Top Banner

of 24

a união do vegetal

Jun 04, 2018

Download

Documents

Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    1/24

    130 Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    Rosa Melo

    A UNIO DO V EGETAL E O TRANSEM EDINICO NO BRASIL

    A abordagem

    O texto a seguir apresenta alguns ele entos si !"licos do culto daayahuasca1no #entro $sp%rita &ene'icente nio do egetal (#$& * ), co o o!+eti o deanalisar a ela!ora o dos odos de constitui o do espiritis o local .ue atua nade'ini o nati a do transe, aburracheira/

    os ritos religiosos do #$& * , dora ante nio do egetal, ou * , oadepto co unga o egetal ou ahoasca, u c 4 'eito a partir do cip" e da 'ol a2 daplanta e, con'or e seu ereci ento, experi enta aburracheira/ in a interroga odo transe ude ista incide so!re a presen a do guia espiritual, ani'estada na

    burracheira, o estre 6a!riel, co o u a 'or a .ue i pele o su+eito 7 a o no undo/8 nio do egetal surgiu e u a regio de extra o go %'era e logo seesta!eleceu na peri'eria de 9orto el o RO no in%cio dos anos 1;es dos seringais e naperi'eria de 9orto el o, e sua posterior di'uso entre a classe ?dia dos grandescentros ur!anos ? u a passage rica para a articula o de percep >es a respeito doscontornos da tradi o e da odernidade no ca po religioso/ O sentido prec%puodesse o i ento apresenta-se na no o do transe, interna ente 'or ulada co o a

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    2/24

    131$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    entrada no espa o sagrado, e .ue se d4 o encontro co o estre, 'onte docon eci ento conducente ao eu erdadeiro /

    8 ressigni'ica o daayahuasca na nio do egetal d4-se atra ?s deresson=ncias entre siste as e c"digos di ersos, nu a tentati a de totaliBa o depontos de ista parciais (#arneiro da #un a 1;;C)/ Dndico ainda co o estoorganiBados na se =ntica do egetal ele entos do xa anis o e dos espiritis os!rasileiros 'ace a contradi >es, edia >es e c"digos partil ados co o #ristianis o,se a inten o de propria ente de arcar espa os para tais ele entos/

    Os centros de tra!al o espiritual co aayahuasca, pioneiros no uso ur!ano doc 4 e .ue e !re e tornar-se-ia institui >es religiosas aEa uas.ueiras, 'ora'undados na 8 aBFnia entre os anos 1;30 e 1;G0/ O registro .ue segue corresponde7s datas o'iciais de cria o dos respecti os grupos/ $ 1;30 surge o 8lto Santo,liderado pelo aran ense Rai undo Drineu Serra e Rio &ranco, 8cre/ o ano de1;H5, na es a cidade, o aran ense *aniel 9ereira de attos, ex-dai ista, 'undaa &ar.uin a/ o seringal Sunta, 'ronteira co a &ol% ia, e 1;

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    3/24

    132 Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    a aBFnico, egetalis o, tradi o ca!ocla daayahuasca e xa anis o ind%gena ere'erLncia 7 posi o do su+eito co o detentor do poder de acionar 'or as espirituaisdi ersas, capaBes de agir so!re o corpo e a al a dos u anos/ Segundo o perspecti is oa er%ndio ( i eiros de #astro 1;;es aEa uas.ueirasur!anas de e-se, e larga edida, 7 experiLncia de contato co 'or as in is% eis/#ontudo, entre os grupos, as 'or as a sere acionadas so o!+eto de con'lito e

    acusa >es/ So! o e'eito ext4tico, o iniciado aprende a o er tais poderes, 'aBendo-os tra!al are so! sua orienta o/ o xa anis o ind%gena, .ue independe do usode psicoati os, assi co o no egetalis o (@una 1;C

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    4/24

    133$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    *esse odo, ? preciso relati iBar a arca xa =nica e raBo dos princ%pios eli ites do oo espiritual nos grupos a!ordados, .ue ressigni'ica o con eci entotradicional xa =nico/ as cos ologias dai ista e ude ista, a !e!ida ? u eio decontato co u a 'or a superior, as tal 'or a ? etoni ica ente representada pelol%der caris 4tico, perce!ido co o guia da !e!ida/ *estaca -se as pr4ticas da caridade,da irradia o, da o!ediLncia, da e olu o e do autocon eci ento, distri!u%das de

    odo distinto e cada u a das lin as atriciais daayahuasca/*iante da ressigni'ica o dai ista e ude ista, ? i portante interrogar se a

    co unica o extraordin4ria alcan ada por eio da !e!ida ? u a caracter%sticasu'iciente para deter inar o suposto xa anis o desses grupos/ Se no xa anis o aconcep o do esp%rito coloca e rela o entidades di ersas, de u anos e no

    u anos, e o i ento constante, co o situar as c a adas religi>es ur!anas daayahuasca le ando e considera o esse princ%pio !aliBador do xa anis o

    Sandra 6oulart (200H) realiBou u a pes.uisa co as trLs lin as atriciais no8cre e e RondFnia/ $ sua tese, a autora e !asa o argu ento de .ue, e eio acontradi >es e con'litos, as lin as propaga u a es a tradi o/ essa perspecti a,as in'luLncias xa =nica, a'ro-!rasileira, Mardecista, esot?rica e crist distri!ue -sedesigual ente na "r!ita da percep o teol"gica do c 4 apresentada por cada u a dastrLs lin as/ 6oulart sustenta .ue essas so di'erentes reela!ora >es de u es oco plexo de cren as, .ue con+uga o egetalis o a aBFnico peruano (@una, op/cit/)e a pa+elan a ca!ocla (6al o 1;55K au?s 1;;5)/

    o pretendo reto ar a.ui a discusso da antrop"loga, .ue analisa, de odocon incente, o tr=nsito da in'luLncia egetalista e da pa+elan a ca!ocla entre as

