da
fundação do verdadeiro Budismo de Nitiren Daishonin. Em 1951,
Nitiko Hori (1867-1957) começou a trabalhar na edição das
escrituras de Nitiren Daishonin, conhecidas normalmente como Gosho.
Em abril do ano seguinte, o texto completo foi publicado em um
volume pela Soka Gakkai, sob o título Nitiren Daishonin Gosho
Zenshu ou "As Escrituras de Nitiren Daishonin".
A autenticidade de todos os 426 documentos da coleção foi
comprovada. Destes, 150 estão escritos pelo próprio punho de
Nitiren Daishonin. Quando não se encontravam manuscritos de próprio
punho, as cópias feitas por seus discípulos imediatos Nikko Shonin
e Nitimoku Shonin, eram sempre comprovadamente possíveis.
Créditos: A maioria dos Goshos foi enviado por Charles Chigusa
de Tokyo - Japão e alguns foram digitados por Neusa Codato, Takato
Nakayoshi e Sandro Neto Ribeiro.
Programação das Páginas: Sandro Neto Ribeiro
Fonte: As Escrituras de Nitiren Daishonin - Ed. Brasil
Seikyo
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INDICE:
As Barragens da Fé
Carta de Ano Novo
Carta a Endo Saemon-no-jo
As Profecias do Buda
Sobre atingir o Estado de Buda A lei causal da vida
A Perseguição de Tatsunokuti
Resposta ao Lorde Nanjo
Um Navio para atravessar o mar do sofrimento
Comparação entre o Sutra de Lótus e os outros Sutras
Resposta a Nitigon-Ama
Sustentando a Fé no Gohonzon
O siginificado da fé
Carta a Domyo Zemmo
Aspiração à Terra do Buda
A Prática dos Ensinos do Buda
A Virtude Invisível e a Recompensa Visível
O Rico Sudata
O Recebimento de novos feudos
Resposta a Yasaburo
Os Quatro Estágios da Fé e os Cinco Estágios da Prática
O devoto do Sutra de Lótus encontrará perseguição
O tambor no portal do trovão
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O kalpa de diminuição
Um pai adquire fé
Carta a Abtsu-bo
O fácil parto de uma criança afortunada Resposta ao Lorde Shijo
Kingo
A Iluminação pelo Sutra de Lótus Sobre recomendar este ensino ao
seu Lorde
Carta a Niike Resposta a Shijo Kingo
Resposta à Dama Ueno O Palácio Real
Esta pessoa praticará entre o povo Os Quatro Bodhisattva como
Objeto de Adoração
Carta aos Bonzos do Templo Seitioji A Tartaruga de um Olho e o
Tronco Flutuante de Sândalo
Sobre a Torre do Tesouro O Portão do Dragão
Carta a Missawa A felicidade neste mundo
A essência do capítulo Juryo A Concessão do Mandala da Lei
Mística
Carta a Ko-no-Ama-Gozen Carta a Teradomori
O Oferecimento de um robe de verão O tesouro de um filho
dedicado
O remédio benéfico para todas as doenças Os presságios
Resposta a Ni Ama Resposta ao Lorde Hakiri Saburo
Três Mestres Tripitaka oram por chuva Uma Admoestação contra o
apego ao feudo
Resposta ao Lorde Matsuno Resposta a Kyo' o
A Consagração de Uma Imagem do Buda
Sakyamuni feita por Shijo Kingo A origem de Urabon
A Recitação dos Capítulos Hoben e Juryo Wu-Lung e I-Lung
As Duas Espécies de Doença Carta a Nakaoki Nyudo
O Sabor Salgado Universal Repreendendo a Calúnia à Lei e
Erradicando Pecados
Um Resumo do Capítulo Zokurui e de Outros A única frase
essencial (explanação)
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As Barragens da Fé
(Abutsubo Ama Goze Gohenji – Págs. 1307 a 1308)
Em sua carta, a senhora perguntou-me de que forma o efeito varia
de acordo com o grau de calúnia contra o Budismo. Para começar, o
Sutra de Lótus foi ensinado para conduzir todas as pessoas à
iluminação. Contudo, somente aqueles que possuem fé no mesmo
atingem a iluminação. Aqueles que o caluniam caem no inferno de
incessante sofrimento. Como o sutra afirma: “Aquele que se recusar
a acreditar neste sutra e, ao invés disso, o calunia, imediatamente
destrói as sementes apra se tornar um Buda neste mundo…Após morrer,
cairá no inferno de incessante sofrimento”.
Há vários graus de calúnia. Mesmo entre as pessoas que abraçam o
Sutra de Lótus, são poucas a que sustentam firmemente tanto na
mente quanto na ação. Porém, aquelas que o fazem não sofrerão grave
punição, ainda que tenham cometido ofensas menores contra o
Budismo. A fé sólida delas expia seus pecados tão seguramente
quanto uma enchente extingue pequenas chamas.
No Sutra Nirvana, Sakyamuni declara: “Se mesmo um bom sacerdote
vê alguém caluniando a Lei e faz pouco caso dele, deixando de
reprová-lo, de desalojá-lo ou de puní-lo pela sua ofensa, então,
esse sacerdote está traindo o Budismo. Entretanto, se repreende
severamente o caluniador, o rechaça e o pune, então, ele é meu
discípulo e uma pessoa que realmente compreende os meus
ensinos”.
Esta advertência me força a manifestar-me contra a calúnia, a
despeito da perseguição que enfrento, pois temo que eu possa
tornar-me um inimigo do Budismo, caso não o faça.
Contudo, a calúnia pode ser secundária ou grave, e há ocasiões
em que devemos tomar pouco conhecimento dela ao invés de atacá-la.
Os adeptos das seitas Tendai e Shingon caluniam o Sutra de Lótus e
devem ser refutados. Porém sem uma grande sabedoria é muito difícil
distinguir corretamente as doutrinas delas dos ensinos que Nitiren
expõe. Portanto, às vezes, deve estar bem prevenido para
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deter-se de acatá-las, assim como eu fiz no “Tratado para a
Pacificação da Terra Através do Estabelecimento do Verdadeiro
Ensino”(Rissho Ankoku Ron).
Reprovemos ou não, uma outra pessoa pela sua calúnia, é difícil
impedí-la de cometer um pecado grave. Se vemos ou ouvimos alguém
cometer a calúnia, e não fazemos tentativa alguma para fazê-lo
parar, embora ele pudesse ser salvo, traímos nossos grandes dons de
audição e visão e, deste modo, cometemos um ato de total
inclemência.
Chang-an (Shoan) escreve: “Se favorecer uma outra pessoa mas não
possuir a benevolência para corrigí-la, o senhor é, na verdade, um
inimigo dela”. As consequências dessa ofensa são extremamente
difíceis de se apagar. O mais importante é fortalecer continuamente
a sua compaixão para salvar os outros de suas próprias naturezas
caluniosas.
Quando as calúnias de uma pessoa são secundárias, ela pode,
algumas vezes, precisar ser admoestrada, mas outras vezes isso é
desnecessário, pois ela pode ser capaz de corrigir seus erros sem
que ninguém lhe diga para fazê-lo. Reprove uma pessoa por agir
contra o Budismo, quando necessário, para que ambos possam evitar a
consequência da calúnia. Então, deve perdoá-la. A questão é que
mesmo calúnias secundárias podem levar a calúnias graves, e os
efeitos que a pessoa terá que sofrer serão muito piores. É isto que
Chang-an (Shoan) pretendia dizer quando escreveu: “Remover o mal de
um homem é como ser um pai para ele”.
Há exemplos de calúnia mesmo entre os discípulos e crentes de
Nitiren. Tenho certeza que ouviu a respeito de Itinosawa Nyudo. Em
seu coração, ele é um dos discípulos de Nitiren, mas externamente
ainda permanece na seita Nembutsu. Portanto, estou muito preocupado
com a sua própria existência, e o presenteei com os dez volumes do
Sutra de Lótus.
Fortaleça a sua fé, mais do que nunca. Qualquer um que ensine as
verdades do Budismo aos outros com certeza atrairá sobre si o ódio
de homens e mulheres, sacerdotes e freiras. Deixe que digam o que
desejarem. O mais importante é que confie a sua vida aos ensinos
dourados do Sutra de Lótus, ao Buda Sakyamuni, a Tientai (Tendai),
Miao-lo (Myoraku), Dengyo e Chang-an (Shoan). Este é o modo de
praticar corretamente, de acordo com os ensinos do Buda. O Sutra de
Lótus diz: “Se alguém ensinar este sutra por mesmo um momento na
temível era que virá, ele receberá o apoio de todos os céus”. Esta
passagem explana que, nos Últimos Dias, quando pessoas más,
maculadas pelos três venenos, predominarão, qualquer um que abrace
o verdadeiro ensino durante mesmo um curto período será auxiliado e
apoiado pelos céus.
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Agora, deve nutrir o grande desejo de atingir a iluminação para
a felicidade em sua próxima vida. Se duvidar ou caluniar o mínimo
que seja, cairá no inferno de incessante sofrimento. Suponha que
haja um navio que viaje em mar aberto. Mesmo que a embarcação seja
construída fortemente, se tiver a menor fenda, os passageiros
certamente afundarão juntos. Mesmo que a barragem entre as
plantações de arroz seja firme, se houver apenas uma única e
minúscula rachadura nela, a água jamais será contida. Deve tirar a
água da dúvida e da calúnia do navio de sua vida e solidificar as
barragens de sua fé. Se a ofensa de um praticante for superficial,
perdoe-o e o leve a obter benefícios. Se for grave, advirta-o a
fortalecer a sua fé para que ele possa expiar o pecado.
A senhora é uma mulher extraordinária, pois pediu-me para
explanar os efeitos dos vários graus de calúnia. A senhora é tão
louvável quanto a filha do Rei Dragão quando ela disse: “Revelei a
doutrina Mahayana para salvar as pessoas do sofrimento”. O Sutra de
Lótus afirma: “Perguntar sobre o significado deste sutra será
realmente difícil”. Há muito poucas pessoas que inquirem sobre o
significado do Sutra de Lótus. Esteja sempre determinada a
denunciar calúnias contra o Budismo usando o máximo de sua
habilidade. É de fato extraordinário que me ajude a revelar meus
ensinos.
Respeitosamente,
Nitiren
3 de setembro de 1275
Fundo de Cena
Nitiren escreveu esta carta no Monte Minobu, em 3 de setembro de
1275, no segundo ano após o seu retorno da Ilha de Sado. Na
ocasião, ele contava com 54 anos de idade. A recebedora desta
carta, Senniti-ama morava em Sado. Ela e seu marido, Abutsubo,
haviam abraçado o ensino de Nitiren Daishonin durante o seu exílio
naquele local.
Pouco se sabe sobre as origens de Senniti-ama. De acordo com a
tradição, ela foi, outrora, dama de companhia de Uemon-no-Suke, que
servia o Imperador Aposentado Jotoku e o acompanhou ao exílio
quando este foi banido para Sado após a derrota das forças
imperiais no Distúrbio Jokyu em 1221. Contudo, descobertas recentes
parecem indicar que tanto Senniti-ama como Abutsubo eram
provavelmente,
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nativos de Sado. O casal já estava bastante idoso quando os dois
tornaram-se discípulos de Nitiren Daishonin.
