UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE MESTRADO PROFISSIONAL DE SISTEMA DE GESTÃO NILSON LOPES SOARES ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL EM ESTALEIRO NAVAL ATRAVÉS DO APOIO MULTICRITÉRIO À DECISÃO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistema de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de Gestão pela Qualidade Total Orientador: Prof. Luís Alberto Duncan Rangel, D.Sc. Universidade Federal Fluminense Niterói 2017
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE
MESTRADO PROFISSIONAL DE SISTEMA DE GESTÃO
NILSON LOPES SOARES
ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL EM ESTALEIRO NAVAL
ATRAVÉS DO APOIO MULTICRITÉRIO À DECISÃO
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistema
de Gestão da Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em
Sistema de Gestão. Área de Concentração: Organizações
e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de Gestão pela
Qualidade Total
Orientador:
Prof. Luís Alberto Duncan Rangel, D.Sc.
Universidade Federal Fluminense
Niterói
2017
Ficha Catalográfica
Elaborada por bibliotecária - CRB 5041
S 676 Soares, Nilson Lopes.
Análise da gestão ambiental em estaleiro naval através do apoio
multicritério à decisão / Nilson Lopes Soares. 2017.
175 f.
Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão) – Universidade Federal Fluminense. Escola de Engenharia, 2017.
Orientador: Luís Alberto Duncan Rangel.
1. Gestão ambiental. 2. Apoio multicritério à decisão. 3. Indústria
naval. I. Título.
CDD 363.7
NILSON LOPES SOARES
ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL EM ESTALEIRO NAVAL
ATRAVÉS DO APOIO MULTICRITÉRIO À DECISÃO
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistema
de Gestão da Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em
Sistema de Gestão. Área de Concentração: Organizações
e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de Gestão pela
Qualidade Total
Aprovada em 07 de novembro de 2017.
DEDICATÓRIA
À minha família: Delaide (esposa);
Lívia e Natália (filhas).
AGRADECIMENTO
Gostaria de agradecer às pessoas com as quais tive a satisfação e oportunidade de dividir
espaços de trabalho e convivências profissionais: Alexandre Cruz Rodrigues, Ana Lucia de
Jesus C. T. da Silva, André Valentim Lucafó, Carlos Boeckh, Jano Schwind Pedroso Stussi,
João Candido Gonçalves da Silva, Jorge Kenji Yauti, Marcus Vinícius Fonseca Teixeira, Max
Isaú Corrêa, Michel Felipe Cordeiro, Naiane Lúci Santos Teixeira, Noara Pauluze Calixto Paulo
Fonseca, Paulo Pippi, Ricardo Ribeiro Marques Gomes, Rodolffo Mamedes de Castro M. dos
Santos, Rosanges Martins da Costa e Silvio Luiz Cruz Martins.
Minha gratidão a todos!
RESUMO
Muitos são os problemas enfrentados pelas indústrias para atender as legislações e normas
vigentes no país. Especificamente em estaleiros navais, o atendimento à legislação ambiental é
ainda maior, dada a natureza da atividade. Este ramo industrial está diretamente relacionado
com o meio ambiente. Esta pesquisa apresenta um estudo sobre as práticas de gerenciamento
ambiental em estaleiros navais, com empregos de critérios elencados por profissionais e
especialistas ambientais deste setor industrial. Empregaram-se conjuntamente nesta análise dois
métodos de Apoio Multicritério à Decisão, os métodos: AHP – Analytic Hierarchy Process e o
TODIM – Tomada de Decisão Interativa Multicritério. Na implementação desta pesquisa
obteve-se a ordenação de alternativas, provenientes das ponderações dos critérios propostos por
especialistas do setor, e observou-se êxito no emprego dos métodos de Apoio Multicritério à
Decisão, verificando-se que podem subsidiar a tomada de decisão auxiliando a gestão ambiental
na indústria naval
Palavras-Chaves: Estaleiro Naval, Apoio Multicritério à Decisão, Gestão Ambiental, AHP e
TODIM
ABSTRAT
Many are the problems faced by industries to comply the laws and current standards in the
country. Specifically in shipyards, compliance with environmental legislation and even greater
the given nature of the activity. This industrial branch is directly related to the environment.
This research presents a study of the environmental management practices in shipyards, with
jobs of criteria listed by professionals and environmental specialists of this industrial sector.
There are two methods of Multiple Criteria Decision that were used in this analysis: AHP -
Analytic Hierarchy Process and the TODIM - Interactive Decision Making Multiple Criteria.
In the implementation of this research, we obtained the ordering of alternatives derived from
the criteria weightings proposed by industry experts, and we found success in the use of
Multiple Criteria Decision methods, being verified that they can subsidize the decision making
aiding the environmental management in the naval industry.
Água, aprovada pela Deliberação CECA n° 1.995, de 14.01.1991, da SAE, que atribui ao órgão
estadual de meio ambiente a competência para fiscalizar.
2.4.4.1.2 Programa de autocontrole de efluentes líquidos
A DZ-942.R7 - Diretriz do Programa de Autocontrole de Efluentes Líquidos – Procon
Água, aprovada pela Deliberação CECA n° 1.995, de 14.01.1991, é um instrumento no qual os
responsáveis pelas atividades poluidoras informam regularmente ao INEA, por intermédio do
Relatório de Acompanhamento de Efluentes Líquidos (RAE), as características qualitativas e
quantitativas de seus efluentes líquidos.
A Diretriz tem por objetivo, “estabelecer as diretrizes do programa de autocontrole de
efluentes líquidos - PROCON ÁGUA, no qual os responsáveis pelas atividades poluidoras
informam regularmente à Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA, por
intermédio do Relatório de Acompanhamento de Efluentes Líquidos - RAE, as características
qualitativas e quantitativas de seus efluentes líquidos, como parte integrante do Sistema de
Licenciamento de Atividades Poluidoras - SLAP” (DZ-942.R7, PARÁGRAFO PRIMEIRO).
Adicionalmente, deve-se ater às legislações estaduais aplicáveis, conforme Quadro 2.4:
Quadro 2.4 - Legislações Estaduais Aplicáveis
Texto Legal Título Descrição / Objetivos
NT-202.R10,
de 12.12.1986
Critérios e Padrões para
Lançamento de
Efluentes Líquidos.
Considerações sobre o corpo receptor e vazão
de um curso d’água, diluição (proibida),
lançamentos individualizados e mistura,
regime de lançamento, casos de infiltração,
redução da toxicidade, métodos de coleta e
análise.
NT-213.R-4,
de
18.10.1990.
Critérios e Padrões para
Controle da Toxicidade
em Efluentes Líquidos
Industriais
Estabelecer critérios e padrões para controle
da toxicidade em efluentes líquidos
industriais, utilizando testes de toxicidade
com organismos aquáticos vivos, de modo a
proteger os corpos d’água da ocorrência de
toxicidade aguda ou crônica.
Lei nº 3467,
de 14.09.2000
Dispõe sobre as sanções
administrativas
derivadas de condutas
lesivas ao meio
ambiente no Estado do
Rio de Janeiro, e dá
outras providências.
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DZ-205.R6,
de
08.11.2007.
Diretriz de Controle de
Carga Orgânica em
Efluentes de Origem
Industrial
Estabelecer, como parte integrante do Sistema
de Licenciamento de Atividades Poluidoras –
SLAP, exigências de controle de poluição das
águas que resultem na redução de: i. Matéria
orgânica biodegradável de origem industrial;
ii. Matéria orgânica não biodegradável de
origem industrial; e iii. Compostos orgânicos
de origem industrial que interferem nos
mecanismos ecológicos dos corpos d’água e
na operação de sistemas biológicos de
tratamento implantados pelas indústrias e
pelas operadoras de serviços de esgoto.
Fonte: o autor.
2.4.4.1.3 Efluentes orgânicos sanitários
Os efluentes orgânicos sanitários oriundos dos prédios administrativos, vestiários e da
cozinha e refeitório industrial do estaleiro são coletados por rede hidráulica e caixas de
passagem e, na sequência, são transferidos à rede coletora pública da CEDAE/RJ, para
tratamento apropriado.
O efluente descartado é transferido para Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da
Concessionária onde, após passar por tratamento físico/químico/biológico, é descartado à
natureza, em conformidade aos padrões de lançamento de efluentes ao corpo receptor.
Os requisitos legais pertinentes ao gerenciamento do efluente sanitário no âmbito das
instalações internas do estaleiro são determinados pela Deliberação CECA/CN n° 4.886 de
08.11.2007, que aprova a DZ-205.R-4 – Diretriz de Controle de Carga Orgânica Biodegradável
em Efluentes Líquidos de Origem Sanitária, que no Item 1 – Objetivo – dispõe: “estabelecer
exigências de controle de poluição das águas que resultem na redução de carga orgânica
biodegradável de origem sanitária, como parte integrante do Sistema de Licenciamento de
Atividades Poluidoras – SLAP”.
No item 2 – Abrangência –, faz a inclusão de atividades não industriais como, por
exemplo: portos, grandes estruturas de apoio e embarcações e canteiros de serviços.
As normas NBR/ABNT nº 8.160/1990 e NBR/ABNT nº 12.208/1992 corroboram com
vistas às adequações e atendimentos às demandas tanto técnica como legal, de forma a atender
a Condicionante de Licença.
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2.4.4.2 Emissões atmosféricas
A planta industrial do estaleiro naval possui alguns processos industriais com
significativas fontes estacionárias de poluição atmosférica, como por exemplo, cabine de
jateamento e pintura, motogeradores a diesel. As emissões atmosféricas que mais ocorrem são
emissões de particulados e de gases como SOx11, NOx12, VOC13, que resultam em impactos
negativos para o meio ambiente e à saúde das pessoas. Deve-se realizar os monitoramentos das
emissões de materiais particulados e de gases, com periodicidade regular e elaborado o
Inventário de Emissões, com identificação das fontes e quantificação com base nos parâmetros
de emissões fornecidos pelo Órgão Ambiental.
No âmbito do estaleiro há dois programas ambientais para o monitoramento e controle
de emissões atmosféricas propostos pelo INEA/RJ, sendo: i. PROMON AR, destinado às fontes
fixas, com amostragens em dutos de exaustão e chaminés industriais; ii. PROCON FUMAÇA
PRETA, para autocontrole de emissões de motores do ciclo diesel.
A vinculação do estaleiro ao PROMOM AR é realizada por meio de vistoria in loco nas
unidades produtivas, licenciadas pelo INEA, durante ou após a fase de licenciamento pelos
técnicos da GEAR.
A frequência do monitoramento periódico deve estar expressa nas condicionantes das
licenças ambientais ou outro documento formal do INEA ou estipuladas em normas específicas,
devendo ser, no mínimo, semestral (ART. 8.1, da NOP-INEA-01).
Quanto ao PROCON FUMAÇA PRETA: a Secretaria de Estado do Ambiente - SEA,
através do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Conema), editou a Resolução Conema nº 43,
de 14.12.2012, que “ratifica a política de controle de emissões veiculares definida no PCPV -
Plano de Controle da Poluição Veicular”, com base na Resolução CONAMA nº 418/2009,
alterada pela Resolução CONAMA nº426/2010, na qual estabelece os limites máximos de
emissão veicular e faculta o estabelecimento dos limites estaduais de emissão veicular (veículos
do ciclo Otto, motociclos e veículos do ciclo Diesel).
Em termos operacionais, a Resolução Conema nº 65, de 10.10.2014, aprova a NOP-
INEA-13, que revisa os procedimentos para medição do nível de opacidade de veículos do ciclo
11 SOx – óxidos de enxofre 12 NOx – óxidos de nitrogênio 13 VOC – composto orgânico volátil
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diesel em uso, que, no art. 6º, dispõe que “esta Resolução entrará em vigor a partir do dia 01 de
janeiro de 2015”.
2.4.4.3 Ruído ambiental industrial
A Resolução CONAMA n.º 1, de 08.03.1990, que “dispõe sobre critérios de padrões
de emissão de ruídos decorrentes de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou
recreativas, inclusive as de propaganda política”, destacam os itens 2, 3 e 6 que determinam a
norma NBR/ABNT nº 10.151/2000 para a avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o
conforto da comunidade, definição de níveis máximos permissíveis para cada tipo de
zoneamento da cidade e método de medição a ser seguido. Em associação, define a norma
NBR/ABNT nº 10.152/1987 para avaliação de conforto acústico em ambientes construídos.
Quanto à aplicação dos requisitos normativos e legais, dispõe a Resolução (Item V),
que “as entidades e órgãos públicos (federais, estaduais e municipais) competentes, no uso do
respectivo poder de polícia, disporão de acordo com o estabelecido nesta Resolução, sobre a
emissão ou proibição da emissão de ruídos produzidos por qualquer meio ou de qualquer
espécie, considerando sempre os locais, horários e a natureza das atividades emissoras, com
vistas a compatibilizar o exercício das atividades com a preservação da saúde e do sossego
público”.
Na cidade do Rio de Janeiro estão em vigor as Leis Municipais nº 3.268/2001 e nº
3.342/2001 e a Resolução SMAC nº 198/2002, as quais seguem, em termos técnicos, as
condições da norma NBR/ABNT 10.151/2000. Cabe destacar que há menções nestas leis sobre
os critérios de zonas municipais arranjados por ocupações urbanas: i. residencial; ii.
industriais; iii. comerciais etc. Como é o caso do art. 4º, da Lei 3.268/2001, que é
complementado pelo anexo da Lei, onde consta a Tabela 1: “Níveis máximos para sons e
ruídos externos, em dBA (decibel medidos na escala A, utilizada na avaliação de nível de
pressão sonora), vinculados ao zoneamento municipal, de acordo com a ABNT/NBR
10.151/2000”.
2.4.4.4 Gestão de resíduos sólidos
A instalação portuária - incluindo estaleiro - deve dispor de instalações ou meios
adequados para o recebimento e tratamento dos diversos tipos de resíduos. Estas instalações
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devem atender os requisitos dispostos nas legislações governamentais que conferem
competências pertinentes à matéria a outros órgãos e entidades das administrações públicas
federal, estaduais e municipais.
2.4.4.4.1 Política nacional de resíduos sólidos – PNRS
A Lei nº 12.305, de 02.08.2010, que “institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos -
PNRS; altera a Lei no 9.605, de 12.02.1998; e dá outras providências”, alinha-se ao lado das
leis ambientais mais relevantes do Brasil, como a Lei da Política Nacional de Meio Ambiente
(Lei nº 6.938/1981), a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), a Lei de Recursos
Hídricos (Lei 9.433/1997), entre outras, preenchendo importante lacuna no conjunto de leis
nacionais dedicadas à proteção do meio ambiente (ARAÚJO e JURAS, p. 21, 2011).
De acordo com texto legal, o gerenciamento de resíduo sólido (art. 3º, inc. X), dispõe a
respeito às etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final
ambientalmente adequada. Neste sentido, corrobora o art. 3º, inc. VII, que inclui a reutilização,
a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras
destinações dos resíduos sólidos, como formas de destinações finais ambientalmente
adequadas.
A Lei, no art. 9º, que propõe o ordenamento prático na gestão e gerenciamento de
resíduos sólidos, “deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução,
reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos”.
Um dos conceitos mais relevantes e constantes na Lei 12.305/2010 refere-se à logística
reversa. Segundo Araújo e Juras (2011), ela engloba ações, procedimentos e meios estruturados
para assegurar o retorno de produtos usados, embalagens ou outros materiais gerados nas
atividades de consumo ou aplicação para o setor empresarial responsável por sua produção ou
comercialização. Neste sentido, complementa as Autoras, que “a base da logística reversa está
na responsabilidade pós-consumo do setor produtivo, em conexão com o princípio do poluidor-
pagador”.
