UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ADMINISTRAÇÃO E SUPREVISÃO ESCOLAR A IMPORTÂNCIA DO LÍDER NUMA GESTÃO ADMINISTRATIVA PARTICIPATIVA POR TATHIANA CHRISTI SILVA FERNANDES ORIENTADA POR MARY SUE PEREIRA RIO DE JANEIRO 2010
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A IMPORTÂNCIA DO LÍDER NUMA GESTÃO ADMINISTRATIVA ... · 10 Capítulo 1 A Administração na Gestão Educacional No presente capítulo, ... Outro grande nome da história da administração
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO E SUPREVISÃO ESCOLAR
A IMPORTÂNCIA DO LÍDER NUMA GESTÃO
ADMINISTRATIVA PARTICIPATIVA
POR
TATHIANA CHRISTI SILVA FERNANDES
ORIENTADA POR
MARY SUE PEREIRA
RIO DE JANEIRO
2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO E SUPREVISÃO ESCOLAR
A IMPORTÂNCIA DO LÍDER NUMA GESTÃO
ADMINISTRATIVA PARTICIPATIVA
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes
como requisito parcial a obtenção do título de Pós-Graduação
em Administração e Supervisão Escolar.
2010
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Dedicatória
Dedico este trabalho a todas as pessoas que estão
envolvidas em organizações, sejam elas escolares ou não, e que
não tiveram a oportunidade de construir sua história de forma
crítica e participativa. Espero que, com a conclusão do curso
seja possível tomar decisões que venham a contribuir para uma
construção de conhecimentos coletiva.
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Agradecimentos
Primeiramente, a Deus, criador da vida.
A minha família, pela compreensão e apoio dado durante
esse período acadêmico.
Aos meus amigos, que a todo o momento me incentivaram
a continuar e completar esse estudo.
A todos os profissionais da educação, que direta ou
indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.
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Resumo
Devido as constantes transformações que vem ocorrendo no mundo atual e, a
partir de minhas experiências pessoais como estudante e profissional de uma
organização educacional, percebi a importância que todo ser humano consciente tem de
necessitar evoluir no seu conhecimento, buscando compreender e distinguir o seu papel
na sociedade na qual está inserido.
Foi por meio da leitura de autores como Paro, Martins, Libâneo entre outros
pesquisadores que, foi possível elevar meus conhecimentos sobre o processo de
formação do ser humano e de sua capacidade de participação eficiente na sociedade e
produtiva nas relações de trabalho, o que contribui para o processo de tomada de
decisões.
Diante disso, o presente estudo faz uma leitura da importância do papel do líder
numa gestão administrativa participativa. No capítulo 1, falo sobre o surgimento da
administração, a administração escolar, as diferenças entre administração e gestão e os
tipos de gestão. No capítulo 2, escrevo sobre o que é liderança, os diferentes tipos de
liderança e seus líderes e, no capítulo 3 escrevo sobre as competências necessárias ao
líder, as relações interpessoais e as tomadas de decisão.
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Metodologia
Atualmente, é extremamente relevante que seja feito um estudo mais sério sobre
os diferentes tipos de líderes que encontramos na sociedade, para que seja possível
analisar criticamente a importância que eles têm numa gestão administrativa
participativa. O presente trabalho será elaborado a partir de pesquisas teóricas sobre o
tema a ser estudado, tendo como base os estudos de autores como Paro, Martins, luck,
entre outros.
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Sumário
Introdução 10
Capítulo 1 – A administração na Gestão Educacional 12
Capítulo 2 – A Liderança e seus Líderes 27
Capítulo 3 – O Líder na Gestão Administrativa Participativa 37
Conclusão 47
Bibliografia 49
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Introdução
Desde sua criação como instituição educacional, a escola vem sendo
gerida de forma elitizada, em que a classe dominante é detentora e
centralizadora do poder. Esse tipo de liderança vem sendo perpassada ao
longo dos anos e, exercida de forma meramente administrativa, sem haver uma
preocupação com a parte pedagógica e com as relações humanas presentes
no ambiente escolar.
