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Gastronomia na rua Picnik reúne pessoas e redescobre paisagem brasiliense >> p. 8 e 9 Artefato Ano 15 Número 7 dezembro de 2014 Reitor avalia primeiros meses na UCB Professor Gilberto Gonçalves Garcia fala sobre futuro das Escolas, as mudanças na Católica Virtual, as perspectivas para a extensão e os projetos para 2015 >> p. 12 a 15 “Cinco” Painel de Scheufler é pérola incrustada no bloco M >> p. 23 Artefato - 2014/2 - Terceira Edição.indd 1 03/12/14 08:17
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Apr 06, 2016

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Jornal-Laboratório da Universidade Católica de Brasília, ano 15, n. 6
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Gastronomia na ruaPicnik reúne pessoas e redescobre paisagem

brasiliense>> p. 8 e 9

ArtefatoAno 15

Número 7dezembrode 2014

Reitor avalia primeiros meses na UCBProfessor Gilberto Gonçalves Garcia fala sobre futuro das Escolas, as mudanças na Católica Virtual, as

perspectivas para a extensão e os projetos para 2015 >> p. 12 a 15

“Cinco”Painel de Scheufler é pérola

incrustada no bloco M>> p. 23

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ArtefatoJornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da

Universidade Católica de Brasília

Ano 15, n. 7, dezembro de 2014

Reitor: Dr. Gilberto Gonçalves GarciaDiretor da Escola de Negócios: Dr. Alexandre KielingCoordenador do curso de Comunicação Social: Dr. Luiz Carlos Assis IasbeckProfessores responsáveis: Me. Lunde Braghini Júnior e Me. Fernanda VasquesOrientação de fotografia: Me. Bernadete Brasiliense

Editores chefes: Amanda Rodrigues, Eduardo Kirst, Gabriela Vieira e Sabrina PessoaSub-editores: Paulo MartinsEditores de arte: Beatriz CarlosEditoras de Fotografia: Michele Mendes e Daniel MangueiraSubeditores de fotografia: Gustavo Giácomo, Jelsyanne Aluquerque, Lucas Lélis e Mariane CunhaEditores de texto: Alex Santos, Paulo Martins, Rafaela Brito, Carolina Vajas e Jéssica DuarteEditores web: PatríciaMarques, Rosi AraújoDiagramadores: Ana Paula Viana e Gustavo GoesRepórteres: Alex Santos, Amanda Bartolomeu, Amanda Costa, Amanda Rodrigues, Beatriz Carlos, Bianca Amaral, Bruno Santos, Carolina Matos, Carolina Vajas, Daniel Mangueira, Fernanda Pinheiro, Gustavo Goes, Jéssica Xavier, Juliana Macedo, Jéssica Duarte, Luana Póvoa, Marina Maria, MIchele Mendes, Patrícia Marques, Paulo Martins, Rafaela Brito, Rosi Araújo, Sabrina Pessoa, Thiago Baracho, Yago PeraFotógrafos: Adrienne, Barbara Bernardes, Diogo Neves, Gabriela Alves, Gabriella Bertoni, Gustavo Giácomo, Isabella Vieira, Isabella Cantarino, Jelsyanne Albuquerque, João Pedro Carvalho, Lucas Lélis, Mariane Paim,, Manoel Neto, Marcus Gomes, Tarcila Rezende, Vanessa CristinaTiragem: 2 mil exemplaresImpressão: Gráfica AthalaiaUniversidade Católica de BrasíliaEPCT QS 07 lote 01, bloco K, sala 212Laboratório DigitalÁguas Claras, DFFone: 3356-9098 / 9237Site: pulsatil.com.brFacebook: facebook.com/artefatoucbAcervo: issuu.com/jornalartefato

EDITORIAL

Em 15 anos de Artefato, o segundo semestre de 2014 foi sem dúvida uma quebra de paradigmas. Desde a produção do projeto editorial, nosso objetivo era ter como público principal a comunidade acadêmica e administrativa da universidade, e conseguimos. Sob críticas, fomos acusados de sensacionalismo, com certeza o preço que se paga por optarmos a apurar assuntos que muitos sabiam somente pelo “boca a boca” nos corredores da universidade, mas que foram criteriosamente investigados por nossos repórteres. Também recebemos muitos elogios gratificantes, de reconhecimento dos ‘valores-notícia’ que nosso jornal cultivou, preocupado em abastecer de conteúdo as informações que eram tratadas de forma superficial e por vezes esquecidas pelas divisões de comunicação da UCB.

Nossa principal missão foi entender a importância de ousar tocar nos assuntos, questionar os processos e dar a voz de fala a quem pode responder nas instâncias superiores sobre os rumores da universidade, como é o caso da entrevista com o Reitor. E isso proporcionou grandes aprendizados, que é exatamente o objetivo desta disciplina, desde a prática jornalística à construção e recepção das informações apresentadas.

Entendemos que jornalismo se faz com garra, determinação e curiosidade. Não é uma profissão para pessoas preguiçosas, que não enxergam na notícia seu valor. Desde o início do processo, temos que aprender a lidar com o ritmo de cada repórter, que não cumpria com o “deadline” e atrasava todo o processo de edição. O desinteresse foi o principal problema. Em dias de fechamento, sempre tivemos poucos presentes. O desestímulo aconteceu também porque houve uma política de economizar recursos, pois tivemos apenas duas edições impressas e uma online, em lugar das quatro previstas no projeto pedagógico do curso.

Apesar de todas as dificuldades que se tem em um processo de edição, em quatro meses, vivenciamos o clima de uma redação, desempenhando funções distintas dentro de um mesmo ambiente, revezando em cargos de editor-chefe, editor de arte e de fotografia, subeditores de fotografia, editores de texto e de web, diagramadores, repórteres e fotógrafos. Nós, como quase jornalistas, chegamos a pessoas, informações e dados a que os demais estudantes não poderiam chegar. Desempenhamos a função de intermediar as notícias e o mais importante, instigar as opiniões.

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PolíticaArtefato 3

Jornalista ajuda a montar terceirogoverno no DF

Entrevista

Hélio Doyle afirma que o GDF diminuirá o número de secretarias e promoverá as eleições dos administradores regionais

por Michele Mendes

Coordenador da campanha vitoriosa do PSB, o jornalista Hélio Doyle prefere não assumir que irá ocupar alguma secretaria no futuro governo de Rodrigo Rollemberg, mas garante que haverá

diminuições no número de Pastas - de 38 para no máximo 20 - como prometido por Rollemberg. No caso das administrações regionais, diz que os administradores serão eleitos pela população no futuro.

Em 1995, ele ajudou a montar o governo do PT; em 2002, o do PMDB; e agora foi indicado pelo PSB. Professor aposentado pela Universidade de Brasília (UnB), ele já ocupou diversos cargos na área política, entre eles o de coordenador de comunicação de campanha nas candidaturas de Rollemberg e Reguffe (PDT), foi secretário de governo quando Cristovam Buarque (PDT) governava o DF e secretário de articulação do governo no segundo mandato de Joaquim Roriz (PRTB). Você ajudou a montar um governo do PT, um do PMDB e agora participa do PSB. Como compara esses três processos?Cada processo tem suas características e são muito diferentes em vários aspectos. Além do que ocorreram em momentos distantes - 1995, 2002 e 2014 -, com conjunturas diferentes.

Você conheceu de perto as virtudes e os defeitos de Cristovam e Roriz.O Rollemberg, na sua avaliação, tem alguma característica que os lembre? Acho o Rollemberg muito diferente dos dois. Com Cristovam tem semelhança na defesa de princípios éticos. Com Roriz, na vontade de fazer.

Qual o seu trabalho dentro da equipe de transição?Meu trabalho é coordenar o processo, manter contatos com a equipe do governo e ajudar o governador eleito nas conversas necessárias para estruturar o futuro governo.

E quais são as prioridades da equipe?A prioridade é assegurar que não haja descontinuidade entre os dois governos e que a cidade continue funcionando. Já se pode ter um balanço sobre as secretarias do GDF? Rollemberg enfatizou na campanha que diminuiria o número, mas de quanto seria essa redução?A discussão ainda está sendo feita, com base nos objetivos estratégicos do futuro governo, na necessidade de que a estrutura de governo seja eficiente e de que a

Foto: Manuel Ventura

Hélio Doyle é assessor de transição pela terceira vez em governo DFmáquina seja mais enxuta. Não se sabe ainda quantas secretarias serão, mas arrisco que não mais do que 20, com margem de erro de 10%.

E as Administrações regionais já estão definidas? O Rollemberg pretende realizar quando as eleições para a escolha dos administradores? Não concluímos também os estudos para reorganizar as administrações regionais, que no primeiro momento serão chefiadas por moradores das cidades indicados pela sociedade civil organizada. No segundo momento, depois de ampla discussão, serão eleitos diretamente, como prometido na campanha.

Quais são as qualidades e o trabalho que deve ser feito por um assessor para poder transitar entre partidos diferentes e montar governos e poder sempre ser chamado por outros partidos assim como você?Profissionalismo e competência. Sem profissionalismo não poderia trabalhar com políticos de perfis diferentes. Sem competência eles não iriam querer meu trabalho. Mas quero deixar claro que já trabalhei em muitas outras campanhas, aqui e em outras cidades, e não apenas nessas.

Como você se apresenta? Como uma pessoa que profissionalmente assessora um governo, como quem abraça uma causa ou como alguém que combina as duas coisas? Em alguns casos, simplesmente assessoro. Em outros, abraço a causa. E, em outros, somos as duas coisas.

Depois da transição, você continuará no governo, ocupando uma secretaria?Isso tem de ser perguntado ao Rollemberg.

Você já foi filiado ao PT, ao PDT e a outro partido menos conhecido (PSD). Por que a escolha de um partido menor?Hoje não sou filiado a partido nenhum. Filiei-me ao PT por convicção política, ao PDT porque havia rompido com o PT e tinha grande admiração por Brizola. Ao PSD apenas para ajudar a trazer o partido para a coligação de Rollemberg e Reguffe. Mas o partido em que fiquei mais tempo, e me orgulho disso, foi o Partido Comunista do Brasil - Ala Vermelha, clandestino e que lutou intensamente contra a ditadura.

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Política4 Artefato

Mudanças

O cenário de revolta com a política e com os políticos, criado nas

manifestações de 2013, expôs o sentimento do brasileiro: o povo quer mudança. O incômodo foi tamanho que ruas foram tomadas e o debate sobre uma reforma política se tornou inevitável, tanto para quem estava no governo, quanto para quem almejava governar. Mesmo com a reeleição de muitos candidatos já conhecidos do povo brasileiro, as propostas avançaram e, para que chegue

ao Congresso Nacional, é preciso recolher 1,5 milhão de assinaturas. Já foram 500 mil e a expectativa é que sejam entregues até março, início da nova legislatura.

