CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS C C u u r r s s o o P P r r ó ó - - T T é é c c n n i i c c o o Disciplina: Língua Portuguesa e Literatura Brasileira Texto Experimental – 1 a Edição Professora Zelina Márcia Pereira Beato Varginha – Minas Gerais Dezembro de 2006
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Transcript
CENTRO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
DE MINAS GERAIS
CCuurrssoo PPrróó--TTééccnniiccoo Disciplina:
Língua Portuguesa e Literatura Brasileira TTeexxttoo EExxppeerriimmeennttaall –– 11aa EEddiiççããoo
Professora Zelina Márcia Pereira Beato
Varginha – Minas Gerais
Dezembro de 2006
......................................................... Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Campus VIII – Varginha.
Curso Pró-Técnico. Disciplina: Língua Portuguesa e Literatura Brasileira - Professora Zelina Beato. ii
O Português é a língua oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde,
Guiné Bissau, Moçambique, Macau, Portugal,
São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
Fonte: http://www.linguaportuguesa.ufrn.br/
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Sumário
1. TEXTOS – LEITURA E PONTUAÇÃO .............................................................. 1
ATIVIDADE DE PONTUAÇÃO I................................................................................... 8 ATIVIDADE DE PONTUAÇÃO II .................................................................................. 9
2. SINAIS DE PONTUAÇÃO................................................................................ 11
2.1 - Emprego dos dois pontos...................................................................... 11 2.2 - Emprego do ponto de interrogação ....................................................... 11 2.3 - Emprego do ponto de exclamação........................................................ 11 2.4 - Emprego das reticências ....................................................................... 11 2.5 - Emprego das aspas .............................................................................. 11 2.6 - Emprego do Travessão ......................................................................... 11 2.7- Emprego dos Parênteses ....................................................................... 12 2.8 - Emprego do ponto e vírgula .................................................................. 12 2.9 - Emprego da vírgula: .............................................................................. 12
5.1 - PAISES LUSÓFONOS..................................................................................... 39 5.1.2 - Algumas diferenças entre o português europeu e o português do Brasil: ............................................................................................................ 40
A metalinguagem se caracteriza pela auto-referência, isto é, quando a linguagem se volta para o
próprio código de que se constitui. No caso literário, por exemplo, o texto contém uma reflexão –
das formas mais variadas possíveis – sobre si mesmo.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
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Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações [de apreço
ao sr. Diretor.
(...)
Estou farto do lirismo* namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
Manuel Bandeira
(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993).
*Lirismo é o "fazer poesia".
Assinale a opção correta:
( ) o lirismo caracterizado no 3º verso é o oposto do lirismo comedido do 1º verso.
( ) No 4º verso, o eu lírico repudia o envolvimento amoroso.
( ) Raquítico e sifilítico, nesse contexto, são palavras sinônimas.
( ) No 3º verso, as expressões que caracterizam o lirismo pertencem a campos semânticos
diferentes.
( ) a palavra lirismo, no poema, é índice de função metalingüística, isto é, revela que o
assunto do poema é o próprio fazer poético.
A palavra intertextualidade significa interação entre textos, um diálogo entre eles. E texto no
sentido amplo: um conjunto de signos organizados para transmitir uma mensagem, portanto, no
mundo atual da multimídia, ela acontece entre textos de signos diferentes.
Veja um exemplo de intertextualidade:
■ Gonçalves Dias, 1846
(DIAS, Gonçalves. In Primeiros Cantos, 1846. Trad. do texto de Goethe: Manuel Bandeira)
CANÇÃO DO EXÍLIO
Kennst du das Land, wo die Zitronen blühen,
Im dunklen Laub die Gold-Orangen glühen?
Kennst du es wohl? — Dahin, dahin!
Möcht ich... ziehn.
[Conheces o país onde florescem as laranjeiras?
Ardem na escura fronde os frutos de ouro...
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Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir!]
Goethe
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Coimbra, julho de 1843
■ Casimiro de Abreu, 1859 (ABREU, Casimiro de, In Primaveras, 1859)
CANÇÃO DO EXÍLIO
Eu nasci além dos mares:
Os meus lares,
Meus amores ficam lá!
― Onde canta nos retiros
Seus suspiros,
Suspiros o sabiá!
Oh! Que céu, que terra aquela,
Rica e bela
Como o céu de claro anil!
Que seiva, que luz, que galas,
Não exalas,
Não exalas, meu Brasil!
Oh! Que saudades tamanhas
Das montanhas,
Daqueles campos natais!
Que se mira,
Que se mira nos cristais!
Não amo a terra do exílio
Sou bom filho,
Quero a pátria, o meu país,
Quero a terra das mangueiras
E as palmeiras
E as palmeiras tão gentis!
Como a ave dos palmares
Pelos ares
Fugindo do caçador;
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Eu vivo longe do ninho;
Sem carinho
Sem carinho e sem amor!
Debalde eu olho e procuro...
Tudo escuro
Só vejo em roda de mim!
Falta a luz do lar paterno
Doce e terno,
Doce e terno para mim.
Distante do solo amado
― Desterrado ―
a vida não é feliz.
Nessa eterna primavera
Quem me dera,
Quem me dera o meu país!
Lisboa, 1855
■ Osório Duque Estrada, 1909
HINO NACIONAL BRASILEIRO
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais
flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores".
■ Oswald de Andrade, 1925 (ANDRADE, Oswald de. In Pau-Brasil, 1925)
CANTO DO REGRESSO À PÁTRIA
Minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
■ Murilo Mendes, 1930 (MENDES, Murilo. In Poemas, 1930)
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas,
cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a
prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
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Os sururus em família têm por testemunha a
[ Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de
[ verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
■ Carlos Drummond de Andrade, 1945
(ANDRADE, C. D. In A Rosa do Povo, 1945)
NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO
Um sabiá na
palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Onde tudo é belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
■ Mario Quintana, 1962 (QUINTANA, Mario, Poesias, 1962)
UMA CANÇÃO
Minha terra não tem palmeiras...
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
Minha terra tem relógios,
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Cada qual com sua hora
Nos mais diversos instantes...
Mas onde o instante de agora?
Mas onde a palavra "onde"?
Terra ingrata, ingrato filho,
Sob os céus da minha terra
Eu canto a Canção do Exílio!
■ José Paulo Paes, 1973 (PAES, José Paulo. In Meia Palavra, 1973)
CANÇÃO DO EXÍLIO FACILITADA
lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...
cá?
bah!
■ Cacaso, 1985 (CACASO. In Beijo na Boca e Outros Poemas, 1985)
JOGOS FLORAIS
Jogos Florais I
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre
a água já não vira vinha
vira direto vinagre
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Jogos Florais II
Minha terra tem palmares
memória cala-te já
Peço licença poética
Belém capital Pará
Bem, meus prezados senhores
dado o avanço da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.
(será mesmo com esses dois esses
que se escreve paçarinho?)
