Spix e Martius: Uma descrio Romntica da Paisagem Oitocentista
Brasileira
Natureza, razo e sentimento: a paisagem oitocentista brasileira
na Viagem pelo Brasil de Spix e Martius
Solo il naturalista merita stima, che sa descrivercie
rappresentarci le cose pi strane, esotiche, ciascuna nel suo luogo,
nel suo ambiente, nell'elemento suo peculiare. GoetheResumo: Este
trabalho visa realizar atravs da obra Viagem pelo Brasil: 1817-1820
de Spix e Martius uma anlise sobre estes viajantes do sculo XIX.
Ainda imbudos do esprito iluminista estes naturalistas buscavam
descrever na sua totalidade o que viam. A natureza neste relato
analisada como fonte de riquezas cientficas e econmicas, mas se
estabelece tambm uma afinidade afetiva, tpica do Naturgefhl. Este
fato, juntamente com a influncia que Humboldt teve nos jovens
naturalistas, ratifica como a dimenso romntica presente no relato
evidencia a inteno dos autores em ligar a cincia poesia. O estilo
cientfico e potico inaugurado por Humboldt nasce do anseio de
alcanar a compreenso total da natureza. Para estes viajantes de
inspirao romntica a potncia e a grandiosidade do mundo natural s
conseguiria ser compreendida atravs da comunho entre a cincia e a
esttica.
Palavras- chave: literatura de viagem; viagens filosficas;
Naturgefhl.I. NOVOS INTERESSES, NOVOS OLHARES: UM NOVO BRASIL
A chegada da famlia real portuguesa ao Brasil em 1808 e a
abertura dos portos naquele mesmo ano, proporcionou a vinda de um
grande fluxo de estrangeiros no territrio. Antes deste evento,
Portugal sempre procurou manter suas terras afastadas da ambio das
naes europias com o intuito de salvaguardar as potencialidades que
a colnia luso-brasileira proporcionava economia da metrpole.O sculo
XIX brasileiro foi marcado pela chegada de vrios cientistas de
diferentes nacionalidades. Naturalistas, zologos, gegrafos,
artistas, entre outros, chegaram ao Brasil com a inteno de estudar
um territrio que, at ento, havia sido pouco explorado por
estrangeiros sob o ponto de vista cientifico. Como se l na obra dos
naturalistas Spix e Martius, :
Apesar, porm, dos grandes progressos no conhecimento dessa parte
do mundo, oferece ela ainda vasto campo ao esprito pesquisador a
fim de estender, com os descobrimentos, o circulo da cincia humana
(SPIX e MARTIUS, 1981, v.I, p.25). Outras motivaes da viagem que
podemos ainda citar so a atrao pelo extico, a vontade de estudar a
flora e a fauna dos trpicos e o interesse em descobrir novas
espcies comercialmente explorveis (VEIGA, 2009, p.291).Neste
contexto, tambm conhecido como novo descobrimento do Brasil (KURY,
2001, p.117) est inserida a expedio dos cientistas Carl Friedrich
Phillip von Martius e Johann Baptist von Spix, que resultou na
elaborao da obra Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Conforme Lisboa
(2001), Martius e Spix receberam esta incumbncia da Real Academia
de Cincias de Munique e contaram tambm com o apoio do rei da
Baviera Maximiliano Jos I.Johann Baptist Spix nasceu em 8 de
fevereiro de 1781 na Bavria. Em 1800 concluiu o doutorado em
filosofia e passou a se dedicar a outras reas como Teologia,
Medicina e Histria Natural. Em 1806 recebeu uma bolsa de estudos
para estudar zoologia em Paris. Durante a viagem no Brasil, Spix
leu um vasto livro da natureza. Porm, restou pouco tempo para ele
poder escrever seu livro (...). Voltou com a sade debilitada e
morreu durante a redao do segundo volume de Viagem pelo Brasil, em
1826 (GNTHER, 2009, p.50).Carl Friedrich Philipp von Martius nasceu
em 17 de abril de 1794 no estado da Bavria. Dedicou seus estudos a
Medicina e a Botnica. Aps o retorno da misso cientifica no Brasil,
entrou na Academia [de Cincias de Munique] como membro regular e
tornou-se diretor do jardim botnico. (...) Dedicou toda a sua vida
aos estudos sobre o Brasil, que considerava como sua segunda ptria.
