401 R E S U M O Apresentamos o resultado de um trabalho efectuado em laboratório, tendo por base um conjunto de artefactos líticos recolhido na prospecção desenvolvida nos terraços fluviais da margem sul do rio Zambeze, no ano de 1955, ou seja, durante a 6.ª e última campanha da Missão Antropológica de Moçambique (MAM), da antiga Junta de Investigações do Ultramar (JIU), pelo Prof. Santos Júnior. Estes elementos materiais encontram-se hoje no acervo do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), para onde foram transferidos pela autora, de acordo com aquele professor, para poderem ser analisados. A área em estudo corresponde a um tipo de estações denominadas de “ar livre”, localizadas na zona do Panhame (que é também o nome de um afluente da margem sul do Zambeze) na província de Tete, a saber: Samuane, Inhacaíua, Mater de Chevula I, Inhacurungo, Nhamezinga, Chinduta e Ramal de Carinde. Os resultados obtidos assinalam os aspectos da evolução tecnológica do género Homo ao longo do Plistocénico naquela região, cuja estratégia de talhe terá sido apre- endida pelas sucessivas gerações: proporcionando-lhes a sobrevivência e o desenvolvimento de um equipamento que permitiu explorar de um modo continuado os recursos do ecossis- tema no continente africano; além de deixar mais algumas pistas para o estudo da cultura material da Idade da Pedra no território de Moçambique. A B S T R A C T We present the result of the research undertaken in the laboratory on a set of stone artefacts collected in the river terraces on the southern bank of the Zambezi River, in 1955, during the “6.ª Campanha da Missão Antropológica de Moçambique” (MAM) (the 6th and last campaign of the Mozambique Anthropological Mission) of the former “Junta de Investigações do Ultramar” (JIU) (Overseas Research Institute) by Prof. Santos Júnior and are held today in the “Instituto de Investigação Científica Tropical” (IICT). The studied area Artefactos líticos das “estações” dos terraços fluviais da margem sul do rio Zambeze – província de Tete, Moçambique: uma primeira abordagem MARIA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES * REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 401-482
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Artefactos líticos das “estações” dos terraços fluviais da ... · carta de Moçambique e localização das estações ... Fig. 3 Aspecto das cascalheiras dos terraços de
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R E S U M O Apresentamosoresultadodeumtrabalhoefectuadoemlaboratório,tendoporbaseum
held today in the “Instituto de Investigação Científica Tropical” (IICT). The studied area
Artefactos líticos das “estações” dos terraços fluviais da margem sul do rio Zambeze – província de Tete, Moçambique: uma primeira abordagem
MARIAdACONCEIçãOROdRIgUES*
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 401-482
Maria da Conceição Rodrigues Artefactos líticos das “estações” dos terraços fluviais da margem sul do rio Zambeze – província de Tete, Moçambique: uma primeira abordagem
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Propomo-noscomonossoestudocontribuirparaoconhecimentoevalorizaçãodeaspectosdo longopassadodoHomemnoterritóriodeMoçambique, tendocomobaseumconjuntodeartefactoslíticosprovenientesdeseteestações,asaber:Samuane,Inhacaíua,MaterdeChevulaI,Inhacurungo, Nhamezinga, Chinduta e Ramal de Carinde, localizadas, em 1955, nos terraçosfluviaisdamargemsuldorioZambeze,duranteasextaeúltimacampanhadaMissãoAntropoló-gicadeMoçambique(MAM),peloProf.SantosJúnior.
AinformaçãodisponívelsobreaIdadedaPedranoterritóriodeMoçambiqueéactualmentevastaemtermosderegistosefoisendodesenvolvidaaolongodoséculoXX.Olimiardasactivida-des de investigação no campo da Antropologia e Arqueologia teve lugar após a análise críticaquantoaoatrasodaexpansãodo“cientismo”(MendesCorrêa,1936inPré-História de Moçambique—Um plano de Estudos)noespaçoqueemÁfricavinhasendomantidosobaautoridadedoEstadoPortuguês,provavelmentepordificuldadesvárias,nomeadamenteasfinanceiras,parafomentaresseinteressepelopassadodoHomemafricano.
Numaperspectivadeanálisedepovoamento,eutilizandocomoelementodecomparaçãoosartefactos líticos provenientes de horizontes crono-culturais aceites e consagrados nos estudosarqueológicos, muito embora sem a realização de novos trabalhos de campo, vamos utilizar aterminologiaeametodologiaquemelhorseadeqúeaoestudodoselementosmateriaisrecolhidosnas“estações”referenciadas.
Procurou-seefectuaraclassificaçãotipológicadoconjuntodeartefactoslíticosquechega-ramaténós,osquaiscorrespondemaperíodosemqueavidasebaseavainicialmenteemactivida-despredadorasenacolecta.Paraasuacaracterização,iremosaprofundarotrabalhoaoníveldosartefactos dominantes, como sejam os “choppers”, “chopping tools” (segundo a terminologiacorrenteanglo-saxónicaparaaÁfricasubsaariana),emqueosraspadoressãonumerososeapre-sentamigualmentediferentesmorfologias,e,também,procurarparalelosparaasindústriasempresença.
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Ostrabalhosdeprospecçãodecorreramnasmargensdaquelesrios(Fig.1’),easrecolhasdosartefactoslíticosforamefectuadasnosterraçosfluviais,constituindoestesumtestemunhoinilu-dível da sua antiguidade; tendo-se conservado talvez alguns deles em pontos que não ficariammuitodistantesdolocalondeteriamsidoabandonadosoutalhados.
Oslugaresdeacampamento/ocupaçãodogénero Homonaquelaárea, ocorriammuitoprova-velmentepertodaágua,emsítiosemquesepodiadispordeabundantequantidadedeseixosrola-dos,matéria-primanecessáriaparaaproduçãodosutensíliosquegarantiamasuasobrevivência,sem deixar de atender às circunstâncias impostas pelas estações do ano. As orlas próximo daszonasdesavanadecapim,ondehaviapasto,seriamigualmentelocaisescolhidos,porqueatraíama concentração de animais, nomeadamente os gregários (Clarke, 1973, p. 98; Phillipson, 1977,p.27,1994,p.78).
OsdadosfornecidospelaCarta da Pré-Históriade Moçambique(SantosJúnior,1950;Rodrigues,2000,p.275) assinalamqueasestaçõesdaESAconhecidasnoterritóriodeMoçambiqueestãolocalizadasnazona interior,principalmentenaprovínciadeTete,muitoemboraseencontremtambémnasprovínciasdegazaeMaputo.Verifica-seaindaqueestas“estações”selocalizamprefe-rencialmentenosterraçosfluviais,encontrando-seosartefactoslíticosnoslocaisparaondeforamarrastados,queéumadasrazõespelaqualsómuitoraramenteosartefactoslíticosdestetipode“estações”sepodemencontrar,emtermosarqueológicos,em“contextodedeposiçãoprimária”.Têmdeconsiderar-seainda,osfactorespós-deposicionais.
Ostrabalhosdeprospecçãodecorreramnasmargensdaquelesrios(Fig.1’),easrecolhasdosartefactoslíticosforamefectuadasnosterraçosfluviais,constituindoestesumtestemunhoinilu-dível da sua antiguidade; tendo-se conservado talvez alguns deles em pontos que não ficariammuitodistantesdolocalondeteriamsidoabandonadosoutalhados.
Oslugaresdeacampamento/ocupaçãodogénero Homonaquelaárea, ocorriammuitoprova-velmentepertodaágua,emsítiosemquesepodiadispordeabundantequantidadedeseixosrola-dos,matéria-primanecessáriaparaaproduçãodosutensíliosquegarantiamasuasobrevivência,sem deixar de atender às circunstâncias impostas pelas estações do ano. As orlas próximo daszonasdesavanadecapim,ondehaviapasto,seriamigualmentelocaisescolhidos,porqueatraíama concentração de animais, nomeadamente os gregários (Clarke, 1973, p. 98; Phillipson, 1977,p.27,1994,p.78).
OsdadosfornecidospelaCarta da Pré-Históriade Moçambique(SantosJúnior,1950;Rodrigues,2000,p.275) assinalamqueasestaçõesdaESAconhecidasnoterritóriodeMoçambiqueestãolocalizadasnazona interior,principalmentenaprovínciadeTete,muitoemboraseencontremtambémnasprovínciasdegazaeMaputo.Verifica-seaindaqueestas“estações”selocalizamprefe-rencialmentenosterraçosfluviais,encontrando-seosartefactoslíticosnoslocaisparaondeforamarrastados,queéumadasrazõespelaqualsómuitoraramenteosartefactoslíticosdestetipode“estações”sepodemencontrar,emtermosarqueológicos,em“contextodedeposiçãoprimária”.Têmdeconsiderar-seainda,osfactorespós-deposicionais.
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“O trabalho de campo teve início no dia 4 de Setembro de 1955, tendo-se estabelecidopreviamente o acampamento no sítio de Cachenge2 próximo da foz do rio Panhame, na suamargemEste,maisprecisamentejuntodaconfluênciacomoZambezeenasuamargemSul”(Fig.1’).
· 3.ªestação—MaterdeChevulaI—designaçãoquecorrespondeaonomedoFumo(chefedealdeia)queoutroratinhaasuapovoaçãonasproximidadesdolugareondeviveumuitosanos(dadosobtidosnatradiçãooral).Localização:apósatravessarorioPanhameeacercade4kmdeCachenge,noladoesquerdodaestrada(nadirecçãoOeste),provavelmentenosterraços do rio Zambeze, e a meio caminho entre os terraços do Panhame e do Inhacu-rungo.Tipologiadaestação:terraçosbaixos,ondeseregistouapresençademontículosouajuntamentosdeseixoscomcercade2mdealturaeomesmotipodeareãogrossojárefe-renciadoemSamuane.Apresençadamoscatsé-tsé(Glossina palpalis)fazia-sesentirnestelocal,oquelevouaumarecolhademateriallíticomaisreduzida.Totaldepeçaslíticasexis-tentes:33.
