-
riATKO DE ARTUR AZEVEDO' m i ' l i i i L . i r t r
! r n | n < " , s < . no Brasil/ Printed in Brazilr < n
leito o depsito legal[SBNTODOS OS DIREITOS RESERVADOSl umKio
Nacional de Arte - FunarteRua da Imprensa, 16-5 andarCEP; 20030-120
- Rio de Janeiro - RJTel: (21) 2262-5547- Fax: (21) 2262-4895
T"
Reviso de textoNILDON FERREIRADEBORAH FERREIRA A LADigitalizao,
diagramao e produo grficaDANIEL JOS DE ABOIMEditorao
EletrnicaINFOSEVILLA SERVIOS LTDA.Esta coleco recebeu o apoio
doINSTITUTO PENSARTE
Catalogao-na-fonteFunarte/Coordenao de Documentao e Informao
Azevedo, Artur, 1855 - 1908Teatro completo de Artur Azevedo.
Rio de Janeiro: Funarte, 20021.762p.; 14 x21cm
ISBN 85-7507-033-9
Anteriormente publicado como volumes independentes da Coleo
Obrascompletas.
SumrioArtur AzevedoAs mutaes da comicidade / 9O Tribofe /
27Entre o vermute e a sopa / 117Como eu me diverti / 131O Major /
141A fantasia / 223A Capital Federal / 311Amor ao plo / 419O badejo
7447O jaguno / 513Confidncias / 549Gavroche / 557Artur Azevedo:
homo poiiticus / 593A Viva Clark / 613Uma consulta / 681Comeu! /
695A fonte Castlia / 779O mambembe / 845As sobrecasacas /
953Guanabarina / 977O ano que passa / 1085Como nasceu o Teatro de
Artur Azevedo / 1.189Comdias, burletas e outros / 1,197O
dote/l.199O orculo / 1.251Entre a missa e o almoo / 1.273O cordo /
1.287O genro de muitas sogras / 1.323Vida e morte / 1.369Canonetas
/ 1.419Monlogos / 1.429Fragmentos, alegorias e cenas / 1.463Teatro
a vapor (sainetes) / 1.501Bibliografia comentada de Artur Azevedo /
1.699
-
AMOR AO PLO
Pachuchada em um ato e dois quadros
por
UM POETA1
que deseja guardar o annimo e as porcentagens
-
A ARTUR AZEVEDO
O. D. C.
O Autor
-
PERSONAGENS
O CONTRA-REGRA
PRIMEIRO CAVALEIRO
SEGUNDO CAVALEIRO
TERCEIRO CAVALEIRO
A CONDESSA
A AIA
ATORES
SenhorIRANDO
Senhor A. MESQUITA
Senhor IINTO
Senhor CSAR DE LIMA
Senhor PORTUGAL
Senhor LOURO
Senhor OLIVEIRA
Senhor BATISTA
Dona PEPA Ruiz
Dona MARIA FALCO
Cavaleiros, monteiros, coiteiros, montamzes e aias.
-
M enoQ
Quadro l
Plataforma de castelo com parapeito. Porta esquerda dando pira
oexterior, e porta direita dando para o interior do castelo. Ao
fmdo,
paisagem.
Cena l
A SENTINELA
(,4o levantar o pano, a Sentinela passeia ao fundo, com a lance
aoombro e a trompa a tiracolo.)
CORO INTERNO
Na extrema do horizonteDesaparece o sol,E j no doura o monteO
flgido arrebol.Volvamos sem demoraAo bem ditoso lar,Que o nosso
corpo agoraPrecisa repousar.
A SENTINELA (Declamando, enquanto as vozes se afastam.):Os
camponeses felizes,A tarefa terminada,Vo cantando pela estrada,Vo
abraar os petizes.(Passeia. Pausa.) triste fado o meu fado,Pois
numa noite to fria,At que desponte o dia,De frio todo engelhado,Eu
vou fazer sentinela,Enquanto a esposa mesquinha,Chorosa, triste,
sozinha,No nosso tugrio vela.
