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1
Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa
COORDENAO GERAL DE PS-GRADUAO
COORDENAO DO MESTRADO EM CINCIAS DO
CUIDADO EM SADE
ANDRA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES
O CUIDADO COM A SADE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE NIBUS URBANO
EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO
Niteri - RJ
Dezembro/2011
http://www.uff.br/
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2
ANDRA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES
O CUIDADO COM A SADE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE NIBUS URBANO
EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado
Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade
da Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obteno do Ttulo de
Mestre.
Linha de pesquisa: Cuidados coletivos em Enfermagem e Sade nos
seus processos
educativos e de gesto.
Orientadora: Prof Dr. ZENITH ROSA SILVINO
Niteri RJ
Dezembro/2011
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3
R 696 Rodrigues, Andra Maria dos Santos.
O cuidado com a sade auditiva em motoristas de nibus
urbano em uma empresa de transporte coletivo no Rio de
Janeiro / Andra Maria dos Santos Rodrigues.
Niteri: [s.n.], 2011.
92 f.
Dissertao (Mestrado em Cincias do Cuidado em Sade) -
Universidade Federal Fluminense, 2011.
Orientador: Prof. Zenith Rosa Silvino.
1. Audiologia. 2. Audiometria. 3. Audio. 4. Perda auditiva.
5. Sade do trabalhador. 6. Enfermagem
CDD 617.8
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4
ANDRA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES
O CUIDADO COM A SADE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE NIBUS URBANO
EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado
Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade
da Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obteno do ttulo de
Mestre.
Aprovado em 12/12/2011.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Prof Dr Zenith Rosa Silvino Presidente
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________________________
Prof Dr Mrcia Cavadas Monteiro 1 Examinadora
Universidade Federal do Rio de Janeiro
______________________________________________________________________
Prof Dr Elaine Antunes Cortez 2 Examinadora
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________________________
Prof Dr Heidi Elisabeth Baeck 1 Suplente
Universidade Veiga de Almeida - RJ
______________________________________________________________________
Prof Dr Ftima Helena do Esprito Santo 2 Suplente
Universidade Federal Fluminense
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5
Dedico este trabalho a minha filha Beatriz que
com sua alegria de criana me contagia.
Atravs de seu olhar posso ver um mundo
melhor e cheio de novas perspectivas.
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6
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeo a Deus, quem me capacita todos os dias da
minha vida,
sozinha nada poderia fazer. Toda honra e toda glria sejam dadas
a Ele.
Ao meu marido Marcelo, pelos momentos de apoio e incentivo e que
com muito amor
entendeu os momentos de ausncia e sempre confiou em mim, meu
companheiro nesta
caminhada.
Aos meus pais Horcio e Lda pelo suporte e auxlio em todos os
momentos que
precisei para concluso de mais uma etapa em minha vida. Obrigada
por acreditarem sempre
em mim.
A amiga e fonoaudiloga Jssica Novais pela amizade, ajuda e apoio
e pelas palavras
de encorajamento.
A minha orientadora Dra Zenith, pelos ensinamentos, pela
pacincia e por ter me
possibilitado crescer no meio acadmico.
A todos os professores do Mestrado Acadmico em Cincias do
Cuidado em Sade
pela ajuda na construo de novos saberes e pelo estmulo a
pesquisa. Em especial as
professoras Dra Ftima Helena e Dra Snia Mara.
As professoras componentes da banca examinadora Dra Mrcia
Cavadas, Dra Heidi
Baeck e Dra Elaine Cortez, obrigada pelo carinho e
disponibilidade.
Aos meus colegas de turma do Mestrado Acadmico em Cincias do
Cuidado em
Sade, to especiais, cada um na sua essncia, foi muito bom nosso
convvio nesse perodo.
Em especial agradeo pelas novas amigas que conquistei nesses
anos com as quais
dividi muitos momentos de alegrias e de ansiedade: Mnica Simes,
Glaucimara Riguete, e
Luana Pestana.
A amiga e fonaoudiloga Andra Carielo pela cooperao e pelo
companheirismo.
Em especial aos motoristas de nibus pela disponibilidade e
ateno.
A empresa de transporte coletivo que autorizou a realizao do
estudo, contribuindo
para construo deste trabalho.
Ao inspetor de trfego e ao funcionrio do Setor de Recursos
Humanos da Empresa de
transporte coletivo, pois sempre estiveram prontos a colaborar
com a pesquisa.
A todos que direta ou indiretamente estiveram presentes e
acompanharam a elaborao
desta pesquisa, meu sincero agradecimento.
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7
O temor do Senhor o princpio do
conhecimento, mas os insensatos desprezam a
sabedoria e a disciplina.
(Provrbios 1:7)
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8
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa desenvolvida junto ao Mestrado Acadmico
em Cincias do
Cuidado em Sade que tem como objeto de estudo o cuidado com a
sade auditiva em
motoristas de nibus urbanos, considerando que a sade auditiva um
dos aspectos
fundamentais para a comunicao humana. A pesquisa fundamentou-se
nos pressupostos
tericos da audio, na rea da sade do trabalhador e na perspectiva
do cuidado em sade,
pois cuidar da sade do trabalhador buscar espaos e condies de
trabalho saudveis
fazendo com que sua atividade diria seja cada vez menos
prejudicial, tanto no campo fsico
quanto no campo psquico. Os objetivos do estudo foram:
identificar a existncia de variao
nos limiares auditivos dos motoristas de nibus atravs das
audiometrias ocupacionais ao
longo de trs anos consecutivos; verificar os saberes dos
motoristas de nibus urbano em
relao aos riscos de exposio ao rudo e sobre o cuidado com sua
sade auditiva; descrever
o Programa de Conservao Auditiva da Empresa de Transporte
Coletivo; e discutir aes de
cuidado com a sade auditiva para compor o Programa de Conservao
Auditiva. A
abordagem metodolgica utilizada foi um estudo de caso em uma
empresa de transporte
coletivo localizada na Cidade do Rio de Janeiro. A caracterizao
do estudo observacional,
do tipo coorte, que significa a seleo de indivduos conforme o
status de exposio, sendo
acompanhados para avaliao da incidncia de doena. Para anlise dos
dados estatsticos
foram utilizados como mtodos: ANOVA de Friedman para verificar a
existncia de variao
significativa nas audiometrias, ao longo de trs anos
consecutivos; o teste de comparaes
mltiplas de Nemenyi, para identificar quais os anos que
apresentam diferenas significativas
entre si; e o teste dos postos sinalizados de Wilcoxon para
verificar a existncia de variao
na audiometria entre as orelhas, direita e esquerda. Esta
pesquisa foi aprovada pelo Comit de
tica e Pesquisa do Hospital Universitrio Antonio Pedro da
Universidade Federal
Fluminense (HUAP/ UFF) sob CAAE - 6141.0.000.258-10. Os
resultados da pesquisa
apontam que existem variaes nos limiares auditivos dos
motoristas de nibus ao longo de
trs anos consecutivos, separadamente, por orelha. Comparando-se
os limiares da orelha
direita e esquerda observou-se que a orelha direita no
apresentou diferenas significantes nas
frequncias analisadas dos exames audiomtricos realizados, porm a
orelha esquerda
apresentou diferenas significativas em trs frequncias (500 Hz,
1000 Hz e 3000 Hz).
De acordo com a Classificao da Portaria 19 (1998), evidenciou-se
que houve uma reduo
do nmero de motoristas com exame de referncia dentro dos limites
de normalidade, em
relao ao terceiro ano observado (exame sequencial). Cabe
ressaltar, que a ocorrncia das
classificaes de agravamento ou desencadeamento de Perda Auditiva
Induzida por Rudo
(PAIR) no foram identificadas na amostra avaliada.
Destaca-se que os motoristas de nibus em sua maioria no possuem
conhecimento sobre os
riscos de exposio e cuidados com a sade auditiva, advindos da
falta de informao. Esse
estudo aponta que a atuao do fonoaudilogo atravs de aes de
cuidado inseridas no
Programa de Conservao Auditiva imprescindvel para promover a
sade auditiva no
ambiente de trabalho.
Descritores: Audiologia, audiometria, audio, perda auditiva,
sade do trabalhador,
enfermagem.
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9
ABSTRACT
This is a survey developed along the Academic Masters in health
care sciences that have as an
object of study the hearing health care in urban bus drivers,
since the hearing health is one of
the fundamental aspects to human communication. The survey was
based on theoretical
assumptions of the hearing, in the area of workers' health and
the prospect of health care
because care of workers' health is seeking spaces and healthy
working conditions causing
their daily activity to become less and less harmful, both in
physical and psychic field. The
objectives of the study were to: identify the existence of
variation in auditory thresholds of
bus drivers through the occupational audiometries over three
consecutive years; verify the
knowledge of urban bus drivers in relation to risks of exposure
to noise and about the care of
their health hearing; describe the company's Hearing
Conservation program of Collective
Transport; and discuss actions of hearing health care to compose
the Hearing Conservation
program. The methodological approach used was a case studied in
a public transportation
company located in the city of Rio de Janeiro. The
characterization of the observational study
is of a kind cohort, which means the selection of individuals as
the exposure status, being
monitored with a view to assessing the incidence of the disease.
For analysis of the statistical
data were used as methods: Friedman's ANOVA to verify the
existence of significant
variation in audiometries, over three consecutive years;
multiple comparisons testing
Nemenyi, to identify which year that have significant
differences between themselves; and
testing of flagged posts of Wilcoxon to verify the existence of
variation in audiometry
between the ears, right and left. This research was approved by
the Ethics Committee and
University Hospital Research Antonio Pedro of the Universidade
Federal Fluminense
(HUAPUFF) under CAAE-6141.0.000.258-10. Search results show that
there are variations in
the auditory thresholds of bus drivers over three consecutive
years, separately, by ear.
Comparing left and right ear thresholds observed that the right
ear did not present significant
differences in frequencies of audiometric tests conducted,
analyzed but the left ear presented
significant differences in three frequencies (500 Hz, 1000 Hz
and 3000 Hz). According to the
classification of the Gatehouse 19, it showed that there was a
reduction in the number of
drivers with reference examination within the bounds of
normality, in relation to the third year
observed (sequential examination). Please note that the
occurrence of the trigger or worsen
ratings for Noise-induced hearing loss (PAIR) were not
identified in the sample evaluated. It
is noteworthy that the bus drivers mostly do not have knowledge
about the risks of exposure
and hearing health care, from lack of information. This study
points out that the actions of the
audiologist through careful actions entered in the Hearing
Conservation program is essential
to promote hearing health in the working environment.
Keywords: Audiology, audiometry, hearing, hearing loss,
occupational health, nursing.
