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Anlise pericial do padro de consumo de lcool em policiais e seus
fatores de risco julho de 2013
ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 5
Edio n 005 Vol.01/2013 julho/2013
Anlise pericial do padro de consumo de lcool em policiais e
seus fatores de risco
Cesar Augusto Ferreira - [email protected]
Ps-Graduao em Percias Mdicas
Instituto de Ps-Graduao e Graduao - IPOG
Resumo
Uso de lcool por policiais, no contexto do policiamento,
representa potencial para graves
consequncias. O padro de consumo pode ser analisado visando
rastreamento e preveno.
Por meio de um levantamento literrio evidenciaram-se poucos
estudos nesse sentido. A
prevalncia de uso de lcool durante a vida que foi encontrada
entre policiais brasileiros
variou de 48% a 87,8% (na populao geral, de 74,6%, e nos
trabalhadores, por meio do
levantamento SESI, 78,7%). Internacionalmente, atinge 76,3% a
91% dos policiais, sendo
que o beber em binge alcana 48% dos homens e 40% das mulheres. O
uso abusivo de lcool
variou de 5 a 25% (12 a 32% dos policiais no mundo; no
levantamento feito pelo SESI, 50%
dos trabalhadores). A dependncia alcolica variou de 3% a 19,2%
nos estudos brasileiros e
internacionais. Os policiais apresentam maior prevalncia de uso
de lcool do que a
populao geral e menores taxas de abstinncia, semelhante a outros
trabalhadores, com
elevados nveis de binge-drinking em homens e mulheres e uso
nocivo nos mais jovens. Eles
trabalham expostos a situaes e fatores de estresse especficos da
ocupao e pessoais, com
efeitos fsicos, psquicos e sociais, aumento de morbidade e
mortalidade. A habilidade de
coping ineficaz e mal-adaptado, exposio a incidentes crticos,
emoes negativas,
ansiedade e depresso, fator social de adaptao/ajustamento e
cultura organizacional de
encorajamento podem estar associados ao maior uso de lcool. A
maioria dos danos
ocupacionais relacionados ao lcool so por bebedores excessivos
(binge) e no os com
dependncia. Todos os policiais, com participao da percia mdica,
devem ser submetidos
a rastreamento e preveno do uso de lcool, associado s intervenes
breves, podendo ser
utilizado o AUDIT. Intervenes especiais so necessrias para
policiais recrutas, mais
jovens e nas femininas. Palavras-chave: Policiais; Fatores de
risco de uso de lcool;
Predio de alcoolismo; Rastreamento do padro de uso de lcool;
Interveno breve;
Questionrio AUDIT.
1. Introduo
O lcool uma substncia psicoativa e lcita que acompanha a
humanidade desde os seus
primrdios. Tal hbito ocupa lugar privilegiado em todas as
culturas (RONZANI, 2008),
sendo considerado benfico ao longo da histria, principalmente em
pases com tradies
culturais em torno do vinho (MANGADO, 2009). Seu uso aumenta a
cada ano, com graves
consequncias para usurios de todas as idades e para a sociedade,
pois pode levar
intoxicao aguda ou crnica e a alteraes psicomotoras e
comportamentais (MARQUES,
2002; GIGLIOTTI, 2004; COSTA, 2010), causando mundialmente um
problema de sade
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pblica. A estimativa da Organizao Mundial da Sade (OMS) de que a
ingesto excessiva
de lcool a terceira causa de morte no mundo, depois do cncer e
das cardiopatias
(VAISSMAN, 2004).
A relao entre o consumo de lcool e suas consequncias depende da
quantidade de lcool
ingerido e o padro de consumo. O consumo em binge ou uso
episdico pesado, ou binge-drinking, foi definido como a ingesto de
um alto nmero de doses (5 ou mais doses para
homens; 4 ou mais doses para mulheres) em uma nica ocasio
(BABOR, 2003;
LARANJEIRA, 2009; BALLENGER, 2010). O uso de risco ou abusivo de
lcool associado
com o consumo em binge pode ser prejudicial aos indivduos e
populao em geral, por
causa dos problemas agudos nos domnios da vida relacionados a
este tipo de consumo
(BABOR, 2003; LARANJEIRA, 2009). A intoxicao pelo lcool referida
como mais
relacionada com seus efeitos agudos, como a acidentabilidade
(acidentes de trnsito, acidentes
e quedas que produzem fraturas e traumatismos crnio enceflicos),
a violncia, os atos
criminosos e os conflitos sociais. Na ocasio da intoxicao, a
exposio s intempries pode
ocasionar congelamentos ou queimaduras. O abuso de lcool
fortemente associado com
suicdio. Pela supresso de mecanismos imunolgicos, o uso crnico
de lcool pode predispor
s infeces (MANGADO, 2009). Ao longo da vida, devido ao consumo
sustentado dessa
substncia, as pessoas podem desenvolver a sndrome da dependncia
do lcool, passando a
ingerir a bebida alcolica para aliviar os sintomas de
abstinncia. Grande parte dos danos e
custos sociais e sanitrios associados ao lcool se produzem em
sujeitos consumidores
aparentemente no dependentes (VAISSMAN, 2004; PCAI, 2008).
Estudos recentes demonstram que o abuso e/ou dependncia ao lcool
ocorreu em 11% da
populao brasileira, como evidenciado na comparao entre os
levantamentos de 2001 e
2005, uso na vida e dependncia de lcool, distribudos segundo o
sexo e a faixa etria dos
entrevistados das 108 cidades com mais de 200 mil habitantes do
Brasil, conforme a tabela 1
(CARLINI, 2007; LARANJEIRA, 2009). um dado de grande importncia,
pois h mais de
sessenta doenas crnicas e agudas, fsicas e mentais, alm de
outros inmeros problemas
sociais e psicolgicos, associadas ao uso de lcool, e tem na
violncia a sua manifestao de
maior e clara repercusso (PCAI, 2008; RONZANI, 2008; MANGADO,
2009). Alm das
leses no intencionais e intencionais e dos homicdios, tambm esto
includos baixo peso ao
nascimento, cncer bucal e orofarngeo, cncer esofgico, cncer
heptico, depresso unipolar
e outras desordens psiquitricas relacionadas ao consumo de
lcool, bem como epilepsia,
hipertenso arterial, isquemia miocrdica, doena crebro vascular,
diabetes e cirrose
heptica, bem como comportamento sexual de risco e tentativas de
suicdio (VIOLANTI,
1998; MELONI, 2004).
Tabela 1- Levantamentos de 2001 e 2005 do Uso na Vida e
Dependncia
de lcool. Fonte: II Levantamento Domiciliar sobre o uso de
drogas psicotrpicas no Brasil 2005. Estudo envolvendo as 108
maiores cidades do Pas (CARLINI, 2007; pg. 310)
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H crescente preocupao por parte das organizaes, instituies e
empresas com o uso de
lcool no mbito do trabalho, especialmente por pessoas ocupando
cargos que exigem
concentrao constante e equilbrio emocional. Devido ao abuso do
lcool, consequncias
negativas atingem as empresas e os prprios empregados. Dentre
elas incluem-se absentesmo
(ausncia temporria do trabalho por doena), presentesmo (presente
ao trabalho, porm
doente), aumento de acidentes de trabalho, cometimento de erros,
falhas de memria,
sobrecarga do sistema de sade, alternncia de alta e queda na
produtividade e na qualidade
do trabalho, atrasos ou ausncias no perodo da jornada de
trabalho, conflitos e problemas
disciplinares em relao aos supervisores e dificuldade de
entender novas instrues ou de
reconhecer erros. Inclui tambm mudana nos hbitos pessoais,
relacionamento ruim,
conflitos com os colegas, reao exagerada s crticas, variao
constante do estado
emocional, alm das consequncias para a sade do indivduo
trabalhador e sua famlia
(VAISSMAN, 2004; AMARAL, 2007).