    atriBes ur!anas daayahuasca, as atentar para a se =ntica co u entre os transesespirituais articulados por Drineu e 6a!riel, nordestinos 'undadores de u a tradi oreligiosa na regio a aBFnica/ O panora a das 'or a >es do Santo *ai e e da

    nio do egetal ali enta o escopo da an4lise a respeito da a!ilidade ude ista detransitar por re'erLncias ariadas na 'or a o de uethos e .ue a in'luLncia de uesp%rito al eio e superior, o l%der caris 4tico, no prescinde da tFnica crist do li re-ar!%trio, propagada atra ?s da !usca en'4tica do autocon eci ento co o crit?rio dee olu o espiritual/ Nais categorias to a lugar central na a!ordage a.uiapresentada de ido 7 pree inLncia de tais .uest>es, o!ser ada nos rituais e discursos

    pessoais analisados na pes.uisa desen ol ida no #$& * ( elo 2010)/Os caboclos da flores a ! "ma rad#$%o #&fer#or a 'ar #r da rele# "ra rel#g#osa(

    Rai undo Drineu Serra nasceu na &aixada aran ense e 1C;0/ Dntegrandoa assa de tra!al adores nordestinos .ue e !arcara e na ios ru o aos seringaisda 8 aBFnia, c egou ao 8cre e 1;12, 'inal do auge do pri eiro per%odo daexplora o go %'era, le ada 7 decadLncia pela co peti o co a produ opro eniente da Psia/

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    5/24

    13H Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    Jos? 6a!riel da #osta nasceu no ano de 1;22, e u a regio pr"xi a a Ieirade Santana &8/ *e l4 partiu e 1;H2 e i eu por alguns eses e Sal ador/ $1;H3, 6a!riel c egou ao norte, e !ro do ex?rcito recrutado para a extra o da!orrac a 'ornecida 7s 'rentes de co !ate dos 8liados na Segunda 6uerra undial,?poca e .ue tal explora o 'oi te poraria ente intensi'icada/ 8ssi sendo, elepassou a residir entre a capital do antigo territ"rio de 6uapor? e os seringais da'ronteira co a &ol% ia, de 1;H3 a 1;

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    6/24

    135$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    re'erLncia ao tra!al o de parteiras se ipro'issionais .ue a'ir a a possuir uQcon eci ento .ue os doutores no possue (6al o 1;55:121)/ a peri'eria deD.uitos, 9eru, *o!Min de Rios (1;G2), durante sua etnogra'ia, torna-se u a curiosa ,ou se+a, u a carto ante/ 8 curiosidade ? u a categoria .ue indica poderes de

    anipula o de 'or as in is% eis geridos de 'or a an4r.uica, portanto no articuladosnu a ordena o de ida ente siste atiBada/ Nal do %nio, assi co o a 'eiti aria,pode acarretar Lxitos ou alogros, e contraste co a !usca por u alin a entoreligioso pro o ida por u a doutrina organiBada/

    8spectos da ela!ora o do con eci ento espiritual dos l%deres do *ai e e da* so gestados e narrati as .ue re onta 7 rela o desses indi %duos co as

    pr4ticas .ue os iniciara na experiLncia co a !e!ida/ *esse contato pro Lro pi entos e continuidades, sendo tal experiLncia 'onte de a !i alLncias na'or a o religiosa dos grupos e tela/

    *estaco ers>es reduBidas de duas narrati as o'erecidas pela pes.uisa de 6oulart(op/cit/) so!re as pri eiras experiLncias de Drineu co aayahuasca/ So di'erentes

    ers>es .ue se re'ere a ensagens opostas e assi iladas de odo desigual peladoutrina/ 8 no o ogeneidade das ers>es relacionadas 7 tra+et"ria do 'undador doSanto *ai e ense+a u discurso i preciso acerca das 'ontes irradiadoras do poder do

    estre/ o caso da * te -se con eci ento de u a Anica erso de co o Jos?6a!riel con eceu o c 4, e .ue 4 pouco espa o para desliBa entos de sentido e ?poss% el entre er a constitui o de u a 'ranca inten o de di'eren a 'ace ao uso da!e!ida pelos curiosos da 'loresta/

    Drineu 'oi con idado por 8ntFnio #osta para con ecer u grupo no 9eru .ue!e!ia u c 4 de no eayahuasca e, ento,

    to ou a !e!ida e .uando os outros co e ara a tra!al ar, !otara a!oca no undo c a ando o de Fnio/ $le ta !? co e ou a c a ar/S" .ue na propor o .ue ele c a a a o de Fnio, era cruBes .ue iaaparecendo ///T O estre co e ou a analisar/ O dia!o te edo decruB e na edida .ue eu c a o por ele, aparece as cruBes/ Ne coisaa%/// (6oulart op/cit/:30)/

    8 narrati a segue, atendo-se a u a outra ocasio e .ue Drineu !e!eu o c 4,.ue d4 continuidade ao ito, sugerindo ele entos 'or adores da doutrina:

    $ra u a noite clara/// $ .uando ele co e ou a irar deu uita ontadede ol ar para a lua/ Uuando ol ou ela eio se aproxi ando ///T $ 'icouparada/ *entro da lua u a Sen ora sentada nu a poltrona, uito'or osa e !ela ///T $la 'alou para ele:

    Nu te corage de e c a ar de Satan4s 8 e aria, in a Sen ora, de +eito nen u V ///T

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    7/24

    13< Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    O .ue ocL est4 endo ningu? nunca iu/ S" tu/ 8gora e diB:.ue ocL ac a .ue eu sou

    "s sois a *eusa ni ersal/

    8 Sen ora, de no e #lara, aparecer4 outras eBes, recon ecendo Drineu co oalgu? dotado de sensi!ilidade extraordin4ria e orientando-o e sua isso /

