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MAS AFINAL, O QUE ERA MESMO O COMUNISMO?*A SIGNIFICAO DA PALAVRA
COMUNISMOATRAVS DOS TEXTOS ANTICOMUNISTAS QUE
CIRCULARAM NO PIAU DA DCADA DE 1960
Marylu Alves de Oliveira**Universidade Federal do Piau UFPI
[email protected]
RESUMO: O objetivo deste artigo analisar as principais
significaes dadas a palavra comunismo aolongo da dcada de 1960
atravs dos textos anticomunistas que foram produzidos e circularam
no estadodo Piau. Permanncias/rupturas a melhor definio para essa
significao, uma vez que algumascaractersticas atribudas ao
comunismo permanecerem durante toda a dcada de 1960, contudo,
percebe-se que, tambm, outros elementos foram se modificando na sua
significao determinada pelos contextose acontecimentos sociais
daquele momento na poltica brasileira e piauiense.
PALAVRAS-CHAVE: Comunismo Anticomunismo Dcada de 1960.
ABSTRACT: The purpose of this article is to analyze the main
meanings given the word communismthroughout the 1960s decade
through anti-communism texts that were produced and circulated in
thestate of Piau. Permanence/ruptures is the best definition for
that meaning, since some characteristicsattributed to communism
remain throughout the 1960s decade, however, realizes that it, too,
otherfactors were changing in its significance determined by social
contexts and events that moment inbrazilian politics and
piauiense.
KEYWORDS: Communism Anti-communism The 1960s decade
O fim da URSS e do campo socialistadeixou um tipo particular de
viva: os queviviam da guerra fria. Na Argentina, no
momento da morte de Pern, umantiperonista radical do Partido
Radical escreveu, desconsolado: Nesse caixo vaimetade da minha
vida. Eu que cresci e vivi
como antiperonista, o que vai ser de mim, de
* Este artigo faz parte da dissertao: OLIVEIRA, Marylu Alves de.
A Cruzada antivermelha:democracia, Deus e Terra contra a fora
comunista. 2008. Dissertao (Mestrado em Histria) Programa de
Ps-Graduao em Histria, Universidade Federal de Piau, Teresina,
2008.
** Mestre em Histria do Brasil pela Universidade Federal do Piau
(UFPI) e professora substituta namesma instituio.
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onde vou tirar o sentido da minha vida? Nodesespero, sentia-se
trado por Pern, que o
abandonava sua prpria sorte. Umcomunista me dizia outro dia que
se
deliciava em ler a sobrevivente literaturaanticomunista, porque
d a impresso que o
mundo est beira do comunismo, que osdias do capitalismo esto
contados. Essafauna encontra vrios exemplares por a,
vivas da guerra fria, que tratam de viverdo anticomunismo:
colunistas de uma
(ainda) bem vendida revista semanal, [...];um articulista de
duvidosa existncia (h
quem diga que pseudnimo de umesquerdista, que criou esse
grotesco
personagem para desmoralizar a direita), umeditor cultural
promovido por um assassino todos personagens jurssicos,
deslocados,
que tm que criar o fantasma do comunismopara aparecerem como
valorosos
salvadores do capitalismo, cobrandopolpudos salrios por esse
papel que se auto-
atribuem.
Emir Sader1
Emir Sader, no texto acima, refletiu sobre um aspecto que, nos
dias atuais,
segundo o prprio autor, apresenta-se deslocado no tempo, que a
utilizao dos
discursos anticomunistas. Emir Sader ironizou essa prtica
apontando para algo
deslocado no tempo, como, se por falta de criatividade ou mesmo
de capacidade de
percepo da realidade atual do mundo, vrios segmentos
jornalsticos utilizassem um
discurso que no possui nenhum significado: o medo da ameaa
comunista. Essa
percepo do autor apontou para um aspecto interessante na
construo de qualquer
trabalho acadmico: a mudana do sentido das palavras, noes,
representaes e
prticas, com o passar do tempo. A ironia de Emir Sader apontou
justamente para essa
falta de sentido dos escritos anticomunistas nos ltimos anos.
Este autor refletiu sobre a
palavra comunismo, a partir do contexto mundial dos dias atuais,
talvez, por essa razo,
apresentou-nos um comunismo que se constri atravs de discursos
anticomunistas ou,
at mesmo, por comunistas incrdulos, uma vez que seu amigo
comunista se deliciava
1 SADER, Emir. A indstria do anticomunismo. Correio do Brasil
Disponvel em:. Acesso em 20 de fev. de 2006.
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em ler a sobrevivente literatura anticomunista, porque d a
impresso que o mundo est
beira do comunismo, que os dias do capitalismo esto
contados.
A partir do contato com as fontes hemerogrficas da dcada de
1960,
percebemos um grande nmero de reportagens relacionadas ao
comunismo. Chamou-
nos ateno a forma insistentemente negativa e pejorativa com que
o comunismo era
abordado e, sobretudo, como alguns cronistas, jornalistas e
editores acreditavam na
possibilidade iminente daquele sistema ser implantado no Brasil,
e, conseqentemente,
no Estado do Piau. Contudo quando analisamos a construo das
representaes
anticomunistas no Piau na dcada de 1960, observamos a evidncia
dessa relao entre
o sentido dado as palavras e a sua ligao com o tempo em que elas
foram proferidas,
ou seja, percebemos a historicidade da palavra comunismo.
Com passar dos anos, as noes de determinadas palavras vo se
modificando.2
Permeadas por aspectos que resistem, mas tambm por fissuras de
significao, as
palavras vo estabelecendo formas de significar o mundo, ao tempo
em que se modifica
o seu sentido, modifica-se tambm as formas dos indivduos se
relacionarem. A palavra
comunismo e a sua significao, na dcada de 1960, foi um desses
termos que
estabeleceu uma forma dos indivduos se relacionarem em
sociedade.
Roger Chartier, ao refletir sobre as representaes nos textos
impressos e as
apropriaes dos franceses desses escritos, no Antigo Regime,
lembra-nos a importncia
do sentido mvel das palavras. Ao tentar compreender como os
homens e mulheres do
sculo XVI e XVIII entendiam a noo de civilidade, o autor admite
que procurou
entrar no corao de uma sociedade antiga, que muitas vezes nos
opaca. Dessa
forma, o trabalho acadmico que pretende compreender como uma
sociedade pensa
sobre determinado fenmeno, como o caso do comunismo, deve levar
em
2 Reinhart Koselleck avaliou a prpria mudana de sentido dado
histria a partir do sculo XVIII emmeio as mudanas sociais naquele
momento: Exemplo paradigmtico dessa dupla direo da relaoentre
linguagem e mundo se encontra no conceito de histria. Se at meados
do sculo XVIII o termohistria [Historie] era usado no plural para
designar as diversas narrativas particulares e descosidasentre si
que a tradio historiogrfica acumulara (a histria da guerra do
Peloponeso, a histria deFlorena, etc), Koselleck sustenta que, a
partir daquela poca, cada vez mais freqente o uso dotermo Histria
[Geschichte] no singular para designar, de modo confluente, tanto a
seqnciaunificada dos eventos que constituem a marcha da humanidade,
como o seu relato (a Histria dacivilizao ou dos progressos do
esprito humano). (JASMIN, Marcelo. Apresentao. In:KOSELLEK,
Reinhart. Futuro passado: Contribuio semntica dos tempos histricos.