Esse conjunto de propostas que alteram a Constituição pode ser decidido por meio de um plebiscito ou referendo, como a presidente da República, Dilma Rousseff, antecipou em seus discursos que poderiam ser feitos das duas formas. Primeiro, em 2013, diante das manifestações, sugeriu que fosse feita por meio

de plebiscito, porém, no dia 28 de outubro de 2014, Dilma disse que poderia ser feita das duas maneiras. Inclusive, acrescentou que poderia convidar Marina Silva e Aécio Neves para discutir sobre o assunto.

No plebiscito, os eleitores são consultados sobre cada um dos pontos da reforma política, respondendo “sim” ou “não” a uma série de perguntas e, com base no resultado da consulta, os parlamentares elaboram a lei. Já no caso do referendo, o Congresso discute, vota e

por Gustavo Goes e Luana Póvoa

aprova uma lei, e os eleitores são convocados depois para dizer se são a favor ou contra o conjunto da legislação, que o Congresso elaborou. Em 2005, aconteceu uma situação parecida, quando o eleitorado opinou sobre o Estatuto do Desarmamento, que proibia a venda de armas e munições. Ansiosas por respostas, algumas entidades da sociedade civil, comandadas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que decidiram fazer

Foto: Dayane O

liveira

Projeto de iniciativa popular, plebiscito e referendo estão em discussão

Reforma Política procura eleição mais democrática

Temas abordados pela reforma política estão desde a Constituição de 1988 sem serem mudados

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Política 5Artefato

a matéria avançar na próxima legislatura por meio de um projeto de iniciativa popular e recolhimento de assinaturas.

Sistema eleitoralO sistema eleitoral brasileiro

para a Câmara dos Deputados é um sistema proporcional de lista aberta. Nele, os votos são nominais aos candidatos e as listas partidárias (ou da coligação) são compostas pelos membros mais votados, a partir desse número são escolhidos, proporcionalmente, a quantidade de vagas que serão destinadas aos partidos (coligação). As vagas serão preenchidas pelos mais votados desse partido (coligação).

Esse sistema permite uma série de distorções na “democracia” de uma eleição. O clássico exemplo de como essas eleições podem ser injustas (mas legais, já que está tudo previsto na lei) foi a eleição de seis deputados do Prona, partido inexpressivo até então, no estado de São Paulo, em 2002. O fenômeno aconteceu a partir do “fenômeno Enéas”, que conseguiu 1,5 milhão de votos e puxou para a Câmara o deputado Vanderlei Assis, que havia conseguido 275 votos.

Como de praxe nesse sistema eleitoral, podemos ver o mesmo fenômeno se repetir a cada quatro anos, porém em proporções menores. Em Brasília não foi diferente. Laerte Bessa (PR) foi eleito deputado federal com 32.843 votos, enquanto Alírio (PEN) ficou na suplência com 78.945 votos. Enquanto na disputa ao Buriti, Luzia de Paula venceu com 7.428 e Guarda

Janio perdeu com 14.939 votos.“Nós temos o pior sistema

possível. A representação proporcional é usada em países do mundo inteiro, mas o nosso está aberto com coligações, fazendo com que o eleitor seja induzido a votar em nomes e não em partidos. Isso favorece muitos grupos ou corporações da sociedade. Em Brasília, a grande maioria representa grupos, tem o Pedro do Ovo, o Batista das Cooperativas, o Chico Vigilante, além de muitos policiais militares, policiais civis, bombeiros, evangélicos, entre outros políticos” criticou o cientista político David Fleischer.

Para substituir o atual sistema proporcional de lista aberta utilizada para as eleições legislativas, o movimento pela reforma política propõe o sistema proporcional em lista pré-ordenada e em dois turnos. No primeiro turno, o voto seria dado ao partido, a partir do debate em torno de sua plataforma política e também considerando uma lista pré-ordenada de candidatos. Nesse primeiro turno, os partidos elegeriam o número de cadeiras. Já no segundo turno, os eleitores escolheriam os candidatos. Cada legenda apresentaria o dobro de candidatos das vagas conquistadas no primeiro turno.

FinanciamentoO financiamento das

campanhas por empresas e a influência que esse dinheiro pode exercer no mandato do político é um grande tema a ser debatido. Principalmente, pelo crescimento do dinheiro investido nas eleições. Em 2014,

a campanha dos deputados federais e senadores eleitos custaram R$ 1,1 bilhão, o que representa um aumento de 11% acima do índice de inflação em relação a 2010. A maior parte do valor arrecadado pelos eleitos veio de empresas. Na Câmara, dos R$ 721 milhões, 77% são de pessoas físicas.

A proposta visa a proibição do financiamento de campanhas por empresas e o “financiamento democrático”, uma combinação de financiamento público com o financiamento de pessoas físicas. O financiamento de pessoas físicas seria de, no máximo, R$ 700, corrigidos por índices oficiais, a cada eleição. E o total dessas contribuições não poderia ultrapassar 40% dos recursos públicos destinados ao candidato.

Suplência de senadorA suplência nos cargos ao

Senado foi bastante discutida durante as eleições no DF. O senador Rollemberg (PSB), que vai ser governador a partir de 1º de janeiro, terá que deixar o cargo para seu suplente assumir. Fato corriqueiro na política, visto que a maioria dos políticos migra do Legislativo para tentar cargos no Executivo. O problema é que o suplente José Hélio (PSD), ou simplesmente Hélio Gambiarra, conhecido assim após escândalo quando trabalhava na Companhia Energética de Brasília, é acusado de ter abusado sexualmente de uma sobrinha, o que gerou revolta tanto dentro do Senado, quanto fora dele.

Se em 2010 Rollemberg foi eleito senador sem que a população conhecesse seu

suplente, o mesmo voltou a acontecer nas eleições de 2014. Desta vez, o candidato eleito foi Reguffe (PDT) e seu primeiro suplente, o empresário José Carlos Vasconcellos, responde a um processo na Justiça. O empresário, dono da Gestão e Inteligência em Informática, foi condenado pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal a devolver R$ 1,4 milhão aos cofres públicos.

Com uma eleição indiscutível (57% dos votos) e um mandato de oito anos, não seria nenhuma surpresa se, nesse meio-tempo, Reguffe tentasse um mandato no Executivo e deixasse o cargo de Senador para o seu suplente. “Tem uma proposta muito interessante da Câmara, na qual o deputado mais votado assumiria a suplência”, sugeriu o cientista político David Fleischer.

Voto facultativoPesquisa do Datafolha

anterior às eleições de 2014, no dia 22 de outubro, constatou que 46% dos eleitores não votariam se o voto não fosse obrigatório. A pesquisa está diretamente ligada ao índice de escolaridade e a renda do entrevistado. A porcentagem de pessoas com apenas o ensino fundamental, completo ou incompleto, e a renda de até dois salários mínimos que não votariam chega a ser maior dos que votariam.

O número é refletido na quantidade de abstenções nas eleições. Para governador no DF, 12,64% se abstiveram de votar. Já para presidente, 21,50% de brasileiros não votaram.

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Foto: Twitter (D

ivulgação)Política6 Artefato

Ciberativismo

Das ruas para as redesDiscussões na internet mobilizam campanhas políticas no segundo turno

por Daniel Mangueira e Paulo Martins

As eleições desse ano são um marco no ciberativismo. Estudos

da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV) identificaram, só no dia da eleição do segundo turno (26 de outubro), cerca de três milhões e meio de postagens sobre os dois candidatos à presidência da república, Dilma Rousseff e Aécio Neves.

Ciberatavismo significa a mobilização de grupos pela

internet em vista de uma causa. O ciberativismo político, por exemplo, aponta para as mobilizações políticas nas redes sociais. O diferencial deste movimento é a participação de diferentes atores anônimos que, muitas vezes, nem precisam sair de casa para empunhar sua bandeira.

Entretanto, o ciberativismo político é compatível com a mobilização nas redes sociais e o seu resultado se dá em atividades nas ruas. O famoso bordão criado na manifestações

de maio e junho de 2013, em todo o Brasil, “vem pra rua” tem dado grandes resultados.

Outro estudo, realizado pelo instituto norte-americano de análise Pew Research Center, apontou que as redes sociais motivaram seus usuários a participarem de atividades políticas. O estudo foi feito com 2.255 pessoas que utilizam sites como Twitter, Facebook e Linkedin. De acordo com o estudo, 57% dos entrevistados acreditam que as redes sociais podem

influenciar a mudança de votos e a opinião dos amigos virtuais.

Esse fenômeno, observado nas eleições à presidência do Brasil, neste ano, foi bastante significativo se comparado com as eleições de 2010. As manifestações nas redes sociais desta vez moldaram, em parte, até as estratégias das campanhas eleitorais.

Boa parte da agenda dos candidatos teve forte influência do que circulava na internet. Presidenciáveis passaram a criar vídeos e postar nas redes

Gráfico extraido a partir do twitter, no dia 25 de outubro, mostra o tamanho das interações entre os usuário em torno das eleições presidenciais

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PolíticaArtefato 7

dos partidos e das campanhas. O volume de informação gerada circulava numa velocidade tão grande que pouco dava tempo do adversário responder. De acordo com fontes das assessorias dos candidatos ao Planalto, entre uma viagem e outra, ou mesmo nos intervalos das gravações dos programas eleitorais, Aécio e Dilma dividiam o tempo para acompanhar o que circulava nas redes sociais e internet.

Sites de apoio aos candidatos foram criados. Perfis nas redes sociais se multiplicavam a cada resultado de pesquisa. E, à medida em que as mobilizações cresciam nas redes, elas alcançavam as ruas das cidades por todo o país.

Motivada pelas ações políticas nas redes sociais, Liliane Carvalho, 26 anos, utilizou seu perfil no Facebook para manifestar seu posicionamento nestas eleições e conquistar mais votos para o seu candidato. Ela mudou a foto do perfil, colocou um avatar com o número do partido e foi para a luta. “A mobilização foi intensa e árdua. Diariamente eu estava nas redes. Não cheguei a perder amigos, mas alguns conflitos surgiram e relações ficaram abaladas no período”, afirmou Liliane.

De acordo com a assistente administrativa, todo o trabalho teve bons resultados. “Ganhei votos e conversei com muita gente. Foi interessante ver as pessoas se dando conta das manipulações a que são submetidas. Fiz isso por acreditar na importância da militância”, concluiu.

