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A Resistência Aeróbia no Futebol Nelson Capela Coimbra Barros Porto, 2008
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A Resistência Aeróbia no Futebol · 2019. 6. 12. · A Resistência Aeróbia no Futebol Orientador: Prof. Doutor António Rebelo Nelson Capela Coimbra Barros Porto, 2008 Monografia

Aug 23, 2020

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A Resistência Aeróbia no Futebol

Nelson Capela Coimbra Barros

Porto, 2008

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A Resistência Aeróbia no Futebol

Orientador: Prof. Doutor António RebeloNelson Capela Coimbra Barros

Porto, 2008

Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na opção de Rendimento - Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

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Barros, N. (2008). A Resistência Aeróbia no Futebol. Porto: N. Barros.

Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto.

Palavras-chave: RESISTÊNCIA AERÓBIA, FREQUÊNCIA CARDÍACA,

FUTEBOL.

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- I -

Agradecimentos

Embora tenha consciência que, por esquecimento, poderei ser injusto com

alguém, irei nas próximas linhas agradecer às pessoas que assumiram um

papel preponderante durante esta fase da minha vida que agora termina com a

elaboração deste trabalho:

Ao Professor João Renato, por todo material cedido e por toda a

prestabilidade que sempre manifestou ao longo das várias etapas de execução

do presente documento.

Ao Professor Doutor António Natal, não só pela orientação deste estudo,

mas sobretudo pela confiança, disponibilidade, amizade e compreensão que

sempre demonstrou para comigo.

Aos meus meninos (Juvenis e Escolas), que embora alheios a tudo isto,

foram levando com um “Mister” mais ou menos paciente.

Aos meus bons amigos, o Rui (Teorias), o Gomes, o Nuno e o Jonathan

que suportaram as minhas ausências, bem como as minhas presenças!

À Cristiana, por todo o apoio que me prestou, não apenas na realização

deste trabalho mas fundamentalmente ao longo de grande parte deste meu

percurso académico, partilhando os momentos de alegria e de tristeza. Isto

também é teu!

Aos meus pais, pelo apoio incondicional que sempre me deram, pelo

esforço de suportar os encargos dos meus estudos e pela palavra certa na

hora certa. Sei que é a vós que devo o facto de ser aquilo que sou hoje.

A todos, o meu mais sincero obrigado.

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- II -

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- III -

Índice geral

Agradecimentos ............................................................................................. I

Resumo........................................................................................................ IX

Abstract........................................................................................................XI

Lista de abreviaturas..................................................................................XIII

1. Introdução ................................................................................................. 1

1.1. O estado da arte e o Futebol............................................................... 1

2. Revisão da literatura ................................................................................. 3

2.1. Caracterização da natureza do Futebol actual .................................... 3

2.2. Caracterização do esforço específico em Futebol............................... 6

2.3. Caracterização e exigências fisiológicas do Futebol ......................... 11

2.4. A Resistência – uma imposição do futebol moderno......................... 15

2.4.1. O carácter múltiplo da sua definição ............................................... 15

2.4.2. A Resistência e a sua relação com a Fadiga................................. 16

2.4.3. A Resistência e a sua relação com a Recuperação ..................... 16

2.4.4. A Resistência e a sua relação com a Fisiologia do organismo... 17

2.4.5. A Resistência e os seus objectivos ................................................. 18

2.4.6. A Resistência e as suas formas de manifestação......................... 19

2.4.7. A Resistência e a estrutura do treino .............................................. 21

2.4.8. A Resistência e a intensidade do treino.......................................... 22

3. Objectivo ................................................................................................. 27

4. Material e métodos ................................................................................. 29

4.1. Amostra............................................................................................. 29

4.2. Procedimentos metodológicos .......................................................... 30

4.3. Procedimentos estatísticos................................................................ 31

5. Apresentação dos resultados.................................................................. 33

5.1. Resistência Aeróbia .......................................................................... 33

5.2. Frequência Cardíaca média .............................................................. 35

5.3. Resistência Aeróbia Vs. Frequência Cardíaca média ....................... 36

6. Discussão dos resultados ....................................................................... 37

7. Conclusões ............................................................................................. 47

8. Bibliografia .............................................................................................. 49

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- V -

Índice de figuras

Figura 1 – gráfico da distância percorrida no YOYO ......................................... 9

Figura 2 – esquematização do YOYO................................................................ 30

Figura 3 – gráfico da evolução do YOYO .......................................................... 36

Figura 4 – gráfico da evolução da FCmed......................................................... 36

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- VII -

Índice de quadros

Quadro 1 – estudos sobre a distância percorrida em Futebol ......................... 7

Quadro 2 – distância percorrida em Futebol (relação entre posição e

nacionalidade) ................................................................................................................ 7

Quadro 3 – distribuição espacial e temporal dos deslocamentos no jogo ..... 8

Quadro 4 – variação da distância percorrida no ITT.......................................... 9

Quadro 5 – variação da FCmed .......................................................................... 14

Quadro 6 – formas de avaliar o tipo de treino................................................... 23

Quadro 7 – caracterização da amostra .............................................................. 29

Quadro 8 – medidas de estatística descritivas para o YOYO ........................ 33

Quadro 9 – medidas de estatística inferencial para o YOYO......................... 34

Quadro 10 – comparações " à posteriori" para o YOYO................................. 34

Quadro 11 – medidas de estatística descritivas para a FCmed .................... 35

Quadro 12 – medidas de estatística inferencial para a FCmed ..................... 35

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- IX -

Resumo

O presente estudo teve como grande objectivo analisar a Resistência

Aeróbia de futebolistas profissionais ao longo de uma época desportiva.

A amostra utilizada para a realização deste trabalho foi composta por 37

indivíduos do sexo masculino pertencentes a um plantel sénior da segunda liga

portuguesa (Liga Vitalis) na época 2007/2008. Todavia, apenas 6 indivíduos

puderam ser considerados, já que foram os únicos a repetir o teste nos três

momentos da época desportiva elegidos.

O instrumento utilizado para aferir o comportamento da Resistência Aeróbia

no decurso do período temporal do estudo foi o YOYO Intermittent Endurance

Test idealizado por Bangsbo (1996).

Os resultados por nós obtidos indiciaram um aumento significativo da

Resistência Aeróbia desde o início do período preparatório até à fase inicial do

período competitivo, sendo que nesta fase da época os futebolistas

demonstram já encontrar-se já em patamares muito próximos daqueles que

são veiculados na literatura como normais para o meio da época desportiva

(Rebelo, 1999). A capacidade condicional analisada apresentou uma

diminuição desde sensivelmente o meio do período competitivo até o final do

mesmo e entrada no período transitório.

Palavras-chave: FUTEBOL, RESISTÊNCIA AERÓBIA, FREQUÊNCIA

CARDÍACA

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- XI -

Abstract

The goal of the following study was to analyze the professional footballers’

Aerobic Resistance throughout a season.

The sample used to carry out this essay was made of 37 males that were

part of a second league’s (Vitalis League) main team during the season of

2007/2008. However only 6 of those individuals could be considered for this

study since they were the only ones to repeat the test in the three chosen

moments of the season.

The test used to understand the Aerobic Resistance’s behavior during the

chosen time line was the YOYO Intermittent Endurance Test that Bangsbo

(1996) idealized.

The obtained results showed that from the beginning of the preparation

period to the initial stage of the competition the Aerobic Resistance increased

significantly. During this stage footballers are already close to what some

authors think it’s normal for the middle of a season (Rebelo, 1999). The

analyzed conditional capacity showed a decrease from the middle to the end of

the season and beginning of the transition period.

Keywords: FOOTBALL, AEROBIC RESISTANCE, HEART RATE

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- XIII -

Lista de abreviaturas

FC – Frequência Cardíaca

FCmed – Frequência Cardíaca média

FCmax – Frequência Cardíaca máxima

ITT – Incremental Treadmill Test

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- 1 -

1. Introdução

1.1. O estado da arte e o Futebol

Dada a dimensão do fenómeno para o qual nos propomos contribuir com

um pequeno avanço em termos científicos nunca é demais realçar que tem

sido por demais investigado. Reilly e Gilbourne (2003) referem a existência de

uma vasta panóplia de temáticas estudadas no âmbito do desporto rei, sendo

por isso verificável a existência de um direccionamento diverso dos alvos

preferenciais de investigação em Futebol. A “Análise do Jogo” encontra-se no

topo dos esforços desenvolvidos na produção de conhecimento futebolístico,

sendo seguida, em ordem decrescente, pelas que incidiram na “Medicina e

aspectos ambientais”, nos “Testes de Avaliação”, na “Psicologia em contexto

de Treino”, na “Psicologia”, na “Gestão do Treino”, na “Biomecânica”, no

“Exercício em idades pediátricas”, na “Nutrição e Metabolismo”, na “Fisiologia

em contextos de jogo” e na “Sociologia”.

Os autores supra referidos indicam que os estudos existentes podem ser

englobados em categorias temáticas, tais como: características dos jogadores,

testes de avaliação (fitness), exigências físicas e fisiológicas durante o jogo,

análise de acções tácticas e técnicas durante o jogo, treino, psicologia e

identificação de talentos.

Como podemos constatar, as questões que se prendem com o nosso

estudo estão no topo das escolhas. Reilly e Gilbourne (2003) corroboram esta

visão afirmando a existência de maior quantidade de investigações dos

factores físicos e fisiológicos em detrimento dos factores psicológicos. A ideia

de que se torna imperioso, nos dias que hoje correm, uma constante busca da

superação poderá eventualmente levar a que exista uma enorme variedade de

trabalhos da natureza do nosso.

Atentando na conhecida intermitência produzida durante uma partida de

Futebol e de forma a fundamentar a nossa opção, podemos afirmar

inequivocamente a existência de um apelo constante aos vários sistemas

produtores de energia: aeróbio, anaeróbio láctico e aláctico.

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No entanto, e como nos refere Rebelo (1993) os graus de solicitação de

cada uma dessas fontes energéticas são dissemelhantes, sendo que a maior

percentagem de energia produzida durante um jogo tem origem aeróbia.

Bangsbo (1993) partilha a ideia de que a maioria das acções durante uma

partida de futebol estão a cargo do metabolismo aeróbio. Este metabolismo é

recrutado de forma mais evidente em exercícios de baixa intensidade e

assume-se como principal agente da recuperação nos intervalos entre as

actividades de alta intensidade.

Assim, baseados nas evidências expostas nos dois parágrafos anteriores,

optamos por realizar uma análise do comportamento da Resistência Aeróbia ao

longo de uma época desportiva, visto ser uma capacidade preponderante para

a rentabilização do esforço dos futebolistas. Para dissecar tal capacidade

utilizamos uma equipa de Futebol sénior como amostra. Esta prestou-se à

realização do YOYO Intermittent Endurance Test (Bangsbo, 1996) em três

períodos de tempo concretos: início do período preparatório, princípio do

período competitivo e começo do período transitório.

