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Análise Quantitativa de Negociações Internacionais Relatório do Projeto
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Análise Quantitativa de Negociações Internacionais

Jan 08, 2017

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Análise Quantitativa de Negociações Internacionais

Relatório do Projeto

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Acordos comerciais: oportunidades e desafios para a economia brasileira

A ampliação e a diversificação da pauta exportadora brasileira na última década

contribuíram diretamente para a criação de empregos e renda em diversos

níveis, influenciando, de maneira ampla, o desenvolvimento produtivo da indús-

tria brasileira. Para que esse movimento se intensifique, é necessário que a

melhoria da competitividade interna esteja aliada a estratégias específicas de

acesso a novos mercados.

Apesar de as iniciativas multilaterais no âmbito da Organização Mundial do

Comércio (OMC) terem contribuído para o debate sobre liberalização comercial,

diversas nações têm atuado intensivamente nos planos regional e bilateral para

a ampliação de suas exportações por meio da celebração de Acordos Preferenciais

de Comércio.

A consolidação desses acordos e seus efeitos sobre o fluxo internacional de

comércio têm sido o foco de diversos estudos e pesquisas da FIESP, já que tais

arranjos vão além da esfera comercial, gerando efeitos na economia internacio-

nal como um todo. Para o Brasil, a celebração de compromissos desse tipo é

fundamental para nossa inserção no cenário global. Sabemos que parcerias

estratégicas bem delineadas tendem a promover o aumento do fluxo comercial,

a ampliação do fornecimento de serviços e o estímulo ao fluxo de investimentos

entre as partes.

Com o objetivo de identificar potenciais parcerias comerciais para o Brasil, rea-

lizamos este estudo em conjunto com o Instituto de Estudos do Comércio e

Negociações Internacionais (ICONE). Assim, a principal meta dessa publicação é

apresentar aos setores produtivos e à sociedade brasileira um panorama dos

desafios e oportunidades que o Brasil teria com a celebração de acordos prefe-

renciais de comércio com determinados países e blocos regionais. Dessa forma,

a FIESP busca contribuir com a geração de massa crítica sobre esse tema com

influência direta em diversos aspectos da economia internacional e, consequen-

temente, do desenvolvimento brasileiro.

Paulo Skaf

Presidente

Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP

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Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP

Paulo SkafPresidente

Roberto Giannetti da FonsecaDiretor Titular

Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior

Mário MarconiniDiretor Titular Adjunto

Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior

Frederico Arana MeiraGerente

Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior

José Luiz Pimenta Jr.Coordenador de Negociações Internacionais

Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior

Organização e Execução

Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior – FIESPFrederico Arana MeiraJosé Luiz Pimenta JuniorCléber PellizzonJuliana Pucci SuzukiMarina Migliore GonzálezWellington Lima Freire

Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (ÍCONE)André Nassar Leila Harfuch

Consultoria Externa Prof. Dr. Ângelo Costa GurgelProf. Dr. do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e

Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP).

Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESPDepartamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior – DEREXAvenida Paulista, 1313, Cerqueira César – São Paulo/SPInformações: 55 11 3549-4532 ou [email protected]/derexANO/2011

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As análises e opiniões contidas neste estudo não representam o posicionamento oficial da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) nem o das entidades consultadas. As opiniões aqui presentes têm o propósito exclusivo de agregar valor aos debates sobre as prioridades da política comercial no Brasil.

Sumário

Introdução 7

1. Objetivos 11

2. Metodologia - Simulações 13

2.1 Agregação de Setores e de Países no GTAP 16

2.2 Comparação e Correção das Bases de Dados de Tarifas 17

2.3 Cenários de Liberalização de Comércio Bilateral 22

3. Metodologia - Consultas ao Setor Privado 25

4. Contextualização 27

5.Resultados 31

5.1 Fluxos Comerciais Bilaterais 32

5.1.1 Acordo Comercial MERCOSUL – Índia 32

5.1.2 Acordo Comercial MERCOSUL – México 37

5.1.3 Acordo Comercial MERCOSUL – SACU 42

5.1.4 Acordo Comercial MERCOSUL – América do Sul 47

5.1.5 Acordo Comercial MERCOSUL – Estados Unidos (EUA) 52

5.1.6 Acordo Comercial MERCOSUL – União Europeia (UE) 57

5.1.7 Acordo Comercial MERCOSUL – Japão 62

5.1.8 Síntese dos Impactos nos Fluxos Bilaterais 67

5.2 Produção Setorial 74

5.3 PIB e Remuneração dos Fatores 76

Considerações Finais 79

Anexo 1 83

Relatório ABICALÇADOS 86

Relatório ABIMAQ 90

Relatório ABINEE 94

Relatório ABIQUIM 98

Relatório ABIT/ABRAFAS 101

Relatório BRACELPA 105

Relatório General Motors 108

Relatório ICONE 111

Relatório SINDIPEÇAS 114

Relatório Volkswagen 117

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Glossário

ABICALÇADOS: Associação Brasileira da Indústria de CalçadosABIMAQ: Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e EquipamentosABINEE: Associação Brasileira da Indústria Elétrica e EletrônicaABIQUIM: Associação Brasileira da Indústria QuímicaABIT: Associação Brasileira da Indústria TêxtilABRAFAS: Associação Brasileira de Produtores de Fibras Artificiais e SintéticasACE: Acordo de Complementação EconômicaALADI: Associação Latino-americana de IntegraçãoALC: Acordo de Livre ComércioALCA: Área de Livre Comércio das AméricasANFAVEA: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos AutomotoresAPC: Acordo Preferencial de ComércioAPTF: Acordo de Preferências Tarifárias FixasBNT: Barreira Não TarifáriaBRACELPA: Associação Brasileira de Celulose e PapelCDE: Elasticidade de Diferença Constante (Constant Difference of Elasticities)CEPII: Centro Francês de Pesquisa em Economia InternacionalCES: Elasticidade de Substituição Constante (Constant Elasticity of Substitution)EUA: Estados Unidos da AméricaFIESP: Federação das Indústrias do Estado de São PauloGATT: Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariff and Trade)GM: General MotorsGTAP: Projeto de Análise do Comércio Global (Global Trade Analysis Project)IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICONE: Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais IDB: Base de Dados Integrada (Integrated Data Base)IFPRI: Instituto Internacional de Pesquisa sobre Política Alimentar (International Food Policy Research Institute)ITA: Acordo de Tecnologia de Informação (Information Technology Agreement)ITC: Centro Internacional de Comércio (International Trade Center)MDIC: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorMERCOSUL: Mercado Comum do SulMFN: Nação Mais Favorecida (Most Favoured Nation)MIDP: Programa de Desenvolvimento da Indústria Automotiva (Motor Industry Development Program)NAFTA: Acordo Norte-americano de Livre Comércio (North American Free Trade Agreement)NALADI/SH: Nomenclatura da Associação Latino-americana de Integração, com base no Sistema HarmonizadoNCM: Nomenclatura Comum do MercosulOMC: Organização Mundial do ComércioPIB: Produto Interno BrutoREACH: Registro, Avaliação, Autorização e Restrição de Substâncias QuímicasSACU: União Aduaneira da África Austral (Southern Africa Customs Union)SGP: Sistema Geral de PreferênciasSINDIPEÇAS: Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos AutomotoresUE: União EuropeiaUNCTAD: Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (United Nations Conference on Trade and Development)WEEE: Waste in Electrical and Electronics EquipmentWITS: Solução Integrada do Comércio Mundial (World Integrated Trade Solution)

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Introdução

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O Brasil se tornou, em 2010, a 7ª maior economia do mundo e é consi-

derado, juntamente com Índia, China e Rússia, um dos grandes países em de-

senvolvimento com potencial para alterar a configuração da economia global

nos próximos anos. Apesar de ter apresentado, nesse mesmo ano, um PIB de

US$ 2,08 trilhões, o comércio exterior brasileiro representou apenas 18% do seu

Produto Interno Bruto1. Além disso, o país participou, nesse mesmo período, de

apenas 1,4% da corrente de comércio mundial2.

Tais dados apresentam a baixa inserção do país no comércio internacional

e reforçam a necessidade de se adotar uma política comercial pró-ativa no que

tange ao acesso a mercados, principalmente por meio da celebração de Acor-

dos Preferenciais de Comércio (APCs). A Rodada Doha de negociações multila-

terais, no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC), foi paralisada

principalmente devido a divergências entre países industrializados e emergentes

quanto à liberalização de produtos agrícolas. Com isso, iniciativas para o estabe-

lecimento de APCs passaram a ser cada vez mais frequentes. Desde o início das

negociações da Rodada Doha, em 2001, até o ano de 2010, mais de 100 APCs

foram celebrados, sendo que o Brasil assinou, fora do âmbito da Associação La-

tino-americana de Integração (ALADI), acordos desse tipo com apenas 4 países/

blocos: Índia, Israel, União Aduaneira da África Austral (SACU) e Egito, os dois

últimos ainda sem vigência.

Apesar da adesão tardia do Brasil a esta tendência, o governo, por meio do

MERCOSUL, engajou-se, ao longo da última década, em inúmeras negociações

bilaterais e regionais para a conclusão de acordos de comércio. Além da retoma-

da das negociações com a União Europeia (UE), em tentativa desde 2004, o país

esteve em processo de negociação, seja para Acordos de Livre Comércio (ALCs),

seja para Acordos de Preferências Tarifárias Fixas (APTFs), com países/blocos

como: México, Jordânia, Conselho de Cooperação do Golfo, Turquia, Marrocos e

Paquistão. Dentre essas, restaram atualmente negociações com Jordânia e UE3.

Há, porém, uma carência de estudos que visem a mensurar os reais impac-

tos de tais arranjos. As simulações quantitativas pouco são utilizadas para tomar

decisões ou mesmo negociar com os setores da economia brasileira. A desgrava-

ção tarifária prevista nesses tem, certamente, consequências complexas, muitas

vezes não atendidas pela simples observação de dados históricos de comércio.

Ademais, é necessário que o setor privado brasileiro crie familiaridade com a

operacionalização de tais modelos, uma vez que estes podem servir de base para

a definição de estratégias internacionais de atuação, já que levam em conta

pressupostos fundamentais da teoria econômica.

1 Fontes: Banco Mundial, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).2 Fonte: Organização Mundial do Comércio (OMC).3 Fonte: MDIC.

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Nesse sentido, o presente trabalho visa a estabelecer uma análise ampla

e dotada de rigor metodológico, que agrega os resultados obtidos por meio da

simulação quantitativa às percepções qualitativas dos setores em face do proces-

so de liberalização. Essa dinâmica se propõe, sobretudo, a estabelecer resultados

confiáveis e norteadores da tomada de decisão dos setores público e privado no

que se refere às negociações dos diversos tipos de APCs.

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1. Objetivos

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O presente trabalho tem como objetivo simular quantitativamente os

principais impactos econômicos de APCs entre o MERCOSUL e países diversos, de

forma a identificar aqueles setores com vantagens comparativas e quantificar as

possíveis mudanças em fluxos comerciais e produção setorial, bem como o efei-

to agregado sobre a economia em termos de Produto Interno Bruto, consumo

agregado e remuneração dos fatores produtivos. Além disso, visa, por meio das

consultas setoriais, a fornecer um viés qualitativo no que se refere às eventuais

oportunidades e desafios que a celebração desses acordos representa à econo-

mia nacional.

Para tanto, foram simulados acordos de comércio entre o MERCOSUL e

os seguintes parceiros: México, Índia, SACU, EUA, UE, Japão e América do Sul.

Os acordos foram simulados pela redução parcial ou completa eliminação das

tarifas aplicadas às importações bilaterais entre o MERCOSUL e o país ou região

de interesse, a partir de um modelo econômico de alcance global desenvolvido

para o estudo de políticas comerciais.

Consequentemente, este trabalho visa a servir de subsídio para as nego-

ciações em curso, procurando evidenciar o nível de competitividade relativa dos

diversos setores produtivos e as oportunidades e desafios setoriais diante da

possível redução de barreiras tarifárias em prática entre o MERCOSUL e seus

parceiros comerciais.

Espera-se que este trabalho seja utilizado pelo negociador brasileiro

e pelo setor privado de três formas. Em primeiro lugar, no suporte técnico ao

negociador para a tomada de decisão em relação aos APCs que podem trazer

benefícios econômicos para o Brasil e, portanto, devem ser considerados na es-

tratégia comercial do governo brasileiro. Os resultados mostram que há acordos

que deveriam ser perseguidos pelo governo porque são benéficos a vários seto-

res. Além disso, as considerações realizadas pelas entidades aos resultados das

simulações quantitativas tendem a tornar mais preciso o potencial benefício que

os acordos podem gerar.

Em segundo lugar, por medir os impactos setoriais, este estudo indica,

quantitativamente, a sensibilidade da estrutura produtiva brasileira aos acordos

simulados, o que permite ao governo e ao setor privado estimarem a necessida-

de de tratamento diferenciado.

Em terceiro lugar, os resultados contribuem para a avaliação sobre a ne-

cessidade de reformas econômicas no Brasil que contribuam para o aumento da

competitividade da economia brasileira. Este estudo mostra que alguns setores

não se expandem em nenhum acordo, o que acende um sinal amarelo sobre a ca-

pacidade de esses competirem no mercado interno com os produtos importados.

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2. MetodologiaSimulações

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A análise de acordos comerciais multissetoriais requer o uso de uma me-

todologia capaz de captar as inter-relações entre os diversos setores e mercados,

tanto de insumos quanto de bens finais, bem como a disponibilidade de fatores

de produção (trabalho, capital e terra) e as restrições existentes na oferta desses

fatores e nas opções tecnológicas das empresas. Modelos de equilíbrio geral são

capazes de representar todas essas relações econômicas de forma consistente, na

medida em que especificam como cada setor da economia organiza sua produ-

ção, descrevendo as quantidades de cada insumo adquirido de outro setor e as

quantidades de capital e trabalho empregados.

Outra condição importante para a análise de acordos comerciais é a ne-

cessidade da representação de vários países e regiões ao mesmo tempo, uma vez

que os acordos firmados entre um grupo qualquer de países tendem a afetar e

serem afetados pelos mercados mundiais como um todo.

Feitas essas considerações, optou-se por utilizar, na presente pesquisa,

o modelo conhecido como Global Trade Analysis Project - GTAP (Hertel, 1997;

GTAP, 2001). O modelo GTAP foi criado em 1992 como um programa de pesquisa

com o objetivo de fornecer à comunidade científica uma base de dados e uma

ferramenta para uso em análises quantitativas de comércio internacional, redu-

zindo os custos de entrada em trabalhos de equilíbrio geral de âmbito mundial.

O modelo GTAP permitiu o estabelecimento de uma rede global de pesquisa-

dores interessados em questões de análises de comércio multirregional, sendo

referência em diversos estudos quantitativos promovidos por universidades, ins-

titutos e organizações em todo mundo.

O GTAP é um modelo de equilíbrio geral capaz de representar os fluxos

comerciais e principais instrumentos de proteção comercial existentes no mun-

do, sendo ideal para as análises relativas à integração comercial. A base de da-

dos do modelo GTAP considera 113 países e regiões do globo, que podem ser

agregadas de acordo com as necessidades da pesquisa. A economia de cada país

ou região é representada por um total de 57 setores e commodities e 5 fatores

primários de produção. O modelo utiliza o software GEMPACK, desenvolvido

por Codsi e Pearson (1988).

A versão mais recente da base de dados do GTAP, utilizada no presente es-

tudo, representa o ambiente econômico de 2004. Cada país ou região do mode-

lo tem sua economia representada por uma matriz de contabilidade social com

valores em dólares, construída a partir das informações de insumo-produto for-

necidas ao GTAP por organizações públicas ou privadas, instituições de pesqui-

sa responsáveis por informações econômicas e estatísticas, e pesquisadores dos

diversos países. Os fluxos comerciais setoriais e bilaterais do GTAP são resultado

de um cuidadoso esforço de reconciliação de bases de dados internacionais e

estatísticas nacionais. Os dados das barreiras comerciais são oriundos do Market

4 A construção do Market Access Map Database é um esforço conjunto do International Trade Center (ITC) (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento /Organização Mundial do Comércio), do Centro Francês de Pesquisa em Economia Internacional (CEPII) e do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Política Alimentar (IFPRI).

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Access Map Database, que por sua vez é resultado de um esforço conjunto de di-

versas instituições internacionais em coletar e conciliar informações de barreiras

mundialmente (Debucquet, 2009). 4

Os setores produtivos do GTAP são representados por funções de produ-

ção que geram “árvores tecnológicas”, como a apresentada na Figura 1. Nessa

figura, as firmas utilizam uma função de produção que combina um agregado

de fatores primários de produção (terra, capital e trabalho) e um agregado de

insumos intermediários com uma elasticidade de substituição nula entre eles

(Leontief), o que significa que esses conjuntos de insumos não podem ser subs-

tituídos entre si, sendo utilizados de forma complementar. Os fatores primários,

por sua vez, são combinados por meio da função Elasticidade de Substituição

Constante (CES), que é definida por uma elasticidade de substituição baseada na

literatura econômica. O papel dessa elasticidade é definir o grau de substituição

de um fator primário por outro no processo produtivo. 5

Cada insumo intermediário utilizado pelo setor é uma composição de bens

domésticos e um agregado de bens importados, combinados por meio de uma

elasticidade de substituição maior que zero e menor que infinito. O agregado de

bens importados, por sua vez, é composto pela soma das importações bilaterais,

que são também diferenciados pela origem por meio de uma elasticidade de

substituição constante. 6

5 Como exemplo, setores em que o fator capital pode substituir facilmente o fator trabalho terão elasticidades de substi-tuição maiores. Setores em que o capital e o trabalho devem ser utilizados de forma complementar, sem capacidade de um substituir o outro, terão elasticidade de substituição igual a zero.6 Essa representação de substituição limitada entre um mesmo bem com origem doméstica e importada e entre um mesmo bem importado de vários países diferentes é conhecida como Pressuposição de Armington, em que bens com origens di-ferentes são substitutos imperfeitos. Essa pressuposição permite considerar, de forma simples, que existe heterogeneidade na qualidade dos bens de acordo com a origem, e que a troca de fornecedores no comércio internacional está sujeita a dificuldades como rigidez de contratos e custos de novas transações. A capacidade de substituição entre bens domésticos e importados e entre importados de diferentes origens tende a ser maior quanto mais homogêneo o produto. Por exemplo, para commodities como trigo e arroz, a elasticidade de substituição entre bens domésticos e importados é de cerca de 4,5 a 5,0, enquanto para veículos automotivos é de apenas 2,8. De forma simples, a elasticidade de 5,0 indica que um aumento de 1% no preço do bem doméstico em relação ao preço do bem importado gera um aumento de cerca de 5% na participação do bem importado, nas compras do setor, em relação ao bem doméstico.7 HERTEL, T. W. (ed.), 1997. Global Trade Analysis: Modeling and Applications. New York, Cambridge University Press, 403 p.

Sendo:CES: Função de Elasticidade de Substituição Constante Sigma: Elasticidade de SubstituiçãoAlfa: Valor assumido pelas elasticidades de substituição no modelo, o qual é específico ao setor e à região do GTAP.

Figura 1 - Árvore Tecnológica do GTAP7

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2.1 Agregação de setores e de países no GTAP

A base de dados original do modelo GTAP é formada por 113 países ou

regiões e 57 setores e commodities, que incluem todos os continentes do glo-

bo e diversas atividades agropecuárias, industriais e de serviços detalhadas. De

acordo com os interesses de cada pesquisa, tanto os países ou regiões quanto os

setores podem ser agregados, de forma a focar nos objetivos específicos de cada

análise. Isso facilita o processamento das informações e a capacidade computa-

cional do modelo GTAP, tornando-o mais ágil e preciso em encontrar soluções

para as análises consideradas.

De forma a atender aos objetivos deste estudo, os setores foram agre-

gados em 43 grupos, considerando a desagregação original de quase todos os

setores do GTAP, exceto aqueles ligados a comércio e serviços (Tabela 1). Um

único setor definido como “serviços” agrega os seguintes setores no GTAP: dis-

tribuição de gás, água, construção, comércio, transportes, comunicação, serviços

financeiros, seguros, serviços públicos de administração, recreação, serviços de

educação, saúde e defesa e outros serviços. Como o objetivo desta análise é

avaliar de forma prioritária os impactos de acordos bilaterais sobre as cadeias

agropecuária e industrial, o setor de serviços foi agregado em um único grupo.

Fonte: GTAP

Tabela 1 - Agregação dos setores do modelo GTAP no estudo

Setor GTAP Descrição Setor GTAP Descrição

1 pdr Arroz 23 pcr Arroz beneficiado

2 wht Trigo 24 sgr Açúcar

3 gro Milho e outros cereais 25 ofd Outros produtos alimentícios

4 v_f Vegetais e frutas 26 b_t Bebidas e tabaco

5 osd Sementes oleaginosas 27 tex Têxteis

6 c_b Cana-de-açúcar e beterraba 28 wap Vestuário

7 pfb Algodão e plantas fibrosas 29 lea Couro e calçados

8 ocr Outras culturas 30 lum Indústria da madeira

9 ctl Bovinos, caprinos e equinos 31 ppp Papéis e similares

10 oap Suínos e aves 32 p_c Refino do petróleo e carvão

11 rmk Leite cru 33 crp Químicos, plásticos e borracha

12 wol Lã 34 nmm Produtos minerais não metálicos

13 frs Produtos florestais 35 i_s Siderurgia

14 fsh Pescados 36 nfm Metais preciosos e não ferrosos

15 coa Carvão 37 fmp Produtos metálicos e metalurgia

16 oil Petróleo 38 mvh Veículos automotivos e peças

17 gas Gás natural 39 otn Outros equipamentos de transporte

18 omn Mineração 40 ele Equipamentos elétricos e eletrônicos

19 cmt Carnes de bovinos, caprinos e equinos 41 ome Máquinas e equipamentos

20 omt Carnes de suínos e aves 42 omf Outros manufaturados

21 vol Óleos vegetais 43 ser Serviços

22 mil Laticínios

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A agregação de países ou regiões foi feita de acordo com os interesses da

FIESP em avaliar Acordos Preferenciais de Comércio para o Brasil, como membro

do MERCOSUL, com países ou regiões específicas, além de considerar separada-

mente os principais players no comércio internacional. Os 113 países ou regiões

do modelo GTAP foram agregados em 22, sendo 17 países e 5 regiões (Tabela 2).

O mapeamento das 113 regiões e países do GTAP nos países e regiões utilizados

no estudo está detalhado no Anexo 1.

Tabela 2 - Agregação de países e regiões do modelo GTAP no estudo

Fonte: GTAP12 A região “Resto da América do Sul” compreende: Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Belize e Ilhas Malvinas

2.2 Comparação e Correção das Bases de Dados de Tarifas

O objetivo da elaboração de uma metodologia de comparação e correção

de tarifas foi adaptar a base de dados do GTAP à realidade atual, uma vez que as

médias tarifárias calculadas para cada setor nem sempre representavam o nível

de proteção efetivo nas trocas comerciais. Considerando que o GTAP utiliza ma-

trizes de insumo-produto e bases de dados de comércio e tarifas atualizadas até

2004, as mesmas foram comparadas com base de dados de comércio de 2004 e

com dados de tarifas mais recentes (2008 ou 2009), conforme a disponibilidade.

No caso da comparação de tarifas de importação, foi utilizada a Base de

Dados Integrada (IDB)7, da Organização Mundial do Comércio (OMC), compilada

na plataforma Solução Integrada do Comércio Mundial (WITS)8 do Banco Mun-

dial. A comparação foi feita para países selecionados, de acordo com as simula-

ções dos acordos comerciais bilaterais em análise neste estudo.

Com a utilização da plataforma WITS foi possível comparar as tarifas

representativas dos setores e em ad valorem equivalente, compatíveis com a

metodologia adotada pelo GTAP. Nesse caso, as tarifas apresentadas significam

7 Base de Dados Integrada (IDB). Organização Mundial do Comércio. Disponível em: https://sft.wto.org/.8 Utilizou-se a plataforma Solução Integrada do Comércio Mundial (WITS) do Banco Mundial que contempla as bases de dados de tarifas do IDB. Disponível em: http://wits.worldbank.org/wits/

Países e Regiões

1 Brasil 12 Equador

2 Argentina 13 Peru

3 Paraguai 14 Venezuela

4 Uruguai 15 Resto da América do Sul

5 México 16 SACU

6 Estados Unidos 17 Egito

7 Canadá 18 China

8 América Central e Caribe 19 Índia

9 Bolívia 20 Japão

10 Chile 21 União Europeia

11 Colômbia 22 Resto do Mundo

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uma média ponderada dos produtos incluídos em cada setor do GTAP. O cálcu-

lo considera também especificidades como cotas tarifárias, tarifas específicas e

preferenciais9.

Os passos utilizados para comparação de tarifas foram os seguintes:

(i) Agregação de setores e regiões do GTAP especificamente para

comparação de tarifas;

(ii) Definição e aplicação de critérios estatísticos para comparar as tarifas;

(iii) Identificação dos setores do GTAP que possuem tarifas discrepantes

em relação à base IDB, considerando os critérios definidos em (ii).