Morreu em 13 de dezembro de 1868 (AUGUSTIN, 2009, p.50-51).A obra V
A partir da leitura de alguns trechos da Viagem pelo Brasil
pretende-se analisar, nesse artigo, algumas questes referentes
permanncia da herana iluminista no modo de perceber a natureza, que
passa a ser revestida pelo utilitarismo correlacionado aos fins
polticos e econmicos identificveis neste relato. Outro ponto
importante da pesquisa diz respeito forma como o romantismo
influenciou a obra destes cientistas. II. A HERANA ILUMINISTA No
que diz respeito concepo de cincia, possvel perceber a inteno por
parte destes naturalistas de construir um conhecimento universal a
partir do estudo da natureza in toto. Spix e Martius percorreram
cerca de dez mil quilmetros entre 1817 e 1820. Segundo Lisboa
(2001), os naturalistas partiram do Rio de Janeiro e prosseguiram
rumo So Paulo e Minas Gerais, transpuseram as margens do Rio So
Francisco na fronteira com Gois e depois voltaram para o litoral
baiano. Da Bahia se deslocaram para o Noroeste at chegarem a Belm.
Dali prosseguiram at a fronteira da atual Colmbia e em seguida
tornaram a Belm (LISBOA, 2001, p.75-76). Spix, como zologo, ficou
encarregado de analisar o reino animal:
Nesse domnio, incluir ele tudo que diz respeito ao homem, tanto
indgena como imigrados: as diversidades, conforme os climas; o seu
estado fsico e espiritual, etc.; a morfologia e a anatomia de todas
as espcies de animais, dos inferiores aos superiores, os seus
hbitos e instintos, a sua distribuio geogrfica e migraes; e,
igualmente, far observaes sobre os restos existentes embaixo da
terra (SPIX e MARTIUS, 1981, v.I, p.26).
Martius, botnico, assumiu a responsabilidade de pesquisar a
flora tropical:competia-lhe investigar aquelas formas que, pelo
parentesco ou identidade com plantas de outros pases, permitem
concluir qual a ptria de origem (...). Pretendia ele fazer essas
pesquisas, levando em conta as relaes climticas e geolgicas, e por
essa razo estende-las tambm aos membros do reino das plantas, tais
como os musgos, liquens e cogumelos (SPIX e MARTIUS, 1981, v.I,
p.26).A Academia tambm solicitou que outras reas das cincias
naturais fossem abordadas como, a fsica, a mineralogia, a geologia,
a populao local e os seus costumes. A pretenso de abarcar o nmero
maior possvel de reas das cincias naturais com o intuito de alcanar
o conhecimento universal no pode ser compreendida sem a devida
correlao com a formao enciclopedista destes naturalistas. Pois,
seguindo os preceitos dos enciclopedistas, a Histria Natural visava
ocupar-se de toda a natureza, desde os astros at os minerais,
passando pela fauna e flora, incluindo o homem (LEITE apud LISBOA,
1995, p.85). A catalogao e categorizao de todo mundo natural foi um
dos motes do pensamento setecentista, que continuou presente sculo
XIX adentro. Muitos projetos das academias de cincias eram
demasiadamente vastos. Segundo Paul Hazard (1989), a Academia de
Bordus, por exemplo, empreendeu um desmensurado projeto, em 1719,
que tinha por intuito escrever a histria da terra e de todas as
modificaes que nela se produziram, tanto gerais como particulares,
quer por tremores de terra e inundaes, quer por outras causas. Alm
disso, pensava-se em fazeruma descrio exacta das modificaes da
terra e do mar, da formao ou desaparecimento de ilhas, rios,
montanhas, vales, lagos, golfos, estreitos, cabos (...) e tambm das
obras feitas pela mo do homem que deram terra um novo aspecto
(HAZARD, 1989, p.131)As intenes da cincia do setecentos de
conhecer, recolher, catalogar e sistematizar o mundo natural tambm
tiveram espao nas viagens oitocentistas. Segundo Pierre Berthiaume,
era possvel encontrar algumas peculiaridades nos relatos de viagem
entre a segunda metade do sculo XVIII e a primeira metade do sculo