Já para Victor Macena, 20 anos, o principal motivo que o levou para a militância nas

redes sociais foi por crer que seu candidato tinha um melhor plano de governo, principalmente para a economia, além de pensar que ele estava mais preparado para governar o país. “O atual cenário não me mostra um grande futuro para o Brasil. Corrupção, inflação, alianças e apoios inexplicáveis com países que não dão retorno para o Brasil em detrimento a parceiras com países mais fortes como Estados Unidos e países europeus, a atual presidente mais maquia do que faz”.

Ciberativismo na UCBO ciberativismo já

mostrou também as suas caras na universidade, no primeiro semestre de 2014 foi apresentado um plano de restruturação planejado pela União Brasiliense de Educação e Cultura (UBEC), mantedora da UCB, que entraria em vigor para todas as suas instituições a partir do segundo semestre de 2014.

A comunidade acadêmica não concordou com alguns pontos e a forma a qual essa reestruturação seria feita e por meio das redes sociais, principalmente do Facebook, se organizou algumas manifestações as quais adiaram a implantação dessa restruturação.

A principal manifestação ocorreu no dia nove de abril, uma quarta-feira, e contou com mais de 1,9 mil alunos apoiando o evento no Facebook. A manifestação, que ocorreu nos turnos matutino e noturno, conseguiu impedir que tivesse aula na universidade e ainda fechar por cerca de uma hora o Pistão Sul. O ato foi o principal responsável por ter “impedido” a restruturação.

A utilização da internet para ações de grupos organizados ou de anônimos que querem “mudar o mundo”, vai desde petições online, criação de sites denúncia sobre uma determinada causa, organização e mobilização de protestos e atos que aconteçam fora da rede, flashmobs, hackerativismo e o uso de games com uma função política e social.

Alguns especialistas afirmam que o ativismo online teve início na década de 90, mas foi nos últimos anos que ele ganhou expressão e destaque. Os casos mais atuais começaram em 2009, no Irã, em que o Twitter teve um papel fundamental para a criação de um campo de batalha virtual após a reeleição suspeita de fraude do então presidente Mahmoud Ahmadinejad, que gerou protestos e confrontos com a polícia iraniana.

Com os canais de comunicação silenciados, os iranianos viram, por meio do Twitter e YouTube, uma forma de mostrar o que realmente estava acontecendo em seu país. A partir dessa faísca se deu o estopim para as revoluções da primavera árabe, de 2011. Eles utilizavam as redes sociais (Facebook, Twitter e Youtube) para se organizarem, comunicar e sensibilizar a população mundial para a realidade a qual estavam sendo submetidos em seus países.

Outro exemplo é o dos protestos de junho de 2013 que ocorreram no Brasil, os quais em sua maioria foram completamente organizados por meio de redes sociais e que serviram para mostrar a força do ciberativismo.

Ciberativismo, o que é?

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Gastronomia8 ArtefatoCultura

Comida, música e gente jovem com espírito empreendedor. Esse é o

cenário das feiras culturais de Brasília, onde pratos gourmets são vendidos a preços acessíveis, músicas são produzidas por Dj’s locais, e, na linha do it yourself – faça você mesmo –, são expostas ideias arrojadas convertidas em produtos.

Seguindo a linha de economia criativa, o Quitutes promove o mercadinho made in Brasília e a comida gourmet ao ar livre. “Já fui

a diversas edições, em diferentes lugares, e a razão é sempre a mesma: muitos amigos, gente bonita e descolada, boa música, boas opções de bebida e comida, e um ótimo jeito de passar o tempo, sem gastar muito, ou gastando com coisas diferentes”, declarou o estudante de direito, Diego Alves.

No evento, as pessoas podem degustar, fazer aulas shows de chefs, ouvir música, DJs e muita diversão. A estrutura é pensada exclusivamente para atender todas as necessidades do público e tem

até transporte especial para aqueles que estacionarem em lugares mais afastados, além da segurança reforçada para que todos desfrutem da programação sem preocupações.

A economia criativa é composta por atividades que têm como resultados produtos em que as pessoas exercitam sua capacidade de imaginação, criação e produção agregando valor financeiro ao processo. De acordo com o diretor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília, George Henrique, essas

Eventos como o Quitutes, Feira Gastronômica Brasil Sabor, Chefs no Eixão, Food Trucks e Picnik coroam opções acessíveis de mercado

Economia criativa em alta na gastronomia de Brasília

por Beatriz Carlos e Rosi Araújofeiras têm também o intuito de divulgar restaurantes e para novos públicos.

Com a formação de um novo conceito de lazer, eventos como o Quitutes, Feira Gastronômica Brasil Sabor, Chefs no Eixão, Food Trucks e Picnik coroam opções acessíveis de mercado. Quem promove feiras como essas garante que o faz pelo orgulho que tem da cidade: “A ideia dos food trucks é americana e tem a intenção de servir comida boa, rápida e barata. É uma nova forma que os empreendedores de gastronomia podem atuar, contrariando a lógica de ser chefe renomado”, explicou a professora de marketing em gastronomia da UCB, Fernanda Avena.

PicnikA ideia de produzir o Picnik,

segundo Miguel Galvão, responsável pela organização, surgiu da vontade de criar uma plataforma de encontro diurna entre pessoas de diferentes grupos e classes, que valorizasse a realidade presencial, em detrimento da vida e mobilização virtual que vivenciamos por meio das redes sociais; que dispensasse a presença de álcool; e que proporcionasse oportunidades de consumo oposta às que encontramos normalmente nos shoppings, onde os consumidores são induzidos a gastarem e não aproveitam a área verde que a capital oferece.

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Foodtrucks são novidade em Brasilia e fazem sucesso

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Gastronomia 9

A busca por espaços abertos e amplos é para despertar redescobertas das paisagens brasilienses, promovendo reencontros. Dessa forma, o Picnik coloca o público numa ação que tem o objetivo de conscientização da importância do verde na cidade. “Há uma grande expectativa com relação a cada edição.Tentamos sempre proporcionar uma experiência ímpar aos presentes, diferente do que encontram normalmente”, afirmou Galvão.

O Picnik se mostra como uma solução autenticamente brasiliense para equacionar algumas dificuldades e possibilidades de socialização, por isso muita gente facilmente se identifica. A estudante universitária, Vicktoria Bitar, 21 anos, conta que é um

evento “completo”, com roupas, bebidas, comidas e músicas. Tudo com muita qualidade. Pessoas simpáticas e ambiente agradável. Mas, ressalta que deveria ter mais banheiros químicos.

A burocracia muitas vezes atrapalha a disseminação de atividades culturais, principalmente em Brasília. Segundo a equipe do Picnik, a parte burocrática é a maior dificuldade para a realização do evento. “Estas causam incertezas, geram custos não previstos e tiram o foco de nossa atividade fim. Acabamos gastando muita energia com um assunto que agrega pouco ao público e ao projeto, o que de certa forma faz com que dediquemos menos tempo para tentar pensar edições melhores e com mais novidades”, declarou Galvão.

Foto: Gabriella B

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Acesso restrito

As atividades que relacionam cultura e arte em Bra-sília, geralmente, são caras e seu raio de alcance é limitado ao centro da cidade. Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil 2013, e Brasília, com-parada a outras capitais, é a quarta colocada no quesito má distribuição de renda. De acordo com o estudo, 67,20% de toda a renda da capital federal estão concentrados em apenas 20% da população. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística, na pesquisa Contas Regionais do Brasil - 2012 o DF ocupa a sétima posição en-tre os maiores PIBs do Brasil, com R$ 171 bilhões, mas, como para fazer o cálculo, o valor é dividi-do entre a população (de 2,6 milhões de ha-bitantes) o PIB per capita chega a R$ 64.653.

Feirinha da 402 Norte fez sucesso entre os brasilienses

Artefato

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Universidade Artefato10

Campus tem fome de opções durante o almoçoEntre as poucas lanchonetes internas e os quiosques externos, estudantes ficam sem muita escolha para restaurar as calorias perdidas durante a manhã

por Yago Alves e Bruno Santos

A rotina dos universitários que frequentam a Universidade Católica de Brasília (UCB)

é marcada por aulas, palestras, oficinas e aulas práticas. Com esses e outros compromissos, os alunos acabam gastando muita energia. Entre uma aula e outra, num curto tempo de intervalo, os estudantes acabam sentindo fome e buscam por refeições baratas e em bom estado para o consumo. Para atender a esta demanda, a Universidade oferece sete lanchonetes distribuídas em seus blocos, cada uma com suas especialidades e características.

Alimentaçåo

Na busca em conciliar as aulas com a alimentação, uma parte dos alunos traz seu lanche de casa. Alimentos como frutas, achocolatados, barras de cereais, energéticos ou sucos fazem parte do cardápio. Outros estudantes preferem sair minutos antes do começo do intervalo para evitar as filas e conseguir alguns minutos para realizar as refeições.

Por volta das dez da manhã, a movimentação nas lanchonetes é grande. Pão de queijo, coxinha, enroladinho, suco, refrigerante, café e muitas outras opções.

As filas se formam dentro dos estabelecimentos e nos corredores da faculdade. Dependendo da disciplina assistida, não sobra tempo para saborear o lanche pelo tamanho da fila ou pelo tempo gasto na locomoção até a lanchonete.

Preço salgadoNo meio da correria, onde

é possível encontrar a melhor opção para fazer? As respostas são diversas! “O pão de queijo da lanchonete ‘X’ é o melhor da universidade” ou “O melhor salgado esta no bloco ‘tal’...”, entre

outras opiniões. O preço dos lanches é uma das questões mais levantadas pelos alunos entrevistados, apontando sempre que os preços estão muito acima da qualidade dos lanches. Alguns apontam até que em algumas lanchonetes o salgado chega a ser servido cru e ou com partes congeladas.

A ex-aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo da UCB, Juliana Lopes Silva, 21, conta que normalmente almoçava no restaurante do bloco “G” por achar mais barato e gostoso. Para ela, “por ser uma universidade

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Almoço no restaurante do bloco K

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particular, a galera que monta comércio parte do princípio que todo mundo “nada” na grana, e não é bem assim. Acho muito abusivo os preços de certos lugares”. Juliana ainda revela a importância do comércio alimentício na parte externa da universidade. “As lanchonetes fora da universidade conquistam mais público do que as no interior da UCB. Não sei como funciona pra montar um negócio lá dentro. O pessoal esquece dos bolsistas, da galera que mal tem o dinheiro da passagem.”

AlmoçoPassa o lanche da manhã e

chega a hora do almoço. O número de estabelecimentos disponíveis cai de sete para quatro. Um número

pequeno, comparado à quantidade de pessoas buscando refeições neste momento. Além de professores e colaboradores da UCB, pessoas do Centro Educacional Católica de Brasília (CECB) também procuram as lanchonetes do campus para fazer suas refeições.

