1. 1 Adim - Oferendas as Orixs C E C A A Centro de Estudos da
Cultura Afro-Americana UMA COLETNEA DE COMIDAS DE SANTO. DEDICO
ESTE TRABALHO AOS SEGUIDORES DO CULTO AOS ORIXS QUE, RESPEITANDO
TODAS AS FORMAS DE VIDA, COMPREENDEM QUE OS ANIMAIS SO CRIATURAS DE
OLORUN, ASSUMINDO, ASSIM A RESPONSABILIDADE DE RESPEIT-LOS E
PRESERV-LOS. ORAO DO GALO. No vos esqueais, Senhor, que eu fao
nascer o Sol! Sou vosso servo... Mas a importncia do meu cargo
Impe-me certas arrogncias. Apesar de tudo, reconheo que sou vosso
servo... No esqueais, Senhor, que eu fao nascer o Sol! Amm! Carmem
B. de Gasztold - (Oraes na Arca). 2. 2 ADIM - OFERENDAS AOS ORIXS 1
Parte CAPTULO I O Candombl O Candombl, a forma de culto existente
no Brasil, das divindades de origem africana. A forma original,
trazida h mais de quatrocentos anos pelos escravos negros,
submetida a um processo de aculturao, resultou num modelo novo,
muito diferente daquela da qual provm e que serve hoje, to somente,
como ponto de referncia, de acordo com a reformulao ou total rejeio
de muitos de seus elementos. A influncia da civilizao crist, assim
como os costumes de grupos amerndios, foram assimilados e seus
traos culturais podem ser observados mesmo nas mais tradicionais
casas de Candombl, que auto-intitulam-se "ncleos de resistncia
religiosa e cultural". A caractersca de ncleo de resistncia,
destiolou-se atravs dos tempos e, o que vemos hoje, uma prtica
religiosa em constante processo de renovao, onde as caractersticas
culturais da minoria, tendem a mudarem, ao reagirem maioria
envolvente. Este fenmeno pode ser observado tambm em pases da
Amrica Latina, onde os cultos de origem africana recebem nomes
diferentes, como: Vud, Palo Mayombe, Santeria, etc., variando de um
pas ou de uma regio para outra, da mesma forma que, no Brasil,
podemos encontrar diferentes prticas que variam de regio para
regio, como: Tambor de Mina no Maranho; Batuque e Babau no Par; Tor
e Catimb em toda a regio nordeste; Pajelana no norte do pas; Xang
em Pernambuco; Macumba no Rio de Janeiro e So Paulo; Par em Porto
Alegre; Candombl na Bahia, So Paulo e Rio de Janeiro, e Umbanda,
existente em todo o Territrio Nacional. 1 Os cultos, embora tenham
uma origem comum, no so homogneos, possuindo diferentes
procedimentos litrgicos, o que no se verifica somente de regio para
regio, mas tambm, de terreiro para terreiro, muito embora restem
sempre vrios elementos comuns a todos os grupos praticantes. A
ausncia de um culto direcionado a um Deus nico e Todo-Poderoso,
paralelamente ao culto festivo s entidades intermedirias, (Orixs,
Voduns ou Inkisis), fez com que Nina Rodrigues escrevesse: "A
concepo dos Orixs francamente politesta, constitui uma verdadeira
mitologia, ao mesmo tempo que sua representao material continua
sendo inteiramente fetichista" Vrios outros autores viriam,
posteriormente, corrigir tal afirmao, notadamente, Roger Bastide,
Edson Carneiro, M.Delafosse, Pierre Verger, L. Solanb e outros que
afirmam a existncia, na cultura religiosa dos negros yorubanos,
fons e das diversas naes do Sul da frica, um Deus nico, Criador de
Todas as Coisas, Onisciente e Onipresente. Este Deus, a que
denominam "Olorun", "Olodumare" ou "Olofin", o Ser que controla o
universo e todas as coisas, por intermdio de vrios agentes
denominados, coletivamente, "Orixs". Dessa forma pode-se distinguir
o 3. 3 monotesmo como base desse tipo de prtica religiosa. O
Candombl , portanto, um culto com caractersticas exclusivas que o
distingue da forma original ainda hoje praticada na frica. A
pretenso existente por parte de seus seguidores de v-lo assumir o
status de religio, obstaculizada por sua prpria estrutura de
organizao e atuao. bem verdade que esse culto est perfeitamente
includo no grupo que engloba os sistemas religiosos primitivos,
definidos pela ausncia de qualquer tradio escrita, mas onde os
rituais proliferam com muito mais constncia. OLORUN, OLODUMARE,
OLOFIN - OS NOMES DE DEUS. Segundo a filosofia religiosa africana,
O Criador encontra-se em plano to superior em relao aos seres
humanos e, de tal forma inexplicvel e incompreensvel, que intil
seria manter-se um culto especfico em sua honra e louvor, j que o
Absoluto no pode ser alcanado pelo ser humano em decorrncia de suas
limitaes e imperfeies. Olorun o nome mais comumente usado para
designar a Divindade Suprema, e esta preferncia de uso est ligada
sua aceitao por parte dos islamitas e dos cristos, que adotaram-no
como sinnimo, tanto de Al, quanto de Jeov. O termo fcil de ser
analisado e traduzido, uma vez que se compe de duas palavras
apenas: Ol" de Oni (dono, senhor, chefe) e "Orun" (cu, mundo onde
habitam os espritos mais elevados), formando "Olorun" - Chefe,
Proprietrio ou Senhor do Cu. O termo "Olodumare" prope uma idia
mais completa e de maior significado filosfico. Desmembrando a
palavra, encontramos os seguintes componentes: "Ol, Od" e "Mare",
que passamos a analisar separadamente. O prefixo "Ol" resulta da
substituio, pelo "l" das letras "n" e "i" da palavra "Oni" (dono,
senhor, chefe), prefixo utilizado, modificado, ou em sua forma
original, para designar o domnio de algum sobre alguma coisa
(propriedade, profisso, fora, aptido, etc.). Ex.: "Olokun" - Senhor
dos Oceanos. O termo intermedirio "Odu", possui diversos
significados, dependendo das diferentes entonaes na sua pronncia,
que no caso "du" e que reunido ao prefixo "ol", resulta em "Olodu",
cujo significado : "Aquele que possui o cetro ou a autoridade", ou
ainda: "Aquele que portador de excelentes atributos, que superior
em pureza, grandeza, tamanho e qualidade". A ltima palavra
componente "mare" , por sua vez, o resultado do acoplamento de dois
termos "ma" e "re", imperativo que significa: "no prossiga", "no
v". A advertncia contida no termo, faz referncia incapacidade do
ser humano, inerente sua prpria limitao, de decifrar o supremo e
sagrado mistrio que envolve a existncia da Divindade. 4. 4 Olofin
tambm uma das designaes da Divindade suprema. Quando em extrema
aflio, os nags costumam solicitar o auxlio divino, invocando os trs
nomes: Olorun! Olofin! Olodumare CANDOMBL, UMA RELIGIO? "O termo
religio , de modo quase geral, relacionado com o verbo latino
religere: cumprimento consciencioso do dever, respeito a poderes
superiores, profunda reflexo. O substantivo religio, relacionado
com o verbo, refere-se ao objeto dessa preocupao interior quanto ao
objetivo da atividade a ela relacionada. Outro verbo latino
posterior citado como fonte do termo, religare, que implica um
relacionamento ntimo e duradouro com o sobrenatural.2 As religies
pressupem sistemas de crena, prtica e organizao, que estabelecem
uma tica manifestada no comportamento de seus seguidores no que
concerne ao procedimento ritualstico, (prticas padronizadas e
invariveis, por meio das quais os adeptos representam, de forma
simblica, sua relao com os seres sobrenaturais). Estes rituais
compreendem diferentes propostas, como splicas, adorao, ou
tentativa de controle sobre os acontecimentos, o que conduz ento,
prtica da magia ou da feitiaria. o prprio ritual que pode
estabelecer um cdigo de comportamento, atravs do qual os adeptos
podero se organizar. A organizao religiosa define os membros da
comunidade de crentes, tenta manter a tradio e reunir a dissidncia,
e, atravs de diferenciao interna, atribui tarefas religiosas aos
crentes 3. Tudo isso exige, para que possa se efetivar, a existncia
de uma liderana centralizada numa autoridade sacerdotal,
individualizada ou composta por um grupo de adeptos de alta
hierarquia. A autoridade a representada que ir estabelecer a
padronizao do ritual, o reconhecimento de novos adeptos e a ordenao
de novos sacerdotes. A partir da organizao, do estabelecimento de
liderana universalmente aceita e reconhecida, da uniformizao
ritualstica e da codificao de ticas comportamentais e
procedimentais, o Candombl poder ento - e s ento - atingir o status
de religio, na medida em que possui milhares e milhares de
seguidores e adeptos, em sua maioria atrelados a falsos lderes que
no possuem as verdadeiras atribuies que distinguem os legtimos
sacerdotes, devendo-se ressaltar que, o processo inicitico
insuficiente para habilitar o indivduo no exerccio do cargo
sacerdotal de hierarquia mxima. A habilitao ao referido cargo no
pressupe simplesmente que o candidato seja iniciado. necessrio e
indispensvel que haja para isso, uma determinao dos prprios Orixs,
o que s pode ser constatado atravs da consulta ao Orculo de If. A
tica religiosa pode, no entanto, ser consoante com o resto do
sistema religioso e estar ao mesmo tempo, em contradio formal com
ele, o que provoca certas tenses que fornecem novos impulsos, que
tendem a produzir mudanas no sistema geral, ocasionando ento, o
surgimento de um ou vrios grupos dissidentes, que, orientados 5. 5
pelos fundamentos principais do grupo originrio, determinam, para
seus componentes, mudanas no sistema geral e, apartando-se,
estabelecem-se como seitas. A conceituao de "seita" difere
suficientemente para que no possa ser aceita como classificao para
o Candombl ao entendermos que: "Uma seita um grupo religioso
formado em protesto a outro grupo religioso, e geralmente se
separando dele; sua formao representa a manuteno de credos, prticas
rituais e padres morais, mais comumente considerados pelos membros
da seita como um retorno a formas mais antigas e mais puras dessa
religio em particular,... ...com o tempo a seita muda para a posio
de isolamento limitado, parte do sistema circundante, ou para um
estado de adaptao ele." 4 Seita seria portanto, o resultado da
separao de um grupo dissidente de uma religio, de um culto
estabelecido ou at mesmo de outra seita, onde o surgimento de uma
nova seita seria o resultado da canalizao do descontentamento
criado por divergncias de qualquer natureza. O objetivo do grupo
dissidente no poderia ser outro seno o de mudar, atravs de uma ao
inovadora, alguns, se no todos os elementos que caracterizam sua
prpria origem. Diante do exposto conclumos que, o Candombl, no
podendo ser classificado como uma religio e tampouco como seita por
falta de caractersticas essenciais, nada mais do que um culto,
subdividido em diversos grupos, com prticas ritualsticas que
objetivam manter o sentido religioso original, orientado por
liderana individual e geralmente carismtica, e no sacerdotal, como
era de se esperar. Como caracterstica comum esses grupos mantm os
ritos especficos em homenagem aos Orixs, deidades africanas que
servem de base ao sistema religioso em questo e cujo culto mantido
atualmente, muito mais atravs da manipulao dos adeptos pelo medo,
do que por um sentido mais profundo de devoo religiosa. A base
principal do sistema est pautada na relao homem-Orix, o que dever
ser estudado de forma suscinta para que possamos atingir o objetivo
do presente trabalho. 1 - Representao dos Orixs ( In Antologia do
Negro Brasileiro. P. Alegre, Globo, 1950, pg. 310). 2 - BIRBAUM.