Nitiren Daishonin havia sido banido à pequena Ilha de Sado no
Mar do Japão em outubro de 1271, após uma tentativa fracassada de
decapitá-lo em Tatsunokuti em 12 de setembro de 1271. Nessa ilha
desolada e fria, ele recebe como morada uma minúscula capela em
ruínas chamada Sanmai-do, que localizava-se num campo usado como
cemitério, exposto a ventos gelados. A neve entrava pelos buracos
do teto e das paredes, e afirma-se que a certa altura, Nitiren
Daishonin possuía somente um casaco de palha para protegê-lo. As
autoridades tinha a total intenção de que ele morresse. Além da
falta de alimentação e abrigo, ele teve que lutar contra a
hostilidade dos habitantes da ilha, a maioria composta de
praticantes da Terra Pura, que enfureciam ao ouvir que o ‘mau
sacerdote Nitiren’, que denunciou a fé que abraçavam, havia se
instalado em Sado. Conta-se que Abutsubo, ele próprio um seguidor
da seita da Terra Pura, foi até Sanmai-do aos gritos para enfrentar
Nitiren Daishonin num debate, mas foi convertido aos seus ensinos e
nunca mais recitou a Nembutsu novamente.
A esposa de Abutsubo, Senniti-ama, também se converteu e, a
partir de então, o idoso casal serviu a Daishonin com coragem e
devoção. Embora o auxílio aos exilados fosse proibido por lei, eles
se expuseram ao descontentamento da comunidade para prover-lhe
alimento, materiais para escrita e outras necessidades, enganando
por repetidas vezes, a guarda colocada ao redor de Sanmai-do, para
visitá-lo tarde da noite. Numa carta escrita a Senniti-ama datada
de 1278, Nitiren Daishonin diz: “Em que existência eu poderia
esquecer a sua bondade ? Foi como se minha própria mãe tivesse
renascido nessa província de Sado”. (Gosho Zenshu, pág. 1313). O
casal continuou a assistir Nitiren Daishonin até ele ser perdoado e
deixar a ilha em 1274. Eles se mantiveram profundamente dedicados à
fé durante toda a sua vida e esforçaram para propagar os ensinos de
Nitiren Daishonin entre os habitantes de Sado. Após Nitiren
retirar-se ao Monte Minobu, Senniti-ama enviou o seu marido três
vezes para visitá-lo.
Nitiren Daishonin escreveu esta carta especialmente em resposta
à pergunta de Senniti-ama sobre como os efeitos variam de acordo
com a profundidade da calúnia da pessoa. Ele explana que calúnia –
infamação da Lei Verdadeira, seja em pensamento, palavra ou ação –
forma a causa fundamental para o sofrimento, e deste modo, devemos
nos esforçar para eliminá-la e ajudar os outros a fazerem o mesmo.
Entretanto, embora devamos ser consistentemente rigorosos em
relação a nós mesmos a esse respeito, apontar ou não, os erros de
outras pessoas, depende de circunstâncias específicas. Em todos os
casos, explana Nitiren Daishonin, devemos ser guiados pela
sabedoria e compaixão.
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Carta de Ano NovoRecebi cem bolinhos de arroz (Mushimoti) e um
cesto de doces. O dia do Ano Novo é o primeiro dos dias, o primeiro
dias dos meses, o início da primavera e o início do ano. Quem
celebra esse dia tornar-se-á mais virtuoso e será amado por todos.
Será como a lua que gradualmente se torna cheia à medida que se
dirige do oeste para o leste ou como o sol que se torna cada vez
mais brilhante à medida que viaja do leste ao oeste.
Considerando a questão de onde estão o Inferno e o Buda, um
sutra diz que o Inferno está debaixo da terra enquanto que outro
diz que o Buda está no oeste. Entretanto, um pensamento cuidadoso
esclarecerá que ambos existem em nossos próprios corpos. Tal como o
vejo, a razão para isto é que o Inferno está no coração da pessoa
que insulta seu pai e está também naquela que ridiculariza sua mãe.
É como a semente de lótus que forma tanto a flor como uma nova
vagem de semente.
O Buda existe dentro do nosso coração. Tome, por exemplo, o fato
de que o fogo pode ser produzido por pedra ou que jóias possuem
valor em si mesmas. Nós, seres humanos, não podemos ver nossas
sombrancelhas que estão próximas nem o céu distante. Do mesmo modo,
não compreendemos que o Buda existe em nossa própria mente.
Naturalmente pode desejar saber como o Buda pode nos alcançar
quando, ao mesmo tempo, o nosso corpo humano, que herda o sangue
dos pais, é a origem das três impurezas e o local dos desejos
carnais. Ponderando-o reiteradamente, compreendemos ser razoável. A
pura flor de lótus floresce do fundo lamacento de um lago; a
fragrância do sândalo cresce da terra; as graciosas flores de
cerejeira vêm da árvore; a bela Yang Gui Fei nasceu de uma
serpente; e a lua nasce detrás das montanhas para espalhar a luz
sobre elas. A desgraça vem da boca de uma pessoa e arruina-a,
enquanto a boa sorte vem da mente e traz-lhe honra.
A sinceridade que vem da mente de uma pessoa para oferecer
presentes ao Sutra de Lótus no início do Ano Novo é como as flores
que desabrocham de uma árvore, uma flor de lótus que se abre num
lago, as flores de um sândalo que desprendem sua fragrância no
Monte Sessen, ou como a lua começando a subir. Creio que o Japão,
fazendo-se inimigo do Sutra de Lótus, convidou o infortúnio
distante de mil milhas, ao passo que aqueles que crêem no Sutra de
Lótus
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reúnem a boa sorte de dez mil milhas de distância. A sombra é
formada pelo corpo tal como a sombra segue o corpo, os infortúnios
cairão no país cujas pessoas são inimigas so Sutra de Lótus. Os
crentes no Sutra de Lótus, por outro lado, são como o sândalo
dotado de fragrância.
05 de janeiro Nitiren
O FUNDO DE CENA
O presente Gosho é uma carta que Nitiren Daishonin endereçou à
esposa de Lorde Omossu. Esta carta foi datada de 5 de janeiro mas o
ano foi omitido. Da primeira sentença, sabemos que a recebedora da
carta, que foi chamada Myoitisonni, enviou presentes de Ano Novo a
seu Mestre que vivia em Minobu.
O Lorde Omossu foi assim chamado, comumente, porque vivia na
área chamada Omossu, situada próxima ao atual Taissekiji. Seu nome
completo era Ishikawa Shimbe Taissekiji Sanetada. Sua esposa era
irmã mais velha de Nanjo Tokimitsu, um dos principais discípulos de
Daishonin. Despertada à Lei Mística através da orientação de Nikko
Shonin, continuou como uma devota crente por toda a sua vida.
Nesta carta, Nitiren Dashonin elogia-a por sua genuína fé como
foi expressada pelos seus oferecimentos, afirmando que isto sem
falha trará a ela muito boa sorte e que ela será amada pelos outros
por causa de sua virtude. Então, Daishonin claramente explana que
tanto o Buda como o Inferno são condições inerentes em cada
pessoa
Carta a Endo Saemon-no-jo(Endo Saemon-no-jo Gosho, pág.1336)
Recebi recentemente um indulto oficial e estou, no momento,
retornando a Kamakura. Será este o ano no qual a passagem: "Agora,
os votos originais que fiz já foram cumpridos"(1), se concretizará
para mim ?
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Se não fosse a sua proteção, seria possível eu ter mantido a
minha vida ? Eu poderia ter sobrevivido até ser perdoado ? Todas as
realizações de minha vida devem-se unicamente ao senhor. O Sutra de
Lótus diz: "Os jovens filhos das divindades celestiais o atenderão
e o servirão. Espadas e bastões não tocarão, e o veneno não terá o
poder de lesá-lo"(2). Como é reconfortante este sutra!
Sendo este o caso, o senhor deve ser um emissário enviado pelos
deuses celestes Bonten e Taishaku. Conceder-lhe-ei meus selos como
um promessa de que irá renascer (na Terra Pura do) Pico da
Águia.
Deve levar um deles consigo para a sua próxima existência.
(Quando chegar) ao Pico da Águia, chame: "Nitiren, Nitiren!" e eu
virei encontrá-lo nessa ocasião. Escrever-lhe-ei novamente de
Kamakura.
Nitiren
Em 12 de março de 1274.
Fundo de Cena
No dia 8 de março de 1274, um enviado do governo alcançou a ilha
de Sado com uma carta de perdão para Nitiren Daishonin. Deste modo,
terminaram os mais de dois anos de exílio, um período no qual
Nitiren Daishonin escreveu vários de seus mais importantes Gosho e
estabeleceu a base doutrinal para inscrever o objeto de adoração
para se atingir o Estado de Buda, a ser concedido para toda a
humanidade.
Nitiren Daishonin e seu grupo deixaram Sado no dia 13 de março.
Ele escreveu esta carta para Endo Saemon-no-jo no dia que
imediatamente precedeu sua partida. Pouco se sabe a respeito dessa
pessoa, embora pareça ter sido um samurai, e segundo algumas
opiniões, fosse parente de Abutsu-bo. Esta é a única carta
remanescente endereçada a ele. Neste sentido, pode-se dizer que
representa os muitos corajosos seguidores de Nitiren Daishonin
cujos nomes não nos foram transmitidos.
Apesar de extremamente breve, esta carta exprime, de forma
vívida, a gratidão de Nitiren Daishonin pela assistência de Endo
durante o seu exílio. Ele também assegura calorosamente a Endo que
a sua devoção na fé garantirá a sua felicidade futura.
Notas
1. Sutra de Lótus, capítulo 2.2. Ibidem, capítulo 14. Esta
passagem refere-se ao benefício daquele que abraça o Sutra de
Lótus.
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Sobre atingir o Estado de Buda(Issho Jobutsu Sho)
Se o senhor deseja livrar-se dos sofrimentos de nascimento e
morte que vem suportando por eras eternas e deseja alcançar a
suprema iluminação nesta existência, deve despertar para a verdade
mística que sempre existiu dentro da sua vida. Esta verdade é o
Myoho-rengue-kyo. Recitar o Myoho-rengue-kyo, portanto,
capacita-lo-á a compreender a verdade mística dentro da sua vida.
Myoho-rengue-kyo é o rei dos sutras, perfeita tanto nos caracteres
como nos princípios. Suas palavras são a realidade da vida, e a
realidade da vida é a Lei Mística. Esta é assim chamada porque
elucida inclusive a mutualidade do relacionamento da vida e todos
os fenômenos. Esta é a razão deste sutra ser considerado
Myoho-rengue-kyo, 'a sabedoria de todos os Budas'.
A vida, em cada momento, engloba tanto o corpo como o espírito,
a entidade e o ambiente de todos os seres sensíveis em todas as
condições de vida, assim como seres insensíveis _ plantas, céus e
terras, até as mais minúsculas partículas de pó. A vida, em cada
momento, permeia o universo e revela-se em todos os fenômenos.
Aquele que entende esta verdade, demonstra a integridade da vida
como o mundo fenomenal. Contudo, mesmo que recite e conserve o
Myoho-rengue-kyo, se pensa que o estado de Buda existe fora do seu
coração, isto já não é mais Lei Mística; é um ensino contrário a
ela. Sendo assim, não é mais um ensino do Sutra de Lótus, mas um
ensino provisório. Portanto, não é um caminho direto à iluminação.
Desde que não é um caminho direto à iluminação, mesmo que pratique
por um tempo incalculavelmente longo, não se pode atingir a
iluminação. Por esta razão, torna-se muito difícil atingi-la.