    Segundo u antigo dai ista, estre Drineu encontrou o erdadeiro no e da!e!ida, poisayahuasca era o no e pri iti o, anterior 7 doutrina e, portanto, aindano se trata a do dai e, u a eB .ue so! o no e ind%gena a !e!ida se encontra ae n% el in'erior de desen ol i ento/ 8 trans'or a o do no e do c 4, se+a noSanto *ai e ou na nio do egetal, co unica co o a deno ina o .u?c ua da!e!ida ? identi'icada ao seu est4gio pri iti o, ideia .ue reproduB a ierar.uia racialda sociedade !rasileira/

    outros relatos, surge a 'igura de u estre curandeiro, 7s eBes c a ado de*on 9iBBon ou 9iBango, aparece co o u ser espiritual ligado 7 !e!ida/ Ialando eespan ol ou co o descendente dos incas, o ser aticina os poderes de Drineu e diB:

    S"usted te condi >es de tra!al ar co o *ai e/ ingu? ais est4endo o .ue tu t4 endo (Re ista do #enten4rio 1;;2:21,apud 6oulart

    op/cit/)/

    a pri eira erso, o experi ento no 9eru ? representado a partir de i agensde on%acas/ #ontudo, a iso pro ocada pela !e!ida, a ira o de Drineu, contradiBa e oca o sonora, ostrando-l e o s% !olo da cristandade/ u segundo o ento,Drineu rece!e a isita de u a 'igura 'e inina !eat%'ica, .ue posterior ente ser4identi'icada co Santa #lara ou ossa Sen ora da #oncei o, u a 'igura .ue e ocaa irge aria/

    8 narrati a 'ixada no ito de orige do Santo *ai e ? a da Santa, e no a doca!oclo 9iBBon/ a segunda narrati a, o inca ? ta !? u ca!oclo , entidade presentenas di ersas religiosidades de tonalidade a'ro-indo-!rasileira/ #ontudo, o ele ento centralda cristaliBa o %tica ? a iso de u a santa cat"lica, .ue l e pergunta se ele ac a .ueela ? satan4s/ 8 interroga o da santa ? associada 7 rela o de Drineu co a !e!ida,

    puri'icando-o de sua experiLncia ca!ocla anterior e construindo a separa o entre o!e e o al , condi o para a entrega do poder a Drineu/as duas ers>es te os a ira o no centro dos poderes de Drineu/ 8 pri eira

    narrati a diB respeito 7 in'erioridade do uso do c 4 na 'loresta, ligado aos cultosde on%acos a sere superados pela isso di ina do estre, anunciada por cruBes e,'inal ente, por u a !ela 'igura 'e inina surgida da lua/ 8 segunda ? u a erso .uegoBa de enor isi!ilidade no grupo, onde o ca!oclo 9iBango surge co o guia da!e!ida, recon ecendo e legiti ando o poder superior de Drineu diante dos de aisparticipantes da sesso/

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    8/24

    13G$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    a nio do egetal, a l"gica de atri!ui o de superioridade da doutrina ?radicaliBada na rela o .ue se esta!elece entre Jos? 6a!riel e a !e!ida, desde o in%cioalin ada ao distancia ento dos estres de curiosidade , segundo classi'ica oude ista .ue 'aB re'erLncia ao uso do c 4 pelos curandeiros/

    $ col".uios entre adeptos, conta-se co o os curiosos perce!era u aaltera o no e'eito do c 4 durante os pri eiros contatos de Jos? 6a!riel co a!e!ida, ind%cio da intera o de 6a!riel co o c 4/ 8 narrati a, gra adaH na oB da

    iA a, estre 9e.uenina, conta a acla a o de 6a!riel co o estre superior pordoBe estres de curiosidade / O poder de udar a 're.uLncia daburracheira sugerea 'or a do estre .ue, de acordo co o ito de orige do c 4, a Wist"ria da Woasca,insere-se etoni ica ente na pr"pria !e!ida, isturando-se co ela/ $ssa narrati a,por ser longa e co plexa, no ca!e no espa o li itado deste artigo/ 9ara o presente,!asta sa!er .ue nela 6a!riel conta suas encarna >es anteriores e, ao 'inal, a'ir a: 8!urrac eira sou eu / #o entarei essa i portante asserti a adiante/

    8nos depois, e 1o de a!ril de 1;5;, no seringal 6uarapari, 'ronteira co a&ol% ia, Jos? 6a!riel rece!e o c 4 e sua casa, das os de # ico @ouren o/

    9e.uenina, e entre ista gra ada ao lado de seu 'il o Jair, relata as pri eirasexperiLncias de 6a!riel e sua 'a %lia co o c 4:

    # ico @ouren oT 'alou u a por o de coisas: 8 6a!riel, eu le o apessoa nos encantos, 'a o a pessoa er a.uilo .ue a pessoa .uer / Uuando'oi no te po de !urrac eira o papai 'alou pro # ico @ouren o: Ol a,# ico @ouren o, a pessoa no de e 'alar a.uilo .ue no pode 'aBer / Ioi.uando o # ico @ouren o disse: X isso es o, 6a!riel, ? isso es o

    ///T *a% o estre 6a!riel +4 co e ou a repreender ele/

    essa es a ocasio, 'oi arcada a pr"xi a sesso para o dia 2H de +un o/este dia, conta 9e.uenina: &e!e os o egetal 7 noite, nu a sesso uito 'orte///T 'i.uei uito ner osa / a terceira sesso 'oi ento deter inada e # ico

    @ouren o trouxe o cip" e a 'ol a/ IiBera o c 4 co uitas outras 'ol as e cas.uin ade pau , o .ue pro ocou o .uestiona ento de 6a!riel a # ico @ouren o, .ue l erespondeu .ue a.uilo tudo era para eles tere uitas is>es/ Segue a narra o:

    O te po des!aratinou no eio de todo undo, tin a di ersas pessoas,e o po o +4 asso !rado co tanta coisa .ue aparecia ///T 'oi .uando

    eu 'il o Jair, gritando uito ///T 'oi .ue o estre .ue ? o estre6a!riel o+e, pegou no !ra o dele e disse: eu 'il o , .uando ele disse

    eu 'il o ele 'oi irou-se para o pai dele e disse: O Sr/ ? estre / $ledisse: Sou / $ disse: O Sr/, u estre 'eito por *eus ///T 8% o estre6a!riel disse: Ol e, # ico, ocL no sa!e, isso a.ui ? u a coisa de*eus e ocL no sa!e tra!al ar/// ocL t4 isturando uita coisa / $

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    9/24

    13C Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    nesse o ento o estre 6a!riel co e ou a diBer u as pala ras, co ose esti esse doutrinando/

    8lgu te po depois, no 8cre, ap"s dirigir u a sesso a pedido de doBe estresde curiosidade .ue o tin a isto nos encantos5, 6a!riel 'oi acla ado estre/

    O controle daburracheira ser4 depois exercido pelo estre 6a!riel e aprendidopor sua esposa, estre 9e.uenina, .ue conta co o u dia u rapaB 'oi procurar o

    estre co u aburracheira .ue no passa a e o l%der col eu aburracheira nudesata ento de sapato (3o #ongresso * * *, 1;;5)/ *iB-se na nio .ue aburracheira ? guiada pela pala ra , contudo esse exe plo do desata ento de sapatoe idencia o poder do l%der e anipular o!+etos, dese pen ado antes do contatoco a !e!ida e .ue se associa ao egetal e 7 sua 'or a estran a , aburracheira/

    #o # ico @ouren o, outros trLs aspectos so ressaltados: pri eira ente aasserti a .ue propaga .ue a 'un o da !e!ida seria 'aBer a pessoa entrar nos encantose er o .ue .uer, adi in ando o 'uturo ou con ecendo o passado, ? censurada por6a!riel/ *e acordo co o ito de orige , con ecer tudo o .ue 4 ? u a prerrogati ado estre erdadeiro, por isso 6a!riel, nu a pr? ia de sua atua o co o estre da

    nio do egetal, repreende a.uele .ue se p>e e u lugar inde ido/ #orrigir , eeB de repreender , ? o ter o adotado para essa inclina o doutrin4ria do estre

    6a!riel, prenunciada no epis"dio co # ico @ouren o, .ue, co o u disc%pulo,recon ece e acata a autoridade do estre/

    8 ultiplicidade de 'ol as e cas.uin as de pau no depoi ento de 9e.ueninare'ere-se 7 tradi o dos curandeiros da 'loresta, na .ual outros egetais so acrescidosao coBi ento da !e!erage / 8 nio do egetal, nas pri eiras d?cadas, ante e ocostu e de adicionar outros egetais, tradi o c a ada de no e egetal , .ue podiaser, a crit?rio do estre do preparo do c 4, a ele acrescentados para 'ins de cura,realiBados e sesso espec%'ica/ Nais egetais no possue e'eitos psicoati os, segundodepoi entos in'or al ente col idos/ os anos 2000 esse costu e 'oi a!andonadono #$& * , so! a alega o de .ue a pr4tica do curandeiris o ? pre ista no c"digopenal/

    8 crescente !usca por legiti idade da institui o parece trans'or ar costu esernaculares e des ios 'rente aos odos legiti ados do uso religioso da !e!ida/ O

    !ani ento da pr4tica dos no e egetal corro!ora a a'ir a o de .ue o centroesp%rita tra!al a co a cura do esp%rito , pro a el ente co a inten o de apartar-se da pr4tica de cura espiritual dos ales do corpo, pr4tica exercida por Jos? 6a!rielantes da * /

    os relatos, o poder rece!ido pelo estre Drineu pro ? da ira o, categoriapresente tanto na * .uanto no *ai e, as .ue nesse te u papel 'unda entalna doutrina e na 'or a ritual/ a * , o +ogo de perguntas e respostas< .ue to a a

    aior parte da cena ritual con'or a u a din= ica .ue parece no conceder espa opri ilegiado 7 experiLncia ision4ria/ W4 u a certa tenso 'ace 7 ira o, expresso

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    10/24

    13;$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    i pre is% el do e'eito da !e!ida, .ue le a 7 suspeita de .ue essa se+a u a a orealiBada para atingir exclusi a ente u estado de Lxtase/

    exe plo do descon'orto co a ira o, de ido ao seu car4ter %sticoindF ito e no do estic4 el, nos ter os de &astide (1;G5), ? a redu o do te podestinado ao silLncio nas sess>es, co o atestado por di ersos s"cios, dese.uili!randoos espa os entre o dese+o da %stica e os re.uisitos da racionalidade oral, .ue atuade odo a !%guo na se =ntica daburracheira/

    O estre Drineu to a a o *ai e para irar e er os ca in os de curada.ueles .ue o procura a / Os disc%pulos do *ai e re ete -se constante ente 7ssuas ira >es co o portadoras dos ensina entos do estre/ *e acordo co @uis$duardo Soares (.ue se re'ere ao #$I@ RDS), a ira o no *ai e constitui oinstru ento de tra!al o espiritual ais no!re nesse grupo, dotado de superiorese'eitos did4ticos , u a eB .ue o e'eito ision4rio ? cultural ente articulado nu adoutrina 'lex% el e a!erta (Soares 1;;H:21C)/

    o discurso ude ista pro'erido e sess>es de escala , realiBadas todo pri eiroe terceiro s4!ados do Ls, e nas con ersas e entre istas, di'icil ente ? concedida talpree inLncia ao sentido atri!u%do 7s is>es/ $ contraponto ao car4ter %nti o doe'eito ision4rio, a 'ala nati a 're.uente ente rep>e o discurso o'icial, lo.uaB .uantoao pro+eto de ida .ue o!+eti a a e olu o , ter o central nas cos ologias esp%ritasda !anda e do Yardecis o, e .ue na * ? l%ngua 'ranca na cos o iso do usodo c 4/