As refeições oferecidas no almoço são melhor avaliadas pelos alunos e professores. De pratos vegetarianos para os que aderem a uma vida sem produtos vindos de animais a pratos tradicionais nacionais como o bife acebolado e até o escondidinho, vindo junto com a cultura nordestina. Os preços das refeições também variam de um estabelecimento para o outro. Existem opções que variam de oito a doze reais e o público ainda conta

Foto: Jelsyanne Albuquerque

com o serviço Self-service, onde você paga por peso a refeição.

Do lado de foraNa parte externa da universidade

há cinco lanchonetes sendo que apenas duas oferecem refeições durante o almoço. Competindo diretamente com as lanchonetes no interior da instituição, elas apostam no atendimento rápido, na variedade no cardápio e nos preços mais em conta, além de salgados inovadores como o “Pão de Vô”, “Pão Pizza”, entre outros.

Segundo Pablo Saito, de 28 anos, dono de um trailer, os salgados e sanduíches fazem sucesso. Além deles, a lanchonete tem uma especialidade que nenhuma outra tem: o Yakisoba – prato conhecido

internacionalmente, composto por legumes e verduras que podem ou não ser fritos juntamente com o macarrão e aos quais se agrega algum tipo de carne – é o “carro-chefe” de vendas nas horas das refeições principalmente nos dias mais próximos ao fim de semana.

As barraquinhas móveis também garantem muito movimento, como as de batata frita, crepe, açaí e de guloseimas distribuídas no estacionamento e em cima da calçada ao longo da saída do campus. Em tempos antigos, a universidade tentou retirá-los da frente da instituição, mas tudo foi legalizado quando conseguiram a licença do Departamento de Estrada de Rodagem (DER) para comercializar livremente na região.

Os salgados estão entre a preferência dos alunos

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Futuro de Escolas está em abertopor Amanda Rodrigues e Sabrina Pessoa

Numa tarde de terça-feira, dia 25/11, o reitor Gilberto Gonçalves Garcia fez um balanço dos primeiros quatro meses de sua gestão na Universidade Católica de Brasília

(UCB). Durante uma hora, falou sobre como enfrentou o desafio de administrar a universidade sem pró-reitores, valendo-se da colaboração dos diretores das Escolas. Ele ressaltou o cuidado que teve de “não herdar nenhum legado de achar culpados ou demitir as pessoas”.

Durante os seus primeiros meses, dedicou-se mais a observar que a agir sem conhecer, deixando as coisas fluírem e agindo mais operacionalmente que “estrategicamente”.Crítico em relação à forma pela qual as Escolas foram criadas, sem um amplo processo de discussão, entendimento e convencimento, o reitor está muito aberto à discussão sobre o que é mais viável – se o modelo nelas baseado ou se o modelo anterior, de pré-reitorias. Ele garante que a discussão interna acerca disso tem sido muito saudável, “sem nenhum lobby”, afirma.

Que balanço o senhor faz da atual conjuntura da universidade?Olha, estou aqui há quatro meses, e a oportunidade que tive até

agora foi de conhecer por etapas os setores acadêmicos e parte do administrativo, este eu tive menos oportunidade. Até pedi ajuda de pessoal externo para me ajudar a entender um pouco mais da parte da gestão administrativa e seus setores de funcionamento. Foquei na parte acadêmica, tive a oportunidade de conhecer as recém-criadas escolas, que ainda estão em um entendimento de identidade; e as várias direções setoriais de avaliação, regulação, pesquisa, desenvolvimento; a pós-graduação. Essa foi a pesquisa de campo que fizemos para conhecer ainda mais a universidade, sem pré-julgamento destes processos porque eles fazem parte da instituição. A gente tem que entender que alguma coisa levou a este processo, a configuração que eles estão hoje. Uma coisa que me chamou atenção é a necessidade que tem de interfaces de todos esses processos. Eles estão sem uma comunicação mais eficaz entre si, de forma que um possa ajudar o outro; ou seja, de que maneira, com avaliação e regulação, que pode chegar o curso lá na ponta; de que maneira a pesquisa pode ajudar na graduação, com incentivo a iniciação científica; de que forma a pós-graduação pode interagir com a graduação, de forma a ter uma relação dos jovens e alunos com iniciação científica. Nós temos excelentes professores e pesquisadores que estão lá na Asa Norte. Então podemos ver que há um distanciamento sistemático do

todo, e acho que é um grande trabalho a ser feito – articular todos esses processos de serviço-meio da universidade, com o serviço-fim que é ensino pesquisa e extensão. Ela está muito bem estruturada historicamente. A pesquisa faz um belo trabalho; a Agência Eixo recém-criada faz um belo trabalho; a pós-graduação tem seus resultados; a graduação tem seus resultados – mas essa interconexão eu acho que seria um salto qualitativo. Eu tenho essa preocupação e isso tudo só pode ser feito com comunicação, diálogo, e uma visão estratégica do todo.

Quem são os novos pró-reitores da Católica?Agora que eu consegui com toda paciência do mundo indicar dois prós

reitores fundamentais, o pró-reitor administrativo, Fernando de Oliveira Souza, que vai nos ajudar. E o acadêmico, Daniel Rey de Carvalho, que envolve um guarda-chuva geral de ensino, pesquisa e extensão. Como esses setores estavam funcionando sem as pró-reitorias?

Com a estrutura que eu herdei, sem as pró-reitorias, eu chamei para a reitoria as funções básicas. Essas funções são aquelas que já estavam pré-agendadas ou pré-orçadas, bastava eu entrar no sistema e liberar. Mas era uma função meramente operacional, eram tarefas apenas, não estratégicas ainda. Para chegar ao estratégico temos que ter o diagnóstico, e para ter o diagnóstico alguém tem que fazer isso. Agora que temos diagnóstico, temos algumas visões do que pode ser feito adiante, Assim funcionou também o acadêmico, mas ele foi mais fácil porque já havia os diretores de escola. Então eles cumpriam uma função setorial muito simples, de dar continuidade à rotina acadêmica sem precisar de uma liderança imediata. Pelo menos estamos funcionando com essas duas figuras de pró-reitorias.

Esse modelo de escolas é recente, como se deu o processo de inserção?

Bom, isso eu já herdei, isso não inventei. Ele ainda está “aprendendo”. Nas instituições onde eu participei na vida de criação de “escola”, houve uma preparação de, no mínimo, três anos antes. E acontecia assim: o projeto aparecia, ia para as bases, era discutido, eram feitas novas propostas e voltava. Aqui foram criados os diretores de escolas e, “agora, se virem”. Não temos nem infra-estrutura, nem local, nem temos esse desenho estrutural para receber as escolas. Então, mantendo as escolas, teremos que construir isso, temos que aprender, agora, como diz na gíria, “no tranco” – vamos empurrar e funcionar assim. Não é ruim: ajudou nesse momento em que nós não tínhamos pró-reitores – eles ajudaram muito –, mas nós pensamos que para manter as escolas nós temos que ter minimamente tanto melhor estrutura física quanto de logística.

Perspectivas

Em entrevista ao Artefato, reitor faz uma “leitura” da universidade, explica as providências que tomou ao chegar, os problemas que diagnosticou e as perspectivas que se abrem para 2015

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Durante muito tempo, o stricto sensu funcionou com uma pró-reitoria exclusiva, e isso fez com que eles também se isolassem. de certa forma, desse convívio com o todo acadêmico. As escolas talvez tenham que alinhar o stricto sensu ao tecnólogo dentro daquela escola, para otimizar os recursos, as pessoas, os talentos. Para isso tenhamos até que trazer alguns cursos do mestrado e doutorado para cá (campus I), estão muito isolados lá na Asa Norte, e fazer com que eles dêem aula na graduação.

Gostaria que explicasse melhor como foi o processo de implantação das escolas. O senhor o fez por conta própria?

Não, eu tive o cuidado de respeitar o que está. Toda prudência aponta para que – quando você toma pé de uma situação – você não se precipite com mudanças, mas também não fique de braços cruzados. Então, quando existe uma estrutura, você tem que ter muita certeza do que fazer para mudar essa estrutura. Quando não sabe o que fazer, é melhor não fazer, e observar. Eu achei estranho que daquele projeto da reestruturação só um aspecto ficou, que foi o das escolas. Vocês lembram que as escolas foram propostas como uma estratégia de alinhar todas as três mantidas – Unileste, Facto e a Católica – para facilitar todas aquelas coisas que vinham depois. Então as escolas serviriam como guarda-chuva. Uma tinha quatro, outra cinco e nós, seis; com o mesmo nome facilitaria isto. Na verdade isso ficou por força de resolução; na verdade, não está no estatuto – está na resolução e funcionando. Mas a coisa está em um grau de tanta confiança interna entre nós que estamos conversando que não há nenhuma resistência a ter ou não ter as escolas.

Os diretores das escolas estão sofrendo bastante, no sentido de que não têm infra-estrutura, não construíram um diálogo de ponta a ponta. Então, praticamente, foram lançados a ter que fazer isso do zero. Você imagina, quem nunca esteve lá no campus Asa Norte para conversar com o stricto sensu, e estar numa relação de alinhamento a ele; e o pessoal de lá, que está acostumado a lidar com pró-reitor direto, não entende qual a função dele, porque também não está escrito em regimento como vai funcionar isso. A resolução é uma folha e meia – o que é a escola, minimamente –, agora, regimentar o funcionamento dela é outro trabalho, um negócio bem explicado. Como vão funcionar os detalhes, quem conversa com quem, quem responde pelo quê, etc. e isso não tem. Eles estão fazendo um improviso, e vocês têm que imaginar que isso não é fácil, está em processo de discussão interna sobre a viabilidade do modelo escola ou do modelo anterior de pró-reitorias. Mas está tudo muito tranquilo, porque ninguém está defendendo lobby de nada, estamos nessa fase de construção e vamos lentamente ampliar esse debate – sair das pró-reitorias para as escolas, das escolas para as coordenações, professores, os alunos, nas representações, para colher feelings disso –, porque não podemos achar que dentro de um gabinete tenhamos todas as ideias, e isso tem que ser conversado.

O seu mandato tem uma data de início. O senhor sabe quando acaba?

Eu exigi isso no primeiro dia (risos), muito embora, a qualquer

momento, posso sair. Você, para ser reitor, tem que ter um vínculo empregatício. Não se pode ser reitor sem ser docente, então a condição prévia para ser reitor é a comunidade acadêmica. Se a instituição pode, pelo direito privado, afastar um professor, eu posso ser afastado como reitor e meu mandato é dependente da minha condição de vínculo. Eu fiz questão de deixar isso muito tranqüilo e estabelecer até por força regulatória o período máximo que isso poderia durar, que é de quatro anos.