De maneira a nos apercebermos do impacto fisiológico que o jogo exerce

sobre os atletas, teremos em conta a Frequência Cardíaca média (FCmed). A

escolha deste parâmetro entronca no facto de ser bastante fiável, objectivo, de

fácil aplicação e não ser um procedimento invasivo (Soares, 2000).

Uma vez explanada a pertinência de um trabalho seguindo os parâmetros

do nosso, interessa começar por definir em que moldes será organizado. Deste

modo, começamos por realizar uma breve revisão da literatura, onde

procuramos definir o estado actual de conhecimento da temática em estudo.

Posteriormente, baseados na revisão da literatura, definimos o objectivo. Em

seguida, expusemos os métodos utilizados no decorrer do estudo,

nomeadamente a caracterização da amostra, instrumentos aplicados e todos

os procedimentos efectuados. Numa fase terminal do nosso estudo,

apresentamos e discutimos os resultados obtidos. Culminamos esta

dissertação monográfica enunciando as conclusões por nós obtidas.

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2. Revisão da literatura

2.1. Caracterização da natureza do Futebol actual

Embora o Futebol seja uma modalidade colectiva de forte índole táctica, são

de natureza distinta os factores que concorrem para o alcançar de um

rendimento superior. Segundo diversos autores (e.g., Queiroz, 1986; Bangsbo,

1993; Pinto, 1996) dever-se-á ter sempre em linha de conta os factores tácticos

como condicionadores dos restantes factores que contribuem para o almejar do

sucesso desportivo (técnico, físico e psicológico). Todavia, estes mesmos

subfactores que se inter-relacionam e condicionam mutuamente, assumem

grande importância na assunção de comportamentos tácticos favoráveis

(Bangsbo, 1993; Garganta, 1998).

Convergindo para a temática que pretende ser tratada ao longo desta

dissertação, e antes de qualquer desenvolvimento no que se refere à

caracterização do esforço em Futebol, interessa analisar o determinismo que

este provoca sobre o ponto de vista físico e fisiológico. Nesta medida, e

assentando sobre a análise de Bangsbo (1992) o jogo de Futebol é um

exercício com uma duração de cerca de noventa minutos, em que o atleta pode

correr uma distância a rondar os 14 quilómetros com uma FCmed de 160 a 170

batimentos por minuto (bpm), na qual a perda de água pode atingir os 3 a 4

litros e onde a qualidade das acções individuais e colectivas acabam quase

sempre por ditar o vencedor.

Fazendo uma viagem pelo tempo poderemos constatar que o jogo de

Futebol coloca nos dias de hoje muito mais exigências físicas e psicológicas

que outrora. Esta opinião é corroborada por Rebelo (1999) que nos refere que

o aumento da intensidade de jogo parece ter vindo a aumentar nas últimas

décadas. O mesmo autor afirma que somando ao aumento da intensidade,

também a densidade competitiva aumentou abruptamente, havendo

futebolistas a realizar no decorrer de uma época desportiva cerca de 70 jogos,

o que significa que esta exposto num período de onze meses a períodos

semanais de treino com três competições.

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Para além disto, é exigido actualmente ao futebolista profissional uma maior

e mais rápida capacidade de adequação dos seus comportamentos nos

diferentes momentos do jogo. Este vê-se na obrigação de responder rápido e

bem aos constrangimentos que o jogo levanta. Consequentemente, o

futebolista deverá discernir de imediato o que fazer, passando para um nível

superior que se prende com a maneira adoptada para resolver o problema

imposto (Garganta e Pinto, 1998). Segundo Garganta (1996), o aumento do

ritmo de uma partida de futebol é uma característica inegável do futebol actual.

Como é do conhecimento da comunidade científica, o Futebol decide-se

nos momentos de alta intensidade. Por este facto, as metodologias de treino

correm no sentido de propiciar o aparecimento da exponenciação das

capacidades dos atletas. Desta forma, os jogadores de elite são aqueles que

produzem maior quantidade de trabalho de alta intensidade durante uma

partida de futebol. Dadas estas exigências, é naturalíssimo que um estado de

fadiga se vá apossando do jogador. Poder-se-á constatar este facto através do

manifesto decréscimo do poderio físico dos jogadores da primeira para a

segunda parte dos jogos (Bangsbo, 1992). Transpondo a questão para um

espaço temporal mais alargado, como é o caso de uma época desportiva

(espaço de tempo sobre o qual nos iremos debruçar), podemos facilmente

concluir que devido ao desgaste provocado pelo acumular de jogos, será

certamente na parte final das temporadas, a altura em que o aparecimento da

fadiga, e consequentemente, redução da performance física dos jogadores

acabará por aparecer. Rebelo (1999) deixa antever este panorama através da

levada a cabo de um estudo relacionado com o sobretreino.

Para além do acumular da fadiga anteriormente citado poder-se-á atentar

na influência que o modelo de jogo adoptado pelo treinador acarreta em termos

energéticos para determinada equipa de futebol (Santos, 1995). Caso a nossa

concepção futebolística se prenda com a verticalização imediata do jogo após o

ganho da posse de bola, certamente entraremos num tipo de jogo mais

desgastante sob o ponto de vista energético, uma vez que o jogador estará em

transição constante.

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Um outro facto que poderá de certa maneira ter influência sobre o gasto

energético que uma partida de futebol pode provocar é o posicionamento do

jogador no terreno de jogo. Sabe-se actualmente que são os jogadores do

sector intermédio e aqueles que jogam sobre os corredores laterais, aqueles

que usualmente realizam uma maior metragem por jogo, logo estarão mais

dispostos ao desgaste e por conseguinte, à possibilidade de ocorrência do erro.

A maximização superior do futebolista passará então pelo minimizar das

manifestações desagradáveis que a fadiga impõe. Mas como? Esta é a

questão que se vem colocando entre os investigadores e que nos proporemos

responder nos próximos capítulos.

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2.2. Caracterização do esforço específico em Futebol

Tal como supra referimos, de forma muito genérica, o Futebol pode ser

caracterizado como sendo uma modalidade onde impera a intermitência. Esta é

uma característica bem evidente, já que congrega na sua essência actividades

de recuperação total ou mesmo parcial alternadas com fases de esforço, de

intensidade e duração variáveis (Bangsbo, 1994).

Em virtude de este ser um documento que procurará responder a questões

de índole física, julgamos ser relevante realizar uma pequena visita guiada pela

especificidade do esforço exercido no desenrolar da actividade futebolística

(treino ou competição).

Deste modo, para melhor caracterizarmos fisicamente o Futebol, e

corroborando as indicações metodológicas de Mohr, Krustup e Bangsbo

(2003), atentaremos nesta revisão da literatura nos estudos de Tempo-

Movimento realizados no âmbito desta modalidade, uma vez que nos mostram

a tal especificidade física do Futebol a que nos propomos responder.

Através da leitura da informação patenteada por este tipo de análise,

podemos recolher dados acerca da intensidade, duração e frequência das

acções realizadas por determinado jogador (Reilly, 1997; Soares, 2005). Com a

ajuda deste instrumento podemos facilmente inferir acerca da fonte fisiológica

recrutada em determinado período de jogo, e como tal, poder optimizar o

treino, buscando a constante superação.

Após a justificação para a execução de estudos deste tipo, passaremos a

caracterizar sob o ponto de vista físico e de forma específica a modalidade em

causa. Assim, e no que se refere à distância percorrida durante um jogo de

futebol, esta poderá cifrar-se num intervalo entre os 8-12 quilómetros

(constatável no quadro 1).

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Quadro 1 – estudos sobre a distância percorrida em Futebol

Referência Amostra Distância

Whitehead (1975) Jogadores profissionais (Inglaterra) (n=4) 11.7

Reilly e Thomas(1976) Jogadores profissionais (Inglaterra) (n=4) 8.7

Withers et al. (1982) Jogadores profissionais (Austrália) (n=20) 11.5

Ekblom (1986) Jogadores de equipas de

diferentes divisões (1ª à 4ª) (Suécia) (n=44)

10

Van Gool et al. (1988) Jogadores universitários (Bélgica) (n=7) 10.3

Ohashi et al. (1991) Jogadores de elite (Japão) (n=2) 9.8

Bangsbo et al. (1991) Jogadores da 1ª e 2ª divisão (Dinamarca) (n=14) 10.8

Bangsbo e Linquist (1992) Jogadores de elite (Dinamarca) (n=20) 10.9

Rebelo (1993) Jogadores profissionais (Portugal) (n=24) 9.6

Marechal (1996) Jogadores profissionais e

amadores (Bélgica) (n=15 + 14)

10.3

Valente e Santos (2002) Jogadores profissionais (Portugal) (n=9) 11.2

Segundo Soares (2005) a metragem percorrida em cada jogo poderá ser

condicionada por factores de vária ordem. Destes, destaca-se de entre os

demais a concepção táctica. Se atendermos que uma equipa poderá ter em

determinado jogo maiores preocupações defensivas do que nos restantes

jogos do campeonato, poderemos estar a incorrer num erro por defeito. A

diferença patenteada no quadro 2 entre jogadores Holandeses e Ingleses

espelha de sobremaneira a influência que a imposição táctica poderá ter em

avaliações desta natureza. A posição específica ocupada pelo jogador em

campo poderá determinar igualmente o espaço percorrido. Sabe-se que os

jogadores dos corredores laterais e do meio campo percorrem maior distância

a velocidades moderadas (maior frequência e duração).

Quadro 2 – distância percorrida em Futebol (relação entre posição e nacionalidade)

Posição Nacionalidade Andar (m) Jogging (m) Corrida (m) Sprint (m) Total (m)

Defesa Holanda Inglaterra

3,2 2,2

2,0 4,6

1,4 0,6

1,4 0,1

8,4 9,0

Meio campo Holanda Inglaterra

2,6 2,8

5,2 7,0

1,8 0,8

1,1 0,2

10,9 12,1

Ataque Holanda Inglaterra

3,4 3,5

2,0 4,0

1,6 1,2

1,8 0,4

9,8 10,4

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Embora importante, esta informação continua a ser muito generalista. Deste

modo, têm sido investigados os deslocamentos dos jogadores de acordo com

as suas intensidades. Estes dados providenciados pela análise do jogo do tipo

Tempo-Movimento revelam-nos que grande parte dos deslocamentos em jogo

são realizados a baixa intensidade (Rebelo, 1993). No que se reporta aos

deslocamentos de grande intensidade (sprints, por exemplo), podemos

constatar que estes ocorrem minoritariamente no jogo, ainda que estejam

associados às acções decisivas do jogo (Soares, 2000). A esmagadora maioria

dos sprints realizados durante um desafio de futebol tem a duração máxima de

4 segundos (Rebelo, 1999). Em termos de frequência, podemos dizer que são

realizados cerca de 70 (Reilly e Thomas, 1976) a 90 (Rebelo, 1993) sprints por

jogo. O quadro 3 demonstra a distribuição espacial e temporal dos

deslocamentos durante uma partida de Futebol.