Cabe destacar que resíduos sólidos e rejeitos são conceitos distintos para a Lei
12.305/2010. Os resíduos sólidos têm maior abrangência, significando material, substância,
objeto ou bem, no estado sólido ou semissólido, a cuja destinação final se procede, se propõe
proceder ou se está obrigado a proceder (art. 3º, inc. XVI).
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O termo resíduo sólido, segundo o mesmo artigo, abrange também os gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornam inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente
inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.
O conceito de rejeito, citado no artigo 3º, inc. XV, por sua vez, é mais restrito, isto é,
refere-se apenas aos resíduos sólidos que não apresentam outra possibilidade além da
disposição final ambientalmente adequada. Neste caso, enquadra os resíduos - por questões
tecnológicas ou econômicas - como o seu tratamento ou a sua recuperação inviável.
Outro ponto importante da Lei 12.305/2010 faz referência à responsabilidade
compartilhada, do conjunto dos atores, (art. 30), sobre ciclo de vida dos produtos14. Alude que
as obrigações nesse sentido não se esgotam na responsabilidade pós-consumo do setor
produtivo, mas, engloba fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, bem como os
consumidores e os responsáveis dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos
resíduos sólidos.
Conforme o disposto no art. 3º, inc. XVII, todos têm por tarefa implementar ações no
sentido de minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir
os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos
produtos.
Neste caso, trata-se de regras diferenciadas como destacam Araújo e Juras (2011).
Assim, são responsáveis pela implementação e operacionalização integral do plano de
gerenciamento de resíduos sólidos os geradores de serviços de públicos de saneamento básico,
industriais, de serviços de saúde e de mineração. Segundo as Autoras, “se enquadram ainda
nesta situação os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços que gerem resíduos
perigosos ou que gerem resíduos que, por sua natureza, composição ou volume, não sejam
equiparados aos resíduos domiciliares pelo poder público municipal”.
Comentam Araújo e Juras (2011), que a Lei da PNRS, em relação às responsabilidades
pelos resíduos gerados em determinados setores, não traz grandes inovações, uma vez que já
havia regras estabelecidas pelo CONAMA. Citam os casos de haver procedimentos para os
gerenciamentos de resíduos quanto ao:
(a) serviço de saúde, dados pela Resolução CONAMA nº 358/2005,
(b) resíduos de construção civil, tratados pela Resolução CONAMA nº 307/2002;
(c) resíduos industriais, são controlados pela Resolução CONAMA nº 313/2002.
14 Ciclo de vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-
primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final (art. 3º, inc. IV, da Lei 12.305/2010 –
Resíduos Sólidos).
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Citam que havia, também, a previsão da responsabilidade pós-consumo para resíduos e
embalagens de agrotóxicos, disciplinados pela Lei nº 7.802/1989, que foi alterada pela Lei nº
9.974/2000 juntamente no aspecto da responsabilidade pós-consumo. Tal responsabilidade
também existia como resultados das Resoluções do CONAMA citada abaixo:
(a) Resolução CONAMA nº 401/2008, para pilhas e baterias;
(b) Resolução CONAMA nº 416/2009, para pneus;
(c) Resolução CONAMA nº 362/2005, para óleos lubrificantes.
Araújo e Juras (2011) argumentam ainda que “cabe dizer que a inserção de regras nesse
sentido em lei implica sistematização e maior coerência e segurança jurídica”.
Cabe, também, destacar o art. 37, do Capítulo IV – Dos Resíduos Perigosos, pela sua
relevância de conteúdo, o qual é indispensável em uma lei como a PNRS.
No primeiro dispositivo do capítulo, estabelece-se que “a instalação e o funcionamento
de empreendimento ou atividade que gere ou opere com resíduos perigosos somente podem ser
autorizados ou licenciados pelas autoridades competentes se o responsável comprovar, no
mínimo, capacidade técnica e econômica, além de condições para prover os cuidados
necessários ao gerenciamento desses resíduos”.
A Lei da PNRS, em seu art. 38, prevê a instituição do Cadastro Nacional de Operadores
de Resíduos Perigosos, o qual integra o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente
Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais e o SINIR – Sistema Nacional de
Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos15 e será coordenado pelo órgão federal
competente do SISNAMA e implantado de forma conjunta pelas autoridades federais, estaduais
e municipais.
A Lei fixa também algumas obrigações para as pessoas jurídicas que operam com
resíduos perigosos, sendo a primeira delas o cadastramento no Cadastro Nacional de
Operadores de Resíduos Perigosos e, a segunda, a elaboração de plano de gerenciamento de
resíduos perigosos, que pode estar incluído no plano de gerenciamento de resíduos, além de
outras exigências previstas em regulamentos ou em normas técnicas para resíduos perigosos
como no caso do SNVS/ANVISA16.
15 SINIR: é um dos Instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) instituída pela Lei nº 12.305,
de 02.08.2010 e regulamentada pelo Decreto nº 7.404, de 23.12.2010. 16 SNVS/ANVISA: Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, na
Lei n° 9.782, de 26.01.1999.
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Cabem também às pessoas jurídicas que operam com resíduos perigosos:
(a) manter registro atualizado e facilmente acessível de todos os procedimentos
relacionados à implementação e à operacionalização do plano de gerenciamento
de resíduos perigosos;
(b) prestar anualmente aos órgãos ambientais informações sobre a quantidade, a
natureza e a destinação temporária ou final dos resíduos sob sua responsabilidade,
inclui-se os resíduos de serviços de saúde;
(c) adotar medidas destinadas a reduzir o volume e a periculosidade dos resíduos sob
sua responsabilidade e aperfeiçoar seu gerenciamento;
(d) informar imediatamente os órgãos competentes sobre a ocorrência de acidentes ou
outros sinistros relacionados aos resíduos perigosos.
A Lei da PNRS foi regulamentada pelo Decreto Federal nº 7.404, de 23.12.2010, que
será comentado no item 2.4.4.4.2 - Execução da política nacional de resíduos sólidos
2.4.4.4.2 Execução da política nacional de resíduos sólidos
O Decreto Federal nº 7.404, de 23.12.2010, regulamenta a Lei n 12.305, de 02.08.2010,
que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, a qual cria o Comitê
Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a
Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências.
A presente norma legal é estruturada na forma de texto extenso, com 86 artigos,
subdividido em doze títulos.
Em seu art. 1º, tem o Decreto “estabelece normas para execução da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, de que trata a Lei nº 12.305, de 02.08.2010”.
Esta fase da revisão de literatura técnico-legal, referente ao Decreto nº 7.404/10, como
premissa, serão analisados os capítulos e artigos relevantes, condizentes e aplicáveis à gestão
ambiental de estaleiro naval, por tratar-se do objeto do presente trabalho de pesquisa.
O legislador, ao elaborar o Decreto, dedica uma parte significativa aos aspectos do
gerenciamento dos resíduos sólidos. No art. 35, o Decreto repete a ordem de prioridade fixada
pela Lei da PNRS (caput do art. 9º) para o gerenciamento de resíduos sólidos, qual seja: não
geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos.
A norma legal ratificou a relevância dada à logística reversa (PNRS) e criou o Comitê
Orientador para a Implantação de Sistemas de Logística Reversa (art. 33), como inovação. No
art. 37, aborda a recuperação energética dos resíduos sólidos, condicionada à comprovação de
sua viabilidade técnica ambiental e com a implantação de programa de monitoramento
2.4.4.4.3 Sistema de manifesto de resíduos – Estado do Rio de Janeiro
A DZ-1310.R7 - Sistema de Manifesto de Resíduos, de 21.09.2004, aprovada pela
Deliberação CECA nº 4.497, de 03.09.2004, é um instrumento de controle que permite ao
Instituto Estadual do Ambiente (INEA/RJ) conhecer e monitorar a destinação final dada pelo
gerador, transportador e receptor aos resíduos. Estão sujeitas à vinculação ao Sistema todas as
pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, geradoras, transportadoras e
receptoras de resíduos, abrangidos pela Diretriz (Item 5.1, da DZ-1310.R-7).
O objetivo da Diretriz é “estabelecer a metodologia do Sistema de Manifesto de
Resíduos, de forma a subsidiar o controle dos resíduos gerados no Estado do Rio de Janeiro,
desde sua origem até a destinação final, evitando seu encaminhamento para locais não
licenciados, como parte integrante do Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras”
(Item 1, da DZ-1310.R-7).
A Diretriz define no item 9 – responsabilidade, manifestadas em ações a cargo de: i.
gerador; ii. Transportador; e iii. receptor do resíduo. Alerta ainda que, no caso de não conseguir
acessar o sistema on-line, o responsável poderá imprimir o formulário de manifesto e preenchê-
lo manualmente, para que a retirada de resíduos não seja feita sem a documentação necessária,
fato que caracteriza situação especial.
Os códigos relacionados às caracterizações dos resíduos a serem preenchidos no corpo
do Manifesto devem ser consultados na Norma NBR 10.004:2004 – Resíduos Sólidos –
Classificação, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
2.4.4.5 Passivos ambientais
2.4.4.5.1 Qualidade de solo e da água subterrânea
O gerenciamento da qualidade de solos e das águas subterrâneas tanto pode ser de
caráter preventivo quanto corretivo. O solo pode atuar como um filtro receptor (capacidade de
autodepuração desse tipo de corpo receptor, isto é a água subterrânea). O que ocorre com o
solo, pode repercutir nas águas superficiais e subterrâneas; porém, essa capacidade é limitada.
De acordo com a ANTAQ (2012), os passivos ambientais portuários, normalmente, são
contingências originadas em longo período, sendo despercebido, às vezes, pela própria
administração do terminal. Normalmente, o surgimento de passivos ambientais pode ocorrer
em função da disposição não controlada de resíduos ou lixos industriais, da ocorrência de
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acidentes operacionais - como vazamentos de óleos e outras substâncias químicas - e da
utilização de instalações e equipamentos inadequados.
Segundo o art. 6º, inc. V, da Resolução CONAMA nº 420/2009, dispõe sobre
contaminação como “a presença de substância(s) química(s) no ar, água ou solo, decorrentes
de atividades antrópicas, em concentrações tais que restrinjam a utilização desse recurso
ambiental para os usos atual ou pretendido, definidas com base em avaliação de risco à saúde
humana, assim como aos bens a proteger, em cenário de exposição padronizado ou específico”.
Segundo INEA/RJ18, “uma área com contaminação é definida pela presença de
substância(s) química(s) no ar, água ou solo, decorrentes de atividades antrópicas, em
concentrações tais que restrinjam a utilização desse recurso ambiental para os usos atual ou
pretendido, definidas com base em avaliação de risco à saúde humana, assim como aos bens a
proteger, em cenário de exposição padronizado ou específico”.
2.4.4.5.2 Contaminação do solo e água subterrânea – Estado do Rio de Janeiro
No Estado do Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado do Ambiente, por intermédio do
Conselho Estadual de Meio Ambiente (Conema) - editou a Resolução Conema nº 44, de
14.12.2012, que dispõe sobre a obrigatoriedade da identificação de eventual contaminação
ambiental do solo e das águas subterrâneas por agentes químicos no processo de licenciamento
ambiental estadual.
Em seu art. 1º, estabelece a obrigatoriedade, nos requerimentos de licenciamento
ambiental, de apresentação de relatório de identificação da eventual contaminação ambiental
do solo e das águas subterrâneas por agentes químicos.
O texto da Resolução Conema nº 44/2012 se respalda integralmente aos ditames da
Resolução CONAMA nº 420/2009. Acrescentam-se exigências às emissões de relatório de
quaisquer ordens com os dizeres (art. 9º), “em todos os relatórios deverão constar”, passando
aos inc. I a III:
(a) assinatura original e Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) do responsável
técnico pelo estudo;
(b) laudos originais das análises de solo e águas subterrâneas emitidos por laboratório
credenciado pelo INEA e as respectivas cadeias de custódia19 das amostragens;
(c) Declaração de Responsabilidade [ ... ].
18 Publicação do Gerenciamento de Áreas Contaminadas do Estado do Rio Janeiro - Cadastro de Áreas
Contaminadas e Reabilitadas – 1ª Edição. Acesso: http://arquivos.proderj.rj.gov.br/INEA_imagens/downloads
/areas_contaminadas /Relatorio_AreasContaminadaseReabilitadas_1aEdicaoo.pdf, em 02.11.2016 19 Cadeia de Custódia: é um método de documentação que é usado para manter a história cronológica, garantir a
idoneidade e o rastreamento da evidência. Caminho: http://abqrs.com.br/cadeia-de-custodia/. Acesso em:
ações de gestão ambiental. Os dados e informações exigidos, assim como as formas e
metodologias para sua medição e registro, são estabelecidos de acordo com a atividade
potencialmente poluidora e utilizadora de recursos ambientais, com o porte, com as
características produtivas, com os volumes de geração e emissão de poluentes, efluentes
líquidos, emissões atmosféricas e resíduos sólidos ou outro critério técnico.
A obrigatoriedade de entrega do RAPP foi instituída pela Lei nº 6.938/81, § 1º do art.
17-C (Lei de Crimes Ambientais), alterada pela Lei nº 10.165, de 2000 (Lei da Taxa de Controle
e Fiscalização Ambiental) e art. 8º, § 1º da Instrução Normativa IBAMA nº 17, de 29.12.2011,
onde citam que o Relatório deve ser submetido anualmente ao IBAMA, com dados atualizados
referentes aos aspectos ambientais das atividades exercidas, no caso presente, pelo estaleiro
naval relativo ao ano anterior.
O RAPP solicita uma série de informações sobre o estaleiro naval, tanto de cunho
ambiental quanto financeiro e operacional. É necessário informar: i. o volume de resíduos
gerados; ii. matérias-primas consumidas e, iii. faturamento do ano anterior.
Também se encerra no dia 31 de março (de cada ano), o prazo para o preenchimento e
envio das seguintes declarações e relatórios aos órgãos ambientais competentes, conforme
Tabela 2.1.
Tabela 2.1 - Relatórios Ambientais Anuais
O que Órgão
Governamental
Data ou
período
Requisito Legal
pertinente
Relatório Anual de Atividades
Potencialmente Poluidoras e
Utilizadoras de Recursos Ambientais
– RAPP
IBAMA
Até
31 de
março
IN IBAMA nº 6,
de 2013
Login e senha
Declaração de Carga Poluidora
(DCP), em atendimento ao art. 28 da
Resolução CONAMA n° 430/2011.
(condições e padrões de lançamento
de efluentes),
IBAMA
Até
31 de
março
Resolução
CONAMA
430/2011
Declaração Anual de geração de
resíduos de serviços de saúde.
INEA/RJ Até
31 de
março
Art. 6º, da
Resolução
CONAMA
358/2005, IBAMA
Certificado Técnico Federal –
Certificado de Regularidade do
IBAMA. (Acordo de Montreal)
IBAMA
Até
31 de
março
Lei nº 10.165,
de 27.12.2000.
Fonte: o autor.
57
2.5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA METODOLOGIA AMD
Nesta seção serão expostos os fundamentos relevantes quanto aos aspectos teóricos
relativos à metodologia do AMD (Auxilio Multicritério à Decisão), ou em inglês, MCDA
(Multicriteria Decision Aid), com a finalidade de destacar os conhecimentos e conceitos
necessários aos objetivos deste trabalho de pesquisa.
