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unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara - SP CLAUDEMIR CARLOS PEREIRA A REVOLUÇÃO MODERNISTA DE MÁRIO DE ANDRADE E SEU PROJETO POLÍTICO DE CULTURA POPULAR BRASILEIRA. 1
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A REVOLUÇÃO MODERNISTA DE MÁRIO DE ANDRADE E SEU PROJETO POLÍTICO DE CULTURA POPULAR BRASILEIRA.

May 10, 2023

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Page 1: A REVOLUÇÃO MODERNISTA DE MÁRIO DE ANDRADE E SEU PROJETO POLÍTICO DE CULTURA POPULAR BRASILEIRA.

unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

Faculdade de Ciências e LetrasCampus de Araraquara - SP

CLAUDEMIR CARLOS PEREIRA

A REVOLUÇÃO MODERNISTA DE MÁRIO DE ANDRADE E SEUPROJETO POLÍTICO DE CULTURA POPULAR BRASILEIRA.

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Page 2: A REVOLUÇÃO MODERNISTA DE MÁRIO DE ANDRADE E SEU PROJETO POLÍTICO DE CULTURA POPULAR BRASILEIRA.

ARARAQUARA – SP2015

CLAUDEMIR CARLOS PEREIRA

A REVOLUÇÃO MODERNISTA DE MÁRIO DE ANDRADE E SEUPROJETO POLÍTICO DE CULTURA POPULAR BRASILEIRA.

Relatório Apresentado para aDisciplina Optativa – APF6692N –Política e Cultura – do Curso deCiências Sociais, ministrada peloProf. Dr. Milton Lahuerta.

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Page 3: A REVOLUÇÃO MODERNISTA DE MÁRIO DE ANDRADE E SEU PROJETO POLÍTICO DE CULTURA POPULAR BRASILEIRA.

ARARAQUARA – SP

2015

RESUMO

Este trabalho foi elaborado de acordo com as leituras de textossugeridos e pelas aulas assistidas do programa da disciplinaoptativa de Política e Cultura, que visa discorrer a respeito dopapel e a relação do autor Mário de Andrade com a cultura políticabrasileira. O objetivo deste trabalho é refletir acerca dos nexoshistóricos para o entendimento da construção de uma culturaautêntica popular brasileira e do papel primordial deste intelectualbrasileiro, seguindo reflexões sobre o momento histórico social quese iniciou junto a Semana de Arte Moderna, em 1922 e a contribuiçãosubstancial de Mário de Andrade para a construção de um projeto denação brasileira.

Palavras – chave: Mário de Andrade. Cultura Popular. Modernismo.

ABSTRACT

This work was done elaborate in accordance with the readings of suggestedtexts and the classes attended the elective course's Policy and Culture,which aims to discuss about the role and the author's relationship Andradeto Brazilian political culture. The objective of this work is to reflectabout historical links to understanding the construction of a popularBrazilian authentic culture and the central role of this Brazilianintellectual, following reflections on the social historical moment thatbegan with the Modern Art Week in 1922 and the substantial contribution ofMário de Andrade to build a Brazilian nation project.

Keywords: Mário de Andrade. Popular Culture. Modernism.

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INTRODUÇÃO

O trabalho visa fazer um resgate da contribuição de Mário

de Andrade na sua ideia de construir um Brasil de fato, um

Brasil popular autêntico, em suas palavras “Conhecer um Brasil

profundo” e a história tem sido muito mediana com este gigante

das artes, das letras e da cultura. O Brasil de hoje é um país

especialmente contraditório quando dá as costas para os nexos

históricos e esquece em sua memória daqueles que mais o

defenderam e lutaram para construir uma identidade de povo

autenticamente brasileiro. Mário de Andrade fez muito pelo

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Brasil, mas foram necessárias sete décadas de sua ausência

para que começássemos a fazer jus à sua suculenta “obra

artística” e ao seu “valioso legado” de gestor cultural.

Este trabalho tem o objetivo de jogar um pouco de luz

sobre sua marca modernista e também sobre sua trajetória

pessoal. Mário de Andrade nasceu e viveu em São Paulo, na

Barra Funda, e amou sua cidade profundamente. Nela, entre as

paredes do tradicional Teatro Municipal, apresentou ideias que

fizeram rachar as estruturas mais sólidas do conservadorismo

paulistano e brasileiro, quando lá instalou a Semana de 22,

com uma série de apresentações artísticas e debates que

plantaram o Movimento Modernismo na mente do país.

O intuito deste trabalho é fazer um resgate deste gigante

e, através da análise do Macunaíma, de seus projetos, como o

Departamento de Cultura, de sua crítica literária, de seu

interesse pela cultura popular, pela arte em geral, de sua

expressão intelectual, enfim, sobre os vários “Mários”, que

deram uma contribuição considerável para o desenvolvimento de

seu projeto de Política e Cultura na construção da nação

brasileira.

Não à toa, ele é considerado o “papa do modernismo”, além

de ser uma das cabeças do evento, leu suas poesias

modernistas, “contra tomates e ovos” que foram atirados pelos

atônitos em sua cabeça, e defendeu sua ideia de que o país

tinha que ingressar no “concerto das nações cultas”, sob uma

perspectiva universalista que era gritante naquela época.

O autor de Macunaíma, em seus primeiros estudos sobre a

cultura popular privilegiou autores que pudessem unir a

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temática da cultura popular, os intelectuais e a construção da

nação. Após um contato intenso com as teorias estéticas das

vanguardas europeias do início do século XX, Mário se volta

para o estudo de etnógrafos europeus, privilegiando os autores

alemães. Através da leitura do filósofo alemão Herman

Keyserling1, Mário de Andrade toma contato com a teoria

herderiana sobre o folclore e a constituição da cultura

nacional alemã.

A principal ideia de Herder2, que estava presente no

pensamento brasileiro desde o século XIX, com Silvio Romero, é

“a possibilidade de formação de uma cultura autêntica que

teria suas bases no universo popular”. A postura antielitista

e a grande dose de humanismo foram os fatores que mais

despertaram Mário de Andrade para a compreensão não somente do

romantismo alemão, mas também dos autores brasileiros

romancistas - José de Alencar e Álvares de Azevedo.

Nos anos 30, um período conturbado politicamente no país,

sua grande preocupação foi definir a vocação social da arte.