· 4.ªestação—Inhacurungo—designaçãoquecorrespondeaonomedorioafluentedamargemdireitadoZambezeemcujosterraçosarecolhafoiefectuada(Fig.2).Localização:ficavaacerca de 100 m depois de passar o rio Inhacurungo/Nhangurungo, nos terraços da sua
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· 5.ªestação– Nhamezinga—localizadanodia6deSetembro,depoisdeaequipatervoltadoaosítiodeCachengeepartidonamanhãdessediaemdirecçãoàChicôa,ousejaparaEste.Localização:ficavaa1300mdosítiodeCachengeeapósumaplanuraqueseespraiava,sobreoladodireitodaestrada,nosentidoEste;acercade40mdaestradacomeçavaumaencostasuave.Nãosabemoso sítio,masvamos, combasenacartografiae seguindoo traçadodaestrada,efectuaroseuregisto,faceaospercursosexistentesàdataparaoretornoàChicôa.Tipologia da estação: a geografia assinala uma encosta nas proximidades da margem doZambeze, na qual se registou a presença de cascalho grosso e um fundo constituído porKarroo,estratogeológicodominantenaquelaárea,evidenciando-seapresençadeumsignifi-cativonúcleodemateriallítico.Olugarfoiconsideradoumaáreautilizadaporpovoscaça-dores-recolectores, sendo recolhido um representativo conjunto de peças líticas. Total depeçaslíticasexistentes:101.
· 6.ªestação—Chinduta— localizada tambémnodia6deSetembro.Localização: ficavaa1900mdeCachengeea600mdeNhamezinga,emlocalnãoidentificadonacartadeMoçam-bique. Tipologia da estação: a geografia do local mostrava que a estrada, depois de umapequenalomba,seapresentavaladeadaporcascalheiradeseixosroladoseumacuidadapros-pecçãofoidesenvolvidanaquelaáreadoterraçomédio,eoresultadofoiumasignificativarecolhadepeçaslíticas.Totaldepeçaslíticasexistentes:32.
· 7.ªestação—RamaldeCarinde—foiaúltimareferenciadanofinaldamanhãdodia6deSetembro.Localização: foi localizadadepoisdepassarorioMussenguézi,amaisde16km,precisamenteacercadedoisquilómetrosdoramaldaestradaquesegueparaoCarinde.Tipo-logiadaestação:ageografianaquelaáreaapresentavaondulaçõessuavesàdireitaeàesquerdadaestradaecobertadeMessanha,emflorestaabertaeesparsa.Oterrenoeraformadoporareãogrosso,angulosoecompacto,ondeemergiamclareirascomamontoadosdepequenosseixosroladosdequartzitoeoutrotipodepedrasdeaspectoferruginoso.Foinestetipodepedrado“tipobasáltico”quealgunsdosartefactosforamtalhados,tendoaprospecçãoearecolhasidocondicionadaspelotempodisponível:onúmerodepeçasrecolhidofoide35.Totaldepeçaslíticasexistentes:35.
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5. Registos da Idade da Pedra na África Oriental Austral. Testemunhos
Apresençadegrandesáreascomseixosémuitoelevadanasmargensdosgrandes riosnaÁfrica Oriental Austral, daí eles terem sido largamente utilizados como matéria-prima, consti-tuindoosartefactosobtidosapartirdeseixostalhadosedesignadospor“indústriasdosseixos”ostipos dominantes em inúmeras estações dos primórdios da Idade da Pedra — Stone Age —, talcomoseverificanosterraçosdabaciadorioZambezenoterritóriodeMoçambique.
deacordocomoestadoactualdoconhecimentorelativamenteàIdadedaPedranaÁfricasubsaariana, o primeiro Período ou Early Stone Age está dividido em duas grandes fases e foienquadradonacronologiadosciclosdoQuaternário;razãoquetornoupossívelreportarasnossasreferênciasaquadroscrono-estratigráficosnoquerespeitaàgeologia.
Oresultadonasuaetapainicialserãoaslascas,comoconsequênciaapósoprimeirogestoquefoiumgolpeauns90º,eaquelassãoartefactoscortantes,alémdepassaremadispordeumgumecortantenaarestadoseixo.Nestasequênciadeoperaçõesdedesbaste,oresultadomostraapartirdoseixodetalhebifacialumanovaprocuracomnovosdesbastesnatentativadeobterumgumemaiseficiente, conduzindo aos utensílios designados por bifaces parciais, por ainda apresentarem umtalãoreservado,masotalheapresentajáoqueseconsideraalgumníveldopontodevistatécnico.
Osartefactostalhadossão,dopontodevistatipológico,consideradossimples,masoferecemumagrandediversidademorfológicaerepresentamhabilidademanualecapacidadedeaprendiza-gemdogéneroHomo,bemcomoalibertaçãodoseucomportamentobiológico/instintoeapassa-gemparaumcomportamentosocialquelheasseguravaasobrevivênciaeasubsistênciaemgrupo.Olongocaminhoapartirdaescolhadoblocoouseixoreflecteumapreocupaçãocomplexaepodeexplicararelaçãodoserhumanocomanaturezapelaviatecno-económica.Osresultadossãoclas-sificadosnacategoriadeutensíliosdeforça/energia,talhadosparamanterasobrevivênciahumana,com objectivos de matar e/ou esquartejar animais, cortar e aparar madeira para preparação dearmadilhas,ecertamenteparafacilitararecolhaderaízesetubérculos,bemcomodefrutosevege-tais.
Os artefactos líticos do Acheulense podem ser encontrados na maior partedo continenteafricano,masnãoforamregistadosnasregiõesdaflorestadensadaÁfricaOesteedabaciadoCongo(Phillipson,1994,p.36),oquereflecteumadescontinuidadenasuadistribuiçãoquandoestaexpansãotecnológicatevelugar.
ArespectivadataçãoemrelaçãoàEuropaeaoMédioOrientemostraqueasuamanufacturaécercade1000000deanosmaisantiga,significandoqueoComplexo Tecnológico do Acheulenseafri-canofoimaislongo.
Aresponsabilidadedoarqueólogoéadeprocuraridentificaraaptidãoparaoaprovisiona-mento da matéria-prima que, no caso do Acheulense, é local. Nota-se a evolução presentes nométododedebitagemeasmudançasdacapacidadedeaprendizagemsãoperceptíveisnodesenvol-vimentodastécnicasdetalhedasindústriaslíticas.Outensíliopodeaindaseranalisadocomoobjectivodedeterminarcritériosdehominização—oquelevanta inúmerosproblemas,porque
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praticamenteomateriallítico,porseromaisresistente,foisóoquerestou,dadoquetudoomaisque o género Homo foi capaz de produzir desapareceu na voragem dos tempos. Assim surge apergunta:outensíliolíticoéumprodutooufactordehominizaçãoepoderáservistoaindacomoumaexpressãodecriatividade?
Outensílio lítico (sendooque se conservou)pode ser consideradocomoumprodutodopensamentoedacapacidadetécnicadoartesão,cujacondutadeviaterfacilitadooaparecimentodalinguagemedealgumaorganizaçãosocialqueteriapossibilitadoasuasobrevivência.
Aterminologiaadoptadanonossotrabalhoestádeacordocomoscritériosquevêmorien-tandoostrabalhosnoâmbitodaÁfricaAustral,equefoiaprovadaemreuniõescientíficas,faceao interesse que o longo passado da Idade da Pedra (Stone Age) mereceu, e se convencionoudividiremtrêsperíodos:Early(ESA),Middle(MSA)eLaterStoneAge(LSA)(inActes du VIIIe Congrès Panafricain de Préhistoire et des Études du Quaternaire.Nairobi,1977),bemcomoanomen-claturainglesa.
Os artefactos líticos em estudo são, portanto, testemunhos encontrados em “contexto dedeposiçãosecundária”,e,nasuaquasetotalidade,emconexãocomosterraçosquaternários,defi-nidos por formações do Karroo, onde corre o rio Zambeze e os afluentes da margem sul, comexcepçãodaestaçãodenominadaRamaldeCarinde,quenãopareceestarlocalizadaemterraçofluvial,edocumentamalentamasprogressivaproduçãoecapacidadedeaprendizagemtecnoló-gicadesenvolvidapelogéneroHomo aolongodaESA.
Podereferir-sequeestamosperanteumaindústrialíticaconstituídapornumerososartefac-tosdelargoespectromorfológico,decertahomogeneidade,mas,quantoàtecnologia,regista-seum baixo índice de facetagem e, portanto, consideramo-la comparativamente integrada nocontextoinicialdoAcheulense.
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Na representação fotográfica dos artefactos seleccionados foram respeitadas as diferentescategoriasmorfológicaseasrespectivasunidadesderecolha,estabasefoidepoispornósdigitali-zadautilizandooprogramaAdobePhotoshop;decadaartefactofoiregistadaasuamaiordimen-sãonoquerespeitaaocomprimento, larguraeespessura,sempreemmilímetros.Onúmeroderepresentaçõesdeartefactosreferenciados,epor“estação”,éoseguinte:Samuane(Figs.1a30);Inhacaíua(Figs.1a20);MaterdeChevulaI(Figs.1a8);Inhacurungo(Figs.1a21);Nhamezinga(Figs.1a17);Chinduta(Figs.1a7);RamaldeCarinde(Figs.1a12).
Figs. 5 e 6 desenhotipológicodosproto-bifacesdasestaçõesdeInhacurungoeNhamezinga.
INHACURUNgO-peçanº22
0 3cm
0 3cm
NHAMEZINgA-peçanº20
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Figs. 7, 8 e 9desenhotipológicodosbifacesparciaisdasestaçõesdeSamuane,InhacaíuaeChinduta.
