UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MARIA MADALENA VIEIRA AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL PARA O ASSEDIADO NO AMBIENTE DAS ORGANIZAÇÕES DE TRABALHO Palhoça 2007
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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
MARIA MADALENA VIEIRA
AS CONSEQUNCIAS DO ASSDIO MORAL PARA O ASSEDIADO NO AMBIENTE
DAS ORGANIZAES DE TRABALHO
Palhoa
2007
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MARIA MADALENA VIEIRA
AS CONSEQUNCIAS DO ASSDIO MORAL PARA O ASSEDIADO NO AMBIENTE
DAS ORGANIZAES DE TRABALHO
Trabalho de Concluso de Curso II apresentado comorequisito parcial para a obteno do ttulo de Psiclogapela Universidade do Sul de Santa Catarina.
Orientadora: Msc. Juliane Viecili
Palhoa
2007
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MARIA MADALENA VIEIRA
AS CONSEQUNCIAS DO ASSDIO MORAL PARA O ASSEDIADO NO AMBIENTE
DAS ORGANIZAES DE TRABALHO
Este trabalho de concluso de curso foi julgadoadequado obteno do ttulo de Psicloga e aprovadoem sua forma final pelo Curso de Psicologia, daUniversidade do Sul de Santa Catarina.
Palhoa, 16 de maio de 2007.
_____________________________________
Professora e orientadora Juliane Viecili, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina
_____________________________________
Professora Lgia Tumolo, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina
_____________________________________
Professora Regina Ingrid Bragagnolo, Msc.
Universidade do Sul de Santa Catarina
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Dedico este trabalho aos meus queridos filhos,
aos meus pais, minha famlia e ao meu
companheiro Fernando com quem tenho
dividido todos os momentos de minha vida e os
meus planos para o futuro.
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AGRADECIMENTOS
Ao concluir este trabalho, muitas pessoas so lembradas porque estiveram presentes
durante o processo de sua construo e de alguma forma contriburam para que ele pudesse ter
sido concretizado. De modo especial e com todo carinho, agradeo:
- Professora Juliane, minha orientadora nesta pesquisa, por toda ajuda e ateno que
soube dar;
- professora Maria do Rosrio, pelo incentivo e pela ajuda para que este trabalho
chegasse ao seu final, e professora Tnia, por todo apoio fornecido no momento mais crtico da
constituio deste trabalho;
- aos meus queridos e amados filhos, Brbara e Joo Victor, pela grandiosidade de
saberem dividir todo o tempo necessrio com a construo deste trabalho;
- aos meus pais, rica e Gumercindo, pelo carinho e pela ateno dispensados;
- minha famlia, presentes nos momentos mais difceis e decisivos deste trabalho;
- ao meu companheiro, Fernando, por todo apoio e fora dispensados sempre
importantes; e
- a Deus e a Nossa Senhora, a quem tantas vezes recorri, obrigada.
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O futuro tem muitos nomes. Para os fracos, o inatingvel. Para os temerosos, o
desconhecido. Para os valentes, a oportunidade (Victor Hugo).
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RESUMO
O objetivo deste trabalho avaliar as conseqncias do assdio moral para o assediado em
organizaes de trabalho. A partir da identificao da existncia do assdio moral no ambiente
das organizaes, surge a necessidade de abordar esse fenmeno com mais detalhamento.
Produto das relaes de poder que se deterioram diante do desenvolvimento econmico e das
exigncias postuladas pelo mercado so aspectos que podem ter influenciado o assdio moral a
tomar um lugar de destaque no mundo do trabalho. Para tanto, na presente pesquisa buscou-se
estudar qual a implicao desse fenmeno na sade do sujeito assediado. Utilizando a abordagem
qualitativa nesta pesquisa, foi realizada anlise bibliogrfica a fim de se poder compreender a
problemtica levantada. As categorias de anlise e das informaes extradas das bibliografias
foram criadas aps o levantamento realizado, posteriormente seleo das bibliografias. Foi
possvel conceituar o assdio assim como identificar as principais decorrncias para a sade do
trabalhador, dentre as quais se destacam a depresso e o estresse, podendo inclusive levar o
sujeito assediado ao suicdio, fato que se caracteriza como uma violncia psicolgica. A partir da
viso dos autores, constatou-se que se faz necessria a ateno das autoridades competentes com
a proposio de uma lei que ampare legalmente a prtica do assdio moral no ambiente de
trabalho, alm de uma maior conscientizao por todos que compem a organizao do trabalho
para inviabilizarem a produo e a proliferao do fenmeno nos ambientes organizacionais.
Palavras-chaves: Assdio Moral. Sade do Trabalhador. Sofrimento Psquico.
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ABTRACT
This works purpose is to evaluate the consequences of moral harassment for the harassed
individual in work organizations. Identified the existence of moral harassment in the
organizations environment, a need for a more detailed approach of this phenomenon arises.
Being a result of economic development and market demands, moral harassment becomes an
important issue in the work world. The present research analyzes the implication of this
phenomenon in the harassed individuals health. Using a qualitative approach, a bibliographic
analysis was made in order to comprehend the problem in question. Based on this analysis and on
the information extracted from these references, categories were created, after the bibliography
selection. Then, it was possible to form a concept of harassment and identify the main outcomes
on the workers health. Among them, there is specially depression and stress, even leading the
worker to commit suicide. From the authors' vision, attention from the competent authorities is
necessary in order to propose a law that sustains moral harassment in the work environment
legally. Also, it's important for all people from the organization to become conscious of this
phenomenon and make its production and proliferation nonviable in the organizations'
environment.
Keywords: Moral Harassment. Worker Health. Psychic Suffer.
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SUMRIO
1 INTRODUO .......................................................................................................................... 91.1 CONTEXTUALIZAO DO TEMA E DO PROBLEMA ................................................... 101.2 JUSTIFICATIVA.................................................................................................................... 121.3 OBJETIVOS............................................................................................................................ 131.3.1 Objetivo geral...................................................................................................................... 131.3.2 Objetivos especficos........................................................................................................... 132 FUNDAMENTAO TERICA........................................................................................... 142.1 UMA INTRODUO AO ASSDIO MORAL .................................................................... 14
2.1.1 Definies do termo Assdio moral no trabalho.......................................................... 182.1.2 O assdio moral sob a tica organizacional ..................................................................... 193 MTODO.................................................................................................................................. 243.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA.................................................................................. 243.2 FONTES DE INFORMAO................................................................................................ 243.3 SITUAO E AMBIENTE.................................................................................................... 243.4 INSTRUMENTOS DE COLETA E REGISTRO DE DADOS .............................................. 253.5 ESCOLHA DAS FONTES DE INFORMAO ................................................................... 253.6 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ................................................................... 273.7 PROCEDIMENTO DE ORGANIZAO, TRATAMENTO E ANLISE DE DADOS..... 28
4 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................................. 464.1 CARACTERSTICAS DO ASSDIO MORAL E OS COMPORTAMENTOS DOSSUJEITOS ENVOLVIDOS .......................................................................................................... 464.2 ADOECIMENTO EM DECORRNCIA DO ASSDIO MORAL E A RELAO COMALGUMAS PATOLOGIAS ......................................................................................................... 544.3 O ASSDIO MORAL E A ORGANIZAO DE TRABALHO.......................................... 57
5 CONSIDERAES FINAIS................................................................................................... 62REFERNCIAS .......................................................................................................................... 66
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1 INTRODUO
Este trabalho tem o objetivo de estudar as conseqncias do assdio moral para o
sujeito assediado e perceber como funcionam as relaes de empregador/empregado no ambiente
de trabalho, caracterizando as implicaes do assdio moral para a pessoa assediada.
O assdio moral vem sendo percebido e estudado por psiclogos, mdicos,
socilogos, advogados, em vrios nveis no mbito da convivncia entre pessoas nas
organizaes. Para tanto, cabe discutir sobre o assunto detalhadamente, dando a ele um status
necessrio dentro do ambiente organizacional. O assdio moral aparece provavelmente como
uma tendncia que vem aumentando consideravelmente com o passar dos anos, podendo ser,
entre outros aspectos, fruto da desestabilizao econmica dos indivduos diante da flexibilizao
do trabalho.
De acordo com o siteAssdio Moral (ASSDIO MORAL NO TRABALHO, 2006),
no Brasil, o tema ganhou maior nfase de estudo depois da divulgao da pesquisa realizada por
meio do livro da Dra. Margarida Barreto, em 2000, Uma jornada de humilhaes", e ainda, no
mesmo ano, a publicao do livro de Marie-France Hirigoyen, com o ttulo Assdio moral: aviolncia perversa no cotidiano. A partir da publicao dessas obras, as pessoas assediadas, que
sofriam em silncio, passaram a externar suas angstias ousam agora se expressar e denunciar as
prticas abusivas de que so vtimas (HIRIGOYEN, 2005, p. 9).
O objetivo principal deste trabalho avaliar as conseqncias psquicas do assdio
moral no ambiente das organizaes de trabalho para os assediados por meio de anlises dos
comportamentos caracterizados como assdio moral, bem como analisar o impacto do assdio
moral na sade dos sujeitos marcados por tal ato. Alm disso, realizou-se este estudo com o
propsito de promover uma reflexo acerca do assunto, que se apresenta no s no ambiente
organizacional (enfoque deste estudo) mas tambm em escolas, famlias e relaes sociais.
Um dos desafios desta pesquisa, entre outros, foi caracterizar as implicaes das
estratgias do agressor (assediador) no comportamento do assediado, alm de identificar as
implicaes do assdio moral para a pessoa assediada, que podero ser caracterizadas como
constituintes na composio do assdio moral. Nesse sentido, h necessidade de explicar
sociedade as diferentes formas de assdio moral, da mesma forma, buscar divulgar qual o
posicionamento de ambos os sujeitos envolvidos direta ou indiretamente nessa ao.
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Em funo do que foi descrito, o presente estudo apresenta a seguinte questo como
problema de pesquisa: Quais as conseqncias do assdio moral para o assediado no ambientedas organizaes de trabalho?.