Foi utilizada a agregação de 45 setores no GTAP (dos 57 setores disponí-

veis, considerando um único setor para os doze setores referentes a serviços e

transportes) e 87 regiões (sendo considerados os 27 países da União Europeia

como uma única região), como descrito na seção anterior. A análise de correção

de tarifas foi feita para o comércio bilateral entre cada país/região de interesse.

Os seguintes países/blocos de interesse foram selecionados: Brasil, Argentina,

Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru, Venezuela, Equador, Colômbia, México,

União Europeia, Estados Unidos, Japão e África do Sul.

O método utilizado para correção das tarifas da base de dados do GTAP

foi o ajuste daquelas que apresentaram um desvio maior do que 10% (para cima

ou para baixo) em relação às apresentadas pela base de dados do WITS (utili-

zando a base de tarifas do IDB) para o comércio bilateral. Neste caso, as tarifas

utilizadas foram coletadas na base WITS e corrigidas no GTAP.

Nos setores em que a base WITS não apresentou os dados de tarifas (va-

lores em branco), foi utilizada a base de dados original do IDB, utilizando a

média simples das linhas tarifárias de cada setor do GTAP para comparação. A

correção para esses casos foi feita a partir do mesmo critério anterior, alterando

as tarifas do GTAP que apresentaram um desvio maior do que 10% em relação

à base do IDB.

A vantagem dessa ponderação é evitar resultados superestimados na pre-

sença de tarifas aplicadas muito elevadas e valores de comércio muito reduzido.

Tal abordagem, mais conservadora, preferida no presente estudo, apresenta um

viés relevante: a ponderação da tarifa pelo valor do comércio para diversas li-

nhas tarifárias pode trazer valores muito abaixo da tarifa NMF, levando a uma

tarifa inicial quase nula, gerando, consequentemente, mudanças mais modestas

após a simulação do acordo comercial.

Outro fator que justifica a revisão realizada nas tarifas se refere às incer-

tezas quanto ao uso de equivalentes ad valorem no GTAP, os quais consideram,

no cálculo, tarifas preferenciais, específicas e cotas tarifárias. O cálculo dos equi-

valentes ad valorem é complexo e, por isso, optou-se por avaliar se havia algum

viés evidente nos valores utilizados como padrão no GTAP. Além disso, dado que

9 Mais detalhes sobre a metodologia utilizada pelo GTAP para o cálculo das tarifas pode ser encontrado em: HERTEL, T. W. Ch 1 “Introduction” in Dimaranan, B. V., Editor (2006). Global Trade, Assistance, and Production: The GTAP 6 Data Base, Center for Global Trade Analysis, Purdue University. Disponível em: https://www.gtap.agecon.purdue.edu/databases/v6/v6_doco.asp

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os equivalentes ad valorem se concentram nas cadeias agropecuária e industrial,

e que a equipe que executou o projeto tem familiaridade nesses setores, optou-

-se por revisá-los. Assim, apesar das dificuldades expostas, ambos os instrumen-

tos de ponderação de tarifas e cálculo de tarifas não ad valorem impedem que

o modelo gere resultados não condizentes com a realidade da economia e do

comércio internacional atual.

Em termos operacionais, a correção das tarifas no GTAP ocorreu via si-

mulação “Altertax”, opção de procedimento operacional do software do GTAP,

que corrige as tarifas para cada país de interesse. O resultado dessa simulação

foi considerado como o cenário-base para as simulações de liberalização de co-

mércio.

A Tabela 3 apresenta as tarifas de importação aplicadas bilateralmente às

exportações brasileiras pelos países e regiões de interesse do estudo, já corrigi-

das conforme a metodologia descrita. A Tabela 4 apresenta as tarifas de impor-

tação aplicadas pelo Brasil bilateralmente às importações advindas dos países e

regiões de interesse do estudo, também corrigidas.

De uma maneira geral, o Brasil apresenta uma variação pequena do ní-

vel de tarifas bilaterais entre seus setores, com uma tarifa média relativamente

elevada, em torno de 12%, e valor máximo de 35%. O país concentra suas tari-

fas mais elevadas em setores de produtos manufaturados. O espectro tarifário

aplicado pelos demais países às exportações brasileiras, no entanto, é bastan-

te distinto, principalmente aquele adotado pelos países industrializados. Estes

possuem, em geral, uma média tarifária consideravelmente baixa ao passo que

poucos setores, principalmente relativos à atividade agropecuária, apresentam

tarifas extremamente altas, chegando a ser proibitivas. Predominam maiores

proteções tarifárias, seja pelos parceiros desenvolvidos ou em desenvolvimento,

em produtos da agricultura e da indústria do agronegócio.

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Tabela 3 - Tarifas aplicadas às exportações brasileiras pelos países de interesse do estudo (%)

México América do Sul Índia SACU EUA UE Japão

Arroz 0 0 0 0 0 0,0 523,3

Trigo 0 0 0 0 3,3 0 114,0

Milho e outros cereais 0 0,4 0 3,2 0 4,5 0

Vegetais e frutas 9,9 3,1 31,1 1,5 0,3 0,9 1,7

Sementes oleaginosas 1,0 3,0 0 9,9 0,2 0 0

Cana-de-açúcar e beterraba 0 0 0 0 0 0 0

Algodão e plantas fibrosas 2,7 2,3 10,1 12,9 13,6 0 0

Outras culturas 4,6 4,7 55,6 14,7 30,6 25,7 0,2

Bovinos, caprinos e equinos 0 0,4 0 0 0 0,7 0

Suínos e aves 7,7 2,5 5,6 0,1 0,6 3,0 0

Leite cru 0 0 0 0 0 0 0

Lã 0 0 15,0 0 2,1 0 165,9

Produtos florestais 7,7 1,6 5,3 0,1 0 0,2 0,1

Pescados 13,8 1,0 0 0,5 0 0 2,3

Carvão 0 0,1 0 0 0 0 0

Petróleo 0 0,1 0 0 0,4 0 0

Gás natural 0 0 0 0 0 0 0

Mineração 0,5 1,2 4,4 0 0 0 0

Carnes de bov., cap., e equinos 8,0 5,3 30,0 19,2 1,4 141,0 12,9

Carnes de suínos e aves 16,0 8,0 37,6 14,3 1,3 38,6 7,2

Óleos vegetais 12,0 10,9 46,8 9,8 8,1 0,3 0,2

Laticínios 14,1 11,6 0 19,7 58,9 60,6 35,1

Arroz beneficiado 0 2,2 0 0 2,7 0 574,2

Açúcar 0 6,3 60,0 19,7 20,0 148,3 321,4

Outros produtos alimentícios 5,9 7,6 31,7 19,2 6,3 0,2 9,9

Bebidas e tabaco 0,3 13,4 136,0 166,1 20,9 52,4 48,3

Têxteis 13,1 7,2 19,7 16,2 8,8 6,7 1,1

Vestuário 18,2 11,6 10,0 35,2 10,1 8,1 1,6

Couro e calçados 11,0 12,2 8,9 12,6 7,5 4,6 17,6

Indústria da madeira 6,3 8,5 9,9 13,5 0,6 2,4 0,2

Papéis e similares 4,6 2,6 7,7 2,8 0 0 0

Refino do petróleo e carvão 2,4 2,7 9,4 1,6 1,5 0 1,0

Químicos, plásticos e borracha 3,4 3,2 15,4 4,1 1,4 1,1 0,6

Produtos minerais não metálicos 4,7 4,0 10,0 13,4 3,5 1,3 0

Siderurgia 4,1 4,1 9,7 2,2 0,1 0,1 1,0

Metais preciosos e não ferrosos 5,1 2,5 10,0 0,3 0,4 4,3 0

Produtos metálicos e metalurgia 7,5 4,7 10,0 7,8 0,3 0,3 0

Veículos automotivos e peças 1,5 7,8 58,8 19,1 1,2 1,1 0

Outros equip. de transporte 0,7 5,4 15,2 0,0 0 0,1 0

Equip. elétricos e eletrônicos 5,2 2,5 3,2 2,1 0,4 1,1 0

Máquinas e equipamentos 4,3 2,9 9,9 3,8 0,3 0,1 0

Outros manufaturados 10,8 7,7 15,0 10,9 0,0 0,1 0,1Fonte: IDB-OMC, GTAP 7, Elaboração: autores.

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Tabela 4 - Tarifas aplicadas pelo Brasil nas importações dos países de interesse do estudo (%)

México América do Sul Índia SACU EUA UE Japão

Arroz 0 0 0 0 7,7 10,0 0

Trigo 0 0 0 0 0 0 0

Milho e outros cereais 0 0 0 0 0,2 4,0 0

Vegetais e frutas 0 0,2 7,0 3,5 9,9 10,1 5,8

Sementes oleaginosas 3,2 0,2 4,0 4,7 4,0 4,0 0

Cana-de-açúcar e beterraba 0 0 0 0 0 0 0

Algodão e plantas fibrosas 0 0,2 0 0 9,2 6,0 0

Outras culturas 10,2 0,0 13,3 11,7 3,9 4,4 0,3

Bovinos, caprinos e equinos 0 0 0 0 0,3 0,4 0

Suínos e aves 2,6 0,2 1,7 3,9 3,7 6,1 2,0

Leite cru 0 0 0 0 0 0 0

Lã 0 0 0 0 0 8,0 0

Produtos florestais 4,8 0,7 3,6 6,5 4,9 4,4 6,0

Pescados 0 0,2 4,2 0 8,4 6,2 6,0

Carvão 0 0 0 0 0 0 0

Petróleo 0 0 0 0 0 0 0

Gás natural 0 0 0 0 0 0 0

Mineração 1,6 0,6 2,9 3,8 1,5 2,8 2,4

Carnes de bov., cap., e equinos 0 0 0 7,8 7,0 7,0 7,0

Carnes de suínos e aves 8,9 0,1 0 2,2 10,0 10,7 8,7

Óleos vegetais 8,0 0,8 9,0 10,6 10,2 10,0 10,0

Laticínios 0 0 0 0 18,0 21,2 0

Arroz beneficiado 0 2,3 11,0 12,0 11,0 11,0 0

Açúcar 0 0,7 0 0 17,5 9,6 0

Outros produtos alimentícios 8,3 1,7 3,8 12,1 13,4 11,6 14,9

Bebidas e tabaco 0,5 1,9 19,4 17,3 15,4 19,8 21,5

Têxteis 11,1 1,2 16,4 14,9 14,9 15,7 13,9

Vestuário 14,1 1,5 20,0 16,5 20,1 20,0 20,0

Couro e calçados 14,6 5,1 12,1 10,6 17,8 13,9 17,0

Indústria da madeira 14,1 2,0 1,4 10,2 16,7 17,7 19,3

Papéis e similares 8,0 0,5 10,9 12,7 8,7 12,2 12,4

Refino do petróleo e carvão 0,7 0,0 0,3 0,7 0,8 0,3 0

Químicos, plásticos e borracha 3,9 1,0 4,2 8,6 7,9 9,1 9,5

Produtos minerais não metálicos 7,6 0,4 11,9 11,3 10,7 9,2 8,4

Siderurgia 6,6 1,3 0 8,8 11,4 12,3 9,8

Metais preciosos e não ferrosos 0,3 0,4 4,4 7,0 6,6 6,7 9,5

Produtos metálicos e metalurgia 9,5 0,9 17,7 16,1 14,9 14,7 16,8

Veículos automotivos e peças 0 3,7 12,7 17,1 15,6 17,8 18,3

Outros equip. de transporte 7,9 2,4 16,1 4,6 1,0 0,9 11,4

Equip. elétricos e eletrônicos 2,5 2,0 6,1 14,4 9,8 9,3 8,6

Máquinas e equipamentos 8,1 3,0 6,2 14,6 11,1 13,1 13,1

Outros manufaturados 14,3 1,5 15,6 16,1 18,6 16,4 18,4Fonte: IDB-OMC, GTAP 7, Elaboração: autores.

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2.3 Cenários de liberalização de comércio bilateral

Os cenários simulados foram definidos considerando aqueles países cujo

processo de negociação está em andamento, bem como outros países ou regiões

que apresentam, a priori, potenciais ganhos com a liberalização e que podem ser

considerados de interesse para a assinatura de APCs. Os seguintes acordos para

o MERCOSUL foram simulados:

•Índia;

•México;

•UniãoAduaneiradaÁfricaAustral(SACU);

•AméricadoSul;

•EstadosUnidos;

•UniãoEuropeia;

•Japão.

A formação de acordos de livre comércio segue, todavia, certos critérios

jurídico-comerciais estabelecidos pela OMC. O Artigo XXIV do Acordo Geral so-

bre Tarifas e Comércio (GATT) estabelece a possibilidade da formação de zonas

de livre comércio e uniões aduaneiras, desde que estes compreendam “substan-

cialmente todo o comércio entre seus membros”. Já a Cláusula de Habilitação

é o instrumento que torna possível a liberalização parcial para acordos entre

países em desenvolvimento.

Assim, de modo geral, espera-se que a liberalização comercial a partir de

um acordo bilateral apresente uma redução tarifária de 100% para ambos os pa-

íses ou regiões e para todos os produtos. No entanto, o termo “substancialmen-

te todo o comércio”, passível de diferentes interpretações, permite que esses

acordos abranjam diferentes níveis de liberalização entre as partes contratantes.

De forma a levar em consideração a necessidade de que um acordo en-

tre países desenvolvidos e em desenvolvimento compreenda “substancialmente

todo o comércio”, mas também as sensibilidades setoriais, certos critérios foram

estabelecidos para o procedimento de redução de tarifas para os acordos com

União Europeia, Japão e Estados Unidos:

•Ossetores30a42(todosossetoresdemanufaturados)

do MERCOSUL sofreram redução tarifária de 80%;

•Ossetores19(carnesdebovinos),20(carnesdesuínoseaves),

22 (laticínios), 24 (açúcar) e 26 (bebidas e tabaco) da UE

sofreram redução de apenas 20%;

•Ossetores1(arroz),2(trigo),12(lã),22(laticínios),

23 (arroz beneficiado), 24 (açúcar) e 26 (bebidas e tabaco)

do Japão sofreram redução de apenas 20%;

•Ossetores22(laticínios),24(açúcar)e26(bebidasetabaco)

dos EUA sofreram redução de apenas 20%.

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Os setores acima foram escolhidos com o objetivo de refletir as demandas

de cada país nas negociações. O MERCOSUL possui um setor manufatureiro que

é, em geral, sensível a acordos com países desenvolvidos. Além disso, o espectro

tarifário desses setores é mais homogêneo, permitindo uma redução de tarifas

igual para todos os setores. Já os países desenvolvidos possuem um espectro

tarifário muito particular: poucos setores agrícolas são extremamente sensíveis

e apresentam tarifas altíssimas, enquanto que os setores de manufaturados pos-

suem tarifas próximas de zero, em geral. Dessa forma, procurou-se atender à

necessidade de que estes acordos abranjam substancialmente todo o comércio

dentro da estrutura setorial e de tarifas do modelo.

No caso dos acordos com México e SACU, foram aplicadas reduções de

100% nas tarifas para todos os setores, dado que não há grandes sensibilidades

por parte de ambos os contratantes. Em relação à Índia, as conversações giram

em torno apenas do aprofundamento do acordo de preferências já vigente. Por

isso, foi simulado um cenário de redução de tarifas em apenas 50% para todos

os setores. Tal cenário, além de condizente com o atual andamento das negocia-

ções entre as partes, é adequado à possibilidade de países em desenvolvimento

realizarem acordos setoriais e de preferências parciais entre si, de acordo com a

Cláusula de Habilitação.

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3. Metodologia Consultas ao Setor Privado

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Após as simulações dos APCs, os resultados dos fluxos comerciais bilate-

rais foram apresentados a onze entidades setoriais. Foram realizadas entrevistas

com sete associações10, um sindicato, um centro de estudos e duas empresas

(Anexo 1), que representam importantes setores da economia nacional e res-

ponsáveis por cerca de 60% das exportações e 50% das importações brasileiras

no ano de 201011.

O objetivo das entrevistas foi o de apresentar os dados de comércio resul-

tantes da simulação dos acordos e obter das entidades considerações relevantes

sobre o estudo realizado. Essa dinâmica permitiu a complementação dos dados

quantitativos com elementos qualitativos, como particularidades produtivas e

mercadológicas, que não são consideradas pelo modelo, e que podem impactar

no resultado da liberalização. Dessa forma, por meio das considerações das enti-

dades, o estudo apresenta uma representação mais consistente do fluxo comer-

cial em face dos cenários propostos.

Por ocasião das entrevistas, primeiramente foi apresentada uma descrição

básica do funcionamento do modelo, com destaque para (i) a agregação dos

países, das regiões e dos setores produtivos; (ii) as correções da base de dados

das tarifas; e, por fim, (iii) os cenários-base para as simulações, com informações

específicas sobre as médias das tarifas de importação aplicadas no comércio bi-

lateral e a estrutura de custo do setor no Brasil (capital, mão de obra, serviços,

entre outros).

Após a introdução, a apresentação das simulações procurou avaliar a evo-

lução de indicadores comerciais específicos com base nos cenários anteriores e

posteriores à celebração dos acordos, como: (i) fluxo de exportações e importa-

ções do setor em questão, por parceiro comercial; (ii) saldo comercial do Brasil

com cada país ou região; (iii) impactos na produção do setor em face do acordo

em evidência e, por fim; (iv) impactos macroeconômicos (PIB) dos acordos para

o Brasil.

Ao longo da exposição, os representantes setoriais fizeram importantes

considerações que passaram a complementar a análise quantitativa, clarificando

pontos imperceptíveis para o modelo, como, por exemplo, o de a África do Sul

ter a mão de direção do carro no lado direito ou os fatores culturais que inviabi-

lizam as exportações de determinados produtos para o Japão. Há de se salientar,

todavia, que, de maneira geral, os resultados quantitativos apresentados às enti-

dades mostraram coerência com a realidade de cada setor quando da realização

dos acordos específicos.

10 De forma a apresentar a análise do setor têxtil em relação às simulações de maneira agregada, os resultados das consultas à Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) e à Associação Brasileira de Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas (ABRAFAS) foram apresentados de maneira conjunta. 11 Fonte: World Integrated Trade Solutions (WITS).

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4. Contextualização

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Antes de apresentar diretamente os resultados obtidos a partir das simu-

lações e a visão das entidades privadas sobre cada acordo, é importante colocar

o comércio exterior brasileiro em perspectiva. Os anos recentes mostram que o

Brasil ainda não encontrou sua vocação nas exportações. Os dados das expor-

tações por fator agregado (básicos, semimanufaturados e manufaturados), de

1991 até 2010, nos dão a entender, porém, que essa vocação está ganhando

contornos mais claros nos anos recentes. Embora oscilando, a participação dos

manufaturados manteve-se, até 2006, em média, na casa dos 56%. Já os básicos

tiveram média de 26% e os semimanufaturados ficaram na casa dos 17%. Em

2010 essas participações mudaram completamente: 40%, 45% e 14%, respecti-

vamente.12

Desde 2006, os básicos vêm crescendo mais do que os manufaturados em

quantum (com exceção de 2008, quando houve queda em todos os itens de

fator agregado). Até 2006 era o inverso, com os manufaturados crescendo em

quantum mais do que os básicos. Os básicos, no entanto, na maioria dos anos,

cresceram mais em preço do que os manufaturados. Embora seja verdade que

os produtos básicos sejam mais dinâmicos do que os manufaturados nas expor-

tações, sobretudo em preço, no passado os manufaturados foram capazes de

crescer mais do que os básicos. Qual é a vocação exportadora brasileira: se es-

pecializar nos básicos e semimanufaturados, que é o que concluímos a partir

dos dados mais recentes, ou voltar a ter a liderança dos manufaturados, como

ocorreu de 1991 a 2006?

O tema da indefinição da vocação exportadora brasileira tem relação tam-

bém com a persistência no Brasil da manutenção de políticas que discriminam

exportações. A primeira é que o exportador brasileiro ainda é obrigado a ex-

portar produtos com créditos tributários não recuperados. Embora a questão

da desoneração das exportações seja muito relevante nos básicos, é ainda mais

nos manufaturados. Ademais, a ausência de políticas fortes de financiamento e

seguro de crédito, diante de um amplo uso destas medidas pelos competidores

brasileiros, também inibe um melhor desempenho das exportações.

É preciso mencionar também que o comércio exterior, sobretudo as im-

portações totais e as exportações de manufaturados (dado que os preços dos

básicos e semimanufaturados são corrigidos em dólar), vem sofrendo as con-

sequências das distorções macroeconômicas brasileiras, sobretudo no binômio

câmbio valorizado e juros altos. Não se pretende julgar as políticas macroeco-

nômicas, nem tampouco advogar por controles cambiais. A menção se refere à

constatação, que provavelmente goza de consenso entre os economistas, de que

se existissem na economia brasileira as condições para que a taxa de juros fosse

mais equalizada com as praticadas em países desenvolvidos e nos emergentes

12 Fonte: MDIC.

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saudáveis, a taxa de câmbio estaria em patamar menos valorizado. Sem também

pretender explicar o baixo desempenho do setor de manufaturados nas expor-

tações unicamente via câmbio, uma taxa de câmbio no Brasil, que refletisse mais

corretamente o equilíbrio de uma economia com taxas de juros semelhantes às

internacionais, seria benéfica a todos, ainda mais em um momento de perda de

valor do dólar.

A última ideia que merece ser mencionada para contextualizar este es-

tudo é o conflito/complementaridade entre modelos de inserção internacional:

via exportações ou via internacionalização das empresas? Com a implementa-

ção de uma clara política de apoio à internacionalização de empresas nacio-

nais pelo BNDES, sendo que muitas delas estão em setores nos quais o Brasil é

competitivo, duas perguntas se colocam: devemos nos preocupar com um saldo

de comércio cada vez mais apertado, sobretudo nos bens de capitais e bens de

consumo duráveis, ou esta preocupação não é mais relevante, dado que as em-

presas brasileiras estão se internacionalizando e abrindo filiais no exterior?13 As

multinacionais brasileiras terão mais ou menos interesse em acordos comerciais?

O Brasil tem se mostrado um país conservador quando se trata de acordos

comerciais. Com exceção do MERCOSUL, as iniciativas nas quais o País se engajou

são tímidas. O grau de integração da economia brasileira continua baixo quando

comparado com outros emergentes, o que mostra, mesmo considerando que

exista muita controvérsia em associar maior abertura com desenvolvimento, que

há grande espaço para o País buscar acordos comerciais. Além disso, o Brasil não

possui políticas de adaptação produtiva e de realocação de mão de obra para os

setores impactados negativamente por acordos de comércio. Diante da ausência

destas políticas, o governo brasileiro opta por uma postura conservadora quan-

do o assunto é liberalização comercial.

13 Essa ideia é baseada no texto de Quinlan e Chandler (2001), que discutem o caso norte-americano.

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5. Resultados

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5.1 Fluxos Comerciais Bilaterais

5.1.1 Acordo Comercial MERCOSUL – Índia

Os impactos setoriais provenientes de um acordo de liberalização comer-

cial entre Brasil e Índia são mais bem compreendidos quando consideradas as

barreiras comerciais previamente existentes entre as partes.

Pelos dados das Tabelas 3 e 4, que indicam as tarifas bilaterais impostas

antes do acordo, percebe-se que a Índia aplica, em geral, níveis de proteção tari-

fária maiores, com elevados picos em alguns setores agropecuários e na indústria

de alimentos. Os principais recaem sobre (i) bebidas e tabaco (136%); (ii) açú-

car (60%); (iii) veículos automotivos e peças (59%); (iv) outras culturas agrícolas

(56%); e (v) óleos vegetais (47%). O Brasil, por sua vez, possui tarifas bilaterais

relevantes nos setores de (i) vestuário (20%); (ii) bebidas e tabaco (19%), (iii)

produtos metálicos e metalurgia (18%); e (iv) têxteis (16%).

Nas discussões multilaterais de liberalização de comércio, a Índia tem apre-

sentado uma posição que visa a reduzir parcialmente suas tarifas, em especial

no que se refere aos setores agrícolas e de alimentos. Dessa forma, as discussões

referentes a um APC entre Brasil e Índia devem encontrar fortes obstáculos polí-

tico-comerciais, que reforçam a tendência de que as negociações caminhem para

a ampliação do já existente acordo de preferências tarifárias fixas (APTF) entre

as partes. Considerando essa possibilidade, simulou-se um cenário de acordo que

contempla uma redução parcial das tarifas, em 50% dos seus valores iniciais, en-

tre os países do MERCOSUL e a Índia.

O Gráfico 1 apresenta os resultados de mudanças nos fluxos de exporta-

ções e importações bilaterais entre Brasil e Índia, em termos de variação absolu-

ta, nos principais setores14:

14 O setor “Agricultura” agrega as variações dos seguintes setores: Arroz, Trigo, Milho e outros cereais, Vegetais e frutas, Sementes oleaginosas, Cana-de-açúcar e beterraba, Algodão e plantas fibrosas, Outras culturas, Bovinos, caprinos e equinos, Suínos e aves, Leite cru, Lã, Produtos florestais, Pescados.