■ Ferreira Gullar, 2000 (GULLAR, Ferreira. In O Globo, caderno Prosa & Verso, 02/09/2000)
NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO
Para Cláudia
Minha amada tem palmeiras
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
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são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos
Guilherme de Almeida
Canção do Expedicionário brasileiro
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
4.4.1. Tipos de Intertextualidade
Citação é a menção, no texto, de uma informação extraída de outra fonte: A citação é a forma
mais explícita de marcar a reprodução de discurso no discurso. Falamos de citação sempre que
um determinado locutor reproduz, no seu ato de enunciação, um outro ato de enunciação
originário de um locutor diferente (ou de si próprio, num outro momento). É raro que as palavras
citadas correspondam textualmente às palavras proferidas. É uma transcrição de texto alheio,
marcada por aspas. A música Cinema Novo, de Caetano Veloso, faz citações:
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O filme quis dizer ‘Eu sou o samba’
A voz do morro rasgou a tela do cinema
E começaram a se configurar
Visões das coisas grandes pequenas
Que nos formaram e estão a nos formar
Todos e muitos: Deus e o Diabo, Vidas Secas, os Fuzis,
Os Cafajestes, o Padre e a Moça, a Grande Feira, o Desafio
Outras conversas, outras conversas sobre os jeitos do Brasil.
(Letra e música de Caetano Veloso)
Na citação sobre o samba, Caetano Veloso diz que o Cinema Novo quer representar o Brasil,
como fez o samba da época de Carmem Miranda.
Epígrafe, do grego gráphein (“inscrição”), é um texto breve, em forma de inscrição solene, que
abre um livro ou uma composição poética. ver a introdução do texto do Gonçalves Dias; A “canção
do exílio”, de Gonçalves Dias, apresenta versos introdutórios de Goethe, com a seguinte tradução:
“Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem na escura fronde os frutos de ouro...
Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir!”
A epígrafe e o poema mantêm um diálogo, pois os dois têm características românticas, pertencem
ao gênero lírico e possuem caráter nacionalista.
Alusão é uma referência explícita ou implícita a uma obra de arte, um fato histórico ou um autor,
para servir de comparação, e que apela à capacidade de associação de idéias do leitor. O recurso
à alusão literária torna clara a relação de um autor com a tradição com a qual se identifica. A
alusão é a referência direta ou indireta a um texto preexistente. Machado de Assis, em seu livro
Dom Casmurro cita Otelo, personagem de Shakespeare, para que o leitor analise o drama de
Bentinho.
Paráfrase, do Gr. paráphrasis, desenvolvimento, s. f., acto ou efeito de parafrasear; explicação ou
tradução mais desenvolvida do que o texto ou enunciado original; tradução livre e desenvolvida;
comentário. A paráfrase é a reprodução do texto de outrem com as palavras do autor. Ela não
confunde com o plágio porque seu autor explicita a intenção, deixa claro a fonte. Exemplo de
paráfrase é o poema Oração, de Jorge de Lima:
“- Ave Maria cheia de graças...”
A tarde era tão bela, a vida era tão pura,
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as mãos de minha mãe eram tão doces,
havia, lá no azul, um crepúsculo de ouro... lá longe...
“- Cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita!” Bendita!
Os outros meninos, minha irmã, meus irmãos menores,
meus brinquedos, a casaria branca de minha terra, a burrinha do vigário
pastando junto à capela... lá longe...
Ave cheia de graça
-... “bendita sois entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre...”
E as mãos do sono sobre os meus olhos,
E as mãos de minha mãe sobre o meu sonho,
E as estampas de meu catecismo
Para o meu sonho de ave!
E isto tudo tão longe... tão longe...
(LIMA, Jorge de. Poesia. Org. Luiz Santa Cruz. 3.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1975)
O autor retoma explicitamente a oração Ave Maria e mantém-se fiel a ele, justapõe a figura de
Maria à da sua mãe, refere-se à hora do Ângelus.
Paródia é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com
ele, sutil ou abertamente”. Ela acontece no famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, No
meio do caminho, que faz uma paródia do soneto Nel Mezzo Del Camin, de Olavo Bilac que, por
sua vez, remete ao primeiro verso da Divina comédia, de Dante Alighieri: “Nel mezzo del camin de
nostra vita”. Além do título, Drummond imitou o esquema retórico do soneto de Bilac, ou seja, em
vez de parodiar o significado, promoveu uma paródia na forma: empenhou-se na imitação irônica
da estrutura, reproduzindo apenas o quiasmo (repetição invertida) do texto.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do
caminho
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Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade (Alguma poesia, 1930)
Nel Mezzo del Camin
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
Olavo Bilac ("Poesias", Ediouro - Rio de Janeiro, 1978)
4.5 - Figuras de linguagem
1) Joana é a estrela da novela.
2) Você é burra como uma porta.
3) Já li Machado de Assis e Drummond.
4) Vivo do suor do meu rosto.
5) Tomei um copo d’água.
6) “Moça linda, bem tratada
Três séculos de família
Burra como uma porta:
Um amor!”
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7) “Foi desta para outra melhor” (morreu)
8) “As ruas desertas estão tristes”
9) “Riu tanto que rasgou a boca”
10) “Já falei mil vezes para você parar com isso”
11) “Não sou alegre nem triste sou poeta”
12) “Na manifestação foram chegando, dez, cem, mil, dez mil pessoas parando o
trânsito.”
13) “Você sabe o que a cadeira falou para a mesa? Feche as pernas que estou vendo tudo" ou
"O que o chão falou para a cama? Você tem as canelas finas mas tem um colchão”
14) “Vozes veladas, veludosas vozes, volúpias de violões, vozes veladas”
15) “Ó formas alvas, brancas
Formas claras”
16) “E fala e ri e gesticula e grita”
MENTIRAS
Mário Quintana
Lili vive no mundo do faz de conta...
Faz de conta que isto é um avião.
Zzzzzuuu...
Depois aterrizou em um piquê e virou um trem.
Tuc tuc tuc tuc...
Entrou pelo túnel, chispando.
Mas debaixo da mesa havia bandidos.
Pum! Pum! Pum!
O trem descarrilou.
E o mocinho?
Onde é que está o mocinho?
Meu Deus! onde é que está o mocinho?!
No auge da confusão, levaram Lili para cama, à força.
E o trem ficou tristemente derribado no chão,
Fazendo de conta que era mesmo uma lata de sardinha.
(QUINTANA, Mario, Poesias, 1962)
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EXERCÍCIOS
As questões de 1 a 5 referem-se ao texto seguinte:
Bruta Flor do Querer
Quando era menino, o pintor mexicano Diego Rivera entrou numa loja, numa daquelas antigas
lojas cheias de mágicas e surpresas, um lugar encantado para qualquer criança.
Parado diante do balcão e tendo na mão apenas alguns centavos, ele examinou todo o universo
contido na loja e começou a gritar, desesperado: “O que é que eu quero ???”.
Quem nos conta isso é Frida Kahlo, sua companheira por mais de 20 anos. Ela escreveu que a
indecisão de Diego Rivera o acompanhou a vida toda. Ao ler isso, me perguntei:
quem de nós sabe exatamente o que quer? A gente sabe o que não quer: não queremos
monotonia, não queremos nos endividar, não queremos perder tempo com pessoas mesquinhas,
não queremos passar em branco pela vida. Mas a pergunta inicial continua sem resposta: o que a
gente quer, o que iremos escolher entre tantas coisas interessantes que nos oferece esta loja
chamada Futuro? Sério, a loja em que o pequeno Diego entrou chamava-se, ironicamente, Futuro.
