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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
A igreja miditica:
uma anlise da Igreja Universal do Reino de Deus on-line
Odlinari Ramon Nascimento da SILVA1
Resumo
O presente estudo traz tona o processo de midiatizao das igrejas
evanglicas brasileiras
atentando para as mudanas no discurso religioso. A partir da
anlise de um programa de
rdio, denominado Palavra Amiga, retransmitido pelo canal de TV
do site Arca Universal,
IURDTV, observamos o uso macio dos meios de comunicao por uma
instituio religiosa
que cresce surpreendentemente no pas. A Igreja Universal do
Reino de Deus, atravs de seus
dispositivos comunicacionais, se mantm no topo das igrejas que
mais usam os aparatos
tecnolgicos para divulgar e garantir seu espao numa sociedade do
espetculo. Na anlise do
programa escolhido foi observado empiricamente o contedo dos
discursos proferidos pelo
lder mximo da igreja, o bispo Edir Macedo. Alm de enfatizar a
trajetria dessas novas
religiosidades miditicas com o objetivo de gerar um novo
ambiente religioso no pas. Mais
atual e totalmente modificado por conta da utilizao dos variados
meios comunicacionais.
Palavras-Chave: Midiatizao. Religiosidades. Espetculo.
Introduo
Na contemporaneidade, a realidade midiatizada e logo percebemos
sua
transformao por conta da midiatizao. E nesse mundo miditico, as
relaes da mdia com
outras esferas sociais, logo, tende a midiatizar as relaes com
seus agentes.
O foco deste trabalho est baseado na midiatizao da religio,
especialmente na
utilidade dos meios de comunicao por parte das igrejas
evanglicas, considerando o maior
exemplo desse uso, a igreja Universal do Reino de Deus
(IURD).
interessante constatar que no caso da IURD, j no encontramos
mais um grande
lder que use um determinado meio para pregar aos seus fiis. O
grande lder fundador dessa
igreja, bispo Edir Macedo, a muito no faz aparies televisivas.
Em contrapartida, utiliza-se
1 Graduado em Comunicao Social, habilitao Rdio e TV, pela
UFPB.
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muito do rdio e agora da internet com um canal 24 horas no ar.
Contudo o uso da televiso
por parte da IURD bastante amplo.
O motivo que me levou a estudar esse fenmeno foi o meu interesse
em
analisar/compreender o processo de midiatizao das igrejas
evanglicas.
A concepo dessas religiosidades que olham o mundo miditico
apenas como
dispositivo tecnolgico, debaixo de suas alegaes de que no podem
cumprir o Ide do
Senhor Jesus para evangelizar sem que haja o auxlio dos modernos
meios de comunicao,
tm preocupado vrios pesquisadores em Comunicao em todo o
pas.
Esta pesquisa, alm de somar a uma srie de estudos j realizados
no Brasil por
professores, estudantes e interessados no assunto, faz sentido
pelo motivo da forte ligao
cotidiana, simblica e imaginria do fenmeno religio e mdia.
Entender como a midiatizao, enquanto processo transformador com
o objetivo de
gerar um novo ambiente do ser e estar, vem transformando as
igrejas evanglicas que
fazem parte de um campo religioso que se articula com o campo
comunicacional.
Estudar a midiatizao das igrejas evanglicas contribuir na
construo do alicerce
de um projeto que j vem requerendo muito esforo e cuidado por
parte de seus pesquisadores
e essa contribuio a fim de construirmos uma rea de estudo mais
consolidada, se configura
na justificativa desta pesquisa, enquanto trabalho de concluso
de curso de graduao na rea
da Comunicao Social.
Esse estudo, por fim, tende refletir sobre a relao, cada vez
mais intrnseca, entre
mdia e religio e o crescimento dessas novas religiosidades
miditicas no Brasil, com olhares
voltados ao fenmeno iurdiano.
1 Noo de campos sociais e suas interaes
Compreender as funcionalidades e as interaes dos Campos Sociais,
os quais formam
a sociedade e a define como um grande conjunto estruturado em
pequenos universos, nos leva
a citarmos alguns autores que, com o mesmo intuito de estudar o
fenmeno da midiatizao
da sociedade, debruaram-se sobre a definio de Campo.
Cabe aqui, recorrermos ao socilogo francs, Pierre Bourdieu, que
nos transmite o
conceito de Campos Sociais a partir de uma inspirao nos mbiles
de Calder (1898-1976)
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com o objetivo de visualizar a sociedade por meio de pequenos
universos que se articulam
entre si. Loyola (2002) entrevistou Bourdieu e registrou onde o
socilogo foi buscar a
definio para Campos Sociais:
Pierre Bourdieu se inspirou nos mbiles de Calder para visualizar
a
sociedade na formao de pequenos universos que balanavam uns
em
relao aos outros, representando assim os campos sociais onde a
sociedade
se forma em um conjunto de espaos de jogos relativamente
autnomos no
subordinando-se a uma lgica social nica. Assim as peas do
mbile
poderiam constituir vrios campos especficos como os: econmico,
poltico,
religioso, miditico, jurdico, da sade, etc. Nesses campos
estruturam-se
foras objetivas que formam uma configurao relacional, dotada de
uma
fora gravitacional prpria, capaz de impor sua lgica a todos os
agentes que
nele penetram. (LOYOLA, 2002, p. 67)
Para desenvolver suas reflexes acerca do tema, Lus Mauro S
Martino, no livro
Mdia e poder simblico, definiu objetivamente a noo de Campo j
desenvolvida por
Bourdieu:
A noo de campo pode ser entendida como espao estruturado de
posies, ocupadas por agentes em competio (pessoas ou
instituies),
cuja lgica de funcionamento independe desses agentes. Dessa
forma, o
campo se define primeiramente como espao, lugar abstrato, onde
age o
pessoal especializado no jogo pela conquista da hegemonia,
prerrogativa de
determinar as prticas legtimas em cada campo. (MARTINO, 2003, p.
32)
Notamos que ao se definir como espao social, cada campo j produz
seu prprio tipo
de relao social, ou seja, cada escola ou igreja, por exemplo,
enquanto espao social
produzir conseqentemente sua prpria relao social que, na
verdade, se apresenta sob
vrios interesses de seus agentes: espao geogrfico, profisso,
classe social, grau de
instruo e outros. Cada campo social possui suas
processualidades.
O campo social pressupe uma disputa ou conflito em torno de
uma
experincia, fazendo com que tenha o domnio de determinada rea,
que
superintende e conduz autonomamente. Cada campo social dotado de
sua
prpria processualidade ritualstica e visibilidade simblica.
(SAPPER,
2003, p. 2)
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No caso especfico de uma igreja, os LDERES RELIGIOSOS
(conhecimento e
respeito) e os FIIS em geral (consumo esperado) so espaos
sociais que independem da
pessoa que ocupa essa posio.
Bourdieu chama esses espaos determinados de CAMPO, segundo
Martino (2003):
A gnese e estrutura das prticas sociais constituem a maior parte
das
preocupaes doutrinrias de Pierre Bourdieu (Choses dites).
Procurando
superar tanto as concepes subjetivistas quanto objetivistas da
ao social,
o autor francs identifica a ao social nas relaes entre
estruturas
incorporadas de ao, denominada por ele de habitus, e as
estruturas
objetivas regras de ao, educao formal, gostos, relaes de produo
e
concorrncia de cada espao social, os campos. (MARTINO, 2003, p.
12)
Tentar compreender as anlises de Bourdieu sobre campo sem
refletir respeito do
que ele mesmo chama de habitus correr um grande risco de m
interpretao processual,
pois para o autor, a existncia pr-estabelecida desse ltimo
garante o funcionamento dos
espaos sociais que formam a sociedade.
Ao indicar que a noo de interao na ao social (Weber) em
grande
parte condicionada por elementos preexistentes dentro de uma
sociedade,
anteriores ao sujeito (Durkheim), por sua vez estruturadas de
acordo com a
posio em um sistema de classes (Marx), fica patente a
originalidade da
sntese de Pierre Bourdieu para a explicao da ao e da cognio
pelos
agentes sociais. (MARTINO, 2003, p. 77)
Ao nascer, o indivduo j encontra estabelecidas todas as lies que
norteiam a vida
prtica social, que, na verdade, regem as aes sociais de carter
moral, econmico,
educacional, poltico, religioso, etc. Com seu aprendizado obtido
por meio de relaes com
outros indivduos, este novo homem acaba interiorizando sua
maneira de agir corretamente.
Essa habituao apreendida em aes sociais do presente acaba se
tornando
corriqueira em semelhantes aes do futuro, numa espcie, de que
quem aprendeu, aprendeu
para o resto da vida inteira.
As tradies religiosas transmitidas de pai para filho so exemplos
fceis que podemos
utilizar para a nossa compreenso de habitus, enquanto um
princpio estruturador de aes,
percepes e comportamentos.
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No nvel dos exemplos, Martino (2003:75) traz que a postura
corporal, a linguagem, as
capacidades de aprendizado e at o gosto esttico do indivduo so
gerados pelo habitus,
elemento responsvel pelo reconhecimento do mundo social. Tomamos
at a ousadia em
definir esse habitus como responsvel pela formao dos elementos
que geram o
conhecimento scio-cognitivo do indivduo.
Pesquisadores da rea de comunicao trazem algumas anlises sobre o
referido
assunto. Para Ricardo Fiegenbaum (2006:1), o processo de
racionalizao e fragmentao dos
diversos domnios da experincia, ou seja, o processo de
secularizao ou desencantamento
do mundo, resultou no que chamamos de Campos Sociais, e por sua
vez, o desenvolvimento
das novas tecnologias de informao e comunicao trouxe novas
formas de interao social
no tempo e no espao fazendo surgir o campo das mdias, ou melhor,
como chamamos nesse
trabalho, de campo miditico.