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10
Lista de Quadros
QUADRO 1 CLASSIFICAO DO NVEL DE AUDIO 25
QUADRO 2 RECONHECIMENTO E AVALIAO DE RISCOS PARA AUDIO 61
QUADRO 3 CARACTERIZAO DA EXPOSIO 61
QUADRO 4 GERENCIAMENTO AUDIOMTRICO 62
QUADRO 5 MEDIDAS DE PROTEO COLETIVA 62
QUADRO 6 MEDIDAS DE PROTEO INDIVIDUAL 63
QUADRO 7 EDUCAO E MOTIVAO 63
QUADRO 8 GERENCIAMENTO DE DADOS 64
QUADRO 9 AVALIAO DO PROGRAMA 64
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11
Lista de Tabelas
TABELA 1 DELTA ENTRE ORELHAS (OE-OD) PARA CADA ANO E
FREQUNCIA
47
TABELA 2 ANLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA
DIREITA
49
TABELA 3 ANLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA
ESQUERDA
50
TABELA 4 DELTAS ABSOLUTOS ENTRE OS TRS ANOS OBSERVADOS POR
ORELHA E FREQUNCIA
55
TABELA 5 CLASSIFICAO DAS AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 NOS
EXAMES CONSECUTIVOS
56
TABELA 6 INTERPRETAO DO RESULTADO DO EXAME AUDIOMTRICO
SEGUNDO A PORTARIA 19
56
TABELA 7 DESCRITIVA DO FORMULRIO (N = 94)
58
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12
Lista de Grficos
GRFICO 1 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 500 HZ POR ORELHA 51
GRFICO 2 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 1000 HZ POR ORELHA 51
GRFICO 3 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 2000 HZ POR ORELHA 52
GRFICO 4 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 3000 HZ POR ORELHA 52
GRFICO 5 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 4000 HZ POR ORELHA 53
GRFICO 6 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 6000 HZ POR ORELHA 53
GRFICO 7 AUDIOMETRIA NA FREQUNCIA DE 8000 HZ POR ORELHA 54
GRFICO 8 AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 AO LONGO DE TRS
MOMENTOS OBSERVADOS
57
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13
Lista de abreviaturas e siglas
ANOVA Anlise de Varincia
CEREST
CESTEH
CFFa
CRFa
Centro de Estudos da Sade do Trabalhador e Ecologia Humana
Centro de Referncia em Sade do Trabalhador
Conselho Federal de Fonoaudiologia
Conselho Regional de Fonoaudiologia
CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes
CLT Consolidao das Leis do Trabalho
dB Decibel
dB (NA)
DP
DVRT
EP
Decibel (Nvel de Audio)
Desvio Padro
Distrbio de voz relacionado ao trabalho
Erro Padro
ENSP
EPI
Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca
Equipamento de Proteo Individual
FUNDACENTRO Fundao Jorge Duprat Figueiredo, de Segurana e
Medicina do Trabalho
Hz
INSS
Hertz
Instituto Nacional do Seguro Social
HUAP
kHz
Hospital Universitrio Antnio Pedro
Quilohertz
MTB Ministrio do Trabalho
NR-7 Norma Regulamentadora No. 7
NR-9 Norma Regulamentadora No. 9
NR-15
NIOSH
Norma Regulamentadora No. 15
National Institute for Occupational Safety and Helth
OMS Organizao Mundial de Sade
OPAS Organizao Panamericana de Sade
OD
OE
Orelha Direita
Orelha Esquerda
PR Unidade Federativa do Estado do Paran
PAINPSE Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora
Elevados
PAIR Perda Auditiva Induzida por Rudo
PCA Programa de Conservao Auditiva
PCMSO Programa de Controle de Medicina e Sade Ocupacional
PPRA Programa de Preveno de Riscos Ambientais
RJ
SP
Unidade Federativa do Estado do Rio de Janeiro
Unidade Federativa do Estado de So Paulo
SES
SESDEC
Secretaria do Estado da Sade
Secretaria de Estado de Sade e Defesa Civil do Rio de
Janeiro
SSST
SMAC
SESMT
Servio de Sade e Segurana do Trabalho
Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do
Trabalho
SMTR Secretaria Municipal de Transportes
SUS Sistema nico de Sade
UFF
VA
Universidade Federal Fluminense
Via area
VO Via ssea
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14
SUMRIO
APRESENTAO 15
INTRODUO 16
CAPTULO I - FUNDAMENTAO TERICA 20
1.1 A Audio e o Sistema auditivo 20
1.1.1 Estruturas perifricas do sistema auditivo 21
1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo 22
1.1.3 Alteraes no sistema auditivo 22
1.1.4 Avaliao do sistema auditivo 24
1.2 CONSIDERAES SOBRE EXPOSIO AO RUDO E A PAIR 27
1.3 A SADE DO TRABALHADOR E A ATUAO FONOAUDIOLGICA 30
1.4 PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA 33
1.5 A SADE AUDITIVA E O CUIDADO EM SADE 36
CAPTULO II ABORDAGEM METODOLGICA 40
2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO 40
2.2 LOCAL DO ESTUDO 41
2.3 POPULAO DO ESTUDO 42
2.4 ASPECTOS TICOS DA PESQUISA 42
2.5 COLETA DE DADOS 43
2.5.1 Identificando os limiares auditivos 43
2.5.2 Formulrio sobre a exposio ao rudo e ao cuidado com a sade
auditiva 43
2.5.3 Descrio do Programa de Conservao Auditiva 44
2.6 ANLISE DOS DADOS 45
CAPTULO III RESULTADOS 46
3.1 ANLISE INICIAL DA VARIAO DOS LIMIARES AUDITIVOS ENTRE
AS ORELHAS DIREITA (OD) E ESQUERDA (OE)
48
3.2 IDENTIFICAO DA VARIAO DOS LIMIARES AUDITIVOS AO LONGO
DE TRS ANOS CONSECUTIVOS SEPARADAMENTE POR ORELHA
48
3.3 COMPARAO DOS DELTAS DOS LIMIARES ENTRE OS ANOS E AS
ORELHAS DIREITA E ESQUERDA
54
3.4 RESULTADOS DOS EXAMES AUDIOMTRICOS CONFORME A
CLASSIFICAO DA PORTARIA 19
56
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15
3.5 RESULTADO DO FORMULRIO APLICADO AOS MOTORISTAS DE NIBUS
58
3.5.1 Caracterizao dos sujeitos da amostra 60
3.6 DESCRITIVA DO PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA 60
CAPTULO IV DISCUSSO 65
4.1 IDENTIFICAO DA VARIAO DOS LIMIARES AUDITIVOS 65
4.2 OS SABERES DOS MOTORISTAS DE NIBUS SOBRE A EXPOSIO AO
RUDO E CUIDADO COM A SADE AUDITIVA
68
4.2.1 Questes relacionadas aos sujeitos e suas caractersticas
auditivas 68
4.2.2 Questes relacionadas ao cuidado com a sade auditiva e
sobre a exposio ao rudo 70
4.3 O PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA DA EMPRESA DE
TRANSPORTE COLETIVO
71
4.4 AES DE CUIDADO COM A SADE AUDITIVA 73
CONSIDERAES FINAIS 75
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 77
APNDICES 84
Apndice A: Formulrio para descrio do Programa de Conservao
Auditiva 84
Apndice B: Formulrio sobre a exposio ao rudo e cuidado com a
sade auditiva 85
Apndice C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 86
ANEXOS 87
Anexo A: Ministrio do Trabalho e Emprego Portaria 3214 NR 7
anexo I quadro II 87
Anexo B: Parecer do Comit de tica em pesquisa da Faculdade de
Medicina/HUAP 92
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15
APRESENTAO
Desde a graduao no curso de Fonoaudiologia surgiu o interesse em
estudar sobre a
sade dos trabalhadores que poderiam desenvolver algum dficit no
processo comunicativo
devido s atividades laborais.
Nesta ocasio como trabalho de concluso de curso, foi
desenvolvido um estudo sobre
a oratria como instrumento do resgate da expresso natural,
pessoal e funcional da voz
facilitando a prtica profissional dos advogados.
O interesse em estudar sobre os aspectos que envolvem a sade
auditiva surgiu
durante a atuao profissional na rea da audiologia ocupacional.
Destaca-se que no cotidiano
de trabalho, durante a realizao de exames audiomtricos em
trabalhadores de empresas de
transporte coletivo observou-se a prevalncia de diagnsticos
sugestivos de perda auditiva por
nveis de presso sonora elevada, a falta de conhecimento e do
cuidado por parte dos
trabalhadores em relao audio.
Em busca de novos saberes na rea da sade do trabalhador
considerando que
atualmente a fonoaudiologia conta com um deslocamento de muitos
profissionais para novos
campos de atuao ingressei como aluna especial na disciplina de
Gesto de Programas
Ocupacionais do Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade
da Universidade
Federal Fluminense (UFF) e no Ncleo de Estudos e Pesquisas em
Cidadania e Gerncia na
Enfermagem (NECIGEN) na linha de pesquisa de sade do trabalhador
que tem como uma de
suas propostas, a anlise dos aspectos envolvidos na investigao e
interveno dos agravos
sade do trabalhador.
Como Aluna Efetiva do Curso de Mestrado Acadmico em Cincias do
Cuidado em
Sade (MACCS/UFF) desenvolvi o estudo junto linha de pesquisa de
cuidados coletivos em
enfermagem e sade nos seus processos educativos e de gesto, por
conter atividades de
cuidado no contexto poltico social e no processo de trabalho em
sade. Sade das populaes
vulnerveis. Gesto do cuidado e do trabalho em sade
-
16
INTRODUO
O objeto de estudo desta pesquisa o cuidado com a sade auditiva
dos motoristas de
nibus urbano.
Considerando que a comunicao um aspecto fundamental nas relaes
de trabalho,
nas quais as funes de audio, voz, fala e de linguagem precisam
estar em pleno
funcionamento em seus aspectos anatmicos e fisiolgicos para que
a mensagem que se
deseja tornar comum ao outro no seja prejudicada.
Durante a atuao profissional na rea da Audiologia Ocupacional
foi observada a
prevalncia de diagnsticos sugestivos de Perda Auditiva Induzida
por Rudo (PAIR), a falta
de conhecimento e do autocuidado no que se refere sade auditiva,
por parte dos motoristas
de nibus, o que pode representar danos a sua sade com
repercusses na qualidade do
trabalho desenvolvido.
A partir da observao emprica supracitada surgiu a inquietao
sobre a efetividade
do programa de conservao auditiva aplicado na empresa de
transporte coletivo, em relao
aos cuidados com a audio dos motoristas de nibus.
Cada vez mais nos ambientes de trabalho e sociais, a exposio ao
rudo acima dos
limites permissveis orelha humana tem se tornado um agente
presente. O dano auditivo
decorrente dessa exposio tem carter irreversvel se tornando
necessria uma conduta
preventiva sobre os riscos que permeiam a sade auditiva.