-
! ,'f. TEATRO DE ARTUR AZEVEDO
(l'tiii
-
l TEATRO DE ARTUR AZEVEDO
(A Sentinela.)A SENTINELA:O BOBO:
A SENTINELA:
O Mono:
A Si NTINHLA:
O
Que um bobo no diz bobagens,E que tem certas vantagensFalar
pelos cotovelosOu pelas tripas de Judas!Ol! Z! Eu vou falar!Pois
fala!
Se eu me esfalfar,Se eu rebentar, no me acudas!(Desce ao
proscnio.)O meu assunto profundoVai ser a pana... oh! a pana!Eis a
base em que descansaO movimento do mundo!O velho, o moo, a criana,O
rico e tambm o pobre,Seja vilo, seja nobre,Tm o cuidado da pana.No
pode a filosofiaDo sbio mais avisadoConsolar o desgraadoQue tenha a
pana vaziaOu no tenha a pana cheia,Pois que toda a humana lideS em
trs coisas reside :Almoo, jantar e ceia.E notem bem: eu concedoQue
apresentem, como emenda,Ao meio-dia merendaE caf de manh cedo.
Fala-s, vai-te embora!No digas tanta tolice!Basta de tagarelice!J
falas h meia hora!Bpede implume, tu sabesQuem s, e de que s
formado?Sim, eu sei que sou soldadoE aqui estou de...
No acabes!Oh! tu no sabes, criana...N
-
< l Itmin:
TEATRO DE ARTUR AZEVEDO
Bom. AdioO monlogo pra logo,Porque eu, quando monologo,Falo trs
horas a fio.
(Msica. A Condessa entra arrebatadamente, acompanhada pelaAia, e
por outras Aias, que formam o coro.)
Cena III
Os mesmos, a CONDESSA, t? AIA, Aias
Copias
l
A CONDESSA: O meu maridoEstremecido
Foi hoje caa mal despertou;So seis e meia,Hora da ceia,
E da caada no regressou!Estou nervosa,Vertiginosa!
No sei deveras o que pensar!PressentimentosMais agourentos
No poderiam me torturar!Nem um telegrama!Nem um bilhetinho!Pobre
de quem amaO seu maridinho!
CORO: Nem um telegrama! etc.
A CONDESSA:
II
ProvavelmenteHouve incidente:
AMOR AO PELO 4 1 1
Caiu, feriu-se, pobre rapaz!Mas por desgraaQue h caa e caa
Do Teatro Apoio diz o cartaz.Sou violenta!Sou ciumenta!
Penso que o Conde no foi caar!Aqui me encontra,Se ele
bilontra,
Cum bom cacete para o ensinar!Ficar na camaEm lenis de
linho!Assim faz quem amaO seu maridinho!
CORO: Ficar na cama, etc.A CONDESSA (Declamando.):
Sentinela, no vs nada?A SENTINELA: Nada, Senhora Condessa.A AIA:
provvel que aparea
Antes de noite fechada.A CONDESSA (As Aias.):
Ide ver, amigas minhas!(As Aias aproximam-se todas do parapeito
ao fundo.
No vedes o meu senhor?A AIA: Vejo apenas um pastor,
Recolhendo as ovelhinhas.A CONDESSA: Sentinela, toca a trompa!(A
Sentinela obedece.)O BOBO; o tintureiro que passa?A CONDESSA:
Ningum responde, oh, desgraa!O BOBO ( Condessa.):
D que o bobo te interrompa.A CONDESSA: Fala, bobo.O BOBO: Fica
mansa.
Tu desse modo raladaNo adiantas mesmo nada,Porque este mundo uma
pana.'E tu s um louco.
oao
A CONDESSA;A AIA (Ao fundo.