“Isso se concretiza quando ele é convidado para ser diretor do

Departamento de Cultura de São Paulo. Lá, ele fez um trabalho

1 Mário de Andrade chegou a dizer que a obra de Keyserling era a chave paraa interpretação de Macunaíma. O tema de sua obra era a decadência ocidentalfrente à pluralidade dos tempos históricos nas civilizações do mundo. Ooriente lento, o progresso europeu e o primitivismo americano formariam umaharmonia mundial das temporalidades.2 Johann Gottfried Von Herder (1744 – 1803) foi um importante filósofonascido na Prússia Oriental. Em seus Fragmentos sobre a literatura alemã moderna,escritos entre 1766 e 1767, já proclamava que o gênio literário de umanação é idêntico ao gênio de sua língua e convida os literatos alemães areencontrarem suas fontes de inspiração nas origens germânicas. É esseapelo à criatividade de uma literatura autenticamente nacional queretomaria e ampliaria em toda sua obra, exercendo grande influência nagênese do Romantismo alemão. Atacou a tirania da estética clássica e daimitação dos antigos.

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ímpar, muito diferente de tudo o que havia na época, com o

intuito de por em contato vários segmentos da sociedade. Era

para ele um projeto de vida e do próprio modernismo”. Sabe-se,

por exemplo, que quando chefiava o Departamento de Cultura,

Mário de Andrade criou um projeto de centros culturais para

crianças e jovens que promovessem a cultura em ambientes de

ampla convivência social.

Era “sesquinhos”, na definição do diretor do SESC-SP,

Danilo Miranda. “Ele chegou a desenhar um espaço, uma planta

de um centro infantil de iniciação à vida, cultura, atividade

física, alimentação – tudo ali, como hoje no vemos no SESC”,

revela. Para Danilo, Mário de Andrade teve uma “presença

luminar” como pessoa e, como modernista, revolucionou a

cultura no país. Fato cultural mais grandioso no Brasil, para

ele, não tem: “A Semana de 22 é a independência do Brasil do

ponto de vista da arte, da cultura, do pensamento”.

Mário de Andrade era um inquieto, artista vasto, íntimo da

música como da literatura, e, sobretudo, um embaixador natural

de Cultura. Uma citação de Alceu Amoroso Lima, tirada do livro

Companheiros de Viagem: “Mário de Andrade tinha o tipo físico

de um índio espadaúdo. Uma boca enorme, cheia de dentes, que

os caricaturistas aproveitavam com razão como foco central de

sua fisionomia. Umas mãos enormes como patas de urso. Uns

ombros muito largos, uns óculos muito espessos, um riso muito

aberto, uma fala muito caipira, mas nada descansada, tudo nele

respirava irradiação, dinamismo, exuberância, alegria de

viver. Estava trabalhado fisicamente para agitador”. E

agitador ele era de fato, preocupado que foi com a arte

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coletiva, a identidade cultural brasileira e a valorização da

cultura popular do país.

A Revolução Modernista do inicio do século XX.

Intelectuais modernistas dos mais diferenciados matizes

políticos conceberam a pesquisa do folclore como fonte de

inspiração do artista culto. Guardadas certas especificidades,

o mesmo se deu com Mário de Andrade, autor preocupado com a

construção de um discurso sobre a identidade cultural

fundamentado numa ideia de brasilidade. Seu modernismo

nacionalista repensou os significados do “popular” e do

“erudito”, sem abandonar os diálogos com as tendências

estéticas europeias.

Os modernistas pretendiam romper com o projeto cultural

dos homens da Belle Époque3 carioca e paulistana. As elites

burguesas e intelectuais das cidades do Rio de Janeiro e de

São Paulo, a partir dos fins do século XIX e, em especial, nas

duas primeiras décadas do XX, imbuídas dos ideais de

“civilização” e de “progresso”, visavam eliminar os vestígios

do “atraso” brasileiro simbolizado pela escravidão (abolida em

1888) e pela economia marcadamente rural da Colônia e do

Império. Para alguns, era imprescindível promover o

3 A expressão francesa Belle Époque significa “bela época”, e representa umperíodo de cultura cosmopolita na história da Europa. A época em que estafase era comum foi marcada por transformações culturais intensas quedemonstravam novas formas de pensar e viver. Considerada uma época de ouro,beleza, inovação e paz entre os países. Paris, com os balés, livrarias,óperas, teatros e diversas expressões de cultura, era considerada o centroprodutor e exportador de cultura mundial. Estes ambientes tornaram-se,nesta época, muito comuns na rotina dos burgueses e apenas eles tinhamacesso ao mundo da arte.

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branqueamento da população, exterminar todos os traços

culturais que lembravam a “barbárie” (danças obscenas, como,

por exemplo, o maxixe e os ritmos frenéticos e dionisíacos dos

cordões carnavalescos) e promover o saneamento mediante a

erradicação de epidemias como a varíola e a febre tifoide.

Essas elites procuravam imitar o modelo civilizatório

tendo como paradigma a cidade de Paris. A reforma urbanística

empreendida por Pereira Passos no Rio de Janeiro, sob o

governo de Rodrigues Alves (1902-1906), foi inspirada em

Haussmann4, prefeito de Paris, durante o III Império.

Em São Paulo, a elite cafeeira, estabelecida nos bairros

de Higienópolis e Cerqueira César, inspirou-se nos modelos

culturais e artísticos da burguesia ilustrada francesa, como o

positivismo de Auguste Comte, firmando a sua identidade

sociocultural e política em salões nas mansões das famílias

Almeida Prado, Penteado, Freitas Valle (Villa Kyrial, em

especial).

A Belle Époque pretendia transformar o cotidiano dos

paulistanos numa autêntica obra de arte. Freitas Valle

estabeleceu um rigoroso ritual em seu convívio com

intelectuais, artistas brasileiros e estrangeiros que

visitavam São Paulo: a poesia, a música, a pintura, o vinho, a

culinária, o perfume. Essas raízes poderiam ter sido

inspiradas no soneto Correspondances, de Charles Baudelaire, que

4 A Reforma urbana de Paris foi promovida pelo Barão Georges EugèneHaussmann entre 1852 e 1870. Haussmann, o então prefeito do departamentodo Sena, concentrou os esforços da reforma urbana no sentido de promovermelhorias nas manobras militares, assim como na circulação e nahigienização da capital da França. Para tal fim, demoliu inúmeras viaspequenas e estreitas residuais do período medieval, e criou imensosboulevards organizadores do espaço urbano, assim como jardins e parques.

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proclama a sinestesia sugerindo afinidades profundas entre a

cor, o som, o perfume. Há também, no caminho que conduz ao

Simbolismo, o drama musical de Wagner, tentando fundir as

artes.

