UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A MODELAGEM DA ARGILA NA ARTETERAPIA: DE CRIATURA A CRIADOR, O HOMEM (RE)CONHECENDO-SE E (TRANS)FORMANDO-SE A PARTIR DO BARRO FÁTIMA CERVIÑO GIL RIO DE JANEIRO JUNHO / 2003
36
Embed
A MODELAGEM DA ARGILA NA ARTETERAPIA: DE … CERVINO GIL.pdf · Pode-se conceituar Arteterapia como sendo uma modalidade terapêutica que, utilizando-se da arte como linguagem expressiva
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A MODELAGEM DA ARGILA NA ARTETERAPIA: DE CRIATURA A CRIADOR, O HOMEM (RE)CONHECENDO-SE E
(TRANS)FORMANDO-SE A PARTIR DO BARRO
FÁTIMA CERVIÑO GIL
RIO DE JANEIRO JUNHO / 2003
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A MODELAGEM DA ARGILA NA ARTETERAPIA: DE CRIATURA A CRIADOR, O HOMEM (RE)CONHECENDO-SE E
(TRANS)FORMANDO-SE A PARTIR DO BARRO
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão de Pós-Graduação “Latu-Sensu” em Arteterapia em Educação e Saúde.
Autor Fátima Cerviño Gil
Orientador Prof. Ms. Vilson Sérgio de Carvalho
RIO DE JANEIRO JUNHO / 2003
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me permitiu existir. A Carl Gustav Jung e à Drª. Nise da Silveira, que por sua coragem de ousar e ir mais além na área da Psicanálise, nos presentearam, respectivamente, com sua Análise Junguiana e com a Arteterapia. A meus queridos pais Maria e Manuel, por todo o apoio familiar, amor e carinho e pelas renúncias e sacrifícios feitos ao longo de suas vidas para o meu bem estar. À minha querida irmã Cristina, por sua grande amizade e incansável apoio nos momentos difícies. Ao meu psiquiatra Ricardo Vaz que cuida de mim com tanta competência e carinho. Ao meu arteterapeuta Hesio Fernandes Pinheiro Filho que acreditou em mim, me incentivou, me apoiou e me mostrou um belo caminho profissional para ser seguido através da arte. Que com sua sensibilidade consegue entender até os meus silêncios e com o seu silêncio, inúmeras vezes, respeita os meus momentos e me diz muito mais do que através de palavras. Ao meu orientador Prof. Ms. Vilson Sérgio de Carvalho, por sua orientação segura e pela atenção, paciência e carinho durante a elaboração desta monografia. À minha co-orientadora Eveline Carrano, por sua atenção e carinho sempre presentes. Às minhas professoras Maria Cristina Urrutigaray, Eveline Carrano, Cláudia Brasil, Virgínia de Souza e ao professor Celso Sanches, pelos ensinamentos transmitidos ao longo de todo o curso, com competência, cuidado e carinho. Aos meus colegas de turma, pela solidariedade, pelo apoio e incentivo nos momentos mais difíceis do nosso aprendizado e por todos os bons momentos que passamos juntos. Um agradecimento especial a meus amigos tão queridos Cesar Amorim e Ray Reichelt, amo vocês dois. Aos meus colegas de trabalho, Ana Peixoto, Anna Beatriz Santos e Moyses Júnior, por todo auxílio oferecido e pela compreensão e paciência nos momentos de estresse.
DEDICATÓRIA
Uma pessoa tão linda e tão querida, que está sempre presente no meu coração ... ... À você, Maria Cristina Urrutigaray, dedico com muito carinho esta monografia. Obrigada por todos os ensinamentos transmitidos ao longo do curso, com grande amor e competência. E obrigada pelo cuidado durante as vivências em sala de aula, as quais muitas vezes mexeram tanto comigo. Mas, lá estava você, sempre atenta, segura e carinhosa, transmitindo a confiança que eu precisava para me entregar. Você está presente na minha vida, muito além da sala de aula, como um exemplo a ser seguido de profissional completa e de pessoa sensível e iluminada. Tudo o mais que eu pudesse escrever para você ainda seria pouco. Mas enquanto escrevo me emociono e, então, penso que os sentimentos valem mais do que mil palavras. Outra vez, obrigada. Por você existir e ser uma pessoa tão especial. Te admiro e te respeito. E te amo muito ... muito ... muito ...
EPÍGRAFE
“A experiência do trabalho com arteterapia proporciona a possibilidade de reconstrução e de integração de uma personalidade. Contribuindo como procedimento prático e, apoiado num referencial teórico de suporte, permite à aquisição da autonomia, como objetivo ou meta para melhora da vida humana. Pois ao ser possível integrar, pela atuação consciente, o resultado do criado com a temática emocional oculta na representação apresentada, o sujeito adquire a condição de transcender as suas vivências imediatas, experimentando novos sentimentos, e disponibilizando-se para novas oportunidades”. (URRUTIGARAY, 2003: 18)
RESUMO
O objetivo desta monografia é demonstrar como a técnica de
Modelagem na Argila é “facilitadora”, na Arteterapia, para uma abordagem do
“Homem” de forma integral, por aproximá-lo de seus sentimentos e por remetê-lo à
sua origem a partir do barro.
A argila é o material plástico tomado como elemento central do
estudo devido à sua plasticidade e potencial terapêutico. Seu emprego é
exemplificado nesta monografia através de práticas utilizadas no ateliê
arteterapêutico.
METODOLOGIA
Para a elaboração da presente monografia foi realizada uma pesquisa
bibliográfica sobre o tema em questão através de livros, artigos publicados em
revistas de Arteterapia e sites da Internet.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ÍNDICE
FOLHA DE AVALIAÇÃO
9
11
15
18
20
24
29
32
34
35
INTRODUÇÃO
Na medida em que o homem começou a empreender maiores
esforços na busca por auto-conhecimento e auto-transformação, observou-se a
necessidade de abordagens psicoterapêuticas mais “integradoras” que falassem
não apenas à sua razão mas, também, à sua emoção.
Assim, a Arteterapia apresentou-se como uma modalidade
terapêutica que, apoiada nos fundamentos teóricos da Psicologia, utilizou-se da
Arte para, através de diversas modalidades expressivas (Artes Plásticas, Dança,
Música, Teatro e outras), possibilitar um meio para atingir uma maior aproximação
do homem de seus sentimentos – a Arte utiliza-se da linguagem não verbal, a
“linguagem da emoção” – com o objetivo de promover uma abordagem mais
“integradora” do mesmo.
O objetivo desta monografia foi apresentar um estudo sobre a
utilização da Modelagem na Argila – uma técnica expressiva das Artes Plásticas –
pela Arteterapia, bem como disponibilizar um material bibliográfico específico
acerca do tema, uma vez que a literatura disponível atualmente é ainda muito
escassa.
A escolha do tema deveu-se ao fato de a Modelagem na Argila
aproximar o homem de sua origem, de suas raízes, de sua ancestralidade – ele foi
“modelado” por Deus a partir do “barro” – apresentando-se como uma técnica
expressiva “facilitadora” para possibilitar à Arteterapia atingir o seu objetivo como
modalidade terapêutica.
Para conseguir realizar o seu objetivo, esta monografia foi
estruturada em cinco capítulos:
No primeiro capítulo procurou-se conceituar Arteterapia e apresentar
o seu objetivo como modalidade terapêutica, bem como os meios que se utiliza
para o alcance do mesmo.
Depois, no segundo capítulo, demonstrou-se a relação do homem
com o barro desde a sua criação e, também, a utilização deste como um meio de
deixar registrada a sua história evolutiva ao longo dos tempos.
À seguir, no terceiro capítulo, a argila é apresentada como o material
plástico que mais remete o homem à sua origem a partir do barro.
Continuando, no quarto capítulo, explicou-se em detalhes o “porquê”
da modelagem na argila aproximar o homem de seus sentimentos.
Por último, no quinto capítulo, a autora apresentou a utilização da
Modelagem na Argila no ateliê arteterapêutico, como um caminho para possibilitar
ao homem o auto-conhecimento e a auto-transformação.