Portanto, quando se recita a Lei Mística e se lê o
Nam-myoho-rengue-kyo, faça despertar a profunda fé que está
indicando a sua própria vida, denominando-a de
Nam-myoho-rengue-kyo.
Jamais pense que os 80.000 ensinos de Sakyamuni, assim como
todos os Budas e Bodhsattivas do universo, existem fora de sua
vida. Mesmo que estude o Budismo, se não perceber a natureza de sua
própria vida, não se pode afastar do sofrimento da vida e da morte.
Se procura o caminho fora de si mesmo e tenta praticar as mais
variadas formas de exercício e de bondades, isto é igual a um pobre
que calcula dia e noite a fortuna do seu vizinho e não obtém um
tostão sequer para si. Tien-tai, portanto, afirma: "Se não percebe
a natureza da sua própria vida, seus pecados passados não podem
ser
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extinguidos". Isto quer dizer que, se não perceber a natureza da
sua própria vida, mesmo que pratique o Budismo de nada adiantará;
será apenas uma prática inteiramente inútil. Por esta razão, tal
pessoa é humilhada como um praticante marginalizado do Budismo.
Referindo-se a isto, no Maka Shikan consta: "Embora uma pessoa
pratique o Budismo, suas concepções divergirão deste".
Por isto mesmo, recitar o nome do Buda original
(Nam-myoho-rengue-kyo), ler o sutra ou oferecer "Shikimi" e
incenso, tudo isto virá a ser causa de benefícios e boa sorte na
vida de uma pessoa. Assim crendo, todos devem professar com fé.
Daí, uma passagem do sutra "Jomyokyo" afirma que a iluminação é
proveniente da mente das pessoas comuns e que estes atingirão a
iluminação com a transformação de seus sofrimentos em Nirvana.
De acordo com o sutra, se a mente das pessoas é impura, sua
terra também será impura. Pelo contrário, se suas mentes são puras,
assim será a terra. Em uma palavra, não há duas terras _ pura e
impura _ ao mesmo tempo. A diferença está na mente, boa ou má, das
pessoas.
Pelo mesmo motivo, não há diferença real entre um Buda e um
mortal comum. Enquanto desnorteada pela ilusão, a pessoa é chamada
mortal comum, mas uma vez iluminada, é chamada de Buda. Por
exemplo, um espelho embaçado brilhará como uma jóia se for polido.
Sua mente, agora desnorteada pela escuridão inata da vida, é como
um espelho embaçado, mas se o polir, é certo que transforma-se-á
claro como cristal de iluminação das verdades imutáveis.
Manifeste-se fortemente na prática da fé, polindo seu espelho
incessantemente, dia e noite. Como deve poli-lo? Não há outro modo
a não ser devotar-se à recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.
O que então significa "myo"? É o nome dado ao mistério da mente,
a incompreensível e inexpressível natureza da vida. Quando olhar em
sua mente em qualquer momento, não perceberá a cor nem a forma para
verificar que ela existe. Ainda assim, todavia, não poderá dizer
que não existe, pois muitos pensamentos diferentes ocorrem
continuamente no senhor. A mente, sem dúvida, é uma realidade que
transcende tanto as palavras como os conceitos de existência e do
nada. Não é nem existência ou inexistência, mas ao mesmo tempo, é
dotado de ambas as qualidades. É uma entidade mística, o caminho
médio que é a realidade de todas as coisas. "Myo" é o nome dado
para a natureza misteriosa da mente e "ho" denota os modos em que
ela se manifesta.
"Rengue", o lótus, exemplifica fisicamente a maravilha desta
lei. Uma vez que o senhor sabe que a sua vida é a verdade mística,
compreende que as vidas de todos os outros também são, e que a
compreensão é o sutra místico, "myokyo". É o rei dos sutras que
provê o direto caminho para a iluminação porque declara que
todos
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os pensamentos que o senhor tem, sejam bons ou maus, é a própria
Lei Mística. Crendo nisto profundamente, em seu coração e recitando
o Nam-myoho-rengue-kyo, definitivamente alcançará o Estado de Buda
nesta existência. Por conseguinte, o Sutra de Lótus afirma:
"Seguindo ao meu nirvana, deve tomar a fé neste sutra. Os que assim
fizerem, estão certos de viajarem direta e verdadeiramente no
caminho para o estado de Buda". Não permita que a mínima duvida se
impomha sobre si. Com sua fé, alcance a iluminação nesta
existência.
Nam-myoho-rengue-kyo.
Nitiiren
FUNDO DE CENA
Este Gosho foi escrito em 1255, em Kamakura, quando Nitiren
Dashonin contava com 34 anos de idade e foi endereçado a Toki
Jonin.
Em 28 de abril de 1253, dois anos antes de escrever este Gosho,
Nitiren Daishonin havia declarado a fundação da Nitiren Shoshu no
Templo Kiyozumi com o propósito de salvar toda a humanidade. O
Templo Kiyozumi situava-se na província de Awa, terra natal de
Daishonin. Desde então, até a perseguição de Tatsunokuti ocorrida
em setembro de 1271, Nitiren Daishonin desenvolveu uma grande
campanha de propagação do Verdadeiro Budismo, tendo como centro a
cidade de Kamakura.
Toki Jonin converteu-se ao Budismo de Nitiren Daishonin por
volta de 1254 e mais tarde devotou-se à vida sacerdotal, recebendo
o nome de "Jonin". Em 16 de julho de 1260, por ocasião da
Perseguição de Matsubagayatsu, ocorrido logo depois que Nitiren
Daishonin enviou "Rissho Ankoku Ron" ao Regente Hojo Tokimune, Toki
Jonin abrigou Nitiren Daishonin em sua própria residência,
protegendo-o da perseguição. Juntamente com Shijo Kingo, Toki Jonin
foi uma das pessoas centrais da propagação do Verdadeiro Budismo.
Toki Jonin recebeu inúmeros Gosho de Nitiren Daishonin, tais como
Kanjin no Honzon Sho, Sado Gosho, Jonin Sho, Resposta ao Lorde
Toki, etc.
O presente Gosho ensina qeu o ponto fundamental do Budismo é a
iluminação, e onde se encontra o caminho direto para atingi-la.
A iluminação evidencia-se somente nas pessoas que recitam o
Daimoku e que tomaram a consciência de que são entidade da Lei
Mística. Os incontáveis sutras expostos por Sakyamini, e inclusive
todos os Budas e Bodhisattivas, encontram-se dentro da vida de
cada
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pessoa. Portanto, mesmo que se devote à prática do Budismo, se
não acreditar na existência do estado de Buda dentro da vida, não
se pode escapar do sofrimento da vida e da morte. Ensina também a
importância da prática da fé com convicção de que todas as ações em
prol do Budismo transformam-se em boa sorte e benefícios a si
mesmo.
A Perseguição de Tatsunokuti (Shingo Kingo Dono Gohenji -
Páginas 1113 a 1114)
Não posso expressar adequadamente a minha gratidão pelas suas
freqüentes cartas. Na ocasião de minha perseguição no dia 12 do mês
passado, o senhor não somente me acompanhou a Tatsunokuti como
também declarou que morreria do meu lado. Fiquei profundamente
comovido!
Quantos não são os locais onde morri em existências passadas
pela minha família, terras e parentes! Deixei minha vida em
montanhas, mares e rios, em praias e à margens de estradas, mas nem
uma vez morri pelo Sutra de Lótus ou sofri perseguições pelo
Daimoku. Conseqüentemente, nenhum dos finais que encontrei me
permitiu atingir a iluminação. Como eu não atingi o Estado de Buda,
os mares e rios onde morri não são a terra do Buda.
Nesta vida, porém, como devoto do Sutra de Lótus, fui exilado a
Ito e quase decapitado em Tatsunokuti. Tatsunokuti, na Província de
Sagami, é o local onde Nitiren deu sua vida. Por eu ter morrido
aqui pelo Sutra de Lótus, como este lugar poderia ser menos que a
terra do Buda? Uma passagem do Sutra diz: "Em todas as terras do
Buda do Universo há somente um único veículo supremo,...! Isto não
sustenta a minha afirmação? O "único veículo supremo" é o Sutra de
Lótus. Não há nenhum ensino verdadeiro além do sutra de Lótus em
qualquer uma das terras do Buda em todo o Universo. Os ensinos
provisórios do Buda são excluídos, como o Sutra explica em outra
parte. Sendo assim, todos os locais onde Nitiren encontra
perseguições é a terra do Buda.
De todos os lugares deste mundo, é em Tatsunokuti, em Katase da
Província de Sagami que a vida de Nitiren reside. Por ele ter dado
sua vida lá pelo sutra de Lótus, Tatsunokuti pode perfeitamente ser
chamado de a terra do Buda. Esse princípio é encontrado no capítulo
Jinriki, que afirma: "Seja num bosque, num jardim, numa montanha,
num vale ou num extenso campo,... os Budas entram no nirvana."
14
-
O senhor acompanhou Nitiren, jurando dar a sua vida como um
devoto do Sutra de Lótus. Seu feito é infinitamente maior que o de
Hung Yen, que rasgou o seu estômago e inseriu o fígado de seu
falecido lorde, Yi Kung, para salvá-lo da humilhação e desonra.
Quando eu alcançar o Pico da Águia, em primeiro lugar, contarei que
Shijo Kingo, como Nitiren, decidiu morrer pelo Sutra de Lótus.
Soube, secretamente, que estou para ser exilado à ilha de Sado
por ordem do Regente Hojo Tokiyori. Dos três deuses celestiais, o
deus da lua salvou minha vida em Tatsunokuti, surgindo na forma de
um objeto brilhante, e o deus das estrelas desceu há quatro ou
cinco dias para me cumprimentar. Agora, só resta o deus do sol, e
ele com certeza me protegerá. quão tranqüilizador! O capítulo
Hosshi declara: "(O Buda) enviará deuses sob várias aparências para
proteger o devoto do sutra de Lótus." Essa passagem não deixa
espaço para dúvidas. O capítulo Fumon afirma: "A espada
imediatamente se partirá em pedaços." Não existe nada falso nessas
citações. A fé sólida e constante é algo vital.
Com meu profundo respeito Nitiren
21 de Setembro de 1271 (Oitavo ano de Bun'ei) (Fonte: END, vol
III, páginas 195 a 196)
Fundo de Cena
Em 21 de setembro de 1271, houve apenas nove dias após a
Perseguição de Tatsunokuti, Nitiren Daisnhonin escreveu esta carta
a Shijo Kingo, que o havia acompanhado ao local da execução,
preparado para morrer ao lado de seu mestre, Na época, Nitiren
Dainhonin esta com 50 anos e ficou detido na residência de Honma
Rokurozaemon, em Eti, ao norte de Tatsunokuti, enquanto o governo
considerava que ação tomar com relação a ele. Esta foi a primeira
escrita existente após a perseguição.
