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A INFLUNCIA DO PENSAMENTO MODERNO SOBRE A ARTE: ROCOC,
NEOCLASSICISMO E ROMANTISMO
Eduardo Pacheco Freitas1
RESUMO: O pensamento moderno aliado ao avano tecno-cientfico
surgido aps a Idade Mdia contribuiu de maneira extremamente
importante para o
desenvolvimento de diversos gneros artsticos. O Rococ, o
Neoclassicismo e o
Romantismo podem ser considerados como movimentos de arte que
surgiram a
partir da Era da Razo, ou seja, estimulados e influenciados pelo
pensamento
iluminista, pelo empirismo lockeano e pelos avanos cientficos
proporcionados por
Newton. O presente trabalho procura entender estas relaes,
analisando algumas
das obras mais importantes e representativas de cada estilo,
associando os diversos
quadros analisados ao contexto histrico onde foram
produzidos.
ABSTRACT: Modern thinking combined with techno-scientific
advances arising after
the Middle Ages contributed to a very important for the
development of different
artistic genres. The Rococo, Neoclassicism and Romanticism may
be regarded as art
movements that emerged from the Age of Reason, that is,
encouraged and
influenced by Enlightenment thought, the Lockean empiricism and
the scientific
advances provided by Newton. This paper seeks to understand
these relationships,
analyzing some of the most important and representative works of
each style,
combining the different paintings analyzed the historical
context they were produced.
PALAVRAS-CHAVE: Rococ. Neoclassicismo. Romantismo. Histria da
arte. Iluminismo. Pensamento moderno.
1 Aluno de Graduao do curso de Histria na Faculdade de Filosofia
e Cincias Humanas - PUCRS
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1.INTRODUO
Na Europa, durante a Idade Mdia, as artes plsticas estiveram
basicamente
ligadas aos temas religiosos, seja atravs das representaes
pictricas e estaturias
de Cristo, de Maria, dos apstolos e dos santos; seja atravs das
obras
arquitetnicas, inspiradas por ideais filosficos, como demonstrou
Erwin Panofsky
sobre a relao da arquitetura gtica e a escolstica2.
Com o Renascimento, a partir do sculo XV, h uma forte tendncia a
se
deixar de lado esse carter predominantemente cristo da arte como
um todo e
passa-se ento a uma redescoberta dos valores estticos da
antiguidade, onde a
medida de todas as coisas o homem, em detrimento de Deus que
havia ocupado a
mente criativa por todo o perodo histrico anterior.
A partir do sculo XVIII, com o Iluminismo, acontece uma nova
reviravolta em
termos de produo e pensamento artstico, pois passa a existir
nesta poca uma
supervalorizao dos conceitos racionais, com base no Empirismo
ingls de John
Locke, que versa sobre a importncia da experincia do sensvel
para a obteno do
conhecimento. Os avanos da cincia, de igual maneira, abordados
aqui em suas
relaes com uma nova concepo artstica, podem ser identificados
com a teoria
das cores de Newton, que props um novo conceito acerca da
participao do artista
em sua obra, considerando que as cores so fenmenos fsicos. A
respeito disso,
Kern diz que o carter subjetivo e material da cor j no pertencia
pintura (KERN,
2006, p. 25) e que:
Com o Iluminismo e a valorizao da razo e a da cincia, a
modernidade comeou a ser
pensada como projeto futuro, fundamentado numa cultura
especializada, na qual o homem
livre criaria as suas prprias normas em detrimento dos princpios
normativos externos do
modelo clssico. Assim, o homem libertou-se do pensamento
metafsico e emergiu o sujeito
independente para articular o seu futuro e constituir-se como
protagonista da histria. Foi
nesse momento que o campo especializado das belas-artes se
configurou, e a esttica, a
histria da arte e a crtica se legitimaram, passando a fornecer
novos mtodos de reflexo e
teorizao a respeito do fazer pictrico e do juzo do gosto. (KERN,
2006, p. 25)
2 Sobre o desenvolvimento sncrono da filosofia escolstica e da
arquitetura gtica na Frana setentrional no sculo XIII recomenda-se
a leitura do livro Arquitetura gtica e escolstica de Erwin
Panofsky, onde o autor demonstra a influncia do pensamento
escolstico sobre os construtores das catedrais gticas.