Traduode Wilma Patrcia Maas e Carlos Almeida Pereira. Rio de
Janeiro: Contraponto Editora PUC, 2006, p.11.)
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considerao algumas dificuldades para a construo dessa pesquisa,
pois como aponta
Roger Chartier:Por um lado, mesmo privilegiando os textos que
manifestam os usosmais comuns (dicionrios, jornais, memrias,
manuais, tratados etc.),o corpus constitudo dos empregos da noo no
poder jamais serfechado nem necessrio. Por outro, e de maneira mais
grave, todanoo tomada dentro de um campo semntico ao mesmo
tempoextenso, mvel e varivel.3
Essa mobilidade de sentido dada a determinadas palavras, atravs
do tempo,
pde nos fazer compreender que o sentido que hoje atribumos ao
comunismo, como fez
Emir Sader na crnica inicial, muito distinto do sentido dado a
essa palavra na dcada
de 1960. O comunismo hoje j no provoca o mesmo medo, pnico e at
prticas to
expressivas na grande maioria das pessoas, porque, em certo
sentido, apesar de
continuar significando uma possibilidade de regime
econmico-social, a conjuntura
poltica atual no mundo reflete os fracassos das sociedades que
implementaram um
socialismo real.4 No entanto, isso no significa dizer que o
sentido foi completamente
rompido, o prprio Emir Sader aponta para o medo gerado pelo
comunismo como algo
que perdura at os dias atuais, pelo menos nos textos de alguns
jornalistas
anticomunistas.
Jorge Ferreira tambm nos indica como o sentido de determinados
termos pode
ser varivel nos mais diferentes segmentos sociais. O autor
refletiu sobre a noo de
conciliador, na dcada de 1960, segundo este: conciliao, alis,
era o termo mais
ofensivo entre as esquerdas naquele momento.5 Jorge Ferreira
apontou para a mudana
de sentido das palavras determinada pelos grupos sociais que as
utilizavam. Segundo
este autor, a palavra conciliao era entendida pelas esquerdas
brasileiras, durante a
dcada de 1960, como uma espcie de vacilao poltica. interessante
ressaltar que
outras palavras tambm tinham a sua significao alterada
dependendo dos grupos que a
utilizassem, como exemplo podemos citar o comunismo que no tinha
o mesmo
3 CHARTIER, Roger. Leituras e leitores na Frana do Antigo
Regime. Traduo de lvaroLorencini. So Paulo: Editora UNESP, 2004, p.
46.
4 Expresso utilizada por Eric Hobsbawm para definir os pases que
tentaram implantar regimescomunistas no sculo XX. (HOBSBAWM, Eric.
Era dos extremos: o breve sculo XX (1914 1991).Traduo de Marcos
Sabtarrita. So Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 365.)
5 FERREIRA, Jorge. A frente de mobilizao popular: a esquerda
brizolista e a crise poltica de 1964.Clio: Revista de Pesquisa
Histrica, Recife: Editora Universitria da UFPE, n. 22, 2006, p.
108.
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significado para a direita e para a esquerda, e ainda teve seu
sentido alterado por esses
segmentos durante a prpria dcada de 1960.
preciso compreender o que est sendo definido como comunismo na
dcada
de 1960. A noo de comunismo, nos dias atuais, no pode ser
confundida com a
maneira como que essa palavra era compreendida naquele momento
da histria
brasileira e mundial. nesse sentido, que entendemos ser
necessrio uma reflexo sobre
a noo de comunismo, naquele momento, uma vez que, essas noes no
so algo dado
naturalmente, mas o que foi sendo definido como comunismo, deve
ser entendido a
partir da historicizao das representaes feitas poca, encontradas
nas mais variadas
fontes.
Diante do que foi exposto, o objetivo do presente artigo fazer
uma anlise
sobre as percepes anticomunistas do sentido da palavra
comunismo, tendo como
base os discursos que circularam no Estado do Piau na dcada de
1960. Entendemos
que, para se opor a esse regime socioeconmico, os formuladores
das representaes
anticomunistas tinham, em certo sentido, uma necessidade de dar
a sua conceituao.
Para compor este captulo partimos do pressuposto de que toda
palavra tem seu carter
semntico mvel e varivel, e que at mesmo durante a prpria dcada
de 1960 a
significao do comunismo foi sendo modificado, permeado de
continuidades e
rupturas. No entanto, os anticomunistas, ao definirem o
comunismo, tentavam construir
um sentido invarivel e universal, levando o leitor a uma idia de
coerncia. Sendo
indispensvel, segundo nosso ponto de vista, compreender como
essa palavra possuiu
um conjunto complexo de conceitos de valores e sentidos ao longo
da dcada de 1960.
* * *
Mas afinal, o que era mesmo o comunismo? Quando fazemos essa
pergunta,
estamos limitando o nmero de interlocutores que devero
respond-la, pois, na
produo deste texto, a questo direcionada aos anticomunistas.
Poucos, porm, foram
os anticomunistas que leram Karl Marx. Segundo a memria de um
comunista
piauiense, nem mesmo os comunistas tinham leituras aprofundadas
da obra marxiana,
na dcada de 1960:
Veja s, tem muito comunista como eu, naquele tempo, que diz:
comunista, comunista; eu fui ler comunista na priso com 17 anos
emeio, que eu fui preso de menor, t? Eu virei comunista antes
deconhecer, de abrir uma linha sobre Marx, eu estou sendo sincero
com
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voc, no s fui eu no, os outros dizem: eu comecei a ler Marx
comtreze anos; ningum l Marx aos treze anos, rapaz, muito
difcil,voc sabe disso. Ento, a gente era subversivo. Ns ramos
contra oregime militar e contra os americanos, contra a opresso da
camarilhaamericana, os gorilas, []. E as pessoas, os reacionrios,
osadversrios, a chamada direita que nos cognominava de
comunista,ento a gente achou que era melhor deixar pra l, do que ir
explicarque no era comunista.6
Como Marcos Igreja apontou no trecho citado, as suas aes, por
mais que
fossem atos de pura subverso, eram denominados de atos
comunistas. Nesse sentido,
podemos perceber que foram vrias as definies atribudas ao
comunismo.