    O crit?rio de seleti idade naburracheira ? u aprendiBado i portante para atra+et"ria institucional do disc%pulo/ a # a ada da inguarana, parte da ersoco pleta da Wist"ria da Woasca, entrar nos encantos signi'ica experi entar uencontro espiritual ierar.uica ente di'erenciado/ O dirigente da sesso 'aB o pedidopara .ue os outros .ue ainda no pode entrar nos encantos possa er / irar,

    er , ou entrar nos encantos ? u a experiLncia .ue no est4 ao alcance de .ual.ueru e ? au'erida de acordo co est4gios di'erenciados de relaciona ento co a 'or ain is% el do estre, institucional ente condicionada pelo grau do adepto, grosso

    odo su!di idido e .uatro n% eis/ #ontudo, so co uns .uestiona entos 'ace aesse conteAdo doutrin4rio, surgidos e con ersas particulares co e !ros dos

    ariados graus .ue, assi , negocia sua adeso e eio aos princ%pios

    institucionaliBados/8ssi , a ira o na * adentra u a l"gica ier4r.uica .ue engendra u adi'erencia o de sentido, representada pela di iso entre a.ueles erecedores deentrar nos encantos e os .ue ainda no atingira tal est4gio, as consegue alcan ara iso dos encantos o'ertados pela natureBa di ina, ou inguarana/ 8 exegese na# a ada da inguarana no de'ine a ocorrLncia da ira o, as gera e'eitossi !"licos so!re ela, concedendo-l e u lugar social espec%'ico/

    essa perspecti a, delineia -se a.ui di'erentes odula >es do e'eito ision4rionas duas ertentes religiosas/ o *ai e, todo 'ardado , co o ? c a ado o e !ro

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    11/24

    1H0 Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    do grupo, a princ%pio so!e ao astral , di enso cos ol"gica e .ue se realiBa a lutado xa contra o al, o .ue tornaria cada 'ardado u xa e potencial (@a Ro.ue#outo 1;C;K acRae 1;;2)/ O discurso ege Fnico da * , cFnscio do alor daestrati'ica o ier4r.uica, con'ere u a distin o aos .ue esto no lugar de su!irao astral ou entrar nos encantos e realiBar esse contato espec%'ico e dese+4 el coa 'or a /

    8 especi'ica o .ue d4 sentido 7 si !"lica daburracheirana nio do egetal? u a categoria .ue asse era a di enso estrita ente ental do transe e sugeredistancia entos das pr4ticas dai istas de *aniel e Se!astio, 'undadores da &ar.uin ae do #$I@ RDS, respecti a ente/ $ a !os os grupos 4 a incluso de rituais deincorpora o de entidades di ersas co 'ins de caridade espiritual / 8s nuances daideia da possesso no ca po religioso daayahuasca co o u todo no sero a.uidesen ol idas/ &usco no o ento indicar co o o e'eito ision4rio do transe ?introduBido na l"gica ier4r.uica da * , e .uais tradi >es esto sendo aloriBadasou deslegiti adas na constitui o de u transe .ue se pretende espec%'ico: aburracheira/

    o Santo *ai e, o tra!al o ? estruturado atra ?s do canto coleti o dos in4riose no por eio orat"ria, co o ocorre na * / o cen4rio dai ista, os passos si plesdo !ailado ou a posi o sentada do tra!al o de concentra o , aco pan ados decantos coleti os, da !atida do arac4 e de outros instru entos usicais (co o 'lautae iolo), ais presentes no !ailado , estrutura u a !iente de recepti idade aoe'eito ision4rio, perce!ido co o u a ocorrLncia alta ente dese+4 el, propiciada apartir de u a postura 'ir e do disc%pulo, .ue de e anter-se na corrente, !ailandoe cantando/ Nal 'ir eBa ? ela!orada e associa o co certas pr4ticas cotidianas/

    a * , a 'or a oral ? predo inante na expresso ritual/ 8 sesso organiBa-se ap"s u pri eiro o ento, de distri!ui o ierar.uiBada do c 4, de acordo coo grau do adepto, pr4tica inexistente no *ai e, e .ue o despac o da !e!idasepara o ens e ul eres, .ue se posiciona e lados opostos do recinto/ 8 sessona * segue co u a leitura dos docu entos, contendo estatuto, regras decon i Lncia dos disc%pulos e ist?rios cos ol"gicos/ 8p"s isso, a se.uLncia dec a adas de a!ertura ? executada pelo dirigente, postado so! o arco da esa, por

    eio do .ual rece!e as e ana >es do guia da !e!ida/ 8 partir desse o ento,

    .ual.uer disc%pulo pode perguntar, 'alar ou c a ar , con'or e consenti ento dodirigente/a estrutura do rito dai ista, o 'ardado , por inter ?dio da presen a espiritual

    de Jura ida , realiBa a passage entre o undo '%sico e o so!renatural/ a * taltransi o ? operada pri eira ente pelo estre dirigente da sesso .ue, na a!ertura,c a a o #aiano, o pri eiro oas.ueiro, esp%rito do estre noutro destaca ento, ouencarna o/ u segundo o ento, os de ais, de acordo co o ereci ento

    ediado pela l"gica do grau, realiBa o desloca ento astral/8 an4lise da categoria do grau e das ierar.uias espiritual e institucional,

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    12/24

    1H1$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    so!retudo no .ue diB respeito 7s suas rela >es co a ira o, te atiBa a negocia odo adepto co os deter inantes ege Fnicos da religio/ #o o encionadoanterior ente, uitos entende sua rela o co o estre 6a!riel co o direta,independente do recon eci ento institu%do pelo grau ier4r.uico/

