3 Trabalhos Recentes
Entreostrabalhosrecentes,estamosagrupandoaModernaGramtica
Portuguesa(2005),deEvanildoBechara;aGramticadeusosdoportugus,de
Moura Neves; e a dissertao de Mestrado de Maria Eliana Duarte Alves
de Brito (1986).
importanteressaltarque,ata36edio,aGramticadeBechara seguiu a viso
tradicional. A partir da 37 edio, revista e ampliada, a Gramtica
muda de orientao e tem uma viso mais atual da descrio lingustica.
3.1 Evanildo Bechara A anlise apresentada por Evanildo Bechara, em
sua Moderna Gramtica
Portuguesa(2005),equetambmaposiodoautornasediesanterioresa
esta,trazumaclassificaobemdiferentedaquelaquedefendidaporCunhae
Cintra (2001) e ensinada tradicionalmente nas escolas. 3.1.1 Termos
Nucleares e Termos Marginais
Primeiramente,oautorapresentaadivisodostermosemnuclearese
marginais. Assim, em (42) Graciliano falou de temas universais em
seus romances.,
detemasuniversaiseemseusromancessoconsideradoscomotermos nucleares,
do ponto de vista sinttico-semntico, por serem ambos essenciais
para acomplementaodosentidodoverbo.SegundoBechara,detemasuniversais
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explicitaaquilodequefalamosromancesdeGracilianoRamos,enquantoem
seus romances faz aluso ao tipo de escritos nos quais o autor fala
desses temas. (Bechara, 2005). J em (43) Certamente, Graciliano
viveu experincias amargas, durante sua vida.,
experinciasamargasedurantesuavidasonucleares,porquetambm
estointimamenteligadosfunopredicativadaorao,mascertamente
consideradotermomarginal,poisserefereoraocomoumtodo,noest
referindo-se nem somente ao sujeito nem somente ao predicado. 3.1.2
Termos argumentais e termos no-argumentais
Becharadiz,ainda,queostermosnuclearesnemsempresereferem
relaopredicativanomesmograudecoesoededependncia.Logo,em(43),
emboraambossejamtermosnucleares,otermoexperinciasamargasestaria
maisestreitamenteligadoaocontedosemnticodoverboviverdoqueotermo
durantesuavida,sendooprimeiroconsideradoumtermoargumentalou
argumento, por aparecer solicitado ou regido pelo significado
lexical referido pelo verbo viveu; e o segundo um termo
no-argumental, pois pode no aparecer na orao sem que esta se
prejudique na sua estruturao sinttico-semntica. (43.a) Graciliano
viveu experincias amargas. *(43.b) Graciliano viveu durante sua
vida. Essaclassificaoimportanteparaanossaanlise,sobretudoporqueo
queBecharachamadetermoargumentaledetermono-argumental
equivaleriamquiloqueagramticatradicionalchama,respectivamente,de
complementos ou termos integrantes e de adjuntos ou termos
acessrios. importante a observao feita por Bechara de que um termo
argumental opormotivaodascaractersticassintticasesemnticasdarelao
predicativa,enoapenaspelocontedodesignado.(2005:413).Assim,anoo
PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 29 de lugar, por exemplo,
pode funcionar como argumental e como no-argumental. Vejamos os
exemplos apresentados pelo autor: (44) Ele mora no Brasil. (45) Ele
trabalha no Brasil.
Naorao(44),nosepoderetirarotermonoBrasil(*(44.a)Ele
mora.),sendoeste,portanto,umtermoargumental.Jnaorao(45),aretirada
deste termo completamente aceitvel ( (45.a) Ele trabalha.), o que o
caracteriza como um termo no-argumental.
preciso,entretanto,quesedeixeclaroqueestadistinoentretermo
argumentaletermono-argumentalnoseconfundecomanoodetermo opcional e
no-opcional. Muitas vezes um termo argumental pode ser dispensado
pordiversasrazessejaporestarsubentendido,ouporjtersidoreferido
anteriormente, por exemplo, o que ser tratado adiante. 3.1.3 Verbos
Transitivos e Intransitivos
Quantooposioentreverbosintransitivosetransitivos,Bechara apresenta
a distino entre predicado simples ou complexo, conforme o contedo
lxicodoverboquelheservedencleo.Osverboscujocontedolexicalde
grandeextensosemnticaenecessriodelimitaressaextensosemnticapor
meiodeargumentosoucomplementosverbais(2005:415)sochamadosde
VerbosTransitivos,edizemosqueopredicadocomplexo.Osverbosque
apresentamsignificadolexicalreferentearealidadesbemconcretasno
necessitam de argumentos, so chamados de Verbos Intransitivos, e
dizemos que o predicado simples.
ParaBechara,estaoposioentreverbotransitivoeintransitivono
absoluta.Ummesmoverbopodeserusadotransitivaouintransitivamente,
dependendo do contexto. PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA
30 3.1.4 Os Tipos de Argumentos Bechara tambm difere dos Gramticos
Tradicionais no que diz respeito
classificaodoscomplementosverbais.Vejamosumacomparaoentrea
classificao tradicional de Cunha e Cintra e a de Bechara. CUNHA e
CINTRAEVANILDO BECHARA OBJETO DIRETOOBJETO DIRETO OBJETODIRETO
PREPOSICIONADO OBJETO DIRETO PREPOSICIONADO OBJETO DIRETO
PLEONSTICO*A PREPOSIAO COMO POSVRBIO OBJETO INDIRETO*COMPLEMENTO
RELATIVO OBJETO INDIRETO PLEONSTICO*OBJETO INDIRETO * DATIVOS
LIVRES *COMPLEMENTO PREDICATIVO a) Objeto Direto
Aoapresentaremoobjetodireto,CunhaeCintralimitam-sedefinio deste
complemento como o complemento que normalmente vem ligado ao verbo
sempreposioeindicaoserparaoqualsedirigeaaoverbal.Bechara
(2005:416),almdedefini-lodestaforma,apresentaalgumasestratgiaspara
identific-lo.Estas,entretanto,noserodetodoinfalveis,oquefazcomque
tenhamosqueutilizarsempremaisdeumaformadeidentificao.Esta
observaodeBecharatambmfeitaporMariaElianaDuarteAlvesdeBrito (1986),
como veremos em seguida importante, uma vez que a generalizao ao
seprocuraridentificarocomplemento,comofazagramticatradicionaleos
livros didticos, pode causar inmeros problemas ao aprendiz. PUC-Rio
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Comoprimeiracaractersticadoobjetodireto,oautorapontaa possibilidade
de comutao deste complemento pelos pronomes oblquos o, a, os, as.
