A grande divergncia da Guerra Fria esteve no marco ideolgico,
onde tnhamos de um lado os EUA, claro representante da ordem
mundial capitalista, e de outro lado a URSS, que representava o
socialismo. Nesse sentido a instalao de ditaduras militares nos
pases da Amrica Latina, e de modo especifico no Brasil, representou
uma das formas encontradas pelos EUA e pela burguesia nacionalista
e reacionria desses pases de defenderem e de asseguraram a
perpetuao do sistema capitalista no continente americano e
conseqentemente no mundo. Uma anlise aprofundada do perodo
ditatorial militar no Brasil nos colocar diante de importantes
estratgias utilizadas pelos EUA para apoiar o referido regime
poltico no Brasil e garantir assim a ordem e a paz nas Amricas.
Nesse sentido objetivo desse trabalho apresentar e refletir sobre
algumas das estratgias de segurana e defesa utilizadas pelos EUA
durante o perodo ditatorial brasileiro. As quais foram decisivas
para perpetuao do regime capitalista no Brasil e para consolidar a
hegemonia norte-americana nas Amricas.A maior expresso da Guerra
Fria na Amrica Latina seguiu-se com a implantao de governos
militares ditatoriais em grande parte de seus pases. Isso na
tentativa de conter os movimentos de esquerda que eclodiam e que
carregavam a bandeira do socialismo. Assim as dcadas de 1960 e 1970
foram turbulentas para as naes latino-americanas, em muitos pases a
democracia foi suprimida e a imposio de ditaduras foi um
acontecimento freqente. E nota-se claramente que os EUA tiveram
participaes importantes nas implantaes e consolidao dessas
ditaduras.Tm-se muitos exemplos da participao norte-americana nas
instalaes de ditaduras latino-americanas como, por exemplo, em 1973
no Chile. Na Argentina tambm se v o golpe amparado pelos EUA. A as
estratgias foram mais contidas do que em outros, mas comprovada a
ligao entre os golpistas argentinos e o governo estadunidense. Isso
foi impulsionado pela forte influncia exercida por Cuba na Amrica
Latina. A idia de comunismo e figuras marcantes como Fidel Castro e
Che Guevara faziam das ideologias socialistas algo real e de
grandes possibilidades de surtir efeito. Isso porque a histria
colonial escravocrata da regio remete explorao indgena, a explorao
do trabalho negro, a dizimao de populaes nativas, a desenfreada
explorao dos recursos naturais e outros, que fazem do sentimento
nacionalista e patritico da populao desses pases, focarem a pobreza
e a explorao e terem como uma ideologia a ser seguida, justamente a
protagonizada pela URSS. (ARRUDA & PILETTI, 2005)Outros pases
passaram por experincias similares, como o Uruguai e o Paraguai,
mas no nos deteremos a estes por querer enfatizar as estratgias
utilizadas com o Brasil. No Brasil, em especial, os EUA juntamente
com o governo brasileiro da poca, delineiam os passos polticos de
cada um de uma forma a garantir a presena do capitalismo no bojo
estatal e espantar de vez o fantasma do comunismo do pas e da
regio. O comeo da dcada de 60, a conjuntura poltica era a de um pas
com um presidente que sustentava relaes diplomticas com a URSS, no
apoiava a interveno norte-americana em Cuba e mantinha uma Poltica
Externa Independente 3. relevante saber que a Poltica Externa
Independente foi adotada porque Joo Goulart, presidente brasileiro
poca, aspirava projeo internacional do Brasil na poca e no porque
no se alinhava aos EUA. Sobre esse fato Rapoport & Laufer nos
esclareceEm suma, Joo Goulart no era bem visto pelos
norte-americanos, tanto por sua poltica externa como tambm por suas
atitudes na rea interna como a nacionalizao de empresas
norte-americanas e seu plano de reforma de bases.Alm disso, nessa
poca via-se multiplicar na sociedade brasileira as influncias dos
partidos polticos de orientao marxista. Foi nesse contexto que a
ditadura militar no Brasil se instalou a partir de um golpe de
estado no ano de 1964 e perdurou durante vinte e um anos de
sucessivos governos militares. Em linhas gerais, durante esse
perodo milhares de pessoas foram atingidas em seus direitos:
parlamentares tiveram seus mandatos cassados, cidados tiveram seus
direitos polticos suspensos e funcionrios pblicos civis e militares
foram demitidos ou aposentados. Por outro lado, o golpe militar foi
saudado por importantes setores da sociedade brasileira. Grande
parte do empresariado, da imprensa, dos proprietrios rurais, da
Igreja catlica, vrios governadores de estados importantes amplos
setores de classe mdia pediram e estimularam a interveno militar,
como forma de pr fim ameaa de esquerdizao do governo e de controlar
a crise econmica e social. (FERNANDES, 1982)De certa forma o
governo norte-americano viu-se satisfeito de ver que o Brasil no
seguia o mesmo caminho de Cuba e passou a dar apoio logstico aos
militares. sobre esse apoio que trataremos no prximo item.Com o
decorrer da histria percebemos que na verdade tanto a aliana quanto
o progresso s foram verdadeiros na semntica da palavra, no
revelando a mesma veracidade nos objetivos reais pretendidos. Fatos