    8 trans'or a o .ue re ela Jos? 6a!riel co o estre da nio do egetalto ou lugar nos pri eiros anos de contato co o o c 4, entre 1;5; e 1;

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    13/24

    1H2 Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    di ersos se apresenta co o 'ios articulados no processo de ressigni'ica o, u a eB.ue a a!stra o anal%tica no de e separar-se ne da cor local ne da ganga ist"rica( auss 2003:322)/ So! esse ponto de ista, o paradig a nati o no presta contas aosplanos recol idos, as 'aB ressoar suas inten >es, de acordo co o os odos dedisposi o dos ele entos articulados no todo (&en+a in 1;

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    14/24

    1H3$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    na 'or a do ca!oclo , o .ue co pro a as re'erLncias ao a'ro-!rasileiro, es o .uee u contexto negati o/

    aior desen ol i ento geoeconF ico da regio e a crescenteestig atiBa o, indica , de acordo co 6oulart, .ue a pr4tica %stica .ue in'ere ucar4ter negati o 7s entidades dos cultos istos a'ro-indo-!rasileiros ten a sidosupri ida/ O exorcis o de ca!oclos incorporados, .ue teria igorado at? os anos1;50, passa a ser no apenas exclu%do, as su!stitu%do pela a'ir a o de u apropagada autenticidade, esta!elecida atra ?s da oposi o a u dai e des irtuado,suposta ente praticado pelo #$I@ RDS/

    $ 'oto co seus pri eiros seguidores, L-se Drineu rodeado por pessoas negras,o .ue, de acordo co a autora citada, pode ter ali entado o estig a da acu !a eo su!se.uente te or .ue per eia o i agin4rio de rec? -ingressados no culto, co orele !ra u antigo e !ro .ue, durante u a ira o intensa, pensou: e eti na

    aior acu !a do undo e o c e'e ? a.uele preto (6oulart op/cit/:H5)/8 tese de 6oulart no identi'ica rela >es diretas de Drineu co cultos a'ro-

    indo-!rasileiros, concluso .ue in a pes.uisa corro!orou/ W4, segundo a autora,relatos de dai istas antigos .ue i ia o i agin4rio da acu !a, so!retudo atra ?sdo estig a associado ao culto do c 4 e ta !? atra ?s da 'igura do seu l%der, unegro !e preto de altura desco unal/ Os autores de estudos so!re o Santo *ai e,anterior ente citados, enciona a rela o de Drineu co o ta !or de ina do

    aran o de 'or a aga, deixando entre er u a suposta in'luLncia do eio e .uenasceu o 'undador do 8lto Santo/ Uuanto ao i agin4rio da acu !a co o u apro+e o, acredito .ue erece aten o, por parte dos pes.uisadores, a poss% elexistLncia de ele entos a'ro-!rasileiros nos cultos ediAnicos populares na 8 aBFniados seringueiros nordestinos (6a!riel 1;C5K IuruEa 1;;HK onteiro da Sil a 200H)/

    Os centros do 8lto Santo, co o ta !? os do #$& * , propaga u aiso negati a das cren as pr"prias ao uni erso a'ro-!rasileiro, o .ue representa u

    i portante ponto de ciso entre os cultos do 8lto Santo e os do #$I@ RDS/ esseseg ento dai ista, alguns centros do a!ertura 7 passage de entidades , encaradaco o u a experiLncia positi a para o desen ol i ento espiritual de encarnados edesencarnados (8l es 200G)/ os tra!al os de esa !ranca do 8lto Santo, a possesso? ista co o u in'ortAnio a ser eli inado e no co o u a experiLncia %stica

    t%pica do desen ol i ento espiritual/8 rela o de acusa o ? caracter%stica das origens do Santo *ai e e da *e aponta o uso do c 4 por parte dos curandeiros da 'loresta co o oti ado porprop"sitos in'eriores/

    8 te 4tica do poder superior de 6a!riel no .ue diB respeito 7 sua rela o co# ico @ouren o, anterior ente relatada, apresenta ainda u aspecto ausente nanarrati a dos trLs encontros co 6a!riel e 'a %lia/ $ duas sess>es e .ue esti epresente 'oi contada a ocasio e .ue !e!era o c 4 co o estre de curiosidade ,a contragosto de 9e.uenina/ esse dia 6a!riel disse-l e .ue 'icasse tran.uila, pois

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    15/24

    1HH Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    eles iria !e!er o c 4 co # ico @ouren o, por? ele 'aria u ponto nu a 4r orepara .ue ningu? ti esseburracheira/ 8l? da anipula o 4gica de no enclaturau !andista, 6a!riel de onstra a pr4tica, corrente entre curandeiros, da disputa pelopoder presente no egetal atra ?s do controle de 'or as in is% eis/

    Nal narrati a, .ue re onta ao in%cio da * , rece!eu u a leitura di ersa eu a outra sesso, .ue da a conta de .ue o estre no precisa a riscar ponto nen uno p? da 4r ore, e .ue tal a'ir a o 'oi u a aneira .ue o l%der encontrou para

    atender 7 co preenso !aixa / 8ssi , de acordo co a percep o de u estrepioneiro na * do *I, o poder do estre so!re aburracheira no solicita inst=nciasoutras .ue o pensa ento e a pala ra, esses si legiti ados na a o do l%der so!re asu!st=ncia/ *esse odo, o ponto riscado torna-se u recurso acionado pelo estrepara e preender u di4logo co perspecti as cos ol"gicas consideradas in'eriores,

    as ainda assi no destitu%das de interesse/Segundo 8ntFnio 6a!riel, ir o de Jos? 6a!riel, esse con eceu todas as

    religi>es, con eceu terreiros de Sal ador, andou por todas as religi>es procurando aQrealidade (&rissac 1;;;:52)/ 8 rela o entre Jos? 6a!riel e o ais con ecido dentreos guias .ue ele rece!ia, o Sulto das atas, ? o+e ela!orada e di'undida e palestrasinstitucionais, assi co o e sess>es, co o u recurso do estre para atender 7soutras co preens>es / o a ia incorpora o, 6a!riel esta a, na erdade, seco unicando co a.ueles .ue s" nessa linguage entenderia seu poder espiritual/$ssa l"gica a !i alente, .ue nega a possesso, as a utiliBa co o estrat?gia deco unica o, asse el a-se ao odo pentecostal de acionar u a identidade negati aao a'ro-!rasileiro ( ontero 1;;H)/

