A pisada de Lampião em Limoeiro - 15 de Junho de 1927 – Algumas das melhores fotos que se tem do bando de Lampião foi tirada em Limoeiro do Norte, na frente de uma farmácia, de frente para a igreja. Conforme o professor Irajá Pinheiro, quem fotografou foi um homem chamado Francisco Ribeiro. “Ele bateu a foto e pegou a bicicleta para revelar em Mossoró”. Nessa cidade potiguar, cada um da foto foi reconhecido pelo cangaceiro Jararaca, aprisionado pelos mossoroenses durante a batalha em Mossoró. Até os reféns do bando estão no registro fotográfico. Espetáculo de Marcelo Lima Souza Pesquisa Histórica de Eligardênio Soares Revisão de Dallva Rodrigues
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A pisada de Lampião em Limoeiro - 15 de Junho de 1927 –
Algumas das melhores fotos que se tem do bando de Lampião foi tirada em Limoeiro do Norte, na frente de uma farmácia, de frente para a igreja. Conforme o professor Irajá Pinheiro, quem fotografou foi um homem chamado Francisco Ribeiro. “Ele bateu a foto e pegou a bicicleta para revelar em Mossoró”. Nessa cidade potiguar, cada um da foto foi reconhecido pelo cangaceiro Jararaca, aprisionado pelos mossoroenses durante a batalha em Mossoró. Até os reféns do bando estão no registro fotográfico.
Espetáculo de Marcelo Lima Souza
Pesquisa Histórica de Eligardênio Soares
Revisão de Dallva Rodrigues
A Pisada de LAMPIÃO em Limoeiro
De Marcelo Lima Souza Página 2
Espetáculo de Marcelo Lima Souza
Pesquisa Histórica de Eligardênio Soares
Revisão de Dallva Rodrigues
15 de junho de 1927: Passagem de Lampião marcou a história de Limoeiro do Norte
Uma das marcantes passagens do bando de Lampião no estado do Ceará, foi, sem
dúvidas, sua chegada à cidade de Limoeiro do Norte, na região do Jaguaribe, divisa com
os estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, por ocasião da volta de Virgulino, após o
frustrado ataque a Mossoró em junho de 1927.
Personagens:
NARRADOR
SR. CUSTÓDIO
D. JUDITE
AMBROSINO
EUGÊNIO
ALONSO
FIGURANTES
LAMPIÃO
SABINO
MASSILON
ARROTO
FRIEIRA
DEMAIS CANGACEIROS
A Pisada de LAMPIÃO em Limoeiro
De Marcelo Lima Souza Página 3
Ato I Cena 1. Música histórica. Entra Narrador.
NARRADOR (Abertura, alegre e vibrante): - Bom dia, senhoras e senhores, meninos e meninas, velhos e
novos! Trago até vocês a cultura e a informação, alegria e entretenimento! Trago até vocês o teatro
popular! E hoje, como deve-se, trago-lhes uma história para vosso deleite. Não sei se vocês sabem...
Mas, por esta região, muita lenda já se fez real. E cada pedaço de terra tem uma historia pra contar.
Porém, nenhuma marcou tanto a memória de nosso povo quanto a passagem de um homem – que ate
então não passava de mais uma lenda. Assim, querido publico, estou aqui para lhes contar como
LAMPIÃO, o chefe dos cangaceiros, veio a PISAR nas terras de Limoeiro!!!
CUSTÓDIO (Entrando, chateado): - Home, tu já está aí de novo com essas suas histórias?!!! Quando é que
você vai aprender a deixar de inventar mentiras para esse povo? Se você não largar mão disso, eu
mando os praças virem lhe prender! Olhe que eu sou juiz!!!
NARRADOR (Enfrenta-o): - Pois fique sabendo, Seu... (Debochando) DOUTOR JUIZ Custódio, que... Em
primeiro lugar... O senhor não tem porque me levar preso sem justa acusação! E em segundo lugar...
Cada palavra que sai da minha boca, o sábio assume como verdade.
