SEMINRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL SPBC
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INTRODUO
O aconselhamento pastoral uma das prticas mais usadas no meio da
igreja crist. Normalmente esta prtica d-se especialmente atravs do
pastor ou lder eclesistico, devido a sua prpria funo de mensageiro
de Deus. Porm, nos ltimos anos, tem-se compreendido que o
aconselhamento no feito somente pelo pastor, mas tambm os leigos
podem exercer esse ministrio com eficincia, quando possuem
sabedoria e conhecimento bblico, orientados pelo Esprito Santo.
Porm, o que se v hoje, que o aconselhamento pastoral, tem se
desassociado da compreenso dos recursos que o Esprito Santo fornece
ao conselheiro. Isso gera um sentimento de insegurana ao
conselheiro, que no pode garantir a eficcia da sua orientao ao
aconselhado.Por outro lado, a falta de compreenso do aconselhado em
relao participao do Esprito Santo em sua vida tem gerado outra
forma de insegurana: a solido. Normalmente, o aconselhado cr que
est sozinho em sua luta cotidiana, sabe teoricamente que Deus se
faz presente, porm no consegue ver a ao divina na direo de sua vida
e histria pessoal.
Dessa forma, necessrio compreendermos, inicialmente, a prpria
pessoa do Esprito Santo, bem como entendermos sua funo como
conselheiro (parcletos), como selo (arrabon) e como presena.
A partir disso, deve-se tambm compreender algumas coisas
especficas a respeito do aconselhamento tais como seus objetivos,
causas e a participao da igreja nesse ministrio. Dessa forma, a
compreenso de algumas caractersticas do conselheiro de grande
importncia; bem como a respeito do aconselhado.
necessrio, entretanto, fazer-se entender que o objetivo desta
monografia no demonstrar tcnicas de aconselhamento ou seus diversos
estgios e mtodos psicolgicos. nosso objetivo aqui compreender a ao
que o Esprito Santo possui no envolvimento do aconselhamento.
Assim, por ltimo, nesta monografia perceberemos que o Esprito
Santo o doador de recursos e dons que permitem que um
aconselhamento se torne eficaz, agindo tanto nas vidas da igreja,
como da comunidade, como na vida do conselheiro e do aconselhado.
Ainda, estudaremos a Sua agncia nos acontecimentos histricos
particulares, que permite que o objetivo do aconselhamento seja
alcanado, fornecendo consolo, restaurao de vida, e uma viso do
cuidado e amparo de Deus a seus filhos em todos os momentos.
CAPTULO 1
O ESPRITO SANTO
A expresso Esprito Santo () s usada duas vezes no Velho
Testamento (Sl 51.11; Is 63.10). A terminologia mudou de Esprito do
Senhor para Esprito Santo (expresso tambm usada nos MMM*) durante o
perodo intertestamentrio, talvez para evitar o emprego do nome
sagrado. Entretanto, ela foi adotada pelos cristos como nome
completo Esprito de Deus. Para todos os propsitos prticos, este
passou a ser entendido como o nome cristo do Esprito. Paulo usa o
nome completo mais ou menos na mesma proporo que usa o nome
completo de Cristo, Senhor Jesus Cristo, em que nome e ttulo e nome
se mesclam como uma nica realidade. Este uso em si mesmo, e
especialmente numa passagem como 2 Corntios 13.14, indica mais
tarde que distinto de e um com foi a pressuposio paulina sobre o
Esprito.
Ento, a fim de compreendermos a relao existente entre o Esprito
Santo e o aconselhamento pastoral, faz-se necessria uma compreenso
a respeito do Esprito Santo. Nas sees a seguir, observaremos
questes como quem o Esprito Santo, sua relao na trindade, sua funo
como Consolador (parcletos) e como penhor (arrabon); alm disso,
tambm importante analisar a presena do Esprito Santo, para
compreendermos o porque sua noo imprescindvel para o aconselhamento
eficaz.
1.1 Quem o Esprito Santo
A Bblia no apresenta ttulos diretos ou pessoais a respeito do
Esprito Santo. E o primeiro e mais notvel aqui , naturalmente, o
nome Esprito Santo ou Flego Santo. Um segundo ttulo nesse grupo o
Esprito de santidade. L-se em Romanos 1.4: e que com poder foi
declarado Filho de Deus segundo o Esprito de santidade, pela
ressurreio dentre os mortos. Um ttulo adicional O Santo: Ora, vs
tendes a uno da parte do Santo (1Jo 2.20). Em Hebreus 9.14, Ele
referido como o Esprito eterno, e Paulo diz em Romanos 8.2: Porque
a lei do Esprito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do
pecado e da morte. Em Joo 14.17, Ele chamado o Esprito da verdade,
e os captulos 14,15 e 16 do Evangelho de Joo, Ele referido como o
Consolador.
importante tambm ressaltarmos a questo da pessoalidade do
Esprito Santo.
Primeiramente devemos reconhecer que o Esprito mais
freqentemente mencionado em termos de agncia isto , o Esprito o
agente da atividade de Deus. verdade tambm que tal expresso no leva
a presumir necessariamente a pessoalidade. Entretanto, mesmo um
lance de olhos casual sobre as passagens em que Paulo se refere ao
Esprito (ou Esprito Santo) mostra como muitas vezes agncia encontra
expresso pessoal. Por exemplo, a converso dos tessalonicenses pela
obra de santificao do Esprito (2 Ts 2.13; cf. 1 Co 6.11; Rm 15.16),
como sua conseqente alegria (1 Tss 1.6; cf. Rm 15.13). A revelao
vem por intermdio do Esprito (1 Co 2.10; Ef 3.5); e a pregao de
Paulo acompanhada pelo poder do Esprito (1 Tss 1.5). A fala
proftica e o falar em lnguas resultam diretamente de falar pelo
Esprito (1 Co 12.3; 14.2,16). Pelo Esprito os romanos devem
condenar morte quaisquer prticas pecaminosas (Rm 8.13). Paulo
deseja que os efsios sejam fortalecidos por meio do Esprito de Deus
(Ef 3.16). Os crentes servem pelo Esprito (Fp 3.3), amam pelo
Esprito (Cl 1.8), so selados pelo Esprito (Ef 1.13), e andam e
vivem pelo Esprito (Gl 5.16,25). Finalmente, os crentes so salvos
mediante o lavar regenerador e renovador do Esprito Santo, que ele
derramou sobre ns (Tt 3.5).
O ponto a considerar que o que Paulo diz do Esprito em termos de
agncia assemelha-se ao que ele diz em dezenas de lugares sobre
Cristo, cuja agncia pode ser somente pessoal. Por implicao, a
agncia do Esprito dificilmente pode ser menos pessoal que a de
Cristo.
Alm disso, o pronome pessoal usado para referir-se a Ele. Em Jo
16.7,8,13-15, usado o pronome masculino Ele por doze vezes com
referncia ao Esprito Santo. Ora, isso algo muitssimo notvel. Jesus
diz: Quando vier, porm, aquele, o Esprito da verdade, ele vos guiar
a toda a verdade (v. 13) e assim por diante. E isso, naturalmente,
de particular importncia, quando lembramos que o prprio substantivo
neutro, de modo que o pronome vinculado a ele deve ser igualmente
neutro.
O Esprito Santo tambm identificado com o Pai e o Filho de tal
forma que indica personalidade. H aqui dois argumentos: o primeiro
baseia-se na frmula batismal: batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Esprito Santo (Mt 28.19). Aqui Ele associado com o Pai
e com o Filho de uma forma que necessariamente O caracteriza como
personalidade. E observa-se, incidentalmente, que essa frmula
batismal no diz batizando-os nos nomes, e, sim, no nome. Ela usa a
unidade das trs Pessoas, um s nome, um s Deus, mas ainda Pai, Filho
e Esprito Santo. Outro argumento encontra-se na bno apostlica que
se encontra em 2 Corntios 13.13: A graa do Senhor Jesus Cristo, e o
amor de Deus, e a comunho do Esprito Santo... obviamente, o Esprito
Santo uma pessoa em sintonia com a Pessoa do Pai e do Filho.
Outra argumentao que, de uma forma muitssimo interessante,
podemos provar a personalidade do Esprito, demonstrando que Ele est
identificado conosco, com cristos, de uma tal maneira que indica
ser Ele uma pessoa. Lemos em Atos 15.28: Porque pareceu bem ao
Esprito Santo e a ns no vos impor maior encargo alm dessas coisas
necessrias. Esse foi o consenso obtido pelos membros da Igreja
Primitiva; e como eram pessoas, ento Ele deve ser uma pessoa.
Nas Escrituras, tambm, Lhe so atribudas qualidades pessoais.
Diz-se dEle, por exemplo, que possui conhecimento. Paulo argumenta:
Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, seno o esprito do
homem que nele est? Assim tambm as coisas de Deus, ningum as
compreendeu, seno o Esprito de Deus (1 Co 2.11). Mas Ele tambm
possui vontade, uma voz soberana. Em 1 Corntios 12, onde Paulo est
escrevendo acerca dos dons espirituais e a diversidade dos dons,
nos diz o seguinte Mas um s e o mesmo Esprito opera todas essas
coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer (v. 11). O
prximo ponto que, evidentemente, Ele possui mente. Em Romanos 8.27:
E aquele que perscruta os coraes sabe qual a inteno do Esprito isso
est conectado com a orao. Ele tambm algum que ama, porquanto lemos
que o fruto do Esprito o amor (Gl 5.22); e funo Sua derramar
abundantemente o amor de Deus em nossos coraes (Rm 5.5). E,
igualmente, sabemos que Ele passvel de tristeza, porquanto em
Efsios 4.30 somos advertidos a no entristecer o Esprito Santo.
As prprias Escrituras especificamente asseveram a deidade do
Esprito Santo. No episdio de Ananias e Safira, Pedro, depois de
perguntar: Ananias, por que Satans encheu teu corao para mentires
ao Esprito Santo, e para reteres parte do valor da terra?, e Pedro
prosseguiu: ... no mentiste aos homens, e sim, a Deus (At 5.3,4).
Essa uma clara e especfica afirmao de que o Esprito Santo Deus
Deus, o Esprito Santo.
Prosseguindo, descobrimos tambm que o nome do Esprito se
encontra vinculado ao nome de Deus, e isso no s estabelece sua
personalidade, mas tambm sua deidade. Isso se v na frmula batismal,
na bno apostlica e, naturalmente, tambm em 1 Co, captulo 12, onde
Paulo escreve: Ora, h diversidade de dons, mas o Esprito o mesmo. E
h diversidade de operaes, mas o mesmo Deus que opera tudo em todos
(vv.4,6). Em determinados pontos somos informados que o Esprito
quem faz isso, e no momento seguinte somos informados que Deus o
mesmo Deus que opera tudo em todos, e Ele o Esprito. Portanto, o
Esprito Deus sua deidade est provada.
Em terceiro lugar, podemos ver claramente que o Esprito Santo
Deus, pois descobrimos que certos atributos especficos Lhe so
atribudos, atributo, estes, que so os do prprio Deus.
Somo informados que Ele eterno; isto significa que nunca houve
um momento em que Ele no existiu e para ser eterno preciso ser
Deus, pois somente Deus eterno. Em Hebreus 9.14, Ele referido como
o Esprito eterno. Somos informados que Ele onipresente; Ele est
presente em toda parte. Isso tambm s pode ser verdade em relao a
Deus. O salmista no Salmo 139.7 clama: Para onde me irei do teu
Esprito? Ou para onde fugirei da tua presena? Ele tambm onipotente;
no h limite em Seu poder, e isso igualmente um atributo prprio da
Deidade. Quando o arcanjo visitou Maria e lhe disse que conceberia
aquele que ser chamado Santo, o Filho de Deus, ele lhe disse: Vir
sobre ti o Esprito Santo, e o poder do Altssimo te cobrir com a sua
sombra (Lc 1.35).