Entretanto, as pronominalizaes no so possveis nas frases cujos
verbos significam peso, medida, preo e tempo: (46) O corredor mede
dez metros. *(46.a) O corredor mede-os. (47) A mulher pesa noventa
quilos. *(47.a) A mulher pesa-os. (48) O presente custou vinte
reais. *(48.a) O presente custou-os. (49) A aula dura cinquenta
minutos. *(49.a) A aula dura-os.
utroproblemapodeserencontradonaestratgiadesubstituiodo complemento
direto pelos pronomes interrogativos quem? [ que] (para pessoas) e
[o] que? [ que]: (50) O menino viu a namorada. (Quem que o menino
viu? a namorada)
Oproblemaestnofatodequetalsubstituiogerafrasesquenoso
naturais,emborasejampossveis,comosverbosdanaturezasemnticareferida
acima: *(46.b) O que que o corredor mede? *(47.b) O que que a
mulher pesa? PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 32
muitocomum,tambm,estabelecer-serelaoentreapresenadeum
objetodiretoeapossibilidadedepassagemdaoraoparaavozpassiva.
Aconteceque,comoapontaBechara,emboraessaconversosejauma
caracterstica muito comum da transitividade, no chega a ser regra
geral. (51) O carro atropelou o cachorro. (51.a) O cachorro foi
atropelado pelo carro. (52) Eu quis o livro. *(52.a) O livro foi
querido por mim. Alm disso, diferentemente do que se apresenta nos
compndios escolares, h certos casos de predicados que no possuem
objeto direto, mas que admitem a
transformaodavozativaemvozpassiva.Vejamosoexemploabaixo,
apresentado por Bechara: (53) Assistimos missa. (53.a) A missa foi
assistida por ns.
Essefatorefleteumatendnciadoportugusbrasileirodeapassivar
complementos introduzidos pela preposio a. Por outro lado, nota-se
a supresso
destapreposio,comosevemverboscomoassistir,obedecer,pagar,entre
outros. b) Objeto Direto Preposicionado
Algumasvezes,oobjetodiretoapareceiniciadoporpreposio.Ao contrrio de
Celso Cunha, Bechara no menciona o uso exclusivo da preposio a.
Oobjetodiretopreposicionadoocorrenosseguintescasos:a)nosverbos
queexprimemsentimentos;b)quandosedesejaevitaraambiguidade,
principalmente quando ocorre inverso; c) na expresso de
reciprocidade; d) com o pronome relativo quem; e e) nas construes
paralelas com pronomes oblquos. PUC-Rio - Certificao Digital N
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Oautorapresenta,ainda,oObjetoDiretoPleonstico(citadoporCelso
Cunha)comoumadasformaspossveisdeocorrnciadoObjetoDireto
Preposicionado, no como uma categoria parte. Bechara chama ateno
para o fato de a preposio somente ser adicionada
aocomplementoparaevidenciarocontrasteentreesteeosujeito.Issoo
diferenciadoqueBecharachamadeApreposiocomoposvrbio.Esta
classificao, que no aparece nas gramticas tradicionais, refere-se
aos casos em queapreposiocolocadacomafunodeacrescentarumnovomatizde
sentido, como por exemplo: (54) Cumprir o dever/ Cumprir com o
dever. c) O Complemento Relativo e o Objeto Indireto O complemento
que conhecemos tradicionalmente como Objeto Indireto
apresentadoporBechara,comoporRochaLima,subdividido.Segundooautor,
hoquechamadeComplementoRelativo,oqualvemintroduzidoporuma
preposioqueconstituiumaextensodosignolxicoverbalcadaverbose
acompanhadesuaprpriapreposioe,cujaescolha,dependedanorma
estabelecida pela tradio. (55) Ns gostamos de cinema. (56) O marido
no concordou com a mulher. (57) Poucos assistiram ao concerto.
interessantenotarqueBecharafazmenopossibilidadede,para muitos
verbos, haver a alternncia entre a construo do complemento direto e
do complementorelativoeaofatodeissoseradmitidopelanormaculta.Cunha
tambmcitaestapossibilidade,ressaltandoseuusonalinguagemcoloquial
brasileira. (58) Atender o telefone/ Atender ao telefone. (59)
Assistir os carentes/ Assistir aos carentes. PUC-Rio - Certificao
Digital N 0812859/CA 34 (60) Satisfazer o pedido/ Satisfazer ao
pedido. O complemento relativo comutvel pelos pronomes pessoais
tnicos ele, ela, eles, elas, introduzidos pela respectiva preposio.
Alm disso, para Bechara, por delimitarem aextensosemntica do verbo,
incluem-se como complemento relativo os argumentos dos verbos ditos
locativos, situativos e direcionais, viso
quenocompartilhadacomunanimidadeporoutrosestudiososseguidoresda
NGB, que preferem considerar tais termos como adjuntos adverbiais.
(61) Seus parentes moram no Rio. (62) O artista vive em So Paulo.
(63) Iremos a Petrpolis.
Quantoaoobjetoindireto,Bechara,comoRochaLima,somenteinclui nesta
categoria aqueles complementos introduzidos por preposio a,
comutveis por lhe, lhes e que se subsidiam ao objeto direto6,
referindo-se pessoa destinada
oubeneficiadapelaexperinciacomunicadanoprimeiromomentodainteno
comunicativa.Oautorchamaatenoparaofatode,muitasvezes,parecerque
encontramosapreposioparacomopreposiointrodutriadoobjetoindireto,
mas enfatiza que, nestes casos, no se trata de complemento
indireto. Destaforma,observamosqueoqueagramticatradicionalchamade
objetoindiretoenglobatantooqueBecharaconsideracomplementorelativo
comexceodosargumentoslocativosquantooqueeleconsideraobjeto
indireto. Assim, nos exemplos abaixo, (64) As meninas gostam de
balas. (65) Ele escreveu cartas aos pais. (66) Seus pais moram em
Fortaleza.
6Becharaapontacomoexceesosverbosagradar,desagradar,pertencer,ocorrer,acontecer,
cheirar, interessar, aparecer e sorrir, que no precisam estar
ligados ao Objeto Direto. PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA
35 pelagramticatradicional,ostermosdebalaseaospaissoconsiderados
objetosindiretose,emFortaleza,adjuntoadverbialdelugar.Jnavisode
EvanildoBechara,debalaseemFortalezaseriamcomplementosrelativos, por
estarem diretamente ligados ao sentido do verbo, e aos pais seria
um objeto indireto. Ainda como complemento preposicionado, Bechara
diferencia uma ltima categoria de complementos, qual chama de
Dativos Livres, que aparecem sob a forma de objeto indireto, mas no
esto direta ou indiretamente ligados esfera do predicado. Podem
ser: dativo de interesse, tico, de posse e de opinio, como nos
exemplos: (67) Ele ligou-me amavelmente a luz. (de interesse) (68)
No me mexam nos papis! (tico) (69) Doem-me as costas. (de posse)
(70) Para ns ela culpada. (de opinio) d) O Complemento Predicativo
Bechara contraria a gramtica tradicional ao considerar o
predicativo como um argumento, um complemento verbal7, pelo aspecto
semntico intrinsecamente relacionado com o verbo e portador de
traos essenciais do sujeito. O autor aponta
ofatodehavercaractersticassemelhantesentretalcomplementoeo
complementodireto:a)ambosmatizamaextensosemnticadoverbo,
funcionandocomoseudelimitante;b)aparecemnormaleimediatamente(sem
preposio)direitadoverbo;c)socomutveisporpronometono(...);d) muitas
das construes oracionais com predicativo so equivalentes (...) a
oraes com verbos que exprimem ao e processo (2005:425).