De acordo com Fantinatti et al (2015), “a metodologia multicritério pode utilizar
variáveis subjetivas as quais não podem ser representadas por funções matemáticas e, portanto,
não podem ser otimizadas; descrevem geralmente problemas discretos e para avaliação faz uso
de agregação de desempenhos de diferentes critérios”.
Gomes e Gomes (2014) afirmam que a Pesquisa Operacional (PO) é a área que cuida da
otimização dos processos organizacionais e outros métodos de resolução de problemas de apoio
à decisão, como também, procura aperfeiçoar as operações existentes e/ou ajudar no processo
de tomada de decisão, visando fornecer subsídios racionais para a tomada de decisões.
Segundo Fantinatti et al (2015), “a metodologia MCDA proporciona a adoção de uma
estratégia formal de planejamento, cuja abordagem visa diminuir a subjetividade das
avaliações, por meio de dados concretos e contextualização dos problemas, e facilitar o diálogo
entre os decisores”.
No âmbito da Pesquisa Operacional duas visões podem ser distinguidas: a visão hard
que pressupõe modelos do mundo e a visão Soft que pressupõe modelos que incorporam
maneiras especiais de ver o mundo. Cada uma destas visões é formada por diferentes premissas
e atitudes, conduzindo, consequentemente, a diferentes resultados (ENSSLIN et al, 2005).
A descrição do modelo Soft será vista em destaque na seção 2.5.4.
2.5.1 Considerações sobre a metodologia multicritério
Arêas (2011) relata que, “antes do surgimento dos métodos do AMD (ou MCDA), certos
tipos de problemas não podiam se valer de técnicas que os resolvessem de maneira eficaz:
aqueles nos quais uma série de critérios tinha de ser levados em conta, com uma dificuldade a
mais. Acrescenta o autor, que frequentemente certos critérios eram conflitantes entre si, ou seja,
o entendimento a um determinado critério poderia prejudicar o atendimento a outro(s). Por
“atendimento a um critério” entenda-se a escolha de uma solução para o problema na qual esse
critério é respeitado”.
58
Acrescenta Gomes et al, (2006), que essa dificuldade aumentava na medida em que os
problemas a serem resolvidos afetavam não apenas uma pessoa, mas, um grupo, ambos
chamados de agente de decisão.
Segundo Almeida (2011), esse agente de decisão surgiu de um conjunto de métodos
aplicados aos problemas de decisão, com múltiplos objetivos, na área de Ciência da Gestão e
Pesquisa Operacional (PO). Segundo o autor, “estes métodos são fundamentados na análise de
problemas de decisão onde existem vários objetivos, muitas vezes conflitantes, para os atores
envolvidos no processo decisório” (ALMEIDA, 2011).
Pode-se dizer que um problema de decisão multicritério consiste numa situação, onde
há pelo menos duas alternativas de ação para se escolher, e esta escolha é conduzida pelo desejo
de se atender a múltiplos objetivos. A estes objetivos são associadas variáveis que podem ser
chamadas de critérios, atributos ou dimensões (ALMEIDA, 2011).
Segundo Gomes et al (2004), os primeiros métodos de apoio ou auxilio multicritério à
decisão começaram na década de 70, com o intuito de enfrentar situações específicas, nas quais
um decisor, atuando com racionalidade, deveria resolver um problema em que vários eram os
objetivos a serem alcançados de forma simultânea.
Para Fantinatti et al (2015), é um problema recorrente nas mais diversas situações de
tomadas de decisão, o desconhecimento em relação aos objetivos desejados, às formas de ação
para se atingir os objetivos ou até mesmo entre os meios e os fins pretendidos.
De acordo com Gomes et al (2004), os métodos do apoio multicritério à decisão têm um
caráter científico e, ao mesmo tempo, subjetivo, trazendo consigo a capacidade de agregar, de
maneira ampla, todas as características consideradas importantes, inclusive as não quantitativas,
com a finalidade de possibilitar a transparência e a sistematização do processo referente aos
problemas de tomadas de decisões.
Segundo Fantinatti et al (2015), “a metodologia AMD proporciona a adoção de uma
estratégia formal de planejamento, cuja abordagem visa diminuir a subjetividade das
avaliações, por meio de dados concretos e contextualização dos problemas, e facilitar o diálogo
entre os decisores”.
Almeida (2011) argumenta que uma questão importante associada a um problema de
decisão multicritério é a presença de um decisor que estabelece suas preferências sobre as
consequências envolvidas no problema. Para Gomes et al (2004), o enfoque do apoio
multicritério à decisão, não procura apresentar ao decisor ou decisores uma solução para o
problema, elegendo uma única verdade representada pela alternativa escolhida. Pretende-se,
59
conforme seu nome sugere, apoiar o processo de decisão ao recomendar ações ou cursos de
ação que serão realizados.
A metodologia AMD se propõe a aumentar a compreensão dos decisores sobre o
problema, viabilizando a estruturação do mesmo (via procedimentos normais). Ela permite
identificar novas e melhores alternativas, assim como o conjunto de ações necessárias para sua
efetivação, além de dar legitimidade às decisões tomadas e favorecidas a implantação das ações
(FANTINATTI et al, 2015).
Conforme Arêas (2011), o AMD é um conjunto de métodos cujas características têm
muito em comum com as daqueles classificados como pertencentes à PO Soft (que será
apresentado na seção 2.5.4), quais sejam: (a) a estruturação prévia dos problemas; (b) são
voltados para a resolução de problemas complexos, levando em conta os aspectos qualitativos;
(c) implicam em grande participação dos atores (stakeholders) e (d) baseiam-se na
aprendizagem constante.
2.5.2 Métodos de apoio multicritério à decisão
Conforme Gomes, Gomes e Almeida (2006), Keeney (2012) e Aguiar (2014), o AMD
- Apoio Multicritério à Decisão é uma área dinâmica do conhecimento e da pesquisa, orientada
a apoiar os decisores e os negociadores, auxiliando na estruturação dos problemas, permitindo
expandir a argumentação e ampliando sua capacidade de aprendizagem e compreensão.
Segundo Bana e Costa (1996), Ensslin, et al (1996), as metodologias do AMD
apresentam conceitos e bases para estruturar e modelar uma situação problemática, incluindo
modos para identificar e gerar ações, bem como técnicas de construção de critérios e
procedimentos à agregação, para tal situação.
Quando deparado com problema de tomada de decisão, segundo Keeney (2012), a única
influência proposital que o decisor (indivíduo ou organização) pode ter sobre o futuro é através
de suas próprias decisões. E, ainda, no momento da decisão, a única flexibilidade que o decisor
tem é escolher uma dentre o conjunto de alternativas que foram identificadas. Por isso, a
geração e escolha de alternativas adequadas é uma das principais preocupações das
metodologias do AMD.
A participação de especialistas (gestores e decisores da organização) pode ser
considerada para dar suporte ao processo de definição de critérios e alternativas, com vistas ao
60
que de melhor se faz na área de interesse, isto é, levar em considerações as experiências e
opiniões dos profissionais em questão.
Segundo Gomes; Araya; Carignano (2004) existem diferentes tipos de problemas de
decisão a partir dos conceitos expostos, e afirmam que dado um problema de decisão, uma das
seguintes problemáticas é abordada pelo AMD.
Problema tipo α (Pα): selecionar a “melhor” alternativa ou as melhores
alternativas.
Problema tipo β (Pβ): aceita alternativas que parecem “boas” e descartar as que
parecem “ruins”, ou seja, realizar uma classificação das alternativas.
Problema tipo γ (Pγ): gerar ordenação das alternativas
Problema tipo δ (Pδ): realizar uma descrição das alternativas
Essas problemáticas não são independentes entre si, pois parece lógico pensar que a
ordenação das alternativas (Pγ) pode servir de base para resolver problemas de seleção da melhor
alternativa (Pα).
2.5.3 Atores do processo de decisão
Vários atores podem ser considerados num processo decisório (ALMEIDA, 2011). Há
várias classificações na literatura (Almeida, 2011), para diversos atores que participam de
alguma forma deste processo, dentre os quais são citados: i. decisor, ii. analista, iii. cliente, e
iv. especialista.
De acordo com Almeida (2011), o processo decisório pode envolver apenas um decisor
ou um grupo de decisores. O decisor ou um grupo de decisores é o responsável pela tomada de
decisão. Corroboram Gomes e Gomes (2014), dizendo:
“Decisor: influencia no processo de decisão de acordo com o juízo de valor(es) que
representa(m) e/ou relações que se estabeleceram. Estas relações devem possuir
caráter dinâmico, pois poderão ser modificadas durante o processo de decisão devido
ao enriquecimento de informações e/ou interferência de facilitadores” (GOMES e
GOMES, p. 7, 2014).
O analista de decisão, de acordo com Almeida (2011), fornece suporte metodológico ao
processo decisório, podendo exercer um papel mais amplo de envolvimento com o grupo de
atores para trabalhar no entendimento do problema. Neste caso, salienta o autor “o analista pode
exercer o papel de facilitador”.
61
Para Gomes e Gomes (2014), o facilitador participa do processo de decisão como
negociador, no qual a decisão mútua é feita com a concordância das partes, como também, se
busca o consenso, para tanto:
“Facilitador: é um líder experiente que deve focalizar a sua atenção na resolução do
problema, coordenando os pontos de vista do decisor, mantendo este motivado e
destacando o aprendizado no processo de decisão. Tem como papel esclarecer e
modelar o processo de avaliação e/ou de negociação conducente à tomada de decisão.
Deve manter uma postura neutra no processo decisório, para não intervir nos
julgamentos dos decisores. Deve propiciar o aprendizado [...]” (GOMES e GOMES,
p. 7 e 8, 2014).
Para Almeida (2011), o cliente é apontado como um intermediário entre o decisor e o
analista, podendo exercer o papel de assessor do decisor. Acrescenta o autor, que “o especialista
raramente é citado na literatura do MCDA (Multi-Criteria Decision Aid), mas está sempre
presente na literatura de Teoria da Decisão”, por ser profissional que conhece os mecanismos
de comportamento do sistema objeto de estudo e do seu ambiente que influenciam variáveis
relacionadas ao problema de decisão em questão.
Gomes e Gomes (2014) colocam que podem existir outros atores (em inglês,
stakeholders) que influenciam o decisor de alguma outra forma, através de algum tipo de
pressão. Argumentam, os Autores, que pode ocorrer também que estes atores sejam afetados
pela decisão a ser tomada, como é o caso descrito por (Gomes e Gomes, 2014), quando se
referem ao agidos:
“Agidos: são as pessoas às quais o programa é imposto, ou são as pessoas que são
afetadas por ele, de maneira direta ou indireta. Os agidos não tomam decisão sobre o
programa, apenas participam. São aqueles que, apesar de sofrerem consequências das
decisões, têm limitadas ou nenhuma capacidade de, por vontade própria, ver seus
valores e preferências contemplados nos modelos de avaliação” (GOMES e GOMES,
p. 7, 2014).
2.5.4 Metodologia soft
A Pesquisa Operacional Soft (PO Soft), segundo Arêas (2011), surgiu nos anos 1960,
embasada pela aplicação (e posterior elaboração teórica) de diversos métodos a situações
problemáticas que não eram suscetíveis ao uso dos procedimentos da PO hard (PO tradicional).
Posteriormente, conforme Rosenhaed e Mingers (2004) e Almeida (2011) passou a ser abordada
como MEP (Métodos de Estruturação de Problemas), em inglês, como PSM (Problem
Structuring Methods).
62
A “Soft” é composta de uma geração de métodos pensados e elaborados para um mundo
coberto por um clima de complexidade, conflitos e incertezas que auxiliam aos que praticam
funções de análise de problemas e gerenciamento na vida real a enfrentarem os problemas de
planejamento e tomada de decisão (GOMES, GOMES, 2014).
Os métodos são conhecidos por PO Soft, segundo Gomes, Gomes (2014), porque a
maior parte deles surge de uma evolução da Pesquisa Operacional (PO) – ferramenta de
otimização e algoritmos. A PO Soft baseia-se em modelos ditos apreciativos, onde a apreciação
é um ato mental, avaliativo, no qual normas conflitantes e valores determinam quais são
somente os fatos relevantes, enquanto fatos percebidos ou considerados exigem atenção porque
são vistos como relevantes para certos valores (GOMES, GOMES, 2014).
Pidd (2001) destaca a metodologia Soft e SODA (Strategic Options Development and
Analysis) / Mapa Cognitivo, como exemplares de abordagens formais para a estruturação de
problemas, por ajudar a compreender como diferentes pessoas exploram suas crenças e
formatam seus mundos. Segundo o referido autor, a ideia dos métodos é que eles devem ser
usados para ajudar indivíduos e grupos a pensarem sobre as consequências das suas crenças e
preferências.
A principal função destes métodos e metodologia (Gomes e Gomes, 2008) é a estruturar
problemas antes de tentar resolvê-lo; e, por isso, foram chamados de método Soft. Sua
importância deve ser compreendida porque a maior parte deles surge de uma evolução da PO
clássica, calcada em ferramentas de otimização e algoritmos igualmente quantitativos.
De acordo com (Gomes e Gomes, 2008), o principal ingrediente das metodologias Soft
é a incorporação explícita do comportamento humano que, por senso comum e experiência,
pode ser representado por métodos gráficos ou diagramas que representam de forma
esquemática redes de interações, demonstrando entre os diversos elementos das situações
analisadas, as influências, causalidades, similaridades ou compatibilidades existentes.
Segundo os autores Gomes (2014) e Almeida (2011), dentre os métodos que mais se
destacam pela aplicabilidade e quantidade de artigos publicados, citam:
(a) SSM (Soft Systems Methodology), proposto por Peter Checkland (1972): - a
metodologia de sistema Soft (SSM), segundo (Arêas, 2011) é uma metodologia de
estruturação de problemas que adota um enfoque sistêmico para a criação de
modelos conceituais que ajudem na compreensão das situações-problema e
eventualmente identifiquem ações de melhoria;
63
(b) SCA (Strategic Choice Approach), proposto por J. K. Friend e Jessop Hickling
(1969): Arêas (2011), é voltada para o auxílio a grupos de dicision-makers
envolvidos em processos decisórios nos quais exista alto grau de incerteza quanto
a aspectos da situação em estudo. O SCA lida com essas incertezas de forma
estratégicas. Baseia-se em workshops nos quais são definidas as áreas de decisão
(isto é, os vários aspectos de um problema) e suas interconexões que serão
priorizadas pelos atores participantes do processo (decision-makers).
(c) SODA (Strategic Options Development and Analysis), proposto por Eden Colin
(1981). Tem por objetivo elaborar um modelo da situação estudada, na forma de
um mapa cognitivo que reflete os pontos de vista de cada um dos integrantes do
grupo que resolverá a situação-problema, o que favorece o diálogo entre os atores
no sentido aperfeiçoar a representação da situação e confere um caráter cíclico ao
método. Um mapa cognitivo é uma representação da visão particular do ator sobre
a situação em estudo, e pode ser montado através de entrevistas (ARÊAS, 2011).