Nitiren Daishonin expressa sua profunda admiração por Shijo
Kingo, que jurou morrer como mártir ao lado do seu mestre. A seu
mais fiel discipulo, Nitiren Daishonin revela alguma coisa sobre a
sua verdadeira identidade, que posteriormente ele descreve em "A
abertura dos Olhos", também oferecida a Shijo Kingo. No presente
Gosho, ele afirma, "Tatsunokuti, na província de Sagami, é o local
onde Nitiren deu a sua vida. Por eu ter morrido aqui pelo Sutra de
Lótus, como este lugar poderia ser menos do que a terra do Buda? "
Por que Nitiren Daishonin diz que "morre", quando na verdade,
sobreviveu a tentativa de execução? A "Abertura dos Olhos" fornece
maiores detalhes quando declara: "No décimo-segundo dia do nono mês
do ano passado, entre as horas do Rato e do Boi (23:00 e 3:00
horas), esta pessoa chamada Nitiren foi decapitada. Foi a sua alma
que chegou a esta Ilha de Sado..."Isto, com certeza, não significa
que
15
-
a sua alma tenha se separado do corpo no momento da morte.
Nitiren Daishonin indica de forma indireta que o mortal comum
chamado Nitiren alcançou a Ilha de Sado para cumprir a sua
missão.
"A perseguição de Tatsunokuti"afirma que a terra do Buda não é
um lugar específico onde todos vivem num estado bem-aventurado de
elevada compreesão. De acordo com o princípio de que o indivíduo e
o seu ambiente são inseparáveis , qualquer local onde a pessoa
dedique sua vida a sustentar a lei suprema do Budismo é a terra do
Buda. Isto pode dar a impressão de que o praticante está sendo
incitado a morrer pelo Sutra de Lótus. Porém a intenção não é esta.
Como ele exprime: "Todos os locais onde Nitiren encontra
perseguição é a terra do Buda". O ato de vencer dificuldades
desenvolve a natureza de Buda do indivíduo . Aplicando isto à
prática religiosa , podemos dizer seguramente que dedicar a vida ao
Gohonzon significa devotar o seu tempo e esforço a adorar o
Gohonzon, estudando os ensinos de Nitiren Daishonin e incentivando
a fé das outras pessoas.
Nitiren Daishonin declara que Shijo Kingo, devido às suas ações
devotadas, já criou as causas que o conduzirão à iluminação. Isto é
pressuposto a partir da afirmação de que Nitiren Daishonin relatará
a dedicação de Shijo Kingo quando ele alcançar o Pico da Águia. No
final, este Gosho explana que os deuses budistas seguramente
protegerão aqueles que efetuam seriamente a prática do Budismo.
Nitiren Daishonin expressa sua alegria e convicção nesta
certeza.
Um navio para atravessar o mar do sofrimento
( Shiiji Shiro Dono Gosho- Páginas 1448 a 1449)
Quando perguntei a ele sobre e o que o senhor havia me dito
outro dia, constatei ser exatamente como disse. O senhor, portanto,
deve esforçar-se na fé, mais do que nunca, para receber os
benefícios do Sutra de Lótus.
Escute com os ouvidos de Shih K'uang (1) e observe com os olhos
de Li Lou (2). nos Últimos Dias da Lei, (3) o devoto do Sutra de
Lótus(4) surgirá infalivelmente. Quanto maiores sofrimentos lhe
sobrevêm, maior a alegria que ele sente, devido à sua forte fé. O
fogo não queima mais vivamente quando se adiciona lenha? Todos os
rios fluem para o mar. Entretanto, a sua abundância faz com que os
rios
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-
retrocedam? As correntezas do sofrimento desaguam no mar do
Sutra de Lótus e precipitam-se contra o seu devoto. O rio não é
rejeitado pelo oceano, nem o devoto recusa o sofrimento. Se não
houvesse os rios fluentes não haveria mar. Do mesmo modo , sem
adversidades não haveria devoto do Sutra de Lótus. Como Tient'ai(5)
afirmou: "Todos os rios fluem para o mar, e lenha faz o fogo
estrepitar".
Deve perceber que é por causa de uma profunda relação cármica do
passado que o senhor pode ensinar aos outros mesmo uma única
sentença ou frase do Sutra de Lótus. O Sutra diz: "É extremamente
difícil salvar aqueles que são surdos à Verdadeira Lei". A
"Verdadeira Lei" indica o Sutra de Lótus.
Uma passagem do capítulo Hosshi afirma: "Se há alguém, seja
homem ou mulher , que secretamente ensine uma única frase do Sutra
de Lótus, saiba que é o enviado do Buda". Isto significa que
qualquer um que ensine a outras pessoas mesmo uma única frase do
Sutra de Lótus é claramente o enviado do Buda, seja ele sacerdote
ou freira, leigo ou leiga. O senhor é o praticante leigo e uma das
pessoas descritas no Sutra.
Aquele que ouve mesmo uma sentença ou frase do Sutra de Lótus e
a alimenta no fundo do coração pode ser comparado a um navio que
navega o mar do sofrimento. O Grande Mestre Miao-lo(6) declarou:
"Mesmo uma única frase nutrida no fundo do coração infalivelmente o
ajudará a alcançar a margem oposta. Ponderar sobre uma frase e
praticá-la é exercer a navegação..."
Uma passagem do Sutra de Lótus diz: ...como se a pessoa tivesse
encontrado um navio para fazer a travessia." Esse "navio" poderia
ser descrito da seguinte forma: O lorde Buda, um construtor de
navios de sabedoria infinitamente profunda, coletou a madeira dos
quatro sabores(7) e oito ensinos(8), projetou -o descartando
honestamente os ensinos provisórios, cortou e mostrou os bordos,
usando tanto o certo como o errado, e completou a embarcação usando
os pregos do ensino único, supremo. Deste modo , ele lançou o navio
ao mar do sofrimento. Largando as velas das três mil condições
sobre o mastro da doutrina do Caminho Médio, (9)
impelido pelo favorável vento de "todos os fenômenos revelam a
verdadeira entidade," a embarcação navega à frente, transportando
todos os praticantes que conseguem penetrar no estado de Buda
através da sua pura fé. O Buda Sakyamuni (10) e o timoneiro, o Buda
Taho(11) maneja as velas , e os Quatro Bodhisattvas(12) liderados
por Jogyo movem harmoniosamente os remos regentes. Esse é o navio
de " um navio para fazer a travessia", a embarcação do
Myoho-rengue-kyo. Aqueles a bordo dele são os discípulos e
seguidores de Nitiren. Acredite nisso sinceramente. Quando visitar
Shijo Kingo ,(13) por favor, converse seriamente com ele. Eu lhe
escreverei novamente.
17
-
Com o meu profundo respeito
NitirenEm 28 de abril
Fundo de Cena
Nitiren Daishonin escreveu esta carta para Shiiji Shiro, um
samurai que vivia em Kamakura. Pouco se sabe a seu respeito. A
parte conclusiva deste gosho e referências feitas sobre ele na
carta escrita para Shijo Kingo e Toki Jonin em 1280 e 1281,
respectivamente, sugerem que ele era íntimo desses dois
praticantes. De acordo com os registros de Nikko Shonin, Shiiji
Shiro participou no cortejo fúnebre de Nitiren Daishonin. A partir
daí, supõe-se que tenha sido um praticante devotado, que mantinha
ligação estreita com Daishonin, especialmente nos seus últimos anos
de vida. A detalhada metáfora do ‘navio para fazer uma travessia’
faz-nos imaginar se ele não estaria engajado num serviço
relacionado com a construção de navios ou engenharia, embora
nenhuma informação sobre esse ponto seja disponível.
O manuscrito original não existe mais e algumas ambiguidades
cercam a data de sua escritura. Tradicionalmente, afirma-se que
Daishonin a tenha escrito em 28 de abril de 1261, aos 40 anos de
idade, cerca de duas semanas antes de ser enviado ao exílio na
Península de Izu. Contudo, um outro ponto de vista defende que
tenha sido composta bem mais tarde. Referências como as encontradas
nesta carta ao devoto do Sutra de Lótus encontrando ‘grandes
sofrimentos’ raramente aparecem nas escrituras de Nitiren Daishonin
anteriores à Perseguição de Tatsunokuti e exílio a Ilha de Sado.
Além disso, o teor do incentivo de Daishonin, expresso no final do
gosho: "Quando visitar Shijo Kingo, por favor, converse seriamente
com ele" – sugere que Daishonin estivesse morando em algum lugar
distante de Kamakura. Com base nessas observações, algumas pessoa
supõem que este gosho tenha sido escrito após Daishonin ter se
retirado para o Monte Minobu, talvez até no ano de 1281.
Entretanto, nenhuma conclusão definitiva foi alcançada.
As circunstâncias imediatas envolvendo o exílio a Izu em 1261
podem ser retrocedidas ao verão precedente, quando Nitiren
Daishonin submeteu o seu famo tratado ‘Risho Ankoku Ron’ (A
Pacificação da Terra através do Estabelecimento do Ensino Correto)
ao imperado aposentado, Hojo Tokiyori, em 16 de julho de 1260. Os
praticantes da Nembutsu de altas posições governamentais
enfureceram-se com suas críticas à seita da Terra Pura em seu
tratado, e em 27 de agosto de 1260, uma multidão atacou sua
residência em Matsubagayatsu,
18
-
em Kamakura. Daishonin escapou por pouco e obteve abrigo durante
algum tempo com seu discípulo Toki Jonin, que morava na província
vizinha, Shimousa. Quando ele retornou a Kamakura na primavera de
1261 e retomou seus esforços na propagação, foi preso e
sentenciado, sem julgamento ou investigação, a ser exilado a Ito,
na península de Izu.
Se Nitiren Daishonin realmente escreveu este gosho em 1261,
podemos pressupor que ele possivelmente tenha recebido alguma
admoestração antecipada de sua expulsão eminente e estava
incentivando seus discípulos a resistirem, mesmo no caso de
perseguição. Por outro lado, se ele o escreveu no final de sua
vida, então ao falar sobre tribulações, ele provavelmente estaria
recordando-se da perseguição de Tatsunokuti e os sofrimentos do
exílio na ilha de Sado (1271-1274). De qualquer modo, este gosho
prova seu espírito invencível em face das adversidades, e a sua
voluntariedade para enfrentar perseguições em prol da Verdadeira
Lei – uma atitude que ele manteve durante toda a sua vida.
Na primeira parte deste Gosho, Daishonin explana que o devoto do
Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei infalivelmente encontrará
sofrimentos. No entanto, longe de serem motivos para lamentar,
esses sofrimentos capacitam-no a cumprir o seu grande propósito.
Ele explana que aquele que espontaneamente suporta essas
dificuldades em prol da Verdadeira Lei seguramente experimentará a
grande alegria de atingir o Estado de Buda.
Daishonin também aponta quão difícil e, ao mesmo tempo, quão
nobre é propagar a Lei nos Últimos Dias da Lei, quando as pessoas
não ouvirão prontamente. Ele afirma que acalentar e praticar mesmo
uma única frase do Sutra de Lótus levará uma pessoa à iluminação.
Na parte final do gosho, utilizando a metáfora do "navio para fazer
uma travessia", do vigésimo-oitavo capítulo do Sutra de Lótus, ele
declara que o Nam-myoho-rengue-kyo das Três Grandes Leis Secretas é
o ‘navio’ que seguramente transportará todos os praticantes, sobre
o grande oceano do nascimento e morte, à praia da iluminação
suprema.
COMPLEMENTOS:
1. Shih k'uang: Um músico da corte da dinastia Chou, que serviu
ao Duque P'ing de Chin. Ele foi famoso pelo seu extraordinariamente
agudo senso de afirmação. De acordo com o Lu-Shih_Ch'um-Chíu,
somente ele, dentre um grupo de músicos ilustres foi capaz de
discernir que um sino que o duque havia mandado fundir não estava
no tom perfeito.