histricos mostram que a Aliana para o Progresso teve diversas
barreiras a serem transpostas no inicio. No governo de Goulart,
devido a sua posio mais nacionalista e sua poltica externa
independente, o Congresso norte-americano ficou receoso por no
saber dos reais objetivos do presidente brasileiro, assim o
montante destinado ao Brasil foi de pouca expresso. Para ilustrar
essa desconfiana de Kennedy com os problemas brasileiros, foram
implementadas no Brasil duas bases de apoio do governo
norte-americano para o programa, que foram as sedes da United
States Agency for Internacional Development (USAID), uma no Rio e a
outra no Recife. Essa instituio tinha o intuito de ser o elo entre
os investimentos externos e o governo brasileiro. Porem v-se ai
tambm uma estratgia de insero dos ideais americanos, pois a USAID
pretendia apoiar os governos que se opunham aproximao com Goulart e
financi-los, querendo dessa forma que governos mais alinhados ao
capitalismo ascendessem ao poder (RIBEIRO, 2005). Assim sendo, com
o golpe de 64 e a ascenso ao poder de Castelo Branco, primeiro
presidente militar, a histria tomou um rumo diferente. Castelo era
visivelmente pr-americano e promoveu um realinhamento da poltica
externa brasileira, e isso deixou os norte-americanos eufricos, que
fazia com que o fluxo de investimentos no pas fosse muito maior e
chegassem a passam a ordem dos 600 bilhes de dlares. O perodo
compreendido entre 1964 e 1967 foi o que teve maior afluxo desses
investimentos. Porm com a ascenso de Costa e Silva, presidente
seguinte, e alguns acontecimentos polticos internos brasileiros, a
liderana de Nixon, presidente norte-americano aps Johnson, passou a
analisar o programa como uma ajuda no coerente com a poca e deixou
com que a poltica minguasse at desaparecer completamente em 1970.
(RIBEIRO, 2005)V-se que a Aliana para o Progresso, portanto, foi
uma tentativa que teve seus momentos de dinamismo e sua importncia
material. Na realidade a Aliana foi uma maneira que os EUA
desenvolveram para engajar os latino-americanos e criarem um
vinculo de dependncia destes com seu governo. Posio essa reforada
por Ribeiro quando diz queA Aliana seria o mais sofisticado
instrumento construdo pelo imperialismo para a regio e sua retrica
e mesmo seu reformismo, apenas escondiam os objetivos bsicos de
expanso do capital e do avano da dominao imperialista. (Ribeiro
p.160, 2005).
Outra estratgia desenvolvida pela Casa Branca foi o lanamento do
Plano Caritas, em 1961.
Financiado pelos catlicos de pases como os EUA, o Plano Caritas
buscava atenuar os efeitos da crise social que atingia quase todos
os pases da America Latina, distribuindo alimentos, medicamentos e
esmolas. No entanto, o objetivo real do plano - camuflado nas
desculpas sociais - era a doutrinao da camada popular contra idias
revolucionrias. Assim, o exemplo mais berrante da dedicao dos EUA
na campanha anticomunista com o uso da religio, se deu em 1963, com
a vinda ao Brasil de Patrick Peyton, um padre estadunidense
preparado pela CIA a servio do governo. Nas pregaes de Peyton, ele
manifestava averso a toda forma de governo diferente da dos EUA; o
que mostra a influencia de Washington na formulao ideolgica da
populao com o objetivo de barrar revolucionrios que pregavam o
atesmo e idias comunistas no pas.( CAROS AMIGOS, 2007,p.82)
comprovada a participao de instituies internacionais, como a
CIA, por exemplo, no financiamento econmico com a mobilizao. V-se
ai, portanto, uma evidente vitria dos EUA ao que concerne na guerra
ideolgica.Ainda no governo Kennedy, este, logo aps sua eleio, elege
um novo embaixador para o Brasil, Lincoln Gordon, um professor de
Harvard que ajudou na elaborao da Aliana para o Progresso.
Personagem esse que foi de vital importncia para a projeo e
instalao dos ideais americanos em territrio brasileiro. O novo
embaixador fez as devidas presses no Palcio do Planalto contra a
poltica externa independente, alm de ir contra a presena de
elementos de esquerda nos altos escales do governo brasileiro.
Outra figura norte-americana importante que se incorporou a
embaixada foi Vernon Walters. Militar de carreira, foi intrprete do
comando norte-americano junto aos oficiais brasileiros na Segunda
Guerra Mundial, o que j demonstra certa intimidade deste com os
militares brasileiros. Walters foi tambm quem estimulou a hiptese
de ingerncia direta de Washington no golpe contra Goulart. Ento, as
relaes dentro do prprio territrio brasileiro se davam basicamente
da seguinte maneira: enquanto Walters contatava diretamente os
militares envolvidos na conspirao contra Goulart, Gordon
desenvolvia uma estratgia paralela, fazendo diplomacia com governos
estaduais da oposio de Jango. Resultado dessas relaes internas foi
a revalidao do Acordo Militar Bilateral de 1952, que se deu entre
Castelo Branco Comandante em Chefe das Foras Armadas no perodo e a
embaixada dos EUA. O pacto atribua ao exrcito norte-americano
direitos exclusivos para colaborar na organizao e operao da Escola
Superior de Guerra (ESG) centro de formao de militares no Brasil.