Entretanto,cabe-nosobservarqueocomplementopredicativoapresenta
algumasparticularidadesqueosdistinguemdosdemaisargumentosverbais. 7
No item 3.3.2.2, trataremos do posicionamento de Maria Eliana
Duarte Alves de Brito (1986) a respeito dos verbos de ligao como
predicadores. PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 36
Primeiramente,opredicativoconcordaemgneroenmerocomosujeitoda
orao.Almdisso,talcomplemento,qualquerquesejaogneroeonmerode
seuncleo,comutvelpelopronomeinvarivel o,quandooverboser,estar,
ficar e parecer. (71) Marina minha irm. (71.a) Marina o . (72)
Minha me continua insistente.*(72.a) Minha me o continua.
Porfim,oraesconstrudascomtaisverbosnosopassveisde converso para a
voz passiva, como ocorre com as oraes que tm complemento direto.
3.1.5 Os determinantes circunstanciais ou adverbiais
Comojforamencionadonestetrabalho,levadaexclusivamentepelo
aspectosemntico,agramticatradicionaligualoutambmsintaticamenteos
termosquedenotamcircunstnciasdelugar,tempo,etc.,considerando-ostodos
como adjuntos adverbiais, isto , como termos no-argumentais.
Ocorreque,muitasvezes,essestermossoobrigatrios,pertencem regncia do
verbo e so, assim, necessrios completude da construo sinttica. So,
portanto, considerados por Bechara como complementos relativos
(vide item 3.1.4. - c). (73) O menino caiu do balano durante a
brincadeira. (73.a) O menino caiu durante a brincadeira. (73.b) O
menino caiu do balano. PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 37
Notemosadiferenaentreostermosdobalanoedurantea
brincadeira.Otermodobalanoobrigatrio,sendoconsiderado
complementorelativodecair;jotermoduranteabrincadeiramero
acrscimoinformaoeserdenominadoporBecharacomoadjunto
circunstancial.Segundooautor,osadjuntosadverbiaissosemnticae
sintaticamente opcionais. 3.2 Maria Helena de Moura Neves
AGramticadeUsosdoPortugusdeMouraNeves(2000)de
orientaofuncionalista.JnaApresentao(p.15),aautoradeixaclaroquea
orientaotericadotrabalhobasicamenteconsiderarqueotextoaunidade
maior de funcionamento da lngua e que os itens so multifuncionais.
Neves ressalta o papel dos verbos como predicados das oraes.
Segundo a
autora,snoconstituempredicadososverbosquemodalizam(poder,dever,
precisar), os que indicam aspecto e os que auxiliam a indicao de
tempo e voz
(2000:25).Eladefineaindaapredicaocomooresultadodaaplicaodeum
certonmerodetermos(quedesignam entidades) a um predicado (que
designa propriedades ou relaes). Diferentemente do que se viu em
Rocha Lima e em Bechara, Moura Neves
relacionaatransitividadeverbalvalnciaverbal,isto,acapacidadedeos
verbosabriremcasasparapreenchimentoportermos(sujeitoecomplemento),
compondo-se a estrutura argumental (2000:28).
Segundoatransitividade,aautoradivideosverbosemquatroclasses
principais, a saber: a)Verbos cujo objeto sofre mudana no seu
estado; Nestecaso,oobjetoqueocorreumobjetono-preposicionado,ouseja,
umobjetodireto.Deacordocomotipodemudanaregistradaemtalobjeto
PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 38 paciente, Moura Neves
apresenta uma subclassificao desses verbos. Aos verbos
quesereferemcriaodeobjeto,aautorachamaefficiendi;aosverbosquese
referem mudana no objeto, a autora chama afficiendi. (74) S Tlio
CONSTRUIU em tempo sua arca e se salvou.(75) Pretende-se DEMOLIR a
casa antiga. (76) Maria QUEBRAVA copos pela casa.
b)Verboscujoobjetonosofremudanafsica,i.e.,noumpaciente afetado;
Neste caso, o complemento pode ser no-preposicionado (objeto
direto) ou preposicionado, podendo este ser:
b.1.Delugar:Osujeitolocaliza-seoumovimenta-se,tendocomo referncia
espacial o complemento; (77) Maria EST em casa de Dona Ded. (78)
Voc VEM do Rio de Janeiro? b.2. De direo: O objeto indica meta
(alvo) ou fonte (provenincia); (79) OLHOU para o alto. (80)
ABORRECEU-SE com isso.b.3. Associativo: O verbo indica uma ao
recproca, e o objeto tanto pode ser meta como associado. (81) Mais
tarde Terto CONVERSOU com Bentinho. c)Verbos que possuem um
complemento no-preposicionado (objeto direto) e um complemento
preposicionado. PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 39
Nestecaso,osujeitomaiscomumseriaoagente,eoobjetodiretomais
facilmente encontrado um paciente de mudana. O complemento
preposicionado pode ser de vrios tipos, a saber:
c.1.Delugar:Amudananoobjetodiretoespacial,relacionadacomo
complemento (lugar onde ou para onde); (82)A irm COLOCOU o roupo no
cabide.c.2.Beneficirio:Oobjetoindiretomaisocorrenteumdativohumano
representando aquele que se beneficia da transao. (83) DEU ao genro
um engenho com setenta escravos. c.3. Instrumental: O instrumental
vem como complemento preposicionado. (84) Voc ENCHEU a bexiga de
sangue?d) Verbos que tm complementos oracionais.
AindanaApresentao,humaobservaoimportanteparaanossa
anlise:(...)algumasclassesdepalavrasgramaticais(comoaspreposies)se
deixamanalisar,privilegiadamente,nosistemadetransitividade,queoque
define as relaes semnticas na orao, e respondem, pois,
primordialmente, pela funo ideacional nesse nvel (2000:19).
Essecritriovaiconduzir,naParteIVdaGramtica,oestudodas
preposiesquefuncionamdentroouforadoregimedatransitividade.Segundo
Neves,aspreposiesquefuncionamnosistemadetransitividade(ouseja,
preposiesqueintroduzemcomplementos)so:a,at,com,contra,de,em, entre,
para, por, sob e sobre.
