Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas. O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 Alterações no perfil das exportações gaúchas Teresinha da Silva Bello * Sônia Unikowsky Teruchkin ** Álvaro Antônio Garcia *** INTRODUÇÃO Este artigo visa compreender as alterações da pauta exportadora gaúcha, tendo como pano de fundo a demanda mundial, a abertura econômica, nela incluída a formação de blocos, a taxa de câmbio e a diversificação de produtos e de mercados. 1 Para o crescimento das exportações nacionais e estaduais, concorreram vários fatores, externos e internos. Dentre os externos, podem ser citados: elevado crescimento da economia mundial, com maior crescimento dos parceiros comerciais usuais do País e/ou do Estado; modificações estruturais na demanda mundial, favorecendo os produtos em que Brasil e/ou o RS é especializado; modificações nos preços relativos e/ou em outros fatores que aumentaram a capacidade competitiva. Mudanças sociais, econômicas e políticas, bem como a criação e o fortalecimento dos acordos regionais de comércio, também * Economista, Técnica da FEE. ** Economista, Técnica da FEE. *** Economista, Técnico da FEE. Os autores agradecem à colega Beky Macadar as críticas e as sugestões a uma versão preliminar deste artigo. Um agradecimento especial ao colega e Estatístico Jeferson Daniel de Matos, que fez o tratamento estatístico de vários dados, sem os quais este estudo não poderia ser feito. Os erros que, eventualmente, tenham permanecido são de responsabilidade dos autores. 1 Uma análise do comércio externo do RS perde sentido, visto que o Estado absorve uma gama relativamente grande de mercadorias importadas por outras unidades da Federação; por outro lado, também se revela importante porto de entrada para mercadorias a serem distribuídas em outras unidades da Federação. Assim, opta-se pela avaliação apenas das exportações gaúchas, tendo em vista sua relevância na formação do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado e sua participação no total exportado pelo Brasil, já que, sob esse aspecto, a contribuição do RS ao País tem sido muito importante.
32
Embed
Alterações no perfil das exportações gaúchas - FEE · Sistema Alice, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Alterações no perfil das exportações gaúchas
Teresinha da Silva Bello*
Sônia Unikowsky Teruchkin**
Álvaro Antônio Garcia***
INTRODUÇÃO
Este artigo visa compreender as alterações da pauta exportadora
gaúcha, tendo como pano de fundo a demanda mundial, a abertura
econômica, nela incluída a formação de blocos, a taxa de câmbio e a
diversificação de produtos e de mercados.1
Para o crescimento das exportações nacionais e estaduais,
concorreram vários fatores, externos e internos. Dentre os externos,
podem ser citados: elevado crescimento da economia mundial, com maior
crescimento dos parceiros comerciais usuais do País e/ou do Estado;
modificações estruturais na demanda mundial, favorecendo os produtos
em que Brasil e/ou o RS é especializado; modificações nos preços
relativos e/ou em outros fatores que aumentaram a capacidade
competitiva. Mudanças sociais, econômicas e políticas, bem como a
criação e o fortalecimento dos acordos regionais de comércio, também
* Economista, Técnica da FEE.
** Economista, Técnica da FEE.
*** Economista, Técnico da FEE. Os autores agradecem à colega Beky Macadar as críticas e as sugestões a uma versão preliminar deste artigo. Um agradecimento especial ao colega e Estatístico Jeferson Daniel de Matos, que fez o tratamento estatístico de vários dados, sem os quais este estudo não poderia ser feito. Os erros que, eventualmente, tenham permanecido são de responsabilidade dos autores. 1 Uma análise do comércio externo do RS perde sentido, visto que o Estado absorve
uma gama relativamente grande de mercadorias importadas por outras unidades da Federação; por outro lado, também se revela importante porto de entrada para mercadorias a serem distribuídas em outras unidades da Federação. Assim, opta-se pela avaliação apenas das exportações gaúchas, tendo em vista sua relevância na formação do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado e sua participação no total exportado pelo Brasil, já que, sob esse aspecto, a contribuição do RS ao País tem sido muito importante.
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
influíram nos negócios internacionais, com alterações de produtos e
mercados. O aumento da renda e do processo de urbanização em alguns
países (China e Índia por exemplo) são algumas das mudanças sociais que
favoreceram a demanda internacional. O crescimento econômico mundial,
capitaneado pela China e seguido por vários países, em especial os
emergentes, também favoreceu o crescimento das exportações. Pelo lado
político, no caso do Brasil, houve um maior interesse por parte do
Governo brasileiro em incrementar as relações Sul-Sul. A conclusão da
Rodada Uruguai, a criação da Organização Mundial de Comércio (OMC) e
seus desdobramentos em termos de uma nova fase de abertura comercial
e de predomínio de práticas liberais, bem como a formação e a
consolidação dos acordos regionais, vêm repercutindo nas relações
externas brasileiras, especialmente no que se refere ao comércio exterior.
Do ponto de vista interno, destacaram-se os processos de abertura
e de estabilização econômica implementados no Brasil, a partir de 1990 e
1994, respectivamente, com reflexos no comercio externo, bem como a
relevância de novos mercados para o crescimento das empresas.
Para várias atividades produtivas, as exportações são importantes
fontes de economia de escala, ao permitirem o crescimento do nível de
produção, e possibilitam o conhecimento de novas ideias e tecnologias,
fatores indispensáveis para o incremento da produtividade e, por
decorrência, da competitividade das empresas. Para incrementar as
exportações, em nível tanto nacional como estadual, a estratégia
empresarial utilizada foi a diversificação de produtos e de mercados. Essa
diversificação reduz a volatilidade das receitas de exportação e diminui os
efeitos de crises de demanda localizadas.
Após esta parte introdutória, segue-se uma nota metodológica.
