Adesivos Odontológicos de Prof. Dr. Fernando Mandarino 1 Introdução O maior problema da Dentística Restauradora era a falta de adesão dos materiais restauradores às estruturas dentárias, a qual permitia uma infiltração marginal, que leva à descoloração marginal, fraturas marginais, reincidência de cárie, sensibilidade pós-operatória e reações pulpares (8,31) . No entanto, através da introdução da técnica do condicionamento ácido do esmalte por Buonocore (9) , em 1955, criou-se uma nova perspectiva nos procedimentos restauradores dando início à Odontologia Adesiva. O condicionamento ácido do esmalte cria uma descalcificação seletiva, formando poros. Esses poros na superfície do esmalte aumenta o embricamento mecânico pela penetração da resina formando o que se chama de “tags” permitindo a adesão (22) . A adesão ao esmalte é um processo universalmente aceito e de efetividade comprovada, entretanto, nem sempre as margens de uma restauração estão exclusivamente em esmalte (18, 20) . Com a finalidade de obter o mesmo sucesso que o condicionamento ácido do esmalte, esta técnica foi realizada na dentina, sem contudo obtê-lo, pois apesar do esmalte e a dentina serem tecidos mineralizados e
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Adesivos Odontológicos
de Prof. Dr. Fernando Mandarino
1 Introdução
O maior problema da Dentística Restauradora era a falta de adesão dos materiais
restauradores às estruturas dentárias, a qual permitia uma infiltração marginal, que leva
à descoloração marginal, fraturas marginais, reincidência de cárie, sensibilidade pós-
operatória e reações pulpares (8,31) . No entanto, através da introdução da técnica do
condicionamento ácido do esmalte por Buonocore (9), em 1955, criou-se uma nova
perspectiva nos procedimentos restauradores dando início à Odontologia Adesiva.
O condicionamento ácido do esmalte cria uma descalcificação seletiva,
formando poros. Esses poros na superfície do esmalte aumenta o embricamento
mecânico pela penetração da resina formando o que se chama de “tags” permitindo a
adesão(22). A adesão ao esmalte é um processo universalmente aceito e de efetividade
comprovada, entretanto, nem sempre as margens de uma restauração estão
exclusivamente em esmalte(18, 20). Com a finalidade de obter o mesmo sucesso que o
condicionamento ácido do esmalte, esta técnica foi realizada na dentina, sem contudo
obtê-lo, pois apesar do esmalte e a dentina serem tecidos mineralizados e conterem os
mesmos componentes inorgânicos, apresentam diferenças morfológicas e na
composição orgânica, que são fundamentais no processo de adesão nesses tecidos(9). A
dentina é um tecido histologicamente complexo, predominantemente tubular, com a
presença de umidade e prolongamentos odontoblásticos, fatores estes que dificultam a
adesão dos materiais a sua superfície. Com a evolução dos sistemas adesivos,
conseguiu-se uma melhora na capacidade de adesão e redução da microinfiltração
marginal em dentina. Para isso, houve a necessidade de realizar procedimentos
invasivos nesse tecido que poderiam acarretar danos à polpa, uma vez que, a dentina
abriga em seu interior prolongamentos de células do tecido pulpar, portanto, não
podendo ser considerada um tecido isolado, e sim um complexo dentino-pulpar( 42,43,47,45).
Iremos apresentar os aspectos relacionados com a reparação pulpar frente ao
condicionamento ácido, demonstrando os aspectos principalmente biológicos.
2 Esmalte
2.1 Composição química do esmalte e estrutura
O esmalte dental é um tecido mineralizado poroso de estrutura basicamente
prismática. A porção inorgânica constitui 96%, formada principalmente por fosfato de
cálcio na forma de hidroxiapatita. Ainda está composto por 3% de água, e o material
orgânico, formado principalmente por proteínas(011). A Figura 1 ilustra a proporção dos
componentes química do esmalte.
Figura 1. proporção dos componentes química do esmalte.
O componente orgânico é constituído de proteínas soluvéis e insolúveis e
peptídeos que estão presentes em quantidades aproximadamente iguais. O esmalte varia
consideravelmente em espessura nas diferentes regiões do dente e entre os diferentes
tipos de dentes. É mais espesso nas cúspides e nas bordas incisais é mais delgado
terminando na margem cervical.
A porção inorgânica apresenta-se sob a forma de cristais, que unidos originam os
prismas de esmalte. Esses prismas iniciam-se na junção amelodentinária e dirigem-se
para a superfície, apresentando uma variação de tamanho de 4 a 7 µm (Firuga 2).
Porém, a porção mais externa do esmalte está constituído principalmente pela porção
orgânica, desprovida de prismas, pois os cristais apresentam-se paralelos uns aos outros
e perpendicular à superfície externa do esmalte, sendo denominada dessa forma de
esmalte prismático(0 1).
Figura 2. Estrutura do esmalte.
2.2 Condicionamento Ácido do Esmalte
O condicionamento ácido remove aproximadamente 10 µm da superfície de
esmalte e cria poros de 5 à 50 µm de profundidade. Assim quando o adesivo é aplicado,
ele flue nos microporos criando uma retenção micromecânica com o esmalte. Ainda o
condicionamento aumenta o molhamento e a área de superfície do esmalte.
GWINNETT et al(23) & SILVERTONE et al(46) descreveram os três padrões de
condicionamento ácido do esmalte). O mais comum ou o tipo I , o padrão de
condicionamento envolve a remoção preferencialmente do núcleo dos prismas de
esmalte; os prismas periféricos permanecem relativamente intactos (Figura 3). O tipo II
de padrão de condicionamento é o contrário do anterior ou seja, a periferia é removida
e o núcleo mantém-se intacto (Figura 4). E o tipo III inclue áreas alternadas de cada tipo
de padrão de condicionamento (Figura 5).
Figura 3. Padrão de condicionamento tipo I
Figura 4. Padrão de condicionamento tipo II
Figura 5. Padrão de condicionamento tipo III
Dois tipos de tags de resina têm sido descritos como:
=>Macrotags - são formados nos núcleos dos prismas de esmalte.
=>Microtags - são formados nos núcleos dos prismas de esmalte. Os microtags
provavelmente contribuem mais para a resistência adesiva por causa da quantidade e
largura da área de superfície.
2.3 Fatores que Interferem no Condicionamento Ácido do Esmalte:
=> Tipo de ácido usado
Vários são os ácidos utilizados mas, o ácido fosfórico na concentração de 30 à
40% tem sido recomendado como a melhor forma para obter uma superfície para
adesão. Por causa do ácido fosfórico ser relativamente agressivo removendo quantidade
substancial de esmalte, outros agentes desmineralizantes tem sido testado como: EDTA,
ácido pirúvico(10%).