Essesdadosseroimportantesparanossaanlise,sobretudonoquese
refereaovalorsemnticodaspreposiesqueintroduzemcomplementosou
adjuntos.Podemservirdesubsdioparaopapelsemnticodessesitenslexicais
nas estruturas que estamos estudando e no confronto com a observao
de Cunha PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 40 e Cintra
sobre o relativo esvaziamento semntico das preposies introdutoras
de adjuntos adverbiais. 3.3 Maria Eliana Duarte Alves de Brito
MariaElianaDuarteAlvesdeBrito,emsuadissertaodeMestrado
(1986),sepropeaestudaroselementosnominaisbsicosdoverbo,afimde
melhor explicar o fenmeno da complementao verbal.
ParaBrito,overbooelementocentraldafrase.elequedetermina quais os
elementos nominais que so bsicos, tanto em relao ao elemento sua
esquerda,quantoemrelaoaoselementossuadireita.Overbo,ento,o elemento
que no pode faltar numa frase completa; ele especifica o tipo de
sujeito ou at se h ou no sujeito e determina o tipo de complemento
direita. Sua proposta relativa noo de complementao , portanto, mais
abrangente do que anoodetransitividadecomotratada
tradicionalmente.Estaposiocoincide
comadaGramticadevalncias,emboraaautoranosetenhabaseadonessa teoria.
Britoafirmaqueamaioriadosestudossobreoassuntoanalisacomo
fazendopartedatransitividadetosomenteoselementosnominaiscolocados
direitadoverbo,chamando-oscomplementos.Oelementosujeito,queaparece
normalmenteesquerdadoverbo,nolevadoemconsideraodentrodo
esquemadoscomplementosverbais.Segundoaautora,MattosoCmaraJr.
(1968:291)umdospoucosautoresque,aofalardetransitividadeede
predicao, faz questo de referir-se ao nexo que se estabelece entre
o predicado e seu sujeito. A autora acrescenta que, para outros
estudiosos, no entanto, transitividade
significapredicaoincompleta,ouseja,anecessidadedeumelementoser
complementado por outro, mas geralmente no fica explcito se essa
necessidade
semnticaousinttica.Sochamadostransitivososverbosqueexigemumou
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maiscomplementosdenominadosdeobjetodireto,objetoindireto,ouat
estudadoscomoutrosnomesporhaveralgumasdivergnciasdenomenclatura,
como vimos. E chamados de intransitivos os verbos que no exigem
complemento sua direita. Alguns compndios discutem certos verbos
que podem apresentar-se
oraemseuusotransitivo,oracomseuusointransitivo,masnodiscutemo porqu
desse fenmeno. 3.3.1 O Plano das Potencialidades e o Plano das
Realizaes NaanlisedeBrito,aclassificaoverbalnoportugusapresentada
conformeocomportamentodosverbosemdoisplanosbsicos:oPlanodas
Potencialidades(PP)eoPlanodasRealizaes(PR).Noprimeiroplano,o
verboanalisadoapartirdesuacapacidade(semntica)completa,sendo
estabelecidososelementosnominaisquedevemocuparosespaoslugares
bsicos exigidos pelo verbo , como forma de garantir sua integridade
sinttica e
semntica.Nosegundoplano,overbotratadoapartirdasrealizaesdosseus
complementos.Neste,aocontrriodoPlanodasPotencialidades,podeocorrera
omisso de um determinado elemento, sem que a semntica e a sintaxe
do verbo sofram quaisquer danos.Logo, em: (85) Maria ensina ingls a
meu irmo. temos que, no Plano Potencial, ensina um verbo transitivo
de 3 espaos, sendo oespao1ocupadopor Maria, o espao 2 por ingls e o
espao 3 ocupado pela
pessoaaquemelaensinaingls,meuirmo.JnoPlanodasRealizaes,
entretanto,ensinaumverbotransitivode3espaos,masqueadmitiriaa omisso
do espao C, como em PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 42
(86) Maria ensina ingls. OPlanoPotencialprevainda que, relacionados
opcionalmente ao verbo,
podemocorreroutrostermosquenosoelementosnominaisbsicos.Assim,
podemos ter: (86) Maria ensina ingls a meu irmo todo
dia.Otermoespaoestsendousadoaquicomosentidodecomplemento,
ouseja,comosentidodeelementonominalbsicoexigidopeloverbonoplano
potencial.Onopreenchimentodeumespaocomplementonoplanodas
realizaespodeserdevidoaumasimplesomissovoluntriapossveldeser
recupervel no contexto em que a frase est inserida ou inexistncia
do espao-complemento no plano das realizaes, embora esse
complemento esteja previsto no plano potencial.
Paramelhorexplicaradistinoentrepotencialidadeerealizaesdos
complementosdosverbosnasfrases,Britorecorredistinoentresistemae
estruturapropostaporHalliday(1967).Segundooautor,onvelsistmico
expressaasrelaesbsicas,fundamentais.Jonvelestruturalrefere-ses
manifestaes na frase, sendo este inteiramente derivado daquele.
Observandoaausnciadeumespao-complementoemrelaoaoverbo da frase,
Brito distingue os seguintes casos: a)O espao-complemento no ocorre
em nenhum dos dois planos porque ele no pedido pelo verbo no plano
potencial; b)O espao-complemento no ocorre no plano das realizaes
em virtude deserrecupervelnocontexto,masesseespaoexistenoplano
potencialesubentendidonoplanodasrealizaes.Osefeitosdetal ausncia so
estilsticos, discursivos.
c)Oespao-complementonoocorrenoplanodasrealizaes,masele
existenoplanopotencial;trata-sedeumaomissodesejada, intencional. H
dois casos possveis: PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 43
c.1)Ocomplementorecupervelporqueumoutroelementoda
prpriafrasejexpressaemsiainformaodocomplementoverbal omisso.
(87)Opianistavirtocaramanh.(ocomplementopiano
indispensvel,umavezquejestindicadonapalavrapianista.
Casoopianistatoquealgumoutroinstrumento,estesimdeveser
especificado.);(88)Meutio bebe.(o complemento o que ele bebe
indispensvel, umavezque,quandoomitimosocomplementodoverbobeber,
subentende-se que seja bebida alcolica); c.2) A informao do
complemento omisso considerada pelo falante
comoirrelevante;osignificadodoverbosemantminalteradocoma presena ou
a omisso do complemento.
(89)Napocadamudana,deitodososmeuslivros.(irrelevante dizer a quem).