O efeito causado pela exposio ao rudo, principalmente sobre a
audio, tem sido
objeto de diversos estudos na rea da sade dos trabalhadores. As
dificuldades auditivas
ocasionadas pela exposio prolongada ao rudo intenso, quando
afetam a comunicao,
prejudicam as relaes interpessoais de seu portador, podendo
levar sensao de insucesso e
frustrao, que caracterizam as desvantagens psicossociais e que
tm importante impacto na
vida do sujeito, afetando sua vida profissional, social e
familiar (GONALVES; IGUTI,
2006).
-
17
O cuidado com a sade auditiva do trabalhador importante
instrumento para
construo de um ambiente laboral saudvel criando possibilidades
de interveno e atuao,
de modo que os impactos eminentes do risco de exposio ao rudo
intenso possam ser
amenizados e controlados.
Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS) no ano de 2005, cerca
de duzentos e
setenta e oito milhes de pessoas foram acometidas de perda
auditiva, e 80% delas vivem em
pases de baixa e mdia renda. A exposio excessiva ao rudo um dos
fatores que contribui
para esta estatstica. A OMS refere tambm que para prevenir a
perda auditiva por exposio
ao rudo, se deve reduzir a exposio, em termos profissionais e de
lazer, utilizando
equipamentos de proteo individual, medidas de controle e de
engenharia (OMS, 2010).
Outros rgos internacionais tambm chamam a ateno para esse fato,
como por
exemplo o National Institute for Occupational Safety and Helth
(NIOSH), que traz como
dados estatsticos que quatro milhes de trabalhadores nos Estados
Unidos trabalham sob
risco de exposio ao rudo diariamente, e que dez milhes de
pessoas tm perda auditiva
relacionada a tal exposio.
So contabilizados vinte e dois milhes de trabalhadores expostos
ao risco rudo,
anualmente. O Occupational Safety e Helth Administration (OSHA)
destaca que as perdas
auditivas relacionadas ao rudo foram consideradas como um dos
mais prevalentes problemas
de sade ocupacional nos ltimos vinte cinco anos nos Estados
Unidos.
No Brasil ainda no existem dados estatsticos que apontam para a
realidade dessa
problemtica. Os sistemas de informao e de fiscalizao so precrios
no possibilitando o
registro real dos casos. Considera-se tambm a existncia da
subnotificao da doena
(TELES; MEDEIROS, 2007).
A poluio sonora um dos fatores de risco ambientais que interfere
no estado de
sade das populaes. Todos os rudos provenientes de uma ou mais
fontes sonoras, ao
mesmo tempo em um ambiente, geram desconforto e podem causar
efeitos negativos sobre a
sade humana.
A urbanizao e o aumento do trfego de veculos nas vias pblicas
propiciam o
aumento dos ndices de poluio sonora para populao em geral e,
principalmente, para os
indivduos que trabalham diariamente sob o risco de exposio desta
natureza. O crescimento
urbano intensifica a necessidade de deslocamento das pessoas em
diferentes pontos das
grandes cidades, resultado da necessidade cotidiana da
populao.
-
18
O nibus ainda o transporte pblico mais utilizado por grande
parte da populao,
apesar das falhas na prestao do servio, como por exemplo, a
irregularidade de horrios e a
lotao dos veculos. Quando a qualidade do referido servio no
satisfatria h um
aumento na utilizao de automveis, vans, txis, dentre outros,
causando engarrafamentos e
contribuindo ainda mais para a poluio do ambiente.
Segundo Cocco e Silveira (2011), o sistema de transporte pblico
coletivo essencial
enquanto servio de utilidade pblica que garante a reproduo
social da fora de trabalho
mediante as interaes espaciais que efetuam, aumentando de
diversas maneiras a
produtividade do trabalho, seja diretamente, a partir do
conforto, da confiabilidade e da
segurana oferecidos pelo servio, ou indiretamente, quando este
facilita o acesso a outros
meios de consumo coletivo que potencializam e complexificam a
fora de trabalho.
O sistema de transportes no municpio do Rio de Janeiro possui
aproximadamente oito
mil e setecentos veculos, em circulao pelas vias pblicas,
administrados por quarenta e sete
empresas privadas a partir de concesso pblica. a modalidade de
transporte mais utilizada
pela populao do Rio de Janeiro (SMTR, 2011).
Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC,
2011):
medida que a cidade cresce as queixas pblicas relacionadas ao
rudo
tornam-se cada vez mais numerosas. No Rio de Janeiro, pelo menos
60% das
reclamaes recebidas pela SMAC, so relacionadas a incmodo
sonoro.
Esse percentual, em uma cidade com tantos outros focos
potenciais de
conflito ambiental, mostra com clareza a dimenso que a questo
sonora
ocupa junto a seus habitantes e sua importncia para a determinao
da
qualidade do ambiente de seus habitantes.
Os motoristas de nibus so os trabalhadores que desempenham suas
atividades nesse
ambiente pblico, no possuindo um local restrito para realizar
suas tarefas, logo esto
diariamente sujeitos s condies do clima, do trfego, trajeto das
vias, violncia urbana e
sobrecarga de rudo ambiental (BATTISTON; CRUZ; HOFFMANN,
2006).
A categoria dos motoristas de nibus urbanos tem grande
importncia social,
principalmente nas sociedades contemporneas e mais urbanizadas,
no somente pela
exposio a condies de trabalho bastante especficas, mas tambm
pela responsabilidade
coletiva de sua atividade: o transporte cotidiano de
passageiros. Em funo disso, esse grupo
vem sendo objeto frequente de estudos epidemiolgicos na rea de
sade do trabalhador e da
medicina ocupacional (BENVEGN et al, 2008).
-
19
Nesse sentido, esses profissionais necessitam de aes de preveno
e cuidado com a
sade auditiva, pois a dificuldade em ouvir ou a perda da audio
so alteraes que podem
ser evitadas por meio do acompanhamento contnuo do perfil
auditivo e da conscientizao
sobre a importncia da audio.
Diante dos fatos supracitados, foram levantadas as seguintes
hipteses para estudo:
- Existem variaes nos limiares auditivos dos motoristas de nibus
ao longo de trs
anos consecutivos;
- No existem variaes nos limiares auditivos dos motoristas de
nibus, ao longo de
trs anos consecutivos;
- Os motoristas de nibus tm conhecimento sobre os riscos de
exposio e cuidados
com a sade auditiva;
- Os motoristas de nibus no tm conhecimento sobre os riscos de
exposio e
cuidados com a sade auditiva.
Para responder as hipteses levantadas, foram traados como
objetivos:
1 Identificar a ocorrncia de variaes nos limiares auditivos dos
motoristas de
nibus urbano, atravs do cadastro audiomtrico dos exames
ocupacionais, ao longo de trs
anos consecutivos;
2 Verificar os saberes dos motoristas de nibus urbano, em relao
aos riscos de
exposio ao rudo e sobre o cuidado com sua sade auditiva;
3 - Descrever o Programa de Conservao Auditiva da Empresa de
Transporte
Coletivo;
4 - Discutir aes de cuidado com a sade auditiva para compor o
Programa de
Conservao Auditiva.
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20
CAPTULO I
FUNDAMENTAO TERICA
1. A AUDIO E O SISTEMA AUDITIVO
por meio da audio que se ouve e se percebe os sons gerados no
ambiente. A
audio considerada essencial para os indivduos, pois a base da
comunicao humana.
Alm disso, a formao e o desenvolvimento da fala e da linguagem
esto diretamente ligados
a um bom funcionamento de tal sentido.
A audio ocorre por meio do sistema auditivo, que constitudo por
estruturas
sensoriais e conexes. Esse sistema pode ser dividido em duas
pores distintas, mas inter-
relacionadas que so: sistema auditivo perifrico e sistema
auditivo central.
O sistema auditivo perifrico compreende estruturas da orelha
externa, orelha mdia e
orelha interna e do sistema nervoso perifrico, no qual ocorre a
captao e transmisso da
onda sonora pela orelha externa, a transduo sonora na membrana
timpnica, cadeia
ossicular e msculos intratimpnicos (orelha mdia) e o
processamento da informao
auditiva na cclea e poro coclear do nervo vestbulo coclear
(orelha interna e sistema
nervoso perifrico) (BONALDI, 2011, p. 5).
O sistema auditivo central se refere s vias auditivas
localizadas no tronco enceflico e
reas corticais, onde o processamento das informaes sonoras
realizado. Os impulsos
nervosos so transmitidos pelas fibras do VIII nervo craniano
para os ncleos cocleares,
tronco enceflico, tlamo e crtex (TEIXEIRA; GRIZ, 2011, p.
17).
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21
1.1.1 Estruturas perifricas do sistema auditivo
A orelha externa a parte do sistema auditivo que protege,
absorve e transforma a
energia das ondas acsticas em energia mecnica vibratria. Coleta
e dirige as ondas sonoras
atravs do meato acstico externo at a membrana timpnica.
constituda pelo pavilho
auricular e meato acstico externo que so as partes cartilagnea e
ssea.
A comunicao entre as orelhas mdia e interna e o ambiente externo
realizada pelo
meato acstico externo, que tem a funo bsica de conduzir os sons
at a membrana
timpnica. O meato acstico e o pavilho auricular possuem
propriedades acsticas
interessantes para fisiologia da audio, pois aumentam o efeito
da sombra sonora e, tambm
aumentam nossa sensibilidade aos sons (ZEMLIN, 2000).
A orelha mdia representada pela cavidade timpnica onde se
encontra a cadeia
ossicular (martelo, bigorna e estribo), articulada entre si com
seus msculos e ligamentos, a
tuba auditiva, o adito, o antro e as clulas mastideas. um
transformador de impedncia
altamente eficiente que possibilita a transmisso adequada das
vibraes areas aos lquidos
labirnticos (MUNHOZ et al, 2003).
A orelha interna localiza-se na poro petrosa do osso temporal, e
pode ser dividida
em dois sistemas de cavidades: um que abriga os rgos do
equilbrio e o outro que protege os
rgos essenciais da audio. Os sistemas so denominados de
labirinto sseo e labirinto
membranoso.
No labirinto sseo est localizada a cclea que possui funo
auditiva, o vestbulo e os
canais semicirculares (anterior, posterior e lateral) que
possuem funo de deteco e
orientao da cabea no espao. Dentro do labirinto sseo localiza-se
o labirinto membranoso,
e o espao entre eles preenchido pela perlinfa (rica em sdio), no
labirinto membranoso
encontra-se a endolinfa (rica em potssio) que constitudo pelo
ducto coclear, sculo e
utrculo, ducto e saco endolinftico (SANTOS; RUSSO, 2009).
Na orelha interna est localizada a cclea, estrutura muito
importante para o estudo da
PAIR, pois nela que est localizado o rgo de Corti, formado pela
membrana tectria, pelas
clulas de sustentao e clulas ciliadas que podem ser lesadas pela
exposio a nveis
elevados de presso sonora.