O trabalho foi dividido em captulos, sendo este da introduo no qual so
especificados tema e problema, justificativa e objetivos. O Captulo 2 apresenta a fundamentao
terica na qual foi baseada o trabalho; no Captulo 3 exibido o mtodo utilizado na pesquisa,
sendo explicitados a caracterizao, as fontes de informao, os instrumentos de coleta e registro
de dados, e o procedimento seguido para organizao, tratamento e anlise de dados. O Captulo
4 trata dos resultados; e o Captulo 5 apresenta as consideraes finais acerca da pesquisa. Ao
final encontram-se as referncias bibliogrficas do estudo.
1.1 CONTEXTUALIZAO DO TEMA E DO PROBLEMA
Para Hirigoyen (2005), o estudo sobre o assdio moral originou-se na Sucia,
estendendo-se pela Frana a partir da histria de um homem aposentado que, ao perceber-se
assediado moralmente, relatou o fato esposa e, juntamente com ela, fora buscar respaldo
jurdico para o seu problema, o que no encontrou. Logo, a vtima suicidou-se e deixou um
bilhete justificando a sua atitude no qual afirmava haver tido um problema com o seu chefe, no
relato a vtima descreve as aes do chefe. Em seguida, foi checada a informao e confirmada a
sua declarao, ficando constatada a prtica de assdio moral. A partir desse episdio, foi
instituda uma lei na Frana para atender s necessidades e s peculiaridades desse problema.
Margarida Barreto (2000) considera que a violncia moral no trabalho to antigaquanto o trabalho, porm o problema vem aumentando na dcada de 1990. Corroborando o que
afirma a autora, os dados do Ministrio do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2006a) revelam que
em 2003 o Ncleo de Promoo da Igualdade de Oportunidade e de Combate Discriminao no
Trabalho da DRT/SP atendeu a 192 trabalhadores da regio metropolitana de So Paulo
violentados moralmente; em 2004, foram 229; em 2005, o nmero aumentou para 248; e at o
primeiro semestre de 2006 174 pessoas j haviam sido atendidas. Segundo o Ministrio do
Trabalho e Emprego (BRASIL, 2006a), 90% das denncias recebidas pelo ncleo constituem-se
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assdio moral.
De acordo ainda com o Ministrio do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2006a), oassdio moral continua sendo o principal motivo da maioria das denncias feitas no Ncleo de
Apoio a Programas Especiais (NAPE) da Delegacia Regional do Trabalho (DRT/PR), que tem
como funo ajudar o combate discriminao e ao abuso de poder no local de trabalho. Do total
de atendimentos realizados pelo NAPE, em 2005, foram registradas 143 denncias, sendo 49,6%
de assdio moral. A maioria dessas denncias est relacionada agresso verbal e
discriminao com gestantes devido s ausncias no trabalho, quando essas tinham consultas
mdicas ou gozavam de licena-maternidade. Cria-se, portanto, muitas vezes, um ambiente
desagradvel no trabalho, o que leva o prprio empregado a pedir demisso, desmotivado pelo
excesso de constrangimento e humilhaes. A atitude mais usual dos assediados costuma ser a
fuga, j que os possveis mediadores de conflito no vivenciam o problema de perto e
desconhecem a realidade dos locais de produo.
As origens do assdio, para Hirigoyen (2005), resumem-se s novas relaes de
emprego. No mundo do trabalho, os dirigentes e os executivos no levam, suficientemente, a
srio as dificuldades relacionais, ou seja, os conflitos, os relacionamentos interpessoais mal
estabelecidos, assim como todo tipo de problema oriundo das relaes interpessoais, a no ser
que isso acarrete, de fato, algum prejuzo evidente para a empresa. Alm disso, somam-se as
presses por produtividade por parte dos dirigentes e a reduo de custos pelas empresas
capitalistas, que aumentam a competitividade, desumanizando e dificultando o ambiente de
trabalho para que o clima de cooperao e de solidariedade surja entre os trabalhadores, de
acordo com Hirigoyen (2005).
Ainda sob o ponto de vista organizacional, de acordo com Guedes (2004), so fatores
como a competitividade acirrada, a busca por parte das empresas do aperfeioamento constantede seus empregados e o foco na produtividade os maiores precursores para o esfriamento nas
relaes humanas e, conseqentemente, o incio do terror psicolgico que, silenciosamente,
destroem as vtimas.
No sculo XX e XXI, devido s presses impostas pelo modelo capitalista de
produo, muito se tem estudado sobre o fenmeno do assdio moral no mbito das organizaes
de trabalho com o argumento de que a existncia do fenmeno to prejudicial para o indivduo
como tambm para a organizao, e que a forma com que vinha sendo tratado o assunto j no
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serve mais aos propsitos da sociedade. Sendo assim, o estudo do tema pode vir a ajudar a
percepo de novas formas de relaes para o trabalho, a partir de novos arranjosorganizacionais, privilegiando as dimenses humanas.
1.2 JUSTIFICATIVA
A escolha do tema assdio moral deu-se por ser um fato que merece considervel
ateno nas relaes organizacionais, embora no seja um fenmeno novo, pois j estudado h
pelo menos duas dcadas (1990 e 2000) por alguns autores em vrios pases. No Brasil comeou
a ser discutido com os estudos de Margarida Barreto, embasando-se nas pesquisas realizadas na
Sucia por Marie-France Hirigoyen, em 2000. O crescimento da discusso sobre o processo de
flexibilizao do trabalho e competitividade que intensifica e generaliza o problema nos
ambientes de trabalho acabou por fortalecer assim os estudos sobre essa temtica.
O mrito e a relevncia de estudar um fenmeno como o assdio moral a
abrangncia de uma definio que pode reunir uma srie de comportamentos de suas vtimas,
geralmente, trabalhadores de empresas de mdio e grande porte, os quais notavam algo errado,
mas que, pela falta de uma categoria especfica para esse assdio, muitas vezes, submetiam-se e
tornavam-se coniventes em tais prticas perversas. Prticas essas que implicam em um ato de
terrorismo psicolgico, afetando a sade mental e fsica do trabalhador assediado, acarretando
doenas como depresso e estresse, que em alguns casos podem levar at ao suicdio
(NASCIMENTO, 2006).
Este trabalho no tem a inteno de esgotar o tema e sim de mostrar o crescenteinteresse de diversas reas profissionais como reas da medicina do trabalho, jurdica e
sociolgica, e principalmente a reflexo sobre os aspectos psicolgicos resultantes desse
fenmeno. A humanidade convive, silenciosamente, com o abuso de poder nas relaes
interpessoais, portanto, a investigao deste tema se justifica pelos benefcios conhecidos a partir
dos conhecimentos trazidos no desenvolvimento deste trabalho. Conhecer as conseqncias do
assdio moral para o assediado faz-se necessrio, pois, a partir desse conhecimento, possvel
conduzir melhor as situaes que supostamente podero desenvolver esse fenmeno dentro das
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organizaes. Evitando dessa forma, futuras conseqncias danosas na sade do assediado,
implicando em melhores condies de trabalho assim como melhores condies de vida para otrabalhador.
O presente trabalho oferece a oportunidade de reflexo e de sistematizao dos
conhecimentos adquiridos no Curso de Psicologia, abrangendo a vivncia de um estudo que
contribuir para um melhor entendimento em relao ao tema assdio moral para a sociedade.
Logo, faz-se necessrio este estudo tendo em vista os benefcios para a sociedade dentro de uma
perspectiva de conhecimento no que tange identificao dos aspectos envolvidos no assdio a
fim de evitar o desenvolvimento desse fenmeno. Sendo assim, torna-se social e cientificamente
relevante produzir conhecimento acerca do tema.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo geral
Analisar as conseqncias do assdio moral para o assediado em organizaes de
trabalho.
1.3.2 Objetivos especficos
Caracterizar quais os comportamentos constituintes do assdio moral.
Caracterizar o impacto do assdio moral na sade dos sujeitos.
Caracterizar as conseqncias psicossomticas para o assediado.
Caracterizar as conseqncias financeiras para o assediado.
Caracterizar as conseqncias nos relacionamentos interpessoais dos assediados.
Caracterizar as conseqncias ao abalo na integridade moral e fsica do assediado.
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2 FUNDAMENTAO TERICA
O assdio moral est implicitamente ligado s relaes humanas que ocorrem nos
ambientes de trabalho, tendo em vista que todo o sucesso de uma relao, assim como de uma
organizao, depende de como se estabelecem as relaes humanas. Nesse contexto, as relaes
entre colegas de trabalho (com diferentes posies hierrquicas) nem sempre se configuram como
relaes saudveis, podendo acarretar diferentes graus de sofrimento psquico para os
trabalhadores. O assdio moral caracteriza um tipo de relao que gera sofrimento aos
trabalhadores pelo tipo de relao estabelecida entre aquele que submete o outro a situaes
constrangedoras, humilhantes, de exposio, entre outras.
2.1 UMA INTRODUO AO ASSDIO MORAL
A expresso Relaes Humanas tem sido utilizada de forma histrica em nossasociedade em diversos sentidos, mas comumente tem sido aplicada para significar o estado de
nimo do agrupamento humano de determinada organizao. Seu uso tambm se refere
determinao da atitude e do comportamento de um grupo de dirigentes para com os seus
dirigidos.
As Relaes Humanas, no trabalho, podem ser entendidas como a rede de relaes
mantidas entre as pessoas e os grupos no ambiente organizacional. Nesse contexto, a noo de
rede de contatos remete a relaes humanas como eventos sociais originrios desde a
antigidade, podendo-se citar quando os homens saam juntos para apanhar frutos e plantas,
acentuando-se quando caavam ou pescavam em grupos e intensificando-se ainda mais com o
aparecimento da agricultura, chegando-se ao pice durante a atividade industrial (CROZIER,
1981).
O grande crescimento das relaes humanas no trabalho e o avano das cincias
sociais foram importantes impulsores para o advento das tcnicas de Relaes Humanas no
trabalho. As cincias como Filosofia, Sociologia e Psicologia passaram a estudar as relaes
humanas no trabalho como um aspecto importante nas relaes sociais de maneira geral.