2.6 MAPA COGNITIVO / SODA
2.6.1 Conceitos sobre mapas cognitivos
Os mapas cognitivos são, normalmente, utilizados como ferramentas para representar
estruturas e processos cognitivos que ajudam a compreender decisões e ações que configuram
uma organização. Conforme Bastos (2002), o mapeamento cognitivo é uma estratégia
metodológica especialmente voltada para explicitar os processos de construção de sentido e a
estruturação de conhecimento (schemas21), tanto entre indivíduos, como entre grupos e
organizações. Este autor ressalta que os mapas cognitivos envolvem conceitos e relações que
são utilizados pelos sujeitos a fim de compreenderem o seu ambiente e dar-lhe sentido.
Segundo Bastos (2002), algumas características são importantes para uma compreensão
mais precisa do conceito de mapa cognitivo. Os mapas não são representações estáticas do
ambiente, sendo sempre atualizados a partir das experiências do sujeito. A necessidade de um
contínuo ajustamento às mudanças do contexto impõe a exigência de incorporação de novas
informações e, portanto, os mapas vão sendo reconstruídos pelo processo de aprendizagem.
O mapa cognitivo pode ser representado graficamente. Neste sentido, Jardim (2011), ao
falar sobre mapa cognitivo, “uma representação gráfica é o resultado da interpretação mental
que o analista (facilitador) faz a partir da representação discursiva feita pelo sujeito (ator) sobre
um problema”. Eden (2004) tem igual entendimento, “os mapas não são apenas uma descrição
gráfica do que é dito, mas eles são interpretações do que se entende pelo entrevistado”.
21Schemas são utilizados para gerir e organizar os objetos do banco de dados.
64
Nesse processo discursivo-reflexivo-recursivo, representado pelo mapa cognitivo,
preconiza-se a neutralidade por parte do facilitador (JARDIM, 2011).
Os mapas cognitivos revelam, de imediato, uma importante característica: a pluralidade
de formas de sua apresentação ou tratamento gráfico. Essa diversidade se estende, também, aos
caminhos envolvidos na sua construção, às fontes de dados utilizadas e às estratégias de análise
empregadas. Ou seja, ‘mapa cognitivo’ é um rótulo bastante amplo que engloba procedimentos
muito diversificados de descrever e representar graficamente cognições ou informações e
conhecimentos que as pessoas acessam para darem sentido a eventos, lidarem com problemas
e fundamentarem suas decisões e ações (BASTOS, 2002).
Fiol e Huff (1992) destacam três alternativas de mapeamento mais usadas na pesquisa
organizacional (PO) e voltadas para três diferentes aspectos dos processos cognitivos: i. os
mapas de identidade, por identificarem os principais atores, eventos e processos do “terreno”;
ii. os mapas de categorização, voltados para as relações entre tais entidades e, iii. mapas causais
e de argumentação, centrados no raciocínio causal que liga entidades ao longo do tempo, ou no
raciocínio que embasa decisões.
Como foi descrito, existem diversos tipos de mapas cognitivos, porém, será alvo deste
trabalho de pesquisa apenas o mapa causal ou de argumentação, o qual segundo os autores
Ensslin, Montibeller e Noronha (2001), por ser mais adequado ao auxílio à estruturação de
modelos multicritério.
2.6.2 Mapa casual 22
Nos estudos organizacionais, os mapas causais são os mais largamente usados, o que
leva a muitas vezes serem tomados como sinônimos de mapas cognitivos
(LAUKKANEN,1998).
São três as principais estratégias metodológicas disponíveis para a construção de mapas
causais, conforme Bastos (2002), e estão sintetizadas no Quadro 2.5, segundo o próprio Autor.
22 Neste trabalho serão detalhadas apenas as principais características dos mapas casuais, por ser adequada a
presente pesquisa.
65
Quadro 2.5 - Elementos principais das estratégias de construção de mapas causais.
Coleta dos
dados
Estratégias Metodológicas
Bougon (1983):
Self-Q (uma técnica de
autoquestionamento).
Laukkanen (1998):
Dados documentais e/ou
entrevistas – inicialmente
não estruturadas.
Eden (1988):
Dados documentais e/ou
entrevistas.
Análise dos
dados
O próprio sujeito
participa em várias
etapas: identificação
de conceitos;
avaliação da
congruência entre a
ideia expressa e a
formulação pelo
pesquisador; o sentido
do mapa construído.
Identificação dos temas
âncora:
o desenvolvimento de um
vocabulário padrão –
categorias que agrupam
sinônimos e permitem
comparar o material.
Criação de matriz de
dados com as relações
causais. Identificação de
clusters de sujeitos
segundo a similaridade
dos conceitos enunciados.
Medidas quantitativas:
distância, complexidade,
unidades centrais,
similaridade etc.
Identificação dos
construtos: frases que
devem preservar a
linguagem “natural”.
Formulação de conceitos
bipolares: opostos
psicológicos, conforme
teoria dos construtos
pessoais de Kelly23.
Três tipos/níveis de
conceito: objetivo/metas
– opções estratégicas –
opções potenciais.
Identificação de clusters
– conjuntos de nós
relacionados.
Recurso
tecnológico Não disponível
Software CMPA224 (não
comercial). Não permite
a construção gráfica dos
resultados
Software ‘Decison
Explorer’ (comercial).
Permite a disposição dos
dados na forma de
mapas.
Formato
gráfico
Os conceitos são
dispostos em um
polígono e uma teia
central de relações
expressa os vínculos
causais entre eles.
Nodos (conceitos)
ligados por setas que
indicam vínculo causal.
Nodos (conceitos)
ligados por setas que
indicam vínculo causal.
Conceitos organizados
em uma hierarquia que
leva aos objetivos (topo
do mapa).
Fonte: o autor, com base nas estratégias de construção de mapas causais. (ref.: Bastos, 2002).
Neste trabalho de pesquisa, será utilizada a terceira estratégia metodológica de
construção mapas causais, apresentada por Bastos (2002) sendo esta desenvolvida por Colin
Eden e associados (1988), denominada SODA (Strategic Options Development Analysis), a
23 Uma descrição pormenorizada da teoria dos construtos pessoais de Kelly pode ser encontrada em The
PsychologyofPersonalConstructs., volume 1 e 2. Norton, New York. 24O CMAP2: é um software não-comercial criado pelo autor e disponibilizado para pesquisadores interessados em
seu uso.
66
qual possui o caráter de uma metodologia de solução ou modelagem de problemas
organizacionais (BASTOS, 2002).
A SODA, segundo Pidd (1998): “é uma abordagem desenvolvida por Eden e seus
colegas com a intenção de prover uma maneira de permitir que grupos de pessoas se
comprometam com as ações através de consideração cuidadosa e racional acerca das
possibilidades consideradas”.
2.6.3 Construção do mapa cognitivo
A boa construção de um mapa cognitivo depende de dois fatores essenciais: i. a
abordagem empática inicial por parte do facilitador e, ii. o estabelecimento de um eficiente e
legítimo processo de negociação (JARDIM, 2011).
Na abordagem cognitiva, estabelece-se um processo de negociação de uma situação
problemática em que o facilitador e o(s) ator(es) se compromete(m) a construir a definição do
problema, aceitando a intersubjetividade e o pressuposto da aprendizagem. Os mapas
cognitivos podem, por esse meio, servir como instrumentos de negociação (JARDIM, 2011).
Eden et al. (1992) considera o mapa cognitivo como sendo um subconjunto dos mapas
causais. Estes consistem de nós, conhecidos como conceitos, e são similares a constructos
ligados por setas podendo estas serem acompanhadas de um sinal em suas pontas (positiva “+”
ou negativa “-”), embora a ausência de sinal usualmente indique uma ligação positiva. Para um
sinal negativo, indica-se uma ligação negativa.
A Figura 2.1 mostra dois conceitos abstratos (Pidd, 2001) ligados de modo positivo.
Quanto à direção da seta, diz respeito à direção causal do relacionamento, isto é, significa que,
da maneira exposta, o conceito 1 (meio) tende a levar em direção ao conceito 2 (o fim).
Figura 2.1 – Direção causal do relacionamento “meios” e “fim”.
Fonte: Pidd, 2001
Um conceito (ou nó) é expresso como um par de opostos psicológicos, não precisando
ser estes opostos lógicos (Pidd, 2001). Segundo o Autor, um par de opostos ajuda a tornar claro
67
o que a pessoa quer dizer com este conceito, isto é, o segundo polo não é simplesmente a
negação do primeiro polo. Quando há um sinal negativo na ponta de uma seta, mostra que existe
causalidade negativa entre os conceitos. Isto não significa que o relacionamento meios/fins
esteja invertido. Significa, segundo Pidd (2001) e Bastos (2002), que o segundo polo do
conceito meio está psicologicamente ligado pela pessoa ao primeiro polo do conceito fim.
2.6.4 Análise de enlace
Os mapas cognitivos são representados por diagramas como na Figura 2.2, sendo,
também, possível a ocorrência de enlaces. Um enlace (Pidd, 2001) ocorre quando as setas que
saem de um determinado conceito terminam de volta onde começaram seguindo o caminho
através dos conceitos (ou nós). O mapa representado na Figura 2.2 é um mapa hipotético que
contém dois enlaces, ambos iniciando no conceito 2. Pode-se observar que o maior dos dois
começa no conceito 2, e retorna ao seu início, após seguir pelos conceitos 9, 10 e 11. O menor
sai do conceito 2, passa pelo 9 e 11, e, na sequência, retorna ao conceito 2 novamente.
Figura 2.2– Enlaces entre conceitos
Fonte: Pidd, 2001.
Ao analisar um enlace, segundo Pidd (2001), a primeira possibilidade é que ele pode
simplesmente indicar um erro – seja por conta da pessoa que está sendo entrevistada (conceitos
estariam confusos) ou por parte do analista. O próximo passo é avaliar o sinal visando a
considerar o que isto significa em termos dinâmicos. Analisar os sinais do enlace permite ao
analista verificar em que direção ocorre à causalidade.
O objetivo da análise de enlaces é procurar por erros, bem como checar a direção da
causalidade dos possíveis enlaces restantes. Complementa, Pidd (2001), que os enlaces podem
68
ser discutidos pelo analista e pelo cliente, com vista a tentar entender suas implicações.
2.6.5 Mapa individual
Segundo Montibeller (2000), o termo mapa cognitivo é usado para descrever um modelo
que mostra relações percebidas entre meios e fins (ou causas e efeitos), modelo este que é
construído por meio de um discurso feito pelo tomador de decisão através de um processo de
representações cognitivas múltiplas. Acrescenta o Autor, que “mapas cognitivos buscam
representar percepções e entendimentos que o tomador de decisão constrói sobre a realidade”
(MONTIBELLER, 2000).
O facilitador não deve forçar o entrevistado (tomador de decisão), diante de qualquer
hesitação ou dúvida, a expressar julgamento ou preferência, quando não estiver absolutamente
seguro.
A aparente confusão nos primeiros mapas cognitivos faz parte do processo. A busca da
significação e clareza não deve ser forçada (JARDIM, 2011).
Para construir um mapa cognitivo, é necessário algum procedimento de “obtenção” do
conhecimento do tomador de decisão (Montibeller, 2000) e entrevistas individuais - entre
pesquisador-tomador de decisão, parecem ser um método “melhor” de obter dados
idiossincráticos25.
Eden et al. (1983) sugere o uso de um processo de entrevista não-estruturada, em que o
pesquisador tem em mente apenas algumas regras de construção do mapa, desenvolvendo-o a
partir do discurso do tomador de decisão. Existem também os mapas desenvolvidos a partir de
entrevistas semiestruturadas como proposto por Laukkanen (1998). Neste trabalho de pesquisa,
serão adotados os dois modelos aqui apresentados.
Conforme Jardim (2011), o mapa cognitivo é uma hierarquia de conceitos relacionados
por ligações meio e fim, representando o sistema de valores do(s) decisor(es) na forma de
objetivos estratégicos (os conceitos superiores na hierarquia). Salienta o Autor que o mapa
cognitivo também fornece as alternativas, ou ações para atingir os objetivos estratégicos,
através dos conceitos subordinados na hierarquia. Neste aspecto, corrobora Montibeller (2000),
na medida em que se deseja saber a influência que um determinado meio (alternativa) exerce
sobre os fins do tomador de decisão (seus valores).
Como regra, Montibeller (2000), os mapas cognitivos são representados por bloco de
25 A melhor interpretação do termo no contexto: “mapa cognitivo”.
69
textos (nós) que são considerados como um construto/conceito (sua denominação irá depender
dos pressupostos do pesquisador e do tipo de modelo utilizado).
De acordo com Otte (2013, p. 51 e 52):
A construção do mapa se baseia em constructos resultantes do discurso do ator. Esses
constructos são fundamentais para o entendimento da solução de problemas. Eles são
elementos conceituais presentes na visão da realidade que podem representar os mais
diversos elementos e que são postos-chaves e reais para a compreensão do problema
pelo ator. Para obter-se uma representação da realidade, porém, não bastam os
constructos fragmentados. A representação necessita do conjunto deles e esses devem
formar um sistema; dessa forma, devem possuir conexões que são tão importantes
quanto os constructos em si. Pois, sendo holístico e construtivista, o relacionamento
entre os elementos é também importante para o sentido e o entendimento do sistema
(OTTE, 2013).
A seguir são relacionados e especificados os passos necessários para a construção de
um mapa cognitivo individual, por adaptação de:
1º Passo: Definição de um rótulo para o problema:
Através de uma abordagem empática, não impositiva, o facilitador ouve o(s)
decisor(es) para definir um nome, ou rótulo para o problema que receberá o apoio à
decisão. O rótulo deve ser estabelecido pelo(s) decisor(es) como resultado de questões
consideradas importantes e levantadas pelo(s) mesmo(s) (JARDIM, 2011).
2º Passo: Definição dos elementos primários de Avaliação:
Através de um esquema de perguntas e respostas, são estabelecidos os elementos
primários de avaliação (EPA), que representam objetivos, metas, valores dos
decisores, ações, alternativas, opções, carências, sugestões mencionadas por outros,
apreensões. O procedimento é incentivar os decisores a emitir, espontaneamente, os
primeiros EPA que venham à mente, evitar críticas e comentários sobre ideias
manifestadas e registrar o maior número possível dessas manifestações. Essa etapa é
fundamental para a construção do mapa cognitivo. Um número reduzido de EPA pode
prejudicar o resultado (JARDIM, 2011).
3º Passo: Construção dos conceitos a partir do EPA:
A partir de cada EPA deve ser construído um conceito. Para tanto inicialmente o
elemento primário de avaliação é orientado à ação, fornecendo assim o primeiro pólo
do conceito. O sentido do conceito está baseado em parte na ação que ele sugere. Tal
dinamismo pode ser obtido colocando o verbo no início do conceito,
(MONTIBELLER, 1996). Conforme Eden (1998), o conceito só tem sentido quando
afirmado pelo seu contraste, o pólo oposto psicológico, implícita ou explicitamente.
Para Bastos (2002), os EPA são tratados como conceitos distintos que são reconectados para
representar, então, a explicação em um formato gráfico. Isto revela o padrão de raciocínio sobre
um problema que, de certo modo, o texto linear não permite. Esse Autor complementa, dizendo:
“Um par de frases pode ser unido em um único conceito, quando a pessoa provê um
contraste significante com outro, isto é, quando o contraste permite ao usuário
construir e reter um significado melhor da outra frase. Estas frases formam um
construto único: o significado é retido por contraste” (BASTOS, 2002).