Senhora,
-
4M TEATRO DE ARTUR AZEVEDO
L chegam trs cavaleiros!Vm galopando ligeiros,Todos ca lngua de
fora!
A CONDESSA: Cavaleiros? E eu assim!Em que pese o meu
desgosto,Vou pr p-de-arroz no rosto,Vou pr nos lbios
carmim.Recebei-os.
O BOBO (Consigo.):Caradura!
Mesmo nestas circunstncias,Cheia de sustos e de nsias,No se
esquece da pintura! ]
Cena IV
V
O BOBO, a SENTINELA, a AIA, PRIMEIRO CAVALEIRO,SEGUNDO
CAVALEIRO, TERCEIRO CAVALEIRO, Aias
Terceto
Os TRS CAVALEIROS:
A AIA :< > IIHHI:
De longe vimosA galopar,Vencendo lguasPra c chegar!Nossos
ginetesDevem estarArrebentadosDe tanto andar!
Viemos a galope!Ope! Ope! Ope! Ope!
E com prazer tomvamos um chope!Ope! Ope! Ope! Ope!...
CAVALEIRO:A Condessa onde est?
Na sua alcova.Sim, foi pintar-se para receber-vos.
AMOR AO PLO l > l
A AIA (Aparte.):Bobo indiscreto! bole-me cos nervos!
O BOBO (Aos Cavaleiros.):Vs tambm precisveis de uma escova:
Vindes cheios de p.PRIMEIRO CAVALEIRO:
Cala-te, Fala-s:Viemos trazer uma notcia triste...
O Conde...TODOS: Que h?O BOBO: Morreu?A AIA: J no
existe?PRIMEIRO CAVALEIRO:
Aqui ningum nos ouve...Vou dizer-vos o que ouve:
(Chegam-se todos ansiosos, e o Cavaleiro fala com
mistrio.)Aquilo da caada era uma histria.
TODOS: Era uma histria?PRIMEIRO CAVALEIRO:
coisa j notriaQue h trs lguas daqui o nosso CondeUma mulata de
espavento esconde,Por sinal feiticeira...
TODOS: Feiticeira?PRIMEIRO CAVALEIRO:
Passou com ela esta manh inteiraE juntos almoaram mocot.
TODOS: Mocot?O BOBO: Que perigo!A AIA: Causa d!PRIMEIRO
CAVALEIRO:
E tranquilo, na casa em que era dono,O falso caador ferrou no
sonoE dormiu a seguir seis horas!
TODOS: Que horror!SEGUNDO CAVALEIRO:
Quando acordou, foi ter conosco,Que sua espera estvamos,
tenazes,E nos disse naquele estilo toscoQue j lhe conheceis: - "Ol,
rapazes!
-
Ml TEATRO DE ARTUR AZEVEDO
> /.>)&*r-V
Se eu voltar ao casteloE no justificar tanta demora,
Com certeza a senhoraMe bate, e eu tenho muito amor ao
plo...Ide na frente, pois, e dai-lhe avisoDe que eu tive um
desmaio, e foi precisoMais tempo aqui ficar do que devia."
TERCEIRO CAVALEIRO:E viemos os trs em companhia,Patati patat,
por a fora,Pregar uma patranha tal senhora.
(Repetio do ltimo motivo do canto precedente.)PRIMEIRO
CAVALEIRO:
Espero que sejais discretas e prudentesA AIA: Descansai, que no
damos
Com a lngua nos dentes.O BOBO: A Condessa a vem.TODOS: Psiu!O
BOBO: Ora vamos!
v.. Bem merece uma esposa que lhe bataQuem troca este peixo pela
mulata!
Cena V
Os mesmos, ff CONDESSA, depois Coiteiros,
Monteiros,Montarazes
A CONDESSA: Que novas me trazeis de meu marido?Por que tanta
demora!
(Ou Cavalciros-conservam-se curvados e silenciosos.)Essa
mudez
Enche-me a alma de horror! Est ferido?Moribundo estar? Morto,
talvez?