Quadro 3 – distribuição espacial e temporal dos deslocamentos no jogo

Deslocamento Distância (m) Tempo (min) Parado 15,4 +/- 4,2 Marcha 2614 +/- 453 35,3 +/- 5,9

Baixa intensidade 3614 +/- 789 22,1 +/- 4,5 Média intensidade 1480 +/- 502 6,3 +/- 2,1

Máxima intensidade 1191 +/- 307 4,1 +/- 0,9

Um outro dado curioso, mas perfeitamente explicável pelo aparecimento da

fadiga é o decréscimo da distância percorrida entre a primeira e a segunda

parte de um encontro. Segundo Soares (2005) as diminuições médias cifram-

se entre os 5% e os 10% no espaço total percorrido. Bangsbo (1993) refere

ainda que apenas a frequência dos deslocamentos de alta intensidade sofrem

um grande decréscimo da primeira para a segunda parte. Este efeito é mais

visível nos últimos 15 minutos de jogo. O mesmo autor afirma ainda a

existência de um decréscimo da velocidade média dos sprints inferiores a 20

metros (m).

Baseando-nos num estudo realizado por Bangsbo (1994) que avaliou

jogadores do Brondby (primeira liga dinamarquesa), verificou-se que a

Resistência (aferida pela distância percorrida) a meio do período competitivo

era inferior à do período preparatório. Esta ideia parece ser bastante plausível

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quando analisamos os resultados obtidos por Rebelo (1999) (ver quadro 4).

Estes autores durante a aplicação de um teste intermitente de terreno

encontraram uma distância média percorrida de 1906 m, com uma amplitude

de variação de 1693 e 2155 m. Neste mesmo estudo, foi ainda vislumbrada

uma maior distância percorrida na terceira recolha de dados (meio do período

competitivo) do que nos restantes períodos testados (início do período

preparatório e princípio do período competitivo). Baseados nestes resultados,

os autores avançaram com algumas explicações como o facto de o período

preparatório não ser suficiente para a abordagem ao primeiro jogo por parte

dos atletas. Outra conclusão retirada prende-se com a necessidade da

existência de competição para melhorar a performance dos atletas.

Quadro 4 – variação da distância percorrida no ITT

Julho Agosto Janeiro Amostra global Média +/- DP (m) 1821 +/- 61 1904 +/- 56 1992 +/- 112 1906 +/- 106

Amplitude (m) 1693 - 1930 1818 - 1990 1841 - 2155 1693 – 2155

Soares (2005), afirma a existência de uma melhoria da condição física à

medida que a época vai avançando. Desta forma, é natural que a distância

percorrida vá também ela sofrendo um incremento com o evoluir da época.

Figura 1 – gráfico da distância percorrida no YOYO

Distância percorrida no YOYO Intermittent Endurance Test

1250

1680 1780 1700 1710

0200400600800

100012001400160018002000

Julho Agosto Novembro Fevereiro Maio

Dis

tânc

ia (m

etro

s)

Distância percorrida no YOYO Intermittent Endurance Test

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Outro aspecto digno de realce é a execução média de cerca de 1000 a

1200 acções de um jogador por jogo. De entre estas acções podemos ainda

destacar na existência de mudanças rápidas e frequentes de ritmo e de

direcção dos deslocamentos, bem como a execução de habilidades com bola

(Bangsbo, Norregaard e Thorso, 1991). Embora muitas destas acções sejam

determinantes para a atribuição de um vencedor no final do jogo, estas, são

deveras desgastantes (induzindo o rápido aparecimento da fadiga) já que

implicam um elevado número de contracções excêntricas.

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2.3. Caracterização e exigências fisiológicas do Futebol

Tal como deixamos antever no capítulo anterior, e de acordo com Bangsbo

(1993), podemos inferir acerca do desgaste fisiológico provocado no jogador

por uma partida de futebol através da realização de avaliações levadas a cabo

durante o jogo.

Alguns investigadores (Bangsbo, 1993; Bangsbo e Michalsik, 2002; Lees e

Nolan, 1998; Reilly, 1997) deixam antever através dos resultados dos seus

estudos que a distância total percorrida por um jogador, durante o jogo, não é

suficiente para explicar a natureza da exigência fisiológica colocada aos

jogadores. Esta ideia é partilhada por Santos e Soares (2001) que definem o

Futebol como um jogo de grande complexidade fisiológica, dado que exige ao

jogador o desempenho de acções muito próprias. Estas invocam em termos

metabólicos fontes energéticas distintas.

De uma forma generalista e assumindo a natureza complexa sob o ponto de

vista fisiológico que uma partida de Futebol acarreta, podemos descreve-lo

como sendo um exercício intermitente de elevada intensidade (Ekblom, 1986).

Tendo em linha de conta Sheppard (1990), o Futebol coloca o organismo do

jogador perante um dilema fisiológico, já que recorre aos três sistemas de

produção de energia: anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e aeróbio. No

entanto, e como nos refere Rebelo (1993), os graus de solicitação das

diferentes fontes energéticas são bem distintos.

É sabido entre os estudiosos (e.g. Reilly, 1997; Wragg, Maxwell e Doust,

2000) que a energia produzida por via aeróbia é aquela que assume maior

preponderância quer nos períodos onde o jogador tem de desempenhar uma

multiplicidade de acções características do jogo, quer nos períodos onde vai

recuperando desses esforços. É igualmente do conhecimento da comunidade

científica que é nos momentos de curta duração e de grande intensidade que

se resolvem os jogos (via anaeróbia).

Pormenorizando a importância de cada via metabólica, podemos invocar

Astrand e Rodahl (1986) que nos referem que 98% da energia total requerida

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pelo jogo deriva do sistema aeróbio, enquanto que os restantes 2% resultam de

processos anaeróbios.

Vários têm sido os estudos realizados no sentido de determinar a via

metabólica recrutada em determinado período do jogo e por conseguinte o

impacto fisiológico aduzido ao jogador. Rebelo (1999) alude à análise da

Frequência Cardíaca (FC) durante a competição e ao estudo da lactatémia

como sendo as variáveis fisiológicas mais amplamente divulgadas e utilizadas.

Estes são meios indirectos de avaliação do impacto fisiológico utilizados para

determinar o custo energético do jogo.

No entanto, iremos debruçar-nos unicamente sobre a FC, dado que se

prende directamente com a temática do nosso trabalho. A partir da utilização

deste método de avaliação de impacto fisiológico indirecto (Rebelo, 1999),

poderemos aferir com algum grau de precisão o recrutamento das várias vias

metabólicas.

A utilização deste parâmetro para analisar o impacto fisiológico que o jogo

acarreta é defendido por um leque alargado de investigadores. Estes (e.g.,

Achten e Jeukendrup, 2003; Ali e Farrally, 1991, Soares, 2000) apontam um

conjunto de vantagens que colocam este parâmetro no topo das preferências

para monitorizar o esforço. De entre os benefícios para a sua utilização

destacam-se a fiabilidade, a objectividade (aumenta paralelamente à

intensidade do trabalho do organismo), a fácil aplicação e a não invasividade.

Todavia, a FC é um parâmetro fisiológico algo instável, dado que pode ser

alterado quando o indivíduo se encontra perante determinadas circunstâncias.

Desde logo destacamos os jogos de cariz emocional mais elevado, os jogos

que expõem o individuo a um contacto com situações térmicas marcadamente

distintas da sua temperatura corporal, levando-o a entrar em stress térmico, o

grau de desidratação (quando a hidratação é reduzida, há tendência para a FC

crescer) e durante a execução das diferentes acções técnicas exigidas pelo

jogo (Reilly e Ball, 1984; Bangsbo, 1994). A FC mostra-se também variante

segundo aspectos como a idade do sujeito, os grupos musculares envolvidos

no exercício e o nível de condição física do indivíduo (Astrand e Rodahl, 1987;

Soares, 1988; Gilman, 1996; Brooks e Fahey, 1999).

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Um estudo realizado por Bangsbo (1993), em jogos do campeonato

dinamarquês, mostra-nos os intervalos da FC em que os jogadores se

encontram durante o jogo:

Abaixo de 73% da FCmax: 10 minutos (11% do tempo de jogo)

Entre os 73% e os 92% da FCmax: 57 minutos (63% do tempo de jogo)

Acima dos 92% da FCmax: 23 minutos (26% do tempo de jogo)

Quando o jogo é disputado a uma intensidade abaixo dos 85% da FC

máxima (FCmax) considera-se entre os demais investigadores que existe a

ocorrência da utilização do metabolismo aeróbio como principal produtor de

energia. Por outro lado, e tendo ainda em linha de conta as investigações de

Billows, Reilly e George (2005), se o jogo é disputado a uma intensidade que

leva FC a superar os 85% da FCmax crê-se existir uma maior preponderância

do metabolismo anaeróbio na produção da energia para fazer face às

exigências do jogo. Segundo um estudo de Ekblom (1986), grande parte do

jogo de futebol (2/3) é levada a cabo a uma intensidade que leva a FC a andar

muito próxima dessa margem dos 85% da FCmax. Já Soares (2000) indica que

a FC de um futebolista durante o jogo ronda os 70 % a 80% da sua FCmax.

Helgerud et al. (2001) distancia-se de Soares (2000) aproximando-se mais da

Ekblom (1986), visto que aponta como valores médios da FC a rondar os 80%

a 90% da FCmax.

Existem indícios encontrados pelos diversos investigadores (e.g. Ekblom,

1986; Bangsbo, 1993; Rebelo e Soares, 1993; Rebelo, 1999) de que o sistema

aeróbio tem uma presença bastante significativa. Os valores da FC

encontrados nas suas investigações situados entre os 150 e os 170 batimentos

por minuto (bpm) demonstram essa grande utilização via metabólica aeróbia.