Diantedessesfatos,aautoraconcluisernoPlanoPotencial,enono
PlanodasRealizaes,quesedelimitaoqueounocomplementoverbal.Ela
afirmaqueHalliday(1976:144),aofalardaimportnciadesedistinguirentreo
que obrigatrio e o que opcional, explica o seguinte:
Adistinoentrepapisobrigatrioseopcionaisajuda-nosa
relacionarasfunesdetransitividadeaumsistemadetiposde oraes. Como,
entretanto, isso envolve o reconhecimento de que um elemento
obrigatrio pode, de fato, estar ausente, utilizaremos antes o termo
inerente do que o termo obrigatrio. Uma funo inerente
aqueestsempreassociadaaumdadotipodeorao,mesmoque
noestejanecessariamenteexpressanaestruturadetodasasoraes desse
tipo. (No nos referimos aqui s elipses, que so uma questo de
estrutura textual). PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 44
Assim, distingue-se um verbo intransitivo de um verbo transitivo no
plano potencial, mantendo-se, no plano das realizaes, a mesma
classificao do plano potencial, especificando-se, no entanto, as
omisses ocorridas. Brito lembra ainda que, ao se definir a
transitividade como a capacidade de
overboapresentarumoumaisespaos-complementossuadireita,deve-se
indagarseoschamadosverbosdeligaoseenquadramnessanoode
transitividade. Apesar de as relaes estabelecidas entre o verbo de
ligao e seus
espaosAeBseremmuitoespecficas,prpriasediferentesdasrelaes
existentesentreosverbosquenosodeligaoeseusrespectivosespaos-complementos,osverbosdeligaotambmsoconsideradosporelacomo
verbos transitivos.
Dessemodo,aoverbo,elementoprincipaldafrase,podemestarligados
um,dois,trs,quatroounenhumelementonominalbsico,conformeas exigncias
de cada um. 3.3.2 Anlise dos espaos nominais bsicos ligados ao
verbo 3.3.2.1 O espao A: Sujeito
Paraestudaracomplementaoverbal,Britoconsideraimprescindvel englobar
todos os espaos nominais bsicos referentes ao verbo e, por isso,
inclui em sua anlise o espao A, denominando-o sujeito. Brito define
o sujeito como sendo o elemento nominal bsico que ocorre
normalmenteesquerdadoverboecomoqualoverboconcorda.Seuvalor
nocionalvariado,poispodecorresponderatiposdiferentes,conformeafrase
esteja na voz ativa ou passiva, conforme o verbo seja de ao, de
percepo ou de
outrostipos,conformeofatoexpressonafrasesejavoluntrioouno,eainda
conforme vrios outros aspectos. (1986:37). PUC-Rio - Certificao
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Segundoaautora,amaioriadosverbosdalnguaportuguesaexigeno
planopotencialapresenadeumsujeitoeaminoriacompostadeverbos
impessoais. Quando o verbo tem o preenchimento potencial do espao
A, a lngua tem
doisrecursosnoplanodasrealizaes:a)opreenchimentoapareceexplcitona
frase sob a forma de um elemento lexical ou de um elemento
oracional; ou b) no
hopreenchimentosobaformadeumrecursolexicalexplcito,podendovir
marcado na desinncia nmero-pessoal do verbo ou ficando apenas
subentendido atravs do processo conhecido como indeterminao do
sujeito. H,entretanto,verbosaosquaisnoestrelacionadonenhumespaoA.
Essaumacaractersticaprpriadeverboscomochover,trovejar,nevar,
queexpressamfenmenosdanatureza,edeverboscomosereestar
acompanhadosdepalavrasouexpressesadverbiais(cedo,tarde,demanh,de
tarde, etc.). Esses verbos indicam to-somente o fato; aparecem sob
a forma de 3
pessoadosingular,porqueessaaformanomarcadaemportugus.So chamados de
impessoais nos estudos gramaticais.Brito chama ateno para a
problemtica causada pelos verbos impessoais
comcomplementonoespaoB,umavezqueestesvmsendousadosoracomo
impessoais,oracomopessoais.Segundoela,parecequeosfalantessentemo
elementonominalpresentenafrasecomosujeitodoverboe,porisso,fazema
concordncia.Almdisso,acrescenta,nemsempreoespaoBligadoaesses
verbossecomportacomoocomplementoconhecidocomoobjetodireto;nem
sempre so cliticizveis e no admitem voz passiva. 3.3.2.2 O espao B
Denomina-seespaoBosegundoelementonominalbsicoligadoao verbo e
previsto no plano potencial. Este ocorre direita do verbo e
completa seu sentido sob o aspecto semntico e o sinttico. Pode ser
preenchido por vrios tipos PUC-Rio - Certificao Digital N
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deelementosnominais,diferenciando-seunsdosoutrosporcaractersticas
prpriasemsuasemnticaeemsuasintaxe.Podem,portanto,apresentarouno
preposio,dependendodaexignciadoverbo;quantosuasemntica,podem
indicar o alvo, o beneficirio, o atributo o locativo, etc. A autora
analisa em seu trabalho alguns tipos de espao B, a saber: - objeto
direto; - complemento indicativo de medida; - complemento relativo;
- objeto indireto; - complemento relativo opcional; - predicativo;
- complemento locativo; - complemento especificativo ou
restritivo.A) OBJETO DIRETO O espao B-objeto direto apresenta duas
caractersticas bsicas. A primeira ser um elemento nominal bsico
ligado ao verbo sem preposio embora haja casos de objetos diretos
preposicionados, mas a presena da preposio no uma
exignciadoverbo.Asegundahaversempreapossibilidadedesercliticizado
em o, a, os, as. (91) Maria l as cartas. (91.a) Maria as l. (92) O
funcionrio abre o porto. (92.a) O funcionrio o abre.
Osvaloressemnticosdoobjetodiretosovariados.Emgeral,oobjeto
diretoindicaoalvo,ouseja,indicaoelementoquerecebeaaoiniciadano
sujeito.Pode,noentanto,teroutrosvalores.Verboscomoapreciar,ouvir,dizer,
aprender,entender,porexemplo,tmsignificadosligadosaossentidoses
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caractersticasmentais,eoelementonominalqueocorresuadireitanotem
valor de alvo.
importanteressaltarqueumacaractersticadessetipodeespaoB nunca ter
valor de predicativo ou locativo.
Quantosuarealizao,porserumelementoquecompletaosignificado do verbo,
natural e esperado que esse elemento seja imprescindvel construo
sintticaesemnticadafrase.Issoomaiscomumdeocorrernalngua portuguesa.
No entanto, Brito aponta que, alguns verbos que, no plano
potencial,
apresentamumobjetodireto,admitemaomissodesseespaonoplanodas
realizaes. Aomissodoobjetodiretoocorrequandohapossibilidadedeoverbo
expressarporsis,demaneiraclaraeprecisa,umadeterminadaideianoplano
das realizaes, no sendo necessrio, portanto, especificar o elemento
nominal sua direita. Esses verbos formam dois grupos: a) verbos
cujo sentido parece no se alterar quando usados sem seu objeto
direto. (93) Agora minha vez de falar. (94) Voc devia saber
cozinhar. b) verbos cujo sentido se restringe quando h omisso de
seu objeto direto. (95) Aquela moa ama a me. (95.a) Aquela moa est
amando. Convm ressaltar que o tempo verbal e outros elementos da
frase tambm influem na possibilidade de omisso do objeto direto.