Da mesma forma somos informados que Ele onisciente; Ele conhece
todas as coisas. Em 1 Corntios 2.10: O Esprito perscruta todas as
coisas; e ainda mais: Assim tambm as coisas de Deus, ningum as
compreendeu seno o Esprito de Deus (v. 11).
1.2 O Esprito Santo na Trindade
Ao investigarmos na Bblia a respeito da pessoa do Esprito Santo,
descobriremos vrios modos pelos quais Ele chamado ou intitulado.
Assim, o Dr. Martyn Lloyd-Jones o descreve:
Em primeiro lugar, h muitos nomes que O relacionam com o Pai.
Vejamos alguns deles: O Esprito de Deus (Gn 1.2); O Esprito do
Senhor (Lc 4.18); O Esprito de nosso Deus (1 Co 6.11). Ainda outro
nome : O Esprito do Senhor Deus (Is 61.1). Em Mateus 10.20, nosso
Senhor fala do Esprito do vosso Pai enquanto Paulo se refere ao
Esprito do Deus vivente (2 Co 3.3). Em Gnesis 6.3, Deus diz: Meu
Esprito, e o salmista pergunta: para onde fugirei do teu Esprito?
(Sl 139.7). Em Nmeros 11.29, Ele referido como Seu Esprito o
Esprito de Deus; e Paulo, em Romanos 8.11, usa a frase o Esprito
daquele (Deus o Pai) que ressuscitou a Jesus dentre os mortos.
Todos esses so ttulos descritivos referindo-se ao Esprito Santo em
termos de Sua relao com o Pai.
Nos escritos paulinos, duas passagens em particular do a
compreenso primria deste relacionamento fundamental entre Deus (o
Pai) e o Esprito. Em 1 Co 2.10-12 ele usa a analogia da conscincia
interior humana (somente o esprito de algum conhece sua prpria
mente) para reiterar que somente o Esprito conhece a mente de Deus.
O interesse de Paulo nesta analogia com o Esprito que os corntios
receberam, sendo Ele a fonte do nosso entendimento cristo da cruz,
esta entendidacomo sabedoria de Deus. Somente o Esprito sonda todas
as coisas, at mesmo as profundezas de Deus; e, por causa deste nico
relacionamento com Deus, somente o Esprito conhece e revela a
sabedoria de Deus outrora escondida.
Em Romanos 8.26,27 esta mesma idia expressa ao contrrio: Deus
conhece a mente do Esprito. Entre outras questes, Paulo est aqui
preocupado em mostrar como o Esprito, em presena de nossas
fraquezas e incapacidade de falar por ns mesmos, capaz de
interceder adequadamente em nosso favor. A eficcia da intercesso do
Esprito est precisamente no fato de que Deus, que examina nossos
coraes, do mesmo modo conhece a mente do Esprito, que est
intercedendo por ns.
Esse profundo relacionamento entre o Esprito Santo e Deus Pai de
importante compreenso, quando percebermos que a Trindade toda est
agindo na vida do ser humano, de forma que, na economia santa, o
Pai o Autor de todas as coisas, o Filho o Executor e o Esprito
Santo o ativador de cada ato.
Mas, alm desses nomes ou ttulo em que o Esprito Santo empregado
em relao com o Pai, tambm h ttulos que relacionam o Esprito Santo
com o Filho. Novamente, o Dr. Martyn Lloyd-Jones faz uma boa
explanao a respeito desses:
O primeiro: Mas, se algum no tem o Esprito de Cristo, esse tal
no dele (Rm 8.9), que uma frase muitssimo importante. O termo
Esprito aqui, refere-se ao Esprito Santo. Em Filipenses 1.19, Paulo
fala do Esprito de Jesus Cristo; e em Glatas 4.6, ele diz: Deus
enviou o Esprito de Seu Filho. Finalmente, Ele referido como o
Esprito do Senhor (At 5.9).
Uma anlise cuidadosa de todos os textos nos quais Paulo
identifica o Esprito, quer como o Esprito de Deus, quer como o
Esprito de Cristo indica que ele costumeiramente preferia usar o
qualificativo de Deus/Cristo quando queria enfatizar a atividade de
Deus ou de Cristo que estava sendo transmitida aos crentes pelo
Esprito. Para Paulo, portanto, Cristo d a mais completa definio do
Esprito. Aqueles que tm o Esprito so filhos de Deus, herdeiros com
o Filho de Deus (Rm 8.14-17); eles conhecem simultaneamente o poder
da ressurreio de Cristo e a comunho dos seus sofrimentos (Fp 3.10);
ao mesmo tempo Cristo o critrio absoluto para o que verdadeiramente
atividade do Esprito (p. ex., 1 Co 12.3). Assim, apropriado dizer
com alguns que a doutrina de Paulo do Esprito cristocntrica, no
sentido de que Cristo e sua obra ajudam a definir o Esprito e sua
obra na vida crist.
1.3 O Esprito Santo Como Parcletos
O Esprito Santo , especialmente em Joo, identificado como o
outro Consolador, enviado para estar e habitar com os
discpulos.
O termo parakletos um cognato do verbo parakaleo, cujos sentidos
em grego clssico variam entre convocar, mandar, chamar, intimar,
exortar, encorajar, confortar, consolar. O substantivo parakletos
derivado do adjetivo verbal e significa chamado ( ajuda de algum).
O emprego de parakletos para significar representante, porm, deve
ser entendido luz da assistncia jurdica no foro, o pleitear da
causa de outra pessoa. A etimologia de parakletos sugere que foi
empregado originalmente no sentido passivo de algum chamado para
ajudar. As passagens nas quais ocorre no Novo Testamento, porm,
mostram que esse no o significado da palavra naqueles textos.
O parakletos no convocado e, sim, enviado (Jo 14.26; 15.26;
16.17), dado e recebido (Jo 14.16-17). No apenas fala uma palavra a
favor de algum, mas, sim, traz ajuda ativa. O sentido de ajudador e
intercessor apropriado em todas as ocorrncias da palavra.
As descries do parakletos em Joo vo alm da tarefa de um
intercessor. Ele convencer o mundo do pecado, da justia e do juzo
(16.8; cf. Vv. 9 e segs.). Ele vos ensinar todas as coisas e vos
far lembrar tudo o que vos tenho dito (14.26). Embora o mundo no
conhecer o parakletos, os discpulos O conhecem porque ele habita
convosco e estar em vs (14.17). Dar testemunho de Jesus (15.26).
Tudo isso indica que Seu papel continuar a obra reveladora de
Jesus. O Esprito da verdade vos guiar a toda a verdade; porque no
falar por si mesmo, mas dir tudo o que tiver ouvido, e vos anunciar
as coisas que ho de vir. Ele me glorificar porque h de receber do
que meu, e vo-los h de anunciar (16.13-14). O propsito no
satisfazer curiosidade a respeito do futuro, mas, sim, continuar a
obra do Jesus histrico no Cristo proclamado pela igreja.
digno de nota que o termo somente se acha nos escritos de Joo, e
que, fora de 1 Jo 2.1, ocorre somente nos discursos (Jo 14.16,26;
15.26; 16.7; cf. 16.12 e segs.). Na medida deste fato, os ditos do
parcleto pertencem s questes levantadas pelo Quarto Evangelho e, de
modo particular, pelos discursos. O termo no se acha em Paulo nem
nos Sinticos. Romanos 8.26,34 (cf. Hb 7.25) no forma um paralelo
exato no estilo ou no ensinamento. Mesmo assim, muito bem se pode
perguntar se os demais evangelistas no expressam de outras formas
os aspectos de ensino de Joo acerca do Parcleto.
Mateus, especialmente, fala da presena e ajuda contnua de Cristo
em um modo que no exige Sua presena fsica (Mt 18.20). vinculado com
o Pai e o Esprito Santo (Mt 28.19-20; Lc 24.48-49; cf. Mt 11.27; Lc
10.22). Como tal, no conhecido ao mundo em geral, mas somente por
aqueles aos quais a revelao dada. Alm disto, Jesus prometeu a
assistncia do Esprito Santo em capacit-los a falar ao serem
processados (Mt 10.20; Mc 13.11; cf. Lc 21.15). Mateus e Lucas
falam de um compromisso de Jesus para com Seus seguidores de tal
tipo que todos os que os receberem recebem a Ele e quele que O
enviou (Mt 10.40; Lc 10.16; cf. Jo 13.20). Isto tudo d vazo sugesto
de que aquilo que Mateus e Lucas retratam como a contnua presena e
obra de Jesus na igreja aps a ressurreio so retratadas como sendo a
atividade do parakletos de Jesus.
1.4 O Esprito Santo Como Arrabon
A palavra arrabon (tomada por emprstimo do semtico, cf. hebraico
erabon) um conceito legal da linguagem comercial. Acha-se apenas
raramente, e significa: (1) uma prestao, mediante a qual algum
garante seu direito legal a um objeto ainda no pago; (2) um sinal,
um pagamento adiantado, mediante o qual um contrato se torna
legalmente vlido; (3) numa passagem (Gn 38.17 e segs.) um penhor.
Em todos esses casos, trata-se de um pagamento mediante o qual a
pessoa se obriga a fazer mais pagamentos ao recipiente.
Em todas as passagens onde a palavra ocorre no Novo Testamento,
h referncia ao Esprito Santo. Efsios 1.14 interpreta as outras duas
passagens: o Esprito Santo, como penhor atual da nossa herana
futura, garante a nossa salvao completa e final, i. , a comunho
eterna com Deus. Esta declarao tambm em 2 Co 1.22, provavelmente se
associa com o batismo. Ao selar o crente, o Esprito Santo dado ao
corao (kardia) humano como garantia. A realidade futura que o
penhor do Esprito representa aparece em 2 Co 5.5 como a casa que
vir do cu, para substituir futuramente este tabernculo, nosso corpo
terrestre. Assim, nos escritos de Paulo, o Esprito no o penhor de
uma alma libertada do seu corpo terrestre, mas de uma existncia
nova num corpo imortal (vestimenta celestial; vestir).
Semelhantemente, Rm 8.23 fala das primcias [aparche] do Esprito.
Aqui, o genitivo do Esprito explica o significado de aparche (ddiva
da primcia; cf. 2 Co 1.22; 5.5) E. Schweizer sustenta que aparche,
como arrabon no significa uma participao preliminar do Esprito. A
realidade presente do Esprito um sinal e penhor daquilo que h de
vir. Em Policarpo 8:1, Jesus Cristo referido como sendo arrabon. O
Novo Testamento, porm, evita esta aplicao, e O chama apenas engyos
(garantia; aliana).
Em todas as trs passagens do Novo Testamento, no entanto,
devemos evitar uma interpretao de arrabon que faria de Deus nosso
devedor, legalmente falando, aos nos dar o penhor do Esprito. Mesmo
a prestao do Esprito permanece sendo uma ddiva livre e no merecida
da parte de Deus aos homens.
Como diz J. I. Packer, quando trata do testemunho do Esprito
Santo na salvao do homem: sustento que o Esprito Santo que nos dado
o penhor da nossa herana neste sentido exato capacitando-nos a ver
a glria de Cristo glorificado, a viver em comunho com ele como
nosso Mediador, e com seu Pai como nosso Pai, o Esprito nos
introduz essncia mais pura da vida do cu. [...] . dessa relao que o
ministrio atual do Esprito em nosso favor o pagamento inicial, a
entrada. Ver a Deus e estar para sempre com Cristo so um
aprofundamento experimental da nossa atual relao amorosa com ambos
: esta a verdadeira definio de cu (veja Mateus 5.8; 2 Corntios
5.6-8; 1 Tessalonicenses 4.7; Apocalipse 22.3-5). Por meio do
ministrio do Esprito que em ns habita, em nosso favor, o cu comea
aqui para ns e agora, da mesma forma como atravs de Cristo e em
Cristo somos feitos participantes com ele da vida e da
ressurreio.