    X di'undida, entre adeptos da * , a interpreta o de .ue os acu !eirostin a sido da * e outras encarna >es, traBendo na encarna o presente'rag entos de c a adas e ist"rias anterior ente pertencentes 7 nio do egetal/8ssi explica-se, do ponto de ista local, a se el an a entre as c a adas da

    * e os pontos da !anda/estre 6a!riel teria recon ecido, assi , os antigos disc%pulos, .ue 'ora por

    u outro ca in o , c a ando-os para tir4-los do engano e .ue esta a ereuni-los na nio do egetal/ $sse padro de autoidenti'ica o co u a origepri ordial .ue 'oi des irtuada explica a procedLncia de di ersos e !ros .ue

    participara dos pri eiros anos de 'or a o da * / 8 l"gica da orige repete-separa explicar as se el an as no s" do arca!ou o est?tico da doutrina co outrasreligi>es, co o entre antigas tradi >es de uso daayahuasca e a * /

    8o contr4rio das parcas e idLncias da participa o de Drineu e cultos a'ro-!rasileiros, 4rios depoi entos atesta a grande proxi idade .ue Jos? 6a!riel coos terreiros, locais e .ue ele no ocupa a u a posi o interna de'inida, as .ueseguiu 're.uentando ap"s a organiBa o da nio do egetal (&rissac 1;;;K 6oulart200H)/ 9ro a el ente, 'oi por conta de tal 'a iliaridade .ue, ao criar a nio doegetal, 6a!riel en'atiBou o ro pi ento co a possesso, opondo-se aos seus poderes/

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    16/24

    1H5$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    X nessa l"gica .ue se constitui a exegese nati a daburracheira en.uanto u transee .ue no 4 perda de consciLncia, as si sua ele a o/

    *e acordo co entre istas realiBadas por dois antrop"logos .ue pes.uisara a* , 6a!riel atendia pessoas e sua pr"pria casa, onde +oga a !ABios/ $ 9ortoel o tornou-se Og e 9ai do terreiro de So &enedito, de e # ica acaxeira/ Nal

    terreiro, isitado por unes 9ereira e 1;H1 (9ena 9in eiro 1;C

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    17/24

    1H< Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    ? recon ecida e incorporada para ser ir de contraste a u a identidade religiosa .ue,co o o Yardecis o, ? identi'icada a u #ristianis o e olu%do (&rando 1;CC:H1)e 7 aloriBa o do transe consciente (#a argo 1;

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    18/24

    1HG$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    o alto espiritis o cu+o 'unda ento ? o do %nio de si / Dnterrogando a respeito dade'ini o de !aixo espiritis o , encontrei respostas .ue, a paradas na tradi ooral, tecia incula >es entre alto e auto, e'etuando u a passage .ue produB certaresson=ncia (#arneiro da #un a 1;;C:1H) entre os dois ter os de sonoridade idLntica,cu+a l"gica ? u a analogia entre o sagrado e a interioridade u ana na no o do

    eu assi constitu%do/ O alto nessa l"gica intelectualiBada no se re'eriria 7 distin ode u espiritis o .ue se op>e aos planos ais !aixos, co a expresso !aixoespiritis o sendo utiliBada co o u a categoria acusat"ria, .ue re ete a u culto

    ediAnico in'erior ( aggie 1;GGK OrtiB 1;GCK 6a!riel 1;C5K egro 1;;

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    19/24

    1HC Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    suposta ente contr4ria: o con eci ento de si , o .ue pode ser analisado co o u aaneira de repelir a incorpora o e esta!elecer leituras .ue a classi'ica co o

    irracional/O recurso 7 a'ir a o da indi idualidade te lugar pri ilegiado nas 'alas

    nati as/ Sa!e os co o o conceito aria enor e ente, a depender do su+eito dopro+eto ( el o 1;;;) e .ue de e ser o!ser ado o espa o concedido 7 indi idualidade,

    pois esse ? u ter o .ue se apresenta so! as ais ariadas 'or as (^e!er 200H:20

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    20/24

    1H;$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    no conceito du ontiano de englo!a ento de contr4rios (*u ont op/cit/), e raBode ser o ascetis o oral no pressuposto do controle de si , ou sa!er de si , u acaracter%stica central do discurso acerca do uso da !e!ida extasiante/ 8 ?tica ude ista,co o no conceito de do estica o do sagrado (&astide 1;G5), no a!re o da

    agia e do Lxtase, englo!ando-os co o 'or as de e.uili!rar di'eren as e e.uacionarideias ou 'or as Ateis 7 co unica o religiosa e seu eio social de expanso, aclasse ?dia/

    #onsidero a religiosidade e tela ais u a ertente do cresci ento doespiritis o no &rasil, 'ecundada nas !ordas do espiritis o popular, co .ue dialogae tenso ao se orientar para u !ran.uea ento das pr4ticas 4gicas, .ue selegiti a cada eB ais ao se tecer aproxi a >es co u a de anda do su+eitoconte por=neo, o autocon eci ento guiado pela re ela o da erdade do eu /