As clulas ciliadas so as clulas sensoriais, destinadas
transformao das ondas
sonoras em impulsos nervosos. Devido ao seu posicionamento no
ducto coclear podem ser
chamadas de clulas ciliadas internas e externas. (BONALDI, 2011,
p. 11).
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22
As caractersticas das clulas ciliadas lhes permitem movimentos
que repercutem
sobre a lmina basilar e a estrutura do ducto coclear. Essas
clulas possuem protenas
contrteis como, por exemplo, actina, miosina e um sistema de
cisternas laminadas ao longo
de todo comprimento da clula. Esse sistema de cisternas ajuda a
manter a forma da clula,
integridade estrutural e ainda funciona como uma fora elstica.
Elas se encurtam quando
polarizadas e se estendem quando hiperpolarizadas. (BONALDI,
2011, p. 12).
As clulas ciliadas externas constituem o amplificador coclear,
que por meio da
inclinao de seus clios amplifica o estmulo para determinar a
deflexo dos clios das clulas
ciliadas internas que so receptoras e codificadoras cocleares,
transmitindo a informao
sonora codificada da cclea para os ncleos cocleares e destes
para o crtex auditivo
(BONALDI, 2011, p. 13).
1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo
Os centros auditivos do tronco cerebral desempenham funes
importantes na
determinao da direo de onde vem o som e, ao mesmo tempo, no
direcionamento da
cabea e dos olhos na mesma direo. No crtex auditivo so
analisados as caractersticas
tonais e o significado dos sons.
Os sinais auditivos chegam ao crebro pelo componente coclear do
oitavo par
craniano, o nervo vestbulo coclear, que termina nos ncleos
cocleares do tronco cerebral. Os
sinais so transmitidos pelo ncleo olivar superior, colculo
inferior do tronco cerebral, corpo
geniculado medial do tlamo, e finalmente, para o crtex auditivo
(TEIXEIRA; GRIZ, 2011).
1.1.3 Alteraes no sistema auditivo
Quando o sistema auditivo tem algum dano, seja de carter
hereditrio ou adquirido,
pode ser considerado que o indivduo portador de uma deficincia
auditiva ou surdez.
A incapacidade de ouvir reflete na dificuldade de se adquirir
linguagem e,
consequentemente, afeta sua capacidade de comunicao que um
instrumento necessrio
para a execuo das atividades sociais pertinentes ao ser
humano.
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23
A deficincia auditiva diz respeito perda total ou parcial da
capacidade de ouvir, que
pode ser causada por problemas na gestao e no parto como, por
exemplo: prematuridade;
doenas infecciosas como rubola, meningite, sarampo; infeces
crnicas nos ouvidos e
utilizao inadequada de medicamentos ototxicos.
A deficincia auditiva pode surgir em qualquer fase da vida do
indivduo, desde a
gestao, na infncia ou at mesmo, na vida adulta.
O rudo excessivo, incluindo a exposio no ambiente de trabalho um
agente
causador de perda auditiva, principalmente na fase adulta, pois
alm de causar um nus social
e econmico sobre o indivduo que adquiriu a perda auditiva,
dificulta sua relao com a
famlia e no trabalho.
comum a pessoa se isolar e no querer participar de grupos
sociais o que afeta
diretamente a sua qualidade de vida. Alm disso, muitas vezes,
por questes financeiras,
algumas pessoas, principalmente os trabalhadores, no possuem
condies de adquirir um
Aparelho de Amplificao Sonora Individual (AASI), o que contribui
ainda mais para a
sensao de solido, frustrao e incapacidade.
Segundo Seligman (1997), as leses da orelha interna resultantes
da exposio ao
rudo levam ao esgotamento fsico e a alteraes qumicas, metablicas
e mecnicas do rgo
sensorial auditivo, refletindo na leso das clulas ciliadas
(externas e internas), com leso
parcial ou total do rgo de Corti. A exposio pode apresentar-se
da seguinte forma:
1. Por exposio aguda; Trauma Sonoro e Mudana Temporria no Limiar
(TTS -
Temporary Threshold Shift)
2. Por exposio Crnica - Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR)
ou Mudana
Permanente no Limiar (PTS - Permanente Threshold Shift)
A PAIR1 o agravo mais conhecido quando a exposio ao rudo
evidenciada. De
forma geral h um reconhecimento da sociedade e da comunidade
cientfica de que a
exposio contnua ao rudo pode causar danos audio.
Alm disso, alguns sintomas associados perda auditiva podem
surgir como, por
exemplo, a intolerncia a sons intensos e o zumbido que
considerado o mais frequente deles.
O Ministrio da Sade define a PAIR como a perda provocada pela
exposio, por
tempo prolongado, ao rudo. Configura-se como uma perda auditiva
do tipo neurossensorial,
geralmente bilateral, irreversvel e progressiva com o tempo de
exposio ao rudo (CID 10
1 Apesar da portaria 19(1998) anexo I da Norma Regulamentadora n
7 sugerir o termo perda auditiva induzida
por nveis de presso sonora elevados (PAINPSE), neste estudo
optou-se em utilizar o termo PAIR, por ser mais
difundido e conhecido em meio aos profissionais de sade,
engenharia e segurana e para os trabalhadores.
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24
H 83.3). Consideram-se como sinnimos: perda auditiva por exposio
ao rudo no trabalho,
perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia
ocupacional, perda auditiva
induzida por nveis elevados de presso sonora, perda auditiva
induzida por rudo
ocupacional, perda auditiva neurossensorial por exposio
continuada a nveis elevados de
presso sonora de origem ocupacional (BRASIL, 2006).
O cuidado com a da sade auditiva das populaes, principalmente
dos trabalhadores
que diariamente esto vulnerveis exposio do rudo ocupacional,
deve ser considerado de
fundamental importncia. A preveno e o desenvolvimento de aes
para o controle,
eliminao ou diminuio do risco precisam ser priorizados
objetivando a construo de
ambientes saudveis, auditivamente.
1.1.4 Avaliao do sistema auditivo
So muitos os testes e exames utilizados para avaliar a audio. O
que deve ser
considerado a especificidade do que se deseja inferir. A avaliao
audiolgica composta
por procedimentos comportamentais, eletroacsticos e
eletrofisiolgicos.
Segundo Santos e Russo (2009, p. 68), medir a audio pode
referir-se em primeiro
lugar aos parmetros de intensidade e de altura do tom, s
qualidades do timbre, da durao,
s condies de origem e direo da fonte sonora.
Durante a realizao de um exame auditivo dois fenmenos so
observados: o evento
fsico, objetivo, mensurvel e o evento psicofsico, que o
resultado da sensao que o
estmulo produz a uma pessoa, sendo, portanto, um fenmeno
subjetivo.
Na avaliao audiolgica, a audiometria tonal considerada como a
mais
fundamental, representando o primeiro teste de bateria bsica.
Avalia todo sistema auditivo,
pois a resposta da pessoa depende da compreenso sobre o
procedimento do exame e a
elaborao de uma resposta, no sendo, portanto avaliado, apenas o
rgo da audio.
O objetivo da audiometria tonal liminar a determinao dos
limiares de audibilidade,
isto , verificar o mnimo de intensidade sonora necessria para
provocar a sensao auditiva
e comparar os valores com o padro considerado dentro da
normalidade (SANTOS; RUSSO,
2009).
A finalidade da determinao dos limiares de audibilidade de vrias
ordens tais
como: detectar a existncia de perda auditiva em crianas, adultos
e idosos; auxiliar o
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25
topodiagnstico das leses auditivas que possam atingir as orelhas
externa mdia ou interna;
determinar o tipo de perda auditiva; servir como exame
admissional, peridico e demissional
para trabalhadores expostos a rudo em programas de conservao
auditiva; entre outros
(SANTOS; RUSSO, 2009).
Ao longo do tempo, vrias propostas de classificao para perda
auditiva foram
adotadas, porm atualmente, a proposta recomendada a que consta
nas Portarias 587/2004 e
589/2004 do Ministrio da Sade que determina as diretrizes
nacionais para polticas pblicas
da sade auditiva, recomendada pela Organizao Mundial de Sade
(OMS) no ano de 1997,
que utilizam as mdias das frequncias de 500 Hz, 1000 Hz, 2000 Hz
e 4000 Hz (LOPES,
2011, p. 76).
Quadro 1 Classificao do nvel de audio.
NVEL DE
AUDIO
MDIA DAS
FREQUNCIAS DE
500, 1, 2, E 4 KHz
CARACTERSTICAS
RECOMENDAES
Audio Normal
0 a 25 dB No tem problemas
auditivos. Capaz de ouvir
sussurros
Cuidado com audio.
Perda de Audio
Leve
26-40 dB
Capaz de ouvir e repetir
palavras faladas em voz
normal, at 1 metro de
distncia
O uso de AASI pode ser
recomendado.
Perda de Audio
Moderada
41-60 dB
Capaz de ouvir e repetir
palavras faladas em voz
alta, at 1 metro de
distncia
Recomenda-se o uso de
AASI
Perda de Audio
Severa
61-80 dB
Capaz de ouvir e repetir
palavras faladas em voz alta
(gritando) direcionando
para a orelha melhor.
Necessrio o uso de AASI.
Recomenda-se o uso da
lngua de sinais e leitura
labial.
Perda de Audio
Profunda
Maior que 81dB
Incapacidade em ouvir e
compreender palavras
faladas em voz muito alta
(gritando).
Necessrio o uso de AASI.
Recomenda-se o uso da
lngua de sinais e leitura
labial.
Em se tratando de audiometrias ocupacionais, o Conselho Federal
e os Regionais de
Fonoaudiologia (2009), atravs de um guia de orientaes sobre
audiometria tonal,
logoaudiometria e medidas de imitncia acstica trouxeram
informaes aos fonoaudilogos
de que os laudos das audiometrias, tanto de referncia quanto
sequenciais, deveriam conter
Fonte: Organizao Mundial da Sade, 2005
-
26
descries do tipo, grau e configurao audiomtrica, sempre com base
na literatura cientfica
e, principalmente, sem utilizar classificao de frequncia isolada
em termos de grau, uma vez
que no h referncia da literatura para tal. Ressaltaram, ainda,
que os laudos dos exames
ocupacionais devem conter todas as determinaes da Portaria n 19
do Ministrio do
Trabalho e Emprego - MTE, 1998, Anexo 1(A) ou da legislao
vigente.
Entende-se como audiometria de referncia o exame realizado
quando ainda no se
possui um exame audiomtrico prvio que, geralmente, so os exames
admissionais. Os
exames que sero realizados posteriormente so considerados exames
sequenciais. Esses
exames devem ser comparados, porm, quando algum exame
audiomtrico sequencial
apresenta alterao em relao ao de referncia, este passa a ser o
novo exame audiomtrico
de referncia. Os exames anteriores passam a constituir o
histrico evolutivo da audio do
trabalhador.