O alcoolismo o terceiro motivo para absentesmo no trabalho e
causa mais frequente de
aposentadorias precoces e acidentes no trabalho e oitava causa
para concesso de Auxlio-
doena pela Previdncia Social (VAISSMAN, 2004). Os militares
tambm esto em situao
de risco de problemas com o uso de lcool, uma vez que realizam
atividades que envolvem
manipulao de armas e segurana pblica. Nos Estados Unidos (EUA) e
na Europa tem-se
demostrado grande preocupao com abuso de lcool e drogas nas
instituies militares,
devido aos problemas de disciplina e as perturbaes graves que
possam surgir e causar
problemas entre os militares em servio, ameaando sua prpria
segurana e a de seus
familiares, com adoo de medidas para fornecer aos militares a
reabilitao e programas de
tratamento da dependncia para recuperarem-se (COSTA, 2010).
Um excessivo consumo de lcool mais comum nas Foras Armadas do
Reino Unido do que
na populao geral (FEAR, 2007), sendo isto tambm observado nos
militares da ativa dos
Estados Unidos (STAHRE, 2009). As Foras Armadas do Reino Unido
reconhecem que o
abuso de lcool contribui para o comportamento violento, sendo
implicado nos casos de
bullying e suicdio. Os bebedores pesados so mais provveis de
experimentar doenas e
internaes, acidentes de trnsito, morte por afogamento e
automutilao deliberada (FEAR,
2007). No levantamento de comportamentos relacionados sade em
militares do
Departamento de Defesa dos EUA, bebedores em binge foram mais
propensos a prejuzos
relacionados ao lcool, com problemas no desempenho laboral,
conduo de veculos e
problemas criminais (STAHRE, 2009).
Dentro do contexto do policiamento, civil ou militar, o
potencial para srias consequncias
resultantes do uso abusivo de lcool bvio. O policiamento uma
ocupao distinta na qual
os policiais so percebidos como detentores de alto nvel de
autoridade e responsabilidade
pblicas. Como parte de suas obrigaes e servios ocupacionais,
policiais so expostos a
vrios fatores de risco de sade ocupacional e de segurana,
incluindo trabalhos fatigantes e
perigosos emocionalmente. Esto frequentemente em situaes
perigosas ou de alto risco para
si mesmos ou para os membros do pblico. Alm disso, podem ter
acesso a veculos
automotivos e armas de fogo de alta potncia (FENLON, 1997).
Portanto, o policiamento
pode ser um trabalho altamente estressante que requer reflexos e
pensamentos rpidos.
O excessivo consumo de lcool impede um adequado tempo de reao,
frente s necessidades
de correspondncia a estmulos externos, pode tornar a coordenao e
os pensamentos lentos
e podem levar ao comportamento agressivo, particularmente na
presena de ameaas
(DAVEY, 2000a). O tempo de reao mais lento aumenta o risco de
leso por acidentes de
trnsito ou armas de fogo (RICHMOND, 1998). A presena de lcool,
mesmo em baixos
nveis residuais, pode ter muito impacto sobre o trabalho
policial, colocando ambos os
policiais e os membros do pblico em risco desnecessrio (OBST,
2001). Tais caractersticas
do local de trabalho, quando combinadas com uma cultura
organizacional de consumo de
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bebidas, levam o policial a um alto risco inaceitvel para dano
ocupacional e pessoal
associado ao consumo de lcool (FENLON, 1997). O uso nocivo de
lcool tem consequncias
pessoais, psicolgicas, fsicas e ocupacionais para os policiais.
O estresse um fator que tem
um forte efeito positivo sobre o uso do lcool (VIOLANTI, 1985).
Especificamente, o lcool
como meio de lidar (cope) com o estresse tem sido ligado ao
alcoolismo, habilidade de
enfrentamento (mecanismo de coping) ineficaz, pobre regulao
emocional, obesidade,
relaes conjugais negativas, padres de sono irregulares, baixa
autoestima, fadiga crnica e
decrscimo na qualidade do desempenho no trabalho. Policiais com
estresse crnico
(Sndrome de Burnout) empregam mais o uso de violncia contra
civis (COSTA, 2007). O
lcool pode ser uma muleta social, um meio para celebrao e
camaradagem, uma ferramenta para superao dos estressores endmicos
na subcultura policial por si s
(SWATT, 2007; LINDSAY, 2009).
Presumindo uma prevalncia significativa de uso de bebidas
alcolicas entre policiais civis e
militares no Brasil, que pode levar a graves consequncias no
policiamento, o objetivo deste
trabalho buscar e demonstrar na literatura cientfica, atravs de
levantamento bibliogrfico,
o padro de consumo de lcool por policiais, analisando se h
diferenas entre os gneros,
comparando as diferenas deste padro com o da populao geral
brasileira e de policiais de
outros pases, alm de verificar se o uso de lcool por
trabalhadores de outras ocupaes
semelhante ou no. Desse modo, discutiremos como analisar
pericialmente o policial
alcoolista, avaliando as implicaes do comportamento de consumo
de lcool com o ambiente
de trabalho policial, os preditores de alcoolismo em policiais e
sugerir estratgias de
rastreamento e preveno ao uso abusivo de lcool, reduzindo riscos
ocupacionais.
Por meio de um levantamento literrio, foi realizada reviso das
publicaes sobre o tema
utilizando-se como banco de dados o Pub Med NCBI, Medline, o
Lilacs, SciELO e IBECS, cobrindo o perodo de 1985 a 2011. Os
principais descritores foram: alcohol, alcoholism,
police officers, police, policemen, drug dependence, harmful
use, hazardous use, alcohol
abuse, drinking, risk factors, cardiovascular disease,
psychosocial factors, mortality,
morbidity, occupational health, brief intervention, alcohol
screening, primary care and
expertise or skill, e seus respectivos termos em portugus.
Consultaram-se artigos e livros
sobre o assunto.
2. Uso de lcool na populao geral, em trabalhadores e em
policiais
No Brasil, somente recentemente iniciaram-se estudos sobre o
padro de consumo de lcool
na populao (LARANJEIRA, 2009), demonstrando alta prevalncia do
ato nocivo de beber,
especialmente entre homens. Nos estudos realizados pelo CEBRID
Centro Brasileiro de Informaes sobre Drogas Psicotrpicas (GALDURZ,
2000), no I Levantamento Nacional
de Sobre Uso de Drogas Psicotrpicas, demonstraram a prevalncia
de uso de lcool durante a
vida de 53,2% (63,6% homens e 43% em mulheres), estimando que
6,6% da populao estava
dependente do lcool (10,9% em homens e 2,5% em mulheres). Dois
anos aps, houve
aumento significativo para 9,4% de dependentes (GALDURZ,
2004).
