Universidade de Brasília Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas Departamento de Administração AMANDA BOAVENTURA XAVIER ATITUDE EMPREENDEDORA DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO DISTRITO FEDERAL Brasília – DF 2018
77
Embed
AMANDA BOAVENTURA XAVIERbdm.unb.br/bitstream/10483/20685/1/2018_AmandaBoaventuraXavier_tcc.pdf · AMANDA BOAVENTURA XAVIER ATITUDE EMPREENDEDORA DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO DISTRITO
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Universidade de Brasília
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas
Departamento de Administração
AMANDA BOAVENTURA XAVIER
ATITUDE EMPREENDEDORA DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO DISTRITO FEDERAL
Brasília – DF
2018
AMANDA BOAVENTURA XAVIER
ATITUDE EMPREENDEDORA DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO DISTRITO FEDERAL
Monografia apresentada ao Departamento de Administração como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Administração.
Professor Orientador: Prof. MSc.
Nathália de Melo Santos
Brasília – DF
2018
AMANDA BOAVENTURA XAVIER
ATITUDE EMPREENDEDORA DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO DISTRITO FEDERAL
A Comissão Examinadora, abaixo identificada, aprova o Trabalho de Conclusão do Curso de Administração da Universidade de Brasília da aluna
Amanda Boaventura Xavier
MSc. Nathália de Melo Santos
Professora-Orientadora
MSc. Lana Montezano da Silva MSc. Isadora Bacha Lopes Professora-Examinadora Professora-Examinadora
Brasília, 22 de junho de 2018.
Aos meus irmãos, Vítor e Bruno, meus melhores amigos e incentivadores.
AGRADECIMENTOS
Augusto e Adriana, meus amados pais, por tudo. À Deus, por me guardar ao longo de minha trajetória acadêmica. Ao cuidado e disponibilidade de minha querida orientadora, Prof. Nathália de Melo Santos, que sempre incentivou e apoiou essa produção acadêmica, estimulando o pensamento crítico e o bom desenvolvimento desse trabalho. Sua participação foi fundamental para a conclusão dessa monografia, sou muito grata por sua dedicação e confiança. Aos meus avós Máximo (em memória), Lizette e Mozart. Em especial a minha avó Dalci (em memória), por ser meu maior exemplo de força e dedicação. Ao meu irmão, Vítor, e meu primo, Arthur, por dedicarem seus esforços para o desenvolvimento dessa pesquisa. Ao meu namorado, Mateus, por seu carinho e suporte. Aos colegas da AD&M Consultoria Empresarial e, principalmente, da Secretaria Jurídica e de Documentação da PGR, que me prepararam para a vivência no mercado de trabalho.
Aos queridos Gabriela Villar, Giovanna Cristina, Luana Cruz, Luisa Barbirato, Matheus Martins, Sofia Porto, e a todos os demais amigos que contribuíram para a conclusão desse trabalho.
“Viva os malucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os desordeiros. Os peixes fora d’água. Os que veem as coisas de modo diferente. Eles não gostam de regras. E não têm respeito algum pelo status quo. Pode-se citá-los, discordar deles, glorificá-los ou difamá-los. A única coisa que não se pode fazer é ignorá-los. Porque eles transformam as coisas. Empurram a humanidade à frente. E enquanto alguns talvez os vejam como malucos, nós vemos genialidade. Porque as pessoas que são malucas o bastante para achar que podem mudar o mundo, são as que de fato o mudam.”
(Apple)
RESUMO
Esse trabalho tem a finalidade de comparar se existe diferença quanto à atitude empreendedora dos estudantes universitários do Distrito Federal, participantes ou não do Movimento Empresa Júnior (MEJ), a partir de um estudo de caráter descritivo e natureza quantitativa. Para a coleta de dados, o IMAE – Instrumento de Mensuração de Atitude Empreendedora -, construído por Souza e Lopes Júnior (2013), foi utilizado e aplicado com 432 estudantes universitários do DF. As respostas obtidas foram analisadas a partir de estatística descritiva e de teste de hipóteses não paramétrico. O perfil da amostra estudada é traçado, sendo que, em sua maioria, estudam na Universidade de Brasília (UnB), estão matriculados no curso de Administração, participam ou participaram do MEJ e de outras atividades extracurriculares, são homens, na faixa etária de 19 a 23 anos, e possuem renda familiar mensal superior a R$8.434,00. Os resultados principais demonstram que existe diferença entre grupos de alunos participantes e não participantes do MEJ em relação à atitude empreendedora.