XIX. A principal era a capacidade de mesclar interesses
acadmico-cientficos com uma poltica estatal. Segundo o autor, a
variedade de interesses que imbricavam essas expedies foi fruto de
uma nova forma de perceber a viagem no mais como uma descoberta,
mas como uma atividade de pesquisa (BERTHIAUME apud GUIMARAES,
2000, p.394). As Reais Academias de Cincias, responsveis pela seleo
dos cientistas e organizao das expedies, eram muitas vezes
financiadas pelas Coroas dos Estados Nacionais europeus. As
autoridades percebiam nestas misses uma forma de obter o devido
espao para o prprio pas no cenrio cientfico internacional. Desta
forma, academias nacionales de Cincias, (...) se convertiran em uma
especie de rganos asesores del Rey, entre cuyas funciones no sern
las menos importantes las destinadas a consagrar la obra de algunos
hombres de cincia y proporcionar el brillo que pretigiaba y
legitimaba la accon poltica de la corona. (LAFUENTE, 1987,
p.375).
O status cientfico proporcionado pelo descobrimento de novas
espcies tambm foi apontado por Pereira (2002). Segundo ele, as
expedies poderiam ser organizadas de modo a (...) apressar a
recolha de "produtos da natureza" das diversas partes do Imprio, de
maneira a catalog-los o mais breve possvel, o que renderia muitos
dividendos acadmicos e polticos, nesta corrida cientfica que se
estabelecera entre as naes europias. Recolher e dar a conhecer o
maior nmero possvel de espcies era uma questo de orgulho nacional
(PEREIRA, 2002, p.30) Pode-se perceber que Martius, quando
asseverava que a vocao dos germnicos seria conquistar os espaos e
povos no europeus pelo esprito, pela cincia e pelo conhecimento
(LISBOA, 2009, 190) buscava projetar a Real Academia de Cincias de
Munique ao mesmo patamar de instituies cientficas de outros pases
como a Frana, Inglaterra e ustria, que j contavam com um lugar de
destaque no campo cientifico internacional. Inicialmente limitada
aos exploradores e naturalistas portugueses, a natureza brasileira
sempre despertou interesse aos olhos estrangeiros. Com a abertura
dos portos, em 1808, a riqueza natural do Brasil se tornou foco de
interesse de outras naes europeias, que alm do mrito cientfico
almejavam a explorao dos produtos naturais para fins econmicos.
Isso estava de acordo com os preceitos iluministas, uma vez que a
cincia setecentista investiu a natureza de carter utilitrio, no
qual o homem atravs do conhecimento seria capaz de valer-se dos
elementos da natureza para fins teraputicos e econmicos. A ideia de
aproveitar as potencialidades naturais do Brasil para fins
econmicos fica evidente em alguns trechos do relato dos
naturalistas:
Existia dantes, neste jardim, uma criao de cochonilhas sobre
figueiras indianas, que
estavam plantadas ao longo da margem; atualmente, porm, ningum
em todo o Brasil
se ocupa com este produto, que poderia vir a ser um ramo de
negocio extremamente
lucrativo (SPIX e MARTIUS, 1981, v.I, p.65)E, mais adiante:
Existe tambm no pas outro bicho-da-seda, que se encontra em
abundncia, sobretudo
no Maranho e no Par, em um arbusto do gnero das Laurceas,
todavia no foi
utilizado em parte alguma, embora de fcil cultivo; e o fio do
seu casulo promete seda
ainda mais brilhante que a europia. O que, porm, poderia
fornecer um ramo ainda
mais lucrativo de cultura a criao da cochonilha, porque vegeta
aqui o Cactus
coccinellifer, com o seu respectivo inseto, em muitos lugares da
provncia de So
Paulo, especialmente em campo ensolarados (SPIX e MARTIUS, 1981,
v.I, p.144)A partir do sculo XIX houve uma intensificao dessas
redes de informao com o escopo de mapear as riquezas naturais e
estudar suas possveis utilizaes. Nos trechos que seguem percebe-se
a ateno com a qual estes naturalistas se voltaram para as plantas
com propriedades medicinais.