Permanncias e rupturas seria a melhor maneira de entender a
constituio dessas
definies. Percebemos que, para (re)significar o comunismo, os
anticomunistas
apontavam para elementos fixos, pois estes seriam marcas dessas
representaes,
estabelecendo um ponto de apoio para que o leitor das
representaes anticomunistas
percebesse a coerncia na construo do sentido atribudo ao
comunismo ao longo da
dcada de 1960. No entanto, outros aspectos foram se modificando
com o passar dos
anos e diante das conjunturas polticas e sociais.
Para entendermos como o comunismo foi significado como algo
malfico
nesse sentido uma permanncia negativa foi preservada durante
toda a dcada de 1960
, necessrio perceber como os discursos anticomunistas estavam
permeados pelo medo
do outro. Eram freqentes as transcries nos jornais piauienses de
relatos de
viajantes que tinham visitado pases comunistas e, ao retornar,
narravam as suas
experincias. Geralmente, era o discurso dos pases capitalistas
sobre o comunismo.
Acreditamos que essas reportagens eram muito bem aceitas, pela
freqncia com eram
publicadas, mas tambm, porque tinham uma relao com a construo de
uma
realidade por quem havia visto ou vivido de perto aquele outro
regime econmico,
poltico e social. Essas narrativas pairavam como um relato
fantstico sobre um outro
mundo. Descreviam-se as roupas, a comida, o cotidiano, a educao,
e tudo que pudesse
parecer como diferente do modo de vida dos pases capitalistas.
No entanto, as
descries apontavam para as desvantagens do regime comunista,
como sugere o trecho:A prova disso [a prova de um regime econmico
cheio de restries,nos dizeres do cronista] encontrada por quem
viaja pela Rssia,mesmo sob vivncia dos guias soviticos. Os
visitantes notam que o
6 IGREJA, Marcos de Paiva. Depoimento concedido a Francisco
Alcides do Nascimento e a MaryluAlves de Oliveira em 2005. No
publicado.
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povo usavam roupas grosseiras, sapatos mal feitos, no
seencontrando uma s mulher que se vista bem, pois os trajes
soestandardizados, fabricados em massa, nas oficinas do
Estado.7
As reportagens, de uma forma geral, enfatizavam que os viajantes
que foram
pases comunistas, apesar de serem conduzidos naquela realidade
pelos prprios
nativos, sempre percebiam algo alm do que aqueles indivduos
tentavam mostrar,
como apontou o trecho anterior. Os viajantes, em quase todos os
relatos, colocavam-se
como missionrios que deveriam narrar aos outros pases o que
viram, e o que foram
obrigados a ver. Em 1963, o senador piauiense Sigefredo Pachco
foi conhecer a Unio
Sovitica, ao chegar ao aeroporto de Teresina foi recebido de
imediato por uma equipe
de jornalistas que esperavam ouvir os relatos da viagem. Apesar
de ser muito
interessante a narrativa do senador, o que mais nos chamou a
ateno nessa entrevista,
foi a sua finalizao. O reprter argumenta que o senador teria
muito mais a dizer sobre
a sua viagem, contudo, alm do barulho dos avies, havia
interrupes constantes de
alguns, querendo, inclusive ver de perto como volta sua terra um
cidado que
recentemente visitou a Unio Sovitica, bero do comunismo ateu.
Ainda, segundo o
reprter, o senador tinha voltado pesando mais 2 quilos e bem
disposto.8 Os relatos
sobre a distante e extica Unio Sovitica eram, para alguns, um
verdadeiro encontro
com outro mundo.
Esse olhar do estrangeiro apresentado como algo que deve ser
levado em
considerao, e que dever ser lido com seriedade, j que o narrador
teve a possibilidade
de experimentar as duas realidades, tanto a capitalista, quanto
a comunista. Nesse
sentido, para entender a significao do comunismo, interessante
ressaltar que boa
parte do que foi dito sobre comunismo, com a inteno de dar um
sentido a essa palavra,
foi pronunciado a partir do olhar do estrangeiro, do forasteiro,
do outro, como ocorreu
com os relatos dos viajantes.
Dentre os aspectos que permaneceram na (re)significao do
comunismo
durante a dcada de 1960, podemos perceber a necessidade dos
anticomunistas em
manifestar que as suas crticas ao comunismo tinham como base os
valores centrais
formulados por Karl Marx. A maior parte dos anticomunistas
piauienses acreditavam
7 CALDO entornado. O Dominical, Teresina, n. 24/60, p. 04, 12
jun. de 1960.8 SIGEFREDO PACHCO fala sobre a Unio Sovitica. O Dia,
Teresina, n. 1.143, p. 01, 21 nov.
1963.
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que as suas crticas eram direcionadas queles valores puros da
obra marxiana, como
aponta o trecho a seguir: que o comunismo um credo materialista,
j afirmava o
catecismo legado por Marx e Engels.9 As crticas ao comunismo
apontam para a obra
marxiana como parte fundamental na interpretao dos valores
contrrios a uma
sociedade crist e livre. Nesse sentido, a obra daquele autor
promovia a sustentao dos
pilares das acusaes desenvolvidas pelos anticomunistas, como
sugere o trecho a
seguir:Podemos definir o comunismo como uma seita internacional
quesegue a doutrina de Karl Marx e trabalha para destruir a
sociedadehumana baseada na lei de Deus e do Evangelho, bem como
parainstaurar o reino de Satans neste mundo, implantando um
Estadompio e revolucionrio, e organizando a vida dos homens de
sorte queesqueam de Deus e da eternidade.10
Por traar metas de acordo com as possibilidades polticas, e
tendo a
objetividade como marca significativa na elaborao dos programas
destinados a cada
pas, segundo a viso dos anticomunistas, o comunismo tambm foi
visto, nesse
momento, como oportunista:Mas o comunismo assim uma ideologia de
dialtica materialista,oportunista e consignada numa mquina poltica
destinada a exploraro proletariado mundial, servindo-se dele para
propagar-se, vencer esubmeter os povos aos postulados do
materialismo histrico.11
A idia de oportunismo relacionada ao comunismo, como uma ttica
para se
ampliar pelo mundo, corriqueira, ou seja, o comunismo traava
planos de ao para
cada pas, de acordo com a situao poltica, com o objetivo
oportunista de conquistar
cada nao e, conseqentemente, o mundo: A moral marxista
oportunista,
acompanha e varia as conformidades com os interesses e as
rodadas da ideologia
materialista, cuja proposta universalizar-se, reformar ou
revirar a civilizao
humana.12
O comunismo, na significao anticomunista, tinha como um dos
seus
princpios a universalizao da doutrina marxista, sendo necessrio
para alcanar seus
9 MENDES, Simplcio de Sousa. pio do povo. Folha da Manh,
Teresina, n. 960, p. 04, 26 abr.1961.