Assim, o conhecimento do Esprito Santo como penhor deve fazer
com que os cristos compreendam que esto garantidos, pela presena do
Esprito Santo, a uma vida futura na presena contnua de Deus e que,
enquanto isso, essa garantia faz-se presente na Sua habitao nos
crentes, os sustentando e preservando at o cumprimento escatolgico
dos desgnios de Deus.
1.5 A Presena do Esprito Santo
No corao das coisas paulinas est sua compreenso da descida do
Esprito como a vinda do Santo Esprito da promessa (Ef 1.13; Gl
3.14). Embora esta promessa inclusse especialmente a renovao da
palavra proftica, para Paulo ela tambm significava a chegada da
nova aliana, prevista pela circunciso do corao prenunciada em
Deuteronmio 30.6 e profetizada explicitamente em Jeremias 31.31-34:
...e farei uma nova aliana... e a escreverei nos seus coraes. Esta
profecia foi logo em seguida esposada por Ezequiel, que a ligou
expressamente ao Esprito, o qual Deus estava pondo dentro deles
(36.26,27; 37.14). Acima de todas as outras coisas, como
cumprimento da nova aliana, o Esprito marcou o retorno da presena
perdida de Deus.
A forma mais proeminente de Deus experimentada no Velho
Testamento est no tabernculo e no templo. O tema de tal presena,
cujo pice a glria de Deus descendo sobre o tabernculo, a chave
estrutural do livro do xodo. E essa presena de Deus no meio do seu
povo que faz de Israel uma nao distinta das demais naes existentes.
Porm, eles compreendiam que o Deus que criou os cus e a terra no
poderia ser contido numa estrutura terrena (Is 66.1-2); por
conseguinte, por haver Deus escolhido ter sua presena concentrada
ali, o tabernculo e o templo tornaram-se os primeiros smbolos da
presena de Deus entre Seu povo.
Mas o malogro de Israel levou-o a afastar-se da presena de Deus.
Isto o que faz a queda de Jerusalm e o exlio to cheios de
sofrimento para os israelitas. O templo de Jerusalm, onde Deus
decidiu habitar, foi destrudo; e no somente foi o povo levado
cativo, mas os cativos e aqueles que permaneceram no eram mais
distinguidos pela presena do Deus vivo em seu meio. A agudez de sua
dor encontra expresso simblica mxima em Ezequiel 10, onde, tal como
acontecera com a arca da aliana em 1 Samuel 4, a glria do Senhor se
ausenta do templo em Jerusalm.
Entretanto, no estava tudo perdido. O fundamento da esperana
proftica era o prometido retorno da presena de Deus. Por meio de
Ezequiel, por exemplo, Deus promete: O meu tabernculo estar com
eles; eu serei o seu Deus e eles sero o meu povo (37.27); e
Malaquias profetiza: ... de repente vir ao seu templo o Senhor, a
quem vs buscais (3.1).
Em consonncia com a histria antiga de Israel, o tema da presena
renovada est diretamente ligado esperana de um templo restaurado. O
tema encontra sua expresso metafrica mais poderosa na grande viso
de Ezequiel (caps. 40-48), mas seu momento mais memorvel est no
orculo de Isaas 2.2,3 (repetida em Miquias 4.1,2), em que a incluso
dos gentios tambm um tema fundamental (cf. Zc 14.16-19).
Para Paulo, a questo mais crucial a respeito deste tema reside
no fato de que, em Isaas 63.9-14, a presena divina na narrativa do
xodo era especificamente equiparada ao Santo Esprito do
Senhor.Quando nos voltamos para Paulo a partir destes antecedentes
do Velho Testamento, fica claro que ele compreende a vinda do
Esprito como cumprimento de trs expectativas que se relacionam: (1)
a associao do Esprito com a nova aliana; (2) o uso da palavra
habitar; e (3) a associao do Esprito com a imagem do templo. Pelo
cumprimento dos temas tanto da nova aliana como do templo renovado,
o Esprito se torna o meio pelo qual o prprio Deus est agora
presente no planeta terra.
A imagem do templo especialmente significativa neste caso, uma
vez que o templo era sempre compreendido como o lugar de habitao de
Deus, o lugar de sua glria. Para Paulo, o Esprito como se Deus
habitasse hoje em seu santo templo. De modo expressivo, tal habitao
tem lugar tanto na comunidade reunida, como se pode naturalmente
esperar ,dado o cenrio do Velho Testamento para seu uso, como
especialmente no corao do crente.
Em harmonia com o restante da Igreja Primitiva, Paulo reconhece
a morte de Cristo como a instituio da nova aliana de Deus com seu
povo (1 Co 11.25). Ele v tambm no Esprito o meio como a aliana
concebida neles e no meio deles, povo. Como resultado de sua prpria
experincia do Esprito e de outrem , Paulo entende este papel
especialmente nos termos de Ezequiel 36.26,27 e 37.14. Paulo
combina temas destas duas passagens de tal maneira que, na vinda do
Esprito para a vida do crente individualmente e da comunidade
crente, Deus cumpriu trs dimenses da promessa:
1. Deus daria a seu povo um corao novo para substituir o corao
de pedra tornado possvel porque Ele lhes daria um esprito novo (Ez
36.26). Em Paulo, esse tema encontra expresso em 2 Corntios 3.1-6,
onde os corntios devem ser os recipientes da nova aliana que tero
escrita pelo Esprito do Deus vivente, no em tbuas de pedra, mas em
tbuas de carne, isto , nos coraes (v.3).
2. Este esprito novo no outro seno o Esprito de Deus que
capacita o povo de Deus a seguir seus decretos (Ez 36.27). Como est
evidente em Romanos 8.3,4 e Glatas 5.16-25, o cumprimento do
Esprito deste tema a resposta de Paulo pergunta sobre o que
acontece justia se abolirmos a observncia da Tora (a lei do Velho
Testamento).
3. O Esprito de Deus significa a presena do prprio Deus no
sentido de pr em vs o meu Esprito e vivereis (Ez 37.14). De novo,
Paulo assimila este tema em 2 Corntios 3.5,6. Como o Esprito do
Deus vivificante, o Esprito prov para o povo de Deus a realidade
essencial acerca de Deus. O Esprito, diz Paulo no contexto da nova
aliana, concede vida.
Dessa forma, para Paulo, Cristo tornou efetiva a nova aliana
para o povo de Deus por meio de sua morte e ressurreio; mas o
Esprito a chave para a nova aliana como uma realidade cumprida na
vida.
Mas, tambm intimamente relacionados ao tema da presena divina e
s passagens sobre a nova aliana no Velho Testamento , so os muitos
textos de Paulo que falam do Esprito habitando em ou entre o povo
de Deus. Este tema encontrado primeiramente nos textos que
localizam o Esprito dentro do crente. O Esprito citado como estando
em vs/ns (1 Ts 4.8; 1 Co 6.19; 14.24,25; Ef 5.18 [na imagem de
encher]). A localizao em vs/ns no corao (2 Co 1.22; 3.3; Gl 4.6; Rm
2.29; 5.5). Esta, por sua vez, torna-se a expresso habitar em (1 Co
3.16; 2 Co 6.16; Rm 8.9-11; Ef 2.22).
Essas duas passagens (1 Co 14.24,25 e 2 Co 6.16) so
especialmente instrutivas no sentido de que Paulo cita textos do
Velho Testamento que falam de Deus habitando no meio de seu povo,
que Paulo agora atribui presena do Esprito. Quando os pagos se
voltam para o Deus vivificante, porque seus coraes foram expostos
pelo Esprito proftico, Paulo fala disto na linguagem de Isaas
45.14: s contigo est Deus.
De modo semelhante, na imagem do templo em 2 Corntios 6.16, que
pressupe a presena do Esprito na vida da comunidade de 1 Corntios
3.16, Paulo entende que Deus est presente no meio do seu povo.
Assumindo esta posio, ele recorre linguagem da promessa da nova
aliana citada em Ezequiel 37.27: Eu serei o seu Deus e eles sero o
meu povo. Esta ltima passagem aponta para a suprema expresso da
linguagem do habitar na imagem do templo.
especialmente com a imagem do templo que Paulo indica o Esprito
como a presena renovada de Deus no meio do seu povo. Esta imagem
ocorre quatro vezes em Paulo, trs vezes com base nos precedentes do
Velho Testamento (1 Co 3.16,17; 2 Co 6.16; Ef 2.22), onde Deus
habita no meio do povo por meio do tabernculo e do templo, e uma
vez com base na nova aliana prometida (1 Co 6.19,20), onde o templo
agora o corpo do crente, que est em vs, o qual tendes recebido de
Deus.
Primeiramente, pois, Paulo especificamente liga o Esprito imagem
do templo no contexto da presena do Esprito no meio do povo de
Deus. como se o Deus vivificante estivesse agora presente com seu
povo, o que expresso mais claramente em Efsios 2.22: a igreja est
sendo edificada para tornar-se o templo santo no Senhor; edificados
juntamente para habitao de Deus no Esprito. A igreja congregada o
lugar da prpria presena pessoal de Deus, por meio do Esprito. isto
que separa o novo povo de Deus de todos os povos da terra (Ex
33.16).
No h em todo Novo Testamento uma palavra mais importante com
referncia natureza da igreja local do que esta! A igreja local o
templo de Deus na comunidade onde ela est colocada; e ela assim
somente pela presena do Esprito, por meio do qual Deus agora
revisitou seu povo. No surpreende, portanto, que Paulo tenha
considerado a expulso de um homem incestuoso da corporao crist como
medida extrema conducente sua salvao (1 Co 5.1-13). Tendo sido
afastado do lugar da presena de Deus seria o faltoso,
aparentemente, levado ao arrependimento, de modo que pudesse ser
salvo ao ser acolhido uma vez mais pelo povo da Presena.
Em 1 Corntios 6.19,20, Paulo faz a notvel transferncia desta
imagem da igreja para o crente individual. Assim, Deus no somente
habita no meio do seu povo pelo Esprito, mas tem igualmente feito
residncia nas vidas de seu povo individualmente pelo mesmo Esprito
doador de vida.
Em 2 Corntios 2.14-4.6 est o segredo da piedade pessoal de Paulo
e da sua compreenso do Esprito em sua prpria vida. Em ambos os
casos , os textos finalmente se voltam para o homem exterior; isto
, o objetivo dessa dimenso na vida no Esprito no consiste
simplesmente de contemplao, mas da vida tica que o Esprito produz.
De modo algum a dimenso pessoal pode ser posta de lado. De fato, a
primeira localizao da presena de Deus em sua nova aliana dentro das
pessoas individualmente, santificando sua presente existncia e
gravando nela sua eternidade.
O Esprito a prpria presena pessoal de Deus em nossas vidas e em
nosso meio; Ele nos conduz nas sendas da retido por amor de seu
nome, Ele est operando todas as coisas em todas as pessoas, ele se
entristece quando seu povo no reflete seu carter para assim revelar
sua glria, e Ele est presente em nossa adorao, quando cantamos
louvor e honra e glria e poder a Deus e ao Cordeiro.
CAPTULO 2
ACONSELHAMENTO
O mundo vive, desde seus primrdios, os seus momentos de tenso,
de dificuldades, desesperos e angstia em geral, e sempre no meio de
tantos abalos e tenses se encontra o ser humano influenciado por
tantas questes. Todas essas formas de dificuldades e ansiedades em
que o homem se encontra, geram-lhe uma expectativa de suas reaes a
determinadas situaes que sofre. Essas reaes, normalmente, so fruto
de impulsos e reflexos inerentes ao prprio ser que age conforme
estava preparado.
De fato, atravs do desenvolvimento natural do homem, cada pessoa
vai aprendendo a lidar com as situaes que aparecem de acordo com
circunstncias semelhantes j vividas anteriormente. Parece que os
problemas que surgem na vida do ser humano vo aumentando de
dificuldade gradativamente, como tambm se d com o amadurecimento
fsico e intelectual de cada pessoa. Assim, quando o homem passa por
uma certa dificuldade na vida adulta, normalmente este tenta
resolv-la com base em suas experincias vividas, com situaes pelo
menos semelhantes, de sua infncia at aquele momento, analisando os
fatores positivos e negativos (os que deram certo e os que no
deram, anteriormente) para tentar resolver a nova situao
apresentada.
Porm, h momentos em que as situaes surgidas pegam o homem de
surpresa, e este no encontra uma forma consciente de se safar do
problema. Estes sentimentos de incapacidade so os responsveis por
muitas formas de angstias e ansiedades que o homem atual tem, que o
fazem procurar uma ajuda externa procura de uma soluo. E tem sido
evidente que essas situaes tm se tornado cada vez mais presentes no
mundo contemporneo.
Assim, dificilmente encontra-se no mundo atual quem no precise,
numa ou noutra situao, de uma ajuda, de um auxlio, de uma orientao,
de um aconselhamento.
2.1 Definio
Como, ento, poderia se definir um aconselhamento? Seria
simplesmente uma sugesto prtica para a ao de uma pessoa diante de
uma situao? Ou uma conversa informal, ou mesmo formal, sobre
determinada realidade, para que se encontre a resposta
procurada?
Paul Johnson define o aconselhamento como uma relao responsiva
emergindo da necessidade expressa de vencer trabalhosamente as
dificuldades, por meio de compreenso emocional e crescente
responsabilidade. Dessa forma, Paul Johnson compreende o
aconselhamento como uma ajuda do conselheiro em procurar respostas
para determinadas dificuldades surgidas do aconselhado, e que urgem
em ser solucionadas. Alm disso, para ele, essas respostas tm de vir
atravs da compreenso emocional e responsvel do aconselhado; ou
seja, uma atitude consciente de sua ansiedade e de sua necessidade,
e que gere o envolvimento responsvel da prpria pessoa que procura
auxlio para o entendimento claro de sua atual situao e da soluo
proposta.
O aconselhamento, portanto, no apenas dar conselhos ou responder
a perguntas. Est, ainda, longe de ser um ensinamento teolgico a
respeito de determinado ponto de vista, nem mesmo apoiar ou
desaprovar as atitudes de uma pessoa. Tudo isso no alcana o real
sentido do aconselhamento; pois este tem o objetivo (como veremos
no prximo tpico) de alcanar o mais ntimo do ser, onde a vida do
indivduo realmente formada e desenvolvida. Como diz Edgar Jackson,
o aconselhamento uma pesquisa do significado ltimo da vida da
prpria natureza do indivduo e na mais profunda natureza dos outros.
Ou seja, o estudo do que realmente importante na vida do indivduo e
das demais pessoas.
Seward Hiltner define aconselhamento no como um processo
mecnico, mas um relacionamento interpessoal em que duas pessoas se
engajam no processo de esclarecer os sentimentos e problemas de
algum, e concordam em que isto exatamente o que esto pretendendo
fazer. Nesta concepo, fica claro que muito mais que uma simples
sugesto para a soluo dos problemas, o aconselhamento primeiramente
uma descoberta desses problemas, tambm uma anlise das conseqncias
desses na vida do aconselhado, que faz com que estas duas pessoas,
o conselheiro e o aconselhado, conscientemente compreendam suas
necessidades e juntamente se empenhem em alcanar as solues.
At ento, temos discutido a respeito do aconselhamento em termos
gerais, sem especificar-lhe o aspecto bblico, ou ministerial, como
aconselhamento pastoral. Mas o que vem a ser pastoral? Ronaldo
Sathler Rosa expe trs consideraes sobre o significado de pastoral.
A primeira trata da pastoral como uma
ao terica e prtica que procura colocar em operao, no dizer de
James Fowler, a relao entre a verdade mesma e a verdade articulada
em meio relatividade da vida humana e da histria; assim, a
pastoral, atravs da ao do laicato e de pessoas ordenadas, procura
trazer para o concreto e provisrio da vida humana o efeito do
encontro com a Verdade, o Cristo.
Em segundo lugar, a pastoral tambm considerada como uma ponte
visando o relacionamento entre a religio e a vida, assim procurando
buscar, para a vida e para os relacionamentos, atitudes e palavras
congruentes ao que se afirma nos credos religiosos. E, por fim, por
pastoral, entendemos um conjunto integrado de aes que objetivam
restaurar no ser humano o senso de sua prpria dignidade derivada de
sua criao imagem e semelhana de Deus.
Dessa forma, a fim de expressar o significado do termo pastoral
exclusivamente, Ronaldo Sathler indica a ao da Igreja, clrigos e
laicos, com o objetivo de que o Evangelho se concretize na vida das
pessoas, nos mltiplos relacionamentos e na organizao social. Esta
ao seja terica ou prtica, pode assumir diversas formas em funo das
necessidades e da conjuntura de cada situao. Nesse sentido, o
aconselhamento apenas mais uma forma de se promover a pastoral na
vida das pessoas, ou seja, de relacionar a vida da pessoa a um
relacionamento verdadeiro com o Evangelho e lev-la a solucionar
seus problemas atravs de uma conversao entre uma pessoa que
necessita de ajuda e um cristo que pode ajud-lo.
J W. Hulme concebe o aconselhamento como o meio para se cumprir
o propsito essencial e tradicional da religio crist: ajudar o ser
humano a estar em paz com Deus, consigo mesmo, com o prximo e com a
natureza, e Ronaldo Sathler acrescenta que o aconselhamento
pastoral o processo no qual as pessoas se encontram para repartir
lutas e esperanas.
2.1.1 Conselho no Antigo Testamento e Novo Testamento
O termo vtero-testamentrio para a palavra conselho (yats) que
significa sugerir, aconselhar, decidir, planejar. Em mais de 70
vezes a LXX traduz este verbo por bouleu ou algum de seus
compostos, dar conselho, deliberar, decidir, determinar. A primeira
ocorrncia de yats encontra-se em xodo 18:19. Jetro, vendo o imenso
fardo que estava sobre Moiss, diz: Eu te aconselharei, e Deus seja
contigo. Ele ento oferece a Moiss um plano organizacional e lhe
sugere como dar conta das responsabilidades administrativas de
governar e julgar o povo.
Neste texto, o aconselhamento , ento, uma sugesto prtica com o
objetivo de se solucionar um problema existente, a fim de que os
relacionamentos de uma estrutura organizacional sejam eficazes e
eficientes.
Uma outra palavra utilizada por Paulo para refletir um tipo de
aconselhamento, paramuqeomai, que significa encorajar, animar,
consolar, confortar. O primeiro exemplo de emprego de
paramytheisthai na literatura crist primitiva se acha em 1 Ts 2:12,
onde se emprega, como em 5:14, em conjuno com parakalein, exortar
(cf. tambm v. 3). Paulo relembra seus leitores (E sabeis, v. 11) de
que, quando ele os visitou na Tessalnica (v. 1), os exortava e
encorajava. Alm disto, indica o contedo do seu encorajamento com as
palavras: para viverdes por modo digno de Deus, que vos chama para
o seu reino e glria (v. 12). Paulo empreendeu a tarefa de encorajar
o povo, devotando-se totalmente a isto (como pai e seus filhos, v.
11) , tratando com cada pessoa individualmente (a cada um de vs, v.
11). Em 1 Ts 5:14, o apstolos insta os irmos (a igreja inteira, no
somente os lderes) em Tessalnica, a consolarem (paramutheisthe) os
desanimados.
2.1.2 O Aconselhamento Pastoral
Seward Hiltner distingue o termo aconselhamento pastoral,
especificamente, do aconselhamento geral com a seguinte afirmao
:
Em termos de atitude bsica, aproximao e mtodo, o aconselhamento
pastoral no difere do aconselhamento eficaz realizado por qualquer
outro tipo de aconselhador. Ele difere, sim, em termos da situao em
que o aconselhamento realizado, nos recursos religiosos de que se
pode lanar mo e na dimenso na qual o pastor precisa ver todo o
crescimento humano e todos os problemas do homem.
Assim, ele observa que no aconselhamento pastoral, apesar das
semelhanas da metodologia e aproximao com o aconselhado, alguns
recursos que normalmente no so utilizados num aconselhamento geral,
aqui se mostram freqentes. Por exemplo: a orao, a confisso e o
perdo esto disponveis num aconselhamento pastoral, que normalmente
no so utilizados num aconselhamento secular. Alm disso, o
aconselhamento pastoral biblicamente e espiritualmente orientado
quanto aos problemas bsicos da natureza humana, numa viso teolgica,
o que tampouco acontece no aconselhamento secular.
Para James Reaves Farris, o aconselhamento pastoral o processo
pelo qual um pastor, ou outro representante da igreja, trabalha com
indivduos, grupos e famlias, num contexto relativamente
estruturado, com um programa de conhecimento emocional, psicolgico
e espiritual, tentando curar suas feridas. Nesse entendimento,
James R. Farris tenta posteriormente resumir este conceito de
aconselhamento pastoral como o processo do cuidado das almas.
O pastor metodista V. James Mannoia faz as seguintes propostas
para a amplificao da definio de aconselhamento pastoral: 1)
Auxiliar o indivduo a alcanar o conhecimento e a aceitao de si
mesmo; 2) Auxiliar o indivduo a analisar rumos de ao alternativos;
3) Oferecer oportunidades ao indivduo de escolher um modo de
proceder que seja vivel; 4) Oferecer ao indivduo uma situao na qual
tome iniciativas e aceite a responsabilidade pelas mesmas (grifos
do autor). Dessa forma, o aconselhamento pastoral seria a ajuda
prestada pelo pastor, fazendo com que o aconselhado tenha um
autoconhecimento de si mesmo, sua situao e seu valor, levando-o a
encontrar possveis solues para seus problemas, escolher a melhor
dentre essas solues e o incentivando a ser responsvel pelas suas
iniciativas.
2.2 O Objetivo do Aconselhamento
Apesar das definies acima mencionadas j, em certo sentido,
demonstrarem qual a procura final do aconselhamento pastoral, convm
que especifiquemos e compreendamos mais explicitamente quais so os
objetivos que devem ser alcanados na prtica do aconselhamento.
Conforme citado, para W. Hulme, o propsito principal do
aconselhamento ajudar o ser humano a estar em paz com Deus, consigo
mesmo, com o prximo e com a natureza. Nesta compreenso, a dimenso
teolgica (o relacionamento com Deus), a psicolgica (relacionamento
do homem consigo mesmo), social (relacionamento com o prximo) e
ecolgica (relacionamento com a natureza) se unem em favor de uma
paz completa ao ser humano.
Porm, essa tarefa no to simples quanto aparenta. No se trata
simplesmente de o conselheiro fornecer interpretaes bblicas a
respeito da necessidade e obrigao do homem em se relacionar nessas
dimenses descritas. A procura da paz de forma completa nessas reas
se torna complicada pois o ser humano vive em meio a situaes
conflitantes que normalmente no esto sob seu completo controle, e
que variam de acordo com a poca e condies existenciais do prprio
homem.
A realidade talvez parea to diferente do que o texto bblico est
ensinando, que talvez seja colocada em dvida a aplicabilidade desta
Palavra nos dias atuais. Dessa forma, a imutvel misso pastoral
adaptar a mensagem crist s mutveis condies histricas. Ou, em outras
palavras, a tarefa perene da ao pastoral facilitar o contnuo
processo humano de busca por sentido na jornada da vida em meio s
mudanas, aos desesperos, s angstias, injustias e enfermidades. Isso
no significa dizer que o texto bblico manipulado pelo conselheiro,
mas sim que este pode encontrar exemplos e referncias bblicas
aplicveis para os grandes problemas humanos que, seja em que poca
estiver, sempre permanecem com a mesma base: o sofrimento e a
procura da ajuda divina.
Seward Hiltner compreendeu aquilo que chamou de teologia
pastoral como um ramo formal da teologia que expressava o processo
de pastorado. Para Hiltner, a parbola do bom samaritano
representava o processo de pastorado em sua plenitude. O pastorado
envolve cura, sustento e guia para as almas em nome de Cristo.
Quando o bom samaritano cuidou das feridas do viajante, estava
curando-o. Quando deu ao homem um copo dgua, estava sustentando-o.
Quando trouxe o viajante ferido para a hospedaria e solicitou a
continuao de seus cuidados, estava guiando-o.
Dessa forma, para James R. Farris, o aconselhamento pode-se
resumir nesses trs fatores: a cura, que ajudar as pessoas a se
tornarem sadias fsica, mental e espiritualmente, ou seja, o cuidado
pastoral no processo de sarar feridas.
O sustento, ou apoio, que implica em sustentar e nutrir as
pessoas com amor, diariamente e na totalidade de suas vidas, dessa
forma o sustento um processo de apoio, encorajamento de pessoas
quando estas esto sedentas e famintas, necessitando de companhia e
segurana. O sustento demonstrar a participao diria do conselheiro
na luta do que necessita de ajuda. Conforme o prprio James Farris
descreve: em termos prticos, o ministrio de apoio reconhecvel em
meio a crises e implica em estar com o povo em condies ou
circunstncias para as quais no h soluo [...] O ministrio de apoio
consiste em ajudar as pessoas a encontrar a esperana imediata e
ltima, em meio a situaes nas quais, pela lgica humana, h pouca ou
nenhuma esperana. O ministrio de apoio o processo de nutrir a f de
que a nossa esperana est em Deus que fez o cu e a terra.
Por fim, o terceiro fato ser guia, ou seja, um direcionador do
caminho correto a seguir, como o processo de direo espiritual no
sentido de ajudar as pessoas a verem as implicaes dos problemas da
vida, ajudando-as a atingirem os recursos espirituais.
No texto de 1 Reis 12:1-15, vemos uma situao em que o
aconselhamento de homens idosos era necessrio para guiar o novo rei
de Israel. Roboo acabara de ser feito rei, e o povo lhe pedia alvio
na carga que Salomo havia imposto sobre eles. Roboo, ento, solicita
um prazo para pensar a respeito do assunto e, assim, pede conselho
aos idosos que anteriormente ficavam na presena de seu pai. O
conselho daqueles homens, se fosse seguido pelo novo rei, o
colocariaem uma posio privilegiada e o levaria a se tornar um lder
estimado entre o povo.
Como diz Ronaldo Sathler os resultados do processo do
aconselhamento pastoral podem oscilar: curar algumas vezes,
remediar freqentemente e confortar (tornar forte, animar, apoiar)
sempre.
Gary Collins entende que o aconselhamento:
busca estimular o desenvolvimento da personalidade; ajudar os
indivduos a enfrentarem mais eficazmente os problemas da vida, os
conflitos ntimos e as emoes prejudiciais; prover encorajamento e
orientao para aqueles que tenham perdido algum querido ou estejam
sofrendo uma decepo; e para assistir s pessoas cujo padro de vida
lhes cause frustrao e infelicidade. Alm disso, o conselheiro cristo
busca levar o indivduo a uma relao pessoal com Jesus Cristo e seu
alvo ajudar outros a se tornarem, primeiramente, discpulos de
Cristo e depois discipularem outros.
Alm disso tudo, Gary Collins tambm reconhece que o prprio
aconselhamento, quando feito a pessoas incrdulas, tambm serve como
uma evangelizao. Assim a evangelizao e o discipulado so os
objetivos ulteriores e abrangentes do conselheiro.
2.3 As Causas do Aconselhamento
Ao se ler livros que tratam a respeito de Aconselhamento,
interessante observar que praticamente nenhum deles traz um captulo
especfico que aborde sobre as causas do aconselhamento. bvio notar,
entretanto, que vrias causas so mencionadas no decorrer de cada
captulo tratado nos livros.
Larry Crabb, de forma inteligente, demonstra que no so os
problemas que enfrentamos que nos deixam angustiados,
so os inexplicveis que nos apavoram. No somos perturbados tanto
pelo tamanho dos problemas, quanto pelo grau do mistrio que ele
apresenta. No saber o que nos assusta que nos causa mais medo. o
mistrio que nos assusta porque nos coloca fora do controle e nos
deixa com uma opo que no gostamos ter que confiar em algum que no
seja ns mesmos.
Dessa forma, a causa do aconselhamento no seria tanto as situaes
problemticas apresentadas, mas, sim, a provvel falta de controle
sobre esta situao que faz com que pessoas se desesperem ou
reconheam necessitar de ajuda para enfrentar suas dificuldades.
Alm disso, Larry Crabb sugere que os problemas psicolgicos so
resultados de pensamentos ou idias inadequadas sobre a vida, padres
ineficazes de comportamento e falta de envolvimento com outras
pessoas.
a procura de uma estabilidade emocional e psicolgica que faz com
que indivduos solicitem o auxlio de algum que parece ter a resposta
para seus problemas. Assim, a causa maior do aconselhamento a
incapacidade do indivduo de conseguir resolver por si mesmo os
problemas que o rodeiam.
A origem desses problemas pode se encontrar em vrias reas
relacionadas vida do indivduo. Quer sejam problemas fsicos,
psicolgicos, emocionais ou espirituais, o fato que a pessoa precisa
de uma soluo para todos esses problemas a fim de poder viver de
forma, ao menos, estabilizada. E isso que o faz procurar ajuda, uma
conversa, um conselho.
Gary Collins, quando trata a respeito dos alvos de Jesus quando
veio terra (dar-nos vida em abundncia e em toda a sua plenitude Jo
10.10), procura demonstrar que por mais que existem cristos
sinceros que possuem a vida eterna garantida, nem todos gozam de
uma vida muito abundante na terra. Temos conscincia de que a vida
cheia de problemas e dificuldades a serem enfrentadas. Apesar de
tudo isso, no so os problemas em si a causa do aconselhamento, a
falta de controle sobre esses problemas.
Howard J. Clinebell, ao falar do objetivo do aconselhamento
pastoral e da poimnica, destaca que muitas pessoas que procuram a
ajuda de uma pastora [sic] no fazem parte de nenhuma igreja ou de
qualquer outra comunidade de assistncia. So as pessoas solitrias e
alienadas em nossa sociedade, cuja necessidade de assistncia
aguda.
Este outro fato que merece ateno: a solidariedade. Pessoas que
procuram aconselhamento normalmente se encontram solitrias em suas
lutas e conflitos, e isto o que as faz procurar companhia para
suportar e, se possvel, algum para guerrear com elas contra as
dificuldades.
De fato, a necessidade de ajuda, ou de um aconselhamento, no
propriedade exclusiva de um grupo de pessoas. No so somente os
cristos que precisam de ajuda; como tambm, de forma alguma, so
somente os no-cristos. Os problemas da vida no atingem somente
pessoas ricas ou pobres; pessoas inteligentes ou menos
inteligentes; pessoas com sade perfeita ou com sade debilitada,
etc. A necessidade de ajuda para enfrentar os problemas algo comum
a todos os indivduos.
Claramente, tambm se pode observar que algumas pessoas passam
pelas dificuldades com mais desembarao que outras. Porm, nem isto
critrio para se definir quem precisa ou no de ajuda. Praticamente
podemos afirmar que todas as pessoas tm motivos que as fazem
procurar conselhos; e sejam estes motivos causados por problemas
simples ou difceis, todos possuem uma caracterstica em comum: a
incapacidade do indivduo de resolv-los sozinhos.
2.4 A Igreja Como Comunidade Teraputica
O termo Igreja (ekklesia no grego) designava uma assemblia
pblica, e no Novo Testamento significa uma congregao local de
cristos, chamada por Deus (Ef 1). A Igreja, para o apstolo Paulo,
comparada a um corpo (1 Co 12.12-31; cf. Rm 12.3-8), no qual Cristo
o cabea (Ef 1.22-23). Esse corpo a comunidade escolhida de Deus,
(Jr 7.23; 31.33; cf. Ex 6.7), a famlia e o rebanho de Deus (Jo
10.16; Ef 3.15) e que possui um propsito duplo:
Deve ser um sacerdcio santo (1 Pe 2.5) e deve proclamar as
virtudes daqueles que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz (1 Pe 2.9). A igreja deve exercer as tarefas do sacerdcio em
relao ao mundo. Como sacerdcio, a Igreja tem confiada a
responsabilidade de levar a Palavra de Deus humanidade e de
interceder junto a Deus em favor dos homens. Alm da funo
sacerdotal, a Igreja tambm tem a funo missionria de declarar os
atos maravilhosos de Deus.
Mas, o que essa Igreja, como uma comunidade e um corpo, pode
fazer em benefcio de pessoas que necessitam de ajuda? Ou o
aconselhamento uma funo exclusivamente do pastor?
Quando trata a respeito do tema Ao pastoral em tempo ps-moderno,
Ronaldo Sathler Rosa procura salientar a importncia da ao pastoral
no mundo contemporneo. Por pastoral, deve-se entender o que j foi
explanado anteriormente como a ao da Igreja, clrigos e laicos, com
o objetivo de que o Evangelho se concretize na vida das pessoas,
nos mltiplos relacionamentos e na organizao social. Esta ao, seja
terica ou prtica, pode assumir diversas formas em funo das
necessidades e da conjuntura de cada situao. Assim ele diz:
Qual a relevncia da ao pastoral nesse clima psicossocial?
...quando a ao pastoral pode ser considerada irrelevante? A ao
pastoral irrelevante quando no corresponde s legtimas necessidades
humanas; marcada por uma certa espiritualidade transcendental, sem
conseqncias existenciais; no expressa sintonia crtica com as atuais
tendncias da histria.
Ao contrrio, a ao pastoral, em suas diversas modalidades e
especializaes, pertinente quando procura responder s autnticas
aspiraes humanas por liberdade, auto-respeito e respeito pelos
outros. A ao pastoral relevante reconhece e apia as lutas por
trabalho digno, moradia, educao e outras formas atravs das quais as
pessoas e povos procuram significado e valor.
Por outro lado, a ao pastoral, fundamentada nas Escrituras e
afinada profeticamente com o seu tempo e condies histricas, deve
contemplar a [sic] realidade do cotidiano; deve alicerar as
perspectivas, as esperanas e a dedicao das pessoas que trabalham
por um mundo de esperana e justia. No se trata, portanto, de
espiritualidade alienada, mas sim, de expresso da f em meio s
contingncias histricas.
Dessa forma, Ronaldo Sathler Rosa defende uma ao pastoral da
Igreja em todas as reas existenciais da sociedade. Talvez fique
sugerida aqui uma semelhana com a chamada teologia da libertao, por
sua expresso da defesa da luta da Igreja nas lutas por estruturas
econmicas, polticas e sociais mais justas. Mas convm destacar, como
o faz Lothar Carlos Hoch, que mesmo a teologia da libertao no
produziu um nico texto que refletisse sobre a importncia do
aconselhamento pastoral e do ministrio da cura no contexto de sua
preocupao com a libertao do povo. Dessa forma, Lothar continua
descrevendo que foi essa negligncia dimenso da compaixo, da
solidariedade e da cura no interesse do tratamento dos assuntos que
trazem o sofrimento humano (no somente pela teologia da libertao,
mas tambm das Igrejas histricas, catlicas e protestantes) que
fizeram essas pessoas que passam por esses problemas duvidarem da
capacidade da igreja de se solidarizar com elas em questes gerais e
procurarem esse apoio junto ao pentecostalismo e s manifestaes de
religiosidade afro e espritas.
Theodore Wedel tambm descreve a irrelevncia como o constante
perigo com o qual a igreja se defronta. Conforme diz Howard J.
Clinebell, esse perigo se torna cada vez maior quando os aspectos
exteriores da igreja so bem sucedidos, enquanto as necessidades
profundas das pessoas relevncia para os lugares de suas vidas em
que elas sofrem e esperam, praguejam e oram, tm fome de sentido e
sede de relacionamentos significativos vo se perdendo. Dessa forma,
o aconselhamento pastoral um instrumento valioso atravs do qual a
igreja permanece relevante para a necessidade humana.
Nesse aspecto, que dizer da ao do aconselhamento
especificamente? Possui este aconselhamento uma caracterstica
exclusivamente funcional para os assuntos espirituais ou
religiosos? este aconselhamento exclusiva funo do pastor?
Claramente reconhecemos que a resposta no!
O apstolo Paulo, quando escrevendo aos crentes em Colossos, diz:
Habite, ricamente, em vs a palavra de Cristo; instru-vos e
aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com
Salmos, e hinos e cnticos espirituais, com gratido em vosso corao
(Cl 3:16). Neste texto, tanto a palavra instru-vos (didaskontej)
quanto aconselhai-vos (nouqetountej) se encontram no particpio
presente ativo (e no no imperativo, como traduzido) que nesse caso
indica meio, modo de emprego relacionado ao. Ou seja, a forma de a
palavra de Cristo habitar no corao dos crentes instruindo e
aconselhando.
Alm disso, inicialmente temos que reconhecer que estamos vivendo
o que se pode chamar de mercantilizao das relaes pessoais. Ou seja,
num momento em que o mundo conhece um crescente individualismo e
isolamento, as relaes pessoais existentes normalmente no so
motivadas por um desejo de autntico interesse na troca de amizades
e ajuda. Ao contrrio disso, vemos relacionamentos firmados no
interesse do que se pode adquirir da outra pessoa, ou do que aquele
relacionamento pode me beneficiar.
Dessa forma, v-se a necessidade que a Igreja tem em agir no
mundo, de ser uma agncia teraputica a fim de investir na capacitao
de pessoas para se relacionarem de forma genuna. Pois no h nada
mais teraputico do que relaes humanas sadias. Tendo isso em mente,
a misso da Igreja, como agncia teraputica, procurar formar pessoas
que sejam capazes de se relacionar com Deus, consigo mesma e com
outras pessoas.
Assim, reconhecemos que aconselhamento pastoral s pode acontecer
pela linguagem dos relacionamentos, na qual a mensagem do Evangelho
traduzida para a vida do necessitado. Nessa linguagem, a pessoa
aconselhada deve aprender a relacionar-se com Deus, e que sem Ele
no h relacionamento genuno; deve aprender a relacionar-se consigo
mesma, pois a Igreja expressa o homem como imagem e semelhana de
Deus; e aprender a relacionar-se com os outros, pois a vida em
comunidade um imperativo e desejo do prprio Deus, alm de ser uma
prpria necessidade humana.
Neste sentido, a Igreja a agncia que deve promover a aplicao da
mensagem do amor de Deus em favor do homem. A teologia protestante
enfatiza a importncia da pregao verbal da palavra de Deus, e, nessa
mensagem, a proclamao do amor de Deus. Os ouvintes da pregao
reconhecem e compreendem a mensagem, porm raras vezes tm
oportunidade de experiment-la de forma concreta, tambm no nvel
emocional. Por isso, a misso da Igreja aplicar essa mensagem na
vida de cada pessoa de forma vivencial e de forma pragmtica por
cada pessoa necessitada de amor e compaixo.
J compreendido que o ser humano , por natureza, um ser social.
Ele precisa viver em comunidade. Sociologicamente falando, a
comunidade eclesial uma das diferentes formas de a pessoa humana
viver sua comunitariedade. Teologicamente falando, a comunidade
eclesial a nica forma legtima de se viver a f crist. A Igreja aqui
tratada como comunidade teraputica, ao invs de igreja teraputica,
porque as pessoas experimentam a igreja mais como instituio,
enquanto o termo comunidade associa-se a um organismo vivo,
constitudo de pessoas com sentimentos e reaes, que ajudam e
questionam. A comunidade uma grandeza com a qual a gente pode se
relacionar.
Para se explicar, ento, o melhor sentido dessa compreenso de
comunidade teraputica, vejamos o que diz Lothar:
O termo teraputico, quando usado em conexo com comunidade, no
implica tanto a conscincia de que estejamos doentes em sentido
fsico ou psquico, ainda que este possa ser o caso. A busca por uma
comunidade teraputica implica antes a conscincia de sermos pessoas
carentes: de relaes humanas significativas, de ateno e afeto, de
complementaridade. Esse sentido emerge da conscincia de que no
somos auto-suficientes, pelo contrrio, de que precisamos uns dos
outros. Comunidade teraputica a busca comunitria por vida,
especialmente em momentos cruciais da nossa existncia.
Portanto, uma comunidade teraputica a tentativa de construir um
acordo de complementaridade, a fim de criar uma identidade
psicolgica social e individual, para que o indivduo seja capaz de
viver num mundo massificado e, ao mesmo tempo, individualista. Essa
atitude desliga a idia de solues milagreiras de pessoas que crem
controlar o Esprito Santo como bem desejam, bem como tambm abdica
do caminho da interiorizao, ou seja, da mobilizao solitria das
foras espirituais interiores.
Trabalhar a Igreja como comunidade teraputica significa lembrar
das palavras de Paulo em 1 Corntios 12, quando diz a respeito dos
dons que pertencem igreja para agir como um corpo. Cada um tem uma
funo, porm age em favor de todo o corpo. Cada membro deve dar ateno
sade do outro, pois se um membro sofre, todos sofrem com ele (1 Co
12.26). Os dons da graa, do consolo, da solidariedade, bem como o
dom da cura so concedidos comunidade, ao corpo de Cristo como um
todo. Essa a base teolgica da comunidade teraputica. E se isso for
verdade, o aconselhamento pastoral, antes de ser uma tarefa do
pastor ou de outro obreiro qualquer, uma funo genuna da comunidade
toda.
A Igreja evanglica reconhece e defende o que chama de sacerdcio
universal de todos os santos, ou seja, que cada crente um sacerdote
e profeta de Deus que tem como obrigao anunciar as virtudes daquele
que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.9).
E o que vem a ser este anncio ?
Quais so as imagens bblicas da igreja que podem potencializar
sua misso de ser um centro de cura, libertao, crescimento e
potencializao para o cumprimento de nossa misso para com o mundo? O
Novo Testamento v a igreja como o povo de Deus (2 Co 6.16) uma
comunidade de cuidado mtuo unida por um pacto com Deus; como Corpo
de Cristo (Rm 12.4s; 1 Co 10.17) uma unidade orgnica na qual cada
membro, cada parte do corpo vivo, tem seus dons e seu ministrio
peculiares; e como a comunidade do Esprito Santo (At 10.44-47) uma
comunidade redentora e curativa, atravs da qual o Esprito vivo pode
atuar num mundo grandemente necessitado.
2.5 O Conselheiro
J que temos visto a respeito do aconselhamento em seu aspecto
tcnico e de seus objetivos, devemos lembrar que o que se envolve
num processo de aconselhamento so as pessoas. Basicamente temos
dois tipos de personagens num aconselhamento: o conselheiro e o
aconselhado. Neste momento,trataremos a respeito da pessoa do
conselheiro, para no prximo tpico tratarmos a respeito da pessoa do
aconselhado.
A respeito da prpria funo sobre a qual falamos, precisa-se
compreender que os conselheiros devem ser orientadores. Isto quer
dizer que o conselheiro no aquele que apenas ouve (sendo que essa
uma parte imprescindvel ao aconselhamento), mas que tambm sabe
guiar o aconselhado a encontrar o melhor caminho para a soluo de
seus problemas. Para que isso ocorra, o conselheiro deve conhecer
os bons conselhos oferecidos nas Escrituras, e utiliz-los de forma
eficiente e eficaz. Como diz Provrbios 13:10: Da soberba s resulta
a contenda, mas com os que aconselham se acha a sabedoria.
E Wayne Oates escrevendo a este respeito diz:
O pastor, sem levar em conta seu treinamento, no tem o privilgio
de escolher se ir ou no aconselhar o seu povo. Eles inevitavelmente
levam-lhe os seus problemas, a fim de obter orientao e cuidado. No
possvel evitar tal coisa caso permanea no ministrio pastoral. A sua
escolha no feita entre aconselhar ou no aconselhar, mas entre
aconselhar de maneira disciplinada e hbil ou aconselhar de modo
indisciplinado e inbil.
Neste sentido, de vital importncia, ento, que o conselheiro
possua certas caractersticas que estejam prontas a serem utilizadas
para o benefcio do aconselhamento. Como dito por Wayne Oates acima,
a escolha do pastor (ou do cristo em geral tendo em vista nosso
conceito de pastoral), no entre aconselhar ou no aconselhar, mas,
sim, fazer o aconselhamento de forma eficiente (disciplinada e
hbil) ou de forma ineficiente (indisciplinada e inbil).
Temos um excelente exemplo bblico em 1 Reis 12.1-15 (cf. 2 Cr
10.1-15). Roboo, ao invs de ouvir conselho de pessoas sbias
(conselho disciplinado e hbil), que o levaria a uma posio favorvel
perante o povo, prefere ouvir conselho de pessoas sem qualificao
(conselho indisciplinado e inbil). Isto traz a ele uma conseqncia
terrvel, que o de ver seu povo ser dividido em duas partes.
importante tambm frisarmos o fato de que, em geral, o
pastor-conselheiro possui certas qualificaes que os conselheiros
(crentes normais) no tenham to bem desenvolvidas. Neste sentido, o
aconselhamento efetuado por um pastor pode ser mais eficiente que
um aconselhamento feito por outro crente.
Trataremos, neste momento, a respeito do que o conselheiro deve
compreender a respeito da sua prpria pessoa, para que o
aconselhamento seja mais eficaz.
Primeiramente, o conselheiro deve compreender que sua
personalidade, os valores, as atitudes e as crenas que possui so de
grande importncia no processo do aconselhamento.
a) Personalidade
Primeiramente, o conselheiro deve compreender que sua
personalidade no o fator determinante por detrs do aconselhamento,
pois a autoridade divina que deve exercer esse controle. Porm, isto
no significa que essa personalidade tambm no influa, de alguma
forma, no processo do aconselhamento.
Visto que a mensagem de Deus traz consigo a sua prpria
autoridade, o conselheiro precisa acomodar sua personalidade
mensagem, e no o contrrio. Agindo assim, o conselheiro perceber que
quanto mais ele estiver ministrando a Palavra de Deus, mais ele ser
transformado, conformando-se com ela. Como diz Jay Adams: Toda
pessoa que houver sido chamada por Deus para a tarefa do
aconselhamento bblico experimenta transformao.
importante notar tambm o que a prpria Escritura diz a respeito
do resultado que o aconselhamento deve trazer ao conselheiro: H
fraude no corao dos que maquinam mal, mas alegria tem os que
aconselham a paz (Pv 12:20). A alegria deve ser a atitude de um
conselheiro que sabe que seu aconselhamento est sendo orientado por
Deus; isto, porque sabe que o resultado do seu aconselhamento tambm
deve proporcionar a alegria e paz ao aconselhado.
b) Valores
O conselheiro cristo deve demonstrar que, primeiramente, tem por
base o valor da Palavra de Deus como direcionador para qualquer
forma de aconselhamento. Como diz Jay Adams:
Se existe alguma coisa que deve ser mantida a todo custo, a
integridade das Escrituras como padro autoritativo para o
aconselhamento cristo. Tm de ser abandonadas todas as idias de
relativismo. somente com base em pressupostos bblicos que se pode
entender o aconselhamento e, esses pressupostos, necessariamente,
sero os mesmos para todo conselheiro cristo.
Alm disso, um conselheiro cristo que j tem por base a autoridade
bblica para seu aconselhamento, deve tambm reconhecer que o Esprito
Santo a pessoa mais importante. Estando Jesus prestes a deixar os
Seus discpulos, Ele procurou acalm-los falando a respeito do outro
Conselheiro que Ele enviaria (Jo 14.26; 16.7-14), semelhante a Ele
mesmo, para que Ele os guiasse e ensinasse, tal como o prprio Jesus
fizera. Lembremos que o termo parakletos, que traduzido por
consolador, tambm pode ser entendido como advogado, conselheiro,
assessor, ou mesmo intercessor. Cristo identificou esse Conselheiro
como o Esprito Santo, o Esprito da verdade.
Outro valor ao qual o conselheiro cristo deve estar atento o da
prpria pessoa humana. Tendo em vista o homem ter sido criado imagem
e semelhana de Deus, por certo se deve atribuir valor e
cuidado.
No que tange ao povo de Deus, vemos que o conselheiro de
importncia reconhecida para a direo desse povo. Como diz o sbio: No
havendo sbia direo, cai o povo, mas na multido de conselheiros h
segurana (Pv 11.14). Na histria de Israel, por diversas vezes o
povo caa em pecados e erros, porque lhes faltava conhecimento sobre
a Palavra de Deus. E Deus responsabiliza justamente os lderes do
povo por no lhe ensinarem a Palavra do Senhor (Seus conselhos Pv
8.12,14). Isto se torna claro especialmente no texto do profeta
Osias (4.6):
O meu povo est sendo destrudo, porque lhe falta o conhecimento.
Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, tambm eu te
rejeitarei, para que no seja sacerdote diante de mim; visto que se
esqueceste da lei do teu Deus, tambm eu me esquecerei dos teus
filhos
c) Atitudes
Jetro, em xodo 18, oferece aconselhamento a Moiss com base em
sua idade e/ou experincia. Jetro, como conselheiro, apresenta um
plano cuidadosamente elaborado juntamente com providncias para sua
implementao. Em toda essa ao do sogro de Moiss, demonstrada a
motivao e desejo de ajudar .
Como diz Jay Adams: a fim de pr em prtica o aconselhamento
bblico, o conselheiro humano deve conhecer os bons conselhos
oferecidos nas Escrituras, desenvolvendo ainda aquelas aptides
pelas quais poder confrontar a terceiros diretamente, com profundo
envolvimento.
d) Crenas
Talvez uma das coisas mais preciosas ao conselheiro cristo seja
o fato de que ele deve demonstrar que suas palavras no so baseadas
em simples tcnicas adquiridas com a psicologia, ou com a experincia
de ouvir as pessoas atravs dos anos.
O primeiro passo do conselheiro cristo demonstrar ao seu
aconselhado que todo o aconselhamento em processo est sendo
fundamentado no ensinamento bblico; ou seja, na Palavra de
Deus.
Essa conscincia por parte do conselheiro cristo deve vir da
mesma conscincia que teve J quando estava sendo aconselhado
(inabilmente) por seus trs amigos. Com essas palavras J retruca os
falsos aconselhamentos de seus amigos: Est a sabedoria com os
idosos e, na longevidade, o entendimento? No! Com Deus est a
sabedoria e a fora; ele tem conselho e entendimento (J 12.12-13); e
tanto demonstra ser verdades estas palavras que, ao final do livro
de J, encontramos Eli, o mais jovens entre os presentes (J 32.6)
dando as palavras reais de sabedoria no aconselhamento, as quais,
posteriormente, Deus continua falando a J (J 38-41).
Dessa forma, se a crena do conselheiro no estiver na autoridade
da Palavra de Deus como a fonte de toda a sabedoria e
direcionamento para a vida humana, perde-se o valor do
aconselhamento em si. Como tambm diz o salmista, a respeito da Lei
(preceitos) de Deus: Com efeito, os teus testemunhos so o meu
prazer, so os meus conselheiros (Sl 119.24).
2.6 O AconselhadoNeste momento tentaremos responder a algumas
perguntas especficas a respeito da pessoa do aconselhado: Quem o
aconselhado? Porque ele est precisando de ajuda? O que o faz buscar
ajuda? No sendo possvel tratar a respeito dos diversos pontos
necessrios para a explanao plena deste assunto, discutiremos
somente os aspectos essenciais para o objetivo proposto.No possvel
se fazer um tipo de parmetro no qual todo aconselhado se encaixa.
Na verdade, h de ser compreendido que cada pessoa que precisa de
aconselhamento nica. A individualidade da pessoa que procura ajuda
deve ser entendida e compreendida pelo conselheiro, a fim de que
este no pense que existem frmas criadas nas quais as pessoas se
encaixam. Cada aconselhamento nico, mpar, porque cada pessoa
aconselhada nica e mpar.
O aconselhado esse tipo de pessoa com sentimentos variados,
reaes que podem surpreender, com interesses diversificados, mas com
um objetivo especfico: a procura da paz na sua vida em todas as
reas, seja fsica, psicolgica ou espiritual.Outro entendimento que
se deve ter a respeito da pessoa que est sendo aconselhada que ela
precisa de ajuda. O aconselhamento feito para pessoas que
reconhecem que precisam de ajuda em alguma rea da sua vida que est
lhe gerando algum tipo de instabilidade seja fsica, psicolgica ou
espiritual.
Apesar de no podermos criar frmas nas quais as pessoas se
encaixam, devido a sua individualidade, nos possvel observar
algumas caractersticas comuns nas pessoas que procuram ajuda e
aconselhamento.
Uma dessas caractersticas diz respeito ansiedade. A ansiedade
pode ser definida como um sentimento ntimo de apreenso, mal estar,
preocupao, angstia e/ou medo, acompanhado de um despertar fsico
intenso. Normalmente esta ansiedade pode surgir em virtude de uma
reao a um perigo identificvel, ou a um perigo imaginrio. Uma pessoa
que procura ajuda geralmente se demonstra ansiosa, o que lhe gera
impacincia, precisando assim de ajuda para tratar com realismo as
suas presses e para compreender que o tempo, para soluo de seus
problemas, pertence a Deus. Assim, necessrio que o conselheiro
consiga entender as causas e efeitos da ansiedade que esteja
persistindo e prejudicando.
Outra caracterstica comum aos aconselhados est ligada solido.
Sentir-se solitrio tomar conscincia de que nos falta um contato
significativo com outros. A solido envolve um sentimento ntimo de
vazio que pode ser acompanhado de tristeza, desnimo, sensao de
isolamento, inquietao, ansiedade e um desejo intenso de ser amado e
necessrio a algum. As pessoas solitrias normalmente se sentem
abandonadas e indesejadas pelos outros, e isto traz outras diversas
formas de tristeza e ansiedade em sua vida, que as faz necessitar
de aconselhamento. De fato, o aconselhamento a essas pessoas
representa o encontro de algum que possa ouvi-las e se interesse em
carregar o fardo juntamente com elas.
Poderia-se relatar vrias outras caractersticas que se encontram
nas pessoas que buscam auxlio num aconselhamento, mas a ansiedade e
a solido so as mais comuns. Desta forma deve-se compreender que a
pessoa est precisando de ajuda porque no consegue encontrar, por si
mesma, a soluo para seus problemas. As pessoas crem que algum, como
o pastor ou um amigo cristo, pode ajud-las e isto o impulso que as
leva a procurar um conselheiro.
Esta confiana, ou esperana, que a impulsiona a tomar uma posio
de procura de ajuda j um ponto positivo que deve tambm ser levado
em considerao pelo conselheiro.
Na realidade, essas pessoas procuram algum que se interesse em
ouvi-las e ajud-las. Algum que demonstre que se importa com sua
situao e que se dedique a acompanh-la nesse trajeto at a soluo de
seus problemas. Enfim, o aconselhado uma pessoa necessitada de
ateno, cuidado e ajuda. Uma pessoa que quer ouvir no somente
conselhos soprados pelo vento, mas, sim, um conselho sbio vindo da
parte de Deus.
CAPTULO 3
A PROVISO DO ESPRITO SANTO NO ACONSELHAMENTO PASTORAL
Aps, ento, terem sido observado aspectos especficos a respeito
do Esprito Santo (como pessoa, como presena, como parcletos e como
arrabon) e a respeito do Aconselhamento (definio, objetivos,
causas, o envolvimento da igreja, do conselheiro e do aconselhado);
faz-se necessrio observar qual o relacionamento existente entre o
Esprito Santo no aconselhamento.
Como diz Gary Collins: No centro de toda ajuda crist, particular
ou pblica, acha-se a influncia do Esprito Santo. Ele descrito como
um consolador ou ajudador que ensina todas as coisas, nos faz
lembrar das palavras de Jesus, convence as pessoas do pecado, e nos
guia a toda a verdade.
No somente devemos compreender o Esprito Santo como o ajudador
que age no aconselhamento, mas, principalmente como o faz Jay
Adams, considerar que o aconselhamento pertence ao ministrio do
Esprito Santo. De fato, no se pode realizar aconselhamento eficaz
parte dEle.
Jay Adams afirma, ainda, que deixar de lado o Esprito equivale a
negar a depravao humana e afirmar a bondade inata do ser humano.
Suprime-se a necessidade da graa e da obra expiatria de Cristo.
Entende-se, assim, que o Esprito Santo a fonte principal para que
um aconselhamento seja eficaz, e no somente mais um recurso que o
cristo tem s suas mos. Na realidade, deve-se compreender o
conselheiro como um recurso do Esprito Santo, para promoo do
cuidado das pessoas.
3.1 O Relacionamento do Esprito Santo no Velho e Novo
Testamentos
Em Isaas 9:6 encontramos a referncia do Messias como um
conselheiro: Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o
governo est sobre os seus ombros; e o seu nome ser: Maravilhoso
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Prncipe da Paz.
A palavra utilizada neste versculo (conselheiro) que designa o
Messias como um conselheiro maravilhoso que guia seu povo atravs de
seus propsitos, desgnio, decretos e planos maravilhosos. No cap.
11, versculo 2, o profeta diz: Repousar sobre ele o Esprito do
Senhor, o Esprito de sabedoria e de entendimento, o Esprito de
conselho e de fortaleza, o Esprito de conhecimento e de temor do
Senhor. Dessa forma v-se assim o relacionamento ntimo entre o
ministrio do Messias e do Esprito Santo.
Este relacionamento novamente demonstrado por Jesus Cristo
quando disse a seus discpulos: E eu rogarei ao Pai, e ele vos dar
outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco (Jo
14.16). O prprio Cristo era um Conselheiro, Advogado, Consolador e
Fortalecedor sempre presente em seu ministrio terreno. O Esprito
Santo , ento, descrito como o outro Consolador, demonstrando que o
prprio Jesus j estava exercendo esse ministrio.
Assim, como dito no captulo 1, o consolador descrito como aquele
que est ao lado para ajudar, tal como um advogado, dando conselhos
e orientaes. Neste sentido, o Esprito Santo exerce essa funo de
orientador e guia do povo de Deus.
3.2 O ministrio do Esprito Santo no Aconselhamento
Analisando esta questo mais propriamente com referncia ao
ministrio do aconselhamento, entende-se que o Esprito Santo o guia
que orienta o conselheiro em como este deve proceder no
aconselhamento, dando a este capacidade de anlise e percepo da
situao das pessoas necessitadas de ajuda, de forma que ele tambm
possa fornecer palavras de sabedoria, a fim de que as pessoas sejam
guiadas pela Palavra de Deus.
Da mesma forma, o Esprito Santo age na vida do aconselhado,
demonstrando sua presena e seu controle soberano sobre todos os
eventos histricos da vida da pessoa, a fim de que esta compreenda
que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que so chamados segundo o seu propsito (Rm 8:28).
Alm disso, o Esprito Santo age tambm na vida da Igreja, como uma
comunidade, dando-lhe condies para que ela exera a sua funo
teraputica atravs dos relacionamentos interpessoais.
Infelizmente, uma abordagem usualmente utilizada para o
aconselhamento a chamada humanstica-secular que no leva em conta
lugar algum para Deus e visa somente o bem-estar do aconselhado.
Por outro lado, h ainda uma abordagem chamada de Deus como
ajudador, em que o alvo continua sendo o mesmo, porm Deus
simplesmente ajuda o conselheiro e o aconselhando em seu
trabalho.
