SILVA, Vitorino Alves da., GUIMARÃES, Eduardo Nunes et al. Aglomeração Urbana de Uberlândia (MG): Formação Sócio-Econômica e Centralidade Regional. In: HOGAN, Joseph, et al (orgs.) Migração e ambiente nas Aglomerações Urbanas. Campinas: Núcleo de Estudos Populacionais/UNICAMP, 2001. AGLOMERAÇÃO URBANA DE UBERLÂNDIA (MG): FORMAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA E CENTRALIDADE REGIONAL Vitorino Alves da Silva * Eduardo Nunes Guimarães * Luiz Bertolucci Júnior ** Ester Willian Ferreira ** Carlos José Diniz ** O objetivo deste trabalho é buscar uma apreensão da articulação entre os fenômenos do desenvolvimento econômico e da urbanização de uma das regiões brasileiras que apresentou taxas de crescimento econômico e demográfico acima da média nacional, no interior brasileiro, sem receber os benefícios de abrigar uma capital estadual ou federal ou mesmo de cumprir um papel efêmero de área típica de fronteira. A referida região é o denominado “Triângulo Mineiro”, em particular a área de influência do município de Uberlândia (MG), principal nucleação regional. 1 O conceito de região que adotamos não se restringe a áreas internas aos territórios estaduais e, claramente, não possui um limite territorial previamente definido, aproximando-se mais da noção de região abstrata, desenvolvida por Perroux (1967); porém, devendo cumprir pelo menos dois requisitos: possuir uma nucleação interna definida e ser objeto de um campo de forças que integra, de forma regular, interesses mediados por um volume relativamente representativo de fluxos sócio-econômicos internos 2 . A posição assumida pelo município de Uberlândia como principal pólo da referida área, concentrando os avanços demográficos e econômicos da dinâmica regional dos *. Professores do IE-UFU (Membros do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Urbano – NEDRU-UFU). ** Economistas do CEPES-UFU e Membros do NEDRU. 1 . A região de influência de Uberlândia compõe-se por uma área que não se confunde, especificamente, nem com a microrregião de mesmo nome (microrregiões homogêneas do IBGE), nem com a denominada mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (IBGE), estendendo-se pelo sul e sudoeste de Góias, nordeste do Mato Grosso do Sul, sudoeste de Mato Grosso e uma franja horizontal da bacia do Rio Grande, no norte do Estado de São Paulo, onde divide área de influência econômica com os núcleos de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. O estudo do REGIC, realizado pelo IBGE em 1993, representa uma certa confirmação empírica dessa área de influência.
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AGLOMERAÇÃO URBANA DE UBERLÂNDIA (MG): … · análises que procurem caracterizar as aglomerações urbanas tendo por eixo suas áreas de influências regionais, no respectivo
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SILVA, Vitorino Alves da., GUIMARÃES, Eduardo Nunes et al. Aglomeração Urbana de Uberlândia (MG): Formação Sócio-Econômica e Centralidade Regional. In: HOGAN, Joseph, et al (orgs.) Migração e ambiente nas Aglomerações Urbanas. Campinas: Núcleo de Estudos Populacionais/UNICAMP, 2001.
O objetivo deste trabalho é buscar uma apreensão da articulação entre os fenômenos
do desenvolvimento econômico e da urbanização de uma das regiões brasileiras que
apresentou taxas de crescimento econômico e demográfico acima da média nacional, no
interior brasileiro, sem receber os benefícios de abrigar uma capital estadual ou federal ou
mesmo de cumprir um papel efêmero de área típica de fronteira. A referida região é o
denominado “Triângulo Mineiro”, em particular a área de influência do município de
Uberlândia (MG), principal nucleação regional.1 O conceito de região que adotamos não se
restringe a áreas internas aos territórios estaduais e, claramente, não possui um limite
territorial previamente definido, aproximando-se mais da noção de região abstrata,
desenvolvida por Perroux (1967); porém, devendo cumprir pelo menos dois requisitos:
possuir uma nucleação interna definida e ser objeto de um campo de forças que integra, de
forma regular, interesses mediados por um volume relativamente representativo de fluxos
sócio-econômicos internos2.
A posição assumida pelo município de Uberlândia como principal pólo da referida
área, concentrando os avanços demográficos e econômicos da dinâmica regional dos
*. Professores do IE-UFU (Membros do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Urbano – NEDRU-UFU). ** Economistas do CEPES-UFU e Membros do NEDRU. 1 . A região de influência de Uberlândia compõe-se por uma área que não se confunde, especificamente, nem com a microrregião de mesmo nome (microrregiões homogêneas do IBGE), nem com a denominada mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (IBGE), estendendo-se pelo sul e sudoeste de Góias, nordeste do Mato Grosso do Sul, sudoeste de Mato Grosso e uma franja horizontal da bacia do Rio Grande, no norte do Estado de São Paulo, onde divide área de influência econômica com os núcleos de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. O estudo do REGIC, realizado pelo IBGE em 1993, representa uma certa confirmação empírica dessa área de influência.
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últimos 40 anos, é fundamental para entender o próprio processo de dinamização e
diferenciação desta fração de espaço do interior brasileiro. Ou seja, é nesse elemento de
centralidade regional e de complementariedade na divisão nacional do trabalho que vamos
buscar as condições e os desdobramentos de um desempenho sócio-econômico singular.