10 ANTUNES, J. C. O dogmatismo dos marxistas. Jornal do Comrcio,
Teresina, n. 3.050, p. 02, 23jan. 1963.
11 MENDES, Simplcio de Sousa. As ditaduras marxistas. Folha da
Manh, Teresina, n. 665, p. 04, 12mar. 1960.
12 Ibid.
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9
objetivos traar tticas de propagao eficientes, e, para isso, a
melhor ttica utilizada,
segundo os anticomunistas, era a violncia: [...] o nico recurso
a violncia, que os
partidrios de Moscou espalharam tambm pelas nossas cidades.13 O
comunismo era
entendido como um sistema baseado na violncia do homem contra o
homem: um
regime de fuzilamentos, de violncia, onde o direito o direito da
fora, o direito [...]
no qual desaparece toda a base tica.14 Era a violncia a grande
arma comunista, pois
enquanto o cristianismo se universalizou atravs da simples
pregao da verdade,
sendo alvo dela e no praticando a violncia, o comunismo, at
hoje, no dominou
nenhuma Nao ou atingiu o poder pelos meios legais, mas sempre
atravs da traio e
do derramamento de sangue.15
Como um regime implantado por imposio aos povos, determinado
pela
violncia, o comunismo no poderia ser significado de outra forma,
durante a dcada de
1960, se no como um regime ditatorial, sendo o caso de Cuba
exposto como
emblemtico: Em recanto da Amrica, numa ilha do Mar das Carabas,
terra de vivo
amor liberdade, foi instalada pela Rssia um Consulado de Moscou
[...]. So
constantes as agresses da Ditadura vermelha de Havana contra a
ordem e a paz do
hemisfrio.16 Significado como ditadura, o comunismo, para se
manter, alm da
violncia, dependia tambm da mentira e da iluso: Para dominar,
ele se alicera na
desfaatez, no embuste, na mentira.17
Outro aspecto que permeia toda a significao do comunismo, para
os
anticomunistas, a sua negao a valores tradicionais, dentre
esses, a famlia seria a
mais prejudicada, pois o objetivo da Repblica Comunista, tal
qual a de Fidel Castro
em Cuba, , primeiramente, destruir por completo a famlia
crist.18
O comunismo, durante toda a dcada de 1960, tambm foi significado
como
seita, credo, regime ateu, nesse sentido, existe uma reportagem
bastante emblemtica,
intitulada Krutschev e Deus, onde o cronista questiona a
veracidade de uma frase dita
13 A RSSIA quer defender-se do vrus da liberdade. O Dia,
Teresina, n. 2.430, p.03, 29 maio 1968.14 MENDES, Simplcio de
Sousa. Quem cultiva colhe. Folha da Manh, Teresina, n. 1.209, p.06,
21
mar. 1962.15 COMUNISMO se ope literalmente ao cristianismo:
doutrina e mtodos. O Dia, Teresina, n. 1.144,
p.03, 25 nov. 1963.16 AFRONTA a civilizao. O Dominical,
Teresina, n. 40/61, p.03, 08 maio 1961.17 A FRAQUEZA do comunismo.
O Dominical, Teresina, n. 19/61, p.01, 14 maio 1961.18 MENDES,
Simplcio de Sousa. Famlia Crist. Folha da Manh, n. 1.226, p. 04, 11
abr. 1962.
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10
pelo Primeiro Ministro da Unio Sovitica: Deus est de nosso lado.
blasonou
Krutschev durante sua famosa visita aos Estados Unidos. Mas se
Deus no existe, como
afirma Kruteschev, como pode Ele estar do lado dos
comunistas?.19 Esse trecho
interessante para demarcar bem a significao do que era o
comunismo: regime ateu.
No cabendo aos representantes do comunismo utilizarem Deus nem
mesmo como um
discurso ostentatrio.
No obstante propagasse o atesmo comunista, alguns
anticomunistas
entendiam o comunismo como uma seita, que tinha como principal
profeta, Marx, e
como primeiro discpulo e propagador, Lnin.20 Essa tentativa de
significar o
comunismo como uma espcie de religio, deve-se muito ao fato de
alguns
anticomunistas acreditarem que o atesmo comunista tomaria o
lugar das religies
tradicionais, sendo pregado, inclusive, nas escolas. Os
anticomunistas tentavam
demonstrar que nada se colhe na seita comunista, sem quem tenha
sido adubado com
o sangue das vtimas das execues.21
Com relao aos aspectos que se modificaram na (re)significao
do
comunismo, para os anticomunistas, podemos iniciar pela definio
atribuda a esse
regime em conseqncia das eleies presidenciais do ano de 1960.
Dois candidatos
tiveram grande apoio no Estado do Piau: Jnio Quadros, que foi o
vencedor das
eleies, e o Marechal Henrique Teixeira Lott. O segundo candidato
denominava-se
nacionalista e contou com o apoio do Partido Comunista do Brasil
(PCB). Muito
criticado e acusado de ser um traidor da Ptria, por estar
recebendo o apoio dos
comunistas, o Marechal Lott tentou explicar, durante toda a
campanha presidencial, que
lutava por ideais nacionalistas e no comunistas. No Piau, a
campanha presidencial se
deu de uma forma inusitada, as propagandas foram elaboradas de
uma forma mais
intensa contra a candidatura do nacionalista Marechal Lott, do
que a favor do preferido,
Jnio Quadros. Nesse sentido, no ano de 1960, a definio do que
vinha a ser comunista
estava muito relacionado aos ideais nacionalistas, como aponta o
trecho abaixo:So os comunistas e os pseudonacionalistas intoxicados
deideologias totalitrias desvirtuadores das instituies livres
19 KRUTSCHEV e Deus. O Dominical, Teresina, n. 14/61, p. 01, 02
abr. 1961.20 MENDES, Simplcio de Sousa. Terror comunista. O Dia,
Teresina, n. 1214, p. 03, 11 abr. 1964.21 Ibid.