Atualmente, com as constantes transformações que vem acontecendo
no mundo, seja em âmbito econômico, social, político e cultural, se faz
necessário que a escola também passe por mudanças em sua organização e
gerenciamento.
Essas transformações presentes na sociedade vigente e os avanços nos
estudos sobre educação, trazem a necessidade de a escola ser gerida não só
de forma administrativa, mas também, de forma participativa, por meio de
líderes presentes, comprometidos com o trabalho educacional e promovedores
de uma integração na equipe de trabalho.
A partir desse contexto, surgiu a preocupação de ter como tema desse
estudo A Importância do Líder numa Gestão Administrativa Participativa, o qual
tratará de assuntos relacionados com a administração e gestão educacional, a
liderança e os diferentes líderes a fim de fornecer orientações teóricas para
uma forma de gestão administrativa participativa.
Assim, o presente trabalho será elaborado com o objetivo de levar a uma
reflexão sobre a importância da atuação do líder numa gestão administrativa
participativa, tendo como base os estudos de alguns autores, tais como: Paro,
Martins, Hora, entre outros.
No primeiro capítulo, escrevo sobre a administração, seu surgimento,
seus aspectos e elementos, assim como a gestão e seus diferentes tipos; no
segundo capítulo falo sobre liderança, os diversos tipos de liderança e de
líderes e os estilos comportamentais desses; e, no terceiro capítulo abordo o
líder na gestão administrativa participativa, suas competências, o trabalho em
equipe e sua tomada de decisões.
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Por fim, relato as considerações finais sobre o tema estudado e as
referências bibliográficas que serviram de base para o presente trabalho.
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Capítulo 1
A Administração na Gestão Educacional
No presente capítulo, escrevo sobre o conceito de administração; seu
contexto histórico, abordando a administração científica, a teoria clássica, a
teoria das relações humanas; a administração escolar; o que é gestão; e, os
tipos de gestão educacional, democrática, participativa e administrativa,
procurando comentar sobre esses tópicos de forma clara e objetiva. Abordo
autores como: Paro, Luck, Libâneo, Teixeira.
1.1 – O Surgimento da Administração
A administração surgiu nas sociedades mais primitivas em razão da
necessidade de se resolver problemas de interesse comum e, com o passar
dos anos e o desenvolvimento da sociedade humana, foram surgindo novas
propostas de administração.
“A administração como é entendida e realizada hoje é
produto de longa evolução histórica e traz a marca das
contradições sociais e dos interesses políticos em jogo
na sociedade”. (Paro, 2008, p.18)
A passagem para o século XX determinou o início de um grande avanço
para a administração, o qual foi impulsionado pelo crescimento da revolução
industrial na América e, contou com a participação de várias pessoas. Uma das
mais importantes foi Frederick Wislow Taylor, criador e participante de maior
destaque da administração científica.
De suas observações e experiências, Taylor começou a desenvolver seu
sistema de administração de tarefas, procurando resolver os problemas
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relativos aos salários, ao aprimoramento dos métodos de trabalho e aos
objetivos da administração científica.
Segundo ele, a administração, primeiramente, deveria procurar descobrir
quanto tempo seria necessário para que um homem, dando seu melhor,
completasse uma tarefa, e, assim, seria possível estabelecer um pagamento
por peça de forma que o trabalhador se visse compelido a trabalhar o suficiente
para assegurar remuneração razoável.
Era uma busca pela eliminação do desperdício, da ociosidade operária e
da redução dos custos de produção, em que se via como única forma de se
obter a colaboração dos operários, o apelo aos planos de incentivos salariais e
de prêmios de produção, baseados no tempo padrão e na convicção de que o
salário constitui a única fonte de motivação para o trabalhador.
Os mecanismos ou técnicas usados nessa teoria seriam os estudos de
tempo e movimento, a padronização de ferramentas e instrumentos,
padronização de movimentos, conveniência de uma área de planejamento,
cartões de instruções, sistema de pagamento de acordo com o desempenho,
cálculo de custos. Taylor entendia esses dispositivos da eficiência como
auxiliadores ou maneiras de colocar em prática os princípios da administração
científica.