Nossa hipótese é a de que a tipologia de classificação de Uberlândia no cenário
nacional, como centro sub-regional de ordem 1, conforme IPEA/IBGE/NESUR (1999),
não permite uma adequada caracterização do papel e do potencial sócio-econômico
desempenhado por essa nucleação regional, vis-à-vis os demais centros classificados no
mesmo patamar. Nesse sentido, tomando como referência o referido trabalho de
“Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil”, procuramos acrescentar novas
características deste recorte regional, com o objetivo de estabelecer uma nova reflexão
sobre sua atual posição socio-econômica e potencial na rede urbana brasileira.
Para tanto introduzimos uma nova abordagem analítica para o recorte regional,
passando a denominar Uberlândia como uma aglomeração urbana, formada, a princípio,
pelo núcleo e mais 29 municípios do seu entorno, que apresentam características de maior
articulação com o núcleo principal.3 Esse procedimento implica numa justificativa dos
elementos conceituais utilizados para definir uma aglomeração. Desde o início sabíamos,
pelas características históricas da formação dessa região, tratar-se de uma especificidade,
qual seja: uma aglomeração relativamente dispersa geograficamente em um sub-sistema
regional contíguo4.
Seguindo os critérios de classificação das aglomerações urbanas do Brasil
(IPEA/IBGE/NESUR, 1999: 33-36), devemos, em primeiro lugar, verificar em que grau a
referida aglomeração atende aos chamados “aspectos fundamentais de natureza
demográfica, de estrutura ocupacional e de integração entre os seus núcleos” (p.34). A
princípio, nota-se que, de fato, considerando o conjunto de requisitos elencados pelo IBGE,
Uberlândia e região não os atendia na totalidade. Embora dotado de núcleo urbano central
com mais de 200 mil habitantes em 1991 e com uma centralidade classificada como “muito
forte” (REGIC, 1993) do principal município (Uberlândia), verificamos que a maioria dos
municípios do Aglomerado não atendiam à densidade de 60 hab./km² por espaço
urbanizado contínuo (Quadro I) e nem todos apresentaram um mínimo de 65% de PEA nos
2 . O conceito de região sabidamente não representa um consenso nas áreas de conhecimento que lidam com o objeto espacial. Ver a respeito: Markusen (1981); Lemos (1988); Guimarães (1997); Pacheco (1998) e Lemos et alli (2000). 3 . Os municípios componentes da aglomeração supra-citada encontram-se listados nas tabelas inseridas no presente texto.
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setores secundário e terciário (urbanos); além da evidente inexistência de conurbação
urbana interna.
QUADRO I
Aglomerado Urbano de UberlândiaDensidade demográfica (Hab / Km2), por Municípioe Total do Aglomerado - 1980, 1991 e 1996
Entretanto, conforme reconhecido mais adiante naquele trabalho, a “aplicação destes
critérios constituiu-se em quadro preliminar, pois o grau de integração entre os municípios
selecionados não pode ser mensurado dada a ausência de informação acerca do movimento
4 . Para uma referência da formação sócio-econômica regional, ver: Brandão (1989); Guimarães (1990).
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pendular de população” (IPEA/IBGE/NESUR, 1999:35). Em outras palavras, desde
sempre esteve claro que o refinamento da classificação dependeria do avanço de estudos
regionais específicos.
Esta é pois a justificativa principal do estudo desenvolvido neste trabalho, que visa
retomar alguns pontos específicos dessa formação regional, com o objetivo de fornecer
elementos para uma classificação da Aglomeração regional de Uberlândia na rede urbana
brasileira (MAPA 1). De outro modo, entendemos que a discussão mais elucidativa da
dinâmica espacial da rede urbana brasileira e suas tendências pode ser melhor captada em
análises que procurem caracterizar as aglomerações urbanas tendo por eixo suas áreas de
influências regionais, no respectivo contexto de inserção nacional e internacional vis-à-vis
os critérios estáticos. Ou seja, dois requisitos fundamentais são bastante evidentes na
Aglomeração de Uberlândia: a centralidade do núcleo principal, marcada pela
diversificação da estrutura produtiva, para com sua área de influência e o rápido
crescimento populacional, que hoje posiciona Uberlândia (com meio milhão de habitantes)
dentre os principais municípios brasileiros, segundo os dados preliminares do
Recenseamento de 2000.
MAPA 1
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1. PROCESSOS GERADORES DA DINÂMICA SÓCIO-
ECONÔMICA REGIONAL
A avaliação da dimensão e importância relativas do Aglomerado de Uberlândia deve,
necessariamente, passar por uma investigação dos principais processos geradores da sua
dinâmica sócio-econômica recente, capazes de interferirem na distribuição espacial da
população, dos investimentos e do emprego no território nacional. O ponto de partida são
as principais transformações que ocorreram no cenário internacional e nacional,
particularmente no pós-guerra. No plano externo, o dinamismo experimentado pelo
capitalismo, no auge e esgotamento da segunda revolução industrial, período tipificado
como os “trinta gloriosos”, ou “anos dourados”, marcados por uma intensa transformação
das estruturas produtivas periféricas, acompanhada por intenso crescimento demográfico.
No plano interno, merecem destaque as expressivas taxas de crescimento da economia, a
industrialização da base produtiva, a intensa urbanização e a interiorização da economia.