Oh! dizei por piedade! tal silncio estranha crueldade!
Eu quero... eu quero v-lo!Inda est vivo, espero!
AMOR AO PELO 435
Dizei-mo! Oh! no sabeis como lhe:juero,
Apesar de chegar-lhe a roupa ao plOh, que silncio horrendo!Que
cabeas curvadas!
Meu Conde, meu senhor, eu mearrependo
De te haver prometido umas lambadcs!PRIMEIRO CAVALEIRO:
O Conde vem a.A CONDESSA: Vivo?PRIMEIRO CAVALEIRO:
No sei.A CONDESSA (.4o segundo Cavaleiro.):
Morto?SEGUNDO CAVALEIRO:
No sei.A CONDESSA (Ao terceiro Cavaleiro.):
Ferido?TERCEIRO CAVALEIRO:
No direi.PRIMEIRO CAVALEIRO:
Ides v-lo.SEGUNDO CAVALEIRO:
Ele a vem.O BOBO: Vem de charola,
Deitado numa bela padiola.PRIMEIRO CAVALEIRO (-4o regente da
orquestra.):
Faz favor de tocar a marcha fnebre?A CONDESSA: Marcha fnebre?
Oh, fados meus tiranos!
Agora j no pode haver mais dvida:Enviuvei, e inda no fiz trinta
anos!
(Marcha fnebre em surdina pela orquestra.)
Ele onde est?TERCEIRO CAVALEIRO:
J vem.
-
TEATRO DE ARTUR AZEVEDO AMOR AO PLO 437
hiiMWRo CAVALEIRO:Quatro coiteiros
A chegar devero ser os primeiros.(ltilram quatro Coiteiros.)A (
'ONDESSA (Dando um passo para a porta.):
Mas agora...SECUNDO CAVALEIRO (Retendo-a.)
Vm mais quatro monteiros.(tiniram os quatro Monteiros.)A
CONDESSA (Dirigindo-se para a porta.):
Ah! enfim...TERCEIRO CAVALEIRO (Retendo-a.):
Vm mais quatro montarazes.(Entram quatro Montarazes.)O BOBO:
Estes quatro rapazes
Mais me parecem moos de forcado!A CONDESSA: Ei-lo! Agora que
chega o meu amado!
(Vai ao encontro da padiola que traz o Conde, e que vem
carregadapor quatro homens, que a arriam no centro da cena. A
Condessa
ajoelha-se junto padiola.)
Oh, meu senhor! meu Conde!Olha! Sou eu! Escuta-me! Responde!
cus! ele respira! a coxa mexe-se!No estou viva! vivo o meu
Senhor!
(Hrguendo-se.)A que vem, nesse caso a marcha fnebre?
(Ao regente da orquestra.)Pare, faa favor!
(( V.s.sfi a marcha fnebre.)Para o quarto solcitos
levemo-lo,
No dessa marcha ao som...Venha o maxixe, que o maxixe bom!
Que o meu amadoNo faleceu! minha gente,Com rebulioCai no
servio,Que o mando eu!(Dana geral.)
CORO: Venha um maxixe,Bem requebrado,Que o seu amadoNo faleceu!
minha genteCom rebulioVai no servio!Valeu! valeu!...
(Retiram-se todos pela direita, danando e levando a padiola.
Sficam em cena a Sentinela ao fundo, e o Bobo, no proscnio, de
braos cruzados, pensativo.)
Cena V
A SENTINELA, o BOBO
>d,Ha2'Ji3glI
Maxixe
Venha um maxixeBem requebrado,
A SENTINELA (No fundo, consigo.):Est tudo descuidado...Ora
adeus! haja o que houver,Vou ter com minha mulher,Que est me dando
cuidado.Acharo que eu tenho telha,E aos meus deveres me roubo,/)Mas
que a frase do bobo IPs-me a pulga atrs da orelha'*) AflonH-/.(Sa
peia esquerda.)
