Anarquismo X Historia do Anarquismo
Anarquismo(dogrego,transl.anarkhos, que significa "sem
governantes",12ou "sem poder"3a partir doprefixo-,an-, "sem" +
,arkh, "soberania, reino, magistratura"4+ osufixo-,-isms,
daraizverbal-,-izein) umafilosofia polticaque englobateorias,
mtodos e aes que objetivam a eliminao total de todas as formas
degovernocompulsrio e deEstado.5De um modo geral, anarquistas so
contra qualquer tipo de ordemhierrquicaque no seja livremente
aceita6e, assim, preconizam os tipos de
organizaeslibertriasbaseadas nalivre associao.
Anarquia significa ausncia decoeroe no a ausncia deordem.7A noo
equivocada de que anarquia sinnimo decaosse popularizou entre o fim
dosculo XIXe o incio dosculo XX, atravs dos meios de comunicao e de
propaganda patronais, mantidos por instituies polticas e
religiosas. Nesse perodo, em razo do grau elevado de organizao dos
segmentos operrios, de fundo libertrio, surgiram inmeras
campanhasantianarquistas.8Outro equvoco banal se considerar
anarquia como sendo a ausncia de laos de solidariedade (indiferena)
entre os homens, quando, em realidade, um dos laos mais valorizados
pelos anarquistas oauxlio mtuo. ausncia de ordem - ideia externa
aos princpios anarquistas -, d-se o nome de "anomia".9
H diversos tipos e tradies de anarquismo, os quais no so
mutuamente exclusivas.10Cadavertente do anarquismotem uma linha de
compreenso, anlise, ao e edificao poltica especfica, embora todas
vinculadas pelos ideais base do anarquismo. Correntes do anarquismo
tem sido divididas emanarquismo socialeanarquismo individualista,
ou em classificaes semelhantes..1112
A maioria dos anarquistas se ope a todas as formas de agresso,
apoiando aautodefesaou ano violncia(anarcopacifismo)1314; outros,
contudo, apoiam o uso de outros meios, como arevoluoviolenta. Outro
conceito, apropaganda pelo ato, apesar de ter tido um incio
violento, hoje em dia incorporou diversos tipos de aes no
violentas.15
O anarquismo ope-se aocomunismoporque no concebe que aps
umarevoluo operriaque ambos possam protagonizar seja implantado uma
governao de umEstadopor umpartido poltico, mesmo que seja apenas
numa primeira fase, mas que este deveria ser simplesmente abolido,
no imediato e no mais tarde, e toda a propriedade passe
imediatamente a ser gerida por "comisses de trabalhadores"16.
Alguns consideram que temas anarquistas podem ser encontrados em
trabalhos dos filsofostaostaLao Zi17eChuang-Tzu. O ltimo tem sido
traduzido,"H uma coisa como deixar a humanidade sozinha; nunca
houve tal coisa como governar a humanidade [com sucesso],"e"Um
pequeno ladro colocado na cadeia. Um grande bandido torna-se o
governante de uma nao".18Digenes de Snopee oscnicos, e o seu
contemporneoZeno de Ctio, o fundador doestoicismo, tambm
introduziram tpicos similares.1719
O anarquismo moderno, contudo veio do pensamento secular ou
religioso doIluminismo, particularmente de argumentos
deJean-Jacques Rousseaupara a centralidade moral da
liberdade.20
William Godwindesenvolveu a primeira expresso do pensamento
anarquista moderno.21Godwin foi, de acordo comPeter Kropotkin, "o
primeiro a formular as concepes polticas e econmicas do anarquismo,
mesmo que ele no tenha dado nome s ideias desenvolvidas em seu
trabalho",17enquanto Godwin ligava suas ideias anarquistas aEdmund
Burke.22Benjamin Tuckercreditava aJosiah Warren, um estado-unidense
que promovia a ausncia do estado ecomunidades voluntriasonde todos
os bens e servios soprivados, como sendo "o primeiro homem a expor
e formular a doutrina agora conhecida como anarquismo."23O primeiro
a descrever-se como um anarquista foiPierre-Joseph Proudhon,24um
filsofo francs e poltico, que levou alguns a cham-lo de fundador da
teoria anarquista moderna.25
O anarquismo desempenhou papis significativos nos grandes
conflitos da primeira metade dosculo XX. Durante aRevoluo Russa de
1917,Nestor Makhnotenta implantar o anarquismo naUcrnia, com apoio
de vriascomunidadescamponesas, mas que acabam derrotadas pelo
EstadobolcheviquedeLnin.
Ver artigo principal:Revoluo Ucraniana
Quinze anos depois, anarquistas organizados em torno de
umaconfederaoanarcossindicalistaimpedem que umgolpe
militarfascistaseja bem sucedido naCatalunha(Espanha), e so os
primeiros a organizarmilciaspara impedir o avano destes na
consequenteGuerra Civil Espanhola. Durante o curso dessaguerra
civil, os anarquistas controlaram um grande territrio que
compreendia aCatalunhaeArago, onde se inclua a regio
maisindustrializadade Espanha, sendo que a maior parte
daeconomiapassou a serautogestionada(autogerida).
Aps aSegunda Guerra Mundial, o movimento anarquista deixou de
ser um movimento de massas, e perdeu a influncia que tinha no
movimento operrio dos vrios paseseuropeus. Entretanto, continuaria
a influenciar revoltas populares que se seguiram na segunda metade
do sculo XX, como oMaio de 68naFrana, o movimento anti-Poll
taxnoReino Unidoe os protestos contra a reunio daOMCemSeattle,
nosEstados Unidos.
Anarquismo no Brasil[editar]
Talvez uma das primeiras experincias anarquistas do mundo tenha
ocorrido nas margens daBaa de Babitonga, na cidade histrica deSo
Francisco do Sul. Em1842o Dr.Benoit Jules Mure, inspirado na
teorias deFourier, instala oFalanstrio do SaouColnia Industrial do
Sa, reunindo oscolonosvindos deFrananoRio de Janeiroem1841. Houve
dissidncias e um grupodissidente, frente do qual estavaMichel
Derrion, constituiu outra colnia a algumaslguasdo Sa, num lugar
chamado Palmital: aColnia do Palmital.
Mure conseguiu apoio do CoronelOliveira Camachoe do presidente
daProvnciadeSanta Catarina,Antero Jos Ferreira de Brito. Este apoio
foi-lhe fundamental para posteriormente conseguir a ajuda
financeira do governo doImprio do Brasilpara seu projeto.