A ao dentro de cada espao social, por parte dos agentes j
especializados no jogo,
gera um conflito de campos com o objetivo de adquirir
legitimidade e conquistar a hegemonia
na esfera pblica. com essa ao que o campo miditico, o
centralizador das interaes,
interage com os demais espaos, inclusive com aquele do qual
estamos tratando nesta
pesquisa, o religioso.
Podemos ressaltar algumas funes na mediao do campo miditico ao
promover a
interao dos demais campos sociais, das quais as principais so a
de organizao da
sociedade, de articulao dos outros campos sociais entre si e de
exposio dos campos
sociais na esfera pblica, ou seja, o campo miditico possui um
papel central, trazendo para a
esfera pblica os demais campos sociais e organizando a interao
entre eles, para enfim,
gerar uma nova racionalidade ou uma nova ambincia.
A varivel da religio entra como parte ativa de uma economia
simblica
responsvel por diversas aes cotidianas, na qual os meios de
comunicao
funcionam como elemento central. A religio considerada um
conjunto
simblico distribudo via mdia, assim como qualquer outro faz o
mesmo uso
do espao da imprensa para disputar a hegemonia na sociedade
civil. O que
se tem, enfim, a busca, por parte das instituies, de legitimao
perante a
sociedade, a fim de divulgar suas ideologias. (MARTINO, 2003, p.
9 e 11)
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Os agentes atuantes dentro de um campo so os indivduos e as
instituies que lutam
o tempo todo pelo monoplio legtimo das prerrogativas da esfera
pblica valendo-se de
artifcios para alcanar seus objetivos. J que os campos esto em
total conexo entre si.
Essa busca pela hegemonia em todos os campos faz com que os
agentes em disputa
sejam atacados indistintamente enquanto participantes de uma
rede. E logo percebemos que
essa interao define-se numa articulao de conflitos.
Por conseqncia da dinmica das relaes no espao social religioso,
ao qual suas
instituies pertencem, percebemos uma renovao ou busca pelo
reconhecimento atravs de
cada participante numa espcie de voz corrente da instituio. Por
isso, faz-se necessrio a
aplicao legal de reconhecimento legtimo e imediato perante a
sociedade e por essa
aplicao imediata, que as instituies recorrem aos meios de
comunicao como
potenciadores de canais ideolgicos institucionais.
A compreenso dessa interao miditica com o religioso leva aos
estudiosos em
Comunicao dedicarem seu tempo no estudo do fenmeno que cresce
surpreendentemente
no Brasil, com a imerso exacerbada de todas as religiosidades no
uso dos meios de
comunicao.
2 Midiatizao da sociedade
No captulo anterior procuramos explicitar, a partir de todos os
campos sociais de
Bourdieu, o funcionamento das estruturas que regem a sociedade e
percebemos a importncia
do campo miditico, por estar no centro dessa estrutura
legitimando e interagindo com as
prprias interaes/processos dos demais campos sociais. Neste
captulo faremos uma
reflexo, do ponto vista da comunicao, acerca da midiatizao das
esferas sociais.
Temos a conscincia de que definir a midiatizao da sociedade a
partir de um ponto
de vista comunicacional analisar o processo de forma perifrica,
assim como tambm
escolher e analisar um dos campos sociais j citados acima.
Segundo Ferreira (2006) a reflexo geral da midiatizao leva
necessariamente o
pesquisador a percorrer sobre os conceitos de indivduo, sujeito,
ator, agente, sociedade,
instituio, interaes, mercados, valores, condutas, subjetividade,
cognio, inconsciente,
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conscincia, ideologia, estrutura, linguagem e etc. uma gama
terica to vasta quanto
complexa sua anlise.
Ferreira (2006) ainda adverte o comuniclogo sobre a dificuldade
que a ida s fontes
durante esse movimento terico provoca e isso pode acarretar,
muitas vezes, em
aprisionamento aos problemas tpicos produzidos em outros campos
e disciplinas acadmicas,
onde milhares de investigadores se dedicam aos sofisticados
debates de diferenciao dos
conhecimentos relativos aos objetos por eles constitudos.
Por uma relao complexa, a midiatizao para Fiegenbaum (2006:6) de
difcil
conceituao. Contudo, o termo j designa um aspecto fundamental
das mudanas sociais
resultadas da sociedade contempornea. E mais do que isso, tem
nos meios de comunicao o
principal vetor de interferncia nessas mudanas sociais.
Por isso faz-se necessrio analisar a midiatizao do campo
religioso especificamente,
mas antes, refletir sobre as interaes particulares do campo que
compe atualmente o centro
da estrutura social. Nesse sentido, o esforo terico sobre a
midiatizao requisita um
conjunto conceitual prprio do campo acadmico da comunicao, ou
seja, algo em ao
atravs das mdias.
Sabemos tambm que nem sempre o mundo se apresentou dessa
maneira. Com o
decorrer dos anos, a tecnologia e a cincia proporcionaram novas
formas de conhecimento e
os meios de comunicao dos quais conhecemos hoje, so frutos desse
desenvolvimento
tecnolgico da humanidade.
Vale salientar que a partir do advento da secularizao e da
emergncia da
modernidade, a religio, por exemplo, perdeu o lugar central que
ocupava no mundo,
tornando-se uma espcie de acessrio, uma presena perifrica, mais
um campo na
complexidade de campos sociais, desnecessrio para a compreenso e
explicao do mundo e
da vida em sociedade. E nisso a tecnologia teve uma importante
contribuio.
O conceito no unvoco, desdobrando-se em duas dimenses:
desencantamento do mundo pela religio e pela cincia. A primeira
remete
ao processo de desmagificao procedida pela religio tica, cujo
incio
remonta aos profetas pr-exlicos israelitas, tendo alcanado o seu
pice com
o protestantismo asctico racionalizado; a segunda se deu
pelo
desenvolvimento da cincia, do clculo e da tecnologia, que
relegaram a
religio ao mbito do irracional e a destituram de sua proeminncia
na vida
social. (PIERUCCI, 2001, apud, OLIVEIRA, 2009, p. 46)
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Segundo Flores e Barichello (2009), a tecnologia tomada no
apenas como
instrumento, mas como fator modificador dos processos e
ambientes sociais, bem como
potencializador de novas formas de atuao.
As transformaes sociais advinda do desenvolvimento tecnolgico no
esto
relacionadas apenas a uma sucesso de inventos e sim, a
capacidade estimulada pela
necessidade humana em completar-se enquanto indivduo no fazer
social.
A cada nova tecnologia que se instaura na sociedade esto
embutidas novas
possibilidades de sentido e de controle do natural e do social
pelo homem. E
cada vez que o uso de uma nova tecnologia incorporado na
atividade
humana tende a ser um uso socializado (FLORES e BARICHELLO,
2009,
pg. 04).
Tais modificaes no surgem na sociedade por meros determinismos
tecnolgicos,
mas se estabelecem enquanto parte de um modelo cultural.
Peruzzolo2 (2006 apud FLORES;
BARICHELLO, 2009, p.3) numa nova cultura marcada pela tecnologia
e pelo miditico
apenas para se estabelecer na sociedade por se constituir em
resposta s necessidades e
anseios dos indivduos e que, por isso, acabam sendo fixadas como
formas privilegiadas de
relao.
Segundo Christa Berge (2007), enquanto os tericos da cultura de
massa pensam os
meios como transportadores de sentido, de mensagens de interao
entre produtores e
receptores, a cultura miditica no instrumental, mas constitutiva
da estrutura social.
Mais de que uma tecno-interao, est surgindo um novo modo de ser
no mundo,
representado pela midiatizao da sociedade. E essa midiatizao,
segundo Gomes (2008:21),
a reconfigurao de uma ecologia comunicacional.
Mas afinal, o que Midiatizao?
Processo pelo qual a mdia fica localizada no centro da
sociedade
expandindo suas lgicas para os demais campos sociais (FLORES
e
BARICHELO, 2009, p. 6).
2 PERUZZOLO, Adair Caetano. A Comunicao como encontro. Bauru:
Edusc, 2006.
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Para Chista Berge (2007), a sociedade contempornea uma sociedade
midiatizada,
ou seja, uma sociedade em que a mdia formata e modela os demais
campos sociais.
Os mecanismos e regras prprios do fazer miditico no ficam mais
restritos aos
meios de comunicao, mas configuram a atuao de outros atores
sociais. Dessa forma, a
midiatizao pode ser considerada como prtica social, pois
reconfigura a atuao dos demais
campos sociais.
medida que vai ocupando um lugar central na constituio da
sociedade da
informao, o campo das mdias vai no s mediando os demais campos
sociais como
tambm se autonomiza, mostrando, apresentando, objetivando o
mundo e os indivduos dos
outros campos sociais a partir de si.
Braga3 (2006 apud FLORES; BARICHELLO, 2009, p.3) considera a
midiatizao
como processo de interao que caminha para o lugar de referncia
na sociedade, porm no
sendo ainda um processo estabelecido ou terminado, mas em
implantao.
Ao construir a realidade, essas maneiras de interao atravessadas
pelas lgicas
miditicas vo acarretar a organizao de um ambiente igualmente
midiatizado, um novo bios
ou uma nova ambincia, defendida por Sodr4. Com a midiatizao da
sociedade, foi
implantado um novo modo de pensar e estruturar a sociedade
atravs da tecno-interao
tecnologia um novo bios.
De acordo com esse ponto de vista, a mdia uma nova qualificao da
vida. Como
uma nova ambincia, a mdia encena uma nova ordem moral objetiva
em consentimento com
o conjunto de mudanas cognitivas e morais necessrias lgica do
consumo.
J as novas religiosidades, de acordo com Fiegenbaum (2006), so
um produto gerado
por essa nova ambincia miditica, ou seja, elas j so um produto
miditico, no sentido em
que se apresentam como religiosidades que emergem da mdia.
Segundo Fausto Neto (2006: 04), estamos diante de uma nova forma
de organizao
e produo social, onde o capital j no estaria mais apenas a
servio das estruturas, mas dos
fluxos e das informaes.