Religio - In: Dicionrio de Cincias Sociais, Fundao Getlio Vargas -
Rio, 1987 3 - Obra citada - p. 1058, B.3. 4 - Obra citada, p.1104
A. 6. 6 CAPTULO II ORIXS, OS DEUSES DO CANDOMBL Embora prestando
culto a inmeras entidades ligadas aos Elementos Naturais, o
Candombl entretanto, uma prtica religiosa essencialmente monotesta,
uma vez que est fundamentada na crena da existncia de um Deus Uno,
origem de todas as coisas e de todos os seres, mesmo daqueles que,
segundo Sua determinao, foram encarregados da elaborao do Cosmos e
de tudo o que nele exista ou venha a existir. Estas entidades,
divididas hierarquicamente em diversas categorias, so os
intermedirios entre o homem e a Divindade Suprema, que se manifesta
em todos, sem distino, at mesmo nos seres situados nos mais baixos
nveis da hierarquia estabelecida. importante ressaltar-se que, pelo
menos aparentemente, no existe no Candombl, qualquer rito destinado
especificamente ao culto Divino e isto pode ser explicado pela
concepo de seus seguidores relativa ao posicionamento da Divindade
em relao ao ser humano. Segundo esta viso, Deus est to distante do
homem, embora paradoxalmente esteja, em essncia, presente em cada
um de ns, que intil seria direcionar-lhe preces ou culto, existindo
para isto, meios mais eficientes, embora indiretos. Contradizendo o
que vai afirmado acima, localizamos um culto ao Deus Supremo, que
configura-se, de forma velada, na nica ritualstica que, se bem
compreendida, pode ser considerada como direcionada a Olodumare
numa de Suas mais gratas e sagradas manifestaes. Segundo a
filosofia religiosa yorubana, o ser humano composto de quatro
elementos ou corpos que permitem, ao combinarem-se, sua estadia no
mundo terreno. O mais conhecido destes corpos o fsico, denominado
"ar" em yoruba. o corpo material que permite a plena manifestao do
ser humano no plano fsico e material da existncia. Outro destes
elementos, o denominado "Ojij", corpo ou forma telrica, conhecido
em outras escolas filosficas como "sombra" ou "corpo astral".
Trata-se de um doble exato de nosso corpo fsico, que aprende tudo o
que sabemos, adquire todos os nossos costumes, hbitos e vcios;
nutre-se dos fluidos exalados pelos alimentos e bebidas por ns
consumidos, e que, por este motivo, adquire as nossas preferncias
alimentares. Ojij uma forma fornecida pela Terra, responsvel pela
guarda de nosso corpo fsico, subsistindo, mesmo depois da sua
morte, enquanto este no for inteiramente decomposto e, em forma de
p, entregue Terra que forneceu toda a matria de que foi formado.
Ojij que apresenta-se sob a denominao de "Egun", depois da morte do
corpo fsico. O terceiro corpo denominado "Emi". Seria tambm um
prottipo criado em plano superior de existncia e que serviria de
projeto de nosso corpo fsico. Emi o sopro de vida que nos d o nimo
e conseqentemente, a condio para viver. Seria portanto o
equivalente alma da cultura judaica-crist. Passa tambm por um
processo de "morte" que ocorre algum tempo depois da morte fsica.
7. 7 O quarto e mais importante componente, "Ipor", a Essncia
Divina que, individualizada e desprendida de sua Origem, habita
cada um de ns. Ipor teria por sede a cabea (Ori) e, ao encarnar num
novo indivduo, perde a conscincia de sua origem divina, de seus
atributos e qualidades, embotado que fica pela queda e
aprisionamento na matria. Deus manifestado no homem e da a revelao
de Sri Krishna contida no Bhagavad Gita: "Eu estou em voc, mas voc
no est em Mim..." Sendo divino, Ipori imortal e, cumprida mais uma
fase de sua escalada evolutiva efetuada em diversas e sucessivas
encarnaes, retira-se para um local onde ir avaliar seu desempenho
na ltima encarnao e preparar- se para uma outra. Neste local, que
os yorubanos chamam de Orun, assim que lhe seja dada permisso para
um novo nascimento, Ipori escolher seu prprio destino (Odu), assim
como escolher o Ori em que ir habitar na nova encarnao. Ao escolher
Ori (cabea), Ipor escolhe tambm o corpo, j que o corpo, para os
yorubanos, nada mais que uma extenso da cabea, sede e comando de
todo o conjunto. Segundo as crenas Yorubanas, a entidade
encarregada de modelar ori, Bab Ajal, muito velho e descuidado, no
mantm um padro de qualidade em suas obras e, por relaxamento,
utiliza-se de diferentes tipos de materiais para confeccionar seus
modelos, lanando mo do material que lhe estiver mais prximo no
momento em que estiver modelando. Em decorrncia, muito difcil
encontrar-se disposio, cabeas de boa qualidade, o que justifica a
diferena existente na maneira de ser dos seres humanos. A lenda
acima descrita contm importantes revelaes esotricas, fundamentais
para a compreenso da relao homem-Orix, principal fundamento de todo
o contexto filosfico. O que a maioria dos adeptos desconhece que,
so os Orixs que fornecem a matria com a qual so confeccionados os
Oris e desta forma, fica estabelecida a relao existente entre o ser
humano e seu Orix, ou seja, a entidade que forneceu ou "emprestou"
a matria com a qual sua cabea e, por extenso, seu corpo, foram
confeccionados, primeiro num plano superior em que a prpria matria
apresenta-se mais sutil, embora essencialmente idntica ao seu
correspondente no plano fsico e depois no plano, para ns plenamente
perceptvel, de forma densa e grosseira. Bab Ajal, o Modelador de
Cabeas, o simbolismo atravs do qual, os yorubanos tentam explicar a
diversidade das caractersticas do carter, do biofsico e do prprio
desempenho do homem nesta vida. Estabelecida desta forma, a relao
homem-Orix, resta-nos uma questo de fundamental importncia: Por que
razo, algumas pessoas so impelidas ou obrigadas a prestarem culto
aos seus Orixs, enquanto outras passam pela vida sem sequer tomarem
conhecimento de suas existncias e, mesmo dentro do culto,
observamos que alguns iniciados no so tomados por seus Orixs,
embora prestem-lhe regularmente, reverncias com sacrifcios e
oferendas, como o caso dos ogans e ekjis ? 8. 8 Segundo informaes
do Dr. J. Olatunji Oxo, nigeriano, sacerdote de Ogun: "Aos Orixs
cabe o direito de, se assim quiserem, cobrar de seus filhos culto e
oferendas como forma de "pagamento" (se admissvel o termo), pela
utilizao da matria com a qual seus corpos foram confeccionados e
que pertence a eles, Orixs." Nos casos de pessoas que no so
submetidas ao fenmeno de incorporao do Orix, observa-se a
superioridade hierrquica do Ipor em relao aos Orixs que, nos casos
especficos de Ogans e Ekjis, no permite que o Orix, mesmo em se
tratando do Olor (Dono da cabea) do indivduo, se aposse ou se
manifeste nestas cabeas, o que implica em obliterao parcial e
momentnea de sua presena. Existe no entanto, um culto especfico
Ipor, o que significa dizer que, existe um culto especfico
Divindade Suprema a manifestada. Este culto, por demais comum, nem
sempre pressupe iniciao e nunca estabelece vnculo espiritual entre
o sacerdote que o oficia e a pessoa que a ele se submete. De posse
desta informao podemos avaliar a importncia e a solenidade da
referida cerimnia, denominada "Bori" -Eb Ori- (dar comida cabea),
para a qual existem vrias frmulas e variaes, que vo desde oferendas
incruentas, at cerimnias de liturgia complexa conforme a descrita
na obra de Pessoa de Barros 5 . A verdade que, o culto aos Orixs,
tem sua origem estabelecida em tempos imemoriais, havendo surgido
provavelmente, logo aps a antropognese, assim que o ser humano,
dotado da capacidade de raciocnio, percebeu a existncia de foras e
entidades superiores e com elas estabeleceu um primeiro contato. O
termo "Orix" de origem yoruba, pertencendo portanto, cultura
religiosa deste povo e refere-se Deuses de seu panteo, considerados
como regentes das foras da natureza. As mesmas entidades, com
outras denominaes, so, sem dvida, cultuadas por diferentes povos de
diferentes organizaes culturais, o que nos possibilita afirmar que,
seja qual for a religio adotada, o homem religioso sempre
presta-lhes culto, embora de formas diferentes. Para melhor
compreenso, selecionamos algumas anlises etimolgicas do termo
"Orix": Segundo Abraham, Orix = Oos - Divindade yorubana separada
de Olrn... 6 Fonseca Jr., Orix = Anjo de Guarda, etimo.: Ori =
cabea, Sa (xa) = guardio - Guardio da Cabea, Divindade Elementar da
Natureza, figura central do culto afro 7 . Os yorubanos acreditam
que quando Deus criou o cu e a terra, criou simultaneamente,
espritos e divindades, conhecidos como Orixs, Imols ou Eboras, para
assumirem funes especficas no processo de criao, manuteno e
administrao do universo. A diferena existente entre as trs
categorias de entidades espirituais aqui referidas no est muito bem
delineada devido ao tratamento genrico dado a todas, at mesmo pelos
prprios yorubanos. No Brasil os termos Imole e Ebora so
praticamente desconhecidos, sendo poucos os adeptos da religio que
os utilizem ou saibam o seu significado. Estes dois termos fazem
referncia s entidades espiritais situadas 9. 9 hierarquicamente,
imediatamente abaixo dos verdadeiros Orixs, mais prximas, portanto,
dos seres humanos. Entre elas se encontram aqueles que erradamente
costumamos denominar Orixs, como Ogun, Oxssi, Xang, Oxun, Iyemanj,
etc.. O uso indiscriminado, embora errado, tornou-se um costume
generalizado e portanto, plenamente integralizado. Alguns
sacerdotes conceituados afirmam que o termo Orix deveria ser
utilizado exclusivamente em relao aos espritos genitores que,
efetivamente, participaram da criao do universo e que deram origem
aos demais, de categoria hierrquica inferior, personificaes de
fenmenos e de elementos naturais como Terra, Fogo, gua, Ar, rios,
lagoas, mares, pedras, montanhas, vegetais, minerais, etc... Outros
seriam ainda, figuras histricas tais como reis, guerreiros,
fundadores de cidades, de dinastias, heris e heroinas que, dado a
importncia de seus feitos, foram, depois de mortos, deificados e
acrescentados ao panteo que, segundo Awolalu, est estimado em mais
de 1700 entidades 8 . VODUNS E INKISIS. Os Voduns so entidades de
origem fon, que correspondem aos Orixs dos nag. Os fon
estabeleceram-se no Brasil, onde receberam o nome genrico de
"jjes", implantando aqui o seu culto, baseado em rica mitologia.
Depois da yorubana, a mitologia jje a mais complexa e elevada.
Assim como os Nags, os jjes pertencem ao grupo Sudans, tendo sua
origem num mesmo grupo tnico que subdividindo-se, atingiu elevado
estgio na evoluo cultural. Atualmente os praticantes da ritualstica
jje so oriundos de dois Axs principais, ambos com sede no Estado da
Bahia, o Sej Hund e o Bogun. Uma outra casa de jje considerada por
muitos como o maior foco de resistncia religiosa e cultural deste
grupo tnico, est localizada na rua Senador Costa Rodrigues, 857, em
So Luiz do Maranho. Conhecida como Casa Grande das Minas, descrita
em detalhes por Nunes Pereira, de cuja obra extramos o texto que se
segue e que por si s, deixa clara a diferena existente entre o
Candombl ali praticado e o que praticado em outras casas da mesma
origem, mas j bastante influenciadas pelo Nag. "Os Voduns Mina-Jjes
so alguns do sexo feminino e outros do sexo masculino; uns so moos
e outros so velhos. Os Voduns velhos (homens) so: Dad-H,
Coicinsaba, Zomadone, Brtoi, Azac, Arnvisav, Aksapat, Azil, Azonsu,
Agngone, Tpa, Lisa ou Olis, Ajntoi, Ajauti, Bad, Loko, Lepon. 10.
10 Os Voduns velhas (mulheres) so: Sob, Naiadona, Nangongon, Nait,
Nananbic, Afru-Fru, Ab. Os Voduns (Moos) so: Dosu, Apgv, Daco,
Bosu, Toc, Toc, Dosu-P, Avrqute, Apogi, Pli- Boji ou Pdi-Boji,
Roeju. Os Voduns (Moas) so: Ananin, Acovi ou Assonlvi, Dss, Spazin
e Bo. Alm dos Voduns, cultua-se, na Casa das Minas, as Tbsis ou
Meninas, entidades alegres e gentis que adoram danar, brincar e
comer frutas. Elas se denominam: Asoabbe, Dgbe, Omacuibe, Sandolb,
Ullb, Agn, Trtrbe, Asonlvive, Rvivive, Nanonbbe, Sanlvive e
Agamavi. Desta relao destacamos alguns como Bad que no Nag Xang,
sendo conhecido tambm em linguagem fon, como Xevios ou Kevioso.