SAMUANE-peçanº44
0 3cm
INHACAÍUA-peçanº29
0 3cm
CHINdUTA-peçanº8
0 3cm
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Artefactos líticos recolhidos nos terraços da margem direita do rio Zambeze – Tete
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Mater de Chevula I
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Inhacurungo
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Nhamezinga
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Chinduta
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Ramal de Carinde
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Umaoutraterminologiatipológicafoientretantocriada,bemcomonovasclassificaçõesedesigna-çõesparaotipodetalheinicialmentedesignadoportalheuni-,bi-emultidireccional(terminologiaquefoitambémabandonada),passandoausar-seaexpressãotalheunifacialebifacialparaosseixostalha-dos.EstadesignaçãomereceutambémacríticadeBordesepassouautilizar-seaexpressão“chopper”e“chopping tool”, segundo a terminologia inglesa, entretanto adoptada para a África subsaariana.Aescritafrancesacontinuouaexistir,eporissotambémseemprega“galettaillé”paraseixotalhado.
Assim,deacordocomoTableau des typesreproduzido(Camps,1981,p.55)(Fig.10)efaceaoschoppersechoppingtoolsempresença,queforamtalhadoseutilizados,épossívelenquadrá-loscomparativamente com o proposto nas Fiches Typologiques por Biberson (1966), atendendo aonúmerodelevantamentos,respectivaordenaçãoetiposconsiderados.
Estes atributos relacionam-se com os recursos locais e estratégias de selecção da matéria--primaparaaproduçãodosartefactoseaformacomoseriaobtida,nãosendooseuaprovisiona-mentonecessário,dadaaquantidadedematéria-primadisponível.
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Aanálisedeindústriaslíticasésemprecomplexa,dadaasuagrandediversidade,nomeada-mente quanto aos aspectos de alteração da matéria-prima decorridas durante a deposição noestratogeológico,independentementedasuamorfologia.
Oestadofísicodosartefactoslíticosnocritériodedescriçãoserátambémconsiderado,nome-adamenteocausadopelaacçãodovento,ouporapresentarreflexosdareutilizaçãodapeçaemmomentos distintos. Este conjunto de atributos ajuda a avaliar a afinidade dos materiais e auniformizaroscritériosdeanálise.
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Matéria-prima
Aavaliaçãodamatéria-primaescolhidacomosuporte,faceaosrecursosnaturaisdisponíveis,revela que as indústrias líticas fornecidas por estas “estações”, do ponto de vista petrográfico,registamapresençadediversostiposderochasresultantesdeaprovisionamentolocalouregional.Amaisabundanteéoquartzito,quecorrespondea90%,seguindo-seousodoquartzo(8%),ambaspresentesemartefactoscomváriasdimensõesemorfologias,comoresultadodatransformaçãodosuporteinicial—seixosrolados.Opredomíniodoquartzitoresultadofactodeserarochamaisfácildeobternasmargensdaquelesrios.
A natureza petrográfica é, contudo, mais diversificada nos restantes 2%; registando-se apresençaderochasjaspóides,quepodemserbandadas;rochastiposílex;gramófiro;rochasgrani-tóidesebasálticas.Consideramosqueestadiversidadeseráo resultadodosefeitosdosagentesnaturais,comoomeiofluvial,dadoseremprovenientesdeumcontextoperturbado.
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Mater de Chevula I Quartzito 82 73 27 4 Denticulado
NhamezingaQuartzo Quartzito zonado
42 44
40 33
13 12
8 9 Entalhe
Ramal de Carinde gramófiro (grão grosseiro) 64 58 29 8
Nhamezinga Quartzito 57 60 18 10 Entalhe e furador
Inhacaíua Quartzito54 62 80
39 42 62
17 26 30
19 20 21
Peça de gume transversal
lOcAlIZAçãOdAs EsTAçõEs
C a r a C t e r i z a ç ã o t é C n i C a - M at e r i a l l í t i C o - Pa n h a M e
cArAcTErísTIcAs gErAIs dIMEnsõEs PEçAsTIPOs dE uTEnsílIOs
Natureza Petrográfica Massa inicialComp. largura Espessura
n.ºC l E
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Natureza Petrográfica Massa inicialComp. largura Espessura
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uTENSílIoS SoBRE SEIxo
Inhacurungo Quartzito 111 102 62 22
Proto-bifaceNhamezinga Quartzito 108 64 39 20
Samuane Quartzito (grão fino) 78 70 44 44
BifaceInhacaíua Quartzito com pontos negros 120 93 58 29
Chinduta Quartzito (grão fino) 91 77 51 8
Samuane Quartzito 88
11261 75
36 42
45 46
Raspador transversal sobre seixoInhacaíua
Quartzo Quartzito Quartzito
47 88
106
68 64 77
29 42 44
30 * 31 32
InhacurungoQuartzito Quartzito (rosado)
95 113
69 80
49 46
23 24
Nhamezinga Quartzito 102 75 56 21
Chinduta Quartzito (cinza) 95 56 50 9
Inhacaíua Quartzito 93 83 51 33 Núcleo reutilizado como raspador
SamuaneQuartzito Quartzito
66 86
33 43
17 27
47 48
Peças bifaciaisInhacaíua
Quartzito Quartzito (rosado)
72 81
75 68
36 35
34 35
Samuane Quartzito 73 69 36 67 *
PercutorInhacurungo
Quartzito Quartzito Quartzito
81 53 55
67 77 69
34 29 34
25* 26* 27*
Samuane Quartzito 76 52 24 68 *Peso de rede
ChindutaQuartzo Quartzito
82 94
46 76
28 39
10 11
NÚClEoS
Samuane
Quartzito com orifício (alteração de inclusões que foram removidas) Rocha silíciosa do tipo jaspóide bandadaQuartzito (rosado) Quartzito com orifícios causados por alterações meteóricas de minerais
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NÚClEoS
SamuaneRocha silíciosa bandada Rocha silíciosa tipo jaspe bandada Quartzito (rosado)
+ – Salvo indicação em contrário, sempre que foi possível determinar a massa inicial esta apresenta-se sob a forma de seixo.
C – comprimento máximo; l – largura máxima ; E – espessura máxima; Medidas em mm | – c/ desenho tipológico | * – sem imagem
Comoreferimos,nãoexisteumabaseestratigráficanestasestações,portantoprocurou-seatender aos critérios morfológicos, para enquadrar a sua caracterização, além da sua normalevolução.Odiferentepesopercentualverificadonosdiversosconjuntosporcategoriasmorfoló-gicasevidenciadasnoQuadroI(Fig.11),poderáseremparteexplicadopelo“método”utilizadonarecolhadecampo,muitoemboraosartefactos,noseuconjunto,possamapresentarumacertapadronização, mas não será prudente considerá-los integrados numa indústria lítica só, nomesmosentidoquetemsidousadoparaosperíodosmaisrecentes.Oscritériospodemseraindaconsideradoshierarquizados,porquehouvecertamenteescolhaquantoaotipodematéria-primaedimensõesdoseixopelosartesãos,oqueterátambémcontribuídoparaamorfologiafinaldoartefacto.
Nadistribuiçãoglobaldestasindústriaspelostiposestabelecidosparaesteconjuntodeesta-ções, destaca-se essencialmente o peso do grupo dos choppers, que corresponde a 456 peças(52,23%),eodosraspadoresa71(8,13%),emrelaçãoàspeçasinventariadas.
O desenvolvimento do método de debitagem está presente na significativa presença denúcleos,171(19,67%),queassinalamastécnicasdemanufacturaeoníveltecnológicoalcançado.Otalhepodeser,dentrodopossível,avaliadonasuarepresentaçãoporestações(ponto6.1.2)faceàvariedadedeartefactosproduzidos,dadoparecerterexistidotambémumacertapadronizaçãonaescolhadamassainicial,quandoosseusutilizadorespassaramaseleccionarseixosdetamanhomédio.Atravésdoestudo,individualizaram-seascategoriasmorfológicasporconjuntosdearte-factos,queforamordenadosnográficoquantitativoglobal—gráfico8(Fig.13),permitindoorde-narequantificarsegundoosrespectivosatributosetiposdesuporte—utensíliossobrelascas—gráfico8a)(Fig.13’)esobreseixo—gráfico8b)(Fig.13’’).
O resultado obtido a partir dos dados quantitativos possibilitou apresentar um gráficopercentualdecorrelaçãoglobaldosutensílios—gráfico9(Fig.14),queéaindacomplementadopelosgráficosparciaisporcategoriastipológicas—utensíliossobrelasca—gráfico9a)(Fig.14’)esobreseixo—gráfico9b)(Fig.14’’),oquepermitecompararestacolecçãodeartefactos.
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Natureza Petrográfica Massa inicialComp. largura Espessura
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Fig
. 13
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8.
Grá
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Gráfico de correlação por categorias tipológicas dos artefactos líticos de estações de terraços da margem direita do Zambeze – Tete
Gráfico percentual por categoria de artefacto – Utensílios sobre lasca
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No plano morfológico, parece ocorrer uma certa diversidade entre as lascas, o mesmo seconfirmando quanto à sua tipometria. Regista-se uma grande percentagem de valores médios,sendoemnúmeroreduzidoaslascasdemaiordimensão,comoodocumentaoQuadroII(Fig.12).Verifica-se,ainda,asuapresençaemtodasasestações.
· Lascas retocadas – Consideraram-se 42 peças (4,81%), que mostram um retoque abrupto ousemi-abrupto,quantoàinclinação,demorfologiairregularevariávelemdimensão,masdemodoapermitircriarumgumenazonaopostaàáreacorticalenamesmaface.Afaltadetalãodeixaentreveraausênciadepreparaçãodosplanosdepercussãonotalhedaslascas:peçan.º6(Fig.2)daestaçãoSamuane;peçasn.os4e5(Fig.2)deInhacurungoepeçan.º3(Fig.2)deNhamezinga.
· Lascas em forma de “gomo de laranja”–Identificaram-se4peças(0,46%).Alinhalimitedogumepodeapresentarformasconvexasecomretoquesdemodoacriarumtipomorfológicoespecí-fico,comoéocasodaslascas“emformadegomodelaranja”deacordocomaclassificaçãodeBiberson,1966(tipoII.16:FTAn.º58),emqueumapartecorticalsemantém,contribuindodestemodoparaasuacaracterização.Estetipodelascasmostraumavariantetécnicaemorfo-lógicadotalhedosuporte:peçasn.os7a9(Fig.3)fornecidaspelaestaçãodeSamuane.