=> Concentração do ácido
Existe alguma controvérsia sobre a concentração do ácido fosfórico, que
promove um bom padrão de condicionamento ,porque alguns ácidos tem sido descritos ,
que formam precipitados na superfície a qual interfere na adesão. Um estudo
demonstrou que a aplicação do ácido fosfórico à 50% por 60 segundos no esmalte
produziu um precipitado de fosfato monocálcio monohidratado que pode ser removido.
Já o precipitado de fosfato dicálcio dihidratado produzido pelo condicionamento ácido
com o ácido fosfórico numa concentração menor que 27% não foi removido facilmente.
Assim este tecido na concentração entre 30 à 40%, são freqüentemente utilizados sem
comprometer a adesão ao esmalte.
=> Tempo de aplicação
O tempo de condicionamento tem sido reduzido do tradicional 60 segundos
com 30 `a 40% do ácido fosfórico para 15 segundos. Estudos com SEM tem
demonstrado que o tempo de condicionamento ácido de 15 segundos promove a mesma
rugosidade que no tempo de 60 segundos. Estudos laboratorias têm demonstrado que a
resistência ao cisalhamento e a infiltração marginal são similares tanto em 15 /60
segundos no tempo de condicionamento.
=> Apresentação do ácido
Os ácidos podem apresentar-se sob 2 formas: Gel e Solução.
=> Tempo de lavagem
A lavagem é uma fase importante. O tempo de lavagem de no mínimo 15
segundos é geralmente utilizado para a remoção do precipitado formado pelo
condicionamento ácido.
=> Composição química e condição do esmalte
=> Dente decíduo ou permanente
=> Esmalte flouretado/ manchado/ desmineralizado
A estrutura do esmalte interfere no padrão de condicionamento, ou seja, o
mesmo pode apresentar maior ou menor resistência (Figura 6).
Figura 6. Esmalte prismático e aprismático.
3 Dentina
Com o sucesso do condicionamento ácido no esmalte, os pesquisadores
começaram a realizar o condicionamento ácido em dentina, que até hoje não se
encontrou uma maneira efetiva para obter uma melhor adesão. Recentemente os
sistemas adesivos estão apresentando um melhor desempenho aumentando o nível de
sucesso clínico.
A dentina é composta por 70% de substância inorgânicas (hidroxiapatita), 20%
de substância orgânica(colágeno) e 10% de água. A Figura 7 ilustra a proporção da
composição química da dentina.
Figura 7. Proporção da composição química da dentina.
As entidades estruturais básicas da dentina são: prolongamentos odontoblásticos,
túbulos dentinários, espaço periodontoblástico, dentina peritubular'e a dentina
intertubular (Figura 8).
Figura 8. Estrutura da dentina.
A dentina apresenta um aspecto tubular, com os túbulos dirigidos
perpendicularmente à superfície em relação ao plano oclusal. Sua quantidade e diâmetro
médios variam de acordo com a proximidade com o tecido pulpar. Onde próximo à
junção amelodentinária apresenta, em média, 10.000 túbulos mm2, na porção média,
30.000 túbulos mm2 e, próximo à polpa, 50.000 túbulos mm2 (Figuras 9 e 10). Em
relação aos diâmetros são de 0,87 m próximo à junção amelodentinária e de 2,5 m
próximo da polpa.
Figura 9. Dentina superficial
Figura 10. Dentina profunda
Esse importante tecido mineralizado, a dentina, deve ser visto como uma
extensão anatômica e fisiológica da polpa, apresentando componentes estruturais
básicos, os prolongamentos odontoblásticos, os túbulos dentinários, o espaço
periodontoblástico e a dentina peritubular e intertubular Os túbulos dentinários alojam
os prolongamentos odontoblásticos que se formam durante a dentinogênese(49,37). Eles
permanecem nos túbulos da dentina completamente formada e se estendem por toda a
extensão dentinária. O diâmetro e o volume do lúmen dos túbulos variam, dependendo
da idade do dente e da localização dentro da dentina. O espaço periodontoblástico
localiza-se entre a parede do túbulo e o prolongamento odontoblástico. Este “espaço”
contém líquido tecidual e alguns constituintes orgânicos tais como fibras colágenas, e
isso é importante porque ocorreram neste local mudanças tissulares na dentina. Os
prolongamentos odontoblásticos constituem o tecido vivo da dentina.
As dentinas peritubular e intertubular são mineralizadas. A dentina peritubular
envolve os túbulos e é caracterizada por seu alto conteúdo mineral. Já a dentina
intertubular se acha situada entre os túbulos dentinários ou na periferia da dentina
peritubular, sendo menos mineralizada, constituindo a massa dentinária propriamente
dita. Apesar do seu alto grau de mineralização, cerca da metade do seu volume é
composto por uma matriz orgânica representada por fibras colágenas envolvidas por
substância amorfa (Figuras 11 e 12). Devido a estas diferenças morfológicas e de
composição, mecanismo de adesão à estrutura dentinária se torna mais complexo
quando comparada ao do esmalte.
Figura 11- Dentina intertubular
Figura 12 - Dentina peritubular
Desde o estágio de desenvolvimento inicial até o seu amadurecimento, a dentina
sofre transformações no que diz respeito da mineralização. Sendo um processo contínuo
que pode ocorrer, fisiologicamente com a idade do indivíduo ou patologicamente como
resposta a um estímulo podendo ser carioso ou como resposta aos procedimentos
operatórios e restauradores. Tais modificações ocorrem ao nível peritubular (Figuras 13
e 14).
Figura 13 - Processo carioso
Figura 14 - Fisiológico
A capacidade formadora dos odontoblastos continua mesmo com a erupção do
dente. A atividade odontoblástica durante a formação do dente é de 4mm de dentina por
dia. Após a formação radicular ocorre diminuição da deposição de dentina, para 1mm
de dentina por dia. Quando se observa um preparo cavitário profundo, a deposição
dentinária aproxima-se de 3,5 mm por dia durante os 27 a 48 dias pós-operatório.
Em 1959, Kuttler(32), propôs uma classificação para identificar as várias formas
de dentina, classificando-as em três tipos básicos:
=> Primária - é a dentina original ,normal e regular, a maior parte formada antes da
erupção do dente.
=> Secundária - é a que se forma devido aos estímulos de baixa intensidade, decorrente
de função biológica normal durante a vida clínica do dente. Difere da primeira, por
apresentar túbulos dentinários mais estreitos e tortuosos. A dentina secundária é
depositada em toda a superfície pulpar, especialmente no teto e no assoalho da câmara
pulpar. Como resultado da contínua deposição de dentina secundária, o volume pulpar
vai se tornando cada vez menor com o passar da idade. Os túbulos dentinários sofrem
uma mudança brusca de direção na região onde termina a dentina primária e começa a
secundária, caracterizando microscopicamente uma linha de demarcação nítida entre os
dois tipos de dentina.