Loko, irmo de Bad o Irko nag; Aksapat Oxun e Ab (Dona do Mar,
Senhora do Mar), seria sem dvida nenhuma, Olokun que para alguns,
do sexo masculino. Os Inkisis, so as deidades trazidas e cultuadas
pelos povos originrios do Sul da frica e que, no Brasil, tiveram
seus cultos inseridos ao Candombl. Assim como os Voduns dos fon,
correspondem aos Orixs nag. Na frica o culto a cada Orix est ligado
a uma regio, cidade ou estado. Desta forma, Oxal cultuado em Il If,
com Oxalufan em If e Oxaguian em Ejigbo. Ogun Deus da guerra e do
ferro, cultuado em Ekiti e em Ond; Xang em Oy; Loguned em Ilex;
Oxun em Oxogbo e assim sucessivamente. Estes cultos so realizados
em separado e cada Orix possui seu templo particular onde
sacerdotes e fiis dedicam-se exclusivamente a cada um deles, no
ocorrendo, como se verifica nos pases americanos como Brasil, Cuba,
Haiti e outros, a diversificao de cultos a diferentes Orixs dentro
de um mesmo templo e sob a direo de um mesmo sacerdote. Ao adepto
africano, membro de uma famlia ou de um grupo comunitrio qualquer,
as obrigaes e deveres para com o Orix se limitam a uma ajuda
material efetivada atravs de contribuies que visam a manuteno do
templo, a aquisio do material destinado ao culto e ao sustento dos
membros do corpo sacerdotal. Sua participao nas cerimnias e festas
limita-se a entoar cnticos, danar e bater palmas em honra e louvor
do Orix. Se atenderem a estas exigncias e respeitarem certas
proibies alimentares e comportamentais exigidas pelo culto, esto
perfeitamente em dia com seu compromisso religioso. Em alguns
casos, o que considerado como grande honraria, o adepto escolhido
para compor o corpo de sacerdotes, solicitao feita sempre pelo Orix
e que, independente do cargo a ser ocupado ou funo a ser exercida,
dever ser prontamente atendida, sendo necessrio para tal, que seja
submetido a uma iniciao especfica. Quando um africano se afasta de
sua comunidade o Orix individualiza-se e, da mesma forma que seu
filho, separa-se do grupo familiar ou comunitrio a que pertence. No
Brasil, ao contrrio do que acontece na frica, cada indivduo deve
assegurar o atendimento das exigncias de seu Orix devendo para
isto, seguir a orientao de um Babalorix ou de uma Iyalorix com casa
de Candombl estabelecida e pertencente uma linhagem
reconhecidamente originria da frica. 11. 11 No caso de ser
necessrio submeter algum uma iniciao (aqui denominada
feitura-de-Santo), o Babalorix ou a Iyalorix ficar incumbido de
levar a bom termo o cerimonial, responsabilizando-se no s pelo seu
sucesso, como tambm pelo equilbrio que deve estabelecer-se, a
partir de ento, entre o iniciando e seu Orix, o que se configura
num vnculo que no pode ser rompido sejam quais forem as
circunstncias. Na feitura, o Orix recebe seu assentamento que,
dependendo da nao em que haja sido feito, varia em forma e
elementos componentes, verificando-se no entanto, a existncia de um
componente comum a todas as naes, o okut. O okut uma pedra
sacralizada ao Orix, sendo sua prpria representao e sobre a qual so
oferecidos os sacrifcios propiciatrios a ele endereados. O
assentamento ou igb do Orix recm feito depositado no quarto de seu
correspondente na casa, simbolizando o reagrupamento do que um dia,
por qualquer motivo, tenha sido dispersado. No Brasil costume
manter-se o igb do Orix do iniciado junto ao do Santo da Casa
durante sete anos, tempo exigido para que o iniciado, aps fazer as
"obrigaes" de praxe, receba um grau hierrquico mais alto, quando
poder, se assim quiser, levar seu Orix para sua casa ou, se tiver
cargo para tal, abrir seu prprio Candombl, o que por certo implica
num complexo procedimento ritualstico que no pode nem deve ser
descrito em suas mincias. Em Cuba, onde o culto recebe o nome de
Santeria, segundo informaes do Babala Rafael Zamora (Ifa Bii
Ogundakete), o igb do iniciando permanece na "Casa de Santo"
somente durante os trs meses subseqentes ao "dia do nome", ocasio
em que, em cerimnia pblica, o Orix traz o seu nome ao conhecimento
de todos, o que caracteriza que realmente "est feito". Este
costume, segundo Zamora, prende-se ao fato de que o Orix em questo
pertence ao seu filho e no ao sacerdote que o consagrou, o que
implica num contato dirio entre o iniciado e seu Orix, contato este
considerado indispensvel e obrigatrio. Sobre o ritual cubano ainda
Zamora que nos informa : "Logo aps realizar um eb que se faz trs
meses depois do dia do nome, o iniciado leva seus Santos para casa,
podendo coloc-los em qualquer de suas dependncias. O importante que
estejam sempre juntos. O iyawo tem que, todos os dias, logo que
despertar, lavar a boca e, antes de falar com qualquer pessoa,
"bater cabea" para seu Orix, saud-lo conforme tenha aprendido e
pedir-lhe tudo o que deseja de bom para si, seus familiares e
amigos. Nunca se deve pedir coisas ruins aos Orixs, pois isto uma
atitude condenvel e desrespeitosa, que pode provocar a sua fria e
resultar em severas punies ". 5 -"A Galinha dangola ". Vogel,Arno -
Silva Mello,M.A.da - Pessoa de Barros, J.F. -Pallas Ed.- Rio -
1993. 6 - Abraham, R.C. - Dictionary of Modern Yoruba - London -
1958.. 7 - Fonseca Jr., E. - Dicionrio Yoruba (Nag)-Portugus -
1983. 8 - J.O. Awolalu - Yoruba Beliefes and Sacrificial Rites -
Longman Group Limited - 1979. 12. 12 CAPTULO III A INICIAO Dentre
os aspectos comuns s diversas formas de culto, distinguimos o
fenmeno da possesso pelos Orixs, de forma ordenada e pressupondo
sempre um processo de iniciao com caractersticas definidas. A
iniciao no feita por simples vontade do adepto mas sim, por
determinao de seu Orix, o que ocorre quase sempre de maneira
inesperada: ou a pessoa comea a sofrer diferentes tipos de
perturbaes em sua vida, sejam de ordem psquica ou de qualquer outra
ordem, mas que servem sempre de sinal para que se constate a
chamada da divindade, ou a entidade se apossa violenta e
repentinamente de seu filho, lanando-o ao solo, absolutamente
inconsciente, fenmeno que conhecido, dentro das casas de candombl
como "bolao". A partir desse momento, sob pena de vrios problemas
que podero advir, o indivduo escolhido dever submeter-se iniciao no
culto, sob a orientao do chefe do terreiro denominado Babalorix
(pai-de-santo) ou Iyalorix (me-de- santo). A iniciao tem por
finalidade, alm de estabelecer um vnculo definitivo e irreversvel
entre o Orix e o iniciando, desenvolver a capacidade de
desdobramento da personalidade deste ltimo que dever, a partir de
ento, ser eventualmente substituda pela da Divindade a que tenha
sido consagrado, que se manifestar atravs de incorporao ou
possesso. A possesso dever ser plenamente assumida e, no perodo de
enclausuramento exigido pelo processo inicitico, os eleitos
aprendem, sob a orientao de um iniciado de cargo sacerdotal,
tcnicas corporais estereotipadas, danas representativas de seu
Orix, rezas, cnticos e posturas procedimentais adequadas sua nova
condio religiosa. "...O Deus pode, desde logo, apoderar-se do corpo
de sua filha, cuja personalidade desaparece momentaneamente para
ser substituda pela do Orix individual. O ser humano possui,
portanto, desde que iniciado, feito, duas personalidades
aparentadas. A primeira aquela que deriva da famlia imediata, do
ambiente em que o indivduo nasceu e cresceu. A segunda a de um
antepassado mtico, de um pai sobrenatural que se desenvolve a
partir da iniciao e se manifesta na possesso" 1 . Segundo Pierre
Verger: "A iniciao no comporta essencialmente a revelao de um
segredo; ela cria no novio uma segunda personalidade, um
desdobramento mstico inconsciente" 2 . Ex quem, representando a
coletividade dos Orixs, ir promover a transformao desejada,
ensejando o surgimento da personalidade do iniciado em substituio
personalidade do ser profano. A verdadeira iniciao h de ser, de
certa forma, uma experincia dolorosa, durante a qual, a
personalidade profana permanece como morta, ressuscitando em
seguida j dotada das caractersticas que distinguem o iniciado. Por
este motivo os adeptos costumam referir-se ao processo de iniciao
utilizando-se do termo "passar pelo sacrifcio" o que sem dvida
revelador das condies s quais so submetidos durante o processo. 13.
13 Conta um itan do Odu Oxefun, que certo dia, Oxun recebeu de
Obatal, a ordem de iniciar o primeiro ser humano no culto aos
Orixs. Havendo selecionado entre muitos, aquele que viria a ser o
primeiro iniciado, Oxun tratou de seguir as orientaes fornecidas
pelo grande Orix-Funfun, contando para isto com o auxlio de
Elegbara e Osaiyn, alm das orientaes de Orunmil. Todos os preceitos
foram seguidos risca e era Orunmil, atravs da consulta ao orculo,
quem traduzia as orientaes emanadas de Obatal. Ao fim da cerimnia,
verificou-se uma total mudana na personalidade do iniciado que, de
pessoa comum, transformou-se num ser excepcional, dotado de
profundo sentimento religioso e plena dedicao ao culto para o qual
havia sido preparado. Diante deste fato, Oxun, percebendo que
jamais seria possvel a obteno de um ser humano de tantas
qualidades, intercedeu junto ao Grande Orix para que o sacerdote
fosse preservado do toque de Iku. Obatal, em sua imensa sabedoria,
no querendo interferir na lei natural que determina que todos os
seres vivos devem um dia ser entregues aos cuidados de Iku, admitiu
a possibilidade de eternizar, apenas simbolicamente, aquele a quem
foi confiada a propagao de sua prpria religio e desta forma,
ordenou que sobre sua cabea fosse colocado o ox, transformando-o,
imediatamente, numa ave a que deu o nome de Et (galinha d'Angola) .
Quando o iyawo recolhido, depois dos preceitos obrigatrios Egun e
Ex, que no nos cabe descrever no presente ensaio, ser ento colocado
em contato direto com os primeiros procedimentos litrgicos que
visam o processo de transmisso do Ax. Durante a cerimnia de
iniciao, procede-se a um ritual denominado Sasaiyn, em louvor do
Orix Osaiyn, dono e senhor de todos os vegetais e, por conseguinte,
das folhas sagradas, indispensveis em qualquer procedimento
litrgico, o que confirmado pela mxima yoruba: "Kosi ew, kosi Orix",
(sem folhas, sem Orix), o que ocorre no terceiro dia de
enclausuramento do iniciando. A seleo das folhas litrgicas
utilizadas neste cerimonial varia de casa para casa, o que
significa dizer que, embora seja estritamente obrigatria a presena
das folhas do Orix que est sendo feito, alguns sacerdotes
acrescentam tambm as folhas de seu prprio Orix, outros juntam a, as
folhas do junt do iyawo, como tambm folhas especficas de Obatal. Os
Orixs so invocados e seus poderes individuais so catalisados em
forma de Ax, que Ex, em sua funo de elemento transportador, ir
direcionar em favor do iyawo, para que a metamorfose possa se
concretizar plenamente. O ritual divide-se em duas partes
distintas. Na primeira parte somente as energias geradoras so
invocadas, com exceo de Oxal, que embora sendo um Orix gerador, por
uma questo de hierarquia, invocado e saudado no final da segunda
parte, quando os Orixs provedores so homenageados e tm seus poderes
invocados em favor do iyawo. 3 14. 14 Ex no cria nem se intitula
pai de nada nem de ningum, limitando-se, outrossim, a promover
transformaes em todos os sentidos. Alguns Orixs, por acumularem as
funes de provedores e geradores, so invocados nas duas etapas do
rito. Para melhor compreenso das funes especficas de cada Orix, os
sacerdotes do culto dividiram-nos em duas categorias, nas quais no
so considerados seus posicionamentos hierrquicos. (Nestas
categorias so classificados como Orixs geradores e Orixs
provedores). Como Orixs geradores so considerados todos aqueles
que, de alguma forma, possuem o poder de gerar qualquer tipo de
manifestao de vida, e dentre eles encontramos: Iyemanj, Nan, Ogun,
Omol, Oxal, Oxun, Oy e Xang Os Orixs provedores so todos aqueles
que tm, como atribuio, suprir, em todos os aspectos, as
necessidades dos seres gerados pelas entidades anteriormente
relacionadas. So eles: Ex, Iyemanj, Loguned, Nan, Ob, Ogun, Omol,
Osaiyn, Oxal, Oxssi, Oxumar, Oxun e Yew. Como podemos observar,
Ogun, Iyemanj, Nan, Omol e Oxun, por acumularem as duas funes, so
relacionados nas duas categorias. O Olor do iyawo ser sempre
invocado nas duas partes do ritual, independente de pertencer a
qualquer dos dois aspectos. A primeira parte do rito precede ao "or
do lab", durante o qual, o iniciando submetido raspagem de cabea,
alm de outros procedimentos indispensveis sua consagrao ao Orix. A
finalidade, como afirmamos acima, obter-se o consentimento dos
Orixs geradores, para que possa ocorrer o surgimento de uma nova
personalidade, dotada de um carter religioso que dever sobrepor-se,
definitivamente, personalidade anterior. necessrio que as entidades
invocadas emprestem seu Ax ou fora propulsora, para que o fenmeno
possa se verificar com pleno sucesso e sem a interferncia de outros
seres espirituais, como Egun e Aj que, por qualquer motivo, queiram
interferir no processo o que, sem sombra de dvidas, resultar num
fracasso total, cujas conseqncias podem ser altamente negativas.
