Top Banner
Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação - XI ENANCIB 2010 GT 2: Organização e Representação do Conhecimento Comunicação Oral Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza – UFF Tatiana de Almeida - FINEP RESUMO Analisa a produção do vocabulário controlado da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) com o objetivo de relacionar os procedimentos metodológicos de análise dos termos contidos no vocabulário com a Linguística, mais precisamente, a Terminologia. Descreve os critérios estabelecidos para estruturar a forma do termo na construção deste vocabulário. Disserta sobre os conceitos de Linguagem Documentária, Sistema de Recuperação da Informação e Terminologia. Apresenta observações sobre uma breve análise lingüística realizada nos campos de preenchimento do formulário eletrônico de apresentação dos projetos à FINEP. Sugere uma metodologia de análise de projetos com base na Lingüística considerando os projetos como um tipo de gênero, com o intuito de explorar as características textuais do documento, agregar aos processos de análise e validação das definições e garantir que os termos utilizados na documentação e no sistema sejam os mais adequados, o que tornaria a recuperação muito mais rápida e fácil. Palavras-chave: Linguagem Documentária. Vocabulário Controlado. Sistema de Recuperação da Informação. Linguística. Terminologia. ABSTRACT
31

Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

May 14, 2023

Download

Documents

Benjamim Picado
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação - XIENANCIB 2010

GT 2: Organização e Representação do Conhecimento

Comunicação Oral

Análise dos princípios metodológicos adotados noVocabulário Controlado da FINEP

Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza – UFFTatiana de Almeida - FINEP

RESUMO

Analisa a produção do vocabulário controlado da Financiadorade Estudos e Projetos (FINEP) com o objetivo de relacionar osprocedimentos metodológicos de análise dos termos contidos novocabulário com a Linguística, mais precisamente, aTerminologia. Descreve os critérios estabelecidos paraestruturar a forma do termo na construção deste vocabulário.Disserta sobre os conceitos de Linguagem Documentária, Sistemade Recuperação da Informação e Terminologia. Apresentaobservações sobre uma breve análise lingüística realizada noscampos de preenchimento do formulário eletrônico deapresentação dos projetos à FINEP. Sugere uma metodologia deanálise de projetos com base na Lingüística considerando osprojetos como um tipo de gênero, com o intuito de explorar ascaracterísticas textuais do documento, agregar aos processosde análise e validação das definições e garantir que os termosutilizados na documentação e no sistema sejam os maisadequados, o que tornaria a recuperação muito mais rápida efácil.

Palavras-chave: Linguagem Documentária. VocabulárioControlado. Sistema de Recuperação da Informação. Linguística.Terminologia.

ABSTRACT

Page 2: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

Production of the controlled vocabulary of Financiadora deEstudos e Projetos (FINEP) was examined in order to relate themethodological procedures for analysis of the terms containedin the vocabulary to Terminology theory. Criteria to structurethe verbal form in the construction of the vocabulary werepresented. Concepts of Documentary Language, InformationRetrieval System and Terminology were explained. Brieflinguistic analysis observations were considered in the fieldsfilling of electronic submission of projects to FINEP. Amethodology for project analysis based on Linguistics wassuggested, considering projects as a kind of genre andexploring textual document characteristics. Analyticalprocedures and validation were added to the definitions toensure that the terms used in documentation and the system arethe most appropriated.

Keywords: Documentary Language. Controlled Vocabulary. Information Retrieval System. Linguistics. Terminology.

2

Page 3: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

1 INTRODUÇÃO

O volume informacional gerado nos dias atuais desafia os

profissionais de informação no que diz respeito ao

armazenamento e ao tratamento da informação. Como representar

o conteúdo de modo a permitir que os usuários tenham acesso?

Como possibilitar que essa informação seja utilizada pelo meio

corporativo, tornando o conhecimento tácito em conhecimento

explícito? A organização do conhecimento assume cada vez mais

um papel relevante nas tomadas de decisão pelas empresas.

Dentro desse contexto observamos a FINEP – Financiadora de

Pesquisas e Projetos, agência nacional de fomento de Ciência e

Tecnologia, vinculada ao MCT – Ministério de Ciência e

Tecnologia. Um dos objetivos da FINEP é incentivar a produção

de conhecimento científico no Brasil e para isso necessita de

uma infra-estrutura informacional que permita aos seus

técnicos aprovarem ou não os projetos submetidos ao

financiamento que estejam de acordo com política nacional de

Ciência e Tecnologia.

Um dos instrumentos usados na organização da informação da

FINEP é o vocabulário controlado com termos obtidos a partir

da análise dos projetos aprovados pela instituição.

Nesse trabalho objetivamos contextualizar a produção do

vocabulário controlado da FINEP, relacionando-o com a

Terminologia, de modo a permitir a apropriação de

procedimentos metodológicos na análise dos termos contidos no

vocabulário, conjuntamente com uma breve análise lingüística

dos projetos.