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11
sabotadores dos regimes, encobertos por vrias formas e por
vriosmodos de ao e de traidores da Repblica.22
Comunismo e nacionalismo, naquele momento, apontam para uma
proximidade, que gerou at um termo recorrente nos jornais
locais: nacionalismo
vermelho.23 Essa perspectiva , muitas vezes, apontada como ttica
sovitica j que
este pas era a maior referncia comunista, pois acreditava-se que
o nacionalismo um
velho chavo da URSS, dele se aproveitando para fazer presso
poltica nas naes
pequenas e subdesenvolvidas, cumprindo assim sua ideologia de
escravizar o mundo.24
Na poltica nacional, naquele momento, havia certa confuso entre
a cor
comunista e as cores nacionais, principalmente por causa do
apoio do famoso ex-
integralista,25 Plnio Salgado, candidatura do Marechal Lott. A
poltica de apoios,
tanto dos vermelhos como de alguns ex-camisas verdes, foi
registrada nas pginas dos
jornais locais como uma mistura de cores que podiam corresponder
confusa postura
adotada pelo ento candidato nacionalista, Marechal Lott:
Designando-se as correntes poltico-sociais pelas cores, teremos
overmelho na extrema esquerda, o comunismo, o verde na
extremadireita, o integralismo, e o branco, expressando a paz e a
ordem sociallivre, com a democracia e poltica social da Igreja
Catlica.Mas o Marechal Lott, candidato Presidncia da
Repblicainfelizmente daltnico: no distingue as cores, baralhando
todasnos seus cartazes de pleiteante alta magistratura do
Pas.Confunde o vermelho, o verde e o branco nas suas perspectivas
dehomem pblico.Para a preponderncia militar do ilustre candidato
tanto o vermelho,como o verde e o branco, podem ser a mesma colorao
poltica, emtorno de sua centralizadora de catlico democrata e de
totalitrio materialista comunista ou neo-fascista ao mesmo
tempo.26
No Piau, a associao entre nacionalismo e comunismo no foi
diferente das
anlises dos anticomunistas sobre a conjuntura nacional. Aqui a
situao era
considerada muito mais grave, segundo a viso dos anticomunistas
piauienses, uma vez
que, no plano nacional, eles ainda estavam a pleitear cargos,
enquanto no Piau esses
22 MENDES, Simplcio de Sousa. Pseudonacionalismo. Folha da Manh,
Teresina, n. 663, p. 04, 10mar. 1960.
23 NACIONALISMO vermelho. Folha da Manh, Teresina, n. 664, p.02,
11 mar. 1960.24 WALTER, Jos. Marxistas latentes. O Dia, n. 809, p.
01, 22 set. 1960.25 Cf. TRINDADE, Hlio. Integralismo O fascismo
brasileiro na dcada de 30. So Paulo: Difel,
1974.26 MENDES, Simplcio de Sousa. Marechal e as cores. Folha
Manh, Teresina, n. 816, p. 04, 02 out.
1960.
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nacionalistas j se encontravam na prpria sede do governo do
Estado: Teresina
conta com um nmero crescido de comunistas, at o momento
rotulados de
nacionalistas e trabalhistas, sendo que 99,5% so funcionrios do
Palcio do
Governo, ou tm, l, cadeira cativa para as merendas gostosa e
altas deliberaes.27
Esta associao, entre comunistas e nacionalistas, vai ser feita
por diversas
vezes, durante os primeiros anos da dcada de 1960. Contudo,
tomou maiores
propores, nas pginas do jornal O Dia, durante a vinda da filha
do Marechal Lott ao
Piau. O Dia publicou duas matrias de capa, fazendo referncia ao
comcio organizado
para a campanha do Marechal, feito por sua filha, Edna Lott. A
matria j se inicia da
seguinte forma:Atuando em faixa nacional-marxista, chegou,
enfim, at ns, depoisde espera opressiva e ao longo da peregrinao,
nem sempre tranqila,pela Seca e pela Meca da poltica ptria, a Sr.
Edna Lott, queconseguiu realizar aquilo que se viu, h algumas
noites na Praa PedroII.28
Quando descreve a atuao de Edna Lott na campanha do seu pai,
pelo
Nordeste, o jornalista refere-se a uma atuao nacional-marxista,
tentativa de
relacionar a imagem do Marechal Lott, que se intitulava
nacionalista, s atuaes
marxistas. E justamente nesta tentativa de unir o verde
nacionalista ao vermelho
comunista que o jornalista vai chamar essa colorao de
melancia:Acentuadas coloraes cercam, desde a chegada, a filha do
Marechalcandidato. Verdes, em certos pontos, essa colorao no
tardavam emcongestionar-se no rubor inconfundvel que se coloriza a
chamadarevoluo proletria, conseguindo atingir, assim, o amalgama
famosoque denominara-se de colorao melancia, verde por fora
evermelho por dentro.29
Ainda no final do ano de 1960 e estendendo-se at o ano de 1964,
o
comunismo encontra outra definio, dessa vez ligada idia do fim
da propriedade
privada, principalmente a propriedade rural. Essa significao do
comunismo estava
diretamente ligada propagao das Ligas Camponesas e s organizaes
sindicais do
campo no Brasil e, em especial, no Piau, ocorridas nos anos de
1961, 1962 e 1963.
27 A BONDADE vermelha. Jornal do Piau, Teresina, n. 991, p. 04,
18 jan. 1962.28 MAURICIUS, Petrus. O vermelho e o Verde. O Dia,
Teresina, n. 791, p. 01, 21 jul. 1960.29 Ibid.
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Mas, tambm, a proposta de Reforma de Base30 lanada no governo
Joo Goulart, que
teve grande propagao entre os anos de 1963 e 1964. Assim, vrias
discusses foram
registradas nos jornais locais, inclusive, com acusaes de
infiltrao dos comunistas no
campo, influenciando a prpria denominao do trabalhador
rural:
Campons ou campnio frmula vernculo, mas pouco usada naliteratura
nacional e na linguagem vulgar.[...] Sertanejo a mais comum
designao do homem rstico,lavrador, habitante do serto o ruralista,
roceiro, criador, proprietrioou vaqueiro.[...] Mas campons est
ligado revoluo de Lenin e Trotsky, edesde ento adquiriu marca de
insurreio.31
Camponeses: At o termo no se usa aqui russo sovitico,
comunista.32
A grande maioria dos anticomunistas recusava-se a chamar os
trabalhadores
rurais de camponeses, vendo nesta palavra uma adeso aos ideais
comunistas.
Acreditavam que os homens do campo deveriam continuar utilizando
as denominaes
que j lhe havia atribudo a literatura brasileira, como: roceiro,
sertanejo, agricultor,
entre outras. Mas essa s uma forma de demonstrar a infiltrao
comunista no campo,
segundo alguns anticomunistas, o maior prejuzo que era trazido
por essa penetrao
estava na propagao de ideais comunizantes, por esse motivo,
existia um grande temor
de que os trabalhadores do campo se auto-denominassem
camponeses, demonstrando,
assim, a intensidade da propaganda comunista no ambiente
rural.
Mesmo a obra marxiana apontando para uma preocupao com os
trabalhadores das cidades e das indstrias, boa parte dos
anticomunistas piauienses
acreditavam que a revoluo comunista brasileira e piauiense
partiria do campo. Nesse
sentido, quando era mencionado o fim da propriedade privada, no
Piau, isto era quase
que exclusivamente compreendido como fim das propriedades
rurais. Desta forma,
qualquer proposta de pensar a situao do homem do campo, naquele
momento, era
30 Tratava-se de um conjunto de medidas que visava alterar as
estruturas econmicas, sociais e polticasdo pas, permitindo o
desenvolvimento econmico autnomo e o estabelecimento da justia
social.Entre as principais reformas, contavam a bancria, fiscal,
administrativa, urbana, agrria euniversitria, alm da extenso do
voto aos analfabetos e oficiais no-graduados das Foras Armadase a
legalizao do PCB. FERREIRA, Jorge. A frente de mobilizao popular: a
esquerda brizolista ea crise poltica de 1964. Clio: Revista de
Pesquisa Histrica, Recife: Editora Universitria da UFPE,n. 22,
2006, p. 105.