A interpretao do resultado do exame audiomtrico com finalidade
de preveno em
conformidade com a Portaria 19 - MTE, 1998, Anexo 1(A) segue os
seguintes parmetros:
- Dentro dos limites aceitveis: os audiogramas com limiares
auditivos menores ou
iguais a 25 dB (NA), em todas as frequncias examinadas.
- Sugestivos de PAIR: audiogramas que nas frequncias de 3.000
Hz, e/ou 4.000 Hz,
e/ou 6.000 Hz apresentam limiares auditivos acima de 25 dB (NA)
e mais elevados do que nas
outras frequncias testadas, estando estas comprometidas ou no,
tanto no teste da via area
quanto da via ssea, em um ou em ambos os lados.
- No sugestivos de PAIR: audiogramas com piora nos limiares
auditivos do exame
sequencial no caractersticos de PAIR. Como por exemplo: sinais
de acometimento
condutivo ou misto, ou leso neurossensorial, mas com limiares
tonais igualmente
comprometidos ou mais elevados nas freqncias mais baixas.
- Sugestivos de desencadeamento de PAIR: quando o exame de
referncia est dentro
dos padres aceitveis, mas a comparao com audiograma sequencial
apresenta piora nas
freqncias de 3.000 Hz, 4.000 Hz, e/ou 6.000 Hz.
Essa piora considerada quando ocorre a diferena entre as mdias
aritmticas dos
limiares auditivos no grupo de frequncias de 3.000 Hz, 4.000Hz e
6.000 Hz igualando ou
ultrapassando 10 dB (NA) ou a piora em pelo menos uma das
freqncias de 3.000Hz,
4.000Hz ou 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 15 dB (NA).
- Sugestivos de agravamento de PAIR: quando o exame de referncia
j apresenta
configurao compatvel com PAIR e h piora em 3.000 Hz, 4.000Hz e
6.000 Hz no exame
sequencial.
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27
Essa piora considerada quando ocorre a diferena entre as mdias
aritmticas dos
limiares auditivos no grupo de freqncia de 500 Hz, 1.000Hz e
2.000 Hz, ou no grupo de
freqncias de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz igualando ou ultrapassando
10 dB (NA) e a piora em
uma freqncia isolada igualando ou ultrapassado 15 dB (NA).
- Estvel em relao ao de referncia: Quando os limiares auditivos
no apresentam as
diferenas citadas anteriormente.
A avaliao audiolgica peridica permite o acompanhamento da
progresso da perda
auditiva, que pode variar de acordo com a intensidade e com o
tempo de exposio, alm da
suscetibilidade individual. A velocidade da progresso da perda
auditiva determina a eficcia
das medidas de proteo que devem ser aplicadas (MINISTRIO DA
SADE, 2006).
1.2 CONSIDERAES SOBRE A EXPOSIO AO RUDO E A PAIR
O som originado por uma vibrao mecnica que se propaga no ar
estimulando o
sistema auditivo. transmitido de forma ondulatria, sendo que a
velocidade dessa
transmisso depende das caractersticas da onda no meio que se
propaga. Portanto, o som
definido como qualquer vibrao, conjunto de vibraes ou ondas
mecnicas que podem ser
ouvidas (SALIBA, 2009).
O rudo basicamente todo som que no desejado ou perturbador.
Todos os sons que
se ouve podem ser classificados como rudo, desde que sejam
indesejados por outros
indivduos que venham a capt-los. O rudo pode ser considerado
como sinal acstico que
influencia o bem estar fsico e mental do indivduo (RUSSO,
1993).
Saliba (2009, p. 18) registra que:
O rudo o fenmeno fsico vibratrio com caractersticas indefinidas
de
variaes de presso (no caso ar) em funo da freqncia, isto ,
para
determinada freqncia podem existir, em forma aleatria atravs do
tempo,
variaes de diferentes presses.
Dentre as diversas causas de poluio, ressalta-se que o rudo
proveniente de veculos
de transportes, atividades laborativas e de lazer tem contribudo
para colocar a poluio
sonora como a terceira causa de poluio no mundo, perdendo apenas
para o ar e a gua. Tal
fato representa, entre outros, um risco para audio de toda a
populao (FIORINI, 2000).
-
28
Os sintomas no auditivos tambm podem surgir devido exposio ao
rudo. Os
efeitos no auditivos causados pela exposio, atualmente, vem
recebendo ateno por parte
dos pesquisadores.
Ibaez, Schneider e Seligman (2001, p. 48) descrevem que os
sintomas no auditivos
relacionadas exposio podem ser de neurolgicas, vestibulares,
digestivos e
comportamentais que atingem comunicao e causam distrbios do
sono.
Segundo Fiorini (2004) as consequncias da exposio ao rudo podem
ser de duas
ordens: efeitos na audio e efeitos gerais. Essa exposio pode
perturbar o trabalho, o
descanso, o sono, a comunicao nos seres humanos, causar dficit
na audio, provocar
reaes psicolgicas, fisiolgicas e at patolgicas.
Petian (2008) buscou estimar a prevalncia do incmodo causado
pelo rudo em
trabalhadores de estabelecimentos comerciais no municpio de So
Paulo. Detectou-se que o
incmodo relacionado ao rudo no local de trabalho foi estimado em
62,5%. Foi ressaltado
que o local de trabalho era ruidoso 65,75% dos trabalhadores e,
62% que o rudo do trfego
no local de trabalho era incmodo. Com os resultados deste estudo
pode-se inferir que os
trabalhadores conheciam tanto o risco fsico do rudo, quanto o
incmodo que ele pode
causar. Os trabalhadores relataram que o rudo poderia causar ou
agravar alguns problemas de
sade, principalmente a perda auditiva, estresse e
irritabilidade.
Benvegn et al (2008) observaram a existncia de uma associao
significativa entre
os problemas psiquitricos menores e a hipertenso em motoristas
de nibus na cidade de
Santa Maria no Rio Grande do Sul. Esse achado parece reforar a
hiptese da associao entre
estresse e problemas psicolgicos com hipertenso.
No estudo de Lacerda et al (2010) concluiu-se que as queixas
mais frequentes
relacionadas audio entre os motoristas de nibus foi o zumbido e
a sensao de plenitude
auricular.
Ogido, Andrade Costa e Machado (2009), em um estudo relacionado
com sintomas
auditivos e vestibulares causados pela exposio ao rudo,
concluram que as disfunes
auditivas so queixas constantes na populao atendida em um centro
de referncia de sade
ocupacional de Campinas (SP), reforando a necessidade permanente
da adoo de medidas
preventivas em relao exposio ao rudo, tanto coletivas quanto
individuais.
O Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva publicou seu
posicionamento
sobre a PAIR em seu primeiro boletim em 1994, revisto em 1999
definindo-a da seguinte
maneira:
-
29
A perda auditiva induzida pelo rudo relacionada ao trabalho,
diferentemente do
trauma acstico uma diminuio gradual da acuidade auditiva,
decorrente da exposio
continuada a elevados nveis de presso sonora. As caractersticas
principais so:
- Na maioria das vezes sempre neurossensorial, em razo do dano
causado as clulas
do rgo de Corti.
- Uma vez instalada irreversvel e, quase sempre, similar
bilateralmente.
- Raramente leva perda auditiva profunda, pois, no ultrapassa os
40 dB nas
frequncias baixas e mdias e os 75 dB nas frequncias altas.
- Manifesta-se primeira e predominantemente nas frequncias de
6.000 Hz, 4.000 Hz,
e 3.000 Hz, com agravamento da leso, estende-se s frequncias de
8.000 Hz, 2.000 Hz,
1.000 Hz, 500 Hz e 250 Hz, as quais levam mais tempo para serem
comprometidas.
- Tratando-se de uma doena predominantemente coclear, o portador
da PAIR pode
apresentar intolerncia a sons intensos, zumbidos, alm de ter
comprometida a inteligibilidade
da fala, em prejuzo do processo de comunicao.
- Uma vez cessada a exposio ao rudo provavelmente no haver a
progresso da
PAIR.
- influenciada principalmente, pelas caractersticas fsicas do
rudo, como o tipo, o
espectro e o nvel de presso sonora, pelo tempo de exposio e pela
suscetibilidade
individual.
- Geralmente atinge o nvel mximo para as frequncias de 3.000 Hz,
4.000Hz e 6.000
Hz nos primeiros dez a quinze anos de exposio, sob condies
estveis de rudo. Com o
passar do tempo, a progresso da leso se torna mais lenta.
- PAIR relacionada ao trabalho no torna o ouvido mais sensvel a
futuras exposies.
- O diagnstico nosolgico de PAIR relacionada ao trabalho somente
pode ser
estabelecido, por meio de um conjunto de procedimentos que
envolvam anamnese clnica e
ocupacional, exame fsico, avaliao audiolgica e, se necessrio,
exames complementares.
Esse diagnstico realizado pelo mdico do trabalho.
- Pode ser agravada pela exposio simultnea a outros agentes,
como produtos
qumicos e vibraes.
- uma doena passvel de preveno e pode acarretar ao trabalhador
alteraes
funcionais e psicossociais capazes de comprometer sua qualidade
de vida.
A possibilidade de prevalncia de PAIR um fato eminente, portanto
h uma
necessidade de no apenas realizar audiometrias ocupacionais
pontuais, mas tambm de
monitorar a audio dos trabalhadores de forma longitudinal, como
parte de um programa de
-
30
conservao auditiva. Resultados encontrados em estudos
relacionados prevalncia de PAIR
contriburam para melhor compreenso do comportamento de algumas
das principais
caractersticas relacionadas doena, em uma situao particular de
organizao do trabalho,
relativamente comum nas indstrias brasileiras (GUERRA et al,
2005 ; TELES; MEDEIROS,
2007).
1.3 A SADE DO TRABALHADOR E A ATUAO FONOAUDIOLGICA
O trabalho humano um importante componente para evoluo social e
econmica de
uma sociedade. Atravs dele o homem garante sua subsistncia e da
sua famlia e deve se
sentir satisfeito em suas atividades laborais, pois atravs delas
que colhe os resultados de
seu prprio esforo. Trabalhar deve ser algo prazeroso que traga
satisfao pessoal e
profissional ao indivduo (RODRIGUES et al, 2012).
Na sociedade brasileira, o trabalho mediador de integrao social,
tanto por seu valor
econmico quanto cultural tendo assim, importncia fundamental no
modo de vida das
pessoas e na sua sade fsica e mental. Fica claro que os
trabalhadores, tanto individualmente
como coletivamente, devem estar cientes do desgaste sofrido e
que se no bem administrado
pode desencadear processos patolgicos (TRINDADE et al,
2006).
Cuidar da sade do trabalhador buscar espaos e condies de
trabalho saudveis
fazendo com que sua atividade diria seja menos prejudicial para
ele, tanto no campo fsico
quanto no campo psquico. Dejours e Abdoucheli (2007, p. 125) ao
citarem as condies de
trabalho fazem referncia como presses fsicas, mecnicas, qumicas
e biolgicas do posto
de trabalho, onde os corpos dos trabalhadores so afetados,
ocasionando a eles desgaste,
envelhecimento e doenas somticas.