70
O polo oposto é importante na medida em que o conceito só tem sentido quando existe
o contraste entre dois polos. Os dois rótulos são separados por “ ... ”, que deve ser lido como
“ao invés de”. Para ilustrar, admita-se o exemplo da Figura 2.3, que na avaliação do
desempenho ambiental de uma organização, com vista a atender uma determinada estratégia de
ação, um dos elementos primários de avaliação sugerido tenha sido: atender a condicionante
proposta na licença ambiental. Caso o primeiro polo expresso pelo decisor seja: “atender ao
requisito citado na condicionante ambiental, terá o conceito a partir da conexão entre esse polo
e seu polo contraste, ou oposto psicológico:
Figura 2.3 - Polo presente e polo oposto psicológico em um conceito.
Atender ao requisito citado na condicionante ambiental,
....
Incorrer em sanção administrativa pelo órgão competente.
Fonte: o autor.
Para Jardim (2011), não há uma regra predefinida para a fixação, ou codificação, do
primeiro polo. Uma sistemática que pode ser recomendada é o facilitador adotar como primeiro
polo a primeira descrição pronunciada pelo decisor, resultante da primeira percepção que lhe
vem à mente, seja positiva ou negativa (JARDIM, 2011).
O texto de cada conceito não deve ser muito longo, (Ensslin, Montibeller, 1998) e
(Bastos, 2002) as frases normalmente distintas de 10 - 12 palavras que retenha a linguagem da
pessoa provedora da explicação.
4º Passo: Hierarquização dos conceitos.
De acordo com Otte (2013), “para se iniciar o mapeamento, são necessários
constructos, ou conceitos de partida, que podem ser definidos da maneira que for mais
interessante para o ator”.
Segundo Ensslin, Neto e Noronha (2001), apud Otte (2013), esse pode ter um ou mais
conceitos preestabelecidos sobre os quais se deseja trabalhar, ou, esses conceitos podem ser
fruto de um brainstorming26entre o(s) ator(es) e o facilitador para a descoberta dos elementos
iniciais de avaliação que permitirão o início da construção do mapa.
26Brainstorming: técnica de discussão em grupo que se vale da contribuição espontânea de ideias por parte de
todos os participantes, no intuito de resolver algum problema ou de conceber um trabalho criativo.
71
Conforme Otte (2013), a importância do polo e do oposto psicológico é de dar sentido
e direcionamento ao conceito. Esse sentido se torna ainda mais presente na expansão do mapa,
em que conectamos os conceitos a outros conceitos por meio de relações causais referenciadas
justamente pelos conceitos e seus opostos psicológicos.
A estrutura do mapa cognitivo é formada por conceitos-meio e conceitos-fim, por
ligações de influência (ENSSLIN, MONTIBELLER, 1998) e (JARDIM, 2011).
Relações causais (causa/efeito ou meio/fim) oriundas do primeiro polo do conceito
(conceito positivo) levam a relações causais positivas, enquanto que relações causais oriundas
do segundo polo do conceito (inverso psicológico) levam a relações causais negativas,
conforme apresentado na Figura 2.4.
Figura 2.4 – Relações causais entre os polos dos conceitos.
Conceito-meio: Conceito-fim:
Dar treinamento,
‘ ... ‘
Não dar treinamento.
(+) Ter equipe bem treinada,
‘ ... ‘
(-) Não ter equipe treinada.
Fonte: o autor.
As ligações entre os conceitos, que possibilitam a definição da hierarquia, são feitas
através de relações de causalidade, par-a-par, simbolizadas por setas (ou flechas). Cada seta é
associada a um sinal positivo ou negativo, que indica a direção do relacionamento. Tomando-
se a Figura 2.4, como exemplo, um sinal positivo (+) na extremidade da seta indica que o
primeiro polo do conceito-meio leva ao primeiro polo do conceito-fim. Para o sinal (-) na
extremidade da seta, indica que o primeiro polo oposto do conceito-meio leva ao segundo polo
oposto do conceito-fim.
Pode-se verificar que ambos os polos se conectam aos polos de um mesmo segundo
conceito. Isso não é uma obrigatoriedade, mas acaba sendo algo praticamente inevitável durante
a construção do mapa.
De acordo com Jardim (2011), a maneira de identificação do conceito-fim, registrado no
mapa cognitivo, pelo facilitador, se dá através da pergunta: “Por que esse conceito é
importante”? ...o decisor responde que o referido conceito é importante para que se possa
atingir um determinado fim.
Na sequência, o decisor é questionado sobre o oposto psicológico do conceito-fim, o
polo psicológico (JARDIM, 2011). Conclui, este Autor, sobre o processo exposto, o qual segue
72
nessa sistemática até que o decisor responda que “o conceito é importante por que é
importante”. Chega-se, assim, ao nível hierárquico mais elevado no mapa cognitivo: o objetivo
estratégico, as metas maiores.
Segundo Otte (2013), em direção aos conceitos de maior valor ou fins/efeitos, são
realizadas perguntas, tais como ‘por quê?’, ‘para quê?’, ‘com que finalidade?’, ‘com qual
objetivo?’, ‘qual a importância?’, entre outras. Já, em direção aos conceitos de menor valor ou
meios/causas, são feitos questionamentos envolvendo estas perguntas: ‘como?’, ‘qual a
origem?’, ‘de onde surgiu?’, entre outros questionamentos possíveis.
A Figura 2.5 ilustra o relacionamento causal para ‘fins’ em direção a conceitos de maior
valor do conceito 1 (constructo 1) para o conceito 2 (constructo 2) por meio do questionamento
‘por quê?’, assim como o relacionamento causal para as ‘causas’ em direção a conceitos de
menor valor percebido do constructo 2 para o constructo 1 por meio do questionamento
‘como?’. Esse é o modelo que foi utilizado e apresentado por ENSSLIN, NETO E NORONHA
(2001).
Figura 2.5 – Expansão do mapa em direção aos meios e aos fins
Fonte: o autor.
Expande-se o mapa à medida que novos conceitos surgem como respostas aos
questionamentos e são, em seguida, também questionados, originando mais conceitos. Na
prática, não se costuma fazer o mapeamento de meio/fim e fim/meio entre dois conceitos, pois
não existe real expansão do mapa; buscam-se sempre novos conceitos, ampliando a rede de
relações meio-fins e aumentando o detalhe do mapa (OTTE, 2013).
73
A seguir a Figura 2.6, pode ser tomada como exemplo de expansão do mapa.
Figura 2.6 – Sequência de construção do mapa
Fonte: adaptado de Otte (2013).
Jardim (2011) alerta que um determinado conceito pode gerar dois, ou mais conceitos
fim conflitantes ou ser explicado por dois ou mais conceitos meio, também conflitantes. Nos
dois casos, o primeiro polo do conceito está ligado aos polos contraste dos conceitos fim, ou
meio. Comenta, o Autor, que essas situações ocorrem frequentemente nos contextos decisórios
complexos. Nesses casos, a solução do problema pode ser alcançada através da Análise
Multicritério (ENSSLIN et al., 1998 e JARDIM, 1999, apud JARDIM, 2011).
A Figura 2.7, pode ser tomada como exemplo de conceitos fim conflitantes, pois
partindo-se do conceito ‘investir nos recursos humanos’, ao invés de, ‘manter a política de RH
(atual)’, são gerados dois conceitos fins conflitantes, sendo um de polo (+) ‘aumentar a
competividade’, ao invés de, ‘manter como está’, e um segundo polo (-) ‘implementar plano de
contenção de despesas’, ao invés de, manter como está. Portanto, os conceitos fins são duas
propostas ao encaminhamento de solução, com atributos conflitantes.
Figura 2.7 – Conceito fim conflitante.
Fonte: adaptado de Jardim (2011).
74
Essa expansão ou exploração do mapa é um processo contínuo e não existe um fim claro,
conforme explica (EDEN e ACKERMANN, 1.998). Como orientação, assim que se torna
adequado para as análises necessárias, ou quando se percebe um esgotamento do entrevistado,
pode-se decidir que se chegou ao fim do mapeamento, ao menos naquele contexto.
Os quatros passos citados acima são necessários na construção de um mapa cognitivo.
Em resumo: são criados conceitos, e na sequência, são orientados e hierarquizados.
A Figura 2.8, mostra um exemplo de mapa cognitivo obtido a partir da análise do
problema de gestão ambiental corporativa.
Cabe salientar, que, após a conclusão de um mapa cognitivo individual, este deve ser
levado ao conhecimento do decisor que o gerou, para que a validação possa ser realizada. Esta
ação garantirá que a representação ou elaboração feita no papel pelo facilitador está de acordo
com a expectativa do decisor.
Figura 2.8 - Mapa cognitivo: gestão ambiental corporativa
Fonte: o autor.
75
2.6.6 Agrupamento de conceitos e mapa congregado
O processo de agrupamento de conceitos ocorre quando são identificados conjunto de
conceitos que são de algumas formas similares e podem ser, em certo sentido, mais ou menos
separados do resto do mapa. Um possível agrupamento indica que há uma questão de certa
importância que pode ter efeito bastante superior, comparado com uma ligação simples de
entrada e saída (PIDD, 2001).
Conforme Jardim (2011), os decisores compartilham o poder na organização, mas têm
interesses e valores conflitantes, por representarem diversos grupos de interesse. A construção
do mapa cognitivo do grupo de decisores é muito mais complexa do que a de um mapa cognitivo
individual. Segundo Ensslin et al. (1998) apud Jardim (2011), no grupo há diferença de
personalidades, estilos de interação, poder, valores e de preocupações sobre a política interna
da organização.
Para realizar o processo de agrupamento de ligações, o analista examina as palavras
empregadas nos conceitos (os rótulos dados aos nós) em busca de afinidades entre elas. Os nós
com rótulos afins são agregados em agrupamentos, com a condição de que cada nó somente
pode existir dentro de um único agrupamento. Neste sentido, corrobora Jardim (2011), que
apesar de os decisores perceberem e interpretarem o mesmo contexto decisional de forma
diferente para realizar alguma coisa, tem-se de levar em conta como os outros decisores
percebem e interpretam tal contexto. Há, na realidade, uma interdependência entre os decisores
no que concerne às ações.
Pidd (2001) orienta que algum sistema informatizado (recurso de software) pode ser
usado para estabelecer a similaridade de diferentes rótulos. Complementa, o Autor, que isto
poderia ser usado como critério para indicar quando um conceito deve ou não ser acrescentado
a um agrupamento.
O resultado da forma como um grupo de decisores entende um problema é representado
pelo mapa cognitivo congregado.
Esta é a última etapa relativa ao processo do mapeamento cognitivo. A próxima etapa é
analisar o mapa congregado com a finalidade de determinação da estrutura hierárquica que
representa o problema.
76
2.6.7 Análise de mapa cognitivo
Após a construção dos mapas de relações meios-fins, descreve Ensslin et al (2001) que
devem ser validados com os decisores e, na sequência, analisá-los considerando os valores dos
decisores alocando-os por clusters (agrupamentos) e, em cada um deles, as linhas de
argumentação (LA) que demonstram as preocupações sobre o contexto decisório.
Segundo Ensslin et al (2001), o objetivo da análise do mapa cognitivo tem dois aspectos,
sendo: i. gerenciar a complexidade do mapa e, ii. compreender melhor as relações existentes
entre os fins que os decisores desejam obter e os meios disponíveis para alcançá-los.
Aguiar (2014) descreve que “existem dois tipos de análise de um mapa congregado: a
tradicional e a avançada”. Observa o Autor que a escolha de qual tipo deve ser utilizado
dependerá dos objetivos esperados, uma vez que cada um fornece resultados diferentes e
possibilita a obtenção de conclusões diferentes.
2.6.8 Análise tradicional de mapa cognitivo
A análise tradicional, segundo Ensslin et al (2001), aplica-se quando os mapas são
formados por número elevados de nós, o que os tornam relativamente complexos, surgindo a
necessidade da identificação de características estruturais que permitam sua análise. A análise
tradicional fornece conclusões preliminares, de forma direta e simples, sobre o problema em
questão, sendo possível pela ação, determinar os objetivos meios – fins, identificar grupos de
conceitos similares (clusters), como também, os possíveis erros como linha de realimentação.
Os autores Rodrigues (2013) e Aguiar, 2014) descrevem que “ao se construir um mapa
cognitivo surge conceitos cabeças, que são relacionados com os objetivos fins e os conceitos
caudas, com os objetivos meios ou alternativas”. Tomando-se a Figura 2.9, como exemplo, o
objetivo fim seria “zelar pelos preceitos ambientais corporativos”.
Para que o objetivo fim seja alcançado, existem diversos objetivos meios, que são
identificados pelos conceitos caudas, no mesmo exemplo: “garantir recursos com base na
previsão orçamentária”; “falta de práticas de benchmarking estruturadas para a gestão
ambiental”; “falta de práticas estruturadas para processos de licenciamentos” entre outros
conceitos.
77
Conforme Ensslin et al (2001), quando há um número elevado de cabeças indica que
existe uma série de objetivos a serem considerados. Na prática, é aconselhável, e não
indispensável, subir a hierarquia de conceitos em direção aos fins, de modo que se chegue a um
único conceito cabeça. Para os Autores, esse conceito expressará o objetivo mais estratégico
dos decisores, naquela dada análise (ou situação).
Com relação ao todo, um cluster não deve ser analisado de forma mutuamente exclusiva,
mas, como parte representativa do problema, que se relaciona a uma meta em particular, dentro
do conjunto de metas, permitindo inferir que as análises sugerem que o problema, ou, questão
em análise, é constituído por um sistema de subproblemas relacionados.
2.6.9 Grupos de conceitos similares
Aguiar (2014) relata que “é natural que, ao se construir um mapa cognitivo, conceitos
similares estejam agrupados”. Esses agrupamentos de conceitos (ou clusters) deixam
transparecer os critérios adotados pelo decisor.
A Figura 2.9 mostra, em diferentes cores, as separações por clusters (cluster 1 e cluster
2) obtidas com base da análise do mapa cognitivo da Figura 2.8, bem como as ordenações dos
conceitos. Percebe-se que a própria estrutura hierárquica do mapa cognitivo faz com que surjam
esses agrupamentos.
Conforme Morita (2013), um cluster não deve ser analisado de forma mutuamente
exclusiva, mas como parte representativa do problema, que se relaciona a uma meta em
particular, dentro do conjunto de metas, permitindo inferir que as análises sugerem que o
problema, ou, questão em análise, é constituído por um sistema de subproblemas relacionados.
78
Figura 2.9: - Clusters 1 e Cluster 2
Fonte: o autor.
2.6.10 Análise avançada de mapa cognitivo
Quanto à segunda forma de analisar, Aguiar (2014) descreve que “a análise possibilita
identificar os eixos de avaliação do problema (Pontos de Vistas Fundamentais – PVF), levando
em conta tanto a forma quanto o conteúdo do mapa cognitivo”.
Zelar pelos preceitos ambientais corporativos
...
Não zelar pelos preceitos ambientais
Cumprir as legislações
ambientais ...
Não se importar com as
legislações ambientais
Consolidar e reportar os
resultados das autoavaliações...
Não reportar as autoavaliações
Elaborar programas de meio ambiente
...
Não elaborar programas ambientais
Internalizar os conceitos
fundamentais da política ambiental...
Não internalizar os conceitos
fundamentais
Garantir recursos com base
na previsão orçamentária...
Não garantir recursos
necessários
Resolver expectativas e
conflitos entre áreas administrativas
...
Não resolver os conflitos
Falta de práticas estruturadas para
processos de licenciamentos...
Ter prática reconhecidas de
licenciamentos ambientais
Falta de práticas de benchmarking
estruturadas para a gestão ambiental...