Aaf{
-
MKTEATRO DE ARTUR AZEVEDO AMOR AO PLO 439
Cena VI
O BOBO, s, depois o CONTRA-REGRA
O BOBO: Mas, como eu ia dizendo:As mulheres, meus senhores,So
demnios tentadoresQue eu descrever no pretendo,Pois quem se
arrogasse um diaA tarefa de estud-las,Ver-se-ia metido em talasE o
seu latim perderia.Entre quantas apareamNingum achar jamaisDuas que
sejam iguaisNem mesmo que se paream.E muita vez aconteceCoisa muito
curiosa:Uma mulher caprichosaNem consigo se parece.De manh 'st
satisfeita,Rabugenta ao meio-dia,Depois de jantar macia,Furiosa
quando se deita,Se agora toda candura.Logo mais delambida;Hoje o
encanto da vidaE amanh ningum a atura!Se est com o esposo felizNuma
harmonia de dueto,De repente diz que pretoQuando que branco ele
diz.E se acaso...
O CONTRA-REGRA (Aparecendo esquerda.): Fala-s,
Acaba ca falao!Espera-se por ti sPra fazer a
mutao!(Desaparece.)
O BOBO (S.): o Contra-Regra. Meu Deus!Hoje sina minha
(Ao pblico.) ou vossaQue impingir-vos eu no possaUm monlogo dos
meus!(Sai pela esquerda.)
(Mutao.)Quadro 2
Aposento no castelo. Ao fundo porta larga, fechada por uma
cortna,dando para o quarto do Conde.
OflTAUO Cena l
[FALA-S, s]
FALA-S (Que entra e continua o seu monlogo como se no
tivessehavido mutao.):
Sim, as mulheres so bichosBem difceis de aturar,Pois que nos
fazem bufarCom os seus constantes caprichos,Quantos, queixosos da
sorte.Queixosos do casamento,Vo alvio ao seu tormentoBuscar nos
braos da morte!Mas, apesar dos pesares.Que noite e dia o consomem,O
grande caso que o homemPela mulher bebe os ares.E se o marido
suspiraPela sua liberdade,Perdendo a cara-metade,A outra logo se
atira!Em vindo a idade da crise.No h ningum que o imposto
-
TEATRO DE ARTUR AZEVEDO
No pague mulher por gosto,Por gosto no se escravize.E, se l de
vez em quando.Ns...
(Interrompendo-se por ouvir passos e ver agitar-se a cortina do
fundo.)Bem! l vem a Condessa!
Ora! que sempre apareaAlgum quando estou falando!
Cena M
FALA-S, a CONDESSA, o MDICO, os QUATRO CAVALEIROS
A CONDESSA:
O MDICO:
(Entram todos silenciosos. Pausa.)
Mas enfim, que me diz. doutor?,,que pensa?
Penso, minha senhora,Que os meus oitenta vou fazer agoraE nunca
vi to singular doena.O Conde deu um tombo do cavalo;No foi
isso?
Os CAVALEIROS: Podemos atest-lo.O MDICO: Os sentidos perdeu?Os
CAVALEIROS: PerdeuO MDICO: Pois bem;
Nenhuma contuso no corpo tem!FALA-S; Nem ao menos um galo!0
MDICO: No lhe di a cabea, nem o brao!
No sente a menor coisa no espinhao!Respira livremente
E at parece que no est doente!A CONDESSA: Ento por que se cala?1
' Mrniro: Tem os olhos fechados, e no fala
Nem mo de Deus Padre!
AMOR AO PLO 441
FALA-S: Que estopadaTanto tempo ficar sem dizer nada!
O MDICO: vista de uma coisa to estranha,Se outro fosse o
enfermo,
Eu diria.., No digo...A CONDESSA: H de dizer-mo!O MDICO: Eu
diria que aquilo era patranha,
Que estava o Senhor Conde a fazermanha...