A elite paulistana da Belle Époque elegeu a França como o

berço da “civilização” e da “cultura”. Muitos de seus membros

escreviam, em francês, as suas poesias simbolistas. Em sua

essência, com o crescimento vertiginoso da cidade de São

Paulo, esses intelectuais procuravam torná-la uma cidade

eminentemente francesa, paradigma de uma cultura superior.

A periodização dessa conjuntura histórica abrangeu os fins

do século XIX até 1914 (início da Primeira Guerra Mundial),

momento em que o homem trocou o campo pela cidade, os

automóveis aposentaram as velhas charretes, os aviões passam a

cruzar rapidamente o céu paulista, os motores passaram a

acelerar o ritmo frenético das fábricas, as lâmpadas elétricas

começaram a iluminar essa nova era. Para registrar esses

progressos surgiram as máquinas fotográficas e o cinema, entre

outros avanços tecnológicos. Os cronistas mitificaram, em seus

artigos publicados em jornais e revistas, o progresso urbano

da cidade de São Paulo: “a cidade que sobe”. O estilo Art

Nouveau5 consagrou-se entre os membros dessa elite. O homem

moderno burguês devia dedicar-se às atividades políticas,

intelectuais, à magistratura, e o trabalho manual era coisa de

negros e imigrantes europeus.

5 Na arte, o estilo Art Nouveau era comum no período da Belle Époque. Suascaracterísticas envolvem a valorização das cores vivas, curvas sinuosas quese baseavam nas formas das plantas, animais e mulheres, além dosornamentos. As principais obras deste estilo são fachadas de edifícios,vitrais, joias, móveis e portões.

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Nos inícios dos anos 1920, o parnasianismo e o simbolismo

foi suplantado pelos interesses dos modernistas preocupados

com os problemas nacionais, aflorando, assim, um novo olhar

sobre o popular, agora livre do deboche. O nacional sem

ufanismo oco e grandiloquente.

Mário de Andrade e os compositores Villa-Lobos, Camargo

Guarnieri, Lorenzo Fernandez e Luciano Gallet procuraram

atribuir novos significados às concepções sobre o “popular” e

o “erudito”, oriundos do romantismo do século XIX, tendo como

ponto nodal o papel do povo na elaboração de uma música

erudita nacional modernista, não deixando de abandonar os seus

diálogos com as tendências estéticas europeias. Para Peter

Burke, a descoberta da cultura popular inter-relacionou-se com

a ascensão do nacionalismo na Alemanha, Suécia, Finlândia,

Grécia e Polônia, entre outros povos.

O imaginário nacionalista aflorado, com intensidade, a

partir da década de 1920 no Brasil, prendeu-se, de um lado, a

forte tradição europeizante das elites da Belle Époque que

abominavam a cultura popular, e, de outro, a presença em São

Paulo de correntes imigratórias (italianos, espanhóis,

japoneses, portugueses) culturalmente distante do chamado

folclore brasileiro. Mário de Andrade vivenciou esse conflito

marcado pelos simpatizantes da cultura francesa e pelos

professores, maestros italianos que detinham hegemonicamente o

ensino da música em São Paulo (Conservatório Dramático e

Musical de São Paulo).

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No Brasil, a vanguarda6 modernista inspirou-se num outro

movimento europeu dos anos 1920: defesa da pesquisa e a

apropriação pelos compositores eruditos de elementos das

chamadas culturas “primitivas”, ao mesmo tempo em que se fazia

a defesa da nacionalização das artes criando uma identidade

cultural própria e singular.

Essas duas tendências redundaram num “projeto” em prol do

(re) descobrimento do Brasil pelos intelectuais, opondo-se à

sacralização das culturas eurocêntricas defendidas pelos

críticos e músicos da Belle Époque.

A partir das pesquisas folclóricas sobre o jongo, o

martelo, o pastoril, entre outras manifestações populares e as

suas respectivas internalizações, conscientes ou

inconscientes, pelo compositor modernista, este procurou,

paralelamente, utilizar novos elementos técnicos introduzidos

nas linguagens musicais contemporâneas — polimodalidade,

polirritmia, politonalidade. De um lado, a inspiração na

temática folclórica, e, de outro, o emprego de técnicas

compatíveis implicou a procura dos traços fundamentais para

elaborar o “retrato” sonoro do Brasil.

Fundamentando-se nessa metodologia, os modernistas visavam

consolidar e fortalecer o nacional para opor-se à música

estrangeira ou à música exótica ou regional. Villa-Lobos,

6 Vanguarda termo derivado do francês avant-garde significa literalmente aguarda avançada ou parte frontal de um exército. Seu uso metafórico data deinícios do século XX, o uso anglo-americano é reservado a assuntospolíticos (como "partido de vanguarda"), e o francês avant-garde, nosentido de liderança cultural e artística. O termo vanguarda foi deslocadopara as artes pelos seus seguidores e aplicado aos movimentos artísticosque produzem ruptura de modelos pré-estabelecidos, é a relação entre formasantitradicionais de arte ou o novo nas fronteiras do experimentalismo.

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fortemente envolvido pelas modas de viola mineiras e pelos

mais diversos gêneros populares executados pelos chorões

(mazurcas, valsas, modinhas), independentemente do projeto

modernista, já vinha propondo a construção da nação através da

música. E, com a consolidação de uma escola nacionalista de

composição, tornar-se-ia possível atingir a universalidade

através da penetração das obras dos modernistas nos principais

polos culturais da Europa e das Américas.

Mário de Andrade defendia uma consciência criadora

nacional, ou seja, no caso brasileiro, a pesquisa do folclore

como o eixo da modernidade. Por esse motivo, no Ensaio sobre a

música brasileira, Mário lamentava o pouco interesse dos

intelectuais brasileiros pelos estudos folclóricos:Pode-se dizer que o populário musical brasileiro édesconhecido até de nós mesmos. Vivemos afirmandoque é riquíssimo e bonito. Está certo. Só que meparece mais rico e bonito do que a gente imagina.E, sobretudo mais complexo. (...) do que estamoscarecendo imediatamente é dum harmonizador simples,mas crítico também, capaz de se cingir àmanifestação popular e representá-la comintegridade e eficiência. (ANDRADE, 1962)

O autor pensa num primeiro momento o Brasil, como o país

que coincide com a Semana de Arte Moderna de São Paulo, que

entrava na ordem do mundo urbano industrial, ou seja, um país

que passava, portanto pela experiência da grande cidade, ou se

incluía, portanto, numa atmosfera cosmopolita. Ou seja, ele

pensa o Brasil da grande cidade na sua relação com o mundo.

