De Maio de 1851 até Janeiro de 1868 As bases políticas da Regeneração (continuação) 1 2012 /05 /09
Feb 12, 2016
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De Maio de 1851 até Janeiro de 1868
As bases políticas da Regeneração (continuação)
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REGENERA-ÇÃO---
Condições de sucesso
Conjuntu-ra
internacio-nal
favorável Consciên-cia da
indispensa-bilidade
de paz interna
Uma nova
geração de
políticosVontade política
de rever a Carta
Reorganização das
forças políticas
Renegociação da dívida pública
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Na prática, como era possível ao cacique garantir a obediência dos eleitores?Como foi possível a formação, o desenvolvimento e a longa persistência de um fenómeno como o caciquismo?
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2º Acto – A assembleia de voto
“Pela manhã do domingo, marcado para a solenidade, o adro
da igreja paroquial apresentava uma animação fora do
costume.
Os agentes dos dois campos acercavam-se deste, apertavam
a mão àquele, segredavam com um, batiam no ombro de
outro, discutiam com um terceiro e, sempre que era possível,
distribuíam listas.
O regedor passeava com importância por entre os grupos (…)
e dava de olho aos cabos, seus subordinados, para que se não
esquecessem de cumprir as instruções recebidas, votando no
candidato ministerial.
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Nisto saiu a correr da igreja um influente politico. (…)
- Que temos nós lá, ó sr. Luís? – perguntou-lhe o Pertunhas.
- Onde diabo estão os de Pinchões? – perguntou o
interpelado.
- Inda não vieram.
- Diabos os levem! Vai-se principiar a chamada, e eles não
aparecem. (…)
- Vamos nós principiando e, no entanto eles virão.
- Mas a primeira freguesia que vota é, justamente a dele. O
sr. Seabra está como uma bicha. (…)”
2º Acto – A assembleia de voto
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“Ia adiantada a votação, quando correu na igreja uma voz:
- Vêm aí os de Pinchões! … Aí vem o sr. Joãozinho e a sua
gente!
Chegara de facto ali o sr. Joãozinho das Perdizes, à frente
da sua freguesia.
Leitor, se tens, como eu, esperança e sincera fé no
sistema representativo, perdoa-me o obrigar-te a assistir a
uma cena que faz subir a cor ao rosto de quem, como nós,
abençoa os sacrifícios por cujo preço nossos pais nos
compraram a nobre regalia de intervir, como povo, na
governação do Estado. (…) A cena, porém,
3º Acto - O “caciquismo” em acção
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humilhante como é, não envolve a mínima censura à
excelência do sistema. (…)
(…) O morgado vinha, como já disse, à frente. (…) Atrás
vinham os eleitores de Pinchões (…) todos com os
movimentos enleados, todos com os olhos no caudilho
para saber o que deviam fazer. Se ele parava a
cumprimentar um amigo, paravam todos com ele; a
direcção que tomava, tomavam-na todos a um tempo;
apressavam ou demoravam o passo, segundo a velocidade
que ele dava aos seus; se ria, sorriam; se praguejava, tudo
ficava sério.
3º Acto - O “caciquismo” em acção
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Os homens, de cabeça baixa, não ousavam fazer um gesto.
(…) Pareciam envergonhados de serem precisos a alguém.
(…) No bolso de cada um destes homens havia um oitavo
de papel almaço, dobrado, no qual estava escrito o nome de um homem, que eles nem sabiam se existia no mundo.
No momento devido, cada um deles, chamado pela voz do
escrutinador eleitoral, responderia: “presente”; aproximar-
se-ia da urna, entregaria ao presidente da mesa aquele
papel, e retirar-se-ia satisfeito, como se descarregado de
um peso.
3º Acto - O “caciquismo” em acção
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3º Acto - O “caciquismo” em acção
Se lhes perguntassem o que tinham feito, qual o alcance
daquele acto que acabavam de executar, não saberiam
dizê-lo. Se lhes perguntassem o nome do eleito para
advogado dos seus interesses e defensor das suas
liberdades, a mesma ignorância; se lhes propusessem a
resignação do direito de votar, aceitariam com júbilo; se,
finalmente, lhes dissessem que naquele dia estavam nas
suas mãos e dos seus pares os destinos do país, abririam
os olhos de espantados, ou sorririam com a desconfiança
própria dos ignorantes.
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3º Acto - O “caciquismo” em acção
Quando disseram ao sr. Joãozinho que já tinha passado a
sua vez de votar, o homem rompeu pela igreja dentro,
berrando, bracejando, ameaçando céus e terra, sem
atender a quantos lhe clamavam que tinha de se
proceder a nova chamada e que, portanto, sossegasse.
Custou a serenar o morgado. (…) Caindo em si, o sr.
Joãozinho deu ordem à sua gente para que entrasse para
a igreja, e aí a enfileirou a um dos lados dela, prontos à
primeira voz.”
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4º Acto – Como se “cozinha” um resultado
“Passados momentos entravam na sala Henrique, o Tapadas
e outros influentes eleitorais. (…)
Que quer dizer isto? – perguntou o Conselheiro, abraçando-os.