No caso de Uberlândia, a estrutura sócio-econômica regional foi diretamente afetada
por esses processos de transformação. Quando a economia brasileira experimentou o auge
do seu processo de concentração econômica e industrial em São Paulo5 e na Região
Sudeste, no período 1950/70, a região de influência de Uberlândia consolidava seu
histórico papel de articulação comercial e de complementariedade à economia de São
Paulo. Neste contexto, a decisão de construir Brasília no Centro-Oeste foi fundamental
para justificar um conjunto de investimentos de infra-estrutura (energia, transportes,
comunicações, armazenamento, etc.) que posicionaram Uberlândia e região numa
localização estratégica de integração da industrialização de São Paulo com a expansão dos
mercados interioranos. Processo que foi acompanhado por um intenso êxodo rural que
caracterizou a dinâmica populacional brasileira nas décadas de 50/70.
Quando a economia brasileira experimentou seu movimento de desconcentração
econômica e industrial no período 1975/85 (Diniz, 1993), puxado fundamentalmente pelos
investimentos diretos das empresas estatais e programas públicos de incentivos, a região do
Triângulo Mineiro iniciava uma nova fase de sua economia, representada pela expansão e
modernização da agropecuária, que operou uma verdadeira transformação produtiva nas
5 . Cano, 1977, é o texto clássico para uma discussão desse processo.
6
áreas de cerrados.6 Com a desaceleração do crescimento da economia a partir de meados
da década de 70, notamos que Uberlândia e região caminhavam em direção oposta, pois aí
começava a consolidar-se um expoente movimento agro-exportador que viria a caracterizar
o período recente, pós 85, denominado de fragmentação territorial (Pacheco, 1998).
Neste processo, nota-se uma predominância de migrações de curta distância
(IPEA/IBGE/NESUR, 1999), que provocaram uma rápida concentração urbana,
produzindo aglomerações metropolitanas de grande magnitude populacional.. Constatação
que serviu de base para a formulação da hipótese de que estaríamos diante de uma situação
de crescimento fragmentado do mercado nacional, marcado pelo dinamismo de algumas
ilhas de prosperidade. Considerando Uberlândia como uma dessas áreas de prosperidade,
haja vista seu dinamismo populacional e econômico dos últimos 40 anos, não
concordamos, contudo, com a hipótese de tratar-se de uma ilha de prosperidade.
Nosso argumento vai no sentido de contrapor-se à essa hipótese, com base nas
evidências de que foram as nucleações urbanas melhor inseridas no processo de
transformação da base produtiva nacional, beneficiando-se de uma complementariedade a
economia paulista, aquelas que mais se desenvolveram nos últimos 25 anos. Corrobora
nesse sentido a afirmação de que a desconcentração industrial dos anos 75/85 fortaleceu as
cidades médias (IPEA/IBGE/NESUR, 1999:20), além do trabalho de Diniz (1993), que
caracterizou essa desconcentração como de espacialidade poligonal, isto é, assentada sobre
um polígono de eixos principais de articulação com São Paulo. Portanto, longe de explicar
o desenvolvimento diferenciado de algumas cidades pela simples alusão à formação de
complexos exportadores, o ponto central é repensar também essa função à luz dos
processos geradores do dinamismo espacial.
Diante disso, podemos dizer que Uberlândia e região de influência afirma-se a partir
de um conjunto de condições que permitiram o exercício de sua centralidade regional na
divisão nacional do trabalho. Em primeiro lugar, determinada distância física em relação à
área de influência dos principais pólos nacionais, permitindo uma certa proteção de
mercado ao crescimento dos capitais locais/regionais. Segundo, a infra-estrutura pública,
investida na região, que permitiu sua localização estratégica na articulação da economia de
São Paulo com o interior brasileiro, principalmente com o Centro-Oeste, abrindo
perspectivas de expansão e diversificação da base produtiva, incluindo o fomento agro-
exportador.
6 . Guimarães, 1993, discute a modernização da agropecuária dos cerrados e seus impactos na centralidade de Uberlândia.
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Assim sendo, muito mais do que indicadores de densidade demográfica ou PEA
urbana, na construção do Aglomerado Urbano, partimos da noção de região de influência
para agrupar aqueles municípios que mais diretamente participam na consolidação
econômica e demográfica de Uberlândia. Para tanto, adotamos quatro sistemas principais
de integração: transportes, telecomunicações, saúde e educação. Os 29 municípios
selecionados nessa primeira aglomeração, embora difícil de medir objetivamente,
encontram-se situados nos eixos das principais rodovias de integração com Uberlândia, e
da economia regional com São Paulo e Centro-Oeste. São elas as Brs 050, 365, 452, 153,
262, 497 e 364 que cruzam o Triângulo em várias direções e permitem sua integração no
cenário regional e nacional. A título de exemplo, dentre as rotas mais importantes
encontram-se: a BR 050, que no sentido sul integra, desde o início dos anos sessenta, o
Triângulo Mineiro com a porção mais desenvolvida da economia paulista (integração até
então realizada pela Ferrovia Mogiana, desde 1889); a BR 365, no sentido leste, que
permitiu a projeção de Uberlândia pelos cerrados mineiros, desde o início dos anos setenta
(1974), quando ali eram implantados os primeiros projetos de transformação da sua base
agropecuária, numa articulação espacial que permitiu ao comércio atacadista Uberlandense
acessar uma via direta de penetração no nordeste brasileiro; e por fim, o conjunto das
demais rodovias que reforçaram a integração do Triângulo com o Centro-Oeste brasileiro7.