Ter práticas de benchmarking
estruturadas
Cluster 2Cluster 1
C2
C7
C6 C5
C4
C3
C9
C1
C8
79
Salienta o Autor: “ao contrário da análise tradicional, a avançada obedece a uma
sequência de passos determinados que, com sua execução, levarão o facilitador a identificar os
critérios que devem ser utilizados posteriormente, além de organizá-los, segundo uma estrutura
hierárquica”.
Morita (2013), corrobora, descrevendo “a cada cluster identificado, nomeado por meio
de um descritor, tem-se a representação de uma parte separável da questão, que pode ser
abordada de forma independente das outras partes, o que contribui para facilitar a análise do
todo”.
2.6.11 Identificação de linhas de argumentação
Uma linha de argumentação forma uma sequência encadeada de raciocínio entre os
objetivos de mais baixo nível até os de nível mais alto na rede de conceitos, mostrando, portanto,
a sequência lógica que leva os objetivos meios aos objetivos fins. Uma linha de argumentação
inicia-se em um conceito cauda e termina em um conceito cabeça. A análise que visa identificar
uma linha de argumentação é basicamente ligada à forma do mapa (ENSSLIN,
MONTIBELLER e NORONHA, 2001).
O Quadro 2.6 ilustra as linhas de argumentação obtidas no mapa cognitivo representado
na Figura 2.9.
Quadro 2.6 – Linhas de Argumentação
Linha de Argumentação “LA” Conceitos “C”
LA1 C5; C4; C3; C2; C1
LA2 C5; C4; C3; C1
LA3 C5; C4; C7; C8; C9; C1
LA4 C6; C4; C3; C1
LA5 C6; C4; C3; C2; C1
LA6 C6; C4; C7; C8; C9; C1
Fonte: o autor.
80
2.6.12 Definição de ramos
Uma vez definidas as linhas de argumentação Ensslin, Montibeller e Noronha (2001)
argumentam que se passa a definir os ramos do mapa, que são conjuntos de linhas de
argumentação pertencentes a um mesmo cluster. São construídos por uma ou mais linhas de
argumentação que demonstrem preocupações similares sobre o contexto decisório. Portanto,
trata-se de uma análise de conteúdo que leva em conta a ideia expressa no conceito (ENSSLIN,
MONTIBELLER e NORONHA, 2001).
Tomando-se como base a Figura 2.9 e o Quadro 2.6, obtém-se os grupos das linhas de
argumentação (LA1; LA2; LA4 e LA5); (LA3 e LA6), tendo como resultados a identificação
dos ramos R1 e R2, como citados no Quadro 2.7 – Linhas de Argumentação e seus Ramos.
Quadro 2.7 – Linhas de Argumentação e seus Ramos.
Linhas de Argumentação Ramos
LA1; LA2; LA4 e LA5 R1
LA3 e LA6 R2
Fonte: o autor.
2.6.13 Transição do mapa cognitivo para o modelo multicritério
Aguiar (2014) propõe que uma vez definidos os ramos dos mapas, torna-se possível
construir uma estrutura hierárquica multicritério. Segundo o Autor, essa não é uma tarefa fácil
de realizar. Neste sentido, Bana e Costa (1992) descrevem que, após a identificação dos ramos
associados com suas preocupações, se inicia a identificação dos Pontos de Vista Fundamentais
– PVF.
Os PVF explicitam os valores que o decisor (ou grupo de decisores) considera
importante naquele contexto, definindo ao mesmo tempo as características das ações que são
de interesse do decisor. Além disso, é necessário que os candidatos- do ponto de vista
fundamental (PVF)- obedeçam a uma série de propriedades, as quais serão vistas na seção
2.6.16.
81
2.6.14 Estrutura hierárquica
Uma estrutura hierárquica é composta por pontos de vista fundamentais (PVF) e pontos
de vista elementares (PVE) e, há casos de compor de subpontos de vista elementares (SubPVE).
Esta estrutura arborescente decorre do mapa de relações meios-fins e reflete a transição para
um modelo multicritério.
Gomes (et al, 2010) descreve que, normalmente, a hierarquia linear é a estrutura que
melhor representa em termos de simplicidade e funcionalidade; a dependência entre os níveis
dos componentes de um sistema em relação a outro nível, de maneira sequencial. Comentam,
os Autores, que é a maneira conveniente de decompor, em passos, um problema complexo, na
busca de explicação de causa e efeito, formando-se uma cadeia linear.
O início da hierarquia, segundo Gomes (et al, 2010), representa um critério de síntese
ou objetivo global, enquanto, nos níveis sucessivamente inferiores, colocam-se os critérios que
apresentam algum impacto no critério do nível superior. No último nível da hierarquia, devem
estar as alternativas consideradas (GOMES et al, 2010).
No modelo multicritério, o nível hierárquico inferior deve compor de critérios
mutuamente exclusivos e, coletivamente, necessitam fornecer uma caracterização exaustiva
(completa) do critério de nível hierárquico superior. Além disso, devem existir pelo menos dois
critérios, de nível hierárquico inferior, conectados ao critério de nível hierárquico superior
(KEENEY, 1992)
2.6.15 Enquadramento do processo decisório
O quadro do processo decisório é formado pelo conjunto de ações potenciais
(oportunidades de escolha ou alternativas) associados aos PVF. Internalizar os conceitos
fundamentais da política dos decisores Keeney (1992) e Ensslin (2001), visto que apresentam
uma discussão detalhada sobre esse importante tópico.
O conjunto de ações potenciais define quais delas são consideradas em uma situação
decisória específica, enquanto que os pontos de vista fundamentais (PVF) explicam os valores
que os decisores consideram importantes naquele contexto e, ao mesmo tempo, definem as
características das ações que são de interesse de decisor (BANA e COSTA, 1992).
A Figura 2.10 mostra a relação entre PVF, os conjuntos de ações potenciais e os
objetivos estratégicos.
82
Conforme se observa na Figura 2.10, pode-se ter uma ideia do processo decisório
lateralmente. Três linhas paralelas são apresentadas: a das ações potenciais (L3), as dos PVF
(L2) e a dos objetivos estratégicos dos decisores (L1).
Segundo Gomes et al (2014), para determinar os PVF é necessário realizar o
enquadramento do mapa cognitivo:
1. onde estão localizados os conceitos que expressam ideia relacionadas aos objetivos
estratégicos dos decisores (essenciabilidade – L1);
2. onde estão localizados os conceitos que expressam ideias relacionadas às ações
potenciais do problema (controlabilidade L3);
3. em uma busca nos sentidos fins-meios e meios-fins do ramo, localizar os conceitos
que expressam ideias relacionadas ao candidato a PVF dos decisores, naquele
contexto de decisão.
Figura 2.10 - Processo Decisório
Fonte: adaptado de Gomes, Gomes (2014).
Ainda, descreve Gomes et al (2014), na pesquisa do ramo em busca do PVF, algumas
diretrizes devem ser adotadas pelo facilitador. Na procura de sentido dos fins-meios, deve-se
levar em conta o aumento da controlabilidade do ponto de vista (ideia) expresso pelos decisores
naquele ramo. A controlabilidade refere-se à necessidade de o PVF representar um aspecto que
seja de consequências fundamentalmente importantes segundo os objetivos estratégicos dos
decisores.
Outro ponto a ser considerado segundo Gomes et al (2014) é a propriedade de
essenciabilidade, que se refere à necessidade de que o PVF represente um aspecto que seja de
consequências fundamentais, importantes, segundo os objetivos estratégicos dos decisores.
De volta ao mapa cognitivo da Figura 2.9, tem-se que “internalizar os conceitos
fundamentais da política” (C9), “consolidar e reportar os resultados das autoavaliações” (C2) e
83
“cumprir as legislações ambientais” (C3) são PVF. A análise das três propriedades
recomendadas por Ensslin (2001), para os PFV retrocitados, encontra-se no Quadro 2.8.
Quadro 2.8 – Candidatos a PVF:
- Zelar pelos preceitos ambientais corporativos -
Candidatos a PVF É essencial? É controlável? É isolável?
Internalizar os
conceitos
fundamentais da
política
Sim. Para resolver
expectativas e
conflitos entre áreas
administrativas.
Sim. Tem suas
previsões recursos
com base
orçamentária.
Sim. Requer
programa específico
para sua
implementação.
Consolidar e
reportar os
resultados das
autoavaliações
Sim. Requer o pleno
atendimento ao
cumprimento da
legislação pertinente.
Sim. Pode ser
mensurável por
avaliação
estruturada.
Sim. Trata-se de
requisito legal e de
ação voluntária a
cargo da corporação.
Cumprir as
legislações
ambientais.
Sim. Requer práticas
e conhecimento
especializado.
Sim. Há métodos e
ferramentas de para
verificação e
acompanhamento.
Sim. São obrigações
legais a cargo da
organização.
Fonte: modelo baseado em Aguiar (2014).
2.6.16 Validação do conjunto de PVF
Para que se possam definir os critérios que refletirão, adequadamente, os objetivos
estratégicos dos decisores, segundo Fantinatti et al (2015), as subjetividades devem ser
explicitadas ao máximo, de tal forma a possibilitar a delimitação das ações que levarão a estes
objetivos.
Para isso, o conjunto de PVF deve satisfazer determinadas propriedades (ENSSLIN,
MONTIBELLER e NORONHA, 2001):
(a) Isolabilidade: refere-se à necessidade de que o PVF seja isolável, isto é, deve ser
possível avaliar as ações segundo o PVF independentemente dos seus impactos nos
demais pontos de vistas fundamentais do modelo.
(b) Completo: o conjunto de PVF deve incluir todos os aspectos considerados como
fundamentais.
(c) Mensurável: o PVF permite especificar, com a menor ambiguidade possível, a
performance das ações potenciais, segundo os aspectos considerados fundamentais
pelos decisores.
(d) Operacional: o PVF possibilita coletar informações requeridas sobre o desempenho
das ações potenciais, dentro do tempo disponível e com um esforço viável.
84
(e) Não redundante: o conjunto de PVF não deve levar em conta o mesmo aspecto mais
de uma vez.
(f) Conciso: o número de aspectos considerados pelo conjunto de PVF deve ser o
mínimo necessário para modelos de forma adequada, segundo a visão dos decisores,
o problema.
(g) Compreensível: o PVF deve ter seu significado claro para os decisores, permitindo
a geração e comunicação de ideias.
Fantinatti et al (2015) descreve que “uma vez estabelecidos os critérios, cada um deve
ter uma descrição. Isto é, para cada critério deve ser desenvolvido os descritores de
desempenho”. Complementam os Autores:
Os descritores de desempenho dos critérios ajudam a compreender o que os decisores
estão considerando, tornam os objetivos inteligíveis, permitem a geração de ações de
aperfeiçoamento, possibilitam a mensuração do desempenho de ações do critério e
auxiliam na construção de um modelo global de avaliação.
Pela análise realizada no Quadro 2.8 - Candidatos a PVF, relativo a “zelar pelos
preceitos ambientais corporativos”, observa-se que tal problema obedece a estas propriedades.
Com o conjunto de PVF validado, torna-se possível construir a estrutura hierárquica,
proposta na Figura 2.11.
Figura 2.11 - Estrutura Hierárquica de Zelar pelos Preceitos Ambientais Corporativos
Fonte: o autor.
Esta seção apresentou as ferramentas do PSM, as quais serão empregadas na
estruturação do problema, com finalidade de avaliar a gestão ambiental em estaleiro naval.
Nas seções 2.7 e 2.8, serão estudadas as metodologias do AMD, respectivamente, o
método AHP e o método TODIM. Estes métodos de auxílio multicritério à tomada de decisão
foram definidos para serem aplicados ao presente trabalho de pesquisa.
Zelar pelos preceitos
ambientais corporativos
AutoavaliaçõesGarantir
recursos
Conceitos
fundamentais
85
2.7 MÉTODO AHP
O método AHP (abreviação do inglês Analytic Hierarchy Process) trata de um método
de agregação aditivo com uma ênfase em procedimento próprio para modelagem das
preferências do decisor (ALMEIDA, 2011). O método foi proposto por Thomas L. Saaty, na
década de 1980, e, apresenta uma forma bem estruturada para estabelecer os objetivos e critérios
numa forma hierárquica.
O método AHP, após a divisão do problema em níveis hierárquicos, determina - de
forma clara e por meio da síntese dos valores dos agentes de decisão- uma medida global para
cada uma das alternativas, priorizando-as ou classificando-as ao finalizar o método (GOMES
et al, 2011).
Almeida (2011), “o AHP usa um procedimento de comparação par a par para comparar
as alternativas para cada critério. Isto é efetuado por meio de avaliações numa escala semântica
de cinco níveis, apresentada de forma explicita, tendo nove níveis no total, pois se há hesitação
do decisor, valores intermediários são considerados entre os cinco níveis”. Complementa, o
Autor, argumentando que os critérios são comparados entre si.
A escala semântica citada por Almeida (2011) é a Escala Fundamental de Saaty (ou
Escala de Julgamento de Saaty), que está representada no Quadro 2.9.
Quadro 2.9 - Escala de Julgamento de Saaty
Grau de
importância.
Avaliação
(intensidade da importância) Interpretação
1 Igual Os dois critérios têm a mesma
importância.
3 Pouco superior Um dos critérios tem importância
pouco maior que o outro.
5 Muito superior Um dos critérios é muito mais
importante que o outro.
7 Extremamente superior Um dos critérios é extremamente mais
importante que o outro.
9 Absolutamente superior Um dos critérios é absolutamente mais
importante que o outro.
2, 4, 6, 8 Avaliação intermediária Quando se procura uma condição de
compromisso entre duas condições.
Fonte: Saaty, 1980.
86
A atribuição de pesos aos critérios no modelo AHP, segundo Gomes et al (2014), é
baseada na comparação paritária dos critérios considerados. Isto é feito por meio das perguntas:
Qual destes critérios é o mais importante? Quando este critério é mais importante que o outro?
Almeida (2011) adianta que o método utiliza escala de razão para todas as avaliações.
Para Gomes et al (2014), utilizando a escala de razão, pode-se obter a seguinte metodologia:
Considerando os critérios c1, c2 e c3 onde c1>c2>c3, perguntamos: Quanto c1 é superior
a c2? Quanto c1 é superior a c3? ...e, quanto c2 é superior a c3? Observamos que o
número de comparações é definido pela formula [n x (n-1)] x2, onde n é o número de
critérios.
Conforme Gomes et al (2014), os elementos fundamentais do método AHP são:
(a) Atributo e Propriedade – um conjunto finito de alternativas é comparado em
função de um conjunto finito de propriedades;
(b) Correlação Binária – ao serem comparados dois elementos baseados em uma
determinada propriedade, realiza-se uma comparação binária, na qual um
elemento pode ser preferível ou indiferente a outro;
(c) Escala Fundamental – a cada elemento associa-se um valor de prioridade sobre os
outros elementos, que será lido em uma escala numérica de números positivos e
reais;
(d) Hierarquia – um conjunto de elementos ordenados por ordem de preferência e
homogêneos em seus respectivos níveis hierárquicos.
2.7.1 Processo analítico do método AHP
O estudo do processo utilizado pelo método AHP pode ser dividido em duas etapas:
estruturação hierárquica do problema de decisão e modelagem do método (GOMES et al
(2014).