CAPÍTULO I
ARTETERAPIA:
A EXPRESSÃO DO INCONSCIENTE
ATRAVÉS DA ARTE
Pode-se conceituar Arteterapia como sendo uma modalidade
terapêutica que, utilizando-se da arte como linguagem expressiva e apoiando-se
nos fundamentos teóricos da Psicologia, visa “permitir e sustentar um olhar para o
“Homem” de modo mais integrador. Pelo qual aspectos, tais como os cognitivos –
os afetivos – e os motivadores das ações, possam ser enquadrados dentro de
uma postura totalizadora e unitária”. (URRUTIGARAY, 2003: 13)
“Observando o comportamento humano desde os primórdios da
cultura humana, verifica-se que o “fazer” do homem, ao longo dos séculos, revela
uma necessidade de expressão”. (URRUTIGARAY, 2001: 6)
E é através da arte que o homem encontra-se diante da sua primeira
e mais significativa forma de expressão, surgida antes mesmo que a linguagem
escrita fosse registrada. Segundo Beckett (1997), “por sua antiguidade, pode-se
verificar que a arte é mesmo nosso direito inato. Ela teve início não na história,
mas na pré-história, milhares de anos atrás”. (BECKETT, 1997: 10)
A partir da pré-história e ao longo dos anos pode-se observar que a
arte faz-se presente registrando toda a história evolutiva do homem, a sua cultura
e religiosidade; representando as necessidades e anseios de cada povo nas
diferentes épocas e, ainda, atuando como influenciadora de mudanças e novos
comportamentos.
“A arte é, antes de tudo, criação” (URRUTIGARAY, 2003: 107). E a
criação está presente na vida do homem desde a sua origem, pois “Deus criou o
homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher”.
(Gênesis 1, 27: 19)
E é através da prática da Arteterapia, utilizando-se da arte como
meio para se expressar, que o homem passa de “criatura” à “criador”, trabalhando
e desenvolvendo as inúmeras potencialidades que jazem adormecidas em seu
interior por meio do “fazer”. Porque, conforme escreve Urrutigaray (2003),
“Fazer arte implica diretamente em estimular as ordenações
de idéias surgidas pela elaboração mental, como ação
interativa entre fato e idéia implícita nele, produzindo o
pensamento. Aquele que tem acesso à arte ou ao “fazer
artístico” está tendo oportunidade de desenvolver ou
configurar habilidades, as quais são, por sua vez,
reveladoras da estrutura intelectiva ou cognitiva de quem as
realiza, assim como também de seus sentimentos e valores
ideais. Pois uma imagem projetada num papel ou numa
escultura, ou num movimento do corpo, reflete a maneira
pessoal de cada um relacionar-se, posicionar-se, de estar no
mundo”. (URRUTIGARAY, 2003: 29)
Como objetivo principal a Arteterapia propõe-se a promover a
“individuação” do homem, ou seja, “torná-lo consciente de sua identidade profunda
como ser único e autêntico no mundo” (GRINBERG, 1977: 227), através da
integração de todos os aspectos de sua personalidade, a qual por sua vez só se
realizará por meio da comunicação do consciente com o inconsciente, visando a
compreensão deste por aquele.
E o elemento central que permite a compreensão do inconsciente,
por parte do consciente, é o “símbolo” (etmologicamente, a palavra símbolo
significa “aquilo que une”). Segundo Jung (1977),
“O que chamamos de símbolo é um termo, um nome ou
mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária,
embora possua conotações especiais além do seu
significado evidente e convencional. Implica alguma coisa
vaga, desconhecida ou oculta para nós.” (JUNG, 1977: 20)
Grinberg (1997) escreve que “pode-se dar forma ao material
simbólico utilizando-se as mais diversas técnicas expressivas” (...) pois, ainda
segundo o autor, “com a utilização dessas técnicas, a fantasia inconsciente é
mobilizada e se expressa. Ganha vida e forma estética. Podemos relacioná-la a