3

Page 4: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

2 CONTEXTO INSTITUCIONAL: FINEP

A FINEP é uma empresa pública que tem como missão o

desenvolvimento econômico e social do Brasil por meio do

fomento à Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) em empresas,

universidades, institutos tecnológicos e outras instituições

públicas ou privadas. Procura atuar em toda a cadeia de

inovação, com foco em ações estratégicas, estruturantes e de

impacto para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Foi

criada em 24 de julho de 1967 para institucionalizar o Fundo

de Financiamento de Estudos de Projetos e Programas, originado

em 1965. Posteriormente, a FINEP substituiu e ampliou o papel

até então exercido pelo Fundo de Desenvolvimento Técnico-

Científico (FUNTEC) do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) constituído em 1964 com a

finalidade de financiar a implantação de programas de pós-

graduação nas universidades brasileiras. (FINANCIADORA, 2010)

Estão associadas a financiamentos da FINEP iniciativas de

C,T&I de empresas em parceria com Instituições Científicas e

Tecnológicas (ICTs), que tiveram sucesso econômico, tendo

como exemplos: o desenvolvimento do avião Tucano da Empresa

Brasileira de Aeronáutica (Embraer); os projetos da Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de

universidades; e projetos de pesquisa e de formação de

recursos humanos da Petrobras, em parceria com universidades,

que contribuíram para o domínio da tecnologia de exploração de

petróleo em águas profundas. (FINANCIADORA, 2010)

4

Page 5: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

A base de atuação da FINEP está focada em diretrizes

estratégicas que norteiam a concessão de benefícios para os

usuários. Todas as propostas de financiamento passam por um

processo seletivo, no qual são avaliados três critérios

técnicos: o mérito intrínseco da proposta, avaliado segundo as

diretrizes estratégicas, os eixos operacionais e os critérios

de cada ação; o mérito relativo da proposta frente às outras -

isto acontece quando existem propostas competitivas; e a

sustentabilidade econômica e financeira do proponente.

(FINANCIADORA, 2010)

De forma geral, a operação da instituição está concentrada

em quatro diferentes tipos de programas: as chamadas públicas,

o fomento direto a empresas e instituições de pesquisa e

extensão, o atendimento à demanda espontânea e os estudos e

projetos de desenvolvimento tecnológico relacionados a

políticas governamentais.

Um dos tipos de financiamento é promovido através dos

Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, que beneficiam

projetos de pesquisa e inovação. Os fundos setoriais são

divididos, respeitando áreas temáticas quanto aos

conhecimentos em C,T&I e consistem em bases de dados que

guardam as informações sobre os projetos de pesquisa no

sistema da FINEP. Os projetos contêm as informações

científicas e tecnológicas, já que seus relatores são

pesquisadores do setor que desejam financiamento para seus

estudos. Assim, os fundos setoriais armazenam as informações

dos projetos, conforme sua área temática, e encontram-se

5

Page 6: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

guardados fisicamente no Setor de Arquivo. (FINANCIADORA,

2010)

As informações dos projetos permitem criar a inovação

desejada pelas organizações, e satisfazem os objetivos da

FINEP de expansão do conhecimento e geração de impactos

positivos no desenvolvimento socioeconômico brasileiro. Por

isso têm alto potencial para o desenvolvimento do setor de

C,T&I e do parque industrial brasileiro. Desta forma, as

informações científicas e tecnológicas fornecem condições para

obtenção de indicadores de desempenho, que podem ser

utilizados pelos gestores ao tomarem decisões, dentro de suas

organizações. Para isto, é imprescindível que a organização

saiba quais informações possui e tenha condições de encontrá-

las de forma satisfatória, ou seja, os recursos informacionais

devem ser capazes de fornecer informação adequada.

(FINANCIADORA, 2010)

Em maio de 2008, a FINEP iniciou a elaboração do seu Plano

de Gestão Estratégica (PGE) com o objetivo de definir sua

visão de futuro compartilhada, seu perfil de atuação e suas

diretrizes estratégicas. Foram constituídos sete Grupos

Temáticos, que produziram um conteúdo de apoio para a tomada

de decisão, sendo um destinado especificamente para Gestão do

Conhecimento, com a participação da Biblioteca e do Núcleo de

Documentação. Foram contribuições dos profissionais destes

setores para o PGE os resultados obtidos com a gestão da

informação proporcionada pelo desenvolvimento dos projetos de

construção do Vocabulário Controlado FINEP e do Portal da

Informação.

6

Page 7: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

3 SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO: BIBLIOTECA E NÚCLEO

DE DOCUMENTAÇÃO

Adotando o esquema elaborado por Lancaster (2004, p. 2),

sobre um sistema de recuperação da informação (SRI) e as

expressões usadas pelo autor, destacamos como produtor da base

de dados ou o contexto institucional, a FINEP e mais

especificamente a Biblioteca e o Núcleo de Documentação, os

setores que representam as informações contidas nos projetos

de modo que sejam recuperadas posteriormente. O acervo

arquivístico dos projetos é considerado como a população de

documentos do SRI e a população de usuários da base de dados é

representada pelos analistas e técnicos responsáveis pelas

ações de planejamento.

Um SRI pode ser definido como um conjunto de dados

padronizados, armazenados em meio eletrônico, utilizados para

identificar informação e fornecer sua localização. A meta de

um sistema de informação é permitir que um usuário recupere

documentos através de certas características específicas (por

autor, título conhecido, assunto ou qualquer combinação desses

elementos). Exemplificando, o usuário se dirige a um sistema

de recuperação da informação com uma consulta com base no que

necessita. O sistema então compara a consulta com

representações dos documentos do sistema. A tarefa do sistema

é retornar ao usuário o documento ou os documentos que mais

satisfaçam à necessidade do usuário. A intenção é que alguns

ou todos os documentos apresentados satisfarão, parcialmente

7

Page 8: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

ou totalmente, a necessidade de informação do usuário (ELLIS

apud HARTER; HERT, 1997, p.16).

