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ARROZ PRETO: nova opção culinária para o Brasil 147 ISSN 1678-961X Santo Antônio de Goiás, GO Agosto, 2008 Priscila Zaczuk Bassinello 1 Jacqueline Souza Garcia 2 Lorena Acelina Soares 3 Selma Nakamoto Koakuzu 4 Francisco Pereira Moura Neto 5 Renilda Aparecida Ferreira 6 João Antônio Mendonça 7 Carlos Martins Santiago 8 Paulo Hideo Nakano Rangel 9 1 Engenheira Agrônoma, Doutora em Ciência de Alimentos, Pesquisadora, Embrapa Arroz e Feijão, Rod. GO 462, Km 12 75375-000 Santo Antônio de Goiás, GO. [email protected] 2 Estudante do Curso de Graduação de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás, estagiária da Embrapa Arroz e Feijão. 3 Estudante do Curso de Graduação de Química Agroindustrial do CEFET-GO. 4 Química, Mestre em Ciência de Alimentos, Analista, Embrapa Arroz e Feijão [email protected] 5 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fitotecnia, Analista, Embrapa Arroz e Feijão [email protected] 6 Assistente, Embrapa Arroz e Feijão [email protected] 7 Estudante do Curso de Graduação em Biologia da Universidade Federal de Goiás. 8 Administrador, Especialista em Gestão Econômica, Analista, Embrapa Arroz e Feijão [email protected] 9 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador, Embrapa Arroz e Feijão [email protected] Introdução Os aspectos ligados à qualidade de grãos em arroz são mais amplos e complexos que aqueles considerados em outros cereais. O arroz, no Brasil, é consumido principalmente na forma de grãos inteiros, descascados e polidos. O trigo e o milho, ao contrário, normalmente são transformados em outros produtos antes do consumo. Assim, no caso do arroz, além de aspectos determinantes da qualidade de consumo, como a aparência do produto após cozimento, o odor, a consistência e o sabor, são também considerados aspectos relacionados à aparência dos grãos antes do cozimento. A qualidade de grãos de um genótipo de arroz é determinada pela perfeita interação entre os vários componentes da cadeia produtiva da cultura (CASTRO et al., 1999). O arroz é um dos principais cereais nos países em desenvolvimento e uma importante fonte de alimento básico de mais da metade da população mundial. Apesar de amplamente consumido como arroz branco, há muitas cultivares especiais de arroz que contêm cores (pigmentos), tais como arroz preto e arroz vermelho. O Sudeste da Ásia é a principal área de produção agrícola desta cultura e habitantes desta região têm uma longa história de consumo de arroz preto (HU et al., 2003). Cultivado na China há mais de quatro mil anos, com fama de produto afrodisíaco e exótico, o arroz preto era chamado de “Arroz Proibido”, pois era consumido apenas pelo Imperador, cabendo a seus súditos somente a produção dos grãos. A partir da década de 80, a China intensificou o melhoramento para arroz preto e hoje
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ARROZ PRETO: nova opção culinária para o Brasil€¦ · brasileira com vantagens nutricionais, funcionais e culinárias agregadas (Anexo 1). O arroz preto deve ser considerado

Jun 27, 2020

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ARROZ PRETO: nova opçãoculinária para o Brasil

147ISSN 1678-961XSanto Antônio deGoiás, GOAgosto, 2008

Priscila Zaczuk Bassinello1

Jacqueline Souza Garcia2

Lorena Acelina Soares3

Selma Nakamoto Koakuzu4

Francisco Pereira Moura Neto5

Renilda Aparecida Ferreira6

João Antônio Mendonça7

Carlos Martins Santiago8

Paulo Hideo Nakano Rangel9

1 Engenheira Agrônoma, Doutora em Ciência de Alimentos, Pesquisadora, Embrapa Arroz e Feijão, Rod. GO 462, Km 12 75375-000 Santo Antônio de Goiás, [email protected]