Posteriormente, são feitas considerações sobre a contribuição das
exportações gaúchas ao PIB do RS. A seguir, é traçado um perfil
comparativo, por fator agregado, das vendas externas do Estado em
relação aos principais estados exportadores do País. Na sequência, as
exportações do Rio Grande do Sul são analisadas por fator de
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
competitividade e por destino. Ao final, encerra-se com algumas
considerações resultantes deste estudo.
BREVES CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
Nem todas as abordagens contemplam os dados a partir de 1980.
Um fato limitador da análise por produto, por fator de competitividade e
por destino refere-se ao período analisado, restrito aos anos de 1989 e
2008. Esse período justifica-se pelo fato de os dados desagregados por
países e mercadorias, tal como usados neste trabalho e disponíveis no
Sistema Alice, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), só estarem
disponibilizados a partir de 1989. Uma vez compatibilizados os dados da
Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM), utilizados no período
1989-96, com os da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), após
1996, bem como com as alterações da NCM em 2002 e 2007, foram
selecionadas as posições a quatro dígitos, por entender-se que esse grau
de discriminação é suficientemente adequado, ordenando-se as mesmas
pelo somatório do valor no período 1989-2008.2
Com o objetivo de apresentar um panorama mais agregado e,
portanto, mais fácil de visualizar, agruparam-se os dados em quatro
períodos: de 1989 a 1993, de 1994 a 1998, de 1999 a 2003 e de 2004 a
2008. Cada um deles possui certas características que exerceram forte
influência no comércio exterior brasileiro. De uma maneira geral, o
primeiro (1989-93) correspondeu à abertura comercial; o segundo
(1994-98), ao início do Plano Real e à política do câmbio fixo; o período
compreendido entre 1999 e 2003 foi marcado pela volta do câmbio
flutuante e pela desvalorização do real; o último período (2004-08)
2 A classificação a dois dígitos denomina-se capítulo, a quatro dígitos, posição, a seis
dígitos, subposição, e, a partir daí, denominam-se itens (5o e 6o dígitos) ou subitens (7o
e 8o dígitos). Assim, uma classificação a quatro dígitos, que, ao longo deste trabalho, será chamada indistintamente de produto ou mercadoria, pode, na verdade, englobar um ou mais subitens.
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
correspondeu a uma grande expansão do comércio internacional
concomitante ao retorno do câmbio valorizado — exceção aos seis meses
finais de 2008.
Em relação às exportações por fator de competitividade, foi feita
uma seleção dos 50 produtos mais importantes de cada período,
ordenados pelo valor nominal de suas exportações. Seguindo a
classificação adotada por Fernando Puga (2007), esses produtos foram
agrupados de acordo com o seu principal fator de competitividade:
a) setores intensivos em recursos naturais - agropecuária,
extração mineral, petróleo e álcool (inclusive refino), alimentos e
bebidas, madeira, papel e celulose e produtos de minerais não
metálicos;
b) setores intensivos em trabalho - têxtil, vestuário, couro e
calçados, produtos de metal e móveis/joias/indústrias diversas;
c) setores intensivos em escala - química, borracha e plástico,
metalurgia e veículos automotores;
d) setores intensivos em tecnologia diferenciada ou
baseados na ciência - máquinas e equipamentos, máquinas
de escritório e informática, aparelhos elétricos, material
eletrônico e de comunicações, instrumentos médicos e ópticos,
aviação/ferroviário/embarcações/motos.
A partir daí, procedeu-se a uma investigação sobre a participação
dessas mercadorias nas exportações gaúchas ao longo do tempo.
No que se refere ao destino dos produtos exportados pelo Estado,
depois de identificarem-se os principais locais para onde se dirigem os
mesmos, foi feito um levantamento dos produtos embarcados para esses
destinos, com destaque para as principais posições da NCM, a quatro
dígitos, exportadas para cada um deles. Foram selecionados os principais
blocos ou regiões de destino. Contudo escolheu-se analisar as informações
dos EUA (inclusive Porto Rico), e não do Acordo de livre Comércio da
América do Norte (NAFTA), devido ao fato de que o México já faz parte da
Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), e, nesse caso,
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
haveria dupla contagem. Para compatibilizarem-se os dados, optou-se por
utilizar os valores das exportações da União Europeia (UE), composta de
27 países, apesar de se saber que tal só ocorreu em 2007. Mas, como o
incremento de países no bloco foi gradual, tendo iniciado com seis países,
era importante tornar a informação homogênea.
A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES NO PIB DO RS
No período 1980-2008, as exportações gaúchas sempre registraram
maior relação com o Produto Interno Bruto do Estado do que as
exportações brasileiras com o PIB nacional. E, apenas em três desses
anos (1995, 1996 e 1998), a razão entre as exportações gaúchas e o PIB
estadual esteve abaixo dos 10%, sendo que, nos anos de 1992, 2003 e
2004, esse percentual ultrapassou os 20%, tendo alcançado o recorde de
22,5% em 2004. No caso brasileiro, considerando-se o mesmo intervalo
de tempo, a maior relação das exportações com o PIB nacional ocorreu
em 2004 (14,5%), e a menor, em 1996 (5,7%), como pode ser visto no
Gráfico 1. Desse modo, é possível afirmar-se que a economia do RS é bem
mais dependente do mercado externo do que a do Brasil. E essa
dependência tem sido maior no século XXI do que nos últimos anos do
século passado (década de 90), pois, exceto o ano de 1992, as maiores
relações entre as vendas externas e o PIB gaúcho estão no período de
2001 a 2008 e em alguns anos da década de 80. Neste último caso, em
decorrência do esforço exportador necessário para enfrentar a penúria
cambial em que o País se encontrava à época.
Nos anos 80, as exportações do RS oscilaram bastante, com
períodos de elevação e de redução, conforme pode ser visto na Tabela 1.