31 MENDES, Simplcio de Sousa. Ligas Camponesas. Folha da Manh,
Teresina, n. 782, p. 04, 17 ago.1960.
32 Id. Atividades comunistas no Brasil III. Folha da Manh,
Teresina, n. 785, p. 04, 20 ago. 1960.
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sinnimo de comunismo. Um exemplo interessante sobre essa relao,
deu-se a partir da
instalao da SUPRA (Superintendncia da Reforma Agrria) no Piau,
os prprios
jornais da poca ironizavam essa relao entre a SUPRA e o
comunismo com notas
cmicas:
NADA COM A SUPRAO tabelio acabava de ler a escritura e convidou
os presentes aassinarem-na. Foi quando um deles desconfiado pediu:
Quer repetir as duas palavras finais do aditivo, por favor?E o
tabelio: Pois, no. Data SUPRA. Faa outra que esta eu no assino. Com
SUPRA pelo meio eu noassino nem pelo diabo.33
A terra deveria ser um bem comum, pregavam os comunistas, no
entanto, para
determinados segmentos anticomunistas, esse era o chavo
comunista para implantar o
seu regime nos mais variados pases, como sugere o trecho a
seguir: A terra para os
camponeses. Este slogan ajudou todos os regimes comunistas a
conquistarem o poder.
Todos eles em determinado momento decretaram a reforma agrria e
depois... Depois,
confiscaram as terras distribudas.34 [Destaque do autor]. Era
dessa forma que a
Reforma Agrria era entendida, como slogan para a consolidao de
um regime
comunista: Reforma Agrria o slogan nmero um dessa revoluo
comunista. o
primeiro degrau da escada comunizante: Terra, po e
liberdade.35
Logo aps o golpe civil-militar de 1964, e depois de uma
perseguio aos
comunistas brasileiros, em nome de ideais democratizantes e
cristos, a significao do
comunismo vai ser permeada por duas aes, primeiramente pelas
organizaes de
esquerda, com a ao da luta armada e, em segundo, pela resistncia
e denncias contra
o regime militar organizado por parcela da Igreja Catlica.
Acreditamos que existiam
essas duas formas, que podemos afirmar como visveis, na qual
houve uma
caracterizao ou significao do comunismo, no perodo compreendido
entre 1965 e
1969. Se por um lado, o crescimento das organizaes de esquerda
dava um carter de
terrorismo ao comunismo, por outro lado, e de forma decisiva,
aps o Conclio Vaticano
33 PELO CANO nada com a SUPRA. O Dia, Teresina, n. 1250, p. 04,
28 maio. 1964.34 LEITE, Cristina. Uma Lio para o Brasil. O Dia,
Teresina, n. 1.222, p. 03, 23 abr. 1964.35 MENDES, Simplcio de
Sousa. Socialismo e Reforma Agrria. Folha da Manh, Teresina, n.
869, p.
04, 20 dez. 1960.
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II,36 a posio assumida por alguns membros da Igreja, deu a tnica
para a relao entre
a ao social de determinados grupos da Igreja Catlica e o
comunismo.37
Vrias foram as reportagens publicadas no Piau, no perodo
compreendido
entre meados dos anos de 1967 a 1969, que significavam o
comunismo como
terrorismo.Perigosa quadrilha terrorista de orientao chinesa,
composta de friose sanguinrios marginais e responsvel por inmeros
assaltos abancos, as casas de dinamites e a quartis militares e
pelo assassinatode diversas pessoas, est sendo desmantelada no
centro-sul do pas.[...]A vanguarda Popular Revolucionria era uma
organizaosubversiva, constituda por marginais de toda a espcie,
inclusiveprostitutas, sendo todas de alta periculosidade, porque
calculistas esanguinrios.38
A idia de significar o comunismo como um regime violento, ganha
mais fora
nesse momento. Existe uma tentativa de apontar qualquer ao no
identificada pela
polcia como fruto do comunismo, que passa a ser visto como
terrorismo. Exemplo
claro pode ser observado no ano de 1969, quando uma bomba foi
colocada na
Faculdade de Filosofia do Piau: A bomba que explodiu na
Faculdade Catlica de
Filosofia, ontem noite, faz parte de um plano nacional de
terrorismo eis a concluso
a que teriam chegado as autoridades e observadores em geral.39
As aes dos
comunistas eram noticiadas com estardalhao, sempre em letras
garrafais e eram, em
sua grande maioria, seguindo a seguinte tnica: COMUNISTAS
BOMBARDEIAM
PRDIOS.40 E os jornais incentivam esse pnico, publicando formas
de como os
indivduos deveriam agir em caso de contato com os supostos
Comunista-terroristas.
36 O Conclio Vaticano II foi um conclio ecumnico da Igreja
Catlica, conclamado pelo papa JooXXIII, que teve inicio no dia 11
de outubro de 1962, e foi encerrado pelo papa Paulo VI em 08
dedezembro de 1965. Segundo os documentos do conclio, o seu
objetivo era: O sagrado Conclioprope-se fomentar a vida crist entre
os fiis, adaptar melhor s necessidades do nosso tempo asinstituies
susceptveis de mudana, promover tudo o que pode ajudar unio de
todos os crentes emCristo, e fortalecer o que pode contribuir para
chamar a todos ao seio da Igreja. Julga, por isso, devertambm se
interessar de modo particular pela reforma e incremento da
Liturgia. SACROSANCTUMConcilium. Documentos do Conclio Vaticano II.
Disponvel em:. Acesso em: 17/09/2007.
37 Cf. LWY, Michael. Marxismo e Teologia da Libertao. Traduo de
Miriam Veras Baptista. SoPaulo: Cortez, 1991.
38 DESBARATADA perigosa quadrilha terrorista. O Dia, Teresina,
n. 2.686, p. 08, 26 mar. 1969.39 EXPLODIU bomba na FAFI. O Dia,
Teresina, n. 2.681, p. 08, 20 mar. 1969.40 COMUNISTAS bombardeiam
prdios. O Dia, Teresina, n. 2170, p. 08, 13 jul. 1967.
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DECLOGO DA SEGURANA1 Os terroristas jogam com o medo e o pnico.