=> Terciária - Desenvolve-se quando existem irritações pulpares mais intensas, como
sanguíneos e partículas do hidróxido de cálcio. O tecido com a zona de obliteração sofre
a uma ação do hidróxido de cálcio com um efeito químico fraco alcançando a área
subjacente e resultando numa zona de necrose e trombose dos capilares denominada de
zona de mumificação. Esta zona de mumificação (0,2- 0,5 mm) representa o tecido
desvitalizado sem completa obliteração e com pouco infiltrado e células inflamatórias.
No entanto o componente celular é diminuído, hemólise dos eritrócitos, odontoblastos
mortos.
A zona de mumificação estimula o tecido pulpar adjacente a responder com
formação de barreira mineralizada. A sequência de reparo do tecido começa com
mudanças vasculares, migração de células inflamatórias e eliminação dos agentes
irritantes.
O hidróxido de cálcio, com o seu elevado pH, é capaz de induzir a mumificação, a
zona de mumificação é removida pela fagocitose, e substituição pelo tecido de
granulação com maturação e formação da barreira mineralizada.
Injúria química intensa => Zona de mumificação => fagocitose =>
=> Tecido de granulação => Barreira mineralizada
7.4.2 Hidróxido de cálcio com baixo pH
Não existe zona de mumificação assim a injúria química é menor. Apresenta
capacidade de formar uma barreira mineralizada mais mineralizada, a qual é a grande
vantagem.
Injúria química intensa => Zona de mumificação => fagocitose =>
=> Tecido de granulação => Barreira mineralizada mais uniforme
7.4.3 Hidróxido de cálcio - Ação bactericida
Muitos estudos demonstraram que há uma mínima relação no sucesso do
capeamento pulpar em exposições contaminadas, expostas ao ambiente oral por três
horas, cinco ou sete dias, quando produtos à base de hidróxido de cálcio são usados.
Testando o potencial bactericida do hidróxido de cálcio, ISERMANN &
KAMINSKI(25) infectaram intencionalmente polpas expostas com Streptococus faecalis
e Streptococus sanguis antes do capeamento com esse agente e encontraram pequena
diferença na resposta de reparo com e sem contaminação. BRANNSTROM(07), em 1979
colocaram um filtro embebido com Streptococus sanguis sobre polpas expostas de cães
por dois dias e dez semanas, após o que encontraram barreira mineralizada muito
espessas. Estes fatos contrapõem-se as opiniões de que o capeamento pulpar é
recomendado apenas para exposições traumáticas ou mecânicas pequenas e tratadas
imediatamente ou poucas horas após a injúria. STANLEY (48) não acredita no conceito
de que os microorganismos permaneçam latentes numa polpa durante meses e anos após
a contaminação de uma exposição e então repentinamente comecem a se multiplicar e
produzir um episódio agudo doloroso. É difícil aceitar que o tecido pulpar possa
necrosar, pelos microorganismos latentes e, depois, causarem pulpite aguda purulenta e
desse modo responsabilizarem a contaminação, ocorrida meses antes. Quando ocorre a
necrose meses ou anos depois do capeamento é porque ocorreu uma nova infecção.
7.4.4 Condicionamento Ácido em Polpa Exposta
Um dos critérios para avaliação do resultado de um tratamento restaurador se
fundamenta na resposta do complexo dentinopulpar a esse procedimento, cuja
interpretação dentro do contexto clínico-biológico está diretamente relacionada com a
organização estrutural e funcional desse complexo, sob condições normais e
fisiológicas, assim como sob influências terapêuticas e patológicas.
O interesse pela técnica do condicionamento ácido do complexo dentinopulpar
começou a ganhar mais adeptos a partir de observações de BRANNSTROM &
NODERVALL(06) quando, em algumas ocasiões de seus experimentos, ocorreu
inadvertidamente o contato de soluções ácidas em pequenas exposições pulpares de
cavidades profundas. O fato foi descoberto nos exames histopatológicos e, de acordo,
com esses resultados, foi relatado que quando a infecção era evitada não ocorria danos à
polpa, devido ao efeito ácido. A partir daí, estudos anteriores enfocando o tipo de
resposta pulpar frente ao condicionamento ácido da dentina começaram a ser
contestados. Atribui-se aos materiais de vedamento e/ou protetores empregados nesses
trabalhos a causa pela resposta inflamatória ocorrida no tecido pulpar. O excesso de
eugenol por suas características químicas, apesar do óxido de zinco/eugenol ser bom
vedador biológico, e o cimento de hidróxido de cálcio, por não aderir adequadamente à
estrutura dentária e permitir a invasão bacteriana, poderiam efetivamente ser os
responsáveis pela resposta inflamatória da polpa.
Sendo assim, existe uma tendência a se acreditar que, se for conseguido um
selamento hermético nas margens da restauração, o eventual trauma causado por
exemplo, por um condicionameto ácido é perfeitamente superado pela polpa. É comum
ouvir-se que se deve condicionar a dentina, mesmo que existam exposições pulpares
antes da aplicação de um agente dentinário de quarta ou quinta geração, os quais, como
já mencionado, formam a camada híbrida e impedem o ingresso de bactérias pela
interface dente/restauração, o que levaria ao completo restabelecimento da saúde pulpar,
inclusive ocorrendo a formação de barreira mineralizada.
Soluções ácidas fortes, como ácido fosfórico a 37% ou 50%, podem em função
de seu pH baixo causar danos ás células odontoblásticas, o que possivelmente seja
superado pela capacidade de recuperação de um tecido conjuntivo saudável. Associado
a esta possibilidade, deve-se considerar que o processo de dissociação iônica, ou seja, de
liberar íons H+, pode causar uma desmineralização acentuada, aumentando a
permeabilidade dentinária e, ainda remover o suporte mineral natural de fibras
colágenas muito em profundidade, regiões essas em que os primers atuais
provavelmente não conseguirão penetrar, permanecendo fibras desprovidas de proteção,
sem suporte mineral.
Houve uma melhora na capacidade de união dos sistemas restauradores
adesivos, mas isto se deu à base de procedimentos invasivos, como o condicionamento
ácido da dentina, para a obtenção da camada híbrida.
Inúmeros fatores estão relacionados com a aplicação de soluções ácidas sobres a
dentina come sem exposição pulpar e este tipo de procedimento não pode ser
empregado sem a devida análise de cada caso, além do que a infiltração marginal pode
ocorrer mesmo quando se empregam sistemas adesivos de quarta e quinta geração ,
como demonstraram SANO(44).
