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17Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
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DEMANDA EFETIVA, INVESTIMENTOE DINMICA
A ATUALIDADE DE KALECKI PARA A TEORIAMACROECONMICA
Mario Luiz Possas1
Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de
Janeiro
Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Av. Pasteur, 250CEP 22290-240, Praia Vermelha, Rio de Janeiro, RJ,
Brasil, e-mail: [email protected]
RESUMO A macroeconomia mainstream afastou-se inteiramente de
suas origensremotas em Keynes e Kalecki, substituindo o princpio da
demanda efetiva (PDE)pela macroeconomia da oferta, o investimento
pela poupana e a dinmica peloequilbrio como norma. O artigo
discute, na oportunidade do centenrio de Ka-lecki, a importncia da
sua contribuio para a reconstruo de uma teoria ma-croeconmica que:
(i) explique, pelo PDE, as relaes bsicas de determinao cau-sal das
variveis econmicas sem qualquer referncia ao equilbrio; (ii)
supereassim o falso papel relevante atribudo poupana; e (iii) traga
de volta a macro-dinmica para o centro na anlise do funcionamento
da economia capitalista.
Palavras-chave: dinmica macroeconmica; Kalecki; demanda efetiva;
investi-mento e poupana
EFFECTIVE DEMAND, INVESTMENT, AND DYNAMICS: THE MODERNITY
OF KALECKIAN THOUGHT FOR MACROECONOMIC THEORY
ABSTRACT Mainstream macroeconomics has fled away completely from
its re-mote origins in Keynes and Kalecki, replacing the principle
of effective demand(PED) by supply macroeconomics, investment by
savings and dynamics by equilib-rium as a norm. This article
discusses, in the event of Kaleckis centennial, the im-portance of
his contribution for the reconstruction of a macroeconomic theory
ca-pable of (i) explaining, through PED, the basic causal relations
among economicvariables without any reference to equilibrium; (ii)
thus invalidating the false rel-evant role ascribed to savings; and
(iii) bringing macrodynamics back to the core ofthe analysis of the
capitalist economy.
Key words: macroeconomic dynamics; Kalecki; effective demand;
investmentand savings
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18 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
1. INTRODUO
A contribuio de Kalecki teoria econmica no se restringe
macroe-
conomia, mas certamente nesta que alcana sua mais alta
expresso.
O objetivo deste artigo rever trs questes tericas de
macroeconomia
mas com grande impacto em poltica econmica em que suas
interven-
es foram mais notveis, e que por sua radicalidade e
originalidade tm
interesse duradouro.
A primeira questo inclusive do ponto de vista lgico , a ser
trata-
da na seo 2, a formulao do princpio da demanda efetiva. Em
sua
obra principal,2 Kalecki faz uma formulao lapidar desse
princpio
(curiosamente sem explicit-lo), mais simples e mais geral do que
a de
Keynes, que ressalta especialmente a relao unvoca de causalidade
gasto-
renda, dispensando com lgica cristalina as noes habituais de
equilbrio
to caras aos economistas das mais diversas formaes. Ao ser
expulsa do
paraso das relaes econmicas elementares da macroeconomia (e no
s
desta, a rigor), a noo de equilbrio pode desaparecer sem retorno
e sem
deixar vestgio.
A seo 3 trata de um velho tema, to polmico quanto crucial para
a
anlise macroeconmica, especialmente nas verses keynesianas
heterodo-
xas: a relao poupana-investimento. Mais uma vez Kalecki nos
brinda, no
mesmo captulo, com uma demonstrao bvia essencialmente
idntica
de Keynes, s que mais simples e direta de como o investimento
(entre
outras variveis, no caso geral) determina uma poupana
necessariamente
igual e simultnea, que representa a liberao de recursos lquidos
de igual
montante. Assim a poupana, estando condenada a ser igual ao
investimen-
to, no tem nenhuma importncia econmica, ao contrrio da opinio
pre-
valecente at hoje no senso comum dos economistas, inclusive de
muitos
dos que se dizem keynesianos.
A seo 4 conclui com uma reviso geral e sucinta de como Kalecki v
a
dinmica da economia capitalista como um aspecto central do seu
funcio-
namento, especialmente no que se refere instabilidade e s
flutuaes do
nvel de atividade. Sua teoria do ciclo econmico no esgota o tema
da din-
mica (nem tem essa inteno), mas tem o mrito de apontar, de forma
ana-
liticamente robusta, para um resultado teoricamente radical: a
economia
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19Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
capitalista, operando em condies de rotina econmica e estrutura
estvel,
no tende para algum estado estacionrio e/ou de equilbrio geral,
mas para
flutuaes (ou seja, dinamicamente instvel); e que o crescimento a
longo
prazo, qualquer que seja a sua trajetria temporal, depende
crucialmente de
fatores autnomos de demanda (basicamente, investimento
autnomo).
2. DEMANDA EFETIVA, CAUSALIDADE E EQUILBRIO
A percepo de que o princpio da demanda efetiva (PDE) mesmo
um
princpio, obrigatoriamente anterior formulao de teorias
macroeco-
nmicas, tanto por sua generalidade (de uma antilei de Say)
quanto por
sua essencialidade (estabelece as relaes bsicas de determinao da
ma-
croeconomia), esteve presente em Keynes3 e em Kalecki.4 Mas em
Keynes
ele em boa medida obscurecido pela dificuldade do autor em
exp-lo cla-
ramente num contexto em que pretende, paradoxalmente, enfatizar
a de-
terminao ex ante da produo e do emprego.5 J em Kalecki, para
quem o
nvel de emprego permanecia apenas subjacente, como uma
decorrncia
implcita da validao de um certo volume de produo pelas vendas
(de-
manda), o foco puro e exclusivo no resultado ex post permitiu
tornar mais
claro o essencial que o PDE6 consiste na determinao unilateral
das re-
ceitas (rendas) pelo gasto; em outras palavras, na constatao de
que nas
transaes mercantis a nica deciso autnoma a de gastar (comprar,
con-
verter dinheiro em mercadoria).7
De fato, esse o insight notvel de Kalecki no famoso trecho, logo
no in-
cio deste texto, em que, frente igualdade contbil entre os
lucros brutos e o
gasto capitalista em investimento e consumo,8 se pergunta pelo
significado
da equao isto , pelo sentido de sua determinao, se dos lucros
para o
gasto ou vice-versa. E conclui, ao inverso do senso comum, que
ela se d do
gasto para o rendimento (no caso, os lucros) porque os
capitalistas no
podem decidir alterar o que ganham, mas s podem decidir o que
gastam
(em investimento ou em consumo); logo, a soma dos seus gastos
que de-
termina a sua renda, e no o contrrio.
admirvel a lucidez expressa na idia mesma de formular essa
questo,
quanto possibilidade de determinao causal unilateral em uma
simples
igualdade contbil, que em um economista comum despertaria, no
mxi-
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20 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
mo, a desconfiana de que alguma relao de equilbrio poderia estar
sub-
jacente. Entretanto, o notrio laconismo de Kalecki pode ter sido
aqui con-
traproducente, ao deixar de explicitar ou aprofundar implicaes
tericas
de uma proposio ao mesmo tempo to fundamental e to
surpreendente.
A habitual resistncia a idias novas, que Keynes tanto lamentou
em con-
texto semelhante, tende a rejeitar esse tipo de formulao, ainda
que no
explicitamente, como sendo idiossincrtica ou parcial,
excessivamente fora
dos cnones de uma cincia que se pretende sria o que
infelizmente,
para a grande maioria dos economistas, se identifica com o uso
sistemtico
e compulsivo da noo de equilbrio.
Seria uma perda inestimvel deixar de fazer algum esforo de
aprofun-
damento e generalizao de uma idia to rica, at para que seu real
alcance
fique mais claro. Fiz nesse sentido, h muito tempo, uma
tentativa de siste-
matizar a verso de Kalecki do PDE em um contexto que me parece o
mais
simples e mais geral em que pode ser formulado, de modo a
explicitar mais
claramente as condies lgicas e tericas que so estritamente
necessrias e
suficientes para a sua validade.9 Em sntese, despindo essa
proposio bsica
de causalidade unilateral do gasto para a renda de suas
roupagens tericas
particulares o tipo e o nvel de agregao, os componentes ex ante
dos
rendimentos, o conceito de valor adicionado, a explicitao ou no
da dis-
tribuio de renda, e tantas outras opes, relevantes no seu prprio
con-
texto, mas que nada tm a acrescentar ao PDE em si , pode-se
chegar ao
essencial do princpio. Este pode ento ser redefinido em um nvel
de gene-
ralidade que o torna compatvel com as mais variadas especificaes
teri-
cas, e por isso mesmo em certa medida pr-terico: uma espcie de
anti-
lei de Say, to bsico e to geral quanto seria essa lei se fosse
verdadeira;
apenas no axiomtico porque um teorema, isto , uma proposio
te-
rica demonstrvel.
A formulao mais simples a seguinte: numa dada economia
mercantil
e portanto monetria, onde o dinheiro cumpre todas as suas
funes
(meio de circulao, unidade de conta, meio de pagamento) , em
toda
transao de compra e venda existe apenas uma deciso autnoma: a de
gas-
tar. Em conseqncia, todo gasto determina uma receita de igual
magnitu-
de. Por agregao, o total do gasto em um dado perodo contbil
sempre
igual e determina o total da receita.
