Top Banner

of 8

Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
  • 5/10/2018 [A] ZAULI 2000 - Crtica Formal a Mancur Olson

    1/8

    GRUPOS DE INTERESSE E A

  • 5/10/2018 [A] ZAULI 2000 - Crtica Formal a Mancur Olson

    2/8

    Para Olson, uma fmalidade basica da maioria das organizaeoes e a promocao dos interesses de seus membros.A par da existencia de interesses exc1usivamente pessoais, postula que a constituicao de organizacoes s6 temsentido na presenca de interesses que aglutinem os membros de um determinado grupo enquanto conjunto deindividuos que compartilham de algum interesse comum. A partir da combinacao de interesses individuais ecoletivos dos membros sob uma organizacao, Olson estabelece uma analogia entre 0 funcionamento dasorganizacoes e uma situacao de mercado caracterizada pela concorrencia perfeita e sugere um padrao deinteracao entre os membros das organizacoes que reproduziria a estrutura do Dilema do Prisioneiro dada apremissa de que os bens organizacionais caracteristicos sao coletivos, isto e, publicos,Em um nitido avanco em relacao as formulacoes tradicionais da teoria dos grupos, Olson problematiza aspossiveis relacoes entre 0 tamanho, a coerencia, a eficacia e a atratividade dos grupos. Quais as relacoes entreo tamanho de um grupo e os incentivos para que os individuos membros contribuam para a consecucao dosobjetivos grupais? Com base na dicotomia entre interesses individuais e coletivos e no dilema vivenciadopelos portadores de tais interesses, Olson acredita em uma efetividade distinta entre pequenos e grandesgrupos no suprimento de bens publicos, A esse respeito Olson conc1ui que, com excecao de alguns grupospequenos onde 0 beneficio individual decorrente do suprimento de um bem publico excede 0 custo deproducao daquele bem, existe uma tendencia a subotimalidade derivada da incongruencia de interessesindividuais e coletivos e do carater publico dos bens organizacionais. Na verdade, na ausencia de arranjosinstitucionais capazes de incentivar os membros individuais a produzirem 0montante 6timo para 0 grupo dobem publico em questao, quanto maior for 0 grupo mais distante ficara de fomecer uma quantidade 6tima deum bem publico. Tal subotimalidade podera ser superada em grupos marcados pela disparidade de recursosindividuais ou intensidade de interesse no bem publico entre seus membros. Tal configuracao implicara,entretanto, em uma tendencia para a exploracao dos grandes pelos pequenos participantes do interesse grupal.Alem da distincao entre pequenos e grandes grupos Olson sugere uma diferenca entre 0 comportamento degrupos em situacoes de mercado e 0 comportamento daqueles grupos situados fora do mercado. A explicacaopara tal comportamento diferencial Olson vai buscar nos diferentes tipos de bens publicos envolvidos em cadacaso. Enquanto em situacoes de mercado a quantidade do beneficio passivel de ser auferido do suprimento deum bem publico e fixa e limitada, nas situacoes fora de mercado 0montante do beneficio de um determinadobem publico se expande na medida em que 0 grupo cresce. Em um caso - as situacoes de mercado - tem-seum bem publico exc1udente e no outro - as situacoes fora de mercado - um tipo de bem publico definido comosendo includente. E precisamente 0 carater excludente do bem publico em situacoes de mercado queexplicaria 0 comportamento exc1udente de firmas que procuram impedir a participaeao de novas empresas emum determinado mercado e e 0 carater includente do bem publico em situacoes fora de mercado que tomainteligivel a disposicao das organizacoes situadas fora de mercado em admitir e incentivar a adesao de novosmembros ao esforco organizacional. Portanto, 0 comportamento exc1udente ou inc1udente dos gruposdecorreria da natureza do objetivo buscado e nao de quaisquer caracteristicas de seus associados, havendolugar, para um mesmo conjunto de empresas ou individuos, para um comportamento exc1udente em umcontexto e para um comportamento inc1udente em um contexto distinto.Dutro aspecto enfatizado por Olson e 0 padrao distinto de relacionamento entre os individuos membros nosgrupos inc1udentes e exc1udentes sempre que os grupos sejam suficientemente pequenos para que a ayao deum membro tenha um efeito perceptivel sobre qualquer outro membro. Nos grupos exc1udentes em situacaode mercado as interacoes estrategicas e as negociacoes entre as partes tern uma importancia muito maior emfuncao da disputa pelos beneficios do bem exc1udente e da dependencia do comportamento de orientacaogrupal em relacao a participacao unanime, Ja em relacao aos grupos inc1udentes observar-se-ia 0 oposto emfuncao da ausencia de disputa entre os beneficiaries dos bens publicos e em decorrencia da inexistencia dequalquer exigencia de participacao unanime para a obtencao do objetivo grupal.Tendo em vista a elaboracao de uma taxinomia dos grupos relativamente a producao de bens publicos, Olsontrabalha com uma variavel central, 0 tamanho dos grupos, e com uma nocao sumamente importante,"incentivos seletivos". Em relacao aqueles grupos pequenos em que cada membro usufrui de uma frayao dobeneficio total suficientemente ampla, de forma que cada membro do grupo estivesse disposto a arcar sozinhocom todos os custos de producao daquele beneficio (grupos privilegiados), pressupoe-se que 0 bem coletivosera produzido. Naqueles grupos em que nenhum membro usufrui de uma parcela do beneficio totalsuficientemente ampla, de forma que ninguem estaria disposto a incorrer sozinho nos custos de producao do