O condicionamento ácido por si só não leva à degeneração pulpar em situações
consideradas normais, clinicamente nem sempre esta condição está presente, ou seja a
associação de estímulos irritantes de natureza variada, fragmentos dentinários
contaminados, coágulo e ação dos primers e adesivos podem deixar sequelas, o que
compromete a capacidade de regeneração pulpar. Isto pode ser diagnosticado por meio
de testes de sensibilidade pulpar ou pela anamnese. Respostas exageradas ou
inexistentes frente à estímulos térmicos, dor espontânea ou qualquer situação fora da
normalidade devem sempre ser melhor analisadas.
É importante lembrar que não somente o condicionamento ácido é o elemento
agressor da polpa, pois muitos dos componentes dos sistemas adesivos são diretamente
tóxicos para as células pulpares. Os resultados conflitantes de biocompatibilidade de
materiais revelam a complexidade do padrão de respostas e reações pulpares.
Enfatizam-se, assim a necessidade de uma análise multifatorial da influência das
diferentes causas que afetam a qualidade de uma restauração adesiva.
Isto está diretamente relacionado com seus efeitos clínico e biológico, ou seja, a
passagem de bactérias, fluidos, moléculas ou íons entre a parede cavitária e o material
aplicado sobre o complexo dentinopulpar. Vários são os fatores que influenciam o
resultado da proteção e respectiva restauração adesiva como: considerações sobre o
paciente, técnica ; tipo; profundidade e localização do preparo cavitário; quantidade e
qualidade da dentina e do esmalte cervical; seleção do sistema adesivo; técnica de
aplicação; fotoativação e polimento da restauração.
Considerando o vedamento marginal como principal fator para o sucesso das
técnicas restauradoras adesivas, alguns estudos em animais têm demonstrado que
exposições pulpares mecânicas diretas podem cicatrizar normalmente, independente do
pH do material utilizado, quando o dente for vedado hermeticamente. Isto foi suficiente
para que surgisse o questionamento sobre a necessidade do uso do hidróxido de cálcio
como agente de proteção do complexo dentino/pulpar.
Alguns autores como KASHIWADA; & TAKAGI(30) avaliaram clínica e
microscopicamente, enquanto KANCA (28) E BARATIERI (01), avaliaram clinicamente o
emprego do sistema adesivo, para capeamento pulpar por dois anos em humanos, e
nenhum sinal e sintoma de dor ou morte pulpar foi encontrado.
HOLLAND et al, em 1995, avaliou o efeito do sistema adesivo ALL BOND 2
em proteções diretas e pulpotomias em dentes de cães, por um período de trinta dias
tendo verificado a ocorrência de necrose pulpar, alémm de outros eventos prejudiciais a
esse tecido, e ausência de barreira mineralizada em todos os dentes tratados
experimentalmente.
HEBLING,J.(24) em 1997, realizou avaliações histológicas após a aplicação de
proteções diretas e indiretas com os sistema adesivo ALL BOND 2, em cavidades classe
V de dentes humanos, que seriam extraídos por razões ortodônticas. Nos eventos
microscópicos após períodos de 7,14,30,45 e 60 dias, verificou-se a presença de
inflamação crônica, geleificação da matriz extracelular e ausência de barreira
mineralizada.
Contrapondo ao que foi visto anteriormente KANCA e BARATIERI , relataram
casos clínicos com até dois anos de controle, sem sintomatologia dolorosa e com tecido
pulpar sadio, com verificação através de tomadas radiográficas, e por essas razões
sugerem e indicam a hibridização pulpar ao invés da utilização do hidróxido de cálcio
nas exposições pulpares. Segundo COX (12) e BRANNSTROM (07); KANCA (28) ; na
ausência de bactérias , o tecido pulpar não seria injuriado pelos componentes do sistema
restaurador adesivo ou qualquer agente tóxico e reagiria favoravelmente a esse
procedimento de hibridização( ataque ácido + primer + adesivo + resina composta).
Apesar de afirmarem com base nos controles clínicos e exames radiográficos por
períodos mais ou menos prolongados a eficiência desta técnica, há necessidade de
embasamento científico para os resultados, além de comprovação microscópica. Outra
dúvida que ocorre, e que todo clínico procura saber é se só o controle através dos testes
de vitalidade e exame radiográfico seriam suficientes para comprovar o sucesso da
hibridização pulpar. Não se deve esquecer que apenas o exame microscópico é que pode
provar a vitalidade pulpar e que os testes clínicos avaliam apenas a sensibilidade pulpar
ou do dente. Segundo BASTOS (02),existe uma carência de informações acerca dessas
reações pulpares em polpas de humanos.
No Simpósio de Estética - XII Encontro do GBPD foi concluído que:
=> O condicionamento ácido não deve ser utilizado indiscriminadamente
=> Devem ser observados alguns princípios básicos, como:
- Concentração do ácido/tipo
- Capacidade de dissociação iônica
=> O ácido por si só não é fator preponderante no processo patológico pulpar;
=> Ação limitada do ácido, uma vez que não permanece em contato com o tecido.
Resina composta posterior
Auxiliar
Filomena Salgado- Graduada pela Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas (EFOA) em 1984 - Pós-Graduada em Dentística Restauradora pela Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas em 1995
Maria Elisa Amarante Botelho de Carvalho ( [email protected] )- Cirurgiã-dentista - Graduada pela Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas (EFOA) em 1978. - Pós-Graduada em Dentística Restauradora pela Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas em 1995.- Membro da Associação Brasileira de Odontologia Estética (SBOE).
As autoras realizaram uma revisão de literatura sobre Resina Composta Posterior, mostrando a evolução do material, seus requisitos, indicações e propriedades. Também foi detalhada a técnica de restauração.
Monografia apresentada à Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas, como requisito para obtenção do título de Especialista em Dentística Restauradora.Orientador: Prof. Pedro Rehder Filho.
II. INTRODUÇÃO
A partir da descoberta da Resina Composta, há mais de 25 anos, por BOWEN (7) nenhum outro material recebeu tanta atenção na odontologia.
A melhoria das propriedades físico-mecânicas para tornar a Resina Composta um substituto para o amálgama, tem sido alvo constante de pesquisas.
A crescente demanda estética no consultório odontológico, onde o desejo do branco dos dentes naturais ocupou o lugar do amarelo do ouro em dentes posteriores, coincide com o surgimento de uma gama variada de novos materiais e técnicas.
Isso pode gerar confusão ao profissional no uso da Resina Composta Posterior, levando à resultados clínicos insatisfatórios.
Um outro fator determinante da substituição de restaurações de amálgama é a preocupação, ainda que sem comprovação científica, quanto ao risco de intoxicação pelo mercúrio contido nesse material.
O objetivo do presente trabalho é fazer uma revisão dos materiais disponíveis, orientar uma correta indicação e detalhar passos técnicos de uma restauração de Resina Composta Posterior.