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Portanto, com as novas concepes filosficas surgidas no
Iluminismo e com o
favorecimento da razo e do empirismo, ocorre uma mudana radical
na forma de se
produzir a arte e conjuntamente na maneira de se apreciar a
arte. Desta nova viso
de mundo, por exemplo, surge o gnero Rococ, que representa o
desejo de prazer
daquela sociedade, uma necessidade de experimentar e depois
refletir. Com isto, a
crtica de arte e a histria da arte, modificam suas vises a
respeito da arte e dos
artistas, valorizando e estudando agora novos elementos que em
perodos anteriores
sequer eram cogitados. Desta forma, h o estabelecimento de uma
nova relao
entre a pintura e o conhecimento.
No entanto, h outro aspecto derivado deste racionalismo oriundo
do
Iluminismo que pode ser chamado de Neoclassicismo. Sobre a arte
neoclssica,
Argan diz:
Tema comum a toda arte neoclssica a crtica, que logo se torna
condenao, da arte
imediatamente anterior, o Barroco e o Rococ. Adotando a arte
Greco-romana como modelo
de equilbrio, proporo, clareza, condenam-se os excessos de uma
arte que tinha sua sede
na imaginao e aspirava despert-la nos outros. (ARGAN, 1993, p.
21)
Logo, percebemos que h uma preocupao conceitual e metodolgica da
arte
neoclssica, alm de resgatar os ideais estticos da antiguidade,
no sentido de
combater os movimentos artsticos anteriores. A disputa se d no
mbito de
valorizao da razo em detrimento da pura imaginao do artista.
O Romantismo ser o ltimo gnero artstico a ser analisado no
presente
trabalho, levando-se em considerao este movimento como uma
possvel reao
contra o Iluminismo, porm, com a conscincia de que foi
engendrado a partir, ao
menos em parte, do prprio Iluminismo. Enfim, consideraremos o
Romantismo como
o primeiro grande protesto contra o mundo moderno (BAUMER, 1990,
p. 23)
2.O ROCOC
Durante o sculo XVIII as sociedades europias passam por um
grande
movimento de secularizao que determinou da por diante a relao
dos artistas
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com a produo de suas respectivas obras. At ento a literatura,
sobretudo as
escrituras sagradas da Bblia e os motivos cristos dominavam e
serviam como
subsdio para toda e qualquer pintura.
No entanto, no incio do sculo XVIII dois novos acontecimentos
influenciam
fortemente esta mudana de mentalidade: o empirismo ingls, de
Jonh Locke e as
descobertas cientficas de Newton.
H nesta sociedade uma busca quase obsessiva pela felicidade, um
certo
carter hedonista permeia todos os sales e todas as conversas e
encontros. A arte
que surge neste perodo, conhecida como Rococ a expresso mxima do
esprito
de uma poca que rompe com a tradio artstica religiosa, tenta
compreender o
mundo pela cincia e, ao mesmo tempo, busca a frivolidade e o
prazer. Afinal, o
prazer agora entendido no mais como uma recompensa, mas sim como
um
objetivo de vida fundamental. Neste sentido, compreende-se a
ligao estreita entre
o empirismo de Locke que teorizava sobre a necessidade da
experincia para o
surgimento das idias e entre a apreenso imediata do observador
ao deparar-se
com uma obra de arte rococ. O deleite de uma bela obra se d
antes de qualquer
reflexo. O raciocnio explica tal deleite a posteriori, ou seja,
apenas legitima um
prazer j sentido. (PIFANO, 1995, p. 398). necessrio
experimentar, viver o
momento, tanto na vida quanto na arte. Por isso as representaes
de Antoine
Watteau de pessoas simplesmente aproveitando um momento de cio
em um parque
ou de casais partindo da lendria ilha de Citera aps homenagearem
Vnus.
Antoine Watteau (1684 1721) foi o grande expoente da arte rococ.
Embora
tenha morrido jovem, com apenas 37 anos, gravou indelevelmente
seu nome na
histria da arte ao representar em seus quadros uma vida
totalmente alheia a
privaes (GOMBRICH, 2008, p. 454) que em ltima anlise o desejo do
ser
humano em qualquer sociedade a qualquer tempo. No entanto, este
desejo foi
levado como objetivo norteador de uma sociedade que valorizava
sobretudo o
instante. Devido a isto, o fugaz o grande tema da pintura (
PIFANO, 1995, p.