Isso pode depois de quatro anos ser objeto de recondução e pode nem chegar a quatro anos, dependendo da minha vontade; dependendo da vontade também de quem está superior a mim que é a mantenedora. Então isso está muito tranqüilo, muito aberto e sem pré-defesas. Minha preocupação foi de legitimar os processos, e deixar transparência nesses processos. Até fiz questão de, por escrito, estabelecer com a mantenedora independentemente do contrato como professor essas condições – me deixar livre e à mantenedora livre para a função de reitor. Eu posso até continuar como professor institucional e tudo mais. No momento, estou dando aula de doutorado na PUC de Goiás, até porque eu não podia deixar os meus orientandos, então tive que continuar.

Professor Gilberto confessa que fez uma avaliação sobre ficar ou não no cargo de reitor

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Qual foi a principal dificuldade encontrada ao assumir a Reitoria?Na verdade as escolas tinham se implantando em junho e eu entrei em julho, então estava “cru” nesse negócio – e já estamos assim, vamos tentar trabalhar minimamente como escolas. Talvez a maior dificuldade foi com o ingresso do ano letivo – conseguir dar tranquilidade ao processo acadêmico, professores e alunos; uma normalidade acadêmica para que as coisas, a partir de si próprias. pudessem voltar ao seu ritmo. Uma universidade se toca sozinha. Se todas as instâncias internas estão bem concatenadas, elas só se encontram nos colegiados para resolverem as grandes decisões, mas a rotina acontece naturalmente. Agora, quando você vai “subindo” as políticas é que isso vai ficando mais complexo. Essa rotina estava um pouco abalada pelos acontecimentos recentes.

Como o Senhor está conseguindo conciliar a reitoria da universidade com a presidência do CNE?

Olha, todos os presidentes que me antecederam foram reitores e não moravam em Brasília, então eu já levo essa vantagem (risos). Eu estou aqui, então qualquer coisa já respondo aqui, posso dar ‘um pulo’ lá e volto, e vice-versa. Eu já dediquei um dia por semana ao Conselho, então eu fico os quatro dias aqui e um dia no Conselho. Claro que as demandas como presidente do Conselho vão exigir mais no momento. Como agora, eu tive que ir a Sergipe para um outorga de honoris causa; vou estar em reuniões com o Ministro da Educação, essas coisas todas, mas que fazem parte de uma rotina acadêmica. Muitos reitores, exclusivamente no cargo de reitor, preferem muitas vezes uma agenda externa grande, de embaixadas, isso e aquilo; então eu vou reduzir essa cota e me dedicar. Porque estando no conselho nacional ao mesmo tempo em que eu estou na universidade, são institutos afins, tratam da mesma matéria. Por exemplo, estou na comissão de ensino a distância – e a EAD é justamente o problema que nós temos aqui –, é melhor que eu “mergulhe de pescoço” direto nesta questão; em latu sensu, a mesma coisa. O que eu estou fazendo, levando a comunidade aqui para as audiências públicas lá. Estamos todos juntos e isso está sendo muito legal, então não vejo nenhuma dificuldade porque estou em Brasília. Acho que sou o primeiro presidente que mora em Brasília, e isso está ajudando muito. Acho que é até privilégio por estar em Brasília, porque decide tudo. Agora no início, eu estou fazendo o planejamento estratégico do conselho, e isso exige mais sua presença. Depois que tudo estiver pronto e as partes funcionando, você só delega.

Há grandes dúvidas sobre as mudanças que estão sendo implentadas na Católica Virtual, em que há até dois sites com informações concorrentes. Teme-se que as mudanças privilegiem tutores em detrimento de professores, etc.

Nós estamos ainda definindo (com a professora Bernadete, tinha até reunião hoje à tarde). A grande questão foi que a Católica Virtual ela começou a passar por uma transformação ainda antes de eu chegar aqui, no sentido de que dentro do escopo do projeto de

reestruturação havia o projeto de reestruturação também no ensino a distância, para atender aquelas disciplinas que seriam dadas (haviam umas disciplinas também que iam alinhar todas as três mantidas, algo assim não é?). “Tutores” é como em todo EAD – aliás, professor pode ser tudo, né?! Tutor-professor isso é uma nomenclatura do marco regulatório. O marco regulatório do ensino a distância prevê até 10 tutores. O problema é que para aquele aspecto da alteração no projeto foi contratado um grupo, a pedido inclusive da gestão anterior, para renovação desse processo – e a mantenedora providenciou para que isso fosse alinhado. Mas novamente a reestruturação não foi adiante como grande projeto. O ensino a distância não está só ligado àquelas disciplinas, o EAD está ligado para fora; existe o EAD externo, que, aliás, é a grande força. Esse EAD externo que está passando por um alinhamento do modelo da Católica Virtual anterior para esse novo. Esse novo está tentando aproveitar os conteúdos dentro de uma nova linguagem, mais interativa, cheia de infográficos, algo mais moderno, e isso só pode ser feito pelo professor com a ajuda dessa metodologia. Então, o que se está tentando fazer é dar maior operacionalidade ao processo, porque ele é muito tradicional ainda de certa forma, embora tenha um resultado muito positivo do ponto de vista da avaliação.

O nosso processo da Católica Virtual por muito tempo ficou ligado a convênios com instituições, e esses convênios estão acabando; então quando acabar, acaba. Então, não tivemos uma expansão de mercado mais “agressiva”, positivamente falando, de lançar-se como oferta de curso; o que está acontecendo agora é a tentativa de reunir agilidade operacional com o ensino. Então a Católica Virtual está tentando encontrar, mas obviamente vai ter dificuldade, no início, de isso estar funcionando muito bem.

Estamos encontrando, sim, dificuldades preliminares, sobre como é que vai funcionar essa agilidade mesmo, no ensino efetivo. Foram sucessivas reuniões, até criei um grupo de trabalho para isso, não é a toa que situações como esta do site vão ocorrer. E tem aparecido reclamações pelo atendimento do aluno, justamente parecido como essa que você nos coloca. Então nós temos que admitir que não está pronto ainda, fica muito confuso, e não pode demorar muito, eu admito isso, mas está em função dessa tentativa de alinhar uma nova visão para fora com qualidade, dentro de uma agilidade, uma fluidez da comunicação – mas isso ainda não está funcionando.

Mesmo passando por todos esses processos administrativos que a Católica vem sofrendo nos últimos anos, ela ainda é uma universidade de peso, representatividade?

É, sim, por incrível que pareça (risos)! Eu acho que isso não afetou o patrimônio acadêmico dela. Por isso acho que a gente tem que “bater continência” para a história da instituição, e não simplesmente julgar. Nota-se que ela é respeitada, o Ministro pergunta – “e aí, como está a Católica? Tem que cuidar ela é importante!”. Quer dizer, para o Ministro estar perguntando e todos que eu encontro estarem perguntando também, é um sinal de que ela tem significado. Aliás, é uma preocupação para a sociedade brasiliense, afinal de contas ela é a segunda universidade

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Cauteloso, o reitor contextualiza os novos projetos para 2015

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daqui, não tem outra, e ela é quase a segunda opção da UnB, em grande parte, de professores, e faz um trabalho de pós-graduação que nenhuma outra privada tem, e isso repercute na sociedade.

Qual o principal projeto para o ano que vem?Estávamos conversando sobre isso, eu e os pró-reitores. Estamos

fazendo a pauta de alguns temas clássicos da academia, umas idéias muito legais de programas de extensão com alinhamento acadêmico – menos assistencial no sentido clássico e mais de interação –, que possa até ser objeto de TCCs – e sempre em parceria, vamos procurar inovar com os órgãos públicos, polícia militar, corpo de bombeiros, por área de conhecimento. Acho que tem que redesenhar a política da extensão, porque inclusive nos instrumentos de avaliação institucional a extensão é vista com outros olhos pela política pública. Ela não é mais vista como assistência. A assistência está toda hoje na filantropia com bolsas, Prouni, essas coisas; então a extensão tem que ser mais criativa, e ela tem que ter um ganho dos dois lados – não financeiro mas um ganho acadêmico –, e chegar na sua finalidade, que é interagir com a sociedade.

A gente pretende em 2015 construir isso. Na verdade eu tomei o segundo semestre para conhecer a universidade e me dar a liberdade de saber se quero ou não continuar com essa tarefa. Mas eu só aceitaria esse desafio se encontrasse a energia, confiança da mantenedora, confiança da comunidade acadêmica, principalmente, para fazer com que as energias boas que estão por aí se somem. A arte de liderança não é ser gestor, mas conseguir colocar todos juntos para a mesma direção e trabalhar. Foi criado um distanciamento entre a Católica e a mantenedora desnecessariamente; mas ao mesmo tempo a gente não dispensa de ver que temos problemas internos também, que toda instituição que é viva precisa mudar, precisa se auto-avaliar, porque senão ela engessa. Eu só acho que a mantenedora está entendendo que tudo aqui que ela pretendeu, como a reestruturação, ela pode devolver pra academia se auto-avaliar e descobrir os meios de ela

ser criativa a partir dela mesma, já é um grande saldo tudo isso. As crises são positivas. Se elas não chegam a um momento

radical de falta de caminho, elas podem nos fazer dar saltos quando a gente consegue avaliar o que aconteceu. Então vocês percebam que outro cuidado que eu tive foi de não herdar nenhum legado de achar culpados ou demitir as pessoas. Eu acho que isso é muito importante: todas as pessoas que estavam antes estão na universidade, são bons professores, estão todos aí emprestando o seu profissionalismo à instituição, sem precisar de terrorismo. Se a avaliação da instituição do ponto de vista de órgãos que regulam mostrou que ela está muito boa, é sinal de que, a despeito de tudo, fizeram um bom trabalho, então acho que isso tem que ser respeitado e talvez as mudanças que precisamos fazer tenham que surgir da nossa reflexão.

Uma mudança que diagnosticamos é que o setor administrativo está muito inchado, atrasado, obsoleto. Você deve sentir isso na ponta: ninguém consegue fazer nada online nessa instituição; vocês devem conseguir emitir boleto, no máximo – o resto não funciona. Na maioria das universidades o aluno, de casa, acessa tudo; aqui precisa de atendimento. Então isso foi fazendo com que se criasse um aparato, e nós não nos renovamos na área de informática, nossa wifi nunca funciona. Isso é um sinal de alerta para nós. Depreciação física, nós percebemos logo – banheiros, cantinas, alimentação, essas coisas estão muito depreciadas na instituição.