No I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrpicas
- 2001 (CARLINI,
2002), o uso na vida de lcool na populao total foi de 68,7%
(77,3% dos homens e 60,6%
das mulheres). Entre 12 e 17 anos, 48,3% dos entrevistados j
usaram bebidas alcolicas. A
prevalncia da dependncia de lcool foi de 11,2%, sendo de 17,1%
para o sexo masculino e
5,7% para o feminino, mais alta nas regies Norte e Nordeste, com
porcentagens acima dos
16%. No Brasil, 5,2% dos adolescentes (de 12 a 17 anos de idade)
dependentes do lcool
foram registrados (GALDURZ, 2004).
Em 2005, foi promovido o II Levantamento (CARLINI, 2007). A
estimativa de dependentes
de lcool foi de 12,3%, sem diferenas em relao a 2001. O uso de
lcool, durante a vida, na
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populao total foi de 74,6% dos entrevistados entre 12 e 65 anos
(83,5% dos homens e
68,3% das mulheres). Nos homens, o seu uso durante a vida mais
frequente (83,5%) que o
das mulheres (68,3%), com elevada prevalncia de dependncia entre
os homens nas faixas
etrias de 18 a 24 e 25 a 34 anos. A porcentagem de dependentes
entre homens (19,5%) trs
vezes maior do que a observada entre mulheres na mesma faixa
etria (6,9%). Estas elevadas
taxas foram observadas tanto em 2001 como em 2005. As mulheres
se apresentaram menos
vulnerveis dependncia do que os homens (CARLINI, 2007).
Em estudo mais recente sobre o padro de uso de lcool em
brasileiros adultos nos ltimos
doze meses (LARANJEIRA, 2009), foi relatado que 52% dos
brasileiros acima de 18 anos faz
uso de bebida alcolica pelo menos uma vez ao ano, 35% dos homens
e 59% das mulheres
foram abstinentes, sendo que o consumo em binge habitual ocorreu
em 40% dos homens e em
18% das mulheres, e o abuso e/ou dependncia ao lcool, em 11% da
populao brasileira
(19% dos homens e 4% das mulheres).
2.1. Uso de lcool por trabalhadores e sua relao com o
trabalho
A ocupao tem sido sugerida como sendo, em potencial, o principal
fator contributivo para o
desenvolvimento do alcoolismo (MANDELL, 1992). O trabalho um dos
fatores
psicossociais de risco para o alcoolismo crnico, segundo o
MINISTRIO DA SADE (MS)
(2001) tendo alto ndice de subnotificao no Brasil
(BARBOSA-BRANCO, 2009). Fatores
de predio e condies organizacionais do trabalho que contribuem
para maior risco
profissional e ocupacional ao consumo excessivo de lcool so
(MACDONALD, 1999;
VAISSMAN, 2004):
presso social para beber
disponibilidade do lcool
separao da norma social
ausncia de superviso
alta ou baixa renda
tenso ou estresse e condies de trabalho perigoso
pr-seleo de populao de alto risco. A anlise das situaes de
trabalho associadas a essas ocupaes permite caracteriz-las como
situaes de risco mental, sem que se possa atribuir tal risco
apenas ao alcoolismo
(VAISSMAN, 2004). O consumo coletivo de bebidas alcolicas pode
ser prtica defensiva,
como meio de garantir incluso no grupo. Pode ser forma de
viabilizar o prprio trabalho, em
decorrncia dos efeitos farmacolgicos prprios do lcool: calmante,
euforizante, estimulante,
relaxante, indutor do sono, anestsico e antissptico. Essas
situaes no so suficientes para
caracterizar o uso patolgico de bebidas alcolicas (MS, 2001).
Para estudar causalidade entre
alcoolismo e doena profissional prefervel pesquisar associaes
entre lcool e ocupao,
que no implicam numa relao necessria direta de causa e efeito
(VAISSMAN, 2004).
Havendo evidncias epidemiolgicas de excesso de prevalncia de
alcoolismo crnico em
determinados grupos ocupacionais, essa ocorrncia poder ser
classificada como doena
relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificao de
Schilling. O trabalho pode ser
considerado como fator de risco, no conjunto de fatores
associados etiologia multicausal do
alcoolismo crnico (MS, 2001). Em casos de trabalhadores
previamente alcoolistas,
circunstncias poderiam desencadear, agravar ou contribuir para a
recidiva da doena, o que
enquadraria no Grupo III de Schilling.
Mandell et al. (1992), realizaram estudo em populaes
clinicamente diagnosticadas com
abuso ou dependncia de lcool e examinaram associaes entre lcool
e 104 ocupaes. Dez
ocupaes eram de alto risco, sendo que quatro estavam
relacionadas ao setor de construo,
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trs com o setor de transporte e as outras eram: faxineiros,
serventes e mecnicos de
automveis. As profisses de alto risco de abuso de lcool eram
essencialmente associadas ao
sexo masculino e as de baixo risco ao sexo feminino.
Segundo o Ministrio da Sade - MS (2001), frequncia maior de
casos de alcoolismo foi
observada em determinadas ocupaes, especialmente aquelas
socialmente desprestigiadas e
determinantes de certa rejeio, como as que implicam contato com
cadveres, lixo ou dejetos
em geral, apreenso e sacrifcio de ces; atividades em que a tenso
constante e elevada,
como nas situaes de trabalho perigoso (transportes coletivos,
construo civil,
estabelecimentos bancrios), de grande densidade de atividade
mental (reparties pblicas,
estabelecimentos bancrios e comerciais), de trabalho montono,
que gera tdio, trabalhos em
que a pessoa trabalha em isolamento do convvio humano (vigias);
situaes de trabalho que
envolvem afastamento prolongado do lar (viagens frequentes,
plataformas martimas, zonas
de minerao).
O Servio Social da Indstria SESI (2008), no Projeto de Preveno
do Uso de Drogas nas Empresas, totalizando 2654 trabalhadores, com
a maioria dos trabalhadores constituda de
homens (74,2%), quanto ao uso na vida de lcool, foi referido por
78,7% do total de
trabalhadores, sendo que 50% referiram fazer uso excessivo de
lcool esporadicamente, sendo
o risco de consumo excessivo 4 vezes maior para os homens em
relao s mulheres. O risco
de beber excessivamente aumentou com a idade, com maior proporo
acima de 50 anos.
Em termos mundiais, de acordo com Bastida (2002), mais de 70%
dos consumidores de
lcool e drogas so trabalhadores de alguma organizao, e a
prevalncia do consumo de
lcool na populao trabalhadora supera o da populao geral. Na
Espanha, 24% dos
trabalhadores consomem quantidade de lcool considerada de risco
para a sade.
Os custos do abuso de lcool para o indivduo, para o empregador e
para a sociedade so altos
(AMARAL, 2007; VAISSMAN, 2004). Estudo realizado em 1993 pela
FIESP - Federao
das Indstrias do Estado de So Paulo - aponta que de 10 a 15% dos
trabalhadores tm
problemas de dependncia, sendo o abuso responsvel por 3 vezes
mais licenas mdicas que
outras doenas, aumentando 5 vezes as chances de acidentes de
trabalho e levando a 50% do
absentesmo. Na Empresa de Telecomunicaes do Cear, o tempo de
afastamento dos
trabalhadores com alcoolismo foi superior aos outros distrbios
de sade, sendo fator
preponderante de absentesmo (SOUZA, 2005).