  • 5/10/2018 [A] ZAULI 2000 - Crtica Formal a Mancur Olson

    3/8

    beneficio grupal, mas nos quais a contribuicao ou falta de contribuicao individual tenha um efeitoconsideravel sobre os custos de producao e sobre os beneficios de outros individuos (grupos intermediaries),o resultado e indeterminado. Finalmente, naqueles grupos grandes em que a contribuicao individual demembros singulares nao produz qualquer diferenca perceptivel para os outros membros do grupo (gruposlatentes), e certo que 0 bem coletivo nao sera produzido a menos que haja coercao ou outro tipo de incentivoque leve os membros do grupo a agir de acordo com 0 interesse comum.Quatro fatores conjuntamente explicariam a tendencia para a subotimalidade nos grupos latentes. Em primeirolugar, a pouca visibilidade e 0 carater infinitesimal (em casos extremos) da contribuicao individual ouausencia dessa para a producao de um determinado bem publico em grupos de grandes agregados. Emsegundo lugar, quanto maior 0 grupo menor a fracao do beneficio total suscetivel de ser apropriada por cadaindividuo, menor a recompensa por uma aeao orientada para os objetivos grupais e maior a incapacidade dogrupo de alcancar uma oferta otima do bem publico. Em terceiro lugar, e em funcao do precedente, quantomaior 0 grupo menor a probabilidade de que um unico individuo ou algum subconjunto do grupo assuma oscustos totais de producao do bem publico. Em quarto lugar, quanto maior 0 grupo maiores os custosorganizacionais e, portanto, maior 0 obstaculo a transpor para 0 suprimento do bem publico.Portanto, para Olson em boa medida a probabilidade de um grupo suprir um bem publico e funr,;aodo numerode individuos membros. Se e assim, como se explicaria a ocorrencia de acoes coletivas e a producao de benspublicos em se tratando de grandes grupos? Atraves de incentivos que operariam seletivamente sobre osmembros do grupo estimulando individuos racionais a agirem de acordo com 0 interesse grupal. Os"incentivos seletivos" funcionariam tanto como instrumento de coacao dos individuos atraves de punicoes,quanto como recompensa aqueles que conformassem seu comportamento ao interesse coletivo.o ponto central da critica formal que aqui me proponho desenvolver a abordagem olsoniana esta relacionadocom a analogia proposta por Olson entre as situacoes envolvendo ar,;aocoletiva e 0 postulado de mercadosatomisticos e de concorrencia perfeita. De fato Olson define a linha de conduta otima de individuos imersosem uma situacao defmida pela estrutura do Dilema dos Prisioneiros alheio as interacoes possiveis entre osagentes sociais seja a nivel da estrutura de recompensas seja a nivel das estrategias de acao. Os incentivosseletivos entram em cena apenas enquanto conceito auxiliar atraves do qual se explica a ocorrencia defenomenos de ar,;aocoletiva desviantes do corolario geral do teorema olsoniano segundo 0 qual, tendo emvista as premissas com as quais trabalha 0 autor, bens publicos tendem a nao ser produzidos. Na linguagem daTeoria dos Jogos, e seguindo os passos sugeridos por Cortazar (1990), a estrutura de recompensas na qualOlson insere os individuos membros de grupos latentes pode ser descrita a partir do seguinte esquema:assumindo que ha dois jogadores, 0 individuo "i" e 0 conjunto dos outros membros do grupo em questao "n-i", cada um dos jogadores depara-se com a escolha entre contribuir para a producao do bem coletivo (Y) ounao contribuir (N); sendo que a utilidade de cada jogador (Ai) e uma funcao de sua propria aeao (X) e daescolha do "outro jogador" (Z): Ai= Ai (X,Z).Dados os pressupostos que envolvem a caracterizacao das situacoes defmidas pelo Dilema do Prisioneiro, asestrategias de comportamento individual podem ser hierarquizadas de acordo com 0 disposto na equacaoAi(N,Y) >Ai(Y,Y) >Ai(N,N) >Ai(Y,N). De forma que, qualquer que seja 0 comportamento do conjunto deindividuos dado pela expressao "n-i", a solucao do jogo em pauta e dada pelo vetor de estrategias (N,N), jaque nenhum dos jogadores pode melhorar sua respectiva posicao atraves de uma mudanca unilateral de suaestrategia,Como foi dito antes, toda a analise olsoniana repousa na analogia proposta por ele entre a combinacao deinteresses individuais e coletivos e os mercados competitivos. Contudo, as situacoes de mercado decompeticao imperfeita se constituem em termo de comparacao muito mais adequado para a caracterizacao damaioria dos problemas de ar,;aocoletiva. Neste caso, ao inves de ignorar, tal qual ocorre no caso do modelo deconcorrencia perfeita, e preciso enfatizar a interdependencia das recompensas e decisoes de diferentesagentes. Logo, no lugar de se calcular 0 retorno individual a partir da equacao Ai= Vi - C, onde a utilidadeindividual e dada pelo resultado obtido da subtracao do ganho individual (Vi) menos 0 custo total (C) daprovisao de um bem publico, e fundamental assumir que para individuos inseridos em situacoes marcadaspela interdependencia pode muito bem ser racional contribuir para a provisao de bens coletivos na medida emque se acredite que tal comportamento pode induzir ou complementar a contribuicao de outros membros do