O que é que você quer? Múltiplas alternativas. Medicina. Arquitetura. Música. Homeopatia. Casar.
Ficar solteiro. Escrever um livro. Fazer nada o dia inteiro. Ter dois filhos. Ter nenhum. Cruzar o
Brasil de carro. Entrar para a política. Tempo para ler todos os livros do mundo. Conhecer a
Grécia. Morrer dormindo. Não morrer. Aprender chinês. Aprender a tocar bateria. Desaprender
tudo o que aprendeu errado. Acupuntura. Emagrecer. Ser famoso. Sumir. O que você quer? Morar
na praia. Filmar um curta. Arrumar os dentes. Abrir uma pousada. Recuperar a amizade com seu
pai. Trocar de carro. Meditar. Aprender a cozinhar. Largar o cigarro. Nunca mais sofrer por amor.
Nunca mais. O que você quer? Viver mais calmo. Acelerar. Trancar a Faculdade. Cursar uma
Faculdade. Alta na terapia. Melhorar o humor. Um tênis novo. Engenharia Mecânica. Engenharia
Química. Um mundo justo. Cortar o cabelo. Alegrias. Chorar. Abra a mão, menino, deixe eu ver
quantos centavos você tem aí. Olha, por esse preço, só uma caixinha vazia, você vai ter que
imaginar o que tem dentro. Serve.
(MEDEIROS, Marta . Montanha russa. Porto Alegre: LPM, 2003. p.199-200.)
1) A idéia expressa pelo título do texto é identificada na frase:
a) “Abra a mão, menino, deixe eu ver quantos centavos você tem aí”. (linha 35)
b) “Ao ler isso, me perguntei: quem de nós sabe exatamente o que quer?” (linha 9)
c) “... antigas lojas cheias de mágica e surpresas, um lugar encantado para qualquer criança.”
(linha 2)
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d) “Parado diante do balcão e tendo na mão apenas alguns centavos, ele examinou todo o
universo contido na loja...” (linha 4)
2) Em relação às possibilidades de experiências de vida, o texto apresenta
a) amplitude de perspectivas.
b) pessimismo em face do futuro.
c) indignação devido à monotonia da vida.
d) imparcialidade diante da sociedade atual.
3) A expressão “O que é que você quer?”, (linha 19), denota a(o)
a) interlocução da autora do texto com o leitor.
b) susto da vendedora devido ao desespero de Rivera.
c) desinteresse da autora mediante os desejos humanos.
d) apreensão da vendedora diante dos questionamentos dos clientes.
4) A autora empregou as figuras de linguagem em todas as passagens abaixo, EXCETO em:
a) “...não queremos passar em branco pela vida.” (linha 13)
b) “ Tempo pra ler todos os livros do mundo.” (linha 23)
c) “Quando era menino, o pintor Diego Rivera entrou numa loja...” (linha 1)
d) “... tantas coisas interessantes que nos oferece esta loja chamada Futuro?” (linha 15)
5) “Abra a mão, menino, deixe eu ver quantos centavos você tem aí.” (linha 35)
A função da linguagem predominante, nesse trecho, é a
a) poética, pois a mensagem é colocada em realce.
b) referencial, porque o trecho está centrado no referente.
c) metalingüística, por explicar o conteúdo da mensagem.
d) conativa, uma vez que o receptor é posto em destaque.
6) A relação de intertextualidade está corretamente determinada em
a) “O que é que eu quero ???” (linha 6) (EPÍGRAFE)
b) “Quem nos conta isso é Frida ...” (linha 7) (ALUSÃO)
c) “O que você quer? Morar na praia.” (linha 27) (METALINGUAGEM)
d) “Ela escreveu que a indecisão de Diego Rivera o acompanhou
a vida toda.” (linha 8) (PARÓDIA)
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5. VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA
A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma
língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, de
gênero para gênero, idade para idade, e assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar
que o uso seja uniforme. Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes
variedades de uma só forma da língua.
Sem nenhum juízo de valor, a norma pode variar no interior de uma comunidade
idiomática, seja de um ponto de vista diatópico (português de Portugal, português do Brasil,
português de Angola), seja de um ponto de vista diastrático (linguagem culta, linguagem média,
linguagem popular), seja, finalmente, de um ponto de vista diafásico (linguagem poética,
linguagem da prosa, situações de comunicação). Tudo isso sem alterar a coesão do sistema, que
faz a unidade fundamental da língua. Sistema e norma são coisas distintas. O que varia é a
norma.
5.1 - Paises Lusófonos
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe,
Timor-Leste. O primeiro passo no processo de criação da CPLP (Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa) foi dado em São Luís do Maranhão, em Novembro de 1989, por ocasião da
realização do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua
Portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambiquel, Portugal e São Tomé e
Príncipe -, a convite do Presidente brasileiro, José Sarney. Na reunião, decidiu-se criar o Instituto
Internacional da Língua Portuguesa (IILP), que se ocupa da promoção e difusão do idioma comum
da Comunidade.
EXERCÍCIO
Observe o texto que se segue:
Em 1983, no decurso de uma visita oficial a Cabo Verde, o então ministro dos Negócios
Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama, referiu que:
"O processo mais adequado para tornar consistente e descentralizar o diálogo tricontinental dos
sete países de língua portuguesa espalhados por África, Europa e América seria realizar cimeiras
rotativas bienais de Chefes de Estado ou Governo, promover encontros anuais de Ministros de
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Curso Pró-Técnico. Disciplina: Língua Portuguesa e Literatura Brasileira - Professora: Zelina Beato. 40
Negócios Estrangeiros, efectivar consultas políticas freqüentes entre directores políticos e
encontros regulares de representantes na ONU ou em outras organizações internacionais, bem
como avançar com a constituição de um grupo de língua portuguesa no seio da União
Interparlamentar".
1) Aponte as particularidades desse texto, escrito segundo o português lusitano, e o português do
Brasil.
5.1.2 - Algumas diferenças entre o português europeu e o português do Brasil:
Ortografia: “p” e o “n” são muitas vezes sons mudos em português quando antecedem outra
consoante. No Brasil, como não são pronunciadas na linguagem padrão foram eliminadas da
escrita. Assim, enquanto que em pt-PT se escreve “acção”, “baptismo”, “óptimo”, “Egipto”,
“Neptuno” e “connosco”; no Brasil escreve-se “ação”, “batismo”, “ótimo”, “Egito”, “Netuno” e
“conosco”.
Numerais: O que em Portugal significa “mil milhões” no Brasil significa “bilhões”. Além disso,
escreve-se em pt-PT Catorze, dezasseis, dezassete e dezanove para o que se escreve em pt-BR
quatorze, dezesseis, dezessete e dezenove.
Nacionalidades e lugares. Alguém que nasceu na Polônia é chamado de “polaco” em Portugal e
de “polonês” ou de “polaco” no Brasil. O mesmo vale para “israelita”, “canadiano” e “palestiniano”
(em pt-PT), que no Brasil se designam como “israelense” (”israelita” no pt-BR é quem professa a
religião judaica ou israelita), “canadense” e “palestino”, respectivamente. E “Médio Oriente”, em pt-
PT, é escrito no Brasil como “Oriente Médio”, assim como “Singapura”, “Jugoslávia” (actual Sérvia
e Montenegro) e “Vietname” em pt-PT, são escritos “Cingapura”, “Iugoslávia” e “Vietnã” em pt-BR.