Segundo Araújo Júnior (2007, p.72), os sistemas de

recuperação da informação dizem respeito a um sistema de

operações interligadas para identificar, dentre um grande

conjunto de informações (base de dados, por exemplo), aquelas

que são de fato úteis, ou seja, que estão de acordo com a

demanda expressa pelo usuário. Para que a necessidade

informacional do usuário seja atendida, dois conceitos muito

importantes devem ser observados: revocação e relevância.Para qualquer leitor que procure a biblioteca embusca de informações haverá  certos itens noacervo que serão relevantes. Entre eles serápossível estabelecer alguma ordem de precedência;uns serão definitivamente relevantes, outros terãoutilidade, porém menor, enquanto alguns terãoapenas uma relevância marginal. [...] Entretanto,temos de convir que quanto mais materialrevocarmos, menos probabilidade haverá de algumdos itens ser relevante. [...] Existe, portanto,uma relação inversa entre revocação – a quantidadede itens adicionais que encontramos ao ampliar apesquisa – e a relevância – a probabilidade deeles coincidirem com as exigências do leitor(FOSKETT, 1973, p.10-11).

Normalmente, o mais adequado é que se consiga um nível

mais alto de relevância, combinado com um nível mais baixo de

revocação, isso significa a recuperação de poucos itens, porém

contendo o tipo de informação que o usuário procura.

Entretanto, há situações em que o usuário busca uma alta

revocação “Tantas informações quanto forem possíveis, mesmo

que isso o obrigue a examinar uma porção de itens que acabarão

sendo de pouco ou nenhum valor para si” (FOSKETT, 1973, p.11).

8

Page 9: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

Segundo Le Coadic (1996), a recuperação da informação

possui limitações associadas à necessidade de informação,

entendida como elemento-chave para a compreensão do motivo

pelo qual os usuários se envolvem com o processo de busca e

recuperação da informação. Sobre isso, Foskett (1996) diz que

as necessidades de informação acabam por gerar determinados

graus de imprecisão, ou seja, incapacidade de um sistema de

informação de recuperar documentos úteis frente à solicitação

do usuário, sobretudo se há negociação com o mesmo.

Foskett (1973, p. 11) também comenta que a relevância é um

fator subjetivo que depende do indivíduo, por exemplo, dois

usuários distintos podem estar procurando por um mesmo

assunto, mas formularam questões diferentes e assim recuperam

documentos diferenciados também.

Quanto à probabilidade de erro num sistema de recuperação

da informação, é importante lembrar que tanto os indexadores,

quanto os usuários são humanos, portanto, são passíveis de

errar. Por este motivo, o sistema deve permitir correções e os

indexadores devem utilizar padrões explicitados em uma

política de indexação que reduza, tanto quanto possível, a

probabilidade de erro. Os erros repercutirão sobre a

relevância, pois obteremos respostas erradas, também

prejudicarão a revocação, pois nos escaparão itens que

tínhamos de encontrar. É preciso, portanto, que nos

asseguremos de que o sistema utilizado não possui uma

tendência intrínseca a aumentar o erro humano (FOSKETT, 1973,

p. 12).

Para Campos

9

Page 10: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

Todo movimento existente nos Sistemas deRecuperação da Informação tem por princípio geralpossibilitar a seu usuário o acesso àinformação/documentos. Nestes Sistemas, váriossão, atualmente, os instrumentos utilizados pararepresentar o conhecimento de uma dada área dosaber. Estes instrumentos são denominados, de umaforma geral, linguagens documentárias, como oTesauro e os esquemas de Classificação, para citarapenas os mais relevantes (CAMPOS, 2001, p.17).

Já Aitchinson e Gilchrist (1979) afirmam que além dos

parâmetros que devem ser estabelecidos para um sistema de

informação, outra preocupação importante é quanto ao tipo de

linguagem documentária adequada para cumprir sua função de

recuperar a informação de maneira mais eficiente. Esta

preocupação ressalta o relacionamento funcional existente

entre os sistemas de informação e as linguagens através das

quais os usuários recuperam informações relevantes e

pertinentes.

No presente trabalho, objetivamos estudar o vocabulário

controlado como instrumento utilizado para representar o

conhecimento gerado a partir dos documentos da FINEP.

4 LINGUAGEM DO SISTEMA: VOCABULÁRIO CONTROLADO

Nos dias atuais, o interesse pelas linguagens

documentárias é renovado devido ao volume de informação

produzido e sua disseminação rápida e ampla em virtude do meio

eletrônico. A recuperação e os instrumentos usados na

representação assumem aspectos importantes, pois estão

relacionados ao atendimento das necessidades dos usuários.

10

Page 11: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

Segundo a literatura, com o término da II Guerra Mundial,

mais precisamente a partir da segunda metade do século XX com

a chamada "explosão informacional", as pesquisas científicas

ganharam mais espaço e com elas, também, os estudos sobre as

linguagens documentárias (CINTRA et al., 2002; LANCASTER,

1986).Linguagens documentárias são linguagensartificiais, controladas, criadas dentro dosobjetivos de uma organização/setor, a partir de umconjunto de documentos e domínio, para seremutilizadas na indexação e recuperação dainformação em um determinado sistema derecuperação da informação (SOUZA, 2007, p.18-19).

A linguagem documentária pode ser considerada um

instrumento de mediação entre a linguagem do sistema e a dos

usuários. Segundo Lara (2004, p.233) ela é um instrumento que

exerce a função de ponte entre estas duas linguagens. Essa

potencialidade da linguagem documentária decorre do fato de

que ela constitui em si mesma, um produto autônomo, um sistema

significante, ou seja, um meio organizado em torno de uma área

temática, que é uma das condições para possibilitar as

operações de representação e de acesso à informação.