  • 5/10/2018 [A] ZAULI 2000 - Crtica Formal a Mancur Olson

    4/8

    mesmo grupo. Assim, a equacao anterior da lugar a urna outra, Ai= Vi-Ci, onde a utilidade individual (Ai) edada pela diferenca entre 0 ganho individual (Vi) e 0 custo marginal individual (Ci) exigido de cada individuo"i" para a provisao do bern coletivo (Cortazar, 1990).Em sintese, a proposta embutida em tais consideracoes consiste na substituicao do modelo do Dilema dosPrisioneiros para a analise de problemas de ar,;aocoletiva por modelos alternativos de jogos cooperativosexemplificados pelo modelo do Jogo de Seguranca (Assurance Game) e pelo modelo do Jogo da Galinha(Chicken Game) A objecao que aqui se levanta a forma como Olson utiliza 0 modelo do Dilema dosPrisioneiros e 0 seu distanciamento de todo 0 contexto social. Na medida em que as condicoes restritivas quedefmem aquele modelo sao substituidas por outras, aurnenta a possibilidade de que individuos racionaisadotem estrategias cooperativas. Isto e particularmente claro nos casos de reiteracao do Dilema dosPrisioneiros, em que urn jogo ordinario, singular, da lugar a urn superjogo composto de urna serie indefmidade interacoes estrategicas, Alem disso, nos casos em que os individuos estao envolvidos em relacoes sociaisas mais divers as, pode emergir entre eles elementos que transformem sua estrutura motivacional. Elsterargumenta que e exatamente a transformacao do Dilema dos Prisioneiros em urn Jogo de Seguranca 0 quepode explicar a ocorrencia de acoes coletivas entre os trabalhadores. Diante da indagacao: Existe urna saidapara 0Dilema dos Prisioneiros?, Elster aponta para a possibilidade da ocorrencia de mudancas na estrutura depreferencias dos atores em foco."In the case of working-class cooperation the most plausible explanation is by change of the preferencestructure. Through continued interaction the workers become both concerned and informed about each other.Concern for others changes the ranking of alternatives, and information about others enables the actors torealize the solution of the (...) Assurance Game" (Elster, 1982, p.468).Na verdade, 0 que Olson considera como sendo "a" logica da acao coletiva corresponde tao somente a urncurso de ar,;aoparetianamente otimo fixado a partir de condicoes definidas de forma extremamente restritiva.Na medida em que se transforma a matriz social na qual se inserem os individuos envolvidos com qualquerproblema de ar,;ao coletiva, alteram-se os termos mediante os quais as estrategias de comportamento saoequacionadas. Se muda 0 contexto de ar,;ao individual, muda-se tambem a logica que informa 0comportamento dos atores relevantes.Neste sentido, sao significativos os resultados de algumas experiencias envolvendo individuos inseridos emsituacoes de Dilema dos Prisioneiros. Rapoport (1980) ilustra os resultados de urna experiencia que consistiuem submeter os participantes de urn jogo a diferentes condicoes de comunicacao e diferentes orientacoesdadas pelo experirnentador. As condicoes de comunicacao foram:1.Ausencia de Comunicacao, 0 jogo se desenvolve sem qualquer comunicaeao entre os jogadores.2. Comunicacao, Os jogadores puderam comunicar-se entre si antes que 0 jogo comecasse,3. Decisao reversivel. Sem qualquer tipo de comunicacao previa, urna vez feitas as escolhas por parte dosjogadores cada urn podia modificar sua estrategia quantas vezes desejasse.4. Decisao nao-simultanea, Sem comunicacao previa, urn jogador fazia sua escolha e esta era anunciada aooutro jogador antes que esse fizesse sua escolha.As orientacoes dadas aos jogadores foram:1. Cooperativa. Com enfase na maximizacao conjunta.2. Individualista. Cada jogador deveria cuidar de si mesmo.3. Competitiva. Cadajogador deveria sentir-se jogando contra 0 outro.Os efeitos dessas diferentes condicoes de jogo sao apresentados no quadro 1. Observe-se que, mantida aorientacao individualista a percentagem de individuos que agiram de forma cooperativa aurnentou na medida