Esta integração não só esteve na base do dinamismo econômico e social do referido núcleo
urbano, como possibilitou uma representativa acumulação de capitais regionais em
diversos setores de atividade, com destaque para o comércio a varejo, o comércio
atacadista, o setor agroindustrial e os serviços de telefonia e televisão. No plano das
telecomunicações, a operadora de telefonia fixa de Uberlândia (CTBC TELECOM) e as
repetidoras de TV locais, afiliadas dos sistemas Globo e Bandeirantes, exercem
significativa influência direta sobre esse espaço regional. A Cia. Telefônica, sediada em
Uberlândia, única empresa privada a operar no território nacional durante as décadas de 70
e 80, atua em uma área composta por mais de 100 municípios, nos Estados de MG, SP, GO
e MS. A cobertura dos canais de retransmissão de sinal televisivo, sob o domínio do capital
regional, também atingem uma área bem superior ao recorte aqui delimitado para o
Aglomerado urbano de Uberlândia. E da mesma forma, é a estrutura de saúde e da rede de
7 Guimarães, 1990, descreve um conjunto de 3 mil Km de estradas de rodagem privadas que desde a segunda década do século XX integram o Triângulo Mineiro ao Centro-Oeste, canalizando os fluxos econômicos, principalmente, para o município de Uberlândia.
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educação superior (inicialmente pública e, posteriormente complementada pela privada) de
Uberlândia que canaliza regularmente um fluxo de pessoas para esta cidade8.
Ademais, em termos do critério utilizado no estudo IPEA/IBGE/NESUR (1999) para
a hierarquização dos núcleos urbanos, a partir da sede de empresas classificadas no ranking
das 500 maiores, cabe ressaltar que, embora Uberlândia tenha poucas empresas regionais
neste grupo, sua base econômica apresenta uma importante participação do capital
regional. Essa participação é representativa pois apresenta uma certa correlação com o
fomento econômico dessa base espacial, na medida que envolve o ambiente de
reinvestimento e diversificação dos capitais aí acumulados. Da mesma forma, esse
adensamento sócio-econômico é resultado e motivação da atração de novos e
representativos investimentos de importantes segmentos dos capitais nacionais e
estrangeiros, que dificilmente seriam captados numa listagem de sede de empresas. Mas,
além de Uberlândia ser a sede de três dos principais atacadistas do país e de um
conglomerado liderado pela telefonia, sua localização tem sido disputada por grandes
empresas de projeção nacional e internacional. Para citar alguns exemplos de empresas já
instaladas, podemos mencionar a indústria de cigarros Souza Cruz, com a sua maior planta
da América Latina; a fábrica de ácidos cítricos da Cargill, uma das mais modernas do
mundo; a Sadia, a Monsanto, o Carrefour, o Makro, etc..
Enfim, embora a própria pesquisa do REGIC (1993) tenha mostrado que a área de
influência de Uberlândia extrapola o limite territorial estadual, numa primeira
aproximação, podemos dizer que a agregação desses 29 municípios contribui para dar uma
dimensão mais realista da importância da Aglomeração de Uberlândia na rede urbana
brasileira. Feito esse redimensionamento populacional, claramente privilegiado no estudo
da Caracterização da Rede Urbana, o ponto fundamental está em demonstrar o exercício e
a dinâmica da centralidade do núcleo principal, vis-à-vis às articulações da região na
divisão territorial do trabalho e às tendências econômicas e demográficas de reestruturação
espacial.
2. EVOLUÇÃO ECONÔMICA RELATIVA (PIB)
Antes de passarmos à evolução econômica do Aglomerado de Uberlândia, torna-se
necessário reconhecermos a performance econômica mineira recente. A evolução do
8 . Todos esses critérios, embora não coincidentes, apontam para uma área de influência de Uberlândia, para
9
desempenho econômico (PIB) do Estado de Minas Gerais, em termos de participação no
total do País, pode ser visualizada na Tabela 1 abaixo. Através desta, podemos verificar a
estabilidade da contribuição mineira para a produção nacional, nos últimos quinze anos
(1980-1995), em praticamente 10% do total nacional. Ao mesmo tempo, nota-se um
aumento na participação relativa do Estado no PIB industrial, embora com redução em
termos do PIB agropecuário e de serviços nacional.
TABELA 1 PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO PIB MINEIRO NO BRASILEIRO, A PREÇOS CONSTANTES DE 1980, POR ANOS SELECIONADOS – 1980/1995
ESPECIFICAÇÃO 1980 1985 1990 1995
PIB A CUSTO DE FATORES 9,6 9,5 9,5 9,7 AGROPECUÁRIA 11,1 12,3 11,0 9,8 INDÚSTRIA 9,5 9,6 10,2 10,6 SERVIÇOS 9,1 8,8 8,3 8,3 Fonte: Fundação João Pinheiro, 1996, p.2.
Por sua vez, a Tabela 2 traz a participação municipal do Aglomerado e dos seus
municípios no total da produção mineira (PIB). Como pode-se verificar, a evolução
econômica do Aglomerado mostrou-se, no período 1985-1996, cerca de 1,7 vezes superior
ao crescimento para o total do Estado, com destaque para o seu Núcleo (Uberlândia), que
chegou a superar o desempenho do conjunto do Aglomerado, bem como, do Estado, na
ordem de 2,7 vezes. A contrapartida deste quadro apresenta-se na participação crescente do
Aglomerado e do Núcleo no total da produção mineira, ultrapassando, portanto, o próprio
índice de evolução da produção nacional. A participação do Aglomerado evolui de 8,71%,
em 1985, para 10,02%, em 1996, enquanto, no mesmo período, o município de Uberlândia,
incorpora um ponto percentual no total do Estado (ascendendo de 2,67% para 3,64%).