O anarquismo no Brasil ganhou fora com a
grandeimigraodetrabalhadoreseuropeusentre fins dosculo XIXe incio
dosculo XX. Em1889Giovani Rossitentou fundar emPalmeira, no
interior doParan, uma comunidade baseada no trabalho, na vida e
nanegaodo reconhecimento civil e religioso domatrimnio, (o que no
significa, necessariamente, "amor livre"), denominadaColnia Ceclia.
A experincia teve curta durao.
No incio dosculo XX, o anarquismo e oanarcossindicalismoeram
tendncias majoritrias entre ooperariado, culminando com as
grandesgreves operriasde1917, emSo Paulo, e1918-1919, noRio de
Janeiro. Durante o mesmo perodo,escolas modernasforam abertas em
vrias cidades brasileiras, muitas delas a partir da iniciativa de
agremiaes operrias de inclinao anarquista.
Alguns acreditam que a decadncia do movimento anarquista se
deveu ao fortalecimento dascorrentesdosocialismo autoritrio, ou
estatal, i.e.,marxista-leninista, com a criao doPartido Comunista
Brasileiro(PCB) em1922participada inclusivamente, por
ex-integrantes do movimento anarquista que, influenciados pelo
sucesso da revoluo Russa, decidem fundar umpartidosegundo
osmoldesdo partidobolcheviquerusso.
Porm, esta posio, sustentada por muitoshistoriadores, vem
sendocontestadadesde a dcada de 1970 porEdgar Rodrigues(anarquista
portugus naturalizado no Brasil, pesquisador autodidata da histria
do movimento anarquista no Brasil e em Portugal), e pelos
recentesestudosdeAlexandre Samisque indicam que a influncia
anarquista no movimento operrio cresceu mais durante este perodo do
que no j fundado (PCB) e s a represso do governo deArtur Bernardes,
viria diminuir a influncia das ideias anarquistas no seio do
movimento grevista. Artur Bernardes foi responsvel por campos de
concentrao e centros de tortura, nos quais morreram inmeros
libertrios, sendo que o pior de tais campos foi o deClevelndia,
localizado no Oiapoque.Edgar Rodriguesapresenta em vrias de suas
obras as investidas de membros do PCB que, procurando transformar
ossindicatos livresem sindicatos partidrios e conquistar devotos s
ideiasleninistas, polemizavam em sindicatos e jornais, chegando a
realizar atentados contra anarquistas que se destacavam no
movimento operrio brasileiro, durante a dcada de 1920.
Provavelmente devido aos problemas decomunicaoresultantes
datecnologiada poca, os anarquistas s tero compreendido arevoluo
russade forma mais clara, a partir das notcias de clebres
anarquistas, como aestadunidenseEmma Goldman, que denunciara
asatrocidadescometidas na Rssia em nome da ditadura doproletariado.
Seria a partir deste momento histrico que se definiria a
posiotticado anarquismo perante os socialistas autoritrios no
Brasil, separando a confuso ideolgica que reinava em torno da
revoluo russa, identificada pelos anarquistas inicialmente como uma
revoluo libertria. Esta ideia seria depois desmistificada pelos
anarquistas, que acreditam no socialismo sem ditadura, defendendo a
liberdade e a abolio do Estado.
Durante oRegime Militar(1964-1985), as principais expresses
anarquistas no Brasil foram o Centro de Estudos ProfessorJos
Oiticica, no Rio de Janeiro, o Centro de Cultura Social de So Paulo
e o JornalO ProtestonoRio Grande do Sul. Todos foram fechados no
final da dcada de 1960, mas seus militantes continuaram se
encontrando clandestinamente, publicando livros e se correspondendo
com libertrios de outros pases. Na dcada de 1970 surge na Bahia o
jornalO Inimigo do Rei, impulsionando a formao de novos grupos
anarquistas, atravs das editorias autogestionrias, em vrias partes
do Brasil. No Rio Grande do Sul, nos anos oitenta, cria-se na
cidade deCaxias do Sul, o Centro de Estudos em Pesquisa Social -
CEPS, voltado para o trabalho social. No ano de 1986, na cidade
deFlorianpolis, realizada a Primeira Jornada Libertaria com o
lanamento das bases para a reorganizao da Confederao Operria
Brasileira - COB/AIT e a organizao dos anarquistas.
Pode ser encontrado na Internet um livro deEdgard
Leuenroth"Anarquismo roteiro da libertao social" publicado na dcada
de 60 pela editora mundo livre feita pelo CEPJO.
Anarquismo em Portugal[editar]
No final dosculo XIXd-se o desenvolvimento de grupos anarquistas
ligadas s ideias deJ. Proudhon, cuja obra poltica mais conhecida
defendia a constituio de unies locais (mutualistas) de pequenos
produtores independentes. Estes revolucionrios portugueses no
procuravam romper com a ordem vigente, mas limitavam-se a denunciar
a "escravido moderna" que ocorria nas fbricas, fruto daRevoluo
Industrial, assim como a promover as associaes deapoio mtuoque
tinham em vista minorar os problemas econmicos e sociais dos
trabalhadores26.
Aps a visita ao pas do geografo-anarquistaElise Reclus,
em1886fundaram-se os primeiros grupos anarquistas editando o
primeiro jornal de propaganda (A revoluo Social, em1887) e
publicada a primeira traduo deKropotkine(A Anarquia na Evoluo
Socialista, 1887)27.
Em1871,Antero de Quentale outros portugueses renem-se
emLisboacom delegados daAssociao Internacional dos
Trabalhadores(AIT) para apresentar essas ideias
revolucionrias28.
Estes grupos contriburam para oderrube da monarquiaem1910. Com
aPrimeira Repblicad-se uma grande expanso e fundada
em1919aConfederao Geral do Trabalho, de tendnciasindicalista
revolucionriaeanarco-sindicalista.
Consequentemente, com a instaurao daDitadura Militarem1926, e
com aditadura de Salazarque se lhe seguiu, probe-se a actividade
dos grupos anarquistas. Em1933acensura prvia legalmente instituda.
Os vrios jornais anarquistas, incluindo A batalha, passam a
serclandestinose a ser alvos deperseguies.
Em1939d-se o atentado, com o apoio dos activistas anrquicos, no
qual se tentou assassinarSalazar29.
Com o25 de abril de 1974h um novo ressurgimento do movimento
libertrio, embora com uma expresso reduzida.
Principais conceitos anarquistas[editar]
Este conceito anarquista, embora no constitua a didtica primria
compreenso libertria, digno de uma abordagem rpida.
Os anarquistas acreditam no desenvolvimento heterodoxo do
pensamento e do ideal libertrio como um todo, no idolatrando nem
privilegiando qualquer escritor ou terico desta vertente de
estudos.