CUSTÓDIO: - Até parece!!! O público não tem que dar ouvidos! As suas conversas de sábio não tem é
nada! Fique sabendo você, também, que o prefeito se ausentou da cidade para a casa dos seus pais, e
me ORDENOU, pessoalmente, a guarda da Prefeitura. Sendo JUIZ e PREFEITO, sou DUAS vezes
mais autoridade!!!
NARRADOR: - E quem é que te atura DUAS vezes mais mandão?
CUSTÓDIO: - Como é que é???
NARRADOR: - Digo... Que bom que a Prefeitura está em boas mãos, não é???
CUSTÓDIO: - Ah, sim!!!...
NARRADOR: - Ah! Acabei de me lembrar!!! (Tirando envelope do bolso) Este telegrama tava lá no correio,
endereçado ao Prefeito. Mas, como ele não está, então receba VOCÊ.
CUSTÓDIO: - É o quê???? Quem você pensa que é, pra andar com correspondência da Prefeitura?
(Tomando o envelope, ordena) Bate logo com perna daqui, antes que eu chame os praças... Pois, agora, uma
acusação eu já tenho!!!
NARRADOR: - Arre, que nem um FAVOR ninguém aceita hoje em dia!!! Nem sequer um muito
obrigado...
CUSTÓDIO (Partindo para cima dele, que foge) : Peraí, que vou lhe dar um muito obrigado... Corra não, seu
covarde!!! Seja homem!!!
Sai Narrador.
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Cena 2. Entra Ambrosino.
AMBROSINO: - Seu Custódio, que gritaria é essa, homem? Lá da esquina dá pra ouvir os seus berros!
CUSTÓDIO (Furioso, quase tendo um ataque de nervos): - Aquele malandro, Ambrosino, que me tira do
sério!!! Ah!!! Mas, eu ainda pego ele, e quando eu pegar vai ser de jeito, Ambrosino!!! Escreva o que
eu lhe digo! Ele vem com essas histórias mentirosas... Se aproveitando da ingenuidade do povo... Mas,
ele vai ver!!! Vai ver!!!
AMBROSINO: - Calma, Seu Custódio! Se acalme! Essas raivas não lhe fazem bem. (Se aproxima e conforta
Custódio) Respire fundo, vamos!... Isso! Assim! Vai lhe fazer bem! Está mais calmo agora?
CUSTÓDIO (Sorrindo, calmo e brando): - Estou!!!
AMBROSINO: - Assim esta bem melhor! (Curioso, reparando no envelope) Ô, Seu Custódio... Que envelope
é esse aí que você tem na mão?
CUSTÓDIO: - Isso aqui? Ah... Siiiiim! ...Foi aquele malandro mesmo que me entregou!
AMBROSINO: - Seu Custódio, o senhor cuidado com essas coisas! Se Dona Judite, sua mulher,
descobre que você anda recebendo essas cartas pode ficar com ciúmes.
CUSTÓDIO (Perdendo a calma, explode novamente): - É o quê? Deixe de conversa besta, home!!! ...Que isto é
correspondência oficial da PREFEITURA!
AMBROSINO (Se apavora pela bobagem que falou): - Calma!!! Calma!!! Tava só brincando!!! (Se aproxima
novamente, ajudando Custódio a se acalmar) Respire fundo! Isso! Assim!... Está mais calmo agora?
CUSTÓDIO (Se esforçando para manter a calma): - Estou!
AMBROSINO: - Assim está melhor!... (Tentando distrair Custódio, volta ao assunto, mais curioso ainda) Mas... Se
a carta é da PREFEITURA, porque é que está com ela?
CUSTÓDIO (Orgulhoso): - O Prefeito viajou à casa dos pais, e EU estou respondendo pelo expediente,
como de costume.
AMBROSINO: - Aaaaaaah, então é esse o motivo de tanta brutalidade? (E se arrepende do que disse em
seguida)
CUSTÓDIO (Raivoso): É o quê???
AMBROSINO (Reiterando rapidamente): - Di... Digo... Que é um cargo de grande responsabilidade!...
CUSTÓDIO: - Eu sei, eu sei!!!... O Prefeito confia em mim!