Além do seu Núcleo, destacam-se no Aglomerado, por ordem decrescente, a evolução
econômica dos municípios de Indianópolis, Canápolis, Comendador Gomes, Romaria,
Nova Ponte, Iraí de Minas e Cascalho Rico, por superarem, inclusive, o índice de
crescimento do Núcleo, ao passo que Centralina, Monte Alegre de Minas, Patrocínio,
Ituiutaba, Veríssimo, Capinópolis e Araxá, em ordem decrescente, sequer acompanharam o
desempenho do Estado. Vale destacar que cidades tradicionalmente importantes
economicamente (Araxá, Ituiutaba, Patos de Minas, Araguari), ou mesmo que rivalizaram
historicamente com o Núcleo (o caso de Uberaba), vem perdendo representatividade dentro
além dos 29 municípios agregados.
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do Aglomerado, em favor, fundamentalmente, do Núcleo, atestando a crescente
centralidade e a estruturação de sua área de influência, no período recente.
TABELA 2 PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO PIB MUNICIPAL NO TOTAL DO ESTADO, A PREÇOS CONSTANTES DE 1996 – 1985 -1996
O estudo acerca das Regiões de Influência das Cidades (REGIC, 1993) proporciona o
reconhecimento da área de influência de Uberlândia, conforme verificado no Mapa 2,
abaixo. Como se vê, Uberlândia nucleia uma rede de municípios, tendo por eixo sua
articulação direta com o principal pólo nacional, São Paulo. È essa articulação, com uma
12
certa equidistância da área de influência direta de São Paulo que explica o dinamismo e a
expansão do aglomerado de Uberlândia.
MAPA 2.
Fonte: Regiões de Influência das Cidades (1993) - IBGE/DGC/Dep. de Geografia
SAMBA/CABRAL
Centros urbanos
Fluxos de bens e serviços
Rede de Lugares Centrais eArea de Atuação de Uberlândia (MG)
GO
MG
SP
3. EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA E DINÂMICA
MIGRATÓRIA
O dinamismo econômico experimentado pelo Núcleo e Aglomerado veio
acompanhado de um expressivo movimento populacional, em termos de maior
participação no total nacional e estadual, bem como, de intensos movimentos migratórios
no interior do Aglomerado para o Núcleo, além da atração exercida por este, em termos
intra-estaduais – mas extra-aglomerado – e de outros estados brasileiros.
O volume de população no Aglomerado cresceu entre 1970 e 2000 a taxas superiores
às experimentadas pelo Estado de Minas Gerais e Brasil. Saltando de quase 770 mil
habitantes, em 1970, para em torno de 1,5 milhão de habitantes, em 2000 (Tabela 4), o
Aglomerado passa a deter maior participação no total da população mineira, de 6,66%, em
1970, para 8,47%, em 2000 (Tabela 5).
13
TABELA 4. AGLOMERADO URBANO DE UBERLÂNDIA AGLOMERAÇÃO URBANA DE UBERLÂNDIAPopulação residente e taxa de crescimento geométrico anual (%) dos Municípios - 1970/2000
MUNICÍPIO População População População População T.C. % T.C. % T.C. %1970 1980 1991 2000 70 / 80 81 / 91 91 / 2000
Fonte: IBGE - Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000* A População do Município de Tupaciguara inclue a população do Município de Araporã, criado a partir de 1992** A População do Município de Uberaba inclue a população do Município de Delta, criado a partir de 1992
A dinâmica demográfica de cada município que compõe o Aglomerado é bastante
diferenciada. Considerando o aumento no volume da população, destaca-se o crescimento
do seu Núcleo, com taxas superiores à da maioria dos demais municípios, enquanto outros
apresentaram, inclusive, taxas negativas de crescimento, expressas na Tabela 4. Sendo
assim, o Núcleo passa a deter, em 2000, cerca de 33% da população total do Aglomerado,
contra os 16% que detinha em 1970, bem acima do Município de Uberaba, em segundo
lugar na classificação por volume de população, que detinha, em 2000, 17% do total da
população do Aglomerado. Por sua vez, Uberlândia, Uberaba e Patos de Minas, os três
Municípios mais populosos, somam mais de 50% da população total do Aglomerado,
desde 1980 (Tabela 5).
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TABELA 5. PARTICIPAÇÃO NO TOAL DO AGLOMERADO AGLOMERAÇÃO URBANA DE UBERLÂNDIAParticipação relativa da população dos Municípios no total do Aglomerado e Aglomerado em relação aos Estados e Brasil - 1970 / 2000
MUNICÍPIO População População População População1970 1980 1991 2000
BRASIL 100 100 100 100 Fonte: IBGE - Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000* A População do Município de Tupaciguara inclue a população do Município de Araporã, criado a partir de 1992
** A População do Município de Uberaba inclue a população do Município de Delta, criado a partir de 1992
Quanto à distribuição da população no meio urbano ou rural, destaca-se a progressiva
urbanização do Aglomerado, que ascende de 88%, em 1991, para em torno de 92%, em
2000, situando-se acima das respectivas proporções de Minas Gerais (82%) e do País
(81%). Ao mesmo tempo, este índice alcança 98% no município de Uberlândia (Tabela 6).