Com isso, pode-se dizer que uma das idéias fundamentais da
administração científica é que a produtividade resulta da eficiência do trabalho
e não da valorização do esforço, ou seja, o importante não é trabalhar muito,
depressa e com garra, mas sim, trabalhar de forma inteligente.
Outro grande nome da história da administração é Henry Fayol, pioneiro
da teoria clássica e, defensor de que a administração é uma atividade comum a
todos os empreendimentos humanos. Isto é, ela não se restringe somente às
empresas, mas também, à família, ao governo e, portanto, deveria ser
estudada por toda a sociedade.
Para ele, a administração era função distinta que compreendia cinco
funções elementares: planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar.
Assim, nessa perspectiva era preciso examinar o futuro e traçar um plano de
ação, montar uma estrutura humana e material para realizar o
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empreendimento, manter o pessoal ativo em toda a empresa, reunir, unificar e
harmonizar toda a atividade e esforço e, cuidar para que tudo se realizasse de
acordo com os planos e as ordens.
Com a teoria clássica do processo administrativo há uma divisão entre
administradores e executores e, Fayol contribuiu enormemente para isso ao
perceber a necessidade de organizar os funcionários das empresas, facilitando
a gerência dos diversos tipos de organizações por meio de agentes
possuidores de capacidade, qualidade e conhecimentos especiais. Portanto,
nessa teoria administrar é sinônimo de dirigir.
O processo de trabalho criado por Henry Ford, visando obter maior
intensidade, retoma e desenvolve o taylorismo. Ele desenvolveu a produção
em grande escala e, por meio do mesmo, surgiu o fordismo, que primeiramente
indicava o modo de desenvolvimento – articulação entre um regime de
acumulação intensiva e um modo de regulação e, que também era entendido
como um princípio geral da organização da produção.
No fordismo, a segmentação dos gestos do taylorismo torna-se a
segmentação das tarefas e o número dos postos de trabalho é multiplicado,
cada um recobrindo o menor número de atividades possíveis. O sistema
fordista percebe as organizações como máquinas e administrá-las significa
fixar metas e estabelecer formas de atingi-las, organizando tudo de forma
racional, clara e eficiente, detalhando todas as tarefas, principalmente as de
controle. E, as características marcantes das relações de trabalho são o amplo
reconhecimento das organizações sindicais para conseguir os direitos e
generalização dos procedimentos de negociação coletiva.
Max Weber também contribuiu para o desenvolvimento da
administração, sendo defensor de uma cultura e estrutura corporativa rígida.
Em sua proposta, argumentava que a forma de dominação mais eficiente de
organização se caracterizava por regras, controles e hierarquias rígidas,
impulsionada pela burocracia. Afirmava que a organização burocrática
possibilitava o exercício da autoridade e a obtenção da obediência com
precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiança.
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Weber introduziu o conceito de carisma nas organizações para dar
ênfase a tese de que a racionalidade moderna nos estava conduzindo a uma
sociedade burocrática. Ele considerou que o carisma era uma qualidade
extraordinária que levava a pessoa a exercer uma atração sobre as outras de
forma a ser obedecida, acreditada e adorada como um Deus.
Buscando humanizar e democratizar a administração, surge a teoria das
relações humanas e, junto com ela, a escola das relações humanas, que
revelavam uma nova maneira de enxergar as pessoas nas organizações,
passando a considerá-las em sua totalidade.
Através dessa teoria, fala-se em motivação, liderança, comunicação,
organização informal, dinâmica de grupo e, surge também, a concepção sobre
natureza do homem, o homem social, em que os trabalhadores são criaturas
sociais complexas, com sentimentos, desejos, etc; as pessoas são motivadas
por certas necessidades e alcançam suas primárias por meio dos grupos com
as quais interagem; o comportamento do grupo pode ser manipulado por meio
de um estilo de supervisão e liderança adequado.
Nessa teoria a motivação é um processo fundamental do
comportamento, que afeta o desempenho das pessoas e das organizações e,
segundo Elton Mayo, criador da escola das relações, o homem é motivado, não
por estímulos salariais e econômicos, mas por recompensas sociais, simbólicas
e não materiais.