Tálamo, Lara e Kobashi (1992, p.197) afirmam que as

linguagens documentárias são consideradas instrumentos de

controle da terminologia de uma determinada área do

conhecimento atuando em dois níveis: na representação da

informação obtida pela análise e síntese de textos; e na

formulação de equações de busca da informação. E ainda

acrescentam, “sendo assim, a questão fundamental que se

encontra entre as linguagens documentárias e os documentos,

11

Page 12: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

diz respeito aos princípios que regulam a representação da

informação”.

As linguagens documentárias são definidas por Campos

(2001, p.17) como os "instrumentos utilizados para representar

o conhecimento de uma dada área do saber”. A linguagem

possibilita o acesso à informação, ou seja, oferece a

possibilidade concreta de ligar o usuário ao conhecimento

organizado em um dado sistema de informação.

Segundo Lancaster (1986, p. 146), este tipo de linguagem

existe para permitir que o indexador represente o assunto do

documento de modo consistente, aproximar o vocabulário usado

pelo indexador das expressões usadas pelo usuário e prover

significado, de maneira que o usuário formule estrategicamente

suas solicitações e obtenha um bom resultado.

Boccato (2005, p. 52) esclarece que as linguagens

documentárias tem como funções representar o conteúdo dos

documentos e mediar a recuperação da informação a partir da

representação das perguntas dos usuários.

Para Dodebei (2002, p.46) “a linguagem documentária

proporciona não só um controle das dispersões semânticas e

sintáticas da língua natural como delimita o domínio

conceitual do campo de estudo em questão”, sendo esta, por

exemplo, uma das vantagens das linguagens documentárias em

relação às linguagens naturais.

Enquanto à finalidade e coordenação, as linguagens

documentárias podem ser notacionais ou verbais e pré ou pós-

coordenadas. As notacionais utilizam símbolos (notações) que

auxiliam na organização e na localização física dos

12

Page 13: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

documentos. Alguns exemplos mais conhecidos de linguagens

documentárias notacionais são: a Classificação Decimal de

Dewey (CDD) e a Classificação Decimal Universal (CDU). Já as

linguagens documentárias verbais também têm por função a

representação do assunto dos documentos, mas não sua

organização física. Como exemplos de linguagens documentárias

verbais podemos citar os cabeçalhos de assunto, vocabulários

controlados e tesauros.

As linguagens documentárias pré-coordenadas são aquelas em

que os cabeçalhos são combinados na entrada do sistema,

enquanto nas pós-coordenadas o relacionamento entre os termos

se dá no momento da recuperação da informação (LANCASTER,

1986).

O controle terminológico é um princípio fundamental no

processo de indexação e recuperação de informação em sistemas

informatizados, propiciando um acesso otimizado à base de

dados em meio eletrônico, organização de bibliotecas virtuais,

entre outros (BRASIL et al., 2002). A recuperação de

informações se refere ao encontro da informação desejada, para

que isso ocorra é necessário tratar as informações contidas no

documento, esteja ele codificado em qualquer suporte.

Hoje em dia quase todos os sistemas introduzem algum tipo

de controle sobre seus termos, ou seja, utilizam um

vocabulário controlado. Para Foskett (1973, p.40), uma das

razões para que haja este controle é que o decorrente uso de

diferentes palavras por diferentes autores para designar uma

mesma ideia (sinônimos) pode causar muitos problemas,

principalmente a diminuição da revocação.

13

Page 14: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

O vocabulário controlado auxilia o tratamento da

informação, pois é uma lista de termos padronizados que tem

por função representar os assuntos dos documentos e

possibilitar a recuperação mais precisa do conteúdo. Neste

trabalho, o vocabulário controlado foi considerado uma

linguagem documentária por ter como objetivo permitir que o

indexador represente o assunto do documento de modo

consistente, aproximando o vocabulário usado pelo indexador

das expressões usadas pelo usuário, provendo significado, de

maneira que o usuário formule estrategicamente suas

solicitações e obtenha resultado seletivo. É um instrumento

que surge da necessidade de instituições de construir

linguagens próprias e específicas, a fim de promover maior

precisão e eficácia na comunicação entre os usuários e o

sistema de informações.

As principais funções de um vocabulário controlado são

representar e controlar a informação e o conhecimento e

recuperar documentos e informações com consistência. A

representação é estabelecida por meio de um conjunto de termos

chamados de “descritores”. O controle ou padronização do

vocabulário garante uma comunicação efetiva entre sistema de

informação e usuários, além de proporcionar uma recuperação

eficiente. Este controle é necessário porque a falta de

padronização léxica contribui para uma má localização ou

identificação da informação. O vocabulário funciona também

como uma ferramenta no processo de indexação dos documentos,

onde o indexador, após a leitura e a interpretação dos textos,

14

Page 15: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

utiliza seus descritores para descrever adequadamente o

conteúdo dos documentos.

De acordo com Lancaster (2004), a indexação é composta

pelas etapas de análise e tradução dos conceitos de um

documento. Na análise seriam feitos o reconhecimento e

identificação de conceitos que compõem um documento, seguido

da seleção desses conceitos. A tradução é a etapa na qual é

feita a transposição do conceito para a linguagem documentária

utilizada pelo sistema (neste caso, o vocabulário controlado).

A recuperação consistente da informação, outra função

muito importante do vocabulário, gera confiança no sistema. Um

vocabulário bem elaborado deve refletir tanto os objetivos do

sistema de informação, quanto a linguagem dos usuários. Todos

os esforços devem ser para que ele se torne um sistema útil.

Para tanto é necessário que haja uma atualização periódica,

porque assim como as áreas do conhecimento ou a temáticas nele

representadas, o vocabulário é uma linguagem dinâmica.