2 Estudante do Curso de Graduação de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás, estagiária da Embrapa Arroz e Feijão.3 Estudante do Curso de Graduação de Química Agroindustrial do CEFET-GO.4 Química, Mestre em Ciência de Alimentos, Analista, Embrapa Arroz e Feijão [email protected] Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fitotecnia, Analista, Embrapa Arroz e Feijão [email protected] Assistente, Embrapa Arroz e Feijão [email protected] Estudante do Curso de Graduação em Biologia da Universidade Federal de Goiás.8 Administrador, Especialista em Gestão Econômica, Analista, Embrapa Arroz e Feijão [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador, Embrapa Arroz e Feijão [email protected]

Introdução

Os aspectos ligados à qualidade de grãos em arroz sãomais amplos e complexos que aqueles considerados emoutros cereais. O arroz, no Brasil, é consumidoprincipalmente na forma de grãos inteiros, descascados epolidos. O trigo e o milho, ao contrário, normalmente sãotransformados em outros produtos antes do consumo.Assim, no caso do arroz, além de aspectos determinantesda qualidade de consumo, como a aparência do produtoapós cozimento, o odor, a consistência e o sabor, sãotambém considerados aspectos relacionados à aparênciados grãos antes do cozimento. A qualidade de grãos deum genótipo de arroz é determinada pela perfeita interaçãoentre os vários componentes da cadeia produtiva dacultura (CASTRO et al., 1999).

O arroz é um dos principais cereais nos países emdesenvolvimento e uma importante fonte de alimentobásico de mais da metade da população mundial. Apesarde amplamente consumido como arroz branco, há muitascultivares especiais de arroz que contêm cores(pigmentos), tais como arroz preto e arroz vermelho. OSudeste da Ásia é a principal área de produção agrícoladesta cultura e habitantes desta região têm uma longahistória de consumo de arroz preto (HU et al., 2003).

Cultivado na China há mais de quatro mil anos, com famade produto afrodisíaco e exótico, o arroz preto erachamado de “Arroz Proibido”, pois era consumido apenaspelo Imperador, cabendo a seus súditos somente aprodução dos grãos. A partir da década de 80, a Chinaintensificou o melhoramento para arroz preto e hoje

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existem mais de 50 variedades modernas cultivadasnaquele país. Este tipo especial de arroz tornou-se asensação entre chefs e gourmets, a começar pela cor – naverdade, lilás, que de tão forte se torna preto -, peloaroma leve de castanha e pelo sabor único. Depois decozido, segundo opinião de consultores gastronômicos, ogrão de formato arredondado e curto fica ‘al dente’ semperder a textura macia e permanece inteiro. Consideradouma iguaria na Europa e nos Estados Unidos, o arrozpreto demorou a chegar ao Brasil. As notícias desse grãoextremamente aromático, de sabor especial, ficaramrestritas aos amantes da alta gastronomia até 15 anosatrás, quando os primeiros pacotes passaram a serencontrados em lojas especializadas. No Brasil, apesquisa teve início em 1994, desenvolvida pelospesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas(IAC), órgão da Secretaria de Agricultura do Estado deSão Paulo, para as características de solo e de climapaulistas, e batizado com o nome de IAC-600. Essacultivar, IAC 600, é Oryza sativa, e não deve serconfundida com o chamado arroz selvagem que é outragramínea (Zizania sp.).

Comparado ao arroz polido e integral, o arroz pretopossui mais proteínas e fibras, dez vezes mais compostosfenólicos (antioxidantes), além de maciez, aroma e saboracastanhados, apresentando valor calórico inferior (Tabela1). Durante o beneficiamento do grão - que é vendidoapenas na qualidade gourmet - os produtores observamperdas de 25 a 35%. Os grãos quebrados receberam, porsua vez, um olhar diferenciado por pesquisadores daEscola de Engenharia de Lorena (EEL), como umaoportunidade para obtenção de uma bebida com sabordiferenciado e tonalidade acastanhada - algo entre acerveja “bock” e a puro malte - buscando agregar valorao produtor de arroz e oferecer uma nova opção de chopeaos apreciadores (EEL, 2007).