Em 1982, a queda das vendas externas do Estado teve como causa
principal a grande desaceleração do comércio mundial, resultado das altas
nos juros internacionais — capitaneadas pelos Estados Unidos — e da
valorização do dólar nos mercados europeus, além dos problemas nos
balanço de pagamentos dos países do Terceiro Mundo. Mas, em 1983,
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
nesses anos. Tanto os preços quanto o volume embarcado elevaram-se,
não apenas como resultado da forte aceleração no comércio mundial como
também pela desvalorização da taxa de câmbio brasileira no segundo
semestre de 2002. No caso do câmbio, seus efeitos fizeram-se sentir
principalmente a partir de 2003, dada a defasagem de tempo que
costuma haver entre a mudança na taxa e as alterações nas exportações.
Os efeitos da crise da Argentina, no final de 2001, tendo em vista a
importância do país vizinho para o mercado externo gaúcho, que, por isso,
poderiam ter sido mais danosos para as exportações do RS, foram
amenizados pelo crescimento mundial, onde a China desempenhou
importante papel. Embora diferentes em suas qualificações — pois o
mercado argentino importa do RS principalmente manufaturados,
enquanto as importações chinesas com origem no RS são de produtos
básicos —, as vendas para esse país asiático permitiram que as
exportações continuassem a representar uma parcela importante da
economia gaúcha.
A frustração da safra agrícola, em 2005 e 2006, porém, não
permitiu que o RS usufruísse plenamente dos ganhos proporcionados pelo
aumento de preço das commodities iniciado em 2002. E, além disso, em
abril de 2004, teve início, no Brasil, um processo de valorização do real
que persiste até hoje. 3 Mesmo assim, a relação exportações/PIB, em
2004, ainda se manteve alta, apesar de menor. Em 2005, os estragos
causados pela conjunção entre estiagem e valorização cambial fizeram-se
sentir plenamente, e o total exportado pelo RS elevou-se apenas 5,8%, o
que diminuiu a relação das exportações com o PIB para 18,6%. Em 2006,
embora as receitas tenham crescido, a razão exportações/PIB caiu e, em
2007 e 2008, mesmo com o forte incremento das vendas externas, sua
relação com o PIB manteve-se em torno de 17%, de acordo com o Gráfico
1 e a Tabela 1. Tal fato pode ser explicado pelo melhor desempenho da
3 Esse processo de valorização do real estendeu-se até setembro de 2008, quando se desencadeou uma crise econômica mundial, que levou a uma perda de valor da moeda brasileira. Essa desvalorização do real, entretanto, não durou mais de seis meses e, a
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
interessante é que, apesar desse agregado quase duplicar sua
participação no total entre o primeiro e o último período, diminuiu o
número de seus produtos inseridos entre os 50 mais exportados,
passando de 14 entre 1989 e 1993 para 10 entre 2004 e 2008. Dentre os
produtos intensivos em escala exportados pelo RS, destacam-se:
polímeros de etileno, tratores, partes e acessórios para veículos,
carrocerias para veículos automóveis, polímeros de propileno, reboques e
semirreboques, borracha sintética e artificial, pneumáticos novos de
borracha e ônibus e microônibus. Perderam importância relativa os
produtos de metalurgia básica e as peptonas e seus derivados — no caso
do RS, as proteínas de soja —, e ganharam representatividade os
produtos petroquímicos — polímeros — e os da indústria metal-mecânica
vinculada à área automotiva e/ou agrícola. Destacaram-se, pelo
crescimento na participação, as vendas de tratores, de reboques e
semirreboques, de carrocerias, e, ainda, as de polímeros de etileno.
O agregado composto por produtos intensivos em tecnologia ou
baseados na ciência também ganhou significância na pauta exportadora
gaúcha, mas o seu peso relativo era muito pequeno e assim continuou
sendo. Ademais, essa evolução ficou mais nítida nos períodos
intermediários da análise, ou seja, entre 1994 e 1998 e entre 1999 e
2003, quando esse agregado alcançou, respectivamente, 6,4% e 5,9% do
total. No último período, já se percebe um recuo da participação relativa,
para 5,5%. O número de produtos intensivos em tecnologia incluídos nas
50 mercadorias mais exportadas pelo Estado variou entre sete e 10
representantes. Dentre eles, salientaram-se: máquinas para colheita ou
debulha, condensadores elétricos, ferramentas pneumáticas, partes
destinadas aos motores, transformadores elétricos, máquinas para
processamento de dados, máquinas para preparo do solo, outras
máquinas e aparelhos de ar condicionado.
A valorização cambial entre 1994 e 1998 reduziu significativamente
a competitividade dos produtos gaúchos, sendo esse o pior período em
termos de evolução das exportações do Estado. Isso tudo sugere que os
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
produtos intensivos em tecnologia ou baseados na ciência foram menos
vulneráveis à valorização cambial, apresentando, assim, um desempenho,
comparativamente, superior ao dos demais conjuntos de mercadorias aqui
analisados. Ainda que, em termos absolutos, não sejam valores muito
expressivos na pauta de exportações do Estado, cabe ressaltar-se o
crescimento relativo das vendas externas de máquinas para colheita ou
debulha e de máquinas para preparo do solo. Por outro lado, os aparelhos
de ar condicionado e os motores de pistão — motores diesel e semidiesel
—, que tiveram relevância nas exportações desse agregado até o começo
dos anos 2000, perderam participação entre 2004 e 2008, ao ponto de,
neste último período, os motores de pistão não estarem mais incluídos na
lista dos “50 mais”.
Para poder melhor compreenderem-se essas alterações na pauta, a
seguir, serão analisados os principais destinos das exportações gaúchas.