2.2. Uso de lcool na populao policial no mundo
H escassez de dados de alta qualidade sobre o padro de consumo
de lcool em policiais
apesar de algumas evidncias relatadas sugerirem que abuso e
dependncia ao lcool so de
significativo interesse nesta populao, com estimativas variveis
de 23 a 40% dos policiais
(BALLENGER, 2010). assunto controverso, um problema presumido,
com hipteses de
que o consumo de lcool entre policiais excessivo e associado ao
estresse e, tambm, que o
policiamento mais estressante do que outras ocupaes com alto
estresse (LINDSAY,
2008). Mandell et al. (1992), analisando associaes entre o lcool
e 104 ocupaes
especficas, no observaram taxas significativas de alcoolismo em
policiais, equivalente ao de
outras ocupaes. Quanto prevalncia de uso de lcool na polcia, h
limitadas pesquisas,
sendo obtidas de trs fontes: de estudos comparando a polcia com
outros grupos, estudos
comparando a polcia com a populao geral e investigaes internas.
Devido a sensibilidade
desta questo e restries impostas a trabalhos de pesquisa
realizados com policiais e
militares, muitos estudos tm sido conduzidos em amostras
pequenas e tcnicas de
amostragem limitadas, no quantificando o uso ou dependendo de
informaes internamente
verificadas, com outros problemas metodolgicos, sendo
questionados a validade destes
estudos (DAVEY, 2000b; OBST, 2001). H medo de retaliaes de
agncias dos
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respondentes de pesquisas e dvidas quanto ao anonimato e das
consequncias de suas
respostas, no relatando escores verdadeiros ou decidindo no
participar pelas possveis
implicaes (LINDSAY, 2008; COSTA, 2010; FERREIRA, 2011).
Nenhum estudo emprico em larga escala foi publicado nos EUA nos
ltimos 20 anos
examinando prevalncia de uso de lcool entre policiais americanos
(BALLENGER, 2010).
Porm, alguns estudos tem sido conduzidos em outros pases. Em
estudos iniciais, as
porcentagens de consumidores de risco variavam de 24% a 37%
(DAVEY, 2000b). O grupo
com idade acima de 50 anos pode beber mais regularmente (mais de
5 vezes por semana), mas
o grupo mais jovem, de 18 a 29 anos de idade, consome mais por
sesso (ou ocasio), e tem
maior tendncia ao beber em binge, sendo que 32% das mulheres,
comparados aos 16% dos
policiais homens, foram consumidores em binge (DAVEY, 2000b).
Levantamento australiano
com amostra de 852 policiais de New South Wales estabeleceu que
48% de policiais do sexo
masculino e 40% das policiais femininas consumiam lcool
excessivamente na semana ou em
binge, maiores que os da populao geral australiana
(respectivamente, 10,5% e 7%)
(RICHMOND, 1998). Em outro estudo australiano, de Davey et al.
(2000b), que inclui 4193
policiais (com 87,9% constituda de homens), 91% dos homens e 91%
das mulheres relataram
consumo de bebidas alcolicas; apenas 9% dos homens e 9% das
mulheres policiais relataram
no beber, comparado com 20% e 28%, respectivamente, de homens e
mulheres abstmios, da
populao geral australiana da National Household Survey (NHS) de
1995. Davey et al.
(2000a) utilizaram o AUDIT - Alcohol Use Disorders
Identification Test (anexo 1) como
ferramenta de triagem do uso de lcool dentro de um ambiente de
trabalho policial para
avaliar o nvel de zona de risco do consumo de lcool dos
integrantes da organizao policial
australiana (n= 4193). A mdia total do escore AUDIT foi de 6,66
+ 5,33 (mediana de 5). Em
relao s quatro zonas de risco, 65% estiveram na zona de baixo
risco, 32% (33% homens e
24% mulheres) estavam na faixa de uso perigoso (escore entre 8 e
12) e 3% de risco de
dependncia ao lcool (3% homens e 2,8% das mulheres) (escore
acima de 13). Ovuga et al.
(2006) relataram prevalncia de 73,1% de uso na vida de lcool,
sendo que 63,5%
responderam que consumiam atualmente lcool, e 19,2% cumpriram os
critrios de
dependncia ao lcool da Classificao Internacional das Doenas 10
Edio - CID 10.
No estudo de Lindsay et al. (2008), em policiais do Mississipi
(EUA), determinou-se que
23,7% relataram no consumir lcool (sendo que a taxa de abstmios
de 31% na populao
geral dos EUA), 46,5% relataram beber lcool at uma vez ao ms,
24,9% consumiam duas
ou mais vezes ao ms e 3,9% consumiam diariamente e 19,1%, beber
em binge ocasional.
No estudo mais recente (BALLENGER, 2010), faziam uso de risco
11% dos policiais homens
e 15,9% das policiais femininas na semana prvia, sendo que
notveis 3,4% dos policiais
homens e 3,7% das mulheres consumiram mais de 28 drinques na
semana anterior
avaliao. As policiais femininas foram to provveis quanto os
masculinos de terem utilizado
lcool na semana prvia (58,2% versus 61,3%), em contraste com os
dados da populao
geral, onde se relatam menores nveis de bebidas, com 57% dos
homens e 42% das mulheres
com idade maior de 26 anos relatando algum uso de lcool no ltimo
ms, conforme o
National Household Survey on Drug Abuse (1999). Taxas
relativamente altas de beber em
binge foram relatadas para homens e mulheres, aproximadamente
37,2% e 36,6% dos
policiais, respectivamente, com um episdio de beber em binge
dentro dos ltimos 30 dias.
Os policiais desta amostra foram mais provveis de se envolverem
em um episdio de beber
em binge do que a populao geral, com as policiais sendo duas a
trs vezes mais provveis.
Alm disso, 7,5% relataram escores de diagnstico de abuso ou
dependncia de lcool.
As evidncias sugerem tambm consumo maior de lcool e danos
relacionados ao seu uso
dentro das profisses de alto risco, aliados aos da polcia, como
os militares. Fear et al. (2007) relataram 85,8% dos homens e 82,6%
das mulheres das Foras Armadas do Reino
Unido apresentando uso perigoso ou nocivo de lcool e 48% dos
homens e 31% das mulheres
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bebendo em binge. No estudo de Stahre et al. (2009), 43,2% dos
militares da ativa dos EUA
relataram beber em binge no ltimo ms, resultando 29,7 episdios
por pessoa por ano. No
total, 67,1% dos episdios de binge foram relatados pelas pessoas
com idade de 17 a 25 anos.
2.3. Uso de lcool na populao policial brasileira
No Brasil, h raros estudos de prevalncia de consumo de bebidas
alcolicas em policiais
civis e policiais militares (PMs), com relatos na Polcia Militar
(PM) de Santa Catarina
(BOPE) referindo 40% de abstinentes e 60% ingerindo bebidas
alcolicas (BOLDORI, 2000).