Soares (2005) corrobora com esta visão, apresentando contudo um intervalo

menor para a FC durante o jogo (160 a 170 bpm). O mesmo autor salienta

ainda a existência de fases do jogo em que a FC atinge valores máximos

(grande intensidade de exercício) e outros de duração variável nos quais a FC

atinge valores reduzidos (recuperação entre esforços). Num estudo levado a

cabo por Bangsbo (1992) com jogadores da liga dinamarquesa podemos

conferir uma FC média na primeira parte do encontro de 164 bpm. Na segunda

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parte o número de bpm viu-se encurtado para 154. Soares (2005) reforça esta

ideia avançada por Bangsbo atestando o decréscimo médio de cerca de 10

bpm na segunda parte de um encontro de futebol.

Passando a analisar a FC à luz de um período temporal mais alargado,

como é o caso de uma época desportiva, e baseando-nos num estudo de

Rebelo (1999) podemos apurar que os valores da FC média encontrada nos

três períodos de avaliação, é de 168 bpm, existindo uma amplitude de variação

entre os 128 e os 189 bpm (ver quadro 5). É no inicio do período preparatório

que se vislumbra um maior número de bpm médio. A partir destes resultados

podemos inferir acerca da inadaptação ao esforço que caracteriza o período

preparatório. Esta hipótese ganha ainda mais força uma vez que os períodos

analisados subsequentemente demonstram um decréscimo da FCmed.

Quadro 5 – variação da FCmed

Julho Agosto Janeiro Média +/- DP 170 +/- 17 165 +/- 13 167 +/- 12

Amplitude 130 – 189 130 - 181 128 - 182

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2.4. A Resistência – uma imposição do futebol moderno

2.4.1. O carácter múltiplo da sua definição

Após termos caracterizado fisicamente o futebol, e embora saibamos que

uma Resistência Aeróbia superior não resolve por si só os problemas

colocados numa partida de futebol, será nosso intento provar que um

futebolista só poderá beneficiar caso tenha esta capacidade física evoluída.

Diversos investigadores (Zintl, 1991; Bangsbo, 1994) definem a Resistência

como a capacidade para:

Realizar exercício durante um período de tempo alargado;

Realizar acções de elevada intensidade de forma repetida;

Realizar acções com elevada potencia mantendo a precisão e eficácia

das habilidades técnicas;

Recuperar rapidamente.

Apesar de existir uma panóplia alargadíssima de definições deste conceito,

iremos agora reportar-nos somente ao mundo futebolístico. Aqui, surge muitas

vezes relacionado com a Fadiga e com a Recuperação.

Conde (1999) apresenta uma definição que relaciona a fadiga com uma

origem mais central e menos periférica, referindo que no caso do futebolista,

um bom desenvolvimento desta capacidade retarda o aparecimento da fadiga,

impedindo por isso que o cansaço altere a percepção, a tomada de decisão e a

execução das acções solicitadas pelo jogo, ou seja, que o ritmo de jogo

permaneça elevado.

Já Torrelles e Alcaraz (1998) relacionam esta capacidade com uma vertente

mais fisicista, uma vez que a definem como o móbil da execução intermitente

de acções breves e de máxima intensidade. Para que estes movimentos

possam ser uma constante, torna-se premente uma rápida recuperação

durante os períodos de menor intensidade.

Zintl (1991) apresenta definições mais abrangentes pois associa a

Resistência à capacidade de resistir física e psicologicamente à instalação de

fadiga resultante do trabalho prolongado no tempo e a rápida recuperação nos

intervalos entre esforços intensos.

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2.4.2. A Resistência e a sua relação com a Fadiga

Assumindo a integração de factores como uma realidade do futebol actual,

temos que ter em conta que caso um jogador esteja mal preparado fisicamente

será mais rapidamente assaltado pela fadiga, ficando desta forma mais

vulnerável à ocorrência de falhas de ordem táctico-técnica (Soares, 2000).

Saraiva (200-) complementa, avançando que em virtude de haver um

abaixamento no rendimento dos jogadores devido à fadiga acumulada ao longo

do encontro, torna-se premente atentar sobre esta capacidade condicional.

Partilhando o pensamento de Soares (2000) adiantado anteriormente, este

autor revela ainda que melhorando a capacidade do atleta resistir ao esforço

que um jogo de futebol acarreta este torna-se menos susceptível a erros de

ordem perceptiva, na sua tomada de decisão e potencia o seu rendimento

táctico-técnico em competição.

Como podemos inferir a partir do referido no decorrer do parágrafo anterior,

a fadiga apresenta-se como um fenómeno multifacetado, já que são várias as

suas manifestações. Esta não se fica única e exclusivamente por uma

manifestação física como poderemos erroneamente pensar. Este fenómeno

alastra-se às suas várias acepções. Segundo Zintl (1991) é usual verificar-se

uma diminuição do rendimento em virtude da existência de uma fadiga nervosa

ou central. Esta é predominante em relação à fadiga física ou periférica.

2.4.3. A Resistência e a sua relação com a Recuperação

Para aumentar a pertinência do nosso estudo, e para além da Resistência

aeróbia se assumir como premissa importantíssima para a manutenção do

jogador efectivamente em jogo, sabe-se hoje em dia que esta é a capacidade

condicional que sustenta a realização de acções resultantes das exigências do

jogo sem que a fadiga perturbe essas mesmas acções. Alguns estudiosos

(Bauer e Ueberle, 1988; Rebelo e Soares, 1997) elegem ainda esta capacidade

como a responsável pela recuperação entre acções explosivas e por

conseguinte, propiciadora de um desempenho mais eficaz sempre que este

tipo de acções for solicitado novamente.

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Todavia, a recuperação não deverá ser única e exclusivamente encarada

como a reposição do metabolismo em níveis normais. Esta é uma visão muito

simplista e redutora. Por isso, há que promover a recuperação integral do

indivíduo após a sua exposição a um contexto de elevada exigência como o é

um jogo de futebol. Segundo Garganta (1998) devido à sua eminência táctica,

verifica-se um constante apelo à inteligência, à capacidade de percepção, de

adaptação e de decisão. Este facto viabiliza a ideia de que a exigência

produzida por um jogo de futebol não se fica somente pelo desgaste produzido

a nível físico.

Assim, e para recuperarmos integralmente um indivíduo exposto durante 90

minutos às exigências decorrentes de uma partida de futebol, devemos ter em

linha de conta que esta modalidade faz apelo não só ao músculo, mas também,

e de forma mais acutilante ao cérebro.

2.4.4. A Resistência e a sua relação com a Fisiologia do organismo

O trabalho da Resistência ao longo da época desportiva produz os seus

efeitos no organismo do futebolista. Através de uma maior incidência sobre

esta capacidade motora em cada sessão de treino poderemos incrementar a

taxa de mobilização das gorduras, passando estas a ser utilizadas como fonte

energética em detrimento dos substratos de maior valor energético. Deste

modo, para a mesma intensidade de exercício, um indivíduo treinado poderá

utilizar as gorduras como fonte energética, guardando o glicogénio muscular

para fases ulteriores do jogo. A este mecanismo chamamos o glycogen sparing

effect.

Rebelo e Soares (1997) acrescentam ainda um outro benefício fisiológico

da exercitação desta capacidade condicional. Este prende-se com a remoção

do lactato. Um jogador com esta capacidade bem desenvolvida poderá manter

a intensidade de exercitação e recuperar mais rápido que os outros.

O aumento da rede vascular em torno dos músculos é segundo Soares

(2005) um benefício proveniente do treino desta capacidade condicional. Esta

adaptação a nível periférico permite uma maior oxigenação do músculo,

transporte de nutrientes essenciais e remoção de metabólitos produzidos.

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Também ao nível mitocondrial se podem processar alterações benéficas a

partir da exercitação da Resistência aeróbia. Desde logo, poder-se-á verificar

tanto um aumento da mitocôndria em termos dimensionais como também em

termos numéricos.

Através dos upgrades acima referidos, a remoção de metabólitos e a

capacidade de metabolização de substratos energéticos poderão ver os

mecanismos em que se encontram fundados optimizados.

2.4.5. A Resistência e os seus objectivos

Zintl (1991) refere como principais funções do trabalho da Resistência:

Suportar durante o exercício prolongado o máximo tempo possível a

uma intensidade óptima;

Minorar durante o exercício prolongado as perdas inevitáveis de

intensidade;

Dilatar a capacidade de suportar as cargas de exercitação durante o

treino ou competição;

Recuperar das cargas após exercitação no treino ou na competição;

Solidificar a técnica desportiva;

Aperfeiçoar a capacidade de concentração nos desportos de natureza

mais complexa.

Já Weineck (1994) sustenta a inclusão do treino da Resistência em cada UT

de acordo com os seguintes objectivos:

Aumentar a capacidade física, permitindo uma participação mais

prolongada no tempo e de forma mais intensa;

Melhorar a capacidade de recuperação dos esforços no decorrer dos

jogos, dos treinos e no decurso da mesma;

Reduzir o risco de lesões;

Aumentar a Resistência psíquica inerente ao esforço e à competição;

Reduzir o número de erros ocasionados pela fadiga acumulada;

Diminuir o número de erros técnicos e tácticos, já que o jogador

consegue estar concentrado durante mais tempo;

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Conseguir que a velocidade de reacção seja constantemente alta,

aspecto relacionado com a capacidade de recuperar melhor dos esforços;

Melhorar a saúde.

2.4.6. A Resistência e as suas formas de manifestação

De acordo com Weineck (1999) existe uma multiplicidade de manifestações

da capacidade condicional Resistência. Tudo depende da óptica de

observação. Segundo o mesmo estudioso, no caso do Futebol existem

algumas formas de manifestação mais importantes que outra, como é o caso

da Resistência observada à lupa da especificidade (Resistência Geral vs

Resistência Especifica) ou da Resistência analisada à luz da solicitação

metabólica (Resistência Aeróbia vs Resistência Anaeróbia).

Atentando sobre a Resistência Geral, poder-se-á dizer que esta é

extremamente importante, uma vez que permite ao futebolista uma participação

mais intensa no jogo, mantendo um ritmo mais elevado e durante um período

de tempo mais alargado. Adicionalmente, o jogador que beneficia de uma

Resistência Geral desenvolvida, recuperará mais rapidamente dos esforços de

alta intensidade, podendo executa-los repetidamente no tempo (Bangsbo,

1994; Weineck, 1999). De acordo com os mesmos autores, um jogador que

possua este tipo de Resistência evoluído está mais concentrado, mais atento e

rápido durante todo o jogo, cometendo menos erros e mantendo a disciplina

táctica nos momentos decisivos. Com o treino desta capacidade, também a

Resistência psíquica sairá beneficiada, adquirindo o jogador uma maior

estabilidade a este nível (Weineck, 1999). O mesmo autor refere ainda que

esta forma de manifestação da Resistência não deve nunca ser trabalhada

como um fim em si mesma, mas como meio para aquisição de um

desempenho táctico mais eficiente durante todo o jogo (Verheijen, 1999).