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21Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
A simplicidade extrema, em um tema controvertido, precisa ser
expli-
cada. Cabem assim algumas observaes sobre essa formulao, todas
no
sentido de assinalar o que no necessrio para a proposio do
PDE:
(i) No preciso supor uma economia capitalista plenamente
constituda
e desenvolvida (com a presena de capital, lucros e trabalho
assalariado),
mas somente uma economia mercantil simples, com a condio bsica
de
que ela seja monetria, isto , no seja de escambo o que
claramente
uma condio geral aplicvel a uma economia mercantil.10 Em
conseqn-
cia, supe-se que o dinheiro tenha todas as funes que lhe so
inerentes,
exceto a funo tipicamente capitalista de um ativo (no caso, a
moeda) por
meio do qual o dinheiro possa tornar-se capital. A implicao da
presena
do dinheiro em uma economia mercantil que, de acordo com Marx,
ele
um intermedirio obrigatrio de todas as trocas, e por isso se
torna, no
mais um meio apenas, mas um fim para cada produtor individual
que se de-
fronta obrigatoriamente com o mercado sem o que uma sociedade
ba-
seada na diviso social do trabalho no poderia se reproduzir.11
Logo, existe
uma assimetria entre dinheiro e mercadoria, e portanto entre o
gasto (com-
pra) e a receita (venda), segundo a qual s o gasto, que pressupe
a posse de
poder de compra universal a finalidade de todo o processo de
troca ,
pode resultar de uma deciso efetivamente autnoma, na medida em
que
dispe livremente desse poder de compra. Claro que essas
propriedades es-
to presentes no capitalismo, que a forma mais desenvolvida de
economia
mercantil, pelo que o PDE a fortiori ser vlido numa economia
capitalista.
(ii) No preciso formular o PDE em termos agregados, nem ele
implica
algum conceito estritamente macroeconmico; de fato, a formulao
acima
a mais microeconmica possvel, em nvel de cada transao
individual.
O resultado agregado um mero corolrio: dado que em cada operao
de
compra e venda o gasto determina a receita, durante um perodo de
tempo
contbil arbitrrio o total de gastos sempre ser igual e
determinar o total da
receita.
(iii) No preciso formular o PDE em termos de valor adicionado
ou
renda: a relao de causalidade se estabelece em nvel mais
genrico, a partir
da assimetria entre dinheiro e mercadoria, e portanto entre
gasto e receita.
A referncia usual renda decorre do hbito adquirido na
macroeconomia,
pelo menos desde Keynes12 e tambm adotado por Kalecki, de
trabalhar por
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22 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
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convenincia com agregados expressos em termos de renda ou valor
adicio-
nado para evitar eventual dupla contagem ou minimizar as
dificuldades de
mensurao no-ambgua de agregados quando expressos em termos
de
valor da produo. Da mesma forma, simples questo de
convenincia
analtica tratar o produto agregado em termos de componentes de
produto
setorial de bens finais consumo e investimento em Keynes,
investimento
e consumo desmembrado entre capitalistas e trabalhadores em
Kalecki.
O gasto que determina a renda no s em bens finais!
(iv) No preciso relacionar o PDE e, em conseqncia, a refutao
da lei de Say com a funo consumo, e em particular com a suposio
de
Keynes de uma propenso marginal a consumir menor que um.13 A
existn-
cia mesma de uma funo consumo da renda inteiramente
irrelevante
para a validade do PDE. Quem (ou no) gasto no a renda (um
fluxo)
cuja nica relao necessria com o gasto a de ser determinada por
ele;14
mas o poder de compra (um estoque), que pode ser mais ou menos
influen-
ciado pela renda prvia (dependendo principalmente do nvel de
riqueza de
cada agente considerado), mas certamente pode ser afetado por
diversas
outras variveis, especialmente o crdito. Nesse sentido, e de um
ponto de
vista puramente lgico, todo gasto autnomo em relao renda
prvia
inclusive o consumo. A hiptese de uma funo consumo estrita da
renda,
hoje mais discutvel do que nunca, uma questo emprica,
irrelevante para
a validade do PDE e para a invalidade da lei de Say.
(v) No preciso invocar a ocorrncia de entesouramento, no
jargo
clssico e marxista, ou de preferncia por liquidez, na
terminologia key-
nesiana, ou qualquer outro tipo de vazamento monetrio de renda
entre
um dado rendimento e o gasto subseqente, para validar o PDE e
invalidar
a lei de Say e isso exatamente pelas mesmas razes que acabam de
ser
apontadas. A autonomia essencial de todo e qualquer gasto (e no
s o con-
sumo) em relao renda prvia, devida possibilidade em princpio de
se
gastar indeterminadamente mais ou menos do que ela em um dado
perodo
seguinte j que, vale repetir, gasta-se no a renda, mas a partir
de um
dado poder de compra, que tem relao parcial e indireta com a
renda ,
torna irrelevante a tradicional questo, hoje em desuso, de
quanto de
uma renda prvia ou no gasto; assim como a questo correlata de
que se-
ria a presena do dinheiro como intermedirio obrigatrio das
trocas
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23Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
numa economia mercantil que permitiria afirmar a supremacia do
PDE so-
bre a lei de Say.
verdade que a presena do dinheiro, como mostrou Marx,
suficiente
para rejeitar a lei de Say,15 e assim mostrar a possibilidade
terica das crises,
j mesmo no mbito de uma economia mercantil simples. Tambm
ver-
dade, como se viu, que ela essencial demonstrao do PDE; mas no
iso-
ladamente, seno juntamente com os demais elementos constitutivos
de
uma economia mercantil, notadamente a diviso social do trabalho
e a au-
sncia de coordenao consciente do processo de troca (que Marx
denomi-
nou anarquia da produo). Seria portanto um erro consider-la de
al-
gum modo a responsvel isolada pelas crises, pelo desemprego
etc.; foi esse
erro terico que levou a uma longa tradio de identificao
incorreta do
PDE com o suposto problema da insuficincia da demanda efetiva
no
campo heterodoxo, de marxistas a keynesianos de esquerda. O PDE
no tem
qualquer vis de baixa intrnseco; a renda e o emprego sero sempre
deri-
vados da demanda efetiva, e portanto daquilo que os agentes
decidirem au-
tonomamente gastar, a partir de suas expectativas.
(vi) Finalmente, no preciso mais at, seria altamente
enganoso
expressar o PDE em termos de equilbrio, seja entre oferta e
demanda (agre-
gadas ou no), seja entre produto e renda, seja entre
investimento e pou-
pana, seja mesmo em termos de equilbrio dos consumidores (ao
supor
que estejam operando sobre uma dada funo consumo, e com isso,
por
exemplo, maximizando alguma funo utilidade intertemporal). Uma
das
propriedades que conferem maior robustez ao PDE que ele
independe de
qualquer hiptese de equilbrio, seja de que tipo for, sendo at
mesmo com-
patvel com qualquer padro de racionalidade que se queira adotar
in-
cluindo comportamentos irracionais!16 Tudo o que importa que o
gasto
realizado por qualquer motivo determinar a renda, e, por
extenso
(numa sucesso temporal de perodos curtos, de que Keynes trata
mas no
Kalecki), o nvel de atividade, inclusive o emprego, de uma
economia.
No possvel exagerar a importncia dessa ltima concluso. Em
ter-
mos mais gerais e abstratos, o que se est sublinhando,
principalmente a
partir do insight de Kalecki em sua forma peculiar de exprimir o
PDE, que
o equilbrio no um conceito necessrio do ponto de vista da
determinao
terica das variveis em macroeconomia,17 ainda que pudesse ter
algum ou-
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24 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
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tro sentido (no que no acredito). Elas tm sua determinao bsica,
in-
cluindo a dimenso quantitativa, estabelecida a partir de uma
relao causal
unilateral, do gasto para a renda, quaisquer que sejam o nvel de
agregao e
o recorte setorial e de renda adotados. As equaes bsicas da
macroeco-
nomia de Kalecki assim como, em certa medida, de Keynes so
rela-
es contbeis acrescidas implicitamente de uma determinao
unilateral do
dispndio/produto para os rendimentos. Assim, por exemplo, a
renda na-
cional (Y), decomposta por Kalecki em lucros brutos (P) e
salrios (W),
Y = P + W (1)
vista, no caso geral (incluindo governo e setor externo), como
igual por
definio contbil, mas tambm determinada pelos gastos associados
aos di-
versos componentes do produto, como indica a seta na equao
abaixo:
Y =
I + Ck + Cw + G + (X M) (2)
em que, como usual, Y a renda, I o investimento, Cw o consumo
dos assa-
lariados, Ck o consumo dos capitalistas (ou a partir dos
lucros), (X M) o
saldo do comrcio exterior entre exportaes (X) e importaes (M)
de
bens e servios, e G o gasto pblico.