Contrariamente àquelas coisas todas acadêmicas, eu preferi – “vamos olhar primeiro a gestão, gente!”. Pode ser que a gente economize processos na gestão direta da universidade, na parte administrativa – fornecedores, espaços, funcionários, vamos aperfeiçoar tudo isso. Tirei o foco do acadêmico, para ver primeiro o administrativo, e descobrimos que, de fato, estamos muito aquém do modelo ideal de funcionamento de gestão ideal para uma universidade. Os alunos, em avaliação, reclamam muito mais de ordem estrutural do que acadêmica. Com wifi, se a wifi funciona, a instituição é ótima; se não funciona, o laboratório não funciona; se se quer irritar alguém, é não ter conexão. Hoje em dia, parece que “faltou água”: se não tiver sinal, o mundo acaba. Então você imagina o aluno nesse campus, com essa precariedade de comunicação virtual – são sinais concretos e temos que nos atentar para isso. Mas tem muito o que fazer ainda.

As escolas vão permanecer?Vão permanecer no seguinte sentido, que nós não podemos

fazer mudanças bruscas; para elas permanecerem ou não tem que ser avaliado. Essa certeza não temos ainda, então é o melhor instrumento, no momento. Até por respeito aos alunos – foi divulgado isso; até entender que talvez não seja, mas para chegar até aí um passo de consulta será dado. O processo de seleção das escolas foi interno, não partiu de mim até porque quando cheguei já estavam criadas. Talvez no futuro, quando as escolas, se vingarem como modelo, e estiverem em voo de cruzeiro tranquilo, talvez o processo seja mais democrático, mas está tudo por regimentar.

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Mudanças surpreendem Católica Virtual Polêmica

Um novo modelo de ensino a distância será implantado no primeiro semestre de 2015, mas mudanças despertam inquietação e preocu-pação entre os que trabalham no modelo atual

por Juliana Macêdo e Rafaela Brito

Disciplinas com duração de um mês. Alunos entrando no ensino superior

a distância antes mesmo de passarem no vestibular. Encontros presenciais uma vez por semana. Suporte acadêmico realizado por professores, mas sobretudo tutores. Essas mudanças têm movimentado e gerado preocupações em boa parte da equipe de educação a distância da Universidade Católica de Brasília (UCB).

As mudanças metodológicas foram planejadas pelos diretores de Operações EAD da UCB, Diniz Antônio Bradley de Souza Leão e Marcelo da Silva Nery. Juntos, apresentaram pontos de melhorias

para a nova modalidade da Católica Virtual. “Nossa participação é para contribuir com o processo de melhoria contínua dos indicadores relacionados ao número de alunos matriculados, sem abrir mão da qualidade e excelência dos cursos da católica EAD”, explica Marcelo.

De acordo com Marcelo Nery, após observar uma queda no número de alunos matriculados na graduação a distância da UCB, entre o primeiro semestre de 2013 e o primeiro semestre de 2014, a União Brasiliense de Educação e Cultura (UBEC) optou pela adoção de uma nova metodologia de ensino virtual. A decisão, contudo, pegou diretores e professores de surpresa.

Diretora de cursos virtuais e a distância da UCB, a professora Bernadete Cordeiro afirma que as alterações no modelo não resultaram de um pedido interno, o que gera incompreensão, já que a forma de ensino a distância da universidade sempre foi reconhecida nacional e internacionalmente. “Se nós temos notas máximas no Enade, se os cursos são muito bem avaliados pelo Ministério da Educação (MEC), por que a mudança?”, questionam os professores.

A justificativa apresentada, explica Bernadete, é que o novo modelo pode oferecer um produto mais acessível a todas as classes sociais, contudo, a diretora acredita

que o problema nunca foi o modelo. “Nosso modelo pode ser acessível. Nós sentimos sim, durante muito tempo, a falta de um marketing mais arrojado e uma melhor precificação, mas os nossos desafios eram apenas esses”, ressalta. Em comparação à Católica Virtual já existente, o novo modelo chega a ser até 54% mais barato.

Hoje, na prática, há duas Católicas Virtuais. Uma coordenada pela professora Bernadete Cordeiro; outra, pelos professores Diniz Leão e Marcelo Nery. Com ampla experiência em EAD, Diniz Leão foi convidado no início deste ano a apresentar um relatório de melhorias para o ensino a distância da UCB. Devido às propostas atrativas, o

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De acordo com as mudanças previstas, aulas presenciais serão mais frequentes, mas não obrigatórias

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professor foi chamado a montar uma equipe de trabalho que pudesse dar suporte à implantação do novo modelo, o que culminou na contratação do professor Marcelo Nery, formado em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Vestibular Entre as mudanças que entram

em vigor a partir do primeiro semestre letivo de 2015 está o processo seletivo. Nas novas diretrizes, o aluno pode dar início às aulas antes de realizar o vestibular, que continua sendo elemento obrigatório. O período para agendamento da prova é de até um semestre.

Segundo o diretor de Operações EAD da UCB, Marcelo Nery, o novo modelo será apenas dissociado da ordem cronológica que tradicionalmente é feita. “Nós estamos apresentando uma proposta de olhar não como um processo excludente, mas um momento de sondagem dos conhecimentos básicos desse estudante”, explica. “O objetivo é utilizar essa informação para cumprir a exigência legal do processo seletivo e aproveitar para atuar na melhoria contínua desses estudantes”.

A diretora Bernadete Cordeiro afirma que o vestibular ajuda a conhecer os alunos que irão ingressar na universidade, porém destaca preocupações trazidas pelo tipo de seleção do novo modelo. “Sem um processo seletivo no início do semestre fica mais difícil o conhecimento sobre o aluno que estamos recebendo”, afirma.

Disciplinas As matérias que antes eram

oferecidas em um semestre passam agora a ter duração de apenas um mês. No novo desenho metodológico cada uma das disciplinas será ofertadas em forma de módulos, terminando e iniciando sequencialmente, de forma independente umas das outras.

Segundo Bernadete, o questionamento inicial da equipe de educação a distância foi se algumas disciplinas estariam adaptadas a esse modelo. “Quando você coloca isso em um mês, você produz uma carga muito grande de conhecimento. Dizem que haverá diferenciação para certas matérias, mas isso ainda não está tão claro”, preocupa-se.

Encontros presenciais Os alunos que escolhem a

modalidade virtual de graduação precisam da flexibilidade de horários que é oferecida, não tendo a obrigatoriedade constante de frequentar os polos credenciados. A metodologia atual de educação a distância da UCB prevê apenas quatro encontros por semestre, mas realidade deve mudar para os novos estudantes.

De acordo com a nova metodologia, os encontros presenciais passam a ser uma vez por semana. O diretor Marcelo Nery explica que a medida tem o objetivo de aumentar o contato entre alunos e professores e, consequentemente, diminuir a evasão causada pelo desinteresse gradativo em relação às disciplinas.

“Quando o estudante faz a opção pela modalidade a distância, ele quer a flexibilidade de horário. Por isso, os encontros semanais poderão ser agendados”, explica Marcelo. A presença nos encontros passa a não ser obrigatória, não havendo punição para as faltas e nem a necessidade de apresentação de uma justificativa. “Estamos deixando na autonomia do estudante a sua própria formação”, completa.

Entretanto, a diretora Bernadete Cordeiro destaca que o modelo pode causar prejuízo aos alunos que moram longe dos polos. “A nossa preocupação é de que os alunos não possam estar presentes nos encontros semanais”.

Diferenças em sites e valoresO período de inscrições para o processo

seletivo de 2015 já teve início, porém o processo tem gerado algumas confusões, em razão da existência de dois sites.

Embora o aluno tenha acesso à metodologia e informações sobre o modelo já existente de educação a distância no site da Católica Virtual (www.catolicavirtual.br), ao se inscrever, o aluno é redirecionado, quando vai se matricular, para o site com o novo método de ensino (www.catolicaead.com.br).

No momento da matrícula, os novos alunos entrarão automaticamente no novo modelo. Porém, pode haver confusão devido à falta de leitura prévia antes de efetuar a inscrição, uma vez que as metodologias entre uma Católica Virtual e outra são diferentes, bem como inclusive as mensalidades (valor menor no novo modelo).

Foto: Douglas Souza

Marcelo Nery tenta implantar o novo modelo

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Independente dos afazeres e destinos, o dia dos professores começa com um bom café. Na

Universidade Católica de Brasília (UCB), é comum ver docentes acompanhados do famoso copinho de café, mas alguma vez você já se perguntou onde e por quem a bebida é feita no Campus?

Para que todos possam saborear a bebida assim que chegam na Universidade, o trabalho na copa começa cedo. As primeiras garrafas de café ficam prontas às 7 horas da manhã, e até às 9 horas, 71 setores da UCB já estão com o seu café quentinho. Para o preparo das 86 garrafas que são distribuídas só pela

manhã entre os setores, são usados 5 kg de café em pó da marca Export.

Maria de Lourdes, 44 anos, e Rosangela Helena, 35 anos, são as copeiras responsáveis pelos 172 litros de café produzidos pela manhã. Lourdes, que trabalha há quatro anos na copa, diz que ultimamente as críticas estão sendo boas. “Ninguém reclama do café. Está tudo ótimo”, fala com bom-humor. Rosangela, que antes trabalhava em uma escola de inglês e informática, conta que adora trabalhar na copa, mas seu verdadeiro sonho é ser decoradora de festas. Lourdes também gosta, mas diz ter saudade de trabalhar como cuidadora de idosos.

Café que não falta nem sobraDuas copeiras preparam os mais de 170 litros de café feitos e consumidos por manhã dentro da Universidade

O café é feito em um refeitório próximo ao ginásio da Universidade. Lá, a bebida é produzida em vasilhas grandes, e a receita segue a forma clássica e tradicional: o pó e a água são fervidos juntos, e depois o líquido é coado. A cozinha é simples e tem um tamanho mediano, porém as funcionárias reclamam da falta de ventilação na hora de preparar o café. Na parte da tarde e da noite, o café é feito por outras duas copeiras, Edite e Kátia, e é servido das 13h30 às 15h.

Na sala dos professores do Bloco K, Renato Bernardes, 43 anos, é o responsável por buscar o café

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de manhã e de tarde. Ele diz que durante o dia são servidas quatro garrafas, e que na hora do intervalo todas já estão vazias. “O café daqui é 100%”, completa. Normalmente o café servido aos professores é sem açúcar. José Roberto, 40 anos, trabalha na Pastoral da Universidade, e afirma que o café agrada todo mundo que trabalha com ele. “Não é forte, nem fraco, para mim está no ponto certo”, diz.

O hábito de tomar café surgiu na cultura árabe, mas foi somente durante o Império Otomano que o café chegou à Europa. Depois disso, o cultivo da planta foi se espalhando por outras colônias, até chegar ao norte do Brasil. Hoje, somos o primeiro produtor e segundo maior consumidor desse produto.