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TABELA 6. PARTICIPAÇÃO NO TOAL DO AGLOMERADO AGLOMERAÇÃO URBANA DE UBERLÂNDIAProporção de população Urbana (%)segundo os Municípios, 1991 / 2000
BRASIL 75,59 81,22Fonte: IBGE - Censo Demográfico de 1991 e 2000
* A População do Município de Tupaciguara inclue a população do Município de Araporã, criado a partir de 1992
** A População do Município de Uberaba inclue a população do Município de Delta, criado a partir de 1992
Em termos da distribuição por idade, verifica-se que o grupo etário 15 a 64 anos,
considerado o grupo de idade ativa para o trabalho, cresce relativamente mais que os
grupos infantil e idoso, saindo de 61% do total, em 1980, para a participação de quase
67%, em 2000, sendo seguido pelo grupo dos idosos (65 anos e mais), com participação de
quase 4% para 5%, no mesmo período, enquanto o grupo de idades infantis perde
participação no total da população: de 35%, em 1980, para quase 28%, em 2000 (Gráfico
1). O crescimento relativo dos grupos etários em idade ativa num ritmo maior que os
grupos infantis justifica-se tanto pela queda da fecundidade (número menor de filhos por
mulher em idade reprodutiva), quanto pela migração seletiva por sexo e idade, direcionada
16
para os municípios mais dinâmicos. Ao mesmo tempo, a Dependência Total (Jovens mais
Idosos em relação às pessoas em idade ativa) cai de 64%, em 1980, para 50%, em 1996,
resultante da menor dependência de jovens (42%) e do crescimento da dependência dos
idosos que, com o envelhecimento populacional, salta de 6%, em 1980, para 8%, nas
projeções indicativas para o ano 2000.
GRÁFICO 1. PARTICIPAÇÃO NO TOAL DO AGLOMERADO Aglomerado Urbano de UberlandiaParticipação relativa por grandes grupos - 1980-2000
Fonte: IBGE - Censos Demográficos 1980 e 1991 e Contagem Populacional de 1996 Para o ano 2000 utilizou-se de Projeções do IBGE conforme Datasus/Ministério da Saúde
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Anos censitários
65 anos e mais 3,70 4,71 5,34 5,3115-64 anos 60,99 64,36 66,55 66,590-14 anos 35,31 30,93 28,12 28,10
1980 1991 1996 2000
PopulaçãoTotal
Quanto à origem por nascimento9 da população residente no Aglomerado, em 1991,
tem-se que quase 63% são de Naturais (pessoas nascidas nos municípios em que foram
recenseadas); 25% são de nascidos em outros municípios mineiros (diferente daquele em
que a pessoa foi recenseada, mas que pode ser um município do Aglomerado); 12,5% são
de pessoas nascidas em outros Estados e apenas 0,2% são de estrangeiros (Tabela 7).
Cresce, portanto, a participação da população natural dos municípios, de 1980 para 1991,
assim como o percentual de nascidos em outros Estados brasileiros (de 11% em 1980 para
12,5% em 1991), para o Aglomerado como um todo. Em contrapartida, a população de
mineiros nascidos em município diferente daquele em que foi recenseado apresenta uma
queda relativa de três pontos percentuais, saindo de 27,8%, em 1980, para 24,8%, em
1991, no total do Aglomerado. Internamente ao Aglomerado, os municípios mais
populosos, Uberlândia, Uberaba e Patos de Minas apresentaram crescimento da
9 - A Migração acumulada, neste caso considerando o local de nascimento como sendo o Município de origem do Migrante, não leva em conta o momento em que se deu o movimento migratório e nem estamos considerando as possíveis etapas migratórias que antecederam a chegada ao Município, onde o migrante foi recenseado.
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participação da população de naturais, além de maior participação relativa de nascidos em
outros estados. A título de aproximação, as informações de imigração acumulada indicam
que o Núcleo e os municípios mais dinâmicos do Aglomerado mantiveram a capacidade de
retenção da população natural, no período 81-91, o que, considerando a inércia
populacional (taxas de fecundidade altas, ainda que decrescentes), favoreceram o
crescimento populacional a taxas superiores das experimentadas pelos municípios
mineiros.
TABELA 7. ORIGEM DA POPULAÇÃO Aglomerado Urbano de UberlândiaParticipação Relativa da População Residente dos Naturais, dos Mineiros não-naturais,dos nascidos nos demais Estados brasileiros e dos estrangeiros, por Município - 1980 e 1991 (%)
TOTALNaturais Mineiros N-N Demais Estados Estrangeiros
Ademais, o Aglomerado tem ocupado, nas últimas décadas, importância crescente na
dinâmica migratória de Minas Gerais, quando analisadas as informações de última etapa10
10 Nos dados de última etapa, o migrante é aquela pessoa que, por ocasião do Censo, contava com menos de dez anos de residência no município atual (onde foi recenseado). Portanto, este migrante saiu (como emigrante) do município ou UF de residência anterior e entrou (como imigrante) no município em questão, ao longo da década em estudo.
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dos dois Censos. A Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MTMAP)
representou, durante o decênio 1981/91, a terceira região que mais recebeu migrantes de
outros estados (absorveu 18% dos imigrantes interestaduais), perdendo somente para a
Região Metropolitana de Belo Horizonte (23,5%) e para o Sudoeste e Sul de Minas
(18,9%) (Carvalho et. al., 1998). Em outro estudo (Ferreira, 1998) sobre os fluxos
migratórios para essa região, foi possível verificar que os municípios que mais receberam
população, na década de 70 e no decênio 1981/91, foram, em sua maioria, aqueles que
compõem o Aglomerado, especificamente os maiores municípios em volume de
população. Ao mesmo tempo, verificou-se que o município de Uberlândia foi o principal
destino dos imigrantes interestaduais. Cerca de 39% e 40% desses migrantes dirigiram-se
para esse município nos anos 70 e no decênio 1981/91, respectivamente (Tabela 8).