· Lasca de flanco de núcleo–Temosapenasumapeça(0,11%),queseapresentatodaeolizada,facessemvestígiosdecórtexecomtalão.Faceàsuamorfologia,podedocumentarumafaseevolu-ídadoAcheulense:peçan.º4(Fig.3),provenientedaestaçãodeRamaldeCarinde.
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Outrosinvestigadores,comoTixier(1980:93),consideramnúcleoqualquerblocodematé-ria-prima do qual se extraíram lascas, lâminas ou lamelas, com objectivo de serem utilizadas etransformadas.ParaLeroi-gourhan(1966,p.247),todaamassadematériatalhadaadquireumcarácterdenúcleo.PodeaindaexistirnoAcheulenseumacertadificuldadeemestabelecerumaseparaçãoentredeterminadosnúcleoseutensílios.
Relativamenteaopeso,verifica-sequeestevaidesdepeçascom1240gàsde180gfornecidaspela estação de Chinduta, até ao chamado micro-núcleo com apenas 30 g (devido à reduzidadimensãodosseixos)daestaçãodeInhacurungo.Outrosnúcleostêmumvalorresidualeapresen-tamoresultadodeumaexploraçãointensiva,eoutrosaindaforamreutilizadoscomoutensílios,ouemtemposdiferentesparanovasextracçõesdelascas,situaçãoquesereflectenapátinaqueapresentam.
Aclassificaçãodosnúcleosfoiefectuadadeacordocomosistemaqueprivilegiaoordena-mento e posicionamento dos levantamentos extraídos, em detrimento da morfologia final daspeças, atendendo sempre que possível, do ponto de vista técnico e teórico da classificação porgrupos proposta por M. Santonja (1984-1985), que procurámos adaptar com o objectivo de oscompararmoscomindústriasafins.
· Núcleo simples – Com extracção unifacial foram consideradas 123 peças (14,20%), apresen-tandolevantamentoemzonarestritacomo:peçasn.os28e29(Fig.15),quemostramumplano de percussão de talhe abrupto, são provenientes da estação de Inhacurungo; peçan.º52(Fig.22)deSamuane,mostraextracçõessucessivasporretoquessemi-abruptosepeçan.º11(Fig.6)deMaterdeChevulaIqueapresentalevantamentosalternadosindependentes,detalheoblíquoedirecçãocentrípeta.Amatéria-primaescolhidafoioquartzito.
Aspeçasn.os14e15(Fig.9),daestaçãodeRamaldeCarinde,sãonúcleossempreparaçãocomextracçõesdetalheabruptonaprimeira(umseixoanguloso),quepareceocorrerapartirdeumaarestanavertical;napeçan.º15,otalheédesordenadoesemi-abrupto;sendo,quantoao reverso, em todas, cortical. A matéria-prima é, na primeira peça, rocha basáltica e, nasegunda,quartzo.Estesnúcleos,devidoaobaixonúmerodelevantamentosesemprepara-ção,foramintegradosdoGrupo I(Santonja,1984-1985,p.21).
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Assinala-seaindaaprevalênciadeestratégiasdetalhebifacialdesordenadosemdirecçãopreferencialcomplanosearestasquereflectemapreparaçãoparaextracçãodelascasnafacesuperior, comooquesedesignoupor núcleo de preparação para extracção de lascas:peçan.º30(Fig.16)deInhacurungo.Apeçan.º10(Fig.6)deMaterdeChevulaIapresentalevantamentosdetalhecomdirecçãooblíquaesemi-abrupta,desordenados,sendooreversopredominante-mentecortical.Amatéria-primautilizadafoioquartzito.EstetipodenúcleoscomextracçõessucessivaspraticamentenomesmoplanopodeserincluídonoGrupo II(Santonja,1984-1985,p.21).
No que respeita à matéria-prima, regista-se o predomínio do quartzito, com excepção: dapeçan.º26deNhamezinga,queédequartzoedan.º16deRamaldeCarinde,queéumarocha do tipo sílex. Quanto ao tipo de talhe, podem enquadrar-se noGrupo VI (Santonja,1984-1985,p.24).
· Núcleo tipo discóide sobre calote de seixo–Foiincluídoumexemplar(0,11%).Trata-sedeumapeçaparticularmentecaracterística,sempreparaçãonoreverso,mascomdimensõesdeterminadasporlevantamentosoblíquosesemi-abruptoscomarestasbemdefinidasnumadasfaces,eoreversocortical:peçan.º17(Fig.17)daestaçãodeRamaldeCarinde,sendoamatéria-primauma rocha granitóide. Este tipo de talhepode enquadrar-se noGrupo IV (Santonja, 1984--1985,p.23).
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· Micronúcleo discóide–Referenciaram-seduaspeças(0,23%),queapresentamextracçõesbifa-ciaisdefinidasporlevantamentosoblíquos,queocorrememdoisplanosdasuperfícietalhada,e lhes determina a configuração periférica; havendo zonas corticais: peças n.os 55 e 56(Fig.24)daestaçãodeSamuane.Amatéria-primadaprimeirapeçaéquartzitoedaoutraoquartzo. Quanto ao tipo de talhe apresentado, pode enquadrar-se no Grupo VI (Santonja,1984-1985,p.24).
· Núcleo com aplicação do método Levallois–Referenciaram-setrêspeças(0,34%),queapresentamum talhe bifacial com extracções de direcção centrípeta e sucessiva, que se desenvolvemparcialmenteemvoltadobordodefinindo-o,restandoumazonacortical:peçan.º35(Fig.19)daestaçãodeInhacurungoepeçan.º27(Fig.15)daestaçãodeNhamezinga.Amatéria-primaescolhidafoioquartzito.Estesexemplarespodemincluir-sedeacordocomotipodetalhe,talcomoapeçan.º57deSamuanenoGrupo VIII(Santonja,1984-1985,p.26).
· Núcleo globuloso–Foramconsideradas3peças(0,34%),queapresentamumtalheunioubifa-cial, com extracções dispersas de número variável não hierarquizadas. Nesta categoria,incluiu-seapeçan.º58(Fig.26),quemostraumtalheunifacialcomextracçõesporretoqueabrupto,queocorremparcialmentenafacesuperior,sendoarestantepartecórtex,eapeçan.º59(Fig.26)detalhebifacialcomlevantamentosdedirecçãocentrípetairregular,alter-nandocomzonascorticais;sendoambasprovenientesdaestaçãodeSamuane.
· Micronúcleo globuloso–Foramidentificadas3peças(0,34%),queapresentamtalhebifacial,defi-nido por levantamentos sucessivos de direcção centrípeta irregular, alternando com zonascorticais,eoprovávelusodeumpercutorbrando:peçan.º61(Fig.27),daestaçãodeSamuane.Amatéria-primaescolhidafoioquartzito.
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Nestacategoria,incluiu-setambémapeçan.º62(Fig.27),cujamatéria-primaéumarochajaspóide,eapeçan.º60(Fig.27),emqueamatéria-primaéumarochasiliciosa,sendoambasprovenientes da estação de Samuane. Estes exemplares podem, quanto ao tipo de talhe,incluir-senogrupoVII(Santonja,1984-1985,p.26).
· Núcleo circular de retoque abrupto–Umexemplar(0,11%),queapresentaumtalheunifacialdedirecçãocentrípeta,comextracçõesporretoque(abrupto)sucessivoquedefinelateralmenteapeça,sendoapartesuperioreoreversocortical:peçan.º28(Fig.16)daestaçãodeNhame-zinga. A matéria-prima escolhida é o quartzo. Esta peça poderá ser incluída no Grupo VII(Santonja,1984-1985,p.26).
· Micronúcleo – Consideraram-se 2 exemplares (0,23%), atendendo às dimensões dos seixossuporte.Apeçan.º38(Fig.20)éumpequenoseixodecategoria1(muitopequeno)detalhebifacial,comextracçõesporretoqueoblíquoeumaáreacorticalnoreverso.Amatéria-primautilizadaéoquartzo.
Apeçan.º39(Fig.20)seráumnúcleosobrecalotedeseixo(reutilizado),quemostracicatri-zes de talhe de lamelas, obtidas por pressão directa e utilizando um punção preparado.Amatéria-primaescolhidaéumarochabasáltica.
São ambas peças provenientes da estação de Inhacurungo. Quanto ao tipo de talhe, aprimeirapeçapoderáser incluídano Grupo II ea segundanoGrupo III (Santonja,1984--1985,p.21).
As tipologias propostas (Santonja, 1984-1985) tiveram de ser adaptadas à realidade das
peçasemanálise;quantoàsrestantesestratégiasexploratórias,apresentam-seconfinadasamaisalgunsnúcleoscomoosreutilizados,informeseexaustos,alémdosfragmentosdenúcleo,cujacaracterização se considera indeterminada e incluídos no Grupo XI (Santonja, 1984-1985,p.30).
Acomposiçãoorganizadaporgrupostécnicosemqualquersériedenúcleos,sejaosdeformassimples(grupoI,IIeIII),oudeformasmaiscomplexas(grupoIV,V,VI,VIIeVIII),paraefeitoscomparativos, permite ordenar um conjunto estruturado e estabelecer uma relação de ordemformalentreosdiversosgruposdistinguidos.
tipos estabelecidos para os utensílios deste conjunto de estações e organizados no Quadro III(Fig.15),ressaltaemprimeirolugarasuadiversidade,mesmoatendendoaoseuelevadonúmero.destaca-seessencialmenteopesodogrupodosutensíliossobreseixo,emqueoschopperscorres-pondema79,30%,comparativamentecomodossobrelasca,emqueosraspadoresrepresentam13,33%,nototaldosutensílioscontabilizados.Emcontrastecomestegrupodeutensíliosdomi-nante,osrestantessobrelascarepresentam1,89%,eossobreseixo6,45%,evidenciandoporconse-guinteumpesomuitomenoredistribuindo-seporutensíliosdiversos.