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As Relaes Humanas, invariavelmente, so regidas por exerccios de poder e
desempenhos de papis de liderana, logo, entender esses fenmenos inerentes s relaeshumanas faz-se necessrio para uma melhor compreenso acerca do papel do lder. Nesse
contexto, reconhecido no s o real papel da figura de um lder como tambm a necessidade de
ele obter o mnimo conhecimento no que diz respeito a relaes humanas. Cabe dessa forma
ressaltar que a rigidez assim como a centralizao so oponentes da postura adequada de um
lder, e acabam sendo as ferramentas utilizadas pelos lideres como forma de manter a
estabilizao do poder. Sendo assim, mudar esse modelo de gesto implica em correr riscos, os
quais no so muito favorveis a quem deseja manter-se no poder com soberania, como cita
Crozier (1981).
A rigidez com a qual so definidos o contedo das tarefas e as relaes entre essastarefas e a rede de relaes humanas necessrias para o seu cumprimento tornam difceisas comunicaes entre os grupos e com o meio ambiente, as dificuldades resultantes, emlugar de impor uma mudana radical do modelo, so utilizados pelos indivduos e pelosgrupos para melhorar suas posies na luta pelo poder no seio da organizao, e essescomportamentos suscitam novas presses em favor da impersonalidade e dacentralizao, j que, dentro desse sistema, a impersonalidade e a centralizao oferecema nica soluo possvel para acabar com os privilgios abusivos, adquiridos pelosindivduos e pelos grupos (CROZIER, 1981, p. 283).
Fica registrada a importncia da ressignificao das reaes passivas dos sujeitos no
ambiente das relaes organizacionais, a partir da autonomia que lhe cabido. Segundo as
anlises de Crozier (1981), entende-se que o comportamento humano movido por questes de
ordem afetiva, sendo que os membros de uma organizao atuam tambm como agentes
autnomos, de acordo com sua prpria estratgia (p. 267). Assim, Crozier (1981, p. 283)
argumenta que o seu esquema de interpretao do sistema burocrtico no est mais baseado
sobre reaes passivas do fator humano, mas no reconhecimento da natureza afetiva do agentehumano que procura, de todas as maneiras e em todas as circunstncias, tirar o melhor partido
possvel de todos os meios a sua disposio.
Essas observaes de Crozier sobre o comportamento humano dentro das
organizaes dizem respeito aos valores que passaram a imperar na sociedade. A busca pelo auto-
interesse e o abandono da razo coletiva, prpria da pessoa preocupada com o bem comum, esto
refletidos na estrutura das organizaes e no comportamento dos indivduos, o que acaba por
reforar as bases valorativas dessa sociedade.
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O sistema de cooperao entre todos os nveis hierrquicos de uma organizao o
fator que impulsiona para um ambiente de trabalho mais humano. O que de fato pode-se criar,segundo Caete (2006), um ambiente de trabalho mais cooperativo em vez de competitivo, em
que seja reconhecida e estimulada a conduta solidria; um lugar onde as pessoas aprendam a
ouvir e a desenvolver a empatia, respeitando as regras para bom convvio social e que dizem
respeito inclusive sade coletiva, tais como no impor prticas insalubres s equipes com
excesso de horas extras, no permitir o abuso de poder, um ambiente mal iluminado, mal
ventilado e ergonomicamente inadequado, no admitir chantagens nem ausncia de avaliao de
desempenho justa, no tolerar assdio moral e sexual.
A flexibilizao da modalidade de atuao do novo mercado de trabalho propicia a
formao de algumas patologias consideradas tambm responsveis pela constituio do assdio
moral no ambiente de trabalho. Para Tatto (2001), as presses constantes sofridas pelos
empregados no que tange ao aumento da carga horria propiciam o desenvolvimento de um
crculo de medo, de terror e de competio. Alm disso, so percebidas aes de desprezo, de
provocao, de inveja e de perseguio, corroborando assim o clima de terror desse contexto.
Como conseqncia surgem novas formas de patologias ligadas a problemas oriundos da
flexibilizao: doenas ocasionadas por esforos repetitivos, estresse, falta de auto-estima etc.
cujos efeitos, segundo a psicoterapeuta francesa Marie-France Hirigoyen (2005), podem ser um
"novo" fenmeno nocivo sade do trabalhador denominado assdio moral.
A partir da necessidade de impedir a proliferao do assdio moral no ambiente
organizacional, a adoo de limites legais passou a ser a tnica como forma de coibir o seu
desenvolvimento. Hirigoyen (2005) diz que o assdio moral tornou-se, a partir de 2000, uma forte
preocupao social. Diante de um cenrio repleto de humilhaes, fez-se necessria a adoo de
limites legais que preservassem a integridade fsica e mental dos trabalhadores, sob pena de quefosse perpetuada uma "guerra invisvel" de difcil diagnstico e, s vezes, travestida de puro jogo
de poder nas relaes de trabalho.
As tcnicas de coero utilizadas pelos assediadores so as mais variadas possveis e
acontecem de forma pouco visveis ou mesmo imperceptveis, evidenciando uma forma de
violncia psicolgica. De acordo com Hirigoyen (apud NAVARRO, 2000), os assediadores se
utilizam de vrias tcnicas com o objetivo de desestabilizar a vtima, fazendo uso de aes que as
levem desvalorizao, humilhao, a aluses maldosas, mentira. Tais aes so feitas de
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forma tal que os companheiros de trabalho no percebam atitudes to mesquinhas por parte do
assediador, e como conseqncia tem-se vtima mais vulnervel. conveniente ressaltar que osassediadores, tambm chamados de socialkillers,retornam situao simulando-se vtimas. Alm
disso, Navarro (2000) complementa que com palavras aparentemente andinas, ou seja, com
mensagens subliminares possvel desestabilizar uma pessoa, isol-la e at destru-la, sem que as
pessoas volta possam intervir.
Depois da exposio das opinies de alguns especialistas nesse assunto, cabe o
questionamento: como saber quando se trata ou no de assdio moral? Para Hirigoyen (apud
NAVARRO, 2000), as fronteiras entre assdio, estresse, parania e hipersensibilidade so pouco
precisas, sendo todos os elementos, que entram na definio de assdio moral, usados
pontualmente por qualquer pessoa, seja em que quadro de trabalho for. De acordo com a autora, o
que caracteriza o assdio moral, tornando-o destruidor, a freqncia e a repetio no tempo.
Conforme Navarro (2000), nas organizaes o assdio moral transforma-se em
assdio cnico, ou seja, despretensioso, cujo objetivo de transformar o empregado em um
fantasma, retirar responsabilidades de trabalho do empregado, dar-lhe menos tarefas ou tarefas
menos interessantes, faz-lo se sentir intil, submetendo-o, ao mesmo tempo, a todas as presses
j descritas. A desmoralizao neste caso pretende forar o empregado a cometer faltas
profissionais que possam justificar o seu desligamento da organizao. J em outros casos esse
mesmo processo pode levar pessoas visadas ao suicdio. Sabe-se que no h uma soluo
definitiva para o problema, pois a realidade que o sistema de trabalho, hoje, propicia esse tipo
de comportamento ao tratar o trabalhador como um objeto descartvel, mas quando h a
existncia do problema, torna-se necessria a criao de condies mais harmnicas nas
reparties em que essas anomalias se fazem presentes para que a sade do trabalhador seja
resguardada.
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2.1.1 Definies do termo Assdio moral no trabalho
O termo assdio moral tambm conhecido como hostilizao no trabalho ou
assdio psicolgico no trabalho, conhecido no mundo como psicoterror, mobbing, bullying,
harclement moral ou ijime, expresses oriundas respectivamente do Brasil, dos Estados Unidos,
da Inglaterra, da Frana e do Japo (HIRIGOYEN, 2005, p. 76-85). Sobre o assunto, Glckner
(2004, p. 17) acrescenta que o conceito francs o que mais se aproxima da realidade brasileira.
Hirigoyen (apud NAVARRO, 2000) conceitua o termo assdio moral como todo
tipo de ao, gesto ou palavra que atinja, pela repetio, a auto-estima e a segurana de um
indivduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competncia, implicando em dano ao ambiente de
trabalho, evoluo da carreira profissional ou estabilidade do vnculo empregatcio do
funcionrio, tais como marcar tarefas com prazos impossveis, passar algum de uma rea de
responsabilidade para funes triviais, tomar crdito de idias de outros, ignorar ou excluir um
funcionrio s se dirigindo a ele por meio de terceiros, sonegar informaes de forma insistente,
espalhar rumores maliciosos, criticar com persistncia e subestimar esforos. Nesse contexto, o
que efetivamente pode ser considerado assdio moral no trabalho? Glckner (2004, p. 17) afirma
que assdio moral refere-se ao conhecido fenmeno de exposio dos trabalhadores, em geral, a
situaes humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas, durante a jornada de trabalho
e no exerccio de suas funes.
Para Barreto (apud TARCITANO; GUIMARES, 2004), o assdio moral
caracteriza-se por atos e comportamentos agressivos, os quais objetivam a desqualificao e
desmoralizao profissional e a desestabilizao emocional e moral do(s) assediado(s), o que
passa para o ambiente de trabalho um ar desagradvel, insuportvel e hostil. O autor procuraressaltar ainda que todos esses atos, para caracterizarem-se como assdio moral, necessitam
acontecer com uma maior freqncia.
Existem, de fato, vrias definies para o termo assdio moral que podem ser
analisados, por exemplo, na rea da medicina, da psicologia e jurdica. Como esse trabalho
concentra-se na rea de gesto de pessoas, procurou-se restringir definies e estudos no mbito
da psicologia.
Dos conceitos expostos anteriormente, pode-se perceber que o elemento comum,
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alm da finalidade de excluso, a modalidade da conduta, a qual sempre se verifica agressiva e
vexatria, capaz de constranger a vtima, incutindo nela sentimentos de humilhao,inferiorizao, afetando essencialmente a auto-estima do assediado, assim como sua integridade
fsica e psicolgica.
A partir desse resgate terico do que alguns autores consideram essencial quando se
fala de assdio moral, foi possvel perceber que o assdio traz severos danos para o sujeito
assediado. Dessa forma, a partir do momento em que as organizaes passam a aderir cuidados
ou programas de preveno de combate ao assdio moral contribuem para a sua extino.