Siglas. A “SIDA” lê-se, em ambos pt-BR e pt-PT como “Síndrome da Imonudeficiência Adquirida”.
No entanto, no Brasil, a leitura da sigla como “AIDS”, embora proveniente da sigla em língua
inglesa (Acquired Immunodeficiency Syndrome), é de uso comum e é perfeitamente
compreensível em um diálogo. De forma similar, a leitura da sigla “ADN” (ácido
desoxirribonucléico) é igual em ambos os países, embora ao menos no Brasil também seja de uso
Curiosidade O Brasil espera que Portugal e Cabo Verde ratifiquem acordo ortográfico da língua portuguesa. São 21 as bases de mudanças na ortografia da língua portuguesa. Com a reforma, o trema deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados. O alfabeto passará a ter 26 letras, pois incluirá k, y e w. O h inicial e final das palavras também sofrerá alteração e permanecerão com ele apenas as palavras indicadas pela etimologia, por exemplo: homem, que vem do latim, homini. Segundo nota divulgada pelo Itamaraty, "estima-se que a entrada em vigor do Acordo Ortográfico poderá evitar o grande custo de produção de diferentes versões de dicionários e livros em geral. Será também mais fácil estabelecer critérios unificados para todos os países de língua portuguesa, com relação a exames e certificações comuns de proficiência de português para estrangeiros".
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comum a forma inglesa, “DNA”. Ocorre o inverso com a sigla da Organização do Tratado do
Atlántico Norte, cuja sigla é preferida no original em inglês (NATO) no pt-PT e traduzida para sua
equivalente em português (OTAN) no pt-BR.
Uso do trema no Brasil. As sílabas “qüe”, “güe”, “güi” são usadas no Brasil para indicar que o “u”
é lido, mas não em Portugal e África (escreve-se simplesmente “que”, “gue” ou “gui”), apesar de
ser lido da mesma forma. Exemplo: pt-BR “agüentar”, “freqüente”, pt-PT “aguentar”, “frequente”. É
fundamental observar que a regra brasileira determina o uso do trema, mas ela não é seguida por
muitos. Há até veículos de comunicação que aboliram por si próprios o sinal (p. ex.: Revista IstoÉ,
por exemplo). O acordo ortográfico de 1990, que talvez seja adotado em breve, prevê a completa
abolição do trema na escrita do português.
Variações de léxico e sinalização. As placas de trânsito que indicam parada/paragem obrigatória
são escritas, em Portugal, como no inglês “STOP”, enquanto no Brasil são escritas como “PARE”.
“Caminhonete” (ou também “Camioneta” ou “Perua”), em pt-BR, significa, em pt-PT, “carrinha” ou
“camioneta”; “Ônibus”, em pt-BR, equivale a “autocarro” em pt-PT. “Equipe”, “console”, “tela”,
“câncer” e “terremoto”, em pt-BR, significam “equipa”, “consola”, “ecrã”, “cancro” e “terramoto” em
pt-PT, respectivamente.
Acentuação variável. Devido à pronúncia padrão de cada país, as vogais “o” e “e” antes das
consoantes nasais “m” e “n”, quando tônicas, são fechadas no Brasil e abertas em Portugal e
África. Ex. pt-BR “Mônica”, “Antônio” e “econômico”, pt-PT “Mónica”, “António” e “económico”. No
Brasil, as palavras terminadas em “éia” têm o “é” do ditongo “ei” acentuado, mas não no português
escrito na África e Portugal. Assim, escreve-se “Assembléia” e “Européia” no pt-BR e “Assembleia”
e “Europeia” em Portugal. Também no Brasil utiliza-se o acento circunflexo no penúltimo o
(fechado) do hiato oo: “vôo”, “enjôo”, “abençôo”, “perdôo”, etc. Em Portugal: “voo”, “enjoo”,
“abençoo”, “perdoo”
Significados diferentes. Algumas palavras têm significados diferentes nos dois países. Alguns
exemplos:
1. No Brasil, “puto” é uma gíria para prostituto no sentido pejorativo, e em Portugal significa
apenas uma criança do sexo masculino.
2. Em Portugal, “bicha” pode ser o que os brasileiros entendem por “fila”, muito embora a
palavra também tenha o significado brasileiro de homossexual.
3. No Brasil, “banheiro” é o que em Portugal se chama “casa de banho”; em algumas regiões
de Portugal, “banheiro” é o que os brasileiros chamam de “salva-vidas” ou “guarda-vidas”.
“Salva-vidas” também é usado em Portugal.
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Formas verbais: como estou a fazer, ando a fazer (Portugal); estou fazendo (Brasil).
Uso do sufixo ito: rapazito, boquita (comum em Portugal).
Conjugação em 2ª pessoa (tu e vós) – no Brasil, restrita a algumas regiões que, em geral, empregam o tu
conjugando o verbo na 3ª pessoa: tu vai, tu foi.
Fonética – as diferenças são profundas. De modo geral, a pronúncia em Portugal é mais rápida e seca:
Al'manha (Alemanha), esp'rança (esperança), p'reira (pereira). Outras distinções: o hábito, em Portugal, de
alongar certas vogais, transformando-as em ditongo: senhoire (senhor), fazeire (fazer) ou de pronunciar
como ai o ditongo ei: baijo (beijo).
O trecho abaixo, do romance "A vida verdadeira de Domingos Xavier ", do escritor angolano José Luandino
Vieira, mostra um pouco do português usado em Angola.
"Miúdo Zito entrou a correr no pequeno compartimento que servia de sala e, atravessando no quintal, viu o avô, ao fundo, junto às aduelas. Parou, ofegante, e depois chamou: - Vavô! Vem depressa. Tem preso! Velho Petelo se virou e interrogou com seus olhos pequenos, piscando na luz do sol da manhã coado nas folhas da mandioqueira: - Menino disse tem preso? Viste com teus olhos?
Arrastando a perna esquerda e seguido por miúdo Zito, atravessou na sala e saiu para o areal vermelho.
Rodearam na cubata de sô Miguel, e, em frente, onde já se aglomeravam algumas mulheres com seus
monas escondidos nos panos, viram o homem que fazia esforços para descer da carrinha, debaixo das
pancadas de dois cipaios."
miúdo – garoto; aduelas - tábuas de barril usadas para formar cercas delimitando o quintal; cubata - habitação feita de
restos de materiais de construção; barraco, casebre; monas – crianças; carrinha - caminhonete aberta, tipo pick-up;
cipaios - policiais africanos, encarregados de policiar a população africana.
5.2 - Jargões
Identifique o falante de cada um dos discursos, assinalando segundo a lista abaixo:
A) Fala de uma pessoa que trabalha com Marketing Político:
B) Fala de um médico:
C) Fala de um advogado,
D) Fala de um professor de academia de ginástica
E) Fala de um cantor de rap
F) Fala de freqüentador de pagode
G) Fala de um surfista
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( ) " As expressões são data venia, permissa venia, concessa venia. O senhor, para não usar
de aspereza, o senhor bota data venia, que quer dizer "com o devido respeito", bota antes data
venia e aí fala o que quiser para o juiz. Os sinônimos de data venia seriam permissa venia,
concessa venia. Eu jamais repito data venia no mesmo processo. Só data venia, data venia, fica
enfadonho, né?"