No segundo momento, há uma espécie de descoberta do

Brasil. Então, ele vai se empenhar na construção de uma

cultura brasileira integrada entre o popular e o erudito. Esse

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projeto tem como base a cultura popular que está espalhada por

todo o país na forma de repentes, de reizados, de bumba meus

bois, de toda oralidade da música popular.

E é nesse trabalho de resgate da cultura popular que ele

vai dedicar boa parte da sua vida. “Macunaíma” é um livro que é

uma interpretação do Brasil, feita com base nessa estratégia

da cultura brasileira, que é pesquisar amplamente a cultura

popular.

Com o propósito modernista de elaboração de uma identidade

nacional, a constituição de uma arte nacional será bem-vinda

se estiver vinculada aos processos artísticos de criação

popular.

Levando em conta a questão da nacionalidade, os

modernistas brasileiros buscam uma nova estética baseada na

matéria popular. Nesse sentido, já possuem uma visão mais

crítica da realidade, diferente dos românticos, pois conseguem

ter consciência de uma estética popular que está longe de ser

ingênua, simples e pura. Ao contrário, o fazer artístico

popular é considerado, aos olhos dos modernistas, bastante

complexo, porque é constituído de estruturas diferentes da

criação erudita.

Para uma nova visão dos estudos folclóricos no Brasil, foi

necessário o impulso modernista, no qual a figura de Mário de

Andrade sobressai enquanto empreendedor e importante

incentivador de pesquisas sobre a cultura popular brasileira.

Embora Mário não se considere um folclorista, seu trabalho de

coleta, organização e registro dos dados revela um pesquisador

minucioso e sério.

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Nas viagens ao interior de Minas, Norte e Nordeste do

país, Mário de Andrade reúne aboios, toadas, maracatus

pernambucanos, cocos; registra as danças dramáticas e a música

de feitiçaria. Seu interesse reside basicamente na parte

musical. Como músico e crítico, pretende investigar como se dá

o processo de criação artística popular. Trabalha arduamente

anotando texto e música do cancioneiro popular, fazendo também

importantes observações de caráter estilístico, sociológico,

antropológico e histórico sobre o material.

Em Danças Dramáticas do Brasil (1982), por exemplo, analisa

criticamente o desenvolvimento dos bailados atentando para o

contexto sociocultural em que são executados. Criticando a

postura eurocêntrica dos compositores brasileiros, Mário de

Andrade intitula-se um “apaixonado da coisa popular” e aponta

seu exemplo de estudioso: Antes fizessem o que eu fiz, conhecessem o queamei, catando por terras áridas, por terras pobres,por zonas rurais, paisagens maravilhosas, essaúnica espécie de realidade que persiste através detodas as teorias estéticas, e que é a própria razãoprimeira da Arte: a alma coletiva do povo (ANDRADE,1982, p. 56).

Até certo ponto, nas palavras de Mário de Andrade, há uma

identificação com o ideal romântico, quando ele fala de “alma

coletiva do povo”. Parece remeter à concepção de povo

idealizada pelos românticos: suporte transcendente capaz de

revelar virtudes e valores recônditos. No entanto, quando se

propõe ao empreendimento de pesquisas folclóricas, viajando

por algumas regiões do país, dá-se o contato com o povo –

constituído, a seus olhos, de pessoas simples, Mário de

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Andrade não fecha os olhos à realidade socioeconômica do povo

brasileiro, no entanto, sua preocupação maior está nos

processos de criação artística popular que ele “louva sempre,

observando a criação do povo, a existência da ‘poiesis’, da arte ligada diretamente à

vida, considerando isso um fator de luta contra a alienação cultural”.

Afirmando seu propósito de arte ligada à vida no seu Ensaio

sobre a música brasileira (1928), ele aponta o folclore como um

importante recurso no qual o compositor brasileiro deve se

basear quer como meio de inspiração, quer como documentação. A

importância dada à estética popular confirma um ideal de nação

comprometida com seus valores culturais e artísticos.

Com um olhar atento às formas populares de expressão,

Mário de Andrade soube perceber a beleza e a complexidade dos

fenômenos da criação popular. No prefácio de Na pancada do ganzá,

ele faz referência a exibição de um violinista popular que

teve oportunidade de presenciar. Analisa-a criticamente: “está

claro que a peça era horrível de pobreza, má execução, ingenuidade”. No

entanto, não descuida de encontrar aspectos positivos quanto à

forma de criação: “mas assim mesmo tinha frases aproveitáveis e invenções

descritivas engenhosas. E principalmente comovia” (ANDRADE, 1980, p. 56).

A Semana de Arte Moderna de 1922

A Semana de Arte Moderna de fevereiro de 1922, realizada

em São Paulo, é importante referencial para reflexões

estéticas e para a crítica de arte do país. Essa manifestação

é potencializada pelo contexto em que ocorre. As questões

associadas ao nacionalismo emergente do pós-Primeira Guerra

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Mundial e à industrialização que se estabelece, especialmente

em São Paulo, motivam intelectuais e jovens artistas

entusiasmados a reverem e criarem novos projetos culturais.

No jornal Correio Paulistano de 29 de janeiro de 1922, uma

nota anuncia a realização de uma semana de arte no Teatro

Municipal, entre 11 e 18 de fevereiro, com a participação de

escritores, músicos, artistas e arquitetos de São Paulo e do

Rio de Janeiro. De acordo com a notícia, a Semana, organizada

por intelectuais das duas cidades, tendo Graça Aranha à

frente, tem por objetivo dar ao público de São Paulo “a

perfeita demonstração do que havia em nosso meio em escultura,

pintura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista

rigorosamente atual”.

Seja quem for o autor da ideia, o objetivo da Semana de

Arte é renovar o estagnado ambiente artístico e cultural de

São Paulo e do país. Acentua-se a necessidade de “descobrir”

ou “redescobrir” o Brasil, repensando-o de modo a desvinculá-

lo, esteticamente, das amarras que ainda o prendem à Europa. É

verdade que os jovens participantes da proposta inovadora

procuram a “proteção”, a diplomacia e a arregimentação de

Graça Aranha – espécie de avalista ou “carro-chefe”, capaz de

impor respeito a setores menos abertos à modernidade.

A ideia cresce e avança levada por Paulo Prado, figura

representativa da intelectualidade e da alta camada social

paulista. Os equívocos são muitos. A comissão organizadora, de

cunho mais tradicionalista, está distante da sensibilidade

realmente moderna de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di

Cavalcanti, Villa-Lobos, Brecheret e Anita Malfatti. A Semana

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realizou-se perante aplausos e vaias. Enquanto nos dias 13, 15

e 17 de fevereiro ocorrem, no interior do Teatro Municipal,

conferências e concertos, no saguão, os artistas e os

arquitetos expõem seus trabalhos.

Por esse motivo, a Semana de 1922, caracterizada como um

índice de um possível surgimento de uma nova etapa das artes,

de uma literatura e da música brasileira refletia a

internalização de uma nova ideia de Brasil nos campos

histórico e estético, visando construir um projeto hegemônico,

fundamentado no nacional (folclore + povo) como fonte de

inspiração dos artistas, escritores e compositores envolvidos

cientifica e emotivamente, com vistas a escrever obras capazes

de construir uma identidade cultural da nação. A Semana não

chega a ser propriamente a realização acabada da modernidade,

mas insiste em ser seu índice, daí certo desequilíbrio entre o

que se alardeia e o que se mostra.

Mário de Andrade em O Movimento Modernista defendeu com

propriedade os três princípios do Modernismo: “O direito

permanente à pesquisa estética; atualização da inteligência

artística brasileira; e a estabilização de uma consciência

criadora nacional”.

Em seu livro Pauliceia Desvairada (1922), o "prefácio

interessantíssimo" é o prefácio que por muitos é considerado a

base do modernismo brasileiro. Mundocultural abre com uma

citação do escritor belga Émile Verhaeren, que é o autor de

Villes Tentaculaires. O prefácio não fala do livro, mas sim de

uma atitude geral perante a literatura. É uma espécie de

manifesto poético, em versos livres.

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No início do Prefácio ele próprio denuncia a sua atitude.

Depois de afirmar que “está fundado o Desvairismo”, afirma que

o seu texto é meio a sério meio a brincar. O que lhe dá um

caráter inconfundível de, por um lado, programa poético e, por

outro, paródia. Assim o sério e o divertimento se misturam num

todo sem fronteiras definidas. Repare-se ainda que é um texto

muito assertivo, provocativo e polêmico no que é

característico o Modernismo.

Num estilo rápido e solto, com ideias truncadas, e que

atinge um efeito de grande dinamismo. Mário de Andrade luta

por uma expressão nova, por uma expressão que não esteja

agarrada a formas do passado: “escrever arte moderna não

significa jamais para mim representar a vida atual no que tem

de exterior: automóveis, cinema, asfalto.”

Outra das ideias expressas por Mário de Andrade neste

Prefácio/Manifesto é que a língua portuguesa é uma opressão

para a livre expressão do escritor no Brasil. Assim ele afirma

que “A língua brasileira é das mais ricas e sonoras”. Para

reforçar esta ideia do brasileiro como língua, grafa

propositadamente a ortografia de modo a ficar com o sotaque

brasileiro. Assim aparece muitas vezes neste manifesto “si” em

vez de “se”. Neste ponto está a ser completamente contra os

poetas parnasianos que defendiam uma ideia de que a língua

portuguesa seria a língua dos bons e grandes escritores do

passado. Neste ponto, Mário de Andrade é um nacionalista.

Mas não admira Marinetti. É contra a rima. E contra todas

as imposições externas. “A gramática apareceu depois de

organizadas as línguas. Acontece que meu inconsciente não sabe

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da existência de gramáticas, nem de línguas organizadas”. “Os

portugueses dizem ir à cidade. Os brasileiros, na cidade. Eu

sou brasileiro”. (Citado por Celso Pedro Luft).

A ideia talvez mais importante deste Prefácio seja a de

Polifonia e de Liberdade. "Arroubos... Lutas... Setas...

Cantigas... povoar!" (trecho da poesia Tietê) Estas palavras

não se ligam. Não formam enumeração. “Cada uma é frase,

período elíptico, reduzido ao mínimo telegráfico”.

Pauliceia Desvairada (1922) é uma viagem lírica no espaço tenso

e contraditório de São Paulo em via de transformar-se na

grande cidade industrial sul-americana, onde o novo começa a

sobrepujar o velho, onde gentes de varias nacionalidades

misturam os seus falares, tal como se misturaria, nos poemas,

a história pessoal do poeta e a memória histórica do Tiete, o

rio dos bandeirantes de dois séculos atrás, que agora

acompanhava largas avenidas asfaltadas, trilhos de bondinhos

elétricos trepidantes e automóveis pagos com os lucros do

café, enquanto em meio a um passado provinciano, de missas na

Igreja de Santa Cecília, de passeios nos parques, a antiga

classe senhorial dos fazendeiros paulistas metamorfoseia-se,

abandonando os seus antigos hábitos aristocráticos.

Macunaíma – o herói sem nenhum caráter

Mário de Andrade é considerado um escritor completo e

inigualável, um dos maiores renovadores da cultura nacional na

primeira metade do século XX. Iniciou pesquisas e cursos de

etnografia e folclore, desenvolveu estudos da língua. Com a

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semana de Arte Moderna de 1922, da qual foi um dos

organizadores, seu nome se projetou em todo o país como um

líder do modernismo.

   Como é conhecido, “Macunaíma”  nada mais é do que uma

bem organizada cópia de vários outros livros que variam desde

culturas de povos indígenas que viviam nas margens do rio

Orinoco até livros que retratam, com um pensamento filosófico,

a realidade do capitalismo. Sendo assim, Mário de Andrade

retrata nesse romance - que é classificado com “rapsódia”7, a

realidade vivida pela sociedade brasileira no começo deste

século, em que se percebe, quando comparada, que não é muito

diferente da vivida atualmente (o começo e a perpetuação da

dominação de outras culturas sobre a brasileira).