Palavras-chave: Empreendedorismo. Atitude Empreendedora. Movimento Empresa Júnior.
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Número de publicações por ano .................................................... 31
Gráfico 2 – Países onde os estudos foram publicados .................................... 32
Gráfico 3 – Métodos de coleta de dados .......................................................... 35
Gráfico 4 – Diagrama circular da natureza das Intituições de Ensino Superior 49
Gráfico 5 – Diagrama de barras das Instituições de Ensino Superior .............. 50
Gráfico 6 – Diagrama circular da participação no MEJ .................................... 52
Gráfico 7 – Diagrama circular das categorias das EJs ..................................... 53
Gráfico 8 – Diagrama circular da participação em atividades extracurriculares
diferentes de EJs .............................................................................................. 54
Gráfico 9 – Diagrama de barras das atividades extracurriculares .................... 55
Gráfico 10 – Diagrama circular do sexo ........................................................... 55
Gráfico 11 – Diagrama de barras da idade ...................................................... 56
Gráfico 12 – Diagrama de barras da renda domiciliar mensal.......................... 57
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Testes de normalidade .................................................................... 46
Tabela 2 - curso de graduação x frequência de resposta ................................ 51
Tabela 3 - Medidas descritivas das variáveis do IMAE .................................... 57
Tabela 4 - Médias dos grupos de alunos para cada dimensão do IMAE ......... 59
Tabela 5 - Resultados da aplicação do Teste de Kruskal-Wallis - Dimensão
APÊNDICE A – FORMULÁRIO APLICADO ................................................... 72
14
1 INTRODUÇÃO
A primeira seção desse trabalho retrata uma breve contextualização a
respeito do assunto em estudo e busca, a partir das pesquisas realizadas,
esclarecer como se deu a problematização elaborada e a formulação dos
objetivos propostos. Ao final, a justificativa pelo tema selecionado é
apresentada.
1.1 Contextualização
A criação e o desenvolvimento de empresas são fundamentais para o
crescimento sustentável e o progresso de um país, desenvolvendo-o tanto no
âmbito econômico, quanto social e cultural (LOPES JÚNIOR; SOUZA, 2005).
Apesar da importância da atividade empresarial para o avanço econômico e a
evolução da sociedade, muitos países apresentam altas taxas de mortalidade
de empresas ao longo do tempo. No Brasil, por exemplo, as taxas de
mortalidade estão entre 54% e 77% nos dois primeiros anos de vida das
organizações (SEBRAE, 2016). Nesse sentido, a busca por alternativas que
garantam a sobrevivência e a sustentabilidade de empresas vem tornando a
gestão cada vez mais empreendedora (LOPES JÚNIOR; SOUZA, 2005).
O empreendedorismo é um conceito que apresenta diversas correntes
de pensamento, é um conteúdo dinâmico, porém todas as suas definições são
complementares e interagem entre si (FRANCO; GOUVÊA, 2016).
Independente do ponto de vista, o empreendedorismo não pode ser entendido
apenas como o processo de criação de um novo negócio, mas sim, como “um
conjunto de práticas apropriadas para garantir a geração de riqueza e um
melhor funcionamento àquelas sociedades que o apoiam e o praticam”
(FRANCO; GOUVÊA, 2016, p. 163).
Diante da importância do assunto, o interesse está na identificação dos
valores, hábitos e competências que o indivíduo empreendedor deve
apresentar como características e, com maior relevância, como desenvolver
essas competências no âmbito profissional (SOUZA; GUIMARÃES, 2005).
Atitude empreendedora, nesse sentido, é entendida como a
“predisposição aprendida, ou não, para agir de forma inovadora, autônoma,
15
planejada e criativa, estabelecendo redes sociais” (SOUZA; LOPEZ JÚNIOR,
2005).
Pessoas com traços criativos, condicionadas a enfrentar mudanças de
maneira inovadora e confiante, liderando grupos e demostrando bom
relacionamento interpessoal passaram a ser demandadas, em especial em
locais aonde o conhecimento e a tecnologia tornaram-se essenciais (SOUZA;
SOUZA, 2006). A formação e a capacitação dos atores dizem respeito a
conhecimentos e habilidades apresentados pelo indivíduo, assim como a
procura por auto realização e por se comportar de forma criativa, elementos
indispensáveis ao se tratar do empreendedorismo (SOUZA; LOPEZ JÚNIOR,
2005).