Na PM de Alagoas, foi referido que 75% dos oficiais e 53% dos
praas fazem uso de bebida
alcolica; 28,4% dos atendimentos no Centro de Assistncia Social
foram devidos a
alcoolismo (OMENA, 2007). Entre os PMs do Grupamento Ttico Areo
Policial (GTAP) do
Estado do Piau, 71,4% declararam consumir bebidas alcolicas
(MONTEIRO, 2008).
Em estudo em unidades de PM de Goinia sobre o uso de bebidas
alcolicas por policiais,
relatou-se que houve o no cumprimento de deveres e insubordinao,
totalizando 38,6% das
respostas, seguido por falta ao servio (18,1%), envolvimento em
acidentes de trnsito,
discordncia entre os integrantes da corporao e at acidentes com
armas de fogo. Os praas
foram os indicados como a maioria que fazia uso de lcool
(STACCIARINI, 1996). No livro
Misso Prevenir e Proteger: condies de vida, trabalho e sade dos
policiais militares do Rio de Janeiro (MINAYO, 2008), 48% dos
oficiais, suboficiais e sargentos consumiam bebidas alcolicas
semanalmente, sendo que em cabos e soldados chegava a 44,3% (1 vez
por
semana ou diariamente). Entre os policiais civis, 18,4% sofriam
com o problema.
Estudo descritivo sobre estresse de PMs de Natal - RN, em 264
militares, com 95,5% do sexo
masculino, 35,6% afirmaram no consumir bebidas alcolicas e 61,3%
afirmaram que
consumiam bebidas alcolicas apenas nos finais de semana ou em
festas (COSTA, 2007).
Quanto ao uso na vida de lcool relatado por PMs, h uma pesquisa
realizada por Costa et al.
(2010), em Gois, em total de 221 sujeitos, demonstrando
prevalncia de 87,8%. As taxas de
prevalncia de uso de lcool no ano anterior e nos ltimos 30 dias
foram de 72,9% e 57,5%,
respectivamente. Cerca de 38% dos entrevistados tinham ingerido
lcool em qualquer lugar 1
a 5 dias antes da pesquisa. A polcia militar e as comunidades
civis em geral tm risco
semelhante de tornarem-se usurios de drogas lcitas e ilcitas
(COSTA, 2010). Em outra
investigao realizada por FERREIRA et al. (2011), analisando
fatores associados ao estilo de
vida em 288 policiais militares praas de Recife-PE, 10% tinham
suspeita de consumo
abusivo e 52% classificados como consumo no abusivo, com 38% no
respondendo as
perguntas. A prevalncia do consumo abusivo de lcool nestes PMs
investigados foi menor
quando comparada com o estudo com PMs do Estado do Amazonas, com
consumo abusivo
em 20% dos policiais (FERREIRA, 2002) e o trabalho com PMs da
Radiopatrulha de
Pernambuco, identificando 25% deste consumo (SOUZA, 2004).
2.4. Perfil pericial do policial e do ambiente de trabalho
policial
Os estudos demonstrando padro de consumo de lcool em policiais,
principalmente no
Brasil, so escassos. Tendo em vista que h predominncia masculina
nas instituies
policiais, a prevalncia de abstinncia do uso de lcool variou de
12,2% a 52%, como
observado na populao geral do Brasil, de 48% de abstinncia no
ltimo ano - 35% em
homens (LARANJEIRA, 2009) e de 25,4% na vida - 16,5% em homens
(CARLINI, 2007).
Nos estudos americanos e australianos, a taxa de abstinncia foi
de 9 a 23,7%, abaixo do
observado na populao geral da Austrlia (20 a 28%) e dos EUA
(31%) (RICHMOND,
1998; LINDSAY, 2008). O uso de bebidas alcolicas variou,
portanto, de 48% a 87,8% entre
os policiais brasileiros, comparvel ao observado na populao
geral, de 74,6% de uso de
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lcool na vida - 83,5% dos homens (CARLINI, 2007). A prevalncia
observada de 87,8%
(COSTA, 2010) superior ao encontrado no Brasil (74,6%) e na
regio centro-oeste do Brasil
(73,6%) (CARLINI, 2007), e ao observado entre os trabalhadores
avaliados no estudo do
SESI em 2008 (78,7%). No estudo de Costa et al. (2010) que
relatou uso de 72,9% no ltimo
ano, esta taxa maior do que a prevalncia observada na populao
geral de consumo de
lcool no ltimo ano de 52% - sendo 65% para os homens
(LARANJEIRA, 2009), sendo
prximo ao encontrado por Ferreira et al. (2011) de 62% (com a
ressalva de que 38% dos
policiais deste estudo no responderam a questo). Na literatura
australiana e americana, estes
ndices de uso de lcool atingem elevadas prevalncias de 76,3% a
91% dos policiais.
Com ndices semelhantes ou maiores de uso de lcool no ltimo ano
pelos policiais,
possvel supor que estes sujeitos, no Brasil, possam tambm
apresentar um comportamento de
beber em binge como na populao geral, de 40% dos homens e 18%
das mulheres
(LARANJEIRA, 2009), mas so necessrios outros estudos para
determinar este aspecto. Foi
observado que o beber em binge de policiais, na literatura
internacional, alcana taxa varivel
de 37% a 48% dos homens e 31% a 40% das mulheres (RICHMOND,
1998; DAVEY, 2000a;
BALLENGER, 2010), embora outros estudos demonstrem menores taxas
(19,1%)
(LINDSAY, 2008). A prevalncia de beber em binge foi tambm
elevada entre os militares do
Reino Unido (48% dos homens e 31% das mulheres) e dos EUA (43,2%
dos militares)
(FEAR, 2007; STAHRE, 2009). O consumo em binge foi, portanto,
mais prevalente dentro da
amostra policial do que na populao geral, sendo as policiais
femininas as mais provveis
(DAVEY, 2000b; BALLENGER, 2010).
Os relatos de taxas de uso abusivo ou problemtico de lcool em
policias brasileiros (que
podem incluir inclusive os dependentes de lcool) variou de 5 at
25%, prximo ao observado
na literatura internacional levantada nesta reviso (de 12 a 32%
dos policiais). H dados
escassos no Brasil explicitando o ndice de dependncia alcolica
(um estudo referindo
prevalncia de 2,3%), sendo que nos estudos internacionais este
ndice variou de 3% a 19,2%.
A prevalncia de dependncia ao lcool no Brasil chega a 19,5% dos
homens e 6,9% das
mulheres da populao geral (CARLINI, 2007), o que leva
necessidade de estudos de
screening do uso de lcool para levantar estes dados em policiais
brasileiros.
A predio do uso de lcool em policiais pouco estudada. Para Davey
et al. (2000a), houve
elevadas percentagens de homens e mulheres relatando nveis
perigosos de consumo de
lcool, sem diferenas nos nveis de risco de dependncia e
consequncias adversas de
consumo, observado tambm por Ballenger et al. (2010) na amostra
americana. Richmond et
al. (1998) estabeleceram que policiais entre 18 e 29 anos de
idade foram mais provveis de
relatar consumo excessivo, bem como entre fumantes. No estudo de
Davey et al. (2000a), a
idade mais jovem, gnero masculino, estado conjugal divorciado ou
separado, trabalho
operacional e tempo de servio entre quatro a dez anos foram
associados com o beber de
maior risco, sendo que 26% dos policiais beberam lcool durante o
servio. Obst et al. (2001)
observaram em recrutas maiores nveis de uso de risco de lcool
aps 6 a 12 meses da entrada
para a academia, por aculturao que encoraja e estimula o uso de
lcool. Rallings et al.