Todo esse consumo de café também tem a ver com o meio-ambiente, pois geralmente é feito em copos descartáveis cujo plástico demora séculos para ser absorvido pela natureza. Aurenice dos Santos, 53 anos, é uma das funcionárias da limpeza. Ela diz que depois de recolhidos da sala dos professores, os copinhos plásticos usados para beber o café são separados do resto do lixo, e depositados no container geral para serem reciclados.

Por semana, os setores da Universidade consomem, somente no turno matutino, 860 litros de café. Se levarmos em conta a quantidade consumida por ano, podemos dizer que com seus aproximadamente 206.400 litros de café por manhã, a UCB é, definitivamente, cafeinada.

por Carolina Vajas e Fernanda Pinheiro

Maria de Lourdes e Rosangela Helena sao as copeiras responsáveis pelo café manhã

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UniversidadeArtefato 19

Competição

“Mais dois quilos, mais cinco, mais dois

quilos.” Os gritos vindos das torcidas espalhados pelo auditório do Bloco Central da Universidade Católica de Brasília (UCB) eram motivados pelos grupos que mostravam a resistência de suas construções no primeiro desafio da Ponte de Macarrão dos alunos de Engenharia Civil. Durante o desafio as pontes eram avaliadas conforme critérios de estática e coeficiente de resistência, que é calculado pela relação entre o peso da ponte e o quanto ela suporta.

O evento foi realizado dia 14 de novembro, e contou com a presença de mais de 200 estudantes, para a

Macarrão sai da cozinha e se transforma em projeto de ponte na UCBEstudantes de engenharia provam que macarrão pode ter outras utilidades interessantes, além da cozinha

por Alex Santos e Patrícia Marques

apresentação dos trabalhos de 27 grupos inscritos do curso de Engenharia da UCB e uma equipe da Universidade de Brasília (UnB). O Grupo Bauclub da UnB, formado somente por meninas, explicou que ao saber da competição viram a oportunidade de vencer. “Não temos essa competição na UnB. O que temos é somente desafios específicos para disciplina de Mecânica dos Sólidos. Como já havíamos feito alguns protótipos na disciplina , pensamos que nosso projeto passaria o recorde, mas infelizmente só aguentou 26, 720 kg”, disse Gabriela Silva.

De acordo com Glauceny Medeiros, coordenadora do curso de Engenharia Civil, o objetivo da competição era fazer com que os alunos pudessem

desenvolver estruturas simples, mas com habilidades de força e estática capazes de suportar as distribuições dos pesos no centro da ponte. “É uma boa oportunidade para os alunos associarem o que aprenderam em sala de aula a uma atividade em prática. A diferença entre a ponte real e a ponte de macarrão é somente o material que foi utilizado. Os cálculos necessários para se projetar são os mesmos”, explica a professora.

Os vencedores O grupo “ABolonhesa”

formado pelos alunos Melina Franco, Paula Rios, Hugo e Vinícius de Oliveira foram os ganhadores da competição. Resistindo o peso de 178 kg, a ponte vencedora deixou muitos da plateia surpresos. Segundo a equipe, para elaborar o projeto foi fundamental os conhecimentos básicos da disciplina Mecânica dos Sólido. O aluno Vinícius de Oliveira afirma que mesmo com as dificuldades enfrentadas na execução da ponte, a meta da equipe era chegar nos 200 kg. “Desde o início queríamos entrar na competição para ganhar e bater o recorde nacional de 234 kg. Infelizmente não atingimos a carga do projeto por causa das falhas na execução de apoio”, relata Vinícius.

Outro destaque da

competição foi o grupo Macarronados. O estudante Rafael Moraes explicou que para iniciar o projeto contou com a ajuda dos professores. “Pedimos orientações para os professores, para saber qual seria a estrutura mais simples e estável de se fazer uma ponte com macarrão. Estávamos sem ideia”, declara Rafael. Para os estudantes a meta era atingir os 20kg, mas foram muito além disso.

A equipe ficou em segundo lugar com peso de 77 kg, deixando os avaliadores impressionados. Para o professor Alejandro Perez, o grupo foi a grande surpresa da competição, uma vez que alguns dos estudantes não tiveram aula da disciplina básica para o projeto. “No começo acreditamos que íamos ganhar, mas quando a ponte a Bolonhesa alcançou 178 kg, ficou difícil de acreditar na vitória, mas continuamos na expectativa.

De acordo com a professora Glauceny , após a UCB fechar uma parceria com o grupo PET, a competição será realizada nos próximos semestres para os alunos de engenharia. “Foi uma surpresa a quantidade de inscritos, não esperávamos. Pelo resultado positivo a expectativa é que o evento seja um projeto fixo aqui da Católica”, diz Glauceny.

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Desafio lúdico atraiu mais inscritos que o esperado

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A partir do segundo semestre de 2015, entram em vigor as novas diretrizes curriculares do curso de Jornalismo, que o separam e “emancipam” do curso de Comunicação. Prevendo mudanças no que diz respeito às disciplinas ministradas, as medidas foram aprovadas no dia em que se comemoravam os 205 anos da imprensa no Brasil, 01/06/2014, data associada ao início da publicação, em Londres, do jornal “Correio Braziliense”.

De acordo com o texto publicado, as novas diretrizes se apresentam no contexto em que o curso tem sofrido alterações técnicas e teóricas, necessitando cada vez mais de integração entre

Jornalismo se “emancipa” da ComunicaçãoEm 2015 entram em vigor novas diretrizes curriculares para o curso de Jornalismo, seguindo tendência que valoriza especialização crescente das profissões de comunicação

por Marina Maria e Thiago Baracho

Debate

modelos midiáticos já existentes, Thiago tem opinião conclusiva: “Pelo contrário. A gente tem uma área de convergência digital que está crescendo muito rápido. As novas diretrizes se propõe a atualizar esses profissionais, para que possam criar em novos ambiente”, argumenta o estudante.

teoria e prática desde o começo para que seja possível preparar o novo profissional para um desgastante e competitivo mercado de trabalho já consolidado e que exige mais a cada dia.

Até o mês de maio de 2015, as novas grades curriculares devem estar prontas. Na Universidade Católica de Brasília (UCB), a comunidade acadêmica tem opiniões muito distintas no que diz respeito a validade dessas mudanças. O estágio supervisionado está em pauta nesse contexto, tendo em vista que é parte importante na integração entre teoria e prática, conceito amplamente explorado nas novas diretrizes.

O elementos do jornalismo segundo Bill

Kovach e Tom Rosenstiel

1. A primeira obrigação do jornalismo é com a verdade.2. Sua primeira lealdade é

com os cidadãos.3. Sua essência é a disciplina

da verificação4. Seus praticantes devem manter independência

daqueles a quem cobrem.5. O jornalismo deve ser um monitor independente do

poder.6. O jornalismo deve abrir espaço para a crítica e o

compromisso público.7. O jornalismo deve empenhar-se para apresentar o que é significativo de forma

interessante e relevante.8. O jornalismo deve apresentar as notícias de forma compreensível e

proporcional.9. Os jornalistas devem ser livres para trabalhar de acordo com sua consciência.

PolêmicaLuís Carlos Iasbeck, atual

diretor do curso de Comunicação Social da Católica manifestou-se publicamente a respeito das novas diretrizes no dossiê sobre o tema publicado na revista Cult. O professor, que é pós-doutor em Comunicação pela Universidade Católica de Lisboa, criticou a comissão que aprovou as novas diretrizes, afirmando que ela não é representativa em relação à categoria e afirmando que seus membros são “jornalistas conservadores e reacionários”.

Muitos estudantes da UCB estão cientes desse processo de transformação, porém poucos se propuseram a realmente analisar o material que contém 12 páginas e faz uma contextualização crítica e teórica do curso antes de apresentar a justificativa e o real conteúdo das novas diretrizes.

Thiago Siqueira, diretor político do Centro Acadêmico de Comunicação da Universidade, afirma que analisou o conteúdo com cuidado e tem uma opinião que diverge da diretoria do curso. “O conteúdo das diretrizes altera a qualidade do ensino. Ao propor que 50% do curso seja teórico e os outros 50% sejam de matérias práticas, é possível que o curso passe a formar um profissional muito mais preparado e inserido no mercado de trabalho”, argumenta o estudante.

Sobre o risco do jornalista ser formado para acompanhar os No kit do jornalista: computador, café, balinha e coragem

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Na rota do barulho, UCB estuda impacto de voos

Pesquisa

Há sete anos, pesquisadores do curso de física da Universidade Católica de Brasília (UCB) iniciaram estudos sobre perturbação sonora de tráfego aéreo

Professor Edson Benício, integrante do projeto de pesquisa Incômodo Sonoro Decorrente da Operação do Aeroporto Internacional de Brasília

Foto: Gabriela A

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por Jéssica Xavier

Você, aluno da Universidade Católica de Brasília, provavelmente já teve a experiência de assistir a uma aula interrompida pelo estrondoso barulho de um avião completando a sua rota. Este incômodo diário virou objeto de pesquisa na universidade. Há 14 anos, o curso de física da UCB pesquisa a acústica ambiental.

Os estudos têm como objeto fontes de ruídos as mais diversas, como sons emitidos em academias, templos religiosos, estandes de tiro da polícia, ambientes escolares. Os resultados já foram apresentados em congressos internacionais, tendo gerado artigos publicados em revistas especializadas de diversas áreas, de transportes a otorrinolaringologia. O interesse pelo tráfego aeronáutico “decolou” há cerca de sete anos.

Situada em uma região incluída na rota da primeira pista de pouso do segundo aeroporto mais movimentado do país, o Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek, a UCB é um ótimo “observatório” para os pesquisadores. Os que trabalham ou estudam no Campus I em Taguatinga percebem facilmente os horários de picos do tráfego aéreo. O alto som propagado pela rota dos veículos aeronáuticos chega a

ter intervalos de apenas três a cinco minutos, fruto do trânsito de 14 a 16 aviões por hora, segundo o professor Edson Benício Carvalho Júnior.

“Horrível”Integrante do projeto de

pesquisa sobre “Incômodo sonoro decorrente da operação do Aeroporto Internacional de Brasília”, o prof. Edson Benício contextualiza o problema, “Quando a Universidade Católica foi projetada, o tráfego de Brasília não era tão intenso, de modo que, atualmente, sua arquitetura não dispõe de um projeto que beneficie a acústica das salas de aula para que haja um melhor isolamento do ruído”.