2.7.1.1 Estrutura hierárquica
Deve-se efetuar a estruturação do problema em análise, combinando os critérios
segundo os diversos níveis hierárquicos necessários, para que se obtenha uma representação do
problema. Determinam-se, dessa forma, as alternativas pertinentes, que serão estudadas sob a
ótica de cada critério do nível hierárquico mais abaixo (GOMES et al, 2014). Descrevem, os
Autores, que é uma maneira conveniente de decompor em passos um problema complexo, na
busca da explicação de causa e efeito, formando-se uma cadeia linear.
O início da hierarquia representa um critério de síntese ou objetivo global, enquanto nos
níveis sucessivamente inferiores colocam-se os critérios que apresentam algum impacto no
critério do nível superior. No último nível da hierarquia, devem estar às alternativas
consideradas (GOMES et al, 2014).
87
A Figura 2.12 representa o modelo de estrutura hierárquica. Pode-se observar, o que
caracteriza estruturalmente o AHP é o fato de possuir o nível inferior formado pelas
alternativas. Neste exemplo, todas as comparações par a par, inclusive as alternativas,
representam graus de preferências relativas umas com relação às outras.
Figura 2.12 – Estruturação Hierárquica do AHP
Fonte: Saaty (2005).
2.7.1.2 Modelagem do método
Depois de construir a hierarquia proposta pelo método, cada decisor deve fazer uma
comparação, par a par, de cada elemento em um nível hierárquico dado, criando-se uma matriz
de decisão quadrada. Nesta matriz, decisor representa, a partir de uma escala predefinida, sua
preferência entre os elementos comparados, sob o enfoque de um elemento do nível
imediatamente superior (GOMES, ARAYA e CARIGNANO, 2004)
As comparações pareadas entre alternativas ou critérios relacionados a um critério de
nível hierárquico imediatamente superior são obtidos utilizando-se uma escala de medida
predefinida (Escala Fundamental de Saaty) e os resultados irão compor a matriz de comparação
par a par mostrada na Equação [1]:
Objetivo global
Critério 1 Critério 2
Subcritério
1.1
Alternativa
1
Subcritério
1.2
Subcritério
2.1
Subcritério
2.2
Subcritério
2.3
Alternativa
2
Alternativa
3
88
𝑎11,
𝑎21 ,…
𝑎𝑛1,
𝑎12, ….,
𝑎22, … ,…
𝑎𝑛2, …,
𝑎1𝑛
𝑎2𝑛
… 𝑎𝑛𝑛
[1]
Portanto, o decisor deverá fazer n(n-1)/2 comparações, sendo n o número de elementos
do nível analisado. Na matriz quadrada, têm-se aij, para i = 1, 2, ..., n e j = 1,2, ..., n. Essas
matrizes são sempre matrizes recíprocas positivas, ou seja, com aij,= 1/aij,.
As comparações par a par são realizadas em todos os níveis hierárquicos.
Considerando-se todos os julgamentos perfeitos e se A satisfizer a condição aijx ajk =
aik(i,j,k = 1,2, ..., n), em todas as comparações, a matriz A é dita consistente. Como os
julgamentos do decisor são passiveis de erro, tornando-os inconsistentes, na prática a matriz A
também será inconsistente.
Seja n o número de elementos a serem comparados, λmax o autovetor de A e, w ,o vetor
próprio correspondente ou vetor de prioridades. Entretanto, quase sempre se verifica alguma
inconsistência nos juízos, fato este que, no entanto, é admitido pelo método AHP.
Segundo Gomes et al (2004), a inconsistência pode ser medida da seguinte maneira:
quanto mais próximo estiver o valor de λmax de n, maior será a consistência dos juízos. Portanto,
λmax – n é um indicador de consistência. Ainda, de acordo com Saaty (1980), demonstrou-se
que, sendo “A” a matriz de valores, deverá ser encontrado o vetor que satisfaça a equação [2]:
𝐴𝑤 = 𝜆𝑚á𝑥. 𝑤 [2]
Para obter o autovetor a partir da equação [2], tem-se:
𝜆𝑚á𝑥 =1
𝑛∑𝑣𝑖
𝑛
𝑖=1
[𝐴𝑤]
𝑤𝑖𝑖 [3]
A partir da Equação [3], procede-se o cálculo do Índice de Consistência (IC) da matriz
como mostra a Equação [4]:
IC = (λmax – n)/(n – 1) [4]
89
Após realizar o cálculo do IC, faz-se o cálculo da Razão de Consistência (RC), como
mostra a Equação [5]:
RC = IC/IR [5]
O IR é um índice aleatório, calculado para matrizes quadradas de ordem n. Alguns dos
valores de IR são apresentados na Tabela 2.2.
Tabela 2.2 – Valores de IR para Matrizes Quadradas de Ordem n.
n 2 3 4 5 6 7 8
IR 0,0 0,58 0,90 1,12 1,24 1,32 1,41
Fonte: Laboratório Nacional de Oak Ridge, EUA.
Conforme Gomes et al (2004), citando Ernest Heinrich Weber (1795-1878), Gustav
Theodor Fechner (1801-1887) e Stanley Smith Stevens (1906-1973) que se sobressaíram na
análise do tema de estímulos e respostas, Saaty (1980) observa que, apesar das diferenças entre
os estímulos que seguem uma escala geométrica, a percepção destes pelo indivíduo obedece a
uma escala linear.
Citam os Autores, que existe também o denominado limite psicológico, segundo o qual
o ser humano pode, no máximo, julgar corretamente 7 ± 2 pontos, ou seja, nove pontos para
distinguir essas diferenças.
2.8 O MÉTODO TODIM
O método multicritério TODIM (Tomada de Decisão Interativa Multicritério),
concebido em sua forma atual no início dos anos 90 (Gomes, 2007), é, provavelmente, o único
método multicritério fundamentado na Teoria dos Prospectos. E, é caracterizado por: i. ser um
instrumento acessível a profissionais sem formação específica em Apoio à Decisão; ii. fornecer
uma ordenação a partir da qual será produzida a decisão recomendada; iii. englobar critérios
quantitativos e qualitativos; iv. ordenar critérios hierarquicamente; e v. tratar a interdependência
entre critérios (MOURÃO, GOMES, 2006).
90
Segundo Gomes et al (2004), o método TODIM foi desenvolvido para resolver
problemas do tipo Pγ (problemática de ordenação), isto é, para esclarecer a decisão por meio
de uma ordenação das alternativas. Complementam, os Autores, que esse método tem a
vantagem de modelar os padrões de preferência quando se tomam decisões de risco.
O uso prático do método TODIM, estando na modelagem do problema, assim como
seus cálculos, considera grande a necessidade de dar a devida atenção ao processo de
estruturação. Esta compreensão caracterizou o que se entende por um modelo requisito para o
problema (PHILLIPS, 1984 e 1990). A escolha do método é uma combinação de sua relativa
simplicidade de utilização com a originalidade da sua fundamentação na Teoria dos Prospectos,
imprimindo assim uma dimensão de praticidade e realismo aos resultados obtidos (KUMAR;
LIM, 2008; HUBER; VISCUSI; BELL, 2008; JOU et al., 2008).
A Teoria dos Prospectos utiliza a função de valor para explicar a aversão e propensão
ao risco. Esta função assume a forma de um "S", representada na Figura 2.13.
Acima do eixo horizontal, considerado como a referência desta análise, há uma curva
côncava representando ganhos, e, abaixo do eixo horizontal, é uma curva convexa que
representa as perdas. A parte côncava reflete a aversão ao risco em face dos ganhos e a parte
convexa, por sua vez, simboliza a propensão ao risco quando se lida com perdas (RANGEL;
GOMES; CARDOSO, 2010).
Figura 2.13 - Função de Valor da Teoria dos Prospectos
Fonte: Rangel; Gomes; Cardoso, 2010.
Conforme Rangel e Gomes (2007), o método TODIM faz uso de comparações por pares
entre os critérios de decisão, possuindo recursos tecnicamente simples e corretos para eliminar
eventuais inconsistências provenientes dessas comparações. Também, o método TODIM
permite efetuar juízos de valor em uma escala verbal; utilizar uma hierarquia de critérios; juízo
de valor nebulosos e fazer uso de relações de interdependência entre alternativas.
Valor
Perdas Ganhos
91
Em Roy & Bouyssou (1993), sobre o método TODIM, afirmam que este é “ [...] um
método tendo como base a Escola Francesa e a Escola Americana. Combina aspectos
provenientes da Teoria de Utilidade Multiatributo, do método AHP e dos métodos ELECTRE”
(GOMES, 2007)
A ideia, presente na formulação do método TODIM, de introduzir-se na mesma função
de valor multiatributo expressões de perdas e de ganhos aufere a esse método alguma
similaridade com os métodos PROMÉTHÉÉ, que fazem uso da mencionada noção de fluxo
líquido de superação. Barba-Romero e Pomerol (1997) compreenderam isto, notando que: “[...]
baseia-se em uma noção bastante parecida com a de fluxo líquido, no sentido do PROMÉTHÉÉ.
Gomes, Araya e Carignano (2004) explicam com detalhes o método TODIM.
Encontram-se, na literatura acadêmica, várias publicações já realizadas deste método em:
Gomes e Lima (1992a; 1992b); Gomes e Duarte (1998); Gomes, Duarte e Moraes (1999);
Trotta, Nobre e Gomes (1999); Costa, Almeida e Gomes (2003); Passos e Gomes (2005);
Mourão e Gomes (2006); Rangel, Silva e Silvério (2006); e Gomes e Rangel (2009).
Considere-se um conjunto de "n" alternativas a serem ordenadas na presença de "m"
critérios quantitativos ou qualitativos. Para determinar os pesos dos critérios, o método TODIM
emprega uma matriz de comparação por pares entre critérios. Para formar esta matriz, faz-se
uso da escala de Saaty (1990).
Como, no entanto, toda matriz de comparações por pares pode conter alguma
inconsistência decorrente da violação da transitividade, o método TODIM possui um recurso
que, ao mesmo tempo em que respeita os juízos de valor que conduziram a essa matriz inicial,
corrige-os de uma forma sistemática, eliminando por completo a eventual inconsistência. Uma
vez assim constituída a matriz corrigida de comparações por pares entre os critérios, a aplicação
do método TODIM prossegue na direção da obtenção dos pesos dos critérios, usando-se para
isto as seguintes duas etapas:
(a) somam-se os valores ao longo de cada coluna dessa matriz corrigida;
(b) calculam-se os recíprocos dessas somas;
(c) divide-se cada um desses recíprocos pelas somas dos recíprocos: os valores
desta forma obtidos serão os pesos dos critérios.
Após a definição desses pesos dos critérios, pede-se aos especialistas que estimem para
cada um dos critérios qualitativos c, a contribuição de cada alternativa i, para o objetivo
associado ao critério. Este método requer que os valores das avaliações, dos critérios em relação
às alternativas, sejam numéricos e que sejam normalizados, portanto, os critérios qualitativos
avaliados numa escala verbal são transformados numa escala cardinal. As avaliações dos
92
critérios quantitativos são obtidas através dos desempenhos das alternativas em relação aos
critérios, como, por exemplo, nível de ruído em decibéis, potência de um motor em HP, nota
de um aluno em uma disciplina etc. (GOMES; ARAYA; CARIGNANO, 2004).
Para este método, é necessário que cada valor das avaliações dos critérios em relação às
alternativas seja numérico e, ainda, que sejam normalizados. Assim, os critérios qualitativos
avaliados por uma escala verbal podem ser transformados em uma escala cardinal. Já, para a
avaliação dos critérios quantitativos, podem ser obtidos através dos desempenhos de cada
alternativa em relação aos critérios.
A título de exemplo, pode-se listar o nível de ruído em decibéis, potência de um motor
em HP, nota de um aluno em uma disciplina, entre outros (GOMES; ARAYA; CARIGNANO,
2004).
Avaliadas as alternativas em relação a todos os critérios, obtém-se a matriz de avaliação
já com todos os valores na forma numérica. A partir deste ponto, faz-se normalização,
empregando-se, a exemplo, para determinados critérios, a divisão do valor de uma alternativa
pela soma dos valores de todas as alternativas. Essa normalização é feita para cada um dos
critérios apresentados, construindo-se assim uma nova matriz, onde todos os valores estão entre
zero e um, denominada como Matriz de Desejabilidades Parciais W = [Wnm], conforme Tabela
2.3, (GOMES, ARAYA e CARIGNANO, 2004).
Tabela 2.3 – Matriz de Desejabilidades Parciais.
Alternativas Critérios
C1 C2 ... Cj ... Cm
A1 W11 W12 ... W1j ... W1m
A2 W21 W22 ... W2j ... W1m
... ... ... ... . . . ... ...
Ai Wi1 Wi2 ... Wij ... Wim
... ... ... ... . . . ... . . .
An Wn1 Wn2 ... Wnj ... Wnm
Fonte: Gomes, Araya e Carignano (2004).
Após a atribuição dos pesos dos critérios e de sua normalização, necessita-se de calcular
as matrizes de dominância parciais e a matriz de dominância final. Admita-se, agora, que um
dos ‘m’ critérios pode ser considerado como sendo um critério de referência ‘r’, e este poderá
93
ser, por exemplo, identificado como sendo o critério de maior peso. Assim, ‘arc’ representa a
taxa de substituição do critério em análise ‘c’, em relação ao critério de referência ‘r’. A medida
de dominância de cada alternativa ‘i’ sobre cada alternativa ‘j’, incorporada, agora, à Teoria
dos Prospectos, é dada pela expressão matemática [6]. As equações [7], [8] e [9] realizam os
cálculos de Φ(i, j).
O fator Φc(i,j) representa a parcela de contribuição do critério ‘c’ à função δ(i,j),
quando se compara a alternativa ‘i’ com a alternativa ‘j’. Caso o valor de wic – wjc seja positivo,
representará um ganho para a função δ(i,j) e, portanto, será usada a expressão de Φc(i,j)
correspondente, isto é, à equação [7]. Caso wic – wjc seja nulo, será atribuído o valor nulo para
Φc (i,j), isto é, a equação [8], e se wic – wjc for negativo, Φc(i,j) será representado pela equação
[9]. (GOMES, ARAYA e CARIGNANO, 2004).
Assim:
- δ (i, j) representa a medida de dominância da alternativa "i" sobre a alternativa "j";
- m é o número de critérios;
- c é um critério qualquer, para c = 1,..., m;
- arc é a taxa de substituição do critério c pelo critério de referência "r";
- wic e wjc são, respectivamente, os pesos das alternativas "i" e "j" em relação "a" "c";
- θ é o fator de atenuação das perdas. Usado para aumentar a representatividade da curva
ajustada à nuvem de pontos relacionados à percepção de perdas do decisor. Seu valor
é empírico, testado na prática para cada processo decisório.
[6]
[7]
[8]
[9]
94
Depois, já calculadas todas as matrizes de dominância parciais, uma para cada critério,
obtém-se a matriz de dominância final δ(i,j), pela soma dos elementos de todas as matrizes.
A matriz de dominância final, agora, será normalizada, usando-se a Equação (10) para
obter o valor global para cada alternativa. Cada número calculado é interpretado como a medida
da desejabilidade ou utilidade global, ou, simplesmente, como o valor de uma alternativa
específica. As alternativas são ordenadas e originadas de acordo com a ordenação de seus
respectivos valores.
O método TODIM determina uma escolha a partir das preferências expressas por um
decisor ou um grupo de decisores ao ordenar todas as alternativas (FONTES, 2016). E, ainda,
pode-se, eventualmente, chegar a um novo resultado, através de uma análise de sensibilidade,
mudando-se tal conjunto de preferências.