Relativamente à Resistência Especifica, poder-se-á dizer que esta é a

capacidade de resposta as exigências particulares de dada modalidade

(Weineck, 1999). No caso do Futebol, é-nos possível vislumbrar uma panóplia

de Resistências Especificas consoante as características e princípios do

modelo de jogo adoptado. Saraiva (200-) define a componente Especifica desta

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capacidade condicional como responsável pela aquisição por parte do jogador

de diferentes tipos de Resistência, de acordo com as necessidades específicas

inerentes às tarefas e funções do jogador no seio da equipa e dentro do

respectivo sistema de jogo. Conde (1999) declara que um jogador que

apresente uma Resistência Especifica bem desenvolvida aumentará a

capacidade para levar a cabo manifestações de Força e de Velocidade de

forma continuada. De acordo com Bangsbo (1994) e Weineck (1999) haverá

igualmente lugar ao desenvolvimento da capacidade de realizar acções

explosivas, com elevada frequência e intensidade. Fisiologicamente o jogador

poderá ver factores limitadores do rendimento minorados, suportando tanto um

ritmo levado como a sua alternância (Weineck, 1999). Este facto fará com que

o jogador veja melhorada a sua performance, principalmente nos momentos

decisivos do jogo.

Concernentemente à Resistência Aeróbia, podemos atentar na ideia de

Rebelo (1993) que nos refere graus de solicitação distintos das várias fontes

energéticas, alertando no entanto que a maior percentagem de energia

produzida durante um jogo tem origem aeróbia. Bangsbo (1993) partilha a ideia

de que a maioria das acções durante uma partida de futebol estão a cargo do

metabolismo aeróbio. Este metabolismo é recrutado de forma mais evidente

em exercícios de baixa intensidade e assume-se como principal agente da

recuperação nos intervalos entre as actividades de alta intensidade.

No que se reporta ao metabolismo anaeróbio, podemos reparar que este é

responsável pela produção de uma parte muito diminuta da energia requerida

no decurso de um encontro de futebol. A sua aparição em jogo é requerida

aquando da levada a cabo de uma actividade intensa tal como acontece na

execução de um sprint.

De uma forma mais genérica, e para se compreender a preponderância de

cada um dos sistemas produtores de energia envolvidos, poderemos afirmar,

atentando em Bangsbo (1994), que de entre a totalidade da energia requerida

pela competição, cerca de 90% é produzida via aeróbia, ficando os restantes

10% a cargo da via anaeróbia (láctica e aláctica).

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2.4.7. A Resistência e a estrutura do treino

Segundo Soares (2005), o treino da Resistência pode ser dividido segundo

parâmetros distintos. Atentando nas características do Futebol podemos dividir

o treino de Resistência em Treino Básico, Treino Semiespecífico e Treino

Específico.

Segundo o mesmo autor, o Treino Básico da Resistência deverá ser

aplicado a atletas que perderam muita da sua capacidade aeróbia devido a

uma paragem forçada (intervenção cirúrgica), ou a atletas possuidores de mais

massa gorda que o desejável para a abordagem do Treino Especifico (má

alimentação ou férias prolongadas). Este tipo de treino é normalmente utilizado

como forma de minorar o impacto fisiológico quando dispomos de um período

pré competitivo bastante alargado. Pode ser também utilizado como forma de

prevenção de situações de eventual entrada em sobretreino no decurso da

época desportiva (Soares, 2005).

Relativamente ao Treino Semiespecífico poderemos encara-lo como uma

extensão do Treino Básico, pois é aplicado em atletas que apresentam um

nível de Resistência aeróbia inferior ao desejável (Soares, 2005). Segundo o

mesmo investigador, recorre-se vulgarmente a este tipo de treino quando por

falta de tempo no período preparatório o Treino Básico é excluído. Poderá

igualmente ser aplicado quando no período competitivo se verifica um

decréscimo da condição física por parte de um ou mais atletas.

No que toca ao Treino Específico, Soares (2005) enquadra a capacidade de

Resistência juntamente com as demais vertentes do treino, como são o caso

da Táctica e da Técnica. No entanto, e para se treinar tal capacidade, o treino

deverá ter uma duração alargada e as interrupções nunca poderão ser

demasiado prolongadas. É um tipo de treino orientado para o desenvolvimento

da equipa. O treino estruturado desta forma ganha relevância quando os

exercícios seleccionados integram todas as vertentes do jogo. Como meio

eficaz de trabalhar de forma integral a equipa, este tipo de treino é utilizado no

decorrer do período competitivo, especialmente nos momentos mais intensos

do campeonato. No entanto, este meio de aquisição de uma óptima

Resistência pode ser utilizado em fases finais do período preparatório,

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principalmente quando já se verifica um grau de entrosamento para com os

princípios de jogo preconizados por parte dos jogadores (Soares, 2005).

2.4.8. A Resistência e a intensidade do treino

Tendo em conta a especificidade da modalidade estudada, podemos

decompô-la quanto à intensidade em Treino de Resistência Aeróbia de alta

intensidade, Treino de Resistência Aeróbia de baixa intensidade e Treino de

Resistência Aeróbia de recuperação (Bangsbo, 1994).

O treino de alta intensidade relaciona-se com o incremento da Resistência

do jogador para realizar esforços de grande exigência física durante o jogo.

Relativamente ao treino de baixa intensidade, poderemos aponta-lo como um

meio para manter a performance técnica e táctica sem que a fadiga perturbe.

No que respeita ao treino de recuperação, este assume-se como um meio

importante para a conquista da homeostasia corporal entre treinos ou jogos

intensos.

De acordo com Soares (2005) a intensidade do treino pode ser

monitorizada através da medição da FC após o término do exercício ou

recorrendo à utilização de cardiofrequencímetros. A monitorização continua e

regular, as indicações fornecidas ao treinador de maneira a haver ajustes de

intensidade no treino, a monitorização da condição física do atleta, o despiste

de possíveis situações de sobretreino, a analise da recuperação dos atletas e a

motivação dos atletas ao informar a sua participação no jogo ou treino são

algumas vantagens na utilização da FC como fonte de calculo da intensidade

do treino apontadas por Soares (2005).

Segundo o mesmo estudioso, um outro meio de cálculo do impacto que

determinado treino tem sobre os atletas pode ser estimado a partir da

“sensação subjectiva de esforço”. Este meio consiste na atribuição de um valor

para o seu estado depois de submetido a determinado tipo de treino de acordo

com uma escala bem definida.

Uma outra forma que nos leva a conhecer a intensidade de determinado

treino e que possui um carácter mais subjectivo, mas ao mesmo tempo é de

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fácil aplicação são os indicadores externos de esforço, como é o caso da

analise da respiração dos atletas.

O quadro 6 faz um resumo das formas de avaliação da intensidade supra

referidas e fornece valores de referência.

Quadro 6 – formas de avaliar o tipo de treino

Tipo de Treino % FCmax Percepção Freq. respiratória Recuperação 40 – 70% 1-2 Permite falar

Baixa intensidade 70 – 80% 3-4 Falar dificilmente Alta Intensidade 80 – 100% 5-6 Impossível falar De acordo com Soares (2005) o Treino de Resistência Aeróbia de

recuperação é geralmente levado a cabo quando os atletas são expostos a um

jogo ou treino de demasiada intensidade ou a um regime de contracções muito

forte (excêntricas). Quando os músculos são submetidos a um destes dois

tipos de agressão podem ver diminuída a sua força durante um período de

tempo alargado (até 48 horas). Para além desta diminuição da capacidade, o

atleta poderá sentir algum desconforto muscular, dor à palpação, sensação de

inchaço e “pernas pesadas”. Bangsbo (1994) manifesta a mesma opinião,

avançando com o desconforto muscular como o principal sintoma. Este estado

de desconforto evidente é geralmente acompanhado pelo aumento da

concentração acima do normal de algumas enzimas e da destruição de células

musculares, podendo gerar-se um processo inflamatório. Atendendo ao

cenário, torna-se premente a reposição do equilíbrio corporal. Urge a

necessidade de uma recuperação activa (mais benéfica que o repouso) e de

uma alimentação regrada, principalmente nas duas horas que sucedem o

esforço. O grande objectivo do treino de recuperação é devolver o mais rápido

possível o atleta à competição, recuperando-o não só física mas também

psicologicamente. Bangsbo (1994) refere os benefícios deste tipo de treino

para a recuperação e relaxamento psicológico.

É consensual entre os investigadores a observância de determinados

pressupostos durante o treino de Resistência Aeróbia de recuperação.

Bangsbo (1994) e Soares (2005) de forma bastante sucinta indicam alguns

princípios básicos do Treino de Resistência Aeróbia de recuperação:

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A intensidade deverá manter-se no intervalo de 40-70% da FC máx;

A actividade deverá ser continua e/ou intermitente;

Se a actividade for intermitente, as fases de esforço deverão ter uma

duração mínima de 5 minutos;

Deverá ser evitado ultrapassar os 70% da FC máx;

Os exercícios não deverão incluir contracções excêntricas;

Os exercícios deverão ter um carácter geral ou semiespecífico;

O aquecimento poderá ser subtraído devido à menor intensidade.

No que concerne ao Treino de Resistência Aeróbia de baixa intensidade,

Soares (2005) avança com o aperfeiçoamento do efeito de poupança de

glicogénio como principal beneficio deste tipo de treino. Como referimos no sub

capítulo dedicado à Resistência e sua relação com a Fisiologia do organismo,

este mecanismo permite a utilização das gorduras como substrato energético

em situações de jogo que apelem a um esforço baixo a moderado, poupando

desta forma o glicogénio muscular para fases ulteriores. Bangsbo (1994) refere

a manutenção de uma grande performance durante um período temporal

alargado como o efeito desejado deste tipo de treino. Em congruência com

Soares (2005), os atletas são levados a trabalhar durante um espaço de tempo

alargado junto da zona de transição aeróbia anaeróbia em condições de

intermitência e de forma mais específica possível. No entanto, torna-se muito

complicado trabalhar este tipo de Resistência, já que dada a intermitência

característica torna-se muito difícil encontrar o patamar estável e trabalha-lo de

forma prolongada como adiantamos anteriormente. Por conseguinte, a forma

mais utilizada para trabalhar a Resistência Aeróbia de baixa intensidade é a

corrida continua.

Também no que concerne ao Treino de Resistência Aeróbia de baixa

intensidade se verifica a necessidade de observância de alguns princípios

básicos. Bangsbo (1994) e Soares (2005) apontam como premissas para este

tipo de treino os princípios:

A intensidade deverá manter-se dentro do intervalo de (70 – 80%) da FC

máx;

A actividade deverá ser continua e/ou intermitente;

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Se a actividade for intermitente, as fases de esforço deverão ter uma

duração de 5 minutos (mínimo);

Deverá ser evitado ultrapassar os 80% do intervalo da FCmax;

Os exercícios deverão ter um carácter específico ou semiespecífico.