Segundo Foskett (1973, p. 40) o vocabulário controlado

permite indexação de conceitos, estabelecendo uma descrição-

modelo para cada conceito, usando esta descrição sempre que

for conveniente, tenha garantia literária ou não. Além das

vantagens arroladas sobre os sistemas pós-coordenados, outras

questões merecem atenção: a seleção de termos e definição de

relações entre os termos.

Lancaster (1979, p. 191) arrola os principais requisitos

necessários em um vocabulário controlado em um sistema de

informação, cuja principal função é permitir ao usuário a

recuperação de documentos relevantes:

15

Page 16: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

1. Ter garantia ("warrant") proveniente da literatura e dos

usuários atuais ou potenciais.

2. Ser específico o suficiente para permitir que um grande

número de usuários recupere a informação com um nível

aceitável de precisão.

3. Ser suficientemente pós-coordenado de modo a evitar

problemas com coordenações falsas e relações incorretas entre

termos.

4. Promover a consistência na indexação e busca através do

controle de sinônimos.

5. Reduzir a ambigüidade terminológica através da separação de

homógrafos e da definição de termos cujo significado não

esteja claro.

6. Dar assistência ao indexador e ao usuário na seleção dos

termos mais apropriados necessários a representar um assunto

em particular através da estrutura hierárquica ou referência-

cruzada.

O vocabulário controlado, sob a perspectiva da recuperação

da informação, é um instrumento de controle terminológico.

Para que seja possível a compatibilização das diversas

linguagens (do produtor do documento, do profissional da

informação e do usuário) é necessário que se estabeleçam

regras através de recursos e de relacionamentos entre os

descritores.

A organização interna de um vocabulário controlado revela

e reflete a concepção de mundo de um dado sistema, sua

organização, características do acervo e como a informação

será representada. Esse aspecto indica o potencial político de

16

Page 17: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

um sistema de informação. A seguir, trataremos do vocabulário

controlado da FINEP elaborado para atender os objetivos

informacionais desta instituição.

4.1 Projeto Vocabulário Controlado da FINEP

Com a finalidade de contribuir com a gestão da informação

da FINEP, a Biblioteca e o Núcleo de Documentação desta

instituição vem empreendendo uma variedade de esforços na

melhoria dos seus serviços. Somente com a modernização de seus

serviços será possível se adequar às rápidas mudanças no

crescimento da importância do uso e da capacidade de

recuperação das informações. Nesse contexto foi elaborado o

projeto do “Vocabulário Controlado da FINEP – VCF”. O VCF visa

unificar a terminologia no tratamento da informação dos

acervos bibliográficos e de projetos a fim de estabelecer uma

linguagem de indexação padronizada entre sua base de dados e

seus usuários.

O Projeto do VCF teve início em 2006, tendo como objeto de

trabalho a terminologia utilizada na indexação do acervo

bibliográfico da Biblioteca FINEP. Os termos, já existentes na

base de dados, foram padronizados e estruturados através de

relacionamentos entre eles. No segundo semestre de 2007, o

foco voltou-se para a indexação das propostas de financiamento

aprovadas que compõem o acervo corrente do Arquivo Central da

empresa, dando início a um Projeto Piloto. Nesta fase foram

indexados os projetos do fundo setorial CT-Infra - aprovados

em 2006. O projeto piloto deu subsídios para o início da

17

Page 18: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

elaboração dos princípios de indexação. Já em 2008 foram

indexados todos os projetos aprovados durante o ano de 2007,

trabalho este orientado pelos princípios de indexação

estabelecidos durante o projeto piloto.

Paralelamente ao processo de indexação, está sendo

realizado o processo de construção/atualização do VCF, a

partir da identificação, definição, classificação e

categorização dos novos descritores e do estabelecimento das

relações entre eles e os descritores já existentes no VCF.

O Vocabulário Controlado constituído é a base para

indexação das propostas de financiamento do Arquivo Central e

é atualizado no desenvolvimento do processo de representação

da informação. Devido ao amplo espectro dos assuntos

contemplados nos projetos, se faz necessário um constante

controle da indexação e da terminologia.

5 POPULAÇÃO DE DOCUMENTOS: PROJETOS FINEP

Os projetos da FINEP cumprem uma convenção interna pré-

estabelecida, onde é preciso atender as exigências dos Fundos

Setoriais de Ciência e Tecnologia ou Subvenções. Apresentam os

campos relacionados a seguir:

o Dados Gerais;

o Referência;

o Convênio/Contrato;

o Data de Assinatura;

o Prazo de Execução Física Financeira;

o Prazo de Prestação de Contas Final;

18

Page 19: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

o Período de Realização;

o Fonte;

o Fundo;

o Mecanismo de financiamento/Protocolo;

o Título do Projeto;

o Objetivo;

o Sigla do Projeto:

o Setor da Economia;

o Área do Conhecimento;

o CNPJ Proponente:

o Proponente;

o Executor;

o UF Executor;

o Coordenador;

o Departamento

o Modalidade;

o Fase atual;

o Status;

o Técnicos;

o Técnicos Análise;

o Técnico Acompanhamento;

o Técnico de Crédito;

o Técnico Financeiro;

o Advogado;

o Fases;

o Formulário Eletrônico – FAP;

o Relatórios das fases;

o Rel. Pré-Qualificação;

19

Page 20: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

o Rel. Avaliação de Mérito;

o Rel. Análise Conclusiva;

o Relação de Itens;

o Plano de Trabalho;

o Minuta de Decisão da Diretoria;

o Histórico das Atividades do Workflow;

o Histórico dos Cronogramas Aprovados;

o Histórico das Prestações de Contas;

o Informações Financeiras;

o Ação;

o Valores do Projeto;

o Valores Liberados.

