69 Resumo dos sete Concílios Ecumênicos 1. Nicéia, em 325, formulou a primeira parte do Credo (profissão de Fé) e definiu a divindade do Filho de Deus. 2. Constantinopla l, em 381, formulou a segunda parte do Credo (profissão de Fé) e definiu a divindade do Espírito Santo. 3. Éfeso, em 431, definiu a Cristo como o Verbo Encarnado de Deus e a Maria como Mãe de Deus ( Theotócos). 4. Calcedônia, em 451, definiu a Cristo como verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem (duas naturezas perfeitas) em uma só Pessoa. 5. Constantinopla II, em 553, reafirmou a doutrina sobre a Santíssima Trindade e sobre o Cristo. 6. Constantinopla III, em 680, afirmou a verdadeira humanidade de Jesus Cristo insistindo, insistindo na realidade de sua vontade e ação humanas. 7. Nicéia II, em 787, afirmou a veneração dos ícones como expressões verdadeiras da fé cristã. A idade Moderna (1453-1789) A transição do feudalismo para o capitalismo, ou seja, da Idade Média para a Moderna está relacionada com alguns acontecimentos que ocorreram na Europa a partir do século XIV. 1. Peste Negra (ou Peste Bubônica) que matou 1/3 da população européia 2. Crise da produção de alimentos consequência da morte de parte da população. 3. Guerra dos Cem anos entre Inglaterra e França. As principais transformações estão relacionadas com o fortalecimento do comércio, consequência das cruzadas, o renascimento comercial e urbano e o surgimento da burguesia no período de declínio dos nobres que perderam suas terras (feudos) para o Rei absolutista. A Idade Moderna é o período compreendido entre os anos de 1453 (queda de Constantinopla) e 1789 (Revolução Francesa). Nesse período aconteceram transformações sócio-políticas e econômicas que mudaram o curso da história. Os três movimentos que marcaram o início da Idade Moderna: Renascimento Cultural Reforma religiosa Descobrimentos marítimos As quatro principais características da Idade Moderna: Capitalismo comercial Descoberta e conquista de novos territórios
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Resumo dos sete Concílios Ecumênicos
1. Nicéia, em 325, formulou a primeira parte do Credo (profissão de Fé) e definiu a
divindade do Filho de Deus.
2. Constantinopla l, em 381, formulou a segunda parte do Credo (profissão de Fé) e
definiu a divindade do Espírito Santo.
3. Éfeso, em 431, definiu a Cristo como o Verbo Encarnado de Deus e a Maria como
Mãe de Deus (Theotócos).
4. Calcedônia, em 451, definiu a Cristo como verdadeiramente Deus e
verdadeiramente Homem (duas naturezas perfeitas) em uma só Pessoa.
5. Constantinopla II, em 553, reafirmou a doutrina sobre a Santíssima Trindade e
sobre o Cristo.
6. Constantinopla III, em 680, afirmou a verdadeira humanidade de Jesus Cristo
insistindo, insistindo na realidade de sua vontade e ação humanas.
7. Nicéia II, em 787, afirmou a veneração dos ícones como expressões verdadeiras da
fé cristã.
A idade Moderna (1453-1789)
A transição do feudalismo para o capitalismo, ou seja, da Idade Média para a
Moderna está relacionada com alguns acontecimentos que ocorreram na Europa a partir
do século XIV.
1. Peste Negra (ou Peste Bubônica) que matou 1/3 da população européia
2. Crise da produção de alimentos consequência da morte de parte da população.
3. Guerra dos Cem anos entre Inglaterra e França.
As principais transformações estão relacionadas com o fortalecimento do comércio,
consequência das cruzadas, o renascimento comercial e urbano e o surgimento da
burguesia no período de declínio dos nobres que perderam suas terras (feudos) para o
Rei absolutista.
A Idade Moderna é o período compreendido entre os anos de 1453 (queda de
Constantinopla) e 1789 (Revolução Francesa). Nesse período aconteceram
transformações sócio-políticas e econômicas que mudaram o curso da história.