1.2 Formulação do problema
Nesse contexto de formação e capacitação de indivíduos, o Movimento
Empresa Júnior (MEJ) atua no Brasil desde 1988. Possuindo como propósito a
busca por um Brasil Empreendedor, o MEJ tem como objetivo formar jovens
comprometidos e capazes de transformar o país. O Movimento é representado
por mais de 15.000 estudantes universitários, distribuídos por todo território
nacional, que buscam o desenvolvimento de competências empreendedoras a
partir da participação de projetos de consultoria em diferentes áreas do
conhecimento (ZANINI et al., 2016). As Empresas Juniores (EJs) buscam
trabalhar pelo progresso e sobrevivência dos negócios de seus clientes, o que
evidencia a realidade empreendedora em que esses jovens estão inseridos.
O MEJ apresentou um faturamento total de aproximadamente 9 milhões
de reais no ano de 2016, o que demonstra o impacto que o mesmo apresenta
no contexto econômico do país (ZANINI et al., 2016). O Movimento propõe-se a
transformar o Brasil, ao motivar mudanças no comportamento dos atores
envolvidos, e ao desenvolver habilidades e competências características da
atitude empreendedora.
Partindo do pressuposto de que a formação da atitude empreendedora
nos indivíduos tem grande importância na realidade de um país, e que o MEJ
busca formar jovens universitários empreendedores, tem-se a seguinte
16
pergunta de pesquisa: existe diferença entre grupos de alunos participantes e
não participantes do MEJ em relação à atitude empreendedora?
1.3 Objetivo Geral
A fim de responder à questão de pesquisa proposta, esse trabalho tem
como objetivo geral comparar se existe diferença relativa à atitude
empreendedora entre jovens universitários brasilienses que participam ou já
participaram do MEJ e os que nunca participaram.
1.4 Objetivos específicos
Para auxiliar no alcance do objetivo geral, têm-se os seguintes objetivos
específicos:
(i) identificar a atitude empreendedora dos jovens universitários
brasilienses, através da aplicação do Instrumento de Mensuração da Atitude
Empreendedora (IMAE);
(ii) descrever o perfil de atitude empreendedora de jovens universitários
do Distrito Federal;
(iii) comparar o perfil de atitude empreendedora entre grupos de alunos
participantes e não participantes do MEJ no Distrito Federal.
1.5 Justificativa
O empreendedorismo possui diferentes definições e pontos de vista,
todos relacionados e complementares. Por consequência, seu campo de
estudo é “explicitamente aberto e exige novas perspectivas, mais pesquisas e
práticas que contribuam para sua distinção e desenvolvimento” (FRANCO;
GOUVÊA, 2016, p. 163). Desse modo, esse estudo espera entregar
conhecimentos e dados sobre a atitude empreendedora, que favoreçam o
desenvolvimento de mais trabalhos a respeito do assunto.
O IMAE – Instrumento de Mensuração da Atitude Empreendedora –
obteve índices de validação positivos ao longo de suas aplicações. Contudo,
seus idealizadores, Souza e Lopes Júnior (2005), sugeriram a revalidação em
contextos de diferentes populações. Os autores propuseram a “utilização do
IMAE em pesquisas analisando construtos relacionados com o
empreendedorismo, em estudos que façam comparações de diferentes grupos,
17
com indivíduos que estejam ou não envolvidos em projetos de
desenvolvimento” (SOUZA; LOPES JÚNIOR, 2005, p. 19). Desse modo, o
presente estudo espera contribuir para a proposta apontada, ampliando a
utilização do instrumento em diferentes contextos.
Nesse sentido, pode-se enfatizar a relevância do estudo sobre a atitude
empreendedora em estudantes universitários, visto que, como afirmaram
Souza e Guimarães (2005, p. 5), “o desenvolvimento e até mesmo a
sobrevivência das organizações dependem, em grande parte, da formação e
da capacitação dos seus atores”.
Este trabalho é composto por 6 seções, incluindo a presente introdução.