A Embrapa Arroz e Feijão desenvolveu algumas linhagensde arroz preto com grão similar ao tipo agulhinha erealizou alguns estudos agronômicos e de qualidade de

grãos com o objetivo de estimular a ampliação de novosmercados para os produtores atingirem um nichoespecífico, com potencial no consumo interno e externo,já que o arroz preto tem amplo mercado na Europa e nosEstados Unidos. Apesar de ainda incipiente no Brasil, égrande o potencial de mercado em qualquer regiãobrasileira com vantagens nutricionais, funcionais eculinárias agregadas (Anexo 1). O arroz preto deve serconsiderado um produto especial e ser analisado comotal, não sendo o intuito do trabalho recomendar um tipode arroz colorido para substituir o arroz branco ouintegral na dieta brasileira, mas sim, sugerir alternativasde diversificação culinária e de geração de renda.

Características agronômicas

O arroz preto Heibao é oriundo da Índia e foi introduzidono Brasil pela Embrapa Arroz e Feijão onde recebeu adenominação de CNA10887. Foi avaliado no Rio Grandedo Sul em cinco ensaios sendo: três conduzidos no anoagrícola 2001/02 e dois no ano agrícola 2002/03, todosnos municípios de Alegrete e Uruguaiana. As principaiscaracterísticas agronômicas desta linhagem são:

- Arquitetura de planta: apresenta arquitetura de plantamoderna com folhas eretas, alto número de perfilhos,porte baixo (altura de planta de cerca de 75 cm) eresistência ao acamamento.

- Ciclo: nas condições do Rio Grande do Sul, onde foiavaliada, a linhagem CNA10887 mostrou-se precocecom floração média aos 69 dias e ciclo total de 100dias.

- Doenças: apresentou baixa incidência de brusone nafolha e na panícula, mancha de grãos e mancha parda.

- Produtividade de grãos: na média dos cinco ambientesde avaliação nos anos agrícolas de 2001/02 e 2002/03 a produtividade foi de 5.937 kg/ha.

Na Fig. 1 mostram-se detalhes da planta e da panículaantes da maturação dos grãos.

Tabela 1. Composição centesimal, teor de compostos fenólicos, ferro e valor calórico de diferentes tipos de arroz e subprodutos (base seca).

Produto* Proteína Gordura Fibra Cinza Carboidrato Valor Composto Ferro

(base seca) (%) (%) (%) (%) (%) calórico Fenólico (mg/ (Kcal) (mM trolox/g) 100g)

Arroz bruto 6,7 – 8,9 1,7 - 2,7 8,4 - 12,0 3,4 – 6,0 70 - 79 nd nd ndArroz integral 8,3 – 9,6 1,9 – 3,2 0,7 - 1,1 1,1 - 1,7 85 - 88 404,25 91,8 1,0Arroz polido 7,3 – 8,2 0,3 - 0,6 0,2 - 0,6 0,3 - 0,9 77 - 89 367,05 - 0,7Farelo do arroz 13,1 – 17,3 17,4 – 22,9 8,1 – 13,2 7,7 – 11,5 35 - 54 nd nd ndCasca do arroz 2,3 – 3,2 0,3 – 1,0 40,1 – 53,4 15,3 – 24,4 18 - 42 nd nd ndArroz preto IAC-600** 10,7 1,83 2,20 1,40 83,90 395,27 906 ndCNA10887*** 9,56 2,94 5,1 1,64 80,77 387,76 nd 1,39

nd = não determinado.*Fonte adaptada de Juliano (1993).**Adaptado de Arroz Preto (2008).***Dados obtidos no Laboratório de Qualidade de Grãos da Embrapa Arroz e Feijão. Média de 3 repetições.

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Características de qualidade dos grãos

A linhagem CNA10887 apresenta grão longo e fino coma casca de coloração escura na fase inicial da emissão dapanícula a levemente escura na maturação. Apósdescasque, os grãos são pretos devido a um pigmento, aantocianina presente no pericarpo, na película da sementee na fibra exterior do grão (Fig. 2). A película queenvolve o grão do arroz integral preto (farelo) é rica emcarboidratos, óleos, proteínas, compostos fenólicos,fibras, cobalto, vitaminas: A, B1, B2, B6, B12, niacina,ácido nicotínico, ácido pantatênico, pró-vitaminas C e E.