Os resultados obtidos serão melhores à medida que o profissional considerar o aprimoramento técnico exigido; fatores inerentes ao paciente, tais como oclusão, hábitos higiênicos, alimentares e parafuncionais; e restrições da restauração em particular.
III. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1963 - BOWEN (7), desenvolveu o polímero reforçado com sílica (resina composta) e descreveu suas propriedades.
1969 - WIBBLESMAN (38), propõe um novo sistema de resina restauradora desenvolvida para uso universal anterior e posterior.
1972 - ASMUSSEN & JORGENSEN (2), investigaram a adaptação microscópica de alguns materiais plásticos às paredes cavitárias dentais.
1977 - KUSY & LEINFELDER (21), relataram o modelo de desgaste em restaurações compostas posteriores.
1979 - DICKINSON (14), avaliou as propriedades físico-químicas e o desgaste da resina composta.
1980 - LEINFELDER (22), avaliou, por um período de 5 anos, restaurações compostas anteriores e posteiores.
1982 - BAUSCH (5), em um estudo de tese, concluiu que a contração de polimerização da resina composta varia em 2 a 3% do volume.
1985 - SANTOS et alii (32), avaliaram a importância do bisel no preparo cavitário, concluindo que este não desempenha papel de importância clínica.
1986 - LEINFELDER & WILDER (23), analisaram as porções de desgaste de resinas compostas posteriores.
LEINFELDER et alii (24), avaliaram a viabilidade do emprego de resinas compostas em dentes posteriores.
1987 - SIMONSEN & STALLARO (34), analisaram, durante 1 ano restaurações preventivas utilizando resina composta com carga diluída.
COX et alii (13), concluiram que fatores de toxidade química, tal como ácidos e componentes dos materiais restauradores por si só, são menos significantes na causa de injúria pulpar do que a infiltração bacteriana ao redor das margens da restauração.
BASTOS et alii (4), concluiram que as resinas de micropartículas se comportam melhor como restauradoras de dentes posteriores, em relação às resinas com partículas maiores que 1µm, porém não se comparam ao amálgama. Restaurações satisfatórias podem ser conseguidas, desde que indicadas com critério.
1988 - BURGESS et alii (8), concluiram que apesar dos melhoramentos da resina composta posterior, esta não pode ser considerada como substituta do amálgama ou restaurações metálicas. Aprendizagem, aplicação de novas técnicas, seleção de casos e necessidade estética, devem ser consideradas para o uso deste material.
SANTOS (31),cita as taxas de desgaste oclusal permitidas pela ADA no credenciamento provisório e definitivo e as implicações deste desgaste na saúde oral.
MONTEIRO JR. (29), indica a pré cunhagem como meio de maximizar a separação dos dentes, proporcionando um melhor contato proximal. Matrizes de aço delgadas, seccionadas, são as mais indicadas para restabelecer um contorno adequado.
GALANTE (19), compara as propriedades da resina composta em relação ao amálgama. Indica a resina composta somente em casos selecionados onde a estética é primordial.
CONSANI (12), cita o fator estético, habilidade para aderir ao esmalte acondicionado pelo ácido, eficiente selamento marginal e possível uso em cavidades conservativas, como vantagens que coloca o desenvolvimento da resina composta para dentes posteriores numa posição promissora. Porém algumas características ainda restringem o seu uso. Recomenda a observação e marcação dos pontos oclusais, antes do preparo cavitário, para que estes não sejam envolvidos durante a restauração.
VIEIRA, ANDO E PRADO (37), descrevem uma técnica alternativa para restauração conservadora do tipo classe I, associando resina composta com selante de fóssulas e fissuras.
LEINFELDER (25), compara as propriedades da resina composta às do amálgama. Conclui que apesar do grande desenvolvimento em materiais e técnicas, a resina composta não pode ser considerada como substituta do amálgama. Cntudo, oferece ao clínico uma oportunidade de tratar os pacientes de uma forma jamais vista, devido à sua grande grande habilidade em combinar cores.
SANTOS et alii (33), propõem um preparo cavitário modificado, com bisel curto no esmalte para obtenção de melhores reseultados em restaurações cl. I e II.
1989 - FERRACANE et alii (17), concluem que a falta de correlação entre os resultados obtidos en vivo e in vitro, impede a formulação de um padrão seguro de resina composta. Novas informações são necessárias para que uma especificação razoável possa ser escrita com base em evidências experimentais sólidas.
MANDARINO et alii (27), desenvolveram uma nova técnica para restauração dos dentes posteriores com resina composta, que utiliza uma matriz direta de cimento cirúrgico fotopolimerizável, a fim de facilitar a conformação anatômica original do dente.
1990 -DICKINSON et alii (15), propõem o uso de um selante superficial de alta penetração, como forma de reduzir o desgste da resina composta posterior.
1991 - CHRISTENSEN (9), concluiu que ainda não existe uma resina composta universal para uso em anteriores e posteriores. Sugere a associação de uma resina composta híbrida com outra de micropartículas para obtenção de melhores resultados.
JORDAN & SUZUKI (20), concluem que resinas compostas se comportam bem em restaurações de cl. I e II de molares e pré-molares, desde que sejam conservativas no sentido V-L. Amálgama ou RMF a ouro oferecem melhores soluções para problemas restauradoes difíceis.
ANDRADA & BARATIERI (1), relatam requisitos para a substituição de um amálgama por resina composta e concluem que a indicação deste material ainda é limitada a casos em que a estética é primordial e onde os contatos oclusais possam ser mantidos em esmalte.
1992 - COHEN & JOÃO (11), concluem que o embricamento mecânico entre resina composta e esmalte condicionado, através dos “tags, oclui hermeticamente a cavidade. Portanto, este embricamento não é suficiente para impedir o rompimento das margens de esmalte pela contração de polimerização dos material restaurador.
CHRISTENSEN (10), considera a resina composta posterior aceitável em restaurações de cl. II, desde que as situações clínicas sejam controladas.
MAZER & LEINFELDER (28), num estudo clínico sobre o Heliomolar (Vivadent), concluem que a diminuição apresentada do desgaste, se deve à melhoria de adesão entre as partículas de enchimento pré-polimerizadas e a matriz de resina. Por isso, essas resinas de microenchimento são adequadas para restauração de cl. I e II conservativas. O menor desgaste atribuído ao Heliomolar se deve também ao tamanho das partículas (< 1 m). A liberação de flúor, ainda que insignificante estatísticamente, pode ser favorável clínicamente. A degradação marginal apresentada se auto limitou com o passar do tempo.
TERUYA et alii (36), propõem uma nova técnica para restaurar dentes posteriiores com resina composta, onde são acrescentados incrementos pré polimerizados da própria resina, com finalidade de proporcionar condensação do material restaurador.