Nas matas circunvizinhas da montanha e, segundo nos asseguraram,
mesmo na proximidade daquele cafezal, viceja uma espcie de quina,
que j desde alguns anos exportada sob nome de quina do Rio e cuja
eficcia nas febres intermitentes tem sido demonstrada pela
experincia dos mdicos prticos de Portugal (SPIX e MARTIUS, 1981,
v.I, p.82).Mais adiante, sobre o mesmo tema:
Atribui ao vermelho do urup (Boletus sanguineus), que aparece de
repente nas arvores podres e muitas vezes s dura um ms, virtude
especial para estancar hemorragias uterinas, encontrou na madeira
amarela da butua (Abuta rufescens) um indcio para sua eficcia nas
doenas do fgado; nas razes em forma testicular da contra-erva
(Dorstenia brasiliensis) e nas folhas cordiformes do corao-de-jesus
(Mikania officinalis nob.) o sinal de propriedades fortificantes
dos nervos e do corao, e considerava a grande e magnfica flor da
Gomphrena officinalis nob. (SPIX e MARTIUS, 1981, v.I, p.162).A
busca por plantas medicinais esteve presente em grande parte das
expedies cientficas do sculo XVIII/XIX. Alm dos benefcios econmicos
dessas plantas em terras europias, certamente os cientistas no
deixavam de se preocupar com as condies de sade dos sertes e
cidades do nascente Brasil oitocentista. Alm disso, claro, a
discutida busca pela construo do conhecimento universal fez com que
Spix e Martius reservassem espao em seus dirios para os
medicamentos naturais. III. NATURGEFHL Alm dos aspectos polticos e
econmicos que impulsionaram essa expedio algumas caractersticas
tpicas do romantismo influenciaram a escrita e o modo de perceber a
natureza. Humboldt, naturalista, explorador e botnico foi uma
influncia marcante para Spix e Martius. Segundo Kohlhepp (2006),a
expedio cientfica organizada por Humboldt entre 1799 e 1804
percorreu boa parte da Amrica espanhola, passando pelos vice-reinos
do Peru, Nova-Granada e Nova Espanha e ainda pela ilha de Cuba. A
viagem fez do naturalista um grande conhecedor dos aspectos fsicos,
econmicos, polticos e sociais da Amrica Latina.
Spix e Martius, assim como Humbold, acreditam que homem e
natureza se complementavam, de modo que era impossvel entender a
paisagem natural sem o sentimento humano fosse levado em conta.
Dessa forma, a racionalidade divide espao com o sentimento na
descrio da paisagem natural e na anlise cientfica.
Nas ilustraes da obra aqui abordada possvel perceber a inteno
por parte dos autores de representarem o homem como parte
integrante da natureza, uma vez que ambos se complementam nas
descries. Pode-se perceber que, em alguns desenhos, os autores se
concentraram em retratar seus objetos de estudo (fauna, flora)
separados do seu contexto. O objetivo, nesses casos, tentar fazer
uma anlise cientfica mais apurada, que se detenha nos detalhes do
objeto retirado da realidade para ser melhor descrito em seus
aspectos morfolgicos. Porm, em outras figuras, como na Cachoeira
Araraquara (Figura 01) visvel a representao de uma paisagem
completa, em todos os seus elementos, contando inclusive com a
presena do homem como complemento dessa natureza. O homem assim
representado como parte intrnseca natureza. O uso da imagem se
torna uma ferramenta til na tentativa de retratar, na sua
totalidade, os fenmenos naturais observados.