Assim, a teoria das relações humanas foi essencial para o surgimento da
abordagem humanística, que se preocupa com as pessoas que compõem
organizações e não com as tarefas e a estrutura organizacional. As pessoas
são tratadas como a principal parte de uma organização, na qual as satisfações
de suas necessidades são cruciais para a disposição de trabalhar, gerando
com isso, o bem-estar em toda uma organização.
“(...) a atividade administrativa, enquanto utilização
racional de recursos para realização de fins, é condição
necessária da vida humana, estando presente em todos
os tipos de organização social (...) não obstante estar
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sujeita às múltiplas determinações sociais que a colocam
a serviço das forças e grupos dominantes na sociedade,
a administração se constitui num instrumento que como
tal, pode articular-se tanto com a conservação de status
quo quanto com a transformação social, dependendo dos
objetivos aos quais ela é posta a servir”. (Paro, 2008,
p.123)
1.2 – A Administração Escolar
Historicamente, a administração da educação no Brasil, em nome da
racionalização, tem oscilado entre a ênfase na burocratização, na tecnocracia,
na estrutura escolar e na gerência de verbas, com maior ou menor
centralização e com todas as variações do uso das leis, das máquinas e dos
modelos.
Hoje, mais do que nunca, reivindicam-se e esperam-se melhorias
também na qualidade de serviços educacionais de modo geral e da formação
básica de modo particular, apostando e considerando a capacidade de cada
pessoa para a construção do conhecimento, na condição de agente e de
sujeito que pensa, age, faz e reflete.
O mundo da educação diz respeito às pessoas e ao seu contexto sócio-
cultural, aos sujeitos, aos acontecimentos, aos conflitos de liberdade e de
decisão e às condições de vida, tanto em plano individual como coletivo.
Assim, é importante saber que a escola não é só o local onde a sociedade se
reproduz com suas vitórias e fracassos, é também uma reprodução das
estruturas existentes, na medida em que a educação é dialética e assume
forma de regulação ou libertação.
“A Administração Escolar não se faz no vazio, realizando-
se, em vez disso, no seio de uma formação econômico-
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social, e sendo, portanto, determinada pelas forças
sociais aí presentes”. (Paro, 2008, p.123)
Como parte da administração pública, a administração escolar como é
concebida hoje traz a marca das contradições e dos interesses políticos de
uma sociedade especificamente capitalista e sua articulação com os interesses
dominantes. É o estudo da organização e do funcionamento de uma escola ou
sistema escolar, com a finalidade de satisfazer as exigências da política da
educação e dos requisitos da pedagogia moderna. É uma administração
especializada, que se refere também a empreendimentos particulares, visto
que várias instituições mantêm estabelecimentos de diferentes graus de ensino
com os mesmos princípios administrativos.
A administração escolar pressupõe uma filosofia e uma política que a
norteiam, seguindo prioridade estabelecida para a educação resultante de uma
reflexão profunda, sistemática e contextual dos problemas educacionais da
realidade.
“A educação escolar não se faz separada dos interesses
e forças sociais presentes numa determinada situação
histórica. A administração escolar está, assim,
organicamente ligada à totalidade social, onde ela se
realiza e exerce sua ação”. (Paro, 2008, p.13)
No Brasil do século XX, a política percorre dois momentos distintos e
marcantes: o primeiro período correspondente à ditadura de Getúlio Vargas e
ao populismo nacionalista, e o segundo caracterizado pela instauração da
ditadura militar em 1964 até a conclusão dos trabalhos da Constituição de
1988.
O governo militar iniciado em 1964 caracterizava-se por empreender a
perseguição a professores, muitos deles presos e submetidos a torturas, e a
desmantelar os centros de representação estudantil. Entre 1968 e 1971, o
governo da ditadura realizou de modo autoritário as reformas do ensino
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universitário e médio, alterando a LDB de 1961, nesse período o ensino médio
transformou-se em profissionalizante, pois era desejado que se acreditasse
que assim seria possível conquistar uma escola unitária, que oferecesse a
todos o mesmo tipo de ensino: voltado para o trabalho.