( ) "Tem gente que nasce com coração maior ou menor, com vários defeitos. Essas são as
cardiopatias congênitas, né, o coração pode nascer com inúmeros defeitos. Agora, o tamanho do
coração também tem a ver com outros problemas que não são congênitos, como a insuficiência
coronariana."
( ) "Olha, hoje em dia, uma campanha, qualquer que seja, sai muito cara e não se admite mais
nenhum esforço em qualquer organização do país ou do mundo que não use informática para
melhorar seu controle de custos, melhorar a divulgação de suas mensagens junto aos clientes,
melhorar a organização da campanha. Então a informática serve para tudo isso, é a ferramenta
moderna e que está penetrando em todas as empresas."
( ) "O cavaquinho me atura há mais ou menos uns 14, 15, 20 anos. Eu não sei, eu acho que eu
já nasci tocando esse troço, é mais um instrumento, né, mais uma arma pra segunda sem lei, pra
gente aturar aí esse pessoal que infelizmente, né, não dão muito espaço, não dão mais espaço
pra gente, pro samba autêntico, samba bom, samba de fato, samba de Cartola, de Nelson, de
Donga, de João da Baiana, Pixinguinha, Bide e Marçal, entendeu, que não tocam e a gente
enfrenta a segunda-feira, e aqui uma arma é o cavaco, a outra, o violão de sete cordas, a flauta,
como o tio Pixinguinha tocava, o pandeiro, o Joseli e o surdo recuperado, o surdo, no lugar da
tambora, nada contra, né, tambora ou tantam, mas o surdo, que é um instrumento adicional pra
agüentar esse excesso de lei que tem por aí, que, infelizmente, não viabilizam a música de
qualidade no rádio, né? Nas AM, nas FM, você ouve muita música importada do que música
nacional".
( ) "É importante que a gente faça a maromba, que a gente utilize o trabalho de maromba que é
pro corpo ficar sarado, pra que a gente possa ficar casca grossa."
( ) "Então a nossa filosofia é mostrar pras pessoas, né, tentar passar pras pessoas que elas
podem brilhar, que elas são importantes (...) Então nós viramos pro negro e falamos: pô, negócio
seguinte, tu é bonito, tu não é feio como dizem que tu é feio. Teu cabelo não é ruim como dizem
que teu cabelo é ruim, entendeu? Meu cabelo é crespo, entendeu? Existe cabelo crespo, existe
cabelo liso. Não tem essa de cabelo bom, cabelo ruim. Por que que cabelo de branco é bom e
meu cabelo é ruim?"
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( ) Foi no Cristal Grafiti. A onda veio abrindo inteira, dropei no crítico, fiz o bottom turn de
backside, subi e dei um rasgadão. Aí deixei cair lá embaixo, subi novamente, dei outra rasgada e,
quando ela engordou, adiantei, dei um cutback bem agachado e bati na espuma. Veio a junção e
mandei uma esbagaçada, depois foi aquela marolagem, enganação.
Na linguagem coloquial, ou seja, na linguagem do dia-a-dia, usamos as palavras conforme as
situações que nos são apresentadas. Por exemplo, quando alguém diz a frase "Isso é um castelo
de areia", pode estar atribuindo a ela sentido denotativo ou conotativo. Denotativamente, significa
"construção feita na areia da praia em forma de castelo"; conotativamente, significa "ocorrência
incerta, sem solidez".
Temos, portanto, o seguinte:
a) Denotação: É o uso do signo em seu sentido real.
b) Conotação: É o uso do signo em sentido figurado, simbólico.
Lembrem-se das diferenças regionais sobre as quais falamos: “larga mão”, “véi”; “fio” , que são
expressões bem típicas e mostram bem a função social da linguagem, consequentemente a
adequação ou inadequação de seu uso.
Leia o texto e responda às perguntas que se seguem:
5.3 - Diferenças Regionais
Conversinha Mineira
-- É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?
-- Sei dizer não senhor: não tomo café.
-- Você é dono do café, não sabe dizer?
-- Ninguém tem reclamado dele não senhor.
-- Então me dá café com leite, pão e manteiga.
-- Café com leite só se for sem leite.
-- Não tem leite?
-- Hoje, não senhor.
-- Por que hoje não?
-- Porque hoje o leiteiro não veio.
-- Ontem ele veio?
-- Ontem não.
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-- Quando é que ele vem?
-- Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes não vem. Só que no dia que devia vir em
geral não vem.
-- Mas ali fora está escrito "Leiteria"!
-- Ah, isso está, sim senhor.
-- Quando é que tem leite?
-- Quando o leiteiro vem.
-- Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?
-- O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?
-- Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que vai
indo a política aqui na sua cidade?
-- Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.
-- E há quanto tempo o senhor mora aqui?
-- Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco
menos.
-- Já dava para saber como vai indo a situação, não acha?
-- Ah, o senhor fala da situação? Dizem que vai bem.
-- Para que Partido?
-- Para todos os Partidos, parece.
-- Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.
-- Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida...
-- E o Prefeito?
-- Que é que tem o Prefeito?
-- Que tal o Prefeito daqui?
-- O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.
-- Que é que falam dele?
-- Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.
-- Você, certamente, já tem candidato.
-- Quem, eu? Estou esperando as plataformas.
-- Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que história é essa?
-- Aonde, ali? Uê, gente: penduraram isso aí...
(texto extraído do livro A Mulher do Vizinho, Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1962, pág. 144.)
1) O texto apresenta um possível perfil do mineiro, que seria o do:
a) sujeito astucioso, malandro, nada dizendo que possa ser interpretado como opinião ou
tomada de posição.
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b) cara folgado, indolente, evitando a todo custo qualquer trabalho que venha interromper o
seu sossego.
c) homem ingênuo, de boa fé, facilmente enganado pelos fregueses espertalhões e políticos
ladinos.
d) cara pacato, pacífico, desencorajando qualquer intenção de briga ou discussão.
2) O dono do leiteria, bom mineiro que é, respondeu a quase todas as perguntas de modo:
a) provocante
b) desonesto
c) objetivo
d) evasivo
3) Em relação à linguagem do texto, podemos afirmar que:
a) o dono da leiteria é um caipira que comete vários erros de gramática
b) a linguagem do dono da leiteria denuncia sua preguiça para trabalhar
c) a diferença de linguagem entre os interlocutores não impede que se comuniquem
d) a linguagem de ambos é inadequada para a situação em que se encontram.
As línguas de cultura têm variantes, variações e variedades, mas é preciso que se lute para que elas não extrapolem aquele matiz ideal preconizado por Jorge Luís Borges – “um matiz que seja bastante discreto para não entorpecer a circulação total do idioma e bastante nítido para que nele ouçamos a pátria”. (CUNHA, Celso. A questão da norma culta brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985).
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6. ORTOGRAFIA
Eis aqui um programa de cinco anos para resolver o problema da falta de autoconfiança do
brasileiro na sua capacidade gramatical e ortográfica. Em vez de melhorar o ensino, vamos
facilitar as coisas, afinal, o português é difícil demais mesmo. Para não assustar os poucos que
sabem escrever, nem deixar mais confusos os que ainda tentam acertar, faremos tudo de forma
gradual.