  O livro narra a história de um índio chamado Macunaíma

(“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa

gente...  Houve um momento em que o silêncio foi tão grande

escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas

pariu uma criança feia...”) sua vida, seus “tropeços” e, em um

determinado momento do livro, há uma ação que se torna o tema

central do livro : a procura da pedra Muiraquitã - que nada

mais é do que a própria cultura brasileira representada na

forma de uma pedra muito preciosa , a qual somente as “índias7 Rapsódia designava na Grécia antiga, a recitação de fragmentos de poemasépicos, notadamente homéricos pelos rapsodos, poetas ou declamadoresambulantes, que saíam de cidade em cidade, propagando a Ilíada e aOdisséia. Surgidos provavelmente no século VII a C (... ) Adotado poralguns compositores do século XIX, para assinalar toda peça musicalpermeada de emoção e melodia, ou a utilização livre de temas populares parapiano e orquestra, nos domínios literários o vocábulo “ rapsódia” equivalepara compilação, numa mesma obra, de temas ou assuntos heterogêneos e devárias origens. Macunaíma, de Mario de Andrade, constitui a rapsódia dasprincipais lendas afro-indígenas que compõem o substrato folclóriconacional.

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amazonas” teriam acesso - somente estas sabiam onde encontrar

e como encontrar - e que é também muito cobiçada pelos

“estrangeiros” : os recém chegados italianos , que são

representados por Venceslau Pietro Pietra. E, na luta entre

Macunaíma e Venceslau é que o livro todo se desenvolve.

   Mas, Mário de Andrade não queria tão somente escrever

uma estória sobre as “peripécias de um índio”, este projeto

era sobre algo muito maior e muito mais sério e real: a

retratação real da cultura brasileira existente - se é que ela

é existente (“Meu Macunaíma nem a gente pode bem dizer que é

indianista. O fato dum herói principal de livro ser índio não

implica que o livro seja indianista. A maior parte do livro se

passa em São Paulo. Macunaíma não tem costumes de índios, tem

costumes inventados por mim e outros que são de várias classes

de brasileiros. O que procurei caracterizar mais ou menos foi

a falta de caráter do brasileiro... - in obra já citada). E

para isso, fez uso dos livros de vários teóricos sobre esse

assunto, mas são dois que exerceram uma real influência para a

realização deste livro: Johann Gottfried Herder e Oswald

Spengler8.

8 Filósofo, matemático e historiador alemão Oswald Arnold Gottfried Spengleré hoje quase um desconhecido, mesmo entre filósofos e historiadores. Noentanto, no começo do século XX, no entre guerras, foi um fenômenofilosófico e editorial. Responsável por uma interpretação original dahistória e da civilização ocidental, para o público alemão, ele parecia terprofetizado em A Decadência do Ocidente o ambiente sociocultural de criseda época. O livro é a aplicação para o domínio histórico e cultural dométodo “morfológico” elaborado originalmente por Goethe para as CiênciasNaturais. Essa metodologia consistia em derivar os fenômenos a partir de umfenômeno primitivo único. Esse procedimento assume um aspecto frutífero aoconsiderar como fundamental o caráter histórico das Culturas, Civilizaçõese do Mundo.

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   Mário de Andrade utiliza a obra de Herder no que esta

diz respeito à sua teoria sobre cultura. Herder defende a

dialética da realidade - assim como Hegel e Marx - todas as

coisas no mundo conhecem o processo de transformação. E,

quando se faz um paralelo com “Macunaíma”, percebe-se o quanto

isso é presente na história: a transformação passada pelo

índio que começa como herói e ao final transforma-se no seu

próprio inimigo - próprio vilão; é o considerado “anti-herói”.

A transformação sofrida pelo personagem que começa como índio,

que é uma representação do real povo brasileiro, e que quando

vai para a cidade em busca da pedra Muiraquitã (que foi

roubada por Venceslau Pietro Pietra), torna-se outro, é

seduzido pelas novidades introduzidas pelos estrangeiros na

cidade: fábricas, automóveis... E assim perde a sua

ingenuidade para deixar-se levar pela cultura estrangeira.

Mário de Andrade afirma que “o estrangeiro está na

história para corromper. Este vem para destruir uma cultura já

existente” - e é o que realmente este livro afirma. Herder

também afirma que uma determinada cultura é composta pelos

seguintes elementos: geografia ( natureza) - raça - povo. A

natureza é o molde da raça e, esta se manifesta através de uma

determinada cultura. Com isto pode-se chegar a seguinte

conclusão: que no Brasil, antes do descobrimento, já havia uma

cultura - que era indígena - e que é a “real cultura do

Brasil”, já que levando em conta essa teoria, a cultura aqui

imposta pelos europeus é, logicamente, a deles e não é

respeitada a ordem geografia - raça – povo, nessa imposição.

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Mas, pior que essa “obrigação” foi o que aconteceu com o

passar do tempo: a aceitação e absorvição desta cultura

estrangeira em lugar da cultura genuína brasileira, o que fez

com que o Brasil fosse uma mera reprodução (muito mal feita,

aliás) da cultura europeia. E, para que esta argumentação

fique mais bem explicitada, é necessário que se exponha ao

modo Herderiano de ver, o que é cultura: “É a construção de um

discurso simbólico, é o conjunto de informações reunidas por

um povo”.

Mário de Andrade faz uso desta definição no que diz

respeito na própria organização textual do livro: ele utiliza

toda a cultura brasileira - as denominadas “tradições

regionais” - mesclando-as e o que deixa a mostra é a grande

variação linguística encontrada, o grande número de palavras

que são sinônimos e que possuem uma estrutura gramatical

completamente diferente, comprovando que a cultura popular é

muito rica aqui (“tendência especializada em trabalhar a

substância brasileira”).

E, sobre esse fator língua, Herder também deixa bem

exposto seu caráter nacionalista e que acompanha sua obra - e,

claro “Macunaíma”. Para aquele, “A verdade de um povo está no

idioma”. Esta afirmação ainda encontra força na argumentação

da imposição europeia: o português falado aqui é uma das

“culturas” absorvidas pelo Brasil, que antes da colonização

europeia, falava as línguas indígenas.

Enfim, essa afirmação de Herder deixa bem a mostra o já

citado caráter nacionalista existente na obra de Mário de

Andrade. É por essa importante característica que ele faz uso

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de suas teorias em “Macunaíma” - que se transforma também por

isso uma biografia do Brasil (“principal objetivo da obra, que

é estudar em profundidade o temperamento brasileiro”).

Mário de Andrade faz uso da teoria de Spengler no seu

livro no que, também, diz respeito a cultura e a História de

um povo. Segundo sua teoria, sobre a história, não existe a

considerada “História Universal”, mas sim apenas  “histórias

nacionais” - e somente aqueles povos que possuíram uma

verdadeira história é que conseguiram desenvolver uma cultura

sólida: sem ou com uma ínfima interferência de outras

culturas.