(CAROS AMIGOS,2007, p. 86)De acordo com a reportagem da citada
revista, com a morte de Kennedy e a ascenso de seu vice Lyndon
Johnson, a diplomacia de Washington se torna um pouco mais radical.
Dessa forma a poltica traada por seu Sub-Secretrio de Estado,
Thomas Mann um conhecido conservador -, d origem ao que foi chamado
de Doutrina Mann, a qual mostrava claramente que a Casa Branca no
se importava mais se militares tomassem o poder - desde que fosse
uma ponte entre o novo regime e o governo norte-americano.A Operao
Brother Sam, encabeada na forma concreta e incisiva de apoio
logstico-militar aos opositores do governo de Goulart. A operao,
batizada com um nome um tanto quanto peculiar, trazia consigo, em
31 de maro de 1964, a mobilizao de1 navio de transporte de
helicpteros, 6 destrieres, 4 petroleiros, 20 avies, isso tudo
capitaneado pelo porta-avies Forrestal, alm de toneladas de munies
e armas leves. O prprio embaixador Gordon reconheceu, anos mais
tarde, a paternidade da idia da operao, demonstrando sua influncia
nas relaes EUA Brasil, e foi alm ao propor uma segunda fase de ao,
que seria uma interveno aberta para afastar a possibilidade de uma
ajuda sovitica. (CAROS AMIGOS, 2007)Esse fato, paralelamente
atrelado Operao Popeye 4 representou o medo dos norte-americanos da
militncia pr-Goulart que poderiam oferecer resistncia bem como
demonstrou que tanto os militares engajados na tomada do poder
quanto os EUA, estavam prontos e decididos a levar frente a
consolidao do governo militar e sua conseqente aliana ao
capitalismo norte-americano O pronunciamento oficial da Casa Branca
para tal levante foi a de que a operao foi acionada para resgatar
civis norte-americanos. Mas o que se viu foi a mais clara
demonstrao da participao americana no golpe. Nas palavras Moraes
(2006, p.03)
(...) embora a interveno militar direta do governo estadunidense
no tenha chegado a se concretizar, a certeza de poderem contar com
o colosso do Norte (para retomar frmula corrente entre a direita
pr-imperialista) trouxe grande encorajamento aos conspiradores, alm
claro, de confirmar o sistemtico desrespeito do Imprio do dlar
soberania dos povos cujos governos o incomodam.
Est mais do que claro que os militares que conspiraram contra
Goulart em 1964 estavam diretamente amparados pelo governo
norte-americano, demonstrando o carter imperialista do governo do
Norte e sua paranica disposio em fazer valer seus ideais. Assim,
seguindo-se no processo, no mesmo dia em que a logstica americana
chega s costas brasileiras, o golpe foi dado e a ajuda militar no
foi precisa, apenas estava l e representou fora, demonstrando apoio
e satisfao.Como j foi explicitada toda a conjuntura de estratgias
pr-golpe militar desencadeada pela militncia brasileira e pelo
governo norte-americano, necessrio tambm colocarmos em pauta uma
outra anlise que tange s estratgias utilizadas para garantir a
permanncia do governo militar no pas ou seja, uma estratgia
ps-golpe militar. Uma vez instaurado no governo, o regime militar
brasileiro garantiu para si o monoplio das informaes - com a criao
do Servio Nacional de Informaes -, dos veculos de comunicao, a
represso armada e deu plena liberdade polcia e ao exrcito para
garantir a ordem no meio social. Esses poderes chegaram ao limite
no governo Mdici, que utilizou o AI-5 Ato Institucional nmero 5-
como a maior mquina de represso aos movimentos anti-governo.No
entrando em detalhes sobre a ditadura em si, precisamos verificar,
portanto, a principal estratgia feita com a parceria Tio Sam - Jeca
Tatu para garantir a permanncia do governo. Esta foi batizada de
Operao Condor.A operao Condor que consistiu, basicamente, numa
aliana poltico-militar entre os vrios regimes militares da Amrica
do Sul Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Bolvia e Uruguai. O
intuito era fazer com que os oponentes das ditaduras vigentes que
estavam exilados no exterior fossem perseguidos e calados. Assim,
em 25 de Novembro de 1975, no Chile, ocorreu uma reunio entre os 6
lderes das inteligncias militares do Cone Sul. A Operao tinha como
objetivo coordenar, de uma forma aos pases interagirem entre si, a
represso das oposies de governos militares. (CAROS AMIGOS 2007) Com
uma cadeia de alianas entre os governos do Cone Sul, foi possvel
montar planos de defesa interna e at de criar uma teia de informaes
com as quais era possvel saber o que ocorria no pas vizinho e at de
um pas pedir ajuda a outro se fosse necessrio. Sempre encabeado
pelo governo norte-americano, que criou agncias no norte do Panam
para realizar encontros anuais entre os dirigentes dos pases
ditatoriais para esclarecerem a situao de seus pases. Uma
contribuio clara da ajuda norte-americana para a Operao foi a criao
de um centro de comunicaes na Zona do Canal do Panam, atravs da
qual as inteligncias sul-americanas mantinham contato.A Operao
Condor viu, na disposio dos governos militares em cooperar entre si
para abafar eventuais revolues e golpes de Estado, a oportunidade
real de prevalecer o interesse americano na continuao do governo e
de seu modo dependente do capital norte-americano. O nome Condor,
assim como Brother Sam, tem seu sentido embutido. A ave andina
Condor especialista na caa suas presas e smbolo de astcia e
perseverana; o que acaba por subentender que a fora dos governos
militares e de suas reais pretenses de manterem a ordem e o
atrelamento ao governo dos EUA era espelhado na figura do animal.
Os encontros entre os lderes surtiram efeito no comeo da operao,
demonstrando, no entanto, fraqueza e indisposio com o seguimento do
processo.
4-Consideraes Finais
Assim, concluindo de uma forma a elaborar uma teia de anlises,
temos a real participao norte-americana na instalao de governos
ditatoriais no Cone Sul o que inclui o Brasil e nossa pesquisa -
fazendo dos regimes sulistas um quintal capitalista, muitas vezes
forados a serem, dos EUA. Com um contexto de plena Guerra Fria, a
disputa ideolgica exigia dos demais Estados um alinhamento a um dos
dois lados para que fosse inserido no sistema internacional de
maneira efetiva. Foi assim que se sucedeu o governo militar
brasileiro, trazendo consigo vinte e um anos de regimes ditatoriais
no pas e que nos levou a refletir no s ns, mas como pesquisadores
de todas as reas- quais foram as intenes brasileiras e americanas
na instaurao do regime e tambm qual foi o pano de fundo necessrio e
utilizado para tal objetivo. A gama de informao e nossa busca por
respostas nos levou a este trabalho, dedicado fins acadmicos e,
muito mais, fins culturais da nossa prpria sociedade como uma forma
a entend-la melhor.
Abstract:Despotism Military com be define like the Brazilian
political period when the military rule the country. This period
goes since 1964 until 1985. It was featured by lack of democracy ,
suppression of constitutional rights , censorship and repression
for those who are against the regime. By some specialists , was a
regime political that if was edifying part from an alliance among
the Brazilian army, the national bourgeoisie and the foreigner
bourgeoisie, principally from the USA , what owned interests
obvious on this region. The big divergence from Cold War was into
the ideological mark, where we had by one side the USA , clear
representative from order worldwide capitalistic ,and of another
side the URSS , what she rendered the socialism. In this
conjuncture the installation of dictatorships military on the
countries of America Latin person , and in order to specifies into
the Brazil , was rendered as one of the forms encountered by USA
and nationalistic bourgeoisie of this countries, of we'll defend
and ensured the perpetuate of the system capitalistic into the
American continent. In this connection the objectives of this work
is presents and reflect on the subject of some from the strategies
of safety & defense used by USA during the period Brazilian
dictatorial. Whom have been clear about to perpetuate of the
capitalistic regime into the Brazil about to consolidate the
hegemony north-american on the America. Golpe militar e influncia
estrangeira[editar | editar cdigo-fonte]Ver artigo principal: Golpe
Militar de 1964 Mais informaes: Aes de derrubada de governos
patrocinadas pela CIA e Atividades da CIA no BrasilTropas
militares, na madrugada do dia 31 de maro de 1964, sob o comando do
general Olympio Mouro Filho marcharam de Juiz de Fora para o Rio de
Janeiro com o objetivo de depor o governo constitucional de Joo
Goulart. O presidente encontrava-se no Rio de Janeiro quando
recebeu um manifesto exigindo sua renncia. O chefe da Casa Militar,
general Assis Brasil, no conseguiu colocar em prtica um plano que
teria a funo de impedir um possvel golpe. Os partidos de sustentao
do governo ficaram aguardando a evoluo dos acontecimentos. O
presidente, de Braslia, seguiu para Porto Alegre e se refugiou numa
estncia de sua propriedade, e depois rumou para o Uruguai, o que
levou o presidente do Senado Federal a declarar vagas a presidncia
e a vice-presidncia da repblica e empossar o presidente da Cmara
dos Deputados, Ranieri Mazzilli, na presidncia da repblica.No dia 2
de abril ocorre a Marcha da Vitria, na cidade do Rio de Janeiro,
garantindo apoio popular deposio do presidente Joo
Goulart.19Blindados, viaturas e carros de combate ocuparam as ruas
das principais cidades brasileiras. Sedes de partidos polticos,
associaes, sindicatos e movimentos que apoiavam reformas do governo
foram destrudas e tomadas por soldados fortemente armados. poca,
estudantes, artistas, intelectuais, operrios se organizavam para
defender as reformas de base. A sede da Unio Nacional dos
Estudantes (UNE) foi incendiada20 . Segundo a Fundao Getlio Vargas,
"() o golpe militar foi saudado por importantes setores da
sociedade brasileira. Grande parte do empresariado21 , da imprensa,
dos proprietrios rurais, vrios governadores de estados importantes
(como Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhes Pinto, de Minas
Gerais, e Adhemar de Barros, de So Paulo), alm de setores da classe
mdia, pediram e estimularam a interveno militar, como forma de pr
fim ameaa de esquerdizao do governo e de controlar a crise
econmica."Os Estados Unidos, que j vinham patrocinando organizaes e
movimentos contrrios ao presidente e esquerda no Brasil durante o
governo de Joo Goulart, participaram da tomada de poder,
principalmente atravs de seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon,
e do adido militar, Vernon Walters, e haviam decidido dar apoio
armado e logstico aos militares golpistas, caso estes enfrentassem
uma resistncia armada por parte de foras leais a Jango: em
Washington, o vice-diretor de operaes navais, John Chew, ordenou o
deslocamento para costa brasileira (entre Santos e Rio de Janeiro)
de uma fora-tarefa da US Navy (incluindo o porta-avies Forrestal,
seis contratorpedeiros, um porta-helicptero e quatro petroleiros),
operao que ficou conhecida como "Brother Sam".22Aps a deposio de
Joo Goulart, vieram os Atos Institucionais (AI), mecanismos
jurdicos autoritrios criados para dar legitimidade a aes polticas
contrrias Constituio Brasileira de 1946 que consolidaram o novo
regime militar implantado.23O presidente Joo Goulart permaneceu em
territrio brasileiro at o dia 2 de abril. Nesse dia, em um golpe
parlamentar,nota 1 o Congresso Nacional declarou que a Presidncia
da Repblica estava vaga e deu posse ao Presidente da Cmara dos
Deputados, Ranieri Mazzili, que permaneceu no cargo at 15 de abril
de 1964, embora representasse um papel meramente decorativo: o
governo era exercido pelos ministros militares. Em uma inverso
constitucional - os militares passando de defensores da Constituio
a subversivos dela e causadores de uma crise poltica - acabou
predominando a fora das armas e o Presidente da Repblica foi
deposto. Goulart partiu para o exlio no Uruguai, morrendo na
Argentina, em 1976.24Atos InstitucionaisEm seus primeiros quatro
anos, o governo militar foi consolidando o regime. O perodo
compreendido entre 1968 e 1975 foi determinante para a nomenclatura
histrica conhecida como "anos de chumbo". Os Atos Institucionais
restringiram os direitos de cerca de dezoito milhes de eleitores
brasileiros,[carece de fontes] que cancelavam a validade de alguns
pontos da Constituio Brasileira, criando um Estado de exceo e
suspendendo a democracia plena. Foram cassados os direitos polticos
de praticamente todos os polticos e militares tidos como
simpatizantes do comunismo, ou que se suspeitava receber apoio dos
comunistas.Ao longo dos governos dos generais Humberto de Alencar
Castelo Branco (1964-1967) e Artur da Costa e Silva (1967-1969), os
Atos Institucionais foram promulgados e emendaram a Constituio
durante todo o perodo da ditadura. Foi o fim do Estado de direito e
das instituies democrticas. A partir de 1 de abril, na prtica uma
junta militar governava o Brasil, porm formalmente foi declarado
vago o cargo de presidente da repblica, pelo senador Auro de Moura
Andrade, presidente do Senado Federal, que empossou o presidente da
Cmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli na presidncia, e com a eleio
de Humberto de Alencar Castelo Branco presidente da repblica pelo
Congresso Nacional em 11 de abril, este toma posse na presidncia em
15 de abril de 1964 para completar o mandato de Jnio Quadros, que
iria de 31 de janeiro de 1961 at 31 de janeiro de 1966.Castelo
BrancoMandato:15/04/1964 a 15/03/1967Governo (realizaes,
acontecimentos, atos):- cassaes polticas- fim da eleio direta para
presidente, criao do bipartidarismo- limitao de direitos
constitucionais- suspenso da imunidade parlamentarArthur da Costa e
SilvaMandato:15/3/1967 a 31/8/1969Governo (realizaes,
acontecimentos, atos):- Ato Institucional n 5 (AI-5)- poltica
econmica voltada para o combate da inflao e expanso do comrcio
exterior.- investimentos nos setores de transporte e comunicaes-
reforma administrativaJunta Governativa provisriaMandato:31/08/1969
a 30 de outubro de 1969Formada por:- Aurlio de Lira Tavares,
ministro do Exrcito;- Augusto Rademaker, ministro da Marinha, e-
Mrcio Melo, ministro da Aeronutica.Emlio Garrastazu
MdiciMandato:30/10/1969 a 15/3/1974Governo (realizaes,
acontecimentos, atos):- represso poltica; "Anos de Chumbo" -
exlios, tortura, prises, desaparecimento de pessoas, combate aos
movimentos sociais e censura.- "Milagre Econmico" - forte
crescimento do PIB- propaganda patriticaErnesto
GeiselMandato:15/03/1974 a 15/03/1979Governo (realizaes,
acontecimentos, atos):- props a abertura poltica desde que fosse
"lenta, gradual e segura"- aumentou o mandato de presidente de 5
para 6 anos- criao do senador binico- alta da inflao e dvida
externa- restaurao do habeas corpus e fim do AI-5Joo Baptista
FigueiredoMandato:15/03/1979 a 15/03/1985Governo (realizaes,
acontecimentos, atos):- incio da transio para o sistema democrtico-
restabelecimento do pluripartidarismo- crise econmica, greves,
protestos sociais- restabelecimento das eleies diretas paGuerrilha
do Araguaiafoi um movimento guerrilheiro existente naregio
amaznicabrasileira, ao longo dorio Araguaia, entre fins dadcada de
1960e a primeira metade dadcada de 1970. Criada peloPartido
Comunista do Brasil(PCdoB), tinha por objetivo fomentar uma
revoluosocialista, a ser iniciada no campo, baseada nas experincias
vitoriosas daRevoluo Cubanae daRevoluo Chinesa.Combatida pelasForas
Armadasa partir de1972, quando vrios de seus integrantes j haviam
se estabelecido na regio h pelo menos seis anos, o palco das
operaes de combate entre a guerrilha e os militares se deu onde os
estados deGois,PareMaranhofaziamdivisa. Seu nome vem do fato de se
localizar s margens do rio Araguaia, prximo s cidades deSo Geraldo
do AraguaiaeMarabno Par e deXambio, no norte de Gois (regio onde
atualmente o norte do estado deTocantins, tambm denominada comoBico
do Papagaio).1Estima-se que o movimento que pretendia derrubar o
governo militar, tomar o poder fomentando um levante da populao,
primeiro rural e depois urbana, e instalar um governo comunista no
Brasil como havia sido feito emCubae naChina2, era composto por
cerca de oitentaguerrilheirossendo que, destes, menos de vinte
sobreviveram, entre eles, o ex-presidente doPartido dos
Trabalhadores(PT),Jos Genono, que foi detido pelo Exrcito em 1972,
ainda na primeira fase das operaes militares. A grande maioria dos
combatentes, formada principalmente por ex-estudantes universitrios
e profissionais liberais, foi morta em combate na selva ou
executada aps sua priso pelos militares, durante as operaes finais,
em 1973 e 1974.1Mais de cinquenta deles so considerados ainda hoje
comodesaparecidos polticos.3Desconhecida do restante dopas poca em
que ocorreu, protegida por uma cortina de silncio ecensuraa que o
movimento e as operaes militares contra ela foram submetidos, os
detalhes sobre a guerrilha s comearam a aparecer cerca de vinte
anos aps sua extino pelasForas Armadas, j no perodo de
redemocratizao.ndice[esconder] 1O PCdoB chega ao Araguaia 2A
descoberta da guerrilha 3Operao Papagaio 4Operao Sucuri 5Operao
Marajoara 6Operao Limpeza 7Legado 8Ver tambm 9Referncias
10Bibiografia adicional 11Ligaes externasO PCdoB chega ao
Araguaia[editar|editar cdigo-fonte]
Conflitos naHistria do BrasilPerodo Republicano
Repblica Velha
1 Revolta de Boa Vista: 1892-1894
Revolta da Armada: 1893-1894
Revoluo Federalista: 1893-1895
Guerra de Canudos: 1893-1897
Revolta da Vacina: 1904
2 Revolta de Boa Vista: 1907-1909
Revolta da Chibata: 1910
Guerra do Contestado: 1912-1916
Sedio de Juazeiro: 1914
Greves Operrias: 1917-1919
Revolta dos Dezoito do Forte: 1922
Revoluo Libertadora: 1923
Revoluo de 1930: 1930
Era Vargas
Revoluo Constitucionalista: 1932
Intentona Comunista: 1935
Levante Integralista: 1938
Regime Militar
Guerrilha do Capara: 1967
Guerrilha do Araguaia: 1967-1974
Revolta dos Perdidos: 1976
Nosanos 60dosculo XX, a regio ao longo do qual corre orio
Araguaiaera habitada por brasileiros em sua maioria vindos de
outras regies, principalmente donordeste do pas. Eram homens atrs
de terras para o cultivo,garimpeirosatrs de pedras preciosas,
caadores atrs de peles de animais, migrantes procurando todo tipo
de trabalho e riqueza que aquelas reas virgens pudessem oferecer.
Famlias inteiras, fugindo dasecanordestina, trabalhavam
emfazendaspor menos de umsalrio mnimo. Muitos
plantavammandiocaecastanha-do-par, a maioriaanalfabetose explorados
pelos poucos proprietrios de terra,grileirosdo lugar. Era o local
ideal, segundo o PCdoB, para o incio de uma revolta popular.4A
mesma avaliao, depois de descoberta a guerrilha, foi feita
peloCenimar, o Centro de Informaes da Marinha, que informava em
relatrio que a populao da regio vivia na misria, sob o domnio
delatifundiriose autoridades municipais corruptas.5:92A preparao
dos guerrilheiros do PC do B remonta ainda ao ano de 1964, quando
os primeiros militantes iniciaram formao poltico-militar naChina,
visto que o Partido adotou a linha de guerra popular prolongada de
inspiraomaoista. Sua defesa da luta armada era anterior a 1964, e
contrria ideia de "foco" cubano e da revoluo continental
marxista-leninista. Entre 1964 e 1968, dezoito militantes haviam
passado por treinamento militar na China, entre eles vrios dos que
agora se estabeleciam no Araguaia.6Apenas quatro meses aps o golpe
militar, oficiais e sargentos brasileiros foram mandados para curso
de combate na selva noPanam, ministrado num centro de instruo
mantido pelos norte-americanos naquele pas.6:413Nesta poca, as
Foras Armadas iniciaram um estudo para efetuar as operaes
antiguerrilha. Estas foram envolvidas de um planejamento sigiloso
que durou cerca de dois anos. Segundo os militares, era indesejvel
a ecloso de outros movimentos semelhantes em outras regies do
Brasil, pois isto ocasionaria uma ecloso de violncia na regio
rural, o que poderia vir a desestabilizar o poder militar. Entre
1969 e 1971, os militares desmantelaram pequenas bases e infiltraes
daALNe daVAR-Palmaresna regio doBico de Papagaio, sem maiores
dificuldades,6:413na chamada "Operao Mesopotmia", manobras de
tropas realizadas emImperatriz, noMaranho.5:99O embrio da guerrilha
do PCdoB, na rea do Araguaia,XambioeMarab, porm, continuava
desconhecido.Ponto de partida de uma guerra sem data marcada para
comear, amatatambm servia para esconder opositores polticos
procurados em todas as reas urbanas do Brasil peladitadura militar.
A partir de 1967, os primeiros combatentes comearam a chegar a rea,
vindos dosul,sudestee doMaranho, onde j se haviam instalado. Entre
eles estavamJoo Amazonas, o lder mximo do Partido,Elza
Monnerat,Maurcio Grabois, seu filhoAndr Grabois, seu genroGilberto
Olmpio Maria, omdicoJoo Carlos Haas Sobrinhoe o gigante
negro,engenheiroe campeo deboxeOsvaldo Orlando da Costa, o
"Osvaldo", entre poucos outros.Entre 1967 e 1971, transformaram-se
em habitantes locais, abrindo pequenos comrcios, bares, prestando
pequenos atendimentos mdicos de casa em casa, fazendo partos,
caando, pescando, plantando, transportando pessoas e vveres
emcanoas, abrindo umafarmcia, dando aulas para moradores e
fazendopropagandapoltica em pequenas reunies, inseridos na pequena
e humildesociedadelocal. Eram chamados peloscaboclosde
"paulistas".4Da primeira dezena que havia chegado em 1967/68, no
comeo dadcada de 1970o grupo j contava de mais de sessenta
militantes, homens e mulheres, vindos de diversos lugares do
Brasil, quase todos jovensestudantesou profissionais liberais, em
preparao para uma revoluo, que acreditavam, teria incio ali.4Usando
codinomes, eram 'Cid', 'Mrio', 'Dr. Juca', 'Dona Maria', 'Dina',
'Baianinha', 'Regina', 'Snia', 'Zeca Fogoi', 'Mariadina' e 'Cazuza'
entre outros, para os moradores do Araguaia. Eram ex-estudantes
dequmica,engenharia,letras,fsica,astronomia,medicina,geologiae at
uma trinca de irmos, os Petit da Silva. Dezesseis j haviam sido
presos anteriormente, oito deles no Congresso da UNE em Ibina,
1968.6:410
Da esq. p/ dir. em sentido horrio:Joo Amazonas,Elza
Monnerat,ngelo ArroyoeMaurcio Grabois, comandantes da
guerrilha.Apesar do esforo em se passar e se misturar aos locais,
sua aparncia, modos e maneira de se expressar no condiziam com a
populao mais antiga j instalada no Araguaia. O "povo da mata", na
linguagem dos caboclos, no fazia sentido naquele ambiente. Aquela
"gente sabida"6:41'era aceita pela comunidade mas no os enganava.
Quando um dos guerrilheiros disse a um caboclo local que um
sobrinho de "Cid" era bom de faco, recebeu como resposta: "Deve ser
bom mesmo de caneta".6:411Sem o conhecimento da populao local, para
a qual prestavam servios mdicos e davam aulas
dealfabetizaoconquistando a estima do povo, aos poucos o grupo
crescia. Com idade mdia inferior a 30 anos, no auge do vigor fsico,
estocavam alimentos, munio e remdios em pontos esparsos da mata e
faziam treinamento militar, acostumando-se vida na selva.