  • 5/10/2018 [A] ZAULI 2000 - Crtica Formal a Mancur Olson

    5/8

    em que se introduziu no jogo a comunicacao entre os jogadores e a reversibilidade de suas decisoes. Emcondicoes de decisao nao-simultanea a percentagem de individuos cooperativos decresceu, ja que 0 primeirojogador que fizer uma escolha cooperativa ficara a merce do segundo. Deve-se notar que, com excecao dacondicao de reversibilidade, 0 percentual de individuos cooperativos foi sempre superior ao percentual depares cooperativos, 0 que demonstra que a confianca em solucoes cooperativas nao se justifica nesse tipo dejogo.Se admite uma mudanca nos pressupostos subjacentes a analise olsoniana, abre-se a possibilidade para 0seguinte tipo de consideracao:"Agents do not choose in total isolation from one another. What an agent does is observed by others, and thisfact is known to him. Also, he is in position to observe what others do and ultimately what they get. Theseexternalities may influence motivation and choice in several ways. First, the agent may feel guilt and shameabout abstaining, based on an anticipation of the informal social sanctions that can be brought to bear on him.For all practical purposes this is equivalent to imposing a utility fine on the choice of the abstention strategy-but only if others choose to cooperate. This will reduce or eliminate the free-rider gain, whithout affectingthe loss from unilateralism. Secondly, the agent may derive some positive utility from the gains that accrue toothers. If by engaging in collective action he can raise their utility level to some extent, this may partially orwholly offset the loss to himself, that is the free-rider benefits foregone. (...)Thirdly the agents may valueequality as such, and derive negative utility whenever the numbers in any given cell of the payoff matrixdiffer. Once again this will reduce the free-rider gain, without any reduction of the loss from unilateralism. Ifanything, the latter will be raised by a preference for equality. Assuming that these externalities completely doaway with the free-rider benefits, cooperation appears as the solution to the game. Once more, however, thisis not a dominant strategy. Since I assume that the loss from unilateralism remains, it is not racional to takethe first step towards collective action. (.. .) Stringent information requirements must be fulfilled, We aredealing, in fact, with a conditional preference for cooperation. Each agent prefers to cooperate if the otherscan be expected to do likewise, but ifhe suspects they will not, he wont't either" (Elster, 1985, pp.361,362).A relevancia do Jogo da Ga1inha aplicado aos problemas de ayao co1etiva empresarial tambem nao passadesapercebida de Elster. Para esse autor, os problemas de coordenacao estrategica empresaria1 nem sempre seresumem a estrutura do Dilema dos Prisioneiros e a estrutura de recompensas do modelo do Jogo da Galinha,muito mais do que 0 modelo do Jogo de Seguranca, se mostra particu1armente adequada para se explicar aemergencia de comportamentos cooperativos (Elster, 1982). Enquanto no caso dos trabalhadores admite-seque importantes elementos de solidariedade venham a produzir linhas de conduta cooperativas, no caso dosinteresses empresariais 0 que se ressalta e 0 papel da reiteracao do Dilema dos Prisioneiros e 0 egoismointeligente de longo prazo embutido no recurso ao Jogo da Galinha para a explicacao de acoes coordenadas(Elster, 1982; Bowman, 1989).Tais consideracoes nos levam ao encontro das observacoes de Wanderley Guilherme dos Santos a respeito dasperspectivas de aplicacao do modelo do Dilema dos Prisioneiros. Santos (1989;1993) chama a atencao para 0fato de que determinadas decisoes, formalmente identicas, tern impacto diferenciado sobre 0meio ambientesocial em que sao produzidas. Algumas decisoes sao do tipo que mantem 0 status quo inalterado, enquantoque outras redundam em modificacoes no estado de coisas inicial. Como raramente uma solucao nos termosdo Dilema dos Prisioneiros mantem 0 status quo inalterado, razoes de natureza politica e economica tendem atransformar um Dilema dos Prisioneiros em um Jogo da Galinha.Em um trabalho dedicado a problemas de ayao coletiva e organizacao de mercados gerados pela competicaode interesses capitalistas, Bowman (1989) alude aos efeitos que a reiteracao do Dilema dos Prisioneirosprovoca quanto a transformacao da estrutura de recompensas de firmas competindo no mercado. Alem disso,o autor aponta nada menos do que dez variaveis cujo "comportamento" pode defmir condicoes de mercadoque favorecem a emergencia de resultados cooperativos na definicao de precos: 1) mimero de firmasvendedoras. Quanto menor 0 mimero de firmas competindo em um determinado mercado, maior aprobabilidade de cooperacao entre elas. 2) Numero de compradores. Quanto maior 0mimero de compradoresem um determinado mercado, menor a probabilidade de sucesso de estrategias de corte de precos, ja que cadaum dos compradores representa apenas uma pequena fracao do total de vendas de uma firma particular. 3)Novidade do mercado. Quanto mais solidamente estabelecidos os mercados, maior a probabilidade de que