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Exportações Brasileiras

O acordo comercial entre as partes provoca um aumento acentuado das ex-

portações brasileiras nos setores de (i) açúcar (US$ 1,05 bilhão); (ii) óleos vegetais

(US$ 192 milhões); (iii) bebidas e tabaco (US$ 70 milhões); (iv) máquinas e equipa-

mentos (US$ 65 milhões), (v) siderurgia (US$ 63 milhões); (vi) químicos plásticos e

borracha (US$ 61 milhões); e (vii) veículos automotivos e peças (US$ 44 milhões).

O setor de açúcar, particularmente, experimenta um aumento nas expor-

tações de cerca de US$ 1,06 bilhão, enquanto os demais setores beneficiados

apresentam ganhos entre US$ 40 milhões e US$ 200 milhões. O valor total das

exportações bilaterais brasileiras aumenta em US$ 1,4 bilhão, crescimento de

43% em relação ao valor das exportações antes do acordo.

O crescimento das exportações brasileiras ocorre de forma concentrada no

açúcar, commodity que, atualmente, é protegida pela Índia sob a forma de ele-

vada tarifa de importação (60%) e que, provavelmente, estaria fora de uma pos-

sível ampliação do APTF entre as partes. Com isso, devem-se salientar as opor-

tunidades de incremento exportador, de acordo com o modelo, em outras áreas

explicitadas no gráfico, como: (i) óleos vegetais; (ii) siderurgia; (iii) máquinas

e equipamentos; (iv) químicos, plásticos e borrachas, entre outros. Deve-se ter

presente, contudo, que o incremento na exportação de produtos relacionados

aos dois últimos setores seria contrabalançado pelo aumento das importações, o

que faria com que o saldo comercial continuasse negativo. Vale salientar que os

representantes do setor de (i) máquinas e equipamentos e de (ii) químicos plásti-

cos e borrachas destacaram diversas sensibilidades em relação à consolidação de

um acordo com o país da Ásia meridional (Anexo 1).

Gráfico 1 - Acordo com a Índia - Variação Absoluta Pós-Acordo US$milhões

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Importações Brasileiras

A importação brasileira provenientes da Índia apresenta aumentos bem

mais modestos, com incrementos absolutos relevantes nos setores de (i) têxteis

(US$ 165 milhões); (ii) químicos, plásticos e borracha (US$ 87 milhões); (iii) má-

quinas e equipamentos (US$ 78 milhões); e (iv) vestuário (US$ 28 milhões). O

crescimento das importações nesses setores reflete maior vantagem comparativa

da Índia e/ou a imposição de tarifas mais elevadas por parte do Brasil. O valor

agregado das importações bilaterais apresenta incremento de cerca de US$ 426

milhões.

A diferença entre o aumento total das exportações (US$ 1,4 bilhões) e im-

portações (US$ 426 milhões) brasileiras evidencia o padrão de proteção setorial

existente antes da consolidação do acordo: elevados picos tarifários impostos

pela Índia e menor proteção relativa oferecida pelo Brasil aos seus setores. Além

disso, destaca-se a similaridade das duas economias, fator que implica na cria-

ção de poucas oportunidades em termos de aumento das vendas indianas para

nosso país.

O Gráfico 2 apresenta as variações no saldo comercial do Brasil, tendo em

vista as mudanças nos fluxos de exportações e importações entre as partes.

Saldo Comercial Brasileiro

De acordo com o Gráfico 2, o saldo comercial brasileiro apresentou cresci-

mento, sobretudo nos setores de (i) açúcar; (ii) óleos vegetais; e (iii) siderurgia.

Outros setores também apresentaram incrementos, todavia modestos, como no

caso da (i) mineração; (ii) bebidas e tabaco; e (iii) couro e calçados.

Em contrapartida, o saldo negativo brasileiro nos setores de (i) têxteis; (ii)

máquinas e equipamentos; e (iii) químicos, plásticos e borracha se intensifica. Em

suma, o acordo é capaz de aumentar o superávit bilateral Brasil-Índia em cerca

de US$ 1 bilhão, ou 86% do valor inicial.

É necessário reiterar, todavia, que o crescimento das exportações brasi-

leiras está concentrado no açúcar, e que, se desconsiderarmos a commodity,

o aumento das importações superaria as exportações em aproximadamente

US$ 100 milhões.

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Gráfico 2 - Acordo com a Índia - Saldo Comercial Pré e Pós-Acordo

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Percepção Setorial

As associações setoriais e empresas consultadas pela FIESP apresentam, em

sua maioria, relevantes sensibilidades na realização de um acordo de comércio

com o país sul-asiático. Do total de onze entidades que participaram deste estu-

do, apenas o setor agrícola e o de papel e celulose têm interesse em discutir um

acordo comercial com a Índia. A percepção destes setores vai ao encontro das

simulações do modelo, já que este prevê que ambos apresentariam incrementos

no saldo comercial bilateral. A Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRA-

CELPA) destaca ainda a possibilidade de importar fibra longa, pouco produzida

pelo Brasil e com grande demanda interna. Pelo lado agrícola, que é analisado

sob a perspectiva do Instituto de Comércio e Negociações Internacionais (ICO-

NE), o incremento principal corresponderia às exportações de açúcar.

A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) vê a Índia com vantagens

competitivas que permanecerão a longo prazo, principalmente no que se refe-

re à oferta de mão de obra barata, consequência da enorme população jovem

(30% entre 0 e 14 anos15) e do apoio explícito do governo local para o desenvol-

vimento da indústria, como no caso da têxtil. Segundo a entidade, esse tipo de

indústria, na Índia, possui uma função social relevante, já que gera empregos em

uma quantidade significativa para grande parte da população.

O setor de autopeças, representado nesse estudo pelo Sindicato Nacional

da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (SINDIPEÇAS), destaca

a elevada competitividade que esta categoria apresenta na Índia quando com-

parada ao Brasil. Algumas empresas do setor automotivo consideram entraves

à efetivação de um acordo desse tipo tanto a diferença de estrutura produtiva

entre ambos os países, como certas normas técnicas que dificultam a entrada dos

automóveis indianos no Brasil.

Em geral, os setores destacaram que o não cumprimento de padrões inter-

nacionais de segurança e qualidade de sua produção pode ser apontado como

um importante fator que contribui para a competitividade dos produtos india-

nos no mercado internacional.

15 Disponível em https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/in.html.

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5.1.2 Acordo Comercial MERCOSUL – México

O comércio bilateral Brasil-México é caracterizado, em linhas gerais, por

níveis de proteção tarifária similares entre os dois países (Tabelas 3 e 4). No en-

tanto, enquanto o setor do agronegócio possui maior proteção no México [em

especial para produtos das indústrias de (i) laticínios (14%), (ii) pescados (13,8%)

e (iii) carnes de aves e suínos (16%)], o Brasil visa, no âmbito do comércio bilate-

ral, proteger sua indústria, sobretudo em setores como (i) outros manufaturados

(14%); (ii) couro e calçados (14,6%); e (iii) indústria da madeira (14,1%).

Atualmente, três acordos de complementação econômica (ACEs), todos

assinados em 2002, no âmbito da ALADI, regulamentam parte do comércio bi-

lateral. São eles:

•OACE-53,firmadoentreBrasileMéxico,estabelecepreferências

tarifárias que variam de 20% a 100% para um universo de

aproximadamente 800 produtos (NALADI/SH).

•OACE-54,quetemcomoobjetivoestabelecerumaÁreadeLivre

Comércio entre os países, incorporando todos os acordos já firmados

entre o México e os Estados do MERCOSUL.

•OACE-55,queestabelecealiberalizaçãodosetorautomotivo

(o comércio de automóveis, caminhões, máquinas agrícolas e autopeças)

mediante um cronograma de transição até o livre comércio.

Considerando a remoção total das barreiras tarifárias no choque de libe-

ralização do comércio bilateral, as alterações nos fluxos entre as partes deverão

ser mais expressivas para os setores inicialmente mais protegidos. O Gráfico 3

apresenta os resultados de mudanças nos fluxos de importações bilaterais entre

os dois países nos principais setores.

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Gráfico 3 - Acordo com o México - Variação Absoluta Pós-Acordo US$milhões

Exportações Brasileiras

De acordo com o modelo, os setores brasileiros mais beneficiados com o

acordo, considerando as variações absolutas em exportações, seriam os de (i)

máquinas e equipamentos, com crescimento de US$ 220 milhões, (ii) químicos,

plásticos e borracha (US$ 107 milhões), (iii) têxteis (US$ 83 milhões) e (iv) veículos

automotivos e peças (US$ 64 milhões). Sobre este último, deve-se salientar que,

ao final de junho de 2011, as tarifas de diversos produtos como carros, cami-

nhões, entre outros, foram reduzidas para 0%.

As simulações mostram que a maioria dos setores industriais aumentaria

suas exportações para o México em valores superiores a 20%, quando compa-

radas ao fluxo inicial, o que demonstra uma tendência positiva para a indústria

brasileira em geral.

Em valores absolutos, o incremento nas exportações do Brasil para o Mé-

xico, com o acordo, atingem US$ 772 milhões, valor que corresponde a um in-

cremento de cerca de 30%. Fato relevante é o de que pouco mais de 40% do

aumento total das exportações concentram-se no setor de (i) máquinas e equi-

pamentos e (ii) químicos, plásticos e borracha.

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Importações Brasileiras

Conforme indica o Gráfico 3, o modelo constata um incremento total das

importações, por parte do Brasil, em cerca de 20%, com destaque para os seto-

res de (i) máquinas e equipamentos (US$ 217 milhões); (ii) químicos, plásticos

e borracha (US$ 154 milhões); e (iii) equipamentos elétricos e eletrônicos (US$

74 milhões). O valor total das importações cresce aproximadamente US$ 573

milhões e a alteração na balança comercial Brasil-México aumenta em favor do

Brasil em cerca de US$ 199 milhões, saindo de um déficit, antes do acordo, de

US$ 109 milhões para um superávit, pós-acordo, de US$ 90 milhões.

Os choques de liberalização sugerem que 65% do aumento total das

importações ocorra em (i) máquinas e equipamentos e (ii) químicos plásticos e

borrachas, os mesmos setores em que as exportações brasileiras se concentram,

o que faz com que a variação no saldo seja quase nula, estabelecendo uma forte

tendência de complementaridade econômica entre ambos países.

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Gráfico 4 - Acordo com o México - Saldo Comercial Pré e Pós-Acordo

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Saldo Comercial Brasileiro

Os resultados nos fluxos bilaterais Brasil-México evidenciam benefícios

mútuos para os dois países, principalmente nos setores industriais, com um cres-

cimento no comércio intraindústria. As alterações na balança comercial bilate-

ral, apresentadas no Gráfico 4, evidenciam um aumento relevante no superávit

brasileiro, nos setores (i) têxteis e (ii) couros e calçados.

Os choques de liberalização sugerem que alguns importantes setores da

economia nacional teriam ligeiros incrementos em seu superávit, como é o caso

de (i) siderurgia; (ii) agricultura; (iii) outros produtos alimentícios; e (iv) produtos

metálicos e metalurgia.

O setor de veículos automotivos apresenta uma redução no saldo comer-

cial negativo, enquanto os setores de (i) químicos, plásticos e borracha e de (ii)

equipamentos elétricos e eletrônicos sofrem um aumento no déficit comercial

com o México. O resultado líquido apresenta uma inversão de tendência na ba-

lança comercial bilateral, que, de deficitária em US$ 109 milhões, passaria a ser

superavitária (em favor do Brasil) em US$ 90 milhões após o acordo. Mesmo

assim, o resultado indica um panorama de equilíbrio nas trocas comerciais entre

os países caso um acordo dessa magnitude seja concluído.

Os choques de liberalização mostram que o padrão de proteção comercial

e de vantagens comparativas existentes entre Brasil e México favorece a indús-

tria de ambos os países. Os aumentos nas exportações brasileiras nos setores de

(i) têxteis, (ii) calçados e (iii) vestuário são reflexos das proteções comerciais re-

lativamente mais acentuadas do México antes do acordo. O resultado de queda

no saldo comercial brasileiro nos setores de (i) químicos, plásticos e borracha e

(ii) equipamentos elétricos e eletrônicos revela a necessidade de ganho de com-

petitividade nesses setores.

Percepção Setorial

Os ganhos de comércio gerados pelo possível acordo e detectados pelo

modelo são corroborados pelas associações e empresas entrevistadas. Dessa for-

ma, a maioria das entidades é favorável à concretização de um entendimento

bilateral com o México, já que o potencial incremento de US$ 772 milhões nas

exportações ocorreria, sobretudo, em produtos de médio e alto valor agregado.

A despeito desse cenário favorável, a Associação Brasileira da Indústria

Elétrica e Eletrônica (ABINEE) afirma que o setor é sensível ao acordo, sobretudo

por conta da similaridade produtiva do setor em ambos os países e a manuten-

ção de programas de incentivos setoriais no México, que isenta insumos e bens

intermediários de tarifas, sob a condição de estes serem utilizados para a expor-

tação. Essa dinâmica tenderia a elevar a competitividade do setor de eletroele-

trônicos do México, já que este é beneficiário dos programas de incentivos.

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O setor de químicos, cujo saldo comercial pode, segundo o modelo, ser

prejudicado por um possível acordo, indica que a iniciativa bilateral apresenta-

ria benefícios para a indústria nacional, principalmente devido ao alto grau de

complementaridade entre as duas economias. A Associação Brasileira da Indús-

tria Química (ABIQUIM) expõe a importância do mercado mexicano para nosso

país e destaca que, embora o acordo apresente a tendência de benefícios para o

Brasil, algumas sensibilidades devem ser preservadas.

Representantes do setor têxtil afirmam que o acordo traria benefícios para

ambos os países e encaram o México como um parceiro em potencial. Salientam,

todavia, que, a exemplo do setor de químicos, algumas sensibilidades devem ser

respeitadas, como é o caso de alguns tipos de fibras químicas.

Segundo os representantes do setor de autopeças, as regras de origem

devem ter atenção especial quando da consolidação de um acordo desse nível.

Eles também destacam que, apesar de o modelo apresentar uma redução do dé-

ficit na balança comercial brasileira após o acordo, esse fato deve ser visto com

cautela, uma vez que a desvalorização cambial e o excesso de capacidade ociosa

do setor mexicano podem influenciar em tais resultados.

Em geral, as associações que apresentam um viés favorável à realização do

acordo também se preocupam com certos aspectos pontuais relacionados aos

respectivos setores que representam. O respeito a tais sensibilidades, no entan-

to, não é encarado como entrave à ampliação dos acordos já existentes entre as

partes, devido à possibilidade de realização de um acordo que cubra parte do

comércio bilateral.

5.1.3 Acordo Comercial MERCOSUL – União Aduaneira da África Austral (SACU)

Conforme exposto pelas Tabelas 3 e 4, o comércio entre o Brasil e a SACU

é caracterizado por proteções tarifárias geralmente mais elevadas por parte do

bloco africano, principalmente nos setores de (i) bebidas e tabaco (166%); (ii)

vestuário (35%); e (iii) laticínios e açúcar (20%). Outros setores que dispõem de

considerável proteção são (i) outros produtos alimentícios e (ii) veículos automo-

tivos e peças, com tarifas da ordem de 19%.

O Brasil pratica tarifas mais elevadas sobre as importações provenientes

do bloco do Sul da África nos setores de (i) bebidas e tabaco (17%); (ii) veículos

automotivos e peças (17%); (iii) vestuário (16%); (iv) produtos metálicos e me-

talurgia (16%); e (v) outras manufaturas (16%). Em geral, o Brasil exerce menor

proteção relativa a setores ligados ao agronegócio (agropecuária, indústria de

alimentos e de têxteis) quando comparado à SACU, e, em contrapartida, impri-

me tarifas geralmente mais elevadas nos demais setores industriais.

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Gráfico 5 - Acordo com a SACU - Variação Absoluta Pós-Acordo US$milhões

Exportações Brasileiras

A implementação de um acordo de livre comércio entre MERCOSUL e

SACU, que remova as barreiras tarifárias entre os países dessas regiões, provoca

mudanças consideráveis nas principais exportações bilaterais brasileiras para o

bloco africano, como evidenciado pelo Gráfico 5.

Os setores brasileiros mais beneficiados são (i) veículos automotivos e pe-

ças, com crescimento de US$ 543 milhões; (ii) açúcar, com incremento de US$ 178

milhões; e (iii) carnes de suínos e aves, com aumento de US$ 163 milhões. Outros

setores que apresentam aumento expressivo das exportações bilaterais são (i)

máquinas e equipamentos; (ii) agricultura; e (iii) bebidas e tabaco, todos com

crescimento entre US$ 53 milhões e US$ 63 milhões.

Com exceção do setor de outros equipamentos de transportes, que apre-

sentou uma retração de 1,3% (US$ 721 mil) nas exportações, todos os demais

setores industriais apresentam aumento, geralmente expressivos em termos per-

centuais, mas reduzidos em termos absolutos. O incremento total das exporta-

ções brasileiras é da ordem de US$ 1,28 bilhão, equivalente a 97% de crescimen-

to em relação aos dados iniciais.

É interessante destacar, contudo, que cerca de 40% desse incremento con-

centra-se no setor de veículos automotivos e peças, fato que, segundo as mon-

tadoras consultadas, não ocorreria com facilidade, devido, principalmente, à ne-

cessidade de especialização da produção por parte do Brasil (a barra de direção

dos automóveis na África do Sul, principal país do bloco, é do lado direito), e à

possibilidade de redução dos incentivos à importação, caso não ocorra a renova-

ção do Programa de Desenvolvimento da Indústria Automotiva (MIDP), programa

que visa a acelerar a competitividade da indústria automotiva na África do Sul.

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Importações Brasileiras

O aumento das importações brasileiras é relativamente menor se com-

parado às exportações, consequência do pouco histórico de volume importado

pelo Brasil do bloco. De acordo com o Gráfico 5, os setores de (i) químicos, plás-

ticos e borracha; (ii) veículos automotivos e peças e (iii) máquinas e equipamen-

tos são os mais beneficiados em crescimento no valor das exportações do Brasil,

com aumentos na ordem de US$ 72 milhões, US$ 65 milhões e US$ 43 milhões,

respectivamente.

Assim como no caso do Brasil, diversos setores industriais da SACU apre-

sentam aumentos percentuais bastante expressivos em importações, que se tra-

duzem em pequenos incrementos em valor absoluto, também devido aos redu-

zidos níveis iniciais. Contudo, os ganhos relativos no comércio bilateral indicam

um grande potencial de estreitamento nas relações entre os blocos, a partir do

acordo. As importações totais do Brasil provenientes da SACU aumentam em

U$ 283 milhões, equivalente a um ganho de 65% sobre seu valor inicial.

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Gráfico 6 - Acordo com a SACU - Saldo Comercial Pré e Pós-Acordo

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Saldo Comercial Brasileiro

Conforme indicado pelo modelo, o acordo é extremamente favorável

à balança comercial Brasil-SACU, cujo superávit aumenta em US$ 996 milhões

(113%). Como mostra o Gráfico 6, os produtos brasileiros com melhor resultado

no saldo são justamente aqueles com aumentos mais expressivos no valor de

suas exportações, quais sejam: (i) veículos automotivos e peças; (ii) açúcar; e (iii)

carnes de suínos e aves, com ganhos de US$ 478 milhões, US$ 178 milhões e US$

163 milhões, respectivamente.

Já os setores brasileiros de (i) químicos, plásticos e borracha; (ii) metais

preciosos e não ferrosos; e (iii) siderurgia experimentam as maiores perdas na

balança de comércio bilateral com a SACU, na ordem de US$ 46 milhões, US$ 35

milhões e US$ 34 milhões, respectivamente.

Os resultados dos fluxos bilaterais evidenciam benefícios mútuos para os

países deste acordo, porém com maiores ganhos para o Brasil. O resultado lí-

quido de melhoria da balança comercial bilateral para o Brasil é resultado de

vários fatores, sendo os principais: (i) a vantagem inicial que o Brasil apresenta

no comércio com a SACU, considerando a balança comercial superavitária; e (ii)

as tarifas médias geralmente menores no Brasil antes do acordo.

Em geral, espera-se, após o acordo, que os países obtenham ganhos ex-

portadores em setores mais protegidos pelo parceiro comercial antes da libera-

lização. Essa dinâmica é vista no caso das exportações brasileiras de (i) açúcar;

(ii) bebidas e tabaco; (iii) produtos do vestuário; (iv) indústria da madeira; (v)

minerais não metálicos, entre outros, que apresentam grandes aumentos relati-

vos em exportações.

No caso dos setores de (i) veículos automotivos e peças e (ii) carnes de su-

ínos e aves, que mais apresentam ganhos em valor absoluto das exportações, a

remoção das tarifas pela SACU permite um maior aproveitamento das vantagens

comparativas brasileiras em relação ao parceiro comercial, uma vez que, antes

do acordo, tais setores já eram os principais exportadores brasileiros para aquela

região.

Percepção Setorial

De maneira geral, a maioria das entidades consultadas vê com interesse

a consolidação de um acordo com a SACU. O setor têxtil e as duas empresas do

setor automotivo consultadas, entretanto, demonstraram sensibilidades a uma

iniciativa desse tipo com a SACU, apesar dos possíveis resultados positivos que

esse traria, segundo o modelo. Representantes desses setores apontaram impor-

tantes fatores não considerados pelo modelo: (i) no caso dos têxteis, a principal

preocupação recai sobre o papel das regras de origem no combate a uma possí-

vel triangulação do comércio com outros países; e (ii) na indústria automotiva,

o bom resultado no saldo comercial, conforme exposto anteriormente, não é

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visto como possível, dado que o padrão de direção do trânsito da África do Sul

é contrário ao do Brasil, fazendo com que as alterações na produção de carros

que atendam a esse mercado sejam muito custosas e pouco interessantes para os

principais produtores do país.

Demais setores, como os de (i) químicos; (ii) máquinas de equipamentos;

e (iii) agrícola têm interesse no acordo. Apesar dos resultados negativos para

o setor de químicos, seus representantes afirmam que há oportunidades para

ganhos em determinados nichos do mercado, porém destacou a elevada compe-

titividade que a África do Sul possui no sub-setor de carboquímicos. No entanto,

na época da realização do acordo (2008), as sensibilidades do setor, sobretudo

relacionada ao sub-setor citado, foram respeitadas e diversos produtos foram

alocados em longos cronogramas de desgravação ou na lista de exceção. Essa

dinâmica faz com que esse acordo não represente ameaça a essa parcela da

indústria brasileira.

O setor de máquinas e equipamentos, representado nesse estudo pela Asso-

ciação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), aumentaria

seu superávit em 12% com o acordo e destacou a possibilidade de interesse ofen-

sivo por parte dos sub-setores de máquinas agrícolas, máquinas rodoviárias e equi-

pamentos pesados. O setor agrícola enxerga diversas oportunidades em um acor-

do desse tipo, principalmente devido ao potencial mercado consumidor do bloco

sul-africano. Os ganhos exportadores estão concentrados nas (i) carnes de suínos,

bovinos e aves; (ii) açúcar; (iii) óleos vegetais; (iv) arroz beneficiados, entre outros.

5.1.4 Acordo Comercial MERCOSUL – América do Sul16

O Brasil assinou treze ACEs com diversos países da América Latina (Argen-

tina, Uruguai, Paraguai, Chile, Peru, Bolívia, México, Colômbia, Equador, Vene-

zuela, Guiana, Suriname e Cuba), o que fez com que o valor de suas tarifas de

importação para a maioria desses países fosse reduzida gradualmente ao longo

do tempo. Essa realidade é capturada pelo modelo, que mostra que o comércio

bilateral com os países da América do Sul17 é consideravelmente liberalizado,

ainda que a abertura oferecida pelo Brasil não apresente reciprocidade na maior

parte dos setores (Tabelas 3 e 4).

Os setores mais protegidos da América do Sul estão relacionados ao agro-

negócio, dentre os quais se destacam: (i) bebidas e tabaco (13%); (ii) couros e

calçados (12%); (iii) vestuário (12%); (iv) laticínios (12%); e (v) óleos vegetais

(11%). Os demais setores industriais recebem proteções geralmente inferiores a

10%. Já o Brasil impõe tarifas inferiores a 5% na grande maioria dos setores do

GTAP aqui considerados, revelando um grau de proteção tarifária bem menor. A

16 Inclui os países: Chile, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia e a região Resto da América do Sul (Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Belize e Ilhas Malvinas).17 Os dados das Tabelas 3 e 4 para o agregado de países da América do Sul, excluindo o Mercosul, representam a média aritmética simples das tarifas bilaterais aplicadas entre o Brasil e cada um dos países dessa região.

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tarifa mais elevada praticada pelo Brasil está no setor de couros e calçados (5%).

A simulação de um acordo comercial entre o MERCOSUL e a América do

Sul, na qual se considerou a remoção completa das tarifas existentes entre os

países da região, afeta positivamente as exportações brasileiras em diversas áre-

as, como se observa no Gráfico 7. Efetivamente, a simulação com a América do

Sul visa a concluir o livre-comércio existente entre as partes no âmbito dos ACEs

existentes, uma vez que esses abarcam um número limitado de produtos.