Os três movimentos que marcaram o início da Idade Moderna:
Renascimento Cultural
Reforma religiosa
Descobrimentos marítimos
As quatro principais características da Idade Moderna:
Capitalismo comercial
Descoberta e conquista de novos territórios
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A submissão das Américas ao imperialismo europeu
A formação dos Estados nacionais unificados sob o poder do rei absolutista
A Igreja Católica, a instituição mais poderosa da Idade Média perdeu seu poder e
suas ideias e dogmas passaram a ser contestados. A classe principal é a burguesia, que
não tinha terras, mas se enriqueceu e queria deixar de ser vista como pobre, queria
mudanças sociais. A classe principal era a nobreza, que possuía terras (feudos) e,
apoiada pela Igreja, não aceitava mudanças sociais.
O contexto das reformas
O processo de centralização monárquica, em andamento na Europa desde o final
da idade média, tornou tenso o relacionamento entre os reis e a Igreja, até então
detentora de sólido poder temporal. Roma (o Papa) recebia tributos feudais provenientes
das vastas extensões de terra controladas pela Igreja em toda a Europa. Essa pratica foi
cada vez mais questionada pelos monarcas que pagavam.
Ao mesmo tempo, a expansão comercial encontrava alguns obstáculos nas
pregações da Igreja, que condenava a usura (cobrança de juros por empréstimo) e
defendia o “justo preço” das mercadorias. Ou seja, pregava não as leis do comércio, mas
a correta remuneração pelo trabalho exercido. A atividade bancária, por exemplo, ficaria
comprometida na medida em que os empréstimos a juros eram considerados pecado.
Essas situações colocavam a burguesia em uma crise de religiosidade e a sociedade
comercial a questionar posições da Igreja. Um elemento poderoso nessa crise religiosa
foi a desmoralização de parte do clero: abusos e poder excessivo de vários de seus
membros contradiziam as pregações moralizantes da Igreja. Embora condenassem a
usura e desconfiassem do lucro, muitos membros da Igreja praticavam-nos de forma
desenfreada. O comercio de bens eclesiásticos não eram raros na Igreja desde o final da
Idade média. O maior escândalo talvez tenha sido a venda de indulgências. As
indulgencias existiam havia muitos anos no cristianismo, como obras que os fieis
deviam fazer para compensar o mal originado pelos pecados. Entretanto, no final da
idade media esse conceito foi distorcido e as obras foram substituídas por pagamentos a
religiosos (incluindo o Papa). No início do século XVI, a Igreja atravessava uma de suas
piores crises, principalmente por causa dessa corrupção, da falta de instrução e da
libertinagem em que o clero estava mergulhado. Importante lembrar que o clero era
formado, em sua maioria, por indivíduos ricos (que compravam cargos, como os de
bispo ou arcebispo) ou por padres quase sem nenhuma instrução, que abraçavam o
ofício apenas para escapar dos impostos cobrados da população. O alto clero, a começar
pelo papa, explorava a crendice popular praticando a simonia, ou seja, o comércio de
artigos religiosos. Entre os produtos comercializados encontravam-se tíbias do jumento
montado por Jesus quando entrou em Jerusalém, pedaços do manto da Virgem Maria,
frascos contendo ar da gruta de Belém e uma série de outras relíquias falsificadas.
É preciso considerar, que grande parte desse clero corrupto levava uma vida de
luxo e ostentação, desconhecia os fundamentos da doutrina cristã e não tinha instrução
nem preparo suficientes para orientar os fiéis. Vale observar que esse desregramento
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moral não envolvia todo o corpo eclesiástico, já que muitas ordens religiosas e parte do
clero tinham uma conduta austera e mantinham seus votos cristãos de acordo com as
proposições inicias da Igreja.
Indulgências
Indulgência é a remissão, diante de Deus, dos pecados que cometemos, mas que
guardamos a culpa. Ela pode ser parcial ou total, e quem decide isto é Igreja. Somente a
Igreja pode concedê-la, pois recebeu do próprio Cristo esta missão, para favorecer os
filhos e filhas de Deus (Catecismo da Igreja Católica, CIC nº 1471, 1478).
Apesar de ser instrumento de evangelização para a conversão dos pecadores,
durante muito tempo, as Indulgências foram usadas para fins não construtivos. A venda
de Indulgências acabou tornando-se abuso na Idade Média e foi uma das grandes
responsáveis, pela revolta de Lutero. Das 95 teses que fez, pelo menos 6 apontam para o
problema das Indulgências: 1, 4, 8, 27, 50,62...
As pessoas acreditavam que se comprassem indulgências, reduziriam o tempo da
sua estada no Purgatório. Também poderiam comprar Indulgências para aliviar a alma
que já estivesse no Purgatório e, assim, reduzir a “pena" da alma. Alguns chegavam a
acreditar que comprando as indulgências ficariam livres do Inferno e do Purgatório,
entrando direto nos Céus. É como se comprassem “pedacinho de terra lá no Céu”. E
como era alguns padres que as vendiam, achavam-se garantidos. Com isso, as pessoas
praticavam, livremente, todos os pecados, dando mau exemplo, pensavam já estar
salvos, e que sua terra celestial já estava reservada. Houve abusos e muitos.
Nada justifica a venda das indulgências, tanto é que o Papa João Paulo II, por
ocasião da celebração do Ano Jubilar, em 2000, pediu perdão, em nome da Igreja, por
todos os “pecados” cometidos por ela.
Hoje, a Igreja concede Indulgências Plenárias ou Parciais em momentos de
grande importância, visando a evangelização e a conversão dos pecados, sem nenhum
ônus financeiro. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) no nº 1032, diz que “A Igreja
recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitencia em favor dos
defuntos (CIC 429)”. O Papa João Paulo II, na sua Bula Mistério da Encarnação, ensina
que, para receber a Indulgência, o fiel deve se confessar; participar da Missa; fazer
orações em intenção do Papa; Visitar um Santuário, já predeterminado para as
Indulgências; visitar doentes...
O renascimento e a revolução das ideias
O renascimento é uma revolução cultural que tem origem nos modos de vida das
cidades italianas nos séculos XIV e XV e nas transformações no conhecimento que
abrem o mundo para o novo. Essa perspectiva, embora acentuadamente italiana, dá
conta da complexidade de mudanças que ocorreram na passagem da Idade Média para a
Idade Moderna. O renascimento foi considerado uma época de final de um “tempo
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obscuro”, de uma “Idade das Trevas”, em referência à idade média, iniciada com a
decadência do Império Romano do ocidente. Em comparação com a época dos antigos
gregos e romanos, plena de realizações culturais, a Idade Média parecia bastante
pobre... Tal preconceito, contudo, tem sido revisto por autores contemporâneos uma vez
ser inegável a enorme produção cultural patrocinada e orientada pela Igreja Católica
Romana durante a Idade média.
A descoberta da imprensa facilita e promove a circulação de livros tornando-os
mais populares, o que de por si, já é causa do grande desenvolvimento de ideias no
período.
A grande importância da descoberta da imprensa
Em 1455 o alemão Johannes Gutemberg imprimiu 200 Bíblias tipograficamente.
De qualidade superior e muitíssimo mais rápida aos laboriosos e elegantes manuscritos
da época. Essa revolução aumentou incrivelmente a quantidade de livros e de saber em
circulação. Ao longo da história os livros tornaram-se muito comuns, obrigado a
alfabetização das pessoas fosse necessária. Essa invenção foi realmente uma das
revoluções técnicas mais importantes da história da humanidade.
Com o surgimento dos impressos, os livros tornaram-se mais baratos e portáteis,
favorecendo a leitura silenciosa e solitária. Esta orientação para a privacidade integra-se
num movimento mais amplo que seria uma maneira de reivindicação de direitos e
liberdades individuais, cujo surgimento a imprensa estimulou e contribuiu para divulgar.
O barateamento dos livros e a liberdade de acesso aos inscritos e à informação,
juntamente com outras revoluções artísticas do Renascimento, contribuíram de maneira
considerável para a transição de pensamento teocêntrico passando para um modelo
antropocêntrico de pensar.
Reformas religiosas
O homem renascentista começava a ler mais e formar uma opinião cada vez
mais crítica. Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, começaram a discutir e a
pensar sobre as coisas do mundo. Um pensamento baseado na ciência e na busca da
verdade através de experiências e da razão.
Segundo o historiador Jean Delumeau1, são três as principais razões para a
reforma religiosa: a perda da religiosidade que cresce na Igreja Católica, a perda da
espiritualidade em decorrência pela opção do mundo material e a opção do Papado em
obter riquezas para a Igreja. “A tese segundo a qual os reformadores teriam deixado a
Igreja porque estava repleta de devassidões e impurezas é insuficiente”2. A exploração,
que aumentava no campo e na cidade criou uma angústia coletiva que envolvia os
indivíduos de vários níveis culturais e econômicos, a insatisfação era geral e trouxe
consequências como guerras crises etc. Nesse sentido, a Reforma Protestante que se
1 Historiador tido como um dos maiores especialistas sobre o movimento reformista do século XVI.
2 DELUMEAU, Jean. Nascimento e afirmação da Reforma. São Paulo, Pioneira, 1989, p.59.
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avizinha é uma resposta mais do que religiosa a esses apelos. Por outro lado, a Europa
daquela época necessitava de um cristianismo mais popular, mais íntimo, num mundo
de pestes, fome, guerras, superstições e medo. Juntava-se o individualismo que
começava a crescer na mentalidade do povo sedento por uma teologia mais adequada,
de um movimento pela promoção da cristianização que os lideres protestantes souberam
atender. Mesmo assim, a maioria dos reformistas iniciou suas críticas sem intenção de
se afastar da Igreja Católica, tinham vontade de modificar as coisas que consideravam
erradas. Isso tudo gerou uma crise e o Papado tomou o caminho mais fácil, o da
intolerância.
1. Reforma Luterana
Em 1517, um monge agostiniano chamado Martinho Lutero ousou discordar
profundamente da doutrina católica e, em vez de ser queimado vivo como John Huss3 e
outros, conseguiu provocar a maior ruptura já ocorrida no interior da Igreja. Este
movimento iniciado por Lutero ficou conhecido como Reforma Protestante.
Ao contrário da moral católica, a ética protestante, como veremos adiante, irá
valorizar a competitividade e a busca do lucro, ajustando-se, portanto, aos ideais
burgueses daquele momento histórico em que se desenvolvia o capitalismo. Outro fator
da Reforma foi a formação das monarquias nacionais. Durante esse processo, os reis
entenderam que o enorme poder exercido pela Igreja e pelo papa em seus territórios era
um obstáculo ao fortalecimento do governo. Assim, o crescimento do poder nacional
(Rei) esbarrou na força do poder universal (Papa). É preciso frisar, ainda, que a Igreja
vivia principalmente da cobrança dos impostos que arrecadava nos diversos países e
enviava para Roma, fato que os reis passaram a considerar como um prejuízo muito
grande para os seus reinos. As razões de ordem religiosa não foram as únicas para a
Reforma.
Nesse clima de agitação se tomou a Bíblia como ancoradouro: utilizá-la
significava mostrar a distância entre o que era dito pela Igreja Católica e o que estava
nas escrituras (indulgências, purgatório, imagens, culto a relíquias). Com o advento da
imprensa era importante liberar a sua leitura para todos e não apenas para o clero (a
pequena parte do clero que sabia ler). Para isso, foi preciso fazer traduções, pois não
existiam até o momento. Nesse universo compreende-se melhor a aceitação que teve
Lutero, o monge alemão que foi um dos primeiros a contestar fortemente os dogmas da
Igreja Católica. Seguindo o caminho dos humanistas aprofundou-se no conhecimento do
Grego e do hebraico para realizar sua famosa tradução da Bíblia para o alemão.
Afixou na porta da Igreja de Wittenberg as conhecidas 95 teses. As 95 teses de
Martinho Lutero condenavam a venda de indulgências e radicalizava publicamente suas
críticas à Igreja e ao próprio Papa. Em suas teses, condenou o culto às imagens e
revogou o celibato, que descontente com a cobrança de indulgências e perseguições,
acentua a ideia de que só a fé salva e não as obras, exaltando o perdão e o amor ao
3 Foi um pensador e reformador religioso. Ele iniciou um movimento religioso. Os seus seguidores
ficaram conhecidos como os hussitas. A Igreja Católica não perdoou tais rebeliões e ele foi excomungado
em 1410. Condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo.
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próximo sem interesses. Em 1520, o Papa Leão X redigiu uma bula, "Exsurge Domine",
condenando Lutero, exigindo sua retratação e ameaçando-o de excomunhão. Lutero
queimou a Bula em público, agravando a situação. Estabeleceu-se uma verdadeira crise
política, na qual a nobreza alemã dividiu-se, em parte a favor, mas em sua maioria,
contra o Papa. Embora tenha sido contrário ao comércio, Lutero teve grande apoio dos
reis e príncipes da época, pois estes buscavam o enfraquecimento da Igreja, e a sua
divisão colaboraria para o seu enfraquecimento. Embora não fosse a sua ideia inicial
esse apoio dos nobres alemães, interessados em se desvincular da Igreja romana era para
se verem livres dos pagamentos que faziam a Roma. Lutero passa a árdua tarefa de
traduzir a Bíblia para o alemão, com a finalidade de popularizá-la e a desenvolver os
princípios da nova corrente religiosa. Mais tarde em 1530, a confissão de Augsburgo
fundamentou a doutrina luterana4:
1. O principio pela fé, rejeitando o Tomismo.
2. A livre leitura da Bíblia, vista como único dogma da nova religião.
3. A supressão do clero regular, do celibato clerical e das imagens religiosas
(ícones).
4. A manutenção de apenas dois sacramentos: Batismo e Eucaristia.
5. A utilização do alemão, em lugar do Latim, nos cultos religiosos.
6. A negação da transubstanciação, aceitando a consubstanciação (pão e vinho
representam o corpo de Cristo).
7. Submissão da Igreja ao Estado.
Ao subordinar a Igreja ao estado, Lutero atrai a simpatia de grande parte da nobreza
alemã, nem um pouco interessada em questões teológicas ou de conteúdo dogmático,
mas interessadas, como dissemos, em desligar-se de Roma e de suas contribuições. Isso
amplia o apoio à nova doutrina de Lutero.
Lutero foi certamente um homem profundamente religioso, dotado de firme
confiança em Deus, diligente no trabalho e desinteressado de si. A estes dons, porém,
associava-se um temperamento apaixonado, que podia chegar ás raias do doentio; uma
convicção cega de que tinha recebido de Deus a missão de um profeta; uma propensão á
discussão, ao exagero trágico... Deixava-se guiar pelas emoções mais do que pela razão,
principalmente em matéria teológica – o que decorre do princípio luterano de que a fé é
alheia á razão. Ele mesmo dizia que “nenhuma obra boa se faz por sabedoria, mas que
tudo se realiza como que por uma espécie de vertigem ou torpor”.
Infelizmente as boas intenções de Lutero não levaram ao objetivo almejado, pois
dividiram os cristãos e geraram um princípio de divisão até hoje fecundo; o
protestantismo se esfacela em novas e novas comunidades, segundo o princípio
subjetivo estabelecido por Lutero: cada crente é livre para interpretar a Bíblia como lhe
pareça, sem dar atenção a instâncias extrínsecas. A figura de Lutero sempre foi
controversa entre muitos historiadores e estudioso.
As ideias e o movimento de Lutero tiveram seus ecos fora da Alemanha. Vários
reformadores surgiram, partindo todos do mesmo princípio: a única fonte de fé é a
4 Vicentino, Claudio. História geral. Editora Scipione, p.298.
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Bíblia, lida independentemente do magistério da igreja. Entre esses chefes destacam-se:
Ulrico Zwingli (1484-1531), que pregou em Zurich (Suíça) e cujos seguidores sem
demora se agregaram ao Calvinismo. Outro reformador notável foi João Calvino.
2. Reforma calvinista
A reforma protestante de Lutero penetra na suíça a partir de 1529. As reações a nova
doutrina provocou uma violenta guerra civil só apaziguada com a entrada em cena de
João Calvino (1509-1564), que logo divulga suas ideias fundando uma nova corrente
religiosa separa de Lutero.
A presença de Calvino no contexto das reformas religiosas deu a elas um sentido
profundamente revolucionário, especialmente na produção de uma disciplina que fosse
possível associa-la a ao modo de ser acumulador e produtor do sistema capitalista, por
meio da dignificação do trabalho. Na Dinamarca, na Escócia receberam o nome de
presbiterianos, na França por huguenotes, na Inglaterra, eram os puritanos.
O fato mais significativo e que talvez ajude a entender a postura de Calvino e ao seu
posicionamento religioso, adveio da humilhação, na morte de seu pai excomungado pela
Igreja católica, o que marcou seu temperamento e sua personalidade, além de ter
alterado sua visão da Igreja Católica. Manteve a vida católica mesmo após da tragédia
do pai, e não se aproximou dos livros protestantes porque discordava do modo como
tratavam o sacramento da comunhão, e no final de 1533 iniciou seu processo de critica a
doutrina católica por meio da revisão da Bíblia em francês.
Em 1534, renunciou a toda a riqueza terrena, e com as perseguições aos
protestantes resolveu fugir para a Basiléia, a partir daí começou o estudo de uma nova
teologia e ao trabalho de que o protestantismo era o caminho da salvação, porem suas
ideias não foram recebidas de modo tranquilo, então ele apresenta seus ideais em um
texto: “Da instituição cristã”, a obra fez de Calvino um protestante conhecido como o
“segundo patriarca da Reforma”.
Os princípios religiosos e normativos de Calvino
Calvino ensinava, como Lutero, que a Igreja era essencialmente invisível e que
era constituída pelo conjunto de eleitos de quem Deus sabia o nome. Assim a missão da
Igreja antes de tudo era dar a conhecer a palavra reveladora da fé, e por isso podia
dispensar os sacramentos católicos, preservando apenas aqueles que se apresentavam
nas Escrituras. Inspirado em Lutero, Calvino considerava a Bíblia como a única fonte de
revelação e a base de sua religião, dispensando o clero regular. A forma de Calvino ver
o batismo e a eucaristia o colocou também contra a Igreja, para ele os sacramentos
possuíam uma força mágica, mas a questão mais controversa era a da comunhão, pois
Calvino rejeitava a ideia de que o pão e o vinho se transformavam no corpo de e sangue
de Cristo.
O calvinismo expandiu-se rapidamente por toda a Europa, mais até que o
Luteranismo, na medida em que atendia as expectativas espirituais da burguesia. A
experiência política do calvinismo tomou sua forma principal na Inglaterra, onde foi
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introduzida pelo próprio Henrique VIII, a partir do processo de anulação do seu
casamento, como veremos posteriormente5.
Anglicanismo
O movimento reformador chegou á Inglaterra em condições singulares. O
Cristianismo britânico sempre teve suas características próprias, em parte por causa da
sua posição geográfica (a Inglaterra é uma ilha!), as tendências a formar uma Igreja
nacional foram-se acentuando através dos séculos; Jhon Wiclef no século XIV e os
humanistas nos séculos XV e XVI prepararam a via para a aberta revolução religiosa.
Esta se deu realmente no século XVI: a princípio tinha apenas o aspecto de um cisma
sem heresia (cisma devido á ambição pessoal de um rei, sem que o povo participasse da
revolta); só aos poucos é que as ideias protestantes foram entrando na comunidade
britânica.
Henrique VIII, nos primeiros tempos do seu governo, mostrou-se zeloso pela fé
tradicional. Em 1521, contra a obra de Lutero sobre “O Cativeiro babilônico” escreveu
uma “Afirmação dos sete sacramentos”, que lhe valeu do Papa Leão X o título de
“Defensor da fé”. Não obstante, havia de ser arrastado por seus afetos.
Em 1509 Henrique esposou Catarina de Aragão, viúva de seu irmão Artur. Deste
casamento teve vários filhos, dos quais um só – Maria Tudor – ficou em vida. Com o
tempo, Henrique apaixonou-se por uma cortesã: Ana de Boleyn. Por isto procurou
dissolver o seu casamento com Catarina, alegando que fora nulo, porque os nubentes
eram cunhados em primeiro grau. Tal pretexto era falso, porque o Papa Júlio II dera a
Henrique explícita dispensa para se casar com Catarina; somente após 18 anos de vida
conjugal, Henrique trazia á tona esse impedimento. A corte real favorecia os anseios do
rei. A rainha Catarina apelava para a Santa Sé, pedindo justiça. O Papa Clemente VII
resolveu entregar o exame do processo a um tribunal de Roma (julho de 1529).
Em janeiro de 1531 o Papa proibiu a Henrique novas núpcias enquanto a causa
estivesse sob julgamento. O rei, vendo que pouca esperança lhe restava, quis obter a
dissolução do seu casamento da parte da hierarquia da Inglaterra; Thomas Cromwell,
obscuro advogado, que adquirira influência sobre o rei, aconselhava a Henrique que, a
exemplo dos príncipes alemães, se separasse de Roma. O papa Clemente VII resolveu
não atender as súplicas do monarca britânico. O Papa respondeu excomungando o
monarca e finalmente declarando válido o casamento com Catarina. O cisma estava ás
portas. Inconformado com a indiferença papal, Henrique VIII obrigou o Parlamento
britânico a votar uma série de leis que colocavam a Igreja sob o controle do Estado. Em
fevereiro de 1531 uma assembleia do clero, instigada pelo rei, proclamou Henrique
“Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra” com a cláusula “na medida em que a Lei de
Cristo o permite”. Os súditos que não reconhecessem este Ato seriam punidos com a
morte. A grande maioria do clero submeteu-se, talvez porque acostumada ao conceito
de Igreja Nacional e bastante mundanizada. Resistiram, porém, até a morte vários leigos
e clérigos, dos quais se destacam o leigo Tomás Moro e o bispo John Fisher. Muitos
mosteiros foram fechados, relíquias e imagens foram destruídas.
5 5 Vicentino, Claudio. História geral. Editora Scipione, p.301.
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Apesar do cisma e das pressões luteranas, o rei queria conservar íntegra a fé
católica na Inglaterra; combatia tanto a adesão ao Papa quanto as inovações religiosas
do continente.
No ano de 1534, o chamado Ato de Supremacia criou a Igreja Anglicana.
Segundo os ditames da nova Igreja, o rei da Inglaterra teria o poder de nomear os cargos
eclesiásticos e seria considerado o principal mandatário religioso. A partir dessa nova
medida, Henrique VIII casou-se com a jovem Ana Bolena. Além disso, realizou a
expropriação e a venda dos feudos pertencentes aos clérigos católicos. Essa medida fez
com que os nobres, fazendeiros e a burguesia mercantil passassem a exercer maior
influência política.
No governo de Elizabeth I (1533-1603), novas medidas foram tomadas para
reafirmar o poder da Igreja Anglicana. Alguns dos traços do protestantismo foram
incorporados a uma hierarquia e uma tradição litúrgica ainda muito próximas às do
catolicismo. Essa medida visava minimizar a possibilidade de um conflito religioso que
desestabilizasse a sociedade britânica. No seu governo foi assinado o Segundo Ato de
Supremacia, que reafirmou a autonomia religiosa da Inglaterra frente à Igreja Católica.
O que a Igreja romana enfrentou?
Durante o século XVI a Igreja Romana teve de enfrentar objeções as suas
principais ideias e estruturas. Lutero, Calvino e outros questionavam os próprios
alicerces, a base da Igreja católica. Era como se as pessoas fossem compelidas a
repensar o que era exatamente a Igreja de Cristo, no que ela acreditava e como os seus
membros deveriam praticar a fé. Algumas questões fundamentais surgiriam
naturalmente depois dos pontos de partida de Lutero haverem sido apresentados:
1. Quais eram as fontes de autoridade: as escrituras, a tradição, ou ambas?
2. E o que era a tradição? As obras dos Padres da Igreja, os concílios gerais, os
decretos papais ou todas as alternativas?
3. Quantos sacramentos havia, qual o significado de cada um deles e para que fim eles
se destinavam?
4. Quem é que decidia sobre essas questões e em quais argumentos essas decisões
deveriam se basear?
5. Como a Igreja deveria ser administrada e como ela deveria celebrar suas crenças
liturgicamente?
3. Reforma católica
Embora inicialmente, o papado, os cardeais e a cúria simplesmente não tivessem
nenhum interesse em realizar uma verdadeira reforma, pois os membros graduados da
cúria dependiam demasiadamente de irregularidades financeiras, de modo que a
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oposição às reformas estavam firmemente entrincheiradas6. A rápida expansão das
doutrinas protestantes pela Europa gerou uma reação da Igreja, principalmente das
ordens religiosas não ligadas à cúria e que procurou reverter o quadro. As medidas que
foram chamadas de reforma católica visavam fortalecer a Igreja Papal e moralizar todo
o clero.
Seria ingênuo acreditar que a Reforma Católica, ocorre apenas por causa do
surgimento dos protestantes. A reforma teria ocorrido com ou sem o surgimento deles.
A reforma foi uma maneira encontrada pela igreja de se adaptar aos tempos modernos,
com uma nova doutrina, mas que mantivesse as suas tradições. A reforma começa a
tomar rumos de que se deve ir até o rebanho, ou seja, sair de Roma e do papado, mas
para isso era preciso competência e conhecimento na defesa de sua doutrina tão igual a
que os protestantes tinham da sua. Toda essa necessidade de aumento de conhecimento
do clero fez com que os católicos fundassem uma nova ordem religiosa, em 1534 surge
a companhia de Jesus, Jesuítas, que era um modelo a ser seguido pelas outras ordens
religiosas. Esforçam-se em conter o protestantismo por meio do ensino e da expansão da
fé católica. Daí deriva o projeto de catequese indígena na América e nos demais
continentes ode havia colônias europeias7. A companhia tem como iniciador o espanhol
Ignácio de Loyola, um ex-soldado espanhol.