399) de Watteau e do rococ em geral. No quadro Divertimentos
Campestres
Watteau traduz atravs de suas pinceladas a importncia que os
prazeres singelos
tem para aquela sociedade. Uma criana brinca rapidamente com um
cozinho, um
casal danando, pessoas na relva apenas conversando de maneira
confortvel.
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Instantes que passam em um piscar de olhos, como o raio de sol
que surge por
detrs das rvores nesta mesma tela.
Figura 01. Divertimentos campestres, 1718. Antoine Watteau.
Coleo Wallace, Londres.
Outro artista importante do gnero rococ, que produziu sua obra
aps
Watteau Jean-Honor Fragonard (1732 -1806).
Fragonard levou adiante a tradio de Watteau e produziu obras
tambm
inspiradas na vida da alta sociedade em seus momentos de prazer
instantneo.
Segundo Pfano:
A busca do prazer e a conseqente temporalidade reduzida ao
instante no so observadas
apenas na pintura. Encontram-se presentes em meio quela
sociedade para a qual a arte
rococ produzida, ou seja, a aristocracia e a alta burguesia.
Assim, inaugura-se o reino dos
sales onde a vida mundana consagrada. (1995, p. 401)
Com isto, podemos afirmar que o desejo por prazer da alta
sociedade
parisiense da poca teve seu registro perfeito na arte rococ.
interessante notar
que a sociedade almejava por este prazer rpido e igualmente
prestigiava as obras
de arte que representavam esta realidade. um exemplo muito
concreto de o
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quanto o pensamento de uma sociedade est relacionado ao tipo de
arte que
produz.
Uma grande novidade trazida pela arte rococ que este gnero
artstico
profundamente feminino, em oposio s representaes de guerras e
de
conquistadores to profundamente masculinas do passado. Fragonard
traduz de
forma inequvoca este carter feminino da arte rococ com seu
quadro O Balano,
onde uma jovem brinca alegremente ao se balanar em um jardim
enquanto
observada por um jovem deitado na relva. a expresso mxima da
feminilidade,
alegre, sendo cortejada, sentindo prazer naquele breve momento
de diverso, que
logo passar, bastando terminar o vo do balano.
A proximidade entre as artes e a galanteria to marcante que a
Academia Francesa confere
aos pintores do idlio amoroso o ttulo especial de pintor de
festas galantes, tendo sido
Watteau o primeiro a receber o ttulo. Um dos temas mos correntes
na pintura galante o
coup doeil indiscreto, como em O Balano [...] de Fragonard.
(PIFANO, 1995, p. 404)
Figura 02. O Balano. Jean-Honor Fragonard. Coleo Wallace,
Londre
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Afinal, o sculo XVIII o sculo da cortesia, da sociabilidade, que
so
expressas atravs dos sales, onde a conversa ligeira e
interessante. Nada neste
sculo pode ser demorado, correndo-se o risco, em caso de demora,
de que possa
advir o enfado, o tdio e que estes estraguem os breves momentos
de prazer
desfrutados nos sales. No entanto, com o a monarquia francesa
enfraquecendo, s
vsperas da Revoluo, o Rococ tambm perde fora. Como arte
aristocrtica que
era, acompanha a nobreza em sua derrota.
3.O NEOCLASSICISMO
A fase neoclssica coincide no tempo com a poca da Revoluo
Francesa.
Neste contexto, necessrio salientarmos dois aspectos que servem
de moldura
para este movimento. O primeiro o surgimento da esttica que a
filosofia da arte.
O segundo aspecto o fato de que a cultura iluminista prope que a
natureza no
mais imutvel e se trata apenas do ambiente de existncia do
homem. Neste
sentido, vlido lembrar o que Baumer (1990, p. 164) diz acerca do
Iluminismo:
[...] as naes da Europa viraram da Idade Mdia para os tempos
modernos,
marcando a passagem de um tipo de pensamento
sobrenaturalista-mtico-autoritrio,
para um tipo naturalstico-cientfico-individualista. Ao que
acrescenta logo em
seguida, em se tratando da relao do neoclassicismo com o
Iluminismo: [...] o
neoclassicismo, embora algumas vezes ligado ao Iluminismo, no se
pode entender
como uma mera faceta do pensamento iluminista. Portanto, devemos
ter de
maneira muito clara que houve sim uma mudana de mentalidade que
determinou
em parte o surgimento do neoclassicismo, no entanto, sem que
isso signifique que
ele, enquanto gnero artstico, tenha uma ligao total e plena com
o pensamento
do Iluminismo.