Tabela 8. AGLOMERADO URBANO DE UBERLÂNDIA Distribuição dos imigrantes interestaduais nos municípios-sede das microrregiões – 1980 e 1991
Por outro lado, verifica-se que diminuiu o volume de migração do restante de Minas
para o Aglomerado (Tabela 9). Entretanto, em valores relativos, observa-se que alguns dos
municípios-sede absorveram mais migrantes. Este é o caso, por exemplo, de Frutal,
Patrocínio e, como mencionado, de Uberlândia, enquanto outros tiveram suas participações
reduzidas (Araguari, Ituiutaba, Patos de Minas e Uberaba). Relativamente aos demais
municípios, Uberlândia concentrou a parcela mais expressiva desses migrantes, tanto na
década de 70 (em torno de 25%), quanto no decênio 1981/91 (31%).
11 MG*: municípios de Minas Gerais exceto os municípios da MTMAP e, consequentemente, os municípios do Aglomerado.
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Tabela 9. AGLOMERADO URBANO DE UBERLÂNDIA Distribuição dos imigrantes provenientes de MG* para os municípios-sede das microrregiões – 1980 e 1991
1980 1991Municípios Número Número
Absoluto % Absoluto %Araguari 1.854 5,07 899 2,59Frutal 505 1,38 780 2,25Ituiutaba 884 2,42 574 1,66Patos de Minas 7.590 20,77 6.976 20,13Patrocínio 1.543 4,22 2.428 7,00Uberaba 8.369 22,91 5.353 15,44Uberlândia 9.231 25,27 10.884 31,40Demais munic.do Aglomerado 6.560 17,95 6.768 19,53Total 36.536 100,00 34.662 100,00Fonte: FIBGE. Censos Demográficos de 1980 e 1991. Tabulações especiais. Microdados.*Exclui os municípios que compõem a MTMAP
Quanto à distribuição relativa dos movimentos populacionais no interior da
MTMAP, com destaque para os municípios que compõem o Aglomerado, pode-se afirmar,
segundo estudo de Ferreira (1998), que a maioria dos migrantes intramesorregionais, que
saíram dos municípios-sede, deslocaram-se para o município de Uberlândia. É o caso,
por exemplo, dos municípios de Ituiutaba, Patos de Minas e Frutal. Alguns municípios-
sede, no entanto, perderam população para o município de Uberaba, em 1980; embora este
tenha experimentado também o efeito da atração do Núcleo de Uberlândia, em 1991. Por
outro lado, a população que saiu do Núcleo deslocou-se para Araguari, Uberaba, Ituiutaba,
Araxá e Patos de Minas, podendo indicar migração de retorno12.
Ademais, é importante destacar que a população que migrou dos demais municípios
das microrregiões, nos dois períodos, deslocou-se, em sua maioria, para seus municípios-
sede, numa etapa anterior do movimento migratório para o município de Uberlândia,
excetuando-se os emigrantes das microrregiões de Patrocínio, Patos de Minas e Frutal que,
desde a década de 70, já foram principalmente para Uberlândia.
Em suma, pode-se afirmar que, para o total da população que migrou dentro dos
municípios da MTMAP, o município de Uberlândia foi o destino principal, com
aproximadamente 30% e 25% dos migrantes dirigindo-se para o mesmo, nos anos 70 e no
12 - Para a análise que se segue, consultar FERREIRA, E. W. Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba: características dos fluxos imigratórios (1980-91). Uberlândia: IE/UFU, 1998 (Dissertação de Mestrado).
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decênio 1981/91, respectivamente; enquanto Uberaba foi o segundo local de maior
recepção de população, embora com percentuais mais modestos (quase 14% em 1980 e
9%, em 1991). Na sequência, encontram-se os municípios de Ituiutaba, Araxá e Patos de
Minas (Ferreira, 1998).
Não menos importante é a análise conjunta da imigração e emigração na
Mesorregião e, por conseguinte, no Aglomerado, considerando a informação de última
etapa (QUADRO II). A partir da diferença entre o total de migrantes que entraram e o
total de migrantes que saíram do município onde foram recenseados, confirmamos, mais
uma vez, o maior poder de atração do município de Uberlândia em relação aos demais. Em
números absolutos, percebe-se que a maior parcela dos imigrantes dirigiu-se para esse
município, tanto na década de 70 (42.106), quanto no decênio 1981/91 (26.799). Em
contrapartida, o número de pessoas que daí saíram em direção a outros municípios não se
mostrou elevado, o que indica que Uberlândia não só atrai, mas também retém a maior
parte da população migrante.
Quadro II. Diferença entre imigrantes e emigrantes dos municípios da MTMAP, com destaque para os municípios-sede das microrregiões do Aglomerado – 1980 e 1991
Além das informações sobre migração de última etapa, o Censo Demográfico de
1991, que contou com o maior número de informações sobre migração já pesquisadas no
País (Carvalho & Machado, 1991 e Carvalho & Rigotti, 1998), propiciou obter o número
de migrantes de data fixa13, para o quinquênio 1986/91, o que possibilita ampliar a análise
sobre os movimentos migratórios no interior do Aglomerado Urbano de Uberlândia.
Na Tabela 10 apresenta-se o impacto dos movimentos migratórios de data fixa sobre
as populações dos municípios de origem e destino dos migrantes, destacando-se a maior
participação do Núcleo no número de emigrantes (14,5%) sobre o total dos que se
movimentaram entre os municípios do Aglomerado. Entretanto, como o município de
Uberlândia conta com a maior base populacional, este volume maior de emigração regional
é reduzido em termos do total de sua população (1,4%) , comparativamente aos demais e,
por exemplo, ao município de Araguari (3,6%). Ao mesmo tempo, os municípios com
menor população foram os que apresentaram maiores proporções de perdas populacionais
pela via da emigração (principalmente para o núcleo): Veríssimo, 20%; Cascalho Rico,
10%; Romaria, 9%, entre outros.
Quanto ao número de imigrantes de data fixa, o Núcleo foi o que mais recebeu
pessoas vindas dos demais municípios do Aglomerado, cerca de 38,4%, enquanto os
demais 61,6% de migrantes se distribuíram entre os 28 municípios restantes.
13 O migrante de data fixa é aquela pessoa, com cinco ou mais anos de idade, que foi recenseada, em 1991, em município diferente daquele em que residia em 01/09/1986. Portanto, o município de residência anterior, no caso da data fixa, se refere ao local de residência em que o migrante morava, no início do quinquênio (em 1986), independente de outras etapas migratórias que tenha realizado até se estabelecer, noutro município e ser recenseado, em 1991.
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Tabela 10. Aglomeração Urbana de UberlândiaMatriz abreviada das trocas migratórias, migrantes de data fixa,por município de origem e destino, quinquênio 1986/91
3,8 2,5Fonte: IBGE - Censo Demográfico de 1991 (microdados)
Proporção Emigrantes / População
Município em 1991 (%)
Proporção Imigrantes / População Município em 1991
Uberlândia %
TOTAL%
Demais municípios
AraguariAraxá
Campina VerdeCampo Florido
CanápolisCapinópolis
TOTAL
Estrela do Sul
Iraí de Minas
Cascalho RicoCentralina
Comendador Gomes
FrutalGuimarâniaIndianópolis
PedrinópolisPerdizes
ItuiutabaMonte Alegre de Minas
Monte CarmeloNova Ponte
UberabaUberlândiaVeríssimo
Município de origem 1986 (EMIGRANTES)
PrataRomaria
Santa JulianaTupaciguara
Patos de MinasPatrocínio
Os dados de data fixa possibilitam ainda obter o saldo migratório14 entre os
municípios componentes do Aglomerado, conforme detalhado na Tabela 11. De maneira
geral, nota-se que o Núcleo apresentou saldo migratório favorável com quase todos os
municípios do Aglomerado, totalizando um ganho líquido de aproximadamente nove mil
migrantes em relação aos demais municípios. Quanto aos fornecedores de migrantes, o
município de Ituiutaba, por exemplo, foi o que maior perda populacional líquida
apresentou em relação ao Núcleo, cerca de 2,6 mil migrantes.
14 O Saldo migratório se refere ao resultado líquido: Imigrantes menos Emigrantes, de data fixa, representando a contribuição dos movimentos migratórios no crescimento populacional.
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Tabela 11 Aglomeração Urbana de Uberlândia Saldo Migratório, migrantes de data fixa, entre município e Núcleoe município de origem com demais municípios da Aglomeração,segundo município de origem ou destino, quinquênio 1986/91
Fonte: Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS), 1986 a 1998.
Finalizando, a comparação dos dados agregados das 30 cidades pertencentes ao
Aglomerado Urbano de Uberlândia, pode sugerir, erroneamente, que o dinamismo
econômico é algo disseminado na região, pois, com as exceções de Tupaciguara e
Ituiutaba, todas as demais cidades cresceram, percentualmente, o número de postos de
trabalho a uma taxa superior à observada em Minas Gerais. Porém, quando
individualizamos a participação das cidades do Aglomerado no total do estoque, seja ele de
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empregados ou empregadores, evidenciamos a centralidade de Uberlândia, com seus
88.076 postos de trabalho e 9.715 estabelecimentos empregadores.
CONCLUSÃO
Conforme desenvolvido ao longo do trabalho, notou-se que o núcleo de Uberlândia
vem reforçando nos últimos anos sua posição de centralidade numa região que apresenta
grande dinamismo econômico e demográfico em relação às médias estadual e nacional.
Este comportamento diferenciado em relação a grande parte do país reforça o imperativo
de reclassificar essa aglomeração no mesmo nível de hierarquia da rede urbana daqueles
aglomerados mais dinâmicos do país, muito mais próximo dos aglomerados de Londrina
(PR) e Ribeirão Preto (SP), do que daqueles classificados como centros sub-regionais de
ordem 1.
Para tanto, ao realizar um aprofundamento das interações espaciais, procuramos
mostrar que o fundamental é interpretar os indicadores de emprego, demografia, infra-
estrutura e aparelhamento urbano e produção, etc., à luz do processo mais geral de inserção
do espaço regional na dinâmica nacional e internacional.
Enfim, não era nosso objetivo reclassificar esse núcleo, mas apontar indicações de
que se trata um uma região que vem apresentando indicadores discriminantes de
dinamismo urbano.
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