Em geral, o arranjo comercial permite um aumento nas exportações brasi-

leiras em cerca de US$ 927 milhões, o que representa um crescimento de 8%. As

importações brasileiras, em contrapartida, apresentam uma pequena redução

da ordem de 0,2% ou US$ 14 milhões, que praticamente não altera o quadro

inicial pré-acordo.

Gráfico 7 - Acordo com a América do Sul - Variação Absoluta Pós-Acordo US$milhões

Page 49: Análise Quantitativa de Negociações Internacionais

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Exportações Brasileiras

Conforme o Gráfico 7, os setores de (i) veículos automotivos e peças (au-

mento de US$ 156 milhões); (ii) máquinas e equipamentos (US$ 111 milhões); (iii)

açúcar (US$ 94 milhões); e (iv) óleos vegetais (US$ 66 milhões) seriam extrema-

mente beneficiados em um acordo com a região, já que apresentam os maiores

crescimentos em termos de exportação. Em outros setores, como (i) químicos,

plásticos e borracha e (ii) siderurgia, também é possível observar relevantes in-

crementos desse tipo (cerca de US$ 62 milhões para cada).

O acordo traria redução das exportações para poucos setores da eco-

nomia nacional, como (i) pescados; (ii) milho e outros cereais; e (iii) trigo. Estas

diminuições podem ser explicadas pela realocação dos fatores produtivos em

benefício de atividades de maior perfil exportador. Em termos absolutos, no en-

tanto, essas reduções são pouco representativas, não chegando à US$ 1 milhão.

Em linhas gerais, o aumento total no superávit comercial brasileiro com a região,

após o acordo, seria em torno de 8% ou US$ 926 milhões.

Importações Brasileiras

Em relação às importações, o Gráfico 7 mostra que as mudanças no fluxo

são relativamente pequenas em termos relativos, geralmente inferiores a 3%,

com exceção do setor de outros manufaturados, que aumenta em 30%, (cerca

de US$ 400 mil). Esse crescimento importador pouco expressivo é consequência,

sobretudo, do perfil tarifário brasileiro, mais aberto do que dos países da Amé-

rica do Sul.

Os principais incrementos nas importações brasileiras, em termos abso-

lutos, são verificados nos setores de (i) químicos, plásticos e borracha (US$ 7,7

milhões) e (ii) metais preciosos e não ferrosos (US$ 5,9 milhões). Os outros seto-

res apresentam crescimentos relativamente mais modestos, geralmente abaixo

de US$ 2 milhões. De forma geral, as importações brasileiras advindas da região

mantêm-se praticamente inalteradas em cerca de US$ 5,9 bilhões.

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Gráfico 8 - Acordo com a América do Sul - Saldo Comercial Pré e Pós-Acordo

Saldo Comercial Brasileiro

Como consequência direta da ampla expansão das exportações a partir

do Brasil para a América do Sul tem-se o aumento do superávit inicial na balança

comercial bilateral em US$ 911 milhões. O Gráfico 8 expõe os setores brasileiros

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mais beneficiados em termos de saldo comercial. São eles: (i) veículos automoti-

vos e peças (US$ 156 milhões); (ii) máquinas e equipamentos (US$ 110 milhões);

e (iii) açúcar (US$ 94 milhões). O incremento conjunto dos três (US$ 360 milhões)

representa cerca de 40% do total. Apenas o setor brasileiro de metais precio-

sos e não ferrosos sofre retração em sua balança comercial, na ordem de US$

1,6 milhão. Devido à proteção tarifária relativamente menor no Brasil, antes do

acordo, bem como das elevadas tarifas praticadas pelos outros países da América

do Sul, os resultados desse tipo de iniciativa de integração regional favorece em

larga escala diversos setores da economia brasileira.

A consolidação do livre comércio permite o acesso mais significativo de

diversas indústrias brasileiras aos demais mercados da América do Sul, ao passo

que poucos setores brasileiros seriam afetados de forma negativa pela perda de

proteção em relação a tais países. Ademais, a ampliação do comércio na região

fortalece a escala de produção e, como consequência, a competição em relação

a outras regiões.

Percepção Setorial

A América do Sul é um dos principais mercados para manufaturados pro-

duzidos no Brasil. Dessa forma, um possível Acordo de Livre Comércio tenderia,

conforme prevê o modelo, a aumentar o fluxo exportador de setores que con-

centram produtos com maior valor agregado.

Apesar desse cenário promissor, existem, todavia, inúmeras limitações

quanto ao avanço de uma Área desse tipo na região. Primeiramente, diversos

setores brasileiros, entre eles o calçadista (representado aqui pela Associação

Brasileira da Indústria de Calçados – ABICALÇADOS), apontam possíveis proble-

mas relacionados à falta de segurança jurídica no comércio com a região, ci-

tando problemas principalmente com Venezuela e Argentina. Outros, como a

ABIQUIM, expõem preocupação em relação ao fato de importantes países da

América Latina, como Colômbia, Peru e Chile, contarem com acordos de comér-

cio com terceiros, o que poderia deslocar as exportações brasileiras.

De uma maneira geral, todos os setores são favoráveis ao aumento da

integração regional e aprofundamento do livre comércio entre o Brasil e a Amé-

rica do Sul. Nesse sentido, as montadoras de automóveis destacam a necessidade

de se consolidar a liberalização comercial na região, por esta apresentar-se como

um espaço natural de comércio com o Brasil, fato que, aliado ao estabeleci-

mento de uma logística apropriada, poderia gerar preços competitivos para a

indústria nacional. A ABIT ainda destaca a similaridade cultural como incentivo

à promoção de maior integração comercial na região.

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5.1.5 Acordo Comercial MERCOSUL – Estados Unidos (EUA)

As Tabelas 3 e 4 expõem, detalhadamente, o perfil tarifário que incide so-

bre o comércio bilateral entre MERCOSUL-EUA. Em linhas gerais, percebem-se

maiores níveis de proteção setorial por parte do Brasil. Os EUA, por sua vez, pos-

suem uma economia mais aberta, mas com elevadas proteções em alguns poucos

setores.

A maioria dos setores industriais brasileiros aplica tarifas superiores a 10%

às importações vindas dos EUA, sendo as mais elevadas referentes a (i) vestuário

(20%); (ii) outros manufaturados (19%); (iii) couro e calçados (18%); (iv) indús-

tria da madeira (17%); e (v) veículos automotivos e peças (16%). Os EUA, em

contrapartida, aplicam maiores níveis de proteção a produtos do agronegócio,

com destaque para os setores de (i) laticínios; (ii) bebidas e tabaco; (iii) outras

culturas; e (iv) açúcar, com níveis iguais ou superiores a 20%. Os setores indus-

triais norte-americanos são bem mais abertos ao comércio bilateral do que os

brasileiros, com tarifas inferiores a 3,5%.

Nas discussões de liberalização de comércio multilateral e de acordos de

livre comércio, tanto os EUA quanto o Brasil têm apresentado posições diver-

gentes quanto ao grau de abertura em diferentes setores. Os EUA, geralmente,

defendem maior proteção aos produtos do agronegócio e o livre comércio dos

demais produtos industriais, enquanto que o Brasil se posiciona de forma con-

trária em ambos os setores. Essa polaridade tende a fazer com que as discussões

para um acordo de livre comércio entre ambos os países encontrem obstáculos

e pressões setoriais

No sentido de preservar as sensibilidades entre as partes e considerar que

substancialmente todo o comércio seja liberalizado, o cenário do acordo simu-

lado entre o MERCOSUL e os EUA considerou a redução parcial das tarifas nos

setores sensíveis de cada país e a completa liberalização dos setores não sensí-

veis, conforme apresentado previamente na seção “Cenários de liberalização

de comércio bilateral”. Dessa forma, os setores considerados sensíveis nos EUA

e que receberam cortes tarifários de 20% são: (i) laticínios; (ii) bebidas e tabaco;

e (iii) açúcar. Os setores sensíveis no MERCOSUL incluem todos os setores indus-

triais (exceto os do agronegócio) e sofreram uma redução tarifária de 80% da

tarifa inicial.

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Gráfico 9 - Acordo com os EUA - Variação Absoluta Pós-Acordo US$milhões

Exportações Brasileiras

O Gráfico 9 expõe os principais setores que apresentaram alterações nos

fluxos de exportações brasileiras para os EUA antes e depois da simulação do

acordo comercial. Os setores brasileiros mais beneficiados com aumentos no valor

das exportações no comércio bilateral foram (i) couros e calçados (US$ 381 mi-

lhões); (ii) agricultura (US$ 318 milhões); (iii) têxteis (US$ 204 milhões); (iv) outros

produtos alimentícios (US$ 174 milhões); e (v) químicos, plásticos e borracha (US$

164 milhões).

Demais áreas da indústria em geral, bem como aquelas ligadas ao agro-

negócio, também experimentam aumentos no valor das exportações bilaterais,

com destaque para (i) produtos minerais não metálicos; (ii) veículos automotivos

e peças; e (iii) petróleo, gás natural e carvão. Entre os setores industriais que so-

frem reduções nas exportações bilaterais, pode-se citar (i) outros equipamentos

de transportes; (ii) papéis e similares; e (iii) outros manufaturados, geralmente

com quedas inferiores a 1%.

Os setores que recebem o acesso limitado ao mercado norte-americano

pelo menor corte na tarifa apresentam aumentos modestos em suas exporta-

ções. O valor absoluto das exportações brasileiras para os EUA aumenta em US$

1,635 bilhão ou 10%, sendo que os três primeiros (couro e calçados; agricultura;

e têxteis) concentram cerca de 50% desse total.

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Importações Brasileiras

No que tange ao aumento das importações brasileiras, estas aparecem

concentradas, segundo o modelo, em produtos manufaturados em geral, com

uma média de cerca de 50% de incremento entre os setores. Os aumentos ab-

solutos mais relevantes, em termos de valor, ocorrem em (i) máquinas e equipa-

mentos (US$ 3 bilhões); (ii) químicos, plásticos e borracha (US$ 1,9 bilhão); (iii)

produtos metálicos e metalurgia (US$ 396 milhões); e (iv) equipamentos elétricos

e eletrônicos (US$ 378 milhões).

Assim como ocorre nas exportações brasileiras, também crescem as impor-

tações de têxteis e siderurgia, ambos em cerca de US$ 130 milhões. O valor ab-

soluto das importações brasileiras eleva-se em US$ 6,77 bilhões ou 34%, porém,

cerca de 80% desse valor (US$ 4,9 bilhões) aparece concentrado em (i) máquinas

e equipamentos e (ii) químicos, plásticos e borracha.

Saldo Comercial Brasileiro

As alterações no fluxo de comércio entre os países acabam por tornar a

balança comercial do Brasil em relação aos EUA mais deficitária em cerca de US$

5,1 bilhões ou 113%. O Gráfico 10 revela que os setores de (i) couros e calçados;

(ii) agricultura; (iii) outros produtos alimentícios; (iv) têxteis; e (v) petróleo, gás

natural e carvão apresentam aumento no superávit comercial com os EUA, na

ordem de US$ 372 milhões, US$ 303 milhões, US$ 112 milhões, US$ 74 milhões e

US$ 66 milhões, respectivamente. Por outro lado, ocorre um aumento no déficit

comercial com os EUA nos setores de (i) químicos, plásticos e borracha (US$ 1,7

bilhão); (ii) máquinas e equipamentos (US$ 3 bilhões); (iii) produtos metálicos e

metalurgia (US$ 392 milhões); e (iv) equipamentos elétricos e eletrônicos (US$

359 milhões).

Esses resultados evidenciam o padrão de proteção e de vantagens com-

parativas entre Brasil e EUA. O acordo comercial favorece principalmente as ex-

portações dos setores do agronegócio brasileiro, os mais protegidos pelos EUA

antes do acordo. Em contrapartida, as áreas ligadas à indústria norte-americana

(e relativamente mais protegidas no Brasil) experimentam incrementos conside-

ráveis em suas exportações. Vale notar que mesmo com a redução parcial nas

tarifas brasileiras para os setores industriais, de cerca de 80%, o acesso forneci-

do é suficiente para que ocorra um aumento relevante das exportações norte-

-americanas para o Brasil.

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Gráfico 10 - Acordo com os EUA - Saldo Comercial Pré e Pós-Acordo

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Percepção Setorial

Em relação a um ALC bilateral, há uma visão (corroborada pelas simula-

ções) entre os setores de que os EUA se beneficiariam mais do que o Brasil. Por

essa razão, a maioria das associações e empresas se mostra sensível a um acordo

desse tipo. A ABIQUIM destaca o fato de as indústrias de ambos os países não

serem complementares, além de a norte-americana ter um perfil extremamen-

te competitivo. A BRACELPA destaca sensibilidade em relação às importações

de papel, produto em que os EUA são extremamente competitivos. A ABIMAQ

expõe que as barreiras não tarifárias são os principais entraves às exportações

brasileiras destinadas ao mercado norte-americano. Além disso, destacou o cus-

to-Brasil como o principal redutor de competitividade dos produtos brasileiros

ao longo da cadeia.

Outros fatores como (i) a existência do Sistema Geral de Preferências

(SGP), programa que oferece redução de tarifas de forma unilateral pelos EUA;

(ii) a apreciação do real em relação ao dólar, que torna os produtos brasileiros

menos competitivos no mercado americano e produtos americanos mais baratos

no mercado brasileiro e; finalmente, (iii) o alto nível de competitividade dos

produtos americanos, que são beneficiados por um ambiente de negócios mais

favorável, com melhor infraestrutura e menor carga de impostos, também reduz

o anseio de grande parte da indústria por um acordo desse tipo.

Há, no entanto, certos setores cujo interesse é ofensivo, como (i) têxtil; (ii)

couro e calçados; e (iii) aqueles ligados ao agronegócio, cujas vantagens compe-

titivas também são refletidas pelo modelo. O interesse do setor têxtil advém da

complementaridade existente entre a cadeia produtiva brasileira e a americana,

bem como da possibilidade de inserção de uma linguagem convergente sobre

as regras de origem, uma vez que o critério utilizado pelos norte-americanos em

seus acordos (yarn forward) também é o que a entidade defende nas negocia-

ções em que o Brasil se insere.

A ABICALÇADOS expôs que um acordo possibilitaria que o calçado bra-

sileiro ganhasse mais competitividade no mercado norte-americano em face,

por exemplo, ao produto asiático. A entidade destaca a importante janela de

oportunidade que um entendimento bilateral representaria ao setor calçadis-

ta brasileiro, sobretudo por conta do tamanho do mercado consumidor norte-

-americano.

Para o ICONE, um acordo com os Estados Unidos seria interessante em

duas situações: a total abertura dos dois mercados ou a abertura parcial, com

maior liberalização em carne bovina, açúcar, etanol e suco de laranja por parte

dos americanos e a entrada do leite brasileiro em uma lista de produtos sensíveis.

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5.1.6 Acordo Comercial MERCOSUL – União Europeia (UE)

O padrão de proteção tarifária (Tabelas 3 e 4) observado pelo bloco euro-

peu, no âmbito do comércio com o Brasil, é caracterizado tanto pela aplicação de

reduzidas tarifas na maioria dos setores, geralmente inferiores a 5%, quanto pela

presença de elevados picos tarifários, sobretudo em produtos do agronegócio,

como: (i) açúcar (148%); (ii) carnes de bovinos, caprinos e equinos (141%); (ii)

laticínios (60%); (iv) bebidas e tabaco (52%); e (v) carnes de suínos e aves (39%).

O Brasil, por sua vez, apresenta outro padrão de proteção, caracterizado

por tarifas mais elevadas na indústria e de menor relevância quando se analisa

os setores agrícolas. Os maiores níveis tarifários, no âmbito do comércio com o

bloco europeu, são vistos em (i) laticínios (21%); (ii) vestuário (20%); (iii) bebidas

e tabaco (20%); (iv) veículos automotivos e peças (18%); (v) indústria da madeira

(18%); e (vi) outros manufaturados (16%).

Nas discussões multilaterais que visam à liberalização do comércio interna-

cional, a UE e o Brasil têm apresentado posições divergentes quanto ao grau de

abertura em diferentes setores, da mesma maneira ao que ocorre com os EUA. A

UE, em geral, defende uma maior proteção aos produtos agrícolas e da indústria

de alimentos, além do livre comércio de diversos produtos industriais, enquanto o

Brasil apresenta um posicionamento oposto na maior parte desses setores.

Esse fato faz com que as negociações regionais que visem a um acordo

de livre comércio entre os blocos sejam pautadas por opiniões polarizadas, que

podem se tornar obstáculos para a concretização da iniciativa. Tendo em vista a

dinâmica do posicionamento de ambos os blocos, a simulação do acordo de livre

comércio entre MERCOSUL e UE considerou a redução parcial das tarifas naque-

les setores sensíveis de cada país e, ao mesmo tempo, a completa liberalização

dos setores não sensíveis. Os setores sensíveis na UE incluem (i) carne bovina; (ii)

carnes de aves e suína; (iii) laticínios; (iv) bebidas e tabaco e (v) açúcar, enquanto

os setores sensíveis no MERCOSUL incluem todos relacionados à indústria, exceto

aqueles ligados ao agronegócio. A redução tarifária nos setores sensíveis euro-

peus foi de apenas 20% da tarifa inicial, enquanto no MERCOSUL os setores sen-

síveis recebem 80% de corte nas tarifas.

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Gráfico 11 - Acordo com a União Européia - Variação Absoluta Pós-Acordo US$milhões

Exportações Brasileiras

Conforme o Gráfico 11, o acordo comercial birregional provoca mudanças

expressivas nas exportações brasileiras de produtos do agronegócio para o bloco

europeu. Tal fato é observado mesmo levando em consideração as sensibilidades

desses setores na UE, o que fez com que eles recebessem uma redução parcial de

suas tarifas. Em geral, os setores brasileiros mais beneficiados são (i) carnes de su-

ínos e aves (aumento de US$ 959 milhões); (ii) agricultura (US$ 776 milhões); (iii)

metais preciosos e não ferrosos (US$ 541 milhões); (iv) couros e calçados (US$ 408

milhões); e (v) carnes de bovinos, caprinos e equinos (US$ 361 milhões).

A maioria dos setores da indústria apresenta ganhos relativamente peque-

nos, se comparados aos incrementos do setor agrícola. Porém é necessário desta-

car que esses ganhos serão contrabalanceados pelo aumento maciço das importa-

ções de produtos manufaturados, o que impactará de forma relevante a balança

comercial entre o Brasil e o bloco europeu. Entre os setores que aumentam suas

exportações destacam-se: (i) químicos, plásticos e borrachas (US$ 205 milhões); (ii)

máquinas e equipamentos (US$ 43 milhões); e (iii) elétrico e eletrônicos (US$ 17

milhões).

O valor das exportações bilaterais brasileiras aumenta em US$ 3,92 bilhões,

o que representa um ganho de 12% em relação aos valores iniciais. Esses resul-

tados refletem a excessiva proteção que a UE fornece àqueles setores em que o

Brasil possui elevada competitividade nos mercados internacionais.

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Importações Brasileiras

A simulação de um acordo de livre comércio entre os blocos indica um viés

de crescimento, na grande maioria dos setores, das importações de produtos ori-

ginários da UE. Esse incremento, no entanto, é maior em manufaturados, quando

comparado com os setores agrícolas. Destacam-se: (i) máquinas e equipamentos

(US$ 4,5 bilhões); (ii) químicos, plásticos e borracha (US$ 2,7 bilhões); (iii) veículos

automotivos e peças (US$ 1,2 bilhão) e (iv) equipamentos elétricos e eletrônicos

(US$ 414 milhões).

Esse resultado é consequência do maior nível de abertura comercial forne-

cido pelo Brasil no acordo simulado, uma vez que os produtos sensíveis no Brasil

possuem um nível inicial de tarifa inferior a 20% e sofrem cortes tarifários consi-

deráveis (80%). Já os produtos sensíveis na UE partem de picos tarifários bastante

elevados (entre 52% e 148%) e sofrem cortes tarifários mais modestos (20%).

O valor agregado das importações brasileiras aumenta em US$ 10,9 bilhões

ou 38%, sendo que os quatro setores acima destacados são responsáveis por 80%

desse total (US$ 8,8 bilhões).

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Gráfico 12 - Acordo com a União Européia - Saldo Comercial Pré e Pós-Acordo

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Saldo Comercial Brasileiro

O acordo regional provoca uma inversão no saldo da balança comercial

brasileira com a UE, existente na base de dados, que de superavitária em US$ 4,5

bilhões passa a deficitária em US$ 2,5 bilhões. Os setores brasileiros mais benefi-

ciados com aumentos no superávit comercial são os mesmos que experimentam

os maiores crescimentos em exportações: (i) carnes de suínos e aves (US$ 955

milhões); (ii) agricultura (US$ 727 milhões); metais preciosos e não ferrosos (US$

401 milhões); (iv) couros e calçados (US$ 377 milhões); e (v) carnes de bovinos,

caprinos e equinos (US$ 360 milhões), como mostra o Gráfico 12.

O Brasil apresenta elevações no déficit comercial em vários setores, sendo

os principais: (i) máquinas e equipamentos (US$ - 4,5 bilhões); (ii) químicos, bor-

racha e plásticos (US$ - 2,5 bilhões); e (iii) veículos automotivos e peças (US$ - 1,1

bilhão).

Esses resultados clarificam tanto o padrão de proteção quanto o de vanta-

gens comparativas entre Brasil e UE. Nesse sentido, enquanto a redução parcial

(apenas 20%) das tarifas do bloco europeu relacionadas ao agronegócio (setor

com elevada proteção) favorece as exportações agrícolas brasileiras, os setores

industriais da UE experimentam notável salto de suas exportações para o Brasil

após a redução tarifária de 80%, por parte do MERCOSUL, dos produtos manu-

faturados.

Percepção Setorial

Assim como no caso dos Estados Unidos, várias associações detectaram

sensibilidades no caso de um acordo com a União Europeia. Isto ocorre porque,

em geral, os resultados da simulação apontam para perdas consideráveis, em

termos de saldo comercial, em importantes setores de manufaturados como o de

máquinas e equipamentos e de químicos, ao mesmo tempo em que os ganhos

obtidos no setor agrícola não teriam a mesma magnitude.

O SINDIPEÇAS aponta preocupação com o fato do custo de produção de

veículos no leste europeu ser inferior ao brasileiro, tendo em vista a produção,

na região, de modelos similares aos do Brasil. A BRACELPA destaca a competiti-

vidade europeia como a principal razão de preocupação, sobretudo por conta

(i) da elevada capacidade produtiva; (ii) menor carga tributária; e (iii) eficiência

em operações logísticas . Ainda em relação à competitividade, a ABIMAQ expôs

que o custo para a produção de uma categoria específica de máquina no Brasil

é aproximadamente 40% maior do que o custo de produção desta na Alema-

nha. É válido salientar que os três setores acima apresentam retração no saldo

comercial, seja em termos de diminuição do superávit ou no que se refere ao

aprofundamento do déficit.

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A ABIQUIM, a despeito dos resultados negativos que o acordo traria, des-

taca a possibilidade de ganhos com a consolidação deste, devido à complemen-

taridade entre as cadeias europeia e brasileira, o que levaria à redução de custos

e maior especialização da produção. Contudo, adverte que a iniciativa deverá

respeitar sensibilidades pontuais do setor. O setor agrícola classifica o acordo

como prioridade, posição que vai ao encontro das simulações do modelo, que

indicam elevados ganhos para o setor em diversos produtos. A ABICALÇADOS

também apresenta posição favorável ao acordo, porém atenta para a questão

de regras de origem.

5.1.7. Acordo Comercial MERCOSUL – Japão

Os padrões de proteção comercial entre o Brasil e o Japão, de acordo com

as Tabelas 3 e 4, apresentam relevantes diferenças entre si. O país oriental apli-

ca tarifas extremamente baixas (muitas vezes 0%) às exportações brasileiras de

produtos manufaturados não ligados ao agronegócio. No entanto, impõe tarifas

elevadas a alguns poucos produtos do agronegócio, como no caso do (i) arroz

beneficiado (574%); (ii) arroz em casca (523%); (iii) açúcar (321%); (iv) lã (166%);

(v) trigo (114%); (vi) bebidas e tabaco (48%); e (vii) laticínios (35%).

O Brasil protege principalmente os setores industriais da sua economia,

impondo tarifas mais elevadas às exportações japonesas de (i) bebidas e tabaco

(21%); (ii) vestuário (20%); (iii) indústria da madeira (19%); (iv) outros manufatu-

rados (18%); e (v) veículos automotivos e peças (18%).

Pode-se observar que, enquanto o Japão possui o comércio de manufaturas

praticamente livre de tarifas, o Brasil as aplica entre 8% e 20% nos setores indus-

triais. Esses diferentes padrões de proteção refletem as vantagens comparativas

de ambos os países: o Japão mostra-se mais aberto à importação de produtos ma-

nufaturados e mais protecionista em relação a produtos agrícolas, ao passo que

o Brasil apresenta menor proteção em relação ao agronegócio e tarifas maiores

para a indústria.