2.1.2 O assdio moral sob a tica organizacional
O assdio moral pouco observado no ambiente organizacional, seu reconhecimento
no muito perceptvel pelos trabalhadores. Ainda assim, a Legislao brasileira possibilita
identificar diversas aes que implicam o assdio moral a fim de regulament-lo. De acordo com
o site da Associao Nacional dos Magistrados da Justia do Trabalho (2006), a justia prev
acusao penal desse tipo de delito em alguns Estados e Municpios, sendo amparada pela: a) Lei
n 13.218, de 2002, da Cmara Municipal de So Paulo, que dispe sobre a aplicao de
penalidades prtica de assdio moral nas dependncias da Administrao Pblica Municipal; b)
Lei n 511, de 4 de abril de 2003, da Cmara Municipal de So Gabriel do Oeste/MS, que dispe
sobre a aplicao de penalidade prtica de assdio moral no mbito da Administrao Pblica
de So Gabriel do Oeste; c) Lei n 11.409, de 4 de novembro de 2002, da Cmara Municipal de
Campinas/SP, que veda o assdio moral no mbito da administrao Pblica Municipal; e d) Lein 3.671, de 7 de julho de 2002, da Prefeitura Municipal de Americana/SP, que dispe sobre a
aplicao de penalidades prtica de assdio moral nas dependncias da Administrao Pblica
Municipal Direta e Indireta, dentre outras.
Porm, de acordo com o mesmo sitee tendo em vista que o assdio moral no ocupa
o campo das Leis em algumas regies, poder ganhar corpo no campo da tica. Um sofrimento
moral, uma perda material ou uma injria grave a seus direitos fundamentais, embora ainda no
sejam constituintes de uma violao da Legislao Penal Nacional, representam violaes de
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normas internacionais reconhecidas sem matria de direitos humanos. Cabe informar ainda que
diversas entidades do Pas iniciaram uma campanha pedindo a aprovao em carter de urgnciado Projeto de Lei n 2.369, de 2003, lanado no dia 28 de abril, que dispe sobre o assdio moral
nas relaes de trabalho. Para tanto, o terror psicolgico no trabalho atinge direito de interesses
de todos os trabalhadores envolvidos na organizao, em que o sujeito perverso (assediador) atua.
Acredita-se, entretanto, que em situao de assdio moral no trabalho existem interesses
homogneos em jogo e o grupo vitimizado pode legitimamente invocar reparao de danos, nos
moldes descritos na Lei n 8.078, de 11 de setembro de 1990, art. 81, III, de interesse individual
homogneo. Essa lei dispe sobre possibilidade de reparao de danos referentes proteo do
consumidor, logo, poder-se- fazer uso dela tambm para reparar o dano causado pelo assdio
moral.
De acordo com as autoras Hirigoyen (2005) e Guedes (2004), os trabalhadores
encontram-se desprotegidos por uma lei que torne o assdio moral uma prtica que ampara
legalmente a vtima, permitindo, assim, sua proteo e supostamente a punio do assediador. No
Brasil, ainda est em votao, no congresso, a Lei que legitima a prtica de assdio moral. At
ento, os trabalhadores sofrem em silncio, estando as vtimas sem condies de denunciar.
Sendo assim, no Brasil, profissionais de diversas reas esto se mobilizando a fim de ajudar a
vtima e esclarecer o empresariado demonstrando que esse tipo de violncia poder lhe causar
grandes prejuzos financeiros, alm de exigir das autoridades competentes, como no caso do
Congresso, por exemplo, a aprovao com a maior brevidade possvel da Lei que tramita para
votao (informao verbal)1.
H poucos trabalhos de assdio moral em ambientes organizacionais desenvolvidos
no Brasil. Glckner (2004) constata o pequeno nmero de publicaes de trabalhos cientficos no
Brasil que retratam com maior profundidade o tema, em especial na rea jurdica na qual no seencontra literatura. Na rea da medicina do trabalho, Barreto (2003) investigou o tema do assdio
moral em sua dissertao de mestrado indicando que 36% da populao brasileira
economicamente ativa passa por algum tipo de assdio.
Glckner (2004) expe que h vrios mtodos de se hostilizar e se desestabilizar o
trabalhador em seu ambiente de trabalho, sendo tal prtica recorrente de tal forma que o agressor
tivesse algum tipo de vantagem sobre isso para caracterizar o assdio. Neste sentido, a
1Extrada de debate televisivo com especialistas na rea na TVCOM em 16 de out. 2006.
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persistncia das aes transformar o ato em assdio moral, pois, de outra forma, no seria
possvel consider-lo como constituinte de assdio.Nesse contexto, cabe questionar: a partir de que condies o assdio moral se
estabelece em organizaes de trabalho? Glckner (2004, p. 18) expe que Lydia Guevara
Ramires, secretria da Diretoria Nacional da Sociedade Cubana de Direito do Trabalho e
Seguridade Social, afirma que, em geral, a pessoa assediada escolhida:
Porque tem caractersticas pessoais que perturbam os interesses do elemento assediador,como ganncia de poder, dinheiro ou outro atributo ao qual lhe resulta inconveniente otrabalhador ou trabalhadora, por suas habilidades, destrezas, conhecimento, desempenho
e exemplo, ou simplesmente, quando estamos em presena de um desajustado sexual oupsquico.
O assdio moral tem caractersticas muito peculiares, capazes de confundir quem est
diretamente envolvido no problema. Sob essa tica, Glckner (2004) ainda afirma que se faz
necessrio registrar que nem todo assdio moral dito como tal pode assim ser considerado. Logo,
fundamental ter certos cuidados para no se generalizarem todos os fenmenos que surgem no
ambiente de trabalho, bem como o estresse, os conflitos velados ou a prpria presso no trabalho
como sendo assdio moral. No se pode considerar estresse como assdio, decorrente dasobrecarga e de ms condies de trabalho, tendo em vista que o organismo reage ao do
agente estressante. A diferena principal, segundo o autor, consiste em diferenciar assdio moral
da humilhao normal e intencional do trabalhador. Cabe, portanto, ressaltar uma outra diferena
apontada por Glckner (apud HIRIGOYEN, 2005, p. 22).
Com os estressados, o repouso reparador, melhores condies de trabalho permitemrecomear. Com uma vtima de assdio, a vergonha e a humilhao persistem por um
longo tempo, mesmo que o quadro possa se alterar um pouco em funo dapersonalidade dos indivduos. O atentado contra a dignidade tem uma conotaosubjetiva, que no pode ser analisada seno caso a caso.
Glckner (2004, p. 23), ao fazer um paralelo entre as posies de Leymann e
Hirigoyen, identificou que nas consideraes feitas por Leymann: o mobbing tem origem em um
conflito profissional mal resolvido, j Marie-France Hirigoyen (apud GLCKNER, 2004, p. 23)
discorda dessa afirmao dizendo:
De minha parte, penso que, se existe assdio moral, justamente porque nenhum
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conflito pode ser estabelecido. Em um conflito, as recriminaes so faladas (a guerra aberta, de alguma maneira). Ao contrrio, por trs de todo procedimento de assdio,
existe o no falado e o escondido.
O conflito no pode ser confundido com assdio moral, tendo em vista que o conflito
explcito, e o assdio moral velado. Glckner (2004) conclui que, apesar da existncia do
conflito, caracteriz-lo como assdio moral descabido. Pois, segundo o autor, os conflitos
constituem momentos em que pode mudar e levar em conta o outro, ou seja, momento de
enriquecimento, enquanto o assdio moral uma maneira de vedar qualquer mudana. Sendo
assim, necessrio observar sob que condies esse conflito est sendo travado de forma que os
envolvidos tenham condies de defenderem as posies das quais se fazem partcipes, evitando-
se aliados de ambas as partes e impedindo a formao de grupos rivais no ambiente de trabalho.
Diante desse cenrio e sob o ponto de vista da psicopatologia psicanaltica,
Dalgalarrondo (2000, p. 29) afirma que:
A psicanlise d grande importncia aos afetos, que segundo ela, dominam o psiquismo;o homem racional, autocontrolado, senhor de si e se deus desejos, para ela, umaenorme iluso. Na viso psicanaltica os sintomas e as sndromes mentais soconsiderados formas de expresso de conflitos, predominantemente inconscientes, de
desejos que no podem ser realizados, de temores a que o indivduo no tem acesso.
O que pode se concluir em relao idia de Dalgalarrondo que o indivduo
movido por emoes que ultrapassam sua conscincia e o tornam verdadeiramente vulnervel,
inclusive consigo. Com isso, no tem o indivduo o controle necessrio para a harmonizao de
suas relaes. O indivduo acaba por incorrer-se em confuses mentais, conflituosas, capazes de
invadir a privacidade do outro, sem pedir licena, instituindo dessa forma o conflito. Nesse
sentido, para alguns indivduos, o conflito fonte de sabedoria, j para outro pode ser a fonte que
alimenta as suas fantasias.
O conflito um fenmeno que necessita ser mediado de forma a no se tornar um
problema para a organizao. Quando uma organizao no est disposta a mediar o conflito,
assim como no se predispe a estar atenta prtica de assdio moral em seu ambiente de
trabalho, corre um grande risco de tornar-se uma empresa no muito considerada pela sociedade,
tendo em vista que em sua rotina, quando da existncia do fenmeno do assdio moral, possvel
identificar uma elevada taxa de rotatividade assim como absentesmo, principalmente
ocasionados por problemas de sade. Essa organizao est fadada futuramente
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improdutividade e a gastos elevados em decorrncia desses problemas, comprometendo, assim, a
sua produtividade e, logo, a sua prpria existncia.Apesar de haver poucos estudos sobre o tema e no haver uma lei que legitime o
assdio moral, principalmente como prtica freqente no ambiente das organizaes, e ainda em
virtude da desinformao por parte dos envolvidos quanto ao prprio conceito e s caractersticas
do assdio, percebe-se um movimento crescente por parte da sociedade em combat-lo. H que se
perceber que essa mesma sociedade est tentando resgatar valores que haviam sido perdidos e
recuperar o que ainda possvel.