No primeiro ano, o "Ç" vai substituir o "S" e o "C" sibilantes, e o "Z" o "S" suave. Peçoas que
açeçam a internet com freqüênçia vão adorar, prinçipalmente os adoleçentes. O "C" duro e o "QU"
em que o "U" não é pronunçiado çerão trokados pelo "K", já ke o çom é ekivalente. Iço deve
akabar kom a konfuzão, e os teklados de komputador terão uma tekla a menos, olha çó ke koiza
prátika e ekonômika.
Haverá um aumento do entuziasmo por parte do públiko no çegundo ano, kuando o problemátiko
"H" mudo e todos os acentos, inkluzive o til, seraum eliminados. O "CH" çera çimplifikado para "X"
e o "LH" pra "LI" ke da no mesmo e e mais façil. Iço fara kom ke palavras como "onra" fikem 20%
mais kurtas e akabara kom o problema de çaber komo çe eskreve xuxu, xa e xatiçe. Da mesma
forma, o "G" ço çera uzado kuando o çom for komo em "gordo", e çem o "U" porke naum çera
preçizo, ja ke kuando o çom for igual ao de "G" em "tigela", uza-çe o "J" pra façilitar ainda mais a
vida da jente.
No terçeiro ano, a açeitaçaum publika da nova ortografia devera atinjir o estajio em ke mudanças
mais komplikadas serão poçiveis. O governo vai enkorajar a remoçaum de letras dobradas que
alem de desneçeçarias çempre foraum um problema terivel para as peçoas, que akabam fikando
kom teror de soletrar. Alem diço, todos konkordaum ke os çinais de pontuaçaum komo virgulas
dois pontos aspas e traveçaum tambem çaum difíçeis de uzar e preçizam kair e olia falando çerio
já vaum tarde.
No kuarto ano todas as peçoas já çeraum reçeptivas a koizas komo a eliminaçaum do plural nos
adjetivo e nos substantivo e a unificaçaum do U nas palavra toda ke termina kom L como fuziu
xakau ou kriminau ja ke afinau a jente fala tudo iguau e açim fika mais faciu. Os karioka talvez
naum gostem de akabar com os plurau porke eles gosta de eskrever xxx nos finau das palavra
mas vaum akabar entendendo. Os paulista vaum adorar. Os goiano vaum kerer aproveitar pra
akabar com o D nos jerundio mas ai tambem ja e eskuliambaçaum.
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No kinto ano akaba a ipokrizia de çe kolokar R no finau dakelas palavra no infinitivo ja ke ningem
fala mesmo e tambem U ou I no meio das palavra ke ningem pronunçia komo por exemplo roba
toca e enjenhero e de uzar O ou E em palavra ke todo mundo pronunçia como U ou I, i ai im vez di
çi iskreve pur ezemplu kem ker falar kom ele vamu iskreve kem ke fala kum eli ki e muito milio
çertu ? os çinau di interogaçaum i di isklamaçaum kontinuam pra jente çabe kuandu algem ta
fazendu uma pergunta ou ta isclamandu ou gritandu kom a jenti e o pontu pra jenti sabe kuandu a
fraze akabo.
Naum vai te mais problema ningem vai te mais eça barera pra çua açençaum çoçiau e çegurança
pçikolojika todu mundu vai iskreve sempri çertu i çi intende muitu melio i di forma mais façiu e
finaumenti todu mundu no Braziu vai çabe iskreve direitu ate us jornalista us publiçitario us blogeru
us adivogado us iskrito i ate us pulitiko i u prezidenti olia ço ki maravilia.
O texto acima é bem engraçado. Entretanto, apesar de defender o argumento de que a escrita e a
leitura seriam mais fáceis se fossem um espelho fonético da fala, não é bem isso que acontece. O
que percebemos é o caráter convencional do uso de certas letras para designar certos sons. A
fuga dessa canonização ortográfica causa enorme dificuldade na leitura. A escrita é, pois, um
mero artifício convencional sobre como escrever as palavras. É o conhecimento dessas
convenções que torna a escrita mais ou menos compreensível. Você agora terá como tarefa
reescrever o sétimo parágrafo segundo as regras da ortografia atualmente em vigor no Brasil. Em
tempo, não se esqueça das regras de acentuação e da pontuação.
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7. Estudo de TEXTO
Reconstrução do texto literário poético: aspectos sonoros, visuais, sintáticos e
semânticos.
A língua serve a muitos propósitos:
1. revelar a opinião ou a emoção do falante: é o que fazem, por exemplo, biografias, memórias,
poesias líricas e cartas de amor.
2. oferecer informações: como em notícias de jornal e textos científicos.
3. influenciar o comportamento do receptor: vemos isso em sermões e propagandas que se
dirigem diretamente ao consumidor.
4. revelar recursos imaginativos criados pelo emissor: o que percebemos em obras literárias, letras
de música e em algumas propagandas.
POEMINHO DO CONTRA
“Todos esses que aí estão
atravancando meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho! “
(Mário Quintana Autores Gaúchos 6 - Mario Quintana. 6o edição -1996)
“A linguagem serve para comunicar. Mas comunicar, para os humanos, não é somente transmitir informações. Freqüentemente, fala-se para não dizer nada, ou diz-se o contrário do que se quer realmente dizer, ou ainda o que o interlocutor já sabe.” (Marina Yoguello, lingüista francesa).
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Faça uma análise das palavras em destaque nesses versos de Quintana. O que você observa ao
ler o último verso, mais especificamente a palavra passarinho? Quais as implicações de sentido
para a palavra passarão? No que se refere ao significado, que conclusão podemos tirar desse
efeito, digamos, a posteriori?
Em um mesmo texto, podem aparecer várias funções da linguagem. O importante é saber qual a
função predominante no texto, para então defini-lo. Quando a língua ultrapassa a sua função
basicamente comunicativa e se torna, ela própria, a matéria-prima para uma obra de arte, tem-se
como resultado o texto literário. "Essa aplicação artística da língua é espontânea e encontra-se em
todas as sociedades, mesmo as mais rudimentares." (Mattoso Câmara Jr., 1996).
Paulo Leminski (Melhores poemas de Paulo Leminski. Seleção Fréd Góes, Global, São Paulo,
1996).
Texto poético
Para caracterizar a atividade literária como essencialmente poética, Mattoso Câmara Jr. afirma: "A
poética é a atividade lingüística que tem um objetivo de arte e procura criar com a linguagem um
estado psíquico de emoção estética por meio da aplicação sistemática de processos de estilística.
(...) A expressão lingüística tende a organizar-se em frases ritmadas, na base da entonação, do
número de sílabas, da distribuição mais ou menos regular das sílabas acentuadas, constituindo-se
séries de versos; mas a POESIA, ou atividade poética em sentido lato, se faz também em PROSA,
isto é, sem essa organização rítmica das frases."
Várias são as possibilidades de exploração da linguagem com esta função poética: no material
sonoro, nas palavras, na associação de idéias, nas construções frasais. Para isto utilizam-se o
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ritmo, a harmonia imitativa, a rima, a aliteração, as figuras de palavras, as figuras de pensamento,
as figuras de sintaxe.
A poesia pode ainda ser encontrada em outras manifestações artísticas, como a pintura, a música,
a dança, etc. O prazer estético é o que sentimos ao ler um texto poético, ao observar um quadro,
ao ouvir uma música, quando nos sensibilizamos e experimentamos um estado emotivo ou lírico.