Somente um povoprevenido e valente poder combat-lo. Ao ver um
assalto ou algumem atitude suspeita, no fique indiferente, no finja
que no viu, noseja conivente. Avise logo a polcia ou quartel mais
prximo. Asautoridades lhe do toda a garantia inclusive do
anonimato.2 Antes de formar uma opinio, verifique se ela realmente
sua, ouse no passa de influncia de amigo que o envolveu. No
estarsendo voc uma inocente til numa guerra que visa destruir
voc,sua famlia e tudo o que mais ama nessa vida?[]4 Se for
convidado ou sondado, ou conversado sob assuntos que lhepaream
estranhos ou suspeitos, finja que concorda e cultive relaescom a
pessoa que assim o sondou e avise a polcia ou o quartel maisprximo.
As autoridades lhe do toda garantia inclusive o anonimato.[]6 No
receba estranhos em sua casa mesmo que sejam da polcia sem antes
pedir-lhes a identidade e observ-los e guard-los namemria alguns
detalhes, nmero da identidade, repartio queexpediu, roupa, aspecto
pessoal, sinais especiais e etc. O documentotambm pode ser falso.7
Nunca pare seu carro solicitado por estranhos e nem lhes dcarona.
Ande sempre com as portas de seu carro trancadas pordentro. Quando
deixar o seu carro em algum estacionamento de postode servio,
procure guardar alguns detalhes das pessoas que oscercaram.8 H
muitas linhas telefnicas cruzadas. Sempre que encontrar umadelas
mantenha-se na escuta e informe logo a polcia ou o quartelmais
prximo. As autoridades lhe do toda garantia inclusive oanonimato.9
Quando um novo morador se mudar para o seu edifcio ou para oseu
quarteiro, avise logo polcia ou o quartel mais prximo.
Asautoridades lhe do toda garantia inclusive o anonimato.10 A nossa
desunio ser a maior fora do nosso inimigo. Sesoubermos nos manter
compreensivos, cordiais, informadosconfiantes e unidos ningum nos
vencer.41
O terrorismo comunista estava em todos os lugares. Das
faculdades s igrejas.
, nesse sentido, que vamos fazer um ponto de ligao entre o
comunismo, significado
como terrorismo, e a ao de alguns padres catlicos. No ano de
1969, foi noticiado
com grande sensao nas pginas dos jornais locais o envolvimento
de padres com
grupos comunistas que promoviam aes armadas. A matria Metralhado
e morto
Carlos Marighela,42 foi capa de um dos principais jornais da
cidade de Teresina.
41 DECLOGO de Segurana. Jornal do Piau, Teresina, n. 3.153, p.
02, 19 dez. 1969.42 Carlos Marighela foi importante membro do
Partido Comunista no Brasil (PCB). Em novembro de
1969 foi morto em So Paulo pelos agentes do DOPS. Para saber
mais sobre Carlos Marighela ver:NVOA, Cristiane, NVOA, Jorge.
Carlos Marighela: o homem por trs do mito. So Paulo:Editora UNESP,
1999. 560 p.
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Fotografia 04. Manchete do jornal O Dia sobre a morte de Carlos
Marighela.Fonte: METRALHADO e morto Carlos Marighela. O Dia.
Teresina, 06 nov. 1969, n.2.848, p.01.
A reportagem apontava que Marighela tinha sido morto no momento
em que
tentava se encontrar com sacerdotes para elaborao de um plano
subversivo.43 A
crescente oposio ao regime militar no Brasil promoveu uma
radicalizao, entre os
anos de 1967 e 1968, da postura de alguns membros de ordens
religiosas, como os
dominicanos, que passaram a apoiar a resistncia armada,
fornecendo esconderijos aos
militantes e ajudando, inclusive, a sua sada do pas. Essa tomada
de posio frente
situao poltica brasileira fez com muitos religiosos fossem
tachados de comunistas.
Nesse momento, a Igreja Catlica, para os anticomunistas, estava
se cobrindo com o
manto vermelho do comunismo.A POSIO extremada que assumem alguns
bispos, padres e fradesdiante da questo poltica e social do Brasil,
constitui, sem dvida, oproblema mais grave de nossa atualidade e a
ameaa mais sria pazpoltica que a Revoluo de 31 de maro pensou
instituir.NO possvel fugir s conseqncias que eventualmente poder
teressa participao crescente de membros do clero, tanto
nacionaiscomo estrangeiros, no trabalho da seduo psicolgica das
massas,principalmente de jovens estudantes e operrios, para a
cruzada deestabelecer no Brasil um regime poltico, social e
econmico diferentedaquele que possumos.J AGORA pela palavra de dois
prestigiosos Arcebispos, os srs. DomHlder Cmara e Dom Jos Tvora,
sabemos que a meta a instalaoaqui de um regime semelhante ao da
Iugoslvia e Checoslovquia.44[Destaques do autor]
No Piau, Dom Avelar Brando Vilela, Arcebispo da arquidiocese de
Teresina
(1956-1971), possua um programa de grande audincia na Rdio
Pioneira do Piau.
Nesse programa, refletia sobre vrios temas. Percebendo essa
aproximao entre as
causas do materialismo e a providncia divina, passou a escrever
mensagens em seu
43 METRALHADO e morto Carlos Marighela. O Dia, Teresina, n.
2.848, p. 01, 06 nov. 1969.44 META Vermelha. Jornal do Piau.
Teresina, n. 1.978, p. 02, 22 dez. 1968.
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programa, orientando os cristos para uma conciliao, entre a luta
de seus ideais e a
prtica religiosa. Dom Avelar reforava a prtica de parcela da
Igreja na Amrica
Latina, no final da dcada de 1960, orientando os
cristos pela busca da justia social, sem esquecer os
valores divinos. Nesse sentido, [...] tudo se
harmoniza. Nem a confiana suprema e nica no
homem, como se Deus no existisse, nem a idia
errnea de que se deve esperar que Deus venha
resolver os problemas dos homens, cada um per si.45
Mesmo com esse discurso conciliador, Dom
Avelar tinha uma preocupao com a ao de
determinados setores que poderiam provocar uma
fragmentao no seio da Igreja Catlica no Brasil,
pois, segundo o prelado, aquela poca estava sendo
rica no florescimento de correntes de pensamento.