3 BRAGA, Jos Luiz. A sociedade enfrenta sua mdia: dispositivos
sociais de crtica miditica. So Paulo: Paulus,
2006. 4 SODR, Muniz. Antropolgica do espelho. Por uma teoria da
comunicao linear e em rede. Petrpolis/RJ:
Vozes, 2002.
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Ao pensarmos na midiatizao da sociedade e nas novas tecnologias
de informao
estamos tentados a fixar o nosso olhar nas caractersticas
tcnicas dos aparatos e deixarmos de
lado a relao desse novo ambiente com o fazer humano.
Estamos vivendo os benefcios e malefcios da chamada cultura
miditica, j que a
midiatizao se tornou intrnseca a realidade.
A midiatizao da realidade to forte nos dias atuais que se os
processos sociais no
forem midiatizados sua verdadeira existncia fica posta em
xeque.
Agora como se o mundo vivesse numa total transparncia de ser, ou
seja, a realidade
agora totalmente midiatizada, pois o jornalismo alm de informar,
deve corresponder ao
fluxo ininterrupto de informaes, com a ideologia de mostrar
tudo.
Para entendermos melhor o fenmeno da midiatizao, vlido citar o
exemplo do
campo jornalstico, pois este possui maior visibilidade na esfera
social por questes de sua
interao com o campo miditico. A ideia de mostrar a realidade do
jeito que ela , por meio
de um jornalista isento e independente do fato em questo, que
representa essa realidade ao
utilizar um espelho social derrubada por uma srie de fatores que
intervm na escolha de
determinado fato que se torna midiatizado: O primeiro fator que
cada agente social j possui
seu prprio conhecimento de mundo adquirido por meio dos habitus
e que interfere
fortemente nessa representao; o segundo refere-se ao escolher o
fato para midiatiz-lo, pois
como Martino (2003:93) cita a observao que Walter Lipmann fez em
A natureza da notcia
atravs de um estudo sobre os meios de comunicao de massa, ainda
que trabalhassem
todas as horas do dia, todos os reprteres do mundo no poderiam
presenciar todos os
acontecimentos mundiais.
Toda essa midiatizao refere-se visibilidade do que invisvel na
sociedade. Assim
como explica Dom Cludio Hummes, ao se referir ao marketing
religioso na revista
marketing catlico, diz que:
O marketing uma forma de dar visibilidade ao que se quer propor
ao
pblico. Deus que invisvel, quis tornar-se visvel no meio de ns
(...). A
igreja no pode ser invisvel. (...). Tudo confirma que a
visibilidade
caracterstica essencial da igreja nesse mundo.
O marketing aplicado aos assuntos da igreja ajuda a faz-la mais
visvel na
sociedade de hoje. O termo marketing profano, pois fala de
mercado, de
como vender melhor seu produto. Ao contrrio, Deus oferece a
salvao
gratuitamente.
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Por essa razo, preciso explicar bem a expresso marketing, no
caso de
assuntos da igreja, no se trata de vender mas de tornar visvel
(HUMMES,
apud OLIVEIRA, 2009, p. 43)
Aqui entramos no sentido de produo do capital simblico promovido
pelas
instituies religiosas e por isso, cabe-nos entender como a
igreja sobrevive e legitima seus
servios numa sociedade miditica.
3 Midiatizao do campo religioso
Inicio este captulo com uma citao de Fausto Neto (2004), para
mostrar o
crescimento da igreja miditica, no nosso caso a IURD, no
incentivo ao uso dos meios de
comunicao, com o objetivo de formar um imprio comunicacional
servio dos assuntos da
prpria instituio, 24 horas por dia.
Edir Macedo, autor de mais de 22 livros, controla duas redes de
TV, uma
rede de rdio, o jornal Folha Universal com tiragem superior um
milho de
exemplares dirios, uma revista mensal, o portal Arca Universal,
duas
grficas, editora, empresa de processamento de dados,
construtora, agncia
de viagens, gravadora de disco, alm de associaes de negcios na
rea da
informtica e na poltica nacional. (FAUSTO NETO, 2004, p.
146)
Passados sete anos de massificao ideolgica institucional, a
igreja chefiada pelo
bispo Edir Macedo s fez aumentar esse patrimnio miditico. A IURD
se constitui na maior
instituio religiosa do pas em questo de mbito comunicacional.
Atualmente, na mdia
televisiva existem 22 emissoras geradoras da Igreja Universal em
contrapartida das 7
emissoras evanglicas de diversas denominaes.
Mas para entendermos o porqu que os lderes evanglicos se
interessam tanto por
mdia, precisamos compreender como se deu e como funcionam as
articulaes do campo
religioso numa sociedade midiatizada.
Cada igreja possui seus determinados dispositivos miditicos para
atrair cada vez mais
seus fiis de acordo com sua especfica necessidade de manuteno.
Mas existe uma lgica no
uso dos meios de comunicao por parte do campo religioso, de que
essa utilizao miditica
se faz necessria por motivos de expanso e facilidades em pregar
o Evangelho de Cristo de
forma massificada. E agora com o surgimento das novas mdias, a
igreja no s utiliza para
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pregar a Palavra como tambm para manter fiel s instituies,
queles que tm simpatia em
relao aos ideais de uma igreja evanglica.
Do ponto de vista histrico, existem distines entre igrejas
tradicionais e
igrejas emergentes, o que tambm estabelece referenciais
diferentes de
prtica e culto. As primeiras, representadas pelo catolicismo
e
protestantismo, sempre fizeram uso dos meios de comunicao de
massa
como instrumentos condutores de suas mensagens; j as novas
igrejas,
nascem geneticamente produzidas pela mdia, particularmente a
televiso
este seu habitat. O que significa que estas correspondem ao bios
miditico,
enquanto que as primeiras precisam assimilar esta tendncia
para
sobreviverem num contexto de competio e de constante inovao
tecnolgica. Ou seja, a relevncia religiosa supe o domnio da
lgica
miditica. (OLIVEIRA, 2009, p. 42)
O campo religioso se apropria das novas configuraes do espao
miditico para
legitimar e atualizar a existncia das velhas igrejas, ou melhor,
das igrejas tradicionais,
com o objetivo de reconfigurar o mercado religioso.
Em contrapartida ao que afirma o lder evanglico Fernandes de
Oliveira (2009),
Martino (2003:48), ao citar Cndido Camargo, o primeiro socilogo
brasileiro a estudar o
fenmeno, diz que as religies tradicionais parecem ter uma
capacidade maior do que as
novas denominaes/religiosidades, sendo a tradio um instrumento
fundamental para o
processo de modernizao de mentalidades.
No se concentrando em adaptaes por parte de corrente A ou B no
campo miditico,
percebemos, e isso fundamental para nossa reflexo, que o mercado
religioso brasileiro est
apresentando mudanas de relaes de mbito religioso e agora
mercadolgico. J que a
utilizao em larga escala dos meios de comunicao est longe de ser
apenas um meio de
divulgao, passa a ser a principal arma nessa batalha simblica
pelos fiis.
O xito das religies miditicas colaborou para a expanso do
mercado religioso, e
confirma, portanto, a relevncia da religio no somente na sua
dimenso sobrenatural, mas
tambm como promotora de sentido para a existncia e como
instrumento provedor de
solues para as mazelas da vida cotidiana, inclusive as de
natureza material.
Mesmo com esse mercado em ascenso no pas, ainda existem pessoas,
inclusive
pesquisadores, que no do a importncia mnima ao fenmeno religioso
no Brasil.
Reconheo que com o processo de secularizao da sociedade (cincia
e tecnologia) o campo
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religioso tornou-se cada vez mais desintegrado, perdendo espao
no que tange s
determinaes da vida social. A cincia e os avanos tecnolgicos
comearam a confrontar do
ponto de vista do indivduo, o dogma (o dito sagrado) das
instituies.
Mas tomo aqui a ousadia de fazer trs perguntas bsicas com o
objetivo de que os
mais cticos reflitam sobre a importncia do crescimento do campo
religioso na mdia: (1)
Como possvel algo que est desaparecendo ter tanta fora? (2) Se a
religio pouco importa
na vida cotidiana, o que fazem milhares de pessoas nos templos
das mais diversas seitas
religiosas? E por fim, como se formam bancadas evanglicas nas
cmaras legislativas,
interferindo ativamente no cenrio poltico, costurando alianas e
indicando candidatos?
Desde o sculo passado, Max Weber 5proclamava que seria
impossvel, mesmo com a
secularizao da sociedade, atravs do pensamento racional e da
modernidade, o mundo viver
desprovido de crenas, ou melhor, de religiosidades. E um sculo
depois, percebemos a
coerncia da concepo de Weber ao tratar da dominao do campo
religioso na sociedade.
possvel perceber o acirramento prtico dos conflitos de campo e
suas
conflitualidades internas, defendidas h anos por Bordieu, quando
pensou numa sociedade
estruturada em universos que brigam para existir, ou melhor,
para serem notados. O
pensamento bourdiano reflete sobre a ideia de que o campo
religioso tem por funo
satisfazer um tipo de interesse, se fazendo tambm um campo de
luta para justificar a ao de
uma classe.
Ao alocar os complexos mecanismos dos meios de comunicao
para
estabelecer e manter sua posio dentro do campo religioso, ao
mesmo
tempo que procura expandir-se em outras instncias, as instituies
adaptam
suas estratgias de representao s exigncias da modernidade.
(MARTINO, 2003, p. 56)
A pluralidade de instituies religiosas gera uma disputa cada vez
mais acirrada pelos
fiis e isso ns percebemos bem, no interesse que cada instituio
religiosa mantm com os
meios de comunicao, com o objetivo de resgatar o fiel dentro de
sua prpria casa.
Esse resgate refere-se a dois nveis de pertencimento instituio
por parte dos fiis: o
primeiro nvel trata-se da busca pelo novo; aquele que resgatado
para se tornar proslito de
5 WEBER, Max. Textos selecionados. Os pensadores. So Paulo:
Abril, 1980.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
determinada igreja, enquanto o segundo, refere-se manuteno desse
fiel, j resgatado, e s
estratgias de luta com o objetivo de no permitir que ele parta
para a concorrncia.