No caso simplificado, em que Kalecki abstrai governo e setor
externo, a
equao anterior se reduz a:
Y =
I + Ck + Cw (3)
que, juntamente com (1) e ainda supondo que a propenso a
consumir dos
trabalhadores igual a 1 (ou seja, Cw = W), resulta na j referida
equao
dos lucros, com a mesma causalidade unidirecional dos gastos
capitalistas
para a sua renda:
P =
I + Ck (4)
**
Com o descarte da noo de equilbrio e o estabelecimento de um
tipo de
relao de determinao distinto, creio que se podem identificar
claramente
benefcios tanto afirmativos quanto restritivos da introduo do
PDE
nessa forma e nesse nvel bsico da anlise macroeconmica. No
primeiro
caso se incluem principalmente dois resultados: (1) a nfase
causal na de-
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25Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
manda, presente tanto em Keynes quanto em Kalecki, que a
tesoura
marshalliana, to atrativa para os economistas ortodoxos, rejeita
por princ-
pio, e que foi rapidamente descaracterizada pela teoria
macroeconmica
neoclssica subseqente, a ponto de que hoje a disciplina chegou
mesmo a
inverter aquela nfase original;18 e (2) a abertura para a anlise
dinmica,
que permanece apenas latente em Keynes mas que Kalecki to bem
desen-
volve como veremos na ltima seo e grandemente facilitada
pela
excluso do equilbrio, que alm de enganoso teoricamente
desnecessrio
e de compatibilidade mais problemtica com uma anlise dinmica. No
se-
gundo caso, destaca-se a maior facilidade de esclarecimento dos
motivos
que devem levar rejeio das vrias interpretaes equvocas que as
abor-
dagens macroeconmicas dominantes sejam pr-keynesianas,
keynesia-
nas neoclssicas (incluindo as chamadas novokeynesianas),
antikeynesianas
(como as chamadas novoclssicas) ou apenas convencionais fazem
de
agregados macroeconmicos, especialmente da poupana e sua
relao
com o investimento, como veremos na seo a seguir.
3. A RELAO POUPANA-INVESTIMENTO
Apesar da multiplicidade de conceituaes de que a poupana foi
objeto na
teoria econmica, pelo menos sua definio contbil tornou-se
razoavel-
mente consensual a partir do desenvolvimento das tcnicas de
contabilida-
de social, especialmente aps a obra de Keynes. Desde ento
aceita-se am-
plamente que a poupana podendo ser real ou nominal, bruta ou
lquida, alm de outros detalhes contbeis que podemos deixar de
lado
seja definida como o fluxo de renda correspondente diferena
entre a ren-
da disponvel (aps impostos) e o consumo. Isso significa que
divergncias
quanto sua conceituao e significado econmico estaro refletindo
dife-
renas tericas, e no meramente definicionais.
Kalecki mostra19 como, no caso geral, a poupana agregada
determi-
nada a partir da equao (2) de determinao da renda:
introduzindo-se
os impostos menos transferncias (representados a seguir por T) e
subtrain-
do-os de ambos os lados da equao, determina-se a renda
disponvel; sub-
traindo, alm disso, de ambos os membros o consumo total (dos
capitalis-
tas e dos trabalhadores), obtm-se a poupana total (S):
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26 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
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S =
I + (X M) + (G T). (5)
essencial observar que permanece, proveniente da equao (2),
como
decorrncia lgica do PDE, a relao de determinao unilateral do
gasto
para a renda neste caso, do investimento, somado ao saldo da
balana co-
mercial e ao dficit pblico, para a poupana. claro ainda que, se
os saldos
do governo e do setor externo forem nulos, a poupana ser igual
ao inves-
timento sendo por ele necessariamente determinada.
Como na formulao do PDE acima, importante destacar aquilo
que,
embora muitas vezes arraigado no senso comum, no caracteriza a
poupan-
a nem a sua relao com o investimento:
(i) A poupana no financia o investimento, em nenhum sentido
teori-
camente inteligvel. Primeiro, porque ela no precede, nem
temporal nem
logicamente, o investimento (inexiste logicamente uma poupana ex
ante);
ela por definio um fluxo de rendimentos simultneo ao
investimento20 e
por ele determinado. Segundo, porque quem financia o
investimento o cr-
dito, este sim, um estoque de poder de compra, criado ex nihil
pelo siste-
ma bancrio que precede lgica e temporalmente o investimento;
alis,
costuma ser essencial para viabilizar os investimentos devido
magnitude
normalmente elevada desses vis--vis s receitas lquidas correntes
capitali-
zadas pelas empresas.
A alegao, s vezes encontrada em autores ps-keynesianos, de que
a
poupana, se no contribui para o financiamento do investimento,
im-
portante para o seu funding, mediante o alongamento dos prazos
de aplica-
o essenciais para viabilizar o investimento em escala agregada
significati-
va, incorre em um erro conceitual. Quem pode contribuir para
tanto a
poupana em sentido coloquial, s vezes associada a aplicaes em
fundos
de investimento, que constitui um estoque e nada tem a ver com o
fluxo
macroeconmico chamado poupana; no mximo, esta d
indiretamente
uma contribuio marginal para eles, dependendo de se 21 e como o
estoque
de riqueza derivado da poupana transformado em aplicao
financeira.
Por outro lado, quando afirma que o investimento se financia a
si pr-
prio22 Kalecki est, na forma um tanto imprecisa em que cunha
suas frases
de efeito, chamando a ateno para dois aspectos: (1) que a
poupana no
financia o investimento; e (2) que o prprio gasto realizado na
compra
(eventualmente financiada) de bens de investimento gera
instantaneamente
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27Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
lucros, com eles poupana e, finalmente mas no menos importante,
libera
um igual montante de liquidez disposio do conjunto dos
capitalistas no
sistema bancrio.23
(ii) A poupana no resulta de atos voluntrios por parte dos
agentes
econmicos: ela , como qualquer outra varivel de renda,
estritamente re-
sidual, isto , determinada por outras variveis (de gasto). ,
alis, o que diz
expressamente Keynes na Teoria geral,24 que, como se sabe, mudou
inteira-
mente a sua concepo a esse respeito em relao ao Treatise on
Money, tor-
nando-a no essencial idntica de Kalecki. Por isso, a determinao
de um
montante qualquer, individual ou agregado, de poupana no pode,
em
nome de nenhuma opo terica, e por razes de ordem lgica derivadas
do
PDE, ser objeto ou resultado da vontade ou da deciso dos agentes
como,
por exemplo, na forma neoclssica ainda hoje mais difundida,
deixando o
consumo para uma data futura e emprestando os recursos
correspondentes
em funo crescente da taxa de juros. Em poucas palavras: de
acordo com o
PDE, no se pode decidir o que se ganha, mas sim o que se gasta;
logo, no se
pode decidir a diferena entre o que se ganha no caso, a renda e
o que
se gasta no caso, o consumo. O que chamado no quotidiano de
pou-
pana, como vimos, no em absoluto poupana no sentido tcnico:
uma aplicao de capital, ou seja, uma deciso de composio da
carteira de
ativos de um agente, e portanto relativa ao seu estoque de
riqueza, e no a
um eventual fluxo por definio prvio, e j extinto
economicamente
de poupana que tenha efetuado. A poupana to residual e
involuntria
quanto a renda.25
Como corolrio dessa argumentao, cabe ainda questionar um dos
ins-
trumentos de anlise mais elementares e corriqueiros utilizados
em
macroeconomia aberta. Tomando-se novamente a equao (5), que
de-
termina a poupana total, acompanhemos o seguinte procedimento
con-
vencional: redefina-se essa poupana total como poupana privada
(o que
vlido), denotando-a por Sp; e defina-se como poupana do governo
(Sg),
por raciocnio analgico, o termo (T G), e como poupana externa
(Sx)
nesse caso por pura simetria o dficit da balana comercial (M
X).
Tem-se ento, reagrupando os termos:
Sp + Sg + Sx = I. (6)
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28 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
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Note-se que, embora no esteja errada em sentido formal mera
derivao matemtica da equao da poupana, com redefinies , essa
forma de apresentao pode prestar-se, e de fato se presta com
freqncia, a
interpretaes enganosas, quando no claramente incompatveis com
o
PDE. Primeiro, porque desapareceu a relao de determinao,
simbolizada
pela seta, uma vez que se encontram de ambos os lados da equao
compo-
nentes autnomos de gasto: afinal, no por passarem a ser chamados
de
despoupana que o dficit pblico e o supervit externo deixam de
ser
determinados por gastos autnomos. Segundo, porque essa equao
(6)
um convite geralmente aceito pelos economistas das mais variadas
ex-
traes tericas interpretao errnea de que o lado esquerdo, a
pou-
pana total, mediante a contribuio de cada um dos seus
componentes,
financia o lado direito, o investimento. Mais ainda, quase
sempre se argu-
menta como se os esforos (sic) de poupana dos setores privado,
pblico
e externo fossem complementares.