AMBROSINO (Curioso): - Então abra logo o envelope pra ver o que diz!!!...
CUSTÓDIO: - Aaaah... O envelope! Vou abrir agora mesmo!
AMBROSINO (Ansioso): - O que é que diz???
CUSTÓDIO (Tentando ler): - Não sei... Não consigo ler sem os óculos...
AMBROSINO: - Home, deixe de besteira! Me dê cá que eu leio isto!!! (Lê e fica pasmo, estático, sem ação)
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CUSTÓDIO (Curioso também): - O que é que diz? Ambrosino? Ambrosino, me responda!
AMBROSINO!!! (Dá um tapa na cara dele)
AMBROSINO (Gagueja, com dificuldade para respirar): - Va... Va... Valha, meu Deus do céu!!! Meu Padim
Pade Ciço, nós tamo acabados!!!
CUSTÓDIO (Aperreado e confuso): - Acabados porque, home??? Que conversa é esta??? Diga logo o que
diz o bilhete!!!
AMBROSINO (Tremendo as pernas, se ajoelha e reza): - Minha nossa senhora, e agora, o que vai ser de
nós????
CUSTÓDIO (Preocupado, puxa ele pelo colarinho da camisa, o levanta e o encara): - Eu lhe digo já já o que vai ser
de VOCÊ se não ler esse bilhete pra mim AGORA!
AMBROSINO (Agoniado com bilhete em punhos, treme bastante): - Home, escute isso... Vem de Mossoró:
“Prefeito de Limoeiro – URGENTE. Lampião acaba de atacar Mossoró. Depois de forte resistência,
conseguimos afastá-los, ficando um MORTO e outro PRISIONEIRO. Saudação. RODOLFO
FERNANDES. Prefeito Municipal”.
CUSTÓDIO (Silêncio. Sem ação, trava também)
AMBROSINO (Preocupado): - Seu Custódio?!!! Seu Custódio, tudo bem com o senhor?!!! Seu
Custóooooodio?
CUSTÓDIO (Reagindo): - Va... Va... Valha, meu Deus do céu!!! Meu Padim Pade Ciço, nós tamo
acabados!!! Minha nossa senhora, e agora, o que vai ser de nós????
Os dois começam a andar de um lado para o outro em sentidos contrários...
AMBROSINO: - Alguém tem que fazer alguma coisa, e rápido!
CUSTÓDIO: - Já sei!!! O Prefeito vai saber o que fazer!
Na volta se chocam, desesperados...
AMBROSINO: - Mas, o PREFEITO é VOCÊ, home!
CUSTÓDIO: - Arre, é mesmo! E agora, o que é que eu faço? (Começa a ter uma crise de pânico)
AMBROSINO: - Tenha calma, seu Custódio!!! Respire fundo!!! Isso!!! Assim!!! Está mais calmo agora?
CUSTÓDIO (Respira fundo, de olhos cemicerrados): - Estou!!!
AMBROSINO: - E aí??? O que você vai fazer?
CUSTÓDIO (Novamente andando de um lado para outro): - Eu não sei! Só sei que LIMOEIRO não vai ser um
lugar seguro pra ficar com esse home vindo para cá.
AMBROSINO: - Isso com certeza. Tem que se tirar o povo da cidade, RÁPIDO!
CUSTÓDIO: - E é isso mesmo que eu vou fazer!!! Vou evacuar todas as famílias da cidade! Além
disso... Tenho que passar um telégrafo ao Secretário da POLÍCIA pra que se tome alguma providência
e LOGO. São quinze léguas daqui a Mossoró, e não temos um minuto a perder!
AMBROSINO: - Então, o que estamos esperando? Enquanto a gente conversa, o chefe dos cangaceiros
se aproxima cada vez mais!
Saem, apressados.
A Pisada de LAMPIÃO em Limoeiro
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Ato II Cena 1. Música histórica. Retorna Narrador.