Quando os indivduos nascem, encontram j feitas as regras para a
prtica de sua vida
religiosa e basta isso, segundo Martino (2003:24), para que a
violncia simblica promovida
pelas instituies entre em ao. Para garantir essas estratgias de
luta interna, os dispositivos
miditicos possuem relevncia, pois a noo do certo-errado est
presente em todos os
veculos religiosos. Ou o indivduo aceita as imposies de
determinada instituio ou ele vai
procurar outra, mas nunca vai deixar de ser influenciado
institucionalmente. Porque a
instituio existe independentemente de um indivduo apreci-la ou
no.
O poder de um indivduo diante de uma instituio zero. Sem
significar
exclusivamente violncia fsica, o poder coercitivo da instituio
sempre
uma violncia, sob qualquer forma de manifestao, pois condiciona
o
indivduo a um comportamento que segue os padres de expectativa
do
grupo. (MARTINO, 2003, p. 23)
O que se v hoje, verdadeiramente, so acirradas disputas
denominacionais no cenrio
religioso. Cada igreja preocupa-se com seu rebanho e quanto mais
ela usar das emoes
para comover o fiel e promover o servio institucional por meio
da mdia, estar legitimando
os discursos religiosos de seus lderes eclesisticos, por
exemplo, como observa Patriota:
Os discursos so alicerados sobre temas pessoais e figuras
pblicas.
Histrias sensacionalistas de vida so expostas nos meios de
comunicao, o
que acaba por reforar o culto ao personalismo, afinal, os lderes
religiosos
que ocupam os horrios dos mass media, tm seus discursos
religiosos
legitimados pela mdia, mesmo que haja uma notvel adequao
mercadolgica em seus contedos.
Essas e outras caractersticas peculiares promoveram e
sustentaram a
transformao de diversas igrejas, classificadas como crists, em
grandes
indstrias de comunicao, na medida que tais instituies adquirem
ou
montam grandes conglomerados comunicacionais. Tais igrejas
apresentam
objetivos comerciais bem definidos, com metas a serem atingidas
que
passam pelo acrscimo na margem dos lucros, pela maior participao
de
mercado at a abertura de novas frentes, com maior coberturas
geogrficas.
(PATRIOTA, 2007, p. 2)
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
3.1 A relao entre mdia e religio
O fenmeno da relao das igrejas com o campo social da mdia no
recente, apesar
de obter enorme expressividade nas dcadas do sculo XX, segundo
Gomes (2010).
Os metodistas foram os primeiros a tentar adequar o
Protestantismo s necessidades de
uma massa urbana, que vivia sobre o impacto de uma revoluo
industrial inglesa.
O precursor John Wesley, no sculo XVIII, costumava, junto com os
metodistas,
pregar em mina de carvo, em cima de caixotes nos mercados
pblicos, inclusive em
cemitrios. Eles saam pregando pelas ruas da cidade, com o
intuito de conseguir mais fiis
para a congregao.
Nos Estados Unidos a radiodifuso religiosa comeou em janeiro de
1921, quando o
servio vespertino da Igreja Episcopal do Calvrio, em Pittsburgh,
foi transmitido pela
primeira estao comercial da Amrica, a KDKA, surgindo o que
chamamos de fenmeno da
midiatizao da religio.
J na Inglaterra, o Reverendo J. A. Mayo, no natal de 1922,
utilizou-se da estrutura da
BBC. Pouco depois, John Reith, primeiro diretor geral da BBC,
convida os pastores para
participarem da formulao da poltica religiosa da BBC.
Segundo dados de uma pesquisa desenvolvida por William
Biernatzki6, (1991 apud
GOMES, 2010, p. 49) os pases lderes, no incio da era do rdio, em
matria de receptores,
at 1930, foram os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido.
Frana, Itlia, Holanda e
Dinamarca tambm possuam altas porcentagens de receptores para as
suas populaes.
A velocidade com que o tele-evangelismo ampliou o uso da
televiso foi
impressionante, mas provavelmente no excedeu a velocidade com a
qual os pregadores de
uma gerao anterior fizeram do rdio. A primeira rdio comercial
comeou em 1920, e, em
janeiro de 1925, 63 de 600 estaes em operao nos EUA disseram
pertencer a igrejas ou
grupos religiosos.
Mas foi o pentecostalismo americano na chamada poca do
Reavivamento Religioso,
na dcada de 40, com o pastor Billy Graham, um dos grandes
religiosos americanos pioneiros
do rdio e da televiso, que impulsionou os tele-evangelistas a
buscarem o dispositivo
6 BIERNATZKI, William E. Boletim. Communication Research Trends,
vol. 11, n. 1, pp. 2-5, 1991.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
televisivo para alcanar o maior nmero de fiis. Graham pertenceu
ao que Gomes (2010)
chama de Primeira Onda Miditica.
H 30 anos, as velhas igrejas se estruturavam e pensavam suas
estratgias de
evangelizao atravs de sermes evangelsticos, cultos realizados
fora do templo,
normalmente nas residncias dos fiis e nas visitas porta a
porta.
Na primeira dcada do sculo XXI, surgem as igrejas miditicas e as
novas igrejas
terapeutas que configuraram um novo espao para o ambiente social
e religioso do pas.
Essa nova articulao do campo religioso com a cultura miditica
reconfigura um
novo mtodo e habitat do plano simblico da igreja. Fausto Neto
(2004) afirma que essas
apropriaes da religio no campo miditico so:
Configuraes que se reportam s novas articulaes dos campos
sociais,
circunstncias em que o campo religioso apropria-se da cultura e
dos
processos miditicos no s para atualizar a existncia dos velhos
templos,
mas tambm para construir sua presena em novos processos de
disputas de
sentidos. Tal apropriao visa a reconfigurao do mercado
religioso; a
prtica de captura dos fiis, especificamente, a apresentao da
religio no
como um fenmeno abstrato, e/ou doutrinrio, mas como um servio
de
atendimento s demandas fsicas e mentais segundo o regime do aqui
e
agora. (FAUSTO NETO, 2004, pg.142).
As igrejas neopentecostais so caracterizadas por elementos
discursivos, modificados
pela midiatizao, e por ter grande apelo popular, como por
exemplo, a cura, a busca pela
prosperidade material, o equilbrio psicolgico diante dos
problemas de cada indivduo, os
sermes advindos sempre do lder da igreja e a confisso
positiva.
Podemos perceber que a relao entre mdia e religio to intrnseca,
que notamos ao
longo da histria o sucesso dos tele-evangelistas, principalmente
americanos e hoje
brasileiros, devido ao aparato dos recursos tecnolgicos e os
dispositivos miditicos. Essas
ferramentas proporcionaram o prprio crescimento da credibilidade
desses pastores perante
o pblico.
Agora para entendermos todo o processo enquadrado na expresso
mdia e religio,
como afirma Martino (2003) ao citar mais uma vez Boudieu e seu
livro Meditaes
pascalianas, no basta compreendermos as formas simblicas de tipo
religioso nem sequer a
estrutura imanente da mensagem religiosa ou do corpus mitolgico,
como os estruturalistas,
mas na verdade, trata-se de observar os produtores da mensagem
religiosa, os interesses
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
especficos que a animam e as estratgias que empregam na luta.
Essa anlise, por fim, trata-
se de meu objeto de estudo que a anlise dos discursos produzidos
e manipulados pelos
lderes da Igreja Universal num programa de rdio. Esta anlise est
voltada aos discursos do
bispo Macedo no programa dirio Palavra Amiga da rdio 99,3 FM em
So Paulo e
retransmitido pelo mais novo canal da igreja, o IURDTV.
Essas estratgias que animam os interesses dos produtores
religiosos e enchem os
olhos do pblico fiel esto atreladas a uma teatralizao do campo
religioso, ou melhor, da
liturgia dos novos templos miditicos. Por isso, abro um
parnteses para explicitar melhor
essa questo, antes de chegarmos a prpria anlise dos discursos,
modificados pela
espetacularizao, desses lderes religiosos, e dedico um nico
captulo ao espetculo do
sagrado.
4 A religio do espetculo
Este captulo objetiva fazer uma contextualizao do cenrio
religioso brasileiro na
sociedade do espetculo. Para isso, consideremos a reflexo
empreendida pelo pensador
francs Guy Debord, em seu livro A Sociedade do Espetculo, em
1967, atravs de 221
pequenas teses, como de suma importncia para apreendermos o
fenmeno religioso atual, j
que a obra de Debord instaura uma nova forma de pensar o
conceito de espetculo.
Vale recorrer a Patriota (2007) que define espetculo a partir da
prpria significao
da palavra.
Spetaculum, cuja raiz semntica (latina) de espetculo, tem como
sentido e
essncia, tudo que atrai e prende o olhar e a ateno. Ou, como
Gomes
(2003) explana: specto (spectare) como olhar, ver, considerar,
observar;
spectalum como o que se d a ver, o aspecto, o espetculo;
spectatio
(spectationis) como o ato de olhar, o defrute visual, a viso de
algo; e o
spectator (spectatoris) como quem v, o observador, o espectador.
Ou
ainda de acordo com o dicionrio, espetculo tambm definido
como
perspectiva; contemplao; representao teatral; diverso pblica
em
circos; cena ridcula, escndalo. (PATRIOTA, 2007, p. 3)
Detentora de vrias significaes pode-se estabelecer o olhar e o
observar como ponto
comum nessa primeira definio gramatical para o fenmeno
espetculo.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
A IURD, por exemplo, traz consigo todas as caractersticas
fundamentais das
novas religiosidades surgidas como produto miditico. Essas
religiosidades
operam sob a lgica do contato ou contgio, isto , uma economia
do
contato que enseja a seus praticantes no apenas muita coisa para
escutar,
mas algo a mais para olhar, tocar e sentir (Fausto Neto, 2004,
p. 60).