Dentre essas correntes a que mais preocupou o
arcebispo o que ele denominou de corrente
proftica:A corrente que se denomina proftica, ou que age como se
merecesseesse nome, aquela que avana, que se faz pioneira de novos
critrios,mtodos, e no se conforma com a situao atual da Igreja e
domundo. Diante de falhas que provocaram crises, defende soluesmais
ou menos radicais. [...] Somos, por ndole, por formao, porfuno,
avesso a todo radicalismo. Mesmo quando, em movimentospatrocinados
pela Igreja surgiram, surgem ou viro a surgir excessospropriamente
ditos, no foram feitos, no se fazem, nem se faro pelaexpresso
intrnseca de nossa vontade. Adiantamos, porm, que noconsideramos
excesso aquelas atitudes serenas e fortes que significamdenncias de
injustias sociais. [...] Quando, porm, essa preocupaoassume o
desafio puro e simples da autoridade, ou o tipo decontestao que
conduz irreversivelmente ao conflito armado, ou setraduz por
intolerncias que separam profundamente os gruposhumanos, com
finalidades conspiratrias, tudo isso j se excede asnossas intenes e
ultrapassam as normas comuns da orientao daIgreja.46 [Destaques do
autor]
45 VILELA, Dom Avelar Brando. Orao por um dia feliz. fev. de
1969. (Documento da biblioteca dopadre Raimundo Jos Ayremorais)
46 Ibid.
Fotografia 05. Dom Antnio Fragoso.Fonte: PRIMEIRO Bispo de
Crates. O Nordeste. Fortaleza, 19maio. 1964, n. 9.887, p.
01.
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Dom Avelar, nesse trecho, reflete sobre algo preocupante para a
Igreja Catlica
naquele momento: a ao armada por partes de alguns membros do
clero. A significao
de comunista como terrorista j era uma constante nos jornais da
poca. Dom Avelar
cogita sobre essa possibilidade de significao de terroristas aos
membros do clero,
nesse sentido toma cuidado em afirmar que as aes desses membros
da Igreja Catlica
podem ser entendidas como mais ou menos radicais. O maior temor
que parcela do
clero promovesse o conflito, o confronto, em especial, o armado,
atitudes prprias dos
terrorista-comunistas. Nesse sentido, a significao de terrorista
recairia tambm sobre
parcela da Igreja Catlica, como de fato acabou ocorrendo. Mesmo
no concordando
com algumas atitudes tomadas por setores da Igreja Catlica, Dom
Avelar defende a
unidade crist no seio da Igreja Catlica. E por isso que o
Arcebispo de Teresina se
fez contrrio ameaa de priso do bispo de Crates, Dom Antnio
Batista Fragoso.47
Ao pesquisarmos no arquivo pblico do Cear, encontramos
documentos do IV
Exrcito, 10 Regio Militar, que relatavam as atividades de Dom
Antnio Fragoso,
inclusive no Piau. Em um recorte de jornal, que faz parte do
dossi elaborado pelo
Exrcito, relatava-se at o contedo dos discursos do bispo de
Crates no Piau. Diz o
documento:
O BISPO VERMELHO DE CRATES, rezando na cartilhacomunista, e em
comunho com o diabo e com o Arcebispo de SoPaulo, o Arcebispo de
Olinda e Recife, o Arcebispo de Goinia, oBispo de Gois, o Bispo de
So Flix, e muitos outros de menosexpresso na CNBB (Conferncia
Nacional dos Bispos do Brasil), que organizao de frente do Partido
Comunista da Unio Sovitica,vm promovendo agitaes, instigando
presses, ressaltando secularesantagonismo sociais, com a finalidade
de subverter a ordem pblica[...] em conferncia pronunciada em
Teresina o Bispo [...] disse queCrates uma terra de analfabetos
onde no se l jornais e nem setoma conhecimento do que ocorre no
resto do Brasil [...].48
Dom Antnio Fragoso fez vrias visitas ao Piau. E ficou conhecido
aqui como
um bispo esquerdista, como relata Marcos Igreja.
[...] tinha um padre tambm que vinha de vez em quando aqui,
DomFragoso, um bispo, bispo de Sobral, no, Crates, era o
esquerdista donordeste, muito boas as palestras dele, e os padres
do Diocesano quecediam toda vez que precisava, por exemplo, o Dom
Fragoso vinha
47 Sobre a reao de Dom Avelar priso de Dom Fragoso ver as
seguintes reportagens: DOM Avelarprotesta contra ameaa ao Bispo de
Crates. Jornal do Piau. n. 1946, p. 01, 23 nov. 1968. D.AVELAR
preocupado com a priso de Dom Fragoso. O Dia, Teresina, n. 2583, p.
01, 23 nov. 1968.
48 ANEXO, de artigo no documento: CONFIDENCIAL, do Ministrio do
Exrcito. IV Exrcito. 10 R.M. Q.G. EMG. 2 Seo. Fortaleza CE 1 de
fev. de 1974.
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fazer uma palestra aqui, e a represso queria proibir a palestra
e ospadres italianos do Diocesano enfrentaram a represso e cederam,
foio nico local em que ele fez a palestra, cederam seu espao, isso
maisou menos em 1967, Dom Fragoso veio a e fez uma palestra
muitoboa, [...].49
A figura dos padres comunistas vai constituir a significao do
comunismo. A
pergunta constante que se fazia era: como padre comunista, se o
comunismo ateu? Ou
ainda, podemos repetir a pergunta feita durante o interrogatrio
do padre dominicano,
Frei Betto, preso pela ditadura militar no ano de 1969 como
subversivo: Como um
cristo pode colaborar com um comunista?50 Mesmo com essa
profunda divergncia,
vrias aes catlicas foram associadas ao comunismo, e tiveram a
sua significao
como tal. No Piau, os casos mais celebrados foram o do Padre
Carvalho, visto por
muitos como comunista, por sua atuao em favor dos operrios e
camponeses, e o do
MEB (Movimento de Educao de Base), movimento que se propunha a
ajudar na
alfabetizao de moradores do campo, promovido pela Igreja Catlica
no Piau, teve
vrios de seus membros detidos, acusados de propagarem ideais
comunizantes.
Permeado por rupturas e permanncias, o significado que era
atribudo ao
comunismo, alm de se sustentar em pontos fixos, para que o
leitor das representaes
anticomunistas percebesse uma coerncia das formulaes
discursivas, tambm, possua
a sua (re)significao relacionada aos contextos polticos e
sociais, no Brasil e no
mundo. Os pontos fixos eram referentes: ao comunismo como uma
formulao
marxista, ao seu carter oportunista e estratgico, ao uso da
violncia como
caracterstica primordial para a implantao de ditaduras e a
proposta de ruptura com os
valores tradicionais das sociedades ocidentais, como a famlia e
a religio. Os pontos
que se modificaram dentre tantos que escaparam as nossas
anlises, apontavam para: a
poltica nacional e as eleies presidenciais, para a questo agrria
no Brasil, o
terrorismo e as aes de alguns membros da Igreja Catlica. O
importante perceber o
combate atravs das palavras a esse projeto socioeconmico durante
toda a dcada de
1960.
49 IGREJA, Marcos de Paiva. Depoimento concedido a Francisco
Alcides do Nascimento e a MaryluAlves de Oliveira em 2005. No
publicado.
50 LWY, Michael. Marxismo e Teologia da Libertao. Traduo de
Miriam Veras Baptista. SoPaulo: Cortez, 1991, p. 62.