(2005) relataram maior consumo de lcool e em binge no primeiro
ano entre o treinamento
inicial e o servio operacional, maior entre as policiais
femininas; as policiais inexperientes
tem maior risco de desenvolver o consumo perigoso de lcool no
primeiro ano de servio. O
alto nvel de consumo em binge por mulheres policiais relacionado
ao dado geral que
mulheres em indstrias dominadas por homens so mais provveis de
cair na mdia das
categorias de alto risco do consumo nocivo que aquelas em
ocupaes mais femininas
(RICHMOND, 1998; HAGEN, 1992; DAVEY, 2000b; BALLENGER,
2010).
Do ponto de vista pericial desta populao, os policiais so
trabalhadores que cuidam da
segurana coletiva e expostos a estressores gerais e especficos
da ocupao, o que pode ter
efeitos fsicos, emocionais e fisiolgicos. Relatou-se aumento
significativo dos nveis de
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mortalidade por todas as causas e por suicdio, cncer, cirrose
heptica e doenas
cardiovasculares e arteriosclerticas associados com o trabalho
policial (TROTTIER, 1995;
VIOLANTI, 1996; VIOLANTI, 1998; FRANKE, 2002; SOUZA, 2005). A
violncia uma
realidade do trabalho policial, sendo descrito taxas de homicdio
para policiais mais do que o
dobro da populao geral (TROTTIER, 1995; SOUZA, 2005; MINAYO,
2007 ). Em estudo
sobre consumo de lcool e a comorbidade psiquitrica em policiais
do Rio de Janeiro
condenados priso, o consumo de lcool antes da priso foi referido
por 63,3%, e 23,3%
deles admitiram ter bebido durante o servio policial. (LACERDA,
2005).
Nveis maiores de estresse em policiais podem afetar suas
escolhas no estilo de vida,
comportamento, bem-estar fsico e psicolgico (GERSHON, 2002) e
indiretamente, pode
influenciar na proteo da segurana pblica (TROTTIER, 1995). Nveis
maiores de fatores
de risco cardiovasculares (hipertenso arterial sistmica,
hipercolesterolemia, tabagismo e
maior ndice de massa corprea), alm do sedentarismo e consumo
elevado de lcool, tm
sido estabelecidos nos policiais homens comparados com a amostra
populacional geral
masculina (TROTTIER, 1995; RICHMOND, 1998; FRANKE, 2002).
Tabagismo aumenta as
chances de consumo de alto risco e atividades fsicas so
associadas com baixo risco
(MARCHAND, 2008). O trabalho policial foi associado com nveis
aumentados de doena
cardiovascular subclnica, com estudos demonstrando menor dilatao
mediada por fluxo
(FMD) da artria braquial, exibindo, portanto, disfuno por
diminuio da funo endotelial
de policiais comparado com a amostra populacional civil de idade
similar (VIOLANTI, 2006;
JOSEPH, 2010). Foi estabelecida associao entre maior estresse
percebido e prevalncia de
doena cardiovascular, sendo que a durao do tempo na profisso foi
um fator contribuinte
(FRANKE, 2002). Em policiais acima de 50 anos de idade,
ansiedade, depresso,
somatizao, sintomas de estresse ps-traumtico, sintomas de
Burnout, lombalgia crnica,
abuso de lcool (60% dos policiais com estresse elevado) e
comportamento agressivo
inapropriado, tem sido associados com a percepo policial do
estresse do trabalho. Os mais
importantes fatores de risco associados com estresse percebido
no trabalho foram
comportamento de coping (enfrentamento) mal-adaptado (bebida
excessiva ou problemas com
o jogo) e exposio a incidentes crticos (tiroteio) (GERSHON,
2002).
Estressores ocupacionais no trabalho policial incluem exposio
habitual a perigos fsicos,
violncia, morte, crime, homicdios, drogas, acidentes, alm da
imagem pblica insatisfatria
e negativa (SILVA, 2008). Alguns aspectos gerais de estresse no
local de trabalho so as
peculiaridades organizacionais e administrativas dos
departamentos policiais, classificao,
posto, antiguidade, estilos de gesto ou conduta, nmero de horas
trabalhadas, mudana de
trabalho, responsabilidades, grau de suporte recebido de seus
superiores, segurana do
trabalho e ambiente geral de trabalho (VIOLANTI, 1996; LYNDSAY,
2009).
Em um estudo extenso, Swatt et al. (2007) demonstrou que a relao
entre a tenso (estresse)
relacionada com o trabalho e a prevalncia de beber e o consumo
problemtico de lcool foi
mediado pela ansiedade/depresso. O consumo problemtico de lcool
por policiais,
comumente mais nocivo e perigoso do que na populao geral, pode
ser ligado variedade de
resultados negativos, como desempenho laboral ruim,
relacionamentos ntimos insatisfatrios,
habilidade de enfrentamento (coping) ineficaz, doenas hepticas e
suicdio e, alm disso,
com a presena de estressores relacionados ao trabalho.
Exploraram a relao entre o estresse
do trabalho policial e o uso problemtico de lcool com a teoria
da tenso geral - General
Strain Theory GST - de Agnew (1992), que afirmou trs tipos
definidos de tenso ou estresse: tenso como a insuficincia atual ou
antecipada para atingir metas positivas, tenso
como a atual ou antecipada remoo de estmulos positivamente
valorizados, e tenso como
atual ou antecipada da apresentao de estmulos negativamente
valorizados. Revelaram-se
quatro categorias primrias de estresse ocupacional policial:
Estressores externos agncia
policial (atitudes comunitrias desfavorveis, frustrao com o
sistema de justia criminal,
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percepo de desrespeito por outros profissionais de justia
criminal juzes, promotores, etc.); Estressores de dentro da agncia
policial (baixo pagamento, treinamento ruim,
oportunidades limitadas para progresso na carreira); Estressores
inerentes natureza do
trabalho policial (longas horas, escalas extras obrigatrias,
exposio eventos traumticos,
lidar com pessoas em vrios graus de estresse) e estressores
pessoais que confrontam o
policial individualmente (aceitao e rejeio pela subcultura
policial, perigos inerentes do
trabalho e aumento da discrdia conjugal e familiar).