Durante o momento mais cruel da ditadura militar, onde qualquer
expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, foi
instituída a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1971, que
regulamentava a formação educacional com cunho profissionalizante. Essa
política provocou graves efeitos na qualidade do ensino e a década foi marcada
por uma significativa ampliação da rede privada de ensino, tanto no seguimento
em nível superior quanto pelas escolas de nível médio.
Nos anos 70, o ensino passou a ser censurado e controlado pelas
autoridades que estavam no poder, porque os conteúdos das disciplinas
poderiam abordar aspectos sociais, políticos, econômicos e ideológicos da
sociedade brasileira, que não eram “interessantes” para a formação dos
alunos. O resultado de toda essa situação política e educacional foi a formação
de uma geração de cidadãos diluída, acrítica e desarticulada e, um dos
maiores prejuízos que essa geração suportou foi o desestímulo à participação
nas decisões.
A administração escolar, nesse contexto, contribuiu para que tal fato
ocorresse. Com a adoção da teoria geral da administração, o taylorismo em
particular, coloca-se a tarefa de administrar pessoas como se elas fossem
instrumentos, coisas ou recursos destituídos de vontade própria. A
administração da maioria das escolas tinha como objetivo disciplinar o
professor, destituir-lhe a autonomia e a iniciativa crítica, exercendo controles
inúmeros para realizar este intento, por meio da domesticação do
comportamento.
O poder centralizava-se no diretor que controlava diretamente a
realização de procedimentos técnicos buscando o alcance da produtividade, o
comportamento formal de funcionários e a elaboração de programas e normas
reguladoras de conduta profissional. O que se aplicava era um modelo de
gestão que almejava mais do que adaptar e moldar sujeitos, desejava
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assegurar o cumprimento do objetivo primário de cada organização e ao
mesmo tempo, desestimular professores e funcionários a ampliar sua
capacidade de reflexão.
Durante os anos 70 e início dos anos 80, a orientação dos programas
oficiais para a educação, nos aspectos relativos à administração escolar,
centra-se nos princípios do taylorismo e fayolismo e, dentro dessa concepção
aparecem os especialistas na organização do trabalho na escola, produto da
diversificação da divisão do trabalho.
O administrador escolar aparece neste contexto como o especialista em
administrar, o gerente que coordena e controla o trabalho alheio, recolhendo o
saber de todos em suas mãos. Esse papel atribuído ao diretor da escola, que
assume posição de especialista, contém em sua essência os princípios
tayloristas da gerência, como aquele que organiza, controla e administra.
A luta pelas liberdades democráticas, os primeiros grandes movimentos
grevistas, o movimento das diretas já pelo retorno das eleições para
governantes, a conquista da liberdade de organização partidária, entre tantas
outras no campo trabalhista, político e social, configuraram um clima por maior
participação e democratização das várias esferas da sociedade brasileira.
A escola, ainda hoje, está buscando as mudanças necessárias para que
haja espaço para a valorização dos professores, oportunidade de atualização
constante, condições adequadas para o exercício da profissão, plano de
carreira e salários mais justos e, também, uma administração que não seja
centralizadora, que respeite e pratique princípios democráticos.
Na administração a finalidade é conseguir economia de tempo, enquanto
que na administração escolar o objetivo é educar crianças, jovens e adultos. É
tarefa diferente de qualquer outra administração, muito mais complexa, que
envolve não somente as crianças, pais, mestres e funcionários, mas também,
toda a coletividade e os próprios interesses nacionais.
A educação é um trabalho não material em que o produto não se separa
do processo de produção, na escola não se tem setores de produção como
compra, venda, distribuição, mercado, onde o lucro pesa sobre os objetivos. A
escola deve ter objetivos muito mais elevados, deve formar cidadãos íntegros,
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que sejam úteis à comunidade e capazes de dirigir os destinos da pátria, ou
seja, trabalhar com pessoas e suas diferenças individuais.
