I AGRADECIMENTOS Quero agradecer a todos os que me acompanharam ao longo deste percurso, e que de alguma forma me ajudaram neste trabalho, em particular: Aos meus Pais por manterem a fé em mim e pela certeza de que iria ser capaz de completar esta jornada. Ao Professor Pedro Lynce, orientador desta Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Agronómica, pela disponibilidade, sabedoria, paciência e amizade que sempre demonstrou. Ao Sr. José Núncio Cecílio, por nos ter deixado acompanhar as novas metodologias empregues na sua exploração e pela transparência com que nos forneceu os dados das parcelas acompanhadas. Aos Professores José Pimentel Castro Coelho, Francisco Avillez e Francisco Gomes da Silva por toda a ajuda voluntária prestada, pois sem eles este estudo não estaria tão completo. Aos meus amigos, por estarem sempre presentes e disponíveis para me ajudar. A Deus por ter estado sempre presente.
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I
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer a todos os que me acompanharam ao longo deste percurso, e que de
alguma forma me ajudaram neste trabalho, em particular:
Aos meus Pais por manterem a fé em mim e pela certeza de que iria ser capaz de completar
esta jornada.
Ao Professor Pedro Lynce, orientador desta Dissertação para a obtenção do grau de Mestre
em Engenharia Agronómica, pela disponibilidade, sabedoria, paciência e amizade que
sempre demonstrou.
Ao Sr. José Núncio Cecílio, por nos ter deixado acompanhar as novas metodologias
empregues na sua exploração e pela transparência com que nos forneceu os dados das
parcelas acompanhadas.
Aos Professores José Pimentel Castro Coelho, Francisco Avillez e Francisco Gomes da
Silva por toda a ajuda voluntária prestada, pois sem eles este estudo não estaria tão
completo.
Aos meus amigos, por estarem sempre presentes e disponíveis para me ajudar.
A Deus por ter estado sempre presente.
II
Resumo
No presente trabalho acompanhamos novas alternativas tecnológicas para a cultura do
arroz, em Alcácer do Sal no ano 2007, face ao decréscimo de rentabilidade que a tecnologia
tradicional vem apresentando devido ao aumento dos preços dos factores de produção e de
mão-de-obra.
Assim, compararam-se duas combinações de técnicas culturais aplicadas na produção da
cultura ligadas à preparação do solo e sementeira directa e convencional, apesar de nesta
última ter sido utilizado um semeador de linhas de elevada precisão.
Como parâmetros quantificadores entre as duas tecnologias fizemos, ao longo da evolução
da cultura, uma análise de crescimento, de produtividade (kg/ha) e, finalmente, um estudo
económico.
No final, constatou-se que a sementeira convencional (6130 kg/ha) contribuiu para obter
valores superiores relativamente à emergência de campo e afilhamento, em relação à
sementeira directa (5200 kg/ha). No entanto, apesar da produção por panícula ser superior
na sementeira directa, resultado de um menor número de panículas por unidade de área,
não traduz uma maior produção final devido à baixa população à colheita,
comparativamente à sementeira convencional. Paralelamente foi realizado uma análise
económica sobre as alternativas em estudo, cuja conclusão principal põe em causa a
produção de arroz em Portugal sem ajudas à produção.
Palavras Chave: Arroz; Sementeira Directa, análise de produção; rentabilidade económica.
III
ABSTRACT
In this paper we check out new technological alternatives to the rice crop, Alcácer do Sal in
the year 2007, due to the smaller rentability that traditional technology presents because of
higher prices of production factors and manpower.
Therefore, we compare two combinations of techniques applied in production linked to the
preparation of soil and direct and traditional sowing. However there is an adaptation to the
latter which is the use of a sower of high precision lines.
Along the evolution of the crop we had as main goal the diferentiation of this two production
technologies and, for that, we did a growth analysis, a productivity one (kg/ha) and finally an
economic study.
At the end we observed that conventional sowing contributed to superior levels relatively to
emergence of field and tillering. Nevertheless in spite of panicle production is superior in
direct sowing due to a smaller number of panicle per area unit, it doesn’t translate itself in a
bigger final production compared to the traditional sowing. At the same time an economical
analysis over the studied alternatives was performed, which the main conclusion does not
justify rice production in Portugal without production helps.
Key Words: Rice; direct seeding, analysis of production, economic rentability.
IV
Extended abstract
At the present paper we check out new technological alternatives to the setup of the soil and
rice sowing due to the smaller rentability in the last times, justified by the higher prices of
production factors and manpower. We compared two combinations of crop techniques
applied in production linked to the setup of the soil and sowing translated by the evolution of
the production along the cycle.
With the goal of being able to compare the different models we studied the plants growth
through a set of indexes or behaviour predictions from the crop or from the individual plant.
First we’ve made an approach to the plant population as well as its evolution along the crop
cycle. Secondly we’ve studied the final production, connecting then the effect of the loss of
population with the high plasticity of the production components of this crop. We should
mention that along the entire analysis there were material and human factors of tough control
because this wasn’t a field of essay but a crop field presenting the rice production techniques
of the own farmer.
At the end we observed that the dry sowing made by a high precision lines sower, with a
tradiotional like soil setup, contributed to obtain superior levels relatively to emergence of
field and tillering. Nevertheless in spite of panicle production is superior in direct sowing due
to a smaller number of panicle per area unit, it doesn’t translate itself in a bigger final
production compared to the traditional sowing.
Besides this we wanted to know what is the future of this crop in Portugal or if it will be
economically viable to produce rice without helps to the production. The rise of production
factor prices, while partially compensated by the rise of the price paid by the industry it’s
making this production unviable, only resisting because of the compensatory help paid by
area unit. Therefore we can conclude that without production help rice crop might become
economically unviable. According to the net profit obtained with the crop we observed that
the main source of incoming from the studied crop is production help. Foreseeing that this
production help will finish by 2013 it starts to be worrying to maintain this crop in the same
conditions.
However we have to refer that to achieve technical perfection we have to produce with top
criteria. So according to the analyzed study we may conclude that direct sowing could be a
good bet, nevertheless we believe that is necessary to increase our knowledge about this
technique cautiously because it’s convenient to start with small areas in order to be possible
V
to correct errors that may initially occur. In relation to the traditional sowing we believe that is
possible to obtain 7 tons per acre, value that was not achieved due to the fact that it was not
used an high productivity variety of rice and because of the fact that an fertilization
background was not made in the kind of soil used to perform the study, we believe. Besides,
one can achieve an higher production with this model it’s also possible to use less seeds
because the rate of germination is much higher and a smaller water consumption translated
by the values of evapotranspiration since the sowing to the tillering.
VI
Índice Agradecimentos ...................................................................................................................... I
Resumo……………………………………………………………..………………………………….II
Abstract ................................................................................................................................. III
Quadro 1 – Valores da superfície (ha), da produção (ton) e da produtividade (Kg/ha) dos cereais de
maior importância agrícola em Portugal no ano 2006.
Quadro 2 – Temperaturas mínimas, máximas e óptimas relativas às diferentes fases da vida do
arroz.
Quadro 3 – Temperatura mínima, média e máxima (1958-1988).
Quadro 4 – Sequência de operações culturais e máquinas agrícolas utilizadas no Monte de Gaxa.
Quadro 5 – Datas de aplicação e doses de alguns factores de produção utilizados no Monte de Gaxa.
Quadro 6 – População semeada e emergida e emergência de campo, para as diferentes
modalidades.
Quadro 7 – Grau de afilhamento (caules/planta) medido na fase de afilhamento da cultura.
Quadro 8 – População à colheita para as duas modalidades efectuadas.
Quadro 9 – Índice de colheita e suas componentes, expressos em matéria seca (g/m2). A produção
final corresponde à coluna M.S. do Grão (g/m2).
Quadro 10 – Análise da produção por panícula, em número de grãos, para as quatro modalidades.
Quadro 11: Custo de produção e repartição dos custos de produção em ambas as modalidades.
Quadro 12: Cálculo do resultado líquido para as duas modalidades.
Quadro 13 – Encargos da cultura do arroz referentes à sementeira convencional.
Quadro 14 – Encargos da cultura do arroz referentes à sementeira directa,
Quadro 15 – Valores relativos às contas de cultura de 2008 até 2013.
X
Lista de Figuras Figura 1 – Períodos de crescimento e desenvolvimento da planta de arroz.
Figura 2 – Percentagem de germinação de sementes de arroz em função da temperatura a 2, 6 e 14
dias após a sementeira.
Figura 3 – Efeito da temperatura no tempo necessário para, após a germinação, a plúmula crescer 2
ou 3 cm.
Figura 4 – Efeito da temperatura no crescimento da radícula.
Figura 5 – Relação entre a temperatura média durante quarenta dias após a floração e o peso de
1000 grãos ou a percentagem de grãos cheios.
Figura 6 – Necessidades de radiação solar para as diferentes fases do ciclo vegetativo do arroz.
Figura 7 – Influência da radiação solar na produção de grão da variedade IR747B2-6, para diversos
períodos do ciclo.
Figura 8 – Corte transversal de um solo submerso.
Figura 9 – Variação do pH em solos submersos.