Toda a posio do anarquismo completamente diferente de qualquer
outro movimento socialista autoritrio. Ela tolera variaes e rejeita
a ideia de gurus polticos ou religiosos. No existe um profeta
fundador a quem todos devam seguir. Os anarquistas respeitam seus
mestres, mas no os reverenciam, e o que distingue qualquer boa
compilao que pretenda representar o pensamento anarquista a
liberdade doutrinria com que os autores desenvolveram ideias
prprias de forma original e desinibida.
George Woodcock30
Anarquismo no doutrina, no religio, portanto no reverencia
nenhuma espcie de livros ou obras culturais, nem linhas
metodolgicas rgidas, o que o definiria infantilmente enquanto
cincia constituda. As obras concernentes ao anarquismo so, no
mximo, fontes de experincias delimitadas histrica e
conjunturalmente, passveis de infinitas adaptaes e interpretaes
pessoais.
Em sntese, o anarquismo convencionado entre os libertrios como
sendo a emergncia de um sentimento puro, sob o qual cada adepto
deve desenvolver dentro de si mesmo o seu prprio instrumental
intelectual para legitim-lo e, mais do que isso, potencializ-lo
abstracional e concretamente.
A revoluo social[editar]
Na tica anarquista, arevoluo socialconsistiria na quebra
drstica, rpida e efetiva doEstadoe de todas as estruturas,
materiais e no-materiais, que o regiam ou a ele sustentavam. Este
princpio primordial na diferenciao da vertente de pensamentos
libertria em relao a qualquer outra corrente ideria. a diferena
bsica entre osocialismo libertrioe osocialismo autoritrio.
Sob a tica domarxismo, seria necessria ainstrumentalizaodo
Estado para a prossecuo planejada, detalhada e gradativa darevoluo,
sendo instituda aditadura do proletariadopara o controle operrio
dos meios de produo at a ecloso docomunismo. Sob o iderio
anarquista, a revoluo deve ser imediata, para no permitir que os
elementos revolucionrios possam ser corrompidos pela realidade
estatal. De acordo com os libertrios, a ditadura do proletariado
nada mais do que umaditadura"de fato", continuando a exercer
coero,opressoeviolnciasobre a sociedade. Por isso, segundo os
libertrios, a revoluo social deve ascender o mais rpido possvel
sociedade anarquista, ao comunismo puro, para, atravs dos princpios
da defesa da revoluo, no permitir a ressurreio do Estado.
Por fim, por intermdio do processo de destruio completa do
Estado, sobre todas as suas formas, torna-se plenamente tangvel
aliberdade, podendo o sujeito renovar de forma efetiva os seus
princpios e preceitoshumanistas.
Humanismo[editar]
Nos meios anarquistas, de forma geral, rejeita-se a hiptese de
que ogovernoou oEstadosejam necessrios ou mesmo inevitveis para a
sociedade humana. Os grupos humanos seriam naturalmente capazes de
se auto-organizarem de forma igualitria e no-hierrquica, mediante
os progressos originados pela educao libertria. A presena de
hierarquias baseadas na fora, ao invs de contriburem para a
organizao social, antes acorrompem, por inibirem essa capacidade
inata de auto-organizao e por dar origem desigualdade.
Desta forma, a partir daconscientizao, aceitao e internalizao da
sua essncia humana, ideia suprimida anteriormente pelo Estado,
segundo os anarquistas, emerge naturalmente na sociedade humana o
anseio pela ascenso da ideia-base de qualquer forma de vida real:
aLiberdade.
Liberdade[editar]
A Liberdade a base incontestvel de qualquer pensamento, formulao
ou ao anarquista, representando o elo sublime que conjuga de forma
plena todos os anarquistas. Assim, entre os anarquistas, a
Liberdade deixa apenas o plano abstracional (do pensamento) para
ganhar uma funcionalidade prtica, sendo o smbolo e a dinmica do
desenvolvimento humano real. Em outras palavras, o princpio bsico
para qualquer pensamento, ao ou sociedade ser definida como
anarquista que esteja imersa, tanto abstracionalmente
(ideologicamente), quanto pragmaticamente (no mbito das aes), no
conceito de Liberdade. Liberdade fsica, de gnero, de pensamento, de
ao, de expresso, de usufruto consciente dos recursos humanos,
sociais e naturais, de negociao e interao, de apoio mtuo, de
relacionamento e vinculao sentimental, de f e espiritualidade, de
produo intelectual e material e de realizao coletiva e pessoal.
Para a encarnao da Liberdade, no entanto, necessria a erradicao
completa de qualquer forma de autoridade.
Antiautoritarismo[editar]
O Antiautoritarismo consiste na repulsa e no combate total a
qualquer tipo dehierarquiaimposta ou a qualquer domnio de uma
pessoa sobre a(s) outra(s), defendendo uma organizao social baseada
naigualdadee no valor supremo daliberdade. Tem como principais, mas
no nicos, objetivos asupressodoEstado, daacumulaoderiquezaprpria
docapitalismo(exceto osAnarco-capitalistas) e das
hierarquiasreligiosas. O Anarquismo difere doMarxismopor rejeitar o
uso instrumental do Estado para alcanar seus objetivos e por prever
uma Revoluo Social de carter direto e incisivo, ao contrrio da
progresso scio-poltica gradual - socialismo - rumo derrubada do
Estado - comunismo - proposta por Karl Marx.
De acordo com a corrente de pensamentos libertria, a supresso da
autoridade condicionada pela ao direta de cada indivduo livre,
prescindindo-se completamente de qualquer intermedirio entre o seu
objetivo, enquanto defensor da Liberdade, e a sua vontade. O
anarquista entende que"enquanto houver autoridade, no haver
liberdade".
Ao direta[editar]
Os anarquistas afirmam que no se deve delegar a soluo de
problemas a terceiros, mas antes, atuar diretamente contra o
problema em questo, ou, de forma mais resumida,"A luta no se delega
aos heris". Sendo assim, rejeitam meiosindiretosde resoluo de
problemas sociais, como a mediao porpolticose/ou pelo Estado, em
favor de meios mais diretos como omutiro, aassembleia(ao direta
quenoenvolveconflitofsico), agreve, oboicote, adesobedincia
civil(ao direta que pode envolver conflito fsico), e, em situaes
excepcionais asabotageme outros meios coercitivos (ao direta com
potencialviolento).
No entanto, a Ao Direta, por si s, no garante a manuteno e a
perpetuao das condies humanas bsicas, tanto em termos estruturais,
quanto no aspecto intelectual, necessitando de uma extenso
operacional extensa e organizada a fim de fazer, da fora humana
global, uma s energia coletiva. Decerto, somente a solidariedade e
o mutualismo mximos podem promover essa harmonia social.