O que ocorreu na segunda metade do sculo XVIII, ainda segundo
Baumer,
foi um retorno s coisas mais simples, uma reao contra o luxo do
rococ. Houve
uma valorizao das virtudes relacionadas simplicidade e um
sentimento de dever
patritico, que pode explicar em parte, a produo de artistas como
Jacques-Louis
David (1748 -1825), retratando cenas romanas, em aluso a uma
moral antiga que
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devia ser resgatada. O quadro O juramento dos Horcios um exemplo
desta
necessidade de se retratar a grandeza moral romana para
justificar os atos de
patriotismo que o momento histrico pr-revoluo exige3; por outro
lado, um
quadro que revela o sentimento oposto a arte rococ, que era uma
arte feminina por
excelncia, ao dar destaque aos homens, que esto no centro da
tela, enquanto as
mulheres aparecem no canto inferior direito, em bvia posio de
inferioridade e
fragilidade. o mundo masculino que retorna com fora atravs dos
ideais
neoclssicos.
Figura 03. O juramento dos Horcios, 1784. Jacques-Louis
David.
Em relao a esta ligao existente entre os ideais da Revoluo e
o
pensamento que condicionou a produo pictrica poca, Argan
diz:
Com a cultura francesa da revoluo, o modelo clssico adquire um
sentido tico-ideolgico,
identificando-se com a soluo ideal do conflito entre liberdade e
dever; e, colocando-se como
valor absoluto e universal, transcende e anula as tradies e as
"escolas" nacionais. Esse
universalismo supra-histrico culmina e se difunde em toda a
Europa com o imprio
napolenico. (ARGAN, 1993, p. 14)
3 O quadro de 1784, portanto, cinco anos antes da Revoluo
Francesa.
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Ou seja, houve um chamamento a universalidade dos valores que
viriam a ser
defendidos pela revoluo em seu prprio lema de Igualdade,
Liberdade e
Fraternidade. Nada melhor do que os modelos clssicos da
antiguidade, por sua
fora e beleza, para servirem de smbolo iconogrfico para estas
idias.
Em face disto, podemos entender o neoclassicismo como uma
potica, e no
somente uma estilstica, pois ele determina certas posturas,
inclusive de carter
moral, em relao arte.
Na origem desta concepo podemos situar as escavaes de Herculano
e
Pompia, que revelaram os aspectos cotidianos da vida na
antiguidade classica e
contriburam, a partir disto, para formar o conceito de
classicidade. Ento h um
conhecimento melhor da pintura antiga que acaba servindo como
inspirao. A
descoberta, durante a campanha de Napoleo no oriente, da
refinada arte egpcia
outro fator que ajuda a formar a cultura neoclssica, no que se
convencionou
chamar de estilo imprio.
Figura 04. Projeto de igreja metropolitana, 1780-1800.
tienne-Louis Boulle.
Outro aspecto importante do neoclassicismo a arquitetura. Com a
concepo
de que as cidades no so mais propriedade do clero nem das
grandes famlias
abastadas que surgem alguns nomes como tienne-Louis Boulle
(1728-99) e
Claude Nicolas Ledoux (1736 - 1806). a nova cincia da cidade,
chamada ento de
urbanstica. Pretende-se que a cidade tenha uma unidade
estilstica correspondente
ordem social (ARGAN, 1999, p. 23). H uma viso de que o pblico
deve ser
preponderante em relao ao privado e a inteno de se construir
grandes edifcios
destinados a funes pblicas. No entanto, com a restaurao
clrico-monrquica e a
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posterior restaurao da burguesia, houve o reforo do princpio da
propriedade
privada, visando a proteo dos interesses das classes
proprietrias. Isto acarretou
que a grande maioria dos projetos destes arquitetos permanecesse
no papel, sem
nunca serem construdos. tienne-Louis Boulle passou ento histria
como um
visionrio, que no conseguiu realizar seus projetos ousadamente
neoclssicos4.