O campo da sade do trabalhador no Brasil passou a ser competncia
da Unio a partir
da constituio de 1988, atravs do Sistema nico de Sade (SUS). Em
algumas cidades, h o
incremento de Programas de Sade do Trabalhador na rede pblica,
na perspectiva da Sade
Coletiva, estruturando-se aes de assistncia e vigilncia em sade
dos trabalhadores, com
caracterstica interdisciplinar e interinstitucional (GONALVES,
2009).
Segundo Lacaz (2007) a sade do trabalhador campo de prticas e
conhecimentos
cujo enfoque terico-metodolgico, no Brasil, emerge da Sade
Coletiva, buscando conhecer
e intervir nas relaes de trabalho e de sade-doena.
-
31
A abordagem de riscos sade do trabalhador permite que o controle
de causas de
acidentes, sejam agentes fsicos, qumicos e biolgicos causadores
de agravos, esforos
fsicos e sobrecargas mentais. Essa interveno se efetiva
basicamente no campo tecnolgico,
mas tem consequncias sobre a sade, que devem ser acompanhadas,
por meio de indicadores
sociais e sanitrios (MACHADO, 1997).
Trabalhar integradamente as questes relacionadas sade do
trabalhador e ao meio
ambiente um passo fundamental para se desenvolver novas
abordagens terico-
metodolgicas que possibilitem avanar nos processos de anlise e
interveno sobre as
situaes e eventos de riscos que so colocados para trabalhadores
e o meio ambiente como
um todo (PORTO; FREITAS, 1997).
Segundo Mendes e Dias (1991), o objeto da sade do trabalhador
pode ser definido
como o processo sade e doena dos grupos humanos, em sua relao
com o trabalho.
Representa um esforo de compreenso desse processo, como e porque
ocorre, e do
desenvolvimento de alternativas de interveno que levem
transformao em direo
apropriao pelos trabalhadores e dimenso humana do trabalho, numa
perspectiva
teleolgica.
Segundo Gonalves (2004), a ao do fonoaudilogo em sade do
trabalhador deve
visar comunicao efetiva do mesmo, garantida pela audio
preservada. Tal ao
promotora da sade, pois no se identificam os problemas auditivos
unicamente, mas so
analisadas as formas como eles acontecem, permitindo aes para
evit-los e que iro
repercutir na melhoria da qualidade de vida do trabalhador.
A atuao fonoaudiolgica engloba aes de promoo, proteo e recuperao
da
sade nos diversos aspectos relacionados comunicao humana em todo
o ciclo vital, se
inserindo em unidades bsicas de sade, ambulatrios de
especialidades, hospitais, unidades
educacionais, domiclios e outros recursos da comunidade (LIPAY;
ALMEIDA, 2007).
O fonoaudilogo o profissional capacitado para avaliar,
diagnosticar e atuar no
sentido da preveno, atravs dos seus conhecimentos sobre os
agentes de risco sade, do
local ou rgo que pode ser lesionado e atravs da realizao dos
exames audiolgicos. A
principal caracterstica profissional do fonoaudilogo a sua atuao
multidisciplinar por
possuir conhecimentos de outras reas como fsica acstica,
audiologia e educao,
permitindo uma atuao preventiva da perda auditiva em vrias
circunstncias (MORATA;
ZUCKI, 2005, p.25).
-
32
A ao do fonoaudilogo na rea da sade do trabalhador, bem como
o
estabelecimento e a consolidao desse mercado de trabalho partiu
do pioneirismo e da
determinao de alguns profissionais em um momento poltico
propcio. Espera-se que uma
trajetria similar desponte junto sade ambiental (MORATA; ZUCKI
2005, p.26).
Conforme descrito no Boletim n 2 do Comit Nacional de Rudo, no
que tange
avaliao audiolgica do trabalhador exposto a rudo, um dos
requisitos para confiabilidade
dos resultados da audiometria tonal limiar que alm de ser
obrigatrio por lei o exame
realizado por profissional legalmente habilitado, isto , o
fonoaudilogo ou o mdico
(NUDELMANN et al, 2001).
Os agravos pertinentes atuao do fonoaudilogo na sade do
trabalhador so a
PAIR e os distrbios da voz relacionados ao trabalho (DVRT). A
notificao dos casos de
PAIR obrigatria no Estado do Rio de Janeiro desde 2003, de
acordo com a resoluo da
SES n 2.075, e nacionalmente desde 2004, conforme a Portaria
GM/MS n 777. (REDE
NACIONAL DE ATENO INTEGRAL SADE DO TRABALHADOR, 2010).
A notificao de agravos da atuao fonoaudiolgica vem
acontecendo
gradativamente. Os profissionais envolvidos ainda precisam se
conscientizar da importncia
dessa atividade. Essa notificao importante para produo de dados
epidemiolgicos que
embasem as medidas de controle e preveno das doenas relacionadas
ao trabalho.
Partindo do princpio de que a fonoaudiologia uma rea que vem
avanando no
conhecimento cientfico e na atuao no campo da sade do
trabalhador, cabe ressaltar o
quanto se faz necessrio a insero deste profissional nas equipes
de servio especializado em
Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho SESMT.
Rodrigues e Silvino (2010) ao realizarem uma reviso na
literatura sobre a exposio
ao rudo relacionada sade auditiva verificaram que o maior nmero
de produes dentro
desse eixo temtico se concentra entre os profissionais mdicos e
fonoaudilogos. Tal anlise
permitiu perceber a visibilidade da trajetria percorrida pela
fonoaudiologia nessa temtica.
O Conselho Federal de Fonoaudiologia (2011) e instituies afins
estudam a
possibilidade de incluso da Fonoaudiologia do Trabalho como uma
rea de especialidade da
profisso.
Normalmente, o que se observa nas empresas onde os funcionrios
esto sob o risco
de exposio ao rudo, com necessidade de monitoramento da audio a
atuao do
fonoaudilogo como prestador de servios ou como terceirizado.
-
33
Se em cada instituio tivesse um fonoaudilogo atuando
integradamente com a
equipe das reas mdica, de engenharia e de segurana atravs do
desenvolvimento de aes
para prevenir os agravos sade, possivelmente os trabalhadores e
a instituio seriam
beneficiados, na perspectiva de minimizar as doenas
ocupacionais, bem como proteger a
integridade auditiva do trabalhador.
1.4 PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA
Para se evitar o impacto negativo do rudo sobre a qualidade de
vida do trabalhador
necessria a implantao de medidas preventivas. O objetivo de um
Programa de Conservao
Auditiva (PCA) deve ser a preservao da audio, por meio da
identificao de riscos,
monitoramento auditivo, medidas de proteo contra o rudo e
medidas educativas
(GONALVES, 2004).
A finalidade de um PCA estabelecer procedimentos adequados de
gerenciamento das
medidas de controle de exposio ocupacional ao rudo. Como
qualquer programa, a
eficincia do PCA depende do comprometimento de todas as pessoas
envolvidas em sua
elaborao e execuo.
Segundo Saldanha Jnior (2009, p. 13):
As atividades do PCA devem ser reavaliadas periodicamente
visando ao
aprimoramento e adequao em relao s modificaes que possam
ocorrer na empresa, seja por demanda dos processos produtivos,
seja pela
reorganizao do trabalho, ou ainda, por mudanas da legislao ou
dos
riscos ocupacionais.
Em 1965, no Brasil o Ministrio do Trabalho e Previdncia Social
estabelece atravs
da portaria n 491, no seu art. 2 que a eliminao da insalubridade
poderia ocorrer pela
aplicao de medidas de proteo coletiva ou individual. Ainda na
portaria n 491, em seu
anexo onze, os quadros com descrio dos agentes insalubres e
respectivos graus de
insalubridade eram demonstrados. Um desses quadros j mencionava
sobre os trabalhos em
ambiente com excesso de rudo, no especificando, entretanto, as
medidas de proteo contra
a exposio ao rudo. (KWITKO, 2001).
Em 1967 (Decreto Lei n 229), enfocando a exposio ao rudo,
destacou:
obrigatoriedade das empresas quanto ao fornecimento de
equipamentos de proteo
-
34
individual aos empregados gratuitamente e o uso dos EPI sendo
obrigatrio para os
empregados e tambm ficou impedida a comercializao de qualquer
equipamento de
proteo individual sem aprovao certificada pela segurana e
higiene do trabalho. Tornou-
se obrigatrio a realizao de exame mdico na admisso, peridicos e
em atividades
insalubres, alm da renovao semestral. Em 1978, a portaria n
3.214 aprova as normas
regulamentadoras (KWITKO, 2001).
No que se diz respeito exposio ao rudo na sade do trabalhador,
verifica-se que a
primeira obrigao legal surgiu em 1978, com a Portaria 3.214 e
suas Normas
Regulamentadoras, sendo que a manuteno obrigatria da sade
auditiva, por meio de
audiometrias, surgiu em 1983 com a Portaria n 12. A obrigao em
manter o Programa de
Preveno de Riscos Ambientais (PPRA) surgiu em 1994 com a
Portaria n 25 (KWITKO,
2001).
No Brasil cabe ao Ministrio do Trabalho (MTB) a funo de
regulamentar a
Legislao Trabalhista e a Fundao Jorge Duprat Figueiredo, de
Segurana e Medicina do
Trabalho (FUNDACENTRO), a realizao de estudos e pesquisas
pertinentes aos problemas
de segurana, higiene, meio ambiente e medicina do trabalho
relacionada promoo das
melhorias das condies de trabalho, alm de subsidiar a elaborao e
reviso das normas
regulamentadoras. As Normas Regulamentadoras (NR), at o momento
so trinta e quatro
dispondo sobre os servios especializados em engenharia de
segurana e medicina do
trabalho.
Na NR 7 esto descritas as especificaes do Programa de Controle
Mdico de Sade
Ocupacional - PCMSO que estabelece a obrigatoriedade de elaborao
e implementao do
programa com objetivo de promoo e preservao da sade dos seus
trabalhadores
(BRASIL, 1978).
Encontramos como parte integrante desta NR a Portaria 19 que tem
como objetivo:
Estabelecer diretrizes e parmetros mnimos para a avaliao e o
acompanhamento da audio do trabalhador atravs da realizao de
exames
audiolgicos de referncia e seqenciais; fornecer subsdios para a
adoo de
programas que visem preveno da PAIR e a conservao da sade
auditiva dos trabalhadores. (Portaria SSST, 1998)
Na portaria supracitada tambm foram estabelecidos: a definio e a
caracterizao da
PAIR; os princpios e os procedimentos bsicos para realizao do
exame audiomtrico; a
interpretao dos resultados do exame audiomtrico com finalidade
de preveno; os
parmetros para diagnstico da PAIR para definio da aptido ao
trabalho e as condutas
preventivas.