Um dos riscos ocupacionais do trabalho policial a exposio aos
incidentes traumticos e o
risco resultante de desenvolvimento do Transtorno do Estresse
Ps-Traumtico - TEPT
(TROTTIER, 1995; BALLENGER, 2010). Em estudo piloto sobre
Estresse Policial
Ocupacional Cardio Metablico de Buffalo - BCOPS (VIOLANTI,
2006), 16% apresentavam
critrios para depresso e 36% relataram elevados sintomas de
TEPT. Taxas de distrbios
pelo uso de lcool so maiores em indivduos com TEPT comparados
com indivduos
expostos ao trauma sem TEPT, mas no h dados conclusivos de
maiores taxas de incidncia
e prevalncia de suicdio e ideao suicida entre policias (HEM,
2001; STUART, 2008). No
estudo de Davey et al. (2000a), as obrigaes em servios perigosos
no foi indicador
significativo de estresse. Em outro estudo, exposio a incidentes
crticos e cumulativos
relacionados ao dever ou os nveis de sintomas de TEPT no foram
associados com o uso
atual de lcool em policiais (BALLENGER, 2010). O trabalho
inerentemente estressante do
servio policial foi sugerido ser importante contribuinte do
consumo de lcool relacionado ao
coping (enfrentamento), sendo o fator que pode melhor predizer o
seu uso. No obstante, em
outro estudo, a adaptao ou ajustamento (fitting in), e no o
estresse, foi a razo mais
frequentemente citada para o consumo de bebidas entre os
policiais do grupo de risco de uso
perigoso, sendo que o fator social (desejo de ajustar-se) pode
ser a principal varivel causal no
consumo de lcool (LINDSAY, 2009). Alguns estudos no demonstraram
diferenas de nvel
de estresse entre policiais e populao geral (RICHMOND, 1998;
COSTA, 2007). No
Mississipi (EUA), o abuso de lcool dentro da comunidade policial
marginal, no maior do
que outras ocupaes, no atribuindo o consumo de lcool aos fatores
de estresse do trabalho
(LINDSAY, 2008). Para Ballenger et al. (2010), o estresse
rotineiro do local de trabalho no
foi fator de previso dos nveis de beber em policiais homens, mas
as mulheres foram
significativamente menos provveis de beber sob condies de maior
estresse no trabalho.
2.5. Percia mdica nos programas de lcool e drogas e seu papel na
interveno
preventiva em organizaes
Na etiopatogenia dos transtornos por uso de lcool e alcoolismo
se incluem fatores genticos,
psicossociais e ambientais. No seu estudo, devem-se observar os
trs nveis bsicos de vida do
paciente: individual, familiar e social. (MANGADO, 2009).
Pesquisas so necessrias para
delimitar padres e fatores de previso do uso de lcool por
policiais brasileiros, de modo a
distinguir pericialmente as relaes de causa e efeito, como o
estresse do trabalho relacionado
s diferenas de gnero nos padres de beber, os estudos de
recrutas, fazendo o levantamento
de seu comportamento de beber antes de entrar na fora policial,
acompanhados
longitudinalmente com a finalidade de serem reavaliados durante
todo o servio policial no
uso de lcool e anlise do uso de lcool por policiais femininas
(BALLENGER, 2010;
COSTA, 2010). O policiamento predominantemente uma ocupao
masculina no Brasil e
no mundo. As profisses de alto risco de abuso de lcool so
essencialmente associadas ao
sexo masculino (MANDELL, 1992). Isto, em combinao com a forte
cultura de ingesto de
bebidas alcolicas dentro da polcia pode encorajar mulheres no
servio policial a beber a
nveis alm do que aqueles que normalmente beberiam. Intervenes
especiais podem ser
necessrias objetivando as mulheres policiais para contrapor-se
ao impacto da cultura
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masculina de bebidas dentro deste meio ambiente. Com tal
prevalncia de at 35% a 48% da
amostra policial total (RICHMOND, 1988; DAVEY, 2000b; BALLENGER,
2010)
apresentando uso de risco e nocivo de consumo de lcool
(incluindo provvel dependncia
entre os policiais), os resultados indicam uma forte necessidade
para a instituio policial
introduzir estratgias de interveno (DAVEY, 2000a). Os resultados
atestam invariavelmente
o risco do comportamento de beber prejudicial associado com a
idade (faixa etria mais
jovem). Tais dados demonstram que dentro de grandes amostras
organizacionais especficas,
o uso de questionrios de rastreamento, como o AUDIT, pode
esclarecer que grupos dentro da
organizao so particularmente vulnerveis ao prejuzo do consumo de
lcool e quais
variveis realmente significativas (DAVEY, 2000a).
Em estudo de conjunto de 39 empresas (UNODC, 2005),
classificou-se em trs nveis de risco
para problemas do consumo de lcool: risco baixo, moderado e alto
risco. Examinando
indicadores de desempenho (faltas ao trabalho, acidentes,
licenas por doenas, etc.) dos
colaboradores das corporaes, aqueles que bebem mais tm
proporcionalmente mais
problemas dos que no bebem ou bebem pouco e, portanto, ocasionam
mais custos do que os
demais. Entretanto, como os que esto nas faixas de risco
moderado e baixo constituem a
grande maioria de trabalhadores, necessariamente apresentam um
maior nmero absoluto de
ocorrncias e, por conseguinte, o maior somatrio de custos ser
originrio dessas faixas.
Portanto, todos os trs grupos de consumidores contribuem
significativamente para o total de
problemas. Essa observao foi feita em 1986 por pesquisadores da
Universidade de
Edimburgo, no Reino Unido, e desde ento conhecida como O
Paradoxo da Preveno. Segundo dados da OIT, de 60 a 70% dos
problemas so ocasionados por usurios eventuais
de lcool ou drogas. Consequentemente, um projeto de preveno tem
que atingir todos os
colaboradores de uma empresa, com o objetivo da reduo global do
consumo e a melhoria
dos indicadores de desempenho. Portanto, em relao a programas de
lcool e drogas nas
empresas e organizaes, de nada adianta tomar medidas para um
percentual pouco
significativo de trabalhadores bebedores pesados ou dependentes,
se os grandes problemas
decorrentes do abuso do lcool, como acidentes e outros prejuzos,
ocorrem justamente na
parcela que faz mal uso ou abusa, mesmo eventualmente, do lcool
(VAISSMAN, 2004).
Todos os policiais devem ser contemplados em um programa de
interveno preventiva sobre
o uso de lcool, pois, como j mencionado, a presena de lcool,
mesmo em baixos nveis
residuais, pode ter muito impacto sobre o trabalho policial,
colocando policiais e membros do
pblico em risco desnecessrio. A avaliao peridica da sade dos
policiais pode incluir
educao para a sade e aconselhamento sobre fatores de risco
cardiovasculares, com boas
evidncias de que programas de promoo da sade no trabalho tem
efeitos salutares na sade
do empregado, sendo que modificao de fatores de risco cardaco
reduzem os riscos de morte
cardaca (TROTTIER, 1995; OBST, 2001).
H benefcios da adoo de um modelo sistmico para abordagem do
alcoolismo, como no trabalho entre funcionrios alcoolistas, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Vaissman (2004) encontrou no campo das intervenes que abordavam
a relao entre
alcoolismo e trabalho um modelo que reuniu numa s proposta a
assistncia mdica, uma
percia mdica mais humanizada e integrada com a assistncia
conjugado com a abordagem
preventiva e a reabilitao (a ateno primria ao lado da preveno
secundria e na atuao
junto ao local de trabalho no encaminhamento e na recolocao do
paciente - funcionrio). O
modelo construdo abrange assistncia por equipe multidisciplinar
(neurologista, clnico,
psiquiatra, assistentes sociais, psiclogos, enfermeiro e pessoal
administrativo), enfatizando
fatores psicossociais importantes na causao, na perpetuao e na
reabilitao do alcoolismo
(e dependncia qumica), sobretudo nos aspectos ligados sade no
trabalho. O funcionrio
alcoolista em tratamento ficava menos dias de licena mdica e o
ndice de recuperao dos
tratados e que permaneceram abstinentes do lcool durante 12
meses foi de 35%.