Da o porqu que as novas religiosidades preferem a televiso,
enquanto meio
massificador, no sentido de contgio; para que o que acontea no
interior dos templos
ganhe visibilidade, alm de ser apreciado por um auditrio de
fiis, resultando dessa
maneira em caractersticas imagticas.
Debord no utilizou em sua obra dos sinnimos estabelecidos acima,
mas deixa bem
claro no contexto geral o que real e o que representado, ou
melhor, espetacularizado. Para
ele, a sociedade na qual vivemos sociedade do espetculo,
produzida pela onipresena da
mdia.
Sob todas as suas formas particulares, informao ou
propaganda,
publicidade ou consumo direto de divertimentos, o espetculo
constitui o
modelo presente da vida socialmente dominante. Ele a afirmao
onipresente da escolha j feita na produo, e o seu corolrio o
consumo.
Forma e contedo do espetculo so identicamente a justificao total
das
condies e dos fins do sistema existente. (DEBORD, 1997, p.
10-11)
Na verdade, o espetculo de que tratamos aqui est mais
relacionado ao perodo
Moderno da sociedade, ou ps-moderno, como define alguns tericos,
dentre eles Vattimo7
(1992 apud OLIVEIRA, 2009, p.32) definindo o ps-moderno como o
fato de vivermos em
uma sociedade de comunicao generalizada, a sociedade miditica.
Para este autor, os meios
de comunicao foram fundamentais no processo de rompimento com os
pontos de vista
centrais, que tentavam dar conta da explicao da realidade, como
por exemplo, a
desintegrao da religio no processo de secularizao do mundo, como
j observamos nos
captulos anteriores.
Para o pensamento debordiano, o espetculo o momento em que a
mercadoria
preenche o total da vida social, deixando claro o conceito de
sociedade.
7 VATTIMO, Gianni. O Fim da Modernidade. Niilismo e Hermenutica
Ps-Moderna. So Paulo: Martins Fontes,
1992.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Segundo o entendimento de Sodr (2002), o espetculo no est
restrito ao campo das
mdias, mas existe tambm fora dele:
No falta quem relativize o poder da mdia, lembrando que as
Testemunhas
de Jeov, sem rdio e televiso, figuravam entre as maiores
igrejas
evanglicas do pas. Mas preciso atentar para o fato de que o
miditico,
enquanto categoria particular da forma-espetculo pode existir
fora dos
suportes tecnolgicos, na medida em que coincida com o mundo em
si
separado da ao poltica imediata do homem e organizado pela
abstrao
mgica do espetculo ou da profecia. Ou seja, a comunicatividade
em si
mesma torna-se espetacular e fascinante (SODR, 2002, p. 69)
5 A histria do protestantismo no Brasil
Fao agora um breve registro histrico das origens do
pentecostalismo no contexto do
protestantismo no Brasil, fazendo um resumo da implantao do
pentecostalismo at o
surgimento das igrejas neopentecostais brasileiras, das quais
emerge a IURD como principal
representante.
Analisando o protestantismo brasileiro e suas diversidades,
Freston8 (1993 apud
OLIVEIRA, 2009, p.118), cientista poltico e especialista em
religio, afirma que o
divisionismo protestante no Brasil iniciou-se com os
missionrios, fincou o p na tradio
brasileira de catolicismo leigo e terreiro concorrentes, e
alimenta-se agora da enorme
expanso de um pblico religioso flutuante.
Uma matria da Revista POCA de 9 de agosto de 2010, entitulada Os
novos
evanglicos, faz uma retrospectiva do desenvolvimento histrico da
religio crist no mundo,
e faz necessrio recorrer a ela para entendermos o
desenvolvimento do pentecostalismo
brasileiro.
As primeiras comunidades crists, fundadas pelos apstolos em
cidades de Israel
foram denominadas de Igreja Primitiva. Com o advento do Dia de
Pentecostes, protagonizado
pelo movimento do Espirto Santo, e descrito no captulo 2 de Atos
dos Apstolos na Bblia
8 FRESTON, Paul. Protestantes e Poltica no Brasil: da
Constituinte ao Impeachment. Campinas/SP: Tese de
Doutorado em Sociologia do IFCH-UNICAMP, 1993.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Sagrada, a Igreja Primitiva foi a responsvel por propagar e
expandir, aos confins da Terra, o
Evangelho. Tendo como centro a figura de Jesus Cristo, o Filho
de Deus.
Em 380 d.C., o imperador Constantino instituiu o cristianismo
como religio oficial do
Imprio Romano, assimilando prticas pags e tradies do imprio. Com
essa instituio de
Constantino, nasce o Catolicismo Romano, ou melhor, Igreja
Catlica Apostlica Romana
que mantm no Brasil cerca de 125 milhes de fiis.
Aps rupturas formando novos movimentos como a Igreja Ortodoxa
(sculo XI) e os
Cristos Pr-Reforma (sculo XII), a Igreja Catlica sofre uma de
suas maiores cises, dessa
vez, liderada pelo padre alemo Martinho Lutero, o primeiro
tradutor da Bblia para a lngua
alem. Em 1517, ele se levantou contra a corrupo, as indulgncias
e os desvios teolgicos
da Igreja Romana. A Reforma Protestante influenciou outros
telogos, como o francs Joo
Calvino (1509-1564), que conseqentemente, fundou a Igreja
Reformada Calvinista em 1536.
Igrejas como Anglicana, fundada pelo rei da Inglaterra, Henrique
VIII, em 1534; a Batista,
criada em 1609 por John Smith; a Metodista, fundada em 1739 pelo
pregador John Wesley; a
Presbiteriana e a prpria Luterana seguem a mesma linha ideolgica
desenvolvida por Lutero.
J alguns protestantes, ou melhor, cristos reformistas entendem
ter razes em
movimentos pr-reforma. Eles se definiram simplesmente como
Evanglicos. O termo
tornou-se sinmino para todo cristo no catlico. No Brasil,
existem cerca de 53 milhes de
evanglicos que crescem a cada coleta do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica
(IBGE), podendo ser metade da populao brasileira em 2022.
Um movimento surgido nos anos de 1900 entre os evanglicos nos
Estados Unidos,
mais especificamente na Azuza Street, tendo como precursores
alguns tele-evangelistas e
muitos missionrios, dos quais desembarcaram no Brasil, os
dividiu e trouxe tona uma nova
denominao para os evanglicos em geral: Pentecostais. Fiis
metodistas insatisfeitos com a
falta de fervor em suas igrejas, buscavam manifestaes
sobrenaturais, como as citadas nos
Atos dos Apstolos.
A histria do desenvolvimento do pentecostalismo no Brasil, da
chegada dos
missionrios pentecostais at ao hegemnico neopentecostalismo de
hoje, pode ser descrita
atravs da seguinte tipologia, proposta por Freston (1993, apud,
OLIVEIRA, 2009, p. 118):
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
PROTESTANTISMO DE MISSO
Batista Congregacional Episcopal Metodista Presbiteriana
PROTESTANTISMO DE MIGRAO
Anglicana Luterana Reformada
PENTECOSTAIS
Assembleia de Deus Congregao Crist
no Brasil
Igreja de Deus Igreja Pentecostal
PENTECOSTAIS AUTNOMOS
Casa da
Bno
Deus
Amor
Evangelho
Quadrangular
Maranata Nova
Vida
O Brasil
para
Cristo
Universal
do Reino
de Deus
CARISMTICOS
Batista de Renovao Crist Presbiteriana Metodista Wesleyana
PSEUDO-PROTESTANTES
Adventistas Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos ltimos Dias
Testemunhas de Jeov
Os pentecostais chegaram ao Brasil em 1910, trazendo conceitos
novos dentro do
protestantismo. No perodo de 1910 a 1950, fase do
Pentecostalismo Clssico ou Primeira
Onda do Pentecostalismo Brasileiro, o falar em lnguas com nfase
no batismo com o
Esprito Santo, o uso e costumes com nfase na santidade pessoal e
as realizaes de cultos
pblicos eram caractersticas marcantes das duas igrejas que mais
cresceram no pas nessa
primeira fase: Assembleia de Deus e Congregao Crist no Brasil,
tendo uma exceo em
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
relao a essa ltima por fazer parte de seu modelo, a no realizao
de pregaes em lugares
pblicos. Estima-se que no Brasil, 68% dos evanglicos so
pentecostais.
Os fundadores da Misso da F Apostlica, que logo depois passou a
ser chamada de
Assembleia de Deus em 1918, foram os missionrios suecos de
origem batista, Daniel Berg e
Gunnar Vingren, que desembarcaram na cidade de Belm, no Par.
Freston (1993), nos apresenta a figura desses missionrios suecos
em posies
contrrias aos missionrios americanos que vinham ao Brasil:
[...] desprezavam a igreja estatal com seu alto status social e
poltico e seu
clero culto e teologicamente liberal. Desconfiavam da social
democracia,
ainda atingida pelo secularismo (...) por isso, eram portadores
de uma
religio leiga e contra cultural, resistente erudio teolgica e
modesta nas
aspiraes sociais (...) acostumados com a marginalizao, no
possuam a
preocupao com a ascenso social to tpica dos missionrios
americanos
formados no denominacionalismo (...) em vez da ousadia de
conquistadores,
tinham uma postura de sofrimento, martrio e marginalizao
cultural.
(FRESTON, apud OLIVEIRA, 2009, p. 122)
Inclusive neste ano de Centenrio da Assembleia de Deus9, os
principais veculos de
comunicao do pas esto dedicando pginas de jornais e revistas
para constatar as mudanas
ocorridas no interior da maior igreja pentecostal do pas.
9 ARAJO, Isael de. Dicionrio do Movimento Pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 2011.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Fonte: Revista Isto. Um pastor moderno entre os radicais.
Publicao de 20 de maio de 2011.