FERRACANE (18), conclui que, apesar dos melhoramentos das resinas compostas posteriores, não existem dados que apoiem o uso deste material como substituto do amálgama. Soluções como restaurações tipo inlay-onlay trazem melhorias nos resultados, mas não se sabe se são significativas clinicamente. Para o uso adequado da resina composta posterior, deve-se considerar a habilidade do profissional, fatores do paciente e da restauração em particular.
1993 - DICKINSON, GERBO & LEINFELDER (16), concluem que a formulação do Herculite XRV Incisal, apresenta a metade do desgaste da formulação convencional, ao final de 3 anos.
RADA (30), propõe o uso de megapartículas de vidro cerâmico quartzo-beta no interior da resina composta, como forma de diminuir o desgaste e proporcionar melhores contorno e contato na área proximal.
SUZUKI & LEINFELDER (35), mostram que resinas compostas com partículas > 1m podem promover desgaste do esmalte da cúspide antagônica, desde que stress suficiente esteja envolvido.
WILLEMS et alii (39), estabelecem como padrões fisiológicos o esmalte e a dentina para novas formulações de resinas compostas posteriores. Resinas compostas de carga compacta
ultrafina (média de desgaste de 110-149 m após 3 anos), serão o material de escolha no século XXI por se enquadrarem melhor nesses padrões. Consideram a resina composta com um futuro promissor.
1994 - LEINFELDER (26), expõe através de tabela e gráficos, a evolução da resina composta, suas indicações e propriedades. Detalha ainda, passos técnicos de restauração de resinas compostas posteriores..
BAYNE, HEYMANN & SWIFT (6), concluem que resinas compostas evoluem continuamente produzindo excelentes restaurações anteriores e podendo ser usadas em situações selecionadas em superfícies oclusais. Novos compósitos, como as nanopartículas por exemplo, mostram-se promissores em aplicações mais amplas, podendo com isso decrescer o uso do amálgama.
IV. DISCUSSÃO
1. Evolução do material
As resinas acrílicas para restaurações diretas, comuns da década de 50, se transformaram, no início da década de 70, em resina composta. A evolução se deu pela introdução de macropartículas de quartzo (10-100µm) na matriz resinosa, melhorando as propriedades físico-mecânicas.
WIBBLESMAN (38), em l969, considerou o Sistema Adaptic satisfatório para as restaurações anteriores e posteriores em qualquer tipo de cavidade. Segundo LEINFELDER (22), embora esse material fosse passível de mudanças de cor, quanto aos testes de sorpção era satisfatório.
Estudos por períodos mais prolongados apontaram o desgaste superficial acentuado como principal contra indicação do uso desses materiais em dentes posteriores.(24)
O primeiro melhoramento em Resina Composta Posterior foi a modificação do Concise (3M CO) para dentes anteriores, cujas partículas de carga passaram do tamanho de 30µm e concentração de 76% para 3µm e 83%, respectivamente. Foi então introduzido o P-10, uma resina composta autopolimerizável para uso em dente posterior, cuja resistência ao desgaste foi aumentada, passando de aproximadamente 100m /ano para menos que 50 m/ano. (23,25).
Seguiram-se outros melhoramentos que incluem: pré-misturas, altas porcentagens de carga, polimerização física por Ultra Violeta e posteriormente por luz halógena(26).
Na década de 80 (26) existiam 3 tipos de tamanho de partícula: partícula fina (1,0-5,0µm), micro-partícula (0,02-0,07µm) e a partícula híbrida (0,04-5,0µm). Essa variação de tamanho das partículas proporciona diferentes índices nas propriedades, como pode ser visto na tabela 1 e figs. 1, 2, 3 e 4.
Tab. 1 - Propriedades dos Compósitos
The Dental Advisor
Fig. 1
Nenhuma Baixa Média
Fig. 2
Nenhuma Baixa Média
Fig. 3
Nenhuma Baixa Média Alta
Fig. 4
Nenhuma Baixa Média Alta
Sistemas atuais são sastifatórios para casos selecionados de classe I e II, e utilizam partículas menores que 1 µm, numa concentração em peso de 75-86%. Desses materiais os mais populares são Herculite XR, Prisma APH e P-5O (híbridas) e o Heliomolar (micropartícula). (20)
A resistência ao desgaste é aumentada, introduzindo-se partículas de microenchimento pré polimerizadas com adesão melhorada à matriz de resina. (20,28)
As resinas de megapartículas incorporam vidro para proteger do desgaste.(6,30). À partir desses melhoramentos, o desgaste oclusal médio da Resina Composta Posterior teve uma redução acentuada, como mostra a fig. 5.(26)
Pesquisas atuais envolvem o uso de partículas pequenas com melhores propriedades de enchimento, partículas radiopacificadoras mais eficientes, monômeros que expandem na fotopolimerização e eficiência de polimerização em qualquer volume.(6)
As nanopartículas, em pesquisa, são partículas virtualmente invisíveis, cujo tamanho (0,005-0,01µm) está abaixo do comprimento de onda de luz visível. O ajuste perfeito entre essas partículas permite uma concentração em peso de 90-95%, melhorando grandemente as propriedades físicas e diminuindo a contração de presa. (6)
As resinas compostas do século XXI terão padrões fisiológicos de comparação ao esmalte e a dentina. Provavelmente as resinas de escolha serão de partículas compactas ultrafinas para todas as finalidades. (6,39)
Fig. 5
2. Requisitos da Resina Composta Posterior
Como dito anteriormente, esmalte e dentina serão usados como padrões fisiológicos para pesquisa de novos materiais. (1, 6, 39)
- Rugosidade intrínseca: deve ser menor ou igual à do esmalte em área de contato oclusal (R.a=0,64µm).
- Dureza das partículas: não deve ser maior do que a dos cristais de hidroxiapatita (3.39 GPa), previnindo assim o desgaste de cúspides antagônicas. Segundo SUZUKI e LEINFELDER (35), partículas > 1m podem desgastar cúspides antagônicas, desde que stress suficiente esteja envolvido.
- Módulo de elasticidade: deve ser maior ou igual ao da dentina (18599 µPa).
- Resistência à compressão comparada à do esmalte (384 µPa) e da dentina (297 µPa).
- Resistência mecânica semelhante à resistência à fratura do dente natural (Molar=305 µPa e PM=248 µPa).
- Resistência ao desgaste in vivo comparada à do esmalte (39µm/ano) em molar.
- Radiopacidade deve ser ligeiramente maior que do esmalte (198% Al).
Além desses padrões, outros requisitos são necessários: (1,39)
-Selamento marginal impermeável e duradouro.
-Permitir acabamento sem destruição do esmalte.
-Estética agradável em termos de cor e translucidez.
-Deve ser viável economicamente e de fácil manipulação.