ORIX FUNFUN - A MAIS ALTA HIERARQUIA Como vimos, as divindades
africanas esto separadas em duas categorias hierrquicas. Na
categoria mais elevada, encontram-se as entidades que participaram
da criao do universo, consideradas como ancestrais espirituais de
tudo quanto possa ocorrer nos dois planos de existncia, chamadas,
para diferenci-las das demais, de "Orixs Funfun" (Orixs Brancos).
Neste aspecto, a filosofia religiosa yorubana em muito se assemelha
budista que afirma que, "No h um criador, mas uma infinidade de
potncias criadoras que formam em seu conjunto, a substncia Una e
Eterna, cuja essncia inescrutvel e por conseguinte, insuscetvel de
qualquer especulao por parte de um verdadeiro filsofo". 4 15. 15
Sendo emanaes diretas de Olorun, os Orixs Funfun so portanto, os
seres mais elevados da escala da existncia, encontrando-se no mesmo
nvel dos Arcanjos do cristianismo e dos "Filhos Maiores Nascidos da
Mente de Brahma" descritos nos Vedas, denominados Devas, Pitris,
Rishis, etc... Estas Divindades Criadoras so encabeadas por Obatal,
O Senhor das Vestes Brancas, tambm conhecido como Orixnl ou Oxal.
Oxal o Sopro Divino, a primeira manifestao individualizada de
Olorun que a vida una, eterna, invisvel, mas onipresente; sem
princpio e sem fim; inconsciente, mas Conscincia Absoluta;
incompreensvel, mas realidade existente por si mesma. Oxal o
Sopro-Divino, provoca o movimento que fecunda e energisa o Eterno
em repouso no Oceano-do-no-ser, onde tudo existe sem forma e,
ocasionando o surgimento da diferenciao, desperta o Plano Divino,
onde jaz oculta a elaborao de todos os seres e coisas futuras.
Obatal, o Primognito Divino, ao fecundar o Oceano Catico composto
de matria inerte e informe, provoca a exploso da vida, ocasionando
a primeira manifestao da Natureza, feminina, porque passiva. Tudo o
que exista ou possa existir oriundo desta essncia at ento inerte e
que, aps haver sido tocada, fecundada pelo princpio masculino,
manifesta-se e recebe o nome de Oduduwa. As guas-Abstratas-do-Espao
transformam-se nas guas-da-Substncia-Concreta, impulsionadas por
Obatal que na realidade, o Verbo ou Logos manifestado que, por sua
ao fecundadora, representa o princpio masculino da criao, longe
portanto de ser andrgino como propem alguns iniciados ao afirmarem
ser ele, a um s tempo, macho e fmea. Os Orixs Funfun so, em ltima
anlise, entidades da mesma categoria que Madame Blavatski
classifica os Seres Primordiais, "Dhyn Chohans dos ocultistas,
Rishi-Prajpati dos industas, Elohim ou Filhos de Deus dos judeus,
Espritos Planetrios de todas as naes que, sendo considerados
deuses, foram adorados e cultuados pelos homens." 5 Verger afirma
que ..."os Orixs Funfun so em nmero de cento e cinqenta e
quatro,...Orix Olufn Ajgun Koari; Orix Ogyan Ewle Jigbo; Orix
Obanjita; Orix Akire; Orix Eteko Oba Dugbe; Orix Olojo; Orix Arowu;
Orix Onrinj; Orix Ajagemo; Orix Jay; Orix Rwu; Orix Olba; Orix
Oluofin; Orix Eguin; Etc... 6 1 - LPINE, C. Contribuio ao estudo do
sistema de classificao dos tipos psicolgicos no Candombl Ktu de
Salvador. So Paulo, USP, 1978. Tese de doutorado. - Yoruba Beliefes
and Sacrificial Rites - Longman Group Limited - 1979. 2 - Dieux
d'Afrique. Paris, Paul Hartmann, 1957 3 - Oxal e Ex acumulam as
funes de geradores e de provedores dentro do contexto religioso,
muito embora no se reconhea em Ex o poder de gerao e sim o de
transmutao. 4 - Blavatsky, H.P. - A Doutrina Secreta. Sntese de
Cincia, Filosofia e Religio. Ed. Pensamento. 5 - Obra citada. 6 -
Verger, P.F. - Os Orixs - Ed. Corrupio - 1981). 16. 16 OXAL/OBATAL
Considerado como a mais importante Divindade no contexto religioso,
Oxal cultuado em todo o territrio de cultura yorubana, com nomes
diversos que variam de uma regio para outra. Em Ile If, Ibadan e
outras localidades conhecido como Orixan'la; na regio de Ogbomos
chamado de Orix Pp; em Ejigbo, Orix Ogiyn; em Ijyie, Orix Ijiye; em
Ugbo, Orix Onil. Oxal o Orix do Branco, smbolo da pureza
incontestvel. Detentor do princpio genitor masculino, qualquer
oferenda a ele dedicada deve ser composta de elementos inteiramente
brancos. Juana Elbein dos Santos quem afirma que "O ob, a oferenda
por excelncia para os Funfun, o ob ifin, o ob branco; todos os
animais, aves ou quadrpedes, devem ser dessa cor. O sangue vegetal
simbolizado pelo ori, manteiga vegetal, e pelo algodo; o sangue
mineral pelo giz e o chumbo. Sua oferenda preferida o sangue branco
do igbin (caracol), equiparado ao smen, do qual os Irunmale da
direita so os detentores por excelncia." 1 Dentre as principais
atribuies de Oxal, est o completo domnio sobre a vida e a morte
representado pelo "al" - emblema-smbolo composto de um pano de
brancura imaculada que mantm estendido, como forma de proteo, sobre
as diversas formas de vida que ocorrem nos dois planos de
existncia. Oxal o Sopro Divino, a primeira manifestao
individualizada de Olorun, que d incio a todo o processo da
existncia diferenciada. ODUDUWA Oduduwa um Orix sobre o qual existe
muita discordncia dos adeptos do culto. Se Oxal representa o
princpio masculino-ativo da criao, Oduduwa a representao do
princpio feminino-passivo, do qual surge a vida aps o processo de
"fecundao". Oduduwa um Orix Funfun absolutamente diferente dos
demais, embora semelhante em essncia, feminina, sendo cultuada em
diversas regies como esposa de Oxal, embora seja, em princpio, sua
irm. Uma grande controvrsia foi criada em torno deste Orix
colocando em dvida no somente o seu gnero, como tambm seu status no
complexo teognico desta religio. Oduduwa um Orix-Funfun feminino ou
um ancestral masculino divinizado por seus feitos notveis? Segundo
determinadas correntes mais atreladas s explicaes cientficas que s
filosficas, Oduduwa teria sido o fundador de If, capital espiritual
do povo Yoruba e fundador da dinastia que deu origem esta etnia.
Fonseca Jnior prope para o nome de Oduduwa a seguinte anlise
etimolgica: Odu-(ti-o): recipiente auto- gerador; Da: Criador(a);
Iwa: Existncia: Oduduwa; O Ser Criador da Existncia Terrena. o
mesmo autor que, em referncia a Oduduwa (personagem histrico),
apresenta a seguinte teoria: "...presume-se que Oduduwa teria ido
para a frica a mando de Olodumare (Jeovah), para redimir os
descendentes de Caim (Hetentotes) que, a semelhana de seu
ancestral, carregavam o sinal da Besta na testa.
(Gen.4,cap.15/16)". Mais adiante, Fonseca Jr. explica: 17. 17 2 -
Aps o pacto semelhante ao que foi feito entre Deus e Abrao, Ninrod
troca de nome passando a chamar-se Oduduwa; 3 - Oduduwa (Ninrod),
filho de Olodumare (Jeovah), parte para a terra prometida. (Vide
Gnesis, 12-1/2/3; Gen.17-4/5/6; 4 - Ninrod era descendente de No,
neto de Cam (Camita) e filho de Cusi (kusi). (Gen.10-8/9); 5 -
Abraho (ex-Abro), descendente de Sem (Semita) e Oduduwa
(ex-Ninrod), descendente de Cam (Camita), eram parentes. 2 A
explicao de Fonseca Jnior parece aumentar ainda mais a confuso que
teria sido gerada, segundo nos parece, num simples caso de homonmia
verificado quando o personagem histrico (masculino), fundador de
Ile If, resolveu adotar, qui por determinao religiosa, o nome do
Orix (feminino) a quem atribuda a "fundao" da Terra em que
habitamos. A tradio cuidou de alimentar a confuso, existindo ainda
hoje em Ile If, um marco monoltico adornado de misteriosos sinais,
denominado "Op Oraniyan" que acredita-se, demarque o local exato da
fundao da Terra. O mesmo monumento serve de tmulo a Oraniyan, rei
dos yorubanos, bisneto de Oduduwa e pai de Xang e de Ajak. Pierre
Verger toma posio diante da questo, afirmando ser Oduduwa ..."um
personagem histrico, guerreiro terrvel, invasor e vencedor dos
Igbo, fundador da cidade de Ile If e pai de reis de diversas naes
yorubas" . 3 Segundo Verger, foi o Padre Baudin que primeiro
classificou, em seu livro sobre religies de Porto Novo, Oduduwa
como Orix, sendo posteriormente seguido nesta teoria por
..."compiladores encabeados pelo tenente- coronel A.E. Ellis... A
obra de Ellis foi o ponto de partida de uma srie de livros escritos
por autores que se copiaram uns aos outros..." Verger confessa
comungar da opinio do Reverendo Bolaji Idowu quando este afirma que
"Oduduwa tornou-se objeto de culto aps sua morte, estabelecido no
mbito do culto dos ancestrais (e no das divindades)". Para reforar
ainda mais sua tese, o cientista continua: "A respeito de Oduduwa,
acumulou-se com o tempo, uma vasta documentao escrita, tida como
erudita porque constituda de textos, a nica valiosa aos olhos dos
letrados, mesmo que estes textos estejam inspirados por escritos
anteriores, inexatos e contrrios verdade". 4 O que o grande mestre
francs esqueceu-se de citar seria talvez, a primeira pista
esclarecedora, quando o prprio Idowu, na mesma obra, relata que "At
mesmo em Ile If onde predominam os cultos s divindades masculinas,
existe na liturgia, fortes indcios de tratar-se de uma Deusa, uma
Divindade Feminina. Em alguns pontos esclarecedores desta liturgia,
pode-se encontrar o termo "Iya Male" (Me das Divindades ou Me
Divina)... 5 ..."Em Ad, Oduduwa irrefutavelmente uma Deusa... e
parte da liturgia comea desta forma: Iya dakun gba wa o; - Oh Me!
ns suplicamos que nos libertes; ki o to ni to mo; - olhai por ns,
olhai por nossos filhos; 18. 18 ogbebi l'Ad ! - Tu s aquela que te
estabelecestes em Ad!" 6 O pequeno detalhe omitido suficiente para
concluirmos que existe na verdade, um culto a um Orix denominado
Oduduwa e que este Orix feminino, o que vem a coincidir com nossa
opinio. EX - O EIXO DO SISTEMA RELIGIOSO. Ex a divindade de maior
atuao no contexto religioso do Candombl. Resultado da interao
Obatal-Oduduwa, o primeiro elemento procriado e que, esotricamente,
seria a energia que rene os tomos, possibilitando a diferenciao da
matria a partir de uma essncia nica. o grande transformador, o
comunicador, o intermedirio entre os homens e as Divindades e entre
estas e o Supremo Criador. O termo "Ex" pode ser traduzido como
esfera. Ex, Elegbara, Elegba ou ainda Legba, seriam os nomes pelos
quais conhecido este poderoso Orix, o primeiro criado por Obatal e
Oduduwa, tendo Ogun como irmo mais novo. O culto de Ex muito
individual, cada indivduo, assim como cada coisa possui o seu
Legba, podendo portanto, edificar o seu assentamento, onde poder
cultu-lo e apazigu-lo. Entre os fons, existem diversos Legbas, ou
diferentes manifestaes de um mesmo Vodun, que recebem os seguintes
nomes e caractersticas: Axi-Legba: O Legba dos mercados e feiras.