Figura 10 – Evolução da área de produção de arroz em Portugal de 1986 a 2006.
Figura 11 – Evolução da produção e da produtividade da cultura do arroz em Portugal de 1986 a
2006.
Figura 12 – Distribuição por zonas geográficas da produção de arroz no ano 2006.
Figura 13 – Evolução das principais culturas regadas entre 1990 e 2001 no Vale do Sado.
Figura 14 – Figura adaptada de Google Earth, onde se encontram evidenciadas as modalidades 1 e
sementeira directa.
Figura 15 – Temperatura mínima, média e máxima (1958-1988).
Figura 16 – Temperatura mínima, média e máxima (2007).
Figura 17 – Evolução da precipitação média total.
Figura 18 – Insolação real.
Figura 19 – Diferenças entre as várias modalidades relativamente ao número de plantas emergidas.
Figura 20 – Diferenças entre as modalidades relativamente ao afilhamento.
Figura 21 – Variação do número de caules por planta em função do número de plantas por m2, para
as duas modalidades.
Figura 22 – Diferenças entre as várias modalidades relativamente à população à colheita.
Figura 23 – Resumo dos vários indicadores da análise da população: população semeada
(sementes/m2), população emergida (plantas/m2), afilhamento (caules/m2) e população à colheita
(panículas/m2).
Figura 24 – Análise da Produção: as componentes do índice de colheita.
Figura 25 – Variação da produção final (g/m2) com a população à colheita nas duas modalidades.
Figura 26: Esquema com as principais conclusões relativamente à análise da população.
Figura 27: Preços nominais do milho, trigo e arroz.
Figura 28: Análise de sensibilidade referente a flutuações no preço do arroz e factores de produção.
1
1. INTRODUÇÃO
A cultura do arroz, actualmente, é uma cultura rentável com o recurso a tecnologias das
mais evoluídas quando comparadas com outros países, dentro do sistema de produção
tradicional em clima temperado. No entanto, esta cultura atravessa um período difícil face à
redução dos preços pagos à produção (ainda que por um período transitório suportado por
um complemento financeiro), ao aumento do custo com a mão-de-obra e dos preços dos
factores de produção. É neste contexto de dúvidas para o orizicultor que se torna premente
pensar na forma de realizar a cultura, procurando reduzir os custos de uma forma racional,
sem comprometer os níveis de produção. Nessa óptica, várias alterações se podem
equacionar, como sejam a escolha de novas cultivares, o maneio da água de rega, a
fertilização, a densidade de sementeira, a preparação do terreno, etc.
O presente trabalho é realizado com o intuito de acompanhar, caracterizar e avaliar duas
tecnologias de produção de arroz que permitam reduzir as despesas da cultura. A escolha
deste tema para finalizar o curso em Engenharia Agronómica deve-se à necessidade da
readaptação das actuais tecnologias de produção das diversas culturas visando a sua
sustentabilidade. Além disso, pretendia aprofundar conhecimentos adquiridos ao longo do
curso, o que julgo que foi inteiramente atingido. A cultura do arroz, escolhida para este
trabalho de acompanhamento e caracterização, para além da sua importância alimentar,
está muito representada no Vale do Sado, ocupando uma área muito considerável, sendo
uma das culturas com maior importância económica.
As alternativas foram ensaiadas no Monte de Gaxa (2007), quantificadas através da
evolução das componentes do rendimento, da produção e respectivo estudo económico. A
sementeira directa surge entre as alternativas, face aos objectivos enunciados, às
características do perfil cultural e meios disponíveis (herbicidas e maquinaria) como uma
possível hipótese face aos bons resultados já obtidos com os cereais Outono-Invernais.
Para além deste sistema de produção, acompanhamos outra modalidade atraente pelo
menor consumo de água face ao alagamento do canteiro apenas no inicio do afilhamento da
cultura e menor quantidade de semente utilizada traduzida por uma elevada percentagem
de semente germinada.
Inicialmente será abordada a produção da cultura do arroz no Vale do Sado, seguido das
características, exigências e necessidades da cultura. Neste mesmo capítulo (2) serão
apresentadas as necessidades nutritivas e fertilização.
2
Tendo como objectivo responder a perguntas, tais como, qual a evolução dos preços de
arroz? Será economicamente viável produzir arroz sem ajuda à produção?, a análise
económica e as projecções apontadas para os preços futuros de arroz permitirão concluir se
a produção desta cultura, nas nossas condições, poderá ser viável ou não economicamente
quando produzidas sem ajudas.
Devido ao custo elevado dos ensaios com a cultura do arroz é difícil para o agricultor fazer
muitas experiências com vários microtalhões. Atendendo às variáveis em causa que já
foram enunciadas em pequenas áreas com êxito, e ainda ao recurso a uma amostragem
pensamos que os resultados serão comparáveis a nível de grande área.
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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. ARROZ – A Planta
A produção da cultura do arroz, tal como acontece com todas as outras culturas, depende
de uma larga série de factores que, no seu conjunto se podem agrupar em genéticos
(factores internos) e ambientais (factores externos).
A melhoria de certos factores genéticos tem sido desde há alguns anos – e continuará,
certamente, a ser no futuro – um dos principais responsáveis pelo aumento das produções,
quer em qualidade quer em quantidade (este ultimo aspecto é de especial importância uma
vez que o arroz constitui a base da alimentação de vastas camadas populacionais). Uma tal
influência poderá em linhas gerais, manifestar-se por duas vias: obtenção de plantas
geneticamente mais produtivas e/ou de maior valor nutricional e mais tolerantes a
adversidades ambientais, tais como resistência à acama, à salinidade, a pragas e a
doenças.
Os factores ambientais estão associados às características do clima e do solo. Embora as
acções exercidas por estes factores se apresentem interligadas, será útil considerar o seu
estudo em separado.
Relativamente aos factores climáticos, são bem conhecidas as exigências do arroz em
relação à temperatura, luz e água. Mas, como se trata de uma cultura feita ao ar livre, a
influência do homem no controlo daqueles factores exerce-se em reduzida extensão,
limitando-se praticamente a um certo controlo das exigências térmicas (e de água) mediante
o permanente alagamento dos terrenos de cultivo.
Em relação aos factores bióticos, ou seja, relacionados com os inimigos da cultura (pragas,
doenças e infestantes), deve notar-se que o arroz é uma planta com uma certa resistência.
No entanto, o facto de normalmente, ser efectuada em monocultura, vem-lhe criando
condições favoráveis ao aparecimento de inimigos, de entre os quais ainda se destacam, na
grande maioria dos casos as infestantes.
Quanto aos factores edáficos haverá que considerar, no seu conjunto, as características
físicas, químicas e biológicas dos solos. Podemos encontrar esta cultura em todos os tipos
de solo, desde os arenosos até aos argilosos. No entanto, de uma maneira geral, as
produtividades são comparativamente mais elevados nos solos mais pesados, de textura
4
fina (argilosa, argilosa-limosa e argilo-arenosa), do que nos ligeiros, de textura mais
grosseira (Costa, 1973). As características físicas podem representar um factor impeditivo
da cultura do arroz, em particular as que dificultam o alagamento e a manutenção duma
camada de água nos terrenos de cultivo, tais como a permeabilidade dos solos e a
topografia. É evidente que estas e outras características físicas podem ser corrigidas, mas
os encargos resultantes para esta correcção podem não ser compensados economicamente
pela produção.
2.1.1. Aspectos gerais sobre o crescimento e produç ão
É habitual considerar na vida do arroz três períodos sequenciais de desenvolvimento
(Stansel, 1975; Yoshida, 1981 e Alves, 1985): i) o período vegetativo, da germinação ao
início da formação da panícula; ii) o período reprodutivo, do inicio da formação da panícula à
floração e iii) o período de maturação, da floração ao amadurecimento. A duração dos
períodos citados dependerá, não só da cultivar escolhida mas também das condições do
meio, principalmente do clima (da temperatura e da radiação solar). Quanto à influência do
maneio cultural salienta-se: i) a excessiva fertilização azotada é responsável pelo aumento e
duração do período vegetativo, podendo até originar um crescimento tardio; ii) o uso
inapropriado de herbicidas, cuja toxicidade pode influir negativamente no desenvolvimento
da planta, e, iii) o maneio da rega (2.4).
Na figura 1 estão representados os períodos de crescimento e desenvolvimento do arroz,
bem como os limites temporais respectivos, para variedades precoces e semi-precoces,
indiferentes ao fotoperiodismo.
A primeira fase do ciclo vegetativo corresponde à germinação, à emergência e à pós-
emergência, que se inicia com a sementeira e terminam quando a planta já possui três a
quatro folhas totalmente formadas. Esta fase é uma das mais sensíveis do ciclo cultural
(Huey, 1977), a planta ainda está dependente das reservas existentes na semente (Tinarelli,
1989).
5
Fig. 1: Períodos de crescimento e desenvolvimento da planta de arroz. * - os valores menores referem-se às regiões quentes e os maiores às regiões temperadas; **- a panícula só é observável à vista desarmada depois de abrir o caule longitudinalmente; *** - o período reprodutivo principia quando 50 % das folhas estão polinizadas; **** - tempo variável, 0-25 dias, o que depende da variedade e ∆ -3 a 5 dias. Extraído de Stansel, 1975).