AS EXPORTAÇÕES GAÚCHAS POR DESTINO
A diversificação de mercados pode ser atribuída, em parte, à
formação e à consolidação de blocos econômicos e de acordos comerciais,
aos diferentes ritmos de crescimento dos países, com maior intensidade
naqueles em desenvolvimento, aliado a um maior protecionismo das
nações desenvolvidas, bem como ao espírito empreendedor dos
empresários na abertura de novos mercados.
A questão que se coloca é o que melhor explica o crescimento das
exportações. Isto é, a principal causa estaria na decisão empresarial de
diversificar os mercados de destino, para tornar as exportações menos
dependentes das alterações na demanda de um número restrito de países,
ou a principal explicação estaria da expansão do crescimento mundial,
atribuindo a esse fator o bom desempenho externo? Neste último caso, a
diversificação geográfica das vendas externas resultaria menos da postura
intencional e agressiva dos exportadores e mais do crescimento das
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
importações nos países e nos blocos de destino, e as vendas apenas
teriam acompanhado o momento favorável dos negócios no plano
internacional, que teria sido mais intenso justamente nos mercados não
tradicionais.
Na visão de Markwald e Ribeiro (2005), a diversificação geográfica
das exportações brasileiras contribuiu para sustentar o crescimento das
mesmas no período 1998-2002, quando essas ainda não tinham
deslanchado. Mas a expansão do comércio mundial, a partir de 2002, foi o
fator relevante para explicar o crescimento acelerado das exportações do
País. Já Puga (2007), ao analisar o excepcional crescimento das vendas
externas brasileiras no período 2000-05, que levou a um aumento da
participação do Brasil no comércio internacional, concluiu que a principal
causa foi a elevada capacidade de resposta das empresas brasileiras ao
aumento na demanda mundial, uma vez que o crescimento do comércio
internacional explicou apenas metade do aumento das vendas do País ao
exterior no período. Portanto, ambos os argumentos — estratégia
empresarial e conjuntura internacional favorável — elucidam o incremento
das vendas externas.
A distribuição geográfica das exportações brasileiras e gaúchas
passou por mudanças significativas ao longo dos anos em análise. Visando
melhor compreenderem-se essas alterações, apresenta-se uma análise
das exportações gaúchas para os principais destinos segundo regiões,
blocos e/ou países. Optou-se por destacar as vendas para o Mercosul, a
ALADI (exclusive Mercosul), os Estados Unidos (inclusive Porto Rico), a
União Europeia, a Ásia (exclusive Oriente Médio) e o Oriente Médio. Isto
porque esse conjunto de destinos absorveu, no período 1989-2008,
parcela substancial das vendas externas do Brasil e do RS. Deve-se ter
presente que as exportações para determinada área geográfica são
sensíveis a vários fatores, tais como: taxa de câmbio real bilateral, tipo de
produto que o país exporta para esse mercado, modificações no nível de
atividade do mercado importador e acordos comerciais estabelecidos.
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
UMA VISÃO GERAL
A distribuição geográfica das exportações gaúchas passou por
mudanças significativas ao longo das décadas de 70 e 80,5 o mesmo
ocorrendo no período em análise (1989-2008). Nesses 20 anos, mercados
tradicionais, como Estados Unidos e União Europeia, reduziram
praticamente à metade sua participação conjunta, passando de 65% em
1989 para 35% em 2008. E isso ocorreu a despeito de o Brasil ser
beneficiário do Sistema Geral de Preferências (SGP)6 tanto dos Estados
Unidos como da União Europeia. Além da concorrência de vários países,
nesses mercados, devem-se enfatizar as barreiras não tarifárias
existentes, especialmente na área agrícola, como importante fator
restritivo das exportações brasileiras e gaúchas, constituindo-se em um
“novo protecionismo” 7 . Concomitantemente, houve um acréscimo da
representatividade das vendas para Mercosul, ALADI (exclusive Mercosul),
Ásia e Oriente Médio. Enquanto os principais países europeus, como
Alemanha, Reino Unido, Itália, Países Baixos, Espanha e França,
diminuíram sua parcela nas exportações gaúchas, as vendas para China,
Rússia, Arábia Saudita e África do Sul aumentaram consideravelmente,
passando de quase 3% nos três primeiros períodos (1989-93, 1994-98 e
1999-2003) para 15% no último (2004-08), seja por estratégias
empresariais, pelo crescimento dessas economias e/ou pelo
aproveitamento dos “ventos favoráveis” aos negócios no plano
internacional.
Um indicador da importância de regiões, países e blocos nas
5 No Brasil, assim como no RS, a participação dos principais países industrializados, que era de mais de 70% na década de 70, reduziu-se substancialmente até 1980. A política de diversificação de mercados reverteu-se nos anos 80, em consequência, basicamente, da crise de liquidez que atingiu os países em desenvolvimento endividados, após a moratória decretada pelo México em 1982. Assim, elevou-se novamente a representatividade dos países industrializados, denotando uma nova reconcentração das vendas externas (Teruchkin, 1990). 6 O SGP consiste em um tratamento tarifário especial, praticado pelos países desenvolvidos a certos produtos importados, procedentes e originários de alguns países com menor desenvolvimento.
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
exportações do RS está na sua participação no total das vendas externas
do Estado, como apresentado na Tabela 6. Os dados dessa tabela
denotam que a grande mudança na distribuição geográfica das vendas
externas gaúchas ocorreu entre o primeiro e o segundo período, quando
as exportações não tinham ainda deslanchado. De fato, nesses anos, a
participação conjunta dos mercados tradicionais (Estados Unidos e União
Europeia) recuou quase 14 pontos percentuais. Esse espaço foi
integralmente ocupado pela Ásia e pelo Mercosul. Porém, no período
seguinte (1999-2003), a mudança mais significativa foi a perda de
representatividade do Mercosul, devido, principalmente, a problemas de
estabilidade econômica e/ou a políticas dos parceiros do bloco. Já a
participação dos mercados não tradicionais teve um incremento
expressivo, onde se distinguem as vendas para o Oriente Médio, em
especial o Irã e a Arábia Saudita, e para os demais países, como a África
do Sul.