  • 5/10/2018 [A] ZAULI 2000 - Crtica Formal a Mancur Olson

    6/8

    estrategias de corte de precos sejam detectadas e retaliadas pelos competidores. 4) Caracteristicas dastransacoes. Quanto menor 0 tamanho e mais frequente as transacoes de venda, menor 0 incentivo paraestrategias unilaterais de corte de precos, 5) Demanda. Quanto maior a expansao da demanda, menor 0incentivo para corte de precos unilaterais. 6) Durabilidade dos produtos. Quanto maior a possibilidade deestocagem e quanto menor a obsolescencia dos produtos, menor a probabilidade de corte de precosunilaterais. 7) Estrutura de custos. Quanto maior a proporcao dos custos fixos em urna industria, maior 0incentivo para cortes de precos unilaterais. 8) Condicoes de Entrada. Quanto maiores os obstaculos a entradaem urn deteminado mercado, maior a probabilidade de cooperacao entre as firmas nele estabelecidas. 9)Credibilidade das ameacas, Quanto maior a credibilidade das ameacas de retaliacao, maior a probabilidade decooperacao entre os competidores. 10) Heterogeneidade dos produtos. Quanto maior a elasticidade rmiltiplada demanda; quanto maior a heterogeneidade dos produtos produzidos por urna industria particular; e quantomaior 0 dinamismo tecnologico e 0 grau de obsolescencia dos produtos de urna certa industria, menor aprobabilidade de cooperacao,A relevancia dos jogos cooperativos enquanto altemativa analitica ao modelo do Dilema dos Prisioneirosutilizado por Olson reside na modificacao das estruturas de recompensas que eles pressupoem. De fato, osdiversos jogos cooperativos se caracterizam por funcoes de utilidade distintas daquela tipica do modeloolsoniano e implicam em urna revisao do ordenamento das estrategias de comportamento caracteristico doDilema dos Prisioneiros. Quanto ao Jogo de Seguranca, a ordem de preferencias consubstanciada por urnaestrutura de recompensas especifica e dada pelo ordenamento A1(y,Y) >A1(N,N) >A1(N.Y) >A1(y,N),enquanto no caso do Jogo da Galinha a ordem de preferencias e expressa da seguinte maneira: A1(N,Y) >A1(Y,Y) >A1(Y,N) >A1(N,N).E importante notar que a modificacao das estruturas de recompensas subjacente a diferentes funcoes deutilidade dos jogos cooperativos e nao-cooperativos se constituem em urn instrumento promissor na busca daimplementacao de comportamentos cooperativos. Preocupado em explorar as perspectivas de emergencia econsolidacao de linhas de conduta cooperativa por parte dos Estados no contexto intemacional, Kenneth Dye(1985) se pergunta a respeito de quais circunstancias favoreceriam a emergencia da cooperacao em urnasituacao intemacional definida como anarquica e de quais estrategias poderiam ser adotadas para facilitar aadesao a cooperacao em virtude de alteracoes