2. Li Lou: Um personagem lendário da época do Imperador Amarelo.
Célebre por sua visão excepcionalmente aguçada, afirma-se que era
capaz de distinguir a ponta de um cabelo a centena de passos.
3. Últimos Dias da Lei: O período que, segundo se descreve,
começou dois mil anos após a morte de Sakyamuni, quando as pessoas
não podem mais
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-
atingir a iluminação através de seus ensinos. Nesta época, o
Buda Original faz o seu advento para conduzir as pessoas à
iluminação. Os budistas do tempo de Nitiren Daishonin geralmente
acreditavam que os Últimos Dias da Lei haviam iniciado no ano de
1052. Tradicionalmente, afirma-se que este período irá durar "dez
mil anos e mais, toda a eternidade".
4. Devoto do Sutra de Lótus: Aquele que propaga o Sutra de Lótus
e pratica o budismo de perfeito acordo com seus ensinos. Nos
Últimos dias da Lei, o tempo refere-se especialmente a Nitiren
Daishonin, que ensinou a essência do Sutra de Lótus, a Lei do
Nam-myoho-rengue-kyo, e cumpriu as profecias do Sutra. Numa acepção
mais generalizada, indica os discípulos de Nitiren Daishonin que
abraçam o nam-myoho-rengue-kyo e devotam-se a sua propagação. No
sentido específico, "devoto do Sutra de Lótus"é um outro nome para
o Buda Original do tempo sem começo, que surge nos Últimos Dias da
Lei.
5. Tient'ai (538-597) : Também chamado Chih'i. O fundador da
escola Tient'ai na China. Ele classificou a totalidade do corpo de
sutras budistas de acordo com sua provável ordem, conteúdo e
métodos de propagação, demonstrando que o Sutra de Lótus é o mais
importante de todos eles. Suas explanações sobre o Sutra de Lótus
posteriormente foram compiladas em três grandes obras: Hokke
Guengui ( significado profundo do Sutra de Lótus), Hokke Mongu (
palavras e frases do Sutra de Lótus), e Maka Shikan( Grande
concentração e discernimento). O Maka Shikan apresenta a profunda
doutrina de Itinen Sanzen ( um único momento da vida contém três
mil mundos), elucidando a possessão mútua da verdade última e todos
os fenômenos.
6. Miao-lo (711-782) : Também chamado Chan-jan. Sexto patriarca
da escola Tient'ai na China, considerado como um restaurador da
escola. Ele escreveu detalhados comentários sobre as três
principais obras de Tient'ai, contribuindo, assim, para a
sistematização teórica de seus ensinos. Os comentários mais
importantes de Miao-lo são o Hokke Guengui Shakusen, O Hokke Mongu
Ki e o Makka Shikan Bugyoden Guketsu.
7. Quatro sabores: Os quatro primeiros dos cinco sabores- leite
fresco, nata, coalhada, manteiga e gir (a manteiga purificada mais
excelente, suposta possuir propriedades medicinais). Tient'ai
utilizava esses cinco sabores como uma metáfora para os cinco
períodos que nos quais ele dividiu os ensinos de Sakyamuni, ou
seja, os períodos Kegon, Agon, Hodo,Hannya e Hokke-Nehan. Deste
modo, ele comparou o processo através do qual o Buda Sakyamuni
instruiu os seus discípulos e, gradualmente, desenvolveu a
compreensão deles sobre o processo pelo qual o leite é transformado
no gir. Os quatro primeiros sabores correspondem aos ensinos pré-
Sutra de Lótus, enquanto o gir representa o próprio Sutra de
Lótus.
8. Oito ensinos: Uma outra classificação do corpo de ensinos de
Sakyamuni empregada pela seita Tient'ai. Consiste de duas
subclassificações: os quatro ensinos de doutrina, uma classificação
pelo conteúdo, e os quatro ensinos de método, uma no tripitaka
(zogyo), correspondendo geralmente ao Hinayana que enfatiza o
rompimento dos desejos mundanos, para se escapar do ciclo de
renascimento; (2) o ensino de ligação de (tsugyo) que introduziu o
conceito Mahayana de não substancialidade e Kuu; (3) o ensino
perfeito (engyo) ou Mahayana verdadeiro, que revela a identidade
última do Buda e todos os seres vivos. Os quatro métodos de ensino
são: (1) o ensino súbito (tonkyo), ou os ensinos que o Buda expôs
diretamente, a partir de sua própria iluminação, sem dar aos seus
discípulos qualquer instrução preparatória; (2) o ensino gradual
(zenkyo), que o Buda expôs em estágios progressivos para elevar
gradualmente a compreensão de seus discípulos; (3) o ensino
secreto(himitsukyo), ou os ensinos que o Buda planejou pregar para
que cada um de seus ouvintes se beneficiasse com eles
diferentemente, de acordo com sua respectiva capacidade, sem estar
ciente disto; (4) o ensino indeterminado (fujokyo),através do qual
cada um de seus ouvintes, conscientemente, recebiam um benefício
diferente. Os quatro ensinos de doutrina são, algumas vezes,
comparados aos quatro tipos de
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-
remédios, e os quatro ensinos de método às maneiras como esse
remédio é prescrito e ministrado. No texto deste Gosho, "oito
ensinos" indicam todos os sutras provisórios. O Sutra de Lótus era
tradicionalmente conhecido na escola Tient'ai como "o ensino que
transcende todas as oito categorias".
9. Caminho Médio: A Lei Mística ou realidade última de todas as
coisas que está além de todos os conceitos unilaterais. Em termos
das três verdades, a verdade do Caminho Médio transcende as
verdades da não substancialidade e existência temporária embora
manifeste em ambas. Nitiren Daishonin expressa o" Caminho Médio"
como o Nam-myoho-rengue-kyo. Em contraste com as "velas das três
mil condições"(sanzen) no texto do Gosho, "o mastro da doutrina do
Caminho Médio" corresponde ao momento único da vida (Itinen ).
10. Buda Sakyamuni: O fundador histórico do budismo que viveu há
mais de dois mil anos na Índia. Neste contexto, "sakyamuni"indica o
Buda que propagou o Sutra de Lótus e sentou-se ao lado do Buda Taho
na Torre do Tesouro>
11. Buda Taho: Um Buda que apareceu na assembléia do Sutra de
Lótus sentado numa magnífica Torre do Tesouro que se elevava da
terra. Segundo o capítulo Hoto (11º) do sutra, o Buda Taho vivia no
mundo do Tesouro da Pureza na parte leste do Universo. Quando ainda
se empenhava na prática de bodhisattva, ele prometeu que mesmo após
Ter entrado no nirvana, surgiria na Torre do Tesouro, e atestaria a
veracidade do Sutra de Lótus onde quer que qualquer um pudesse
pregá-lo. Após reunir todos os Budas de todo Universo, Sakyamuni
abre a Torre do Tesouro, e a convite de Taho, senta-se ao lado
deste Buda. Sentados jjuntos na Torre do Tesouro, Taho representa a
realidade objetiva da verdade última, e Sakyamuni, a sabedoria
subjetiva para perceber esta verdade.
12. Quatro Bodhisattvas: Jogyo, Muhengyo, Jyogyo e Anryugyo. Os
quatro líderes dos Bodhisattvas da Terra descritos no capítulo
Yujutsu(15º) do Sutra de Lótus. No capítulo Jinriki (21º), como
líder supremo desses bodhisattvas, o bodhisattva Jogyo recebe o
mandato do Buda para propagar o Sutra de Lótus nos Últimos Dias da
Lei.
13. Shijo Kingo: Um samurai e médico habilidoso que vivia em
Kamakura. Acredita-se que tenha se convertido aos ensinos de
Nitiren Daishonin por volta de1256. Um dos mais dedicados entre
todos os seguidores de Nitiren Daishonin. Ele manteve a fé
solidamente durante toda a tumultuada carreira e atuou como figura
central para os praticantes em Kamakura.
RETIRADO DAS ESCRITURAS DE NITIREN DAISHONIN - VOLUME 3 -
Páginas 257 à 263.EDITORA BRASIL SEIKYO LTDA.
Resposta a Nitigon-ama(Nitigon-ama Gozen Gohenji, pág. 1262)
No dia 8 de novembro de 1280, coloquei diante do Sutra de Lótus
a prece escrita na qual a senhora, Nitigon-ama, expressa a sua
oração, juntamente com seus oferecimentos de um kan de moedas e um
robe sem forro feito de fios de fibra de casca de árvore, e relatei
o assunto aos deuses do Sol e da Lua. Além disso, a senhora não
deve presumir que compreenda a profundidade (dos benefícios do
Gohonzon). O fato
21
-
de a sua oração ser ou não ser respondida depende da sua fé; (e
caso não o seja), a culpa não está , de modo algum, em mim,
Nitiren.
Quando a água é límpida, a lua se reflete nela. Quando o vento
sopra, as árvores balançam. A mente de uma pessoa é como a água. A
fé fraca é como a água lamacenta, e a fé resoluta é como a água
límpida. As árvores são como os princípios (de todas as coisas), e
o vento que as coloca em movimento é como a recitação do sutra.
Deve entender os fatos deste modo.
Com meu profundo respeito,
Nitiren.
Em 29 de novembro de 1280
O Significado da Fé(Myoiti-ama Gozen Gohenji, pág.1255)
O que chamamos de fé não é nada extraordinário. Assim como sua
mulher estima seu marido, como um homem dá a sua vida pela sua
esposa, como os pais não abandonam seus filhos, ou como uma criança
se recusa a deixar sua mãe, da mesma maneira devemos depositar a
nossa confiança no Sutra de Lótus, em Sakyamuni, em Taho e em todos
os Budas e bodhisattvas das dez direções, bem como nos deuses
celestiais e divindades benevolentes, e recitar
Nam-myoho-rengue-kyo. Esse é o significado da fé. Além disso, deve
ponderar as passagens do sutra: "Rejeitando honestamente os ensinos
provisórios" e "Não aceitando nem mesmo um único verso de qualquer
um dos outros Sutras" e jamais pensar em abandoná-las, assim como
uma mulher não joga for a o seu espelho ou um homem não se afasta
de sua espada.
Respeitosamente,
NitirenEm 18 de maio de 1280.
END Vol.VI, pág.93
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-
Fundo de Cena
Nitiren Daishonin escreveu esta carta em Minobu no dia 18 de
maio de 1280, quando estava com 59 anos. Sua recebedora,
Myoiti-ama, era parente de Nissho, um dos seis sacerdotes seniores,
e morava em Kamakura. As poucas cartas remanescentes de Nitiren
Daishonin para ela indicam que era uma praticante séria e de
razoável instrução, emobra tivesse uma saúde frágil. O marido dela
também era um praticante e o feudo deles foi confiscado devido à fé
que abraçavam. Mais tarde, seu marido veio a falecer, deixando a
Myoiti-ama a tarefa de criar sozinha seus dois filhos. Entretanto,
apesar de suas dificuldades, ela continuamente fez oferecimentos a
Nitiren Daishonin. Nesta carta, ele explana que a fé é uma
expressão natural do coração humano e recomenda-lhe que recite
Nam-myoho-rengue-kyo com fé resoluta no Sutra de Lótus, ou seja, o
Gohonzon, abandonando todos os ensinos provisórios.
Aspiração à terra do Buda( TOKY NYUDO GOHENJI- PÁGINAS 955 À
956)
É agora o último período de dez dias do décimo primeiro mês.
