A PESQUISA E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO Ao final da aula o aluno deverá estar apto para: • diferenciar os diversos tipos de conheci- mento; • identificar o que caracteriza uma pesquisa como científica; • compreender a subdivisão das ciências. 1. Apresentar os diversos tipos de conheci- mento, caracterizando especialmente o co- nhecimento científico. 2. Expor a subdivisão dos campos científicos. 3. Explicitar os tipos de pesquisa e as caracte- rísticas de uma pesquisa científica. Meta Objetivos 1 aula LETRAS - PESQUISA APLICADA - MOD. 2 - VOL 1 - UNID 1 - AULA 1.indd 17 LETRAS - PESQUISA APLICADA - MOD. 2 - VOL 1 - UNID 1 - AULA 1.indd 17 10/6/2010 09:32:53 10/6/2010 09:32:53
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A PESQUISA EO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Ao fi nal da aula o aluno deverá estar apto para:
• diferenciar os diversos tipos de conheci-mento;
• identifi car o que caracteriza uma pesquisa como científi ca;
• compreender a subdivisão das ciências.
1. Apresentar os diversos tipos de conheci-mento, caracterizando especialmente o co-nhecimento científi co.
2. Expor a subdivisão dos campos científi cos.3. Explicitar os tipos de pesquisa e as caracte-
Pesquisa Aplicada ao Ensino em Letras A pesquisa e o conhecimento científi co
que seja originado da experiência sensível - por defender ser,
o último tipo de conhecimento, fruto da análise metódica e
objetiva de um fato. Quem pensa assim difi cilmente saberia
explicar por que um simples agricultor, sem conhecimento
científi co, é capaz de prever o tempo de colheita de um produto
por ele plantado. Na verdade, o que diferencia o conhecimento
do senso comum do conhecimento científi co não é o maior
ou menor nível de veracidade de um deles, mas a maneira
como cada um desses conhecimentos é desenvolvido e seu
maior ou menor nível de verifi cabilidade, aplicabilidade e
generalidade.
2 OS TIPOS DE CONHECIMENTO
Além dos dois tipos de conhecimento descritos
anteriormente, outras classifi cações mais amplas podem ser
apreciadas, como a de Marconi e Lakatos (2009), que põe
em evidência os seguintes tipos: a) conhecimento popular,
semelhante ao que foi descrito antes a respeito da experiência
táctil com a água; b) conhecimento científi co, correspondente ao
conhecimento da temperatura da água através da informação,
já exemplifi cado; c) conhecimento fi losófi co, concebido como
um conhecimento que, apesar de partir da experiência e ser
valorativo - tal qual o conhecimento popular - é sistemático e
se utiliza dos enunciados da lógica para chegar à “verdade” e;
d) conhecimento religioso, que nem se apoia na experiência
sensível, nem no estudo sistemático, e, sim, é o conhecimento
revelado pela fé no sobrenatural.
Muitas outras subdivisões são fornecidas por diferenciados
autores, todavia é em Zilles (1995) que podemos observar
uma concepção gradual dos tipos de
conhecimento. Ele propõe, portanto, a
seguinte divisão: a) conhecimento ordinário;
b) conhecimento mítico; c) conhecimento
fi losófi co; d) conhecimento da fé e; e)
conhecimento científi co.
O conhecimento ordinário, ou comum,
é descrito como aquele adquirido a partir
da experiência social, condicionado aos
valores e crenças (e proibições) da vida em
sociedade. Não é um saber necessariamente
Verifi cabilidade: aquilo que pode ser validado, ne-cessitando, algumas vezes, que seja também verifi ca-do, identifi cado como real.
Aplicabilidade: a aplicabi-lidade de uma pesquisa diz respeito à possibilidade de que seus resultados sejam
aplicados a outro ramo do saber ou a outro fi m
que não necessariamente o planejado para aquela
pesquisa.
Generalidade: utilização de uma experiência parti-cular para representar um fenômeno geral, universal.
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Monsenhor Urbano Zilles: possui bacharelado em Filosofi a pela Faculdade de Filosofi a Nossa Senhora Imaculada Conceição (1962) e licenciatura em Filosofi a pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (1971). É doutor em Teologia pela Universitat Munster (Westfalische-Wilhelms) (1969). Atualmente é professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, atuando como docente em diversas disciplinas, entre elas Teoria do Conhecimento, tema sobre o qual publicou o livro amplamente citado em nossa aula.
Figura 3 - Atena a deusa da sabedoria Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e6/
Atenea_en_Bilbao.jpg
FIGURA 2 - Homem do CampoFonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File: Nahua_man_of_Morelos.jpg
desvinculado do científi co. Dependendo do sujeito e das
condições sociais, o saber ordinário pode estar infl uenciado
pela fi losofi a, pela ciência ou pela religião (ZILLES, 1995).
Enquanto o conhecimento ordinário é visto como
não científi co e destituído de comprovação, o conhecimento
mítico estaria num nível diferente: não é considerado como
fundamentado na lógica ou na razão, pois é destituído de
possibilidade de comprovação; por outro lado, não se pode
considerá-lo falso.
Para Zilles (1995), a ciência acostumou-se a ver o
conhecimento mítico como algo irreal, simplesmente por não
ter instrumento capaz de controlá-lo e apreendê-lo:
É preciso reconhecer que a unidade do mito é conseqüência muito mais de uma unidade de sentimento do que de regras lógicas. Tal unidade é um dos impulsos mais fortes e originais do pensamento primitivo. De certa forma, podemos dizer que mito é uma intuição da realidade, exprimindo dimensões profundas e perenes ao nível da estruturação da psique humana. O consciente lógico é apenas uma expressão da mesma (ZILLES, 1995, p. 155, grifo nosso).
Em suma, o conhecimento
mítico estaria mais condicionado pelas
representações do inconsciente, do
não revelado, mas nem por isso menos
verdadeiro do que o conhecimento científi co
ou outro tipo de conhecimento.
Enquanto o conhecimento ordinário
Mítico: o mito é uma tentativa de explicação
dos fenômenos naturais, do Mundo e do Homem, recorrendo-se ao fantás-tico, ao imaginário. Um
exemplo de mito brasileiro são as conhecidas lendas folclóricas, como o Lobiso-
Pesquisa Aplicada ao Ensino em Letras A pesquisa e o conhecimento científi co
número, por exemplo, - “não existem fora de nossos cérebros:
podemos ver, encontrar, manusear, tocar três livros, três
árvores [...] mas ninguém pode ver um simples três, em sua
forma, composição, essência” (p. 29). De outro lado, existem
as ciências factuais, assim denominadas por referirem-se aos
fatos, visando compreender suas causas, criando hipóteses
explicativas para esses fatos e buscando formas para contestar
ou confi rmar essas hipóteses. As ciências factuais são divididas
em dois grupos: a) as ciências naturais, que estudam fatos
naturais, envolvendo ou não a presença do ser humano -
no interior das quais se encontrariam a Física, a Química, a
Biologia entre outras e; b) as ciências sociais, cujos objetos de
estudo são fatos relacionados à vida em sociedade, à cultura,
envolvendo sempre a presença do homem, visto ser este um
ser social por natureza - no interior deste grupo estariam a
Economia, o Direito, a Psicologia, a Sociologia, a Linguística,
entre outras.
Costuma-se também dividir as ciências em ciências
exatas, correspondendo ao conceito de ciências formais, e
ciências humanas, as quais envolvem sempre a presença do
ser humano como objeto de estudo.
Os resultados fornecidos tanto pelas ciências formais como
pelas ciências factuais podem ser aplicados a alguma área de
conhecimento para atender a uma determinada demanda, por
exemplo, as descobertas da ciência da linguagem (a Linguística)
a respeito da estrutura de uma língua podem ser utilizadas
para aprimorar a linguagem do computador, no interior de uma
área aplicada, denominada Linguística Computacional.
Linguística Computacional: consiste num campo científi co amplo, en-volvendo diversas disciplinas inter-relacionadas, no tocante às áreas da computação e linguagem, como Informática, Inteligência Artifi cial, Pro-cessamento da Informação, Linguística, entre outras. O objetivo central do linguista computacional é a correlação entre linguagem humana e lin-guagem artifi cial (computação), através da modelagem de línguas na-turais, simulações computacionais das línguas naturais, mapeamentos linguísticos entre outras técnicas.
Fonte: Adaptado de Marconi; Lakatos (2009, p. 28).
CIÊNCIAS
FORMAIS FACTUAIS
Antropologia
Direito
Sociologia
Linguística
Química
Física
Biologia
Matemática Lógica NATURAIS SOCIAIS
AATIVIDADESTIVIDADES
Antes de darmos continuidade ao nosso estudo, façamos uma revisão. Responda as questões que seguem. Caso você sinta difi culdade com alguma delas, sugerimos que, além de reler o texto, amplie seu conhecimento, fazendo outras leituras com base nas sugestões de leitura (divididas por tema), disponíveis ao fi nal deste texto.
1. Quais os tipos de conhecimento que existem? Qual a diferença fundamental entre eles?2. Em quais aspectos o conhecimento religioso e o conhecimento mítico se assemelham? Em quais aspectos eles se diferenciam?3. Em quais aspectos o conhecimento fi losófi co e o conhecimento científi co se assemelham? Em quais aspectos se diferenciam?4. Podemos dizer que o único conhecimento verdadeiro é o científi co? Por quê?5. A Medicina pode ser considerada uma ciência formal ou factual? Por quê?
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4 A PESQUISA CIENTÍFICA: CARACTERIZAÇÃO
Com o advento das novas tecnologias,
tem sido muito comum a utilização da palavra
pesquisa para referir-se à simples busca de
informações - quase sempre na Internet -
sobre um determinado assunto. Assim, é
comum ouvir alguém dizer: “fi z uma pesquisa
no Google para saber o signifi cado da palavra
X”. Foi também muito comum, antes mesmo da
era da Internet, que o estudante fi zesse uma
busca (algumas vezes, razoavelmente longa)
a respeito de um determinado assunto, em
livros especializados, na biblioteca pública ou
escolar. Essa busca consistia na compilação de
informações, através de cópias literais do texto;
tal compilação, muitas vezes, resultava na cópia
de uma série de “pedaços” dos textos originais, sem uma inter-
relação entre as partes copiadas. Muitos estudantes também
denominavam essa atividade como pesquisa.
Convém deixar muito claro que não são esses os sentidos
da palavra pesquisa a que iremos nos ater aqui, pelas seguintes
razões: não assumimos o primeiro sentido da palavra pesquisa
porque esse sentido restrito, como simples busca de informação,
nada tem a ver com o conceito científi co de pesquisa por
que nos interessamos; o segundo sentido também não será
utilizado, porque jamais se poderia considerar pesquisa (sequer
restritamente) uma compilação desconexa de informações.A pesquisa científi ca, realizada no Brasil, quase sempre
no interior das instituições de ensino superior, é defi nida como uma investigação mais ou menos aprofundada - havendo aí ní-veis de profundidade, que vão desde uma resenha crítica (mui-to realizada por alunos universitários), passando por trabalhos de conclusão de curso, como monografi a, até as dissertações de mestrado e teses de doutorado - sobre um determinado tó-pico ou assunto, dentro de uma determinada área do conheci-mento. Rummel (1977, p. 2) defi ne pesquisa como “um inqué-rito ou exame cuidadoso para descobrir novas informações ou relações e para ampliar e verifi car o conhecimento existente”.
Estabelecer uma subdivisão dos tipos de pesquisa não é tarefa fácil, pois muitos podem ser os critérios de divisão. Alguns autores o fazem com base no objetivo da pesquisa, ou-tros com base no método utilizado, outros, ainda, baseados na maneira como se dá o acesso ao objeto de estudo. Tentare-mos aqui uma classifi cação - mais uma vez aproximada - com base na maneira como se tem acesso ao objeto de estudo, mas procuraremos enfocar especialmente os tipos de pesqui-sa mais comuns no interior das chamadas ciências humanas, podendo acontecer, portanto, que alguns tipos deixem de ser contemplados. Assim, dividimos as pesquisas em quatro tipos principais (no interior dos quais podem ocorrer diferentes abor-dagens e técnicas para coletas de informação): a) bibliográfi ca; b) experimental; c) de campo; d) estudo de caso.
A pesquisa bibliográfi ca consiste num tipo de estudo em que a busca de informações a respeito do objeto investigado se dá principalmente, ou exclusivamente, com base em refe-rencial teórico, em leituras de trabalhos aprofundados sobre o tema abordado. Para o estudo bibliográfi co, deve-se utilizar uma série ordenada de técnicas de estudo, catalogação e le-vantamento de informação. Em geral, no interior de qualquer trabalho científi co, é feita uma pesquisa bibliográfi ca sobre o tema, como uma das etapas da pesquisa, em geral denomi-nada “fase de revisão bibliográfi ca”; nesse caso, a pesquisa bibliográfi ca seria algo complementar à pesquisa propriamente dita.