Durante a germinação é possível observar a iniciação que termina com a saída da radícula e
a da mobilização de reservas, que finda com a emergência (Romero, 1989). Este autor
refere que a germinação inicia quando a semente em repouso, activa o sistema bioquímico
e se desencadeiam os processos metabólicos. O fim da germinação coincide com o início
da actividade fotossintética. A primeira fase, ou seja, a iniciação da germinação, principia
com a absorção de água. A hidratação é condição indispensável nas sementes secas para
se dar a activação do metabolismo e a consequente germinação (Machado, 1991).
A fase de afilhamento, tem início com o aparecimento do primeiro filho, nesta fase a planta
possui elevada plasticidade e as variações não afectam grandemente a produção final.
6
O período reprodutivo inicia-se com o encanamento ou alongamento dos entrenós seguindo
do emborrachamento e espigamento (Board et al, 1980). Devido à meiose coincidir com o
início do encanamento, esta fase costuma ser considerada como o início do período
reprodutivo, assim como um dos períodos mais sensíveis da vida da planta. Na maioria das
flores, a fecundação ocorre durante o espigamento, razão pela qual a percentagem de
autopolinização no arroz é elevada. A esta fase segue-se a antese ou chora. Assim
designadas pois as anteras tornam-se visíveis, evidenciando-se acima das glumas.
O ciclo cultural termina com a maturação do grão, que se traduz pela acumulação de amidos
e perda de humidade, cuja duração é determinada pelas condições meteorológicas, assim
como pelo teor de humidade pretendido no grão.
2.2. Parâmetros climáticos
Segundo a literatura consultada, os factores que mais influenciam a produção de arroz, em
Portugal, são a temperatura, a radiação solar e a água. A temperatura é factor limitante, dai
estar limitada a sua expansão a norte.
2.2.1. Influência da Temperatura
Para que as plantas possam crescer e atingir o seu completo desenvolvimento é necessário
que o calor recebido, ou seja, o número de graus térmicos (soma da temperatura média
diária durante todo o ciclo), atinja determinados valores, 3500ºC a 4500ºC, conforme se trate
de cultivares precoces ou tardias. É indispensável também que os valores máximos e
mínimos se encontrem dentro de certos limites em cada uma das fases do ciclo vegetativo,
pois caso contrário a planta pode não completar as diferentes fases. Cada fase do
desenvolvimento e cada processo de crescimento respondem de modo diferente a
condições de temperatura idênticas (Silva, 1983).
a) Período vegetativo
Germinação e nascença
A influência da temperatura na germinação pode ser encarada sobre três aspectos: a
própria temperatura, a duração da fase e a percentagem de sementes germinadas (Yoshida,
1981).
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A duração desejável para a fase de germinação é de seis dias, período este que aumenta
quando as temperaturas diminuem (Robertson, 1975). Sousa e Silva (1942) afirmam que,
para temperaturas compreendidas entre 15 e 35ºC, a germinação é tanto mais rápida
quanto maior é a temperatura. Esta conclusão coincide com a de Livingston e Haasis`s
(1933) que concluíram que, para germinarem 90% das sementes, eram necessários seis
dias a 15ºC, quatro dias a 20ºC ou dois dias com temperaturas entre os 30 e 35ºC (fig. 2).
Segundo Pereira (1989), em Paúl de Magos, em viveiros sujeitos a condições naturais,
observou-se que ocorre germinação abaixo de 10ºC, só que nestas situações a duração
desta fase aumenta consideravelmente.
Fig. 2 : Percentagem de germinação de sementes de arroz em função da temperatura a 2, 6 e 14 dias após a sementeira. (Extraído de Pereira, 1989).
Plântula
Na fase de emergência e estabelecimento o crescimento é muito sensível à temperatura (fig.
3). De facto, o tempo que vai da germinação até à plúmula atingir 2 ou 3 cm aumenta com o
decréscimo da temperatura, sendo muito longo abaixo dos 15ºC.
Através da observação da figura 4, verificamos que o crescimento da radícula é óptimo a
30ºC, sendo muito pequeno tanto abaixo dos 15ºC como acima dos 40ºC. Chapman e
Peterson (1962) consideraram entre 20 e 25ºC a temperatura óptima para o crescimento
primário da raiz. Aliás, quanto aos crescimentos da raiz e do caule, as temperaturas críticas
inferiores vão, respectivamente, de 12 a 16ºC e de 7 a 16ºC (Nishiyama, 1977).
No entanto, é importante referir que as temperaturas baixas na fase de plântula podem
provocar um atraso no crescimento que é reversível logo que volta o tempo favorável
(Vergara, 1976).
8
Fig. 3 : Efeito da temperatura no tempo necessário para, após a germinação, a plúmula crescer 2 ou 3 cm. (Extraído de Pereira, 1989. Fonte: Saito, 1965).
Fig. 4 : Efeito da temperatura no crescimento da radícula. (Extraído de Pereira, 1989).
Afilhamento
As maiores exigências em calor verificam-se durante o afilhamento e a formação de raízes
adventícias, que corresponde à fase de maior actividade vegetativa (Beija, 1959). As
temperaturas críticas inferior, superior e óptima são, respectivamente, 9 a 16ºC, 33ºC e 25 a
31ºC (Yoshida, 1981).
Realmente, nas melhores condições as plantas tornam-se vigorosas e afilham
abundantemente, se nestes períodos a temperatura baixa, ficam débeis, afilham pouco e
mais tarde acamam com facilidade (Silva, 1969). No entanto, Robertson (1975) afirma que
com temperaturas baixas, a fase de afilhamento é prolongada, resultando mais filhos e
consequentemente mais panículas. Tal não nos parece desejável no caso português, pois o
prolongamento da fase de maturação, entrando em período outonal, em geral com
condições climáticas menos favoráveis, não permite uniformidade de maturação, dando
consequentemente lugar a um rendimento inferior (Pereira, 1989).
9
b) Período reprodutivo
Iniciação da panícula
A fase de iniciação da panícula, pelos danos irreversíveis que a planta pode sofrer, é muito
sensível a temperaturas extremas. Este período é muito sensível às temperaturas baixas,
como se pode observar no quadro 2, pois as três fases referentes a este período
apresentam o limite inferior mais alto.
Em 1941, ano com temperaturas muito baixas, Sakai constatou que a esterilidade das
plantas de arroz variou com a profundidade da lâmina de água, sendo menor a 15 cm do
que com os 5 cm habituais, pois laminas de água superiores apresentam um melhor efeito
termo regulador.
Espigamento e floração
A floração do arroz é regulada, principalmente, pela temperatura e pela humidade do ar
(Silva, 1969). Neste período as temperaturas baixas, pela sua intensidade e frequência
(Beija, 1959) provocam um aumento da esterilidade das plantas, sendo os abortos florais
abundantes, que estão possivelmente na origem de grãos falhados, que prejudicam a
cultura limitando o seu rendimento (é provável que tal facto seja uma das principais causas
da brança) (Pereira, 1989). O mesmo autor afirma que o óptimo térmico para a floração é de
22 a 24ºC, sendo os abortos florais abundantes quando há arrefecimentos bruscos, quer na
atmosfera quer nas águas de rega.
A esterilidade floral é induzida por temperaturas menores ou iguais a 15ºC durante 5 a 15
dias antes do espigamento, altura em que decorre a meiose com formação dos gâmetas
(Kaw, 1988).
c) Período de maturação
Maturação
Temperaturas baixas durante a maturação prolongam esta fase, não chegando os grãos
muitas vezes a amadurecer completamente (verdes). Ao contrário e o que é mais comum,
temperaturas altas durante a parte final da maturação originam normalmente uma
percentagem excessiva de trincas (grãos partidos) (Robertson, 1975).
A duração da fase de maturação está correlacionada inversamente com a temperatura
média diária, sendo o encurtamento desta fase o factor mais importante na diminuição da
produção (Yoshida, 1981). Este autor refere que as temperaturas críticas inferior, superior e
óptima são, respectivamente, 12 a 18ºC, 30ºC e 20 a 25ºC.
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Como mostra a figura 5, para temperaturas inferiores a 16ºC praticamente não existe grãos
cheios; a partir daquele valor e até aos 18ºC verifica-se um aumento quase linear da
percentagem de grãos cheios, passando a respectiva curva a ter um crescimento
logarítmico a partir dos 18ºC.
Fig. 5: Relação entre a temperatura média durante quarenta dias após a floração e o peso de 1000 grãos ou a percentagem de grãos cheios. (Extraído de Ishizuka et al, 1973).
O quadro 2 resume as informações anteriormente analisadas.
Quadro 2: Temperaturas mínimas, máximas e óptimas relativas às diferentes fases da vida do arroz (Adaptado de Yoshida, 1981 e de Alves, 1985 – extraído de Pereira, 1989).