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7.4.1. Utensílios sobre lasca
Os utensílios sobre lasca são essencialmente elaborados sobre lascas de primeira geração(resultantesdofraccionardoseixo/núcleo),osquais,comoprodutoderetoqueportalhedirecto,podemmanterumaface(asuperior)commaioroumenorpredomíniodecórtex,sendoestacate-goria de utensílios constituída maioritariamente por raspadores, havendo também furadores,entalheseumdenticulado,osquaiscorrespondema82peças(14,22%).
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Na caracterização tecno-morfológica, procurou atender-se ao maior ou menor desenvolvi-mentodotipodetalheapartirdapresençaouausênciadecortexnumadasfaces,àlocalizaçãoedisposiçãodoslevantamentos;oquemuitocontribuiuparacompreenderoprocessodetalhee,assim, definir o seu enquadramento na cadeia operatória que definiu os utensílios líticos quepassamosacaracterizar:
RaspadoresNeste tipo morfológico foram identificadas 71 peças (12,33%), documentando diferentes
· Raspador simples–Foramconsideradas43peças(7,48%),oqueconferegranderepresentati-vidadeaestacategoria.Sãoutensíliosdetalhebifacial,sendoumadasfacesquaseplana,ea outra parcialmente cortical, sendo de um modo geral utensílios espessos. Uma claraevolução do procedimento tecnológico para obtenção de um gume está presente, o querepresentaumaespecializaçãodatécnicadetalheepermitedeterminardiferentescatego-riasderaspadores,tornando-osnosmaissignificativosutensíliosdaindústriadoComplexo Tecnológico do Acheulense.Foramseleccionadas:peçasn.os10a12(Fig.4)daestaçãodeSamu-ane;peçasn.os8e9(Fig.4)deInhacaíuaepeçasn.os5e6(Fig.3)deNhamezinga.
Nestacategoriaháadestacarapeçan.º13(Fig.A),recolhidanaestaçãodeSamuane,pelassuas reduzidas dimensões, talhe com punção preparado, além de apresentar a superfíciecompletamenteeolizada.Amatéria-primaénestapeçaumarochajaspóide;nasoutrasesta-çõesverifica-sequeaspeçasn.os12,8e5sãodequartzo,sendoaspeçasn.os10,9e6dequar-tzito,deacordocomaordenaçãodasestaçõesacimareferidas.
· Raspador com retoque lateral–Identificou-seumapeça(0,17%),quemostraretoquesdesenvolvi-dosnumdosladosdobordodapeça,ecomoresultado:umgumesubvertical—peçan.º10(Fig.5)daestaçãodeInhacaíua.Amatéria-primaéoquartzito.
· Raspador sobre lasca Levallois–Incluiu-seumapeça(0,17%),quemostraumaproveitamentototal(ouquase)dogumedeumalascaobtidapelométodoLevallois,ouseja,dentrodeumafasedaevoluçãotecnológicadoAcheulense;alémdedemonstraracapacidadedeaprendiza-gem,ouumanovatradiçãocultural:peçan.º14(Fig.5)daestaçãodeSamuane.Amatéria--primautilizadafoioquartzito.
· Raspadores sobre lasca em forma de “gomo de laranja”–Identificaram-se10peças(1,74%),queconstituemumtipoespecificoderaspadores,everifica-sequeforamobtidossobreumdetermi-nadotipode lascas (atráscaracterizadas),as“emformadegomode laranja”.Sãoutensílios
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· Raspador duplo ou biconvexo–Identificaram-seduaspeças(0,35%),queseinseremnosutensí-lioscomretoquesnãoordenados,masdistribuídosemvoltadobordodalasca,preenchendo--onumaamplitudedecercade180ºnapeçan.º18(Fig.7)daestaçãodeSamuane,ounosdoisladosdobordo,comonapeçan.º7(Fig.5)deRamaldeCarinde.Amatéria-primautili-zadafoioquartzito.
· Raspador côncavo–Identificaram-seduaspeças(0,35%).Umatemcomosuporteumalascadedimensõesmédias,cujaconfiguraçãofoiobtidaporlevantamentosdedirecçãocentrípeta,eretocadanaextremidadedistaldefinindoumgumecôncavo:peçan.º22(Fig.10),fornecidapelaestaçãodeSamuane.Amatéria-primautilizadafoioquartzito.Aoutraéumpequenoartefacto de talhe bifacial, com retoques curtos e de inclinação semi-abrupta: peça n.º 23(Fig.B)daestaçãodeSamuane.Estapeçadistancia-sedosraspadoresantescaracterizados,devidoàmorfologiaeaotipodematéria-primaemquefoitalhada(rochajaspóide),alémapresentarumapatinaeólica.
· Raspador côncavo com retoque abrupto–Foiconsideradaumapeça(0,17%),queapresentaumtipoespecíficoderetoqueabrupto,alémdotalhedefiniraindaumaarestacôncavanaextre-midadedistal:peçan.º16(Fig.8)daestaçãodeInhacaíua.Amatéria-primaescolhidafoioquartzito.
· Raspador de retoque rectilíneo–Incluiu-seumapeça(0,17%),quemostraumgumedefinidoporretoques desordenados, disposto em linha de acordo com a morfologia da lasca: peçan.º17(Fig.9)daestaçãodeInhacaíua.Regista-seumbomaproveitamentodoquartzocomomatéria-prima.
· Raspador com denticulado–Identificou-seumapeça(0,17%),quemostraumtalhebifacialcomretoquescontínuosdeinclinaçãoabruptaedecurtadimensãoquesedesenvolvemprincipal-mentedeumdosladosdoutensílio,definindoasuamorfologia:peçan.º24(Fig.C)daesta-çãodeSamuane.Amatéria-primaéumarochasiliciosabandadaeapresentaumasuperfíciecompátinaeólica.
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NestacategoriadeutensíliosmerecemdestaqueoRaspador simples (peçan.º13),oRaspador côncavo(peçan.º23)eoRaspador com denticulado(peçan.º24)(Fig.A—B—C);sãopeçasdetalhebifacial,semvestígiosdecortexerecolhidasnaestaçãodeSamuane.Foramincluídosnestafasedadescrição,porumaquestãodemetodologia,mantendoassimaordenaçãoporcategoriadaarte-facto,muitoembora,devidoàssuasdimensões,característicastecno-morfológicasetipodematé-ria-primaemqueforamtalhados(rochajaspóide),nãopareçamserincluídosnoAcheulense.Apre-sentamumapátinaeólica,oqueosfazdistanciaraindamaisdosoutrosraspadores.
· Lasca retocada mais furador e Lasca Levallois mais furador – Incluíram-se duas peças (0,35%),porqueestetipodeutensíliosassinalaapresençadelascascomumaestratégiadetalhe,bemdiferenciada,quemostraoaproveitamentoadequadodamorfologiadosuporteedaprópriamatéria-prima,situaçãoquesetornamaisevidentenalascaobtidapelométodoLevallois:peçan.º18(Fig.10)daestaçãodeInhacaíuaenapeçan.º25(Fig.11)deSamuane.Amatéria--primautilizadafoioquartzito.
· Entalhe–Identificaram-se3peças(0,52%).Emborareduzida,apresençadestetipodeutensí-lioé,contudo,expressiva,dadootipodetalhe.Sãoutensíliosresultantesderetoquesbifa-ciais desenvolvidos sobre lasca, ou seja, uma sucessão de retoques curtos que, em relaçãoàinclinação,podemserconsideradossemi-abruptos,comlocalizaçãodistalemesial,sendoadirecçãodepercussãosempreferênciaouirregular.
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· Entalhe e furador–Foiincluídaumapeça(0,17%)queapresentaumasériedepequenosretoquesbemdirigidosparaseobterumapeçaquereflectejáalgumaespecializaçãotecnológica;eviden-ciaumténuebolbodepercussãonafaceposterioremantémumazonacorticalnafacesuperiorno lado oposto à área afilada, que é definida por dois levantamentos oblíquos e bilaterais,criandoduascadeiasoperatóriasparaaconfiguraçãodapeça.Emtermosmorfológicos,oresul-tadoobtidonazonamesialéumatributodeterminadopeloretoquedazonaapontada:peçan.º10(Fig.6)daestaçãodeNhamezinga.Amatéria-primaescolhidaéoquartzito.
· Peças de gume transversal–Foramreferenciadas3peças(0,52%);sãolascasdetalhecaracterís-tico,ouseja,detalhebifacial,eapresentamnafacesuperiorretoquesabruptoesemi-abrupto,definindoumgume,sendooreversopredominantementecortical:peçasn.os19a21(Fig.11)daestaçãodeInhacaíua.Amatéria-primaescolhidafoioquartzito.
7.4.2. Utensílios sobre seixo
dispomos de utensílios com talhe uni- ou bifacial que, do ponto de vista morfológico,formamumgumeouumapontadistal.Sãotiposdeartefactosparaosquaissedefiniramdiferen-tescategoriasequesesubdividememfunçãododomíniotécnicodotalhe,podendoapresentardiferentesdirecçõesnaprocuradeplanosdeequilíbrio.Otalhe(uni-oubifacial)reflecteaestraté-giadeexploraçãonumaounasduasfacesdasváriasgeraçõesde levantamentoseosutensíliosobtidoscorrespondemaarquétiposdeseixostalhadosdoComplexo Tecnológico do Acheulense.
Regista-se a presença de 5 tipos: chopper, chopping tool, poliedros, proto-pico, raspadortransversalsobreseixo(ouchopper-raspador).
daclassificaçãotipológicadestesutensíliosressaltaasuadiversidade,podendoestesapresen-taralgumasimetria,bemcomoumcertoarcaísmoaníveltecnológico,sebemquenoplanomorfo-lógicosenotealgumaevoluçãointencionalcomoobjectivodeobtergumeseformasequilibradas,trabalhoqueteriasidodificultadopelafracaqualidadedoretoqueoupelasuaausência,emalgunsdeles. A escolha do suporte reflecte preocupação quanto às dimensões e morfologia do seixo, demodoapermitirumamaiorfacilidadenotalhe,nautilizaçãoeaténotransporte.Importaassinalarquecadatipodeutensíliomostraumtalhecaracterístico,masteráoseunúmeroelugardefinido.