Nos anos de 1950 a 1970, perodo que compreendeu a Segunda Onda
do
Pentecostalismo Brasileiro, houve um crescimento exacerbado de
denominaes da
Assembleia de Deus. E enquanto no primeiro perodo, a pregao dos
evanglicos estava
voltada para o bastimo com o Esprito Santo; na segunda fase, os
discursos foram baseados
nos atos de cura. As mensagens passaram a ser difundidas nas
rdios e em concentraes
pblicas nos ginsios de esportes e estdios de futebol.
Nota-se que nesses anos, o pas passava por uma grande
transformao no cenrio
urbano com o xodo rural, especialmente em So Paulo e Rio de
Janeiro.
No incio desse novo perodo, chegaram a So Paulo, dois
missionrios norte-
americanos da International Church of The Foursquare Gospel e
logo fundaram a Igreja do
Evangelho Quadrangular (1951). Outras diversas igrejas surgiram
a partir dessa nova onda
como o Ministrio Cristo Vive; O Brasil para Cristo (1955), sendo
a primeira igreja do
movimento pentecostal a ser criada por um brasileiro e a
investir em programas de rdio e
TV; Igreja Pentecostal Deus Amor (1962), Casa da Bno, Igreja
Unida e Igreja de Nova
Vida.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Na Terceira Onda do Pentecostalismo no Brasil, a partir dos anos
1970, surge uma
ramificao pentecostal que denominada de evanglicos
neopentecostais que pregam a
teologia da prosperidade e a confisso positiva. Quase no h nfase
no falar em lnguas, os
usos e costumes so abolidos de vez, apresentam o foco dos seus
discursos nas curas e
conseguem atingir os pblicos da classe A e B. Vale recorrer ao
que Patriota (2003) chama de
neopentecostalismo, ao consider-los uma corrente doutrinria,
totalmente brasileira, que
prega prosperidade financeira e espiritual na Terra, atravs de
lderes carismticos que
anunciam suas posies de ministros e profetas de Deus.
Segundo eles, a f do cristo determinante para o sucesso
material. Os
neopentecostais so os evanglicos mais conhecidos do pas, por
freqentarem as ditas Igrejas
Miditicas. Os pastores neopentecostais possuem uma forte
administrao empresarial nas
igrejas. No caso, eles investem massiamente em rdio e TV, como
por exemplo, a Igreja
Universal do Reino de Deus, fundada em 1977, e encabeada pelo
bispo Edir Macedo; a
Internacional da Graa de Deus, fundada pelo cunhado de Edir
Macedo, Romildo Ribeiro
Soares ou R. R. Soares, em 1980; a Renascer em Cristo, fundada
em 1986 pelos apstolos
Estevam e Snia Hernandes; a Comunidade Evanglica Sara Nossa
Terra, organizada em
1992, pelos bispos Robson e Maria Lcia Rodovalho e a Igreja
Mundial do Poder de Deus,
liderada pelo apstolo Valdemiro Santiago.
Vale ressaltar uma mudana de comportamento em relao ao uso dos
meios de
comunicao por parte da Assembleia de Deus. Nos ltimos anos, esta
igreja est investindo
seus recursos financeiros nas criaes de estdio de TV e rdio,
construo de pginas na
internet, inclusive uma rede social prpria, revistas mensais,
jornais peridicos e outros
dispositivos que legitimam sua existncia na sociedade
miditica.
Segundo o socilogo Mariano (1999), as igrejas citadas acima
compem o que ele
chama de Autnomas. So vistas como autnomas por ter independncia
financeira e
eclesistica das igrejas pentecostais em relao a suas matrizes
nacionais ou estrangeiras.
composta por uma populao flutuante e descompromissada, no
possuindo um corpo fixo de
fiis.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
5.1 O histrico da maior igreja miditica do pas
Tudo comeou em 9 de julho de 1977, quando se abriram
oficialmente as primeiras
portas da Igreja Universal, na Av. Suburbana, 7702, no bairro da
Abolio, zona norte do Rio
de Janeiro, que sem condies de alugar um imvel prprio, o ento
pastor Edir Bezerra
Macedo iniciou as suas primeiras reunies num coreto do Jardim do
Mier, que aquela poca
as divulgaes da igreja era feita por dez obreiros, que colavam
folhetos nos postes e
convidavam as pessoas para participar das reunies. Observa-se
nesse primeiro momento, que
a Igreja Universal j ingressava no mbito miditico para expandir
seus servios e conseguir o
maior nmero de fiis possveis. Depois de algum tempo, Macedo
alugou um galpo que era
uma antiga fbrica de mveis.
Antes de fundar a IURD, Edir Macedo fundou a Cruzada Caminho
Eterno. Ainda
como membro da Cruzada, foi ordenado pastor pela igreja
pentecostal Casa da Bno.
Aps o fracasso da Cruzada Caminho Eterno, Edir Macedo, com o
apoio do
cunhado R. R. Soares, decidiu criar uma prpria igreja.
Aps trs anos de criao da igreja, R. R. Soares desligou-se da
Universal e fundou
a Igreja Internacional da Graa.
No perodo de trs anos, Edir Macedo expandiu a igreja pelo
exterior criando o
primeiro templo da Universal nos Estados Unidos em 1980, alm de
romper as fronteiras
estaduais brasileiras em So Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paran e
nos principais centros
urbanos do pas.
Nos grandes centros urbanos, a massificao da vida j era uma
realidade.
Naquela poca, dois teros da populao brasileira vivia nas
grandes
cidades. O cidado urbano, especialmente o morador da periferia,
afastado
do seu mundo original, perde muito dos seus referenciais
simblicos
importantes. medida que esses elos simblicos vo sendo cortados,
vazios
existenciais vo surgindo, o que leva esse homem a buscar
desesperadamente algo que satisfaa suas necessidades de sentido
e de f.
exatamente nas grandes cidades, particularmente Rio de Janeiro e
So Paulo,
que a IURD vai firmar sua base e procurar preencher os vazios
desse
homem, levando-o a reencontrar-se consigo mesmo e encontrar o
caminho
para sua felicidade. (OLIVEIRA, 2009, p. 137)
Os outros continentes foram escolhidos para sediar a Igreja
Universal gradativamente.
Portugal foi o primeiro pas europeu, em 1989, a ter uma igreja
chefiada por Edir Macedo.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Na sia, a Universal escolheu o Japo para ser o primeiro pas
desse continente a
expandir o imprio universal religioso, em 1996.
Atualmente, a sede da Igreja Universal do Reino de Deus a
Catedral Mundial da F,
localizada na zona norte do Rio de Janeiro, tambm conhecida como
Templo da Glria do
Novo Israel.
Em 2010, a igreja anunciou a construo do maior templo evanglico
do pas, o qual
ser chamado de Templo de Salomo, por ser uma rplica da construo
do Templo de
Salomo que a Bblia cita, localizado na capital de Israel,
Jerusalm.
O mega-templo ser construdo no bairro do Brs, em So Paulo, ter
capacidade
aproximada para comportar 13 mil pessoas sentadas. Possuir
altura equivalente ao prdio de
18 andares e dois subsolos. Alm de abrigar um grande estdio de
TV e um de rdio.
Segundo o bispo Edir Macedo, a construo do templo terminar em
2014, ano em que
o Brasil sediar a Copa do Mundo.
Conforme o quadro abaixo, a IURD com 34 anos de fundao, mostra
que o imprio
adquirido ultrapassa os limites especficos do campo
religioso.
RAMIFICAO Neopentecostal
FUNDADOR Edir Macedo
ORIGEM 1977
SEDE Catedral Mundial da F
MEMBROS 8 milhes de fiis
TEMPLOS Cerca de 13.000/mundo
4.800/Brasil
PASES EM QUE ATUA Mais de 100 pases
Fonte:
http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/evangelicos/em_resumo.html
A IURD incorpora os dispositivos de comunicao na sua plenitude,
pois abrange a
produo, tecnologias, linguagens, discurso, recepo e
circulao.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
5.2 O maior portal religioso do pas na viso iurdiana10
Nos anos 90, a nova aposta na formao do imprio miditico iurdiano
foi a internet.
Os primeiros sites surgiram de maneira amadora, quando obreiros,
pastores e alguns fiis
criavam as pginas em nome da igreja para interagir e discutir
assuntos bblicos. Aps essas
criaes amadoras, o prximo passo foi disponibilizar todo o
contedo do jornal Folha
Universal, um dos principais veculos de comunicao do sistema
empresarial da IURD, com
matrias completas, pedidos de orao, fotos dos cultos e templos.
Atualmente o Folha
Universal comemorou a srie de 1.000 edies publicadas para todo o
pas.
O objetivo do portal era criar uma central nica de
entretenimento e jornalismo para os
fiis. Por isso, sites como o da Folha Universal, da Revista
Plenitude e de outros veculos de
cunho jornalstico-religioso foram incorporados ao um novo
portal: Arca Universal.
O portal Arca Universal foi lanado no dia 30 de abril de 2001 e
nasceu tambm da
ideia de levar a Palavra de Deus s pessoas que esto necessitando
de um conforto espiritual,
independente do lugar onde residam. Romper as barreiras
geogrficas para ajudar os aflitos
foi o anseio do bispo Macedo ao idealizar o Arca Universal.
O surgimento do Arca Universal ocorreu concomitantemente ao
lanamento de outros
portais como os da Globo.com e do UOL, demonstrando que a IURD
sempre acompanha o
surgimento das inovaes tecnolgicas do grande mercado.
O portal vem conseguindo, mensalmente, mais de 14 milhes de
pginas visitadas,
atingindo assim o topo entre os portais evanglicos e alguns
seculares. A tecnologia de ponta
permite aos milhares de usurios ficarem conectados com segurana
e qualidade, para
interagirem com pessoas de vrios pases.
Alm da evangelizao e do conforto espiritual, o portal tem, tambm
espao para
notcias de entretenimento, cultura, esporte, sade, dicas de
economia, mercado de trabalho,
beleza, notcias de mbito nacional e internacional.