Ora, o erro triplo: primeiro, como vimos, porque a poupana
sempre
involuntria e no pode resultar do esforo de ningum. Segundo,
confor-
me item anterior, porque ela no financia nenhum gasto. Terceiro,
e mais
sutil, porque tais componentes no so complementares entre si,
como pa-
rece sugerir a forma de apresentao: a troca de posio, na equao,
do d-
ficit do governo e do saldo do comrcio exterior no impede que
conti-
nuem, juntamente com o investimento, co-determinando a
poupana
(privada). Assim, por exemplo, em nenhuma hiptese um eventual
nvel
baixo da poupana privada que nada mais que a poupana na
defini-
o usual, adotada por Kalecki poderia ser reforado por um
aumento
quer da poupana do governo, quer da poupana externa. Ao
contrrio:
dado o investimento, tais aumentos teriam necessariamente o
efeito de di-
minuir ainda mais a poupana privada! A causalidade envolvida s
fica clara
retornando-se equao (5), onde se v que a poupana privada
deter-
minada pelo investimento e pelas outras duas despoupanas, no
tendo
possibilidade de apresentar qualquer variao autnoma. Portanto,
na
equao (6), enquanto por um lado a poupana privada no pode se
modi-
ficar independentemente, por outro lado qualquer alterao autnoma
nas
poupanas externa e pblica implicar fatalmente alterao inversa e
da
mesma magnitude na poupana privada, para um dado investimento;
da
-
29Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
mesma forma que uma alterao no investimento ceteris paribus
provocar
efeito direto e de igual magnitude, apenas sobre a poupana
privada e no
sobre os outros dois componentes, que so basicamente26
autnomos.
A concluso rigorosa luz do PDE que, para um dado nvel de
investimen-
to, a poupana privada determinada pelos outros dois componentes
de
poupana, variando inversamente com cada um deles. Em outras
palavras,
a suposta complementaridade entre os componentes de poupana
mera
aparncia enganosa: a poupana privada sempre se reduz pro tanto
frente a
um aumento autnomo das poupanas pblica e externa, tanto
quanto
frente a uma reduo autnoma do investimento.
(iii) Por fim, a poupana no requer nenhuma noo de equilbrio
para
ser definida. No se trata apenas da notria rejeio da
(neo)clssica noo
de que a igualdade poupana-investimento se daria mediante o
ajustamen-
to da taxa de juros a uma posio de equilbrio, como nas teorias
de fundo
de emprstimo ou semelhantes, o que foi feito explicitamente
tanto por
Keynes como por Kalecki. O senso comum macroeconmico considera
es-
sencial para essa rejeio que a poupana no seja funo da taxa de
juros
o que certamente uma condio suficiente, mas mal-formulada. De
acor-
do com os argumentos anteriores, com base no PDE, a poupana no
fun-
o de coisa alguma pela simples razo de que totalmente
determinada
pelo investimento (no caso simplificado; mutatis mutandis, no
caso geral).
Mas a tradio keynesiana convencional em Kalecki existe o mesmo
ra-
ciocnio, ainda que atenuado pela presena explcita da distribuio
de ren-
da acrescenta que ela funo do nvel de renda, como decorrncia
da
funo consumo: se este uma dada funo da renda, no h como
negar
que a poupana, seu complemento em relao renda, tambm o seja.
Tampouco h como negar que em vrias passagens na Teoria geral
Keynes
assumiu claramente essa posio.
Como conciliar a aparente contradio? Reconhecendo que ela
aparen-
te. Por um lado, a contabilidade e o PDE conjuntamente asseguram
que a
poupana seja sempre igual e determinada pelo investimento. Por
outro
lado, assumir alguma funo consumo no implica supor que o
consumo
seja sempre uma proporo desejada da renda ou ainda, que os
consumi-
dores estejam sempre em equilbrio. Isto s poder acontecer, mesmo
as-
sim condicionado a uma tendncia efetiva e no apenas a uma
possibilidade
-
30 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
lgica, decorrido o tempo necessrio para que o consumo e a renda
se
ajustem em nveis tais que a diferena entre eles seja igual ao
investimento
dado (o mesmo vale para o modelo de Kalecki, feita a devida
adaptao para
uma dada distribuio de renda) obviamente o conhecido
mecanismo
multiplicador, presente tanto em Keynes quanto em Kalecki.27
Acontece
que aquele tempo necessrio para o ajustamento indeterminado,
poden-
do situar-se entre zero e infinito; o multiplicador um mecanismo
potencial,
tpico de esttica comparativa, e por isso sem definio temporal
precisa,
uma vez que depende totalmente de como se comportam as
expectativas de
curto prazo (ligadas s decises de produo), alm de supor o
investimen-
to constante durante o ajuste.28
Assim, os consumidores podem permanecer indefinidamente em
dese-
quilbrio em termos de suas decises de consumir como proporo da
ren-
da corrente, mesmo que se assuma a existncia de funes consumo
desse
tipo (o que muito discutvel); ou, em outras palavras, realizando
indefini-
damente nveis involuntrios de poupana, sem que isso acarrete
qualquer
problema nem para a hiptese de que exista uma dada funo consumo
no
nvel individual e, portanto, agregado, nem (muito menos) para a
determi-
nao contbil e causal do PDE, pela qual a poupana permanecer
continua-
mente igual ao investimento. O tempo que o efeito multiplicador
pode
levar para completar-se uma falsa questo, tanto do ponto de
vista lgico
(j que um efeito apenas potencial, e no dinmico) quanto em suas
impli-
caes para a determinao da poupana.29 O que no deveria
surpreender,
se considerarmos que luz do PDE a renda to involuntria quanto a
pou-
pana. Por que ento deveramos estranhar que os consumidores
permane-
am indefinidamente em desequilbrio quanto s propores da renda
que
consomem ou que poupam, se tudo o que podem decidir o
consumo?
**
Resta concluir que todo o peso da teoria recai sobre o
investimento, e ne-
nhum sobre a poupana, de forma totalmente contrria ao senso
comum
dos leigos tanto quanto dos economistas. Simplesmente desaparece
a re-
lao poupana-investimento para qualquer efeito terico ou prtico
re-
levante, em detrimento de toneladas de papel produzidas sobre
ela. O pro-
-
31Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
blema econmico central para a anlise do funcionamento da
economia
capitalista, como Kalecki corretamente identificou, volta-se
para a teoria
dos determinantes do investimento e de seus efeitos. o que ser
abordado
na prxima seo.
4. INVESTIMENTO, DINMICA E INSTABILIDADE
DA ECONOMIA CAPITALISTA
O investimento era, para os fundadores da macroeconomia, a
varivel cen-
tral para explicar o funcionamento da economia capitalista em
seu conjun-
to, pelos seus impactos quer sobre a determinao do nvel de
atividade,
quer sobre a sua dinmica.30 Essa centralidade no deriva
certamente do
peso do investimento no produto de uma economia capitalista, que
muito
inferior ao do consumo; mas de sua muito maior autonomia em
relao ao
nvel de atividade,31 o que o torna uma varivel-chave para a
determinao
endgena no apenas desse mesmo nvel de atividade, como tambm
de
suas variaes, eventualmente de suas flutuaes e mesmo de sua
possvel
instabilidade.
lamentvel que esse tipo de insight terico tenha-se dissipado ao
longo
dos anos, a ponto de que a macroeconomia contempornea no d
qual-
quer destaque anlise do investimento, quase na mesma medida em
que
relega no mximo Histria do Pensamento Econmico a
centralidade
terica da demanda justificada pelo PDE. Isto porque o papel
crucial do in-
vestimento como varivel determinante macroeconmica decorre
exata-
mente da nfase na demanda como determinante do nvel de
atividade: o
efeito multiplicador, no por acaso quase inteiramente abandonado
pelo
ensino e pela anlise macroeconmica atual, apenas a ilustrao mais
di-
dtica e difundida dessa vinculao entre a importncia
macroeconmica
do investimento (comparativamente ao consumo e aos demais
componen-
tes, exgenos, da demanda agregada) e a importncia da demanda
efetiva
como princpio de determinao causal do nvel de atividade
econmica.
Embora Kalecki no tenha chegado a elaborar uma teoria do
investi-
mento to completa e sofisticada como a de Keynes, inclusive pela
abran-
gncia monetria e financeira deste ltimo, teve ao menos o mrito
de for-
mul-la de modo diretamente voltado para os seus efeitos
dinmicos.32 Em
-
32 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
contrapartida, seu maior defeito em comparao com Keynes a
ausncia
de um tratamento explcito das expectativas.33
Por outro lado, fundamental assinalar desde j o que acredito ser
uma
premissa metodolgica central (ainda que em boa medida implcita),
no s
do modelo de investimento de Kalecki, mas de toda a sua teoria
da dinmica
econmica capitalista, a saber: a estrutura econmica estvel
significando
ausncia de mudanas tecnolgicas, das estruturas produtiva e de
mercado,
e da poltica econmica. Como se ver adiante, tal pressuposto
subjacente
ajuda a compreender mais precisamente no s o alcance da teoria,
mas mui-
to do que pode aparecer primeira vista como sendo suas
limitaes.
Em suas sucessivas formas de apresentao, o modelo kaleckiano
dos
determinantes do investimento preserva alguns pontos bsicos em
comum.
Do ponto de vista da estrutura do modelo, o investimento
(particularmente
em capital fixo) funo (i) do nvel de atividade, em geral por
influncia da
acumulao interna de lucros das empresas, que tendem em certa
medida a
reinvesti-los; (ii) das variaes desse nvel, expressas geralmente
em termos
de variaes da taxa de lucro; e (iii) de componentes exgenos,
relacionados
com oportunidades de investimento no derivadas da atividade
corrente,
basicamente ditadas pelo ritmo de inovaes e por outras fontes de
mudan-
a estrutural.