4.O ROMANTISMO
A influncia do pensamento moderno sobre a arte provocou revolues
e
contra-revolues. O Movimento Romntico foi tanto uma quanto a
outra, pois ao se
tratar de um primeiro protesto contra o mundo moderno na verdade
o fazia em
nome de uma nova modernidade. Alguns romnticos consideravam-se
modernos no
sentido cristo, e anticlssicos no gosto artstico. (BAUMER, 1990,
p. 23). Podemos
afirmar que a contestao dos ideais iluministas, baseados no
empirismo e na razo
pura, se dava mais no sentido de se tentar estabelecer uma
modernidade mais
orgnica do que promover um retrocesso propriamente dito a um
mundo mais
antigo.
O Movimento Romntico de difcil definio, justamente por haver
uma
pluralidade de romantismos5 embora se possam traar algumas
caractersticas
gerais que se encontravam no movimento nos mais diversos pases:
a tendncia ao
que misterioso e o desejo de expresso e sentimento individuais.
H tambm a
dificuldade de no existir uma organizao institucional do
movimento, nem uma
publicao que lhe embasasse teoricamente, como houve a
Enciclopdia durante o
Iluminismo e a Bblia na Reforma Protestante. No entanto, pode-se
afirmar que havia
um movimento em torno da apreciao dos valores ocidentais e que o
movimento
tinha Newton como smbolo da sua insatisfao com o mundo
mecanicista e
inorgnico que comeara a ser desenhado com os estudos do
matemtico ingls.
Os romnticos consideravam esse mundo demasiado estreito, por
causa da sua devoo,
segundo julgavam, ao pensamento geomtrico e aliada doutrina do
neoclassicismo, ou
4 H um filme muito interessante com a obra de Boulle como pano
de fundo para a histria. Chama-se A Barriga do Arquiteto (The Belly
of an Architect, 1987). 5 ARTHUR LOVEJOY apud BAUMER, 1990, p.
24.
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ainda ao empirismo lockeano. O esprito geomtrico, embora
metafisicamente posto de parte,
tentava sujeitar toda a vida razo, e assim mecaniz-la e
humilh-la. O Neoclassicismo,
desejando, do mesmo modo, procurar modelos ideais da natureza,
impunha regras universais
e rgidas arte e aos artistas. O Empirismo melindrava pela razo
oposta, porque era
demasiado cptico e limitava terrivelmente o conhecimento humano
ao mundo das
aparncias. (BAUMER, 1990, p. 26)
Ento, ao mundo iluminado das cores de Newton os romnticos
ofereciam, em
contrapartida, o seu mundo noturno, misterioso, mstico. Um mundo
que buscava
elevar o natural ao sobrenatural. Os romnticos pretendiam ver
Deus na natureza.
Houve um reflorescimento do catolicismo e at mesmo os romnticos
que
permaneciam protestantes, como Novalis, avaliavam de forma
surpreendente, que
talvez a Reforma tivesse sido um erro e que tivesse provocado a
Era da Razo.
Na inteno de evitar o afogamento do sobrenatural no natural e,
pelo
contrrio, promover a elevao do natural ao sobrenatural o
romantismo provocou
esta renovao religiosa e a pintura foi profundamente
influenciada por estes ideais
metafsicos e poticos.
Um pintor que representou muito bem o pensamento romntico em
suas telas
foi o alemo Caspar David Friedrich (1774 1840). Friedrich pode
ser considerado o
maior pintor romntico alemo, que conseguiu demonstrar a
reverncia religiosa de
forma absolutamente sublime, quase etrea, atravs de suas
pinturas paisagsticas.
O quadro Homem e mulher contemplando a Lua mostra um casal
observando, em
uma cena profundamente romntica, o crepsculo, que transmite a
ntida sensao
de diluio ou fuso do mundo fenomenal com o mundo
transcendental.
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Figura 05. Homem e mulher contemplando a Lua, 1818. Caspar David
Friedrich
A respeito deste quadro, Baumer diz que para as duas figuras
humanas, a
natureza est praticamente diluda com o mundo prximo ou funde-se
nele
distncia. (1990, p. 34) exatamente isto que Friedrich buscava ao
realizar um
quadro: demonstrar que Deus est na natureza e que no ser somente
a cincia
capaz de explicar completamente, tanto o homem, quanto o mundo
natural que o
cerca. No entanto, necessrio salientar que no havia entre os
romnticos
necessariamente um pensamento anticientfico. O que eles
pretendiam combater era
a viso simplesmente mecanicista e com isto havia divises entre
os artistas e
intelectuais do movimento em relao aos inventos mecnicos,
havendo dvidas
sobre se serviriam para melhorar ou degradar a experincia
humana.