A seção seguinte apresenta o referencial teórico dessa pesquisa, abarcando os
conceitos sobre empreendedorismo, MEJ e atitude empreendedora. Em
seguida, a seção 3 traz um estudo aprofundado, chamado de análise
bibliométrica, dos aspectos bibliográficos sobre as publicações dos últimos 5
(cinco) anos a respeito da atitude empreendedora. A seção 4 trata dos
aspectos metodológicos utilizados por esse estudo para analisar a atitude
empreendedora. A seção 5 expõe todas as análises realizadas a partir das
respostas encontradas por essa pesquisa. Por fim, a sessão 6 apresenta as
considerações finais a respeito de todo o estudo.
18
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Essa seção traz uma sucinta abordagem acerca do conceito de
empreendedorismo, onde é observada sua evolução histórica, como também
as principais teorias sobre o tema. Considerações sobre a realidade do
Movimento Empresa Júnior (MEJ) no Brasil são apontadas, além de definições
sobre o termo atitude empreendedora.
2.1 Empreendedorismo
O conceito de empreendedorismo não possui uma definição exata, mas
passou por diversas transformações ao longo da história, o que contribuiu para
o surgimento de diversas correntes, com diferentes pontos de vista, porém que
estão inter-relacionados e que se complementam (FRANCO; GOUVÊA, 2016).
O termo “empreendedor” surgiu na França, em torno do século XV, onde
a palavra entrepreuner era usada para referir-se a quem participava e
gerenciava projetos de grande escala, como a construção de castelos e de
muros, por exemplo (HISRICH; PETERS, 2009 apud SOUZA; GUIMARÃES,
2005). Com a abertura econômica mundial, ocorrida no século XVII, o mundo
passou a ter o mercantilismo como forma de gestão econômica, o que deu
origem aos conceitos que conhecemos até hoje sobre o assunto (SOUZA;
GUIMARÃES, 2005).
Nesse contexto, empreender significava, segundo Schumpeter (1982
apud SOUZA; GUIMARÃES, 2005), “mobilizar meios para fins”, e implicava em
renovação, diferentemente da forma conhecida pela sociedade francesa até o
século XVII. O empreendedor aparecia como o personagem que emprestava
dinheiro, assim como quem estocava e comprava para vender depois,
relacionando-se com diferentes negócios, sem uma perspectiva futura. Sua
busca não era pelo poder ou reconhecimento social, mas sim pelo ganho,
passando a assumir riscos (SOUZA; GUIMARÃES, 2005).
Com a Revolução Industrial, a sociedade do século XX passou por
mudanças que afetaram em grande parte a relação entre o indivíduo e as
organizações. Novos modelos de gestão, que surgiram a partir de então,
previram um comportamento organizacional que abrange a competência para
criar e inovar por parte dos indivíduos (SOUZA; GUIMARÃES, 2005). Com
19
isso, o termo empreendedor surge com um novo conceito, descrito por Souza e
Guimarães (2005, p.8) como “um líder integrador das políticas humanísticas à
gestão estratégica, envolvendo o comprometimento dos indivíduos com a
organização”.
Desta forma, é possível perceber que o conceito de empreendedorismo
passou por uma evolução ao longo do tempo e que não pode ser entendido
como uma referência de comportamento, mas como um processo que abrange
outros fatores (FRANCO; GOUVÊA, 2016).
Landstrom e Lohrke (2010 apud FRANCO; GUIMARÃES, 2016)
afirmaram que o pensamento empreendedor possui três Eras de estudo. A
primeira Era, conhecida como “Econômica”, teve início em 1870. Nesse
momento, os economistas tinham interesse em analisar riscos, incertezas,
mudanças e a inovação, buscando a relação entre o empresário e a empresa
(FRANCO; GOUVÊA, 2016).
A segunda Era, das “Ciências Sociais”, surgiu em 1940, momento em
que o empreendedorismo passou a ser foco de interesse não só de
economistas, como também de cientistas sociais. Para os estudiosos desse
período, era importante analisar os valores e ambições do empreendedor,
juntamente com a sociedade e suas instituições, pois para essa perspectiva,
estas apresentam grande influência sobre o comportamento do indivíduo
(LANDSTROM; LOHRKE, 2010 apud FRANCO; GOUVÊA, 2016).
A terceira e última Era é chamada de “Estudos de Gestão” e teve sua
origem na década de 1970. Esta Era está voltada para pesquisas, com foco no
entendimento de “como” o empreendedor age, isto é, na visão comportamental
do indivíduo que empreende (LANDSTROM; LOHRKE, 2010 apud FRANCO;
GOUVÊA, 2016). Vale ressaltar que existe grande relação entre a segunda e a
terceira Eras, visto que ambas estudam o fator comportamental dos
empreendedores. Muitos autores irão tratá-las sem distinção (FRANCO;
GOUVÊA, 2016).