-
35
A NR 9 - Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA, visa
preservao
da sade e da integridade fsica dos trabalhadores, atravs da
antecipao, reconhecimento,
avaliao e consequente controle da ocorrncia de riscos ambientais
existentes ou que venham
a existir no ambiente de trabalho, tendo em considerao a proteo
do meio ambiente e dos
recursos naturais. Ministrio do trabalho (BRASIL, 1978).
Na NR 15 (Lei 6.515 de 22/12/1977) esto descritas em seu anexo
1: as atividades, as
operaes e os agentes insalubres, alm dos limites de tolerncia,
de cada risco, inclusive os
tempos mximos de exposio permitida aos diversos nveis de
intensidade sonora. Define
tambm, as situaes que, quando vivenciadas nos ambientes de
trabalho pelos trabalhadores,
caracterizam seu exerccio insalubre (BRASIL, 1978).
Saldanha Jnior (2009) props em seu estudo a realizao um
protocolo de auditoria
para PCA, de acordo com a legislao brasileira onde concluiu que
embora a Legislao
Brasileira tenha avanado nas ltimas duas dcadas, no que diz
respeito s aes relacionadas
conservao auditiva nos ambientes de trabalho, ainda hoje muitas
empresas no possuem o
conjunto de aes coordenadas de forma necessria para garantir a
eficcia do PCA, tanto do
ponto de vista preventivo, quanto no que diz respeito ateno do
trabalhador.
Miranda e Dias (2004) ao realizarem um estudo sobre a inspeo e
auditoria PPRA e
PCMSO em empresas dos ramos da indstria, servios e comrcio
constataram que entre as
vinte e oito empresas que elaboraram o PPRA, vinte e seis
(92,9%) delas apresentaram algum
tipo de inconsistncia dos dados em seu programa, por estarem
incorretos ou por no terem
qualidade. Analisando-as conforme os riscos ocupacionais,
verificou-se que em 82,1% dos
casos, as inconsistncias relacionavam-se com os riscos fsicos
como, por exemplo, a
exposio ao rudo. Entre as empresas que apresentaram
inconsistncias relacionadas com os
riscos fsicos, em 35,7% delas a inconsistncia se referia ao
reconhecimento dos riscos, em
35,7% avaliao quantitativa, em 60,7% implantao de medidas
coletivas e, em 17,9%
implantao de medidas de proteo individual.
No Chile, atravs do levantamento de alguns dados da exposio ao
rudo, em
empresas metalrgicas e indstria madeireira apontou-se que para
lidar com o risco rudo, as
empresas devem estabelecer programas de monitoramento para
acompanhar os trabalhadores
expostos garantindo a qualidade dos dispositivos de proteo
auditiva e fornecendo
orientaes de seleo e utilizao adequada aos funcionrios
(VALENZUELA; VILLAGRA,
2006).
Em Taiwan resultado de um estudo mostrou que a alterao no limiar
auditivo foi
maior para os trabalhadores que foram expostos ao rudo mais
tolueno em comparao com
-
36
aqueles expostos somente ao rudo. Uma interveno eficaz, nesse
caso, seria o
estabelecimento de polticas que determinem os limites mximos de
exposio para solventes
neste ramo de atividade (CHANG et al, 2006).
Em Washington, srias preocupaes foram levantadas sobre a adequao
da
preveno, regulao e estratgias de execuo dos programas de preveno
da perda auditiva
nos Estados Unidos. Concluram que a maioria das empresas oferece
pouca ou nenhuma
ateno ao controle do rudo e que utilizavam, principalmente, a
proteo auditiva como base
para prevenir a perda auditiva, apesar de 38% dos trabalhadores
das empresas pesquisadas
no utilizarem os protetores, rotineiramente. As empresas
preferiam adotar somente a
utilizao dos protetores do que a adoo de programas de preveno da
perda auditiva com
medidas educativas e de controle (DANIELL et al, 2006).
1.5 A SADE AUDITIVA E O CUIDADO EM SADE
A sade auditiva um dos aspectos fundamentais para a comunicao
humana. O que
difere o ser humano dos outros seres a forma de se
comunicar.
As aes de promoo, proteo e recuperao da sade devem ser
garantidas nos
vrios aspectos relacionados comunicao humana. Sua qualidade
determinante para a
autoconfiana, felicidade e segurana, propiciando uma comunicao
mais efetiva e
fundamental para a sade do sujeito (ANDRADE, 1996).
Faz-se necessrio que o sujeito envolvido em alguma atividade de
trabalho que possa
gerar dficits em sua sade seja incentivado e orientado para a
promoo de cuidado
proporcionando melhoria na sua qualidade de vida.
um grande desafio para o ser humano fazer articular trabalho com
cuidado prpria
sade. A ruptura entre trabalho e cuidado uma realidade desde a
antiguidade, principalmente
a partir do processo industrial do sculo XIII, caracterizando-se
pela ditadura do modo-de-ser-
trabalho como inveno, produo e dominao. Portanto, o resgate do
cuidado no se faz
custa do trabalho e sim mediante uma forma de entender e
realiz-lo. Para isso o ser humano
precisa voltar sobre si mesmo e descobrir o seu
modo-de-ser-cuidado (BOFF, 1999, p.99).
-
37
Para Christovam (2009, p.74):
O homem como sujeito do cuidado tambm um ser cognoscvel capaz
de
aprender a conhecer a si mesmo, a sociedade e o ambiente o qual
est
inserido, a sua cultura e as vrias culturas que permeiam e
influenciam a
sociedade, o ambiente e as relaes estabelecidas.
O cuidado deve ser entendido como uma atividade que vai alm do
exerccio
profissional. Esse cuidado deve existir entre os profissionais e
os trabalhadores envolvidos em
uma organizao. O fato que pequenas mudanas no modo de agir com
os outros
demonstrando interesse e cuidado com a sua sade convergem para
um relacionamento de
confiana entre a pessoa que deseja cuidar e o indivduo que est
recebendo o cuidado.
No ambiente ocupacional, focalizando as empresas de nibus as aes
de cuidado
podem determinar a diminuio dos impactos causados pelos riscos
que envolvem a atividade
profissional. Trazer para os trabalhadores informaes importantes
sobre o cuidado de si pode
favorecer a autonomia, autoconfiana em busca de seu bem estar e,
consequentemente a
melhoria na qualidade na sua sade.
O cuidado passa por uma questo cultural em que o local ou
pessoas dotadas de
princpios culturais diferentes percebem, praticam e conhecem
formas diferentes de exercer o
prprio cuidado. Portanto, mesmo o cuidado humano sendo universal
ele demonstrado
atravs de diferentes aes, estilo de vida e de sentidos
prprios.
Para Leininger2 (1991 apud GEORGE, 2000, p. 299), o cuidado
cultural definido
como:
Os valores, as crenas e modos de vida padronizado aprendidos,
subjetiva e
objetivamente e transmitidos que auxiliam, sustentam, facilitam
ou
capacitam outro indivduo ou grupo a manter seu bem estar, sade,
melhorar
sua condio humana e seu modo de vida ou lidar com a doena, a
deficincia ou a morte.
No caso do trabalhador, em situao particular os motoristas de
nibus, o cuidado
primordial para manuteno da qualidade de sua sade. Podem surgir
distrbios orgnicos
psquicos e ergonmicos que iro afetar a execuo da atividade de
dirigir, alm da vida
social e coletiva desse profissional. A atividade que eles
desempenham desgastante, e sua
eficcia est relacionada principalmente a fatores ambientais do
local de trabalho e a forma
como eles lidam com esses fatores (BATTISTON et al, 2006).
2 GEORGE, Julia. B. Teorias de Enfermagem: os fundamentos prtica
profissional. 4 ed. Porto Alegre: Artes
Mdicas Sul, 2000.375p.
-
38
Segundo Maranho (2000), as aes de cuidado com a sade podem ser
priorizadas e
organizadas de acordo com diferentes concepes sobre o processo
sade-doena, sobre o
desenvolvimento humano e de acordo com o contexto
sociocultural.
Portanto a maneira como o indivduo cuida da prpria sade depende
de suas
concepes pessoais e de quanto esse cuidado prioritrio para si.
Normalmente o que
acontece a busca do bem estar quando a sade se apresenta
debilitada, fazendo com que o
indivduo passe a se atentar para a necessidade de se cuidar.
Diante dessas consideraes a prtica do cuidado atravs de
procedimentos ou
esclarecimentos sobre alguma situao que possa colaborar para a
melhora do estado de sade
do sujeito, deve vir acompanhada do empenho desse sujeito em
reconhecer a importncia de
se autocuidar.
Para George (2000), o autocuidado o desempenho ou prticas de
atividades que os
indivduos realizam em seu benefcio para manter a vida, a sade, e
o bem estar. Este ajuda a
manter a integridade estrutural e o funcionamento humano,
contribuindo para o
desenvolvimento humano.
Para Silva et al (2009), o autocuidado uma atividade do indivduo
apreendida pelo
mesmo e orientada para um objetivo, tendo como propsito, o
emprego de aes de cuidado
seguindo um modelo, que contribui para o desenvolvimento
humano.
O autocuidado foi mencionado pela primeira vez em 1958, a partir
das reflexes da
Enfermeira Dorothea Orem sobre a necessidade dos indivduos serem
auxiliados pela
enfermagem. (GEORGE, 2000).
A ao de autocuidado, para Orem, a capacidade ou o poder de
engajar-se no
autocuidado. Essa capacidade seria afetada por fatores
condicionantes bsicos como sexo, o
estado de desenvolvimento, o estado de sade, a orientao
scio-cultural, os fatores do
sistema familiar, os padres de vida, os fatores ambientais, a
adequao e a disponibilidade,
de recursos. Orem destaca tambm que normalmente os adultos se
cuidam voluntariamente.
Os bebs, as crianas, os idosos, os enfermos e os deficientes
exigem cuidados ou assistncia
completa nas atividades de autocuidado (GEORGE, 2000).
A utilizao do cuidado e do autocuidado na perspectiva da sade
auditiva pode ser
importante instrumento para que o trabalhador preserve a sua
audio.
Cada vez mais a populao em geral est exposta nveis de presso
sonoras elevadas
decorrentes do aumento da urbanizao ou pela utilizao prolongada
dos tocadores pessoais
de msica em formato digital que atualmente se faz presente em
meio aos adultos, crianas e
adolescentes.
-
39
Os indivduos que trabalham sob o risco de exposio ao rudo devem
se cuidar ainda
mais para que o efeito desta exposio no seja potencializado. Alm
disso, precisam ter
acesso a informaes quanto a agentes agressores a sua sade, ou
seja, os riscos as quais esto
expostos decorrentes das suas atividades laborais, como o caso
dos motoristas de nibus que
diariamente vivem a agresso de rudos no ambiente das grandes
cidades.