Em virtude de ser manifestamente importante que os jogadores sejam

capazes de cumprir esforços a uma elevada intensidade durante grandes

períodos de tempo torna-se premente, segundo Bangsbo (1994), a levada a

cabo de treinos que potenciem este requisito do Futebol moderno. Reportando-

se ao Treino Aeróbio de alta intensidade Soares (2005) aponta a necessidade

de encararmos a Resistência Aeróbia como um possível meio para atingir

intensidades elevadíssimas. Complementa, dizendo que só tendo em conta

actividades de elevada intensidade, as enzimas oxidativas poderão ver

maximizado o seu potencial. Um treino desta natureza pode segundo o mesmo

investigador ter períodos de recuperação mais alargados (treino intermitente

aeróbio longo) ou mais reduzidos (treino intermitente aeróbio curto). Bangsbo

(1994) faz alusão a períodos de recuperação caracterizados pela execução de

determinado exercício a 40% do VO2 máx. do atleta. Para o mesmo autor, o

jogging é um bom meio de recuperação entre estes intervalos de alta

intensidade. Estes permitiram a reposição dos stocks de CP e facilitam a

remoção do lactato acumulado.

À semelhança das restantes intensidades de exercitação, também para o

Treino de Resistência Aeróbia de alta intensidade Soares (2005) refere a

necessidade de aplicação de alguns princípios básicos, como são o caso:

A intensidade deverá manter-se dentro do intervalo de (80 – 100%) da

FC máx;

A actividade deverá ser marcantemente intermitente;

Em caso de execução de um exercício intermitente, as fases de repouso

deverão propiciar uma recuperação quase completa do atleta;

Se a actividade for intermitente, as fases de esforço deverão ter uma

duração de 5 minutos (mínimo);

Os exercícios deverão ter um carácter geral ou semiespecífico. Caso

sejam de natureza específica deverão ser criteriosamente escolhidos de

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maneira a que as imposições técnicas ou tácticas não perturbem a execução

da intensidade máxima;

Quanto mais curtos forem os exercícios, mais alta deverá ser a sua

intensidade;

Deverão ser incluídos obrigatoriamente períodos de recuperação

(corrida lenta).

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3. Objectivo

Analisar o comportamento da Resistência aeróbia de futebolistas

profissionais ao longo da época desportiva.

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4. Material e métodos

4.1. Amostra

Para a realização do nosso estudo foi utilizada uma amostra composta por

indivíduos do sexo masculino pertencentes a um plantel sénior da segunda liga

portuguesa (Liga Vitalis) época 2007/2008.

No primeiro momento da execução do teste de terreno (Julho) participaram

25 indivíduos. No segundo momento de aplicação do Intermittent Endurance

Test (Agosto) realizaram o teste 22 indivíduos dos quais apenas 16 tinham

participado no primeiro momento. No terceiro momento da realização do supra

referido teste (Maio) participaram 14 indivíduos dos quais apenas 6

participaram no primeiro e no segundo, sendo esta a nossa amostra final

Quando nos reportamos à monitorização da FC, somente 4 destes 6

indivíduos acima referidos foram controlados nos três momentos.

Como podemos constatar o grupo elegido não se manteve estável ao longo

do tempo. Assim, o número reduzido da nossa amostra resulta da existência de

enumeras reestruturações do plantel, em virtude da ocorrência de lesões,

dispensas e novas contratações.

Quadro 7 – caracterização da amostra

Variáveis Julho Agosto Maio

Idade (anos) 25.7 + 4.6 25.4 + 4.7 26.9 + 4.3

Peso (kg) 76.5 + 9.2 76.2 + 9.3 76.3 + 8.4

Altura (cm) 178.1 + 5.6 177.8 + 6.6 178.7 + 6.6

Em termos cronológicos, verifica-se uma diminuição da idade média do

primeiro para o segundo momento considerado. Do mês de Agosto para o Mês

e Maio do ano seguinte verificou-se um aumento da média das idades da

amostra.

Antropometricamente é verificável uma grande estabilidade. Tanto a altura

como o peso não sofreram grandes oscilações ao longo da época desportiva.

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4.2. Procedimentos metodológicos

A recolha de dados foi dividida em três fases da época desportiva distintas

e ao mesmo tempo cruciais para se perceber o desenvolvimento da

Resistência (Julho, Agosto e Maio). Foi nestas datas que aplicamos o YOYO

Intermittent Endurance Test (Bangsbo, 1996) de forma a simular o contexto em

que decorre uma partida de futebol. Este teste caracteriza-se pela realização

de percursos em corrida vaivém numa distância de 40 metros (20x20metros),

com intervalos de cinco segundos entre cada repetição (ver figura 2).

Figura 2 – esquematização do YOYO

A velocidade inicial do teste é 11,5 km/h. A sua intensidade é progressiva

(12,5 aos 5 segundos), sendo regulada por sinais acústicos (sinal ou apito). Ao

primeiro sinal acústico os atletas deverão iniciar o seu teste, um segundo sinal

acústico marcará a inversão do percurso, o último sinal acústico assinalará a o

timming para o cruzamento da linha de chegada. Enquanto que o primeiro

percurso poderá ser encarado como um período para aferição da velocidade,

uma infracção à chegada no segundo percurso é encarada como uma

penalização. O teste termina quando um atleta comete duas falhas, isto é,

quando pela segunda vez não consegue cumprir o percurso de forma integral

dentro do tempo estipulado. O objectivo do teste é realizar o maior número de

percursos possíveis.

Durante a realização do teste que acima descrevemos, cada atleta portava

um cardiofrequencímetro de maneira a monitorizar o impacto fisiológico

aduzido pela execução do mesmo.

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4.3. Procedimentos estatísticos

Durante a fase de tratamento de dados foi-nos necessário recorrer à

utilização de alguns procedimentos estatísticos de forma a relacionar os

resultados obtidos. Assim, utilizámos as medidas de estatística descritiva,

média (medida de tendência central) e desvio-padrão (DP) (medida de

dispersão).

Optamos igualmente por utilizar o teste paramétrico, ANOVA de medidas

repetidas, uma vez que a distribuição cumpre com todos os requisitos,

incluindo o pressuposto da normalidade das distribuições.

A análise da normalidade de cada distribuição em todas as variáveis foi

realizada recorrendo ao teste Kolmogorov-Smirnov (K-S). A aplicação do teste

Kolmogorov-Smirnov (K-S) mostrou a inexistência de diferenças significativas

em todas as variáveis alvo de estudo nos três momentos avaliados.

Foi utilizado o teste de Mauchly para verificar a esfericidade de cada uma

das variáveis no grupo amostral. A aplicação do teste de Mauchly mostrou que

a esfericidade é assumida em todas as variáveis.

Para as comparações à posteriori utilizamos o teste LSD de Fisher (Least

Significant Difference, Diferença Mínima Significativa).

O nível se significância utilizado em todos os testes de estatística inferencial

foi de 0,05.

Todo o tratamento de dados foi realizado com o software informático

Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 15.0 para o

Windows.

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5. Apresentação dos resultados

Neste capítulo faremos a apresentação dos resultados obtidos

relativamente ao comportamento da Resistência Aeróbia de futebolistas

profissionais ao longo da época desportiva.

Subsequentemente, atentaremos em alguns dados referentes à variação da

Frequência Cardíaca média ao longo da época desportiva.

5.1. Resistência Aeróbia

No quadro 8 apresentamos as medidas de estatística descritivas para o

YOYO Intermittent Endurance Test nos três momentos considerados.

Quadro 8 – medidas de estatística descritivas para o YOYO

YOYO Média Desvio Padrão N

Julho 1006,67 267,033 6

Agosto 1933,33 553,486 6

Maio 1353,33 470,857 6

Atentando na análise do quadro anterior, podemos conferir que:

A média da distância percorrida no mês de Julho é inferior à dos

restantes dois momentos de aplicação do teste do YOYO Intermittent

Endurance Test;

A média da distância percorrida no mês de Agosto é superior à primeira

(Julho) e terceira (Maio) recolha de dados.

É na aplicação do teste do YOYO Intermittent Endurance Test de Agosto

que se verifica uma maior dispersão de resultados.

No quadro 9 exibimos as medidas de estatística inferencial (ANOVA de

medidas repetidas) para o YOYO Intermittent Endurance Test.

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Quadro 9 – medidas de estatística inferencial para o YOYO

Variável F Sig.

YOYO 22,591 0,000

Observando o quadro anterior, podemos afirmar:

A existência de diferenças estatisticamente significativas entre pelo

menos dois momentos da aplicação do YOYO Intermittent Endurance Test pois

o valor de prova (sig.) é inferior a 0,05.

No quadro 10 expomos as comparações “à posteriori” para o YOYO

Intermittent Endurance Test.

Quadro 10 – comparações " à posteriori" para o YOYO

(I) YOYO (J) YOYO Diferença de médias (I-

J) Sig.

Julho Agosto -926,667(*) 0,003

Maio -346,667 0,071

Agosto Julho 926,667(*) 0,003

Maio 580,000(*) 0,001

Maio Julho 346,667 0,071

Agosto -580,000(*) 0,001

Depois de termos concluído a existência de diferenças significativas, a partir

da leitura do quadro anterior podemos reparar que:

As diferenças estatisticamente significativas verificam-se entre a

aplicação do YOYO Intermittent Endurance Test do mês de Julho e o mês de

Agosto e entre a aplicação do teste do YOYO referente ao mês de Agosto e ao

mês de Maio.

Do primeiro (Julho) para o segundo (Agosto) momento analisado,

verificou-se um incremento na distância percorrida.

Do segundo (Agosto) momento para o terceiro (Maio) foi perceptível um

decréscimo no espaço percorrido pela amostra.

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5.2. Frequência Cardíaca média

No quadro 11 apresentamos as medidas de estatística descritivas para a

FCmed nos três momentos considerados.

Quadro 11 – medidas de estatística descritivas para a FCmed

FCmed Média Desvio Padrão N

Julho 169,75 9,106 4

Agosto 170,75 2,986 4

Maio 163,25 9,605 4

Ao prestarmos atenção sobre o quadro anterior, podemos afirmar que:

A média da FCmed obtida a partir da aplicação do YOYO Intermittent

Endurance Test no mês de Agosto é superior à dos restantes momentos

considerados (Julho e Maio).