Pelo fato de o Japão apresentar elevado grau de proteção ao agronegó-

cio, um possível acordo entre as partes deverá respeitar tais sensibilidades, geran-

do um arranjo que não contenha a remoção completa das tarifas ligadas a esse

setor. Dessa forma, o acordo comercial simulado considerou que o Japão fornece

cortes tarifários reduzidos, de apenas 20%, para os setores de arroz, trigo, lã,

laticínios, arroz beneficiado, açúcar e bebidas e tabaco. O MERCOSUL, em contra-

partida, fornece 80% de corte tarifário nos setores industriais.

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Gráfico 13 - Acordo com o Japão - Variação Absoluta Pós-Acordo US$milhões

Exportações Brasileiras

O Gráfico 13 apresenta as exportações brasileiras para o Japão antes e de-

pois da implementação do acordo. Como se pode analisar, os setores que mais ex-

pandem suas exportações para o país oriental são (i) carnes de suínos e aves (au-

mento de US$ 479 milhões); (ii) outros produtos alimentícios (US$ 85 milhões); (iii)

couros e calçados (US$ 45 milhões); e (iv) bebidas e tabaco (US$ 18 milhões). Os

setores industriais sofrem pequenos incrementos em exportações, sendo os mais

expressivos no setor de siderurgia (US$ 17 milhões). Não há retrações relevantes

do fluxo exportador em nenhum setor da economia nacional, segundo o modelo.

O aumento nas exportações brasileiras para aquele país soma cerca de US$

662 milhões, 16% a mais em relação às exportações antes do acordo. No entanto,

é necessário destacar que 70% do incremento total estão concentrados no setor

de carnes de suínos e aves.

É importante apontar para o fato de que as exportações brasileiras de pro-

dutos relacionados aos setores sensíveis no Japão, que sofrem cortes tarifários de

apenas 20%, apresentam pequenas elevações. Como o Brasil possui vantagem

comparativa em muitos desses setores, quando comparado ao Japão, a liberaliza-

ção parcial limita os ganhos brasileiros em termos do total exportado. Se o corte

tarifário fosse maior, possivelmente o fluxo exportador também aumentaria.

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Importações Brasileiras

As importações brasileiras aumentam de maneira relevante em várias áreas

da indústria, como mostra o Gráfico 13. Há uma concentração nos setores de (i)

máquinas e equipamentos (aumento de US$ 1,8 bilhão); (ii) veículos automotivos

e peças (US$ 800 milhões); (iii) químicos, plásticos e borracha (US$ 358 milhões); e

(iv) equipamentos elétricos e eletrônicos (US$ 325 milhões).

O incremento das importações contribuiu para que a balança comercial de

alguns setores passasse de superavitária para deficitária após o acordo (caso da

siderurgia) ou contasse com o aprofundamento do déficit comercial já existente

(exemplo dos produtos metálicos e metalurgia). No caso do setor siderúrgico, que

apresentou uma elevação de 45% em importações e somente de 6% em expor-

tações, o saldo comercial setorial passou de US$ 54 milhões para US$ -21 milhões

após o acordo. Em relação à metalurgia, devido ao incremento de 110% nas im-

portações, o déficit comercial passou de US$ -183 milhões para US$ -407 milhões

após o acordo.

Esses resultados revelam que o corte de 80% nas tarifas praticadas pelo Bra-

sil é suficiente para aumentar consideravelmente o acesso dos setores japoneses

ao mercado brasileiro, já que incremento no total das importações brasileiras é

de cerca de 70%, somando US$ 3,9 bilhões. Desse montante, cerca de 50% corres-

ponde ao setor de máquinas e equipamentos.

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Gráfico 14 - Acordo com o Japão - Saldo Comercial Pré e Pós-Acordo

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Saldo Comercial Brasileiro

O aumento mais relevante nas exportações bilaterais do Japão do que nas

do Brasil é consequência do maior grau relativo de abertura que o acordo pro-

move na economia brasileira, bem como do padrão de vantagem comparativa

observado entre os países. Os produtos mais protegidos pelo Japão (agrícolas)

sofrem pequenos cortes em tarifas, que são inicialmente bem mais elevadas do

que as praticadas pelo Brasil. Dessa forma, o acordo permite pouco acesso aos

mercados dos produtos brasileiros mais competitivos.

Ao mesmo tempo, o Japão é referência internacional na fabricação de

manufaturas e de bens de elevado conteúdo tecnológico. O acordo reduz em

80% as tarifas brasileiras sobre esses produtos, o que significa que as tarifas

brasileiras não passam de 4% após a implementação dos cortes. Tal fato garante

à indústria japonesa amplo acesso aos mercados brasileiro, o que explica o ele-

vado incremento nas exportações do país oriental.

Como consequência das alterações do fluxo bilateral, o saldo comercial

brasileiro apresenta um crescimento do déficit da ordem de US$ 3,2 bilhões. Os

setores brasileiros que mais sofrem aumentos com o déficit comercial são (i) má-

quinas e equipamentos e (ii) veículos automotivos e peças. Alguns importantes

setores da economia nacional, contudo, sofrem incrementos no saldo comercial

positivo, como os setores de (i) carnes de suínos e aves (73%); (ii) outros produtos

alimentícios (45%); e (iii) couros e calçados (270%).

Percepção Setorial

De maneira geral, o Japão é indicado como um país que, além de possuir

um perfil tarifário protecionista no setor agrícola e liberalizante no setor manu-

fatureiro, apresenta uma dinâmica de mercado muito particular, com forte influ-

ência cultural. Dessa forma, a maior parte das associações setoriais não considera

como sendo interessante para o Brasil um acordo de livre comércio, dado que

os manufaturados brasileiros teriam dificuldades de acesso ao mercado japonês,

mesmo enfrentando tarifas mais baixas. O aumento do déficit em manufatura-

dos pela simulação indica a maior competitividade japonesa, também reconhe-

cida pelas associações setoriais. A ABIMAQ e as montadoras de automóveis con-

sultadas citaram que, além dos fatores culturais, a presença de diversas barreiras

não tarifárias dificulta o acesso ao mercado japonês.

Apesar de os ganhos no setor agropecuário, quando significativos, se-

rem concentrados em poucos setores e passíveis de barreiras não tarifárias,

seus representantes indicaram que há oportunidades de aumento de comércio,

principalmente em carne suína e bovina, se algumas questões sanitárias forem

equacionadas. Algumas associações, como a ABIT, avaliam que um dos principais

interesses do empresariado brasileiro em relação ao Japão baseia-se na coopera-

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ção técnica. De maneira geral, portanto, o resultado das simulações corrobora o

baixo interesse do setor privado brasileiro por um acordo com o Japão.

5.1.8. Síntese dos Impactos nos Fluxos Bilaterais

Os resultados são apresentados a partir de três perspectivas:

(i) Impactos dos acordos comerciais no comércio total brasileiro

(exportações, importações e saldo);

(ii) Situação da variação do saldo comercial setorial após o acordo:

positiva ou negativa;

(iii) Avaliação das associações setoriais consultadas.

Todos os acordos simulados resultam em aumento das exportações em re-

lação à situação pré-acordo. Os acordos com SACU, Índia e México são aqueles

com maior impacto relativo. Com exceção do acordo com a América do Sul, as

simulações também indicam crescimento das importações. As importações que

mais crescem em termos relativos em relação à situação pré-acordo são aquelas

dos acordos com Japão, SACU, UE e EUA.

Com respeito ao saldo comercial, América do Sul, Índia e SACU são os acor-

dos que resultaram em saldo ainda mais positivo. No caso do México, a situação

se inverte de um saldo negativo pré-acordo para positivo no pós- acordo. O caso

da UE mostra tendência inversa à do México: um saldo positivo no pré-acordo

se transforma em negativo no pós-acordo. Já nas simulações para EUA e Japão,

os resultados indicam um aprofundamento no déficit no pós-acordo. Dado que

alguns saldos comerciais mudam na situação pré e pós-acordo (de positivo para

negativo e vice-versa), optou-se por apresentar na Tabela 5 a variação absoluta,

ao invés da relativa, como feito no caso das exportações e importações.

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Tabela 5 - Impactos dos acordos comerciais simulados no comércio total

brasileiro (US$ milhões)

Países/Regiões Exportações

Pré-Acordo Pós-Acordo Var (%)

América do Sul 11,159 12,086 8%

EUA 15,691 17,326 10%

Índia 3,415 4,889 43%

Japão 4,267 4,929 16%

México 2,675 3,447 29%

SACU 1,314 2,593 97%

União Europeia 33,631 37,557 12%

Países/Regiões Importações

Pré-Acordo Pós-Acordo Var (%)

América do Sul 5,917 5,934 0%

EUA 20,214 26,987 34%

Índia 2,191 2,617 19%

Japão 5,368 9,256 72%

México 2,783 3,357 21%

SACU 435 718 65%

União Europeia 29,120 40,062 38%

Países/Regiões Saldo

Pré-Acordo Pós-Acordo Var. Absoluta

América do Sul 5,241 6,152 911

EUA -4,523 -9,661 -5,138

Índia 1,224 2,273 1,049

Japão -1,101 -4,327 -3,226

México -109 90 199

SACU 879 1,874 996

União Europeia 4,511 -2,505 -7,016

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A Tabela 6 traz os resultados setoriais das simulações, ainda sem a valida-

ção das associações de classe. Os símbolos “+/-“ indicam, respectivamente, se a

variação do saldo é positiva ou negativa após a realização do acordo. Nas colunas

“contagem pós-acordo” são apresentados os números de acordos nos quais a va-

riação do saldo foi positiva ou negativa. Os setores foram ordenados de forma

decrescente pelo número de acordos com variação positiva.

As simulações encontraram 10 setores que resultam em 5 ou mais variações

positivas do saldo quando se analisa a situação pós-acordo, sendo que, com ex-

ceção de vestuário, todos estão ligados inteira ou parcialmente aos setores agro-

pecuário e florestal. Destacam-se os setores de (i) bebidas e tabaco e (ii) couro e

calçados, com variação positiva nos 7 acordos simulados. Já no caso do grupo com

predominância de variações negativas dos saldos estão (i) equipamentos elétricos

e eletrônicos e (ii) químicos, plásticos e borracha.

O setor de vestuário, apesar de ter tido variação positiva em 5 acordos, pos-

sui pouca intensidade de comércio. Outros 15 setores apresentaram uma posição

intermediária, com considerável equilíbrio entre as variações positivas e negativas

(4 ou 3 acordos em cada situação). Não existe um padrão observável entre estes

setores, embora haja maior predominância de variações negativas nos acordos

com UE, Japão e EUA. Já nos acordos com América do Sul, México e SACU há pre-

dominância de variações positivas dos saldos.

Comparando as Tabelas 5 e 6, observa-se que, embora as variações dos sal-

dos indiquem maior interesse nos acordos com países em desenvolvimento (na

Tabela 5 as variações dos saldos para EUA, UE e Japão são negativas), a análise

setorial (Tabela 6) mostra que essa conclusão é parcialmente válida, uma vez que

diversos setores apresentam variações positivas de saldo nas simulações com paí-

ses desenvolvidos. Dessa forma, acordos com EUA (12 variações positivas), UE (10

variações positivas) e Japão (11 variações positivas) podem ser interessantes para

vários setores.

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Tabela 6 - Variação Positiva ou Negativa do Saldo Setorial

Setores Variação Setorial Pós-Acordo Contagem Pós-Acordo

América do Sul

EUA Índia Japão México SACU U.E.Variaçãopositiva

VariaçãoNegativa

Bebidas e tabaco + + + + + + + 7 0

Couro e calçados + + + + + + + 7 0

Carnes de suínos e aves + + - + + + + 6 1

Agricultura + + + - + + + 6 1

Outros produtos alimentícios + + + + + + - 6 1

Óleos vegetais + + + + + + - 6 1

Açúcar + + + + - + + 6 1

Carnes de bovinos, caprinos e equinos + - + + + + + 6 1

Indústria da madeira + - + - + + + 5 2

Vestuário + + - + + + - 5 2

Papéis e similares + - + - + + - 4 3

Laticínios + - - + + + - 4 3

Petróleo, gás natural e carvão + + - - - + + 4 3

Arroz beneficiado + + - + - + - 4 3

Têxteis + + - - + + - 4 3

Refino do petróleo e carvão + - - + + + - 4 3

Veículos automotivos e peças + - + - + + - 4 3

Mineração + - + - + - - 3 4

Metais preciosos e não ferrosos - - + - + - + 3 3

Siderurgia + - + - + - - 3 4

Produtos minerais não metálicos + + - - - + - 3 4

Outros manufaturados + - - - + + - 3 4

Outros equipamentos de transporte + - + - - - + 3 4

Produtos metálicos e metalurgia + - - - + + - 3 4

Máquinas e equipamentos + - - - + + - 3 4

Equipamentos elétricos e eletrônicos + - - - - - - 1 6

Químicos, plásticos e borracha + - - - - - - 1 6

Variação Positiva Total 26 12 14 11 20 21 10

Variação Negativa Total 1 15 13 16 7 6 17

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A Tabela 7 (a seguir) faz a consolidação das informações contidas na Tabe-

la 6, com a conclusão dos interesses dos setores entrevistados em relação a cada

acordo simulado. Os campos em azul indicam que a associação tem interesse

no acordo, ao passo que os em vermelho indicam o oposto. Os símbolos “+/-“

seguem a mesma lógica da Tabela 618.

A sobreposição entre os interesses setoriais (campos em azul ou vermelho)

com os resultados quantitativos (“+/-“) gerou situações de discrepância da análi-

se quantitativa em relação à conclusão do setor. Estas discrepâncias estão assina-

ladas nos campos com listras diagonais. Os resultados das simulações foram, em

alguns casos, discrepantes em relação aos interesses dos setores, sobretudo, por

limitações da metodologia empregada na análise quantitativa, fruto do nível

de agregação setorial do GTAP. O único acordo que é do interesse de todos os

setores, apresentando perfeita compatibilidade com os resultados quantitativos,

é aquele com a América do Sul.

Na opinião dos setores entrevistados, predominam sensibilidades nos

acordos com a Índia e com o Japão. O oposto ocorre com o México e com a Amé-

rica do Sul. Já no caso do acordo com os EUA, 5 setores demonstraram ter sen-

sibilidades e 4 setores demonstraram interesse. No caso da UE, há um equilíbrio

entre sensibilidades e interesse. Com a SACU predomina o interesse pelo acordo.

Comparando as conclusões dos setores com os resultados da análise quan-

titativa, observa-se que existe compatibilidade elevada nos acordos com Amé-

rica do Sul, EUA, Japão e México. Já no caso dos acordos com SACU e UE ocor-

reram discrepâncias relevantes. Alguns setores tenderam a avaliar os resultados

dos acordos em linhas de produto ou segmentos de mercado específicos. Outros

avaliaram mais positivamente um acordo, assumindo que suas sensibilidades

pontuais serão tratadas em listas de desgravação mais lentas ou reduções tari-

fárias menores. Outros setores avaliaram os acordos com base em seu impacto

na direção do saldo setorial (mais positivo ou mais negativo) e indicaram não

ter interesse na negociação porque esta resultou em saldos superavitários, mas

inferiores ao cenário pré-acordo.

O setor que mais chama atenção no caso das discrepâncias é o químico. A

análise quantitativa indicou perda nos acordos com México, SACU e UE, ao passo

que o setor demonstrou interesse nos três acordos. A posição favorável do setor

nesses acordos decorre do interesse em segmentos específicos de mercado e da

necessidade de tratamento adequado aos produtos sensíveis.

18 Dado que a análise do ICONE foi feita de forma geral, optou-se, na apresentação dos resultados na Tabela 7, em agregar as variações do saldo de 9 subsetores, que, direta ou parcialmente, relacionam-se ao agronegócio. Dessa forma, se a soma das variações desses subsetores foi positiva, o quadro recebeu o símbolo “+”, e, se negativa, o símbolo “-“. A agregação ocorreu nos seguintes setores: (i) carnes de suínos e aves; (ii) agricultura; (iii) outros produtos alimentícios; (iv) bebidas e tabaco; (v) óleos vegetais; (vi) açúcar; (vii) carnes de bovinos, caprinos e equinos; (viii) laticínios; e (ix) arroz beneficiado.

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O setor têxtil indicou sensibilidade no acordo com a SACU, ao passo que

a análise quantitativa indicou ganho e interesse no caso do acordo com a UE,

embora a simulação tenha indicado perda. O não interesse no acordo com SACU

decorre, entre outros, da forte competitividade do setor de confecções sul-afri-

cano, da elevada participação das importações chinesas naquele mercado e de

preocupações sobre as regras de origem. Já no caso do acordo com a UE, o inte-

resse existe desde que um conjunto de produtos seja colocado na lista de desgra-

vação mais lenta. O setor de equipamentos elétricos e eletrônicos vê no acordo

com SACU uma oportunidade para entrar em outros mercados africanos, justifi-

cando a discrepância encontrada com os resultados quantitativos, que indicaram

perdas nas variações do saldo. A discrepância encontrada no acordo com a Índia,

no setor de couro e calçados, decorre tanto do fato de a análise quantitativa

indicar ganho de comércio em couros e não no produto final (calçados), como

do elevado grau de competitividade que a indústria calçadista indiana possui.

Houve discrepância também no acordo com SACU no setor automobilísti-

co, uma vez que análise quantitativa indicou ganho, mas GM e Volkswagen não

têm interesse no acordo. Ambas afirmam que o mercado da África do Sul não é

atrativo por diversos fatores. No caso específico da Volkswagen, há discrepância

também no acordo com a UE, uma vez que a empresa tem interesse na negocia-

ção por razões estratégicas, embora a análise quantitativa tenha indicado au-

mento no déficit comercial. As duas empresas também desconsideram a viabili-

dade de um acordo com a Índia, apesar de a variação do saldo comercial ter sido

positiva, indicando redução do déficit após o acordo. Segundo as empresas, um

acordo com a Índia não seria favorável devido às grandes diferenças produtivas

e de perfil de mercado na comparação entre o Brasil e o país indiano.

Por fim, o setor de autopeças apresentou duas discrepâncias, sendo uma

relacionada ao acordo com os EUA e outra em relação à Índia. No que se refere

ao acordo com o país norte-americano, o representante do setor indicou interes-

se na negociação, apesar da variação negativa do saldo comercial após o acordo,

em virtude de maior previsibilidade que este traria, já que não haveria a neces-

sidade da constante renovação do SGP, que beneficia o setor. O SINDIPEÇAS, no

entanto, destaca atenção às regras de origem e salvaguardas no caso de uma

negociação com os EUA. Em relação à Índia, a despeito da redução do déficit

que o modelo apresenta, não há interesse na negociação do acordo, em virtude

da superior competitividade setorial indiana quando comparada com o Brasil.

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Tabela 7 - Panorama Geral de Interesse e Sensibilidades e a Variação

do Saldo Setorial Pós-Acordo

Panorama Geral dos Interesses e Sensibilidades

Associações/Acordos

Amé-rica

do SulEUA Índia Japão Mé-

xico SACU U.E. Setor no GTAP

SINDIPEÇAS + - + - + + -Veículos

automotivos e peças

ABIQUIM + - - - - - -Químicos, plásticos

e borracha

ABIT/ABRAFAS + + - - + + - Têxteis

GENERAL MOTORS + - + - + + -

Veículos automotivos

e peças

VOLKSWAGEN + - + - + + -Veículos

automotivos e peças

BRACELPA + - + - + + -Papéis

e similares

ABIMAQ + - - - + + -Máquinas

e equipamentos

ÍCONE + + + + + + + Agronegócio

ABINEE + - - - - - -Equipamentos

elétricos e eletrônicos

ABICALÇADOS + + + + + + +Couro

e calçados

Legenda Interesse em negociações Sensibilidades em negociações Indiferença ou desconhecimento em negociações Discrepância em relação aos resultados da análise quantitativa +/- Variação do saldo resultante pós-acordo

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5.2. Produção Setorial

Tabela 8 – Mudanças percentuais no valor da produção dos setores brasileiros a

partir dos acordos simulados.

Setores Acordos

Índia México SACU AMS EUA UE Japão

Petróleo, gás natural e carvão 0,0 0,0 -0,1 -0,1 0,0 -0,2 0,0

Mineração 0,0 0,0 -0,1 0,0 -0,1 -0,2 -0,1

Carnes de bovinos, caprinos e equinos 0,0 0,0 0,3 0,2 0,7 9,4 0,4

Carnes de suínos e aves -0,4 -0,4 1,0 -0,4 -0,6 5,3 5,3

Óleos vegetais 2,3 -0,2 0,0 0,2 0,2 -0,8 -0,1

Laticínios 0,2 0,2 0,2 0,4 0,3 0,0 0,1

Arroz beneficiado 0,2 0,1 0,2 0,2 0,4 0,4 0,1

Açúcar 2,9 -0,1 0,2 0,1 0,0 1,5 0,0

Outros produtos alimentícios 0,2 0,1 0,3 0,3 0,6 0,1 0,4

Bebidas e tabaco 1,7 0,1 0,2 0,2 0,3 -0,2 0,3

Têxteis -0,1 0,5 0,0 0,8 3,9 0,1 0,0

Vestuário 0,0 0,3 0,2 0,3 1,4 0,2 0,0

Couro e calçados -0,4 1,7 0,4 0,7 17,7 7,0 2,8

Indústria da madeira -0,2 0,1 0,0 0,0 0,4 1,6 -0,1

Papéis e similares 0,0 0,1 -0,1 0,1 -0,3 -0,9 0,0

Refino do petróleo e carvão 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 -0,2 0,0

Químicos, plásticos e borracha 0,0 0,0 0,0 0,2 -1,1 -2,1 -0,2

Produtos minerais não metálicos 0,0 0,1 0,3 0,2 1,3 -0,7 -0,1

Siderurgia -0,2 0,2 -0,2 0,2 -1,1 -2,3 -0,4

Metais preciosos e não ferrosos -0,3 -0,2 -0,6 -0,5 -1,1 2,6 -0,5

Produtos metálicos e metalurgia 0,0 0,3 0,1 0,4 -1,2 -2,8 -0,6

Veículos automotivos e peças 0,1 0,5 1,8 1,9 -0,5 -3,0 -1,1

Outros equipamentos de transporte -0,2 -0,1 0,2 0,2 -0,8 -1,0 -0,8

Equipamentos elétricos e eletrônicos -0,1 0,1 -0,1 -0,1 -2,3 -0,6 -0,3

Máquinas e equipamentos -0,1 0,3 -0,1 0,2 -2,5 -4,9 -1,1

Outros manufaturados 0,0 0,2 0,1 0,3 -0,4 -0,6 -0,1

Serviços 0,1 0,2 0,2 0,3 0,3 0,4 0,1

Total 0,1 0,1 0,2 0,3 0,2 0,1 0,0

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A Tabela 8 apresenta as alterações percentuais no valor da produção dos

setores brasileiros a partir do resultado obtido pela simulação dos acordos co-

merciais. Em todos os acordos, observam-se a contração e a expansão da produ-

ção setorial, consequência da redistribuição de fatores produtivos (terra, capital

e trabalho) dos setores menos favorecidos para os mais beneficiados. Percebe-se,

contudo, que as variações percentuais em valor da produção são bem menos ex-

pressivas que as mudanças nos fluxos bilaterais de comércio, uma vez que cada

acordo envolve um número pequeno de países diante do total produzido pelo

setor para o mercado doméstico e demais destinos de exportação.

Os maiores aumentos no valor da produção são observados nos setores de:

(i) couro e calçados no acordo com os EUA (18%) e com a UE (7%); (ii) carnes de

bovinos, caprinos e equinos (9%) no acordo com a UE; e (iii) carnes de suínos e

aves (5,3%) nos acordos com a UE e o Japão. No caso do acordo com os EUA, o

forte aumento na produção de couros e calçados é acompanhado de queda ge-

neralizada e modesta na produção de manufaturas não ligadas ao agronegócio.

Esse mesmo padrão de redução na produção industrial é observado no acordo

com o Japão. Já o acordo com a UE promove reduções mais acentuadas em al-

guns setores industriais, como os de máquinas e equipamentos (-5%) e veículos

automotivos e peças (-3%).

Os acordos com os países em desenvolvimento geram mudanças bem

menos expressivas no valor da produção setorial no Brasil, sendo que as princi-

pais podem ser observadas no setor de açúcar no acordo com a Índia (aumento

de 3%).

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5.3. PIB e Remuneração dos Fatores

Gráfico 15 – Variação percentual no PIB e na Remuneração dos Fatores a partir

dos acordos simulados19

19 AMS: América do Sul

O Gráfico 15 apresenta as mudanças percentuais no PIB brasileiro, bem

como a remuneração dos fatores de produção a partir de cada acordo simulado.

As mudanças no PIB refletem as alterações na produção setorial, que, por sua

vez, são provenientes das mudanças em fluxos comerciais. Os acordos promo-

vem, em geral, aumentos modestos no PIB brasileiro, como, por exemplo, 0,05%

com a UE e 0,28% com a América do Sul.

Os arranjos comerciais com os EUA e a UE, levando-se em consideração a

relevância comercial desses parceiros, também geram ganhos pouco expressivos,

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da ordem de 0,15% e 0,05%, respectivamente. A iniciativa com o Japão, por ou-

tro lado, não provoca nenhum efeito relevante no PIB brasileiro.