PRIMEIRO CAVALEIRO:Manha!
SEGUNDO CAVALEIRO:
TERCEIRO CAVALEIRO:Que ideia!
Que tolice!PRIMEIRO CAVALEIRO:
O MDICO:
O CondeEst realmente enfermo.
Enfermo? Onde?Ele que sente? o que lhe di?
PRIMEIRO CAVALEIRO:No sei;
Mas muito enfermo est - digo e direi.A CONDESSA (Que ficou
impressionada com a insinuao do mdico.).
Manha, disse o doutor... Manha?Quem2 sabe?...
O MDICO:
A CONDESSA:
Em suma... eu nada fao... e no mecabe
Desta visita receber o preo:No h molstia, e, se h, no a
conheo.Manha, disse o doutor... isso, !Ah! mas o Conde h de
pagar-me,
ol!...
Coplas
l
Eu tudo agora adivinho!No h mais que duvidar!
-
TEATRO DE ARTUR AZEVEDO AMOU AO PELO 443
Tonos:A CONDESSA:
TODOS:
A CONDESSA:
Mas pra c vens de carrinho!No me deixo engazopar!Ai! quando eu
verificar
Que manha...Que manha...
Pode o tratante contarQue apanha!Que apanha!
II
Cuida o tipo que me embaa,Mas no sabe o que eu c sou!Se foi caa
aquela caaEu c sei o que caou!Se uma peta me pregou
Tamanha...TODOS: Tamanha...A CONDESSA: Desta mo, que j
provou,
Apanha!TODOS: Apanha!...
(A Condessa entra no quarto do Conde.)PRIMEIRO CAVALEIRO:
Vai haver o diabo a quatro!SEGUNDO CAVALEIRO:
Um escndalo!TERCEIRO CAVALEIRO:
Medonho!O MDICO: Daqui pra fora me ponho:
Temos cena de teatro!PRIMEIRO CAVALEIRO (Ao Mdico.):
F-la bonita o doutor!No podia estar calado?Indiscreto!(Entra no
quarto.)
SECUNDO CAVALEIRO:Desastrado!(Entra no quarto.)
lMc i.iio CAVALEIRO:Velho idiota e maador!(Entra no quarto.)
Cena III
O BOBO, o MDICOO MDICO (Atnito.):
Que fiz eu a este pessoal?O BOBO: D-lo ao desprezo tu deves:
Com quantas letras escreves"Cavaleiros" no plural?
O MDICO: Mas ofendeu-me essa gente!O BOBO: Deix-la. Sou teu
amigo
E simpatizo contigo:Tu vais curar o doente!
O MDICO: Ora faze-me favor:O doente, doente no est!
O BOBO: Sempre um doente haverOnde quer que haja um
doutor.Trouxeste a tua seringa?
O MDICO (Tirando da algibeira uma grande seringa.):C est! No
ando sem ela;
O BOBO: Pois entra e, sem mais aquela,Dos onze-letras te
vinga,Dizendo que s ca ajudaDesse instrumento famosoPodes curar o
manhoso.Vers como a coisa muda!Mesmo presente a madama,O Conde, ao
ver o instrumento,H de falar num momentoE dar um salto da camaEm
que finge estar de molho.Vai! Mas v tu l!
O MDICO: Descansa.(Afastando-se, parte.)
Sim, senhor! esta lembrana mesmo de encher o olho!...
-
TEATRO DE ARTUR AZEVEDO
Cena IV
O BOBO
(Depois de acompanhar o Mdico at a porta do quarto, desce
aoproscnio.):
Mas como eu ia dizendo...Sim... se l de vez em quandoEla
protesta gritando,Protestemos ns batendo,E a mulher fica
mansinhaComo um cordeiro, o que provaSer para ela uma sovaA mais
eficaz mezinha,E que dispensa o doutor...Deixem o rabe dizerQue no
se deve baterNa mulher nem co'uma flor;Sim, porque a todo o
maridoQue, como o Conde, covarde,H de acontecer mais tardeSer pela
esposa batido;E se ele...