Na verso de 1954, que considero a mais completa, esse modelo
ex-
presso pela seguinte equao (agregada, mas que reflete as decises
indivi-
duais dos empresrios), bastante conhecida dos estudiosos de
Kalecki:34
Ft + = aSt + bPt / t cKt / t + d, (7)
onde F o investimento em capital fixo; () a defasagem mdia entre
as en-comendas e a entrada em operao do novo investimento; S a
poupana
bruta agregada, tomada como proxy da acumulao interna de lucros
das
empresas (lucros retidos para capitalizao); Kt o estoque de
capital ao final
do perodo t; e o termo independente d capta as decises de
investir autno-
mas (que o autor associa a fatores de desenvolvimento,
basicamente ino-
vaes e outros investimentos que independem do nvel corrente de
ativi-
dade).35 Os trs componentes estruturais mencionados acima esto
assim
presentes: o termo aSt exprime a influncia do nvel corrente de
atividade; a
combinao de bPt / t com cKt / t exprime a influncia das
variaes
-
33Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
do nvel de atividade; e o termo d representa o componente
autnomo do in-
vestimento.
Sobre essa bem-conhecida equao, basta registrar brevemente
que:
(i) o primeiro termo procura captar basicamente a influncia
positiva
sobre as decises de investir da capacidade de autofinanciamento
das em-
presas, seja diretamente, seja principalmente por permitir
reduzir o nvel
de endividamento e com isso habilitar-se a novos emprstimos sem
incor-
rer em um risco crescente de insolvncia associado ao
endividamento
crescente;36
(ii) o segundo e o terceiro termos, tomados em conjunto,
representam
uma linearizao aproximada da taxa de variao da taxa de lucros.
Dada a
j referida premissa assumida por Kalecki ao longo de todo o seu
modelo
macroeconmico, de uma estrutura econmica estvel, segue-se que
tais va-
riaes esto traduzindo apenas os fatores conjunturais que afetam
a taxa de
lucros essencialmente o grau de utilizao da capacidade
produtiva. As-
sim, a interpretao mais coerente (sugerida pelo prprio autor)
que o
termo em P exprime ceteris paribus o efeito positivo sobre o
investimentode maior grau de utilizao da capacidade, enquanto o
termo em K ex-prime o efeito negativo de maior capacidade ociosa,
de modo que em con-
junto representam o efeito lquido de variaes no grau de
utilizao;
(iii) o termo independente d, como mencionamos, condensa todos
os
componentes autnomos do investimento, isto , que no so
diretamente
afetados pela atividade econmica corrente e rotineira. Seu
tratamento
exgeno no modelo coerente com a anlise sistemtica de uma
estrutura
econmica estvel adotada pelo autor, com o que os fatores de
mudana es-
trutural devem mesmo ser explicados ad hoc. Abrange
especialmente os in-
vestimentos em inovaes e aqueles de longa maturao, cuja
rentabilidade
esperada no pode resultar da projeo dos resultados
correntes.
Convm nesse ponto fazer uma digresso terica. Em comparao com
a teoria de Keynes, as principais lacunas do modelo de Kalecki
seriam a au-
sncia de tratamento da taxa de juros e da formao de expectativas
de lon-
go prazo. Quanto ao primeiro aspecto, uma discusso prvia do
autor37 jus-
tificou deix-la de lado tanto por seu comportamento estvel a
longo prazo
quanto pela premissa de que a poltica monetria seja tambm estvel
e no
muito restritiva (de maneira tal que a taxa de juros no chegue a
prejudicar
-
34 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
os investimentos).38 Quanto s expectativas, o problema um pouco
mais
complexo. Na verdade, os modelos de investimento e ciclo de
Kalecki tm
sido acusados por diferentes autores, de Schumpeter a
ps-keynesianos, de
conterem pouca historicidade e excesso de mecanicismo, parte do
qual se
deve, ao menos do ponto de vista ps-keynesiano, ausncia de uma
anlise
de expectativas. No caso presente, creio que h um mal-entendido
que pode
ser sanado satisfatoriamente.
Vale retomar aqui a premissa de estrutura econmica estvel do
modelo
de Kalecki e explorar brevemente uma possvel implicao desta para
a an-
lise de expectativas. Em primeiro lugar, preciso admitir que o
autor sim-
plesmente no introduziu expectativas em nenhum de seu modelos;
ao me-
nos, no de forma explcita, o que, a meu ver, mesmo passvel de
srias
crticas. O que quero apontar outro aspecto, que acredito ser
mais relevan-
te: seu modelo inteiramente compatvel com a adoo de uma hiptese
de
expectativas que hoje seriam chamadas de adaptativas de resto,
mais ou
menos implcitas em todos os principais modelos neokeynesianos de
cresci-
mento e ciclo econmico, de Harrod-Domar a Pasinetti, que
assumiram al-
guma verso simples de funo investimento baseada no princpio do
ace-
lerador. Em suas diferentes verses, esse princpio traduz o
essencial desse
conceito de expectativas, ao conter implicitamente projees e/ou
correes
das expectativas em funo de resultados de mercado
recm-observados.39
O modelo de investimento de Kalecki, embora no seja estritamente
do
tipo acelerador, segue essencialmente o mesmo critrio,
particularmente vi-
svel nos componentes da equao que captam a variao observada da
taxa
de lucros como proxy da variao do grau de utilizao da capacidade
pro-
dutiva [item (ii) acima]. Isto porque essa variao pode ser
interpretada
como esperada, mediante uma simples projeo da observada. A
rationale de
se formar expectativas dessa maneira pode ser explicada a partir
de um
insight notvel de Keynes em sua anlise das expectativas de longo
prazo,
particularmente sob incerteza forte ou Knightiana (no redutvel
a
risco), sistematicamente assumida por Keynes.
O raciocnio segue duas etapas: em primeiro lugar, a formao de
expec-
tativas de longo prazo sob incerteza, em condies de relativa
estabilidade das
variveis relevantes, tende a seguir um padro compartilhado pela
maior par-
te do mercado (chamado por Keynes de conveno).40 Em segundo
lugar,
-
35Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
1 + c ta i t
a forma mais simples imaginvel de comportamento convencional na
for-
mao dessas expectativas consiste na projeo, para um perodo
frente, do
comportamento de taxas de crescimento de mercado
recm-observadas
o que Keynes chamou de teoria prtica do futuro41 , coincidindo
tam-
bm, especificamente, com a forma mais simples possvel de
expectativas
adaptativas. Portanto, dada a premissa de estrutura estvel do
modelo de
Kalecki, est justificada a adoo do critrio projetivo em seu
modelo, que
pode ser interpretado como contendo implicitamente expectativas
con-
vencionais, de tipo adaptativo de um perodo. Desse modo Keynes,
para-
doxalmente, pode ajudar a dar fundamentao terica a um tipo de
modelo
que a maioria dos keynesianos puros os ps-keynesianos
considera
teoricamente seu antpoda e primitivo, pela ausncia de
expectativas ex-
plcitas.
Retornando ao modelo de Kalecki, o passo seguinte na direo de
um
modelo dinmico completo adicionar equao (7) do investimento
al-
gum tipo de relao inversa entre nvel de atividade e investimento
isto ,
do investimento para a renda, ao estilo dos modelos
neokeynesianos de
crescimento e ciclo baseados na interao
multiplicador-acelerador. o que
faz Kalecki, cujo modelo de ciclo econmico, apesar de no adotar
estrita-
mente uma funo tipo acelerador para o investimento, pode ser
considera-
do estruturalmente parte dessa mesma famlia de modelos
neokeynesia-
nos. Para tanto retoma o seu prprio multiplicador, que se
desdobra em
duas etapas: o efeito de variaes do investimento sobre os lucros
(dada a
propenso a consumir dos capitalistas), e destes sobre a renda
(dados os
parmetros distributivos setoriais que explicam a participao
agregada dos
salrios e lucros na renda).42 Aps adicionar ao investimento a
variao de
estoques, substituir ambos os efeitos multiplicadores na equao
(7), con-
verter K em investimento em capital fixo e S em investimento, e
remane-jando os termos, Kalecki obtm finalmente a seguinte equao
dinmica
expressa em termos do investimento lquido i (sem reconstituir
aqui essas
passagens formais):
i t + = it + + g , (8)
onde , um parmetro funo direta do multiplicador43 e g funo
-
36 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
a
1 + c
direta do componente autnomo do investimento d e inversa da
deprecia-
o do capital fixo.44
Essa equao a diferenas finitas linear, com termo independente
cons-
tante (embora possa modificar-se a longo prazo), tem como soluo
pos-
svel (ainda que no necessria, dependendo dos valores dos
parmetros)
uma trajetria de flutuaes em torno a uma tendncia definida
exogenamen-
te pelo componente g. Kalecki explora intuitivamente, sem seguir
na for-
malizao, as propriedades dessa trajetria, especialmente
assumindo que os
parmetros, sob valores realistas, permitam a ocorrncia de
flutuaes.