Esses resultados são modestos devido ao pequeno número de países consi-

derados em cada acordo, o que se traduz, em termos relativos, em pouco acesso

a novos mercados. No caso dos arranjos comerciais com países desenvolvidos,

que possuem mercados de dimensões mais expressivas, a consideração de se-

tores sensíveis nas simulações limita os ganhos agregados para o Brasil, uma

vez que essas são áreas em que o Brasil possui maiores vantagens comparativas.

Contudo, deve-se considerar que um incremento de 0,1 a 0,3 pontos percentuais

no PIB não deve ser desprezado, uma vez que é resultado da simples redução de

impostos de importações aplicados no comércio bilateral.

Parte do crescimento do PIB é também explicado pelas mudanças na re-

muneração dos fatores de produção na economia, que compõem a formação

da renda dos agentes econômicos, sejam esses trabalhadores, empresários ou

donos de terras. A formação de um acordo de livre comércio estimula as expor-

tações e a produção, o que tende a gerar uma maior demanda pelos fatores

produtivos. Com isso, observa-se um aumento na remuneração dos fatores pro-

dutivos usados de forma mais intensiva naqueles setores mais beneficiados com

o acordo.

Dessa forma, os acordos comerciais com os países desenvolvidos sempre

levam a um aumento na remuneração do fator produtivo terra, uma vez que os

setores ligados ao agronegócio são mais favorecidos com incrementos em expor-

tações e produção nesses acordos. Vale destacar o aumento em 8% na remune-

ração desse fator no acordo com a UE, reflexo da forte vantagem competitiva

que o Brasil possui no agronegócio em relação àquela região.

Já nos acordos com o México e com a América do Sul, a remuneração

do fator terra diminui, uma vez que os setores industriais são mais estimulados

do que o agronegócio. A remuneração dos fatores trabalho (qualificado e não

qualificado) e capital aumentam em todos os acordos, porém de forma pouco

expressiva, evidenciando que o conjunto de setores estimulado em cada acordo

inclui áreas da economia intensivas em trabalho (setores industriais do agrone-

gócio) e capital (a própria agricultura e demais setores industriais).20

O fator recursos naturais, que representa as reservas de combustíveis

fósseis (petróleo, gás natural e carvão), tem sua remuneração afetada negativa-

mente em todos os acordos. Isso acontece devido ao menor crescimento relativo

em exportações e produção de recursos naturais em todos os acordos, uma vez

que outros fatores deslocariam os potenciais benefícios.

20 Aumentos nas remunerações do trabalho e do capital acontecem quando há maior demanda por esses fatores na econo-mia como um todo, uma vez que a oferta destes é constante no modelo. Dessa forma, podem indicar também que haveria uma tendência à redução nos níveis de desemprego no mercado de trabalho e de capacidade ociosa na indústria quando da redução das barreiras comerciais.

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Considerações Finais

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Os resultados dos diversos acordos comerciais simulados entre o MERCO-

SUL e países de interesse revelam, em geral, benefícios em termos de aumentos

nos fluxos comerciais entre o Brasil e os países participantes do acordo. Essas ini-

ciativas se mostram mais promissoras para os setores do agronegócio brasileiro,

devido à vantagem que o país possui nos mercados mundiais desses bens.

Contudo, diversos setores industriais podem aumentar suas exportações

nos acordos com países em desenvolvimento, que tendem a gerar um ganho

mais equilibrado para a economia. Já os arranjos com os países desenvolvidos

trazem desafios para a indústria brasileira, uma vez que estimulam as importa-

ções de bens manufaturados da maioria das áreas da economia nacional.

A redução da proteção comercial isolada dificilmente estimulará o ganho

de competividades para a maior parte dos setores. Políticas públicas que incenti-

vem a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, bem como o treinamento e a

capacitação de mão de obra para a indústria são essenciais nesse contexto.

Além disso, a capacidade de investir deve ser garantida por meio de condi-

ções macroeconômicas mais propícias e estáveis. Em 2010, um estudo21 realizado

pela FIESP, em parceria com o IBOPE, detectou importantes barreiras para o cres-

cimento da indústria, dentre as quais se destacam: (i) elevada carga tributária e

taxa de juros; (ii) dificuldade de acesso ao crédito para investimento; (iii) taxa

de câmbio desfavorável; (iv) baixos incentivos fiscais para inovação; (v) elevados

custos de energia elétrica e pedágio; e, por fim, (vi) o estado atual de conserva-

ção das rodovias.

Vale ressaltar que o aumento das importações de produtos industriais,

comum nos resultados encontrados, pode significar o aproveitamento de com-

plementaridades com outros países, desde que acompanhada do aumento das

exportações brasileiras e, portanto, não deve ser vista de forma isolada como

um resultado negativo. Cabe à indústria a busca dos acordos que permitam a

troca de produtos e experiências com os parceiros mais eficientes, uma vez que

o comércio internacional é uma importante forma de difusão da tecnologia e

incentivo ao aumento da eficiência produtiva.

Uma ressalva importante que deve ser feita sobre os acordos simulados é

que esses consideram apenas a redução de tarifas de importações. Existem mui-

tos outros instrumentos de proteção comercial que podem impedir a integração

efetiva das economias, os quais não devem ser negligenciados quando da nego-

ciação dos acordos com os parceiros.

Isso quer dizer que os resultados encontrados no presente estudo não con-

sideram o impacto de barreiras burocráticas, não tarifárias, entre outras, que

aumentam os custos de transações e desestimulam o fechamento de contratos

comerciais. Por outro lado, os resultados do presente estudo estariam subes-

21 Barreiras para o crescimento da Indústria Paulista. Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos - FIESP / CIESP. Maio de 2010.

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timados caso a redução de barreiras, como as fitossanitárias e tarifas específi-

cas, comuns no comércio com os países desenvolvidos, fossem contempladas nos

acordos.

Por fim, deve-se ter em mente que o instrumental quantitativo utiliza-

do no presente estudo é um modelo baseado no conhecimento atual da teoria

econômica e da evidência empírica dos fenômenos comerciais. Como tal, possui

limitações e ressalvas quanto à sua capacidade de previsão, sendo mais útil como

instrumento de simulação. Dessa forma, os resultados derivados do modelo de-

vem ser utilizados como indicativos de direção e possíveis magnitudes relativas

dos impactos de acordos comerciais, permitindo antever as alternativas mais

atraentes para a economia e os setores brasileiros.

Ao se apresentar os resultados às principais entidades setoriais represen-

tantes do setor produtivo, a expectativa foi validar o componente quantitativo

e agregar o conhecimento específico do funcionamento desses setores por parte

de seus representantes. De uma forma geral, os resultados obtidos pelo modelo

corresponderam às perspectivas dos representantes setoriais quanto aos acordos.

A América do Sul, por exemplo, considerada de interesse por todos os se-

tores consultados, é representada nos resultados do modelo como a região que

mais geraria ganhos de comércio para o Brasil. Da mesma forma, os resultados

positivos apresentados para o setor manufatureiro pelo modelo também são

largamente esperados pelas entidades setoriais. Foram apontadas, no entanto,

certas divergências no interesse dessas em alguns acordos.

Tais divergências, principalmente no que se refere a setores com estrutu-

ras de produção muito específicas e globalizadas, já eram esperadas, dado que

o modelo muitas vezes é incapaz de captar todas as particularidades de cada

setor e região. Um exemplo disso é o grande aumento apontado pelo modelo

nas exportações de automóveis brasileiros no caso de um acordo com a SACU:

a região adota a mão inglesa de direção e por isso os automóveis produzidos

no Brasil não teriam inserção em tal mercado, como apontam os resultados das

simulações.

Finalmente, pôde-se notar que há certa dificuldade em se avaliar a pos-

tura de setores como o de máquinas e equipamentos em relação aos resultados

das simulações devido à grande complexidade destes e a realidade distinta entre

os inúmeros subsetores. Apesar disso, mesmo entre tais setores, os resultados

agregados se mostraram compatíveis com a percepção de competitividade in-

ternacional de cada setor.

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Page 83: Análise Quantitativa de Negociações Internacionais

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Anexo 1

Países/regiões utilizadas para simulação no GTAPe relatórios das associações consultadas

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Tabela A1 – Países e regiões utilizadas para simulação no GTAP

(exceto Resto do Mundo)

Código GTAP

Descrição GTAP No Descrição da

agregaçãoCódigo GTAP

Descrição GTAP No Descrição da

agregaçãoBRA Brazil 1 Brasil JPN Japan 20 Japão

ARG Argentina 2 Argentina AUT Austria 21 União Europeia 27

PRY Paraguay 3 Paraguai BEL Belgium 21 União Europeia 27

URY Uruguay 4 Uruguai CYP Cyprus 21 União Europeia 27

MEX Mexico 5 México CZE Czech Republic 21 União Europeia 27

USAUnited States of

America6 Estados Unidos DNK Denmark 21 União Europeia 27

CAN Canada 7 Canada EST Estonia 21 União Europeia 27

XNARest of North

America8

América Central e

CaribeFIN Finland 21 União Europeia 27

BOL Bolivia 9 Bolívia FRA France 21 União Europeia 27

CHL Chile 10 Chile DEU Germany 21 União Europeia 27

COL Colombia 11 Colômbia GRC Greece 21 União Europeia 27

ECU Ecuador 12 Equador HUN Hungary 21 União Europeia 27

PER Peru 13 Peru IRL Ireland 21 União Europeia 27

VEN Venezuela 14 Venezuela ITA Italy 21 União Europeia 27

XSM

Rest of South America (Guyana, French Guiana, Suriname, Belize e Falkland Islands)

15

Resto da América do Sul (Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Belize e Ilhas Malvinas)

LVA Latvia 21 União Europeia 27

CRI Costa Rica 8 América Central e Caribe LTU Lithuania 21 União Europeia 27

GTM Guatemala 8 América Central e Caribe LUX Luxembourg 21 União Europeia 27

NIC Nicaragua 8 América Central e Caribe MLT Malta 21 União Europeia 27

PAN Panama 8 América Central e Caribe NLD Netherlands 21 União Europeia 27

XCA Rest of Central America 8 América Central e Caribe POL Poland 21 União Europeia 27

XCB Caribbean 8 América Central e Caribe PRT Portugal 21 União Europeia 27

BWA Botswana 16 SACU SVK Slovakia 21 União Europeia 27

ZAF South Africa 16 SACU SVN Slovenia 21 União Europeia 27

XSC Rest of South African Customs 16 SACU ESP Spain 21 União Europeia 27

EGY Egypt 17 Egito SWE Sweden 21 União Europeia 27

CHN China 18 China GBR United Kingdom 21 União Europeia 27

HKG Hong Kong 18 China BGR Bulgaria 21 União Europeia 27

IND India 19 Índia ROU Romania 21 União Europeia 27

Fonte: GTAP 7

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Tabela A2 – Países e regiões utilizados para simulação no GTAP,

Resto do Mundo

Código GTAP

Descrição GTAP No Descrição da

agregaçãoCódigo GTAP

Descrição GTAP No Descrição da

agregaçãoAUS Australia 22 Resto do Mundo XER Rest of Europe 22 Resto do Mundo

NZL New Zealand 22 Resto do Mundo KAZ Kazakhstan 22 Resto do Mundo

XOC Rest of Oceania 22 Resto do Mundo KGZ Kyrgyztan 22 Resto do Mundo

KOR Korea 22 Resto do Mundo XSU Rest of Former Soviet Union 22 Resto do Mundo

TWN Taiwan 22 Resto do Mundo ARM Armenia 22 Resto do Mundo

XEA Rest of East Asia 22 Resto do Mundo AZE Azerbaijan 22 Resto do Mundo

KHM Cambodia 22 Resto do Mundo GEO Georgia 22 Resto do Mundo

IDN Indonesia 22 Resto do Mundo IRN Iran Islamic Republic of 22 Resto do Mundo

LAO Lao People's Democratic Republ 22 Resto do Mundo TUR Turkey 22 Resto do Mundo

MMR Myanmar 22 Resto do Mundo XWS Rest of Western Asia 22 Resto do Mundo

MYS Malaysia 22 Resto do Mundo MAR Morocco 22 Resto do Mundo

PHL Philippines 22 Resto do Mundo TUN Tunisia 22 Resto do Mundo

SGP Singapore 22 Resto do Mundo XNF Rest of North Africa 22 Resto do Mundo

THA Thailand 22 Resto do Mundo NGA Nigeria 22 Resto do Mundo

VNM Viet Nam 22 Resto do Mundo SEN Senegal 22 Resto do Mundo

XSE Rest of Southeast Asia 22 Resto do Mundo XWF Rest of Western

Africa 22 Resto do Mundo

BGD Bangladesh 22 Resto do Mundo XCF Central Africa 22 Resto do Mundo

PAK Pakistan 22 Resto do Mundo XAC South Central Africa 22 Resto do Mundo

LKA Sri Lanka 22 Resto do Mundo ETH Ethiopia 22 Resto do Mundo

XSA Rest of South Asia 22 Resto do Mundo MDG Madagascar 22 Resto do Mundo

CHE Switzerland 22 Resto do Mundo MWI Malawi 22 Resto do Mundo

NOR Norway 22 Resto do Mundo MUS Mauritius 22 Resto do Mundo

XEF Rest of EFTA 22 Resto do Mundo MOZ Mozambique 22 Resto do Mundo

ALB Albania 22 Resto do Mundo TZA Tanzania 22 Resto do Mundo

BLR Belarus 22 Resto do Mundo UGA Uganda 22 Resto do Mundo

HRV Croatia 22 Resto do Mundo ZMB Zambia 22 Resto do Mundo

RUS Russian Federation 22 Resto do Mundo ZWE Zimbabwe 22 Resto do Mundo

UKR Ukraine 22 Resto do Mundo XEC Rest of Eastern Africa 22 Resto do Mundo

Fonte: GTAP 7

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Relatório ABICALÇADOSData: 2 de fevereiro de 2011

Participantes:

FIESP

Cleber Pellizzon

José Luiz Pimenta Junior

Juliana Suzuki

ABICALÇADOS

Adimar Schievelbein

Questões Gerais• Aindústriadecalçadosbrasileirapossuiumdosmaismodernosparques

do mundo e é bastante competitiva em toda a cadeia produtiva.

• Grandepartedasempresaspossuifábricasnonordestedevido

ao modelo estratégico descentralizado, que reduz os custos.

Um dos desdobramentos desse tipo de modelo é o fomento

ao crescimento das cidades nas quais as indústrias se instalam.

• AproduçãodecalçadosnoBrasilcresceanoaano,eofocoprincipal

é o mercado interno. As exportações são prejudicadas pela

paridade real/dólar e vêm decrescendo.

• HápreocupaçãocomaspráticasilegaisdaChina(dumpinge

triangulação) e com países da região como Malásia, Vietnã, Indonésia

e Hong Kong, que atuam como plataformas de exportação chinesas.

• HáinteressedoBrasilemproduzircalçadosnaÍndiaparaaexportação

para o mundo, numa tentativa mitigar os efeitos do valorizado câmbio

brasileiro, que desfavorece as exportações da indústria.

• NaAméricaLatina,oprincipalfocodeinteressenasexportaçõesé

a Argentina, que estabelece cotas de importação e possui grande

potencial de mercado.

Sensibilidades em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Índia

• Ocomérciodecalçadosébastantereduzido,umavezqueháaltastarifas

de ambos os lados e a Índia produz primordialmente para o mercado

interno. Um possível acordo representaria um potencial crescimento

das exportações de couro e não de sapatos.

• Aindústriadesapatosindianaécompetitivaporqueamãodeobra

é barata, as máquinas são antigas e há incentivos governamentais.

Também devido aos encargos, o preço indiano chega a 1/3 do preço

do produto brasileiro. O setor, dessa forma, se posiciona contrariamente

a um acordo com a Índia.

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• Omodeloindicaumincrementonosuperávitcomercial,saindode

US$ 9 milhões atuais para US$ 12 milhões no caso de um acordo,

resultado principalmente do comércio de couros e não de calçados.

Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – México

• AABICALÇADOSéfavorávelaumacordoquesejatransparente

e factível com o país latino americano. O setor promoveu iniciativas

visando à ampliação do acordo com o México, porém a indústria

mexicana é protecionista em relação à indústria de calçados.

• OinteressebrasileironoMéxicoestárelacionadoaodeclínio

da indústria mexicana e ao grande mercado interno do país.

• OMéxicocriadiversasbarreirasnãotarifáriasqueinviabilizam

o comércio.

• OBrasilconcentrasuasexportaçõesparaoMéxicoemcouro

e não em calçados. O saldo comercial favorável se deve em

grande parte às exportações de couro.

• Nocasodeumacordo,omodeloprevêganhosdecomérciopara

o Brasil, aumentando o superávit do setor em pouco mais de 100%,

saltando de US$ 55 milhões para US$ 115 milhões.

Acordo MERCOSUL – Estados Unidos

• Osaldocomercialépositivoemgrandepartedevidoaocouro:

as exportações de calçados estão em declínio devido ao câmbio.

• Osetorpossuiinteressenoacordo,argumentandoqueadesgravação

tarifária tornaria o calçado brasileiro mais competitivo no mercado

americano, em face, por exemplo, ao produto chinês.

• Aproduçãodecalçadosamericanaémuitoespecializada

e o mercado imenso.

• AdesgravaçãotarifárianãoseriaproblemaparaosEUA,queconfiam

no poder das marcas americanas e não temem a competitividade

dos produtos brasileiros.

• AABICALÇADOSatentaparaaquestãodaorigemdosprodutos,

assunto que os americanos se recusam a discutir em um eventual

acordo, devido à triangulação de produtos chineses.

• Omodeloprevêumaumentodosuperávitdaordemde71%,saindo

dos US$ 523 milhões atuais para cerca de US$ 900 milhões após o acordo.

Acordo MERCOSUL – União Europeia

• OBrasilégrandeexportadordecouroparaaEuropa,masnão

de calçados, produto que enfrenta forte concorrência chinesa

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no mercado europeu. As exportações de couro influenciam

no saldo comercial apresentado pelo modelo.

• Hágrandepreocupaçãocomaquestãodaorigemnoacordo:

a Itália exporta grande quantidade de calçados de origem albanesa

com pouca agregação de valor.

• ArespeitodoSGPeuropeu,obenefíciodificilmenteéutilizado

pelos produtores brasileiros.

• Asimulaçãodomodeloapresentaumaumentodecercade42%

no superávit no comércio bilateral do setor com a UE.

Acordo MERCOSUL – Japão

• OJapãomantémcotasdeimportaçãodecalçadosparaproteger

a indústria nacional, pouco competitiva, mas geradora de emprego.

• DificilmentehaveráumacordocomoJapãoemqueosetor

calçadista esteja incluído nas desgravações. Há, no entanto,

grande interesse do Brasil no acordo: os produtos exportados

para o Japão teriam o dobro do preço médio praticado

em outros mercados.

• Comumacordo,osprodutoresbrasileirosobteriamvantagem

nos preços, e não no volume de comércio. Além disso, haveria

melhora na qualidade devido ao aumento dos preços

e consequentemente da exigência dos consumidores.

Os resultados do modelo apontam para um incremento de cerca

de US$ 44 milhões no saldo comercial do Brasil com o país asiático.

Acordo MERCOSUL – América do Sul

• AABICALÇADOSpossuigrandeinteressenesteacordoporver

potencial no mercado latino-americano. O saldo é historicamente

positivo.

• Há,noentanto,entravesaocomércioregional:dificuldades

no recebimento pelas exportações à Venezuela, mercados

pouco expressivos no Equador e na Bolívia, cotas de importação

na Argentina e concorrência chinesa no Chile.

• Cresceonúmerodeindústriasbrasileirasinstaladasna

Argentina em virtude das cotas, porém, a desgravação tarifária

na região proporcionaria ganhos modestos à indústria de calçados.

• Omodeloprevê,nocasodeumacordo,umaumentonosuperávit

brasileiro, que sairia de US$ 132 milhões para US$ 173 milhões.

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Avaliação indiferente ou desconhecida quanto a Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – SACU

• Osaldocomercialéhistoricamentefavoráveldevidoàsexportações

de couro. Em calçados, o comércio é incipiente.

• AÁfricaconstituiaúltimafronteiraparaaproduçãodesapatos,

porque a mão de obra africana é barata.

• Acompetitividadedaindústrialocal,noentanto,dependedaunião

dos países africanos: nenhum deles possui capacidade de produzir

de maneira autônoma.

• AABICALÇADOSseposicionadeformaindiferenteemrelação

ao acordo, uma vez que não há sensibilidades e nem interesse.

• Noqueserefereaomodelo,asimulaçãodeumacordocom

a SACU apresenta um incremento no superávit comercial brasileiro

com o bloco africano da ordem de 28 milhões, com o comércio

de couros como maior beneficiário.

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Relatório ABIMAQData: 23 de fevereiro de 2011

Participantes:

FIESP

Cleber Pellizzon

José Luiz Pimenta Junior

Juliana Suzuki

ABIMAQ

Klaus Curt Müller

Ieda Dias

Patrícia Gomes

Questões Gerais• Produtosagrícolassebeneficiarãoemtodososacordosporque

são muito competitivos e conseguem determinar seus ganhos;

a indústria tem dificuldade em mensurar os impactos de um acordo.

• AABIMAQafirmaqueogovernodeverealizarestudosquedeterminem

os efeitos da liberalização do comércio para a indústria nacional.

Isto aproximaria as opiniões do setor privado e do governo a respeito

de negociações.

• Paraosrepresentantesdosetor,aindústriabrasileiradeveteruma

estrutura fechada para dialogar com o governo, com uma postura

mais firme e unida.

• Emrelaçãoaoestudo,aABIMAQafirmaqueumafragmentação

do setor em subsetores tornaria o resultado mais próximo da realidade,

uma vez que os posicionamentos em relação a acordos bilaterais podem

variar bastante dentro do setor de máquinas.

• Asbarreirasnãotarifáriasrepresentamumentraveaocomércio

e são amplamente empregadas por alguns países. O Brasil não as

utiliza, o que acaba por expor a indústria nacional sem

a reciprocidade da contraparte.

• Osetorcriticaaflexibilizaçãodastarifasemtrocadeaumento

em cotas. Afirmam que as cotas não necessariamente representam

a liberalização do comércio, e que não compensam os efeitos

da redução tarifária.

• Ocusto-Brasil,deacordocomaAssociação,éoprincipalredutor

de competitividade dos produtos brasileiros ao longo da cadeia.

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Sensibilidades em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Índia

• OcomérciocomaÍndiaerapoucorelevanteantesde2007.

• OsganhosrelativosdeBrasileÍndiacomesteacordoseriam

semelhantes, de acordo com a simulação. Isto significa que a

competitividade da indústria de máquinas em ambos é bastante

próxima, o que resulta em certa estabilidade no saldo comercial

após o acordo, mesmo que este continue negativo (US$ -185 milhões).

• AABIMAQreitera,noentanto,queparaumaanálisemaisdetalhada

e próxima da realidade, deve-se levar em conta também

o comportamento das exportações da Índia para o Brasil, assim

como a especialização e a competitividade do país nos produtos

considerados pelo modelo.

• Em2007,osrepresentantesdosetorrelataramcertapreocupação

com a Índia, que seria a “nova China” devido à sua competitividade

e agressividade. Esta tendência se confirmou atualmente para

o setor e um aprofundamento das preferências tarifárias concedidas

à Índia seria prejudicial à indústria de máquinas.

Acordo MERCOSUL – Estados Unidos

• Segundoomodelo,umacordocomosEUAalterariasignificativamente

o fluxo comercial, provocando um aumento do déficit

em US$ 2,9 bilhões.

• Agrandemaioriadastarifasimpostaspelosnorte-americanos

aos produtos do setor é baixa, de forma que as BNTs representam

a maior dificuldade no acesso ao mercado.

• Ocâmbiotambémdesfavoreceaindústriabrasileirae,emgeral,

não há interesse em um acordo com os EUA

Acordo MERCOSUL – União Europeia

• AABIMAQsebeneficiadoSGPeuropeu,deformaqueumacordo

exporia a indústria brasileira à concorrência com a UE sem ganhos

de reciprocidade. Ademais, o saldo é historicamente negativo

para o Brasil.

• Asbasesprodutivasdoblocoeuropeusãomuitomaiscompetitivas

do que as brasileiras. O custo para se produzir uma máquina

no Brasil é aproximadamente 40% maior do que o custo

de produção desta mesma máquina na Alemanha.

• Oganhodecompetitividadedaindústriaeuropeiaestárelacionado

à concorrência chinesa e também à crise, que obrigou os produtores

europeus a tornarem seus preços mais competitivos.

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• AUEéreferênciamundialemtecnologiaparaaproduçãode

máquinas e, após a crise, tornou-se também referência em máquinas

com preços competitivos. Um acordo com a Europa nesse sentido

é impensável para o setor brasileiro. Além disso, o Brasil é um país

importador de máquinas e o déficit chegou a US$ 8 bilhões em 2010.

• Comumacordo,odéficitpoderiaaumentarem57%,segundoomodelo.