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3 MTODO
3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA
Entre os diversos mtodos para se desenvolver uma pesquisa, este estudo refere-se a
uma pesquisa bibliogrfica. Alm disso, qualitativa, porque, segundo Gil (1999), no requer uso
de mtodos e tcnicas estatsticas, descritiva.
Segundo Lakatos e Marconi (1991), a pesquisa bibliogrfica abrange todas as fontes
de informao j tornadas pblicas em relao ao tema de estudo, desde publicaes avulsas,
boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas e monografias, at meios de comunicao oral como
rdio, gravaes e audiovisuais. Sua finalidade colocar o pesquisador em contato direto com
tudo o que foi visto, escrito ou falado sobre o determinado assunto.
3.2 FONTES DE INFORMAO
Foram utilizados como fontes de informaes para a efetivao da pesquisa livros,
artigos cientficos, teses, dissertaes, monografias e sites.
3.3 SITUAO E AMBIENTE
Todo o desenvolvimento do trabalho ocorreu em uma sala com iluminao adequada,
livre de interferncia de qualquer tipo de rudo, porm com pequenas interrupes de pessoas.
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3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA E REGISTRO DE DADOS
Foi utilizada observao dos materiais bibliogrficos encontrados sobre assdio
moral. Para registro das informaes, foi utilizado um protocolo de registro das observaes das
informaes encontradas na literatura. No protocolo de registro foram descritas as citaes
encontradas na literatura e as categorias de anlise dessas citaes. O Quadro 1 apresenta o
protocolo utilizado para extrair e organizar as informaes encontradas na literatura.
CATEGORIAS DESCRIO DA LITERATURA
Quadro 1 - Protocolo de registro das informaes extradas da literatura.Fonte: Elaborao do autor, 2007.
3.5 ESCOLHA DAS FONTES DE INFORMAO
Foram selecionadas todas as fontes de informaes identificadas a partir de um
levantamento bibliogrfico acerca dos objetivos geral e especficos propostos no trabalho,
priorizando autores que abordassem exclusiva e detalhadamente o tema e aos quais foi possvel o
acesso. A alguns materiais identificados como fonte de informao no foi possvel o acesso em
decorrncia de eles estarem esgotados, portanto no disponveis comercializao e no
constaram no acervo de bibliotecas consultadas. O Quadro 2 apresenta as obras consultadas.
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AUTOR OBRA ANO TIPO DE FONTE
BARRETO, M. M. S. Uma jornada de humilhaes 2000 Dissertao de Mestradoem Psicologia Social
BALLONE, G. J. Sndrome de Burnout 2006 Livro
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologiados Transtornos Mentais
2000 Livro
DEJOURS, C. A loucura do trabalho 1994a Livro
GLCKNER, C. L. P. Assdio Moral no Trabalho 2004 Livro
GUEDES, M.N. Terror Psicolgico noTrabalho
2004 Livro
HIRIGOYEN, M. Mal-estar no trabalho:redefinindo o assdio moral
2005 Livro
MEZAN, R. A inveja. In: NOVAES,Adalto (Coord.). Os sentidosda paixo
1987 Livro
NAVARRO, A. Quando a Empresa Destri 2000 Livro
NASCIMENTO, A. C. M. Assdio Moral no Ambientede Trabalho
2006 Livro
CONFEDERAONACIONAL DOSTRABALHADORES NAINDSTRIA
2006 Site
ASSDIO MORAL NOTRABALHO
2006 Site
TARCITANO, J. S.;GUIMARES, C. D.
Assdio Moral no Ambientede Trabalho
2004 Trabalho de Conclusode Curso de Tecnologiaem Gesto de RecursosHumanos
TATTO, A. O assdio moral no trabalho 2001 Livro
Quadro 2 - Apresentao das bibliografias consultadas para extrao das informaes.
Fonte: Elaborao do autor, 2007.
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3.6 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Para a realizao deste estudo, procuraram-se informaes publicadas em diferentes
veculos de comunicao. As informaes, obtidas a partir da bibliografia, so consideradas
dados primrios. Cabe ressaltar que as fontes deste trabalho foram extradas de bibliotecas,
acervo pessoal e sitesetc., todos selecionados conforme critrios estabelecidos por categorias, de
acordo com a relao de especificidade com o tema assdio moral no ambiente organizacional.
As fontes de informaes foram identificadas e selecionadas por meio de pesquisas
on-line e tradicionais da maneira descrita a seguir.
Foram acessadas bases de procura em bibliotecas com palavra-chave assdio moral
e tambm outras nomenclaturas entendidas como assdio moral em outros pases a partir das
palavras localizadas e entendidas como assdio: psicoterror, no Brasil; mobbing, nos Estados
Unidos; bullying, na Inglaterra; harcelement moral; na Frana; e ijime, no Japo. A partir da
identificao das fontes de informaes, o material foi lido e dele foram extradas as informaes
referentes s categorias de anlise sobre as conseqncias do assdio moral para o sujeito
assediado.
Para iniciar o trabalho de coleta de dados, foram identificadas na literatura
informaes que se referiam s seguintes categorias: problemas psicossomticos; fsicos;
financeiros; de relacionamento; abalo na integridade do carter; conceituao de assdio moral; e
comportamento do assediador. Alm dessas categorias previamente estabelecidas, outras mais
foram elaboradas a partir da natureza das informaes encontradas na literatura.
Da identificao das fontes de informao, foram extradas as informaes que
embasaram o trabalho. medida que a leitura das fontes de informao foi sendo feita, foramsendo extradas as citaes dos autores das obras a fim de propiciar a discusso sobre o tema. As
citaes foram retiradas das obras consultadas de forma direta ou indireta. Neste ltimo caso,
foram realizadas snteses das idias do autor.
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3.7 PROCEDIMENTO DE ORGANIZAO, TRATAMENTO E ANLISE DE DADOS
A descrio dos dados foi feita mediante anlise de contedo, que busca o sentido de
um texto classificando frases em categorias de contedo, relacionando as informaes para se
produzirem inferncias.
As citaes dos autores retiradas das fontes de informao foram organizadas e
extradas em conjuntos de temas comuns, formando as categorias. As categorias avaliadas foram:
1. conceituao do assdio moral;
2. caracterizao do assdio moral;
3. caracterizao do assdio moral quanto a tipos;
4. caracterizao do assdio moral quanto a fases;
5. comportamento do assediado;
6. comportamento do assediador;
7. comportamento do espectador;
8. caractersticas do assediado;
9. conseqncias para a sade do assediado;
10. conseqncias para a integridade moral do assediado;
11. conseqncias para a integridade fsica do assediado;
12. conseqncias nos relacionamentos interpessoais do assediado;
13. conseqncias financeiras para o assediado;
14. relao do assdio moral com o sofrimento psquico;
15. relao do assdio moral com outras patologias;
16. relao do assdio moral e o ato de invejar;17. relao do assdio moral e o nexo causal;
18. relao do assdio moral e a produtividade;
19. diferena entre assdio moral e humilhao normal e intencional do trabalhador,
entre outros;
20. diferena de comportamento entre homens e mulheres assediados moralmente;
21. fatores desencadeadores do assdio moral; e
22. preveno que a empresa deve tomar em relao ao assdio moral.
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Para cada categoria avaliada foram descritas as informaes extradas da literatura. OQuadro 3 apresenta as categorias com as respectivas citaes dos autores referentes a cada uma
delas, possibilitando fazer o confronto a partir das citaes diretas e indiretas expostas.
CATEGORIA DESCRIO DA LITERATURA
01.Conceituao doassdio moral
- O assdio moral todo tipo de ao, gesto ou palavra que atinja, pela
repetio, a auto-estima e a segurana de um indivduo, fazendo-o duvidar
de si e de sua competncia, implicando em dano ao ambiente de trabalho,
evoluo da carreira profissional ou estabilidade do vnculo empregatcio
do funcionrio (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).
- Trata-se do j conhecido fenmeno de exposio dos trabalhadores em
geral a situaes humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas
durante a jornada de trabalho e no exerccio de suas funes
(GLCKNER, 2004, p. 17).
- O assdio moral pode reunir uma srie de comportamentos que suas
vtimas, geralmente, trabalhadores de empresas de mdio e grande porte,
notavam como sendo algo errado, mas que, pela falta de uma categoria
especfica para esse assdio, muitas vezes, submetiam-se e tornavam-se
coniventes de tais prticas perversas (NASCIMENTO, 2006).
02. Caracterizaodo assdio moral
- O que caracteriza o assdio moral tornando-o destruidor a freqncia e a
repetio no tempo (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).
- Com palavras aparentemente andinas, ou seja, com mensagenssubliminares, possvel desestabilizar uma pessoa, isol-la e at destru-la,
sem que as pessoas volta intervenham (NAVARRO, 2000).
- O assdio moral necessariamente precisaria ser recorrente de forma a
apresentar vantagens para o agressor. A pessoa assediada escolhida,
afirma ainda Glckner (2004).
- O assdio moral caracteriza-se por atos e comportamentos agressivos que
visam desqualificao e desmoralizao profissional e desestabilizao
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emocional e moral do(s) assediado(s), tornando o ambiente de trabalho
desagradvel, insuportvel e hostil, e necessita acontecer com uma certafreqncia (BARRETO apud TARCITANO; GUIMARES, 2004).
- Os principais fatores responsveis por esse tipo de perverso moral so: a
inveja, a competio, a preferncia pessoal do chefe porventura gozada pela
vtima, o racismo e os motivos polticos (GUEDES, 2004, p.37-41).
- Algumas atitudes individualistas so percebidas por aes de desprezo,
provocaes, inveja, perseguies e clima de terror (TATTO, 2001).