(96) O rapaz estuda medicina. (96.a) Meu tio estudou cinco anos
neste colgio. (97) Ns bebemos limonada. PUC-Rio - Certificao
Digital N 0812859/CA 48 (97.a) Todos os meus amigos bebem.
Aautoraacrescentaqueocontedosemnticodoverbodeextrema
importncia.Porisso,afirmaqueexistemalgumascondiesparaquepossa
ocorrer a omisso do objeto direto, a saber:
CondioA:Quandootempoverbalusadoexpressarideiadehbito,costume,
repetio,comoocorrequandosousadosopresente,opretritoimperfeitodo
indicativo ou outros tempos que transmitam essa ideia. (98) O fogo
destroi. (99) Minha me cozinhava. Outra forma verbal que tambm
torna possvel a omisso do objeto direto o infinitivo em oraes
substantivas reduzidas e em certas locues verbais. (100) Gosto de
namorar. (101) importante amar.
CondioB:Quandooverboforempregadoacompanhadodeumadvrbiode
intensidade, modo, tempo ou lugar. (102) Meu filho come bem. (103)
Meu irmo lia diariamente. Condio C: Quando na frase h elementos que
podem ajudar a especificar a ideia expressa pelo verbo. (104) O
pianista tocou muito bem. Brito tambm tece alguns comentrios sobre
os verbos causativos, ou seja,
aquelescujossujeitossoagentesdaaoverbal.Segundoaautora,dianteda
caractersticadeoverbocausativoexplicitar,comooprprionomediz,a
CAUSAOeoseuelementodireitaindicaroelementoafetadopela
causao,deseesperarqueesseelementonominalafetadopreciseser PUC-Rio -
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enunciado,tantonoplanopotencial,quantonoplanodasrealizaes.
(1986:73,74). (105) Joo abriu a porta. *(105.a) Joo abriu. (106) O
menino quebrou o brinquedo. *(106) O menino quebrou.
Entretanto,algunstiposdefrasescomsujeito[-anim]aceitamaomisso do
objeto: (107) As frituras engordam voc. (107.a) As frituras
engordam. Poroutrolado,observa-sequeistospossvelporquetaisfrasestmo
verbo no tempo presente, dando ideia de uma afirmao genrica,
possibilitando a omisso do espao B, como j fora comentado. *(107.b)
As frituras engordaram. B) O ESPAO B COM VALOR DE COMPLEMENTO
INDICATIVO DE MEDIDA Brito analisa tambm o espao B com valor de
complemento indicativo de
medida,pedidoporverboscomopesar,medir,custar,correr,crescer,durare
outros. Segundo ela, os verbos pesar, medir e custar correspondem a
mais de um
verbocadaum.Overbopesarpodesignificar1-fazerapesagemou2-tero peso
de, como se observa nos exemplos a seguir: (108) O aougueiro pesou
a carne. (sujeito agentivo; pesar1 = fazer a pesagem) (109) A carne
pesa dois quilos. (sujeito no-agentivo; pesar2 = ter o peso de).
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Overbopesarpermite,noplanodasrealizaes,aomissodoespaoB quando o
significado ter peso, ter muito peso, ser pesado. (110) O ar pesa.
O verbo medir pode significar 1-tirar as medidas ou 2-ter as
medidas. Quando o significado ter as medidas, no permite a omisso
do espao B: (111) O menino mediu a corda. (medir1) (112) O menino
mede um metro e meio. (medir2) *(112.a) O menino mede.
Overbocustarpodetertrsdiferentessignificados:1-demorar;2-ser
difcil, custoso e, nesse caso, pede trs espaos nominais no plano
potencial ; e3-terocustode,terovalordetambmpedetrsespaosnoplano
potencial. (113) O professor custou a chegar. (custar1) (114) Este
trabalho custou a meu pai um grande sacrifcio. (custar2) *(114.a)
Este trabalho custou a meu pai.(115) A estrada custou ao pas milhes
de reais. (custar3) (115.a) A estrada custou milhes de reais.
*(115.b) A estrada custou.
Noexemplo(114),umgrandesacrifciooespaoBdotipoobjeto direto e no
pode ser omitido no plano das realizaes. O exemplo (115.a) mostra
que o espao C (ao pas) pode ser omitido; mas custar3 no admite a
omisso de seu espao B (milhes de reais), como se v em (115.b).
Conclui-se,portanto,queoespaoBqueindicamedidaapresentaas seguintes
caractersticas: PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 51 a)
preenchido por um elemento em geral obrigatrio8; b)no cliticizvel;
c) um elemento do campo semntico das medidas peso, metragem, preo,
distncia ou durao de tempo; d), em geral, um espao preenchido por
um sintagma nominal.
Ocomplementoindicadordemedidapodetambmserpreenchidopor
pseudo-advrbios,comomuito,pouco,caro,barato,etc..Britochamaateno
paraaclassificaofeitaporBomfim(1976:18),quechamavocbuloscomo muito
e pouco de quantificadores, observando que a tradio gramatical os
chama de pronomes indefinidos. (116) Andou muito./ Andou muitas
lguas. (117) Andou demais./ Andou lguas demais. Em exemplos como
(116) e (117), Bomfim comenta que expresso ou no
oobjeto,oqueestemjogooespaopercorrido.(...).Assim,esses
complementosseassemelhamaquantificadoreseequivalemasintagmas
nominais(muito=muitosquilos;caro=muitodinheiro)e,segundoPimenta-Bueno,podemserdesignadoscomoformassuplentesdesintagmasnominais
(Brito, 1986:71).D) O ESPAO B PREPOSICIONADO
OespaoBpreposicionadoaqueBritoserefereoprimeiroespao
direitadoverbocompreposioobrigatria,nodevendoserconfundidocomo
objeto direto preposicionado, por este apresentar caractersticas
prprias. Tal complemento pode ser indispensvel semntica e sintaxe
do verbo, como em (118) ou, ainda, completar semntica e
sintaticamente o verbo, mas com 8 Salvo em casos como o apontado no
exemplo (110). Brito (p.163) aponta ainda que, com os verbos
correr, crescer e engordar, o elemento indicativo de medida
previsto no PP, mas opcional no PR (Corro diariamente; Adolescentes
crescem diariamente; No gosto de engordar) . PUC-Rio - Certificao
Digital N 0812859/CA 52 a possibilidade de ser omitido, sem alterar
o sentido bsico do verbo, como se v em (119) e (119.a), ou de ser
substituvel pelo pronome lhe(s), como em (119.b). (118) A menina
gosta de chocolate. *(118.a) A menina gosta. (119) Jesus apareceu
aos discpulos vrias vezes. (119.a) Jesus apareceu vrias vezes.
(119.b) Jesus apareceu-lhes vrias vezes.
Deextremaimportnciaparanossotrabalhooestudoqueaautorafaz sobre as
preposies nesses complementos obrigatoriamente preposicionados.