• Osganhosdecertossetores,aexemplodasmáquinaspara

a agroindústria, não compensariam as perdas dos demais.

Nesse sentido, o acordo seria benéfico a poucos subsetores, prejudicial

à maioria e eventualmente destrutivo a alguns.

• Ointeresseeuropeunoacordoéclaro,masnãoérecíproco:

a União Europeia já em 2004 adotava uma postura ainda mais

agressiva no âmbito comercial, o que se intensificou após 2008.

Acordo MERCOSUL – Japão

• Osaldocomercialéhistoricamentenegativo,asexportaçõessão

mínimas e as importações bastante expressivas. Um acordo de comércio

elevaria o déficit de US$ 2 bilhões para quase US$ 4 bilhões.

• Háelementosqueimpedemoacessoaomercadojaponês:cultura,

competitividades japonesa e chinesa, além de outras barreiras

não tarifárias.

• Nãohá,portanto,interessenumacordo.

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Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – México

• Osaldocomercialéfavoráveleoacordoreverteriaatendência

de queda das exportações brasileiras. Esse processo ocorreu devido

à redução na demanda mexicana por máquinas que, por sua vez,

está relacionada aos efeitos da crise no país.

• Segundoomodelo,ocrescimentodosaldocomercialépequeno

(1,2%) porque crescem também as importações com o acordo,

o que indica complementaridade da produção entre os países.

• Háinteressedealgunssegmentosdosetornoaprofundamento

do ACE-53.

• Énecessárioavaliaroimpactodareduçãotarifáriarecente

realizada pelo México para confirmar a necessidade de aprofundamento

do acordo.

Acordo MERCOSUL – SACU

• OcomércioéfavorávelaoBrasilefoiprejudicadoduranteacrise

de 2008. Com o acordo, haveria um pequeno crescimento nas

exportações brasileiras, resultando em um aumento do superávit

comercial do setor em 12% (US$ 20 milhões).

• Mesmoem2007,enquantoocorriamasnegociações,osetor

não demonstrou um posicionamento a respeito do acordo.

• Podeexistirinteresseofensivonossetoresdemáquinasagrícolas,

máquinas rodoviárias e equipamentos pesados.

Acordo MERCOSUL – América do Sul

• Osaldocomercialéhistoricamentefavoráveleosetorpossui

interesse ofensivo na região. Segundo o modelo, um acordo desse

tipo aumentaria em cerca de 5% o superávit comercial setorial do Brasil.

• MuitosdosparceirosnaregiãocomosquaisoBrasilpossuiacordos

de livre comércio assinaram diversos outros arranjos deste mesmo

tipo com terceiros países. Dessa forma, o setor identifica a necessidade

de avaliar o grau de concessão dos acordos que o Brasil tem

com os parceiros na América Latina, comparando-os com os tratados

comerciais que estes assinaram com outras nações.

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Relatório ABINEEData: 1º de fevereiro de 2011

Participantes:

FIESP

Cleber Pellizzon

José Luiz Pimenta Junior

Juliana Suzuki

ABINEE

Mário Roberto Branco

ICONE

Leila Harfuch

Questões Gerais• Osetordeelétricoseeletrônicosdependedemuitosoutros,deforma

que seus interesses levam em conta a totalidade da cadeia produtiva.

• Asempresasdecapitaleuropeueamericanosãograndesfabricantes

de elétricos e eletrônicos presentes no mercado brasileiro.

Os japoneses podem ser considerados fabricantes de médio porte

e as empresas brasileiras pequenas e médias.

• Asempresasinteressadasemacordosbilateraissãoaquelasquepossuem

fábricas em ambos os países negociantes. Para as empresas que não

possuem relações com os potenciais parceiros do Brasil, um acordo

de comércio não é interessante.

• Ofocodaindústriabrasileiradeelétricoseeletrônicoséomercado

interno, com destaque para a fabricação de produtos do setor elétrico.

Outro grande consumidor da produção do setor é o governo, visando

o aparelhamento de edifícios públicos e também iniciativas ligadas

à infraestrutura (por exemplo, linhas de transmissão de energia).

Sensibilidades em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Índia

• Asindústriasbrasileiraeindiananãosãocomplementares,umavez

que ambas são verticalizadas e produzem uma grande variedade

de produtos.

• OsetorindicaqueaÍndiarepresentaumagrandeameaça,

afirmação corroborada pelo modelo, que mostra que um possível

acordo seria prejudicial à indústria brasileira, com um aumento

da ordem de 43% no déficit comercial.

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Acordo MERCOSUL – México

• OvolumedecomérciocomoMéxicoépequenoedeficitário

e há barreiras ao comércio, como: (i) semelhanças entre a produção

mexicana e a brasileira, (ii) presença de maquilas, entre outros.

De acordo com o modelo, haveria um aumento, para o Brasil,

de 5% no déficit comercial do setor.

• OMéxicoésignatáriodoITA(AcordodeTecnologiadeInformação),

acordo que tem como objetivo reduzir as tarifas de produtos

de Tecnologia da Informação a zero entre os signatários.

Assim, não há interesse na inclusão desses produtos em um acordo.

• OutropontoressaltadopelaABINEEéaquestãodosprogramas

setoriais do México. Estes são incentivos à exportação, pelos quais

o governo isenta de tarifas insumos e bens intermediários sob

a condição de serem utilizados para a produção de bens voltados

à exportação. São dispositivos que complementam o regime

maquilador e abrangem todos os produtos eletrônicos.

• AindústriamexicanaéextremamentedependentedosEstados

Unidos, sendo 85% das exportações destinadas ao mercado americano.

Acordo MERCOSUL – Estados Unidos

• OsaldocomercialéhistoricamentedesfavorávelparaoBrasil,

sendo que o déficit aumentaria, segundo o modelo, 59% com

o acordo, indo de US$ -611 milhões para US$ -970 milhões.

• Hápreocupaçãoemrelaçãoàsregrasdeorigememvirtude

da penetração chinesa no mercado americano, que dificulta

também as exportações brasileiras.

Acordo MERCOSUL – União Europeia

• Segundoomodelo,osaldocomercialéhistoricamentenegativo

e o déficit cresceria 65% com o acordo.

• Osetorseposicionacontrariamenteaoacordo,porquestões

de assimetria da competitividade e da estrutura produtiva

existente entre nosso país e o bloco europeu.

• Alémdisso,háoutroscustosdeexportaçãoparaaEuropa,como

no caso da (i) diretiva WEEE (Waste in Electrical and Electronic

Equipment), pela qual o custo do produto deve levar em conta

também o custo de seu recolhimento após o descarte,

e o (ii) REACH, registro obrigatório de produtos que levam

químicos em sua composição.

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Acordo MERCOSUL – Japão

• AsexportaçõesbrasileirasparaoJapãosãohistoricamenteirrisórias,

de forma que o saldo comercial é negativo; o déficit cresceria,

segundo o modelo, 62% com o acordo, chegando a US$ -854 milhões.

• AABINEErelataqueomercadojaponêsétomadopelaChina,

uma vez que os custos de produção no Japão são altíssimos.

Outros locais onde as empresas japonesas produzem são Malásia,

Coréia do Sul e Indonésia.

• AsempresasjaponesasjáestãoatuandonoBrasil,comfoco

no mercado interno, importando certos produtos do Japão

e quase não exportando.

Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – SACU

• Ocomérciocomoblocoerahistoricamentefavorávelesereverteu

nos últimos anos; com o acordo, o modelo sugere que o déficit

cresceria em 490% (saindo de US$ - 1 milhão para US$ -7 milhões).

• AssimcomooMéxico,aSACUésignatáriadoITA,portanto,

a desgravação em produtos de tecnologia da informação não

é interessante para o Brasil;

• OinteresseemumacordocomaSACUtempartedesuaorigem

em elementos culturais: a África do Sul exerce um importante papel

de articuladora dos mercados africanos, que são precariamente

estruturados e não possuem relações comerciais com países

de fora do continente.

• HouveumamudançadeposiçãodevidoàiniciativadoMRE

em incluir a Índia nas negociações do acordo, no âmbito do

Fórum IBAS. A ABINEE ainda possui interesse no acordo,

desde que a Índia seja excluída.

• Adespeitodoresultadodomodelo,háinteresseemumacordo

com a SACU, desde que esse seja de caráter parcial, ou seja, que

determinados produtos estejam excluídos.

Acordo MERCOSUL – América do Sul

• OcomércioéamplamentefavorávelaoBrasile,segundoaABINEE,

poderia ser melhor se Peru e Colômbia estivessem interessados

em um acordo. Estes países, no entanto, temem a concorrência

com a indústria brasileira.

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• Orepresentantedosetorafirma,entretanto,queestetemor

é infundado, uma vez que as empresas que produzem no Brasil

também possuem indústrias nestes dois países e que a decisão

de integrar ou não a produção vem das matrizes, em geral

americanas ou europeias.

• HáinteressedosetoremtodaaAméricaLatinaeCaribe,

e uma preocupação com a redução do comércio ocasionada

pela concorrência chinesa na região. Além disso, dois grandes

mercados se destacam: Colômbia e Chile, onde a indústria brasileira

perdeu espaço para Estados Unidos e União Europeia.

• Ointeressedosetorécorroboradopelomodelo,queindica

que a consolidação de um acordo desse tipo aumentaria

o saldo comercial em 1,3%, saindo de US$ 466 milhões

para US$ 472 milhões.

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Relatório ABIQUIMData: 13 de fevereiro de 2011

Participantes:

FIESP

José Luiz Pimenta Junior

Cleber Pellizzon

Juliana Pucci Suzuki

ABIQUIM

Renato Endres

Denise Mazzaro

Eder da Silva

Questões Gerais• ParaaABIQUIM,hávariáveisquereduzemacompetitividade

da indústria de forma tão intensa quanto as tarifas propriamente

ditas: impostos, custo de matérias-primas, câmbio, normas e registros.

• Umexemploatualdesucessodaproduçãodessesetorocorrena

região do Golfo Pérsico, que consegue produzir petroquímicos

a custos muito competitivos em virtude da abundância

de matéria-prima.

Sensibilidades em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Índia

• OsetornãoteminteressenaampliaçãodoAcordodePreferências

Tarifárias Fixas (APTF), uma vez que apresenta sensibilidades para

diversos produtos, sendo a maioria no setor de química fina

(corantes e farmacêuticos), no qual a Índia se mostra competitiva

em virtude da não observância de questões ambientais.

• Umapossívelampliaçãodoacordoaumentariaem4,5%odéficit

comercial, segundo o modelo.

Acordo MERCOSUL – Estados Unidos

• SegundoaABIQUIM,osEstadosUnidossãoosmaioresexportadores

de produtos químicos para o Brasil. Sua indústria química apresenta

perfil predador e não complementar à brasileira.

• OsetorafirmaqueoacordobeneficiariamaisosEstadosUnidos

do que o Brasil, já que boa parte dos produtos químicos são beneficiados

pelo SGP dos Estados Unidos (cerca de 62%), enquanto a indústria

brasileira continua protegida por tarifas. Assim, com um acordo,

o setor de químicos nacional ficaria exposto à competição.

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• Aposiçãodosetorératificadapelassimulaçõesdomodelo,pois

este prevê um incremento de cerca de 34% no déficit comercial

com os EUA, saindo de cerca de US$ - 4,9 bilhões em 2009

para US$ - 6,6 bilhões após o acordo.

Acordo MERCOSUL – Japão

• AtarifamédiadeimportaçãodoJapãoparaosetorébaixa,

cerca de 7%, sendo que o ganho maior, num eventual acordo, seria

do país asiático. Além disso, a indústria brasileira apresenta algumas

sensibilidades pontuais, a exemplo do ácido glutâmico.

• Aprojeçãodomodeloindicaqueoacordoaumentariaodéficit

comercial em aproximadamente US$ 300 milhões ou 66%

(US$ - 527 milhões antes para US$ - 876 milhões após o acordo).

Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – México

• Aprincipaláreadeinteressebrasileirosãooscorantese,desde

que respeitadas algumas sensibilidades pontuais (cerca de 20 produtos),

a ABIQUIM se mostra favorável ao acordo.

• Omodelo,noentanto,mostraaumentonodéficitsetorialnabalança

comercial brasileira com o país latino-americano em cerca de

20% (US$ -207 milhões em 2009 para US$ - 254 milhões após o acordo).

Acordo MERCOSUL – União Europeia

• Osetorsemostrafavorávelaoacordo,sobacondiçãodeque

sensibilidades pontuais sejam respeitadas, já que as cadeias

produtivas brasileiras e europeias são complementares e

a Europa representa um grande mercado para os químicos brasileiros.

• OutrocasocitadopelosrepresentantesdaassociaçãoéodoREACH

(Registro, Avaliação, Autorização e Restrição de Substâncias Químicas),

que é a legislação europeia para químicos. Todos os produtos químicos

exportados para a União Europeia devem ser registrados,

o que representa um entrave às exportações brasileiras, uma vez

que os custos de registro são bastante altos.

• OsrepresentantesdaABIQUIMrelatamqueoscustosdoREACH

têm levado as indústrias a reduzir as exportações para a União Europeia.

• Segundoomodelo,osaldocomercialénegativoecontinuaria

sendo com o acordo, com um aumento do déficit em cerca de 30%.

• Osetorapontaasregrasdeorigemcomopontodedivergência

nas negociações de um acordo.

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Acordo MERCOSUL – América do Sul

• Osaldocomercialéhistoricamentepositivoeomodelosugere

que o acordo traria uma estabilização no fluxo comercial, ou seja,

não há ganhos notórios de comércio para o Brasil no setor

de químicos, porém ele se manteria positivo.

• AABIQUIMafirmaque40%dasexportaçõesdosetortêmcomo

destino a América Latina, principal mercado consumidor

dos químicos brasileiros.

• Astarifasnaregiãoestãopraticamentezeradas,deformaque

o cenário apresentado na simulação está quase consolidado.

O posicionamento do setor é favorável, desde que sensibilidades

pontuais sejam respeitadas.

• Osetordemonstrapreocupaçãocomacordosbilateraisratificados

por países latino-americanos com terceiros, que podem se beneficiar

da ausência de tarifas na região deslocando as exportações brasileiras.

Acordo MERCOSUL – SACU

• Osaldocomercialtornou-senegativoapartirde2007etende

a crescer com a consolidação do acordo. No entanto, há espaço

para ganhos no mercado.

• AABIQUIMdestacouacompetitividadedaÁfricadoSulno

setor de carboquímicos e afirmou que este é mais um caso em

que a abundância de matéria prima determina a competitividade

da indústria.

• Osetorafirmaqueogovernobrasileiro,duranteasnegociações

do acordo, cedeu na questão das alíquotas, expondo a indústria

interna. A alíquota praticada pela SACU era quase nula, enquanto

a brasileira era superior a 10%.

• Alistadeprodutossensíveis(carboquímicos)foirespeitada,

de forma que o acordo não representará uma ameaça

à indústria brasileira.

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Relatório ABIT/ABRAFASData: 13 de dezembro de 2010

Participantes:

FIESP

José Luiz Pimenta Junior

Cleber Pellizzon

Juliana Pucci Suzuki

ABIT/ABRAFAS

Ana Paula Ciuffa

Renato Jardim

Camila Zelezoglo

Fernanda Gonçalves

Questões Gerais• Osetortêxtilbrasileirotemcomocaracterísticaaintegração

e a verticalização. Diferentemente de outros países, tanto as indústrias

têxteis quanto de tecelagem e confecção são importantes para o Brasil.

• Éimportanteressaltarquecadaumdossubsetoresqueformam

o setor têxtil no Brasil possui características particulares e o objetivo

da ABIT é defender o setor como um todo.

• AABITrelatapreocupaçãocomaquestãoderegrasdeorigem,

fundamentais para o setor. O modelo defendido por eles é

o “yarn-forward” (fio adiante).

• AentidadedestacaqueocrescimentodosetornoBrasilsedeu

com base no mercado interno e este continua sendo o foco

da indústria; o mercado externo tem baixa representatividade

na produção têxtil do país.

• AentidadedestacaqueoBrasilpossuidiversasdesvantagens

que acabam por elevar os custos da produção e tornam a indústria

brasileira menos competitiva, como (i) o câmbio valorizado;

(ii) a alta carga tributária e (iii) um sistema logístico ineficiente.

Sensibilidades em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Índia

• OsaldocomercialésignificativamentedesfavorávelemrelaçãoàÍndia

e as exportações são muito pequenas.

• OBrasiléextremamentesensívelaumacordocomaÍndia.Segundo

representantes da ABIT, a indústria indiana é bastante integrada

e competitiva.

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• Alémdisso,osetortêxtilnaÍndiaatuacomoum“colchãosocial”,

por ser intensivo em trabalho e responsável pela geração

de empregos para uma parcela significativa da população.

Isto torna a ação do Estado, no que se refere ao setor, bastante

agressiva, proporcionando, sobretudo, incentivos à produção

têxtil indiana.

• Foisolicitadaaexclusãodosetortêxtildoacordoe,sehouver

a possibilidade de um aprofundamento do mesmo, a entidade

reforçará a solicitação junto ao governo.

• Confirmandoasopiniõesdosetor,omodelosugereumaumento

de 59% do déficit com o acordo (de US$ -275 milhões para

US$ -438 milhões).

Acordo MERCOSUL – SACU

• Osaldocomercial,queeranegativo,seinverteuapartirde2008.

Segundo a simulação do modelo, o acordo incrementaria

o comércio entre os blocos e o saldo comercial positivo

aumentaria 246%.

• OsetormaiscompetitivodaSACUéodeconfecção,intensivo

em trabalho e de baixa necessidade de capital. Nesse sentido,

o principal determinante para o preço do produto é o custo

dos salários, mais baixos do que no Brasil.

• OsmercadosdaSACUsãobastantelimitadosehágrande

participação dos chineses nas importações.

• AquestãodasregrasdeorigemtambémpreocupaaABIT,jáque

essas devem ser rígidas em virtude dos investimentos chineses na região.

O critério defendido pela ABIT é o yarn forward e a regra adotada

no acordo não atende a este critério.

• Dessaforma,mesmocomoresultadopositivodemonstrado

pelo modelo, outras importantes questões influenciam o grau

de sensibilidade do setor em face de um acordo dessa natureza.

Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – México

• Osaldoéhistoricamentepositivoe,comoacordo,segundoomodelo,

seria revertida a tendência de queda surgida em 2008 e haveria

um crescimento no saldo de 156% (chegando a US$ 124 milhões).

• Osetortêxtilbrasileiro,noentanto,ésensívelemrelaçãoaalguns

tipos de fibras químicas, sendo o principal produto sensível o cabo

de acetato de celulose (NCM 5502.00.10).

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• OfocodaindústriadoMéxicosãoosEstadosUnidos,mercadonoqual

o Brasil vem perdendo espaço em virtude das exportações chinesas.

Um acordo com o MERCOSUL, portanto, seria importante para

o setor têxtil mexicano.

• AABITpossuiinteresseofensivoemumacordocomoMéxico

e vê o país como um parceiro em potencial.

Acordo MERCOSUL – EUA

• Osaldopositivofoireduzidoapartirde2007easimulaçãodo

modelo sugere que as exportações brasileiras retomariam

o desempenho anterior, assim como as importações também

cresceriam. O saldo comercial aumentaria em 77%.

• AABITtemgrandeinteressenoacordo,poisosEstadosUnidos

são o maior mercado do mundo e suas importações em produtos

têxteis somam aproximadamente US$ 65 bilhões por ano.

• Aproduçãonorte-americanaébaseadaemvestuáriotécnico,

uniformes e artefatos militares de alta tecnologia. Há, nesse

sentido, complementaridade entre as indústrias brasileira e americana.

• Osrepresentantesdestacamtambémaregradeorigem

convergente como um elemento favorável a um acordo:

os Estados Unidos adotam em seus acordos a regra “yarn forward”,

a mesma defendida pela entidade nos entendimentos do Brasil.

Acordo MERCOSUL – União Europeia

• Ocomércioé,desde2004,desfavorávelaoBrasil.Deacordocom

o GTAP, o déficit aumentaria com o acordo em 94%.

• Operfildosetortêxtileuropeuésemelhanteaoamericano;

a indústria de confecção é fraca, uma vez que a mão de obra

europeia é cara. No entanto, os países do Leste, por oferecerem

mão de obra mais barata, podem tornar a confecção um setor mais

relevante na medida em que a integração europeia se aprofundar.

• Háinteressenoacordodesdequeocorra(i)adesgravaçãodentro

de 8 anos para grande parte dos produtos têxteis e de confecção

e (ii) uma desgravação mais lenta para fibras e filamentos químicos.

• Opontofortedaindústriaeuropeiaéodesign:aproduçãoéfeita

em outros países, onde a mão de obra e as matérias primas são

mais baratas.

• Aentidaderelatapreocupaçãocomoscritériosderegradeorigem

a serem adotados num acordo e afirma que a proposta europeia

de regras de origem facilita a agregação de valor de tecidos

produzidos em outros locais.

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• Háinteressenoacordo,quetendeaserbenéficoaosetor

brasileiro, desde que respeitadas as regras de origem.

• Outrapreocupaçãorelatadapelosetorsãoasnormasestabelecidas

pela UE para a importação de bens, como o REACH: os produtos

têxteis levam diversos componentes químicos, que devem ser

registrados junto às autoridades europeias. Este registro eleva

os custos de exportação e falta clareza a respeito do processo.

A tendência é a de que mais países adotem regras semelhantes.

Acordo MERCOSUL – América do Sul

• AAméricaLatinaéumdosprincipaisdestinosdaproduçãobrasileira

e apresenta vantagens em relação a outros países, como custos

logísticos menores e cultura similar.

• OsetordemonstrainteresseemumaÁreadeLivreComércio

na América do Sul, uma vez que as indústrias na região não são

integradas como a brasileira e não ameaçam o setor.

• OcomércioéhistoricamentefavorávelaoBrasileosaldocomercial

cresceria em 17% com o acordo.

Avaliação indiferente ou desconhecida quanto a Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Japão

• Ocomércioéirregulare,desde2006,desfavorávelaoBrasil.

O déficit cresceria em 400% com o acordo, ainda que seja pequeno

em termos absolutos (US$ -16 milhões).

• OsetorconsideraoJapãoummercadomuitoimportante,

mas dominado por produtos chineses.

• Osjaponesespossuemdiversosinstitutoseprogramasdefomento

à pesquisa e tecnologia, de forma que o principal interesse brasileiro

no Japão é a cooperação técnica, e não o comércio.

• Hátambémalgumasempresasbrasileirasdevestuáriointeressadas

em investir no país.

• DeacordocomosrepresentantesdaABIT,umareduçãotarifária

não seria suficiente para tomar o espaço dos chineses

no mercado japonês.

Page 105: Análise Quantitativa de Negociações Internacionais

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Relatório BRACELPAData: 20 de janeiro de 2011

Participantes:

FIESP

Cleber Pellizzon

José Luiz Pimenta Junior

Juliana Pucci Suzuki

BRACELPA

Danielle Melo

ICONE

Leila Harfuch

Questões Gerais• OBrasiléaltamentecompetitivonaproduçãodefibrascurtas

e autossuficiente na produção de fibras longas, sendo, porém,

um eventual importador desta última. O país é o quarto maior

produtor de celulose do mundo e, apesar das sensibilidades

em relação ao papel, é o nono maior produtor deste material.

• Atualmente,aproduçãodefibralonganãotemsidosuficiente

para abastecer o aquecido mercado interno, de forma que

este é um produto importado pelo Brasil.

• AUEéoprincipalmercadodecelulose,destinode40%

das exportações brasileiras. A China é o segundo maior mercado e,

durante a crise iniciada em 2008, chegou a ser o principal destino

da celulose brasileira.

• Nosetordepapel,oprincipalmercadoparaosprodutosbrasileiros

é a América Latina, seguido pelo mercado interno.

Sensibilidades em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – União Europeia

• AUEéoprincipaldestinodasexportaçõesbrasileiraseocomércio

é bastante expressivo. O modelo prevê uma pequena diminuição (18%)

no superávit comercial do Brasil com o bloco europeu.

• ABRACELPAcitacomosensibilidadesdosetoremrelaçãoaumacordo

com a União Europeia (i) a capacidade produtiva dos países que

a compõem (cerca de 10 vezes maior do que a do Brasil), (ii) a carga

tributária e (iii) operações logísticas, três aspectos relacionados

diretamente ao custo final do produto nos quais a UE é bastante

competitiva.

• Asopiniõesemrelaçãoaesteacordosãodivergentes:

enquanto o setor de celulose é indiferente, o setor de papel é defensivo.

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• Alémdisso,hápreocupaçãoarespeitoderegrasdeorigem,

especificamente em relação a importações da Indonésia, grande

produtora de celulose e que adota uma postura agressiva

em relação a este produto.

Acordo MERCOSUL – Estados Unidos

• ApesardenãoestaremnoSGP,osprodutosdosetorsãoexportados

para os Estados Unidos com tarifa zero. O saldo comercial

continuaria positivo se um acordo fosse assinado (US$ 350 milhões)

e as exportações para os Estados Unidos continuariam expressivas

(US$ 763 milhões).