Quanto à pesquisa experimental, como o próprio nome sugere, trata-se da manipulação de um determinado fenômeno, pondo-o à prova, para confi rmar ou refutar uma hipótese a res-peito desse fenômeno. Esse tipo de pesquisa pode ser realizado no campo - ocorrendo geralmente como um procedimento no interior de uma pesquisa de campo - ou num laboratório - mais utilizado nas pesquisas em ciências naturais. Para a realização de uma pesquisa experimental, o pesquisador deve dominar, também, uma série de técnicas específi cas; por exemplo, no laboratório, deve-se aprender como “fazer a leitura” de uma célula através do microscópio; no campo, devem-se dominar as técnicas na manipulação de determinado instrumento para coleta dos dados, como por exemplo, a aplicação de um teste de leitura com um determinado sujeito de pesquisa.
A pesquisa de campo consiste na observação de fatos e
Você deverá fazer a leitura de dois artigos científi cos - disponíveis nos sites abaixo. Esses artigos apresentam o resultado de pesquisas realizadas em universidades brasileiras. Você deverá, após ler os textos, responder o seguinte roteiro de estudo que visa analisar, a partir dos resultados apresentados no ar-tigo, qual o tipo e as características de cada uma dessas pesquisas.
Roteiro de Estudo
1. Exponha, em até 200 palavras, sobre o que trata o texto 1.2. Exponha, em até 200 palavras, sobre o que trata o texto 2.3. Quais os procedimentos utilizados pelo pesquisador do texto 1 para in-
vestigar o que ele pretende? Expresse isso em até 200 palavras.4. Quais procedimentos o pesquisador do texto 2 utilizou para investigar o
que ele pretende? Expresse isso em até 200 palavras.5. Em qual campo da ciência (Matemática, Sociologia, Educação, entre ou-
tros) você poderia enquadrar o texto 1 e o texto 2?6. Qual o tipo de pesquisa do texto 1 e qual o tipo de pesquisa do texto 2
(bibliográfi ca, experimental, de campo, estudo de caso)?
Texto 1: “Fisiologia da música: uma abordagem comparativa”. Disponível em: http://www.ib.usp.br/revista/texto.php?arq=413bf64d98ae71f5bd70d0f3f67f99d8b6ef0eca
Texto 2: “Incontinência urinária entre estudantes de educação física”: Dis-ponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080- 62342009000200008
Fisiologia: conjunto de processos e atividades que ocorrem nos organismos vivos, entre eles o organismo humano, denominada “fi siologia humana”.
Incontinência urinária: incapacidade de reter a urina.
LEITURA RECOMENDADA
Como já foi exposto aqui, os conceitos, classifi cações e subdivisões apresentados neste traba-lho não resultam em posições unânimes. Assim, visando a uma ampliação dos conhecimentos discutidos nesta aula, apresentamos algumas sugestões de leitura que coadunam com a nos-sa abordagem ou diferenciam-se dela quanto ao assunto tratado nesta aula:
1. Titulo do texto: “Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação”. Disponível no site: http://projetos.inf.ufsc.br/arquivos/Metodologia%20da%20Pesquisa%203a%20edicao.pdf
2. Título do texto: “Pesquisa e métodos científi cos”. Disponível no site: www.geocities.com/claudiaad/pesquisacientifi ca.pdf
Pesquisa Aplicada ao Ensino em Letras A pesquisa e o conhecimento científi co
6 CONCLUSÃO
Uma vez que a intenção central do estudo científi co, em qualquer campo de pesquisa, é a produção de conhecimentos, nesta nossa primeira aula defi nimos os tipos possíveis de co-nhecimento e enfatizamos as características do conhecimento científi co. Em decorrência dessa compreensão, fi zemos uma breve discussão a respeito do que caracteriza uma pesquisa científi ca, objeto de estudo da nossa disciplina, e como ela pode ser classifi cada quanto ao campo de pesquisa. No interior desses campos, situamos a ciência da linguagem como uma ci-ência fundamentalmente social e humana. Apresentamos, por fi m, uma classifi cação simplifi cada dos tipos de pesquisa mais comuns realizadas tanto pelas ciências formais como pelas fac-tuais. Nas aulas seguintes, iremos nos ater às características das ciências humanas e especialmente à ciência da linguagem, apresentando os tipos e os métodos de pesquisa mais frequen-
tes na contemporaneidade.
RE
FE
RÊ
NC
IAS
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Metodologia Científi ca. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 311 p.
RUMMEL, J. F. Introdução aos procedimentos de pesquisa em educação. Porto Alegre: Globo, 1977. 353 p.
ZILLES, U. Teoria do Conhecimento. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995. 168 p.