Assim, ao examinar a importância da administração na escola e suas
peculiaridades, deve-se considerar a influência e a relação da escola no seu
contexto social e político, especialmente, a subjetividade na construção do
conhecimento, os valores e a hierarquia desses valores que presidem o
estabelecimento de metas e prioridades.
Na administração escolar deve-se levar em consideração o
conhecimento da realidade onde o processo educativo se desenvolverá, por
meio de uma coleta de dados sobre os aspectos significativos dessa realidade,
para que então seja estruturado um planejamento capaz de considerar os
múltiplos aspectos que deverão ser abrangidos pela ação administrativa.
Durante muito tempo, a administração da educação constituiu uma
tarefa bastante rudimentar e, as transformações que surgiram, tanto no interior
do sistema de ensino quanto no meio social, provocaram mudanças na
concepção da educação, do papel da escola na sociedade bem como dos seus
gestores.
1.3 – A Gestão e a Gestão da Escola
“Gestão é (...) caracterizada pelo reconhecimento da
importância da participação consciente e esclarecida das
pessoas nas decisões sobre a orientação e planejamento
de seu trabalho”. (Luck, 2006)
O conceito de gestão está associado ao fortalecimento da
democratização do processo pedagógico e à participação responsável de todos
nas decisões necessárias e na sua efetivação mediante a um compromisso
coletivo com resultados educacionais cada vez mais significativos. Gestão é
uma expressão que ganhou destaque no contexto educacional, acompanhando
uma mudança de paradigmas no caminho das questões desta área.
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A gestão não vem eliminar a administração, mas sim dar a ela um novo
significado, mais abrangente e transformador. Assim, a gestão educacional
desenvolve-se associada a outras idéias dinâmicas em educação como:
dimensão política e social, participação e vários outros fatores desenvolvidos
num contexto globalizado. Segundo Heloísa Luck (2006) a gestão educacional
surge em substituição à administração educacional, para representar não
apenas novas idéias, mas sim um novo paradigma, que busca estabelecer na
instituição uma orientação transformadora, a partir da dinamização da rede de
relações que ocorrem, dialeticamente, no seu contexto interno e externo.
Essa mudança deve ser considerada por todos os componentes da
organização escolar para que dessa forma, possam ser participantes ativos
que contribuem para o desenvolvimento total dessa organização, obtendo uma
visão totalizante e agindo efetivamente dentro desse contexto. É a
representação de uma mudança radical de postura, um novo enfoque de
organização, um novo paradigma das questões escolares, baseados nos
princípios de participação, autonomia, autocontrole e responsabilidade.
Há pouco tempo, dirigir uma escola era considerada uma tarefa de
rotina, o diretor zelava pelo bom funcionamento da escola, centralizando todas
as decisões em si mesmo e administrando os eventuais imprevistos. Porém,
com as constantes transformações na sociedade vigente, essa situação
mudou, exigindo um novo modelo de escola e, consequentemente, um novo
perfil de dirigente, com formação adequada e conhecimentos específicos para
o cargo de diretor – gestor, o qual procura despertar o potencial de cada
participante da instituição escolar, transformando a escola em um local de
trabalho onde todos cooperem, aprendam e ensinem todo o tempo.
“A organização escolar não é um espaço neutro a ser
observado, mas algo construído pela comunidade
educativa, envolvendo os professores, os alunos, os
pais”. (Libâneo, 2004, p.120)
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Em uma gestão é preciso superar limitações e permitir que todos os
componentes da escola partilhem de idéias, sugestões, planos e realizações
em prol do desenvolvimento educacional, ou seja, o diretor – gestor não é a
única razão de existência da escola, ela é estruturada por meio de uma
construção coletiva. Compete à gestão escolar estabelecer o direcionamento e
a mobilização capazes de sustentar e dinamizar a cultura das escolas, de
modo que sejam orientadas para resultados, em um ser e fazer caracterizados
por ações conjuntas, associadas e articuladas.