03. Caracterizaodo assdio moralquanto a tipos
- H trs tipos de assdio moral: o vertical estratgico, o horizontal e o
ascendente, os quais so perpetrados por um superior hierrquico. O
superior hierrquico pode contar com a cumplicidade dos colegas da vtima
para por meio deles desencadear a violncia. Geralmente o grupo tende a se
alinhar ao perverso, culpando a vtima pelos maus-tratos. O tipo horizontal
aquele no qual a violncia psicolgica desencadeada pelos prprios
colegas de idntico grau na escala hierrquica. Nesse tipo de assdio a
vtima pode ser atingida tanto de modo individual como coletivo. E, por
fim, no caso do assdio ascendente, a violncia moral vem de baixo, sendo
uma espcie bem mais rara, mas que tambm ocorre no mundo do trabalho
(GUEDES, 2004, p. 37-41).
04. Caracterizaodo assdio moralquanto a fases
- Marie-France Hirigoyen separou didaticamente o assdio moral em quatro
fases:
A primeira fase diz respeito :
- deteriorao proposital das condies de trabalho.
A segunda fase diz respeito ao:- isolamento e recusa de comunicao.
A terceira fase diz respeito ao:
- atentado contra a dignidade.
A quarta fase diz respeito :
- violncia verbal, fsica ou sexual (HIRIGOYEN apud GLCKNER,
2004, p. 19).
- O estudioso Harald Ege fez uma adaptao s fases descritas por
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Leymann que condizem mais com a realidade do Brasil. A autora achou
fundamental dividi-las em seis, configurando uma evoluo da prtica doassdio moral:
a) fase um: caracteriza-se pela escolha da vtima, ou seja, do sujeito sobre o
qual sero dirigidas as humilhaes do ambiente de trabalho. Nesta fase o
fenmeno assdio ainda no apareceu com clareza e no ainda possvel
compreender se chegar a se concretizar;
b) fase dois: quando se afirma a vontade consciente de atingir a vtima, a
qual, embora perceba a aspereza do tratamento recebido, ainda no
apresenta sintomas de doenas de tipo psicossomtico;
c) fase trs: a vtima comea a sentir os primeiros sintomas
psicossomticos;
d) fase quatro: o fenmeno se torna pblico e objeto de avaliao da
administrao de pessoal;
e) fase cinco: registra-se um srio agravamento nas condies de sade da
vtima; e
f) fase seis: acontece a excluso da vtima do mundo do trabalho, seja pelo
pedido de demisso ou de despedida. Alm dos aspectos trabalhistas, esta
fase tambm comporta conseqncias penais, como o homicdio do agente
ativo pelo passivo ou o suicdio deste (GUEDES, 2004, p. 56).
05. Comportamentodo assediado
- No item c da classificao do assdio moral por fases, apresentam com
comportamento do assediado sensao de insegurana, nsia, insnia,
distrbios digestivos (GUEDES, 2004, p. 56).
- A vtima foi enredada e encontra-se atada ao jogo perverso e, seja porno acreditar que tudo aquilo um jogo para destru-la, seja por vergonha
a vergonha paralisa -, no consegue desvencilhar-se sozinha da agresso.
As vtimas dos perversos no so masoquistas como aparentemente se
poderia pensar (GLCKNER, 2004, p. 70).
- A perda de responsabilidade, atitudes passivo-agressivas com os outros e
perda da motivao (BALLONE, 2006).
- A atitude mais usual dos assediados costuma ser a fuga, j que os
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possveis mediadores de conflito no vivenciam o problema de perto e
desconhecem a realidade dos locais de produo, seja ele em que posto for(HIRIGOYEN, 2005).
06. Comportamentodo assediador
- Ao recorrer a tcnicas de desestabilizao habituais nas atitudes dos
perversos, que se utilizam de subentendidos, desvalorizao, aluses
maldosas, mentira, humilhaes, possvel proceder a uma manipulao
maldosa por parte dos agressores, que voltam situao para parecerem
vtimas (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).
- Marcar tarefas com prazos impossveis, passar algum de uma rea de
responsabilidade para funes triviais, tomar crdito de idias de outros,
ignorar ou excluir um funcionrio s se dirigindo a ele atravs de terceiros,
sonegar informaes de forma insistente, espalhar rumores maliciosos,
criticar com persistncia e subestimar esforos (HIRIGOYEN apud
NAVARRO, 2000).
- Caracteriza-se o comportamento do assediador em quatro fases que so:
1 - retirar da vtima a autonomia. No transmitir-lhe mais as informaes
teis para a realizao das tarefas. Contestar sistematicamente todas as suas
decises. Criticar o seu trabalho de forma injusta ou exagerada. Priv-lo de
acesso aos instrumentos de trabalho: telefone, fax, computador etc. Retirar
o trabalho que normalmente lhe compete. Dar-lhe proposital e
sistematicamente tarefas superiores s suas competncias. Pression-lo para
que no faa valer de seus direitos (frias, horrios, prmios). Agir de modo
a impedir que obtenha promoo. Atribuir vtima tarefas incompatveis
com sua sade. Causar danos em seu local de trabalho. Dar-lhedeliberadamente instrues impossveis de executar. No levar em conta
recomendaes de ordem mdica indicada pelo mdico do trabalho. Induzir
a vtima ao erro;
2 - a vtima interrompida constantemente. Superiores hierrquicos ou
colegas no dialogam com a vtima. A comunicao com ela unicamente
por escrito. Recusam todo o contato com ela, mesmo o visual. posta
separada dos outros. Ignoram sua presena, dirigindo-se apenas aos outros.
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Probem os colegas de falarem com ela. No a deixam falar com ningum.
A direo recusa qualquer pedido de entrevista;3 - utilizam insinuaes desdenhosas para quantific-la. Fazem gestos de
desprezo diante dela (suspiros, olhares desdenhosos, levantar os ombros,
etc.). desacreditada diante dos colegas, superiores ou subordinados.
Espalham rumores ao seu respeito. Atribuem-lhe problemas psicolgicos
(dizem que doente mental). Zombam de suas deficincias fsicas ou de
seu aspecto fsico; imitada e caricaturada. Criticam sua vida privada.
Zombam de suas origens ou de sua nacionalidade. Implicam com suas
crenas religiosas ou convices polticas. Atribuem-lhe tarefas
humilhantes. injuriada com termos obscenos ou degradantes; e
4 - ameaas de violncia fsica. Agridem-na fisicamente, mesmo que de
leve. empurrada, fecham-lhe as portas na cara. Falam com ela aos gritos.
Invadem sua vida privada com ligaes telefnicas ou cartas. Seguem-na na
rua, espionada diante do domiclio. Fazem estragos em seu automvel.
assediada ou agredida sexualmente (gestos e propostas). No levam em
conta os seus problemas de sade. (HIRIGOYEN apud GLCKNER, 2004,
p. 19).
- O perverso toda-via vai explorar as fragilidades da vtima, seu lado
depressivo e masoquista, o que de resto existe em todos ns
(GLCKNER, 2004, p. 70).
- Quando um sujeito perverso est decidido a destruir a vtima, retira-lhe o
direito de conviver com os demais colegas. A vtima afastada do local
onde normalmente desempenha suas funes, colocada para trabalhar emoutro local e em condio inferior, e obrigada a desempenhar tarefas sem
importncia, incompatveis com sua qualificao tcnica profissional ou
exposta ociosidade. O agressor pode ocultar-se nos atos da diretoria da
empresa estrategicamente (GUEDES, 2004).
- Na organizao o objetivo de transformar o empregado em um fantasma,
retirar-lhe responsabilidades de trabalho, dar-lhe menos tarefas, menos
interessantes, torn-lo intil, submetendo-o ao mesmo tempo a todas as
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presses j descritas (NAVARRO, 2000).
07. Comportamentodo espectador - Os outros no vm ou no querem ver por medo de perderem o empregoou por simples complacncia (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).
- Os espectadores so todas as pessoas que, querendo ou no, participam
ou esto envolvidas direta ou indiretamente na violncia psicolgica contra
a vtima. So colegas de trabalho, superiores hierrquicos e patres, que
nada fazem e, na maioria das vezes, nem podem fazer para deter a violncia
desencadeada pelo sujeito perverso, favorecendo assim a ao do agressor.
(GUEDES, 2004, p. 62-63).
Os espectadores dividem-se em dois grupos:
a) os medrosos que obedecem por medo; e
b) os colaboradores voluntrios da empresa que vestem a camisa e
compartilham com as perversidades do grupo, mesmo as mais absurdas,
sem se questionarem sobre suas atitudes, na esperana de serem protegidos,
ajustando-se, ou mais manipulveis que os outros, antecipando-se
conformidade esperada (p. 271). Os espectadores por esprito de obedincia
ou de medo afastam-se da vtima, isolando-a e, tambm, complementando o
processo de assdio (HIRIGOYEN, 2005).
08. Caractersticasdo assediado
- A pessoa assediada escolhida porque tem caractersticas pessoais que
perturbam os interesses do elemento assediador, como ganncia de poder,
dinheiro ou outro atributo ao qual lhe resulta inconveniente o trabalhador
ou trabalhadora, por suas habilidades, destrezas, conhecimento,
desempenho e exemplo, ou simplesmente, quando estamos em presena de
um desajustado sexual ou psquico (GLCKNER, 2004, p. 18).- A vtima aquela que se sente como tal. Com efeito, quando se fala de
uma pessoa psicologicamente destruda e depressiva, o que nos afigura
imediatamente a vtima do psicoterror e no um agressor. Segundo Harald
Ege, a melhor maneira de definir a vtima de v-la como o ator do
processo de assdio moral que resulta o mais prejudicado, aquele que, como
num drama clssico, perde inexorvel e completamente (LEYMAN apud
GLCKNER, 2004, p. 70).
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- A vtima uma pessoa que mostra sintomas de doenas, debilita-se e se
ausenta do trabalho por esta razo. golpeada pelo estresse psquico ousintomas psicossomticos, sofre de depresso e pensa no suicdio. Define
seu papel em termos passivos (no me deixam participar). Se por um lado
est convencida de no ter culpa, do outro lado se cr uma trapalhona.
Demonstra falta de confiana em si, indeciso e um sentido de
desorientao geral. Recusa qualquer responsabilidade pela situao ou se
acusa destrutivamente (HENRY WALTER apud GLCKNER, 2004, p.
70).