Seguindo esse raciocínio e aplicando-o aqui no Brasil

percebe-se que este não possui história, e por consequência,

muito menos cultura ( havia, mas a absorção da imposta foi

tamanha que anulou qualquer possibilidade de reação), e quando

esta tentou a reação foi interceptada pela chegada dos

italianos (começo do século XX), acabou não resistindo e cedeu

por completo. Apesar de tudo isto, Mário de Andrade continuava

acreditando no movimento Modernista e na guinada da cultura

brasileira: “O Brasil é a civilização do próximo milênio, já

que a Europa está morta...”.

   Spengler ainda aparece em “Macunaíma” quando este se

faz representar a “grande alma” brasileira - que é necessária

para o desenvolvimento da história/cultura de um povo, porém,

quando aquele vai para São Paulo e entra em contato com outra

cultura absorvendo-a de maneira feroz, perde sua

“brasilidade”, e quando acontece o “afastamento das raízes,

uma cultura morre” (Spengler, in: “A decadência do

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ocidente” ). E foi o que justamente aconteceu e que Mário de

Andrade deixa exposto nessa magnífica

obra.                          

 A decadência da cultura ocorre no ápice da

industrialização, pois nessa fase não há mais qualquer lugar

para o mítico, para o lúdico. É exatamente este o esquema

desta obra modernista e sempre atual: Macunaíma nasce grande

alma, conhece a civilização, decai abandonado pelos deuses da

floresta e morre sozinho e inútil.   “Macunaíma o herói sem

nenhum caráter” vêm mostrar que o Brasil já possuiu uma

cultura própria riquíssima, mas que se deixou enfeitiçar pelas

“maravilhas” que a Europa proporcionou, e assim nossa cultura

morreu. O próprio índio Macunaíma o qual iria criar a

civilização brasileira não resistiu.

Mário de Andrade e um projeto de Brasil: seu

legado do Gestor Cultural

Abancado à escrivaninha em São PauloNa minha casa da rua Lopes Chaves

De sopetão senti um friúme por dentro.Fiquei trêmulo, muito comovido

Com o livro palerma olhando pra mim.Não vê que me lembrei lá no norte, meu Deus!

[muito longe de mim,Na escuridão ativa da noite que caiu,

Um homem pálido, magro de cabelo escorrendo nos olhosDepois de fazer uma pele com a borracha do dia,

Faz pouco se deitou, está dormindo.Esse homem é brasileiro que nem eu...

(Mário de Andrade, “Descobrimento”, de Dois Poemas Acreanos)26

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O modernismo, ao colocar o debate entre cosmopolitismo e

nacionalismo como o centro da questão política e da criação

artística, demonstrou que cultura e política não podiam ser

dissociadas. Construir uma cultura brasileira era um problema

político, já que colocava em questão a formação de uma

identidade nacional baseada numa unidade cultural. Era essa

identidade entre cultura e política que dava aos intelectuais

a vocação de elite dirigente, já que cabia a eles forjar essa

unidade a partir dos fragmentos da cultura popular. Era o

momento de "redescobrimento do Brasil", movimento fundamental

no processo de definição da brasilidade e que buscava

explicitar o inconsciente nacional do povo. (RAMA, 1985, p.41)

Em 1935, durante uma era de instabilidade do governo

Vargas, Mário de Andrade organizou, juntamente com o escritor

e arqueólogo Paulo Duarte, um Departamento de Cultura para a

unificação da cidade de São Paulo (Departamento de Cultura e

Recreação da Prefeitura Municipal de São Paulo), onde Andrade

se tornou diretor.

Mário de Andrade teve um papel fundamental no

despontamento de São Paulo como o polo cultural brasileiro,

pois, seu trabalho no Departamento de Cultura foi o primeiro

órgão oficial destinado a coordenar atividades artísticas. Em

31 de maio de 1935, Mário de Andrade começou seu trabalho como

diretor da divisão de Expansão Cultural, por isso teve que

abandonar suas atividades de professor e, segundo Toni (n.d,

14), “começou a sentir as angústias de um intelectual à frente

de um cargo administrativo.” Após três anos de relevante

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trabalho, Mário de Andrade saiu do Departamento de Cultura

para trabalhar no Rio de Janeiro, em 1938. Entretanto, segundo

Bollos (2006, p. 119), “foi na mídia impressa que parte de sua

produção bibliográfica se deu, onde podemos destacar muitos

artigos, crônicas e textos de crítica literária e musical”.

Em 1938 Mário de Andrade reuniu uma equipe com o objetivo

de catalogar músicas do Norte e Nordeste brasileiros. Tinha

como objetivo declarado, de acordo com a ata da sua fundação,

"conquistar e divulgar para todo país a cultura brasileira". O

âmbito de aplicação do recém-criado Departamento de Cultura

foi bastante amplo: a investigação cultural e demográfica,

como construção de parques e recriações, além de importantes

publicações culturais.

Exerceu seu cargo com a ambição que o caracterizava:

ampliar seu trabalho sobre música e folclore popular, ao mesmo

tempo organizar exposições e conferências. As missões

resultaram um vasto acervo registrado em vídeo, áudio,

imagens, anotações musicais, dos lugares percorridos pela

Missão de Pesquisas Folclóricas, o que pode ser considerado

como um dos primeiros projetos multimídia da cultura

brasileira. O material foi dividido de acordo com o caráter

funcional das manifestações: músicas de dançar, cantar,

trabalhar e rezar.

Trouxe sua coleção fonográfica cultural para o

Departamento, formando uma Discoteca Municipal, que era

possivelmente as melhores e maiores reunidas no hemisfério.

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Em sua vida e obra, Andrade revela sua preocupação e amor

pela arte brasileira, sua obra registra a militância

intelectual do autor sempre em busca de novos desafios com

objetivo de tornar a cultura brasileira mais nacional. A

influência de Andrade foi decisiva em todos os setores do

pensamento cultural brasileiro. Nesse sentido, Bollos (2206)

reitera: Suas contribuições no campo da música, assim como no daliteratura, corroboram para que ele seja um dosprincipais, senão o mais importante, articulador dacultura brasileira na primeira metade do século XX. Suaveia crítica e perspicaz é presente na grande maioria deseus escritos sejam eles resenhas ensaios, crônicas ouromances. (BOLLOS, 2006, p. 127)

Mário de Andrade também foi um dos mentores e fundadores

do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, junto

com o advogado Rodrigo de Melo Franco de Andrade. Limitações

de ordem política e financeira impediram a realização desse

projeto (que seria caracterizado por uma radical investida no

inventário artístico e cultural de todo o país), restringindo

as atribuições do instituto, fundado em 1937, à preservação de

sítios e objetos históricos relacionados a fatos políticos

históricos e ao legado religioso no país.