-
40
CAPTULO II
ABORDAGEM METODOLGICA
2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo de caso observacional do tipo coorte,
retrospectivo com
abordagem quantitativa.
O mtodo de estudo de caso uma forma de investigar um tpico
emprico seguindo
um conjunto de procedimentos pr-especificados, conta com
mltiplas fontes de evidncia
para dar suporte ao estudo. Propicia uma descrio ampla e
profunda do fenmeno social,
devido a sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de
evidncias e permitir que as
caractersticas holsticas e significativas dos processos
organizacionais e administrativos
sejam retidas (YIN, 2010).
Os estudos observacionais so investigaes em que a informao
sistematicamente
colhida, onde no h uma interveno ativa do investigador.
Observaes sistemticas,
especialmente ao longo do tempo, podem permitir concluso causal.
um tipo de desenho
que deve ser respeitado visto sua eficcia (LUNA FILHO,
1998).
Os estudos de coorte seguem grupos de sujeitos no tempo que tm
como objetivo
descrever a incidncia de certos desfechos, ao longo do tempo e
analisar associaes entre os
preditores e esses desfechos. Os estudos de coorte
retrospectivos permitem os desfechos j
terem ocorrido quando o estudo foi iniciado (HULLEY et al,
2008).
-
41
Segundo Medronho (2004), os estudos de coorte so estudos
observacionais, onde a
seleo dos sujeitos para um estudo depende das caractersticas de
sua exposio a um
determinado risco. Os sujeitos so monitorados ao longo do tempo,
com o objetivo de
verificar a incidncia de doenas ou outro desfecho de interesse
(MEDRONHO et al, 2004).
No estudo retrospectivo o investigador identifica uma amostra
montada no passado,
coleta os dados sobre as medidas passadas, onde as informaes j
foram reunidas, bem como
as aferies de base realizadas e o perodo de seguimento,
encerrado (HULLEY et al, 2008).
A abordagem quantitativa se refere a fatos pertinentes ao mundo
concreto, objetivo e
mensurvel advindo das cincias naturais ou sociais. Alm disso, a
quantificao dos dados
coletados tratada por meio de anlises estatsticas e matemticas
(FIQUEIREDO; SOUZA,
2011).
2.2 LOCAL DO ESTUDO
A pesquisa foi realizada em uma empresa de transporte coletivo,
localizada no
municpio do Rio de Janeiro, devidamente autorizada pela
Diretoria da Empresa.
A empresa se caracteriza como particular, prestando servio
pblico. Faz parte do
ramo rodovirio, desde a dcada de 60 quando iniciou a construo de
seu espao fsico e a
disponibilizao da primeira frota de nibus.
Nas instalaes da empresa funcionam: o Setor de Recursos Humanos;
o Servio de
Medicina Ocupacional, com sala para realizao das audiometrias;
Refeitrio; Servio de
Mecnica e Abastecimento dos nibus.
A empresa opera, atualmente, com cento e sessenta e oito carros
em oito linhas e
quatro servios que ligam o centro da Cidade Zona Norte, e da
Zona Sul Zona Norte da
Regio Metropolitana do Rio de Janeiro. A frota inclui: nibus
padro, micronibus,
supermicros e nibus adaptados para acesso a portadores de
deficincia.
Em dezembro de 2008, a empresa, recebeu o prmio Parceria
Eficiente 2008 na
categoria empresa, institudo pela Secretaria Municipal da Pessoa
com Deficincia. Esse
prmio atribudo todo ano a empresas, empresrios, instituies
comunitrias, cidados,
instituies pblicas e servidores municipais que promovem incluses
de portadores de
deficincia no mercado de trabalho e aes voltadas para a melhoria
da qualidade de vida das
pessoas com deficincia.
http://www.transporteestrelaazul.com/Paginas%20Secundarias/pgLinhasAtual.htmhttp://www.transporteestrelaazul.com/Paginas%20Secundarias/pgLinhasAtual.htm
-
42
2.3 POPULAO DO ESTUDO
A empresa de transporte coletivo campo dessa pesquisa, tem como
parte integrante de
seu quadro funcional quatrocentos e trinta motoristas de nibus
urbano. A amostra foi
constituda de cento e doze motoristas, caracterizando
aproximadamente 26 % da populao
total.
Como critrios de incluso para o estudo foram considerados:
motoristas com data de
admisso nos anos de 2007, 2008 e 2009; ser do sexo masculino;
idade inferior a sessenta
anos; funo de motoristas e que desejassem participar do estudo,
por opo.
Como critrios de excluso foram considerados: os motoristas
afastados pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) e os motoristas que foram
demitidos no perodo da
investigao.
2.4 ASPECTOS TICOS DA PESQUISA
Os motoristas foram informados sobre a finalidade do estudo e
qual a utilidade dos
respectivos resultados, obedecendo aos cuidados ticos em relao
ao sigilo e
confidencialidade dos dados, em concordncia com a Resoluo n 196
de 10 de outubro de
1996 do Conselho Nacional de Sade que referencia os princpios
bsicos da biotica:
autonomia, no maleficncia, beneficncia e justia, visando
assegurar os direitos e deveres
que dizem respeito comunidade cientfica, aos sujeitos da
pesquisa e ao Estado.
Ainda em concordncia com a Resoluo n 196/96 do Conselho Nacional
de Sade
foi solicitado aos sujeitos da pesquisa a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e
Esclarecido (APNDICE III(C) autorizando sua participao
voluntria. O respeito devido
dignidade humana exige que toda pesquisa se processe aps
consentimento livre e esclarecido
dos sujeitos, indivduos ou grupos que por si e/ou por seus
representantes legais manifestem a
sua anuncia participao na pesquisa.
Este trabalho foi aprovado pelo Comit de tica e Pesquisa do
Hospital Universitrio
Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense (HUAP/UFF) sob
CAAE -
6141.0.000.258-10 (ANEXO I(A).
-
43
2.5 COLETA DOS DADOS
2.5.1 Identificando os limiares auditivos
A primeira fase foi identificao dos limiares auditivos, por meio
do cadastro
audiolgico dos motoristas de nibus contidos no banco de dados do
software Winaudio 7.4.
O Winaudio um software de apoio audiolgico direcionado para
mdicos e
fonoaudilogos que atuam na rea de audiologia clnica e
ocupacional e para empresas que
necessitam de controle de sade ocupacional. A verso ocupacional
direcionada para o
acompanhamento permanente do paciente.
A verso Ocupacional do Winaudio engloba nove mtodos de avaliao,
para esse
estudo foi utilizado como mtodo de avaliao, o proposto pela
Portaria 19 da Secretaria de
Segurana e Sade do Trabalho.
Os valores dos limiares auditivos registrados por meio do
software Winaudio 7.4
foram coletados pela pesquisadora. Essa coleta obedeceu ordem
cronolgica relativa data
de admisso dos motoristas. Primeiramente foram coletados os
valores dos limiares dos
motoristas admitidos no ano de 2007(exame de referncia) e seus
exames sequenciais 2008 e
2009, depois dos admitidos em 2008 (exame de referncia) e seus
exames sequenciais 2009 e
2010, e por ltimo, dos motoristas admitidos em 2009 (exame de
referncia) e exames
sequenciais 2010 e 2011.
Os dados foram inseridos em um banco de dados criado pela
pesquisadora no software
Excel, e analisados posteriormente atravs de estatstica
descritiva.
2.5.2 Formulrio sobre a exposio ao rudo e ao cuidado com a sade
auditiva
A segunda fase foi realizada atravs de um formulrio com
perguntas relacionadas
exposio ao rudo e ao cuidado com a sade auditiva aplicado aos
motoristas de nibus.
(APNDICE II(B)
Segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2007), o formulrio uma lista
informal,
catlogo ou inventrio, destinado coleta de dados resultantes de
observaes, interrogaes
e seu preenchimento realizado pelo pesquisador. O formulrio pode
ser considerado
vantajoso, pois o pesquisador junto ao sujeito pode esclarecer
as dvidas em relao aos
questionamentos apresentados, garantindo a uniformidade das
informaes.
-
44
A aplicao do formulrio, inicialmente foi efetuada no dia da
realizao do exame
audiomtrico peridico dos motoristas de nibus.
Devido ao prazo para o trmino do estudo, a realizao da aplicao
do formulrio, se
deu em dias extras, durante os meses de maio, junho, julho,
agosto e setembro de 2011,
obedecendo aos turnos de trabalho dos motoristas. Mediante esse
fato aplicou-se o formulrio
a noventa e quatro motoristas no sendo possvel a resposta de
toda a amostra (cento e doze
motoristas).
Os motoristas do primeiro turno responderam ao formulrio, junto
com a
pesquisadora, antes do incio de sua jornada de trabalho, na
garagem da empresa. O primeiro
turno normalmente iniciava suas atividades, por volta das quatro
horas da manh.
Os motoristas do segundo turno responderam ao formulrio, junto
com a pesquisadora,
ao trmino de sua jornada de trabalho, durante a entrega dos
veculos na garagem da empresa.
O horrio do trmino das atividades do segundo turno era em torno
de duas horas da manh.
O resultado das perguntas respondidas atravs do formulrio foi
inserido em um banco
de dados criado pela pesquisadora no software Excel, analisados
posteriormente atravs de
estatstica descritiva.
2.5.3 Descrio do Programa de Conservao Auditiva
A terceira fase do estudo constou da descrio do Programa de
Conservao Auditiva
atravs de um formulrio seguindo as recomendaes para a elaborao
do PCA segundo o
Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva Boletim n 6, 1999
(APNDICE I(A).
A pesquisadora agendou uma visita com a equipe de Segurana do
Trabalho da
empresa. Durante a visita foi apresentado o PPRA sendo
observadas as informaes
pertinentes aos profissionais do trfego, em particular aos
motoristas de nibus.
As etapas que constituem o PCA foram informadas pela equipe de
segurana do
trabalho que se props a discorrer sobre cada etapa, mediante o
formulrio em forma de check
list apresentado pela pesquisadora.
A pesquisadora no teve acesso ao documento fsico do PCA, pois
segundo a Equipe
de Segurana do Trabalho o mesmo se encontra em reformulao devido
recente transio
do pessoal da Engenharia de Segurana.
-
45
2.6 ANLISE DOS DADOS
A anlise descritiva apresentada sob forma de tabelas e os dados
observados, atravs
de mdia desvio padro (DP) e mediana, juntamente com grficos
ilustrativos e com os
dados categricos, atravs de frequncia e percentual.
A anlise estatstica foi composta pelos seguintes mtodos:
- Anlise de Varincia (ANOVA): procedimento utilizado para
comparar trs ou mais
tratamentos. Existem muitas variaes da ANOVA devido aos
diferentes tipos de
experimentos que podem ser realizados.
Foi utilizada a ANOVA de Friedman3 para verificar se existe
variao significativa na
audiometria (em dB) ao longo de trs anos consec