Agbonosu (Rei do portal): Representado por uma pequena escultura em
barro colocado nas portas de entrada. um Legba individual.
To-Legba: Protetor de uma cidade ou aldeia. um Legba coletivo.
Zgbeto-Legba: Protetor dos caadores noturnos. Segundo se afirma,
possui cornos. Hun-Legba: Defensor dos templos. Legba individual de
cada Voduns. Legba Agbnukwe: O que fala no jogo de bzios.
Corresponde a Ex Akesan. o protetor, servidor e executor de If. ele
que recebe os sacrifcios determinados por If e deve ser sempre
servido em primeiro lugar. No existe nenhuma diferena de atribuies
de Agbonosu e Agbnukwe. Se o primeiro protege a casa contra a
possvel entrada de malefcios, o segundo, que deve permanecer num
quarto dentro de casa, protege contra a negatividade dos prprios
habitantes da mesma. Certos signos de If, tais como Ofun Meji,
Ogbe-Fun, Oxetura e Fu-Yeku, exigem que seja feito um assento muito
especial, denominado Legba Jobiona, onde os dois Legbas citados, so
cultuados em conjunto, com a funo de proteger a casa e toda a sua
periferia. Este Legba excepcional exige obs de tantos quantos o
visitem. Segundo a tradio nag, somente os grandes Babalawos podem
possu-lo. Possumos ainda informaes da existncia de um Legba com
quatro cabeas, denominado Legba Avi, surgido do Odu Jaga (nome dado
aos Odus Oxe-Irete e Irete-Oxe, signos cujos nomes no devem ser
pronunciados 19. 19 em decorrncia da grande carga de negatividade
de que so portadores. Um outro nome usado para mencionar estes
Odus, Gadeglido. Os Odu-If que falam exclusivamente de Legba, so
Odi-Gund, Gunda-Di e Di-Turukpon. Por sua importncia e atributos,
Ex sempre o primeiro a ser homenageado e cultuado em todos os
procedimentos ritualsticos. Seu carter ambguo e faz o mal ou o bem
de acordo com sua prpria convenincia. A atitude do africano diante
desta divindade de verdadeiro pavor, devido ao seu poder de atuao
sobre a vida e a morte, o sucesso e o fracasso, a riqueza e a
misria, de acordo com as determinaes de Olodumare, de quem o
executor de ordens. Por este motivo, todos os seguidores da
religio, procuram estar bem com ele, evitando desagrad-lo para no
se exporem sua ira. Bi b rbo, ki m t'Ex kuro - "Quando qualquer
sacrifcio oferecido, a parte que cabe Ex deve ser depositada diante
dele". Esta regra deve ser sempre observada porque desta forma
evita-se que, com atitudes maliciosas, Ex venha a ocasionar
contratempos e confuses de todos os tipos. Numa das mais
importantes louvaes de Ex, encontramos a expresso Ex, ot Orix -
"Ex, o adversrio dos Orixs" - o que reafirma os constantes
problemas existentes entre eles, ocasionados pela disputa do poder
e da autoridade. Entre os muitos nomes ou ttulos honorficos de Ex,
destacamos: Logemo orun: Indulgente filho do cu. A n'la ka'lu:
Aquele cuja grandiosidade se manifesta em plena praa. Pp Wr: Aquele
que apressadamente, faz com que as coisas aconteam de repente. A tk
ma xe xa: O que ele quebra em pequenos pedaos jamais poder ser
reconstitudo. Ex possui muitos emblemas, como a laterita, imagens
de madeira ou de barro sempre encimadas por uma lmina ou ponta
afiada, bastes flicos, etc... No Brasil, por influncia do
cristianismo, esta magnfica entidade foi comparada ao diabo e,
deste sincretismo, criou-se a imagem de Ex provida de rabo e
chifres, portando tridentes e por vezes, dotado de asas como as dos
morcegos. Se por um lado houve a inteno, por parte dos antigos
missionrios cristos, de desmoralizar Ex, devemos levar em conta
que, deixadas de lado as conotaes malficas injustas e
incompreensveis atribudas Lcifer (O Portador de Luz), Ex poderia
perfeitamente ser comparado a esta magnfica entidade espiritual ao
compreendermos suas verdadeiras funes e atribuies. Nas prticas
umbandistas encontramos um outro tipo de manifestao de espritos aos
quais, talvez por influncia do sincretismo com o Diabo,
convencionou-se dar o nome de Ex. 20. 20 Estas entidades, que se
apresentam sob diversas denominaes tais como, Marab, Tranca-Ruas,
Veludo, Caveira, Pomba Gira, Maria Padilha, Molambo, etc., so na
verdade, eguns, que se manifestam em seus mdiuns para cumprirem as
misses que lhes foram impostas, da mesma forma de outras que se
apresentam como pretos- velhos, caboclos, boiadeiros, ciganos, etc.
necessrio que se saiba a diferena entre Ex-Orix e estes outros
tipos de entidades, que no se encontram na mesma categoria
hierrquica e que devem ser tratados e reverenciados, de forma
diferente e especfica, mas que, independente de no serem Orixs,
possuem fora e poder para resolverem problemas e prestarem auxlio a
tantos quantos a eles recorram. O Orix Ex o nico dentre todos os
demais, que tem seu campo de ao ilimitado, podendo atuar em todos
os nveis da existncia universal, permitindo por este motivo, que
seja classificado tanto como Funfun como tambm como Ebora, tamanho
o seu poder de agir livremente. 1 - Santos, J.E. - Os Nag e a
Morte. Pad, Axexe e o Culto Egun na Bahia. - Vozes - Petrpolis -
1986.. 2 - Obra citada. 3 - 0bra citada. 4 - Obra citada. 5 -
Idowu, E.B. - Olodumare, God in Yoruba Belief - Longmans - 1962.. 6
- Idowu, E.B. - Obra citada. ADIMU - OFERENDAS AOS ORIXS 2 Parte AS
OFERENDAS Dentro do culto aos Orixs, o mais importante so as
oferendas aos Orixs, que tm por finalidade manter o equilbrio das
relaes entre eles e os seres humanos. atravs das consultas ao
Orculo de If, que as pessoas, mesmo as no iniciadas, so informadas
a respeito das exigncias de seus Orixs e principalmente de Ex,
relativas s oferendas que desejam receber. Nem sempre estas
exigncias so estabelecidas pela relao anteriormente explicada entre
o ser humano e seu Orix de cabea, muitas das vezes, um outro Orix
quem se oferece para solucionar um determinado problema ou alguma
dificuldade que est sendo vivenciada e, em troca, exige algum tipo
de sacrifcio em seu louvor. Algumas vezes, pessoas atormentadas
pelos mais diversos tipos de dificuldades, recorrem aos prstimos de
algum Orix, oferecendo algum tipo de sacrifcio como penhor de sua
confiana e de sua f, da mesma forma que os catlicos recorrem aos
seus santos, implorando graas e fazendo promessas que,
invariavelmente, so pagas somente aps a obteno da graa solicitada.
21. 21 Os sacrifcios oferecidos aos Orixs, so genericamente
denominados "ebs" que se dividem em "ejenbale" (sacrifcios com
derramamento de sangue) e "adims" (sacrifcios incruentos). Os ebs
ejenbale, dividem-se em diversos tipos, exigindo sempre o
derramamento de sangue de algum tipo de animal que pode ser uma
ave, um quadrpede ou at mesmo um simples caramujo. Dentre os mais
conhecidos, destacamos: Eb ej: Oferenda votiva que tem por
finalidade obter determinado favorecimento ou graa de uma
Divindade. Eb etutu: Sacrifcio de apaziguamento. Este tipo de
sacrifcio geralmente determinado pelo Orculo e tem por finalidade
acalmar a ira ou o descontentamento de uma entidade qualquer. Eb a
ye ipin ohun: Sacrifcio substitutivo. Tem por finalidade substituir
a morte de algum pela oferenda determinada pelo Orculo, no Brasil,
este sacrifcio vulgarmente conhecido como "eb de troca". Eb ba mi
d'iya: Sacrifcio que visa atenuar uma punio de morte imposta uma
pessoa por um Orix ou por um esprito maligno. Neste caso, como no
anterior, um carneiro sacrificado em substituio ao ser humano. Eb
Ogunkoj: Sacrifcio preventivo que pode ser pblico ou individual.
Tem por finalidade evitar qualquer tipo de acontecimento nefasto
que ameace a pessoa (individual) ou at mesmo uma cidade ou aldeia
(pblico). Eb a d'ibode: Trata-se de um sacrifcio propiciatrio e
preventivo. Este sacrifcio oferecido na fundao de uma casa, aldeia
ou cidade e tem por finalidade acalmar os espritos da terra no
local da fundao. Antigamente, este eb exigia o sacrifcio de seres
humanos que hoje em dia, foram substitudos por diversos animais.
Como podemos observar, o sacrifcio de seres humanos era exigido nos
primrdios do culto o que, sem dvida, seria hoje considerado um
absurdo, alm de configurar-se, seja em qual for a circunstncia, em
homicdio, selvageria e falta de respeito ao ser humano. Da mesma
forma, o derramamento do sangue de animais, s deve ocorrer em
situaes de extrema necessidade e em casos em que no possam ser
substitudos por outras oferendas pois, se os Orixs, acostumados que
eram a receberem sacrifcios humanos, concordaram na substituio dos
mesmos pelos sacrifcios de animais, fcil deduzir-se que estes podem
tambm dar lugar a sacrifcios de minerais, vegetais e objetos de seu
agrado. Adentramos uma nova era em que todas as formas de vida
adquirem sua valorizao mxima e a vida dos animais, da mesma forma
que a dos seres humanos, h que ser respeitada e preservada ao
extremo. chegada a hora de darmos um basta ao intil derramamento de
sangue que, ao invs de apaziguar os nossos deuses, s conseguem
despertar a sua ira, tornando-os intolerantes e cada dia mais
distantes de ns. necessrio que se desperte nos adeptos do Candombl
a conscincia do respeito devido a todas as formas de vida animal,
cujo sacrifcio s pode ser efetivado em casos excepcionalssimos e
quando todos os demais recursos hajam sido esgotados. num itan de
If, do Odu Odi Meji, que encontramos a fundamentao para as afirmaes
anteriormente feitas: 22. 22 Odi Meji disse: "Metolfi, por avareza,
no quis sacrificar um boi de malhas brancas e a morte veio
busc-lo." Quando If estava ainda no ventre de sua me, pediu que seu
pai pegasse um boi malhado de branco e oferecesse em sacrifcio, a
fim de evitar que dentro de trs anos, uma guerra viesse dizimar o
seu reino. Seu pai negligenciou o sacrifcio e no dia do nascimento
de If, seu pai morreu e sua me foi capturada como escrava. Trs anos
depois, a guerra arrasou o pas e If mandou que Ajinoto, a parteira,
o encerrasse dentro de uma cabaa, de forma que ningum o pudesse
ver. A parteira foi encarregada tambm, de avis-lo logo que algum
passasse por perto, para que ele revelasse ao passante, a causa de
seus sofrimentos e os remdios e sacrifcios que resolveriam todos os
seus problemas. Tudo ocorreu da forma como If planejara e o homem
que passou naquele local, no hesitou em levar para sua casa, a
cabaa onde If havia sido encerrado. Para deslumbramento de todos,
If, de dentro da cabaa, dava conselhos, receitava medicamentos e
resolvia os mais difceis problemas. Um dia If ordenou que algum se
dirigisse ao mercado onde, pelo preo de quarenta e um caurs,
deveria comprar sua me que estava sendo vendida junto com outras
escravas. "A primeira mulher que for oferecida deve ser comprada,
pois esta minha me." Naquela poca If costumava aceitar sacrifcios
humanos no festival de Fanuwiwa. Quando a escrava adquirida no
mercado foi trazida, If ordenou que lhe fosse entregue uma certa
quantidade de milho, para que pilasse e transformasse em farinha
destinada preparao o amiwo. Enquanto pilava o milho, a mulher ouvia
os fiis invocando If: "Orunmil! Akefoye! Agbo wi dudu hu do fe to!"