Em fins do ano de 1939, Mário de Andrade viu a sua

situação como funcionário do Ministério da Educação e Saúde

regularizada pelo ministro Capanema. Ele foi contratado como

consultor técnico do Instituto Nacional do Livro e recebeu

como primeira tarefa a elaboração dos projetos da Enciclopédia

Brasileira e do Dicionário da Língua Nacional. Foi Augusto

Meyer, diretor do Instituto Nacional do Livro, que encomendou

o anteprojeto da Enciclopédia Brasileira a Mário de Andrade no29

Page 30: A REVOLUÇÃO MODERNISTA DE MÁRIO DE ANDRADE E SEU PROJETO POLÍTICO DE CULTURA POPULAR BRASILEIRA.

mesmo ano. O método e o rigor da disciplina de trabalho de

Mário eram conhecidos, e seus estudos sobre a cultura popular

brasileira já vinham sendo feitos desde os anos 20. Mas,

apesar da comprovada competência do autor, o seu anteprojeto

de Enciclopédia Brasileira não foi desenvolvido e, mesmo tendo

tomado a precaução de pedir para ocupar uma função apenas

auxiliar na execução dos trabalhos, ainda assim Mário

despertou a desconfiança de Augusto Meyer no sentido de que se

preparava para substituí-lo na direção do Instituto.

Mário de Andrade acreditava que a ideia de publicar uma

Enciclopédia Brasileira era um "verdadeiro ideal" de

importância fundamental para a cultura do país. E ele

principia por justificar essa importância com argumentos

bastante pragmáticos. Em primeiro lugar, a necessidade de

fazer frente à especialização cada vez maior do conhecimento

humano e também o desejo de se equiparar a outros países que

já possuíam as suas próprias enciclopédias. Outra

justificativa pragmática é de ordem econômica: a Enciclopédia

Brasileira representaria uma economia significativa para as

famílias brasileiras, já que valeria por toda uma biblioteca.

Isso tem muita importância porque poucas pessoas no Brasil

tinham a possibilidade de adquirir uma biblioteca, mas uma boa

enciclopédia editada pelo poder público (o que significaria

priorizar a qualidade e não as preocupações comerciais, já que

se eliminaria a premência do retomo financeiro) poderia ter um

preço baixo que a tornasse acessível às classes populares.

Mário de Andrade define o ideal da enciclopédia em termos

bastante objetivos: "O ideal, neste sentido, será construir-se

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uma ótima enciclopédia e vendê-la por tal menor preço e com

tais facilidades de pagamento, que ela possa viver nos lares

operários”.

Mudou-se em 1938 para o Rio de Janeiro para tomar posse de

um novo posto na UFRJ, onde dirigiu o Congresso da Língua

Nacional Cantada, um importante evento folclórico e musical.

Em 1941 retornou para São Paulo e voltou ao antigo posto do

Departamento de Cultura, apesar de não trabalhar com a mesma

intensidade que antes.

Andrade morreu em sua residência em São Paulo devido a um

enfarte do miocárdio, em 25 de fevereiro de 1945, quando tinha

52 anos. Dadas as suas divergências com o regime do Estado

Novo, não houve qualquer reação oficial significativa antes de

sua morte. Dez anos mais tarde, porém, quando foram publicados

em 1955, Poesias completas, quando já havia falecido o ditador

Vargas, começou a consagração de Andrade como um dos

principais valores culturais no Brasil. Em 1960 foi dado o seu

nome à Biblioteca Municipal de São Paulo e, cujo projeto se

espalhou por diversas cidades do Estado de São Paulo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerado o escritor mais nacionalista e múltiplo dos

brasileiros, Mário de Andrade construiu um caráter

revolucionário na literatura brasileira, que se iniciou com

Pauliceia Desvairada (1922), onde analisa a cidade de São Paulo e

todos seus elementos (provincianismo, aristocracia, burguesia,

rio Tietê, Avenida Paulista). O autor também é considerado um

dos primeiros musicólogos do país, e seu maior interesse era a

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música, particularmente os ritmos nordestinos, nos quais

tentou pesquisar e valorizar, assim como fez com a Missão de

Pesquisas Folclóricas, tentando criar um estudo e uma

descoberta das raízes culturais do Brasil. Isso também ocorreu

com seu romance mais famoso, Macunaíma, considerada uma das

obras capitais da narrativa brasileira no século XX.

A importância de Mário de Andrade continua sendo

ativamente expressa nos dias atuais, e ainda se fala sobre sua

obra seja para estudo ou para a investigação do Brasil: "pela

amplitude de sua cultura, pela vastidão dos seus conhecimentos

[...] [porque] tinha uma visão panorâmica abrangente [e]

dispunha de um quadro de referências muito mais rico do que

todos os outros”.

Segundo o biógrafo Francisco de Assis Barbosa (1944)

“Poucos como o grande poeta e crítico de São Paulo estariam

mais indicados para a tarefa difícil. A vida literária de

Mário de Andrade foi um lutar constante. Os artigos de crítica

e polêmica que escreveu em jornais e revistas deram para mais

de seis volumes; os mais importantes deles foram publicados em

livros, na edição das Obras Completas de Mário de Andrade,

iniciativa da Livraria Martins. Não foi sem razão que o

chamaram de “papa do modernismo”. Concordo que não há dúvida

que indica tal papel do escritor: a sua linha de conduta, a

sua ação prodigiosa, a sua fé na literatura, o seu valor

moral”.

Por todos esses motivos, Mário de Andrade deve ser

considerado a figura mais importante dentre os agitadores do

movimento modernista. Mas não é só por isto. Hoje, decorridos

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Page 33: A REVOLUÇÃO MODERNISTA DE MÁRIO DE ANDRADE E SEU PROJETO POLÍTICO DE CULTURA POPULAR BRASILEIRA.

mais de 92 anos depois da celebre Semana de Arte Moderna,

vemos que foi uma obra que encontrou maiores ressonâncias na

turma da geração mais nova de sua época e ressoa sua

influência em toda a história de nossa cultura e literatura.

Procuramos com este artigo realizar um resgate da história

deste gigante das Letras brasileiras e trazer uma reflexão

sobre sua luta e projeto de nação e povo brasileiro, uma vez

que em nossos atuais dias, estamos perdendo os nexos

históricos e nossa identidade quanto a nossa cultura e

história.

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