A média da FCmed obtida a partir da aplicação do YOYO Intermittent

Endurance Test no mês de Maio é inferior à dos restantes momentos

considerados (Julho e Agosto).

É na aplicação do teste do YOYO referente ao mês de Agosto que se

verifica uma menor dispersão de valores da FCmed.

No quadro 12 exibimos as medidas de estatística inferencial (ANOVA de

medidas repetidas) para a FCmed.

Quadro 12 – medidas de estatística inferencial para a FCmed

Variável F Sig.

FCmed 2,147 0,198

Depois de dissecar os resultados obtidos na tabela anterior, podemos

constatar que:

Não existem diferenças estatisticamente significativas, já que o valor de

prova (sig.) é superior a 0,05.

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5.3. Resistência Aeróbia Vs. Frequência Cardíaca média

Nas figuras 3 e 4 mostramos a evolução dos resultados relativos ao YOYO

Intermittent Endurance Test e à FCmed respectivamente.

Figura 3 – gráfico da evolução do YOYO

YOYO

1353,33

1933,33

1006,67

0

500

1000

1500

2000

2500

Julho Agosto Maio

Dis

tânc

ia (m

etro

s)

YOYO

Figura 4 – gráfico da evolução da FCmed

FCmed

170,75

163,25

169,75

158

160

162

164

166

168

170

172

Julho Agosto Maio

Bpm

FCmed

Ao atentarmos nas figuras anteriores, podemos afirmar que:

Existe uma relação directa entre o comportamento da FCmed e distância

percorrida no YOYO Intermittent Endurance Test nos momentos considerados.

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6. Discussão dos resultados

Será no decorrer deste capitulo que faremos um contraste entre o que se

vem referenciando na literatura, da qual fazemos um breve resumo no capítulo

número dois desta dissertação de licenciatura e os resultados por nós obtidos e

que foram expostos no capitulo anterior.

Antes de principiarmos a discussão propriamente dita, interessa realçar o

facto da investigação acerca da Resistência Aeróbia ser amplamente

divulgada. No entanto, existe uma grande escassez de trabalhos que possuam

os contornos do nosso, ou seja, repetidos ao longo do tempo. Este aspecto

confere ao presente estudo particular importância, já que permite observar o

comportamento desta importante capacidade condicional ao longo da época

desportiva. Assim, e embora sejam substancialmente diferentes do nosso,

trabalhos como o de Bangsbo (1994) com futebolistas dinamarqueses ou

aquele mais recentemente realizado por Rebelo (1999) com jogadores da

primeira divisão de Futebol portuguesa poderão servir-nos de referência para a

tentativa de encontrarmos um padrão comportamental da Resistência Aeróbia

ao longo da época desportiva.

De uma forma mais genérica e para um melhor entendimento dos

resultados por nós encontrados, podemos atender a um teste de terreno

efectuado por Ekblom (1989) que se propunha a avaliar a performance dos

futebolistas suecos da 1ª divisão. O investigador encontrou incrementos

progressivos durante a época desportiva.

À semelhança dos resultados por nós obtidos e tendo em conta os

trabalhos realizados anteriormente ao nosso, poderemos verificar um

incremento ao nível da performance geral do atleta e na Resistência Aeróbia

em particular desde o início do período preparatório, até ao findar do mesmo

(início do período competitivo).

Bangsbo (1994) através da aplicação de um teste de resistência específica

idealizado por Bangsbo e Lindquist (1992) encontrou entre os jogadores do

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Brondby um aumento da Resistência Aeróbia entre o início e o fim do período

preparatório.

Também Rebelo (1999) aplicando o mesmo tipo de teste encontrou

diferenças significativas entre um primeiro (Julho) e um segundo momento

(Agosto) de análise desta capacidade condicional. Todavia, não poderemos

fazer uma comparação de resultados demasiado aprofundada, visto se

tratarem de testes que obedecem a protocolos diferentes e que por isso são

manifestamente distintos.

Um estudo bastante abrangente levado a cabo por Oliveira, Soares e

Marques (2002) do qual participaram 14 futebolistas profissionais, pertencentes

à equipa campeã nacional e envolvidos nas competições europeias, na época

desportiva 1996/1997 demonstraram um comportamento da Resistência

Aeróbia idêntico ao por nós expressado na apresentação de resultados, isto é,

um aumento significativo da capacidade estudada verificado na analise

comparativa dos dois primeiros momentos de aplicação do teste. Os resultados

encontrados por Oliveira et al. (2002) no início do período preparatório são

superiores aos por nós encontrados (1251,4 vs. 1006,67 metros). Segundo

Soares (2005) a discrepância em termos de resultados pode ser explicada por

diversos factores dos quais se destaca de entre os demais a concepção táctica.

Metaxas, Sendelides, Koutlianos e Mandroukas (2006), aludem igualmente

a um aumento significativo da Resistência Aeróbia ao longo da época

desportiva. Estas diferenças verificam-se de forma mais acentuada quando

contrastamos um primeiro momento de aplicação de testes físicos (Julho) com

o um segundo momento que marca o principiar do período competitivo

(Agosto). A explicação para a ocorrência de uma maior inadaptação no início

da época desportiva pode advir da ausência de estímulos de ordem física

durante a transição de uma época para a outra, dai Metaxas et al. (2006)

referirem à premência da manutenção em actividade por parte dos jogadores.

Os referidos autores apontam a participação dos futebolistas em campeonatos

de Futebol de praia como uma forma de combate à diminuição dos níveis

físicos em geral e da Resistência Aeróbia em particular. Esta medida poderia

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permitir a diminuição do impacto fisiológico provocado pelo período

preparatório.

De facto, também no nosso estudo é verificável um aumento

estatisticamente significativo de um primeiro para um segundo momento de

aplicação do teste do YOYO. Este resultado deixa antever o elevado grau de

inadaptação que a ausência de treino sistemático durante o período transitório

provoca. A solução apontada por Metaxas et al. (2006) parece-nos bastante

plausível quando nos referimos a equipas de escalões de formação, como é o

caso do seu estudo. No entanto, colocamos sérias reservas em relação a

exequibilidade da participação de futebolistas de elite em tais eventos, na

medida em que os clubes que representam despendem de quantias avultadas

anualmente pelo préstimo dos seus serviços. Uma lesão decorrente da

participação em campeonatos desta natureza poderia por em causa a época

desportiva regular.

Tendo em atenção alguns estudos que nos foram servindo de referência (e.

g., Bangsbo, 1994; Rebelo, 1999), verificamos que não têm em consideração a

fase final da temporada, ficando apenas por uma análise até meio do período

competitivo (Dezembro).

Em ambos os casos é visível um aumento da capacidade condicional

estudada. Estes resultados fizeram Rebelo (1999) concluir que o curto período

de tempo do período preparatório não é suficiente para fazer crescer a

Resistência Aeróbia até níveis competitivos óptimos. O mesmo autor considera

ainda que o aumento da densidade competitiva (número de jogos oficiais)

assume um papel chave na elevação de tal capacidade.

Ao atentarmos nos resultados por nós obtidos após o findar da época

desportiva e consequente entrada no período transitório (Maio) e

contrabalançando-os com o período de análise anterior (Agosto) verificamos

diferenças estatisticamente significativas. Aliás, parece haver unanimidade na

afirmação de um decréscimo da capacidade de resistir ao esforço e de retardar

o aparecimento da fadiga.

Oliveira et al. (2002) no estudo acima descrito atestam tais resultados.

Estes investigadores denunciam no seu estudo uma diminuição abrupta da

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Resistência Aeróbia verificável desde a aplicação do teste do YOYO relativo ao

meio do período competitivo até ao final da época e entrada no período

transitório (1732,2 para 1251,4 metros).

Os resultados por nós obtidos são ligeiramente superiores nesta fase da

época (1353,33 metros) aos encontrados na literatura. A partir desta diferença

estatisticamente significativa verificada entre o início do período competitivo a

entrada no período transitório podemos avançar com várias explicações. O

número de quilómetros percorridos desde o início da época, bem como o

número de unidades de treino em que os jogadores foram participando,

poderão estar na origem desta diminuição. O acumular de jogos ao longo da

época desportiva, poderão levar a uma redução gradual da performance do

atleta, sensivelmente a partir do meio da época. Segundo Rebelo (1999), o

aumento da densidade competitiva poderá muito possivelmente ser um dos

responsáveis por esta diminuição de performance. É um facto inegável que as

equipas de topo, devido à participação em várias frentes ao longo da época

desportiva verão forçosamente diminuído o tempo de recuperação entre jogos

e como tal poder-lhe-á ser induzido um estado de fadiga adicional.

O alargamento das dimensões dos planteis e a rotação são algumas das

possibilidades para evitar este decréscimo evidente da performance

futebolística, mais concretamente da Resistência Aeróbia. Se a primeira

hipótese pode levantar alguma controvérsia, na medida em que apresenta

implicações a nível financeiro, a segunda solução por nós avançada poderá ser

uma mais valia. No entanto, o treinador deverá possuir um conhecimento

aprofundado dos seus atletas e dos princípios que fundam o treino desportivo.

De uma forma geral, os resultados referentes à distância percorrida no

Intermittent Endurance Test neste estudo confirmam dados obtidos por outras

investigações realizadas neste domínio (e.g., Bangsbo, 1994; Rebelo, 1999;

Oliveira et al., 2002).

A utilização da Frequência Cardíaca (FC) durante a execução dos testes

permitiu-nos chegar a alguns resultados que poderão ter algum valor

explicativo do comportamento variante da Resistência Aeróbia ao longo da

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época desportiva. A FC é portanto um parâmetro que se constitui como um

meio indirecto de avaliação do impacto fisiológico e é utilizada para determinar

o custo energético que o jogo acarreta (Rebelo, 1999).

Foi por meio deste parâmetro que procuramos determinar o impacto

fisiológico que um atleta vai sofrendo ao longo da época desportiva. Ao atentar

na literatura existente (e.g., Ekblom, 1986; Bangsbo, 1993; Rebelo e Soares,

1993; Rebelo, 1999) podemos reparar que os valores da Frequência Cardíaca

Média (FCmed) cifram-se na ordem dos 150 e os 170 batimentos por minuto

(bpm) aproximadamente. Estes valores da FCmed vão ao encontro daqueles

por nós recolhidos. Apenas em Agosto, no princípio do período competitivo,

encontramos um valor ligeiramente superior ao limite máximo deste intervalo

(170,75 bpm).

Analisando os resultados referentes à FCmed num período mais alargado

de tempo e contrastando os nossos resultados com aqueles veiculados na

literatura, encontramos alguma dissemelhança.