Administrar a escola numa sociedade em constante transformação,
requer um administrador que perceba as mudanças que estão ocorrendo,
prepare-se, torne-se competente para implementar o que o novo exige,
questione essas mudanças e retenha o que é bom e construtivo. Isto é, alguém
que seja capaz de acompanhar as mudanças não apenas em sua área de
conhecimento e ambiente de trabalho, mas também em outras áreas do saber
e na sociedade como um todo, percebendo que a escola não está isolada, e
por isso deve-se ter uma prática adequada, baseada em pressupostos
coerentes.
“Não há mais lugar para uma visão parcial da unidade
escolar com a divisão rígida em seu interior. (...) a
perspectiva burocrática de organização escolar deve dar
lugar a uma abordagem que considere as relações
processadas em seu interior”. (Teixeira, 1999, p.114)
O gestor de uma escola que caminhe com seu tempo necessita
perceber-se como um condutor do processo ensino – aprendizagem e não
somente como um gestor burocrático. A ele, cabe ser um educador que
entenda o social e o burocrático, desenvolvendo competências e habilidades
que favoreçam o trabalho coletivo, a liderança de grupos, a tomada de
decisões, o encaminhamento de soluções de problemas educacionais e a
construção de uma proposta pedagógica no âmbito da educação escolar, em
uma perspectiva de atuação profissional ética e com responsabilidade social.
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Em uma gestão da escola, deve-se saber olhar para o futuro e perceber
as tendências de mudança, aprendendo a investigar, analisar e interpretar os
novos desafios que surgem, enfrentando o novo com segurança. Nesse
contexto, revela-se a necessidade de um gestor que atue com clareza e
objetividade, e que tenha uma boa comunicação com a comunidade escolar.
1.4 – Os Tipos de Gestão Educacional
As instituições educacionais, por estarem inseridas em um contexto
social, devem ser entendidas como organismos vivos e dinâmicos, que se
caracterizam por uma rede de relações entre os elementos que nela interferem
direta ou indiretamente, e, isso exige um novo tipo de organização. Devido a
essa exigência, encontramos diferentes formas de gestão educacional.
1.4.1 – Gestão Democrática
A cultura política autoritária predominou durante muitos anos em nossa
sociedade e, consequentemente, em nossos estabelecimentos de ensino. A
educação no Brasil se desenvolvia por dois caminhos distintos: o primeiro
pregava a democratização sem se preocupar com a qualidade e o segundo
pregava a elitização de ensino em troca de qualidade. Pensando em um ensino
de qualidade acessível a todos, foi implantada a nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional 9394/96, que estabeleceu a democratização da gestão
nas escolas, uma gestão que busca a apropriação coletiva das salas de aula
pelos pais, professores, funcionários e alunos, os quais possuem liberdade no
processo de tomada de decisão para promover melhorias na qualidade de
ensino.
Ao realizar uma gestão democrática a escola acredita que todos juntos
têm mais chance de encontrar caminhos para atender às suas necessidades e
expectativas, ou seja, a educação é tarefa da família, governo e sociedade, e
para tanto, é necessário que todos participem do processo educacional de
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forma coletiva e organizada. Esse tipo de gestão deve ser vivenciada no dia-a-
dia das escolas, incorporada ao cotidiano de modo que se torne tão essencial à
vida escolar quanto à presença de professores e alunos.
Todas as pessoas ligadas à escola podem fazer-se representar e decidir
sobre os aspectos administrativos, financeiros e pedagógicos e, uma
democratização da gestão escolar, que leve em consideração condições legais,
políticas e estruturais e o apoio das secretarias de educação, é de grande
importância no início de uma jornada transformadora para a melhoria do
ensino.
O processo de gestão democrática constitui-se em uma ação, uma
prática da escola, que para acontecer deve estar associada à elaboração do
projeto político – pedagógico e à implantação do conselho escolar. É chegada
a hora do aprendizado conjunto, do compartilhar dessa nova escola que surge,
do fazer e responsabilizar-se pela construção da nova educação, onde todos
fazem parte do processo de gestão democrática.
1.4.2 – Gestão Participativa
A escola tem a finalidade de educar as pessoas para viverem em um
ambiente democrático e, o grande desafio da gestão educacional é a
complexidade do processo de ensino, o qual depende para seu
desenvolvimento e aperfeiçoamento da ação coletiva e espírito de equipe.