O próximo capítulo – Metodologia - é dedicado às técnicas metodológicas empregadas
neste trabalho de pesquisa, bem como as técnicas empregadas nas coletas e análises de dados.
Na sequência, serão apresentados, em detalhes, três fluxogramas de processos, sendo o primeiro
relacionado às ferramentas de estruturação de problemas e, os demais, às aplicações dos
métodos multicritérios do AMD, respectivamente, AHP e TODIM.
[10]
95
3 METODOLOGIA
Este capítulo está dividido em cinco seções, tendo como objetivo apresentar nos três
primeiros tópicos as propriedades da metodologia de pesquisa e as técnicas de coletas e análises
de dados. Na sequência, pretende-se fazer as exposições das etapas referentes às aplicações dos
métodos multicritérios, respectivamente, AHP e TODIM.
3.1 PESQUISA EXPLORATÓRIA E DESCRITIVA
Essa pesquisa pode ser classificada como exploratória e descritiva. Primeiramente,
trata-se de pesquisa exploratória porque o objetivo é levantar informações de critérios usados
no julgamento administrativo e técnico pelos gestores organizacionais à tomada de ação e,
sobre a classificação de importância relativa dada às demandas legais, contratuais e
corporativas, que envolvem a gestão ambiental, de sobre maneira, em estaleiro naval. É,
também, descritiva por buscar formas de apresentar os modus operandi da gestão ambiental e,
ao mesmo tempo, estabelecer correlações entre os gerenciamentos dos processos
organizacionais (administrativo, produção e outros), bem como considerar as práticas usuais
aceitáveis.
3.2 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
O método de elaboração da pesquisa foi de “pesquisa bibliográfica”, com base de livros,
bancos eletrônicos de artigos, periódicos, dissertações e teses, textos técnicos sobre processos
e técnicas referentes à gestão ambiental em estaleiro naval e, também, sobre aos métodos do
AMD (Apoio Multicritério à Decisão), com ênfase em mapa cognitivo/SODA, AHP e TODIM.
O trabalho teve por enfoque metodológico o caráter de análise com métodos mistos de
obtenção dos dados. A análise foi realizada de forma indutiva, durante o levantamento do
referencial teórico, conforme exposto no capítulo 2, deste trabalho.
Segundo Gray (2012), quando o autor trata do desenho de pesquisa com métodos mistos,
sendo qualitativo e, depois, quantitativo, salienta:
“Essa é uma abordagem comum ao desenho de métodos mistos e ocorre quando os
resultados de um estudo qualitativo são usados para informar a fase de pesquisa
quantitativa. Esse desenho é usado em circunstâncias em que relativamente pouco
ou nada se sabe sobre o contexto do trabalho de campo ou os problemas da pesquisa.
Nesta situação, seria inviável e pouco prático usar um desenho baseado em
questionário, pois os constructos que estão sendo mensurados são desconhecidos ou
96
não suficientemente entendidos. O estudo qualitativo, portanto, explora, identifica e
pode proporcionar clareza com relação aos tipos de variáveis que demandam mais
investigação” (GRAY, p. 169, 2012).
Quanto à forma indutiva, para Gray (2012), se planeja a coleta de dados e, depois, são
analisados, para verificar se há qualquer padrão que sugira relações entre as variáveis. Ainda,
do Autor, a partir dessas observações pode ser possível construir generalizações, relações e até
mesmo teoria. Neste aspecto Marconi e Lakatos (2009) corroboram:
“Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados
particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal,
não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos é levar a
conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se
basearam” (MARCONI E LAKATOS, p. 53, 2009).
A pesquisa pode ser classificada, também, como bibliográfica e documental, por ter sido
realizada, inicialmente, como base teórica, em dados primários e informações que tratam dos
assuntos de interesse, com vista ao resultado esperado.
Gil (2010) salienta que a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já
elaborado, construído, principalmente, de livros e artigos científicos. Quanto à pesquisa
documental, Gil (2010) descreve que se assemelha muito à pesquisa bibliográfica. A única
diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza
essencialmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa
documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou, que
ainda pode ser reelaborado de acordo com os objetivos da pesquisa.
Neste sentido, Marconi e Lakatos (2007) acrescentam “sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado
assunto, inclusive conferências seguidas de debates, que tenham sido transcritas por alguma
forma, quer publicadas, quer gravadas”.
Sobre a pesquisa bibliográfica, Faria et al, (2007) chama a atenção para:
“Durante as leituras, é importante aproveitar as ideias que vão surgindo (insighs)27 e
anotá-las imediatamente para que não se percam. Salientam os autores, que no
momento das leituras é natural que o pesquisador já comece, mentalmente, a cruzar
informações com outros textos lidos, devendo, também, anotar essas reflexões”
(FARIA et al, p. 33, 2007).
27Insighs: é um substantivo com origem no idioma inglês e que significa compreensão.
97
3.3 TÉCNICASADOTADAS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS
Segundo Marconi e Lakatos (2007), a fase de coleta de dados é a etapa da pesquisa em
que se inicia a aplicação dos instrumentos elaborados e das técnicas selecionadas, a fim de se
efetuar a obtenção dos dados previstos.
Conforme Gil (2010), na observação sistemática o pesquisador precisa elaborar um
plano que estabeleça o que deve ser observado, em que momentos, bem como a forma de
registro e organização das informações. Marconi e Lakatos (2007) acrescentam que quanto mais
planejamento for feito previamente, menos desperdício de tempo haverá no trabalho de campo,
propriamente dito, facilitando a etapa seguinte.
Este trabalho foi centrado no método de pesquisa-ação, tendo como objetivo estudar a
gestão ambiental de estaleiro naval. Dentre as características operacionais de estaleiro (perfil
de produção, diversidade de configuração e atuação), pretendeu-se fixar como objetivo da
pesquisa estudar as empresas pertencentes ao polo naval da Baia da Guanabara – RJ, em
especial, àquelas com demandas /encomendas de offshores (navios e plataformas).
Conforme Gray (2012), o método de pesquisa-ação trata de problemas da vida real.
Complementa o Autor “quem faz pesquisa-ação se envolve diretamente no processo de pesquisa
com um agente da transformação, dedicando não apenas a estudar organizações e processos,
mas também a melhorá-los” (GRAY, p.254, 2012)
Esta técnica de estudo foi selecionada para descrever as características relacionadas ao
escopo do gerenciamento ambiental. Segundo Gray (2012), a pesquisa-ação é comprometida e
intencional, mas também informada e sistemática, na qual o pesquisador não se julga
simplesmente no processo de pesquisa. Esperam-se, do pesquisador, ações de planejamento,
implementação e ética que precisam ser tratadas.
Para Gray (2012), dentro do processo de pesquisa, há metodologias variadas, cada uma
com suas próprias prioridades e modos de investigação. Para esta pesquisa adota-se um contexto
mais organizacional, com possibilidade de incluir maneiras de os profissionais e gestores
ambientais melhorarem suas próprias práticas.
Neste contexto, segundo Gray (2012), é necessário atender três características em
comum:
1. os sujeitos de pesquisa são os colaboradores e o pesquisador;
2. a pesquisa deve ser vista como um agente da transformação e
3. os dados são gerados a partir de experiências diretas dos participantes de
pesquisa.
98
Nesta pesquisa, foram adotados vários procedimentos para a realização da coleta de
dados, que variaram de acordo com as circunstâncias ou com a fase da investigação.
As técnicas utilizadas foram:
1. COLETA DOCUMENTAL: Marconi e Lakatos (2003) comentam que:
“A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita
a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias.
Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois”
(MARCONI E LAKATOS, p. 174, 2003).
Nesta etapa, foram feitas as coletas, seleções e análises do arcabouço legal, técnico e
demais requisitos pertinentes à gestão ambiental de estaleiro naval.
Foram utilizados - como suportes à pesquisa - documentos de usos e empregos nas
atividades de gerenciamento ambiental. Ressalta-se que a empresa - na qual o pesquisador tem
vínculo empregatício - facultou-lhe o livre acesso às consultas, àquelas que se fizeram
necessárias, como destacado no capítulo 2 – Referencial Teórico, p.24.
Foram objetos de pesquisa os requisitos legais contidos nas licenças ambientais e suas
condicionantes, os relatórios de auditorias ambientais compulsórias e voluntárias; os relatórios
técnico-ambientais (laudos, avaliações laboratoriais e planilhas de controle e monitoramento).
Foi possível, do mesmo modo, acessar o sistema informatizado para consulta em bancos
de dados, em rede de computadores (intranet), com acesso direto pelo usuário do posto de
trabalho.
Os dados relativos aos padrões corporativos foram obtidos do portal de dados e
documentos, através de buscas por: palavras-chave, assuntos e órgãos da estrutura
organizacional. Foram selecionados e analisados somente os documentos classificados como
“públicos”, levando-se em consideração o cargo e o perfil de acesso do pesquisador.
Após análises, avaliações e considerações (ou julgamentos), com base nos objetivos
deste trabalho, os documentos foram separados, organizados e agrupados por temas afins, isto
é, aqueles classificados como documentos relevantes. Na sequência, procederam-se os estudos,
com elaborações dos resumos e organizações em textos, como os citados e incorporados ao
capítulo 2 - Referencial Teórico.
2. FONTES BIBLIOGRÁFICAS: Marconi e Lakatos (2003) explicam que:
“A pesquisa bibliográfica, ou fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada
pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais,
revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios
de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e
televisão” (MARCONI E LAKATOS, p. 183, 2003).
99
Gray (2012) cita a internet como uma fonte eletrônica de um banco de dados
bibliográficos, que oferece um índice de artigos e outros materiais, além de resumos, citações
e o próprio artigo integral ou links pelos quais ele pode ser acessado. Ainda, o Autor afirma que
a maioria das instituições acadêmicas dá aos alunos acesso livre a uma série de bancos de dados
desse tipo.
Para pesquisa bibliográfica sobre os métodos do AMD, foram feitas consultas em
literaturas técnico-científicas referentes aos métodos AHP e TODIM, e também quanto ao mapa
cognitivo/ SODA e SSM. Os procedimentos de pesquisas foram os citados no capítulo 2 –
Referencial Teórico, (p. 24).
3. ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS: Gray (2012) classifica a entrevista como
coleta de dados primários:
“Uma entrevista é uma conversa entre pessoas, a qual uma cumpre o papel de
pesquisador” (GRAY, p. 299, 2012).
Gray (2012) enfatiza que a entrevista bem conduzida é uma ferramenta poderosa para
evocar dados ricos sobre visões, atitudes e sentidos que embasam as vidas e os comportamentos
das pessoas.
As entrevistas semiestruturadas não são padronizadas e, muitas vezes, são usadas na
análise qualitativa. Para Gil (2010), esta modalidade de entrevista se dá o nome de entrevista
focalizada, na qual o entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto.
Conforme Gray (2012), permite-se fazer aprofundamento das visões e das opiniões e,
quando for desejável, que os respondentes aprofundem suas respostas. Ele acrescenta:
“podem ser feitas perguntas adicionais, inclusive algumas que não tenham sido
previstas no início da entrevista, à medida que surgem novas questões” (GRAY, p.
302, 2012).
Os processos relacionados às entrevistas semiestruturadas, bem como sobre os instrumentos
elaborados e as técnicas à seleção de dados, estão descritos no fluxograma representado pela
Figura 3.1 - Etapas dos Processos Relacionado à Estruturação de Problema.
100
Figura 3.1 – Etapas dos Processos Relacionado à Estruturação de Problema
Fonte: o autor.
Os eventos relacionados às entrevistas foram definidos por etapas:
Etapa 1: Planejamento das entrevistas – foram selecionados cargos e colaboradores
internos de um dado estaleiro (colaboradores próprios e prestadores de serviços contratados
para apoio a gestão ambiental), aqueles- com funções laborais- que se enquadravam aos
propósitos do trabalho pretendido.
O Quadro 3.1 – Planejamento de Entrevistas - apresenta a relação dos cargos
selecionados para fins de entrevistas, bem como o número de pessoas por cargo e suas
formações acadêmicas, de tal modo a contemplar três níveis hierárquicos, que foram definidos
pelos critérios: a) relevâncias administrativas e, b) funções estratégicas quantos aos processos
do gerenciamento ambiental.
Planejamento
das Entrevistas
Instrumento para coleta
de dados
Framework: Controle e
Desempenho Ambiental
Levantamento dos
Constructos
Mapas SODA /
Mapas Cognitivos
Identificação dos PVF(s)
• Definição dos Interlocutores
• Agendamento das entrevistas
• Elaboração de Planilha
• Utilização como documento
auxiliar às entrevistas
• Organização e agrupamento dos
dados obtidos pelas entrevistas,
• Definições de grupos de interesse
a partir da compilação dos dados,
• Seleção de conceitos por grupos
de interesse.
• Construção e validação
dos mapas cognitivos
• Validação dos PVF(s),
• Conjunto final dos PVF(s).
ProcessosEtapas Ações Implementadas
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
Definição dos Critérios e
Estruturação Hierárquica
• Objetivo,
• Áreas do Conhecimento,
• Critérios,
• Alternativas
(7)
101
Quadro 3.1 –Planejamento de Entrevistas
Cargo na Empresa Quantidade
de Pessoas
Formação
Escolar
Vínculo com
a Empresa
Função de
Liderança
Gerente Administrativo 1 Superior Próprio Alta
Gerente de SMS 1 Superior Próprio Alta
Gerente de Segurança
do Trabalho 1 Superior Próprio Média
Gerente de Meio
Ambiente 1 Superior Próprio Média
Engenheiro de Meio
Ambiente 1 Superior Contratado Média
Advogado Ambiental 1 Superior Contratado Média
Técnico de Meio
Ambiente 2
Técnico
Nível Médio Contratado Operacional
Técnico de Construção
e Montagem 1
Técnico
Nível Médio Próprio Operacional
Fonte: o autor.
As entrevistas foram acordadas e agendadas por contatos telefônicos, diretamente com
as pessoas selecionadas. No contato inicial, foi possível definir: a) o dia do evento, b) o horário,
c) o tempo previsto da reunião, d) local do evento (sala de reunião). Em cada contato, foi
possível apresentar: a) preâmbulo dos objetivos, b) o formato da entrevista (individual,
preferencialmente), c) os recursos a serem utilizados (materiais) e, d) os registros que seriam
gerados.
Etapa 2: Instrumentos para coletas de dados – elaborou-se planilha específica, com a
finalidade de coletas e registros de dados. Elaborou-se o instrumento, com base na Tabela 1, a
qual está contida no artigo publicado pela revista FACEF Pesquisa - Desenvolvimento e
Gestão28, sob o título “Estruturação do Problema de Desempenho das Unidades Operacionais
de Instituição de Ensino Profissionalizante Utilizando uma Multimetodologia”, de SIMÕES et
al (2015, p.354). Ressalta-se, que o artigo retrocitado refere-se a uma aplicação prática de
estruturação de problema, em conformidade ao método PSM - Problem Structuring Methods.
Segundo Simões et al (2015), “os métodos de estruturação de problemas (PSM -
Problem Structuring Methods) são utilizados em cenários onde o problema não se apresenta de
CEGN – Centro de Estudo em Gestão Ambiental. Estudo sobre gestão ambiental de
estaleiros. São Paulo, 06.08.2010. Disponível em https://jornalggn.com.br/ sites/default/ files/documentos/CEGN_-_Estudo_sobre_gestao_ambiental_de_estaleiros.pdf. Acesso em
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