O arroz integral difere do arroz polido devido ao diferentetipo de processamento ao qual é submetido. Essadiferença no processamento acarreta algumas diferençasno valor nutricional, na vida de prateleira e no sabor etextura dos dois tipos de arroz. A principal diferença estána etapa de polimento, que no caso do arroz integral émuito mais branda, servindo apenas para retirar algumascamadas mais externas, sem separar o germe nem ofarelo. Isso explica o fato de o arroz integral possuirmaior valor nutricional. Ao verificar a tabela de

composição dos diferentes tipos de arroz (Tabela 1),pode-se perceber que o arroz integral é mais rico emproteínas e gordura do que o arroz polido. O sabor e atextura do arroz polido e do arroz integral também sãobem diferentes. A grande maioria das pessoas prefere ounão o arroz integral em relação ao polido justamente porsua textura e sabor bem diferenciados. Os mesmosingredientes que o diferenciam em seu valor nutritivo eque não foram removidos durante o processamento sãoos responsáveis por estas diferenças.

Fig. 1. Detalhes da planta e da panícula da linhagem de arrozpelo CNA10887 no campo experimental da Embrapa Arroz eFeijão, Santo Antônio de Goiás.

Fig. 2. A: Grãos descascados (integrais) e B: grãos em cascada linhagem CNA10887.

O arroz preto — que deve ser consumido na formaintegral — é um alimento de excelentes qualidadesnutricionais. Comparado ao arroz integral tradicional, oarroz preto o supera em quantidade de proteínas, defibras e de carboidrato, além de ter menor valor calóricototal e menos gordura (BERGMAN, 2002; IAC-600...,2004). O arroz polido tem uma vida de prateleira maiorque aquela do arroz integral porque durante o seuprocessamento é retirado o farelo com germe, diminuindosignificativamente seu teor de gordura e, assim,diminuindo a possibilidade de oxidação. O arroz preto,por apresentar um teor intermediário de gordura, pode serarmazenado por um período maior do que o arroz integraltradicional.

As análises realizadas para determinação dascaracterísticas de qualidade dos grãos foram os testesfísicos como rendimento de engenho e os físico-químicoscomo teor de amilose aparente, temperatura degelatinização e cocção (MARTÍNEZ et al., 1989),umidade, cinzas, proteínas, lipídios, fibra alimentar total(método enzimático-gravimétrico nº 991.43),carboidratos (calculado pela diferença entre 100 e a somadas porcentagens de água, proteína, lipídeos totais, fibrae cinzas), valor energético total (através da equaçãoVET=(Cx4)+(Ax4)+(Bx9), onde C: carboidratos, A:proteína total e B: extrato etéreo), minerais (ferro e zinco)Association of Official Analytical Chemists (1997).

A B

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Rendimento de Engenho

Em testes realizados no moinho de prova, marca Susuki,a CNA10887 apresentou elevado rendimento deengenho com percentagens de grãos inteiros de 72% erenda de 75%. De acordo com estudos do IAC (IAC-600..., 2004), a cultivar IAC-600 apresentourendimento médio de grãos inteiros de 68%.

Teor de Amilose Aparente (TAA)

Algumas qualidades do arroz são determinadas pelaspropriedades do amido, seu principal constituinte, emtorno de 90% do grão polido. O amido, por sua vez, écomposto por duas frações denominadas amilose eamilopectina, em proporções variáveis. O TAA estácorrelacionado com as propriedades texturais do arrozcomo maciez e coesão, e ainda com sua cor, brilho evolume de expansão, ou seja, o conteúdo de amilosefornece informações sobre as mudanças que ocorremdurante o processo de cocção. Arroz com alto teor deamilose, normalmente, apresenta grãos secos, soltos eapós o resfriamento podem ficar endurecidos. Ascultivares com baixo TAA apresentam grãos macios,aquosos e pegajosos no cozimento. Aquelas com teorintermediário apresentam grãos enxutos, soltos emacios, mesmo após o resfriamento (CASTRO et al.,2003).