- As vtimas geralmente so pessoas bem educadas, possuidoras de valiosas
qualidades profissionais e morais. So ingnuas porque acreditam nos
outros e naquilo que fazem, procurando sempre executar suas tarefas da
melhor maneira possvel. A vtima escolhida justamente por ter algo a
mais, e esse algo mais que o agressor busca para si prprio (GUEDES,
2004).
- H quatro tipos de pessoas que correm maior risco de tornaram-se vtima
de assdio moral:
a) uma pessoa sozinha:como, por exemplo, uma nica mulher em um local
que predomina o gnero masculino;
b) uma pessoa estranha: algum que se sobressai e que no se confunde
com a maioria, muitas vezes pelo simples fato de se vestir ou de falar bem,
despertando a inveja e o dio dos outros;
c) uma pessoa que faz sucesso: algum que recebe elogios de seus
superiores, de clientes ou de seus colegas, despertando o cime e a inveja,e, assim, desencadeando uma cascata de piadas, indiretas e sabotagens; e
d) uma pessoa nova: algum s vezes mais jovem, mais qualificado ou que
venha a ocupar um cargo que era ocupado por algum muito popular
(GUEDES, 2004, p. 71).
09. Conseqnciaspara a sade doassediado
- No item ena classificao de assdio moral, o sujeito assediado comea a
fazer uso depsicotrpicose terapias, no obtendo quase nenhum resultado
e comeando a sofrer de depresso (GUEDES, 2004, p. 56).
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- No item f na mesma classificao de assdio moral, acontece o
afastamento para tratamento de sade (GUEDES, 2004, p. 56).- Subjetivamente, o doente sente dificuldade para pensar, para evocar
(distrbios de memria) e fadiga psquica (BATELLO et al., 2006).
- Dependendo do perfil do empregado assediado, este pode se tornar
absentesta psicologicamente, improdutivo, doente (GUEDES, 2004).
- De qualquer forma, devemos observar a importncia dos distrbios
somticos: cefalias, dores diversas, sensaes de asfixia, palpitaes
cardacas, dores vertebrais ou articulares, distrbios digestivos, constipao
etc. possvel que esses distrbios assumam uma tal importncia que o
estado depressivo seja camuflado pelas queixas somticas (BATELLO et
al., 2006).
- A depresso outro sintoma do assdio moral, mas que se prolonga por
mais tempo (HIRIGOYEN, 2005).
- As sndromes depressivas so, atualmente, reconhecidas como um
problema prioritrio se sade pblica. So consideradas, segundo a OMS,
a primeira causa de incapacidade dentre os problemas de sade, j que
cerca de 50 milhes de pessoas so afetadas por esse distrbio em todo o
mundo. Dos seus principais sintomas esto: tristeza, choro fcil e freqente,
irritabilidade aumentada, angstia, ansiedade, apatia, desesperana e
desespero (DALGALARRONDO, 2000, p. 190).
- O assdio moral considerado como prticas que implicam em um
terrorismo psicolgico, afetando a sade mental e fsica do trabalhador
assediado, implicando em doenas como depresso e estresse, que emalguns casos podem levar at ao suicdio (NASCIMENTO, 2006).
10. Conseqnciaspara a integridademoral do assediado
- As conseqncias do assdio moral deixam seqelas marcantes que
podem evoluir de um estresse ps-traumtico at a sensao de vergonha
para se expressar, perda do sentido, bem como alteraes de personalidade
(HIRIGOYEN, 2005).
- Os danos atingem, portanto, a esfera familiar e social da vtima,
desencadeando crises existenciais, de relacionamento e econmica
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(GUEDES, 2004).
- Subjetivamente, o doente sente lassido moral (BATELLO et al., 2006).- O empregado pode tornar-se acomodado numa situao constrangedora,
suportada pela necessidade de se manter no emprego ou, ento, no se
sujeita a tal situao, preferindo retirar-se da empresa e postular a reparao
do dano na via judicial (GUEDES, 2004).
- A auto-acusao e a dor moral pertenceriam, pois, a uma sintomatologia
secundria da depresso (BATELLO et al., 2006).
- Neste caso, o assediado se encontra aptico, com complexo de culpa, triste
e sem interesse pelos prprios valores, e a soma desses sintomas pode
transform-los em distrbios psicossomticos (HIRIGOYEN, 2005).
11. Conseqnciaspara a integridadefsica do assediado
- Os efeitos do assdio moral no organismo no se limitam ao aspecto
psquico, atingem o corpo fsico, fazendo com que todo o organismo se
ressinta das agresses, podendo recair sobre o aparelho digestivo e
respiratrio, sobre as articulaes, o crebro, o corao e, ainda, o sistema
imunolgico, abrindo portas para diversos tipos de infeces e viroses
(GUEDES, 2004).
- Quando as capacidades de conteno so transbordadas, essa energia
recua para o corpo, desencadeando tradues somticas como palpitaes,
hipertenso arterial, tremores, suores, cimbras, desidratao das mucosas,
hiperglicemia, aumento do cortisol sanguneo, entre outras manifestaes
(DEJOURS, 1994a).
- Dependendo do perfil do empregado assediado, este pode se tornar
absentesta fisicamente (GUEDES, 2004).- A fadiga, que contribui para a diminuio da versatilidade do aparelho
mental, o sistema frustrao-agressividade-reativa, que deixa sem sada
uma parte da energia pulsional, a organizao do trabalho, como correia de
transmisso de uma vontade externa que se ope aos investimentos das
pulses e sublimaes. So componentes como esses que criam efeitos
favorveis ao aparecimento das descompensaes psiconeurticas
(DEJOURS, 1994a).
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12. Conseqnciasnos relacionamentosinterpessoais doassediado
- As conseqncias, o impacto dos procedimentos, sero mais fortes se
partirem de um grupo aliado contra uma s pessoa do que se vier de umnico indivduo, bem como o assdio de um superior hierrquico mais
grave do que o de um colega, pois a vtima tem o sentimento, na maioria
justificado, de que existem menos recursos possveis e que existe muitas
vezes uma chantagem implcita na ao (HIRIGOYEN, 2005).
- Os prejuzos causados pelo assdio moral, que supostamente acabam por
se evidenciar aps a constituio do ato, podendo este prejudicar ainda a
sade social das vtimas, fazendo, por exemplo, com que amigos e
colegas de trabalho se afastem dela e que os casamentos fracassem
(GUEDES, 2004).
- A inibio um tipo de freio dos processos psquicos que reduz o campo
da conscincia e o interesse, fechando o indivduo em si mesmo e levando-
o a fugir dos outros, evitando relacionar-se (BATELLO et al., 2006).
- O assdio moral se instala quando o dilogo impossvel e a palavra
daquele que agredido no consegue fazer-se ouvir, da a importncia da
instituio de um programa de preveno com a primazia do dilogo e da
instalao de canais de comunicao (HIRIGOYEN, 2005).
13. Conseqnciasfinanceiras para oassediado
- Despesas com psiclogos, exames e medicamentos se tornam constantes;
bens patrimoniais se perdem para custear o tratamento (GUEDES, 2004).
- Trata-se de um conjunto de condutas negativas, como, por exemplo, a
deteriorao do rendimento. As conseqncias ocorrem tanto do ponto de
vista pessoal como do ponto de vista institucional, como o caso do
absentesmo, da diminuio do nvel de satisfao profissional, do aumentodas condutas de risco, da inconstncia de empregos e das repercusses na
esfera familiar (BALLONE, 2006).
14. Relao doassdio moral com osofrimento psquico
- O sofrimento inicia-se quando o rearranjo da organizao do trabalho no
mais possvel, quando a relao do trabalhador com a organizao do
trabalho bloqueada. Quando o sujeito encontra-se em situao muito
complexa, correndo desta forma o risco ao fracasso ou, ao contrrio,
quando se encontra em situao de subemprego de suas capacidades. Neste
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caso, a energia no aproveitada no exerccio do trabalho se acumula no
aparelho psquico, ocasionando um sentimento de tenso e desprazer(DEJOURS, 1994a).
- O sofrimento moral demonstra-se por uma autodepreciao que pode
encaminhar-se muito rapidamente para uma auto-acusao, autopunio ou
um sentimento de culpa (BATELLO et al., 2006).
15. Relao doassdio moral comoutras patologias
- As fronteiras entre assdio, estresse, parania e hipersensibilidade so
pouco precisas (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).
- Contrariamente ao que se pode imaginar, essa explorao no cria
doenas mentais especficas, mas existem situaes que podem favorecer o
surgimento de uma descompensao (DEJOURS, 1994a).
- Os primeiros anos da carreira profissional costumam ser mais vulnerveis
ao desenvolvimento da sndrome de Burnout, que geralmente predomina
nas mulheres, provavelmente pela dupla carga de trabalho que concilia a
prtica profissional e a tarefa familiar. No que diz respeito ao estado civil,
essa sndrome est mais associada a pessoas sem parceiro estvel, ficando a
mulher mais exposta a possveis demandas de assdio por em alguns
momentos sentir-se desprotegida (BALLONE, 2006).
- Este tipo de estresse consome fsica e emocionalmente a vtima, passando
esta a apresentar um comportamento agressivo e irritadio. A sndrome de
Burnout uma resposta ao estresse ocupacional crnico e caracterizada
pela desmotivao, ou pelo desinteresse, por mal-estar interno ou por
insatisfao ocupacional que parece afetar, em maior ou menor grau,
alguma categoria ou grupo profissional (BALLONE, 2006).- Subjetivamente, o doente paralelamente sente astenia psquica e
lentificao da atividade motora que se associam a doenas somticas
diversas, relacionadas com perturbaes neurovegetativas sempre
perceptveis (BATELLO et al., 2006).
- No incio os sintomas so parecidos com os do estresse, porm, alm dos
distrbios de sono, enxaqueca, nervosismo, cansao, acrescenta-se ainda o
sentimento de impotncia e humilhao (HIRIGOYEN, 2005, p. 157).
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16. Relao doassdio moral e oato de invejar
- Inveja 1- Desgosto, dio ou pesar por prosperidade ou alegria de
outrem. 2 - Desejo de possuir ou gozar algum bem que outrem possui oudesfruta (MICHAELIS, 2003).