De acordo com Souza e Guimarães (2005), no campo da ciência, os
aspectos de maior notoriedade, ou seja, que são utilizados com maior
frequência, são o econômico, estudado e analisado por autores como
20
Schumpeter (1997); e o comportamental, representado por intelectuais como
McClelland (1972). A visão econômica busca associar o empreender à
inovação, ao passo que a corrente comportamental foca sua análise na
natureza criativa e intuitiva do indivíduo empreendedor (SOUZA; GUIMARÃES,
2005).
Para Schumpeter (1997 apud SOUZA; GUIMARÃES, 2005), o
fundamento do empreendedorismo está na percepção e na exploração de
novas oportunidades, usando recursos disponíveis de forma inovadora. Para
este autor, termos como “empreender” e “inovar” devem caminhar sempre
juntos. Com isso, a visão econômica e os autores a ela relacionados passam a
entender que empreendedores são indivíduos “capazes de detectar
oportunidades de negócios, de criar empresas e dispostos a correrem riscos”
(SOUZA; GUIMARÃES, 2005, p. 9).
A teoria de Schumpeter (1997 apud SOUZA; GUIMARÃES, 2005) afirma
que os empreendedores contribuem para o desenvolvimento do capitalismo e,
para isso, devem ter a capacidade de estimular a “destruição criativa”,
processo que impulsiona e mantêm em funcionamento o capitalismo, criando,
constantemente, novos produtos, modelos de produção e mercados,
sobrepondo-se a modelos antigos e menos eficientes. Sendo assim, para essa
perspectiva econômica, “empreender é inovar, é a capacidade de implementar
novas possibilidades de desenvolvimento econômico” (SOUZA; GUIMARÃES,
2005, p. 10).
A visão comportamental surgiu com Weber (1904 apud SOUZA;
GUIMARÃES, 2005), quando o pensador, em sua obra “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”, constatou valores fundamentais que moldavam a
comportamento do indivíduo empreendedor. A crença religiosa e o trabalho
ético protestante foram apontados como normas que impedem uma conduta
desalinhada por parte dos empreendedores. Dessa forma, eles alcançam
resultados organizacionais positivos, resultando, assim, em crescimento
econômico (SOUZA; GUIMARÃES, 2005).
Um dos maiores representantes da corrente comportamental,
McClelland (1972 apud SOUZA; GUIMARÃES, 2005), defendeu que a atitude
21
do empreendedor está relacionada às suas necessidades de realização e essa
última determina sua vontade para empreender. O estudioso afirmou que o
indivíduo busca empreender pela necessidade “de sucesso, de
reconhecimento, de poder e de controle”, mas que algumas características
percebidas em suas análises são relevantes para uma postura empreendedora
(SOUZA; GUIMARÃES, 2005, p. 11). A propensão a correr risco, a inovação e
o aspecto estratégico são traços interessantes e comuns de indivíduos que têm
tendência a empreender (SOUZA; GUIMARÃES, 2005).
Após o ano 1972, por aproximadamente duas décadas os autores
permaneceram afirmando que o empreendedorismo tem fundamento na
percepção de novas oportunidades de negócio e na inovação, porém
vinculadas a características comportamentais específicas (SOUZA;
GUIMARÃES, 2005).
Os autores Souza e Guimarães (2005) demonstram que o indivíduo
empreendedor busca, a partir de oportunidades que identifica no mercado,
inovar no seu tempo, tentando ao máximo diminuir possíveis riscos. Para os
autores, de acordo com o trabalho de Drucker (1986 apud SOUZA;
GUIMARÃES, 2005), traços específicos do empreendedor estão relacionados a
aprender a lidar com incertezas e ter um conhecimento rápido e coerente para
uma tomada de decisão mais adequada.