(Orunmil! Akefoye! Se teu nome If, jamais esquecers de mim!).
Reconhecendo em If o seu prprio filho, a pobre mulher ps-se a
cantar, em voz alta, a saudao que ouvia: "Orunmil! Akefoye! Agbo wi
dudu hu do fe to!" As pessoas contaram a If sobre a mulher que
cantava aquela saudao enquanto pilava o milho e If ordenou que ela
largasse aquele trabalho e que, no dia seguinte pela manh, chamasse
por ele junto com seus fiis, para que pudesse mostrar a todos de
que forma deveria ser corretamente alimentado. Ordenou ainda, que
fosse preparado um akpakpo e dois panos brancos de cabea
denominados kpokun abuta, proibindo a todos de olharem para aqueles
objetos. Como If vivera, at ento, fechado dentro de sua cabaa,
jamais havia sido visto por ningum. Quando todos se afastaram If
saiu de sua cabaa coberto por um grande chapu, vestindo um avental
de prolas e calando sandlias, indo sentar-se no alto de um trip de
onde gritou: "Olhem bem, sou eu, If! If que ningum nunca viu... A
mulher que mandei comprar no mercado de escravos deve ser trazida
at aqui!" 23. 23 A mulher foi trazida sua presena e If mostrou-a a
todo mundo dizendo: "Olhem bem, esta minha me! Quando eu estava no
seu ventre determinei que meu pai deveria sacrificar um boi malhado
de branco, para evitar malefcios que j estavam previstos. Mas meu
pai no atendeu minha orientao e todo o mal acabou por se
concretizar. Tanto tempo se passou e eu comprei esta escrava para
ser sacrificada em minha honra. Entretanto no a sacrificarei! No
poderia trair minha prpria me, mesmo que ela me tenha trado." Dito
isto ordenou que cortassem os longos cabelos de sua me, que
envolvessem sua cabea com um belo torso branco e que a instalassem
sobre a almofada akpakpo. Depois pediu um boi e um cabrito para
serem sacrificados. Com a farinha moda por sua me mandou preparar
um amiwo para ela, que no poderia ser comido em sua presena. Desta
forma, assentada sobre um akpakpo, transformou-se ela em N, me de
um rei. Aos jovens que prepararam as carnes do boi e do cabrito,
assim como o amiwo, ordenou que fosse dado uma parte de cada coisa,
para que comessem depois da cerimnia. 1 A velha disse ento a seu
filho, que sentia-se muito envergonhada, pois no merecia tantas
honrarias e que naquele dia iria encontrar-se em L (local para onde
vo os espritos dos mortos), com seu finado esposo. "A partir de
hoje, quando fizerem uma cerimnia em minha honra, digam: N kuagba!
(N seja bem vinda!), e virei receber as oferendas." - Disse a
mulher. N disse ainda, que faria o Sol tornar-se mais brando ou
mais quente, comandando-o de cima de seu akpakpo. A partir de ento,
realiza-se sempre o ritual de Xe N (dar comida N), quando terminam
os festivais Fanuwiwa. 2 Este Itan de If fundamenta a possibilidade
de substituio do sacrifcio de um ser humano pelo de animais, o que
nos leva a concluir a possibilidade da substituio do sacrifcio
destes por outros tipos de oferendas, partindo da premissa de que o
ritual criado pelo homem e no pelos deuses. Isto posto, passemos ao
assunto que , na verdade, o principal objetivo do presente
trabalho, a apresentao de uma vasta relao de oferendas incruentas
aos Orixs e a outras entidades cultuadas no candombl. O assunto ser
tratado de forma direta, atravs de um receiturio contendo os
ingredientes, o procedimento e o objetivo de cada trabalho, assim
como qual entidade deve ser oferecido. 1 - Depois das cerimnias de
N, aqueles que preparam os alimentos a ela oferecidos, recebem uma
pequena parte destes alimentos, parte esta que recebe o nome de kle
ou kele e que s pode ser consumida depois que o Vodun for servido.
(Este rito acompanha as cerimnias s divindades nag sob o nome Atowo
e s divindades fon sob o nome de Nudide). 2 - Itan coletado por
Bernard Maupoil na regio onde hoje fica a atual Repblica do Benin e
publicado em sua magnfica obra sobre o sistema oracular de If, LA
GEOMANCIE L'ANCIENNE CTE DES ESCLAVES. 24. 24 OFERENDAS A EX - Para
limpeza da casa. Pega-se um coco seco, pinta-se todo com uji,
rola-se pela casa de dentro para fora impulsionando-o com o p
esquerdo, como se fosse uma bola. Quando chegar na porta da rua,
pega-se o coco com a mo esquerda, leva-se uma encruzilhada aberta
de quatro esquinas e ali, atira-se o coco no meio da encruzilhada
com fora, para que se quebre. - Para problemas de infidelidade.
Abre-se um coco seco em duas partes. Dentro dele coloca-se um pedao
de papel de embrulho usado, no qual se escreveu, anteriormente, o
nome da pessoa infiel. Acrescenta-se 3 gros de pimenta da costa; um
pouco de azeite de dend; um pouco de mel; milho torrado e p de
peixe defumado. Fecha-se o coco e amarra-se com linha vermelha e
linha branca, enrolando-se bem at que o coco fique totalmente
envolvido pela linha. Coloca-se o coco diante de Ex e durante 21
dias acende-se uma vela diariamente, pedindo que a pessoa permanea
fiel ao seu parceiro. No vigsimo primeiro dia despacha-se numa
encruzilhada. (Quem no tem Ex assentado pode colocar o coco atrs da
porta da casa). - Para problemas de sade. Pinta-se um coco seco com
efun e depois unta-se todo com ori-da-costa ou, na falta deste,
manteiga de cacau. Coloca-se o coco num prato branco diante de Ex e
acende-se uma vela pedindo-se pela sade da pessoa enferma. A vela
deve ser substituda todos os dias, mesma hora, e o pedido
reiterado. No stimo dia, logo que a vela termine, o coco deve ser
levado e despachado na entrada de um cemitrio. - Defesa contra
inveja e olho-grande. Coloca-se um coco seco com uma vela acesa em
cima, onde dever permanecer por trs dias consecutivos. No terceiro
dia, despacha-se numa encruzilhada de quatro esquinas. - Para
desenvolvimento econmico. Abre-se um coco do qual se corta quatro
pedaos mais ou menos iguais. Estes quatro pedaos, depois de bem
lavados, so colocados num prato com a parte branca para cima. Sobre
cada pedao de coco coloca-se um pouquinho de mel de abelhas, um
pouquinho de azeite de dend e um gro de pimenta-da-costa. Coloca-se
o prato diante de Ex, ou atrs da porta e acende-se uma vela de sete
dias. No stimo dia, despacha-se tudo (inclusive o prato) numa mata.
- Para obter um amor. Tomar banho de gua de rio misturada gua de
coco verde durante cinco dias seguidos. - Para problemas de justia.
Escreve-se, num papel de embrulho usado, os nomes das pessoas
interessadas na questo, dos advogados e do juiz. Abre-se um coco
seco pelo meio e coloca-se dentro o papel com os nomes escritos;
milho torrado; 21 gros 25. 25 de pimenta-da-costa; mel de abelhas;
azeite de dend e p de efun. Fecha-se o coco e enrola-se muito bem
enrolado com linha preta e linha branca. Coloca-se num prato diante
de Ex, acende-se uma vela que se renova durante 21 dias. No final
dos 21 dias despacha-se numa mata. - Para melhorar a sorte. Rala-se
um coco seco e espreme-se a massa num pano branco. O sumo obtido
misturado a um copo de leite de cabra. Mistura-se com gua de rio e
toma-se trs banhos no mesmo dia, sendo um pela manh, um tarde e um
noite. - Para apaziguar Ex. Corta-se um coco seco ao meio, no
sentido horizontal. Uma das metades cheia de mel de abelhas, a
outra cheia de aguardente. Arreia-se aos ps de Ex com uma vela
acesa. No terceiro dia despacha-se nas guas de um rio. - Para
livrar uma pessoa ameaada de priso. Dois pombos brancos; ori; fita
branca; fita vermelha; fita azul e fita amarela. Numa mata fechada,
unta-se as pernas dos pombos com a manteiga de ori; amarra-se um
lacinho de cada fita nas suas duas patas; passa-se os bichos no
corpo da pessoa e solta-se com vida. preciso ter muito cuidado para
no machucar os animais. - Para livrar algum da priso ou de
problemas com a justia. Um boneco de pano branco do sexo da pessoa
para quem se vai fazer o trabalho. Dentro do boneco, se coloca o
seguinte: Um papel com o nome da pessoa; 7 gros de atar; 7 gros de
milho torrados; p de peixe defumado; um pedacinho de couro de ona
ou de outro felino de grande porte; um ovo de codorna inteiro e um
pedacinho do talo de comigo-ningum-pode. Costura-se o boneco e se
deixa diante de Ex dentro de um alguidar com pad de mel. O pad deve
ser renovado a cada sete dias e o boneco permanecer ali, at que o
problema esteja resolvido. Solucionada a questo, o boneco deve ser
levado para dentro de uma delegacia de polcia, para ali ser
deixado. Na volta oferece-se a Ex sete roletes de cana, dentro de
um alguidar com pad de aguardente. 26. 26 OFERENDAS A EGUN - Oguid.
Coloca-se de molho, numa panela de barro, uma quantidade de farinha
de milho bem fina (milharina). Esta farinha dever permanecer de
molho por dois ou trs dias at que fermente. Uma vez fermentada,
acrescenta-se canela em casca; anis estrelado em p (Pimpinella
anisum, L.),; baunilha (Epidendrum vanilla, L.) e acar mascavo.