Resinas compostas compactas ultrafinas que desgastam em área de contato oclusal, em média 110.149µm/ 3anos, provavelmente sejam os materiais que melhor se enquadrem nesses padrões.(39)
A A.D.A. aprova a Resina Composta Posterior segundo critérios de desgaste oclusal:(6)
- Para uso irrestrito em posterior: Se a porção de desgaste não ultrapassar 25µm/ano. Atualmente nenhuma resina foi aprovada nessa categoria.
- Para uso restrito (restaurações conservativas).
Aprovação provisória: O desgaste não deve ultrapassar 125µm após 2 anos e 175µm após 4 anos. Várias resinas já receberam essa aprovação (Estilux Post, Kulzer; Bisfil P, Bisco; Heliomolar, Vivadent; Herculite XR, Kerr).
Aprovação definitiva: máximo de 250µm após 5 anos em permanentes e 4 anos em decíduos.(31)
3. Indicações
Algumas considerações clínicas devem ser feitas quando da indicação da Resina Composta Posterior. (1, 8, 19)
-A restauração não deve envolver as cúspides.
-Não existir contato oclusal direto sobre a restauração.
-Não existir sinais de desgaste excessivo causado por hábitos parafuncionais.
-A largura V-L da restauração não deve ultrapassar 1/3 da distância intercuspídea.
-A parede gengival do preparo deve estar situada em esmalte sadio.
-O dente permite isolamento absoluto.
-A estética é primordial.
Segundo SIMONSEN (34), uma das maiores indicações da Resina Composta Posterior é como restauração preventiva. Esta técnica foi detalhada por VIEIRA et alii (37), onde a Resina Composta Posterior é associada ao selante de fóssulas e fissuras.
Alguns autores concordam que as resinas compostas de micropartículas se comportam melhor em restaurações posteriores. Quando inidicadas com critério (classe I e II conservativas) podem produzir restaurações satisfatórias com um tempo de vida útil prolongado.
A maioria dos autores (1, 18, 33) afirma que a Resina Composta Posterior, apesar dos grandes melhoramentos, não pode ser indicada como substituto do amálgama. Os mesmos autores são unânimes em indicar a resina composta para restaurações conservativas, principalmente quando a estética é exigida. Nestes casos a resina composta oferece uma forma de tratamento ímpar, devido à sua grande habilidade de combinar cores. (8,33)
Alternativas são propostas para resolver casos de restaurações mais amplas, como por exemplo, resina composta inlay/onlay. Mas não se sabe até que ponto essas alternativas apresentam melhorias com significado clínico. (1,18)
Após mais de 22 anos de estudos clínicos controlados, as Resinas Compostas Posteriores são consideradas aceitáveis quando a técnica de restaurações é seguida e em situações oclusais selecionadas. (6,10)
Com os melhoramentos já alcançados e os que estão sendo pesquisados, a Resina Composta Posterior é considerada com um futuro promissor.(8)
4. Propriedades
4.1- Desgaste
O desgaste que ocorre in vivo não corresponde aos resultados obtidos em laboratório(17). A perda da forma anatômica é uma somatória do ataque químico do meio bucal e desgaste mecânico(12), tendo implicações na saúde oral, tais como: perda de contato interoclusal, migração do antogonista, alteração do plano oclusal e ciclo mastigatório.(31)
A fricção entre os dentes pode causar desgaste interproximal levando à alteração da dimensão M-D dos arcos.(12, 4)
Vários fatores são apontados como causas do desgaste da resina composta. Em 1977, KUSY e LEINFELDER (21), associaram o desgaste oclusal à fadiga termomecânica causando fendas no material.
Numa avaliação feita durante 5 anos com uma resina composta posterior de micropreenchimento, MAZER e LEINFELDER (28), concluiram que partículas de enchimento com tamanho maior que 1µm se sobressaem na superfície funcionando como obstáculos ao deslize do bolo alimentar. Isto gera tensão que é transmitida ao interior da matriz orgânica causando rachaduras e perda de material, que resultam num desgaste decrescente. Em resinas compostas de micropreenchimento (carga < 1µm), como o Heliomolar por exemplo, o bolo alimentar desliza livre sobre a superfície, diminuindo a taxa desgaste, que nesse caso, é de forma linear.(6, 9, 26 28). Esse processo está esquematizado nas figuras 6 e 7.
Fig. 6. Desgaste em resina composta com partículas > 1µm
Fig. 7. Desgaste em resina composta com partículas < 1µm
Esquema mostrando o deslize do bolo alimentar numa superfície restaurada com resina de partículas maiores que 1m e em outra, restaurada, com resina de partículas menores que 1m.
No mesmo estudo foi concluído que a diminuição do desgaste também se deve a difusão do monômero não polimerizado da matriz na superfície das partículas prépolimerizadas, formando embricamento mecânico quando da polimerização.
Compósitos de megapartículas incorporam vidro cerâmico de quartzo beta para proteger do desgaste.(6,30)
Além desses fatores inerentes ao material restaurador (tipo, tamanho e concentração de carga), outros são determinantes de desgaste oclusal. (26)
- Localização e tamanho da cavidade: Quanto maior e mais distal, maior o desgaste. 1ºM > 2ºM > 2ºPM > 1ºPM. (Fig. 8)(4, 19, 26)
1º PMI - 1 x
2º PMS - 3x
2º Pms - 4x
Mss - 5x
Mis - 6x
- Técnica de acabamento: A alta taxa de desgaste nos 6 primeiros meses (a metade do total em 3 anos) está relacionada com a técnica de acabamento(12). Resinas polidas se desgastam mais que as não polidas e pontas diamantadas causam mais desgaste que as
carbides. O desgaste seria devido à formação de microrachaduras na superfície e degradação da matriz pelo calor gerado.
- Localização e magnitude da força oclusal.
- Grau de polimerização.
Fig. 8
Nas resinas atuais, a proporção de desgaste tende a diminuir, se tornando insignificante após 3-5 anos(6). O desgaste de várias resinas se aproxima do amálgama (5-10µm/ano) e esmalte (2-5µm/ano)(6, 18, 26). Em cavidades maiores esse valor aumenta de 3-5 vezes.(18)
Segundo DICKINSSON et alii (16), a formulação do Herculite XRV Incisal apresenta aproximadamente a metade do desgaste da formulação convencional no final de 3 anos, sendo portanto vantajosa em áreas de alta tensão oclusal.