Otalhedosuporte(seixo)podetersidoefectuadodeumaformalinearordenadaoudesorde-nada numa das faces do seixo e mantendo grande parte da volumetria original do suporte. Naanálisedasformas,adaptámosaclassificaçãotipológicapropostadeCampsemTableau des types de galets taillés (TST)(1981,p.55)eacriadaporBiberson(1966)inFiches Typologiques Africaines(FTA),tendoemconta:aescolha/dimensãodosuporte,oresultadodotalheeamatéria-prima.
· Chopper de talhe não ordenado de gume em ponta (ângulo)–Estetipodegumeéformadoporlevan-tamentosdivergentessobreomesmoplano:peçan.º13(Fig.7)deNhamezingaeapeçan.º7(Fig.4)deMaterdeChevulaI.Estesutensíliospodemquantoàmorfologiaenquadrar-senotipodeseixo 1.2 bisda(TST)deCamps(1981,p.55)enaSérie Ida(FTA)—I. 6deBiberson(1966).Amatéria-primautilizadafoioquartzito.
· Chopper de talhe não ordenado e gume sub-rectilíneo–Estetipodegumeédefinidoporumasériedelevantamentossucessivos:peçan.º26(Fig.12)daestaçãodeSamuane;peçan.º12(Fig.7)deNhamezinga;peçan.º2(Fig.2)deChinduta;peçan.º10(Fig.7)deRamaldeCarinde.Podemenquadrar-se,quantoàmorfologiaapresentadanotipodeseixo 1.2da(TST)deCamps(1981,p.55)enaSérie Ida(FTA)—I. 5deBiberson(1966).Amatéria-primautilizadafoioquartzito.
· Chopper de talhe não ordenado e gume facetado–Estetipoapresentaumgumecomváriasarestas,queseevidencianapeçan.º22(Fig.12)daestaçãodeInhacaíuaenaspeçasn.os5-6(Fig.4)deMaterdeChevulaI.Estesutensíliospodemenquadrar-sequantoàmorfologia,notipodeseixo 1.3da(TST)deCamps(1981,p.55)enaSérie I da(FTA)— I. 5deBiberson(1966).Noque respeita à matéria-prima, há um predomínio do quartzito; apenas a peçan.º6foitalhadaemseixodequartzo.
· Chopper de talhe não ordenado e gume indefinido ou truncado–Estaindefiniçãoquantoaogumepoderesultardofactodoseixotersidosimplesmentetruncado,razãoporquenãosepodeconsiderarhaverumgumeindefinido,alémdeoutroscritériosdeordemtécnica,comosejamasdimensõeseotalheserapenasafloradonoplanodefracturadoseixo,comonapeçan.º29(Fig.13)daestaçãodeSamuane.Nocasodosseixostruncados,verifica-seumtalheabruptocomoresultadode,pelomenos,duassériesdelevantamentossucessivos:peçan.º23(Fig.12)daestaçãoInhacaíua.Nosartefactosemqueotalheseapresentapoucoacentuado,temospor
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· Chopping tool–Foramreferenciadasnestacategoria146peças,querepresentam25,39%.Estetipo de utensílio mostra um seixo talhado nas duas faces, além de apresentar diferentesmorfologiasetipometrias.
Otalhepodetersidoefectuadodeumaformalinear,ordenadooudesordenado,nasduasfacesdoseixonaprocuradadefiniçãodogumeevamosadoptarparaasuacaracterizaçãoaclassificaçãotipológicapropostaporCamps(1981,p.55)emTableau des Types de galets taillés(TST)eacriadaporBiberson(1966) inFiches TypologiquesAfricaines (FTA)paraseixoscomtalhebifacial,talcomoofizemosparaosdetalheunifacial.
· Chopping tool com talhe não ordenado de gume distal duplo –Este tipoapresentaaextremidadedistal definindo um ângulo, ou formando gume, por levantamentos divergentes sobre osdoisplanos,eobtidospor levantamentosalternadoscomo:peçasn.os30e33 (Fig.14)daestaçãodeSamuaneepeçasn.os14e16(Fig.8)deNhamezinga.
· Chopping tool com talhe não ordenado e gume distal recto–Utensíliocujogumefoidefinidoporumasériedelevantamentossucessivos:peçasn.os26e27(Fig.13)deInhacaíuaepeçan.º13(Fig.8)deRamaldeCarinde.Estesutensíliospodemenquadrar-se,quantoàmorfologia,notipodeseixo 2.3da(TST)deCamps(1981,p.55)enaSérie IIda(FTA)—II. 4deBiberson(1966).
· Chopping tool com talhe não ordenado e gume recto duplo–nestetipodeutensílioogumeédefi-nidoporumasériedelevantamentossucessivosemdiferentesdirecções,ecomoresultado,umgumedistaleoutrolateral,mascontínuo:peçan.º33(Fig.14)daestaçãodeSamuanee
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· Chopping tool com talhe bidireccional e gume facetado (A)–Nestetipodeartefacto,ogumedefi-nido foi obtido por levantamentos distais alternados e ordenados como: peça n.º 28(Fig.13)daestaçãodeInhacaíuaepeçan.º15(Fig.8)deNhamezinga.Estesutensíliospodem,quantoàmorfologia,enquadrar-senotipodeseixo 2.6da(TST)deCamps(1981,p.55)enaSérie IIda(FTA)—II.10 deBiberson(1966).Amatéria-primautilizadafoioquartzito.
· Chopper Poliédrico/chopping tool com talhe multidirecional e gume facetado (B) – Registaram-se 5peças (0,87%);éumutensílioquemostraoutracategoriatécnicadetalhebifacial,porser,quantoàdirecção,multidireccional.Estetipodeartefactoresultadodesbaste/talheparcial-mentegeometrizantedepartedoseixo,queotransformanumaespéciedeseixofacetadonapartesuperior(distal),combasereservada(cortical),sendoosartefactosdestetipomorfoló-gicoconsideradososmaiscomuns.
Como utensílio pode representar o início de uma especialização, com um gume bem acen-tuado,oquelevaaconsiderarteremsidopeçasmuitoutilizadas,comosepodeverificarpelodesgastedogumenogrupodosexemplaresrecolhidos:peçasn.os34a36(Fig.15)daestaçãodeSamuane;peçan.º13(Fig.7)deInhacurungoepeçan.º7(Fig.4)daestaçãodeChinduta.
A designação de Chopper Poliédrico foi atribuída por Biberson (1966), que definiu diversostiposmorfológicos,sendooTipo III. 1—Poliedro parcial,oudebasecortical,aqueleondeseenquadramosexemplaresqueestasestaçõesforneceram:assim,podemquantoàmorfologiaserincluídosnotipodeseixo 3.3da(TST)deCamps(1981,p.55).Relativamenteàmatéria--prima,sãotodosdequartzito.
· Chopper com retoque vertical/chopping tool de talhe não ordenado e gume distal irregular–Foiconsi-derada uma peça (0,17%), que apresenta um gume distal resultante de retoques verticais/abruptosdefinidosporumasériedelevantamentos,quesedesenvolveemtodaalarguranaextremidadedistaldoseixo.O levantamentoanívelbasalapenas sepoderáaceitarmuitoparcialmente, caso seja destinado a obter um pequeno gume (levantamento por retoqueabruptoquepodetersidoocasional),maspermiteconsiderarumavariantedegumeduplo:peçan.º14(Fig.8)deInhacurungo.Amatéria-primautilizadafoioquartzo.
· Chopper circular/chopping tool de talhe não ordenado e gume com percurso circular – Este tipo deutensílio incluiuduaspeças(0,35%),emqueogumefoidefinidoporretoquesabruptosedesenvolvidosemvoltadasilhuetadobordodoseixopré-talhado,comlevantamentosoblí-quos:peçasn.os15e16(Fig.9)deInhacurungo.Estesutensíliospodem,quantoàmorfolo-gia,serincluídosnotipodeseixo 2.7da(TST)deCamps(1981,p.55)enaSérie IIda(FTA)—II.14deBiberson(1966).Amatéria-primaescolhidafoioquartzito.
· Chopper com retoque secundário–Foramconsideradasduaspeças(0,35%):sãoutensíliosqueapresentamtalhedesordenadoetraçosdelevantamentosemfaseposterioraotalheinicial.Nocasodaspeçasn.os17e18 (Fig.10)deInhacurungo,oslevantamentosporretoquedetalhecomdirecçãooblíquadistribuem-seemtodaavoltadogumenafaceposterior,oquelevaaconsiderarqueestesartefactosforamreutilizadosemtemposdiferentes,numaprová-
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· Chopper nucleiforme–Nestacategoriaincluíram-se13peças(2,26%),dadootipodetalhequeapresentam,ousejasempreocupaçãodedefiniçãodaforma,ouporqueogumenãoseafiguraútil, seja pela ocorrência de uma grande área cortical, ou pelo talhe não parecer feito emfunçãodadefiniçãodalinhadegume:peçasn.os37a39(Fig.16)daestaçãodeSamuaneeaspeças n.os 19 e 20 (Fig. 11) de Inhacurungo. Poderiam ser também considerados núcleos.Asuaafinidademorfológicacomogrupodoschopperslevou-nos,porém,aintegrá-losnesteconjunto.Amatéria-primautilizadafoioquartzito.
p.32),éumapeçatípicadoAcheulense Antigo e Médio.Édefinidoporlascasalongadas,eapresentacórtexnafaceposteriorenaanterior,mostrandonobordoretoquesplano-convexos.Éaindaintei-ramentetalhado,determinandoumaligeirapontaquepodesermaisoumenosarredondadanasextremidades.
· Lasca tipo “limace”–Identificaram-se4peças(0,70%),quetêmtalheunifacial,sendooreversocortical.Emtermostipológicos,aspeçasn.os40e41(Fig.17)daestaçãodeSamuaneeapeçan.º17(Fig.9)deNhamezingapodemserincluídasnestacategoriadeartefacto.Amatéria--primautilizadafoioquartzito.