No entanto, muito fcil obter uma soluo formal a partir desse
ponto,
o que permite dar uma interpretao mais precisa do comportamento
da
trajetria em funo dos valores dos parmetros. Sem a inteno de
repro-
duzir aqui todas as conseqncias desse procedimento,45 basta
notar que a
equao (8) pode ser facilmente posta na forma cannica de uma
equao a
diferenas finitas, apenas introduzindo a seguinte condio
adicional:
t = = 1, (9)
que, na verdade, envolve duas condies: (i) tomar o intervalo
mdio de
reao dos empresrios, t, frente ao comportamento do grau de
utilizaoda capacidade, como igual defasagem entre encomenda e
construo dosinvestimentos, na suposio razovel de que os empresrios
tomam o mes-
mo perodo de maturao do investimento tanto como intervalo de
refe-rncia para formar suas expectativas acerca do perodo seguinte
durante o
qual o novo investimento estar operando, quanto como perodo de
investi-
mento, ou seja, como o intervalo normal entre duas decises
consecutivas
de investir; e (ii) tomar este mesmo intervalo de tempo como
unidade de
tempo do modelo em lugar, por exemplo, de um perodo
meramente
contbil, como mais usual.
Alm disso, pode-se convencionalmente definir it = it it 1. Com
isso ea condio (9), aps simples remanejamento dos termos e das
defasagens, a
equao (8) se reduz a:
i t + 2 ( + )it + 1 + it = g . (10)
Esta uma equao a diferenas finitas linear de 2a ordem com
termo
constante (g), cuja soluo homognea ter a forma de flutuaes
que
-
37Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
a
1 + c
Kalecki procurava explicitar se e s se suas razes caractersticas
forem
complexas conjugadas, o que impe aos parmetros da equao a
condio
seguinte:
< 2 .46 (11)
Caso a condio (11) para que se obtenham flutuaes a que
interes-
sava Kalecki seja satisfeita, a soluo completa do modelo, ou sua
trajet-
ria resultante, dada pela soma da soluo homognea com a soluo
parti-
cular, ser:
it = Ar t cos (t + ) + i
, (12)
onde A depende da escala, de e das condies iniciais, uma
constan-
te de fase arbitrria, r = o parmetro de amplitude das
flutuaes,
= , onde T o perodo das flutuaes expresso em nmero de pe-
rodos de investimento, sendo uma funo47 dos parmetros e ;
e i
a soluo particular (tendncia), como dissemos antes uma funo
crescente do componente autnomo d do investimento, e portanto
dos fa-
tores de desenvolvimento.
Alm disso, a ocorrncia de trajetrias explosivas, regulares ou
amorte-
cidas sejam cclicas ou no depende apenas do parmetro ;
respecti-
vamente, que > 1, = 1 e < 1.
O resultado desse modelo de ciclo econmico de Kalecki que
consi-
dero o melhor deste autor48 permite algumas concluses
interessantes,
das quais pretendo a seguir destacar uma de ordem modelstica e
outras
duas, bem mais importantes, de ordem terica.
(i) Mesmo considerando-se que o modelo de Kalecki terico, e
no
aplicado, e portanto deve estar imune a crticas quanto ao grau
de realismo
ou preciso de seus resultados, ele passa no teste de
plausibilidade da trajet-
ria por ele gerada. De fato, tomando-se os prprios dados
utilizados pelo
autor ao longo de todo o seu livro, e aplicando-se os valores
extremos para
cada um dos parmetros envolvidos, obtm-se os seguintes
intervalos mais
provveis para os parmetros bsicos do modelo, e :
a
1 + c
a
1 + c
T
2
-
38 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
a
1 + c0,75 < < 1,12 e 0,6 < < 0,8;
donde resulta respectivamente, para os parmetros de amplitude e
o pero-
do das flutuaes,
0,87 < r < 1,06 e 9,3 < T < 14,5.
Note-se que esses valores so bastante bem-comportados. O
parme-
tro r de amplitude se situa em torno de 1, o que significa, caso
a condio de
ocorrncia de ciclo seja cumprida o que tambm no requer
nenhuma
hiptese herica,49 diversamente da maioria dos modelos de
acelerador ,
que as flutuaes sero bastante prximas de regulares. Quanto ao
perodo
T do ciclo, situa-se em torno de 11 perodos de investimento;
assumindo
que estes estejam situados em mdia um pouco acima de um ano,
tem-se
algo como um perodo decenal (ciclo Juglar, na denominao de
Schumpeter) para as flutuaes, exatamente o que os modelos de
ciclo vi-
nham buscando h dcadas.50
(ii) Uma primeira concluso torica central do modelo de Kalecki,
nem
sempre bem compreendida, que a dinmica por assim dizer
associada
demanda efetiva da economia capitalista isto , abstraindo-se o
pro-
gresso tcnico e as mudanas estruturais caracterizada pela
ocorrncia
de flutuaes. Isto significa basicamente duas coisas: em primeiro
lugar, que
possvel explicar o ciclo econmico apenas com o comportamento
roti-
neiro do nvel de atividade, sem as armas poderosas da mudana
estrutural
e do progresso tcnico, ao contrrio do que fez Schumpeter;51 e,
em segun-
do, que mesmo sob condies de estrutura estvel (o que tambm
pressupe
ausncia de estratgias no-convencionais ou no-rotineiras por
parte dos
agentes inclusive inovaes), ainda assim a economia no tenderia a
um
equilbrio em sentido estrito, e menos ainda a um equilbrio
estacionrio!
Frente insistncia metodolgica da teoria ortodoxa na
essencialidade do
equilbrio, dificilmente se poderia exagerar a importncia desse
resultado.
Pode-se defini-lo como uma propriedade dinmica da economia
capitalista
associada a uma estrutura estvel: a de que esse sistema econmico
dinami-
camente instvel.52 De certo modo, como se, no se tendo
introduzido o
equilbrio pela porta de entrada (como pressuposto metodolgico,
no for-
mato neoclssico), ele no mais retornasse naturalmente em
qualquer outro
ponto da anlise.53
-
39Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
(iii) Uma segunda concluso terica central do modelo de Kalecki54
que
a dinmica da economia capitalista pode ser concebida
essencialmente
como formada por dois componentes teoricamente distintos ou
seja, no
apenas por um recurso expositivo ou analtico: o componente
associado
atuao da demanda efetiva, isto , do comportamento do nvel
corrente
de atividade, capaz de produzir (ainda que no necessariamente
depende
dos parmetros) flutuaes; e o componente de tendncia associado
mu-
dana estrutural, derivado da atuao dos fatores de
desenvolvimento, es-
pecialmente as inovaes em geral e o progresso tcnico em
particular, que
certamente so endgenos economia (ainda que exgenos ao modelo)
e
que produzem trajetrias potencialmente instveis do ponto de
vista estru-
tural, devido mudana estrutural (de parmetros, do ponto de vista
for-
mal) que eles ensejam.55
Claro que a forma particular dessas trajetrias no
predeterminada:
dependendo de parmetros e de hipteses exgenas de mudana
estrutural,
o componente de demanda efetiva pode no apresentar flutuaes,
en-
quanto o de tendncia pode apresentar-se como uma onda longa,
do
tipo Kondratieff ou semelhante. O que importa aqui no a forma
parti-
cular da trajetria gerada, mas o princpio causal distinto de
atuao desses
componentes.
A combinao dos dois componentes produzir, finalmente, uma
traje-
tria dinmica integrada, ainda que as causas especficas no possam
ser es-
tritamente unificadas por um princpio causal nico ou comum.56
Essa
combinao se d na forma de soma dos efeitos apenas sob a
condio
simplificada (assumida inicialmente por Kalecki mas que pode ser
relaxada)
de que a equao dinmica a diferenas seja linear e,
principalmente, que o
termo independente s varie a longo prazo, o que claramente uma
hip-
tese pouco realista. Caso contrrio, relaxadas as simplificaes, o
modelo
passa a envolver uma interao efetiva, mais complexa, entre os
componen-
tes, o que entretanto no introduz problemas conceituais
adicionais.57
Ao interpretar dessa forma a trajetria dinmica resultante, o
destaque
est sendo dado menos para aquilo que foi objeto central de
Kalecki nesse
livro (Teoria da dinmica econmica) e ao longo da sua obra
macroeco-
nmica, a saber, os efeitos dinmicos da demanda efetiva, e mais
para o ca-
rter combinado e eventualmente complexo (envolvendo interaes)
dessa
-
40 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
trajetria, cuja causalidade , como o prprio autor reconheceu,
necessaria-
mente mltipla. Que ele tenha dedicado apenas dois captulos do
livro (14 e
15) ao desenvolvimento, vale dizer, tendncia a longo prazo, e
assim
os tenha tratado analiticamente como exgenos, em nada muda a
conclu-
so, essencial, que a sua teoria do ciclo se incumbiu de revelar
mais clara-
mente que qualquer outra: na ausncia desses fatores de
desenvolvimento, a
economia capitalista no apresentaria tendncia positiva uma das
marcas
histricas mais importantes do capitalismo , e portanto mostraria
uma
trajetria de flutuaes em torno do estado estacionrio!
Dificilmente se en-
contraria maior elogio importncia crucial do progresso tcnico em
um
autor que dele praticamente no tratou, e que no raro foi acusado
de t-lo
negligenciado completamente... Schumpeter no teria feito
melhor.