No período 2004-08, sobressai-se o grande incremento do valor
exportado em relação ao período anterior, bem como o novo impulso
verificado na reorientação das vendas externas em direção a mercados
não tradicionais. Salientam-se, pela elevada taxa de acréscimo, as vendas
para outros países, como a Rússia, grande importadora de carne suína
gaúcha, e vários países da África, apesar de pouco representativos na
pauta, como Egito, Angola e Marrocos.
De um lado, essa mudança retrata uma adaptação das exportações
gaúchas às tendências do comércio mundial, onde as vendas para
destinos não tradicionais registraram significativas taxas de crescimento,
sendo o caso mais marcante o da China. Ressalta-se, também, a
preocupação das entidades ligadas às exportações em estimular a
abertura de novos mercados, tendo-se em vista as dificuldades
encontradas nos mercados tradicionais. Com isso, a queda da participação
dos Estados Unidos e da União Europeia na pauta foi compensada pela
diversificação de parceiros. Considerando o exposto, passa-se a analisar
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
as exportações gaúchas para os principais blocos e ou países, para melhor
visualizarem-se essas mudanças.
ESTADOS UNIDOS (INCLUSIVE PORTO RICO)
Principal destino das exportações brasileiras e gaúchas em todos os
20 anos de análise, os Estados Unidos reduziram sua parcela no valor
total das vendas externas, de forma mais acentuada, a partir de 2002, em
nível tanto nacional como estadual. Assim, quando se confrontam os
dados do primeiro com os do último período, verifica-se que a
representatividade dos EUA nas exportações do RS caiu para quase a
metade.
O produto mais exportado pelo Estado, no período 1989-2008, foi
calçado de couro, sendo que o mercado norte-americano chegou a
absorver cerca de 65% do valor total desse produto em 1989-93, mas foi
diminuindo sua participação ao longo dos anos, atingindo pouco mais da
metade das vendas de calçados gaúchos no início dos anos 2000 e menos
de 30% do valor embarcado no quinquênio 2004-08. Isso ocorreu devido
à grande concorrência dos países asiáticos, em especial da China, aliado à
forte valorização do real em relação ao dólar desde 2004, a qual retirou
competitividade dos produtos gaúchos nesse mercado, em particular dos
intensivos em mão de obra.
Nesses 20 anos, pelo seu valor, também se destacam nas vendas do
RS para os EUA: tabaco não manufaturado, armas de fogo, couros e peles
curtidos ou crust, partes e acessórios dos veículos automóveis, conforme
pode ser visto no Quadro 1. Já os embarques de máquinas e aparelhos de
ar condicionado, que, entre 1989 e 1993, eram o terceiro produto em
valor para esse mercado, perderam participação nos quinquênios
posteriores. Por outro lado, produtos químicos orgânicos, como os
hidrocarbonetos cíclicos (benzeno, tolueno, estireno etc.), triplicaram sua
representatividade ao longo dos períodos. Cabe salientar-se que o elevado
acréscimo das vendas para os Estados Unidos em 2008 deveu-se à
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
exportação de uma plataforma marítima montada em Rio Grande para a
Petrobrás, por um regime especial de exportação, denominado Repetro8.
UNIÃO EUROPEIA
A União Europeia tem sido relevante parceira do Brasil e mais ainda
do RS nos últimos 20 anos. Contudo, sistematicamente, perdeu
representatividade ao longo dos períodos. No RS, passou de 34,5% em
1989-93 para apenas 19,1% em 2004-08. Diferentemente dos EUA, o
que singulariza o comércio com a UE é a grande concentração das
exportações nas commodities agrícolas, dentre as quais se destacaram a
soja e seus derivados. Os principais produtos exportados pelo RS para
esse bloco foram, por ordem de valor, em todo o período: tabaco não
manufaturado, torta (bagaço) de soja, calçados de couro natural, soja em
grão, couros e peles curtidos ou crust, carnes e miudezas de frango,
conforme o Quadro 1. Esses produtos, que, em conjunto, representavam
75% das vendas para a UE no primeiro período, diminuíram
continuamente sua participação, atingindo os 57% no último quinquênio
(2004-08), denotando grande concentração em produtos de baixo nível
tecnológico, intensivos em recursos naturais e, no caso do calçado,
intensivos em mão de obra.
Nas negociações comerciais com a União Europeia, os conflitos mais
notáveis foram devidos aos subsídios concedidos aos produtores
europeus 9 , às barreiras tarifárias a determinados produtos agrícolas
considerados sensíveis e às barreiras não tarifárias de caráter técnico,
sanitário e/ou administrativo, utilizadas para dificultar a entrada de
8 Repetro é o regime aduaneiro especial de exportação e importação de bens destinados
à exploração e à produção de petróleo e de gás natural. Nesse caso, os bens são vendidos pelo fabricante nacional à pessoa jurídica domiciliada no exterior, com pagamento em moeda estrangeira de livre conversibilidade, ainda que não haja a saída física do bem do território nacional. Ver Sartori (2006).
9 Para maiores detalhes dos subsídios desse bloco no comércio Brasil-União Europeia,
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
produtos importados extrabloco.
Os principais países importadores de produtos gaúchos da União
Europeia são: Alemanha, Reino Unido, Itália, Holanda e Espanha, que,
juntos, diminuíram sua representatividade nas exportações gaúchas de
28% no quinquênio 1989-93 para 13% em 2004-08. Esse comportamento
foi similar ao do bloco, dada a intensa participação desses países nas
importações da União Europeia provenientes do RS.