Fases de crescimento Temperatura (ºC)
Miníma Máxima Óptima
Germinação 10_13 45 20_35 Plântula 12_13 35 25_30
Desenvolvimento da raiz 12_6 35 25_35 Afilhamento 9_16 33 25_31
Iniciação da panícula 15 37 - Diferenciação da panícula 15_20 38 -
Floração 15_22 35 22_24 Maturação 12_18 30 20_25
11
2.2.2. Influência da Radiação
Enquanto o calor é condição imprescindível ao bom êxito da cultura, a acção da luz, embora
também importante, não assume aspecto tão crítico em relação às nossas condições em
Portugal (Silva, 1969).
Com base em ensaios realizados no Texas Agricultural Experiment Station, em Eagle Lake,
cujo objectivo foi determinar a importância da luz solar durante o ciclo cultural do arroz,
Stansel (1975) sugeriu que o período crítico para a planta vai da fase de inicio da panícula
até cerca de dez dias antes da maturação (fig. 6), e verificou que à diminuição de 1% da
radiação solar recebida durante tal período crítico correspondeu uma redução média na
produção da ordem dos 6,5%.
Yoshida e Parao (1976) estudaram o efeito da radiação solar nas diferentes fases de
crescimento da planta de arroz, recorrendo a técnicas de ensombramento. Assim, (fig. 7)
verificaram que a influência da radiação solar é máxima no período reprodutivo, diminui no
período de maturação e, é bastante pequena no período de crescimento vegetativo. A
explicação para tais diferenças está ligada aos componentes da produção, número de
espiguetas por m2 e percentagem de grãos cheios, determinados respectivamente durante
os períodos reprodutivo e de maturação.
As necessidades de radiação solar aumentam com o crescimento e desenvolvimento das
plantas, culminando no mesmo período crítico, ambas sendo factores potenciais limitantes
da produção. No entanto tal não se verifica no Vale do Sado.
Fig. 6: Necessidades de radiação solar para as diferentes fases do ciclo vegetativo do arroz. (Adaptado de Stansel, 1975).
12
Fig. 7: Influência da radiação solar na produção de grão da variedade IR747B2-6, para diversos períodos do ciclo. Extraído de Yoshida e Parao, 1976).
2.3. Necessidades nutritivas e fertilização
Existe uma grande dificuldade em estabelecer modelos fixos no que diz respeito ao
problema da fertilização de um arrozal, quando examinado sobre o ponto de vista da
incorporação de fertilizantes orgânicos e minerais (Tinarelli, 1989).
Isto acontece devido às diversas condições que caracterizam os distintos ambientes em que
o arroz é cultivado. As diferentes condições são consequência da diversidade de terrenos
quanto à constituição mineralógica como orgânica, da amplitude das características do
grande número de variedades cultivadas, do tipo de rotação, das características da água de
rega, dos infinitos tipos de adubo e práticas de fertilização e ainda das diferentes condições
climáticas (Tinarelli, 1989).
O desenvolvimento de um método racional para aplicar os fertilizantes requer o
conhecimento da nutrição mineral da planta de arroz nas diferentes etapas de crescimento.
Para o arroz, são essenciais dezasseis elementos: carbono, hidrogénio, oxigénio, azoto,
1985). A protecção térmica exercida pela água é muito importante na floração, pois
arrefecimentos bruscos, quer na atmosfera quer nas águas de rega, dão origem a
18
abortos florais. Como esta fase ocorre geralmente em Agosto, onde ocorre grandes
amplitudes térmicas, onde podemos confirmar através dos dados meteorológicos do
ano 2007 para a região de Alcácer do Sal (anexo 1), é de elevada importância o
efeito termo-regulador que a lâmina de água apresenta.
2) Auxilia no combate às infestantes (Tinarelli, 1989; Pereira, 1989). A importância
desta função deve-se ao facto de inúmeras espécies de infestantes não germinarem
em condições de alagamento e quando desenvolvidas tem dificuldades por falta de
oxigénio.
3) Facilita a disponibilidade de nutrientes, com destaque para o fósforo e manganésio,
devido à subida de pH que provoca nos solos, geralmente ácidos (Pereira, 1989;
Alves, 1985; Tinarelli, 1989).
Fe(OH)3 + 3H+ + e- → Fe2+ + 3H2O
MnO2 + 4H+ + 2e → Mn2+ + 2H2O
4) Facilita a lixiviação de sais (Silva, 1969), o que permite a sua cultura em solos com
elevados teores nestes elementos, pelo que a água assume um papel importante na
lavagem destes sais que, acima de determinadas concentrações se tornam tóxicos
para a cultura.
De seguida, iremos descrever como devem estar as lâminas de água ao longo das
diferentes fases da planta.
Germinação, crescimento e afilhamento
Entende-se por germinação o aparecimento da ponta do coleóptilo emergido da casca
fendida do grão. Nesta fase a semente necessita de absorver água na proporção de 25 a
35% do seu peso, o que não justifica por si só a existência de uma lâmina de água, dai esta
funcionar essencialmente para regularizar o ambiente e para ajudar a combater infestantes
e pragas.
Na altura do afilhamento a planta não necessita de muita água, mas as pequenas
espessuras favorecem um afilhamento excessivo, de que pode resultar um escalonamento
na maturação, com reflexos negativos no rendimento industrial do grão. Findo este período
e até perto do encanamento, a profundidade da água tem pouco efeito no desenvolvimento
da planta (Hill, 1982).
19
Iniciação da panícula e floração
Neste período deve-se ter lâminas de água de, aproximadamente, 10 cm pois esta é a fase
crítica da cultura, onde o papel termo-regulador da água é essencial, protegendo a cultura
das temperaturas nocturnas demasiado baixas, que provocam degeneração das espiguetas
e aumento da esterilidade.
Maturação
A deficiência hídrica no período prós-espigamento provoca um aumento do número de grãos
imperfeitos, o que afecta a maturação. No entanto, o mesmo autor refere não ser necessária
a submersão, bastando o solo estar saturado ou quase saturado.
2.5. Caracteristicas físicas dos solos durante o ci clo cultural
Nos solos alagados decorre uma série de processos físicos, microbiológicos e químicos que
têm influência no crescimento da planta, na absorção dos diferentes elementos, na perda ou
na utilização dos elementos e na acumulação de toxinas no terreno ou na água (Tinarelli,
1989).
Por conseguinte, é muito importante compreender as propriedades únicas dos solos
inundados, com o intuito de melhorar o maneio do solo, dos fertilizantes e de controlar o
regime hídrico, tendo em vista a maximização da cultura (Datta, 1986).
Um solo alagado distingue-se de um solo com boa drenagem por grande parte do seu perfil
se encontrar num estado reduzido (Ponnamperuma et al, 1966), consequência da ausência
de oxigénio e da respiração anaeróbica bacteriana. Normalmente entre um a dois dias após
o alagamento, todo o oxigénio é consumido, a actividade dos microrganismos anaeróbicos
aumenta e inicia-se a redução do solo (Bolt, 1978).
Contudo, ainda se pode encontrar oxigénio numa fina camada de solo situada em contacto
com o lençol de água superficial, cuja espessura varia com a actividade dos
microrganismos, bem como com a existência da rizosfera das plantas adaptadas (Reddy et
al., 1980). Assim, constituem-se três camadas no solo; uma camada aeróbia com espessura
variável, mas de valores aproximados a 2-3 cm (Santos, 1996), uma camada anaeróbia
subjacente (Fig. 8) e uma terceira camada, o subsolo oxidado (Ponnamperuma, 1984).
Porém, consideram-se apenas as duas primeiras camadas na medida em que para a cultura
20
em causa (de desenvolvimento radicular relativamente superficial, 80% das raízes se
encontram a 25 cm de profundidade), são as que têm influência determinante.
Como as raízes necessitam de oxigénio para assimilar os elementos nutritivos durante o
desenvolvimento da planta e uma vez que no solo não há uma quantidade suficiente deste
elemento, as raízes do arroz obtêm-no através do transporte e difusão que se verifica nas
partes aéreas da planta, através do parênquima aerífero do caule que caracteriza esta
planta (Tinarelli, 1989).
Fig. 8: Corte transversal de um solo submerso. (Adaptado de Westfall, 1975).
2.5.1. Processos de oxidação-redução no solo alagad o
Como consequência do esgotamento do oxigénio, bactérias anaeróbicas facultativas e
obrigatórias da camada sem oxigénio, usam NO3-, Mn (IV), Fe (III), SO4
2-, CO2, N2 e mesmo
H+, como aceitadores de electrões na sua respiração (fermentação), reduzindo-os
(Ponnamperuma, 1972). Os compostos formados produzem no solo um estado redutor cuja
cinética e intensidade está correlacionada com a natureza e o conteúdo do substrato
orgânico, a temperatura, o pH, o tipo de compostos receptores de iões e está regulada pela
duração da inundação (Tinarelli, 1989).
O solo passa da condição de oxidação para a de redução com consequente mudança do
seu potencial redox (Eh). Antes do alagamento, o solo apresenta o valor de cerca de +700
mV, reflectindo a presença de oxigénio e passa para próximo de -300 mV em situação de
alagamento, acontecendo desta forma uma redução elevada (Patrick, 1978).