A metodologia utilizada para determinar o TAA foi a deMartínez et al. (1989), adaptada pela Embrapa Arroz eFeijão, através do método colorimétrico, onde oindicador é a solução iodo/iodeto de potássio e aabsorbância do complexo colorido formado, lida emespectrofotômetro ao comprimento de onda de 620 nme comparada à curva padrão de amilose comercial debatata.

A linhagem CNA10887 apresentou TAA baixo(17%), o que implica teoricamente em grãos maciose com tendência à pegajosidade após o cozimento.Mais adiante, serão apresentados os resultados daamostra para o teste de panela, no qual se observouuma divergência do resultado prático em relação aocomportamento teórico esperado. Isso pode serexplicado em função da limitação do teste químicopara determinar amilose aparente em arroz, em queexiste certa interferência de amilopectina na leitura,além de indicar, para o arroz preto, que outrosfatores, não investigados no presente trabalho,devem estar influenciando o comportamento depanela, como teores de amilose solúvel e insolúvel,amilopectina, tamanho das cadeias de amilopectina,complexação da amilose com lipídeos ou proteínasentre outros.

Temperatura de Gelatinização (TG)

A TG é uma característica utilizada como medida indiretada qualidade do arroz. Em termos práticos é um testeque avalia o índice de resistência à cocção, característicaque está relacionada com a propriedade do amido e quedetermina o tempo de cozimento. As temperaturas degelatinização baixa e intermediária implicam nanecessidade de menor tempo e água e,consequentemente, menos energia para o cozimento.Cultivares com altas TG requerem mais água e tempopara cozinhar.

Utilizando-se a metodologia da dispersão alcalinadescrita por Martínez et al. (1989) e adaptada pelaEmbrapa Arroz e Feijão, a linhagem CNA10887apresentou TG baixa (entre 63 e 68ºC). Dessa forma,essa amostra apresenta boa capacidade de absorção deágua, obtendo grãos mais macios, com tendência aempapar se cozinharem além do ponto.

Teste de Cocção

O teste de cocção em arroz é um dos parâmetros dequalidade muito utilizado por programas demelhoramento genético e indústrias de beneficiamentocomo forma de avaliar o comportamento culinário dascultivares lançadas e/ou novas linhagens em estudo.Normalmente simula-se, na metodologia, o cozimentocaseiro (MARTÍNEZ et al., 1989) e realiza-se o testesensorial (BASSINELLO et al., 2004). No teste decocção foi avaliado o comportamento do arroz durante eapós o cozimento, verificando-se também o rendimentodo arroz na panela, a pegajosidade e a textura dos grãoscozidos.

O arroz preto, CNA10887, apresenta um tempo maiorde cozimento, pois é consumido na forma integral, emmédia 57 minutos. Em relação à absorção de águadurante o cozimento, o arroz preto necessita de umamaior quantidade de água para cozinhar, provavelmentedevido a maior quantidade de fibras que possui, queacabam absorvendo mais água que os tipostradicionais. O seu rendimento na panela variou de2,25 a 3,0 vezes, considerado bom. Nas amostrascom baixo TAA, espera-se um maior conteúdo deamilopectina nos grãos, os quais, conseqüentemente,possuem maior capacidade de absorção de água.Devido a isso, devem ser cozidos com maiorquantidade de água do que os grãos das cultivares comteor de amilose intermediário ou alto.

Quanto à pegajosidade, a linhagem CNA10887apresentou comportamento solto a ligeiramentepegajoso, o que significa que os grãos separam-se

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facilmente entre si. Em relação à textura, apresentou-semacio (‘al dente’) após cozimento e resfriamento atétemperatura ambiente.

Na Figura 3 mostram-se detalhes dos grãos daCNA10887 logo após o cozimento.

daqueles publicados para a cultivar de arroz preto (IAC600), desenvolvido pelo Instituto Agronômico deCampinas, que possui 9,71% de proteína, 2,02% de fibra,baixo teor de amilose (19,3%) e baixa temperatura degelatinização (ARROZ PRETO, 2008).

Referências

ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS.Official methods of analysis of the Association of OfficialAnalytical Chemists. 16 ed. Washington, 1997. 2 v.

ARROZ PRETO. Disponível em:<http://arrozpreto.com.br/historico.asp>. Acesso em: 4maio 2008.