MERCOSUL
A partir da constituição do bloco, em 1991, até fins de 1998, as
vendas do RS para os parceiros cresceram mais do que as do Brasil e,
com isso, a representatividade do Mercosul, que, em nível tanto nacional
como estadual, era de 4% das vendas externas em 1991, elevou-se para
17% e 20% das exportações brasileiras e gaúchas, respectivamente, em
1998. As exportações estaduais para o bloco caracterizam-se,
fundamentalmente, por serem de produtos manufaturados, sendo a
Argentina o principal parceiro do bloco. De 11º destino das exportações
sul-rio-grandenses, em 1989, passou a ser o segundo em 1993,
mantendo-se nessa colocação até 2001.
Nos dois períodos seguintes, 1999-2003 e 2004-08, a participação
do Mercosul10 nas exportações reduziu-se de forma mais acentuada em
nível nacional do que no RS. A crise externa brasileira, que começou em
fins de 1998 e culminou na desvalorização cambial do início de 1999, a
crise econômico-financeira da Argentina11, que se agravou a partir de
2000 e eliminou a paridade peso-dólar no começo de 2002, e a recessão
no Uruguai foram alguns dos fatores que contribuíram para essa redução,
sendo que o período 1999-2003 foi crítico para o bloco.
Mas a adoção de câmbio flutuante por Brasil e Argentina e a
ver Mendes (2000). 10 Para uma análise mais detalhada do comércio do RS para o Mercosul, ver Teruchkin (1998; 2005).
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
recuperação de parte da paridade cambial peso-real, aliado ao expressivo
crescimento da economia argentina, após a crise de 2001-02,
possibilitaram, nos anos seguintes, a revitalização das exportações
gaúchas para o Mercosul, apesar das inúmeras salvaguardas adotadas
pela Argentina 12 . Não obstante esse acréscimo das exportações, no
quinquênio 2004-08, a participação do bloco nas exportações gaúchas foi,
em média, de 14%, depois de já ter representado 16% no período
1994-98.
Essa perda de market-share do Mercosul nas exportações estaduais
foi acompanhada de uma alteração na sua composição. As vendas de
óleos de petróleo não brutos,13 de uma ínfima participação nas vendas
para o bloco, atingiram 11% no período 2004-08, transformando-se no
segundo produto mais exportado, logo após os polímeros de etileno, os
quais, nos 20 anos analisados, permaneceram como o principal produto
vendido para o Mercosul. Já os calçados (de borracha ou plástico e de
couro natural) perderam parcela significativa de sua representatividade no
último quinquênio, devido à queda nas vendas para a Argentina e ao
estabelecimento de fábricas de empresas calçadistas gaúchas naquele
país, visando contornar as barreiras comerciais e atender a seu mercado
interno.14 Por outro lado, máquinas e aparelhos para colheita, tratores e
carnes de frango apresentaram um grande acréscimo das exportações,
quando se comparam os dois últimos períodos.
É interessante observar-se que uma análise das empresas
exportadoras gaúchas por tamanho15 revelou que, em 2006, o Mercosul
11 Para maiores informações, ver análise da crise argentina em Bello (2002). 12 As salvaguardas impostas pela Argentina aos produtos brasileiros, como eletrodomésticos da linha branca, calçados, eletroeletrônicos e automóveis e autopeças, dentre outros, ocorreram ao longo do período em análise, com bastante frequência, tendo-se em vista a forte penetração de bens industriais do Brasil. 13 O crescimento do valor das vendas de óleos de petróleo, em especial de óleo diesel,
deve-se, em parte, à ampliação da capacidade produtiva no Estado e do maior preço médio. 14 Uma análise das relações comerciais com a Argentina é apresentada em Macadar (2009). 15Para maiores informações, ver estudo das exportações gaúchas por porte das empresas
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
foi o principal mercado para as micro e pequenas empresas, que
exportaram, principalmente, calçados e móveis, denotando que, para
essas, a proximidade geográfica e cultural, bem como a isenção tarifária
intrabloco, deve ter influenciado.
ALADI (exclusive Mercosul)
As exportações do Brasil e do RS para a ALADI (exclusive Mercosul)
denotaram valores crescentes ao longo dos anos analisados. Por
decorrência, a representatividade das exportações gaúchas para o bloco
quase dobrou, atingindo, em média, quase 11% no período 2004-08,
percentual um pouco inferior ao do Brasil no mesmo período, que foi, em
média, de 12%.
México, Chile e Venezuela são os principais destinos dentro do bloco,
tanto para o Brasil como para o Estado. Esses três países tiveram uma
participação conjunta crescente ao longo das últimas décadas, passando
de 3% das exportações gaúchas no quinquênio 1993-98 a 7% em
2004-08. Pelo seu crescimento, salientaram-se as vendas para a
Venezuela, país que passou a ter maior importância comercial como futuro
membro do Mercosul16, em especial com a assinatura do protocolo de
adesão ao bloco, apesar de este ainda não ter entrado em vigor.
As vendas brasileiras para a ALADI (exclusive Mercosul) são
favorecidas pela proximidade geográfica e pelos acordos preferenciais,
sendo a pauta de exportação para a região composta preponderantemente
de produtos manufaturados. Dentre os principais produtos embarcados
pelo Estado, nesses 20 anos, salientam-se as carroçarias para os veículos
automóveis, os tratores e os polímeros de etileno em formas primárias,
de Bello e Teruchkin (2008). 16 O protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul precisa ser aprovado pelos quatro integrantes do bloco. Uruguai e Argentina já ratificaram seu ingresso. No Brasil, apesar de a Comissão de Relações Exteriores do Senado ter aprovado o ingresso da Venezuela no Mercosul, a decisão ainda deve passar pelo plenário do Senado. O Paraguai, por sua vez, deve votar o protocolo em 2010. Para uma análise das repercussões da Venezuela no bloco, ver Teruchkin (2006).