As ilustraes, alm de conseguirem captar a relao homem natureza
auxiliam a compreenso daqueles que aqui no estiveram. Martius em um
trecho da obra Viagem pelo Brasil diz: mais difcil retratar o
carter das jovens florestas brasileiras com palavras do que com
imagens; e desse modo parece-nos j ter satisfeito ao benvolo leitor
com a arte do pintor. Contudo aquele que deseje saber mais sobre a
natureza destas florestas percorra a narrao de nossa viagem e o
nosso discurso acadmico sobre a fisionomia das plantas no Brasil
(MARTIUS apud KURY, 2001, p.867).Na concepo de Martius imagem e
texto se articulavam organicamente para produo de conhecimento
cientfico. Para Kury (2001), o anseio em capturar os fenmenos
naturais juntamente aos fatos culturais como parte integrante das
paisagens fez com que os naturalistas do sculo XIX, alm de
recorrerem s imagens pictricas, muitas vezes buscassem auxlio na
literatura. Para Spix e Martius o trabalho do naturalista no se
limitava a catalogar de forma lineana a natureza. Segundo Lisboa
(2009), o historiador da natureza mantm uma relao afetiva com o seu
objeto de estudo. Este sentimento da natureza definido como
Naturgefhl. Humboldt foi precursor deste modo de pensar a natureza.
Ele foi o primeiro a mesclar descries cientficas da natureza com um
discurso esttico. Em uma carta a Goethe escreveu que:A natureza
deve ser sentida; quem somente v e abstrai, pode dissecar plantas e
animais no turbilho do pulsar dos trpicos ardentes ao longo de toda
uma vida, acreditando estar descrevendo a natureza, permanecendo,
no entanto, eternamente alienado dela (HUMBOLDT apud LISBOA, 2009,
p.182).
Figura 01: Cachoeira Araraquara (SPIX e MARTIUS, 1981, v.III,
p.238)
Assim, como Humboldt que asseverava que o sentimento da natureza
era indispensvel para a sua prpria compreenso, Spix e Martius
imbudos por este sentimento da natureza descreveram de forma
cientifica e potica a paisagem natural do Brasil oitocentista:Ao
passo que o mundo tranqilo das plantas, iluminado aqui e ali por
milhares de vaga-lumes como por enxame de estrelas volantes, com as
suas exalaes balsmicas glorifica a noite, resplandece o horizonte
incessantemente com os relmpagos, elevando a alma em jubilosa
admirao s estrelas que no firmamento cintilam em solene silncio
acima da terra e do mar, inspirando-a com noes de maravilhas
sublimes (SPIX e MARTIUS, 1981, v.I, p.58-60)
A descrio dos sentimentos evocados pela natureza insere o
discurso destes viajantes em uma perspectiva romntica que vai alm
da observao emprica. Na obra comum encontrar trechos em que esboam
o prprio estado de esprito instigado pela natureza: No menos
extraordinrio que o reino das plantas o dos animais que habitam as
matas virgens. O naturalista para a transportado pela primeira vez,
no sabe o que mais admirar, se as formas, os coloridos ou as vozes
dos animais (SPIX e MARTIUS, 1981, v.I, p.95). Esse sentimento de
deslumbramento perante a natureza visvel tambm quando os
naturalistas afirmam que:(...) todos esses magnficos produtos de
terra to nova combinam-se num quadro, que mantm o naturalista
europeu num contnuo e alternado estado de assombro e de xtase (SPIX
e MARTIUS, 1981, v.I, p.95).IV. CONSIDERAES FINAIS As sensaes de
encantamento e sobressalto descritas pelos viajantes do ao discurso
cientfico uma nfase que transcende a exatido cientfica. O mtodo
lineano permaneceu como ponto cardinal para compreenso do mundo
natural, mas o Naturgefh possibilitava a apreenso subjetiva e
detalhada do objeto observado. Segundo Temstocles Cezar, no Brasil
oitocentista, nem sempre ser poeta ou romancista era incompatvel
com ser historiador; e ir de um gnero ao outro era uma opo, no uma
impossibilidade intelectual (CEZAR apud OLIVEIRA, 2010, p. 47).A
obra Viagem pelo Brasil um exemplo de como uma narrativa cientfica
e fortemente influenciada pelos preceitos iluministas pode tambm
ser considerado um trabalho potico, mesmo que mediado pela razo.