Cozinha-se em fogo lento. Quando tudo tiver adquirido a consistncia
de uma massa, retira-se do fogo e enrola-se em folhas de mamona
(Ricinus communis, L.). Depois de enroladas e bem amarradas para
que no se abram, coloca-se uma panela com gua para ferver. Assim
que a gua estiver fervendo, coloca-se dentro, as trouxinhas,
deixando que cozinhem durante quinze minutos, retirando-se em
seguida e colocando-se de lado para que esfriem. Quando estiverem
frias, retira-se o invlucro de folhas e arruma-se numa travessa de
barro, regando-se com bastante mel. Deve-se fazer sempre, um nmero
de nove oguids ou ento, o nmero correspondente ao Odu que
determinou a oferenda. Entrega-se a Egun na porta do cemitrio ou
nos ps de uma rvore seca. - Olele Deixar, por 3 dias, uma poro de
feijo fradinho (Vigna sinensis, Endl.) de molho na gua. No terceiro
dia, moe-se o feijo fradinho no liqidificador usando a menor
quantidade de gua possvel, para que a massa resultante fique bem
espessa. Refoga-se, numa panela parte, uma cebola, pimento
vermelho, cominho, organo e tomate. Quando tudo estiver bem
refogado, junta-se 2 ovos e deixa-se no fogo por mais um tempo,
mexendo sempre, com uma colher de pau. Tira-se do fogo e coloca-se,
com a colher, pequenas pores em folhas de mamona, embrulhando-se em
forma de trouxinhas. Coloca-se as trouxinhas para ferver durante 25
minutos, depois do que, retira-se da gua e deixa-se esfriar. Depois
de frias, retira-se as folhas de mamona, arreia-se nos ps de Egun
e, no terceiro dia, retira-se e enterra-se num terreno baldio ou
dentro de uma mata. Importante: As comidas oferecidas a Egun no
levam sal, com exceo daquelas feitas para o consumo das pessoas,
das quais retira-se uma pequena poro para oferecer a Egun. -
Oferenda de coco a Egun para prejudicar uma pessoa. Pega-se um coco
seco grande, abre-se um dos olhos de forma que se possa introduzir
pelo buraco, depois de retirada a gua, o seguinte: Um papel com o
nome da pessoa, sua foto ou um pedao de pano de sua roupa, p de
osun; 9 pimentas-da-costa; um pouco de terra de cemitrio; um pouco
de terra de encruzilhada; um pouco de poeira da casa ou do quintal
da pessoa que se quer atingir; um pouco de leo de cobra; um pedao
de osso humano; um pedacinho do talo da folha de
comigo-ningum-pode; 9 gros de milho torrado. 27. 27 Depois que tudo
estiver dentro, tapa-se o buraco do coco com um pedacinho de pau ou
uma rolha de cortia. Coloca-se o coco dentro de um alguidar pequeno
e arreia-se diante de Egun. Durante 9 dias seguidos, acende-se uma
vela s 12 horas, outra s 18 e uma terceira s 24 horas. No fim dos 9
dias, leva-se a um rio e atira-se nas guas. Este trabalho muito
perigoso e prejudicial, s devendo ser feito em casos extremos. -
Trabalho para afastar um inimigo com a ajuda de Egun Um galho de
irko (Chlorophora Excelsa) de aproximadamente 1 metro. Numa das
extremidades, faz-se, no sentido longitudinal, uma abertura de uns
10 centmetros. Num papel branco, escreve-se 9 vezes, o nome da
pessoa que se deseja afastar. Um pedao de pano vermelho; 9
pimentas-da-costa; um pouco de pelo de gato preto; um pouquinho de
azougue; um pouquinho de alcatro; 9 agulhas; 1m. de fita vermelha;
1m. de fita branca; 1m. de fita amarela; 1m. de fita azul; 9 gros
de milho torrado; um pouco de osun; um pouco de uji; um pedao de
osso humano e um carretel de linha preta. Coloca-se todos os
ingredientes dentro do papel onde se escreveu o nome das pessoas e
faz-se um embrulho enrolado, em forma de charuto. Embrulha-se
novamente, com o pano vermelho e enrola-se com a linha preta,
usando toda a linha do carretel. O embrulho ento, enfiado na fenda
aberta na ponta do galho de irko. Em seguida, prende-se bem,
enrolando, primeiro a fita branca, depois a azul, depois a amarela
e finalmente, a vermelha, de forma que o embrulhinho fique bem
preso ao galho. Isto feito, coloca-se o galho num prato branco que
ser arriado diante de Egun. Durante 9 dias renova-se a vela. No fim
dos 9 dias leva-se ao cemitrio e espeta-se o galho, com a ponta
onde est o embrulho, numa sepultura fresca, pedindo ao Egun ali
enterrado que afaste a pessoa para bem distante. OFERENDAS A OGUN -
Para apaziguar Ogun. Prepara-se sete ecs, coloca-se num alguidar
com uma moeda corrente e um gro de atar em cima de cada um. Depois
de arrumados, acrescenta-se azeite de dend, mel de abelhas e
manteiga de cacau derretida. Junta-se, dentro do alguidar, bastante
milho torrado e rega-se com aguardente. Arreia-se diante de Ogun
com uma vela de sete dias. Despacha-se numa via frrea. - Para
evitar derramamento de sangue. Sete peixes frescos, sem serem
limpos, apenas lavados em gua corrente. Os peixes so arrumados numa
travessa de barro com as cabeas voltadas para fora. Sobre eles
coloca-se: azeite de dend; mel de abelhas; ori-da- costa derretido;
melado de cana e sete gros de atar (um sobre a cabea de cada
peixe). Arreia-se nos ps de Ogun, com uma vela acesa, durante
algumas horas (o tempo suficiente para que a vela se queime toda).
Depois disto, passa-se os peixes na pessoa para a qual se est
solicitando a proteo de Ogun. A pessoa deve ficar despida,
resguardadas as partes mais ntimas. Terminada a limpeza coloca- se
os peixes numa folha de papel pardo e se despacha numa linha de
trem. 28. 28 - Para obter proteo contra qualquer tipo de tragdia.
Um peixe pargo de bom tamanho; azeite de dend; gin; mel de abelhas;
milho torrado; feijo fradinho torrado e ori-da-costa. Coloca-se o
peixe numa travessa ou assadeira de barro; cerca-se com o milho e o
feijo torrados; tempera-se com os ingredientes relacionados.
Arreia-se diante de Ogun com velas acesas. Depois de trs horas,
despacha-se numa mata. - Para obter uma graa qualquer do Orix Ogun.
1 inhame-do-norte cozido; arroz cru; ori-da-costa; azeite de dend;
mel de abelhas; melado de cana; 7 pimentas atar e gin. Amassa-se o
inhame cozido e mistura-se a massa obtida com o ori-da-costa e o
arroz. Com esta massa, preparam-se, modelando-se com as mos, 7
bolas que, depois de prontas, sero arrumadas num alguidar de barro
onde j se colocou o milho torrado. Acrescenta-se os demais
ingredientes e oferece-se a Ogun, diante de seu igb onde dever
permanecer por sete dias. Despacha-se na mata. - Para apaziguar
Ogun. Para acalmar a ira deste Orix, basta oferecer-lhe uma
melancia aberta e regada com melado de cana. - Para que Ogun
defenda uma casa de malefcios. Uma faca de ao colocada no fogo at
que fique em brasa. Quando a lmina da faca estiver acesa, pega-se,
coloca-se em cima de Ogun e derrama-se sobre ele azeite de dend de
forma que o azeite escorra sobre a ferramenta do Orix. Esta faca
embrulhada em pano vermelho junto com os seguintes ingredientes: 1
fava de atar inteira; 7 gros de milho torrados; sete pedacinhos de
coco seco e um pouco de uji. Envolve-se tudo, inclusive a faca, no
pano vermelho e enrola-se, bem enrolado, com linha verde e linha
azul. Somente a lmina da faca dever ser enrolada pelo pano e pelas
linhas, o que formar uma espcie de bainha. Este fetiche dever
permanecer atrs da porta da casa e, todas as vezes em que Ogun
comer, dever ficar junto com ele, no igb, durante todo o tempo do
or e enquanto durar o preceito. - Para agradar Ogun: Pega-se 7 ovos
de codorna, unta-se com azeite de dend, mel de abelhas e p de efun.
Coloca-se num prato de barro, espalha-se por cima fumo de rolo
desfiado e molha-se com gin. Deixa-se diante de Ogun durante sete
dias com uma vela acesa. Despacha-se na mata. - Para evoluir ou
obter uma graa. Pega-se uma melancia inteira, corta-se um
quadradinho em forma de cubo (sem abrir a fruta); separa-se o
cubinho; escreve-se, em papel de embrulho, o que se deseja;
coloca-se o papel no buraco feito na melancia; tapa-se o buraco com
o prprio pedao extrado dali; arreia-se nos ps de Ogun, deixando ali
por 3 dias. Durante estes trs dias, acende-se uma vela e pede-se a
Ogun o que se deseja. Despacha- se na linha do trem. - Para obter
proteo pessoal de Ogun. Deixar, durante 7 dias, um coco seco dentro
do assentamento de Ogun. No stimo dia, retira-se o coco, quebra-se,
retira-se a polpa, descasca-se, rala-se, espreme-se com um pano
branco e virgem. Ao sumo obtido acrescenta-se meio litro de leite
de cabra, mistura-se num recipiente com gua de chuva e gua de rio
(meio a meio); acrescenta-se ainda: Um copo de gua de coco verde;
um copo de caldo de cana; sete colheres de mel de abelhas e sete
colheres de melado de cana. Mistura-se bem, e deixa-se o recipiente
diante de Ogun, por trs horas, com uma vela acesa. Depois de
decorridas as trs horas, toma-se banho com o lqido 29. 29
(inclusive a cabea); deixa-se o banho secar no corpo durante meia
hora e depois, toma-se banho com gua limpa e sabo da costa. A
pessoa deve usar somente roupas brancas nos sete dias seguintes e,
no mesmo perodo, ter que acender velas, bater cabea e rogar a
proteo do Orix. OFERENDAS A OXOSSI - Para resolver problemas de
justia. Num pano branco coloca-se os seguintes ingredientes: 7 gros
de milho torrados; 7 gros de atar; 7 pimentas malagueta; p de peixe
defumado; um pedao de talo de comigo-ningum-pode; 7 folhas de
hortel e um papel com o nome da pessoa que est sendo tratada.
Faz-se um embrulho com o pano branco, amarra-se bem com barbante
virgem, passa-se no corpo da pessoa e deixa-se no igb de Oxssi at
que o problema esteja resolvido. Resolvido o problema, a pessoa
beneficiada dever oferecer uma comida seca ao Orix, de acordo com a
orientao obtida no orculo. - Para boa sorte. Numa travessa de
barro, coloca-se sete peixes frescos inteiros com as escamas. Por
cima coloca-se: milho torrado; melado de cana; azeite de dend e
efun ralado. Deixa-se nos ps de Oxssi por trs horas e, em seguida,
leva-se a um mata e arreia-se aos ps de uma palmeira ou coqueiro. -
Para problemas de sade. Unta-se sete ovos de galinha dangola com
ori-da-costa; coloca-se dentro dum alguidar diante do assentamento
de Oxssi e coloca-se, sobre eles, um pouco de azeite de dend;
melado de cana; licor de anis; fumo- de-rolo desfiado e bastante p
de efun. Todos os dias, durante sete dias, passa-se um dos ovos na
pessoa enferma e separa-se para outro alguidar que dever ficar atrs
do igb. No stimo e ltimo ovo, coloca-se tudo num pano azul- claro,
amarra-se em forma de trouxa, leva-se uma mata e despacha-se num
tronco de rvore seca. - Para estabilidade financeira. Oferece-se, a
Oxssi, uma melancia aberta no meio e regada de melado de cana;
deixa-se diante de Oxssi por trs dias e despacha-se numa mata. -
Para falta de dinheiro. Pega-se sete cocs secos, pinta-se de branco
(efun) as partes de cima e de azul (uji) as partes de baixo.
Coloca-se os sete cocs num alguidar grande e, durante sete dias,
vai-se passando um coco por dia no corpo, tendo- se o cuidado de
separar os cocs utilizados para outro alguidar. Depois de passar o
ltimo coco, enrola-se o alguidar com os sete cocs num pano azul
claro e despacha-se em gua corrente. Uma vela de sete dias dever
permanecer acesa durante o tempo em que os cocs estiverem diante de
Oxssi. 30. 30 - Para obter uma graa qualquer. Sete roms (Punica
granatum, L.); melado de cana; azeite de dend; anis estrelado e
efun ralado. Coloca-se os roms abertos dentro de um alguidar e,
sobre eles, os ingredientes relacionados. Deixa-se diante de Oxssi
por sete dias com uma vela acesa, depois, despacha-se numa mata. -
Para assegurar boa sorte. Descasca-se e frita-se ligeiramente, em
gordura de coco, sete cebolas de casca vermelha. Arruma-se tudo
numa panela de barro e cobre-se com anis estrelado em p; melado de
cana; azeite de dend; p de peixe defumado e milho torrado.
Arreia-se nos ps de Oxssi com duas velas de sete dias acesas.
Depois de sete dias despacha-se na mata sem desarrumar o adim. -
Para agradar e apaziguar Oxssi. Prepara-se sete ecs. Em cada um
deles coloca-se um gro de atar, uma moeda de pequeno valor; uma
fava de anis estrelado e uma pitadinha de efun ralado. Arruma-se
num alguidar e rega-se com azeite de dend e um pouco de vinho
branco. Entrega-se a Oxssi com uma vela de sete dias e, depois
deste perodo, despacha-se nos ps de uma amendoeira. - Para agradar
Oxssi. Sete espigas de milho verde, grandes e tenras, so assadas na
brasa. As folhas que envolvem as espigas so separadas para forrar o
alguidar em que ser oferecido o adim. Assim que as espigas forem
retiradas do braseiro, ainda quentes, so regadas, uma a uma, com
azeite de dend, gordura de coco, melado de cana, um pouco de licor
de rom e p de peixe defumado. Depois disto arruma-se com as pontas
mais finas para cima, no alguidar j forrado com as folhas das
espigas. Coloca-se, dentro do alguidar, amendoim torrado e rega-se
tudo com vinho branco. Entrega-se a Oxssi com uma vela de sete
dias. No fim de sete dias, despacha-se numa mata. OFERENDAS A
LOGUNED - Pamonha que se oferece a Loguned. Rala-se sete espigas de
milho verde bem tenras. massa obtida acrescenta-se coco ralado e
acar. Envolve- se a massa nas folhas mais tenras que envolvem as
espigas, formando uma espcie de trouxinha que se amarra em cima com
palha da costa. Mergulha-se as trouxinhas em gua fervente e
retira-se logo em seguida. Deixa-se esfriar, abre-se as trouxinhas,
arruma-se numa travessa ou prato de loua. Ao redor coloca-se fatias
de coco seco cortado em tiras, rega-se com bastante mel e
oferece-se ao Orix. Despacha-se numa cachoeira. - Para agradar
Loguned. Prepara-se uma massa de milho verde igual da receita
anterior, dispensando-se o acar. Refoga-se uma boa quantidade de
camaro seco em leo de milho acrescentando-se cebola branca, pimento
doce, tomate, coentro picadinho, vinho branco e um pouco d'gua para
fazer o molho. Coloca-se a massa numa tigela e cobre-se com o
molho. Enfeita-se com 7 camares inteiros crus e folhas de hortel.