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
que, juntos, representavam quase um quarto das exportações para o
bloco. Portanto, o crescimento das relações com os países
latino-americanos reveste-se de grande relevância pelo tipo de produto
que é mais exportado para lá pelo Estado e pelo Brasil — produtos
manufaturados de maior valor agregado. Daí, a importância do
aprofundamento dos acordos comerciais, bem como a retomada do
Mercosul, já que, para o Brasil conseguir consolidar sua liderança no
espaço sul-americano 17 , é indispensável o fortalecimento dos laços
comerciais e políticos regionais.
ÁSIA
As exportações gaúchas para a Ásia elevaram-se substancialmente,
passando de US$ 396,7 milhões em 1989 para US$ 3.830,2 milhões
em 2008. Com isso, a representatividade do bloco, que era de 9% no
período 1989-93, passou para 18% em 2004-08. Tal comportamento foi
superior ao apresentado pelo País, onde a participação da Ásia atingiu
16% no último período. A performance das vendas gaúchas deveu-se,
principalmente, à evolução da economia chinesa ao longo desses anos,
cujo resultado foi um forte crescimento de suas importações, em especial
de commodities. Assim, o mercado asiático absorveu parcela importante
de bens agrícolas e agroindustriais, vendidos pelo Estado, com destaque
para o complexo da soja — grão, torta e óleo —, o tabaco não
manufaturado e as carnes de frango.
Além da China, Japão, Hong Kong, Coreia do Sul e Indonésia
também são importantes destinos das exportações gaúchas para a Ásia.
Esses cinco destinos mais do que dobraram sua participação nas vendas
externas do RS, tendo em vista as elevadas taxas de crescimento das
aquisições de produtos gaúchos, quando se comparam os dados de fins da
17 Para compreenderem-se os interesses e as perspectivas de relacionamento do Brasil no mercado sul-americano, bem como os obstáculos ao desenvolvimento dos negócios, ver CNI (2007).
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
década de 80 com os de 2008.
A soja e seus derivados ocupam posição de destaque no intercâmbio
comercial agrícola do RS com a China. Verifica-se, porém, ao longo do
período em análise, que as vendas do complexo soja foram bastante
oscilantes e distintas. Nos primeiros anos, em particular até 1995, o mais
representativo era a venda de óleo de soja e, depois, passou a ser a torta
de soja. Mas, de 1999 até 2008, foi a soja em grão o produto fundamental
de exportação para a China. Já a comercialização de fumo não
manufaturado cresceu consideravelmente a partir de 1999. Segundo Bello
(1996), a Lei Kandir, de setembro de 1996, também contribuiu para o
aumento das exportações de produtos in natura, ao desonerar as vendas
externas de produtos semielaborados e básicos do Imposto Sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Tal medida teve como
objetivo estimular as exportações desses produtos e, com isto, promover
um aumento das receitas externas, contribuindo, assim, para diminuir o
déficit comercial do País à época. Além disso, conforme Barbosa e Perez
(2006), nas importações chinesas de soja em grão, era aplicada a tarifa
de 3%, nas de farelo, de 5%, enquanto, nas de óleo de soja, a incidência
era de 63,3%, privilegiando, assim, as aquisições de produtos in natura.
Para o óleo, igualmente, vigorava o regime de quotas tarifárias,
dificultando ainda mais o acesso dos produtos industrializados ao
gigantesco mercado chinês. Com isso, a China buscava estimular a
produção local de óleo de soja, cujas fábricas operavam com grande
capacidade ociosa.
ORIENTE MÉDIO
Vale destacar-se, o comportamento crescente das vendas gaúchas
para o Oriente Médio, as quais dobraram sua representatividade na pauta,
atingindo 5,7% em 2004-08. Enquanto, de 1989 a 2000, o crescimento
das vendas para essa região foi relativamente pequeno e assistemático,
com taxas positivas e negativas, de 2000 a 2008 verificou-se um
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
incremento contínuo, com taxas superiores a 500% em nível tanto
nacional como estadual. Isso pode ser explicado, em parte, pelo aumento
da disponibilidade de recursos naquela zona geográfica com os acréscimos
do preço do petróleo, o que provocou uma melhora no padrão de consumo
da região.
Embora as participações médias do Oriente Médio nas exportações
totais do RS, nos quatro períodos analisados, tenham sido crescentes,
ainda são pouco representativas, sendo o Irã e a Arábia Saudita os
principais destinos para esse bloco. Mesmo assim, dois produtos
destacaram-se pelo valor das vendas: carne de frango e óleo de soja. O
Oriente Médio é um mercado tradicional e consolidado para o frango tanto
brasileiro como gaúcho, devido ao aumento da demanda, à elevada
competitividade e ao respeito dos exportadores às regras islâmicas de
abate. No que se refere ao óleo de soja, as exportações do Estado para o
Irã foram sempre muito relevantes.
QUADRO 1
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exame das exportações do RS demonstrou que, ao longo de todo o
período analisado, as mesmas sempre apresentaram uma relação
exportações/PIB maior do que a registrada pelo Brasil, permitindo
concluir-se pela maior dependência do Estado em relação ao seu mercado
externo do que a observada no País. Também foi possível notar-se que
essa relação tem sido maior no século XXI do que o foi nas duas
derradeiras décadas do século passado, embora, nos três últimos anos,
tenha decrescido um pouco, mantendo-se em torno dos 17%.