Concílio de Trento (1545-47, 1551-52, 1562-63)
Este foi, talvez, o mais importante Concílio de toda a história, importância esta
que se explica pela problemática que enfrentou (a Reforma protestante) e as soluções
que adotou. Pouco depois de lançar o seu brado de protesto contra a lgreja em 1517,
Lutero apelou para a realização de um Concílio Ecumênico que considerasse os pontos
por ele lançados à Igreja. Todavia este apelo foi ignorado por Leão X e só começou a
encontrar resposta sob o pontificado de Paulo III (1550-55).
Este concílio durou praticamente todo restante do século XVI, ele contou com a
presença de teólogos protestantes pois também queria-se discutir a cisão, tinha também
como intenção fortalecer os quadros da igreja diante do avanço dos protestantes,
unindo-os em uma decisão comum. O resultado deste concílio foi vantajoso para os
católicos, pois recompôs a sua autoridade e deu a impressão de que só eles tinham
direito ao uso da noção de humanidade, colocando os protestantes apenas como
interessados no poder local e a Reforma Protestante como um capitulo do velho
problema em Papado e Império. Os resultados mais positivos foram:
A proibição da venda de indulgências e a criação de escolas para a formação dos
quadros eclesiásticos.
Fortalece mais o poder do Papa tornando a igreja mais centralizada e assim
fazendo com que até mesmo uma simples decisão passe pelo Papado.
6 BELLITO, M. História dos 21 concílios da Igreja. Loyola, 2010, p.137.
7 Leia no final desta apostila, o apêndice “E no Brasil: A Igreja e as missões”.
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A decisão polêmica foi a de reativar o Tribunal do Santo Oficio, isso se torna
polêmico não só pela violência que ele representava mas também por que este
tribunal foi um dos instrumentos mais eficazes do poder absoluto dos reis.
A primeira fase (1545-47) definiu mais uma vez o cânon das S.Escrituras e
declarou a Vulgata latina isenta de erros teológicos.
Abordou as questões discutidas sobre o pecado original, a justificação, os
sacramentos, a residência dos bispos nas respectivas dioceses.
Promulgou longa exposição a cânones sobre a Eucaristia (presença real,
transubstanciação, culto...). Algo de semelhante ocorreu no tocante ao
Sacramento da Penitência (necessidade, partes essenciais, satisfação) e a Unção
dos Enfermos (origem, efeitos, ministro, sujeito...).
Reafirmou as verdades referentes ao S. Sacrifício da Missa, aos sacramentos da
Ordem, do Matrimônio, ao purgatório, e invocação dos santos, as imagens e as
indulgências. Promulgou também resoluções a respeito dos Religiosos e das
monjas. Pela Bula Benedictus Deus (26/01/1564) Pio IV confirmou todos os
textos conciliares, dando por encerrado o Concílio que havia de marcar
profundamente o catolicismo dos tempos modernos.
Ao contrário dos humanistas, que criticaram as instituições religiosas, grande parte
do clero, principalmente ordens religiosas e mendicantes do século XVI tinham por
programa não criticar a outrem, mas emendar a si mesmo;, não mudar as estruturas da
igreja estabelecidas por Cristo, mas reformar os homens detentores de cargos e funções
já que o mal estava principalmente na secularização do clero. Falava-se, antes de tudo,
em reforma do clero. Muito sabiamente dizia o teólogo Egídio de Viterbo na sua
alocução introdutória ao concílio do Latrão V (1512): “Homines per sacra immutari faz
est, non sacra per homines. – Os homens é que devem ser transformados pela religião, e
não a religião pelos homens”.
Assim, nota-se um paralelo entre o século XVI e os séculos XI-XIII: na Idade Média
as forças renovadoras da Igreja não partiram diretamente do Papado, mas de círculos
não pertencentes á hierarquia (as Ordens Mendicantes); também no século XVI o
impulso renovador partiu das comunidades e ordens religiosas dadas á ascese e á