BASSINELLO, P. Z.; ROCHA, M. S.; COBUCCI, R. de M.A. Avaliação de diferentes métodos de cocção de arroz deterras altas para teste sensorial. Santo Antônio de Goiás:Embrapa Arroz e Feijão, 2004. 8 p. (Embrapa Arroz eFeijão. Comunicado técnico, 84).

BERGMAN, C. J. Characterizing and enhancing rice branfractions with potential health benefits and industrial uses.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA ETECNOLOGIA DE ALIMENTOS, 18., 2002, Porto Alegre.Anais... Porto Alegre: SBCTA, 2002. 1 CD-ROM.

CASTRO, E. da M. de; FERREIRA, C. M.; MORAIS, O. P.de. Qualidade de grãos e competitividade do arroz deterras altas. In: CONGRESSO DA CADEIA PRODUTIVADO ARROZ, 1.; REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DEARROZ, 7., 2002, Florianópolis. Anais... Santo Antôniode Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. v. 2, p. 220-233. (Embrapa Arroz e Feijão. Documentos, 153).

CASTRO, E. da M. de; VIEIRA, N. R. de A.; RABELO, R.R.; SILVA, S. A. da. Qualidade de grãos em arroz. SantoAntônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. 30 p.(Embrapa Arroz e Feijão. Circular técnica, 34).

EEL- Escola de Engenharia de Lorena. EEL desenvolvenovo chope, feito de arroz preto. 2007. Disponível em:<http://www.infobibos.com/Artigos/2007_3/chope/index.htm>. Acesso em: 4 maio 2008.

HU, C.; ZAWISTOWSKI, J.; LING, W. H.; KITTS, D. D.Black rice (Oryza sativa L. indica) pigmented fractionsuppresses both reactive oxygen species and nitric oxide inchemical and biological model systems Black rice (Oryzasativa L. indica) pigmented fraction suppresses both reactiveoxygen species and nitric oxide in chemical and biologicalmodel systems. Journal of Agricultural and Food Chemistry,Easton, v. 51, n. 18, p. 5271-5277, Aug. 2003.

Fig. 3. Aspecto dos grãos da CNA10887 imediatamente apóso cozimento.

Componentes nutricionais

Na Tabela 1 pode-se observar a composição de alguns tiposde arroz em relação aos principais componentes nutricionais.

O conteúdo protéico do arroz é influenciado pelascondições ambientais, como temperatura, umidade,composição e fertilidade do solo. Entretanto, asdiferenças varietais é que determinam as maioresvariações, de 4% a 14%, no teor protéico (NAVES;BASSINELLO, 2006). A linhagem CNA10887apresentou 9,56% de proteína, superior a do arrozintegral tradicional, que apresenta média entre 7-8%, edo arroz branco polido cujo teor fica entre 6-7%.

Em relação à quantidade de fibras, o arroz preto também semostra superior uma vez que tem em média 5,1% de fibraalimentar, contra 1,42% do arroz integral e 0,32% doarroz polido, o que torna a absorção de nutrientes maislenta e a glicemia, equilibrada.

Quanto aos minerais, merecem destaque o ferro e o zinco,por desempenharem papel relevante na nutrição e saúde doser humano. A linhagem CNA10887 apresentou em média1,39 mg de ferro/100g de arroz e 2,52 mg de zinco/100gde arroz preto, valores superiores, se comparados com oarroz integral que possui 1,0mg de ferro/100g de arroz e1,3mg de zinco/100g de arroz e o arroz branco polido com0,7mg de ferro/100g de arroz e 1,3mg de zinco/100g dearroz (TABELA..., 2006). Outra fonte revelou um teor deferro da ordem de 2,2mg/100g para arroz negro (PEREIRA,2007). Os resultados da CNA10887 aproximaram-se

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IAC-600: primeira cultivar de arroz preto para o Estado deSão Paulo. O Agronômico, Campinas, v. 56, n. 1, p. 20,2004.

JULIANO, B. O. Rice in human nutrition. Rome: FAO,1993. p. 40.