Algumas diferenças entre prosa e verso poderiam ser assim resumidas:
• na prosa há uma tendência à ordem direta na estruturação dos termos do período; no
verso há uma tendência à ordem indireta;
• na prosa a rima é pouco freqüente, enquanto no verso ela é muito utilizada, apesar de não
ser obrigatória;
• na prosa o ritmo acompanha a naturalidade da fala, enquanto no verso o ritmo é marcante
e existe preocupação com a métrica;
• no verso é maior a preocupação com a realização de seqüências melódicas do que na
prosa.
7.1 - Recursos Poéticos
7.1.1 - Assonância e aliteração
Paulo Leminski
Ali
ali
só
ali
se
se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse
se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce
ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece
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Se
se
nem
for
terra
se
trans
for
mar
(Melhores poemas de Paulo Leminski.
Seleção Fréd Góes, Global, São Paulo,
1996).
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Tanto na fotografia (detalhe da casa Mila, Espanha) quanto na pintura (quadro Gato de Jean Miro),
assim como em várias outras linguagens, é possível identificar esses recursos de repetir
elementos para produzir determinado efeito.
7.1.2 - Ritmo
Examine esse poema de Manuel Bandeira e responda às perguntas que se seguem:
Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
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Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
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Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)
(Manuel Bandeira in "Estrela da Manhã" 1936)
1) Uma olhada panorâmica nos dá conta que o poema contém 53 versos distribuídos em 6
estrofes de tamanhos irregulares, formadas por versos que oscilam entre 1 e 12 sílabas. Essa
distribuição não é feita ao acaso, mas guarda uma relação estreita com o significado contido nos
versos e nas estrofes. A primeira estrofe contém 3 versos de 4 sílabas e é logo seguida por uma
estrofe de 12 sílabas.
a) O mais importante nesses três versos é o significado ou o efeito sonoro?
b) As palavras que constituem tais versos e o ritmo deles reproduzem, aproximadamente o
som do quê?
c) Qual o nome que se dá a esse recurso imitativo de sons?
2) A segunda estrofe contém um só verso de 12 sílabas, extensão consideravelmente maior que a
de todos os demais versos do poema.
a) Como interpretar essa significativa desproporção?
b) No plano do significado, a interjeição “Virge Maria” serve para exprimir uma reação
emocional. De que emoção se trata?
c) Que ocorrência pode ter provocado essa emoção?
3) O primeiro verso da terceira estrofe assinala uma mudança em relação ao verso anterior.
a) Que palavra denota essa mudança?
b) Essa alteração veio interferir em benefício ou em prejuízo do movimento esperado?
Explique sua resposta.
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4) Na estrofe 3, mostra-se que o trem reassume o movimento normal. Os versos, inicialmente de 4
sílabas, passam a partir de um certo ponto, a ter 3, com acento na 1º e 3º.
a) Do ponto de vista da velocidade, essa alteração indica maior ou menor rapidez? Por quê?
b) No plano do sentido, os versos começam a descrever mudança de paisagem. Cite o verso
que denota isso.
c) Ainda no plano do sentido, há versos que indicam aumento de potência da máquina. Cite-
os.
5) Na estrofe 4 ocorre um verso de 2 sílabas, um de 4 e os demais de 3.
a) O que indica o verso de 2 sílabas?
b) Quanto ao sentido, do que falam os versos?
c) Do ponto de vista da sonoridade, as vogais (ô, a) das sílabas fortes desses versos são
dominantemente abertas e momentâneas. Que tipo de sensação criam esses recursos?
6) Na estrofe 5, há uma mudança de tema e de enunciador: não é mais a voz simulada do trem
que “fala” e o tema não são mais os ruídos das engrenagens nem os objetos da paisagem.
a) Qual é o som que se ouve agora nessa altura do percurso?
b) Do que falam essas vozes?
c) Nos versos iniciais e em outros dois versos da quinta estrofe, nota-se a preocupação de
escrever as palavras com uma ortografia mais aproximada da oralidade (“Quanto me
prendero”, “Pra mata minha sede”, “Vou mimbora vou mimbora”) Que efeito de sentido
produz esse procedimento?
7) Na última estrofe, de 7 versos, voltam os versos de 3 sílabas com acentos na 1º e na 3º.
a) No plano do sentido, do que falam esses versos?
b) De que voz provém essa fala?
c) A sonoridade, nesta estrofe, é mais expressiva que o sentido das palavras?
8) Esse poema serve para exemplificar o fato de que em linguagem poética:
a)a sonoridade das palavras é tão ou, por vezes, mais importante que o sentido.
b)o que se diz é sempre mais relevante do que o modo como se diz
c) o plano do conteúdo entra em conflito com o plano da expressão, resultando daí o sentido
global da obra.
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d) entre o que se diz e o que se pretende dizer não há convergência.
e) o sentido das palavras, como em qualquer forma de linguagem, é sempre mais
determinante.
7.1.3 - Recursos Sonoros
Rima:–é a coincidência de sons no final de versos diferentes, ou também no interior do mesmo
verso. Tem várias funções: assinalar ritmicamente os versos, estruturar os versos em estrofes e
estas em poemas; realçar a idéia contida no termos rimados e opor significados.
Aliteração: repetição insistente da mesma consoante ou consoantes com propriedades fônicas
similares.
Assonância: repetição reiterada das mesmas vogais ou vogais.
Onomatopéia: ocorre quando o plano da expressão de uma palavra ou conjunto de palavras, isto
é, os sons que os compõem, imita o som do objeto representado.
7.1.4 - Figuras de linguagem:
Metáfora: É transferência ou transporte do significado total e possível de uma palavra para outra
palavra. “Eu sou a mosca que pousou na sua sopa” (incômoda, dá nojo)
Comparação: É uma associação mais limitada de sentidos. “Tal qual o sol deseja a vinda da
noite, eu desejo sua presença”. Eu me pareço com o sol apenas nesse aspecto.
Metonímia: Baseia-se na relação de proximidade. Troca-se:
a) a parte pelo todo: As velas se aproximam. (barcos)
b) matéria pelo produto: Os bronzes badalam no alto da igreja. (sinos)
c) autor pela obra: Já li Mário Quintana. (as obras desse autor)
d) causa pelo efeito ou vice-versa): respeite meus cabelos brancos (provocados pela idade)
e) recipiente pelo conteúdo: tomei uma taça de vinho.
f) Produto pela origem: tomei um Porto delicioso (vinho da cidade do Porto famosa pela
qualidade de seu vinho).
g) Produto pela marca: vamos tomar uma Brahma? (cerveja)
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Ironia: Quando se tem a intenção de falar o contrário do que está dizendo: Coitadinho do
assassino! Acabou condenado.
Eufemismo: Tentativa de tornar mais suaves ou delicadas expressões desagradáveis ou que
causam má impressão. Foi desta para outra melhor. (morreu). Quando a desdita da gente chegar.
(a morte).
Prosopopéia ou Personificação: Atribuição de características humanas a seres irracionais. As
ruas estão tristes.
Hipérbole: Expressão que exagera os fatos. Morreu de rir.
Antítese: Uso de palavras de sentidos opostos (antônimos) para expressar contradição. Morte e
Vida Severina. Uns buscam o bem, outros o mal.