    O Lxtaseayahuasqueiro, assi co o seus processos si !"licos, constitui, co o'ica claro e eio a tal panora a, u o!+eto de pes.uisa .ue porta contri!ui >es

    aliosas ao estudo do transe ediAnico e de seus odos de legiti a o no eiour!ano !rasileiro/

    Refer.&c#as B#bl#ogr/f#cas

    8@ $D*8, Ronaldo de/ (2010), Religio e transi o / Dn: #/ artins e @/ I/ *uarte (orgs/)/Horizontes das Cincias Sociais no Brasil Antropolo!ia" So 9aulo: 8 9O#S/8@ $S, 8ntonio / (200G),#ambores para a Rainha da $loresta a inser%&o da 'mbanda no Santo(aime" So 9aulo: *isserta o de estrado e #iLncias da Religio, 9onti'%cia ni ersidade#at"lica/

    8SS _`O, @uiB/ (200es !rasileiras u estudo so!re a atri!ui ode identidade atra ?s da religio / Dn: R/ Iernandes e R/ *a atta (orgs/)/Brasil .'A"Reli!i&o e identidade nacional"Rio de Janeiro: 6raal/

    &RDSS8#, S?rgio/ (1;;;), A estrela do norte iluminando at* o sul uma etno!ra/ia da 'ni&o do 0e!etalem um conte1to urbano/ Rio de Janeiro: *isserta o de estrado e 8ntropologia Social, IRJ

    /#8 8R6O, #=ndido 9/ I/ de/ (1;

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    21/24

    150 Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    *O&YD *$ RDOS, arlene/ (1;G2),#he 0isionary 0ine3 5sychedelic Healin! in the 5eruvian Amazon/San Irancisco: # andler 9u!lis ing #o panE/

    * O N, @ouis/ (1;;G),Homo Hierarchicus o sistema de castas e suas implica%8es"So 9aulo:$dusp/

    * RYW$D , X ile/ (1;;

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    22/24

    151$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    S8@@$S, Sandro/ (2010), sombra da urema encantada mestres juremeiros na umbanda de Alhandra"Reci'e: I9$ $ditora/

    SO8R$S, @uiB $/ (1;;H),) ri!or da indisciplina/ Rio de Janeiro: Relu e-*u ar4/N8 SSD6, ic ael/ (1;;3),>amanismo3 colonialismo e o homem selva!em um estudo sobre o terror

    e a cura" Rio de Janeiro: 9aB e Nerra/$@WO, 6il!erto/ (1;;;),,ndividualismo e cultura notas para uma Antropolo!ia da sociedadecontempor=nea/ Rio de Janeiro: a ar/

    D $DROS *$ #8SNRO, $duardo/ (1;;es si !"licas do transe, optei por analisar o ito 'undador do grupo, pois esse ?contado e sess>es a!ertas a isitantes, consta de tra!al os acadL icos, sua gra a o ? endidae 'eiras e 9orto el o, circula entre dissidLncias, est4 na Dnternet e 'oi pu!licado por uantigo estre da * (8l es 200;)/

    H a * a doutrina ? trans itida de !oca a ou ido , as as sess>es so gra adas/ re eliada institui o, cresce o tr=nsito in'or al de aterial gra ado contendo entre istas, narrati as

    %ticas, c=nticos e sess>es, assi co o suas pu!lica >es (9i entel 8l es 200GK 200;)/5 o undo dos esp%ritos/ O ter o, na !i!liogra'ia do ca po religioso e tela, est4 associado ao

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    23/24

    152 Religio e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2): 130-153, 2011

    undo da encantaria aran ense, as apresenta-se e di ersos cultos a'ro-indo-!rasileirosespal ados no $/ $ As reli!i8es a/ricanas no Brasil3&astide de'ende .ue o culto dos encantadosre onta ao es!o o do #ati !" no s?culo [ DD ( er 6a!riel 1;C5:G3 e 8ssun o 200

  • 8/13/2019 a unio do vegetal

    24/24

    153$@O: 8 nio do egetal e o transe ediAnico no &rasil

    Res"mo1

    A U%o do Vege al e o ra&se med#2co &o Bras#l

    $ste artigo discute a ela!ora o si !"lica do transe no #entro $sp%rita &ene'icentenio do egetal/ 9or eio da an4lise co parati a co o Santo *ai e, interrogo

    os odos de constitui o do contato co o so!renatural e a !os os grupos,articulando-os 7s representa >es ierar.uica ente ordenadas de 'or as .ue a% incide e i pele o su+eito 7 a o no undo/ 9ropon o pensar o transeayahuasqueiro e di4logo co os estudos dos cultos ediAnicos no &rasil, c a ando

    a aten o para a di enso da odernidade nesse ca po, onde u pro+eto deinterioridade ca in a ao lado dos ensina entos do estre /

    3ala4ras5c6a4e1 cultos ediAnicos, aEa uasca, alto !aixo espiritis o, odernidade,interioridade/

    Abs rac 1

    T6e Uo& of 6e 3la& a&d 6e med#"m#s #c ra&ce #& Bra7#l

    N is article discusses sE !olic ela!oration o' trance at #entro $sp%rita &ene'icentenio do egetal/ N roug co parati e analEsis \it Santo *ai e, D o!ser e t eodes o' 'or ation o' contact \it t e supernatural in !ot groups, linMing it to

    t e representations o' ierarc icallE ordered 'orces at 'ocus t at i pel t e su!+ectto action in t e \orld/ D propose to t inM aEa uasca trance in dialogue \itstudies o' psEc ic cults in &rasil, calling attention to t e di ension o' odernitEin t is 'ield, \ ere a pro+ect o' sel'-Mno\ledge goes along \it aster s teac ing /

    8e9:ords1 ediunic cults, aEa uasca, ig lo\ spiritualis , odernitE, sel'-Mno\ledge/