SegundoBrito,existemargumentosqueconsideramapreposiocomo parte
inerente do verbo: Verbo + preposioespao B
eexistemargumentosqueconsideramapreposiocomopartedonome
complemento: Verbo Preposio + espao B
Paraseconsiderarapreposiocomoparteinerentedoverbo,Brito apresenta
dois argumentos: a) A preposio ser uma exigncia do verbo; exemplos:
(120) algum gosta de algo (ou de algum).
b)Ofatodeofalanteter,emseuconhecimentolingusticointernalizado,a
informaodequeacadaumdessesverboscorrespondeumapreposio especfica.
PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 53 (121) o verbo bater
pede preposio em.
Poroutrolado,quatrooutrosargumentosjustificamaanliseda preposio
como parte do nome complemento:
a)Ofatode,quandooespaoBomitidoporestarsubentendidonocontexto, haver
a omisso da preposio juntamente com o nome complemento. (122) Vocs
gostam de chocolate? Sim, gostamos.
b)Ofatodeentreoverboeapreposiopoderemserintercaladoscertos
elementos. (123) O garoto dependia, dia e noite, do pai.
c)Ofatode,quandohinversodafrase,serpossveldeslocaroespaoB
preposicionado, mantendo-se a preposio junto do nome. (124) Neste
problema eu ainda no tinha pensado.
d)OfatodeaentonaodafrasemostrarqueoespaoBpreposicionadoforma uma
unidade dentro do ritmo da frase. Assim sendo, a autora conclui que
apreposioumelementoexigidopeloverbo,masnaverdadeo que o verbo exige
o conjunto formado pela preposio devidamente
acompanhadadeumsintagmanominal,noapreposiosozinha.A
preposioformaumaunidadesintticaeentonacionalcomo sintagma nominal
complemento, e so os dois juntos, a preposio e o
SNcomplementoquepreenchemoespaoBexigidopeloverbo. (1986:80)
Britoressaltaaindaqueosmesmosargumentossovlidosparaoscasos
deespaoC,quesocomplementossemprepreposicionados,comoveremos
adiante. PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 54
Aindaquantoaocomplementopreposicionado,aautoraope-se
classificaodagramticatradicionaleapresentaosseguintescomplementos
preposicionados:ocomplementorelativo,oobjetoindiretoeocomplemento
relativo opcional. D.1) O COMPLEMENTO RELATIVO
OcomplementorelativodenominaodadaporRochaLimaum complemento que:
a)nopodesersubstitudopelosclticoslhe,lhes;podesersubstitudopor
pronome oblquo tnico (dele, com ela, neles, a elas, etc); (125) A
criana precisa da me. (125.a) A criana precisa dela. *(125.b) A
criana precisa-lhe. b) tem, na maioria das vezes, valor semntico de
alvo; (126) O aluno precisa de uma rgua. c) pode ser ocupado por
nomes que admitem uma variao semntica grande, no
hmuitasrestriesquantoaotipodeelementoquepodeocorrerapsa preposio;
d) a preposio exigida varia, idiomaticamente, com o verbo, podendo
ser de, em, a, para, com; e) um complemento, em geral,
indispensvel, obrigatrio. (127) Confio em voc. *(127.a) Confio.
(128) Eu concordo com suas ideias. PUC-Rio - Certificao Digital N
0812859/CA 55 *(128.a) Eu concordo. A autora lembra que alguns
verbos, por terem implcito o complemento, admitem a omisso do
mesmo, como se v em: (129) Meus dois irmos divergem sempre. (a
forma plural do verbo leva ideia de que um diverge do outro.) (130)
Voc reclama demais. (reclama de tudo)
f)muitosverbosdessegrupoadmitemreceberemseuespaoBumaorao
subordinada substantiva desenvolvida e, nesses casos, a preposio
exigida muitas vezes omitida na linguagem menos formal. (131) Ele
duvidou que eu fizesse isso. (omisso da preposio de)
Britoressaltaqueessacaractersticareforaadiferenaentreo
complementorelativoeoobjetoindireto,jqueesteltimonoadmitetal
possibilidade;aomesmotempo,acentuaassemelhanasentreocomplemento
relativo e o objeto direto, uma vez que este tambm possui tal
caracterstica.
Porfim,aautoraapresentaumaquestoimportante.Aotratardos
complementosrelativosligadosaverbospronominais(videexemplos(132)e
(133)),destacaosverbospertencereinteressar.Estesverbosapresentamuma
peculiaridade:quandoocomplementorelativoumelemento[-hum],eleser
substitudoporpronomeoblquotnico,sendomantidaapreposio,comoem
(134)e(134.a);quandoocomplementorelativoumelemento[+hum],a
substituioserporlheoulhes(ouaele),comoem(135),(135.a)e(135.b),
assemelhando-se ao objeto indireto. (132) A mulher se queixava da
vida. (133) O rapaz se correspondia com a amada. (134) Este livro
pertence escola. (134.a) Este livro pertence a ela. PUC-Rio -
Certificao Digital N 0812859/CA 56 (135) Este livro pertence ao
aluno. (135.a) Este livro lhe pertence. (135.b) Este livro pertence
a ele. D.2) O OBJETO INDIRETO
ParaBrito,oobjetoindiretoumtipodeespaoBpreposicionadoe
opcional,ouseja,podeseromitidonoplanodasrealizaes.Ocorrecomverbos
comoaparecer,faltar(comosentidodeestaremfalta),acontecer,ocorrer,
bastar, constar e, at mesmo, telefonar. Suas principais
caractersticas, segundo a autora, so: a) um elemento [+ hum]; b)tem
valor de beneficirio da ao expressa pelo verbo; c)costuma
apresentar a preposio a (ou para); d)pode ser substitudo pelos
clticos lhe, lhes.
EstetipodeespaoBpreposicionadotambmpodeocorrercomoespao C,
recebendo o mesmo nome. (136) Faltou coragem aos garotos. (136.a)
Faltou coragem. (136.b) Faltou-lhes coragem. D.3) O COMPLEMENTO
RELATIVO OPCIONAL
Estecomplemento,segundoaautora,diferencia-sedoobjetoindiretopor
apresentar as seguintes caractersticas: a)admite elemento [- hum];
b) precedido de preposies variadas, conforme a exigncia do verbo;
PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 57 c)no aceita a
substituio por clticos lhe, lhes. (137) A criana riu do irmo.
(137.a) A criana riu da piada. [- hum] *(137.b) A criana lhe riu.
Destaforma,oespaoBpreposicionadodessetiposediferenciaporum lado do
objeto indireto por no poder ser substitudo pelos clticos lhe,
lhes, e, por outro lado, mostra-se diferente do complemento
relativo por ser opcional no plano das realizaes.E) PREDICATIVO
UmpontoimportantedaanlisedeBritoassimcomovimosnaanlise de Bechara a
considerao do predicativo como complemento do verbo, o que
contraria a viso da gramtica tradicional.