Para Filion (1991 apud SOUZA; GUIMARÃES, 2005) o empreendedor é
um ser criativo, tem um vasto conhecimento da realidade e do meio em que
vive, fazendo uso dessas características para identificar oportunidades no
mercado para empreender. O empreendedor deve ter como conduta o
interesse de aprender constantemente, tomando decisões que incentivem a
inovação, com atitudes estratégicas e alcance de objetivos (FILION, 1991 apud
SOUZA; GUIMARÃES, 2005). O autor identificou traços comuns da atitude
comportamental do empreendedor, como “inovação, criatividade, liderança,
flexibilidade, autonomia, necessidade de reconhecimento, iniciativa,
autoconhecimento, disposição a correr riscos e autoestima” (SOUZA;
GUIMARÃES, 2005, p. 11).
22
Complementarmente, o empreendedorismo pode ser explorado a partir
de seis escolas de pensamento sobre o tema, segundo Cunningham e
Lischeron (1991 apud SOUZA; GUIMARÃES, 2005). A primeira escola, a
escola do “grande homem”, afirma que o empreendedorismo é uma
competência inata ao indivíduo, que o acompanha desde o seu nascimento,
uma espécie de sexto sentido. A escola das “características psicológicas”
estabelece que o indivíduo aproveita oportunidades a partir de traços e
necessidades que o motivam a empreender (CUNNINGHAM; LISCHEERON,
1991 apud SOUZA; GUIMARÃES, 2005).
A escola “clássica” traz a inovação como traço essencial do
comportamento empreendedor, assim como afirmou Schumpeter. A quarta
escola é a “da gestão”, onde o empreendedor é o dono de um empreendimento
ou de uma empresa. A escola “’da liderança” apresenta o empreendedor
unicamente como líder, flexibilizando seu perfil de acordo com necessidades do
meio em que lidera. A última escola é a “intra-empreendedorismo”, onde
competências empreendedoras podem ser fundamentais no ambiente de uma
organização (CUNNINGHAM; LISCHEERON, 1991 apud SOUZA;
GUIMARÃES, 2005).
A evolução do conceito sobre o empreendedorismo, portanto, passou
por diversos campos de análises e por muitos autores que se dedicam a
explicação do assunto. Perspectivas históricas, econômicas, sociais, de gestão,
entre outras, foram respeitadas e apresentadas para que se entenda que o
empreendedorismo não possui um conceito unidimensional. Todas as visões e
análises sobre o tópico são complementares e não podem ser excluídas.
Fica claro que o empreendedorismo não pode ser entendido apenas
como processo de criação de novos negócios, mas sim, de acordo com Franco
e Gouvêa (2016, p. 163), como “um conjunto de práticas apropriadas para
garantir a geração de riqueza e um melhor funcionamento àquelas sociedades
que o apoiam e o praticam”, independente da corrente de pensamento seguida.
A complexidade está em identificar quais valores, hábitos e
competências o indivíduo empreendedor apresenta como principais
características e, além disso, com ainda maior relevância, como desenvolver
23
essas competências no âmbito profissional, gerando resultados positivos para
organizações e, como consequência, para a sociedade (SOUZA; GUIMARÃES,
2005).
Para a construção desse estudo, o conceito de atitude foi analisado a
seguir, buscando o alcance da clareza e do melhor entendimento do que é a
atitude empreendedora.
2.2 Atitude empreendedora
O termo atitude apresenta inúmeras definições, tratando-se de uma
complexa área de estudos da psicologia social. Rodrigues (1972, apud SOUZA;
LOPEZ JÚNIOR, 2005, p. 8) afirmou que atitudes “envolvem o que as pessoas
pensam, sentem, e como elas gostariam de se comportar em relação a um
objeto atitudinal”. Para Lambert e Lambert (1972 apud SOUZA et al., 2013),
atitude é a forma combinada e adequada de pensar, agir e reagir frente a
indivíduos, grupos, determinantes e acontecimentos sociais que envolvem todo
meio.
Ajzen (1991 apud SOUZA; LOPEZ JÚNIOR, 2005) apresenta três
determinantes do conceito em seus estudos sobre a Teoria do Comportamento
Planejado, essa que prediz e esclarece o comportamento humano em
contextos específicos: (i) atitude para o comportamento; (ii) pressão social; e
(iii) percepção de controle comportamental. Para o autor, a primeira
determinante é a atitude para o comportamento, em que expõe o grau de
avaliação pessoal, podendo ser favorável ou desfavorável, em associação ao
comportamento. A segunda diz respeito à pressão social, entendida como
influenciadora ou não do desempenho de certo comportamento por parte do
indivíduo. A percepção de controle comportamental é a terceira determinante e
condiz com a facilidade ou dificuldade de realizar um comportamento desejado
(AJZEN, 1991 apud SOUZA; LOPEZ JÚNIOR, 2005).