Diversos estudos produzidos por graduandos e mestrandos, sob a coordenação do prof. Sergio Luiz Garavelli, buscam calcular parâmetros específicos para alcançar a qualidade acústica em salas dos blocos da universidade que são constituídas de materiais muito sensíveis à absorção do som. O incômodo tem horário programado. Numa observação por período integral, feita pelo Artefato, foi possível definir que os horários com maior veiculação aérea são: manhã – de 09h às 10h; tarde – de 15h às 18h; e noite – de 22h às 23h.

Manuela Machado, aluna do curso de Publicidade e

Propaganda, reclama que as aulas, no período noturno, são sempre interrompidas pelo alto som que atrapalha a propagação da voz dos professores em sala de aula. “É horrível! A gente perde a concentração com a pausa que o professor tem que dar, o sinal da WI-FI cai e a rede de celular falha”, afirma.

Segundo o prof. Benício, “vários estudos já foram feitos

aqui, sobre a qualidade acústica das salas. Na Católica, as salas são feitas de materiais muito reflexivos, não têm materiais que permitam uma melhor absorção do som, que se propaga muito e gera uma qualidade ruim. O professor às vezes tem que falar mais alto e o aluno tem dificuldade para ouvir. Atrapalha a relação do processo de aprendizado, dependendo da intensidade do ruído”.

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Alta intensidade seduzno Cross Fit

Diferente do treinamento funcional, que visa melhorar as funções vitais para o dia-a-dia, o crossfit explora movimentos mais intensos

por Amanda Costa e Jéssica Duarte

Jovens

Esporte22 Artefato

Puxa, empurra, pula, agacha, sobe, corre, gira. Diferente do treinamento funcional,

que visa melhorar as funções vitais que a pessoa precisa para realizar atividades do dia-a-dia, o crossfit é uma atividade bem mais agitada, que realiza movimentos em alta intensidade.

O treino funcional era uma alternativa para quem não gostava de musculação, já que tirava a pessoa dos movimentos mecânicos e eixos definidos ou isolados, trabalhando o corpo como um todo, com exercícios mais variados e que saem da monotonia do ambiente das academias com aparelhos fixos e séries repetidas.

No “cross”, como é popularmente apelidado pelos praticantes, são usadas aparelhagens com mais cargas e mais repetições de movimentos, com exercícios inspirados em ginástica olímpica, levantamento de peso, corrida, entre outros esportes.

CaloriasAo fim de um treino funcional,

que tem em média uma hora, o praticante perde em média 460 calorias, dependendo da pessoa e da intensidade do treino, conquistando com o tempo, músculos tonificados e alongados, uma postura melhor e um melhor condicionamento físico e cardiorrespiratório. Já no crossfit, o praticante perde em média 800 calorias.

Segundo o professor Leonardo de Paula, da Academia Gladius, no crossfit a ideia de composição corporal e um corpo cada vez mais bonito vem com o tempo, agregada a três fatores: alimentação, descanso e treino. “Uma das vantagens do crossfit é que ela deixa você num estado de queima por até 72 horas, mesmo que você não faça o exercício no período”, afirma o professor.

Dono de um físico forte e aparentemente bem definido, o empresário Saulo Duarte abandonou a musculação depois de 11 anos em academias convencionais. “Era chato, estava indo por ir, não estava mais mudando nada”. Há pouco mais de um ano, vem praticando o crossfit e afirma as mudanças não acontecem somente por fora.

“Com a musculação eu saí dos 74 para os 97 kg. Fui para o crossfit e ele exigiu bem mais de outros músculos e muito condicionamento físico do que na academia. Hoje eu estou com 91 kg, só que em relação a gordura corporal eu estou muito mais magro, muito mais forte e rápido. Canso bem menos para correr, várias coisas que faço já não fico suado, como esses dias fazendo musculação em uma academia”, diz.

SedentarismoSegundo pesquisa divulgada

pelo IBGE em 2012, 80% dos brasileiros são sedentários. Mas é possível organizar horários, manter

uma boa disciplina e alimentação para fazer pelo menos 30 minutos de exercícios diários.

Para o professor Leonardo de Paula, qualquer pessoa é capaz e precisa praticar atividade física, porém é preciso escolher o seu adequadamente, porque não adianta fazer algo só por fazer.

“Se você gosta, o resultado que busca chega independente da atividade física que você pratica, pode ser musculação, treino funcional ou com o crossfit, só

depende de cada um. Você pode ser um atleta ou fazer do treino uma brincadeira, um momento de descontração,” diz.

Dandye Estrela não se adaptou aos treinos funcionais. Para ele, a musculação não pode ser trocada por nenhum outro exercício. “Fiz treino funcional por um tempo, mas, não era o que eu queria, meu objetivo é ganhar mais massa, com a musculação eu consigo isso mais rápido; não me adaptei ao estilo de treino”, afirma.

Foto: Valéria Cristina

Poucas pessoas usam seu tempo para fugir do sedentarismo

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CulturaArtefato 23Foto: D

iogo Neves

“Todos sabemos que arte não é verdade. A arte é uma mentira

que nos faz compreender a verdade, pelo menos a verdade que podemos compreender.” Essa frase de Pablo Picasso pode inspirar a compreender o Cinco, obra criada pelo artista plástico e ex-professor da Universidade Católica de Brasília Newton Lino Scheufler.

Iniciado em 2002, o Cinco foi produzido em 14 meses e está localizado no Hall de entrada do edifício São Gaspar Bertoni, ou mais popularmente conhecido como Bloco M, ou “Melancia”. Rico em história, arte, religião, mitologia e ciência, ele não fica despercebido por alunos, professores e funcionários que passam sob ele, mesmo concentrados nos afazeres diários.

O convite para produzir o mural, surgiu logo após a inauguração do Bloco M, em 1999. Scheufler já havia pintado o retrato dos cinco patronos da Instituição, quando foi

Cinco: desafio e homenagem a sensibilidade e inteligênciaOnde o olho humano não chega naturalmente, a fotografia pousa, e faz revelar detalhes sobre o instigante painel no Bloco M

por Amanda Bartolomeu, Bianca Amaral e Carolina Matos

Arte

convidado a elaborar um projeto do painel, inaugurado no dia 24 de outubro de 2003 pelo então reitor, prof. Guy Capdeville.

Referências à figura do Cristo ou da mitológica Medusa são facilmente identificáveis, mas formam apenas parte de uma obra composta por muitas citações de grandes artistas clássicos, como Velásquez, Boticelli, Picasso, Mondrian e Klimt. Newton fez homenagens a cada um deles introduzindo elementos intelectuais, morais e estéticos.

As cores – com um azul “Newton Scheufler” em destaque – e a textura chamam muita a atenção, recheadas por muitas inscrições, ilegíveis a olho nu, em sua maioria, mas acessíveis ao olho mecânico da câmera fotográfica, que ajuda o leitor do artefato a se regozijar com os inúmeros detalhes que flagra e faz ver e conhecer, aumentando as possibilidades de leitura da obra.

“Tempestades habitam meu peito. Platão tinha pesadelos com cavernas” Arte, mitologia e ciência compõem painel pintado por ex-professor

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Cultura Artefato

“Se Deus fez o homem, Deus pensou no prazer”De ex-padre e ex-professor a escritor, trajetória do último gestor do projeto Crear explica a admiração, solidariedade e carinho de ex-alunos e colegas

por Guilherme Rocha

Pensador

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Era uma manhã cinzenta. A luz do sol refratava no espesso teto de nuvens do céu naquele

dia. A chuva que era fina ia ficando mais forte. Enquanto isso, ao som da campainha, surgia na porta lateral uma figura sorridente, de cabelos curtíssimos e bem branqueados pelo tempo. Jaqueta preta por cima de camisa social azul, prontamente convida a equipe do Artefato a entrar. “Espero que não se incomodem de entrar pela porta da cozinha”, ri-se.

José Lisboa Moreira de Oliveira, 56 anos, ex-padre missionário, professor-doutor, escritor e coautor do livro Teologia do Prazer, escrito em co-autoria com a esposa, psicóloga, foi o último coordenador do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (Crear) da UCB. Até o ano passado, Lisboa, como é conhecido, atuava a maior parte de suas horas semanais na coordenação do projeto, extinto no final do ano passado, para a criação do Núcleo de Formação Geral, setor responsável por todas as disciplinas de formação humanística de exigência do Ministério da Educação (MEC) e comuns a todos os cursos.

Com o fechamento do projeto, Lisboa teve sua carga horária reduzida, sob justificativa do baixo número de alunos ingressantes e inscritos nos últimos semestres para cursar as disciplinas de ética e antropologia da religião, fato que culminou em sua saída do quadro

Após deixar a universidade, o professor José Lisboa vive um novo recomeço. Com a esposa, escreveu Teologia do Prazer

docente da universidade. Ao lado de sua esposa

e companheira, Ana Maria Guilhermina, ele conta, que depois de 25 anos à frente da Pastoral Vocacional Missionária dos estados de Sergipe e Bahia, decidiu deixar o sacerdócio e seguir adiante ao lado de sua esposa, amiga e colaboradora dos tempos de pastoral.

Vivendo em um apartamento mobiliado discretamente no Riacho Fundo 1, Lisboa recebe apoio e cuidado dos amigos e da esposa na luta com o câncer desde o ano passado. No mutirão solidário estimulado por um grupo de professores, os primeiros cem exemplares do livro Teologia do Prazer foram esgotados rapidamente.

Nos últimos dois anos, ele se dedicou a pesquisar, ao lado da esposa psicóloga, a origem biológica e espiritual do prazer, avaliando a inclinação e o desejo do ser humano para essa sensação de bem-estar – e a origem do preconceito existente sobre o tema. “A sociedade ocidental tem medo do prazer pela Igreja telo transformado em algo negativo, em pecado. Mas se Deus fez o homem, Deus pensou no prazer e o colocou no ser humano tal qual ele é, físico, biológico e divino”, sustenta.

Contudo ele defende que toda busca exagerada e individualista pelo prazer faz mal. “O prazer sexual-genital não é tudo do

prazer. Prazer é o bem-estar, é o viver bem. E jamais devemos aceitar que para alguém obter prazer outra pessoa precise sofrer ou ser diminuída” acrescentou.

Para Lisboa, o livro Teologia do prazer é fruto de esforço, amor e, claro, prazer. “O processo de pesquisa e escrita é como um filho que vai sendo gerado. Você vai vendo crescer, tomando forma, até que um dia nasce, amado e cuidado, do jeito que imaginamos”, compara.

Serviço

Teologia do Prazer, de José Lisboa e Ana Maria Guilhermina, está sendo vendido na secretaria da capela do bloco Central a R$30. A entrevista realizada com o professor José Lisboa sobre o livro pode ser lida no site www.pulsatil.com.br.

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