Ao analisar os projetos a partir de uma perspectiva

lingüística, constatamos a aproximação entre Ciência da

Informação e Lingüística, já que ambas contemplam questões

relativas ao funcionamento da linguagem. Tal relacionamento é

observado principalmente na área de representação da

informação, uma vez que há o processo de construção do sentido

na análise documentária, na indexação e na elaboração de

linguagens documentárias.

Como etapa da análise documentária do processo de

indexação dos projetos, as características formais dos

projetos foram examinadas a partir da definição de Vilela e

Villaça (2001, p. 543) para texto utilitário - “esquema de

ação complexo normalizado socialmente” - entendemos que os

projetos da FINEP apresentam um conjunto de traços

predominantes representado por ser mais monológico, uma vez

20

Page 21: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

que reflete a opinião da instituição; menos falado, por estar

registrado textualmente; e menos espontâneo, já que a

submissão prevê o cumprimento de exigências com vistas a ser

aprovado [+ monológico – falado – espontâneo].

Ao submeter os projetos às características relacionadas

por BIASI-RODRIGUES, B.; HEMAIS, B.; ARAÚJO, J.C, acreditamos

que os mesmos apresentam aspectos que os definem como gênero

textual, uma vez que assumem um papel específico no processo

comunicativo entre as pessoas jurídicas proponentes do

financiamento e a FINEP. Segundo os autores,

o gênero é identificado como uma classe de eventoscomunicativos realizados por meio da linguagemverbal, e esses eventos são constituídos dediscurso, participantes, funções do discurso eambiente onde se produz e se recebe o discurso(BIASI-RODRIGUES; HEMAIS; ARAÚJO, 2009, p.21).

Os projetos se caracterizam como textos descritivos,

havendo a preocupação de apresentar os objetivos da pesquisa,

etapas a serem cumpridas e relação de recursos financeiros e

humanos.  Observamos que esse tipo de texto se baseia no

“poder representativo do léxico”, e no caso dos projetos é

decisivo para uma possível avaliação positiva pelos técnicos e

consultores.

Um aspecto interessante para análise dos textos dos

projetos é a questão da coesão e da coerência. A possibilidade

de estudar a questão da continuidade e articulação, seqüência

e interligação entre as partes do texto e sua influência na

interpretabilidade por parte do profissional de informação no

momento de representar a informação (ANTUNES, 2005).

21

Page 22: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

No nosso entendimento, o fluxo representado pela submissão

dos projetos, até sua aprovação ou não, apresenta pontos

comuns com a definição de comunidade discursiva de Swales. O

autor concebe a definição de comunidade discursiva como

àquela:

relacionada à produção de textos como umaatividade social que se realiza de acordo comconvenções discursivas específicas e revela ocomportamento social e o conhecimento dos membrosdo grupo (SWALES apud BIASI-RODRIGUES; HEMAIS;ARAÚJO, 2009, p. 23).

Swales aponta seis características para definir uma

comunidade discursiva: objetivos em comum entre os usuários

dos gêneros, existência de comunicação entre os participantes

da comunidade, viabilidade de troca de informações, capacidade

de desenvolver gênero, gerar e compartilhar léxico (SWALES

Apud BIASI-RODRIGUES; HEMAIS; ARAÚJO, 2009, p. 24).

Na sua revisão do conceito de comunidade discursiva,

Swales introduz a idéia de “divergência, a falta de união e o

preconceito entre os membros” (SWALES Apud BIASI-RODRIGUES;

HEMAIS; ARAÚJO, 2009, p. 26), aspectos não observados

anteriormente. Tal revisão permitiu ampliar o conceito de

comunidade discursiva, incluindo as informações não

concordantes, que apesar da mensagem “negativa” não deixam de

ter um propósito comunicativo.

Como exposto anteriormente, o propósito principal dos

projetos é obter o financiamento para as pesquisas

apresentadas. Para tanto, o documento é analisado e avaliado

por técnicos e consultores ad hoc. Após a leitura de diferentes

22

Page 23: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

projetos, observamos que a terminologia usada pelos

proponentes varia, seja devido aos objetivos políticos, aos

regionalismos, ou mesmo à especificidade das áreas do

conhecimento. Essa particularidade terminológica é sentida

pelo profissional de informação após a leitura e identificação

dos termos relevantes para a recuperação do conteúdo do

projeto, justificando a necessidade de um controle mediante a

adoção do vocabulário controlado.

 

6 TERMINOLOGIA

 

Fundamentada nos princípios da Lingüística, a Terminologia

segundo Krieger e Finatto (2004) é “um campo de estudos

teórico e aplicado dedicado aos termos técnico-científicos”,

consistindo em uma tentativa de evitar a polissemia e as

ambigüidades do léxico comum. Neste sentido, também segundo as

autoras, a Terminologia é uma face aplicada, sobretudo a

produção de glossários, dicionários técnico-científicos e

bancos de dados terminológicos, uma vez que objetiva a

precisão conceitual. No nosso entendimento, a Terminologia

reconhece o termo como unidade de conhecimento e unidade

lingüística, minimizando os possíveis ruídos em um processo

comunicativo.

Com a preocupação de padronizar o uso dos termos técnico-

científicos, Eugen Wüster (1898-1977) desenvolveu uma série de

estudos sobre os termos, sendo as bases da Terminologia

estabelecidas por ele. Por isso Wüster é considerado o

fundador da Terminologia moderna. Para o autor (WÜSTER apud

23

Page 24: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

KRIEGER; FINATTO, 2004), a terminologia de uma área é, em sua

natureza, a expressão de um conhecimento científico,

logicamente estruturado.