- Cento e trinta e cinco votos a maior, Sr. Conselheiro, nem
mais nem menos – respondeu o Tapadas, rindo às
gargalhadas.
- Mas de onde vieram!
- Ora essa é boa! De Pinchões. (…)
- Como? … Pois o morgado? …
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4º Acto – Como se “cozinha” um resultado
- Votou connosco, como um homem. Ora pudera! (…)
- Mas não se viu ainda há pouco …
- Que estava com a metralha inimiga? – concluiu o Tapadas -
Que tem lá isso? Mas vão lá à igreja e verão as buchas que
estão pelo chão. É um destroço! Parece a loja de um farrapeiro.
- Mas explica-me isso, Tapadas.
- Então não ouviu a rabecada que aquele santo do herbanário
(…) deu ao morgado? Pois aquilo lá ressentiu o homem. E
quando, depois do Vicente expirar, ele voltou à igreja, vinha a
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4º Acto – Como se “cozinha” um resultado
dizer: “Diabos me levem, que se tivesse aqui listas à mão,
havia de ensinar os tratantes que me meteram nesta
dança.” Vieram-me dizer isto e eu, que para o que desse e
viesse, sempre levava um sortimento de listas, cheguei-
me pela calada ao morgado … Hein? … e meti-lhas assim
à cara. Hein! … Ora! Foi um momento! Enquanto a mesa
se senta e abre os cadernos, sim senhores, e se põe tudo
em ordem, estava armada a freguesia de Pinchões à nossa
moda. Agora se queria rir era
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4º Acto – Como se “cozinha” um resultado
ver o brasileiro. Como ele encafuava para a urna as
listas que eu tinha trazido no bolso, e com que fogo! E
eu a vê-lo enterrar até às orelhas e a fazer-me
carrancudo! (…) No fim então é que foram elas,
quando principiaram a aparecer as nossas listas às
cargas cerradas. O homem enfiou! Cuidei que lhe
dava alguma coisa. (…) Agora chia contra o morgado
e se o encontra é capaz de o comer …”
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RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA
Conversão da dívida flutuante em dívida fundada
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Orçamento do Estado Português e Endividamento em 1851 (milhares de contos)
Receitas ordinárias
Despesas ordinárias
Dívida interna
Dívida externa
Encargos com juros
05000
100001500020000250003000035000400004500050000
6 000 8 000
38 827
46 913
3 491
Orçamento do Estado
Encargos com a dívida pública
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Os três vectores da política financeiradesenvolvida pela Regeneração
Aumento imediato das receitas do Estado
Reconversão da dívida pública
Restabelecimento da confiança pública
Agravamento dos impostos
sobre o consumo
Negociação
Regularização dos pagamentos aos funcionários
públicos
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“ Este é o eufemismo liberal com que se denomina a última
bancarrota portuguesa – urgente, inadiável, já desde anos
reconhecida por muitos como a única solução, não só para sair
do círculo vicioso das agitações, como para entrar no caminho
da pontualidade financeira indispensável à regeneração
económica do país.”
Oliveira Martins / Portugal Contemporâneo, 7ª
ed., 1977 – pág. 266-267 - (1ª Edição 1881)
Como alguns críticos viram a conversão
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“Com um espírito novo a Regeneração (…) capitalizou
num fundo de 4% todos os encargos por pagar (…). E
como afirmação de princípio suprimiu a amortização. (…)
Amortizar o quê? Para quê? Amortizar, pedindo
emprestado, nós que temos de nos endividar para solver
os encargos anuais ordinários, é agravar as
consequências. (…) Amortizar o quê? A dívida? Não, que
deve ser fundada, permanente, eterna, como caixa de
economias, instrumento de distribuição de riqueza.
Outrora dissera-se ser necessário pagar o que se deve.
Doutrinas fósseis! Um Estado não é um particular.”
De dívida flutuante a dívida fundada
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Dívida Flutuante e juros
em dívida
Conversão
Dívida Fundada
Vanta-gens
Aliviar encargo
s estatais
Renda estável para os credores
Novos empréstimos a
3%
Possi-
bilita
Política de
Fomento
Pagamento fácil
dos encargo
s
Mais emprést
imos
Mais desenvolviment
o
Política financeira da Regeneração
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“O Decreto de 18 de Dezembro de 1852 é a inauguração de
nova idade financeira em Portugal. (…) A conversão
propunha-se regularizar um estado provavelmente intolerável.
Abolindo as verbas de amortização e reduzindo as de juro,
que nos meados de 52 atingiam somadas 3491 contos,
limitava os encargos. (…) A dívida adquiria um carácter social,
perdendo a natureza comum das dívidas particulares [e] que
melhor modo de desenvolver a riqueza do país do que
derramar sobre ele uma chuva da ouro estrangeiro.”
Oliveira Martins / Portugal Contemporâneo, 7ª ed., 1977 – pág. 271-272
Como os políticos regeneradores viam a sua política financeira