A diminuição do potencial redox devido à inundação do solo e os efeitos físico-químicos têm
efeitos positivos e negativos no crescimento do arroz. Como benefícios, o aumento na
provisão e disponibilidade de azoto, fósforo, ferro, magnésio, molibdénio e silício. As
desvantagens são a diminuição das disponibilidades de enxofre, cobre e zinco e produção
21
de substãncias que interferem na captação de nutrientes ou que envenenam directamente a
planta (Datta, 1986; Portero, 2001).
2.5.2. Alterações da reacção do solo em condições d e
alagamento
Após algumas semanas de submersão, o pH de solos ácidos tem tendência em aumentar,
enquanto que o pH de solos alcalinos tende a diminuir (Ponnamperuma, 1976), até se
atingirem valores estáveis da ordem de 6,5 a 7,5 (Tinarelli, 1989).
Atendendo a que na maioria dos solos em que o arroz é cultivado em Portugal apresentam,
valores de pH bastante inferiores e nalguns casos, em menor escala, superiores àquele
intervalo, pareceria que seria necessário corrigir a acidez quando os solos eram muito
ácidos ou alcalinos. Acontece porém que independentemente do valor inicial do pH dos
solos, durante o alagamento há uma tendência para o pH subir ou descer automaticamente,
situando-se num intervalo muito próximo do que foi indicado, ou seja, próximo da
neutralidade. Por outras palavras, dada a relação existente entre o pH e a actividade do H+
(mais concretamente do H3O+) a descida e subida do pH serão consequência,
respectivamente, da diminuição e do aumento da actividade do H3O+ (Santos, 2002).
Estas alterações são função das características dos solos, tais como o pH inicial, o teor de
matéria orgânica, o teor de Fe, o teor de Mn, mas fundamentalmente dependem de dois
sistemas:
Fe(OH)3 → Fe2+ ; MnO2 → Mn2
+
e
Na2CO3 – H2O ; CaCO3 – H2O – CO2
No primeiro sistema (Fe/Mn), os dois elementos ao reduzirem-se dão origem às seguintes
reacções:
3Fe(OH)3 + H+ + e- → Fe2(OH)8 + H2O
MnO2 + 4H+ + 2e- → Mn2+ + 2H2O
Do que resulta um consumo de H+, aumentando o valor do pH do solo (Ponnamperuma,
1976).
22
No segundo sistema (Na/Ca), o HCO3- resultante da decomposição da matéria orgânica, dos
carbonatos existentes e da reacção com a água, comporta-se como ácido, tal como se
demonstra na seguinte reacção:
HCO3- + H2O ↔ CO2-
3 + H3O+
Diminuindo desta forma o valor de pH (Santos, 1996).
Esta referência de Santos foi confirmada por outros autores que referem que, após o
alagamento, na maior parte dos solos dos arrozais, quer tenham carácter ácido ou básico, o
pH converge e estabiliza entre 6.0 e 7.0 (Ponnamperuma et al, 1966). Os resultados
referidos apresentam-se na figura 9.
Fig. 9: Variação do pH em solos submersos. (Extraído de Ponnamperuma, 1977).
Em resumo, e no que se refere aos aspectos práticos, pode dizer-se que a cultura do arroz,
mesmo quando realizada em solos com uma reacção que aparentemente seria
desfavorável, não necessitará, em consequência do alagamento, da aplicação de
correctivos minerais alcalinizantes ou acidificantes.
23
3. INTERESSE E IMPORTÂNCIA ECONÓMICA
3.1. A produção de arroz em Portugal
Portugal é o país Europeu com o consumo per capita mais elevado da Europa, duas vezes e
meia superior ao segundo país com maior consumo de arroz da Europa, a Espanha. Isto
revela a importância assumida pelo arroz nos hábitos alimentares dos portugueses.
Em Portugal, o arroz é cultivado em submersão, principalmente em terrenos aluvionares
situados ao longo das margens e, normalmente, junto aos estuários dos rios Mondego, Tejo
e Sado, bem como alguns dos seus afluentes.
Relativamente à área, esta cultura oscila entre os 25 e os 30 mil hectares a que corresponde
uma produção de cerca de 150 000 toneladas.
Segundo os dados do INE (2006), o arroz foi em 2006, o cereal com a terceira maior
produção nacional (148 673 ton), atrás do milho e do trigo, como se pode observar no
Quadro 1. A produção nacional cobre cerca de 2/3 das necessidades da indústria, sendo
que as cultivares produzidas são 90% carolino (tipo japónica) e 10% agulha (tipo indica).
Quadro 1: Valores da superfície (ha), da produção (ton) e da produtividade (Kg/ha) dos cereais de maior importância agrícola em Portugal do ano 2006. Fonte: INE.
Cereais Área (ha)
Produção (ton)
Produtividade (Kg/ha)
Trigo 104 684 249 610 2 384
Centeio 23 476 23 802 1 014
Aveia 53 674 87 108 1 623
Cevada 44 154 105 547 2 390
Milho 102 746 534 700 5 204
Arroz 25 392 148 673 5 855
Apesar de alguma estabilização da área semeada até 1991, a produtividade da cultura vem
crescendo desde 1988 a 1996, mantendo-se constante nos anos seguintes excepto em
1997 e 2005 que sofreu um decréscimo (figuras 10 e 11).
24
Evolução da Área de Produção em Portugal
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
(ha)
Fig. 10 : Evolução da área de produção de arroz em Portugal de 1986 a 2006. Fonte: INE.
Entre 1992 e 1995, e ainda no ano de 2005, ocorreram elevados decréscimos das
quantidades produzidas de arroz, consequência da acentuada redução da área por falta de
água, tal como demonstra a figura 10.
Evolução da Produção e da Produtividade em Portugal
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
140000
160000
180000
200000
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
(ton)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
(kg/ha)
Produção (ton) Produtividade (Kg/ha)
Fig. 11 : Evolução da produção e da produtividade da cultura do arroz em Portugal de 1986 a 2006. Fonte: INE.
Através da observação da figura seguinte verificamos que a maior produção de arroz ocorre
no Alentejo.
22%
7%
70%
1%
Centro
Lisboa
Alentejo
Algarve
Fig. 12 : Distribuição por zonas geográficas da produção de arroz no ano 2006. Fonte: INE.
25
No Vale do Sado a cultura abrange uma área entre os 9 000 e 10 000 hectares. A área
abrangida pelo perímetro de rega do vale do Sado corresponde a cerca de 5 300 hectares
com água proveniente de duas barragens: a do Pego do Altar e a de Vale de Gaio com
capacidades para 94 milhões e 63 milhões de metros cúbicos, respectivamente. A restante
área, 3000 a 4000 mil hectares, é regada quer a partir do rio, em zonas onde a salinidade já
não se faça sentir ou a partir de furos próprios (Associação de Regantes e Beneficiários do
Vale do Sado, Alcacér do Sal, 2007).
Nesta região, Vale do Sado, a principal cultura de regadio é o arroz, tal com podemos
observar na figura 13.
Evolução das principais culturas e áreas regadas (ha)
Fig. 13 : Evolução das principais culturas regadas entre 1990 e 2001 no Vale do Sado. Fonte: dgadr (Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Geral).
A produção de arroz destina-se quase exclusivamente ao aprovisionamento da indústria
nacional de descasque e branqueamento.
26
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. Produção no Monte da Gaxa
Tal como referido anteriormente, acompanharam-se duas modalidades alternativas que se
designam por sementeira directa e convencional (esta última adaptada devido ao semeador
utilizado).
4.1.1. Localização
Fig.14: Figura adaptada de Google Earth, onde se encontram evidenciadas as 2 modalidades.
4.1.2. Caracterização Climática
O clima influência directa e indirectamente as mais variadas práticas agrícolas, sendo um
dos factores senão mesmo o factor que mais condiciona a actividade agrícola. Portanto,
vamos fazer a caracterização climática da região de Alcácer do Sal, na qual se inserem as
parcelas acompanhadas.
4.1.2.1 Localização da Estação Meteorológica
Para a escolha da estação meteorológica, procuramos a estação que fosse mais
representativa do clima que existe na zona onde se encontra a exploração em estudo, e de
acordo com esse objectivo escolhemos a estação de Alcácer do Sal.
27
Características Gerais da Estação
Latitude : 38°23’ N
Longitude : 8° 31’
Altitude (m) : 51
Dados objecto de tratamento estatístico: 1958 – 1988
Altura do anemómetro (m) : 4
4.1.2.2 Temperatura
A temperatura varia de forma sazonal ao longo do dia e ao longo do ano, definindo-se
amplitudes de variação diurna e anual de temperatura.
A temperatura do ar varia durante o dia apresentando um mínimo pouco antes do nascer do
sol, e um máximo cerca de uma a duas horas depois do meio-dia solar.
Segundo Faria (1990) para o concelho de Alcácer do Sal a característica mais saliente do
clima regional é a nítida influência mediterrânica, traduzida por um Verão pronunciado e
seco e um Inverno relativamente ameno, reflectido por um risco de geada fraco a moderado.