- O essencial da inveja exatamente isso: arrebatar do outro a coisa
invejada importa mais do que procurar obter a posse de um objeto anlogo
(o que estaria mais prximo da admirao) (MEZAN, 1987, p. 121).
- O bem em questo sempre imaginado como o nico em seu gnero,
portanto incompartilhvel: se de outro, no pode ser meu, e se no meu,
porque pertence a outro, o que no deveria acontecer (MEZAN, 1987, p.
122).
- O fato que, se o algo invejado impossvel de ser alcanado, provoca
uma situao psquica sentida ou imaginada como aterrorizadora (MEZAN,
1987, p. 134).
17. Relao deassdio moral e onexo causal
- muito difcil a vtima de assdio moral fazer a prova do nexo etiolgico
entre o dano e a conduta do sujeito perverso, tendo em vista que o dano do
terror psicolgico constitui-se de um conjunto de comportamentos de
pequena dimenso no espao e no tempo, porm de gravidade inimaginvel
se apreciados sob a tica da continuidade, de atos programados em srie e
por isso idneos para caracterizar a conduta repetida de assdio moral
(CONFEDERAO NACIONAL DO TRABALHADORES NA
INDSTRIA, 2006).
- So poucos os casos de assdio moral que so objeto de ao judicial.
Perante a Justia, em ao de indenizao, em especial quando envolve
danos materiais, h necessidade de prov-lo entre as atividadesempresariais e os danos ao trabalhador (CONFEDERAO NACIONAL
DOS TRABALHADORES NA INDSTRIA, 2006).
- Porm, graas jurisprudncia progressista dos tribunais, amparada na
lio de Clvis Bevilqua, se construiu a teoria da Presuno de culpa
livrando a vtima da prova da culpa concorrente ou in vigilando do
empregador. Assim, provado o dano e nexo de causalidade entre este e o
fato do agente, a pessoa jurdica obrigada reparao. Mais tarde
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uniformizou-se a jurisprudncia pelo Enunciado do STF verbete 341:
presumida a culpa do patro ou comitente pelo ato culposo do empregadoou preposto (ASSDIO MORAL NO TRABALHO, 2006).
- Outra importante inovao trazida pelo Novo Cdigo Civil quanto
aplicao da teoria do risco, ao dispor no nico do art. 927 o seguinte:
Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os
direitos de outrem (BRASIL, 2006a).
18. Relao doassdio moral e aprodutividade
- A desmoralizao pretende forar o empregado a cometer faltas
profissionais, que possam justificar seu desligamento da organizao. J em
outros casos esse mesmo processo leva pessoas visadas ao suicdio. A
instabilidade gera insegurana, tornando o indivduo descartvel
(NAVARRO, 2000).
- Sob o ponto de vista do ambiente da organizao, no entanto, a primeira
conseqncia perceptvel em nvel do grupo a queda da produtividade e
eficcia, a acentuada crtica aos trabalhadores, seguida pela reduo da
qualidade do servio, ambas geradas pela instabilidade que o empregado
sente no posto de trabalho (GUEDES, 2004).
19. Diferena entreassdio moral ehumilhao normale intencional dotrabalhador, entreoutros
- Com os estressados, o repouso reparador, melhores condies de
trabalho permitem recomear. Com uma vtima de assdio, a vergonha e a
humilhao persistem por um longo tempo, mesmo que o quadro possa se
alterar um pouco em funo da personalidade dos indivduos. O atentado
contra a dignidade tem uma conotao subjetiva, que no pode seranalisada seno caso a caso (GLCKNER apud HIRIGOYEN, 2004, p.
22).
- Se faz necessrio frisar que nem todo assdio moral dito como tal pode ser
considerado. Portanto, importante tomar cuidados para no
generalizarmos todos os fenmenos oriundos do ambiente de trabalho,
assim como estresse, conflitos velados ou a prpria presso no trabalho
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como sendo assdio moral. No podemos considerar estresse como assdio,
decorrente da sobrecarga e de ms condies de trabalho, tendo em vista oorganismo reagir ao do agente estressante (GLCKNER, 2004, p. 22).
- De minha parte, penso que se existe assdio moral, justamente porque
nenhum conflito pode ser estabelecido. Em um conflito, as recriminaes
so faladas (a guerra aberta, de alguma maneira). Ao contrrio, por trs de
todo procedimento de assdio, existe o no falado e o escondido
(HIRIGOYEN apud GLCKNER, 2004, p. 23).
20. Diferena decomportamentoentre homens emulheres assediadosmoralmente
- As mulheres e os homens reagem diferentemente violncia moral. Nas
mulheres predominam as emoes tristes: mgoas, ressentimentos, vontade
de chorar, isolamento, angstia, ansiedade, alteraes do sono e insnia,
sonhos freqentes com o agressor, alteraes da memria, distrbios
digestivos e nuseas, diminuio da libido, cefalia, dores generalizadas,
palpitaes, hipertenso arterial, tremores e medo ao avistar o agressor,
ingesto de bebida alcolica para esquecer a agresso, pensamentos
repetitivos. J os homens tm dificuldades em verbalizar a agresso sofrida
e ficam em silncio com sua dor, pois predomina o sentimento de fracasso.
Sentem-se confusos, sobressaindo os pensamentos repetitivos, espelho
das agresses vividas. Envergonhados, isolam-se evitando comentar o
acontecido com a famlia ou os amigos mais prximos. Sentem-se trados e
tm desejos de vingana. Aumenta o uso das drogas, principalmente o
lcool. Sobressai o sentimento de culpa, o homem se imagina um intil,
um ningum, um lixo, um zero, um fracassado (BARRETO,
2003).- A partir de entrevistas realizadas entre 1996 e 1998 com 870 homens e
mulheres vtimas de opresso no ambiente profissional, revela-se como
cada sexo reage a essa situao (em porcentagem). A seguir apresentado o
resultado no quadro (BARRETO, 2000):
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Fonte: BARRETO, 2000.
21. Fatoresdesencadeantes doassdio moral
- Este tipo de violncia geralmente acontece quando um colega
promovido sem a consulta dos demais colegas de chefia cujas funes os
subordinados supem que o promovido no possui para desempenhar(GUEDES, 2004, p.37-41).
- As origens do assdio resumem-se s novas relaes de emprego. De
modo geral, no mundo do trabalho, os dirigentes e executivos no levam,
suficientemente, a srio as dificuldades relacionais, a no ser que isso
acarrete, de fato, algum prejuzo evidente para a empresa (HIRIGOYEN,
2005).
- Alm disso, somam-se as presses por produtividade por parte dos
dirigentes e a reduo de custos, na economia capitalista, que aumentam a
competitividade, desumanizando e dificultando o ambiente de trabalho para
que o clima de cooperao e de solidariedade surja entre os trabalhadores,
de acordo com Hirigoyen (2005).
- So fatores como a competitividade acirrada, a busca por parte das
empresas do aperfeioamento constante de seus empregados e o foco na
produtividade os maiores precursores para o esfriamento nas relaes
Sintomas Mulheres HomensCrises de choro 100 -Dores generalizadas 80 80Palpitaes, tremores 80 40Sentimento de inutilidade 72 40Insnia ou sonolncia excessiva 69,6 63,6Depresso 60 70Diminuio da libido 60 15Sede de vingana 50 100Aumento da presso arterial 40 51,6Dor de cabea 40 33,2Distrbios digestivos 40 15
Tonturas 22,3 3,2Idia de suicdio 16,2 100Falta de apetite 13,6 2,1Falta de ar 10 30Passa a beber 5 63Tentativa de suicdio - 18,3
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humanas e, conseqentemente, o incio do terror psicolgico que destri
as vtimas silenciosamente (GUEDES, 2004, p. 17).- Os empregados tm sofrido cada vez mais a presso da flexibilidade, a
possibilidade do desemprego e o aumento da carga horria a cada dia mais
intensamente, em um crculo de medo, competio e terror. Nesse contexto,
surgem novas formas de patologias ligadas a problemas oriundos da
flexibilizao: doenas ocasionadas por esforos repetitivos, estresse, falta
de auto-estima, etc., cujos efeitos, segundo Marie-France Hirigoyen, podem
ser um "novo" fenmeno nocivo sade do trabalhador, denominado
assdio moral (TATTO, 2001).
- As diferenas na organizao do trabalho, a informao interna e a
gesto, assim como os problemas de organizao prolongados e no
resolvidos, que so um extravio para os grupos de trabalho e podem
desembocar em uma busca de bodes expiatrios (ASSDIO MORAL NO
TRABALHO, 2006).
22. Preveno que a
empresa deve tomarem relao aoassdio moral
- Os dirigentes j no podem ignorar mais o problema. necessria a
prtica de um programa de preveno em todos os escales da empresa
(HIRIGOYEN, 2005, p. 313).
- Torna-se necessria a presena de um porta-voz dentro da empresa que
seja desvinculado da hierarquia. Sua funo apoi-los e esclarec-los
sobre os procedimentos e at mesmo acompanh-los (HIRIGOYEN, 2005).
- As etapas podem ser articuladas pela empresa da seguinte forma:
1 etapa: informao e sensibilizao de todos os empregados sobre a
realidade do assdio moral;2 etapa: formao de especialistas internos: equipe de medicina social,
representantes sindicais ou pessoas de boa vontade para trabalhar como
pessoas de confiana;
3 etapa: treinamento de funcionrios do Departamento de Recursos
Humanos quanto s providncias a serem adotadas para prevenir o assdio
moral, detect-lo ou administrar os casos j existentes; e
4 etapa: redao de uma agenda social para discutir os diferentes tipos de
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assdio e a discriminao, e distribu-la nominalmente a cada empregado.
uma ocasio para a empresa lembrar os seus valores e deixar claras assanes previstas para os transgressores (HIRIGOYEN, 2005, p. 325-326).
Quadro 3 - Apresentao das categorias de anlise e das informaes extradas a partir da literatura.Fonte: Elaborao do autor, 2007.
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4 RESULTADOS E DISCUSSO
Neste captulo sero apresentados os contedos da coleta de dados, nos quais se
encontram os resultados apresentados a partir da