A tarefa educativa é extremamente complexa. O ato de ensinar requer a
existência de condições adequadas para que o educador possa conceber e
desenvolver o seu trabalho pedagógico. Nesse sentido a gestão participativa,
na medida em que se propicia o aperfeiçoamento da ação coletiva no interior
da escola, se apresenta como a alternativa mais adequada para criar as
condições favoráveis à melhoria da qualidade de ensino.
A gestão participativa possibilita a concepção de um projeto de escola
pensado pelo conjunto dos profissionais que, tendo o conhecimento da
realidade dos seus alunos, buscam soluções mais adequadas as suas
necessidades. O caminho para edificar novos padrões de qualidade nas
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escolas deve, necessariamente, abandonar as práticas individualistas tão
arraigadas no cotidiano escolar para construir alternativas pensadas a partir do
coletivo.
Para acontecer uma gestão participativa na escola é preciso que o
diretor, professores, alunos e pais se proponham a isso, e o êxito dessa
experiência dependerá da efetiva participação de todos os componentes desse
processo, o qual pode ser estimulado ou travado pelo diretor da instituição. E,
para que aconteça essa participação é necessário que o gestor se proponha,
conscientemente, a impor o menos possível, a aceitar o processo participativo,
a superar o medo de ser julgado e de perder alguns privilégios, a conviver com
idéias diferentes e contraditórias as suas, e a conter sua tendência
centralizadora e individualista ao tomar decisões.
A participação é uma conquista diária e conseqüência do fortalecimento
do sentido de responsabilidade dos indivíduos.
1.4.3 – Gestão Administrativa
A gestão administrativa deve preocupar-se com as dimensões internas e
externas da escola, fazendo uma análise de sua realidade, seus recursos
disponíveis, sua dimensão humana, político – social para que então possa
traçar um planejamento adequado.
Esse tipo de gestão deve cuidar para que haja um relacionamento
dinâmico e proveitoso entre a escola e as famílias, as instituições da
comunidade, os órgãos financiadores e de supervisão entre outros, assim
como também precisa estabelecer um equilíbrio entre os diversos setores da
organização escolar, promovendo um bom relacionamento entre as pessoas e
um balanceamento nas atividades e recursos.
Nessa gestão cuida-se da parte física (o prédio, os equipamentos que a
escola possui), pois em um ambiente agradável a aprendizagem torna-se
eficaz, contribuindo para que o aluno não tendencie a evasão; e da parte
institucional (a legislação escolar, direitos e deveres, atividades de secretaria) e
suas especificidades estão enunciadas no plano escolar e regimento escolar.
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A elaboração do regimento escolar deve ser realizada sob a liderança do
gestor, considerando o fato de que é um documento que constitui a base legal
da escola e sintetiza os procedimentos que regulam as relações institucionais
referentes aos aspectos administrativos e pedagógicos. Esse gestor também
deve participar da elaboração da proposta pedagógica, que sintetiza as
reflexões e as decisões assumidas pela equipe escolar, traduzindo os
princípios, objetivos e diretrizes que serão consolidados no regimento.
A gestão administrativa não pode deixar de considerar o plano de
gestão, o qual apresenta o processo ensino – aprendizagem detalhadamente,
tendo sido realizado a partir do estudo da realidade, estabelecendo metas e
apresentando os conteúdos de modo organizado e baseado em conceitos
fundamentais que devem ser compreendidos pelos educandos no decorrer do
ano letivo.
“A educação escolar tem a tarefa de promover a
apropriação de saberes, procedimentos, atitudes e
valores por parte dos alunos, pela ação mediadora dos
professores e pela organização e gestão da escola”.
(Libâneo, 2008, p.137)
Cabe à escola assegurar o desenvolvimento das capacidades
cognitivas, sociais e emocionais, criando oportunidades para que seus alunos
se desenvolvam, construam e reconstruam o saber, por meio de um
pensamento crítico e participativo na formação da cidadania.
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Capítulo 2
A Liderança e seus Líderes
Neste capítulo descrevo o que vem a ser liderança; os tipos de liderança