Ao contrrio dessas, a abordagem teocntrica bem diferente. Esta
pressupe a existncia de Deus e que Ele tem propsitos finais para a
humanidade. Dessa forma, o conselheiro um instrumento para
transformao na vida do aconselhado; transformao esta que visa
trazer o aconselhado a uma restaurao da relao entre o aconselhado e
Deus, melhorar seu relacionamento com os outros, reduzir conflitos
interiores, e derramar aquela paz que ultrapassa todo
entendimento.
3.3 A Ao do Esprito Santo Para Com a Igreja
A Confisso de F de Westminster declara o seguinte a respeito da
Igreja:
Todos os santos que pelo seu Esprito e pela f esto unidos a
Jesus Cristo, seu Cabea, tm com Ele comunho nas suas graas, nos
seus sofrimentos, na sua morte, na sua ressurreio e na sua glria,
e, estando unidos uns aos outros no amor, participam dos mesmos
dons e graas e esto obrigados ao cumprimento dos deveres pblicos e
particulares que contribuem para o seu mtuo proveito, tanto no
homem interior como no exterior.
Neste artigo, declarado, portanto, que a comunho dos crentes com
Cristo, atravs do Esprito Santo e da f, proporciona aos membros,
tanto algumas bnos quanto algumas responsabilidades.
Um pouco dessas bnos so demonstradas em Jo 1.16: Porque todos ns
temos recebido de sua plenitude, e graa sobre graa e tambm em Ef
3.16-19:
Para que, segundo a riqueza de sua glria, vos conceda que sejais
fortalecidos com poder, mediante o seu Esprito no homem interior; e
assim habite ricamente Cristo nos vossos coraes, pela f, estando vs
arraigados e alicerados em amor, a fim de poderdes compreender, com
todos os santos, qual a largura, e o comprimento, e a altura, e a
profundidade, e reconhecer o amor de Cristo que excede a todo o
entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de
Deus.
Mas, alm disto, essas bnos geram tambm responsabilidade que so
demonstradas no sentido de que tudo o que outorgado por Cristo,
pelo Esprito Santo, para sua Igreja, para edificao mtua.
A Igreja como uma comunidade do Esprito Santo, em comunho com
Cristo e com os irmos, possui um dever de interesse mtuo: a
edificao de todo o corpo.
No artigo seguinte, a Confisso de F de Westminster continua:
Os santos so, pela sua profisso, obrigados a manter uma santa
sociedade e comunho no culto de Deus e na observncia de outros
servios espirituais que tendam sua mtua edificao, bem como a
socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas
respectivas habilidades e necessidades; esta comunho, conforme Deus
oferecer ocasio, deve estender-se a todos aqueles que em qualquer
lugar, invocam o nome do Senhor Jesus.
Neste artigo se entende que a edificao vem pela comunho da
igreja para com Deus, bem como na observncia do cumprimento de seus
deveres espirituais. Alm disso, o socorro s pessoas necessitadas
tambm descrito como um dever de cada crente. No se deve entender,
porm, que essas necessidades refiram-se somente a questes
materiais.
Como faz A. A. Hodge, em seu comentrio sobre a Confisso de F de
Westminster:
alguns desses deveres mtuos so, naturalmente, pblicos como se d
entre as diferentes igrejas evanglicas e outros tantos so
privativos e pessoais. Muitos deles se relacionam com as almas, e
outros tantos com os corpos dos santos. A regra consiste na lei do
amor do corao...
Dessa forma, Hodge reconhece que as necessidades materiais so
parte de um exemplo da regra maior a lei do amor do corao. De fato,
a igreja no cuida somente de corpos fsicos, nem somente deve cuidar
tambm de seu aspecto espiritual ou psicolgico. Ela cuida e trata
pessoas num sentido completo, o homem como um ser por inteiro e no
repartido.
Essa a Igreja em que o Esprito Santo age. A Igreja em que impera
a lei do amor. Uma igreja que ajudadora, est ao lado dos
necessitados, compartilhando no somente das alegrias, mas tambm das
dores e sofrimentos. uma igreja que instrumento do Esprito Santo
para consolar, confortar e socorrer. Uma Igreja conselheira.
Gary Collins demonstra que o aconselhamento bblico eficiente
envolve esclarecimento (ajudar as pessoas a pensarem certo),
exortao (ajudar as pessoas a agirem certo), e encorajamento atravs
de uma comunidade que se importa (ajudar as pessoas a viverem
certo).
Dessa forma Crabb acredita que a igreja deve fornecer esses trs
elementos. O encorajamento deve ser responsabilidade de todo o
membro de igreja. Os que esto envolvidos e possuem o conhecimento
de tcnicas bsicas de ajuda devem aconselhar com exortao (auxiliando
os aconselhados a resolverem todos os conflitos de acordo com as
Escrituras).
James Montgomery Boice, afirma acertadamente que a grande
necessidade dos nossos dias que a igreja se torne uma comunidade
genuna comunidade, porque s como comunidade que podemos dar o
modelo de relacionamentos; crist, porque o que queremos mostrar as
qualidades de vida que ser cristo traz consigo.
Anthony T. Evans tambm diz: A Igreja antes de tudo uma famlia
espiritual, uma comunidade. por isso que a Bblia se refere igreja
como famlia da f, famlia de Deus, e irmos. Foi feita para funcionar
como famlia, para servir de modelo para a vida em famlia, e para
cuidar das famlias que rene.
dessa forma que compreendemos a igreja. Uma comunidade em que,
pela ao do Esprito Santo, as pessoas esto unidas num mesmo vnculo a
participao nos sofrimentos, morte, ressurreio e glorificao de
Cristo formando assim um corpo ou, melhor ainda, uma famlia
espiritual.
Nessa famlia, cada irmo responsvel pelo cuidado do outro irmo,
procurando resgatar o que Caim desprezou em relao a seu irmo Abel:
Disse o Senhor a Caim: Onde est Abel, teu irmo? Ele respondeu: No
sei; acaso sou eu tutor de meu irmo? (Gn 4.9).
Em Rm 15.5-7, Paulo reconhece que Deus a fonte da pacincia e da
consolao, e que pode conceder aos cristos o sentimento fraterno do
cuidado. Assim, os irmos deviam acolher uns aos outros, da mesma
forma que Cristo nos acolheu. Essa palavra significa levar junto
(At 17.5), chamar parte, introduzindo uma intensa conversao pessoal
(Mc 8.32; cf. Mt 16.22; At 18.26).
Esse cuidado mtuo na igreja demonstrado e enfatizado vrias vezes
no Novo Testamento. Logo no incio da Igreja primitiva, vemos o
cuidado que uns tinham com os outros vivendo em comunho e possuindo
tudo em comum (At 2.42-47; 4.32-35;); quando nas dificuldades, a
igreja orava junta em favor do atribulado (At 4.23-31; Fl 4.10-14)
e cada pessoa era exortada a ter cuidado do outro (1 Co 12.25; 1 Tm
5.8; Jd 17-23). Assim ela tem significao teolgica quando significa
admitir comunho Rm 14.3; 15.7).
O cuidado, portanto, era exercido de vrias formas na comunidade
crist: era atravs do sustento material s pessoas necessitadas (At
2.45; 6.1-3; 2 Co 9.10-12; Tg 2.14-18), a ajuda pela prtica de
oraes (At 21.4-5; 2 Co 9.12-15; Ef 6.18; Cl 1.9; 1 Ts 5.17,25; 1 Tm
2.1-8; Tg 5.16), ao apoio na perseverana diante das dificuldades
(Lc 21.7-19; At 13.43; Rm 5.3-5; 12.12; Cl 1.9-11; Hb 10.35-36;
12.1; Tg 1.2-4,12) , e pela exortao e admoestao vida crist autntica
(At 14.22; 20.31; Rm 12.8; 15.14; 1 Co 4.14; 14.3; 1 Ts 2.12; 3.2;
5.12-14).
A admoestao (noutheteo) como forma de aconselhamento espiritual
tambm tarefa de cada membro da igreja, um para com o outro (Cl
3.16), na condio de ser espiritualmente apto para assim fazer, como
a igreja de Roma (Rm 15.14).
O texto de Ef 4.1-16 nos traz algumas informaes e ensinos de
mxima importncia para tratarmos a respeito da ao do Esprito Santo
na Igreja.
Primeiramente, entre tantas informaes, ao observamos o versculo
4 (h um s corpo e um Esprito, como tambm fostes chamados numa s
esperana da vossa vocao), temos que perceber que o vnculo da
unidade da Igreja o Esprito Santo. Como diz Martyn Lloyd-Jones: A
unidade na qual o apstolo est interessado aqui produzida e criada
pelo prprio Esprito Santo. Somente ele pode produzir esta unidade;
e somente Ele produz esta unidade.
Dessa forma, pensar e imaginar que possa existir unidade na
Igreja sem uma ao direta do Esprito Santo obter uma noo errnea a
respeito da natureza dessa Igreja.
Os trs primeiros captulos dessa epstola aos Efsios procuram
demonstram que a natureza da Igreja divina. Deus escolheu seus
filhos desde antes da fundao do mundo (Ef 1.3-5), atravs da redeno
obtida pelo sangue de Jesus Cristo (vv. 6-12) selando-os com o
Esprito Santo (vv. 13-14). Dessa forma, os cristos, como uma
unidade, obtm acesso ao Pai e ao Esprito (2.18), tornando-se assim
famlia de Deus (2.19). Neste entendimento, os cristos tomam o nome
de Deus (3. 14-15), para serem fortalecidos pelo Esprito (3.16),
atravs do qual a habitao de Cristo se faz presente no corao
(3.17).
Porm ser uma famlia, uma comunidade em unidade debaixo do mesmo
nome (3.15), exige um propsito para o qual foi criada. Assim,
necessrio que cada membro dessa famlia, juntamente com os demais,
compreenda a razo desse chamamento divino (3.18-19).
Assim, Paulo, no captulo 04 dessa epstola, comea a demonstrar o
propsito de Deus para sua Igreja, essa comunidade familiar. No v. 7
fala que a graa (xarij) foi concedida a cada cristo, demonstrado
que todos possuem dons (que no grego tambm xarij) concedidos por
Cristo (e distribudos pelo Esprito Santo; cf. 1Co 12.4-11).
A partir do v. 11 lista-se, ento, alguns desses dons e ministrio
que tm por objetivo o aperfeioamento dos santos, tendo em vista que
cada um desempenhe seus servios para a edificao do corpo (v.
11-12).
Tambm como diz Gary Collins:
Ora, o que que tudo isso tem a ver com o ser um autntico
ajudador de pessoas? Apenas isto: um dos propsitos principais do
corpo de Cristo ajudar pessoas. Deus coordenou o corpo... para que
no haja diviso no corpo; pelo contrrio, cooperem os membros, com
igual cuidado, em favor uns dos outros. De maneira que, se um
membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles honrado, com
eles todos se regozijam. Ora, vs/ou seja, os crentes/ sois corpo de
Cristo e, individualmente, membros desse corpo (1 Co 12.24-27).
Segundo o plano de Deus, a igreja deve ser um corpo unido de
crentes que recebem poder do Esprito Santo, que crescem maturidade,
e que ministram (i., ajudam) pessoas dentro e fora do corpo.
A ao do Esprito Santo, assim, gera comunho na igreja. Isso o que
o apstolo Joo tambm procura demonstrar em sua epstola:
o que temos visto e ouvido anunciamos tambm a vs outros, para
que vs, igualmente, mantenhais comunho conosco. Ora, a nossa
comunho com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. [...] Se, porm,
andarmos na luz, como ele est na luz, mantemos comunho uns com os
outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado
(1 Jo 1.3,7).
Para o entendimento dos apstolos, impossvel que algum possa
afirmar que est em comunho com Deus, porm desassociado dos irmos
(cf. 1 Jo 1.9-11; 3.15; 4.7-8). Da mesma forma, a igreja deve
enfatizar o carter da comunho e ajuda recproca entre seus membros,
como demonstrao da ao do Esprito Santo. Portanto, o significado
bsico transmitido pelo termo grego koinonia o da participao.