• OacordoseriamelhorparaosEUA,cujosprodutosseriam

exportados com tarifa zero, do que para o Brasil, que teria

seu mercado exposto à concorrência americana.

• OsEstadosUnidostambémsãograndesprodutoresmundiais

de papel, produto no qual o Brasil apresenta sensibilidades.

Fatores como o custo-Brasil e a infraestrutura aumentam

a desvantagem do Brasil em relação aos Estados Unidos.

Acordo MERCOSUL – Japão

• Osaldocomercialéhistoricamentepositivo,porémoscilante.

• Astarifasjaponesasparaosprodutosdosetorjásãode0%,

de forma que não haveria benefícios significativos para o Brasil

com o acordo.

• Hápreocupaçãocomaconcorrênciadeoutrospaísesasiáticoscomo

China e Indonésia, grandes produtores de celulose, e também

com a indústria japonesa de papel, 3ª maior produtora mundial.

• Segundoomodelo,osaldocomercialparaosetor,resultante

de um acordo de comércio, seria negativamente afetado,

com queda de 20% (US$ -11 milhões).

Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Índia

• Osaldoépositivoeteriaumavariaçãopositivacomumacordo(19%),

sendo que as exportações brasileiras aumentariam em 22%.

• ABRACELPApossuiinteressenoacordo.

• Oprincipalinteressedosetorseriaaimportaçãodefibralonga,

pouco produzida pelo Brasil e com grande demanda interna.

• AÍndiatambémrepresentaumpotencialmercadoconsumidor

para os produtos brasileiros.

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Acordo MERCOSUL – SACU

• Segundoomodelo,osaldosemanteriapositivo(comumpequeno

aumento de 7%, de US$ 15 milhões para US$ 16 milhões).

O comércio bilateral seria mais expressivo, apesar de ser mais

favorável ao Brasil.

• OsetorapresentainteresseofensivoemumacordocomaSACU,

que é competitiva na produção de papel e celulose e, no entanto,

adota uma postura defensiva.

• Porcontadeumcasodedumping,envolvendoaÁfricadoSul

e o Brasil, empresas brasileiras não podiam exportar para a África

do Sul. A produção, que antes era exportada, foi realocada

principalmente no mercado interno.

• Excetuando-seaÁfricadoSul,todososoutrospaísesdaSACU

são mercados inexplorados.

Acordo MERCOSUL – México

• OcomércioéfavorávelaoBrasileoMéxicopromoveuumadesgravação

tarifária unilateral. Segundo o modelo, um possível acordo de livre

comércio elevaria o saldo atual de US$ 22 milhões para US$ 26 milhões.

• OBrasilémaiscompetitivoqueoMéxicoeosetorapresenta

interesse ofensivo em relação a este acordo.

• ABRACELPArelataointeressedepelomenosseisempresas

brasileiras no mercado mexicano, e que há dificuldades

na negociação de um acordo, uma vez que a contraparte

mexicana se mostra reticente.

Acordo Mercosul – América do Sul

• Ocomércioésignificativo,compredominânciadasexportações

brasileiras. O saldo comercial, positivo em US$ 284 milhões, passaria

para US$ 300 milhões com um acordo.

• OsetorenfrentaaconcorrênciadoUruguaiemceluloseedoChile

em papel, especificamente na produção de papel-cartão e papel

para fins sanitários.

• HáinteresseofensivoporqueaAméricadoSuléoprincipaldestino

dos produtos brasileiros e há a possibilidade de expansão do mercado.

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Relatório General MotorsData: 10 de março de 2011

Participantes:

FIESP

José Luiz Pimenta Junior

Cleber Pellizzon

Juliana Pucci Suzuki

General Motors

Pedro Bentancourt

Marcos Souza

Questões Gerais• Osrepresentantesdamontadoratêmressalvasquantoàestrutura

de custos considerada pelo modelo, pincipalmente no que se refere

ao alto valor atribuído aos outros equipamentos de transporte e

à baixa participação do fator capital, uma vez que o setor

é capital-intensivo.

• Asautopeçasrepresentam70%doscustosdeproduçãodeautomóveis

e o preço do aço é determinante para o custo final do veículo.

• Opaísjánãosecaracterizapormãodeobrabarataehádificuldades

na contratação de pessoal qualificado. O custo do capital é muito

alto e os impostos (diretos e indiretos) reduzem a competitividade

da indústria brasileira.

• Osacordosdevemserrealizadoscompaísescompotencialreal

de importação, dada a inexistência de indústria, ou com perfil

semelhante e complementar ao Brasil, tendo como exemplo o México.

• OBrasiléo4ºmaiorconsumidordeautomóveisdomundoe,

no entanto, é o 6º maior produtor; este descompasso entre produção

e consumo, que hoje favorece as importações, deveria ser preenchido

por meio de uma ampla estratégia de produção em conjunto com

o aumento da competitividade da indústria.

• AGMseposicionafavorávelapolíticaseacordosqueincentivema

produção regional de veículos.

Sensibilidades em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Índia

• Apartirde2006,osaldotornou-senegativo.Segundoomodelo,

o acordo reduziria o déficit em 95%, aproximando o saldo comercial

de zero.

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• Apesardosresultadospositivos,nãohávantagensvisíveis

no acordo para exportar veículos montados, uma vez que tanto

a estrutura de produção quanto o perfil de consumo da Índia

são diferentes do Brasil. Entretanto, poderia ser interessante

um mecanismo que permita comércio de partes e peças.

• CertasnormastécnicasdificultamaentradadeveículosdaÍndia

no Brasil.

• Ascondiçõesdomercadoautomotivoindianorepresentam

grandes desafios para os carros produzidos no Brasil.

Acordo MERCOSUL – SACU

• Segundoomodelo,ocomércioéfavoráveleosaldocresceriaem

160% com o acordo. A GM afirma, no entanto, que os resultados

da simulação não condizem com a realidade, uma vez que o mercado

sul-africano vem sofrendo uma diminuição gradual desde 2006.

• Alémdisso,abaixadisponibilidadedecréditoparaapopulação

sul-africana reduz as expectativas de crescimento daquele mercado

nos próximos anos.

• AtarifadeimportaçãoaplicadanaÁfricadoSulparaosetorpode

chegar a 0%, se respeitadas as condições específicas do Programa de

Desenvolvimento da Indústria Automotiva (MIDP), política industrial

da África do Sul, que visa a impulsionar a competitividade do setor

nesse país.

• UmacordocomoSACUdeveriacomeçarcomummecanismo

que permita comércio de partes e peças.

Acordo MERCOSUL – Estados Unidos

• Doisaspectoscomerciaisdevemserlevadosemconta:(i)adiferença

dos perfis dos automóveis produzidos em um ou outro país, e (ii)

a elevada capacidade ociosa dos EUA, que adiciona competitividade

à indústria desse país.

• UmacordocomosEstadosUnidosalterariaascondiçõesatuais

de concorrência no Brasil. Segundo o modelo, um acordo com EUA

reduziria o superávit comercial do Brasil em 84%

(indo de US$ 230 milhões para US$ 37 milhões)

Acordo MERCOSUL – União Europeia

• AGMconcordaqueosnúmerosdasimulação(aumentododéficit

no saldo comercial em 76%) sejam condizentes com a realidade.

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• Umacordoprovocariaaumentodasimportaçõesbrasileirasdecarros

europeus e possibilidade de diminuição da produção nacional,

com alteração das condições de concorrência no Brasil,

sem necessariamente aumentar as exportações brasileiras para Europa.

• AposiçãodaANFAVEAéfavorávelaoacordo,desdequeosveículos

estejam na Cesta F (que prevê a desgravação tarifária em 18 anos

e 8 anos de carência). Nesse caso, poderia haver o estabelecimento

de cotas reduzidas de importação para complementar as linhas

de produtos das montadoras.

Acordo MERCOSUL – Japão

• Segundoamontadora,astarifasjaponesastendema0%,entretanto

há outras barreiras não tarifárias que impedem o acesso ao mercado

do Japão: culturais, restrições à publicidade, normas técnicas

e de segurança.

• Nocasodomercadojaponês,adesgravaçãotarifáriaemsinão

representa nenhum indicativo de intensificação do comércio,

não havendo, portanto, o que negociar.

Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – México

• Háinteressenoacordoporpartedaempresa,fatocorroborado

pela análise do GTAP, que prevê uma redução da ordem de 28%

do déficit do setor automobilístico com a consolidação do livre

comércio entre as partes.

• Ointeresseé,sobretudo,peloMéxicopossuirummercadoconsumidor

com preferências que poderiam ser atendidas pelos produtos brasileiros.

• Afacilitaçãodoacessoaomercadoamericanotambéméumfator

relevante.

• OsetordecaminhõesdoMéxico,noentanto,écontraoacordo,

uma vez que os modelos produzidos em terras mexicanas

não atendem às especificações técnicas do Brasil.

Acordo MERCOSUL – América do Sul

• ComaconsolidaçãodaÁreadeLivreComércio,deacordocoma

simulação do GTAP, haveria um aumento de 14% no superávit comercial.

• Aseconomiasdaregiãoestãoemprocessodeindustrialização

e é necessária uma atualização do arcabouço de acordos comerciais

já existentes.

• AAméricadoSuléoespaçonaturalparaocomérciodoBrasil,

pois os vizinhos são importadores líquidos de bens manufaturados

e, com logística apropriada, pode-se exportar com preços competitivos.

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Relatório ICONE22

Data: 2 de janeiro de 2011

Participantes:

FIESP

Cleber Pellizzon

José Luiz Pimenta Junior

Juliana Pucci Suzuki

ICONE

André Nassar

Leila Harfuch

Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL - Índia

• SegundooICONE,existeapossibilidadedequeocorranaÍndia

um fenômeno semelhante ao que ocorreu na China: um aumento

na demanda por alimentos (sobretudo o frango), que devem seguir

determinados padrões de qualidade. Esse aumento na demanda

teria como causas principais: (i) êxodo rural; (ii) crescimento das

cidades; e (iii) aumento das redes de fast-food. Dessa forma, a Índia

poderá se tornar uma importadora de alimentos por não conseguir

suprir a demanda interna.

• Segundoomodelo,osaldocomercialdosprodutosagrícolas

aumentaria aproximadamente 104% com o acordo. Há, portanto,

interesse em um acordo com a Índia.

Acordo MERCOSUL - SACU

• VáriossetoresapresentamganhosemumacordocomaSACU:

há considerável aumento das exportações brasileiras, sobretudo

em açúcar, carnes de aves e suíno. O resultado é um crescimento

de 58% no saldo (variação de US$ 89 milhões para US$ 140 milhões).

• Umacordotambémtenderiaapromovermaiorestabilidadeaofluxo

comercial, já que impediria o estabelecimento de barreiras às carnes

brasileiras, como as realizadas pela África do Sul recorrentemente.

• Osetortem,atualmente,grandeinteresseemumacordocomaSACU.

22 O ICONE, diferentemente das demais associações e sindicatos consultados, não pode ser considerado uma entidade de representação setorial. Não obstante, o instituto busca aprimorar a inserção internacional do agronegócio brasileiro, com destaque para diversos setores, sobretudo aqueles que são seus mantenedores (Associação Brasileira do Algodão, União Brasileira de Avicultura, União da Indústria de Cana de Açúcar, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Instituto Riograndense do Arroz e Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento).

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Acordo MERCOSUL – México

• OcomércioentreBrasileMéxicoépequenoemprodutosagrícolas,

pois o mercado mexicano é suprido pelos Estados Unidos no âmbito

do Acordo Norte-americano de Livre Comércio (NAFTA).

• OMéxicosemostrareticenteeadotaumaposturaprotecionista

a respeito de um acordo com o MERCOSUL. Segundo o ICONE,

este protecionismo está mais relacionado a aspectos políticos do que

econômicos: o modelo indica que não haveria grandes perdas para

o México com a assinatura de um acordo.

• Osganhostotaiscomoacordosãopequenos,porémosetoragrícola

demonstra interesse. Segundo o modelo, o saldo comercial

em produtos agrícolas seria 16% maior com o acordo, com ganho

absoluto de US$ 9 milhões.

Acordo MERCOSUL – EUA

• UmacordocomosEstadosUnidosseriainteressanteemduassituações:

a total abertura dos dois mercados ou a abertura parcial, com maior

liberalização em carne bovina, açúcar, etanol e suco de laranja por

parte dos americanos e a entrada do leite brasileiro em uma lista

de produtos sensíveis.

• Omodelosugereumaumentoem24%dosuperávitemprodutos

agrícolas com o acordo (US$ 300 milhões em termos absolutos),

uma redução em 24% do superávit em carne bovina

e um aumento de 15% do superávit em açúcar.

• Destaforma,oICONEconsiderahaverinteressenoacordo,

mas com ressalvas.

Acordo MERCOSUL – União Europeia

• Háinteressenoacordo,classificadocomoprioridadeparaosetoragrícola,

validando os resultados do modelo (aumento de 10% no saldo

para produtos agrícolas, 92% para açúcar e de 113% para carnes,

com ganhos totais de mais de US$ 700 milhões).

• OICONEafirmaqueosganhosapresentadospelomodelosão

subestimados, uma vez que há muitas sensibilidades em produtos

agrícolas por parte da União Europeia. Em contrapartida, destaca-se

a competitividade dos europeus na produção de laticínios, produtos

nos quais o Brasil é sensível.

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Acordo MERCOSUL – Japão

• OJapãoapresentagrandessensibilidadesemprodutoscomoarroz,

arroz processado, açúcar, carnes, laticínios e outras culturas.

Com o acordo, o saldo comercial de carnes cresceria em 173%,

e o de açúcar 143%.

• Omercadojaponêséclassificadocomoabertoedificilmente

um acordo promoveria maior liberalização. No entanto, há potencial

de desvio de comércio em carne bovina (mercado dominado por

Estados Unidos e Austrália) e suína (principais fornecedores: Canadá,

Dinamarca e Estados Unidos) se as questões sanitárias forem

equacionadas.

• OICONEafirmahaverinteressenoacordo,devidoaofatodoJapão

ser um consumidor de produtos de alto valor agregado, mas atenta

para questões sanitárias que podem ser entraves ao comércio.

Acordo MERCOSUL – América do Sul

• Osetoragrícolaapresentapequenosganhosemquasetodos

os produtos e saldos negativos em frutas e vegetais, devido

à competitividade do Chile nessas culturas, além de pescados,

em virtude da concorrência com o Peru.

• OsaldocomercialtotaldoBrasilcomaregiãoaumentariaemcerca

de 4%, passando de US$ 456 milhões para US$ 473 milhões.

• OICONEafirmahaverinteressenoacordoesugeremaiorpressãonos

ACE que estão em vigor, para a aceleração da desgravação na região

e também para a convergência em tarifas, o que facilitaria o comércio.

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Relatório SINDIPEÇASData: 26 de novembro de 2010

Participantes:

FIESP

Cleber Pellizzon

José Luiz Pimenta Junior

Juliana Pucci Suzuki

SINDIPEÇAS

Antônio Carlos Meduna

Luiz Carlos Auler Pereira

Américo Nesti Jr.

Questões Gerais• Osetordemonstrapreocupaçãoemrelaçãoaocusto-Brasil

e ao câmbio brasileiro, que expõem os problemas do setor produtivo

e prejudicam, principalmente, as indústrias de transformação.

• Noentanto,osindicatodestacaaelevadaprodutividadedosetor

no Brasil e afirma que a dificuldade atual em se realizar acordos

é agravada pela carga tributária e juros elevados.

Sensibilidades em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Índia

• OSINDIPEÇASnãodemonstrainteresseemumacordocomaÍndia,

devido à competitividade superior que o setor indiano de autopeças

demonstra ter quando comparado ao setor no Brasil.

• Entretanto,comrelaçãoàÍndia,aposiçãodosetoréadeque

é necessário o envolvimento de toda a cadeia produtiva

nas discussões sobre um acordo, de forma que haja uma análise

do interesse geral dos representantes do segmento.

• Osetorreagiucomsurpresaemrelaçãoaofatodomodelo

apresentar uma redução no déficit comercial do setor brasileiro

com a Índia após o acordo.

Acordo MERCOSUL – UE

• Osresultadosapresentadospelomodeloratificamoposicionamento

do setor, sensível à assinatura do acordo, já que o déficit comercial

aumentaria pouco mais de 75%, saindo de aproximadamente

US$ - 1,4 bilhão para um cenário de US$ - 2,5 bi após o acordo.

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• Apreocupaçãoprincipaléobaixocustodaproduçãodeveículosno

leste europeu quando comparado com o Brasil, uma vez que essa parte

da Europa produz os mesmos modelos produzidos aqui, porém

em maior escala.

Acordo MERCOSUL – Japão

• Osindicatoseposicionadeformacontráriaàsnegociaçõescom

o Japão, principalmente em função do número de fábricas de automóveis

japoneses instaladas no Brasil, que tenderiam a importar peças japonesas.

Essa posição é validada pelo modelo, já que um acordo tenderia

a aumentar o déficit comercial do setor em cerca de 70%

(US$ -1,1 bilhão antes do acordo para US$ -1,9 bilhão após).

Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – EUA

• ApesardeoSINDIPEÇASserfavorávelaoacordo,acreditaqueeste

seria mais benéfico aos EUA, já que o setor já se utiliza do SGP.

Em contrapartida, as incertezas a respeito da renovação anual do SGP

deixariam de existir se o acordo fosse realizado.

• Omodeloprevêumincrementode80%nodéficitcomercialexistente.

• OsaldocomercialdosetordepeçascomosEstadosUnidos

é historicamente superavitário, situação que se reverteu

em decorrência do câmbio desfavorável.

• Em2010,foiexportadoUS$1,2bilhãoparaomercadoamericano,

que é o segundo maior consumidor dos produtos brasileiros

(13% das exportações nacionais). As importações brasileiras somaram

US$ 1,7 bilhão, de forma que os Estados Unidos ocupam o 3º lugar

no ranking de exportações para o Brasil.

• Outrasbarreiras,comoasdiferençasnopadrãodosautomóveis,

dificultariam a concretização dos resultados do modelo.

• Alémdisso,osetorapresentapreocupaçõesemrelaçãoaregras

de origem e salvaguardas.

Acordo MERCOSUL – SACU

• OsdadosdomodelodemonstramqueumacordocomaSACUseria

benéfico ao setor, com um incremento do superávit em cerca

de 160%, saindo de US$ 299 milhões atuais e indo para

US$ 777 milhões após o acordo.

• Ointeressedosetordependedoenvolvimentodosrepresentantes

do setor automotivo no acordo. Desta forma, a assinatura dependeria

de um trabalho em conjunto com a ANFAVEA.

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• ParaoSINDIPEÇAS,oresultadoapresentadopelomodelopoderá

ser influenciado pelo fim do Programa de Desenvolvimento

da Indústria Automotiva (MIDP) – programa de incentivo à produção

com término previsto para 31 de dezembro de 2012.

Acordo MERCOSUL – América do Sul

• OsetornãodemostrareceioquantoaumaÁreadeLivreComércio

na América do Sul, porém questiona a possibilidade de inclusão

de países como Venezuela, Colômbia e Equador, que possuem

uma indústria de autopeças protegida. O modelo prevê para o setor

um aumento de 14% no superávit atual.

Acordo MERCOSUL – México

• Apesardeascondições(taiscomoocâmbio,ofatode80%

das importações serem intercompany e a maior parte do setor já

ser coberta pelo ACE-55) não serem tão favoráveis para a realização

do acordo, há interesse do setor na concretização deste.

• OSINDIPEÇASconsideraqueasituaçãoeconômicadoMéxicomudou

nos últimos anos e, apesar de a simulação do GTAP apresentar uma

redução do déficit na balança comercial brasileira após o acordo,

esse fato deve ser visto com atenção. Nesse sentido, a desvalorização

cambial e o excesso de capacidade ociosa (com possível aumento

da produção) do setor mexicano podem influenciar em tais resultados.

• Emfacedeumeventualacordo,osetordefendeatençãoàsregras

de origem no texto.

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Relatório VolkswagenData: 17 de dezembro de 2010

Participantes:

FIESP

José Luiz Pimenta Junior

Cleber Pellizzon

Juliana P. Suzuki

Volkswagen

Glória Merendi

ICONE

Leila Harfuch

Questões Gerais• Atualmente,osetorautomotivoestámaisinclinadoaoprotecionismo;

não houve avanços significativos no MERCOSUL e a regulamentação

na região se dá por meio de acordos bilaterais.

• Relativiza-seaimportânciadastarifasnoquetangeaoacesso

a mercados de automóveis em outros países, uma vez que

há questões mais latentes, como fatores técnicos.

• Emrelaçãoàestruturadecustosapresentadapelomodelo,amão

de obra qualificada é mais importante do que mão de obra

não qualificada e o preço do aço vem ocupando cada vez mais espaço

nas despesas da montadora.

Sensibilidades em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Índia

• Osetorésensívelaoacordoemrelaçãoaveículosmontados,apesar

de possuir interesse na compra de autopeças da Índia. Além disso,

requisitou a entrada na lista de sensibilidades do SGPC, em virtude

da competitividade indiana.

• Deacordocomomodelo,oaprofundamentodoacordoprovocaria

uma redução em 95% do déficit, em consequência da alta estimada

em 200% nas exportações.

Acordo MERCOSUL – SACU

• Esteacordobeneficiariaalgumasmontadorasqueproduzemveículos

que atingem requisitos técnicos de cada mercado, como, por exemplo,

a mão de direção do automóvel, que na África do Sul é à direita.

Desta forma, não há consenso no setor automotivo a respeito de um

acordo deste tipo, uma vez que apenas algumas das montadoras

teriam de fato acesso ao mercado.

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A n á l i s e Q u A n t i tAt i vA d e n e g o c i A ç õ e s i n t e r n A c i o n A i s - r e l At ó r i o d o P r o j e t o

• Devidoàposturamaisconservadoraeprotecionistaadotada

pelo setor em geral, hoje um acordo ideal com a SACU estabeleceria

cotas, e não um mercado livre.

• Osfatorestécnicos,ocontextoprotecionistaeatendência

à especialização da indústria permitem afirmar que a posição em

relação ao acordo é de contrariedade, por não considerá-lo viável

economicamente. O modelo, entretanto, indica um incremento

de 160% no superávit com o acordo.

Acordo MERCOSUL – Japão

• OmercadojaponêsédominadopelaChinaequestõesculturais

também dificultam o acesso. Ademais, as tarifas japonesas são baixas

e o saldo comercial é historicamente negativo em virtude

da relevância das questões não tarifárias para o comércio neste setor.

• UmacordocomoJapão,portanto,nãoteriagrandesefeitosemtermos

de acesso ao mercado japonês.

• Emcontrapartida,beneficiariaasmontadorasjaponesasnoBrasil,

porque facilitaria a importação de kits para a montagem dos veículos,

que são produzidos e exportados pelo Japão.

• Emboranãotenhadiscutidootemainternamente,aprincípio,

a Volkswagen não teria interesse em um acordo com o Japão.

O modelo sugere que o acordo aumentaria o déficit em 69%.

Interesse em Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – União Europeia

• Emborasetenhaconseguidoumaposiçãodeconsensonosetor,

o acordo apresenta bastante sensibilidade. Para a Volkswagen,

o acordo é benéfico e há interesse na negociação, uma vez que levaria

a uma especialização da produção, no Brasil, de veículos de menor

valor agregado e, na Europa, de veículos de mais alto valor agregado.

• Omodeloindicaumaumentonodéficitcomercialem76%comoacordo.

Acordo MERCOSUL – México

• Destaca-seaexistênciadoAcordodeComplementaçãoEconômica

Brasil – México (ACE 55), no qual estão inclusos automóveis

e autopeças. Os caminhões estão excluídos do acordo por questões

técnicas que impedem o acesso aos mercados.

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A n á l i s e Q u A n t i tAt i vA d e n e g o c i A ç õ e s i n t e r n A c i o n A i s - r e l At ó r i o d o P r o j e t o

• Osetoréfavorávelaoacordo,umavezqueaproduçãomexicana

é considerada complementar à brasileira. Corroborando a opinião

da montadora, haveria, segundo o modelo, uma redução

do déficit de 28%.

Acordo MERCOSUL – América do Sul

• HáinteressenoavançodaliberalizaçãocomEquadoreColômbia,

processo paralisado devido a divergências em regras de origem.

• EmrelaçãoaoPeru,adesgravaçãotarifáriasedaráem2018,

mas há pressões para que ela seja acelerada.

• Nessesentido,pode-sedizerqueháinteresseofensivonaregião,

corroborado pelo modelo que indica crescimento de 14%

no saldo comercial.

Avaliação indiferente ou desconhecida quanto a Acordos BilateraisAcordo MERCOSUL – Estados Unidos

• OtemanãofoirediscutidoapósofimdaALCA.Eleapresenta

bastante sensibilidade. Dado o contexto atual, talvez a posição

setorial seja conservadora.

• Omodeloindicaquehaveriaumareduçãode84%nosuperávit.

Page 120: Análise Quantitativa de Negociações Internacionais

Análise Quantitativa de Negociações Internacionais

Resumo Executivo

Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESPDepartamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior – DEREXAvenida Paulista, 1313, Cerqueira César – São Paulo/SP