Esta obra fruto da sntese entre o saber cientfico e o Naturgefh
evocado pela beleza natural das paisagens. O estilo cientfico e
potico inaugurado por Humboldt nasce do anseio de alcanar a
compreenso total da natureza. Para estes viajantes de inspirao
romntica a potncia e a grandiosidade do mundo natural s conseguiria
ser compreendida atravs da comunho entre a cincia e a
esttica.Referncias Bibliogrficas AUGUSTIN, G. Literatura de viagem
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2010. O presente artigo originou-se do trabalho de concluso da
disciplina de Tpicos Especiais I - O fantstico, o desconhecido e o
revelado: viagens nos Imprios Ibricos Espanha e Portugal, sculos
XVI-XVIII, ministrada em 2012, sob a orientao do prof. Tiago
Bonato.
Segundo Augustin, diversos viajantes percorreram o Brasil
durante o sculo XIX: Luccock, Caldcleugh, Walsh, Suzannet,
Burmeister, Av-Lallemant, Burton, Wells, Mawe, Eschwege, Freireyss,
Saint Hilaire, Pohl, Spix, Martius, Bunbury, Gardener, Castelnau,
Agassiz (AUGUSTIN, 2009, p.59).
bem verdade que a Coroa portuguesa havia feito um esforo em
organizar diversas expedies cientficas na segunda metade do sculo
XVIII, que ficaram conhecidas como viagens filosficas. A maior
parte do material produzido pelos naturalistas, entretanto,
permaneceu sem ser publicada na poca. Recentemente as pesquisas
sobre a temtica aumentaram bastante, trazendo a tona vrias
problemticas a respeito da historia da cincia na Amrica portuguesa
setecentista. Ver, por exemplo, CRUZ, Ana L. R. B. ; PEREIRA,
Magnus R. de Mello . A histria de uma ausncia: os colonos cientista
da Amrica portuguesa na historiografia brasileira. In: Joo Fragoso;
Manolo Florentino. (Org.). Nas rotas do Imprio. Vitria/Lisboa:
DUFES/Instituto de Investigao Cientfica Tropical, 2006.
Informaes retiradas: AUGUSTIN, Gnther. Literatura de viagem na
poca de Dom Joo VI. Belo Horizonte: UFMG, 2009.
Para uma discusso a respeito das redes de informao, ver
DOMINGUES, ngela. Para um melhor conhecimento dos domnios
coloniais: a constituio de redes de informao no Imprio Portugus, em
finais do setecentos. Histria, Cincias, Sade. Manguinhos, vol. 8
(suplemento), pp. 823-838, 2001.
Sobre a utilizao de imagens juntamente s narrativas textuais,
ver BONATO, Tiago. Viagens do olhar. Relatos de viajantes e a
construo do serto nordestino (1783-1822). Guarapuava, Editora da
UNICENTRO, 2014.
Carl Linn publicou Systema Naturae (Sistema da Natureza) em
1735. Segundo Romulo de Carvalho, a tentativa de Lineu com sua obra
era classificar toda a natureza em trs reinos o vegetal, o animal e
o mineral. Devido intensa atividade cientfica setecentista, a
primeira edio, de 1735, constava apenas de doze pginas. A ltima
edio publicada em vida de Lineu, j constava de mil e quinhentas
pginas (CARVALHO, 1987, p.32)