Assim, e para o início do período preparatório, encontramos valores médios

da FCmed na ordem dos 170 bpm (169,75 bpm), valor muito idêntico ao

encontrado por Rebelo (1999) no mesmo período da época desportiva. Estes

valores encontram-se muito próximos do limite máximo que estabelecemos

anteriormente. Estes resultados poderão patentear alguma inadaptação

fisiológica às cargas impostas no início da época, já que os atletas regressam

de férias, período no qual a actividade física decresce bruscamente.

Em discordância com os dados por nós colhidos, Rebelo (1999) apresenta

num segundo momento um decréscimo da FCmed (170,75 vs. 165 bpm). No

nosso caso verifica-se um ligeiro aumento da FCmed ao passo que no estudo

levado a cabo pelo autor acima referido se vislumbra um valor mais baixo que

aquele por nós encontrado. Estes resultados poderão ser explicados pelo facto

da FC ser um parâmetro fisiológico algo volúvel, pois pode ser aumentada ou

diminuída em virtude das circunstâncias contextuais envolventes da equipa no

decorrer da aplicação do teste (temperatura e humidade por exemplo).

Questões que se prendem com o sujeito podem também desempenhar um

papel crucial na obtenção de resultados desta natureza (idade, por exemplo).

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Rebelo (1999) na sua última aplicação do Incremental Treadmill Test (ITT)

(a meio do período competitivo) verificou um ligeiro aumento da FCmed,

passando de 165 para 167 bpm. Este resultado poderá ser provocado pelo

aumento da intensidade e densidade competitiva (física e emocional).

Relembre-se que até à recolha da amostra anterior, poucos, ou mesmo

nenhum jogo oficial havia sido realizado. A não completa adaptação às

exigências impostas pelo jogo poderia produzir este aumento verificado.

No que se reporta aos resultados por nós encontrados na aplicação

referente ao fim do período competitivo e entrada no período transitório do

Intermittent Endurance Test poderemos verificar um decréscimo no valor médio

da FCmed (163,25 bpm). Uma possível explicação para estes resultados

poderá ser o efeito do treino na FC em exercício sub máximo, ou seja, o treino

e os jogos permitem aumentar a resistência específica dos futebolistas sem

que haja um custo fisiológico adicional (Rebelo, 1999).

Como podemos constatar, existe alguma discrepância entre os poucos

trabalhos realizados no âmbito da Resistência Aeróbia tendo como principal

parâmetro de monitorização a FC.

Cruzando os resultados por nós obtidos verificamos uma variação

comportamental da capacidade condicional congruente com a verificada em

termos fisiológicos.

Durante o período preparatório (Julho – Agosto) é possível observar um

crescimento do impacto fisiológico (FCmed) à medida que a Resistência

Aeróbia também evolui.

O comportamento inverso pode ser verificável quando consideramos o

período temporal que medeia o segundo (Agosto) e terceiro (Maio) momento

de aplicação do teste do YOYO.

Apesar da divergência para com os resultados recolhidos na literatura, é-

nos possível entrar em concordância com a possibilidade avançada por Rebelo

(1999) que nos afirma que à medida que a Resistência Aeróbia vai

aumentando, o stress fisiológico vai diminuindo. Se considerarmos o

cruzamento dos dados referentes à Resistência Aeróbia e FCmed do primeiro

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ponto de aplicação (Julho) e do terceiro ponto de aplicação (Maio) do teste de

terreno elegido, poderemos visualizar que para uma distância percorrida

superior no terceiro momento, há um custo fisiológico menor, ou seja, apesar

de ser verificável um crescimento ao nível da Resistência Aeróbia de um

primeiro momento (1006,67 metros) para um terceiro momento (1353,33

metros) de aplicação do YOYO, podemos verificar um decréscimo da FCmed

(169,75 para 163,25 bpm).

Partindo da constatação de que o Futebol dos tempos modernos envolve

massas e faz movimentar milhões de euros, abre-se portas para a realização

de um trabalho deste cariz. Tendo em conta que o Futebol deixou de ser

apenas o desporto pelo desporto (o soar da camisola) e passou a ser uma

afirmação económica das grandes potências desportivas mundiais, os atletas

transformaram-se em grandes activos capazes de proporcionar a subsistência

dos clubes de Futebol. Tendo em atenção que o atleta vale pelo todo, mas que

se pode trabalhar as suas partes no sentido da maximização e da busca do

rendimento superior, surge a necessidade e a pertinência de realizar estudos

desta natureza.

Diversos treinadores e investigadores procuram acerrimamente determinar

a contribuição da Resistência Aeróbia para o rendimento em diferentes níveis

de exigência e ao mesmo tempo perceber quais as adaptações induzidas pelo

treino de tal capacidade (Bangsbo, 1993). Esta busca incessante tem como

propósito a conquista do maior rendimento possível.

Este trabalho assume-se como um importante passo para a rentabilização

da performance do futebolista, pois através da aplicação do Intermittent

Endurance Test em períodos da época escolhidos estrategicamente,

conseguimos perceber o padrão comportamental da Resistência Aeróbia e

desta forma interferir positivamente sobre esta capacidade.

Monitorizando Frequência Cardíaca (FC) durante o supra referido teste,

poderemos igualmente perceber o seu grau de associação com a Resistência

Aeróbia e desta forma adequar e escolher de uma forma mais conscienciosa os

exercícios de treino.

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Através de um conhecimento alargado e fundamentado desta capacidade

condicional e do seu impacto fisiológico nos vários períodos considerados

neste estudo (inicio do período preparatório, começo do período competitivo e

principio do período transitório), podemos aplica-lo na prática, de maneira a

produzir nos nossos atletas:

Uma manutenção durante o máximo tempo possível uma intensidade

óptima do exercício.

Uma redução do decréscimo inevitável de intensidade quando se trata

de exercícios prolongados.

Um aumento da capacidade de suportar as cargas de trabalho durante o

treino e a competição.

Uma melhoria da capacidade de recuperação.

Uma estabilização da técnica desportiva e da capacidade de

concentração.

Apesar de se constituir como um ligeiro avanço em termos científicos na

área do conhecimento da participação da Resistência Aeróbia e seu impacto

fisiológico no Futebol, este estudo apresenta algumas limitações que a ser

eliminadas poderiam dota-lo de muito maior crédito.

Assim, e passando a citar algumas das dificuldades com que nos

deparamos na realização do nosso trabalho, surge à cabeça, a variação que o

plantel considerado foi sofrendo ao longo da época. Embora a amostra global

tenha sido significativa, o fluxo de entrada e saída de jogadores neste grupo de

trabalho não permitiu que a amostra considerada pode-se ultrapassar os 6

elementos no caso da análise da distância percorrida no YOYO e os 4 sujeitos

quando nos reportamos à analise do impacto fisiológico por intermédio da

FCmed.

Outro aspecto responsável pelo número reduzido de elementos

componentes da nossa amostra foram as lesões que assolaram a equipa no

decorrer da época desportiva. Por esta razão, muitos dos jogadores não

participaram na totalidade dos momentos de recolha de dados, não cumprindo

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os requisitos necessários para posteriormente se constituírem como elementos

válidos para o engrossar da nossa amostra.

As datas de aplicação dos testes foram igualmente uma dificuldade sentida,

uma vez que a alto nível, a preparação para os jogos se torna mais premente

do que propriamente a execução de testes desta natureza, isto é, embora este

tipo de teste fosse produtor de dados interessantes para a gestão do esforço e

potenciação do rendimento dos jogadores, a densidade competitiva impedia o

estabelecimento de uma data concreta para a execução das várias aplicações

do teste. Esta dificuldade foi sentida de forma mais evidente durante o período

competitivo, facto pelo qual não foi realizada a recolha de dados proposta

inicialmente para essa fase do campeonato.

Um outro inconveniente relaciona-se com o facto de não se poder controlar

de forma rigorosa os hábitos diários dos jogadores que constituíam a amostra.

Mesmo tendo em conta que são jogadores profissionais, poderá ter havido um

factor, ou mesmo um conjunto de factores (falta de horas de sono, alimentação

desregrada, etc.) responsáveis por um ou outro resultado menos esperado.

Para estudos futuros nesta área, sugerimos que se tenha em linha de conta

os pontos por nós avançados anteriormente. Ao tentarmos reduzir alguns

destes efeitos indesejados, estaríamos a aumentar quantitativamente a nossa

amostra, e ao mesmo tempo a reduzir a possibilidade de influência negativa

provocada pela existência de resultados extremos. Contudo, temos consciência

que em pleno período competitivo se torna extremamente complicado incluir

um trabalho desta natureza, uma vez que outros valores se levantam.

Sugerimos ainda a execução de trabalhos que atentem nas seguintes

premissas em relação à amostra:

Utilizar duas equipas de níveis competitivos diferentes;

Utilizar várias equipas de escalões distintos;

Contrastar equipas do mesmo escalão que assentem o seu modelo de

jogo em princípios de jogo dissemelhantes;

Utilizar equipas de modalidades desportivas colectivas diferentes.

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Para um estudo futuro poder-se-ia igualmente evoluir às custas da

modificação do objecto de estudo, ou seja, estudar o comportamento de uma

ou mais capacidades condicionais ao longo dos vários períodos da época

considerados.

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7. Conclusões

Os resultados obtidos no presente estudo, mesmo tendo em conta as

evidentes limitações de ordem metodológica (amostra reduzida, falta de

informação referente ao período competitivo), sugerem alguns aspectos

pertinentes que poderão ser considerados em investigações posteriores:

Do início do período preparatório (Julho) até ao fim do mesmo período e

princípio do período competitivo (Agosto) verificou-se um aumento significativo

da Resistência Aeróbia dos futebolistas;

No início do período competitivo (Agosto), os futebolistas encontraram-

se já em patamares muito próximos daqueles que são veiculados na literatura

como normais para o meio da época desportiva (Dezembro);

Tendo em atenção a informação retirada da literatura e os resultados por

nós obtidos do meio do período competitivo (Dezembro) até ao fim da época

desportiva e entrada no período transitório (Maio), os futebolistas apresentam

um decréscimo acentuado na sua capacidade de resistir à fadiga e de

recuperar rapidamente do esforço;

A FCmed apresentou alguma regularidade ao longo de toda a época

desportiva, situando-se dentro do intervalo (150 – 170 bpm) veiculado na

revisão da literatura;

Do início do período competitivo (Agosto) até ao findar da época

desportiva (Maio) verificou-se um decréscimo gradual da FCmed dos

futebolistas;

Tendo em consideração o cruzamento dos dados referentes à

Resistência Aeróbia e FCmed no início da época desportiva (Julho) e no final

da mesma (Maio) pudemos constatar que para uma distância percorrida

superior na fase terminal da época se verifica um menor impacto fisiológico.

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