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Dentro desta perspectiva de programa de abordagem de alcoolistas
da UFRJ, com a Percia
Mdica adotando um enfoque humanista e realmente interessado na
possibilidade de
recuperao do funcionrio, a questo principal como ajudar um
alcoolista (VAISSMAN,
2004). O alcoolista tem toda uma trajetria no ambiente de
trabalho at chegar a um ponto em
que as chefias e a prpria empresa necessitam se posicionar
quanto a algumas alternativas:
ajudar o empregado a sair dessa condio, afast-lo do trabalho ou
demisso. Em policiais,
pode ser includa tambm a alternativa das punies administrativa,
civil ou penal. As
empresas buscam estruturar programas para intervir e ajudar o
alcoolista, com a finalidade
de aumentar a produo, distribuindo benefcios, melhorando as
condies de trabalho,
recuperando o potencial humano e valorizando a qualidade de
vida. O setor de percias
mdicas da empresa (aplicvel a uma instituio policial) pode
contribuir com estes objetivos.
Aps uma primeira avaliao mdico-social, a percia emite o primeiro
laudo de
acompanhamento do paciente, a partir de um diagnstico sistmico,
envolvendo pareceres
psiquitrico, clnico, neurolgico e da assistncia social. O perito
passa a ter conhecimento
dos atendimentos realizados pelo servidor, podendo cham-lo
regularmente para acompanhar
a evoluo de seu tratamento. Desse modo haver repercusso nos
ndices de reabilitao e de
incapacidade laborativa transitria e definitiva (aposentadoria)
(VAISSMAN, 2004).
No campo de preveno ao uso de risco de lcool, estratgias de
triagem e intervenes
breves para o uso abusivo esto sendo avaliadas, principalmente
no contexto da Ateno
Primria Sade (APS) em todo o mundo e, mais recentemente no
Brasil (RONZANI, 2008).
Dentro das estratgias de rastreamento precoce do uso e abuso de
lcool e provvel
dependncia em organizaes e empresas, usa-se o AUDIT - Alcohol
Use Disorders
Identification Test, j referido nos vrios estudos (DAVEY, 2000a;
FEAR, 2007; SESI, 2008;
LINDSAY, 2008), um questionrio de 10 perguntas desenvolvido pela
OMS como
instrumento de rastreamento, associado s intervenes breves,
baseado no auto relato dos
pacientes (BABOR, 2003; RONZANI, 2008). O AUDIT facilita a
aproximao inicial e
permite um retorno (feedback) objetivo para o paciente,
possibilitando a introduo dos
procedimentos de interveno breve e de motivao para a mudana de
comportamento
(BABOR, 2003; BABOR; HIGGINS-BIDDLE, 2003). o questionrio de
eleio para a
deteco da sndrome da dependncia alcolica no mbito sanitrio
(MANGADO, 2009),
validado para uso em APS (RONZANI, 2008), podendo ser utilizado
em populao policial
(DAVEY, 2000a) e militar (FEAR, 2007). O AUDIT tem alta
confiabilidade de teste e reteste
e maior sensibilidade, especificidade e valor preditivo positivo
do que as sries de marcadores
bioqumicos, tendo desempenho similar ou melhor que os outros
testes de screening auto-
relatados para o lcool (COULTON, 2006). A maioria dos danos
relacionados ao lcool
causada por bebedores excessivos cujo consumo ultrapassa os
nveis recomendados, no os
bebedores com dependncia grave de lcool. Uma maneira de reduzir
os nveis de consumo
em uma comunidade fornecendo uma interveno breve na ateno
primria ao longo de
uma a quatro sesses (BABOR, 2003).
Richmond et al. (1999) avaliaram efeitos quantitativos e
qualitativos da interveno breve
para modificar ou reduzir o consumo de bebidas alcolicas, o
tabagismo e estresse entre
policiais. No estabeleceram evidncias que apoiem a hiptese de
que a avaliao da sade e
interveno breve resulte em menor consumo de lcool. Houve
tendncias positivas entre as
mulheres. Os fatores organizacionais e individuais podem
influenciar as normas de
comportamento e culturais. Em reviso sistemtica da Cochrane
Database, Kaner et al.
(2011) estudaram em metanlise a efetividade das intervenes
breves de lcool em
populaes de cuidado primrio e concluram que as intervenes breves
reduzem o consumo
de lcool, sendo o efeito mais claro em homens no seguimento de
um ano, mas no
demostrou reduo significativa em mulheres, sendo que maior durao
de aconselhamento
tem pouco efeito adicional. Assim, intervenes breves para
mulheres ainda no so
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justificadas. Este ltimo aspecto de importncia, pois foi
observado que, nas organizaes
policiais, as policiais femininas apresentam comportamento de
consumo de lcool de maior
risco que na populao geral, tornando-se, pois, prioritrio que
futuros estudos devam se
concentrar nas mulheres policiais no delineamento de componentes
mais efetivos e eficazes
de interveno.
Concluso
Escassos estudos de qualidade sobre o padro de uso de lcool por
policiais no Brasil e no
mundo foram publicados e evidenciaram que policiais apresentam
maior prevalncia de uso
de lcool no ltimo ano do que na populao geral, com menores taxas
de abstinncia, mas
semelhante a vrios trabalhadores e ocupaes. Elevados nveis de
binge-drinking em
policiais e em militares foram observados, em homens e,
particularmente, em mulheres, e
maior uso nocivo de lcool na faixa etria mais jovem. As
policiais femininas esto em risco
de danos pelo lcool semelhante aos homens. Pericialmente, os
policiais apresentam perfil de
trabalhadores que cuidam da segurana pblica e rotineiramente
expostos a situaes e fatores
de estresse gerais, especficos da ocupao e pessoais, com efeitos
fsicos, psquicos e sociais,
com aumento significativo dos seus nveis de morbidade e
mortalidade. O trabalho
inerentemente estressante do servio policial, relacionado
habilidade de coping ineficaz e
mal-adaptado, exposio a incidentes crticos, correlacionado com
emoes negativas,
mediados por ansiedade e depresso, bem como o fator social de
adaptao ou ajustamento e
a cultura organizacional de aceitao e encorajamento podem estar
associados ao maior uso
de lcool. Os recrutas e as mulheres policiais podem sofrer
aculturao dentro do ambiente
policial, incluindo uso de bebidas alcolicas. A maioria dos
danos ocupacionais relacionados
ao lcool so causados por bebedores excessivos (binge), cujo
consumo ultrapassa os nveis
recomendados, no os bebedores com dependncia grave de lcool.
Assim, todos os policiais
de uma instituio, com a participao da percia mdica, devem ser
submetidos a uma
estratgia de rastreamento e preveno do uso de lcool, associado s
intervenes breves,
podendo ser utilizado o AUDIT. Intervenes especiais podem ser
necessrias objetivando os
policiais recrutas e mais jovens e as policiais femininas.
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ANEXO 1 AUDIT
Tabela 1
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