5. CONCLUSES
Neste ensaio procurei mostrar sucintamente a importncia e, por
isso
mesmo, a atualidade da pouco conhecida contribuio de Kalecki
para
alguns dos temas centrais da teoria macroeconmica: o princpio da
de-
manda efetiva, a relao poupana-investimento e a dinmica
macroeco-
nmica, que estiveram presentes nada menos que na fundao da
discipli-
na, e foram coerentemente objeto da preocupao contnua desse
autor at
o fim de sua vida.
A importncia de sua contribuio deriva da clareza de pensamento e
da
profundidade de anlise, que tornam suas proposies e seus
insights mais
bsicos verdadeiros marcos de referncia para a teoria
macroeconmica;
muito embora a excessiva conciso e alguma curiosa mistura de
teoria com
proposies ad hoc em seus modelos possam s vezes dificultar a
compreen-
so do que essencial.
Quanto atualidade, no preciso muito esforo para perceber que
em
todos esses grandes temas a macroeconomia contempornea, mais do
que
nunca dominada pelo conservadorismo mental (alm do poltico),
pouco
tem a dizer, por t-los abandonado h muito. E, quando diz alguma
coisa
como no caso das banalidades habituais sobre a poupana,
inclusive atri-
buindo a esta um papel descabido como fator de crescimento e
desenvolvi-
mento econmico , no sentido inverso, de retorno a conceitos
pr-Key-
-
41Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
nes e pr-Kalecki. Ou ainda, como no campo da dinmica
macroeconmi-
ca, afastando-se totalmente do primado da demanda, derivado
logicamente
do princpio da demanda efetiva, e centrando-se metodologicamente
no
conceito de equilbrio, abandonado por Kalecki.
O retorno a Kalecki no deve ser, portanto, um simples aceno de
reco-
nhecimento e justia a um grande pensador econmico pouco
difundido e
precocemente esquecido; mas um gesto de sobrevivncia crtica, e
portanto
cientfica, de uma disciplina essencial para a vida social e para
a ao pblica
no capitalismo, mas que se esvai em perda de substncia cientfica
e falta de
rumo ao mesmo tempo em que se infla de saber convencional.
NOTAS
1. Verso preliminar foi apresentada no Seminrio Internacional
Dinmica Econmica
do Capitalismo Contemporneo: uma Homenagem ao Centenrio de
Michal Kalecki,
Instituto de Estudos Avanados/USP, So Paulo, 4.10.1999. Agradeo
os comentrios
de um parecerista annimo da Revista; o disclaimer usual se
aplica.
2. Kalecki (1954), cap. 3.
3. Keynes (1936), cap. 3.
4. Kalecki (1954), ibidem.
5. Essa nfase perfeitamente justificvel, dadas as preocupaes do
autor com o nvel de
emprego, que determinado ex ante; o problemtico s a falta de
clareza resultante,
uma vez que est tratando a de demanda efetiva.
6. Em nenhum momento explicitado pelo autor.
7. Ver, a respeito, Possas (1987), p. 50 ss.
8. Abstraindo o gasto pblico e o saldo da balana comercial, e
sob a hiptese simplifica-
dora de que os trabalhadores no poupam isto , sua propenso a
consumir igual
a 1: Kalecki (1954), ibidem, p. 46.
9. Possas (1987), ibidem.
10. Basta lembrar a respeito as opinies de Marx e de Keynes.
Marx, em particular, mostrou
cabalmente nO capital como uma economia mercantil se transforma
por necessidade
lgica (e no s histrica) em uma economia monetria. Keynes fez
algo semelhante,
com escopo mais limitado e em textos pstumos.
11. Essa economia regida, como propunha Marx, pela forma simples
da circulao de
mercadorias M-D-M, na qual o dinheiro j necessariamente um
intermedirio nas tro-
cas ainda que estas visem, em ltima anlise, ao consumo
(produtivo ou no) das
mercadorias transacionadas, e no, como no capitalismo j
desenvolvido, valorizao
do capital, expresso por Marx na forma capitalista de circulao
D-M-D', onde D' > D.
12. Ver Keynes (1936), cap. 3, p. 24, nota 2.
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42 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
13. Ao contrrio do que supunha Hansen (1953), cap. 1.
14. Instantaneamente se definidos em uma transao isolada, num
espao de tempo con-tbil quando agregados.
15. Embora no seja, ao contrrio do que pretendem alguns autores
marxistas, uma de-monstrao avant la lettre do PDE. Este ltimo
inverte a causalidade da lei de Say, sendoportanto mais que uma
refutao desta. demonstrando no apenas que a lei de Sayest errada,
mas que o seu contrrio verdadeiro, que ele se torna repetindo a
expres-so anterior uma antilei de Say.
16. Ainda que esses possam ou devam no ser considerados
relevantes para a anlise eco-nmica.
17. Tampouco em microeconomia; mas deixemos de lado esse
aspecto.
18. A macroeconomia da oferta agregada ausente analiticamente em
Keynes e comple-tamente em Kalecki veio aumentando de peso desde o
advento da curva de Phillips,que, como se sabe, j havia assumido
preponderncia no debate de poltica macroeco-nmica nos anos 60.
19. Kalecki (1954), cap. 3.
20. Uma das questes mais sutis em teoria econmica, nem sempre
observada com o neces-srio cuidado, a distino entre estoques e
fluxos. Em Economia, diferentemente dasCincias Fsicas, os fluxos no
so comumente definidos como derivadas temporais devariveis de
estoque, mas como resultados instantneos de transaes realizadas
me-didos tanto pelo lado do dispndio (gastos) como da receita
(rendimentos, produtoetc.); todo fluxo, ao contrrio de um estoque,
desaparece no momento em que cria-do. Em nvel agregado, so
definidos como um somatrio dos fluxos individuais ao lon-go de um
perodo contbil discreto arbitrrio no mais instantneo, apenas porque
astransaes geralmente no so sincrnicas. A poupana, como o
investimento, por de-finio um fluxo, e no um estoque, ao contrrio
do crdito. Como todo fluxo, definidano nvel desagregado (das
transaes individuais) de maneira instantnea, e no agrega-do no
mesmo perodo contbil em que se queira definir o investimento que a
determi-na, no caso simplificado (abstraindo saldos do setor
externo e do governo). S o poderde compra, que por definio um
estoque resultante de reservas lquidas ou criado pelocrdito, pode
financiar (no sentido de liberar liquidez para um dispndio) algum
gasto,incluindo o investimento.
21. No nem um pouco bvio que a poupana se converta as aspas
derivam do fato,vale repetir, de que o fluxo de poupana j
desapareceu quando a riqueza a ela corres-pondente aplicada em
ativos financeiros, muito menos vinculados a fundos de
in-vestimento. inteiramente usual manterem-se estoques de riqueza
fora do sistema ban-crio at mesmo em forma lquida, porm mais
freqentemente em bens durveis eimveis.
22. Kalecki (1954), cap. 3, p. 50.
23. Em Kalecki (1935), p. 28-30, encontra-se uma descrio mais
detalhada desse mecanis-
mo de criao simultnea de lucros, poupana e liquidez pelo gasto
em investimento.A conhecida interveno de Keynes (1937a) quanto
distino entre poupana, crdito
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43Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
e a liquidez correspondente o famoso motivo finance para reter
liquidez associada
ao investimento , assim como a impossibilidade lgica de uma
poupana ex ante,
to ou mais esclarecedora que essa.
24. Keynes (1936), cap. 6, p. 64-65.
25. Keynes, ibidem, chega a afirmar, ao concluir o captulo de
maneira idntica famosa
passagem de Kalecki sobre a determinao dos lucros antes
referida, que uma deciso
de consumir ou no consumir est de fato ao alcance do indivduo;
tal como uma deci-
so de investir ou no investir. Mas os montantes de renda e
poupana so incapazes
de ... assumir um valor independente resultante de um conjunto
distinto de decises
tomadas sem relao com as decises quanto ao consumo e ao
investimento. De acordo
com este princpio, a concepo de propenso a consumir substituir,
no que segue, a
propenso ou disposio de poupar (p. 65; itlico no original).
26. Embora possa haver, em perodos subseqentes, algum efeito
crescente sobre as impor-
taes e sobre as receitas pblicas, aumentando assim, em alguma
medida, tambm es-
sas poupanas.
27. Neste ltimo, veja-se ibidem, cap. 5.
28. A respeito, Possas (1987), p. 88-91.
29. Todo um extenso debate prosperou sobre esse tema no campo
ps-keynesiano, a partir
de um artigo clssico de Asimakopoulos (1983). A essncia do
debate, ressalvadas algu-
mas intervenes especficas, est comprometida por esse
mal-entendido a respeito do
que deve significar uma funo consumo da renda (e por implicao
uma funo pou-
pana) e um eventual equilbrio do consumidor no contexto do
PDE.
30. Isto vale no s para Kalecki, mas tambm para Keynes. Que este
ltimo no tenha de-
senvolvido uma teoria dinmica no impede que tivesse uma idia
clara sobre sua im-
portncia e sobre o papel do investimento nela; por exemplo,
Keynes (1936), cap. 22.
31. Assim como, em Keynes, pelo fato de estar apoiado em
expectativas de longo prazo es-
sencialmente volteis devido presena de incerteza.