Gradação: É a colocação de idéias na ordem crescente (chamada de clímax) ou na ordem
descrescente (chamada de anticlímax). “Começou a ficar pobre, perdeu milhões de dólares na
Bolsa de Valores; cem mil reais no jogo; a poupança de 30 mil do filho; as jóias da mulher, a
primeira casa humilde em que morava.”
Catacrese: É o uso inapropriado de termos específicos de certas situações ou para designar
partes de objetos por falta de termos apropriados da língua. Poderíamos dizer que a catacrese é
uma metáfora esquecida de seu valor metafórico pelo desgaste do uso: “O bico do bule, a asa da
xícara, as pernas da mesa”
Aliteração: Repetição abundante de consoantes dentro da frase. Veja o poema SE de Paulo
Leminski.
Assonância: Repetição de vogais. Nos versos de João Cabral de Melo Neto: “pois catar esse
feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco.” O
Onomatopéia: Figura sonora que procura reproduzir ou imitar os sons ou ruídos. Ploc, ploc,
passou o cavalo; Toc, Toc, quem chama?; Tiquetaque, Tiquetaque. A monotonia das horas.
Polissíndeto: Repetição insistente da conjunção “e” que cadencia o ritmo fluente do verso,
enfatizando o fluir das idéias, como flashes consecutivos. "E fale e ri e gesticula e grita."
TAREFA
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Agora que você conhece muitos dos recursos usados pelos poetas, tente localizar nos poemas do
livro Nariz de Vidro de Mário Quintana exemplos de recursos rítmicos e figuras de linguagem
usados pelo autor.
7.2 - Neologia
Neologia terminológica, semântica e por empréstimo.
Citando Ieda Maria Alves, no texto A renovação lexical nos domínios de especialidade, o léxico da
língua portuguesa, como de toda língua viva, renova-se incessantemente. Algumas unidades
lexicais, sobretudo as de origem latina, acompanham a história dessa língua desde a fase arcaica
do português e ainda são usadas pelos falantes contemporâneos. Citamos, como exemplo, o
substantivo administração (< administrat o, õnis > “ação de prestar ajuda, execução,
administração, gestão, direção”), registrado no português desde o século XIV e ainda amplamente
usado no português contemporâneo.
Ao longo dos séculos, o português foi ampliando seu léxico, tanto com unidades lexicais mais
gerais, conhecidas pela maioria dos falantes, como com unidades mais específicas a um domínio.
Mattoso Câmara, em História e estrutura da língua portuguesa, faz referência a cinco campos
semânticos, constituídos por termos portugueses originários, especialmente, do latim popular, mas
também do latim erudito e de outras línguas: termos relativos aos domínios do mundo físico, das
partes do corpo humano, do parentesco, do transcurso do tempo e do tempo climático. Refere-se
também o autor à contribuição que outras línguas aportaram a esse léxico: os empréstimos do
árabe nos domínios da agricultura e da alimentação (arroz, alface, algodão, azeite, cenoura),
denominações territoriais (aldeia, bairro), ofícios (alfaiate, alferes); os empréstimos do italiano
marcam a influência italiana, de caráter literário e artístico, na época do Renascimento: termos da
música (arpejo, piano, violoncelo), da pintura (aquarela), da poesia (soneto); os do tupi
representam designações da flora (capim, jacarandá, peroba) e da fauna (acará, perereca,
tamanduá) brasileiras.
O desenvolvimento das ciências e das técnicas, que se processa de maneira crescente, gera,
conseqüentemente, um número igualmente crescente de novos termos, necessários para
denominar os novos inventos, as novas tecnologias. Como são criados esses termos? Além de
prefixos de origem grega e latina, como macro-, mega -, micro-, ultra -, alguns domínios de
especialidade apresentam características próprias para a formação de seus termos. Assim, a
medicina tem recorrido a radicais de origem grega para a formação de parte de seus termos, a
exemplo de hemo-, “carregado de sangue”, que forma hemodiálise, hemodiluição, hemograma,
além de mais três centenas de outros compostos. Recorre também a sufixos próprios, a exemplo
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de -oma, designativo de “tumores em geral ”e de “processos patológicos” (carcinoma, melanoma)
e de -ite (amigdalite, gastroenterite, timpanite).
Outro tipo de empréstimo semântico é observado em termos como árvore, folha, nó,
ramo,utilizados na botânica e empregados, por meio da transferência metafórica, na terminologia
da inteligência artificial, adquirindo, nesse vocabulário, significados próprios.
Assiste-se também a uma renovação planejada de diferentes terminologias, ditada por
necessidades profissionais, visando sempre a uma comunicação mais eficiente entre os diferentes
usuários. Comissões de Terminologia de diferentes áreas, sob a égide do Comitê 37 da ISO
(International Standardization Association), ou ainda membros de associações internacionais
reúnem-se e, não raro, propõem a substituição de alguns termos por outros. Citamos, como
exemplo, a nova terminologia da anatomia que foi anunciada mundialmente no dia 28 de agosto
de 1997, em São Paulo, na reunião da Federação Internacional das Associações de Anatomistas.
A nova terminologia, com denominações mais transparentes, eliminou epônimos como trompa de
Eustáquio, tendão de Aquiles, trompa de Falópio, substituindo-os por tuba auditiva, tendão,
calcâneo e tuba uterina, respectivamente. Outras alterações foram propostas para termos já
bastante difundidos: tonsila palatina em vez de amígdala, sistema digestório em vez de sistema
digestivo, orelha interna em vez de ouvido interno, Patela em vez de rótula.
Segundo Alfredo Maceira Rodríguez, o português, como as demais línguas ditas de cultura, sofreu
no seu devir histórico interferência de outras línguas, assim como também contribuiu para
enriquecer outras com as que em algum período histórico entrou em contato, porém, nos últimos
séculos, algumas línguas, devido ao grande desenvolvimento científico e tecnológico que
alcançaram os países de que são originárias, interferiram avassaladoramente em outras línguas e
culturas, impondo seus valores e com eles os elementos lingüísticos que os acompanham. A
grande penetração cultural e lingüística exercida pela França na língua portuguesa do século XIX,
foi substituída pela do inglês americano.
Aqui, vale lembrar o termo GAVROCHE, que encontramos no poema “Minha rua”, de Mário
Quintana. Essa palavra remete ao nome de um personagem masculino de Victor Hugo, e
caracteriza um menino parisiense bastante arteiro, impertinente e engraçado. Victor Hugo foi
poeta, romancista, ensaísta e artista plástico francês do séc. XIX. Seu romance mais conhecido é
Os Miseráveis. Sabendo que Quintana nasceu e viveu nos primeiros anos do séc. XX, explica-se a
influência que teve da cultura da francesa. Lembre-se de que Quintana traduziu Proust, Voltaire,
Maupassant Balzac, todos franceses.
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A expansão e progresso econômico dos países de fala inglesa, principalmente o dos Estados
Unidos, interferiu também lingüisticamente no português, mas fez-se notar ainda mais no
português do Brasil e cada vez com mais intensidade. Vejamos em que áreas essa influência se
faz mais presente e como essa penetração se processa. Em nossa vida cotidiana já vêm sendo
incorporados numerosos termos originados no inglês. Assim já quase não percebemos que vieram