Enquanto estava vivendo em Kamakura, na Província de Sagami, eu
pensava que a mudança das quatro estações era igual em todas as
províncias, mas nos dois meses (1) que se passaram desde que
cheguei nesta província do norte, Sado, os ventos congelantes
estiveram soprando sem pausa, e embora haja ocasiões em que o gelo
e a neve param de cair, jamais se vê a luz do sol. Sinto os oito
invernos gelados(2) em meu presente corpo. Os corações das pessoas
aqui são como os dos pássaros e animais; não reconhecem nem
soberano, nem mestre ou pais. Muito menos distinguem a verdade do
erro no Budismo, ou os bons mestres dos maus. Porém, não direi mais
nada disto.
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-
Quando mandei de volta a Teradomari o sacerdote leigo que o
senhor havia enviado no décimo dia do mês para acompanhar-me,
escrevi e confiei-lhe certos ensinos para o senhor(3). Como
provavelmente deve Ter suposto a partir dos mesmos, o advento da
Grande Lei já está diante de nossos olhos. Nos mais de dois mil e
duzentos anos desde a morte do Buda, em toda a Índia, China, Japão
e no mundo inteiro,[conforme afirma o Grande Mestre Tient'ai:]
"Vasubandhu e Nagarjuna perceberam claramente a verdade em seus
corações, mas não a ensinaram. Ao invés disso, eles pregaram os
ensinos Mahayana provisórios, que eram adequados às suas
épocas".(4) Tient'ai e Dengyo deram uma indicação geral da mesma,
mas deixaram a sua propagação para o futuro. Agora esta Lei
secreta, a única grande razão pela qual todos os Budas fizeram o
seu advento, será disseminada pela primeira vez neste país. E, não
é Nitiren a exata pessoa que a propaga?
Os augúrios de sua ascensão já surgiram. O grande terremoto da
passada era Shoka(5) foi um grande presságio de uma espécie jamais
presenciada em épocas prévias, algo totalmente sem precedentes nas
doze gerações de governo divino(6), nos noventa reinados de
imperadores humanos(7), e nos dois mil e duzentos anos e mais desde
a partida do Buda. O capítulo Jinriky[do Sutra de Lótus] afirma:
"Porque [haverá aqueles que] sustentarão fielmente este sutra após
a morte do Buda, todos os Budas se alegram e exibem seus ilimitados
poderes místicos". Este também se refere a "todas as leis do
Buda"(8). Uma vez que esta grande Lei se propagar, os ensinos
pré-Sutra de Lótus bem como todo o ensino teórico do Sutra de Lótus
não mais proverão nem mesmo o menor benefício. O Grande Mestre
Dengyo declara:"Quando o sol se levanta, as estrelas ficam
escondidas(9)". E o prefácio escrito pelo sacerdote Tsun-shih(10)
diz: "No ínicio dos Últimos Dias da Lei, [o Budismo levanta-se no
leste e] ilumuna oeste". Essa grande Lei já apareceu. Os sinais
prenunciando o seu advento superam em muito os de eras prévias.
Ponderando o significado disso, percebo que é porque o tempo[ para
a propagação] chegou. O Sutra afirma:"[Entre esses bodhisattvas]
eram quatro que lideravam a multidão toda. O primeiro chamava-se
Jogyo..."(11) Também diz: "Aquele que é capaz de sustentar este
sutra na era maléfica dos Últimos Dias da Lei..."(12), e "Pegar o
Monte Sumeru e atirá-lo longe.."(13). Gostaria que reunisse e
mantivesse juntos num local os cinco cadernos que lhe mencionei, os
quais contém passagem essenciais dos vários sutras e do "Daitido
Ron".Por favor, assegure que as passagens essenciais dos tratados e
comentários também não se tornem dispersos e perdidos. Diga aos
sacerdotes jovens para não negligenciarem seus estudos. Não deve
lamentar muito amargamente o meu exílio. Os capítulos Kanji e
Fukyo(14) afirmam claramente[que o devoto do Sutra de Lótus
enfrentará perseguições]. A vida é limitada, e não devemos
poupá-la. Aquilo a que devemos aspirar, afinal, éa terra do
Buda.
NITIREN
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-
No vigésimo terceiro dia do décimo primeiro mês do oitavo ano de
Bun'ei (1271).
Estou mandando de volta alguns dos jovens sacerdotes[que me
acompanharam até Sado]. Pode perguntar-lhes como é esta província e
sobre as circunstâncias sob as quais eu vivo. Não é possível
descrever esses assuntos por escrito.
FUNDO DE CENA
No décimo dia do décimo mês, Nitiren Daishonin deixou Eti sob
escolta armada,dirigindo-se para a ilha de Sado, onde ficaria
exilado. No vigésimo primeiro dia, o grupo chegou ao porto de
Teradomari no Mar do Japão, onde ventos adversos os compeliram a
esperar por vários dias antes de realizarem a travesssia para Sado
no vigésimo oitavo dia, e no primeiro dia do décimo primeiro mês
chegou a Tsukahara, um campo desolado usado como cemitério, que
iria ser o seu local de exílio. Lá, foi lhe concedido um alojamento
num pequeno templo dilapidado chamado Sammai-do. Vento e neve
entravam pelos buracos enormes nas paredes e tetos. Talvez por
causa da severa falta de alimento e abrigo, Nitiren Daishonin logo
enviou de volta ao continete alguns dos jovens sacerdotes que o
acompanharam. Pouco antes de fazê-lo, ele escreveu "Aspiração à
Terra do Buda"e confiou-a a eles para seu seguidor Toki Jonin. Foi
a primeira carta que lhe escreveu da Ilha de Sado.
Toki Jonin, um crente leal, servia como vassalo do Lorde Tiba,
na província de Shimosa. Toki foi um sacerdote leigo que
converteu-se ao ensino de Nitiren Daishonin por volta de 1254.
Tanto erudito como devotado, recebeu muitos importantes Gosho, mais
notavelmente "O Verdadeiro Objeto da Adoração".Enquanto Nitiren
Daishonon esteve exilado em Sado, ele contava com Toki para
transmitir mensagens de encorajamento aos praticantes da área de
Shimosa. Esse Gosho em especial indica que ele também havia pedido
a Toki Jonin que cuidasse de seus livros e papéis pessoais durante
sua ausência.
O Gosho inicia-se com uma breve referência às condições
rigorosas as vida de Nitiren Daishonin em Tsukahara. Embora ele
decline descrever suas privações em detalhes, pode se Ter um
vislumbre, através de suas observações quase causais, das terríveis
adversidades que estava sendo obrigado a suportar. Nesta carta, ele
expressa a sua disposiçào para encontrar a morte se necessário em
prol do Sutra de Lótus, bem como a sua alegria por saber ser ele o
devoto do Sutra de Lótus. Ele também declara que a Lei suprema
jamais antes revelada por nenhum dos grandes mestres budistas do
passado agora fez o seu advento. Ele interpreta o grande terremoto
Shoka de 1257 como um presságio de sua ascensão, e cita várias
passagens do Sutra de Lótus e outras fontes para provar a sua
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-
afirmação de que agora, no início dos Últimos Dias da Lei, é o
exato tempo para a grande Lei (Nam-myoho-rengue-kyo) das Três
Grandes Leis Secretas propagar-se.
Nas poucas linhas finais, Nitiren Daishonin explica que, uma vez
que a nossa vida neste mundo é transitória, devemos dedicá-la em
prol da Lei Verdadeira. Ao invés de satisfações fugazes, a nossa
meta última
deve ser atingir a "terra do Buda"ou iluminação - o estado de
ilimitado júbilo, no qual a pessoa percebe a verdade essencial
interior.
PALAVRAS E FRASES
Nitiren Daishonin chegou a Sado no vigésimo oitavo dia do décimo
mês. Ao referir-se a "os dois meses que passaram", ele indica que a
sua permanência na ilha, que iniciou-se no décimo mês, agora já
havia se estendido até quase o final do décimo
primeiro mês.
1. Oito infernos gelados: Oito infernos que, segundo afirma,
encontram-se sob o continente de Jambudvipa. Segundo o Sutra
Nirvana, são: (1) o inferno de Hahava,(2) o inferno de Atata,(3) o
inferno de Alala,(4) o inferno de Ababa,(5) o inferno do lótus
azul, (6) o inferno do lótus vermelho-sangue,(7) o inferno do lótus
escarlate, e (8) o inferno do lótus branco. O nome dos quatro
primeiros derivam-se dos gritos dos sofredores, afirma-se, produzem
nesses infernos devido ao frio terrível. Os quatro outros nomes
originam-se das mudanças que ocorrem na aparência de sua carne
quando o frio a faz abrir-se.2. Isto se refere a "Carta de
Teradomari", que Nitiren Daishonin escreveu a Toki Jonin no
vigésimo segundo dia do décimo mês de 1271.3. Maka Shikan,vol.5.4.
Um grande terremoto que ocorreu na noite do vigésimo terceiro dia
do oitavo mês de 1257, nas vizinhanças de Kamakura, causando grande
devastação e destruindo quase todos os templos e santuários da
cidade.5. Doze gerações de governo divino: As sete gerações de
deuses celestiais e cinco gerações de deuses terrenos que,
afirma-se, reinaram no Japão antes do primeiro imperador humano,
Jimmu. A primeira das divindades terrenas foi Amaterasu Omikami, a
deusa do Sol, reverenciada como a progenitora do clã imperial.6.
Noventa reinados de imperadores humanos: Os sucessivos imperadores
do primeiro imperador, Jimmu(aprox. 660-585 AC) ao nonagésimo,
imperador Kameyama (aprox.1259-1274).7. No capítulo Jinriki (21º),
ao transferir a Lei Mística ao Bodhisattva Jogyo, Sakyamuni
declara: "Descrevi brevemente neste Sutra todas as leis do Buda,
todos os tesouros secretos do Buda e todas as profundezas práticas
do Buda".8. Uma paráfrase do "Tendai Hokkeshu Dempogue". No
original, o Grande Mestre Dengyo usa o sol para representar o Sutra
de Lótus, e as estrelas para simbolizar os ensinos provisórios, ao
passo que Nitiren Daishonin usa o sol para representar o
Nam-myoho-rengue-kyo das Três Grandes Leis Secretas, e as estrelas
para simbolizar os ensinos provisórios e também o ensino teórico do
Sutra de Lótus.9. Tsun-shih (964-1032): Um sacerdote da escola
Tient'ai na dinastia Sung da China. O "prefácio" de Tsun-shih é a
sua introdução
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-
para o " Daijo Shikan Homon"( O Método de Concentração e
Discernimento no Mahayana) do mestre Tient'ai, Nan-yüeh (515-577).
10. A obra de Nan-yüeh ficou perdida durante séculos na China, mas
uma cópia foi trazida ao Japão por Jakusho, um sacerdote da seita
Tendai japonesa, quando ele viajou à China no início do século XI.
Tsun-shih, portanto, diz que o Budismo "levanta-se no leste".
