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Cristologia pré-pascal
As ações de Jesus - Os Milagres
Os milagres são elementos decisivos presentes na cristologia
pré-pascal.
A investigação histórica atual, aplicada aos milagres, reafirma
sobretudo a autenticidade global dos mesmos.
Sem os milagres não se explicam nem o entusiasmo da multidão e
dos discípulos, nem o ódio dos inimigos em seus enfrentamentos.
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Cristologia pré-pascalOs Milagres
Critérios para fundamentar adequadamente a autenticidade dos
relatos de milagres.
1. Múltiplas fontes: fontes distantes entre si e distintos
gêneros literários;
2. Descontinuidade - é a atitude original de Jesus ao realizar
os milagres: em seu nome e com a sua autoridade.
3. Continuidade - externa: sintonia do relato com o ambiente
externo. Interna: conexão íntima dos milagres com o anúncio do
Reino.
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Cristologia pré-pascal
Realidade e significado dos milagres de Jesus
O S M I L AG R E S R E S T I T U E M AO HOMEM SUA INTEGRIDADE
FÍSICA, E S P I R I T U A L , P S Í Q U I C A , A N T E C I P A N D
O D E M A N E I R A PARCIAL, MAS REAL, O FUTURO DA HUMANIDADE E DO
CÓSMOS EM DEUS.
Mediante as intervenções de Deus a natureza é potencializada de
tal maneira que é restituída a ela o que lhe é próprio: esta
revive, se cura, recupera seu equilíbrio psicológico, é subtraída
ao poder do maligno.
Como reforço da natureza humana é um acontecimento profundamente
“segundo a natureza” do homem.
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Cristologia pré-pascalRealidade e significado dos milagres de
Jesus
Primeiramente os milagres são como um poderoso sustento e
reforço das forças da natureza por parte de Deus, criador e
providente.
O milagre, mesmo dentro de seu aspecto extraordinário, é um
reforço intrínseco da natureza.
O milagre deve ser entendido no contexto da fé em Deus. Sendo
Deus invisível e transcendente, ele age na história humana com a
capacidade de fazer quanto quer: curar um cego, fazer que a água se
torne vinho, acalmar uma tempestade, etc.
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Cristologia pré-pascalRealidade e significado dos milagres de
Jesus
Os milagres são sinais da proximidade do reino presente com
Jesus na sua humanidade e no cosmos.
Os milagres, porém, adquirem seu significado somente em relação
à pregação de Jesus e à sua missão. O milagre está sempre a serviço
da Palavra, como elemento de Revelação.
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Cristologia pré-pascalAlguns títulos de Jesus
Messias. É um título que nunca encontramos nos lábios de
Jesus.
Na confissão de fé de Pedro Jesus não rejeitou este título, mas
não o aceita em seu significado corrente de libertador
político.
Jesus se identificou mais com o misterioso “Servo sofredor de
Deus” da profecia do Deutero-Isaías. (Is 42-53).
Só no colóquio com a samaritana Jesus parece aceitar este título
explicitamente. (Jo 4,25).
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Cristologia pré-pascal
Alguns títulos de Jesus
Filho do homem. Com uma implícita alusão a Dn 7,13-14 esta
expressão é um título cristológico fundada justamente no Jesus
histórico, o qual manifestou um extraordinário poder espiritual na
terra, levou à plenitude sua obra redentora através de sua paixão,
morte e ressurreição e prenunciou sua vinda na glória.
Manifesta uma maneira de falar característica do Jesus
histórico. Poderia ser mera forma redundante de Jesus se referir a
si próprio. Todo homem é um “filho do homem”. Nesse caso, Jesus
pode ter-se expressado assim para suscitar perguntas na mente dos
ouvintes sobre sua real identidade. É certo, porém, que o título
“Filho do homem, no acontecimento histórico do Jesus pré-pascal,
nunca foi usado com o sentido pleno que a cristologia
neotestamentária lhe atribuirá a seguir.
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Cristologia pré-pascalAlguns títulos de Jesus
Filho de Deus. Título que Jesus se atribui no hino de júbilo de
Mt 11,25-27 para expressar sua profunda intimidade com o Pai.
Dentro de uma significação “acrescida” o título “Filho de Deus”
passa de título humano e funcional para indicar o ser divino de
Jesus (ontológico).
A consciência de Jesus era, essencialmente, filial. Ele sabia
que era o Filho de Deus.
Hino de Júbilo: “Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te
dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas
aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai,
porque assim foi do teu agrado.Matt. Todas as coisas me foram
entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão
o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele
a quem o Filho o quiser revelar. Mt 11,26-27.
Conclui-se que revelando-se como Filho de Deus, numa relação de
intimidade filial Jesus vai além de toda previsão do AT de uma
relação filial com Deus.
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A experiência pascal
O discipulado se transforma em fé.
A experiência terrível da morte na cruz. Nos discípulos de Emaús
temos uma fé pré-pascal não iluminada pela ressurreição.
λυτροῦσθαι λυτρόω (λύω) Verb pres mid infin to ransom,
redeem
[ESVS] G3084 redeem
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“Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de libertar
Israel; e, além de tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que
essas coisas
aconteceram”. Lc 24,21
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A ressurreição de Jesus dá um significado unívoco e profundo de
sua realidade.
Na páscoa Jesus aparece como o Senhor, o único e verdadeiro
mediador entre Deus e a humanidade.
“Por que procurais o vivente entre os mortos?” (Lc 24,6). Ser
cristão não consiste em venerar um mestre falecido, nem apenas em
manter sua memória viva, nem ainda em praticar sua doutrina…
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Ser cristão significa crer que Jesus está vivo hoje, porque o
Pai o chamou dos mortos. Significa ainda crer que Jesus está
presente no meio de nós, agindo no mundo, pelo seu Espírito.