MARTÍNEZ, C.; CUEVAS, F.; MEDINA, L. M. Evaluaciónde la calidad culinaria y molinera del arroz. 3. ed. Cali:CIAT, 1989. 75 p. (CIAT. Serie 04SR-07.01).

NAVES, M. M. V.; BASSINELLO, P. Z. Importância nanutrição humana. In: SANTOS, A. B. dos; STONE, L. F.;VIEIRA, N. R. de A. (Ed.). A cultura do arroz no Brasil. 2.ed. rev. ampl. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz eFeijão, 2006. p. 17-30.

PEREIRA, I. Dos deuses. Bons Fluidos, São Paulo, n.103, p. 76-79, nov. 2007.

TABELA brasileira de composição de alimentos – TACO:versão 2. Campinas: NEPA-UNICAMP, 2006. 105 p.

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7ARROZ PRETO: nova opção culinária para o Brasil

SALADA DE ARROZ PRETO

Ingredientes:

4 laranjas3 copos tipo americano de arroz preto1 lata de creme de leite2 tabletes de caldo de galinha6 colheres (sopa) de suco de limão1 copo tipo americano de cebola bem picada1 pepino japonês cortado em cubos (sem descascar)3 copos tipo americano presunto ou lombo canadense bem picadoSal a gosto6 colheres (sopa) de azeite1 copo tipo americano de maioneseBacon (opcional)2 copos de cheiro verde1 pimentão verde1/2 copo de pimenta de cheiro

ANEXO 1. SUGESTÕES DE APROVEITAMENTO CULINÁRIO DO ARROZ PRETO

Modo de Preparo:

Descascar as laranjas e remover a película branca.Cortar em gomos e retirar as sementes. Reservar. Numapanela média, juntar o arroz preto e seis xícaras de águae levar ao fogo médio por 50 minutos ou até ficarmacio. Retirar do fogo, escorrer e deixar esfriar. Numatigela média, juntar o arroz com o creme de leite e osuco de limão e misturar bem. Adicionar a cebola e opimentão já refogados com o caldo de galinha. Juntar opepino, a laranja, o presunto, o cheiro verde e apimenta de cheiro. Fritar o bacon e acrescentar àmistura. Misturar tudo, transferir para uma travessa ousaladeira e regar com o azeite. Decorar a gosto.

Colaboração: Sander Ribeiro Gomes (gastronomista/Faculdade Cambury)

A utilização do arroz preto na culinária vemsendo desenvolvida na cozinha experimentalda Embrapa Arroz e Feijão para um melhoraproveitamento de suas características.Dentre esses pratos, tem-se a salada de arrozpreto e o bolo de arroz preto.

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8 ARROZ PRETO: nova opção culinária para o Brasil

Comitê depublicações

Expediente

ComunicadoTécnico, 147

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:Embrapa Arroz e FeijãoRodovia GO 462 Km 12 Zona RuralCaixa Postal 17975375-000 Santo Antônio de Goiás, GOFone: (62) 3533 2123Fax: (62) 3533 2100E-mail: [email protected]

1a edição1a impressão (2007): 1.000 exemplares

Presidente: Luís Fernando StoneSecretário-Executivo: Luiz Roberto R. da Silva Flávio Breseghello Orlando Peixoto de Morais

Supervisor editorial: Camilla Souza de OliveiraRevisão de texto: Camilla Souza de OliveiraNormalização bibliográfica: Ana Lúcia D. FariaEditoração eletrônica: Fabiano Severino

CGPE: 7110

BOLO DE ARROZ PRETO

Ingredientes:

3 copos tipo americano de arroz preto2 copos de leite1 copo de óleo1 copo de queijo ralado2 copos de açúcar3 ovos1 colher de pó para bolos

Modo de Preparo:

Colocar o arroz de molho no leite por 10 horas e depoisbater o arroz no liqüidificador até ficar um creme;depois misturar bem os outros ingredientes sem bater.Levar para assar em forno quente e forma untada.

Sugestão: Pode-se preparar a mesma receita a partir dafarinha de arroz preto, obtida pela moagem dos grãosintegrais em moinho ou liquidificador, peneirando-se afarinha. Neste caso, não é necessário deixar o arroz demolho no leite, mas levar a farinha direto no liquidificador.