Nitiren Daishonin parafraseia a sua expressão.11. Sutra de Lótus,
cap.15.12. Idem, cap. 17.13. Idem, cap. 11. Essa passagem é uma
parte da seção em verso que explica os seis atos difíceis e nove
fáceis. A sentença diz: "Pegar o Monte Sumeru e atirá-lo longe a
imensuráveis terras do Buda - isto não é difícil...", seguindo-se
mais tarde a afirmação: "Porém, nos tempos maléficos após a morte
do Buda, ser capaz de pregar este Sutra- isto é de fato muito
difícil!"14. Capítulos Kanji e Fukyo: O décimo terceiro e o
vigésimo capítulos do Sutra de Lótus. No capítulo Kanji, oitenta
miríades de milhões de nayutas de bodhisattvas fizeram um voto de
ensinar o Sutra de Lótus na terrível era maléfica após a morte do
Buda. O juramento deles é proferido em verso e enumera os tipos de
perseguição ao se propagar o sutra na era posterior. O capítulo
Fukyo fala de um bodhisattva do mesmo nome, que perseverou em sua
prática apesar da calúnia e insulto, atingindo finalmente a
iluminação suprema através do benefício do Sutra de Lótus.
Retirado do livro "As escrituras de Nitiren Daishonin volume V;
páginas 143 à148.Editora Brasil Seikyo Ltda - 1º Edição.
A Virtude Invisível e a Recompensa Visível
(Intoku Yoho Gosho, pág. 1178)
Nada é mais terrível numa pessoa do que a deslealdade. Visto que
o seu irmão mais velho e o seu irmão mais novo, por vontade
própria, tornaram-se inimigos do Sutra de Lótus e o abandonaram,
eles são os desleais, e o senhor em si não tem culpa.
Porém, se negligenciar cuidar das esposas deles, com certeza
estará agindo de forma desleal. Se o seu feudo for aumentado,
proporcione-lhes o necessário a partir de seus próprios estoques,
não poupando esforços para assegurar o bem-estar delas. Somente se
fizer isso, seus falecidos pais o protegerão sem falta, e as
orações de Nitiren também serão respondidas.
Não obstante que falhas as esposas de seus irmãos possam exibir,
não preste atenção.
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-
Em vista dos fatos, acredito que simplesmente agir como
recomendo, suas terras serão ainda mais ampliadas e o senhor obterá
a confiança dos outros.
Como tenho dito com freqüência, a virtude invisível gera
recompensa visível.
Embora todos os seus colegas samurais tenham feito calúnias a
seu respeito ao seu lorde, e ele próprio tenha acreditado que essas
acusações fossem verdadeiras, pelo fato de o senhor ter, durante
alguns anos, acalentado honestamente um forte desejo quanto à
salvação de seu lorde em sua próxima vida, pôde receber esse
benefício.
E, isto é apenas o início, esteja convicto de que a sua grande
recompensa ainda está por vir.
Além disso, o senhor deve manter um bom relacionamento com os
outros praticantes, não vendo, ouvindo, nem apontando nada a
respeito deles que possa desagradá-lo.
Deve permanecer calmo e continuar oferecendo orações. O que
mencionei anteriormente não é meramente a minha própria opinião. É
o âmago dos mil volumes das escrituras externas e dos cinco mil
volumes da escrituras internas.
Com meu profundo respeito,
Nitiren Em 23 de abril
(END Vol. VI, pág. 61)
Fundo de Cena
Acredita-se que esta carta tenha sido escrita para Shijo Kingo
em abril de 1278, enquanto Nitiren Daishonin estava vivendo no
Monte Minobu. A mesma sugere que a situação de Shijo Kingo tinha
começado a melhorar. No décimo mês do mesmo ano, suas terras foram
aumentadas. Seguindo o conselho de Nitiren, o samurai conseguiu
recuperar a confiança e o favor de seu lorde, sanando o rompimento
que os havia separado desde 1274.
Como resta apenas um fragmento deste Gosho, o conteúdo da parte
precedente é desconhecido. Contudo, parece que os irmãos de Shijo
Kingo haviam renunciado à fé no Sutra de Lótus e também abandonado
suas obrigações familiares; e Nitiren Daishonin recomenda a Shijo
Kingo que providencie o necessário para as esposas deles. Essa
conduta, Nitiren Daishonin, não é apenas
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-
honrada e adequada, mas também possibilita conquistar o respeito
dos outros.
Em seguida, citando um ditado bastante conhecido, ‘a virtude
invisível gera a recompensa visível’, Nitiren Daishonin declara que
os benefícios que Shijo Kingo recebeu são efeitos de sua firme fé,
e que o benefício supremo da iluminação é vindouro.
Ele conclui incentivando Shijo Kingo a não tomar conhecimento
dos efeitos dos outros praticantes e a manter um bom relacionamento
com eles.
Acredita-se que o manuscrito original deste Gosho tenha sido
redigido em doze folhas de papel, sendo que as primeiras nove
tenham sido perdidas. Das três, a décima página foi preservada num
templo e a décima primeira e a décima segunda em outro. Só as
páginas onze e doze foram incluídas nas escrituras em japonês
(Gosho Zenshu) sob o título: ‘Virtude Invisível e a Recompensa
Visível’. A página dez foi inicialmente considerada um fragmento
independente, denominado Fuko Gosho (Sobre Deslealdade), e não
incluída no Gosho Zenshu. Entretanto, estudos mais recentes indicam
que a página dez é, na realidade, a que precede imediatamente ‘A
Virtude Invisível e a Recompensa Visível’. Todas as páginas
encontram-se traduzidas aqui.
O Recebimento de Novos Feudos(Shijo Kingo Dono Gohenji, págs.
1183-1184)
Recebi um kan de moedas. Então, seu lorde concedeu-lhes novos
feudos! Nem parece verdade; isso é tão surpreendente que fico
pensando se não se trata de um sonho. Nem sei o que dizer.
Isso se deve ao fato de as pessoas de todo o Japão e também de
Kamakura, mesmo as que estão a serviço de seu lorde, inclusive os
descendentes do clã dele, desaprovarem a sua crença no ensino de
Nitiren.
Sua fé contínua parecia incompreensível. O simples fato de ter
tido permissão para permanecer no clã de seu lorde já foi motivo de
espanto. Além disso, sempre que seu lorde lhe oferecia a concessão
de uma nova propriedade, o senhor invariavelmente recusava-se a
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-
aceitá-la. Como deve ter parecido estranha aos seus colegas
samurais essa sua recusa, como deve ter soado insultuosa ao seu
lorde !
Sendo esse o caso, estava ansioso em saber como o senhor estaria
passando superando essa época, e, além disso, soube que dezenas de
seus colegas de clã fizeram calúnias a seu respeito para o seu
lorde. Portanto, pensei que provavelmente não poderia obter um
feudo; a gravidade de sua situação parecia opressiva. Além disso,
até seus próprios irmãos o abandonaram. E, no entanto, apesar de
tudo isso, foi-lhe concedido tal obséquio. Nenhuma honra poderia
ser maior do que essa.
O senhor conta que seus novos domínios ocupam uma área três
vezes maior do que Tono'oka. Há um homem da província de Sado que
se encontra aqui (em Minobu) e que conhece totalmente essa área.
Ele diz que, das três vilas, a chamada Ikada é de primeira
categoria. Embora os campos e arrozais possam ser poucos, os lucros
são imensos. Dois dos feudos rendem cada um, anualmente, um
colheita equivalente a mil kan, e o terceiro, trezentos kan. Esses
são os méritos, afirma ele, de suas propriedades.
De qualquer modo, o senhor foi abandonado pelos seus colegas
samurais bem como pelas pessoas próximas, e eles riram a sua custa.
Sob tais circunstâncias, uma carta oficial conferindo-lhe qualquer
espécie de feudo, ainda que fosse inferior a Tono'oka, teria sido
bem-vinda. Entretanto, conforme se verificou, seus novos domínios,
combinados, são três vezes maiores (do que Tono'oka). Não obstante
o quanto essas propriedades possam se mostrar pobres, não se deve
queixar delas, nem aos outros, nem ao seu lorde. Se elogiá-las
repetidamente dizendo que são terras excelentes, seu lorde poderá
conceder-lhe ainda mais feudos. Porém, se referir-se a elas como
terras pobres com uma produção escassa, certamente será abandonado
tanto pelo Céu como pelos outros homens. Deve manter isto em
mente.
O rei Ajatashatru foi um homem digno mas, por matar seu próprio
pai, naquele exato momento, o Céu deveria, por justiça, tê-lo
abandonado, e a terra deveria ter-se aberto para engolí-lo.
Contudo, por causa do mérito que seu pai, o rei assassinado, havia
adquirido fazendo durante vários anos oferecimentos diários ao
Buda, os quais compreendiam quinhentas cargas de carroças, e pelo
mérito que ele próprio conquistaria mais tarde tornado-se protetor
do Sutra de Lótus, o Céu não o abandonou, nem a terra o engoliu. No
final, em vez de cair no inferno, tornou-se um Buda.
O seu caso é semelhante ao dele. Foi abandonado pelos seus
irmãos, hostilizado pelos seus colegas samurais, perseguido pelos
descendentes do clã e odiado por todas as pessoas do Japão. Porém,
no décimo-segundo dia do nono mês do oitavo ano de Bun'ei,
entre
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as horas do Rato e do Boi (da meia-noite às 2 horas), quando eu,
Nitiren, havia incorrido no desagrado das autoridades
governamentais, o senhor acompanhou-me de Kamakura a Eti, na
província de Sagami, segurando firmemente as rédeas do meu cavalo.
Como o senhor provou ser o mais digno aliado do Sutra de Lótus em
todo o mundo, Bonten e Taishaku sem dúvida não poderiam vir a
abandoná-lo.
O mesmo se aplica com relação à consecução do estado de Buda.
Não importando que graves ofensas possa ter cometido, por não ter
ido contra o Sutra de Lótus e por ter mostrado sua devoção ao
acompanhar-me, irá indubitavelmente tornar-se um Buda. O seu caso é
como o do rei Utoku, que deu a própria vida para salvar o monge
Kakutoku e tornou-se o Buda Sakyamuni. A fé no Sutra de Lótus atua
como uma oração (para atingir o estado de Buda). Acima de tudo,
fortaleça ainda mais seu espírito de procura pelo Caminho, de modo
que possa alcançar o estado de Buda nesta existência.
Nunca aconteceu um fato mais oportuno a nenhum membro do clã de
seu lorde, seja sacerdote ou leigo. Ao falar assim sobre o
recebimento de novos feudos pode-se parecer demasiadamente
interessado em desejos mundanos, mas para os mortais comuns os
desejos são algo natural, e, além disso, existe um modo de
tornar-se um Buda sem erradicá-los. O sutra Fuguen, numa passagem
que explana o âmago do Sutra de Lótus, afirma: "Mesmo sem extinguir
seus desejos mundanos ou negar os cinco desejos…". E o Makashikan
do Grande Mestre Tientai diz: "Desejos mundanos são iluminação, os
sofrimentos do nascimento e morte são nirvana". O Daitido Ron do
Bodhisattva Nagarjuna, ao elucidar que o Sutra de Lótus ultrapassa
todos os demais ensinos da existência do Buda, declara: "(O Sutra
de Lótus é) como um grande médico que transforma o veneno em
remédio". Isso significa que um médico de habilidade inferior pode
curar males comuns com remédio, ao passo que um grande médico pode
curar até mesmo doenças graves com veneno poderoso.
Nitiren,Em outubro de 1278.