Sendo assim, é possível perceber que o termo possui diferentes
definições, porém todas relacionam avaliações favoráveis ou não, positivas ou
negativas, que acontecem de diferentes formas entre os indivíduos e o meio
que os envolvem. As avaliações baseiam-se em crenças, emoções,
experiências vividas e comportamentos (SOUZA, et al., 2013).
24
A atitude entendida como empreendedora pode ser considerada como
uma orientação para o comportamento empreendedor, em que características
do indivíduo e o contexto em que o mesmo vive são comprometidos, agindo
como uma “conduta voltada para o próprio homem, suas ações, visões do
mundo e formas de transformar a realidade” (SOUZA et al., 2013, pg. 232). O
comportamento empreendedor, nesse contexto, é percebido na decisão de se
criar um novo negócio, de agir de maneira inovadora, trazendo melhorias e
benefícios a processos, produtos e modelos de negócios, afetando de maneira
positiva o contexto em que se atua (SOUZA et al., 2013).
Nesse estudo, a partir das análises apresentadas, atitude
empreendedora foi entendida como “predisposição aprendida, ou não, para agir
de forma inovadora, autônoma, planejada e criativa, estabelecendo redes
sociais” (SOUZA; LOPES JÚNIOR, 2005, p.4). Com base no conceito
apresentado, a atitude empreendedora é percebida de acordo com as
dimensões de realização, poder, planejamento e inovação (SOUZA; LOPEZ
JÚNIOR, 2005).
A realização é entendida como a predisposição para se ter iniciativa,
analisar e tomar decisões de maneira enérgica, alcançar objetivos e cumprir
metas, buscando novas oportunidades e aceitando afrontar novos desafios
(PEDROSA; SOUZA, 2009).
A dimensão poder é vista como a predisposição de liderar, influenciando
ações e bons resultados de uma organização, com comportamentos decisivos
em momentos críticos, estabelecer redes de relacionamento saudáveis e
buscando a autoconfiança (PEDROSA; SOUZA, 2009).
O planejamento, terceira dimensão percebida, é compreendido a partir
da predisposição do indivíduo para gerenciar um empreendimento de maneira
exaustiva e eficaz, o acompanhando e avaliando rigorosamente, a partir de
informações e dados coletados e analisados de forma frequente (PEDROSA;
SOUZA, 2009).
Já a inovação é entendida como a predisposição do indivíduo em agir de
maneira criativa, apresentando meios para que uma empresa atue de maneira
diferencial em relação aos seus concorrentes, seja na linha produtiva ou em um
25
novo modelo de negócio, se destacando e alcançando resultados positivos
(PEDROSA; SOUZA, 2009).
A seguir será apresentado o Movimento Empresa Júnior, composto por
mais de 15.000 jovens universitários da sociedade brasileira, que tem como
propósito o desenvolvimento de competências empreendedoras para gerar
mudanças positivas e impactantes na realidade do Brasil.
2.3 Movimento Empresa Júnior (MEJ) e o Brasil
O Movimento Empresa Júnior (MEJ) foi fundado em 1967, quando a
empresa júnior ESSEC (L’Ecole Supérieure des Sciences Economiques et
Commerciales) surgiu na França. Criada por alunos do ensino superior daquele
país, deram nome ao termo Junior Enterprise, significando o desejo de colocar
em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula na graduação.
Considerado, atualmente, o maior movimento de empreendedorismo
mundial, o MEJ tem grande importância na realidade de jovens universitários
brasileiros (ZANINI et al., 2016). De acordo com dados de 2017 fornecidos pela
Confederação Nacional de Empresas Juniores do Brasil (Brasil Júnior - BJ),
mostram que no país estão presentes mais de 444 empresas juniores,
representadas por 22 federações estaduais confederadas à BJ, e compostas
por mais de 15.000 jovens graduandos de cerca de 111 instituições de ensino
superior do Brasil. Os empreendedores juniores realizaram mais de 4.800
projetos no país até 2017 e suas empresas em conjunto possuem um
faturamento total anual de aproximadamente 9 milhões de reais (ZANINI et al.,
2016).