Elaobserva,entretanto,quesetratadeumcomplementocom caractersticas
prprias, pois completa um determinado tipo de verbo, o chamado
verbo de ligao, no podendo ser omitido fora de contexto. Brito
acrescenta que,
emborasejapossvelhaverpredicativosemhaververbodeligao,comosev em
(138), como se este estivesse subentendido, como em (139): (138) A
empregada saiu satisfeita. (139) A empregada saiu e (ao sair)
estava satisfeita. A autora questiona a viso da gramtica
tradicional, para quem o verbo de ligao simplesmente um elo
gramatical, alegando que este, alm de expressar
omodoeotempo,tambmexpressaaspecto.Britoconsideraque,tambmna
frasecomverbodeligao,oelementocentraloverbo(1986:93)e,portanto,
tantooespaoA-sujeito,quantooespaoB-predicativosovistoscomo
complementosverbais,mesmoapresentandocaractersticasbemdistintasdos
outros complementos. PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 58
DiferentementedequalqueroutroespaoB,opredicativoserefereao sujeito,
concordando em gnero e nmero com ele. Alm disso, no cliticizvel
salvo no emprego muito formal do verbo ser. F) COMPLEMENTO LOCATIVO
Algunsverbosqueindicammovimento,comocorrer,pular,expressam
umtipodeaoquenoexigecomplementoqueespecifiqueolugarondese realiza o
movimento. Nesses casos, se houver um locativo, este ser um
elemento acessrio. (140) O menino correu. (140.a) O menino correu
pelo parque. H verbos, porm, que exigem indicao de lugar. Segundo
Brito, por ser uma exigncia semntica e sinttica do verbo, prevista
como elemento obrigatrio
napotencialidadedoverbo,essaindicaodelugardeveserdenominadade
complemento locativo (1986: 110).
Aautoralembraque,apesardeessesverbosterem,emseuplano
potencial,aprevisodeumnmeroxdecomplementoslocativos,noexigema
explicitao de todos eles no plano das realizaes. G) COMPLEMENTO
ESPECIFICATIVO OU RESTRITIVO
Britoobservaquehumgrupodeverbosque,primeiravista,parecem
intransitivos,masque,naverdade, tm emseuplanopotencial a previso de
um espaoB,quepodeapresentarumavariedadedeelementosnominaisdamesma
rea semntica do verbo, e que pode ser omitido. A esse espao B a
autora chama complemento especificativo ou restritivo. Observe:
(141) O menino joga (xadrez, tnis, vlei, etc.) bem. (141.a) O
menino joga bem. PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA 59
3.3.2.3 O espao C O espao C um tipo de complemento, sempre
preposicionado, que ocorre com verbos aos quais se ligam trs espaos
nominais bsicos9. A autora relaciona trs tipos de espao C: - objeto
indireto; - complemento relativo opcional. - complemento locativo
Britoapresentaprimeiramenteoverbodar,comoprottipopara
representarogrupodosverbosdandi,queapresentamumcomplementocom valor
de alvo (espao B) e um complemento com valor de beneficirio (espao
C). TalespaoCporapresentarasmesmascaractersticasjcitadasnoitem
3.3.2.2., quando falamos sobre o espao B preposicionado D.2 tambm
costuma ser chamado de Objeto Indireto. (142) A menina deu o livro
ao colega. (142.a) A menina deu o livro. *(142.b) A menina deu.
Comoexemplodosverbosquefazemrefernciasemnticaideiade
lugar,Britocitaoverbocolocar,queexige,almdoespaoAedoespaoB, outro
complemento que explicite a ideia de lugar. Esse complemento que
ocupa o espao C, chamado de complemento locativo, tem as seguintes
caractersticas: a) apresenta o trao [+ locativo]; b) em geral,
apresenta a preposio em, s vezes por; 9 Tesnire (1969:255) fala em
verbos trivalentes e Lyons (1979:388) faz referncia s construes de
trs lugares. (Brito, p. 94) PUC-Rio - Certificao Digital N
0812859/CA 60 c) pode ser substitudo por advrbios de lugar; d) no
pode ser omitido salvo em condies especiais. (143) A menina colocou
o livro na estante. *(143.a) A menina colocou o livro. *(143.b) A
criana colocou. *(143.c) A criana colocou na estante.
importanteaanlisequeaautorafazdealgunsverbos,comooverbo
jogar,comsentidodearremessar,lanar.Ocorreque,emalgumasfrases,
comoem(144)e(145),torna-sepossvelomitirocomplementolocativo.Isso
porque, nessas frases, a forma verbal expressa ao habitual,
costumeira. Observe: (144) Eles vivem jogando pedras. (145) Os
alunos esto sempre jogando bolinhas de papel. Quando a frase no
apresenta esse sentido habitual, genrico, necessrio que se
especifique o complemento locativo. *(146) Eles jogaro pedras.
Emoutroscasos,comocomoverboenviar,mandar,colocare pr, observa-se
que s possvel a omisso do complemento locativo quando o mesmo pode
ser identificado no contexto. (147) Eu coloquei o chapu (em mim).
(148) Ela j tinha posto a roupa de banho (nela mesma).
Outrosverbos,almdosverbosdandiedosverbosdogrupodoverbo
colocar,tambmapresentampotencialmentetrscomplementos.OespaoC desses
verbos apresenta caractersticas distintas: PUC-Rio - Certificao
Digital N 0812859/CA 61 a) pode ser omitido no plano das realizaes;
b) no tem valor de beneficirio; c) pode apresentar preposies
variadas (de, em, a, por, etc.). A esse espao C chamado pela
gramtica tradicional de Objeto Indireto Brito chama Complemento
Relativo Opcional o mesmo analisado anteriormente
em3.3.2.2,D.3,quandofalamosnocomplementorelativoopcionalqueocupao
espao B. (149.a) preciso separar os novos dos velhos. (149.b)
preciso separar meus livros. (150.a) A moa multiplicou a primeira
parcela pela segunda. (150.b) A moa multiplicou seu salrio.
Aautoraanalisatambm,comomostramosem3.3.2.2,F,osverbosde
movimentoqueexigem,noplanopotencial, espao B ou espao C com valor
de locativo, como ir, voltar, vir, chegar, sair, fugir, etc.
Nestetrabalho,noanalisaremosdetalhadamenteessescasos.Interessa-nos,
apenas, a noo expressa pela autora de que, independentemente do
elemento serdispensvelounonoplanodasrealizaes,eledenominadode
complemento quando exigido pelo verbo em seu plano potencial. Alm
disso, importante ressaltar a posio de Brito, que, ao contrrio da
gramticatradicional,consideraocomplementoindicadordelugarcomo
complementoverbalcomplementolocativoenoapenascomoumtermo acessrio
adjunto adverbial. PUC-Rio - Certificao Digital N 0812859/CA