Quadro 3: Temperaturas Mínima, Média e Máxima (1958-1988)
Temperaturas máxima, média e mínima
Fig. 15: Temperaturas Mínima, Média e Máxima (1958-1988)
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Ano
1ª APLICAÇÃO DO HERBICIDA Tractor 150 Cv com rodas de borracha + Pulverizador (1200 l)
SEMENTEIRA EM SECO Tractor de 150 Cv + Semeador 750 A (Jonh Deere)
2ª APLICAÇÃO DO HERBICIDA Tractor de 65 Cv com rodas em cunha + Pulverizador (1200 l)
ADUBAÇÃO DE COBERTURA Tractor de 65 Cv com rodas em cunha + Distribuidor centrífigo (1 disco)
Quadro 5: Datas de aplicação e doses de alguns factores de produção utilizados no Monte de Gaxa
SEMENTEIRA CONVENCIONAL SEMENTEIRA DIRECTA
1ª aplicação de herbicida
30/04/2007 6 l/ha
(glifosato)
30/04/2007 6 l/ha
(glifosato)
data quantidade
subst. activa
Sementeira 1/05/2007 176 Kg/ha Cult. Euro
1/05/2007 176 Kg/ha Cult. Euro
data quantidade variedade
1ª adubação de cobertura
29//05/2007 350 kg/ha 21:8:10
29/05/2007 350 kg/ha 21:8:10
data Quantidade
Tipo de adubo
2ª aplicação de herbicida
30/05/2007 2 l/ha
(penoxsulame)
30/05/2007 2 l/ha
(penoxsulame)
data Quantidade
s. a.
2ª adubação de cobertura
2/07/2007 180 Kg/ha
Sulfamido (40%N)
2/07/2007 180 Kg/ha
Sulfamido (40%N)
data quantidade
tipo de adubo
4.1.5.2. Preparação do solo
A preparação do terreno (sementeira convencional) foi feita de forma a se obterem as
melhores condições para a germinação e desenvolvimento das plantas, compreendendo as
seguintes operações: lavoura, gradagem e nivelamento do terreno.
33
A lavoura, realizada no mês de Abril, foi feita com o objectivo de descompactar o solo até
uma profundidade de 25 cm aproximadamente (a existência de um imperme a esta
profundidade permitirá reduzir o consumo de água de rega), visando facilitar o
desenvolvimento radicular e, ainda, incorporar as infestantes e os resíduos vegetais no
terreno provenientes da campanha anterior.
As gradagens seguintes têm como objectivo promover o destorroamento, nivelamento e
esmiuçamento do solo lavrado.
Devido ao sistema de rega empregue na cultura do arroz, descrito anteriormente em 2.4, o
nivelamento do solo representa uma das principais operações, permitindo o correcto
controlo da água, reduzindo o seu consumo, e melhora o controlo das infestantes. Segundo
Datta (1986) um nivelamento preciso, orientado por raios laser, permite ainda melhorar a
germinação e o desenvolvimento da plântula.
Ainda, com o intuito de homogeneizar a distribuição de água no canteiro, uma vez que o
canteiro tinha uma área elevada (13 ha) e apenas continha uma entrada de água, foram
feitos um rego no alinhamento da boca de água do canteiro e dois perpendiculares a este.
Relativamente a isto, não sei até que ponto os regos junto aos muros seria benéfico uma
vez que apesar de realizarem o mesmo efeito dos existentes e a dificuldade de secagem
dos canteiros existirem de igual modo, ajudariam a combater o aparecimento de
determinadas infestantes que surgem predominantemente nessa zona, como é o caso do
escalracho.
Relativamente à sementeira directa, a primeira operação realizada foi a queima da palha da
campanha anterior deixada nos canteiros uma vez que esta constitui uma barreira para a
passagem de luz e para a emergência do arroz. Esta operação foi feita logo assim que
acabou a campanha anterior. Só alguns dias antecedentes à sementeira, procedeu-se à
passagem de um rolo para atenuar os sulcos deixados pelos rodados da ceifeira na colheita
anterior.
4.1.5.3 Adubação
A adubação deveria ser feita de acordo com uma análise de terra realizada antes de
qualquer técnica cultural efectuada, pois assim esta seria realizada com maior rigor. No
entanto a exploração em estudo não recorreu a esta análise.
34
Relativamente à adubação, não se utilizou adubação de fundo, apenas sendo realizada a
primeira adubação de cobertura 28 dias após a sementeira. Esta decisão poderá ter
prejudicado o desenvolvimento das plantas uma vez que se encontravam em solos de
textura mediana, e portanto não muito férteis (com baixos teores em matéria orgânica) e
onde ocorrem lixiviações devido ao permanente alagamento dos canteiros, e durante esse
período as plantas necessitam de alimento. Esta afirmação foi confirmada na campanha
seguinte, pois com a realização de adubação de fundo obteve-se melhores resultados em
relação à germinação, afilhamento e produção final.
A adubação de cobertura foi realizada em duas aplicações tendo sido a primeira na fase de
afilhamento do arroz, a 29 de Maio. Nesta aplicação foram aplicados 350Kg/ha de adubo
composto 21:8:10, ou seja, foram adicionados cerca de 73,5Kg/ha de azoto, 28Kg/ha de
fósforo e 35Kg/ha de potássio. Relativamente à segunda aplicação de adubo de cobertura,
foram aplicados no solo 180Kg/ha de Sulfamido (40% de azoto amoniacal), ou seja, 72Kg/ha
de azoto. No total de adubação azotada foram aplicados cerca de 145 Kg/ha de azoto, valor
indicado para a obtenção de 7 toneladas por hectare (cerca de 20 kg de N por tonelada de
grão produzido).
4.1.5.4 Sementeira
A sementeira, quer a convencional quer a directa, foram realizadas no dia 1 de Maio, em
linhas, com uma distância de 16,6 cm na entrelinha e com uma profundidade de sementeira
de 2-3 cm. O semeador (Anexo 3) utilizado foi um semeador de linhas pneumático
possuindo uma largura de trabalho de 4 m (24 linhas). Os corpos de sementeira permitem
uma localização perfeita da semente e um excelente contacto com a terra. Este semeador
pode ser utilizado quer em sementeira directa, obtendo todos os benefícios económicos e
agronómicos desta, quer após uma preparação do terreno aproveitando a enorme precisão
deste semeador.
4.1.5.5 Monda Química
São várias as substâncias activas utilizadas no arroz, mas apenas limitamo-nos a descrever
neste trabalho o tratamento que foi efectuado durante este ciclo cultural.
Inicialmente foi aplicado glifosato antes da sementeira, tendo como objectivo matar qualquer
tipo de plantas. Posteriormente, na fase de afilhamento da cultura, foi aplicado um novo
herbicida selectivo (s.a. penoxsulame) para o arroz, sendo este um herbicida de pós-
emergência, sistémico, e de rápida absorção pelas folhas, caules e via radicular.
35
1- Luta contra as infestantes
o Glifosato – herbicida pós-emergente classificado como não selectivo e de acção
sistémica. Apresenta um largo espectro de acção, o que possibilita um excelente
controlo de ervas daninhas anuais ou perenes, tanto de folhas largas como estreitas.
Este herbicida foi aplicado através de um pulverizador, montado no tractor, imediatamente
antes da sementeira. No entanto, é conveniente referir que o herbicida só foi aplicado na
sementeira convencional uma vez que a mobilização do solo foi efectuada cerca de 20 dias
antes da sementeira e, por isso, já haviam infestantes à superfície.
o penoxsulame – herbicida selectivo para tratamento de pós-emergência, sistémico e
residual.
O penoxsulame é um herbicida, aplicado em pós-emergência, com elevada eficácia contra
as echinochloas, ciperáceas e infestantes de folha larga. Este herbicida foi aplicado através
de um pulverizador associado ao tractor. No entanto para melhorar a sua eficiência foi
necessário baixar o nível de água da parcela a tratar ao máximo de forma a que este, o
herbicida, entre em contacto com todas as infestantes (gramíneas e dicotiledóneas).
È conveniente salientar que será benéfico regular o pulverizador, pelo menos de 2 em 2
anos, de forma a aplicar-se a quantidade de herbicida pretendida.
4.2. Colheita
A época da colheita tem a maior importância na valorização final do produto, sendo esta
influenciada em grande parte pela oportunidade da ceifa e preparação para o descasque.
Quando o arroz atinge a fase de maturação, ocorre uma acumulação de reservas no fruto
juntamente com uma diminuição ou mesmo paragem da função radicular. O grão do arroz
passa do estado leitoso inicial às fases pastosa, semi-dura e dura, quando a maturação está
definitivamente completa. Com o decorrer da maturação diminui a percentagem de
humidade contida nas cariopses.
À medida que a fase de maturação vai avançando, diminui a percentagem de grãos verdes
e gessados. No entanto, a melhor época da colheita não corresponde necessariamente a
uma maturação intensa uma vez que esta conduz frequentemente a baixos rendimentos
industriais e elevada percentagem de partidos. Rendimento industrial é a quantidade de
arroz branco obtido nas operações de descasque e branqueamento, com a intensidade de
desgaste estabelecida para a cultivar.
36
A colheita do arroz deve ser feita quando a humidade do bago oscilar entre os 18% e os
22%, porque para valores abaixo deste intervalo obtêm-se uma elevada percentagem de
trinca (bago que não pode ser considerado perfeito, ou seja, bago partido), e acima deste a
percentagem de impurezas vai ser muito elevada, nomeadamente a de arroz em estado
leitoso (maturação incompleta), que afecta o rendimento industrial global e,
consequentemente, o comportamento industrial correspondente.
Na exploração acompanhada neste estudo, a ceifa foi realizada mecanicamente através de
uma ceifeira debulhadora quando o arroz estava, sensivelmente, entre os 18 e os 22% de
humidade.
4.3. Análise da Produção e suas Componentes
4.3.1. Introdução
Neste capítulo pretende-se estudar a produção e as suas componentes, das sementeiras
convencional e directa, já apresentadas anteriormente, cujo ciclo cultural decorreu no Monte
de Gaxa, situado no Vale do Sado.
Em primeiro lugar fizemos uma análise à população de plantas assim como a sua evolução
ao longo do ciclo cultural, pois a produção final será fortemente condicionada por esta
evolução devido às perdas que vão ocorrendo. Assim, primeiro fizemos a análise à
população e posteriormente à produção final onde iremos verificar o efeito da primeira sobre
a segunda.
A população de plantas existentes no canteiro referente a cada modalidade foi então medida
em três fases distintas do ciclo cultural: à sementeira, à emergência e à colheita. A
contagem feita nesta última fase vai permitir estimar a produção final e conhecer as suas
componentes (Luzes, 1990).
4.3.2. Parâmetros Avaliados
Para a realização das várias determinações utilizamos o canteiro referente à sementeira
convencional e o de sementeira directa, pois apenas possuíamos um canteiro para cada
modalidade.
37
A população semeada ou potencial foi determinada através da quantidade de semente
usada na sementeira e no peso de 1000 sementes (cultivar Euro=27,5g).
A população emergida foi determinada pela contagem directa do número de plantas e
realizou-se quando estas tinham entre 2 e 4 folhas, antes do afilhamento, visto que a partir
dai seria difícil diferenciar as plantas. Esta contagem foi realizada em 25 medições, por
modalidade, sobre áreas elementares de 0,25 m2. A população emergida surge aqui como
óptimo estimador da densidade de plantas, ou seja, número de plantas/m2 (Luzes, 1990).
A emergência de campo foi determinada com base na razão entre o número de plantas
individuais emergidas e o número de semente semeadas (Huey, 1977).
Da população emergida à colhida há que considerar o grau ou intensidade de afilhamento
medido através do número de colmos por unidade de área. Esta medição foi realizada na
fase de pleno afilhamento, sobre 10 áreas elementares de 0,25 m2 para cada modalidade.
Por último, como indicador da população à colheita utilizou-se o número de panículas por
unidade de área, determinada numa colheita, aquando da colheita mecânica realizada na
exploração. Esta colheita foi realizada sobre 5 áreas elementares de 0,25 m2 para cada
modalidade (10 no total), debulhadas manualmente, procedendo-se de seguida a secagem
do grão. Para cada amostra foram separadas 10 panículas (50 por modalidade) onde foram
contados o número de grãos (cheios e falidos) obtidos e, depois da debulha e secagem, a
palha resultante de cada amostra também foi pesada depois de seca.
A matéria seca (M.S.) da palha e do grão foi determinada após 72 horas na estufa a 75ºC,
com pesagem posterior em balanças digitais.
O tratamento estatístico foi feito com recurso ao programa SPSS 15.0. O tratamento
envolveu o cálculo de parâmetros de estatística descritiva, a análise de variância das
médias (ANOVA) e o teste de homogeneidade de variâncias (revela se as modalidades
diferem ou não significativamente). Se, com a realização do teste de homogeneidade de
variâncias, o nível de significância for inferior a 0,05, podemos concluir que as modalidades
são significativamente diferentes para um determinado parâmetro. Quando as variâncias
são homogéneas (p.>0,05) faz-se uma análise de variância para verificarmos se os
parâmetros estudados diferem consoante a modalidade (p<0,05) ou não (p>0,05). Foram
ainda realizadas regressões lineares simples para verificar a natureza de algumas relações
(anexos 3 e 4).
38
4.3.3. Resultados e Discussão
4.3.3.1. Análise da População
Ao realizar-se uma análise da população deve não só ser definida a densidade de plantas,
ou o número de plantas por unidade de área, mas também o arranjo espacial destas no
terreno (Willey e Heath, 1970). Abordaremos apenas o primeiro aspecto, pois numa planta
com elevado afilhamento a importância da uniformidade de população é reduzida, quando
comparada com culturas menos plásticas como o milho ou o girassol (Counce et al, 1989).
As perdas da população semeada ou potencial relativamente à emergência foram elevadas
principalmente na sementeira directa, como se pode verificar pela baixa emergência de
campo (quadro 6 e fig. 19), cerca de 48% para a sementeira directa e 65% para a
sementeira convencional.
Quadro 6: População semeada e emergida e emergência de campo, para as diferentes modalidades.
*Médias seguidas da mesma letra não são significativamente diferentes ao nível de probabilidade de 0,05.
Fig. 19: Diferenças entre as várias modalidades relativamente ao número de plantas emergidas.
As modalidades partiram da mesma população potencial mas como a emergência de campo
é superior na sementeira convencional em relação à sementeira directa, faz com que a
primeira fique em ligeira superioridade, ou seja, surja uma maior população emergida. Com
a realização do teste ANOVA (anexo 5), em que a variável dependente é o número de
plantas emergidas por unidade de área (m2) e o factor é a modalidade, verificamos que o
número médio de plantas emergidas é de 414 na sementeira convencional e 304 na
sementeira directa. O total da amostra é de 50 contagens e o número médio global de
Modalidade População Semeada População Emergida
Plantas/m 2 Emergência
de Campo % Kg/ha Sementes/m 2 Sementeira Convencional 176 640 414 a 65
Sementeira Directa 176 640 304 b 48
39
sementes germinadas é de 359. O teste de homogeneidade de variâncias revela que estas
diferem significativamente entre os grupos, dado que o nível de significância é inferior a
0,05.
Como a maioria dos factores são iguais, o arejamento do solo poderá ser o factor
determinante para esta superioridade de sementes germinadas na sementeira convencional
em relação à sementeira directa, uma vez que a lavoura e as gradagens contribuem para a
melhoria da porosidade total. Por outro lado, relativamente à sementeira directa, a palha da
anterior campanha dificulta, ou mesmo impede, a passagem de luz e a emergência do arroz,
apesar da queima da palha efectuada atenuar este efeito.
É de grande interesse encontrar uma explicação para valores tão elevados de perdas entre
a sementeira e a emergência. Huey (1977) referindo-se à região do Arkansas (E.U.A.),
admite em média uma perda de 73% desde a sementeira até à emergência, para um
esquema cultural clássico, valor este muito superior ao ocorrido na sementeira
convencional. Caso se opte por uma sementeira em linhas com alagamento 25 dias depois
(método acompanhado neste estudo), as perdas de plantas são praticamente nulas (Jones e
Snyder, 1987). No entanto estes valores não foram confirmados neste estudo.
Da população emergida à colhida há que considerar a intensidade ou grau de afilhamento
medido através do número de colmos por unidade de área (Quadro 7 e Figura 20), função
do ambiente cultural e da cultivar utilizada (Luzes, 1990).
Quadro 7: Grau de afilhamento (caules/planta) medido na fase de afilhamento da cultura.
Modalidade Plantas/m 2 Caules/m 2 Caules/Planta
Sementeira Convencional 414 a 894 a 2,2 a
Sementeira Directa 304 b 597 b 2,0 a *Médias seguidas da mesma letra não são significativamente diferentes ao nível de probabilidade de 0,05.
Fig. 20: Diferenças entre as modalidades relativamente ao afilhamento.
40
No afilhamento consideram-se insignificativas as perdas da população relativamente à
população emergida (plantas/m2), dai não se contar novamente o número de plantas após o
afilhamento. O número médio de caules/m2 foi 894 na sementeira convencional e 597 na
sementeira directa. Através do tratamento estatístico verificamos que a planta tem pouca
plasticidade de resposta através da variação do número de caules/planta (afilhamento). No
entanto, esta conclusão geral, em certa medida, é desmentida quando observamos a
variação conjunta do número de plantas/m2 e caules/m2 por modalidade.
A plasticidade do número de caules por m2 é elevada (Couce, 1987), por exemplo quanto
maior for o espaçamento entre plantas, maior será o grau de afilhamento, considerando os
restantes factores constantes. No campo obtiveram-se resultados que apoiam esta
implicação, existindo uma variação linear decrescente entre o número de caules por planta e
o número de plantas por unidade de área em ambas as modalidades (figura 21).
Fig. 21: Variação do número de caules por planta em função do número de plantas por m2, para as duas
modalidades.
O número de panículas por unidade de área permite estimar correctamente a produção (De
Datta, 1986). Os dados referentes às duas modalidades estudadas apontam para uma
superioridade da sementeira convencional, só conseguida por menores perdas de plantas
da emergência à colheita e por um grau de afilhamento superior à sementeira directa, pois
inicialmente as duas modalidades tinham igual população potencial.