Incluímostambémosutensílioscomumtipodegumeespessodesecçãolosângicacomo:aspeças n.os 42 e 43 (Fig. 18) da estação de Samuane e a peça n.º 19 (Fig. 10) de Nhamezinga.Amatéria-primautilizadafoioquartzito.
Este tipo de artefacto representa provavelmente uma evolução na procura de um gume eaproxima-se,quantoaotipodetalhedosproto-biface(segundoadefiniçãodeM.Leakey,1971,paraoquedesignoudebifacegrosseiro),masnãopodemosincluí-losnaclassificaçãodastabelasmorfo-técnicasdeseixostalhadosdisponíveis,tendoematençãoagestãodasuperfíciedeexplora-çãodosseixos.
Os bifaces destas estações são de “tipo arcaico”, dado apresentarem talhe não ordenado,precáriadefiniçãodegume,comarestassinuosasebasereservada(cortical),nãoseenquadrando,por isso, nas tabelas tipológicas definidas para este tipo de utensílio do Acheulense clássico epropostasporBalout(1967).
No caso dos proto-bifaces, a extremidade distal apresenta-se arredondada na peça n.º 22(Fig.5)daestaçãodeInhacurungoebiseladanapeçan.º20(Fig.6)daestaçãodeNhamezinga.Têmnasuatotalidadeabasereservada.Amatéria-primaseleccionadaparaarealizaçãodestesutensíliosfoioquartzito.
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Noseuconjunto,estesutensíliossãoderivadosdeseixostalhadosdotipo 2.3 bissegundooTableau des types de galets tailléspropostaporChamps(1981,p.55).
Quantoàtipologia,podeesteconjuntodeutensíliosenquadrar-senotipoDiversos 4deacordocomoTableau des types de Bifaces—biface parcial 4.2propostaporCamps(1981,p.63,66),assimcomonotipo IIIcorrespondenteapeçasdebasereservadaearredondada,segundooTableau des types de BifacepropostoporTixier(1960,p.121).
· Peças bifaciais–Foramconsideradas4peças (0,70%),queapresentamdiferentemorfologia.Sãoutensíliosdetalhebifacialebasereservada,comumpredomíniodecórtexnoreverso.Na face anterior os levantamentos são de talhe desordenado e inclinação oblíqua, o quepermitedefinirumgumesinuoso,queémaisextensonaspeçasn.os47e48(Fig.21)daesta-çãodeSamuane.Estessãoartefactospoucoespessos,aocontráriodaspeçasn.os34e35(Fig.17) de Inhacaíua, que apresentam um gume mais reduzido e uma espessa base cortical.Quantoàmatéria-prima,sãotodosdequartzito.
Raspador transversal sobre seixoEstacategoriadeutensíliotalhadadirectamentesobreseixotemsignificativapresençanesta
colecção.
• Raspador transversal sobre seixo–Foramconsideradas9peças(1,57%),porapresentaremumtipodetalheunifacial,seguidoderetoquededirecçãocentrípetaedesenvolvidodobordoparaocentro,demodoadefinirumgumelongitudinalquepreenche integralmenteumapartedoseixo,restandoaoutrapartecortical;alémdeseverificarumcertoarrendamentodasarestasdobordoougume(comoconsequênciadopassardostempos):peçasn.os45e46(Fig.20)daestaçãodeSamuane;peçasn.os31e32(Fig.15)deInhacaíuaepeçasn.os23e24(Fig.14)deInhacurungo.Quantoàmatéria-primaseleccionadatemosoquartzito.
· Núcleo reutilizado como raspador–Incluiu-seumapeça(0,17%).Estetipodeutensílioresultoudoreaproveitamentodeumnúcleo,faceaotipoderetoquequeapresentanaextremidadedistalepermitiuacriaçãodeumgume:peçan.º33(Fig.16)daestaçãodeInhacaíua.Amaté-ria-primautilizadafoioquartzito.
Na caracterização técnica, a localização das marcas de percussão mostra a relação entre amorfologiaeoresultadodautilizaçãodapeça.Asalteraçõesverificadasnaáreafuncionalparecemserdecorrentesdouso.
• Percutor–Foramconsideradas4peças(0,70%),quesãoseixoscomatributosqueseencaixamquantoaoníveltipométriconacategoria 2(médio)(QuadroII—Fig.12),eenquadram-senogrupo dos percutores ligeiros por não ultrapassarem o peso de 300 g. Apresentam fortesvestígios de utilização resultantes de percussão polar e lateral: peça n.º 66 da estação de
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Samuane e peças n.os 25 e 27 da estação de Inhacurungo, cujo peso vai dos 250 a 160 g.Amatéria-primaescolhidafoioquartzito.
Peso de redeNacategoriadepesoderedeincluíram-seaspeçasquemostramlevantamentosdetalheoblí-
• Pesos de rede–Foramconsiderados3exemplares(0,52%),bemcaracterizadosdopontodevistatipológicoepodemserumamanufacturadeumaoutrafasedaIdadedaPedra,quenãosepoderáatribuirapenasaoAcheulense,masédifícildedeterminar,dadoserapescaumaacti-vidadedaspopulaçõesribeirinhas.
Apeçan.º68daestaçãodeSamuanemostraumtalheabruptodecadaladodoseixocriandoduastruncaturasnazonamesial;apeçan.º11(Fig.7)daestaçãodeChindutaapresentadoislevantamentos de talhe oblíquo de direcção centrípeta desenvolvido de cada lado na facesuperiordoseixo,definindoumcertoestrangulamentosimétricodosdoislados,nazonadopontodechoque.Quantoàmatéria-primautilizadanestesutensíliosfoioquartzito.
dopontodevistatecnológico,umaaparentepadronizaçãopodeserinterpretadanotalhedestaindústrialítica,eapartirdoqualprocuramosestabelecerasbasesparaoseuestudotipoló-gico. As categorias classificativas resultantes do aproveitamento da morfologia original dosuporte e obtidas, certamente, por talhe aleatório documentam aspectos do desenvolvimentotecnológicoedocomportamentohumanoqueseterãoreflectido,provavelmente,noscamposconceptual,linguístico,socialeorganizacionalquetiveramlugaraolongodoperíododesignadoporAcheulense.
Maria da Conceição Rodrigues Artefactos líticos das “estações” dos terraços fluviais da margem sul do rio Zambeze – província de Tete, Moçambique: uma primeira abordagem
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Oconjuntodeutensíliosdesignadospor“bifacesparciais”seráumaamostradessaevoluçãode grande alcance e consequente importância, que a análise do esquema operatório em que sealicerçouasuamanufacturapermitiuevidenciar.Mereceramparticularatenção,porseconsidera-rem o testemunho de uma demorada conquista de carácter tecno-morfológico que augura noiníciodoAcheulenseumaestratégiacomplexa,quevaidesdeaescolhadamassainicial(níveltipo-métricodoseixo),àsuatransformaçãoeabandonoapósautilização.
OsutensíliosconsideradosdoAcheulensecorrespondem,segundoaclassificaçãotecnológicapropostaporClark(1969,p.29-31),aumaindústriadetecnologiado“modo2”,aqualécaracte-rizadapelotalheuni-ebifacial(Phillipson,1994,p.37),emboraapresençadebifacesnestasesta-çõessejalimitada.Verifica-se,contudo,queaprocuradeordenaçãodasextracçõeslevouàdefini-ção por talhe das duas faces justapostas, bem como a uma nova morfologia, pese embora osconstrangimentosqueaestratégiaimplicava,maspermitiuaidentificaçãodepercursosnacadeiaoperatóriadeconfiguraçãodaspeçascomtalhebifacial.
Podemosquestionaravalidadedestacategoriadeartefacto,dopontodevistanumérico,paraefeitos de comparação relativamente ao Acheulense Antigo naquela área do vale do Zambeze(Panhame),masdesconhece-sesehouvealgumarecolhanaquelamesmaáreaantesoudepoisde1955.Estaquestãolevanta-seaindaporqueosbifaceseospercutoressãovistoscomoexemploscaracterísticosdaindústriado Acheulense,masnãoterãosidoosúnicos,talcomoreferePhillipson(1994,p.36).
No que respeita aos particularismos tecnológicos, estes artefactos podem eventualmenteassinalarodesenvolvimentoespecíficonoâmbitodasestratégiasdetalhe,estarrelacionadoscomtradiçõesculturais,comespecializaçãofuncional,ouasduasemsimultâneo,seatendermosaoreferidoporPellegrin(1993,p.302-317).
Apresençadeumreduzidonúmerodelascas,comparativamentecomodosnúcleos,poderáestar relacionadacomo fenómenopós-deposicionaldedeslocaçãodosmateriais,alémdadife-rente altimetria dos terraços, havendo ainda a considerar que os seixos, como matéria-prima,podemtambémtercondicionadoosistemadeproduçãodosartefactoslíticos.
Quantoàsváriascategoriasdeutensílios,salienta-searepresentativapresençaderaspadores,nosquaisseincluemossobrelascaeossobreseixo,alémdeapresentaremvariadastipometrias.Osprimeirosmerecemdestaqueporqueindicamumaprocura/necessidadedestetipodeutensílioetêmcomosuportelascasdeprimeirageração,quepelassuascaracterísticasmorfológicasassina-lamnoseuconjuntoaspectosdeumacadeiaoperatória identificativadoAcheulense.deacordocomoAtlas of African Prehistory(Clark,1967,obraúnicanoseugénero),osraspadoresapresentamumagrandedistribuição,masapesardonúmerodeestaçõesconhecidas,aqueletipodeutensíliosnãopôde,talcomonesteconjunto,serdatadocomprecisão.