nas circunstancias a partir das quais os atores tomam suasdecisoes. A resposta vern sob a forma de tres tipos de consideracao, Em primeiro lugar, Dye menciona 0 papelque as diferencas de magnitude das recompensas correspondentes a cada urna das estrategias possiveis em urnjogo desempenham enquanto fatores que influenciam as decisoes dos atores. A magnitude das diferencas entreos diferentes pontos de urna matriz de recompensas influenciaria as perspectivas de cooperacao de duasmaneiras. Primeiro, mudancas nos valores vinculados a cada urna das linhas de conduta poderiam transformarsituacoes inicialmente defmidas como correspondendo a urn tipo particular de jogo em urna situacao melhordefmida por outro modelo da Teoria dos Jogos. Segundo, sob condicoes de reiteracao, quanto maissubstanciais forem os ganhos decorrentes de estrategias mutuamente cooperativas e menos substanciais osganhos decorrentes de estrategias unilaterais de defeccao, maior a probabilidade de cooperacao, Em segundolugar, Dye examina a forma atraves da qual a perspectiva de urna interacao continua entre os participantes deurn jogo afeta as probabilidades de cooperacao, Neste ponto 0 autor aborda a questao ja mencionadaanteriormente da reiteracao do Dilema dos Prisioneiros. Com efeito, experiencias demonstram que sobcondicoes de interacao continua e sem previsao de termino do jogo, a incidencia de comportamentoscooperativos aurnenta significativamente. Enquanto nas situacoes de Dilema dos Prisioneiros de urna sorodada 0 comportamento nao-cooperativo emerge como estrategia dominante, a perspectiva de retaliacao porparte do outro jogador na sequencia seguinte de urn superjogo do Dilema dos Prisioneiros deve ser deduzidados ganhos de curto prazo obtidos pela escolha de urna estrategia egoista. Tanto no caso deste jogo quanto nocaso do Jogo da Galinha e no Jogo da Seguranca, a promessa de responder a urn ato cooperativo no presentecom urn outro ato cooperativo no futuro e a ameaca de responder a urn ato nao-cooperativo no presente comurn ato nao-cooperativo no futuro aurnentam as chances de comportamentos cooperativos. Em terceiro lugar,assim como Bowman (1989), Dye examina as consequencias derivadas do numero de jogadores em cadajogo. As diferencas entre jogos de duas e N pessoas sao mencionadas ao mesmo tempo que sao feitassugestoes para a promocao das perspectivas de cooperacao. Quanto maior 0 numero de jogadores menores aschances de ocorrencia de comportamentos cooperativos. Segundo Dye os numeros afetam a probabilidade decooperacao de tres maneiras. Primeiro, acoes cooperativas dependem do reconhecimento de oportunidadespara a promocao dos interesses comuns e de coordenacao politica. Quanto maior 0 numero de jogadores