Através da análise da população à colheita verifica-se que ocorreram novamente perdas
relativamente ao número de panículas esperado (quadro 8 e fig. 22), devido ao número de
caules obtidos na medição anterior. Estas perdas resultam não só da redução do número de
plantas mas também devido ao facto de nem todos os caules desenvolverem panículas.
Sementeira directa y = -0,0027x + 3,5896R2 = 0,6875
0,000
0,500
1,000
1,500
2,000
2,500
3,000
3,500
400 600 800 1000 1200 1400
Plantas/m 2
Cau
les/
Pla
nta
41
Quadro 8: População à colheita para as duas modalidades efectuadas. A segunda e última coluna demonstram a quebra que ocorreu do número de caules por unidade de área para o número de panículas por unidade de área.
Modalidade Caules /m 2 População à Colheita (Panículas/m 2)
Quebra na População à colheita (%)
Sementeira Convencional 894,0 a 644,0 a 28
Sementeira Directa 597,2 b 262,4 b 56 *Médias seguidas da mesma letra não são significativamente diferentes ao nível de probabilidade de 0,05.
Fig. 22: Diferenças entre as várias modalidades relativamente à população à colheita.
Tal como nos indica a figura seguinte, os dados referentes ao ensaio apontam para uma
superioridade do número de panículas/m2 da sementeira convencional em relação à
sementeira directa, conseguida por um elevado número de plantas emergidas/m2 e por um
grau de afilhamento também superior.
Fig. 23: Resumo dos vários indicadores da análise da população: população semeada (sementes/m2), população
emergida (plantas/m2), afilhamento (caules/m2) e população à colheita (panículas/m2).
42
4.3.3.2. Análise da Produção Final
A produção final pode ser avaliada por unidade de área ou por planta, apesar do primeiro
critério ter maior interesse agronómico. Na cultura do arroz os principais componentes da
produção são: a população à colheita, anteriormente estudada, o número de grãos por
panícula e o peso de 1000 grãos. Este último parâmetro é normalmente pouco plástico,
sofrendo apenas variações se a nebulosidade for intensa (Counce et al, 1989; Jones e
Snyder, 1987). O número de grãos por panícula varia em sentido oposto ao número de
panículas por unidade de área, permitindo assim que a produção final seja relativamente
independente da população à colheita para uma gama aceitável de plantas emergidas
(Jones e Snyder, 1987). Por este motivo pode não ser correcto estimar a produção com
base na população à colheita como adiante veremos.
A produção de grão por unidade de área foi grandemente superior na sementeira
convencional relativamente à sementeira directa, tal como se esperava (Quadro 9; 6032.8
Kg/ha na sementeira convencional e 3700 Kg/ha para a sementeira directa).
Quadro 9: Índice de colheita e suas componentes, expressos em matéria seca (g/m2). A produção final
corresponde à coluna M.S. do Grão (g/m2).
Modalidade M.S. Grão (g/m 2)
M.S. Palha (g/m 2)
Total de M.S. Produzida (g/m 2)
Índice de Colheita (%)
Sementeira Convencional 603,28 a 633,92 a 1237,20 a 48,76 a
Sementeira Directa 370,00 b 393,60 b 763,60 b 48,45 a *Médias seguidas da mesma letra não são significativamente diferentes ao nível de probabilidade de 0,05.
A relação entre a matéria seca do grão e o total de matéria seca produzida representa o
índice de colheita. Segundo De Datta (1986), a radiação solar durante a fase reprodutiva
representa o principal factor responsável pelo decréscimo do índice de colheita.
Fig. 24: Análise da Produção: as componentes do índice de colheita.
43
A produção de grão por panícula (quadro 10) foi superior na sementeira directa, resultado de
um maior número total de grãos e de um menor número de grãos falidos. Este resultado
deve-se ainda ao facto de, nesta modalidade, haver um menor número de plantas
emergidas por unidade de área, comparativamente com a restante modalidade.
Quadro 10: Análise da produção por panícula, em número de grãos, para as quatro modalidades.
Modalidade Grãos/Panícula
Grãos Falidos / Panícula (%)
Sementeira Convencional 54,02 a 7,96 a
Sementeira Directa 66,16 b 3,90 a *Médias seguidas da mesma letra não são significativamente diferentes ao nível de probabilidade de 0,05.
No entanto, como já se afirmou e se pode observar no quadro 15, a produção final da
sementeira convencional foi superior à sementeira directa, apesar da produção por panícula
ser inferior. Esta relação é consequência das diferenças encontradas na população à
colheita (panículas/m2), e do seu efeito na produção, já mencionado, que será analisado
seguidamente.
4.3.3.3. Análise dos Efeitos da População Final
Numa primeira análise dos efeitos da população na produção final podemos concluir o
seguinte: ambas as modalidades partiram da mesma população potencial, no entanto, na
sementeira directa ocorreram maiores perdas na população emergida, ficando a sementeira
convencional em ligeira superioridade. Ainda, o maior grau de afilhamento na sementeira
convencional, assim como uma menor quebra no número de caules que não originaram
panícula, levou a uma maior população à colheita relativamente à sementeira directa.
Figura 25: Variação da produção final (g/m2) com a população à colheita nas duas modalidades.
44
Como se pode observar na figura 25, um maior número de panículas por unidade de área
pode significar uma maior produção final, estando estas duas variáveis melhor
correlacionadas na sementeira convencional do que na sementeira directa.
Ao analisar a produção por panícula verificamos que esta é superior na sementeira directa,
o que se pode considerar resultado de um menor número de panículas por unidade de área.
No entanto, este valor superior na produção por panícula não traduz uma maior produção
final devido à baixa população à colheita, comparativamente à sementeira convencional.
Convém salientar que, não foi possível comparar o rendimento industrial obtido nas
diferentes modalidades, o qual poderia influenciar o rendimento bruto.
As conclusões relativamente à análise da população deste estudo podem ser apresentadas
em esquema evidenciando as diferenças entre as modalidades (fig. 26).
População
Semeada
SEMENTEIRA = SEMENTEIRA
CONVENCIONAL DIRECTA (Sementes/m2) População
Emergida
SEMENTEIRA > SEMENTEIRA
CONVENCIONAL DIRECTA (Plantas/m2) Grau de afilhamento Médio Baixo
População à Colheita
SEMENTEIRA > SEMENTEIRA
CONVENCIONAL DIRECTA (Panículas/m2)
Fig. 26: Esquema com as principais conclusões relativamente à análise da população.
45
5. ANALISE ECONÓMICA
5.1. Contas de Cultura
Para concluir o objectivo deste trabalho torna-se imprescindível, após a análise da produção
final, uma análise económica para estabelecer as contas de cultura, determinando assim o
seu resultado líquido.
Foram feitas contas de cultura distintas para as duas modalidades efectuadas, com base em
valores médios aproximados de quantidades unitárias e de preços unitários da região de
Alcácer do Sal.
As contas de cultura (Quadros 13 e 14) encontram-se divididas pelas fases culturais de
Preparação do Solo, Fertilização, Sementeira, Amanhos Culturais, Colheita e Secagem.
Cada uma destas fases está dividida em operações com uma determinada data de
ocorrência.
Para a realização das operações culturais, a exploração acompanhada (Monte de Gaxa)
recorre a Meios Humanos, ao equipamento que possui, a Equipamento Exterior e a
Matérias-primas.
Nem todas as operações indicam o tempo e o custo dos meios Humanos porque este
parâmetro está incluído no tempo e custo do equipamento, tanto das explorações como do
exterior.
Relativamente aos custos com o Secador, equipamento da própria exploração, foi
considerada a tarifa de 0,03€/kg.
O Monte de Gaxa receberá um subsidio por produzir arroz de 741,17 €/ha e de 811,61 €/ha
para sementeira convencional e directa, respectivamente. O seu pagamento é feito de 1 de
Setembro da campanha até 31 de Agosto do ano seguinte ao da campanha, tendo o pedido
de pagamento de ser acompanhado da factura de venda, que deve ter indicação do
respectivo teor de humidade e a quantidade.
46
5.2. Determinação do resultado líquido da cultura
O resultado líquido da cultura corresponde à subtracção do resultado bruto (preço x
produção final expressa em matéria seca) os encargos totais em máquinas, materiais e
mão-de-obra.
Relativamente à sementeira convencional, pela observação do quadro 11, verificamos que a
preparação de solo, principalmente o nivelamento, representa um custo elevado na
produção desta cultura. No entanto, em ambas as modalidades estudadas, outros factores
contribuem, e muito, para o acréscimo da conta de cultura, tais como a fertilização, a rega, a
colheita e a secagem. De seguida apresentamos o modo como estão repartidos os custos
de produção, tanto na sementeira convencional como na directa.
Quadro 11: Custo de produção e repartição dos custos de produção em ambas as modalidades.
OPERAÇÕES
Modalidade (euros/ha) Repartição dos Custos de Pro dução
S. Convencional (euros/ha)
S. Directa (euros/ha)
S. convencional (%)
S. Directa (%)
Prep. de Solo 220 25 13,6 1,8 Fertilização 229,3 229,3 14,2 16,5 Sementeira 195 195 12,0 14,0