(END Vol. VI, pág. 253)
Fundo de Cena
Esta carta foi escrita no Monte Minobu para Shijo Kingo em
outubro de 1278. Durante uma época, o lorde Ema, a quem Shijo Kingo
servia, havia se oposto à crença de seu subordinado no Sutra de
Lótus e atormentou-o de várias maneiras, por exemplo, ameaçando-o
de transferência a uma província remota a menos que ele abandonasse
a sua fé. Os colegas samurais de Kingo também o tratavam com
hostilidade, e por algum tempo esteve a ponto de ser deposto do
clã
31
-
e de perder por completo seu sustento. Kingo suportou vários
anos de adversidades até 1277, quando suas circunstâncias mudaram
para melhor graças ao fato de, em sua posição de médico, ter
conseguido curar o lorde Ema de uma doença grave. Por volta de
janeiro de 1278 ele pôde acompanhar o lorde numa missão oficial. Em
outubro, quando esta carta foi escrita, Kingo recebeu não menos que
três novos feudos.
Contudo, pelo conteúdo deste Gosho, parece que ele não estava
totalmente satisfeito com essa avassalação. Acredita-se que as
propriedades que recebera localizavam-se na Ilha de Sado ou, de
qualquer modo, numa região remota, o que pode ter-lhe causado
descontentamento. Nesta carta, Nitiren Daishonin admoesta-o contra
qualquer sentimento de queixa e recomenda-lhe que aprecie o fato de
as circunstâncias estarem, agora, começando a ficar a seu
favor.
Os Quatro Estágios da Fé e os Cinco Estágios da Prática
(Shishin Gohon Sho, pág. 338-343)
Recebi o cordão de moedas que enviou. Os eruditos do budismo
desta época concordam todos que, tanto no tempo do Buda como após a
sua morte, aqueles que desejam praticar o Sutra de Lótus devem
devotar-se aos tipos de aprendizado. Se negligenciarem qualquer um
deles, não poderão alcançar o Caminho do Buda.
No passado, eu também concordei com essa opinião (mas agora este
não é mais o caso). Deixando de lado todas as escrituras sagradas
da existência do Buda, examinemos o assunto à luz do Sutra de
Lótus. Coloquemos de lado também os ensinos contidos nas seções
preparação e revelação. Isto nos leva à seção transmissão, que
constitui um espelho claro para os Últimos Dias da Lei e merece
total confiança (na resolução desta questão).
A seção transmissão possui duas partes. A primeira é a do ensino
teórico e consiste em cinco capítulos, começando com o Capítulo
Hosshi (O Mestre da Lei). A segunda é a do ensino essencial e
compõe-se da parte final do Capítulo Funbetsu Kudoku (Distinção de
Benefícios) mais os demais onze capítulos que constituem o restante
do sutra. Os cinco capítulos do ensino teórico e os onze capítulos
e meio do ensino essencial combinam-se totalizando dezesseis
capítulos e meio, e neles está claramente explicado como se deve
praticar o Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei. Se alguém ainda
tiver dúvidas, pode, ainda, examinar o assunto à luz dos sutras
Fuguen e Nirvana e, então, com certeza, não restará nenhuma
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-
obscuridade. Nesses capítulos de transmissão, os quatro estágios
de fé e cinco estágios da prática expostos no capítulo Funbetus
Kudoku representam os elementos essenciais mais importantes na
prática do Sutra de Lótus, um espelho para as pessoas
contemporâneas do Buda e de épocas após a morte dele.
Ching-his escreve: "Produzir mesmo que um simples momento de fé
e compreensão, representa o início na prática do ensino essencial".
Desses vários estágios, os quatro estágios de fé foram designados
aqueles que viveram na época do Buda, e os cinco estágios da
prática, aqueles após a sua morte. Dentre estes, o primeiro dos
quatro estágios da fé é o de produzir mesmo que um simples momento
de fé e compreensão, e o primeiro dos cinco estágios da prática é o
de alegrar-se em ouvir pela primeira vez o Sutra de Lótus. Esses
dois estágios formam juntos m escrínio contendo os tesouros dos
"cem mil mundos e mil fatores" e os "mil reinos num simples momento
da vida", eles são o portão de onde surgem todos os Budas das dez
direções e das existências.
Os dois sábios e dignos mestres Tientai e Miao-lo estabeleceram
esses dois estágios iniciais da fé e prática, e apresentaram
interpretações referentes a eles. Um equipara-os ao estágio de
soji-soku, aos dez estágios de fé e ao estado do rei girador da
roda de ferro. A segunda compara-os ao primeiro dos cinco estágios
da prática, que se identificam com o estágio de kangyo-soku, no
qual a pessoa ainda não cortou as ilusões do pensamento e desejo. A
terceira iguala-os ao estágio de myoji-soku.
Reconciliando essas diferenças de interpretação, o Shikan
afirma: "As intenções do Buda são difíceis de precisar. Ele
explanou as coisas diversificadamente conforme a diferença na
capacidade das pessoas as quais se dirigia." Se pelo menos
entendessemos isso, que necessidade haveria de debates
enfadonhos?
A minha opinião é que, dessas interpretações, aquela que
equipara esses dois estágios ao estágio de myoji-soku concorda
melhor com o texto do Sutra de Lótus em si, pois, ao descrever o
primeiro dos cinco estágios da prática que se aplicam ao tempo após
a morte do Buda, o sutra faz referência à pessoa que ouve este
sutra e, "sem caluniar ou falar mal dele, desperta sentimentos de
aceitação e alegria". Se se comparar o estágio descrito aqui com um
nível tão avançado como o de soji-soku, ou o do primeiro dos cinco
estágios da prática que são identificados com o estágio de
kangyo-soku, então as palavras "sem caluniar ou falar mal dele"
seriam muito pouco apropriadas.
Em particular, as passagens do capítulo Juryo que citam aqueles
que "perderam a lucidez" e aqueles que "não perderam a lucidez"
referem-se, em ambos os casos, ao estágio de myoji-soku.
Dever-se-ia também levar em consideração os trechos do Sutra
Nirvana que
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-
dizem: "Não obstante acredite ou não, nascerá diretamente na
terra do Buda", e "Se houver pessoas que, lá no local dos Budas tão
numerosos como os grãos de areia do Rio Hiranyavati, conceberem a
aspiração à iluminação, então, mesmo nesta era maléfica,
conseguirão abraçar e defender um sutra como este e não o
caluniarão".Além disso, na frase "um simples momento de fé e
compreensão", a palavra "fë" concerne ao primeiro dos quatro
estágios, e a palavra "compreensão", aos seguintes. Sendo assim,
então "fé sem compreensão" aplica-se ao primeiro dos quatro
estágios da fé. O segundo estágio da fé é descrito no sutra como
aquele no qual a pessoa "compreende de modo geral o sentido das
palavras" do sutra. E, no volume nove do Hokke Mongu Ki, lemos: "O
estágio inicial é diferente dos outros, pois neste ainda não há
nenhuma compreensão".
Chegamos então ao capítulo seguinte, Zuiki Kudoku, (Os
Benefícios da Alegre Aceitação), no qual o primeiro dos cinco
estágios da prática, ou seja, "alegrar-se ao ouvir pela primeira
vez o Sutra de Lótus", é reafirmado e esclarecido com relação às
cinquenta pessoas que, por sua vez, ouvem e se alegram com o Sutra
de Lótus, e o mérito que elas obtêm assim decresce a cada pessoa.
Com respeito ao estágio alcançado pela quinquagésima pessoa,
existem duas interpretações. A primeira sustenta que a
quinquagésima pessoa está no estágio de "alegrar-se ao ouvir pela
primeira vez o Sutra de Lótus"(e, está, portanto, no nível de
Kangyo-soku). A outra que não se pode afirmar que a quinquagésima
pessoa tenha ingressado no estágio de "alegrar-se, ao ouvir pela
primeira vez o Sutra de Lótus" e que ela se encontra ainda no nível
de myoji-soku. Essa última interpretação reflete a idéia de que
"quanto mais verdadeiro o ensino, mais baixo o estágio (das pessoas
que pode levar à iluminação). Consequentemente, por exemplo, o
ensino perfeito pode salvar as pessoas de capacidade mais baixa do
que conseguem as doutrinas dos quatro sabores e ensinos. De maneira
semelhante, o Sutra de Lótus pode salvar pessoas de capacidade mais
baixa do que consegue o ensino perfeito exposto antes dele, e o
ensino essencial do Sutra de Lótus pode salvar mais pessoas do que
o ensino teórico - pessoas de qualquer capacidade. Dever-se-ia
ponderar cuidadosamente sobre a frase de seis caracteres: "Quanto
mais verdadeiro o ensino, mais baixo o estágio (das pessoas que
pode levar à iluminação)."
Pergunta: Nos Últimos Dias da Lei, é necessário que os
iniciantes na prática do Sutra de Lótus devotem-se a todos os três
tipos de conhecimento associados ao ensino perfeito?
Resposta: Essa é uma pergunta muito importante e, assim,
recorrerei ao texto do sutra para respondê-la. Ao descrever o
primeiro, o segundo e o terceiro dos cinco estágios da prática, o
Buda restringe aqueles nesses estágios de praticar preceitos e
meditação e coloca
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-
toda ênfase no simples fator da sabedoria. E como a nossa
sabedoria é inadequada, ele nos ensina a substituí-la pela fé,
fazendo dessa simples palavra "fé", o fundamento. A descrença é a
causa para se tornar um icchantika e para caluniar a Verdadeira
Lei, ao passo que a fé é a causa para a sabedoria e corresponde ao
estágio de myoji-soku.Tientai comenta: "Quando uma pessoa alcança o
estágio de soji-soku, os benefícios que acumulou não serão
esquecidos quando ela renascer numa outra existência. Porém no caso
das pessoas no estágio de myoji-soku ou kangyo-soku, aqueles
benefícios serão esquecidos quando renascerem em existências
sucessivas, embora possa haver algumas entre elas que não se
esqueçam. Mesmo no caso das pessoas que esqueceram esses
benefícios, se elas encontrarem um bom amigo, as sementes de
bondade que plantaram em suas existências prévias serão
revivificadas. Porém, se encontrarem um mau amigo, perderão suas
mentes verdadeiras".
Provavelmente foi isso o que aconteceu aos dois homens eminentes
de média antigüidade, o Grande Mestre Jitaku e o Grande Mestre
Tisho da seita Tendai. Eles viraram as costas para os ensinos de
Tientai e Dengyo, que haviam sido bons amigos para ele, e
transferiram sua devoção a Shan-wu-wei e Pa-kung, que eram maus
amigos. E muitos dos eruditos nos Últimos Dias da Lei foram
iludidos pela introdução de Eshin e sua obra Ojo Yoshu e, como
resultado, perderam a verdadeira mente de fé no Sutra de Lótus,
oferecendo sua lealdade aos ensinos provisórios representados por
aqueles ligados a Amida. Eles são pessoas que "abandonaram o grande
lugar e no lugar dele escolheram o pequeno". Se julgarmos a partir
de exemplos do passado, eles provavelmente sofrerão durante
incontáveis kalpas nos maus caminhos. É a pessoas como essa que
Tientai referiu quando disse: "Se encontrarem um mau amigo,
perderão sua mente verdadeira".
Pergunta: Que prova o senhor pode oferecer para sustentar a sua
alegação ?
Resposta: O volume seis do Makashikan afirma: "As pessoas que
são salvas pelos ensinos pregados antes do Sutra de Lótus são
aquelas que alcançaram um alto nível de habilidade. Isto porque os
ensinos apresentados nesses sutras são meros expedientes. Aqueles
salvos pelo ensino perfeito do Sutra de Lótus pertencem