NARRADOR: - E foi assim que se deu a notícia! Tudo aconteceu muito rápido! A história se espalhou
mais rápido que o vento! Indo de boca em boca, em ouvido, em ouvido... E de boca em ouvido de
novo! Tanto foi que num piscar de olhos, só o que se via (Apontando) era gente de mala pronta e criança
a tiracolo, tomando o rumo da estrada (Pessoas passam pela cena). Mas, apesar da ameaça que vinha, ainda
tinha uns que quiseram ficar... Ou pra cuidar do que era seu, ou porque não tinham medo, ou os dois.
Foi o caso de Seu Custódio.
Entrando com sua esposa, Dona Judite, e sua filhinha, de apenas dois anos...
CUSTÓDIO: - Judite, meu amor, não fique triste! As famílias eu já salvei, mas agora eu tenho que ficar
pra salvar o comércio... Meu e dos meus amigos. A cidade só tem a mim!!!
JUDITE (Angustiada): - Mas, Custódio, e se lhe acontecer alguma coisa?! O que vai ser de mim e da nossa
filhinha?
CUSTÓDIO (Se mostrando forte): - Não vai me acontecer nada não, mulher! Vá com o povo, que eu cuido
pra que haja uma cidade pra todos voltarem quando isso acabar!
JUDITE: - Mas, Custódio...
CUSTÓDIO: - Vá logo, senão você fica pra trás!
Judite sai.
CUSTÓDIO (Avistando ela de longe, se mostra, agora, angustiado): - Se Deus quiser tudo vai da certo!!!
Sai pelo outro lado.
Cena 2. Música triste. Retorna Narrador.
NARRADOR (Aos prantos, se recompõe antes de falar): - Desculpe querido público... Essas cenas me deixam
muito emotivo. Voltando a historia... Lampião se aproximava cada vez mais da cidade juntamente com
seu bando. Aliás, parece que ele vem vindo aí... (Sai de fininho)
Cena 3. Música do Cangaço. Vai entrando Lampião.
LAMPIÃO: - Sabino!!! Sabino Gomes!!! Ande cá pra mode eu proseá com ocê.
SABINO: - Diga Capitão!!! Pode dizê que eu sô todo uvido. O que o sinhô mandá eu faço! Nem que seja
pra eu me engarranchar num pé de jurema! Pruque o sinhô é o Capitão e...
LAMPIÃO (Impaciente): - CALA BOCA!!!
SABINO (Obediente): - Já calei.
A Pisada de LAMPIÃO em Limoeiro
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LAMPIÃO: - Então, escute:
SABINO: - Tô escutano.
LAMPIÃO: - Como é mermo o nome dessa cidade que ocê me disse que vem logo a frente?
Dirmantelo...? Chico Bêbo...???
SABINO: - LIMOEIRO, Capitão! Limoeiro do Norte! Está só umas cinco léguas a frente.
LAMPIÃO: - E Massilon já voltou com a tropa de reconhecimento que eu mandei?
SABINO: - Voltar não voltou não! Mais num deve tardar a chegar.
LAMPIÃO (Enfurecido): - Arriégua!!! Massilon é um INÚTEL! Olha lá se ele num tivé perdido dentro das
caatinga, e os homi da tropa num tivé trazido ele!!!
MASSILON (Entrando): - Chamou eu, Capitão?
LAMPIÃO: - Aaaah, e chegou é?
MASSILON: - Cheguei sim, Capitão! (Empolgado, se apresenta) Ói eu aqui, ó.
LAMPIÃO (Sério): - E então?
MASSILON (Desentendido): - Então o quê?
LAMPIÃO (Raivoso): - O quê... O quê????! O que foi que eu mandei ocê fazer????
MASSILON (Confuso e amedrontado): - O sinhô mandou...? Eu fazê...? (Lembrando) Aaaaaaah! Sim sinhô,
Capitão!!! Levei a tropa pra espiar o caminho como o sinhô mandô EU fazê!
LAMPIÃO (Sério): - E então?
MASSILON (Desentendido): - Então o quê?
LAMPIÃO (Furioso, sem paciência): - O quê... O quê????! O que foi que eu mandei ocê viu????
MASSILON (Levando um susto): - Aaaaah! Eu... Eu... Num vi nada não! ...Não sinhô, Capitão!
LAMPIÃO (Desconfiado): Como assim, ocê num viu nada? ...Quer dizer que o caminho tá limpo? Num
tem volante, nem praça pra imboscar nóis, e nóis pode ir tranquilo?
MASSILON: - Não, Capitão! Eu... Num vi nada pruquê... Eu... Mandei a tropa ir na frente e eu fui atrás!
Vai que começa um tiroteio e a bala zune ouvido a dentro? (Fazendo sinal da cruz) Meu Padim Pade Ciço
me proteja!
LAMPIÃO (Enfurecido, pegando revolver da cintura e apontando pra ele): - Arriégua!!! Tu num me serve é pra
nada, seu cavalo!!! Mim dê um bom motivo pra eu num destampá seu ouvido com esse rifle agora, seu
inútel!!!
MASSILON (Se ajoelha, implorando): - Pelo amor de Deus, Capitão!!! Num faça uma coisa dessa comigo,
que eu tenho pavor de sangue, principalmente sendo o meu! Tanto é... Que eu mandei a tropa nem
matá o homi que tava se’scondendo no mato pra mode num me dá um desmaio!
LAMPIÃO (Confuso): - Peraí?... Homi no mato? Se escondendo? Ocê num disse que num tinha visto
nada, infiliz?!!!
MASSILON (Sorrindo): - Éeee... Mais foi depois.
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LAMPIÃO (Sério, sem paciência): - Tá! Tá! Então?...
MASSILON (Desentendido): - Então o quê?
LAMPIÃO (Furioso, sem paciência): - O quê... O quê????! O que foi que pegaro no mato????
MASSILON (Outro susto): - Ah , sim! Foi um infeliz que nóis achamo tentando se esconder no meio do
espinzal. Eu vô mandá buscá ele cá, pru sinhô Capitão vê! (Chamando os cangaceiros) Arroto!!! Frieira!!!
Tragam cá o prisioneiro pro Capitão zoiá!
Cangaceiros entram trazendo o Narrador.
NARRADOR (Se estrebuchando): - Me soltem, seus bandidos! Me deixem ir!
LAMPIÃO: - Soltem ele, que agora, cuido EU.
NARRADOR (Se rcompondo, sem saber que era Lampião que falava): - Isso mesmo! Escutem o
moço! Aaaah, assim está melhor! (Se vira e dá de cara com Lampião que aponta o rifle para sua testa)
Ôpa!!! Retiro o que disse.
LAMPIÃO (Em tom ameaçador): - Ocê vá sortano a língua e dizeno logo o que ocê queria por estas
banda! De que polícia ocê faz parte?
NARRADOR (Se tremendo, vai se ajoelhando aos pés dele): - Polícia nenhuma não, meu Senhor! Sou
um pobre infeliz, sem sorte na vida.
MASSILON: - Polícia ele num é não, Capitão! Num tava armado, nem de CANIVETE, e tava sozinho
nos espinzal com os joelho batendo.
LAMPIÃO (Desapontando a arma, ainda desconfiado, encarando-o): - É... Pode ser... Escute bem... E eu
só vou lhe dar uma chance! ...Sabe essa cidade ai na frente? Melão Preto!...
MASSILON: - LIMOEIRO, Capitão! Limoeiro do Norte!
LAMPIÃO: - Isso! Isso! Ocê corra inté lá, e mande avisá que o CAPITÃO Virgulio Lampião e seu
BANDO se aproxima, e que briga é com nóis mermo!!! ...Se o povo tivê juízo, é mió num desafiá
nóis!
NARRADOR (Se levantando devagar, apavorado): - Sim, senhor! Sim, senhor! O recado já tá dado!
Pode ter certeza!
LAMPIÃO (Gritando): - E pruquê eu ainda tô lhe vendo aqui??? Vamo vê! Bata perna!!! (Aponta rifle,
novamente) E se ocê pará, nóis tamo indo logo atráis.
Narrador sai correndo, desesperado, trocando as pernas, caindo às vezes.
MASSILON: - Eita, Capitão! O homi corre que as perna bate na pôpança!
LAMPIÃO: - Um homi movido pelo medo bota cavalo pra trás! Mande os homi disfarcá nosso rastro que
nóis já tamo de saída. Quero chegar o quanto antes nessa cidade... Como é mermo o nome? Pinto
Nêgo?
TODOS OS CANGACEIROS: - LIMOEIRO, Capitão! Limoeiro do Norte!
LAMPIÃO: - Isso! Isso! Desmonte o acampamento e vamo botá pra frente!!! (Sai)
MASSILON: - Pena! Tava começado a gostá da paisage daqui.
Sai com os demais cangaceiros atrás de Lampião.
A Pisada de LAMPIÃO em Limoeiro
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Ato III Cena 1. Música histórica. Retorna Narrador.
NARRADOR (Chegando a Limoeiro, apavorado): - Valha-me, Deus do Céu!!! Meu Padim Pade Ciço!!!
Minha Nossa Senhora, o que vai ser de nós??? Ainda mais EU, que fui nomeado o MENSAGEIRO
DA MORTE, PORTADOR DAS MÁS NOTÍCIAS!!! Qual será o destino de Limoeiro do Norte?
(Respirando fundo) Calma!!!... Calma!!!... Tenho que ter calma!... Acima de tudo, avisar a Seu Custódio
que o perigo já está logo atrás. (Procurando) Mas... Onde estará ele? Aquele ali, nunca aparece quando
se precisa. (Grita, chamando-o) Seu Custódio!!! Seu Custódio!!! (Sai de cena)
CUSTÓDIO (Entrando pelo outro lado, sorrateiramente, procurando Ambrosino. Fala sussurrando): - Ambrosino!
Ambrosino! Apareça homem, que isto não é hora pra sumir! Onde aquele peste se meteu? (Não aguenta
a agonia, e grita) AMBROSINO!!!
AMBROSINO (Chegando por trás, assusta Custódio): - DIGAAAA!!!
CUSTÓDIO (Tem uma crise de agonia): - Arriégua homem, de onde foi que tu surgiu?
AMBROSINO (Acudindo-o): - O quê que foi, Seu Custódio? Tá assustado? Tenha calma, Seu Custódio!!!
Respire fundo! Isso! Assim! Está melhor agora?
CUSTÓDIO (Sorri, calmo): - Estou!!! (Se lembra da missão que deu a ele) ...Mas, me diga uma coisa: Você já
cuidou para que todas as famílias fossem em segurança para o Espinho?
AMBROSINO: - Já sim, senhor! No MÁXIMO tem umas 12 pessoas que quiseram ficar na cidade.
CUSTÓDIO: - Graças a Deus!
AMBROSINO: - Mas, e o Secretário de Polícia, o que disse? Vai mandar alguma tropa pra pôr Lampião
e o bando pra correr?
CUSTÓDIO (Indignado): - Uma ova que vai!!! Quando eu dei a noticia, o homem só faltou não parar de
gaguejar, e disse que a gente se virasse como pudesse.
AMBROSINO (Indignado também): - Êita, COVARDIA!!! Agora nós ficamos sozinhos, ao que Deus
quiser!!!
CUSTÓDIO (Firme): - Tenha fé, Ambrosino, que é a única força que nos temos agora! Só nos resta
esperar a chegada do bando.
NARRADOR (Entra, correndo, esbaforido): - Seu Custódio!!! Seu Custódio!!!
CUSTÓDIO (Preocupado): - O que é que foi, homem? Olhe... Não me venha com conversa fiada porque
agora não é hora!
NARRADOR: - Não, Seu Custódio, não é nada disso!!! Eu venho lhe trazendo umas mensagens de
LAMPIÃO!
AMBROSINO: - De LAMPIÃO?!!! Arriégua!!!! Já chegou?!!!
NARRADOR: - Chegou não, mas tá pra chegar!!!
CUSTÓDIO (Corajoso, respira fundo): - E qual é a mensagem que ele mandou?
A Pisada de LAMPIÃO em Limoeiro
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NARRADOR: - Mandou dizer que... (Imitando Lampião) “O CAPITÃO Virgulino Lampião e seu
BANDO se aproxima, e que briga é com nóis mermo!!! ...Se o povo tiver juízo é melhor num desafiá
nóis!”
CUSTÓDIO (Preocupadíssimo, mas tentando manter a calma): - Arre, MENSAGEIRO DA MORTE!!!
AMBROSINO (Revoltado com o Narrador e com medo de Lampião): - PORTADOR DE MÁS NOTÍCIAS!!!
NARRADOR: - Que seja! Mas EU é que não vou ficar aqui esperando o homem chegar! (Saindo) Já fui!
CUSTÓDIO (Segurando ele pela roupa): - Você não vai a lugar nenhum, seu covarde!!! Acima de tudo,
temos de tomar a atitude PACÍFICA na situação. (Encarando-o) Você volte lá, e diga a LAMPIÃO que
NÓS vamos receber ele e seu bando em paz!
NARRADOR (Apavorado): - EEEEU? Voltar pra junto de LAMPIÃO? (Fazendo sinal da cruz) Deus que me
livre!!!
AMBROSINO (Parte pra cima dele, que foge): - Seu covarde! Não tem vergonha de abandonar a cidade
quando ela mais precisa de você?
NARRADOR (Antes de fugir): - Pois se vocês são assim TÃO corajosos, então passem o recado VOCÊS!!!
(Apontando) Ele vem logo ali. Tchau! (Sai de cena, correndo)
Cena 2. Música Mulher Rendeira. O bando entra em cena cantando, e se espalha. Custódio e
Ambrosino tentam se disfarçar.
LAMPIÃO (Observando a paisagem): - Aaaaah! Então esta que é a cidade de LIMOÊRO DU NORTI!
SABINO: - É sim sinhô, meu Capitão! Já se pode começar a descarregar os rifles?
LAMPIÃO (Calmo, pensativo): - Tenha calma, Sabino, que num há motivo pra se gastar chumbo ainda.
Custódio e Ambrosino observam de longe.
AMBROSINO (Tremendo): - Valha, Seu Custódio, é o homem mesmo! O que é que nós vamos fazer?
CUSTÓDIO (Confuso): - E EU é que vou saber?
AMBROSINO: - É CLARO!!! O senhor que é o PREFEITO! (Empurrando-o) Tem que ir lá se apresentar e
dar as boas-vindas.
CUSTÓDIO (Se desvencilhando): - EEEU?
AMBROSINO (Empurrando-o): - VOCÊEEEE!
Custódio o olha, aborrecido.
AMBROSINO: - Digo... (Empurrando-o novamente) O SENHOR!!!
CUSTÓDIO (Travando, pára e pensa um pouco): - É... Acho que você tem razão! Eu... Vou até lá!...
AMBROSINO: - Pois, vá!
A Pisada de LAMPIÃO em Limoeiro
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CUSTÓDIO (Se aproximando de Lampião, receoso, gagueja um pouco, e lhe estende a mão): - Cu... Cu... Custódio
Saraiva... JUIZ Municipal quem se apresenta!
LAMPIÃO (Apertando a mão de Seu Custódio): - CAPITÃO Virgulino Lampião! A cidade tem alguma coisa
contra nóis?
CUSTÓDIO (Firme, diplomático): - Nada não senhor, Capitão! Que é isso??? O senhor e seu bando podem
ficar a vontade. Mas... Eu queria lhe fazer um pedido em nome de Limoeiro do Norte.
LAMPIÃO (Amigável): - Queria??? E num qué mais não? Diga logo!
CUSTÓDIO: - Eu peço ao senhor que prometa que a cidade não vai sofrer mal algum em vossa travessia.
LAMPIÃO (Abraçado Seu Custódio): - Pois tá prometido!!! Lhe digo já que LIMOEIRO não vai nem notar a
PISADA de Lampião e seu bando.
CUSTÓDIO (Sorri, aliviado): - Agradeço, Capitão! A tropa deve estar muito cansada. Se quiserem, podem
acompanhar Ambrosino, e ele vai lhes oferecer repouso e refeição.