Apoio mtuo[editar]
Os anarquistas acreditam que todas as sociedades, quer
sejamhumanasouanimais, existem graas vantagem que o princpio da
solidariedade garante a cadaindivduoque as compem. Esteconceitofoi
exaustivamente exposto porPiotr Kropotkin, em sua famosa obra
"Mutualismo: Um Fator de Evoluo". Da mesma forma, acreditam que a
solidariedade a principal defesa dos indivduos contra o poder
coercitivo do Estado e doCapital.
Mas, para que a solidariedade se torne uma virtude "de fato"
necessria a erradicao de qualquer fator de segregao ou discriminao
humanas. Com esse objetivo, o internacionalismo se firma enquanto o
princpio proeminente da integrao sociolibertria.
Internacionalismo[editar]
Para os anarquistas, todo tipo de diviso da sociedade - em todos
os aspectos - que no possua uma funcionalidade plena no campo
humano deve ser completamente descartada, seja pelos antagonismos
infundados que ela gera, seja pela burocracia contraproducente que
ela encarna na organizao social, esterilizando-a. Logo, a ideia de
"ptria" negada pelos anarquistas.
Os libertrios acreditam que as virtudes - bem como o exercer
pleno delas - no devem possuir "fronteiras". Assim, acreditam que a
natureza humana a mesma em qualquer lugar do mundo, exigindo,
independentemente do universo material ou cultural onde o ente
humano esteja inserido , uma gama infinita de necessidades e
cuidados. Em outras palavras: se a fragilidade do homem no tem
fronteiras, por que estabelecer empecilhos ao seu auxlio?
Vale lembrar que o conceito libertrio de internacionalismo se
difere completamente do conceito que conhecemos - portanto,
capitalista - de globalizao. Globalizao a ampliao a nvel mundial da
difuso de produtos - ideolgicos, culturais e materiais - de
determinados segmentos capitalistas, visando potencializao mxima da
capacidade mercadolgica dos agentes operantes - na maioria das
vezes, as empresas e as grandes corporaes -, sendo, para isso,
desconsideradas parcial ou completamente todas as conseqncias
humanas do processo, j que a doutrina do "lucro mximo" que rege
essas operaes. Por outro lado, o internacionalismo, por se alijar
completamente de todo o iderio capitalista, no possui nenhuma teno
lucrativa, capitalista, e no permeado por estruturas privilegiadas
de produo - como as indstrias capitalistas -, sendo regido pela
solidariedade e mutualismo mximos.
Didaticamente, o internacionalismo pode ser definido como sendo
a difuso global de "servios" humanos, e a globalizao como a difuso
global de "hegemonias" mercadolgicas.
Socialismo Libertrio: uma tica socialista e
anarquista[editar]
Os anarquistas auto-denominadossocialistas libertriosvem
qualquer governo como a manuteno do domnio de umaclasse socialsobre
outra. Compartilham da crtica socialista ao sistemacapitalistaem
que o Estado mantm a desigualdade social atravs da fora, ao
garantir a poucos apropriedade privadasobre osmeios de produo, mas
estendem a crtica aos socialistas que advogam a permanncia de um
Estado ps-revolucionrio para garantia e organizao da "nova
sociedade". Tal Estado, ainda que proletrio, somente faria
permanecer antigas estruturas de dominao de uma parcela da populao
sobre a outra, agora sob nova orientao ideolgica.
Esta tica defende umsistemasocialistaem que os meios de produo
sejam socializados e garantidos a todos os que nelatrabalham. Neste
sistema, no haveria necessidade deautoridadesougovernosuma vez que
a administrao da vida social, objetivando a garantia plena da
liberdade, s poderia ser exercida por aqueles que a compem e a
tornam efetiva, seja na agricultura, na indstria, no comrcio, na
educao e outras esferas da sociedade.
A sociedade seria gerida porassociaesdemocrticas, formadas por
todos, e agrupando-se livremente, ou seja, com entrada e sada
livre, emcooperativase estas emfederaes.
Atradiosocialista libertria teve a sua origem entre os
sculosXVIIIeXIX. Talvez o primeiro anarquista (embora no tenha
usado o termo em nenhum momento) tenha sidoWilliam Godwin,ingls,
que escreveu vriospanfletosdefendendo umaeducaosem a participao do
Estado, observando que este tornava as pessoas menos propensas a
ver a liberdade que lhes era retirada. O primeiro a se
auto-intitular anarquista e a defender claramente uma viso
socialista libertria, foiJoseph Proudhon.24Mikhail Bakunintambm foi
um defensor do socialismo libertrio, polemizando comKarl
MarxeFriedrich Engelsna primeiraAssociao Internacional de
Trabalhadores(AIT). Mais tarde, apareceram importantes figuras do
anarquismo, comolise Reclus,Piotr Kropotkin,Errico MalatestaeEmma
Goldman, cujas ideias foram muito populares na primeira metade
dosculo XX.
O incio daHistria do Anarquismono coincide com o surgimento e a
positivao do termoanarquismo, muito anterior a ela, e implica uma
srie de reflexes sobre entendimentos possveis das idias
deindivduo,sociedadeeliberdade, realizadas em sociedades distintas,
em diferentes momentos histricos.
Sociedades sem governo e a pr-histria[editar]
De acordo comHarold Barclayantes do anarquismo ter surgido como
uma perspectiva distinta, seres humanos viveram milhares de anos em
sociedades sem governo.1Anarcoprimitivistastambm acreditam que, por
um longo perodo antes da histria escrita, as sociedades humanas
foram organizadas por princpios anrquicos. No entanto, existe um
debate sobre as evidnciasantropolgicasnas quais esta afirmao se
fundamenta. Foi somente depois do surgimento das sociedades
hierrquicas que as idias anarquistas foram formuladas como uma
resposta crtica e rejeio a toda forma de instituio poltica
coercitiva baseada em relaes sociais hierrquicas.
Muitos anarquistas no primitivistas consideram equivocada as
especulaes dos primitivistas, uma vez que a limitao dos registros e
as analogias com as sociedades autctones contemporneas possuem
claras limitaes de contexto. Outros consideram ainda que a crena
primitivista de uma pr-histria libertria tem seu fundamento em um
arcabouo mitolgico ocidental que remete a era de ouro da
antiguidade grega em que "homens e animais viviam em harmonia", e
ao jardim do den cristo "antes do pecado original"; mas tambm em
mitos modernos decorrentes de leituras enviesadas da prpria
filosofia ocidental como o "bom selvagem" deJean Jacques
Rousseau.