10
Disponvel em: . Acessado em: 20 fev. 2011, 18h24min.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Alm de conter mensagens do bispo Macedo com estudos bblicos,
contm tambm
uma bblia on-line, frum, auto-ajuda e fornece ainda um servio de
torpedos via SMS.
6 IURDTV: uma igreja digital
Vivemos, hoje, num ambiente chamado convencionalmente de
sociedade miditica.
Vivemos numa sociedade onde as relaes sociais so mediatizadas,
ou seja, so
intermediadas pelos instrumentos da mdia, que o conjunto dos
meios de comunicao, tais
como: jornal, rdio, televiso, internet, cinema, outdoors,
propagandas, etc.
Tornou-se inevitvel o encontro da Igreja com as tecnologias da
comunicao. A
sociedade atual imediatista e a vida da mensagem crist e a sua
transmisso esto
confrontadas com esta sociedade e seus meios de comunicao.
A figura acima exemplifica o fato de uma instituio religiosa em
midiatizar seus
servios eclesisticos. O anncio desta figura refere-se ao momento
em que o lder maior da
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) estaria ao vivo num
estdio de rdio para
proclamar mais uma de suas mensagens teolgicas, atravs do
portal, para milhares de fiis
conectados no mundo inteiro.
Logo quando foi fundada, a IURD ficava com suas portas abertas
24 horas por dia a
fim de atender seus fiis e pessoas que lhes procurava para
aconselhamentos. Hoje, por conta
do aumento no ndice de violncia em todo o pas, os templos da
IURD fecham meia-noite,
mas as centrais telefnicas, os programas de rdio e TV e os
servios na internet (atendimento
on-line, chat, enquetes, programas ao vivo pela web-rdio e
web-TV) funcionam
normalmente durante 24 horas por dia, sem parar um minuto
sequer.
Com o objetivo de manter seus fiis informados respeito dos seus
servios, a
Universal do Reino de Deus lanou mais um veculo de comunicao, a
IURDTV, que pode
ser acessada atravs do portal Arca Universal
(www.arcauniversal.com/iurdtv). O intuito
transmitir reunies, eventos e mensagens dos bispos e pastores da
igreja.
Esta pesquisa analisa a IURDTV, mais especificamente a
retransmisso do programa
Palavra Amiga do bispo Edir Macedo, que inclusive lanou, no dia
11 de maio de 2011, o
canal de TV iurdiano que pretende ficar no ar durante 24 horas
por dia, apresentando
programas ao vivo e gravados.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Este programa apresentado pelo bispo maior da igreja, auxiliado
pelo bispo Guaracy.
O Palavra Amiga transmitido, de segunda a sexta, pela rdio 99,3
FM em So Paulo/Brasil,
no horrio da manh. E retransmitido pela IURDTV no horrio da
noite.
Palavra Amiga com os bispos Macedo, no meio, e Guaracy,
esquerda. (Programa exibido no dia 11/06/2011)
Fonte: www.arcauniversal.com
Alm de orientaes sobre as reunies da igreja, o Palavra Amiga
apresenta
testemunhos de vida com pessoas que vo ao estdio da rdio,
localizado numa das catedrais
de So Paulo.
Palavra Amiga com o bispo Macedo recebendo os convidados para
testemunhar seus respeitos. (Programa do dia 09/06/2011)
Fonte: www.arcauniversal.com/tviurdi
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Essas pessoas que so levadas ao estdio para testemunhar respeito
de suas vidas
antes de ingressar na igreja Universal retratam sempre os mesmos
temas: casamento
destrudo, drogas, crise financeira, depresso, dentre outros.
Todas as pessoas testemunham
sobre a soluo desses problemas ao participar dos cultos da
IURD.
Por ser um programa de rdio que possui convergncia miditica, o
Palavra Amiga
no possui nenhuma estrutura espetacular de cenrio. Porm, sua
linguagem, formato e
discurso o que mais interessa a esta pesquisa.
Mas antes de citar as caractersticas gerais do programa,
importante termos uma
noo do que seria convergncia miditica.
Vivemos um tempo em que somos ouvintes e telespectadores ao
mesmo tempo e ainda
interagimos com o apresentador de tal programa que est sendo
transmitido por mais de um
veculo de comunicao. Isso s possvel por causa da convergncia
miditica de alguns
programas.
Porm para conceituar esse termo, vale recorrer a Henry
Jenkins11
que denomina de
convergncia miditica a tendncia que os meios de comunicao esto
aderindo para poder
se adaptar a internet, usando este suporte como canal para
distribuio de seu produto.
Com o advento da internet, os meios de comunicao sofreram um
pouco com as
perdas de audincia e de assinaturas, por exemplo, as revistas e
os jornais. As empresas
prevendo no poder concorrer com esse novo suporte se aliaram a
ele, da surge a
convergncia, onde as vrias mdias podem ser encontradas na
internet. Percebemos que o
rdio tambm ganhou maiores propores com a convergncia para a
internet.
Voltando a anlise do Palavra Amiga, a figura central do programa
o bispo Macedo
e percebemos isso at na ordem dos apresentadores. Todos os dias,
o bispo Edir Macedo
senta-se no centro da mesa, ladeado direita pelo Guaracy e na
esquerda, normalmente um ou
dois convidados (bispos, pastores, obreiros e at os fiis).
Com uma cmera apenas para transmisso, fazendo os movimentos de
zoom, o
cinegrafista posiciona o equipamento com o intuito de sempre
trabalhar com o plano geral,
enquadrando os trs na mesa, lgico que enfatizando a presena da
figura maior da igreja.
11
JENKINS, Henry. Cultura de Convergncia. So Paulo: Aleph, 2008
(Edio em portugus).
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Por ser um programa de rdio, eles nunca atendem aos ouvintes no
ar, mas recebem
comentrios via e-mail, twitter ou at mesmo por meio do blog
oficial do bispo Macedo. Pela
relevncia dos comentrios dos ouvintes e telespectadores do
programa, percebemos uma
seleo dessas mensagens. Pois atravs da interao do pblico que o
bispo monta uma
interpretao de abordagem bblica.
O pblico envia perguntas e comentrios e a partir dessa interao
que os
apresentadores tratam respeito de sua ideologia crist e
principalmente institucional.
Atravs da IURDTV, notamos tambm o quanto os bispos esto
utilizando os mais
novos formatos em equipamentos de comunicao, por meio dos
mini-computadores
sensveis ao toque do dedo.
O Palavra Amiga o programa mais institucionalizado de toda
programao da
IURDTV, pois trata-se da voz presente do fundador da igreja.
O interessante que no possui um cenrio especfico, mas por conta
da transmisso
na IURDTV, existem programas que a produo disponibiliza uma
grande cruz que fica ao
lado da mesa e dos apresentadores, como observei no programa do
dia 09 de junho de 2011,
retratado na figura acima.
Neste caso, observamos o interesse da igreja em investir e
priorizar tambm as novas
mdias, pois fazendo uso dessas novas tecnologias, a instituio
legitima seu espao na
sociedade e aproxima-se cada vez mais de seu pblico.
O novo cenrio religioso brasileiro pode ser identificado por
meio da emergncia de
uma religio miditica, patrocinada pelo desenvolvimento de novas
tecnologias de
informao e comunicao.
Surge, ento, um novo paradigma de igreja. Ela deve ser
interessante,
contextualizada e convidativa freqncia, fundada no aparato
tecnolgico,
na linguagem secularizada, em prticas profanas, na valorizao
das
imagens em detrimento prdica. Essas prticas vo deixando para
o
passado os estilos tradicionais de culto e adorao, de devoo e de
vivncia
religiosa. Transformadas em verdadeiras vitrines de bens
simblicos, essas
igrejas se metamorfosearam, tornando-se palcos do espetculo da
f,
compondo o cenrio religioso ps-moderno. (OLIVEIRA, 2009, p.
29)
As exigncias tecnolgicas alteraram o ambiente de culto, hoje,
palco/atores/platia,
onde antes era o altar/celebrantes/fiis.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Por fim, vale dedicar o prximo captulo anlise da produo,
manipulao,
circulao e consumo dos sentidos promovidos pelos lderes da IURD
no programa Palavra
Amiga.
7 Analisando o discurso
A iseno de posicionamentos do pesquisador fundamental
principalmente em tais
tipos de pesquisa, pois requer um resultado apropriado aos
requisitos de um trabalho
cientfico, baseado inicialmente na empiria.
A metodologia aplicada a este trabalho foi a anlise da produo,
circulao e
consumo dos sentidos vinculados ao programa Palavra Amiga. No
poderamos deixar de
fazer uma anlise a partir das mensagens (textos) propagadas
nesse programa religioso com
caractersticas de uma articulao com o campo miditico.
O nosso corpus, composto unicamente de sermes, gnero discursivo
que em um
perodo anterior limitava-se aos plpitos das igrejas, est
bastante influenciado pelos suportes
tecnolgicos da comunicao.
Sabemos que a linguagem verbal no a nica ferramenta de persuaso
dos pastores
quando esto falando nos altares de suas igrejas e nos estdios de
rdio e TV. A gesticulao,
o cenrio e a prpria fala corresponde ao discurso produzido pelo
pastor ou bispo.
A noo de discurso comea a se esboar teoricamente quando
lingistas e semilogos
como Roland Barthes, Algirdas J. Greimas, Zellig Harris e Michel
Pcheux tentaram, nos
anos cinqenta e sessenta do sculo passado, levar suas anlises
alm da frase.