Assim como a relação entre as exportações e o PIB gaúcho tem
diminuído nos últimos anos, a representatividade das vendas externas do
RS no total exportado pelo Brasil também tem sido menor. Entre 1980 e
2004, a porcentagem das exportações gaúchas no total das exportações
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
brasileiras sempre esteve acima dos 10%, chegando a alcançar 13,4% em
1993. Mas, desde 2005 até o último ano analisado (2008), a
representatividade do Estado caiu para um dígito, tendo alcançado apenas
8,6% em 2006. Por outro lado, vale ressaltar-se que, entre 2004 e 2008,
os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Santa
Catarina perderam participação para outras unidades da Federação, como
Rio de Janeiro e Espírito Santo. No caso do Rio de Janeiro, o incremento
de suas vendas externas ocorreu devido à elevação do preço do petróleo e
seus derivados, enquanto as exportações do Espírito Santo registraram
aumento de receita em decorrência da elevação do preço do minério de
ferro e seus derivados.
Cotejando-se as exportações gaúchas, por fator agregado, com as do
Brasil e com as de alguns dos principais estados exportadores, observa-se
que, entre 1980 e 2004, apenas o Paraná registrou participação crescente
dos produtos industrializados em suas vendas para o exterior e que Santa
Catarina só teve esse percentual de participação diminuído no último
quinquênio (2004-08). Já no Brasil, bem como no Rio Grande do Sul e em
São Paulo, os produtos industrializados tiveram uma participação
crescente até praticamente o final dos anos 90 e, nos últimos 10 anos,
registraram perdas a favor dos produtos básicos. No período 1999-2003, o
aumento na representatividade dos produtos básicos nas exportações
gaúchas decorreu principalmente da queda nas vendas externas de
industrializados. Já em 2004-08, a sua menor participação deveu-se ao
acréscimo nos preços das commodities, o que acabou por aumentar o
valor exportado, em dólares, destas últimas.
A análise das exportações gaúchas agrupadas por principal fator de
competitividade mostrou que, entre 1989 e 2008, os produtos intensivos
em trabalho perderam muita participação no conjunto das vendas
externas. Esse espaço foi ganho por todos os demais grupos de produtos,
principalmente pelos intensivos em recursos naturais e pelos intensivos
em escala, sendo que estes últimos tiveram o maior salto em termos de
representatividade. Mas, enquanto o crescimento dos produtos intensivos
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
em recursos naturais se deu através de uma relativa diversificação dos
bens exportados, o aumento da participação dos produtos intensivos em
escala ocorreu em sentido inverso, ou seja, através da concentração das
vendas externas em alguns produtos que, literalmente, ganharam escala.
Também os produtos intensivos em tecnologia diferenciada conquistaram
participação relativa no conjunto das vendas externas do Estado, embora
sua importância no todo continue sendo muito pequena.
A diversificação de destinos das exportações foi importante para
diminuir a vulnerabilidade das exportações gaúchas diante dos ciclos
globais de crescimento e retração econômica. No período 1989-2008,
enquanto Estados Unidos e União Europeia perderam participação na
pauta exportadora, Ásia (exceto Oriente Médio), Oriente Médio e ALADI
(exceto Mercosul), bem como dos demais países, onde se incluem
importantes parceiros, ganharam representatividade. Já o Mercosul
oscilou um pouco mais, perdendo significância em relação ao fim dos anos
90, época em que as relações comerciais intrabloco mais cresceram. Daí,
depreende-se que o maior ritmo de crescimento dos países em
desenvolvimento, aliado a um protecionismo mais acirrado por parte dos
desenvolvidos, pode, pelo menos em parte, explicar a diversidade dos
mercados compradores.
Analisando-se as alterações da pauta
exportadora, desde a década de 80, percebe-se que os aspectos
macroeconômicos, como câmbio, nível de atividade econômica interna,
crescimento dos mercados importadores, formação de blocos, com a
consequente extinção de alíquotas intrablocos, e realização de acordos
comerciais não foram suficientes para explicar todas as ocorrências ao
longo dos períodos. Isso denota a relevância de considerarem-se também
os fatores microeconômicos para melhor compreender-se o desempenho
das exportações. As empresas buscam oportunidades no mercado
internacional como forma de expandir seu mercado, obter recursos
tecnológicos e/ou de capital, adquirir insumos de melhor qualidade e/ou
menor preço, e abrir novos canais de distribuição, dentre outras razões.
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L. Alterações no perfil das exportações gaúchas.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Portanto, o incremento das exportações e a diversificação de destinos
devem-se não só a fatores macro — em que, além da política econômica,
se salienta o papel do Governo nas negociações comerciais —, mas
também às decisões empresariais.
Destarte, mostra-se relevante conhecer os obstáculos enfrentados
pelas empresas e os seus movimentos de internacionalização, com
destaque para as alianças estratégicas e para as fusões e aquisições de
empresas, as quais se refletem nas alterações da pauta exportadora.
Ademais, é importante incrementar-se a competitividade do País, via
redução de custos, estímulo à incorporação de novas tecnologias de
produção e processo, realização de acordos preferenciais de comércio,
etc., buscando a maior inserção internacional das empresas brasileiras e
gaúchas em um cenário em que a proteção tarifária vem sendo
substituída por barreiras não tarifárias. Como exemplos de medidas a
serem tomadas com vistas a diminuírem-se os custos de produção dos
exportáveis, podem ser citados: melhoramentos na infraestrutura e na
logística de transportes; abertura de rotas bioceânicas; promoção da
reforma tributária, etc. Outro importante campo a ser estimulado é o da
agregação de valor aos produtos intensivos em recursos naturais, no qual
o Estado se tem mostrado competitivo.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Marisa Zeferino; PEREZ, Luís Henrique. Evolução das exportações
brasileiras de óleo de soja por portos de embarque e estados de origem, 1996 a
2004. Informações Econômicas, v. 36, n. 2, fev. 2006. Disponível em:
<ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/tec4-0206.pdfftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/tec4-0206.pdf >. BELLO, Teresinha da Silva. Algumas considerações sobre a crise argentina.
Indicadores Econômicos FEE, v. 30, n. 2, p. 251-297, 2002. Disponível em: