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A_escola_de_chicago[1] - Final - Quick Words

Apr 06, 2018

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Susana Fonseca
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  • 8/2/2019 A_escola_de_chicago[1] - Final - Quick Words

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    A ESCOLA DE CHICAGO

    Trabalho por:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Chicago_Skyline.png
  • 8/2/2019 A_escola_de_chicago[1] - Final - Quick Words

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    Lisboa, Maio de 2008

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    ndice

    Resumo ...........................................................................................................4Introduo ...................................................................................................... 51. O Homem no seu Habitat Natural ..............................................................72. A Interaco Social ...................................................................................93. A Cidade como um Laboratrio ..............................................................10

    3.1 A Teoria dos Crculos Concntricos .................................................. 123.2 As Dinmicas Sociais Diferenciadas ................................................. 143.3 Os Enclaves tnicos ...........................................................................153.4 A Geografia da Excluso ................................................................... 16

    4. Os Padres da Interaco Social ..............................................................194.1 A Noo de Mundos Sociais ...............................................................20

    Concluso .....................................................................................................22Bibliografia .................................................................................................. 24

    Resumo

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    A cidade entendida como espao de vida urbana, lugar de sociabilidades que se

    desdobra em vrios nveis e dimenses de aco, interaco, diferenciao e socializao;

    transgresso e controlo social; difuso e inter-conhecimento; encontro e confronto. Espao

    de integrao de funes (residenciais, laborais, de lazer), territrio impregnado de

    memrias, cenrio e palco de cruzamentos sociais, de quotidianos diferenciados, de

    trajectrias e destinos individuais que interagem. A cidade, na perspectiva da Escola de

    Chicago, perspectivada como um palco de interaces, que constitui um laboratrio

    natural para o estudo do crescimento e dinmicas das comunidades.Aqui so analisadasas migraes na cidade, as formas de organizao e estruturao das relaes interpessoais,

    que se concebem como sistemas ecolgicos de cooperao e competio pelo espao fsico,

    em analogia aos organismos naturais. Surge o conceito de ambiente construdo como

    determinante na explicao dos comportamentos sociais.

    Palavras-chave: Sociologia Urbana, Ecologia Humana, Interaco Social, Mundos

    Sociais.

    Introduo1

    1

    Venkatesh, S. (2001). Chicagos Pragmatic Planners. Social Science History Association, p. 308, () acidade tornou-se a arena emprica na qual tinham lugar a maioria dos debates, polmicas e experinciassobre a prtica cientfica social descritiva e prescritiva.

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    A partir do momento em que surgiram os grandes aglomerados urbanos, passou a

    registar-se uma grande polarizao de perspectivas diversificadas acerca do conceito de

    cidade e dos seus efeitos na vida social.

    Conforme refere Sudhir Venkatesh (2001, p. 308), () the city became the

    empirical arena in which many of the debates, polemics, and experiments concerning

    descriptive and prescriptive social scientific practice were set.

    A expanso das cidades uma consequncia do aumento da populao, tambm

    resultado da migrao de pessoas das zonas rurais, aldeias e vilas, que nelas procuram

    melhores vantagens e oportunidades de vida. A cidade simultaneamente territrio e

    populao, quadro fsico e unidade de vida colectiva, configurao de objectos fsicos e n

    de relaes entre os seres sociais. a configurao, em constante (re)definio, de uma

    sociedade complexa num espao diferenciado.

    O desenvolvimento das cidades modernas teve um impacto enorme no s nos

    hbitos e nas formas de comportamento dos indivduos, como tambm nos padres de

    pensamento e nos sentimentos. Enquanto que para alguns autores as cidades

    proporcionavam as melhores oportunidades de desenvolvimento cultural e econmico e

    tambm uma existncia agradvel e confortvel, para outros a cidade era vista como um

    inferno cheio de fumo e de multides agressivas e desconfiadas, palco de numerosos

    crimes, violncia e corrupo.

    A extenso da pobreza e as grandes diferenas entre os bairros da cidade foram os

    principais factores que estiveram na origem dos primeiros estudos sociolgicos sobre a

    vida urbana.

    Cada sociedade pode ser caracterizada por um conjunto de relaes sociais que

    associam os homens entre si e lhes permite transformar colectivamente o meio natural,

    concedendo-lhe uma funo e um sentido. Todo o espao explorado, habitado e percorrido

    traduz, de forma mais ou menos significativa, a marca das actividades humanas que nele sedesenrolam. Isto sobretudo verdico no caso da cidade, espao construdo por excelncia,

    onde se concentra um grande nmero de pessoas e de actividades interdependentes.

    O espao permite a formao de relaes especficas e exprimir de diferentes

    formas as relaes sociais, o que contribui para instituir posies de desigualdade, mas

    tambm novas formas de interaco que se configuram na relao com o espao, ou seja,

    no uso que dele fazem, e na forma como dele se apropriam.

    O espao poder ser encarado como o reflexo da estrutura social da qual suporte. A localizao dos grupos sociais, dos equipamentos ou das instncias de deciso

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    no se faz ao acaso, e a configurao espacial de uma cidade fornece elementos

    extremamente teis ao estudo da sua organizao social.

    A sociologia urbana teve as suas origens na translao da sociologia europeia para

    o contexto dos colgios e universidades americanas nos primrdios do sculo. Houve um

    cruzamento entre as ideias e concepes do darwinismo social, do pragmatismo e da

    sociologia de Tnnis, Simmel, Weber, Durkheim, em Chicago, sob a orientao de Small,

    Thomas e Park, o que acabou por dar origem a uma sociologia urbana muito distinta.

    Esta nova corrente vai adoptar a cidade e o urbanismo como estrutura de

    referncia, em que aceita um dualismo entre o campo e a cidade e o rural e o urbano, numa

    conceptualizao da cidade como uma unidade em termos de espao organizada

    externamente, com origem em preceitos criados por ela prpria (Park, 1915), uma

    entidade orgnica de unidade suficiente para dirigir o seu prprio futuro.

    A urbanizao foi, assim, considerada como um processo autnomo e fonte de

    mudana social e o urbanismo como expresso da cultura moderna. A mudana na

    sociedade foi, deste modo, iniciada pelas cidades atravs da difuso da cultura engendrada

    pela associao de indivduos em determinadas condies de existncia.

    A sociologia da cidade comea assim em 1916, com a publicao no American

    Journal of Sociology, do artigo de Robert Park: A cidade: Proposies para o estudo do

    comportamento urbano no meio urbano. Neste artigo, o autor prope que o estudo das

    cidades se realize com recurso s novas tcnicas da sociologia: a observao directa, o

    estudo dos casos, a anlise estatstica, a descrio dos diferentes tipos de ofcios, o estudo

    das instituies polticas e das subculturas marginais (desvios). Este modelo de anlise

    serviu como base ao estudo de outras cidades no mundo, sob esta orientao, e assim

    nasceu a ecologia humana.

    1. O Homem no seu Habitat Natural

    A Sociologia Urbana nasce em Chicago nos anos 20 com o desenvolvimento do

    surto urbano, como consequncia da revoluo industrial e comercial. Este rpido

    desenvolvimento acarretou diversos problemas sociais como a mendicidade, danos

    ambientais, destruio dos recursos naturais, pobreza, violncia, delinquncia, entre outros.

    A incapacidade de integrar uma populao to numerosa, no que concerne habitao e a

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    grande vaga de (e)migrantes, assumem dimenses que impem a necessidade de

    reconstruir a ordem social normal.

    A observao da mudana e o no funcionamento da organizao social, que

    constitu o principal objecto de estudo da academia da Escola de Chicago nasce, desta

    forma, para tentar responder aos fenmenos considerados patolgicos na altura.

    Segundo Sudhir Venkatesh (2001, p. 275), Chicago is a mythic city. Its

    representation in the popular imagination is varied and has included, at various times, the

    attributes of a blue-collar town, a city in a garden, and a gangsters paradise.2

    A Escola de Chicago, que abriu caminho Sociologia Urbana, ps em relevo e

    levantou uma srie de problemticas interdependentes sobre a estrutura social, a distncia

    social, culturas e sub-culturas, socializao, normas e anomias.

    Sob as aparncias de uma relativa unidade, a sociedade urbana um espao social

    de mltiplas dimenses (geogrficas, econmicas, sociais, psicolgicas, culturais, estticas

    e morais) cuja complexidade crescente.

    Os seus principais tericos, Park e Burgess, numa vertente mais orgnica, adoptam

    a cidade como uma comunidade ecolgica e Wirth, sob uma vertente cultural,

    desenvolveram ideias que durante um largo perodo de tempo constituram a base de teoria

    e de pesquisa para a sociologia urbana, sobretudo a concepo de ecologia humana e os

    modos de vida urbanos. Estes autores tiveram como antecedentes Simmel e Durkheim, dos

    quais adoptaram conceitos e teorias em comum.

    A forte influncia de Darwin e das teorias organicistas conduzem Park e Burgess

    a considerar que a cidade constitui um organismo vivo, em que os diferentes elementos

    exercem funes diferenciadas tendo contribudo, no seu conjunto, para o funcionamento

    do organismo como um todo. Os estudos urbanos desta vertente dependiam de explanaes

    provenientes da ecologia das plantas e dos animais, os quais assumiam que os mesmos

    processos de competio e acomodao estavam empregues tambm na comunidadehumana, na qual exercem um papel significativo, na sua evoluo.

    Assim, segundo Park, a cidade assemelhava-se a um super organismo natural a

    funcionar, uma comunidade ecolgica constituda por indivduos separados no espao,

    enraizados no solo, que ocupavam e que viviam um relacionamento de mtua

    interdependncia, territorialmente organizados como uma massa crescente de organismos

    2 Venkatesh, S. (2001). Chicagos Pragmatic Planners. Social Science History Association, p. 275,

    Chicago uma cidade mtica. A sua representao no imaginrio popular variada e tem includo, aolongo das pocas, os atributos de cidade de colar azul, uma cidade num jardim e um paraso demarginais.

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    em luta para satisfazer as necessidades elementares de sobrevivncia; luta entre os

    indivduos que se organizavam tal como nas comunidades animais e que uniam todas as

    suas energias para resistir s foras externas, que mantinham laos mais fsicos e vitais do

    que habituais e morais.

    Este autor via a cidade no como uma construo artificial, mas sim, como um

    produto da natureza humana. As cidades tm uma marcha evolutiva muitas vezes

    semelhantes a seres vivos. Assim, elas nascem, crescem, podem estacionar, mais ou menos

    tempo, e algumas diminuem ou at desaparecem.

    O processo de crescimento e expanso das cidades deve-se a factores como a

    melhoria do nvel de vida dos habitantes, o crescimento demogrfico, o aumento das

    actividades urbanas, entre outros factores.

    2. A Interaco Social

    As cidades constituem um vasto campo de relaes sociais, mais ou menos

    significativas, entre os diferentes habitantes que as compem. A Escola de Chicago deu

    especial relevncia ao estudo destas relaes sociais e interaco entre os indivduos, ao

    assumir a sua importncia no contexto da sua diversidade.

    Conforme observaram Lutters e Ackerman (1996),

    To the Chicago School the city itself was of utmost value as a laboratoryfor exploring social interaction. For the Chicago School researchers, truehuman nature was best observed within this complex social artifice.This notion of man in his natural habitat introduces the first theme, that

    biological metaphor and ecological models were apt framing devices forthe discussion of urban social relations.(p. 3).3

    Estas estruturas sociais podem analisadas como uma rede complexa de processos

    dinmicos como componentes de um ecossistema.

    3 Lutters, W., Ackerman, M. (1996), An Introduction to the Chicago School of Sociology. Interval ResearchProprietary, p. 3, Para a Escola de Chicago a cidade em si era, por excelncia, um laboratrio paraexplorao das interaces sociais. Para os investigadores da Escola de Chicago, a verdadeira natureza dohomem era melhor observada contida neste complexo estratagema social. Esta noo de homem no seuhabitat natural introduz o primeiro tema, essa metfora biolgica e os modelos ecolgicos eramdispositivos de modelao aptos para as discusses de relaes urbanas sociais.

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    As cidades so, no fundo, sistemas vivos, feitos, transformados e experimentados

    pelos seres humanos, em que as formas e funes urbanas so produzidas e dirigidas pela

    interaco de espao e sociedade. A cidade um lugar de desigualdades, pois, sendo um

    produto social, nela se reflecte a estrutura da sociedade. um lugar onde se manifestam

    contradies sociais, um espao de conflito, um lugar de lutas em torno de interesses e

    valores sociais heterogneos.

    No rpido crescimento das cidades e na formao dos pequenos mundos que dai

    resultam, possvel verificar que as relaes sociais entre os indivduos que a compem

    no tm sempre a mesma intensidade, oscilam ao longo do tempo.

    Se numa primeira fase do processo migratrio se regista uma solidificao dos laos

    de parentesco e amizade e se gera um maior clima de entreajuda, numa segunda fase, em

    que as condies de vida se estabilizam e maior a integrao nas cidades de acolhimento,

    verifica-se j um certo desfasamento e debilidade nas relaes e laos iniciais. Surge aqui

    um individualismo crescente que se sobrepe ao colectivismo inicial.

    Os vnculos de parentesco e amizade cumpriram ento a sua misso de

    intermedirios entre o indivduo recm-(i)migrado e a sociedade que o acolhe. Esses

    vnculos, no entanto, nunca desaparecem por completo e passam a funcionar como

    elementos de identificao com laos sociais e culturais da cidade natal dos indivduos.

    3. A Cidade como um Laboratrio

    O empirismo que marca a abordagem da Escola e que transforma a cidade de

    Chicago num laboratrio social resulta, como j foi possvel verificar, do interesse em

    encontrar solues concretas para uma cidade catica, marcada pelo intenso processo de

    industrializao e urbanizao que ocorre na viragem do sculo XIX para o sculo XX.

    As cidades americanas atravessavam um crescimento explosivo e Chicago foi uma

    que se notabilizou ao emergir como uma metrpole imediata, caracterizada por diversos

    problemas sociais. Nesta poca, Chicago was in a boom period of staggering economic

    growth, and its streets were home to a hodgepodge of speculators, jackrollers, hobos,

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    gangs, slum dwellers, immigrants and migrants, political bosses, and so on. (Venkatesh,

    2001, p. 278). 4

    O crescimento demogrfico e o grande contingente imigratrio, a concentrao

    populacional excessiva e a segregao urbana que deram origem formao de guetos de

    diferentes nacionalidades, as condies de vida e de infra-estruturas precrias favorecem a

    formulao pela Escola da ideia da cidade como problema.

    O modo de pensar as relaes sociais pelos seus principais investigadores foi um

    processo marcadamente qualitativo e rigoroso na anlise de dados. Como referem Lutters e

    Ackerman (1996),

    The primary assumption for the Chicago School was that qualitative

    methodologies, especially those used in naturalistic observation, were bestsuited for the study of urban, social phenomena. This ethnographiccloseness to the data brought great richness and depth to the Chicagowork.5(p. 3)

    Em 1920, Ernest Burgess e os seus colegas das diferentes reas interdisciplinares

    trabalharam em conjunto com o objectivo de dividir a cidade em comunidades e redes de

    vizinhana.

    Para os autores de Chicago (Venkatesh, 2001),

    A community could not be characterized solely as a collection of familymembers or ethnics who shared a strong social or religious bond, and itwas no longer based primarily in the neighborhood saloon, the church, orthe ward hut. Instead, community could refer to a gathering of peoplewho share an interest or a function, such as safety or property values, andwho acted collectively only to safeguard these interests. (p. 301).6

    Como membros da LCRC (Local Community Research Committee), estes autores

    desenvolveram o clebre conceito de rea de comunidades, composta por 75 reas

    geogrficas mutuamente exclusivas, cada uma delas socialmente e culturalmente distintas.

    4 Venkatesh, S. (2001). Chicagos Pragmatic Planners. Social Science History Association, p. 278,Chicago estava num perodo de crescimento econmico desconcertante e as suas ruas eram o lar deuma miscelnea de especuladores, vagabundos, grupos de marginais, moradores de bairros degradados,imigrantes e migrantes, chefes polticos, e por a fora.5 Lutters, W., Ackerman, M. (1996), An Introduction to the Chicago School of Sociology. IntervalResearch Proprietary, p. 3, a suposio preliminar para a Escola de Chicago foi a de que asmetodologias qualitativas, especialmente as utilizadas em observao naturalista, eram melhoradaptadas para o estudo do fenmeno urbano, social. Esta proximidade etnogrfica aos dados trouxegrande riqueza e profundidade ao trabalho de Chicago.6 Venkatesh, S. (2001). Chicagos Pragmatic Planners. Social Science History Association, p. 301, Umacomunidade no pode ser caracterizada unicamente como uma coleco de membros de famlia outnicos que partilham um forte vnculo social e religioso, e deixou de ser baseado primeiramente no

    centro comunitrio, na igreja ou na autarquia. Em vez disso, comunidade pode referir-se um conjuntode pessoas que partilham um interesse ou funo, tal como segurana ou valores de bens imobilirios, eque agem colectivamente apenas para salvaguardar estes interesses.

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    A cidade de Chicago consiste, nesta perspectiva, num composto de comunidades

    nicas que se identificam como reas naturais. Nas palavras de Venkatesh (2001, p. 283),

    The natural areas in a city made up a total urban ecology that had distinct but

    interrelated parts, natural movements of growth and decay, and a functional logic in that

    its constituent parts worked together to reproduce the organism as a whole. 7

    A criao do mapa da rea de comunidades resultou num artefacto que tinha

    como objectivo codificar a cidade, para melhor a poderem observar e administrar, teve

    consequncias histricas muito verdadeiras e serviu como modelo ao estudo de vrias

    cidades, por todo o mundo. Conforme referiu Bulmer, citado por (Venkatesh, 2001, p.

    282), [the LCRC] was a prototype for the organization of university-based social science

    research, not only in America but throughout the world. 8

    A Escola de Chicago inaugura, assim, uma reflexo indita ao tomar a cidade como

    objecto privilegiado de investigao, tratando-a como uma varivel isolada, o que

    favoreceu a criao da Sociologia Urbana como disciplina especializada.

    3.1 A Teoria dos Crculos Concntricos

    Tal como Park, tambm Burgess adoptava a comunidade ecolgica como teoria e

    foi no seu modelo circular que viu a importncia dos processos ecolgicos que levariam

    diferenciao funcional do espao e segregao scio-espacial: a cidade expandia-se

    sucessivamente em ondas de invaso, na qual as reas naturais eram invadidas por outros

    grupos, levando competio entre diferentes comunidades e segregao dos mais fracos.

    Segundo Park, citado por Venkatesh (2001), a cidade

    () is a constellation of natural areas, each with its own characteristicmilieu and each performing its specific function in the urban economy asa whole (). The natural areas in a city made up a total urban ecologythat had distinct but interrelated parts, natural movements of growth and

    7 Venkatesh, S. (2001). Chicagos Pragmatic Planners. Social Science History Association, p. 283, Asreas naturais de uma cidade criaram uma ecologia urbana que tinha partes distintas, masinterrelacionadas, movimentos naturais de crescimento e decadncia e uma lgica funcional na qual aspartes que a constituem trabalhavam juntas para reproduzir o organismo como um todo.8

    Venkatesh, S. (2001). Chicagos Pragmatic Planners. Social Science History Association, p. 282 (oLCRC) foi um prottipo para a organizao da pesquisa universitria das cincias sociais, no apenas naAmrica, mas em todo o mundo.

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    decay, and a functional logic in that its constituent parts worked togetherto reproduce the organism as a whole. (p. 283)9

    Para Burgess, o modelo de zonas concntricas era a base do desenvolvimento da

    cidade, na qual a mesma se desenrolava em vrias fases que radiavam do seu centro,

    crculos em que cada um deles representava a diversidade sociocultural das determinadas

    reas. Existem uma srie de zonas diferenciadas, em que cada uma delas cumpre funes

    particulares indispensveis ao bom funcionamento do conjunto. Conforme observou

    Venkatesh (2001),

    Burgess (1925) formalized this notion with his famous diagram thatoutlined the five concentric zones that comprised any urban ecology;radiating outward from Zone I - the central business district - were four

    others, including the zone of transition, the zone of workingmenshomes, the residential zone, and the commuters zone (p. 283).10

    Assim, a parte central da cidade, a mais interna dos crculos concntricos,

    constituda pelo bairro comercial e de negcios (The Loop). A segunda zona, chamada rea

    de transio, o antigo centro urbano histrico transformado em zona de actividade pela

    implantao de indstrias, lojas e escritrios. A terceira zona caracteriza-se por ser a zona

    de residncia dos trabalhadores industriais, com deficincias de equipamento e patrimnio

    imobilirio, quase sempre sobrepovoada. A quarta zona a chamada zona residencial, ouseja, os sectores de habitao edificados margem do antigo quadro urbano pelos estratos

    sociais mdio e superior. A quinta zona, zona de alternantes, compreende as unidades

    perifricas e as localidades satlites, no includas totalmente na cidade, mas cuja vida est

    centrada sobre a mesma e que se encontram j em processo de absoro.

    Ainda que, aps esta formalizao, nem todas as cidades conseguissem

    corresponder tipologia deste modelo, esta teoria das zonas concntricas com que Burgess

    tentou organizar a recolha de dados sobre a organizao de Chicago, transformou-se noponto de partida obrigatrio de qualquer estudo sobre a estrutura urbana.

    Segundo este modelo concntrico, os cidados distribuem-se em zonas

    relativamente caractersticas, desde o centro administrativo at s longnquas coroas

    9 Venkatesh, S. (2001). Chicagos Pragmatic Planners. Social Science History Association, p. 283, () uma constelao de reas naturais, cada com o seu ambiente caracterstico e cada uma desempenha a suafuno especfica na economia urbana como um todo ().10 Venkatesh, S. (2001). Chicagos Pragmatic Planners. Social Science History Association, p. 283,Burgess (1925) formalizou esta noo com o seu famoso diagrama onde esboou as cinco zonas

    concntricas que compreenderam toda a ecologia urbana; irradiando para fora da Zona I o distrito denegcios central onde quatro outros, incluindo a zona de transio, a zona residncia dos trabalhadores,zona residencial e a zona dos que estavam de passagem.

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    urbanas, em funo da sua antiguidade na cidade, da sua posio social e do seu modo de

    vida.

    Com esta expanso da cidade os indivduos encontravam-se classificados,

    ordenados de acordo com a residncia e a ocupao, originando uma diferenciao

    funcional do espao e uma segregao scio-espacial. Desenvolvem-se assim bairros

    distintos uns dos outros a partir dos ajustamentos realizados pelos habitantes, medida que

    lutam pela vida.

    Em suma, este seu modelo de zonas concntricas, era tanto um retrato do uso do

    territrio urbano como um modelo de expanso metropolitana e diferenciao interna, que

    representava as ideias tanto de Park como de Burgess.

    3.2 As Dinmicas Sociais Diferenciadas

    A ordem ecolgica da cidade era, para Park, o resultado de uma srie de processos

    de interaco do indivduo com o meio: competio, conflito, acomodao e assimilao. A

    competio identificava-se com a luta pela sobrevivncia que actua a um nvel bitico,

    controla e regula as relaes entre os organismos e desta competio que nasce a

    organizao ecolgica.Esta luta pela sobrevivncia no s determina o lugar onde os indivduos vivem

    dentro da comunidade, mas tambm o que fazem: a sua funo. A um nvel social, a

    competio assume a forma de conflito (que tem uma natureza social), na qual est

    implcita uma tomada de conscincia. Assim, a base da interaco e do conflito situa-se no

    processo de competio e do conflito social que nasce uma cidade politicamente

    organizada e dotada de normas.

    A luta pela vida e o conflito constituem duas condicionantes que presidem relao entre os homens e o ambiente, determinando uma certa distribuio territorial dos

    indivduos e a sua vocao profissional uma vez que, de acordo com Park, a luta pela

    sobrevivncia num espao limitado origina uma diviso do trabalho de forma funcional. Na

    perspectiva do autor, a cidade torna-se um grande mecanismo de seleco que escolhe de

    forma infalvel, entre toda a populao, os indivduos melhor preparados para viver numa

    determinada regio ou meio. O espao vai, desta forma, reflectir a diviso funcional e em

    simultneo a localizao das actividades humanas. Esta diferenciao funcional para Park

    expressa-se espacialmente, dado a competio no s estimular a diviso do trabalho como

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    tambm distribuir as distintas funes econmicas e grupos sociais em diferentes lugares

    no meio urbano.

    Isto significa que a estrutura social das cidades comporta diferentes comunidades

    (de grupos tnicos ou de classes sociais), que tendem a concentrar-se em reas

    diferenciadas. Tal ocorre atravs de diversos processos (ecolgicos) e diversos ciclos: um

    ciclo de competio, entre grupos, um de dominao, quando um grupo tnico comea a

    tomar conta do espao e o outro grupo obrigado a sair, um ciclo de sucesso, quando

    um novo grupo se estabelece como o nico da rea e finalmente um ciclo de invaso, que

    se d quando se expande para outra rea, recomeando o ciclo. Existe assim um processo

    articulado de competio, dominao, sucesso e invaso, na qual a produo do espao

    urbano tido como um processo fsico de segregao dos diferentes grupos e actividades.

    A luta pela vida traduzia-se, assim, na cidade por uma competio pelo espao,

    espao este encarado como objecto de apropriao, pelas caractersticas da populao e

    pelas actividades, na qual o xito destas lutas poderiam originar o domnio de um grupo

    social sobre outro (o mais forte sobrepunha-se ao mais fraco), ou uma assimilao.

    O estado final do processo de urbanizao no consiste numa massa homognea

    mas numa heterogeneidade de estilos de vida em que cada um assume o controlo sobre um

    territrio; uma articulao de mosaicos de mundos sociais no planificados que se tocam,

    mas nunca se penetram (Park),sendo estes ditos mosaicos, as reas naturais do autor,

    que atribuem cidade a sua diversidade.

    A diferenciao funcional do espao e a segregao scio-espacial so assim

    considerados fenmenos naturais. Citando Park, "Assim que uma cidade se estabelece (...)

    torna-se um grande mecanismo de seleco que escolhe infalivelmente, de entre a

    populao, os indivduos melhor preparados para viver numa determinada regio ou

    meio" (Park, 1952 in Giddens, 1997, p. 669).

    3.3 Os Enclaves tnicos

    O espao da cidade, constitudo por ncleos de populao mais ou menos

    especficos podem constituir, em casos extremos, enclaves tnicos, fortemente

    caractersticos do ponto de vista da pertena social, da regio ou do pas de origem.

    Os enclaves tnicos so, no fundo, comunidades de um grupo tnico no interior de

    uma rea onde outro grupo tnico predomina. Os guetos so fortes exemplos disso. Estas

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    reas podem ter um idioma, cultura, religio e sistema econmico separados das restantes

    reas da cidade predominantes.

    Existe uma tendncia para indivduos provenientes de um mesmo meio ou origem

    social se agruparem numa mesma zona, caracterizada pela partilha de valores e sentimentos

    comuns.

    Uma forma de integrar e proporcionar um melhor acolhimento a estes grupos

    minoritrios, consiste na construo de associaes de grupos voluntrios e organizados de

    indivduos, formadas para atingir e defender determinados interesses comuns. Uma

    associao tende, assim, a ser um mediador entre o indivduo e a sociedade, entre as

    necessidades dos indivduos e as exigncias dessa mesma sociedade.

    O associativismo caracterstico das sociedades urbanas ou das sociedades rurais

    envolvidas no rpido processo de urbanizao, devido no s existncia de um leque

    mais variado de relaes e interaces sociais de todo o tipo, graas elevada densidade

    populacional, mas tambm devido ao estatuto scio-econmico e educacional mais elevado

    dos residentes nas cidades e ainda, na perspectiva de Louis Wirth (1938), devido ao

    enfraquecimento dos laos de vizinhana e parentesco, levando os indivduos do meio

    urbano a organizarem-se pela partilha e defesa de interesses comuns.

    O associativismo tnico, que exprime a voz de uma comunidade minoritria sujeita

    a uma dominao simblica, poltica, econmica e social surge ento como um instrumento

    aglutinador das expectativas e exigncias dos (i)migrantes pertencentes a minorias tnicas

    numa sociedade de acolhimento.

    Em situaes de sbita mudana social, as associaes urbanas desempenham um

    papel importante, reorganizando os seus objectivos e fins para melhor adaptar os seus

    membros nova situao, suavizando, deste modo, a sua integrao na nova ordem social.

    Elas so fundamentalmente reveladoras de valores culturais e preservadoras de identidades.

    3.4 A Geografia da Excluso

    O espao urbano, resultado da aco de foras e agentes estruturantes, objecto de

    apropriao pelos diferentes grupos sociais. Os grupos dominantes a exercem um controlo

    social, de acordo com os seus interesses e projectos, pois o processo histrico de

    urbanizao capitalista permitiu-lhes o domnio do solo urbano e o poder de deciso sobre

    o uso da cidade.

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    O desenvolvimento do capitalismo, ao acelerar os processos de concentrao de

    pessoas e actividades e ao reforar a centralizao do poder, criou condies para que as

    contradies de classe se tornassem um fenmeno cada vez mais urbano. Sesta realidade

    resulta a ocorrncia de conflitos sociais no interior da cidade, gerados pela degradao das

    condies materiais de existncia da maioria da populao urbana e pela sua

    marginalizao nos processos de controlo dos diferentes espaos.

    A cidade , no fundo, um espao de produo econmica e de reproduo social,

    que situa as unidades de produo, de consumo e de prestao de servios, onde se

    reproduz a fora de trabalho. O espao condiciona ento a organizao social da cidade, no

    sentido em que influencia, com o seu valor econmico, a distribuio dos habitantes e o seu

    comportamento quotidiano, estabelece em que lugar devem residir e em que lugar devem

    trabalhar. Por vezes a cidade no s no satisfaz as necessidades dos grupos sociais mais

    desfavorecidos como tambm provoca severas situaes de discriminao.

    Para Wirth a questo da segregao est intimamente ligada questo da etnia,

    fundada nas tradies, costumes e estilos de vida, na qual a segregao comea quando um

    grupo de imigrantes chega e tende a situar-se nos degraus mais baixos da escala social, que

    os obriga a ocupar os bairros mais degradados e mais econmicos e transforma esses

    bairros em locais de segregao em que, tal como em Park, so formadas naturalmente.

    Este autor considera que as vagas de migraes que ocorrem nas cidades do

    origem a bairros caractersticos, que ele denomina de guetos. Estes so considerados

    como um modo de vida onde residem minorias que sofrem desta forma de

    marginalizao.

    O autor fala na questo da auto-segregao das cidades medievais, no que ele

    designa de gueto voluntrio, onde refere que as comunidades judaicas se auto-

    segregavam devido essencialmente a que, a presena de uma comunidade separada era

    funcional para o tipo de ordem social existente (cidade medieval), pelos elementos deordem cultural, na qual, os judeus precisavam da sua prpria organizao comunitria. Este

    tipo de gueto ento realizado pela prpria populao, que se fecha em si mesmo de forma

    a manter uma identidade prpria.

    Esta espcie de comunidade comeou por ser uma tentativa de regular o

    problema da presena da populao estrangeira nas cidades medievais.

    Esta segregao voluntria dos judeus nos guetos tem numerosos pontos em comum

    com a segregao dos negros, dos imigrantes nas cidades modernas. Assim, se nas cidadesmedievais a segregao era voluntria, nas cidades modernas tal fenmeno torna-se algo

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    hostil. Do gueto voluntrio passa-se ao gueto moderno, o gueto forado ou

    involuntrio. Este um ambiente que hostil aos indivduos, uma forma de segregao

    temporal, caracterstica da migrao. Desta forma, o sentimento de excluso de que

    sofrem as minorias tnicas est bem presente nesta nova sociedade, no s com o povo

    judeu mas tambm com outras minorias tnicas que ocorre a segregao.

    Este tipo de gueto pressupe a existncia de um ambiente degradante, existe

    misria, opresso, e os seus habitantes so obrigados a l permanecer, so bairros

    miserveis e isolados do resto do mundo, a vida considerada insuportvel, apesar disto

    existe um elevado grau de integrao e este ambiente oferece segurana e status aos seus

    membros.

    Os guetos so, assim, diferentes reas urbanas que compem a comunidade urbana,

    constitudos por um tipo de populao cujo nvel econmico e tradies culturais so as

    considerados como os melhores para se adaptarem s caractersticas fsicas e sociais de

    cada uma destas reas.

    Ao mesmo tempo que se instalam no bairro, cada grupo tende a reproduzir

    fielmente tanto quanto possvel, segundo as novas condies, a cultura a que estavam

    habituados no seu antigo habitat. esta tendncia que explica as mudanas sbitas das

    atmosferas que se podem observar quando se passa de rua em rua no chamado mosaico de

    pequenos guetos que compem os grandes bairros de imigrantes das grandes cidades.

    Desta forma, Wirth refere que tanto nas cidades medievais como nas cidades

    modernas, existe uma segregao da populao em categorias e em grupos profissionais

    distintos, originando processos de competio, atravs dos processos ecolgicos invaso-

    sucesso.

    Os guetos so encarados como bairros que esto reservados para uma

    determinada funo de acordo com a populao que a reside, existindo assim uma

    diferenciao funcional do espao; uma especializao da economia urbana, tal comoocorre em Park. Esta especializao de interesses e tipos culturais representa por sua vez,

    um aspecto do processo elementar da diviso do trabalho. Cada rea urbana era, para

    Wirth, caracterizada por fazer aquilo que estava melhor adaptada, especializando-se

    numa funo e no noutra.

    Os valores de raiz, as acessibilidades, as atitudes dos habitantes e dos proprietrios e

    os valores econmicos so os factores que determinam o tipo de rea que se vai formar.

    Cada uma destas reas caracteriza-se ento no s por uma configurao externa especficaque se manifesta nos edifcios, instituies, na aparncia geral, mas tambm por um cdigo

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    moral que lhe prprio; para este autor o gueto no s um espao fsico, , no fundo, um

    estilo de vida.

    Desta forma, a isolao dos imigrantes e das minorias nos chamados guetos e nas

    reas de populao segregadas tendem a preservar, a intensificar as intimidades e a

    solidariedade do local e dos grupos vizinhos, os indivduos da mesma raa ou da mesma

    vocao vivem juntos em locais de segregao. A organizao da cidade, o carcter do

    ambiente urbano e a disciplina que impe determinada para os autores da Escola de

    Chicago pelo tamanho da populao, pela sua concentrao e distribuio dentro da rea

    urbana.

    4. Os Padres da Interaco Social

    A cidade rene num mesmo lugar populaes diferenciadas, que coexistem e

    interagem em simultneo no interior desse espao comum.

    Dada a grande mobilidade das populaes nas reas urbanas e a multiplicidade

    dos contactos ocasionados pela vida na cidade, as relaes sociais entre os indivduos so

    relativamente fracas, tendem a tornar-se annimas, superficiais e efmeras. A dimenso dosaglomerados urbanos tende a destruir os laos comunitrios, substituindo-os pela

    concorrncia e a segregao das relaes sociais tende a provocar o anonimato, a

    superficialidade e a ausncia de participao, caractersticas da personalidade urbana.

    A densidade refora a segregao entre meios sociais diferentes que, justapostos,

    no se integram. Verificam-se por isso, muitas das vezes, relaes de impessoalidade nas

    cidades e ausncia de envolvimento entre os seus residentes, o que se traduz numa natureza

    distanciada da vida urbana.Numa outra vertente da Escola de Chicago, o culturalismo, tido em conta o

    urbanismo como um modo de vida. O seu autor toma a cidade como uma grande fixao

    densa e permanente de indivduos socialmente heterogneos.

    Wirth parte de uma definio de cidade considerada por muitos autores como

    redutora, onde atravs de trs simples critrios, a dimenso, a densidade e a

    heterogeneidade, elabora um modelo de relaes sociais e da personalidade urbana.

    Para este autor, a questo da dimenso dos aglomerados urbanos tendia a destruir

    os laos comunitrios, substituindo-os pela concorrncia e segregao das relaes sociais,

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    o que provoca o anonimato, a rapidez das relaes, a superficialidade e a ausncia de

    participao.

    Em relao densidade, esta refora a segregao entre meios sociais diferentes

    que no se integram e um aumento desta densidade corresponde a uma diferenciao e uma

    especializao.

    Por sua vez, da heterogeneidade nasce a segregao espacial na cidade e por isso

    a diviso do ambiente urbano em reas naturais; a solidariedade tpica da comunidade rural

    substituda na cidade por mecanismos de competio e de controlo social formalizado,

    em que, quanto maior for o n. de indivduos que participam no processo de interaco,

    maior ser a diferena de potencial entre os mesmos.

    O modo de vida urbano, na perspectiva de Wirth, caracteriza-se pela substituio

    das relaes primrias pelas relaes secundrias, o enfraquecimento dos laos de

    parentesco, o declnio da importncia social da famlia, o desaparecimento das relaes de

    vizinhana e a queda da base tradicional da solidariedade social.

    O conceito de urbanismo como modo de vida desenvolvido por Louis Wirth

    defende, assim, que a vida na cidades alimenta a impessoalidade e a distncia social.

    As cidades modernas implicam frequentemente relaes sociais impessoais e

    annimas, mas so tambm, por outro lado, fontes de diversidade e, por vezes de

    intimidade.

    Um diferente ponto de vista permite constatar que os bairros que envolvem laos

    pessoais e de parentesco prximos parecem ser criados pela vida na cidade. A

    heterogeneidade do meio urbano tem como consequncia o predomnio da associao

    (fundada em interesses comuns) sobre a comunidade.

    4.1 A Noo de Mundos Sociais

    De forma a explicar a complexa rede de relaes de interaco intergrupais nas

    diferentes regies da cidade, os investigadores da Escola de Chicago recorrem noo de

    Mundos Sociais.

    A caracterstica mais distinta de uma grande cidade a sua diviso em quarteires

    distintos. Nenhuma cidade composta por uma massa indiferenciada, mas por um grupo

    reconhecvel de arredores que se destinguem, no s pela sua aparncia fsica mas pela

    composio da sua populao e pela sua reputao.

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    A observao da separao espacial da populao da cidade e a existncia de

    mundos separados de experincia constituam a base da viso de Park (1918) da vida

    urbana, em que os arredores, as colnias e reas segregadas da cidade eram vistas como

    um mosaico de pequenos mundos, que se tocam, mas no se interpenetram (Mellor,

    1984, p. 342).

    Segundo Park, citado por Venkatesh (2001),

    () the central business district never became entirely residential, aslum remained blighted, and the residences on the citys edges neverturned fully industrial, despite a continuously changing population. Theyidentified these spaces as little worlds, each with unique languages,industries and occupational niches, but all interwoven into themetropolis (p. 279).11

    Para Burgess e para Palmer, as reas comunitrias apresentam de facto

    caractersticas nicas e, nas palavras de Bulmer (1984), each community area was a

    miniature society with its own history and traditions, its individual problems, and its own

    conception of the city (Venkatesh, 2001, p.289).

    Na perspectiva de Park (1918), citado por Mellor (1984),

    (...) todas as reas naturais tm tendncia para ter as suas prprias

    tradies peculiares, costumes e convenes, modelos de propriedade edecncia e, se no uma linguagem sua, pelo menos um discursouniversal, em que as palavras e os actos tm um significado, que apreciavelmente diferente para cada comunidade local (p. 343).

    Conforme assume Lutters e Ackerman (1996, p.5), () often with such

    closed communities there exists a tension between the perceived degree of isolation and

    the actual material reality of the situation.12 Os mundos sociais assumem muitas vezes um

    elevado grau de isolamento, interiormente estimulado ou externamente forado. Este facto

    verificou-se na formao dos guetos, em que as comunidades se concentram e se tornamprotegidas das influncias externas.

    11 Venkatesh, S. (2001). Chicagos Pragmatic Planners. Social Science History Association, p. 283, () azona central de negcios nunca se tornou numa zona residencial na sua totalidade, as residncias naperiferia da cidade nunca se tornaram completamente industrial, apesar da constante alternncia depopulao. Eles indentificavam estes espaos como pequenos mundos, cada um com uma linguagemnica, com nichos de indstrias, mas tudo interlaado com a metrpole.12

    Lutters, W.; Ackerman, M. (1996). An introduction to the Chicago school of sociology, interval researchProprietary, p. 5, muitas vezes, em comunidades to fechadas existe uma tenso entre o nvel deisolamento percepcionado e a situao real.

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    Concluso

    A partir da observao de uma cidade marcada por um extraordinrio grau de

    desenvolvimento e desigualdades bastante pronunciadas, os fundadores da Escola de

    Chicago desenvolveram as principais bases tericas e de pesquisa em sociologia urbana,

    como a abordagem ecolgica e o urbanismo como modo de vida.

    No estudo das suas diversas problemticas, estes autores procuram analisar todos

    os fenmenos sociais que ocorrem num dado espao, na sua relao intergrupal e diferentes

    formas de apropriao do espao. Procuram descrever a grande variedade de fenmenos

    sociais que ocorrem no espao urbano, com especial incidncia nas relaes de vizinhana

    e redes de poder local.

    A perspectiva ecologista por eles utilizada acredita que as cidades se

    desenvolvem de acordo com as caractersticas do meio ambiente.

    Diversos conceitos da ecologia natural so retomados por esta ecologia social:

    ocorre um processo de sucesso quando uma populao substitui outra num determinado

    bairro, simbiose se as populaes sem parentesco se encontrarem numa mesma zona,

    dominao se a periferia for influenciada pelas condies de vida do centro da cidade.

    Robert Park v na cidade a imagem viva da nova sociedade, o laboratrio que

    pe disposio do socilogo a mais completa e variada gama de fenmenos sociais e

    analisa, com maior incidncia, todos os que se relacionam com a integrao e coeso de

    uma formao social sujeita a um ritmo de mudana fulminante e sem precedentes. Por

    outro lado, esboa e anuncia o tema da cultura urbana, posteriormente desenvolvido por

    Wirth e que se torna um dos pilares bsicos da sociologia urbana, sempre inerente em

    qualquer discurso sobre mudana social.

    Ernest Burgess, ao elaborar a sua famosa teoria do crescimento urbano emsucessivas zonas concntricas, chega concluso que existe uma relao estreita entre

    desenvolvimento econmico, transformaes sociais e organizao do espao. Esta teoria ,

    no fundo, a afirmao da dependncia do espao e, por consequncia da cidade,

    relativamente a uma determinada estrutura social.

    Em suma, a Escola de Chicago demonstrou que:

    A sociedade urbana dominada, no por uma cultura unificada, mas por diversassubculturas, em que cada uma tem a sua histria;

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    A sociedade urbana no um sistema social unificado; rene diversas

    colectividades, em que cada uma possui as suas oportunidades e os seus limites;

    O meio urbano aumenta a distncia social. A distncia social entre os grupos

    mais importantes nas metrpoles do que nas cidades de menor dimenso. A compartimentao entre os grupos e as subculturas no exclui a mobilidade

    individual. Pelo contrrio, a mobilidade encorajada.

    A cidade des-socializa. A diferenciao e a mobilidade fazem com que se

    aprenda a viver sem que ocorra interaco entre os indivduos. As pessoas des-

    socializadas, annimas, tendem a agrupar-se em bairros mas sem criarem laos

    sociais slidos. So os bairros da doena, do suicdio, das perturbaes mentais.

    Na grande cidade, a taxa de criminalidade elevada. Certas comunidadesformam-se encorajando os comportamentos desviantes.

    As formas de comportamento desviante tendem a agrupar-se num nmero restrito

    de lugares, por vezes numa nica rea, em estreita relao com a pobreza e o

    desemprego.

    A estrutura ecolgica mutvel, na medida em que os bairros sofrem constantes

    alteraes.

    A cidade tende a alargar-se e a aumentar progressivamente, conquistando terreno custa da formao de zonas perifricas. a descentralizao centralizada.

    No entanto, as formas urbanas afiguram uma mutao constante, apresentando hoje

    caractersticas prprias que vm exigindo novos conceitos e novos processos de

    interveno sobre a cidade.

    Estas mutaes da cidade actual tm profundas consequncias nas formas de

    espacializao e sucedem-se a um ritmo e lgica de transformao que torna difcil a sua

    percepo, dada a nova diferenciao e segregao das formas de ocupao do espao.

    Por estes e outros motivos as diversas perspectivas da Escola de Chicago foram

    amplamente contestadas pelos seus seguidores, apesar de serviram de base e serem uma

    referncia eterna para o progresso e desenvolvimento subsequente das diferentes correntes

    da Sociologia Urbana.

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    Bibliografia

    Castells, Manuel (1984), Problemas de Investigao em Sociologia Urbana,

    Lisboa, Editorial Presena.

    Giddens, Anthony (1997), O Urbanismo Moderno in Sociologia, Fundao

    Calouste Gulbenkian, Lisboa, p. 663-695.

    Grafmeyer, Yves (1994), Sociologia Urbana, Lisboa, Publicaes Europa-

    Amrica.

    Lutters, Wayne G., Ackerman, Mark S. (1996), An Introduction to the Chicago

    School of Sociology, Interval Research Proprietary.

    Mellor, J. (1984),A Escola de Chicago, Sociologia Urbana, Lisboa, Rs Editora.

    Venkatesh, Sudhir (2001), Chicagos Pragmatic Planners - American Sociologyand the Myth of Community, Social Science History 25:2.