  • 5/10/2018 [A] ZAULI 2000 - Crtica Formal a Mancur Olson

    7/8

    envolvidos em urn jogo particular, maiores os custos de transacao e informacao embutidos na viabilizacao delinhas de a9ao coordenadas. Segundo, quanto maior 0 mimero de jogadores maior a probabilidade decomportamentos nao-cooperativos e maiores os problemas de identificacao e controle sobre 0 comportamentodos participantes. Terceiro, quanto maior 0 mimero de jogadores, menos factivel se tomam as sancoespunitivas aos infratores das linhas de comportamento cooperativo naquelas circunstancias em que nao se podeindividualizar tais sancoes de forma a nao atingir todo 0 conjunto de jogadores.Para conc1uir, a caracterizacao feita por Mancur Olson do que ele qualifica como sendo 0 dilema da acaocoletiva, esta longe de ser algo inquestionavel, Como demonstrado acima, 0 recurso a outros instrumentos daTeoria dos Jogos permite 0 desenvolvimento de linhas de abordagem para 0 fenomeno da a9ao coletiva quedestoam da analise olsoniana tanto nos seus pressupostos quanto nas suas conclusoes.

    Dois individuos suspeitos de urn crime conjunto sao presos e colocados em condicoes de incomunicabilidade.Suponhamos que inexista qualquer tipo de constrangimento moral entre eles. Cada urn deles tern duasaltemativas: confessar ou nao-confessar 0 crime, e cada qual esta perfeitamente informado das consequenciasda escolha de cada urna destas altemativas. Se os dois confessarem, receberao cada urn urna pena de 5 anos deprisao (5,5). Se nenhurn dos dois confessar serao punidos com 1 ano de prisao por porte ilegal de armas(1,1). Se apenas urn dos individuos confessar, ganhara a liberdade enquanto 0 outro recebera urna pena de 20anos (0,20) e (20,0). Neste jogo cada urn tern urna altemativa preferencial incondicional (confessar), adespeito da altemativa esco1hida pelo outro. E cada urn tern urna a1temativa preferencia1 incondicional arespeito da escolha do outro (nao-confessar). Estas duas preferencias estao em sentidos opostos: a altemativaque cada urn prefere (confessar), nao corresponde a escolha que se prefere que 0 outro faca (nao-confessar), Asolucao do jogo (conjunto de estrategias para 0 qual convergem atores racionais perfeitamente informados) edada pelo ponto de equilfbrio (conjunto de estrategias em que a estrategia de cada ator e otima vis-a-vis a dooutro) correspondente as OP90es (confessar,confessar)\(5,5) que, entretanto, e subotima, ja que os doisreceberiam urna pena menor (1,1) escolhendo juntos sua pior altemativa (nao-confessar, nao-confessar).