Filosofia crata na Grcia da Antiguidade[editar]
A utilizao das palavras "anarchia" e "anarchos", ambas
significando "sem governantes", podem ser traadas at
asIladasdeHomero2e asHistriasdeHerodotus.3O primeiro uso poltico
conhecido da palavraanarquiaaparece na peaSete Contra
TebasdeAeschylus, datada de467 a.C.. Nela,Antigonase recusa
abertamente a aceitar o decreto dos governantes a abandonar o corpo
de seu irmoPolyneicesno sepultado, como punio por sua participao no
ataque aTebas, diante do decreto ela diz "mesmo se ningum quiser
participar comigo, sozinha correrei o risco em sepultar meu prprio
irmo. terei eu que agir em oposio desafiadora aos governantes da
cidade (ekhous apiston tnd anarkhian polei)".
Aristipo de Cirene, um dos maiores discpulos deSocrates, grande
estudioso das questes ticas, certa vez afirmou que os sbios no
deveriam abrir mo de suasliberdadesem prol do estado.[1]. No
entanto, nenhum de seus escritos sobreviveu ao tempo e tudo que se
conhece sobre suas reflexes est baseado nas obras de seus
comentadores.
A Grcia Antiga tambm viu florescer a primeira instncia do
anarquismo enquanto ideal filosfico. OsCnicosDigenes de
SnopeeCrates de Tebasadvogaram por formas anrquicas de sociedade,
mas pouco resta de seus escritos.4O filsofoZeno de Ctioo fundador
doEstoicismo, muito influenciado pelos Cnicos, descreveu sua viso
de uma sociedade horizontal em torno de 300 a.C.5ARepblica de
Zenose baseava em uma forma de anarquismo onde no existia
necessidade de estruturas estatais. Zeno era, de acordo
comKropotkin, "O maior expoente da filosofia anarquista na Grcia
Antiga". Como resumido por Kropotkin,Zeno"repudiava a onipotncia do
estado, sua interveno e regimentao, e proclamava a soberania da lei
moral do indivduo". Na filosofia grega, a viso de Zeno de
comunidade livre sem governo oposta a utopia pr-estatal daRepblica
de Plato. Em oposio aPlato, Zeno argumentava que a razo poderia
substituir a autoridade na administrao dos assuntos humanos. Sua
defesa da anarquia se baseava na premissa de que o instinto de
auto-preservao necessariamente levaria os humanos aoegosmo, no
entanto, a natureza teria suprido o homem com um corretivo para
esse aspecto, um outro instinto desociabilidade. Como muitos
anarquistas modernos, ele acreditava que se fosse permitido aos
povos seguissem seus instintos, no precisariam de leis, cortes ou
polcia, nem detemplosou espaos de adorao pblica, no utilizariam
dinheiro e formas deeconomia do domtomariam seu lugar nas trocas.
As reflexes de Zeno s chegaram at contemporneidade na forma de
trechos fragmentados.[2]
mAtenas, o ano404 a.C.foi comumente conhecido como "o ano da
anarquia". De acordo com o historiadoXenofonte, trata-se de fato de
um perodo em que Atenas foi governada pela oligarquia dos "Trinta",
instalada pelos espartanos aps sua vitria na segunda guerra do
Peloponeso, e devido ao fato de que existia umArconteno governo,
nomeado pelos oligarcas, na pessoa de Pythodorus, os atenienses se
recusaram a aplicar na ocasio seu costume de chamar o ano pelo nome
do arconte, preferindo cham-lo de 'ano da anarquia'".
Os filsofos gregosPlatoeAristotelesutilizaram o termo anarquia
em seu sentido negativo, em associao com a idia dedemocraciaa qual
acreditavam ser inerentemente vulnervel e passvel de deteriorar em
tirania. Plato acreditava que a corrupo criada pela democracia
propiciava a hierarquia "natural" entre classes sociais, gneros e
grupos de idade, para sua ampliao "anarquia encontra um caminho nas
casas privadas, e termina por chegar at os animais e infect-los".
('Repblica', livro 8). Aristoteles diz em seu livro sei das
'Polticas' quando discute revolues, que as classes superiores podem
ser motivadas a levar a cabo um grupo em suas contendas para
prevenir a "desordem e anarquia (ataxias kai anarkhias) nos
assuntos do estado. Este filsofo tambm associou a anarquia com a
democracia quando afirmou existirem traos "democrticos" nas
tiranias, denominou a anarquia uma licena possvel entre escravos
(anarkhia te douln)" bem como entre mulheres e crianas. "Uma
constituio deste tipo", concluiu, "ter um amplo nmero de apoiadores
j que viver desordenadamente (zn atakts) mais prazeroso s massas
que levar uma vida sbria".
Filosofia crata na China da Antiguidade[editar]
NaChinaem 600 AC, o pensadortaostaLao Zifoi o principal
responsvel pelo desenvolvimento do princpio de "no-comando" noTao
Te Ching, importante texto do taosmo filosfico. Com base neste
princpio muitos taostas passaram a viver nos conformes com um modo
de vida muito semelhante quele chamado de "anarquista" na
modernidade.
Em 300 AC, tambm o filsofoBao Jingyanadvogaria abertamente por
uma sociedade que no estivesse baseada na existncia de senhores ou
servos.6
Movimentos e idias cratas no medievo[editar]
Existiram variedades de movimentos anrquicos religiosos
naEuropadurante aIdade Mdia, incluindo aIrmandade do Esprito Livre,
osKlompdraggers, osHussitas,Adamitase os
primeirosAnabaptistas.7Sobre estes ltimosBertrand Russellafirmaria
em suaHistria da Filosofia Ocidentalque os Anabaptistas "repudiaram
todas as leis, desde que consideravam que o bom homem seria guiado
a todo instante pelo Esprito Santo por essa premissa eles chegaram
ao comunismo".
EmGargantua e Pantagruel(1532-52),Franois Rabelaisescreveu no
Abby deThelema(palavra grega que significa "vontade" ou "desejo"),
um utopia imaginria onde seu princpio era "Faa Como Queira", lugar
no qual no havia governantes ou governados. Graas a esta contribuio
literria, bem como aos seus questionamentos crticos de fundo tico
atravs da stira aos governantes de seu tempo, Rabelais considerado
por alguns anarquistas, entre elesVoltairine de Cleyre, um
importante precursor do pensamento crata no final do
medievo.89Quase na mesma poca, um estudante francs de
Direito,tienne de La Botieescreveu seuDiscurso sobre a Servido
Voluntria, no qual ele argumentava que a tirania resultado da
submisso voluntria, e deveria ser abolida pelas pessoas atravs da
recusa a obdecer as autoridades que acreditavam estar acima
delas.
Anarquismo e a modernidade[editar]
Do sculo XVI ao XVII[editar]
ParaLeo Tolstoi, oAnarquismo Cristotem como um dos seus mais
importantes expoentes emGerrard Winstanley, que fazia parte dos
movimento dosDiggersna Inglaterra durante aGuerra Civil Inglesa. Em
seus escritos, Winstanley afirmava que as "benos da terra" deveriam
"ser comuns a todos e nenhum senhor sobre os demais."6Em um de seus
panfletos em meio ao sculo XVII, Winstanley defendia a criao de
pequenas comunas agrrias de propriedade coletiva economia
socialmente organizada, que entrariam para a histria como os
agrarianos.
Sculo XVIII[editar]
No entanto, naera modernao primeiro a empregar o termo
"Anarquia" com um sentido outro que no o caos foiLouis-Armand, Baro
de Lahontan, em sua obra Novas viagens da Amrica Setentrional
(Nouveaux voyages dans l'Amrique septentrionale) (1703) onde
descreveu ospovos indgenashabitantes originais dasAmricascomo
sociedades sem estado, leis, prises, padres ou propriedade privada,
seres em anarquia.10
EmUma defesa da Sociedade Natural(A Vindication of Natural
Society) (1756),Edmund Burkedefendeu a abolio do governo,
posteriormente afirmaria que a obra era para ser um trabalho
satrico. Trs dcadas depoisWilliam Godwincomentaria os escritos de
Burke e seu tratado afirmando que neste "os males das instituies
polticas existentes foram revelados com uma fora de razo e
capacidade de eloqncia incomparveis, enquanto a inteno do autor era
mostrar que esses males deveriam ser considerados
trivialidades."
Thomas Jeffersontambm manifestou sua opinio sobre a sociedade
sem governo.11
A base dos nossos governos a opinio do povo, o mais fundamental
dos objetivos deveria ser manter esse direito; e se fosse deixado
para mim decidir se deveramos ter um governo sem imprensa ou
imprensa sem um governo, eu no hesitaria um momento em optar pelo o
ltimo. Mas o que quero dizer que cada homem deve receber esses
jornais e ser capaz de l-los. Estou convencido que aquelas
sociedades (como as dos ndios) que vivem sem governo contam em sua
maior parte com um grau infinitamente maior de felicidade que
aqueles que vivem sob os governos europeus. Entre os primeiros, a
opinio pblica substitui a lei e cria freios morais mais poderosos
do que as leis jamais sero onde quer que existam. Entre os ltimos,
sob a desculpa de governar, eles dividem suas naes em duas classes,
os lobos e as ovelhas. No estou exagerando. Esta uma descrio
verdica da Europa.
Piotr Kropotkinconsidera queWilliam Godwinatravs de sua
obraInqurito acerca da justia polticade1793, foi o "primeiro a
formular as concepes polticas e econmicas do Anarquismo defendendo
explicitamente a abolio de todas as formas de governo.12No entanto,
neste texto Godwin no utilizou a palavraanarquismopor considerar a
poca um termo pejorativo, uma forma de insulto comum a todo
pensamento e ao progressistas e revolucionrios. Nesta obra Godwin
defendeu a abolio do governo atravs de um processo gradual de
reforma e esclarecimento. Por suas idias Godwin considerado nos
dias de hoje um dos fundadores do "Anarquismo filosficoe um dos
antecessores doutilitarismo."[3]
Existiram diversas correntes cratas e libertrias durante
aRevoluo Francesa, com alguns revolucionrios empregando o termo
"anarchiste" em um prisma positivo como no incio de setembro
de1793.13OsEnragsse opuseram a um governo revolucionrio como uma
contradio em termos. Denunciando a ditaduraJacobina,Jean
Varletescreveu em1794que "governo e revoluo eram incompatveis, a
menos que o povo deseje estabelecer autoridades constitudas em
permanente insurreio contra elas prprias. "[4]Em seu "Manifesto dos
Iguais,"Sylvain Marchaldefendeu o desaparecimento, de uma vez por
todas da "distino revoltante entre ricos e pobres, grandes e
piquenos, mestres e servos, governantes e governados."[5]
Sculo XIX[editar]
Em1825nosEstados Unidos,Josiah Warrenparticipou dacomunidade
experimentalpensada poRobert OwenchamadaNew Harmony, que
desapareceu alguns poucos anos depois devido a conflitos internos.
Em1827, comNew Harmonydesintegrada, ele retornou aCincinnati.
ComoKenneth Rexrothescreveu, "quase todos os crticos de New Harmony
disseram que ela havia falhado pela falta de uma liderana forte,
disciplina e comprometimento. Warren chegou a concluso exatamente
oposta."14Warren condenou a falta de soberania individual da
comunidade como o motivo principal do fracasso da experincia. Ele
se esforaria ainda para organizar outras comunidades anarquistas
como aUtopiae aModern Times.
Reunindocolonosvindos deFrananoRio de Janeirono ano anterior,
inspirado na teorias deFourier, em1842o Dr.Benoit Jules Murese
dirige margens daBaa de Babitonga, perto da cidade histrica deSo
Francisco do Sulcom o objetivo de iniciar aquela que ficaria
conhecida como a primeira experincia libertria do hemisfrio sul,
oFalanstrio do Saou Colnia Industrial do Sa. A experincia duraria
poucos anos devido ao despreparo de seus componentes e incapacidade
de coeso que resultou em um grupo frente do qual estavaMichel
Derrion. Este constituiria outra colnia a algumaslguasdo Sa, num
lugar chamado Palmital: aColnia do Palmital. No entanto, ambas
experincias no prevaleceriam.
Mais de quarenta anos depois, em1889um grupo articulado por
esforo doagrnomo-veterinrioGiovanni Rossise engajaria em uma nova
experincia de comunalismo experimental. No municipalidade
dePalmeira, no interior doParaneles dariam forma a uma comunidade
baseada nos princpios libertrios docooperativismo,
doanticlericalismoe na negao de outras instituies tradicionais como
ahierarquia, omatrimnioe afamlia nuclear: esta fora
denominadaColnia Cecliaem referncia a um dos romances previamente
escritos por Rossi. Apesar desta experincia tambm ter sido de curta
durao, seu impacto no imaginrio foi tremendo tanto noBrasilcomo
naItlia. Canes e livros foram escritos inspirados nesta experincia
que seria rememorada por mais de cem anos entre os anarquistas.
O primeiro anarquista autoproclamado[editar]
Pierre-Joseph Proudhon considerado o primeiro
anarquistaauto-intitulado, uma classificao que ele adotou em sua
primeira obraO que a Propriedade?, publicada em1840. Por essa razo
alguns consideram Proudhon como o fundador da teoria anarquista
moderna.15Ele o autor da teoria doordenamento espontneona
sociedade, onde a organizao emerge sem um coordenador central para
impor suas prprias idias de ordem contrra as vontades de indivduos
agindo em seus prprios interesses; seu famoso mote sobre esta
questo , "Liberdade a me, no a filha, da ordem."