Alm da viso referente natureza e a Deus interessante notar a
viso
romntica em relao ao homem. O romantismo no compreendia o homem
como a
grande medida conforme o pensamento clssico; porm, o entendia
como inserido
em um contexto de foras csmicas poderosas que podiam envolv-lo
at mesmo
em uma proporo maior que ele prprio.
A partir disto foram feitos estudos sobre o inconsciente humano,
onde se
destaca o psiclogo von Schubert com a publicao do livro
Simbolismo dos Sonhos
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(1814). O autor, von Schubert, estudou as manifestaes do
inconsciente e concluiu
que elas podem ser de natureza boa ou m. Portanto, o
inconsciente pode levar o
homem por dois caminhos distintos e antagnicos. Os romnticos
tinham plena
conscincia da existncia de uma natureza humana ansiosa e
perturbada e de foras
ocultas do homem que o podiam destroar e ao seu mundo (BAUMER,
1990, p. 41)
Aparies medonhas, que brotam do fundo do inconsciente foram
retratadas
por Francisco Goya (1746 1828). Na gravura O Sonho da Razo
Produz Monstros,
Goya utiliza-se destes dois conceitos romnticos para compor a
obra. Em primeiro
lugar o mundo inconsciente, desconhecido, atemorizante. Junta-se
a ele a Razo
desenfreada, que tenta explicar o homem e o mundo e por fim pode
resultar em algo
terrvel.
Figura 06. O sonho da razo produz monstros. Francisco Goya
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5.CONCLUSO
Foi possvel concluir, ao trmino deste trabalho, que a importncia
do
pensamento de uma poca profundamente determinante no tipo de
arte que a
sociedade em questo vai produzir e consumir. O exemplo da
secularizao da
sociedade somado aos aspectos empricos e iluministas em voga no
incio do sculo
XVIII explicam de forma bastante satisfatria o surgimento da
arte rococ. Da
mesma forma, percebemos que seu declnio esteve estreitamente
ligado queda da
monarquia francesa em decorrncia da Revoluo Francesa.
Foi observado que aps o Rococ surge o Neoclassicismo, como uma
outra
vertente alimentada tambm pelos ideais iluministas, porm, em seu
fervor patritico
percebemos uma ligao direta com os movimentos da sociedade que
deflagraram a
Revoluo Francesa, como se verifica claramente na obra de
Jacques-Louis David,
com seus temas morais tirados da antiguidade romana.
Por ltimo, pudemos observar que o Romantismo se tratou de uma
contra-
revoluo em relao ao Iluminismo, porm, sem a vontade de um
retorno ao
passado medieval, mas sim, com mpetos de estabelecimento de uma
nova
modernidade, que privilegiasse a natureza e o homem e evitasse a
mecanizao da
sociedade, da vida. O reflexo desta nova forma de pensar
percebido nas obras de
Caspar David Friedrich, de nacionalidade alem, no por acaso o
pas onde o
Movimento Romntico teve sua maior fora.
Enfim, a relao entre pensamento e arte umbilical, no sendo
possvel
dissociar uma coisa da outra. Toda a arte deve ser encarada de
acordo com o
contexto onde foi produzida. Caso no faamos esta observao,
correremos o risco
de no compreend-la e consequentemente no aproveit-la melhor.
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REFERNCIAS
ARGAN, G. C. Clssico e Romntico. Arte moderna. So Paulo: Cia.
Das Letras, 1993. BAUMER, F. O mundo romntico. O pensamento europeu
moderno. Lisboa: Edies 70, 1990. BAUMER, F. O ser e o devir. O
pensamento europeu moderno. Lisboa: Edies 70, 1990. GOMBRICH, E. H.
A histria da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2008. KERN, Maria Lcia.
Imagem manual: pintura e conhecimento. FABRIS, A.; KERN, M. L.
Imagem e conhecimento. So Paulo: Edusp, 2006. PANOFSKY, Erwin.
Arquitetura gtica e escolstica. So Paulo: Martins Fontes, 1991. THE
WALLACE COLLECTION. Disponvel em: . Acesso em: 16 set. 2011.