    A ordem de preferencias do Jogo da Seguranca e a mesma do Jogo da Galinha, so que neste caso a retaliacaopor parte de urn jogador em relacao a urna determinada estrategia escolhida pelo outro e possivel. De formaque nenhurn dos dois jogadores tern urn incentivo para abandonar a posicao cooperativa que maximiza seusinteresses (4,4). Se urn dos jogadores fugir desta posicao e passar a adotar urna estrategia nao-cooperativavisando melhorar sua situacao (5,1), ocasionara urna reacao do jogador adversario que os levaraconjuntamente a urna posicao inferior aquela correspondente a cooperacao conjunta. A ordem de preferenciasde cadajogador e a seguinte: (4,4) > (5,1) > (1,5) > (-1,-1).

    Dois motoristas em condicoes de incomunicabilidade conduzem seus respectivos automoveis no centro deurna rodovia em sentidos opostas. Cada urn deles tern duas altemativas: desviar do outro carro ou manter ame sma direcao, Se urn dos motoristas desviar sua trajetoria e 0 outro nao, sofrera 0 estigma de ser conhecidocomo galinha (1,5), enquanto 0 segundo ganhara a fama de heroi (5,1). Se nenhurn dos dois desviar atrajetoria de seus carros sofrerao urn grave acidente (-1,-1), talvez fatal. Se ambos os motoristas desviaremseus carros sofrerao urn dano menos grave em suas respectivas reputacoes (4,4). A ordem de preferencias decada motorista resultante da matriz de resultados da tabela acima e: (5,1) > (4,4) > (1,5) > (-1,-1).

  • 5/10/2018 [A] ZAULI 2000 - Crtica Formal a Mancur Olson

    8/8

    Referencias BibliograficasBENTLEY, Arthur. The Process of Government. 13edicao, Evanston. Ill.: Principia Press. 1949.BOWMAN, John R. (1989). Capitalist Collective Action. 13 edicao, Cambridge/New York: CambridgeUniversity Press. 1989. 253p.ELSTER, Jon. (1982). Marxism, Functionalism and Game Theory. In: Theory and Society, Netherlands. n.11:pp.453-482, 1982.ELSTER, Jon. Making Sense of Marx. 13edicao. Cambridge/New York: Cambridge University Press. 1985.556p.OLSON, Mancur. The Logic of Collective Action. 33 edicao. CambridgelMassachusetts: Harvard UniversityPress. 1973. 185p.OYE, Kenneth A. Explaining Cooperation Under Anarchy: hypotheses and strategies. In: World Politics,Princeton. v.38,n.1. pp.1-24, outubro/1985.RAPOPORT, Anatol. Lutas, Jogos e Debates. 13edicao, Brasilia: Editora da Universidade de Brasilia. 1980.SALISBURY, Robert. An Exchange Theory of Interest Groups. In: SALISBURY, Robert, (ed.), InterestGroup Politics in America. 13edicao, New York. Harper and Row Publishers. 1970. pp.32-67.SANTOS, Wanderley Guilherme dos. "ALogica Dual da A9ao Co1etiva". In: Dados, Rio de Janeiro. v.32, n.1.pp.23-39, 1989.SANTOS, Wanderley Guilherme dos. As Razoes da Desordem. 23 edicao, Rio de Janeiro: Rocco. 1993. 148p.SANZ, Rene Cortazar, The Assurance Game and The Origins of Collective Action. mimeo. 1990.24p.TRUMAN, David. The Governmental Process. 13edicao, New York. Alfred A. Knopf. 1958.

    ZAULI, Eduardo Meira. Grupos de interesse acao co1etiva: uma critica formal a Mancur Olson. RevistaDesafio. Setembro/2000. Rio de Janeiro, Brasil. (Internet: hrtp.z/www.ibase.org.brz-desafio).Eduardo Zauli e Doutor em Ciencia Politica (USP), professor do Departamento de Ciencia Politica da UFMGPara contatar Zauli, envie e-mail [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]