Por este motivo precisamos entender o que chamamos de Anlise de
Discursos. E
quem pode nos auxiliar melhor nesta parte introdutria Milton Jos
Pinto:
Para incio de conversa preciso dizer que o conceito de discurso
no se
confunde com os empregos usuais da palavra no nosso cotidiano:
no se
trata de uma anlise de textos proferidos ao vivo em
solenidades,
assemblias ou tribunais dentro da tradio retrica e nem de uma
anlise de
usos restritos da lngua dentro de reas de conhecimento
especficas, tais
como sugerem as denominaes discurso poltico, discurso
jornalstico,
discurso dos jovens, discurso da televiso e etc. preciso tambm
insistir no
fato de que o que chamamos de discurso um certo objeto de
conhecimento
construdo a partir de produtos culturais empricos (como
anncios
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
publicitrios, capas de peridicos, programas televisivos e de
rdio,
entrevistas mdicas, entrevistas de emprego, textos jornalsticos
impressos,
discursos polticos, cartilhas para preveno de doenas, organizao
dos
espaos de uma cidade, de reparties pblicas, de empresas, ou de
nossas
casas, entre outros), que so chamados de textos e que, como se
pode ver dos
exemplos, no se trata apenas de uma anlise de textos verbais,
orais ou
escritos, pois envolve outras semiticas, como as imagens (PINTO,
2003, p.
02)
Costuma-se dizer hoje que o discurso mobiliza recursos, que se
estendem alm da
frase e que so chamados de contexto. Pinto (2003) nos explica
isso melhor:
A anlise de discursos no mais apenas uma anlise imanente de
textos,
pois leva em conta que a interpretao de qualquer texto se faz a
partir de
informaes colhidas (1) no contexto situacional (o ambiente fsico
e
institucional em que o texto produzido, circula e consumido),
(2) no
cotexto (outros textos situados fisicamente ao redor do texto ou
de qualquer
fragmento dele, antes, depois, de um dos lados, em cima ou em
baixo), e (3)
nos contextos das ordens de discursos ou interdiscursos (outros
textos
produzidos no mesmo quadro institucional ou relativos mesma rea
de
conhecimento e afins, que so mobilizados intertextualmente
na
interpretao) (PINTO, 2003, p. 03).
Como prtica social no interior das instituies, o discurso
determinado pelas
estruturas sociais, sendo regido por regras, normas e convenes
mais ou menos estveis e
tem sempre uma finalidade social previamente determinada.
Dizer que discurso uma prtica social implica que todo discurso
assumido por um
sujeito, que aparece como responsvel pelo ponto de vista.
O bispo Edir Macedo o indivduo responsvel pelas mensagens de
conselhos com o
objetivo de disciplinar vida comportamental de seus fiis, como
observei no programa
Palavra Amiga em que ele aconselhava uma fiel que estava
sentindo dificuldades de fazer o
que seus lderes ordenavam para participar de um encontro com
Deus. A fiel que se chama
Beatriz foi aconselhada no ar depois de enviar um e-mail para o
bispo Macedo.
BEATRIZ - Oi bispo, tenho ouvido o senhor falar sobre o encontro
com
Deus pela IURDTV. Reconheo a importncia desse encontro, mas
tenho
dificuldades de me encontrar com Ele, devido a minha vida
sentimental, pois
me preocupo muito com ela. Como fao para ter esse encontro?
BISPO MACEDO - Minha amiga, Beatriz, voc tem de eliminar todas
as
outras foras e focar na fora do Encontro com Deus. Voc me
desculpa ser
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
grosso. Voc vai resolver seus problemas na vida sentimental, mas
primeiro
resolve o teu problema com Deus. Beatriz, minha filha, enquanto
voc no
focar no Encontro com Deus, voc estar andando em crculo.
(Programa
Palavra Amiga, 09/06/2011)
interessante notar que o que Bourdieu chama de Campo Social, o
bispo Macedo
chama de fora.
BISPO MACEDO - No quero aqui quem vem dividir foras. Tem gente
que
vem com problemas financeiros e espirituais. Outros vem problema
de sade
e busca no Esprito Santo. No venha aqui com dois problemas, duas
foras.
Venha com sua prioridade. Qual a sua prioridade? Qual a sua
necessidade
maior? (Programa Palavra Amiga, 07/06/2011)
Em outro programa, Edir Macedo pediu para os homens terem
cuidado com as
mulheres, pois elas so as responsveis por dar um destino
espiritual aos homens.
BISPO MACEDO - Cuidado meu amigo, voc que homem, com a
mulher.
Pois ela tanto te leva para a aproximao com Deus como tambm para
o
inferno (Programa Palavra Amiga, 09/06/2011)
Segundo Almeida e Patriota (2006), outro aspecto que devemos
enfatizar, diz respeito
sua prpria condio de produo, ou seja, onde, como e quando o
discurso produzido,
sugerindo que o discurso no pode ser compreendido fora de seu
contexto.
Normalmente os discursos dos apresentadores do Palavra Amiga so
baseados nos
textos bblicos e provocados pela interao dos
ouvintes/internautas atravs de suas dvidas.
A IURD no d margem a questionamentos quando se trata dos
discursos de seus
pastores e bispos. Isto porque o clero se apresenta como grupo
devidamente capacitado para
interpretar a Palavra de Deus e de fato, muito comum que seus
textos se desenvolvam com
base em citaes da Bblia.
vlido lembrar que a atividade de pregar (proclamar o
Cristianismo atravs
de pregaes discursos) uma atividade efetiva de reformulao.
Afinal,
sempre se restaura o contedo de um texto fonte, que a prpria
Bblia, e a
partir dele trazido tona uma interpretao. Como nos esclarece
Orlandi
(1996), a interpretao no apenas um simples gesto que decodifica
e
apreende os sentidos, na verdade, o ato de interpretar o de
exposio
opacidade do texto, ou seja, a tentativa de explicar como um
objeto
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
simblico pode produzir seus sentidos (ALMEIDA e PATRIOTA, 2006,
p.
68)
Quando se fala em interpretao, est se referindo interpretao da
Bblia, tornando-
se importante pontuar que a pessoa, com a qual possui o saber
dessa interpretao, de
acordo com a concepo e crena religiosa, trata-se de algum
previamente preparado
intelectualmente, atravs dos estudos especficos dos textos
bblicos e dotado de uma
inteligncia espiritual, a qual s Deus pode conced-la, ou seja,
este falante autorizado detm
um saber especial para o exerccio do ministrio da proclamao da
Palavra, dirigindo-se a
um pblico que supostamente no portador de tal saber e ainda
ministra bnos sobre ele.
Partindo, ento, da caracterizao do discurso religioso como
aquele que fala
a voz de Deus, comearia por dizer que, no discurso religioso h
um
desnivelamento fundamental na relao entre o locutor e o ouvinte:
o locutor
do plano espiritual (o Sujeito, Deus) e o ouvinte do plano
temporal (os
sujeitos, os homens). Isto , locutor e ouvinte pertencem a duas
ordens de
mundo totalmente diferentes e afetadas por um valor hierrquico,
por uma
desigualdade em sua relao: o mundo espiritual domina o temporal.
O
locutor Deus, logo, de acordo com a crena, imortal, eterno,
infalvel,
infinito e todo-poderoso; os ouvintes so humanos, logo mortais,
efmeros,
falveis, finitos, dotados de poder relativo. Na desigualdade,
Deus domina os
homens (ORLANDI, apud, ALMEIDA e PATRIOTA, 2006, p. 70)
Cabe lembrar que no existe uma nica interpretao da Bblia. O
contexto scio-
cognitivo no qual o enunciador est inserido interfere em sua
interpretao, bem como os
instrumentos tecnolgicos da midiatizao.
Sabemos que os suportes tecnolgicos de comunicao criam novos
gneros
discursivos, mesmo no sendo os nicos responsveis por essa criao,
os meios de
comunicao intensificam e trazem tona caractersticas de novos
gneros de discursos.
Podemos compreender as diferenas entre o discurso religioso e
miditico por meio de
Fiegenbaum (2006:11), que nos mostra que enquanto o discurso do
primeiro dogmtico,
organizacional, sociolgico; a competncia do discurso do segundo
discursiva, portanto,
impensvel a sua sujeio ao campo que o institui, no caso o
religioso, sem negar o seu
prprio saber. Por isso observamos, certas tenses e
conflitualidades estabelecidas na
decorrncia da interao do campo miditico com os determinados
campos sociais.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Consideraes finais
Vimos que a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) mantm uma
utilizao
macia dos meios de comunicao. No foi toa que a ao do bispo Edir
Macedo o levou a
montar um imprio miditico colocado em segundo lugar no universo
brasileiro, apenas atrs
da Rede Globo de Televiso.
A facilidade com que a IURD se move no mundo miditico possui uma
explicao no
fato de que ela j nasceu miditica, diferentemente de outras
igrejas, mais histricas e com um
passado e uma tradio considerveis, que hoje recorrem ao processo
de midiatizao.
Ao longo do trabalho que ora termina, tentamos compreender o
caminho percorrido
por algumas igrejas, mais especificamente a IURD, afim de se dar
conta do que est
acontecendo no mundo contemporneo com o processo de midiatizao
da sociedade.
Percebemos a mudana no cenrio religioso do pas com o surgimento
dessas novas
religiosidades miditicas, que defendem a transformao por meio da
dita Igreja Midiatizada,
via protocolos do espetculo.
Vimos tambm que muitas dessas novas igrejas s enxergam os meios
de
comunicao como suporte para a difuso do Evangelho, sem notar
suas conseqncias e as
mudanas que o processo causa. O importante, portanto, no so os
meios, mas a transmisso
da mensagem.
A igreja evanglica brasileira no est isolada s paredes dos
templos, mas atua cada
vez mais, num novo ambiente que garante sua existncia enquanto
uma instituio religiosa
presente no sculo XXI.
Hoje as igrejas no possuem um pblico de fiis fixo e estvel.
Devido ao surgimento
das ditas miditicas, no caso a IURD, o pblico passou a ser
itinerante, que no mais se
renem apenas nos bancos da igreja, mas em qualquer lugar do
universo, por conta do
processo de midiatizao.
Com tudo isso, percebe-se que o mundo mudou, as pessoas mudaram
com ele e
conseqentemente as instituies religiosas tambm. Vivemos num novo
ambiente religioso
brasileiro.
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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
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