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O acontecimento pascal ilumina, não cria, em sua autêntica
realidade toda a trama de Jesus.
Aqui os discípulos passam da escuridão à luz da fé.
Todos os discípulos a partir da páscoa experimentam o passo
realizado por Tomé: da incredulidade à fé mais explícita: “Meu
Senhor e meu Deus”. (Jo 20,28).
A cristologia explícita começa com a páscoa.
A partir deste momento (da páscoa) o cerne da fé apostólica não
foi somente o Reino de Deus, cuja vinda havia anunciado Jesus, mas
a pessoa mesma do Salvador em quem este reino havia tido
começo.
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Iluminados pela luz do Ressuscitado e fortalecidos pelo dom do
Espírito os discípulos começam a viver sua fé em Cristo e a dar
testemunho corajoso desta fé.
A reflexão cristólogica passa por um processo “retrospectivo”: a
partir do Cristo glorioso aos mistérios de sua vida até o seu
nascimento humano acabará chegando além, até a sua “preexistência”
no mistério de Deus.
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A primeira cristologia palestina foi a da “parusia” (Marana
tha).
Em nenhum momento na fé cristológica apostólica, o escatológico
“ainda-não” da parusia consegue se firmar sem o “já” da
ressurreição. Por sua vez, nunca houve uma cristologia do
Ressuscitado, sem a esperança de sua volta futura, na parusia.
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Querigma primitivo
Na Liturgia - essencialmente a celebração do batismo e da
eucaristia, centrados no mistério de Cristo.
As homologias - que são breves fórmulas de fé cristológica, e os
hinos, composições poéticas mais amplas e articuladas.
Homologia = Repetição de palavras, conceitos, figuras e outros
elementos do discurso no mesmo texto.
Tanto as homologias como os hinos têm um duplo objetivo: “crer”,
quer dizer expressar a fé em Jesus Cristo e “confessá-lo”.
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No começo o acontecimento que abarca toda a “fé” e a consequente
“confissão” foi somente a ressurreição. (cf. Rm 10,9).
Duas formas de homologias: a aclamação e a “fórmula-pistes”
Aclamação: “…todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem são
todas as coisas e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus
Cristo, pelo qual existem todas a s co i sa s, e por e l e nós
também.” (1Cor 8,6).
A aclamação é uma fórmula nominal que contém e proclama um ou
mais títulos cristológicos.
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A formula-pistes - “Porque, se cremos que Jesus morreu e
ressurgiu, assim também aos que dormem, Deus, mediante Jesus, os
tornará a trazer juntamente com ele”. (1Ts 4,14).
Como vimos o núcleo morte-ressurreição foi ampliado
“retrospectivamente”: da missão, ao nascimento de Jesus e sua
preexistência; e se projeta adiante: sua exaltação e a parusia.
Homologia verbal formada por uma breve frase predicativa.
A citada Fórmula-pistes acima sintetiza a morte e a ressurreição
de Jesus.
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Os hinos. Estes manifestam com eficácia a proclamação entusiasta
de Jesus Cristo, S e n h o r e S a l v a d o r u n i v e r s a l d
a humanidade e do cósmos.
Os hinos representam uma cristologia desenvolvida.
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O Quérigma (Kerigma).
Um primeiro sumário do querigma apostólico se encontra em 1Cor
15,3-7: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi:
que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que
foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as
Escrituras; que apareceu a Cefas, e depois aos doze; depois
apareceu a mais de quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda
a maior parte, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago,
então a todos os apóstolos;”
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Elementos essenciais do primitivo querigma cristão:
1. As profecias se cumpriram e começou uma nova época com a
vinda de Cristo;
2. Ele nasceu da estirpe de Davi;
3. Morreu segundo as Escrituras para nos libertar do mal da era
presente;
4. Foi sepultado;
5. Ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras;
6. Foi exaltada à direita de Deus, como Filho de Deus e Senhor
dos vivos e dos mortos;
7. Virá de novo juiz e salvador da humanidade.
Assim, temos que o mistério pascal da morte e ressurreição de
Jesus, constitui o centro do querigma. A ressurreição assinala a
entrada de Jesus no estado escatológico e sua exaltação como
Senhor. Tudo isso é anunciado como Boa Nova, porque unido íntima e
totalmente a Deus, Jesus nos abriu o caminho.
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Observamos no anúncio da Boa Nova que o Jesus pré-pascal e o
Cristo ressuscitado formam a realidade de um só anúncio.
O núcleo mais antigo da primeira reflexão cristológica parte da
chamada “cristologia da exaltação”.
A partir desta cristologia da exaltação, começa a reflexão sobre
o Jesus terreno e sobre sua diferente condição como Cristo
celeste.
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Se Jesus, por sua ressurreição se tornou Messias, Senhor e
Salvador, sua própria existência terrena o preparou para tanto. E é
isso que o querigma primitivo vai proclamar:
Que Ele nasceu da estirpe de Davi, segundo a carne, constituído
Filho de Deus com potência segundo o Espírito… (cf. Rm 1,3-4).
Em conclusão à luz do querigma primitivo a Páscoa é ação de Deus
em Jesus, em nosso favor.
A cristologia do querigma primitivo era funcional. Consistia
numa reflexão sobre Jesus, contemplado em suas funções em nosso
favor. Mais tarde, por um processo orgânico, ela se transformará em
cristologia “ontológica”. Assim, podemos dizer que a consideração
dos dois modos ou âmbitos da existência de Jesus (terreno e
celeste) se converteu depois na base para sua explicitação
ontológica e para a doutrina patrística das duas naturezas.
by Pe. William De Moura