31. 31 - Para obter uma graa. Pega-se um peixe dourado, limpa-se
bem, retira-se as escamas e recheia-se com milho verde (gros);
milho torrado; cebola branca picada; pedacinhos de coco seco e 1 ob
picado em pedacinhos pequenos. Costura-se o peixe, tempera-se com
azeite de oliva e azeite de dend; organo em p; coentro e vinho
branco. Coloca-se para assar no forno. Quando o peixe estiver
assado, retira-se do forno, coloca-se numa travessa e cerca-se de
agrio ligeiramente fervido. Na boca do peixe introduz-se um papel
com o pedido da graa que se deseja obter. Cobre-se com bastante mel
de abelhas e vinho branco. Arreia-se nos ps de Logun e, no dia
seguinte, despacha-se num rio de guas limpas. - Para agradar
Loguned. Assa-se, num braseiro, 7 espigas de milho verde.
Cozinha-se, parte, uma poro de feijo fradinho misturado com a mesma
quantidade de amendoim. Pega-se o feijo cozido com o amendoim e
coloca-se num alguidar; arruma- se as espigas assadas com as pontas
para fora; rega-se com mel de abelhas; azeite de dend e vinho
branco. Deixa- se por trs dias diante do igb do Orix e despacha-se
dentro de uma mata. - Para agradar Loguned. Cozinha-se uma boa
quantidade de milho seco em gua pura. Pega-se sete camares grados,
aferventa-se ligeiramente tambm em gua pura. Prepara-se um molho
idntico ao descrito no adim nmero 2. Coloca-se o milho cozido numa
travessa ou tigela branca; arruma-se os camares em cima e cobre-se
com o molho. Enfeita-se com folhas de agrio e rega-se com mel de
abelhas e vinho branco. Arreia-se diante de Logun e despacha-se,
trs dias depois, na beira de um rio ou dentro de uma mata. - Para
atrair uma pessoa. Pega-se um coco seco, retira-se a gua e abre-se,
num dos olhos do coco, um buraco onde possam passar os seguintes
ingredientes: Um papel com o nome das pessoas interessadas; sete
favas de anis estrelado; sete pedacinhos de lrio florentino; sete
colheres de caf de gua-de-flor-de-laranja; a mesma medida de melado
de cana; a mesma medida de mel de abelhas; sete pedacinhos de acar
cndi; sete gotas de baunilha; sete folhinhas de hortel; sete ptalas
de rosa amarela e sete gotas de essncia de rosas. Completa-se com
vinho branco. Fecha-se o buraco com um pedacinho de madeira e
veda-se com cera de abelhas derretida. Enfeita-se o coco com laos
de fitas amarelas e azuis, leva-se uma cachoeira e coloca-se em
baixo da queda d'gua. Antes de levar, o coco deve ser apresentado
ao Orix. OFERENDAS A IYEMANJ - Adim para se obter uma graa.
Arruma-se sete espigas de milho verde assadas dentro de uma panela
de barro com o seguinte: Sete bolas de feijo fradinho cozido,
amassado e ligado com farinha de aca; sete biscoitos de araruta;
sete bananas da terra cortadas no sentido longitudinal e fritas em
gordura de ori-da-costa; sete bolas de mingau de milharina adoado
com acar mascavo. Depois de tudo arrumado dentro da panela rega-se
com bastante mel de abelhas e oferece-se 32. 32 Iyemanj,
acendendo-se duas velas. Deixa-se de um dia para o outro,
embrulha-se num pano branco e leva-se para o mar. - Para resolver
uma situao impossvel. Cozinha-se um inhame grande at que fique bem
macio. Coloca-se num recipiente qualquer e amassa-se com um garfo.
massa obtida acrescenta-se: farinha de milho bem grossa; meio copo
de melado de cana; um pouquinho de azeite de dend e um pouco de mel
de abelhas. Mistura-se tudo muito bem e modela-se 7 bolas, que so
arrumadas numa travessa branca. Sobre as bolas despeja-se bastante
melado de cana; p de efun e p de peixe defumado. Oferece-se, diante
do igb, com uma vela acesa, deixando por sete dias. Despacha-se na
beira do mar. - Para obter uma graa. Pega-se um melo bem grande,
abre-se uma tampa no alto e retira-se a polpa. Coloca-se, dentro da
fruta, os seguintes ingredientes: Sete bolinhas de milho vermelho;
sete bolas de inhame; sete rodelas cortadas de uma espiga de milho
verde; sete peixinhos secos; sete cebolas brancas pequenas; sete
bolas de arroz branco cozido; sete bolinhas pequeninas de
ori-da-costa; sete colheres de leo de amndoa-doce; mel de abelhas e
melado de cana. Coloca-se o melo num prato grande ou bandeja
forrada com pano branco, diante de Iyemanj e acende-se sete velas
que devem ser renovadas por sete dias, tempo em que o adim
permanecer diante do Orix. Despacha-se na beira do mar. - Para
obter sade ou estabilidade financeira. Colocar dentro de uma
travessa de barro: Sete pargos frescos bem pequenos; sete gros de
atar; sete gros de milho torrado; sete moedas correntes; um pouco
de p de osun; sete agulhas de crochet; um pouco de areia da praia;
sete colheradas de azeite de amndoas; sete colheres de mel de
abelhas e sete colheres de melado de cana. Entrega-se Iyemanj na
desembocadura de um rio com o mar. O mesmo adim pode ser oferecido
Olokun. Neste caso substitui-se as agulhas de crochet por anzis e
se entrega diretamente nas guas, em alto mar. - Para que Iyemanj
trabalhe em favor de algum. Colocar-se, aos ps de Iyemanj, uma
cesta com frutas variadas, cobre-se tudo com bastante folhas de
beldroega (Planta herbcea, da famlia das cariofileas). Deixa-se,
diante do Orix, durante sete dias com uma vela votiva acesa. Findo
o prazo, leva-se uma praia e arreia-se na areia com sete velas
acesas. - Para firmar a cabea de uma pessoa. Coloca-se a sopeira de
Iyemanj no solo, sobre uma esteira forrada de branco. Em volta
coloca-se nove pratos brancos. Dentro de cada prato coloca-se um
ovo de pata (cru); um pouco de mel de abelhas sobre os ovos; uma
pequena poro de coco ralado e uma pitadinha de p de efun. Ao lado
de cada ovo, dentro dos pratos, acende-se uma vela de sete horas. A
pessoa, depois de limpa e lavada com omi er de folhas frescas de
Iyemanj, veste uma roupa branca e deita-se no quarto do Orix por
uma noite. No dia seguinte colocam-se os ovos dentro de uma
cestinha de palha e despacha-se no mar, na stima onda que bater.
33. 33 - Para resolver qualquer tipo de problema. Pega-se 21 frutas
de diferentes espcies, pica-se em pedaos bem pequenos e mistura-se
dentro de uma tigela branca. Prepara-se um cozido com vinte e um
diferentes tipos de legumes bem picados e cozidos em gua pura.
Separa-se os legumes em outra tigela branca. Cozinha-se, em gua sem
sal, vinte e um diferentes tipos de gros como: milho, canjica,
feijes de todos os tipos (menos preto), soja, arroz, etc. e
separa-se tudo numa outra tigela. Coloca-se tudo dentro de um
balaio, deixando que as coisas se misturem. Por cima coloca-se um
pargo fresco de tamanho mdio, em cuja boca, introduz-se um ob bat.
Enfeita-se tudo com folhas de beldroegas e vinte e uma rosas
brancas. Salpica-se vinho branco em cima, enfeita-se com fitas
brancas, rendas, etc. Leva-se praia e entrega- se Iyemanj, com
muito or e cantigas do Orix. - Para calar a boca de uma pessoa
maledicente. Retira-se um cubinho da casca de uma melancia, com o
auxlio de uma faquinha. No buraquinho, introduz-se um papel com o
nome da pessoa de lngua ferina e tapa-se com o pedao que dali foi
retirado. Deixa-se, durante quatro dias nos ps do Orix, depois do
que, leva-se a uma linha de trem deixando ali, de forma que a fruta
seja esmagada pelo trem. - Adim para agradar Iyemanj e obter sua
proteo. Descasca-se sete cebolas brancas e frita-se, ligeiramente,
em azeite de amndoas. Depois de bem douradas as cebolas, abre-se
nelas, com uma faquinha, um buraco onde se introduz um papel com o
pedido que se deseja obter e um grozinho de atar. Coloca-se as
cebolas num prato branco e se acrescenta, sobre elas, os seguintes
ingredientes: Mel de abelhas; melado de cana; um pouco de vinho
branco; um pouco de vinho tinto suave e bastante milho torrado.
Deixa-se, durante sete dias, diante do igb do Orix, sempre com
velas acesas. Despacha-se na beira da praia. - Para obter uma graa
com ajuda de Iyemanj. Numa cesta de vime forrada de pano azul,
coloca-se sete peixes fritos em azeite de amndoa; sete bananas da
terra verdes; sete punhados de canjica cozida; sete bolos de arroz;
sete pedaos de coco seco; sete ecs; sete oleies e sete moedas
brancas. Enfeita-se tudo com flores brancas e entrega-se Iyemanj
diretamente na praia, com velas acesas e uma taa de vinho branco. -
Para agradar e apaziguar. Corta-se sete roms ao meio. Dentro de
cada um deles se coloca uma moeda e um gro de atar. Arruma-se as
frutas dentro de uma panela de barro, derrama-se por cima: azeite
de dend, mel de abelhas, melado de cana, vinho branco e sete balas
de leite ou de coco. Deixa-se durante sete dias diante do igb de
Iyemanj e, depois, despacha-se dentro do mar. - Para apressar a
soluo de qualquer tipo de problema. Um peixe pargo bem assado
colocado numa travessa de barro e recoberto com rodelas de
banana-da-terra previamente cozidas. Dentro do peixe j estar um
papel no qual se escreveu o desejado. Por cima de tudo, derrama-
34. 34 se melado de cana e vinho branco. A panela deve ficar cheia
at a borda. Deixa-se, durante sete dias diante de Iyemanj e depois,
despacha-se em pedras onde as ondas do mar estouram. - Para agradar
Iyemanj. Forra-se uma travessa de barro ou de loua com folhas de
alface e sobre elas arruma-se: 7 ecs; 7 oleles; 7 oguids; sete acas
de milho vermelho desembrulhados; sete pedaos de coco seco; sete
espigas de milho assadas; sete moedas; sete bolinhas de
ori-da-costa. Depois de tudo arrumado na travessa tempera-se com
azeite de dend, mel de abelhas, melado de cana, atar, p de efun e
vinho branco. Este adim permanece, durante sete dias, diante do igb
do Orix com duas velas acesas. Despacha-se nas guas de um rio. -
Para alcanar uma graa impossvel Coloca-se, dentro de um copo de
cristal, um papel onde se escreveu o que se deseja obter. Enche-se
o copo com melado de cana misturado a vinho branco. Coloca-se
diante de Iyemanj e cobre-se com um pano branco virgem. Por cima
coloca-se um prato branco sobre o qual se acender uma vela todos os
dias, durante 21 dias. Findo este prazo o copo com seu contedo, o
pano e o prato, sero levados uma praia e atirados ao mar, o mais
longe possvel. OFERENDAS A OXUN - Para atrair uma pessoa. Abre-se
uma cabaa ao comprido, limpa-se bem retirando todas as sementes e
as pelculas de seu interior e se coloca dentro: O nome da pessoa
que se quer atrair escrito em papel de embrulho; 5 agulhas de
coser; 5 pedacinhos de galho de irko; 5 gros de pimenta-da-costa;
um pouco de mi