32. Alm de ter evitado algumas ambigidades de origem neoclssica
presentes em Keynes,
a maioria envolvida no conceito de eficincia marginal do capital
e na hiptese de que
esta decrescente com o nvel de investimento. Embora tudo isso
possa, a meu ver, ser
bem esclarecido teoricamente minha opinio a respeito est
condensada em Possas
(1987), p. 137 ss , as ambigidades e a aparncia (mais que o
contedo) neoclssica
afastaram muito autores no-ortodoxos da posio de Keynes,
especialmente marxistas
e neo-ricardianos.
33. Este talvez seja um problema datado: no era usual naquela
poca explicitar expectati-
vas; em geral se supunha implicitamente que eram de tipo
adaptativo ou corretivo. Hoje
tal procedimento seria considerado inaceitvel. De qualquer modo,
ter explicitado a
questo um mrito inegvel de Keynes, mesmo que se discorde de
pontos especficos
de sua anlise.
34. Kalecki (1954), cap. 9.
35. Kalecki (1954), cap. 15.
-
44 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
36. No se trata, obviamente, de uma regresso pr-keynesiana (e
pr-kaleckiana) a
uma suposta influncia da poupana sobre o investimento; ela
aparece a como proxy dapoupana das empresas (uma certa frao da
poupana privada total), que por sua vezprocura indicar sua
capacidade de reteno de lucros e, portanto, de autofinanciamen-to.
O problema neste termo est mais na especificao inadequada dessa
influncia, quea meu ver deveria ser expressa no em termos de uma
funo linear de uma varivelcontnua, mas de uma restrio, portanto
no-linear. Do contrrio resulta que, estra-nhamente, haveria uma
tendncia ao reinvestimento automtico, mesmo na ausnciade motivos
para investir ligados s condies de mercado ou seja, mesmo que os
de-mais termos fossem nulos.
37. Kalecki (1954), cap. 7.
38. Cabe aqui um breve comentrio sobre a diferena de escopo das
teorias de Keynes e deKalecki. Este ltimo s est desobrigado de
introduzir a taxa de juros em sua anliseporque ela no se pretende
uma discusso terica geral da aplicao de capital, o quecertamente
tambm incluiria ativos financeiros e moeda, e portanto os juros
como re-munerao alternativa ao capital, como em Keynes, e no apenas
como custo financeirodo investimento, como em Kalecki.
39. Ver, a respeito, Possas (1987), p. 117-124.
40. Keynes (1936), cap. 12. Embora o autor tenha formulado esse
conceito referindo-se formao de expectativas em mercados
financeiros, o contexto geral de anlise de ex-pectativas de longo
prazo que caracteriza este captulo como um todo, bem como ocontedo
mesmo do conceito, justifica, a meu ver, estend-lo inteiramente s
expectati-vas de longo prazo em mercados de produtos, e portanto
anlise do investimento pro-dutivo.
41. Keynes (1937b), p. 114-115.
42. Kalecki (1954), cap. 5.
43. A expresso = [1/(1 q)] [b/(1 + c) + e/(1 ')], onde q a
propenso a consumirdos capitalistas, b e c so parmetros da funo
investimento equao (7) , ' aparticipao incremental dos salrios e
ordenados na renda, modificada pela incidnciade impostos sobre os
lucros, e e um parmetro acelerador do investimento em esto-ques em
relao ao produto.
44. A expresso deste termo : g = d ' [1 a/(1 + c)], onde d' = (c
+ d)/(1 + c), sendo a depreciao do capital fixo e d o termo
independente de (7), correspondente aoscomponentes autnomos (de
longo prazo) do investimento. Kalecki faz por hipteseg = 0,
alegando que pretende tratar inicialmente do ciclo puro, sem
tendncia. O pro-cedimento me parece desnecessrio, podendo confundir
o leitor menos versado emequaes diferenciais, ao causar a falsa
impresso de que est se referindo a uma econo-mia que pode flutuar
em torno de um nvel de atividade estacionrio (que ele chama,
nojargo marxista, de reproduo simples), quando na verdade est
simplesmente se re-ferindo ao componente de flutuaes (soluo
homognea da equao diferencial) datrajetria de uma economia
capitalista qualquer, em princpio no-estacionria.
45. Ver Possas (1987), p. 149 ss.
-
45Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
46. Note-se de passagem que essa condio inclui, como condio
necessria (no suficien-
te) ocorrncia de flutuaes, que < 1, explicitada mais de uma
vez de maneira
intuitiva por Kalecki.
47. A expresso = cos1 .
48. O ltimo modelo de ciclo do autor, desenvolvido em Kalecki
(1968), na sua estrutura
formal praticamente no difere do de 1954: as flutuaes continuam
dependendo de
que o investimento seja funo do nvel de atividade e de suas
variaes, e a tendncia
continua dependendo de componentes autnomos da demanda agregada,
notadamen-
te do investimento. Por outro lado, apresenta, a meu ver, um
retrocesso terico ao ten-
tar sem sucesso introduzir efeitos endgenos do progresso tcnico,
obscurecendo o re-
sultado antes claro de que o progresso tcnico, ainda que endgeno
no sentido
econmico, tem relao com a tendncia e no com o ciclo.
49. Basta tomar esses mesmos intervalos de valores de e assumir,
com todos os argumen-
tos do prprio Kalecki, que < 1, e aplic-los na condio de
flutuaes (11) para
constatar que ela se cumpre sem dificuldade. Vale notar tambm,
como fez Kalecki no
cap. 13 do mesmo livro, que, mesmo que os parmetros no
determinassem a ocorrn-
cia endgena de flutuaes ou o fizessem de forma muito amortecida,
a simples presen-
a de choques estocsticos exgenos (ligados a inovaes, fatores
exernos etc.) permiti-
ria mant-las, ainda que de forma mais irregular.
50. Isto porque os ciclos longos, ou de tipo Kondratieff, so
muito mais controvertidos, e dequalquer modo dificilmente se
submeteriam a uma explicao baseada apenas nos efeitosde demanda
efetiva analisados por Kalecki e pelos modelos neokeynesianos, mas
requere-riam a introduo de progresso tcnico e mudanas estruturais,
ao estilo de Schumpeter.
51. Que talvez por isso tenha se insurgido agressivamente contra
os modelos que chamou deperpetuum mobile, referindo-se
implicitamente a Kalecki e possivelmente a Frisch, comose fossem
algo como efeitos sem causa: ver Schumpeter (1942), cap. 4, p. 139.
Aqui hum mal-entendido: a causa do ciclo em Kalecki evidentemente
estrutural, ao estilo dosmodelos fsicos de oscilaes, e no uma causa
eficiente ou ad hoc, como em Schum-peter, para o qual cada ciclo um
ciclo e tem uma causa historicamente determinada.
52. Ver, a respeito, Vercelli (1991), cap. 3.
53. H quem tenha se dado ao trabalho de fazer uma varredura
desse livro de Kalecki, cons-tatando que, sintomaticamente, no
feita em todo o livro uma nica referncia noode equilbrio! A nica
explicao que Kalecki no era um economista...
54. Esta interpretao minha: no claro que o prprio autor tenha
extrado essas conclu-ses, seja porque parecia acreditar que se
tratava menos de identificar propriedades di-nmicas puramente
tericas do que de explicar um fenmeno aparentemente real o dos
ciclos econmicos com tendncia , ainda que poca j parecessem cada
vezmenos observveis empiricamente; seja porque parecia insatisfeito
com sua prpriaconcluso, tanto que voltou questo da integrao
ciclo-tendncia, a meu ver semgrande sucesso, em 1968.
a
1 + c
a
1 + c +
2
a
1 + c
-
46 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez.
1999
55. Para o conceito de instabilidade estrutural, ver Vercelli
(1991), cap. 4.
56. Esse tipo de questo da integrao entre ciclo e tendncia gerou
polmica napoca, da qual o prprio Kalecki participou em boa medida.
A meu ver, e curiosamentemalgrado a opinio do prprio autor, seu
modelo de 1954 j resolvera o problema decerto modo, mostrando que
no havia problema a ser resolvido. De um lado, a necessi-dade de
uma teoria unificada uma quimera sem maior significado, pois afinal
o in-vestimento um s, movido seja pela lgica de acumulao explicada
por Marx, seja emnvel mais analtico pela teoria da aplicao de
capital de Keynes; trata-se apenas de re-conhecer que os motivos
associados ampliao de capacidade produtiva (investimentoinduzido) e
modernizao tecnolgica dos equipamentos (investimento autno-mo)
seguem explicaes causais distintas. De outro lado, o requisito de
integrao ana-ltica ou modelstica pode ser satisfeito sem maiores
dificuldades conceituais, apenascom algum grau de complexidade
tcnica no caso de se relaxarem as hipteses simpli-ficadoras de
linearidade e tendncia constante, e mesmo assim apenas para efeito
de de-senvolver aplicaes do modelo. O prprio Kalecki esboou um
tratamento matem-tico dessa interao no seu cap. 14, bem como no
modelo de 1968.
57. As trajetrias resultantes em condies mais complexas de
interao podem ser obtidas,sob hipteses especficas de comportamento
do componentes autnomos de demandaagregada e dos parmetros, por
meio de simulaes.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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VERCELLI, A. (1991) Methodological Foundations of
Macroeconomics: Keynes and Lucas.Cambridge: Cambridge University
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