Partindo para as aplicações terminológicas deste trabalho,

que é uma das facetas da Terminologia, nas palavras das

autoras:Essas aplicações podem ser compreendidas comotransposições da teoria em benefício de umaprática ou necessidade, quer sob a forma de umametodologia de análise, quer sob a forma decriação de um produto como, por exemplo, umglossário ou uma base de dados (KRIEGER; FINATTO,2004).

Neste caso, o presente trabalho contextualizou a

elaboração de um vocabulário controlado na área de Ciência,

Tecnologia e Inovação (C,T&I). Krieger e Finatto conceituam a

confecção deste tipo de produto como “a aplicação mais

evidente e reconhecida da Terminologia”. Com base neste

reconhecimento que pretendemos estabelecer a relação entre a

construção do Vocabulário Controlado da FINEP e a

Terminologia.

O processo de elaboração de um dicionário terminológico,

como poucos tem consciência, é longo, geralmente lento e

demanda um grande volume de pesquisa textual prévia.

Infelizmente, a maioria dos usuários não chega a perceber a

gama de fatores e de responsabilidades envolvidos nesse tipo

de trabalho (KRIEGER; FINATTO, 2004).

O planejamento do trabalho de elaboração do Vocabulário

Controlado FINEP - VCF vem sendo realizado com base em

diversos critérios pré-estabelecidos. Estes critérios

24

Page 25: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

encontram-se registrados numa política de indexação e num

manual de procedimentos. Para que pudessem ser estabelecidas

estas regras, a equipe do VCF elaborou um “projeto piloto”,

como pode ser visto no histórico do projeto. Desta forma foi

possível vivenciar as rotinas de trabalho e assim tornar

possível a percepção antecipada de ajustes de tarefas e das

funções de cada um integrante da equipe. Foram estabelecidos

os seguintes critérios para a forma do termo:

a. Uso de singular e plural – as entradas devem ser no

singular, com exceção dos termos dicionarizados no plural ou

que, eventualmente, tenham sua compreensão prejudicada pela

forma singular.

b. Maiúscula e minúscula – os termos indexadores devem ter suas

entradas no sistema em caixa alta, sem exceção.

c. Sinônimos/quase-sinônimos – quando houver termos que

apresentem a mesma conotação – ou conotação muito próxima – o

procedimento é fazer relação de equivalência, priorizando o

uso da forma mais utilizada. Nos casos em que a sinonímia é

uma sigla, o preferido será a forma por extenso, mesmo que a

sigla seja mais conhecida, pois se prioriza a uniformidade.

d. Gêneros – quando houver entrada de termos que representem

profissões ou adjetivos pátrios, deve-se optar por:

Profissões: gênero masculino. Ex: Bibliotecário (e não

Bibliotecária); Advogado (e não Advogada), etc.

Adjetivos pátrios: de acordo com a palavra núcleo. Ex:

Indústria brasileira (e não indústria

brasileiro).

25

Page 26: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

e. Termos homógrafos ou sem clareza de entendimento - usar

qualificadores para termos que não apresentem clareza de

entendimento. Ex: Raça (grupos). Quando uma área do

conhecimento tiver mesma grafia que um termo comum, deve

colocar qualificadores para diferenciá-los: um terá o

qualificador “área do conhecimento” e o outro terá um

qualificador que melhor traduza o conceito. Exemplo:

Administração (área do conhecimento) e Administração

(processo).

f. Exaustividade – a indexação deverá abranger todos os

assuntos contemplados no documento.

g. Especificidade – entrar no nível de especificidade do

projeto, se for geral, será geral, ex: Farmacologia. Se for

específico, será específico, ex: Farmacologia clínica.

h. Ordem – os termos devem ter entrada na ordem direta.

Exemplo: Rio São Francisco e não São Francisco, Rio.

Entretanto, a forma indireta deverá ser considerada como

remissiva, ou seja, será o termo não autorizado.

i. Termos em língua estrangeira – usar o correspondente em

português quando estiver dicionarizado. No caso de não haver o

correspondente em português, utilizar o termo em língua

estrangeira.

j. Siglas – termos que também são conhecidos pelas suas siglas

deverão ter entrada pela forma extensa e a sigla será o termo

não-autorizado.

k. Termos indexadores – palavras ou grupo de palavras que

representam, sem ambiguidade, um conceito (ideia).

26

Page 27: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

l. Área geográfica – devem ser indexados os locais os quais as

melhorias da infra-estrutura irão beneficiar. Exemplo:

Implantação de infra-estrutura para criação de um centro de

capacitação para trabalhadores rurais do Sertão Nordestino.

A adoção da Política de Indexação possibilitou traçar

diretrizes para que a indexação seja um processo facilitador

na recuperação informacional dando acessibilidade às

informações oriundas das coleções.

 

7 CONCLUSÃO

O vocabulário controlado tem se tornado um elemento

fundamental para auxiliar a gestão da informação na FINEP. A

construção desta ferramenta, além de ter proporcionado uma

recuperação muito mais precisa e eficiente dos documentos,

através da indexação, ainda facilitou o acesso ao banco de

dados institucional por conta das modificações e melhoramentos

sugeridos no decorrer do trabalho.

A possibilidade de adotarmos uma metodologia de análise

dos projetos com base na Lingüística – considerando os

projetos como um tipo de gênero, nos permitiria explorar as

características textuais do documento, agregando aos processos

de análise e validação das definições, de modo a garantir que

os termos utilizados na documentação e no sistema sejam os

27

Page 28: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

mais adequados, o que torna a recuperação muito mais rápida e

fácil.