O uso de selante penetrante (Fortify,Bisco) tem sido sugerido após acabamento, polimento e novo condicionamento da superfície (15,26). A penetração do Fortify nas microfendas superficiais pode reduzir em até 50% o desgaste oclusal (14,15). A aplicação anual do selante pode aumentar a longevidade da restauração.(14)
4.2- Biocompatibilidade
A resina Composta é bem aceita pelo tecido pulpar, desde que infiltração bacteriana seja impedida. (13,15,18)
O selamento das margens após a restauração com uma resina fluida de alta penetração pode ajudar a diminuir a infiltração bacteriana. (18)
Adesivos dentinários da nova geração permitem vedamento hermético da restauração sem sensibilidade pós operatória. (20)
4.3- Integridade Marginal
Depende da contração de polimerização, expansão térmica, sorpção de água, adesão à estrutura dental, carga mecânica e degradação marginal. (21)
A contração de presa, que varia, segundo BAUSCH et alii (5), de 2-3% em volume, pode ser diminuída com melhorias do material restaurador, material adesivo, técnica de inserção incremental e restaurações indiretas.
Materiais com polímeros livres de contração e com polimerização lenta, são estudados como solução desse problema (6,18). O embricamento mecânico entre os "tags" de resina e o esmalte condicionado promove selamento hermético da restauração (1). MUNKSGAARD e ASMUSSEN (3), sugerem que a força de adesão dentinária deve ser maior que 20µPa para garantir integridade marginal em paredes sem esmalte. Ainda não se sabe sobre a manutenção da adesão conseguida. (18)
Resina composta de nanopartículas são materiais pesquisados atualmente, cuja concentração de carga chega a 90-95% em peso, diminuindo grandemente a contração e melhorando a integridade marginal. (6)
Num acompanhamento clínico do Heliomolar, as restaurações apresentaram fendas marginais nos 12 primeiros meses. Durante os cinco anos de observação, a quantidade de degradação se autolimitou. (28)
A adição de partículas de óxidos metálicos de trifluoreto de itérbio, com o objetivo de promover radiopacidade, gera uma característica especial ao Heliomolar, que é a liberação de flúor. Quando comparado à outras resinas que não liberam flúor, o Heliomolar promove uma menor incidência de cáries secundárias. Embora essa diferença não seja estatísticamente importante, ela pode ser clínicamente significativa.(28)
5. Técnica de restauração
Estudos desde 1968 comprovam que tanto as técnicas, quanto os materiais resinosos são aceitáveis para muitas situações de classe II, principalmente devido à boa estética e economia de tecido dental.
Segundo LEINFELDER (22) características peculiares da resina composta em relação ao amálgama, exigem técnica diferenciada para confecção de uma boa restauração, principalmente classe II. Por esse motivo, demandam de 1 vez e meia à 2 vezes mais de tempo.
5.1 - Profilaxia.
5.2 - Seleção da cor.
5.3 - Marcação dos pontos oclusais. (12)
5.4 - Isolamento absoluto : essencial (10, 27)
5.5- Pré cunhagem com cunha lubrificada: promove espaçamento para a fita matriz permitindo adequado contato proximal, além disso orienta no preparo da parede gengival (20,36). Em restaurações MOD, duas cunhas são colocadas durante o preparo. No momento da restauração só permanece a cunha e respectiva matriz da caixa que está sendo preenchida.(29)
5.6- Preparo: deve ser o mais conservativo possível, limitando-se à remoção de cárie. Restaurações menores têm maior longevidade, devido ao menor desgaste (26). Os ângulos internos são arredondados (10,20,26). Preparos clássicos de classe I e II são contra indicados. (33)
A confecção ou não de bisel é um ponto discutido. Alguns autores recomendam ausência de bisel oclusal (10,20) e confecção de bisel nas paredes com acesso das caixas proximais (6). O condicionamento das paredes em término de 90º (sem bisel) permite abertura dos prismas com maior adesão. além de fornecer maior corpo de resina na margem (26). SANTOS et alii (32) em 1985, concluíram que o bisel não influi significativamente no
comportamento clínico da resina; no entanto, num estudo de 1988, concluíram que um bisel curto em esmalte nos leva a melhores resultados (33).
5.7- Forramento: o uso de liner ou base deve ser o mais limitado possível, porque a resina é mais resistente e igualmente isolante (6). Além disso, os adesivos dentinários da nova geração permitem um selamento hermético da restauração. (20)
5.8- Colocação de matriz: Matriz de aço delgada, flexível, pré-contornada e brunida de encontro à superfície proximal vizinha, perfaz melhor área de contato, que é o ponto mais crítico na classe II (10,20). Bandas transparentes proporcionam contato aberto e juntamente com cunhas refletivas não acrescentam polimerização. (20)
Em cavidades classe I, a anatomia oclusal pode ser reproduzida com auxílio de uma matriz de cimento cirúrgico fotopolimerizável (Barricaide), moldada antes do preparo cavitário. (27)
5.9- Seleção da resina: as mais usadas são o P-50 (3M), Prisma APH (Caulk), Herculite XR (Kerr) e Heliomolar (Vivadent). (9,10)
5.10- Inserção: o material não permite condensação efetiva, mas apenas acomodação. A técnica de inserção incremental diminui ligeiramente a contração de polimerização (20,26), mas pode produzir porosidade e falha na adaptação (10). Cada camada deve ser polimerizada por 20 segundos (26). O preenchimento deve ser o mais próximo possível da anatomia final para evitar acabamento grosseiro (20). Após a inserção é feita uma polimerização complementar por 1 minuto. (10,26,27)
5.11 - Ajuste oclusal.
5.12- Acabamento: segundo ASMUSSEN e JORGENSEN (2), o acabamento deve ser protelado para a sessão seguinte, permitindo absorção de líquido pelo material, que aumenta de volume e alivia as tensões na interface dente/restauração. Sem este alívio, o procedimento de acabamento poderia romper porções de esmalte.
O acabamento e o polimento são feitos com brocas multilaminadas, tiras e discos de lixa Soflex, pasta profilática de granulação decrescente (Nupro J.J.) e pontas de borracha abrasiva.(10,20,26)
5.13-Polimerização final, após polimento, por 40 segundos na face oclusal. (10,20,26)
5.14-Condicionamento ácido e aplicação do Fortify. (20)
- Reparo de resinas: restauração nova pode ser aderida à velha com resistência aproximada de 85% do sistema original. (6).
V. CONCLUSÕES
Com base na revisão de 39 artigos sobre Resina Composta Posterior, concluimos que:
A Resina Composta Posterior apresenta vantagens, como por exemplo, estética e economia de tecido dental, em relação ao amálgama.
O desgaste oclusal apresentado pelas resinas atuais, que em geral possuem partículas de carga < 1 m em alta concentração se aproxima do desgaste do amálgama e do esmalte.
Aprimoramento técnico e seleção de casos são exigidos, para que o resultado seja satisfatório.
Por ausência de comprovação clínica por perído mais prolongados, a Resina Composta Posterior ainda continua sendo indicada em preparos conservativos de cl. I e II. O seu uso como substituta do amálgama não é recomendado.
Com os melhoramentos apresentados e os que ainda estão sendo pesquisados, a Resina Composta Posterior se apresenta com um futuro promissor.