Em "O que a Propriedade?" Proudhon responde a questo seu famoso
mote em tom de denncia "Propriedade um roubo". Nesse trabalho, ele
se ope a instituio da "propriedade" (proprit), em que os donos
possuem direitos plenos de "usar e abusar" de sua propriedade da
forma como desejarem.16Em contraste ele defende o que chama de
"possesso", ou propriedade limitada de recursos e bens apenas
quando em utilizao mais ou menos continuada. Posteriormente, no
entanto, Proudhon afirmaria que "Propriedade Liberdade", e
argumentaria que ela a nica proteo contra o poder do estado.17
Sua oposio ao estado, religio instucionalizada, e certas prticas
capitalistas inspiraram libertrios que vieram depois dele,
transformando-o em um dos principais e mais influentes pensadores
de seu tempo.
Enquanto ele se opunha ao comunismo, a poltica de aluguis e aos
favorecimentos na remunerao por trabalho, tambm se ops aescravido
do salriocapitalista(i.e. lucrar em cima do trabalho de
outrem).18
Proudhon defendia como sistema econmico alternativo omutualismo,
chamandoo os trabalhadores a se auto-organizarem em sociedades
democrticas, com condies igualitrias para todos os seus membros, em
prol do colapso do feudalismo". Sob o capitalismo, argumentava, os
empregados so "subordinados, explorados" e a "condio permanente
daquele que obedece, a escravido".
As idias de Proudhon tiveram grande influncia nos movimentos da
classe operria francesa, e seus seguidores foram ativos narevoluo
de 1848naFranabem como durante aComuna de Parisem1871. No entanto,
nas duas ocasies havia outros grupos de anarquistas ativos que ora
concordavam, ora faziam frente aos seguidores de Proudhon. Entre os
anarquistas que participaram da Revoluo de 1848 na Frana esto
includosAnselme Bellegarrigue,Ernest CoeurderoyeJoseph Djacque,
este ltimo foi a primeira pessoa a se autodeclarar um "libertrio".
Djacque foi tambm um crtico do antifeminismo de Proudhon e de seu
mutualismo, adotando uma posioanarco-comunista.19
Outrosanarco-comunistas, comoKropotkin, posteriormente tambm
discordariam de Proudhon por sua defesa da "propriedade privada" na
produo do trabalho (i.e. trabalhos, ou "remunerao pelo trabalho
feito") ao invs da livre distribuio de produtos do labor.20
Anarcoindividualismo[editar]
A partir da influncia da obraO nico e sua propriedadeescrita
porMax Stirnere publicada emLeipzignaAlemanhaem1844surge uma nova
vertente libertria conhecida comoanarquismo individualistaou
abreviadamenteanarcoindividualismo. Neste livro Stirner lana uma
crtica radical pr-indivduo e antiautoritria sobre sociedade
prussiana contempornea e por extenso toda sociedade ocidental. O
livro proclama que todas as formas de religio e ideologias, assim
como o estado, a legislao e os sistemas educacionais so ilegtimos
por repousarem em conceitos vazios que buscam limitar os indivduos
atravs da sobreposio da autoridade de uns sobre a individualidade
de outros.
Os argumentos apresentados por Stirner com base no criticismo
hegeliano, questionavam muitas das ideologias que a poca eram
populares entre elas onacionalismo, oestadismo, oliberalismo,
osocialismo, ocomunismoe ohumanismo.
Socialismo libertrio[editar]
Na segunda metade dosculo XIXo socialismo libertrio ouanarquismo
comunistaganharia corpo a partir dos escritos de tericos
comoMikhail BakuninePiotr Kropotkinem dilogo com a
criticamarxistado capitalismo, mas sintetizando tambm um outro
conjunto de crticas proposta "estadista revolucionria" (ditadura do
proletariado) defendida por Marx e Engels para a superao do
capitalismo, enfatizando a importncia de uma perspectiva comunal
para manuteno da liberdade individual num contexto social. Nesse
sentido a alcunhaSocialismo libertriose contrape a perspectiva
doSocialismo autoritriodefendido por Marx, Engels e outros autores
identificados com seus escritos.
Bakuninviu a necessidade de defender a classe trabalhadora
contra a opresso e a dominao da classe dominante como um meio de
dissolver o estado.Kropotkinpor sua vez baseado em estudos
dezoologiaeevoluo biolgicaconcluiu que a cooperao superava de longe
a competio em sua importncia para sobrevivncia das espcies.
Em1902ele publicaria suas concluses e suas crticas s idias
emergentes deDarwinismo socialem seu livroMutualismo: Um Fator de
Evoluo.
Anarquismo ilegalista e Niilismo[editar]
Tendo suas bases na filosofiaanarcoindividualistaem um contexto
de grande perseguio eviolnciapor parte dos estados nacionais para
com os libertrios oanarco-ilegalismoganhou fora no final dosculo
XIXna forma de ciclos de retaliao, vingana, sabotagem e
assassinatos orquestrados entre estadistas
(reis,generaisepresidentes) e os ilegalistas, minoritrios entre os
libertrios, em sua maioria adeptos da chamadapropaganda pelo
Ato.
Acreditavam os ilegalistas que atravs de atos de violncia e
assassnios de figuras chave do capitalismo seria possvel alcanar um
momento revolucionrio onde o estado e a dominao capitalista seriam
abolidos. Sua forma mais radical surgiu na Rssia onde na luta
contra o estado e diante de um alto grau de represso, diversos
revolucionrios em sua guerra contra o poder consideravam que os
poderes do estado deveriam ser derrubados fosse qual fosse o custo.
Este movimento ficou conhecido comoNiilismoe teve entre suas
principais figuras o revolucionrioSergey Nechayev.
Tais aes na medida em que serviam de base parapropaganda
antianarquistabem como justificativa para amplas perseguies a
grupos libertrios sem qualquer envolvimento, foram amplamente
refutadas por muitos outros anarquistas que as consideravam
ineficientes, nocivas e contra produtivas.
A despeito dos anarcoilegalistas e niilistas serem muito poucos
se comparados s demais vertentes, fundamentados em seus atos os
propagandistas doanti-anarquismotrabalharam durante muito tempo com
o intuito de associar o anarquismo as imagens da bomba, do punhal,
assim como ao caos. Como em muitos casos, mais tarde outros grupos
anarquistas adotariam tais imagens como seus prprios smbolos.
Sobre os liberais[editar]
Osliberaisforam frequentemente rotulados de "anarquistas"
pormonarquistas, mesmo quando no defendiam a abolio da hierarquia.