Segundo Vilela e Villaça (2001, p.542), “os textos

escritos são configurações objetivadas, que possuem uma

validade intersubjectiva”. Apesar de toda a objetividade

pretendida com os projetos, o indexador ao analisar as

informações contidas nos campos não consegue evitar seus

modelos mentais na produção de sentido. Esta subjetividade

pode ser minimizada com o uso do vocabulário controlado e da

política de indexação.

Uma das vantagens mais significativas que o projeto do

Vocabulário Controlado FINEP (VCF) trouxe para a gestão foi a

possibilidade de extração de mapeamentos, por exemplo, das

ações implementadas pela organização, instituições, áreas

geográficas, entre outros indicadores, mais beneficiados pelo

financiamento FINEP. Estes relatórios somente foram possíveis

após a indexação destes projetos. O VCF também auxilia na

interoperabilidade semântica (compartilhamento de informações

relevantes) – encontrando formas de associar aos documentos

informações que possibilitem resultados eficientes. Além

disso, provê um entendimento unificado de definições de termos

e unifica os indexadores, facilitando o processo de publicação

e compartilhamento das informações dos projetos da

instituição.

28

Page 29: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Andréa V.C.; DINIZ, Isabel C. dos S.; MEDEIROS, João B. Estudo de usuários em bibliotecas públicas e universitárias: em foco as dissertações defendidas no CMCI/UFPB. Informação & Sociedade, Campo Grande, v.12, n.2, 2002. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/viewFile/146/140> . Acesso em 14 abr. 2010.

ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo:Parábola Editorial, 2005.

ARAÚJO JÚNIOR, Rogério Henrique de. Precisão no processo de busca e recuperação da informação. Brasília: Thesaurus, 2007. 176 p

AITCHINSON, J.; GILCHRIST, A. Manual para construção de tesauros. Rio de Janeiro: Brasilart, 1979.

BIASI-RODRIGUES, B.; HEMAIS, B.; ARAÚJO, J.C. Análise de gêneros na abordagem de Swales: princípios teóricos e metodológicos. In: BIASI-RODRIGUES, B.; ARAÚJO, J.C.; SOUSA, S.C.T. Gêneros textuais e comunidades discursivas. Um diálogo com John Swales, Belo Horizonte: Autentica, 2009.

BOCCATO, Vera Regina Casari. Avaliação de linguagemdocumentária em fonoaudiologia na perspectiva do usuário:estudo de observação da recuperação da informação comprotocolo verbal. Marília, 2005. 239f. Dissertação (Mestrado).Ciência da Informação - Faculdade de Filosofia e Ciências,Universidade Estadual Paulista, 2005.

BRASIL, M. I., et al. Vocabulário sistematizado: a experiênciada Fundação Casa de Rui Barbosa. São Paulo: INTEGRAR:CONGRESSO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, BIBLIOTECAS, CENTROS DEDOCUMENTAÇÃO E MUSEUS, 2002, São Paulo. Textos... São Paulo:Imprensa Oficial do Estado, 2002. p.81-94.

CAMPOS, Maria Luiza de Almeida. Linguagem documentária: teorias que fundamentam Sua elaboração. Niterói: EdUFF, 2001.

29

Page 30: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

CINTRA, Ana Maria et al. Para entender as linguagens documentárias. 2.ed.rev. e ampl. São Paulo: Polis, 2002. FOSKETT, A.C. A Abordagem Temática da Informação. São Paulo: Editora Polígono, 1973.

DODEBEI, Vera Lúcia Doyle. Tesauro: linguagem de representaçãoda memória documentária. Niterói: Intertexto; Rio de Janeiro: Interciência, 2002.

FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS. O que é a FINEP? Disponível em: <http://www.finep.gov.br>. Acesso em: 15set. 2010.

FOSKETT, Antony Charles. A abordagem temática da informação. São Paulo: Polígono; Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1973.

______. The subject approach to information. 5. ed. London: Unipub, 1996.

HARTER, S.; HERT, C. Evaluation of Information Retrieval Systems: Approaches, Issues, and Methods. Annual Review of Information Science and Technology (ARIST), v.32, Medford: Martha, 1997

KRIEGER, M. da G.; FINATTO, M. J. B. Introdução à terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2004, 223p.

LANCASTER, F. W. Indexação e resumos: teoria e prática. 3. ed.Brasília: Briquet de Lemos, 2004. 452 p.

______. Information Retrieval Systems: Characteristics,Testing and Evaluation. 2. ed. New York: J. Wiley, 1979.

______. Vocabulary Control for Information Retrieval. Virginia: Information Resources Press, 1986

LARA, M. L. G. de. Linguagem documentária e terminologia. Transinformação, Campinas, v.16, n. 3, p. 233, set./dez. 2004.

LE CODIAC, Y.-F. A ciência da informação. Brasília: Briquet deLemos Livros, 1996.

30

Page 31: Análise dos princípios metodológicos adotados no Vocabulário Controlado da FINEP

SOUZA, Jóice Cleide Cardoso Ennes de. Avaliação de linguagem de indexação aplicada à informação jornalística: estudo de caso. Niterói, 2007. 156f. Dissertação (Mestrado) Ciência da Informação - Universidade Federal Fluminense. Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, 2007.

TALAMO, M. de F.G.M.; LARA, M. L. G.; KOBASHI, N. Y. Contribuições da Terminologia para a elaboração de tesauros. Ciência da Informação, v.21, n.3, p.197-199, set./dez. 1992.

VILELA, Mario; KOCH, Ingedore Villaça. Gramática do texto. In:____. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Almedina, 2001.

31