Consideram-sesignificativososatributosfornecidosquantoavaloresquantitativosequali-tativospresentesnestasindústriasereferenciadosnosgráficos8(Fig.13)e9(Fig.14).Nãoforamefectuados quadros descritores de correlação entre a classificação dos diferentes artefactos e oestadofísicoouotipodesuporte,porqueelessãopraticamenteidênticosnoseuaspectoexteriornas sete estações e têm como suporte o seixo, sendo a matéria-prima dominante o quartzito,emboraoquartzotenhaalgumarepresentatividade.
OsachadosdoAcheulensereferenciadosporoutrosautoressão,talcomonestacolecção,quasesempre achados de superfície, levando a que a classificação se fundamente na evolução tecno-morfológicadosutensílios,nomeadamentedosbifaces,notipodepercutorutilizadoenapresençadométodoLevallois.
Osdadosobtidosmostramasestratégiasde talheporpartedogéneroHomo ao longodaIdadedaPedranaquelaáreadovaledoZambeze.Importa,portanto,nãoignorarqueosmateriaisarqueológicosseencontravamnumaáreaquesepodeconsiderardelimitada,masnãoédestacáveltopograficamentedaszonasdosterraçosdamargemsuldoZambeze,comoéadoPanhame,oquedeixapressentirapossibilidadedealgunsdelesnãoseencontraremmuitodistantesdolocalondepoderiamtersidoabandonados.Apresençadepeçaseolizadasoucomduplapátinapodeassinalar
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O resultado da análise do método de talhe no longo período do Acheulense Antigo mostraclaramenteousodopercutorduro,quesefazsentirlargamenteeseevidencianométododedebi-tagem,bemcomonoretoquedosartefactosdoconjuntoemestudo,sendooslevantamentosfeitosporpercussãodirecta,cujaextracçãovisoumodificaramorfologiadosuporteoriginalnaprocuradeumgume,oqueestádeacordocomosparâmetrosdafaseinicialdoComplexo Tecnológico do Acheulense.
A classificação morfológica das lascas, de acordo com a estratégia de desenvolvimento dotalheapartirdamaioroumenorpresençadecórtex,demonstraqueaslascasdeprimeirageraçãosãoasquemarcampresençaeassuasdimensõesvãodesdeasde5cm(emnúmeromuitoredu-zido)àsde11a12cm,oquemostratambémaausênciadepreparaçãodosplanosdepercussão.
Em termos qualitativos, as lascas de primeira geração e de maior dimensão, usadas comosuporte no processo de configuração de alguns utensílios mais significativos desta indústria,provêmporsuavezdadebitagemdenúcleosnãorepresentadosnestacolecção.Aslascasdedescor-ticagemmostramumaestratégiasimpleseapresentamumafacecortical,oqueassinalaumafaseinicialdetalhedoseixonoprocessodedebitagem,comausênciadetalãopreparado.
Aanáliseglobaldossuportesutilizadosparaaproduçãodeutensíliosetestemunhadosnosnúcleosmostraaocorrênciadesituaçõesrelativasàsdiversasestratégiasoperatóriasconsideradas,comosejaacentrípeta,oueventualexploraçãocondicionadadamatéria-primaatéaosnúcleosexaustos.Tendoematençãooníveltipométrico,verifica-sequesepretendiamprodutosdedebita-gem relativamente padronizados e, por vezes, de reduzida dimensão e procurou-se ainda tirarpartidoda facilidadedeclivagemdoquartzitoedoquartzoparaaobtençãodegumesna faseinicialdacadeiaoperatóriaqueseidentificou.
devidoàsuamorfologiaereduzidasdimensões,tipodematéria-primaepátinaeólica,estesuten-síliosenquadram-senumaoutrafasedaIdade da Pedraeasuapresençapoderesultardadeposiçãonosdepósitosfluviais,daíestarememconjuntocomartefactosdoComplexo Tecnológico do Acheulense.
Oíndicedesinuosidadeémuitoelevado,oquenãofavoreceaprecisãotecnológica.Assilhue-tasapresentam-seassimétricasealgodesequilibradas,mostrandoserumconjuntopoucoevolu-ído, independentemente da dimensão do suporte e da matéria-prima escolhida. A extremidadedistalregistaumamorfologiadotipoarredondado.
Oconjuntode“estações”aquiemestudonãosurgiuporacaso,poisestaáreajáhaviasidoreferenciada aquando da localização das de Chitavi e Nhancuaze (durante a 2.ª Campanha daMAM,emOutubrode1937)namargemSuldoZambeze(SantosJúnior,1940,p.21-26).
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Osartefactoslíticos,analisadoseinterpretadosnoâmbitodasestratégiasdetalheedepercus-sãoaplicadasnaobtençãodepeçastalhadasapartirdeseixosrolados,principalmentedequartzitoequartzo,documentam,quantoàsuavariabilidadeedistribuiçãoespacial,umavisãododesenvol-vimentoocorridofundamentalmenteaolongodoComplexo Tecnológico do Acheulense.
Asuapresençasugereumtipodeocupaçãoquesepodeconsiderarsazonal,comcirculaçãodecomunidadesdepovoscaçadoresnoseuambientepreferido,comoeraaproximidadedoscursosdeágua(Clark,1982,p.518-519;Phillipson,1994,p.39).Esteperíodoterásidotambémopalcode grande distribuição geográfica dos produtores de artefactos líticos, o que poderá indicar oaumentodapopulaçãohumana(Phillipson,1994,p.34),jáqueosvalesdosmaioresriosafricanossãoparticularmentericosemvestígiosdoAcheulense.
Naimpossibilidadedeobterqualquerdataçãoparaosmateriaisdestasestações,recorreu-seàmorfologiaeaosaspectostécnicosparaseobservaroníveldeaproveitamentodamatéria-primae, assim, inferir a cronologia relativa dos artefactos líticos recolhidos, permitindo estabelecer aantiguidade das indústrias identificadas, mas com evidentes evoluções, com base em critériossimilares.
Aúltimafase,designadaporAcheulense Recente na África Oriental,poderá,comotudoaponta,tersobrevividoatécercade200000a100000anosa.C.namaiorpartedasáreas(Phillipson,1994,p.34).Estacronologiadeve,contudo,serconsideradacomalgumasreticências,pornãoparecer
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existirnenhummétododedataçãosuficientementeprecisoparamediradiferençadeidadesentreasváriasindústriasdoComplexo Tecnológico do Acheulense.
Quanto à terminologia para a avaliação cronológica aceite, e de acordo com o sistema dereferências adoptado para a divisão da Idade da Pedra na África subsaariana, julgamos que osconjuntoslíticosemapreçodevemserincluídosnasuagrandemaiorianachamada2.ªfasedaEarlyStoneAge,devidoàcircunstânciadeemtodasasestaçõessurgiremartefactostipicamenteAcheulenses (os chamados “large long tools”, de que são exemplo os bifaces e os raspadores),devendoassimos seixos talhados,que tambémocorrememgrandequantidade, serassociáveiscronológicaeculturalmenteàqueletecno-complexo.
ApresençadométodoLevalloisé,nestaperspectiva,tambémummarcadorcronológicodegrandesignificadotecnológico,porquealémdeassinalarumprocessodedesenvolvimento,possi-bilita a obtenção de lascas com forma pré-determinada, o que envolve a preparação do núcleoinicial.Atravésdestaestratégiadetalhe,lascasmaispadronizadaspodiamserproduzidaseutiliza-das sem ser necessário retocá-las. Os utensílios sobre lasca Levallois, como raspadores e lascasretocadascomfurador,documentadosnoconjuntodestasestações, sãocaracterísticosdeumafasemaisavançadadoAcheulense.
Poroutrolado,acaçaexigiaumaorganizaçãoecomunicaçãoeficienteentreosmembrosdogrupo,oqueteráconduzido,comopassardostempos,aodesenvolvimentodosprimórdiosdalinguagem,quemuitoteriacontribuídoparaaumentaracomunicação efacilitado asuacapaci-dadedesobrevivência.Considera-sequeforamossucessoresdoHomo habilisquedesenvolveramatradição Acheulense emÁfrica.destemodo, importouassinalarqueobifacedo tipoparcial eochopper(seixostalhados)coexistiramcomoutensílioseoHomo ergaster e o Homo erectuspoderiamteracampadoaolongodovaledoZambeze.
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OAcheulense,porém,nãodeveservistocomoumaentidade,exceptuandoemtermosdeseme-lhanças tecnológicas. Sendo por isso prematuro assumir que tenha havido afinidades entre osartesãosquantoaosdetalhesdassuascondiçõesdevida.
Temos consciência das limitações surgidas para a análise destes artefactos líticos, mas osdadosobtidosassinalamaspectosdaevoluçãotecnológicadogéneroHomo, dasuacapacidade,imaginação e engenho, cuja estratégia terá proporcionado às sucessivas gerações o desenvolvi-mentodeumequipamentocomgrandevariedadedeutensíliosquelhesfacultou,nãosóasobre-vivência,comoodesenvolvimentosocioculturalquepermitiu explorardeummodocontinuadoosrecursosdoecossistemadocontinenteafricanoemqueviviam;eaindaporqueumdosobjecti-vosdonossotrabalhoédeixaralgumaspistasnoâmbitodoestudodaIdadedaPedranestaáreadovaledoZambeze,emMoçambique.
NOTAS
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MasfoinoVIIIe Congrès Panafricain de Préhistoire et des Études du Quaternaire, Nairobi, 1977,queasindústriasOlduvaienseeAcheulenseadquiriramsentidoculturalecronológico.
6 Adesignaçãoergaster foidescritapelaprimeiravezporgroveseMazakem1975efoiatribuídaaoespécimecatalogadoporKNM–ER992(groveseMazakem1975inCasopis pro Mineralogii a Geologii,20,p.225-247).OHomo ergaster éconsiderado pelamaiorpartedosautorescomoaformamaisprimitivaetipicamenteafricanadograndegrupotaxonómicoerectus.Outrosinvestigadorespreferemreservaradefiniçãoerectusparaaespécieasiática,devendonestecasoaclassificaçãoergasterserconsideradacomosubstitutivadaquelanocontinenteafricano,eaté(oqueémuitomaisdiscutível)nocontinenteeuropeu.
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