No! Isso no!Ouvem? J fala!
^ No quero!A Voz DO MDICO: H de querer!A Voz DO CONDE: No
tolero!O BOHO: . No disse? Que efeitarro!...
(Grande altercao no quarto. Ouvem-se as vozes do Conde,
daCondessa, do Mdico e dos Cavaleiros. Entra o Conde eme barrete de
dormir, perseguido pelo Mdico com a seringa naEntram a Condessa e
os Cavaleiros. Msica na orquestra. Etilnnn
as Aias, os Coiteiros, etc.)
A Voz DO CONDEO BOBO:A Voz DO CONDE
AMOR AO PLO
Cena V
45
O BOBO, o CONDE, a CONDESSA, o MDICO,os Cavaleiros, as Aias,
etc.
CORO: Que gritaria!Que aconteceu?Que mais seria?Que sucedeu?
O Senhor Conde faleceu!
(Continua a msica em surdina na orquestra at o final]A CONDESSA
(Que empunha uma vara de marmeleiro.):
Ah! tratante! espera l...O CONDE: Oh! perdo, esposa amada!A
CONDESSA: Tu vais apanhar pancada
De criar bicho!O CONDE: Ouve l!
Eu confesso-me culpado,Mas estou arrependido;Ters um fiel
maridoDe agora em diante ao teu lado!
A CONDESSA: No perdoo!O CONDE (Ajoelhando-se.):
Malvina amada,V que pesar me consome!Nunca!A CONDESSA:
O BOBO ( parte.
A CONDESSA:O CONDE:A AIA:TODOS:A CONDESSA:O CONDE:
Malvina - este nomeFaz lembrar a goiabada...No perdoo!
Sim... perdoa!...Perdo, senhora!
Perdo!No! no! no! no! no! no! no!Sim! sim! sim! sim! Tu s
boa!
^,-. /r- f --, \ CONDE (Erguendo-se enfurecido.):Tl - J lPois no
perdoes!
A CONDESSA: No perdoo!
-
l l" TXATRO DE ARTUR AZEVEDO
\.\in-hdta-lhe a vara.)Venha a vara de marmelo!No quero mais no
casteloO carro adiante dos bois!No perdoas?
A CONDESSA (Abraando-o.):Sim perdoo!...
Gostei da tua energia!...O BOBO (Ao pblico.):
Ento, hein? No lhes dizia?A coisa cortar o voo.
A CONDESSA: Perdoo, mas, meu amigo,De hoje em diante - hs de
jurarNunca mais irs caar...
O CONDE: S hei de caar contigo.
oaoao
.
O BOBO (Vindo ao proscnio e preparando-se para monologar.):Meus
senhores...
A CONDESSA (Tapando-lhe a boca.)-.Eh! quem sabe
bobo, pai da maada,Se queres que a pachuchadaPor um monlogo
acabe?
O BOBO: Tem razo, minha senhora;Seria coisa esquisita.Maestro,
vamos, repitaO maxixe de inda agora.
O BADEJO
Comdia em trs aios, em verso
Representada pela primeira vez no Rio de Janeiro, no Teatro
SoPedro de Alcntara, no dia 15 de outubro de 1898, por iniciativa
do
CENTRO ARTSTICO pelo corpo cnico do ELITE-CLUB.
Ao Doutor Joo do Rego BarrosAMIGO DA ARTE E DOS ARTISTAS
O.D.C.Artur Azevedo
A CONDESSA:
Canfo
Venha um maxixe, etc.
(Repetio pelo coro. Dana geral.}
(CaiN( >TAS
l |{st,i | vi de Artur Azevedo uma pardia pea Pelo Amor, de
CoelhoNrlo. (Nota do Editor.
a.!....-/ (Jll( :j"u- '^dlai1