Ainda assim, eles promoveram ideais limitados de igualdade, atravs
da defesa de direitos individuais, e da responsabilidade dos povos
de julgar seus governantes, providenciando uma base para o
desenvolvimento do pensamento anarquista. Desenvolvida com base nos
preceitos liberais a sociedade poltica estadunidense possui
diversos pensadores cuja obra considerada tanto pelos liberais
quanto pelos anarquistas, o caso deHenry David Thoreaue sua
obraDesobedincia civil. Como ele, outros liberais clssicos
considerados radicais entre seus pares acabaram por ser associados
com a tradio do socialismo libertrio.
Anarcocapitalismosurgiria bem mais tarde quando grupos de
liberais defendendo ideologias de livre-mercado ao ponto de negarem
a necessidade do estado, aspecto no qual se assemelharam ao
anarquismo. Outros anarquistas argumentam que o capitalismo um
sistema hierrquico que viola os princpios de no-hierarquia da
filosofia anarquista. Anarcocapitalistas e anarquistas
(anticapitalistas) geralmente concordam que o anarcocapitalismo
parte da tradio liberal clssica da escola libertariana de
pensamento ao invs de estar afiliado ao anarquismo "clssico".
Sculo XX[editar]
Por todo osculo XX, os anarquistas atuaram politicamente junto
aos movimentos operrio, campons e feminista. Muitos libertrios
tambm dedicaram suas vidas luta contra o autoritarismo, o racismo e
o fascismo. A influncia destas lutas sobre algumas vertentes
anarquista notvel.
Os anarquistas assumiram importantes papis em diversas revoltas
e revolues no final dosculo XIXe incio dosculo XX, como o levante
do exrcito negro na Ucrnia, tambm conhecido como
movimentomakhnovistacontra as forassovietesque chegaram ao poder
com aRevoluo Russaem1917.
No Brasil e na Amrica do Sul junto com as levas de imigrantes
vindos da Europa desde a segunda metade do sculo XIX, o Anarquismo
se fez conhecer, inicialmente atravs de diversas publicaes nas
principais cidades. Logo floresceram centenas de sindicatos
anarquistas, centros culturais e escolas libertrias, a maioria
delas de orientao anarco-sindicalista. Pelo menos duas greves
gerais ocorreram na dcada de1910e esta mesma dcada terminaria com
uma insurreio anarquista no ano de 1919 paralisando a capital do
pas.
Neste contexto no Brasil destacam-se as atuaes de diversos
ativistas entre elesEdgard Leuenroth,Djalma Fettermann,Domingos
Passos,Jos Oiticica,Maria Lacerda de Moura,Neno VascoOreste
Ristori,Gigi Damiani,Zenon de Almeida,Fbio Luz,Florentino de
Carvalho,Avelino Fscoloentre outros.
Nos Estados Unidos, muitos dos imigrantes vindos da Europa no
incio deste sculo tambm eram anarquistas. Grupos de libertrios
italianos se organizariam em diversas atividades, algumas delas de
cunho ilegalista na luta por melhores condies de trabalho e contra
a misria a que estavam submetidos. Notvel tambm foi a atuao dos
anarquistas judeus vindos daRssiaeEuropa Orientaldesde a segunda
metade do sculo XIX. Estes fundaram diversos jornais que circulavam
por redes internacionais de informao e solidariedade.
Tambm no contexto estadunidense do incio do sculo XIX foi
especialmente marcante os episdios referentes ao julgamento e
condenao deSacco e Vanzettique por todo mundo mobilizaram milhares
de trabalhadores a tomarem as ruas em solidariedade e exigindo
justia. Muitos sindicatos e organizaes operrias norte-americanas de
orientao anarco-sindicalista desempenharam um papel importante na
formao do espectro poltico daquele pas. Entre eles destacam-se a
atuao histrica dos ativistas daIndustrial Workers of the World.
Merecem destaque no contexto estadunidense a atuao deAlexander
Berkman,Emma Goldman,Johann Most,Kate Austin,Lucy Parsons,Luigi
Galleani,Voltairine de Cleyre,Rudolf Rockerentre muitos outros.
NaEuropa, no primeiro quarto do sculo XX, os movimentos
anarquistas alcanaram xitos relativos, ainda que breve, e acabaram
por ser violentamente reprimidos. No entanto, nas dcadas de 1920 e
1930, o conflito entre o anarquismo e o estado foi em grande medida
eclipsado pelo conflito entre ocapitalismoe ocomunismo- entre suas
vertentes oLiberalismo, oFascismo, e oStalinismo- que terminou com
a derrota do Fascismo Europeu naSegunda Guerra Mundial. Durante
aGuerra Civil Espanhola- que muitos consideram um preludio da
Segunda Guerra - um amplo movimento anarquista popular organizado
em milcias e organizaes operrias se estabeleceu
naCatalunhaem1936e1937ecoletivizoua terra e a indstria. Com o tempo
e o crescimento dos aparatos de controle stalinistas na Repblica,
os anarquistas foram primeiro colocados de lado para depois serem
esmagados. A ao stalinista beneficiaria a chegada ao poder do
regime franquista de orientao fascista, do qual os stalinista
oficialmente fizeram oposio.
Ao fim da Segunda Grande Guerra, a Europa estava dividida entre
a regio capitalista sob a influncia do liberalismo estadunidense, e
a regio comunista sob o controle da Unio Sovitica, estabelecendo as
bases geogrficas para a dicotomia poltica entre o comunismo e o
capitalismo que se espalharia pelo globo na forma de golpes,
insurreies, invases e guerrilhas. No entanto, a influncia filosfica
do anarquismo permaneceria latente at ressurgir na dcada de
1960.
Um ressurgimento do interesse popular no anarquismo se deu
durante as dcadas de 1960 e 1970. NoReino Unidoele esteve associado
com o movimentoPunk; a bandaCrass celebrada por suas ideias
pacifistas e anarquistas. NaDinamarca, aCidade Livre de Christiania
fundada no subrbio deCopenhagen. A crise de emprego e habitao na
maior parte do leste europeu leva a formao do movimento
decomunaseokupasque permanece vigoroso em diversas partes da
Europa, principalmente naEspanhaeAlemanha.
Em1980novas vertentes do anarquismo ganham corpo nas reflexes e
prticas de grupos libertrios que se distanciam do anarquismo
clssico. De um lado o ecologismo radical, rejeio da tecnologia
moderna, e a crtica civilizao tornam-se as bases
doAnarcoprimitivismodefendido nas reflexes de tericos comoJohn
Zerzane nas prticas de ativistas comoTheodore Kaczynski(o
Unabomber).