O MEJ tem como propósito a busca por um Brasil Empreendedor. Para
isso, busca formar jovens comprometidos e capazes de transformar o país por
meio da realização de projetos e com alta qualidade. Sendo assim, apresenta
como missão organizacional “Formar, por meio da vivência empresarial,
empreendedores comprometidos e capazes de transformar o Brasil”. Ao se
conhecer a missão, é possível entender qual é o papel desempenhado por
determinada organização (MAXIMIANO, 2007), sendo importante, nesse
contexto, a definição da visão.
26
Entende-se que a visão modela o que a empresa deseja alcançar no
futuro, destinando, para tanto, seus esforços organizacionais (KAPLAN;
NORTON, 2004). O Movimento possui como visão “Brasil em rede:
fortaleceremos a educação empreendedora no país, alcançando 27
federações, 600 empresas juniores, sendo 330 de alto crescimento”. Vale
ressaltar que o planejamento estratégico atual da BJ tem seu término
estipulado para o final do ano de 2018 e, portanto, a visão traçada pela
organização esperada deve ser alcançada até o final do referido ano (ZANINI
et al., 2016).
Complementarmente, pode-se falar em valores da organização. Os
valores, segundo definição de Schein (2009), são fundamentais para o
entendimento da cultura de uma organização como impacto no seu
desempenho organizacional, comuns a todas as pessoas que participam do
contexto de uma empresa. Os valores do MEJ, assim como seus respectivos
significados, estão representados no Quadro 1.
Quadro 1 - Valores da Confederação Nacional de Empresas Juniores do Brasil (BJ)
Valor Significado
Compromisso com
resultados
Buscar gerar valor para os stakeholders e ter comprometimento com a superação de suas expectativas, de forma perene.
Sinergia
A despeito da diversidade, união por visões compartilhadas e trabalhar em cooperação, para fazer com que o conjunto das forças seja maior que a soma de suas partes.
Orgulho de ser MEJ
Ser apaixonado pelo propósito e trabalhar por um movimento em que se acredita. O orgulho de ser júnior é o que nos faz gigantes pela própria natureza.
Transparência
Ser transparente em todas as ações, acertadas ou erradas. Ter plena consciência que um futuro melhor se faz com ética e compromisso com a verdade.
Postura empreendedora
Para formar empreendedor no MEJ, é necessário ser empreendedor. Inconformismo, visão para oportunidades, pensamento inovador e capacidade de realização são características que definem.
Fonte: adaptado do site da Brasil Júnior, da página Conheça a Brasil Júnior.1
Tais valores são a tradução do que se é esperado no aspecto
comportamental dos membros de qualquer empresa júnior presente no Brasil.
1 Censo & Identidade: Relatório 2016 - Brasil Júnior. São Paulo, 2017. 1-27 p. Disponível em:
SOUSA, A. M. R. et al. Sentimentos Topofílicos e suas Relações com a Atitude
e a Intenção Empreendedoras. RECADM (IBEPES), Curitiba, PR, v. 16, n. 3, p.
233-253, set./dez. 2017.
SOUZA, E. C. L. D. et al. Atitude Empreendedora: Validação de um instrumento
de medida com base no Modelo de Resposta Gradual da Teoria da Resposta
ao Item. Revista Administração Mackenzie (RAM), São Paulo, SP, v. 14, n.
5, p. 230-251, set./out. 2013.
SOUZA, Eda Castro Lucas De; GUIMARÃES, Tomás De
Aquino. Empreendedorismo além do plano de negócios. 1 ed. Brasil: Atlas,
2005. 3-20 p.
SOUZA, Eda De Castro Lucas De; SOUZA, Cristina Castro Lucas De. Atitude
Empreendedora: um Estudo em Organizações Brasileiras. 30° Encontro da
ANPAD, Salvador - BA, set. 2006.
SPIEGEL, MURRAY R.; STEPHENS, LARRY J. Estatística. 4ª ed. Brasil:
Bookman, 2009. 21-115 p.
71
WIDAYAT; NI'MATUZAHROH. Entrepreneurial attitude and students business
start-up intention: a partial least square modeling. Jurnal MANAJEMEN DAN
KEWIRAUSAHAAN, Indonésia, v. 19, n. 1, p. 46-53, 2017.
ZANINI, S. et al. Censo & Identidade: Relatório 2016 - Brasil Júnior. São Paulo, 2017. 1-27 p. Disponível em: <https://brasiljunior.org.br/>. Acesso em: 20 set. 2017.