Aprenderam a fazer fogo e caminhar duzentos metros em mata fechada
sem se perder no caminho de volta.6:410Seus integrantes
espalhavam-se por uma rea de 6,5 mil km, numa extenso de 130
km.6:400O treinamento constante fazia com que alguns deles j fossem
capazes de sobreviver sozinhos na mata levando consigo apenas
armas,munio,salefarinha.Na virada doAno Novode 1971-72, os
diferentes grupos juntaram-se numa comemorao dereveillon, quando
imaginavam poder dar incio a seus planos em breve, confiantes pelo
tempo na selva. A festa, na regio chamada Gameleira, teve comida,
bebida e cantoria, e entre pedaos deveadoepacaaoleite de castanha,
recitaramI-Juca-PiramadeGonalves Diase cantaram aInternacional
SocialistaeApesar de Voc, deChico Buarque de Holanda.6:412No era at
ento uma guerrilha pronta para o combate. Com poucas armas e poucos
integrantes, a direo do PCdoB acreditava que com mais um ou dois
anos de preparao, seria possvel deflagar a guerra de guerrilha
rural revolucionria que era uma linha poltica do Partido, adepto
daluta armada, desde 1962. Uma fuga, uma desistncia, e duas prises
feita emFortalezae emSo Paulo, bem longe dali, entretanto, faria
com que os servios de inteligncia das Foras Armadas tomassem
conhecimento dos guerrilheiros do Araguaia, antes do previsto e
desejado.A descoberta da guerrilha[editar|editar cdigo-fonte]No
incio de 1972 o governo descobriu a existncia da guerrilha e soube
disso por informantes diferentes, sem que se possa precisar qual
foi o primeiro.6:413Em novembro de 1971, dois guerrilheiros, Pedro
Albuquerque e sua mulher, fugiram da rea, desistindo da campanha.
Em janeiro de 1972 ele foi preso em Fortaleza, noCear, e
oCIEconseguiu o fio da meada que levava guerrilha6:414(Pedro, porm,
sustenta at hoje que seus torturadores j conheciam a estrutura no
Araguaia)7.A outra informao veio de So Paulo. A mulher do
guerrilheiroLcio Petit da Silva, um dos irmos Petit,
contraiuhepatiteetuberculosena selva. Saiu do Araguaia em fins de
1971 grvida e com um problema porcuretagemmal feita, sendo levada
atGoiniapara tratamento. Deveria voltar mas fugiu do hospital e
desembarcou em So Paulo atrs da famlia. Ao saber de suas
atividades, seus familiares a pressionaram eLcia Regina Martins, a
"Regina", revelou represso o que sabia da "rea prioritria" em
Marab.6:414Elza Monnerat, uma das lderes do PCdoB poca, a considera
a principal responsvel pela descoberta da guerrilha pelos militares
em 1972.8Juntando as informaes recebidas, cruzando os dados e
mapeando a regio, o governo localizou a rea e estimou o efetivo da
guerrilha. Em maro de 1972, agentes dapolcia federalpassaram por
Xambio perguntando por forasteiros. Como haviam outros pequenos
focos subversivos por toda aAmaznia, apesar de avisada a guerrilha
achou que aquilo no lhe dizia respeito.6:414Em abril, sob o comando
dogeneral-de-divisoViana Mooge do comandante e general
paraquedistaHugo Abreu, tropas doExrcito Brasileiroentravam no
Araguaia.Operao Papagaio[editar|editar cdigo-fonte]Em21 de abrilde
1972, os militares comearam a entrar na regio, entre Marab e
Xambio, primeiro com uma pequena equipe de cinco homens, um grupo
de batedores do CIEx chefiado pelomajorLcio Maciel- que trazia
consigo como prisioneiro Pedro Albuquerque5:102- e logo em seguida
com umbatalhode 400 homens acantonado em cada cidade. Bases foram
sendo instaladas no interior e em agosto o total chegava a 1500
homens. Mascarando suas intenes reais, a notcia espalhada era que
se tratava de uma manobra doIV Exrcito, cuja sede ficava emRecife,
a 1600 km dali. Dentro dessa massa de soldados dainfantariaregular,
estavam homens do CIEx e paraquedistas, cuja misso era destruir a
guerrilha. Era o incio da primeira das trs fases da campanha
militar, a Operao Papagaio6:414-415, com trs pequenas operaes de
coleta de informao e levantamento da rea em seu bojo antes da
chegada do grosso da tropa: "Peixe", "Ourio" e "Olho Vivo".9Postos
de controle foram montados naTransamaznicae naBelm-Brasliae uma
base area aberta em Xambio. O posto de comando foi instalado numa
casa de telhado azul, s margens dorio Itacainas. Os primeiros
ataques a bases da guerrilha no conseguiram capturar ningum, foram
achados apenas materiais usados pelos guerrilheiros. Com a presena
do exrcito, a guerrilha sumiu na floresta. Para muitos deles, o
sentimento era de que "havia chegado a hora".6:416
No mapa, em amarelo, a regio do Araguaia. No crculo, a rea de
enfrentamento entre guerrilha e exrcito (1972-74).A "hora", no
entanto, pegou o PCdoB de surpresa, destruindo o capital inicial de
qualquer fora de combate de guerrilha, que pegar seu adversrio de
surpresa. Contando com 71 homens e mulheres, espalhados em trs
destacamentos na mata (A, B e C), a unidade era mal armada. Cada um
deles possua um revlver com quarenta balas e o total do armamento
se limitava a 25 fuzis, quatro submetralhadoras - duas de fabricao
artesanal - trinta espingardas e quatro carabinas de caa, num total
de 63 armas longas para 71 guerrilheiros.6:416Contra isso havia
quase dois mil homens com fuzisFALe submetralhadoras. Alm disso, o
arsenal da guerrilha no era de boa qualidade e muitas armas
emperravam. Uma das guerrilheiras, depois de capturada,
testemunharia que para acertar um alvo com seu fuzil numa rvore,
precisava mirar trs rvores adiante.6:416Apesar da vantagem, a
Operao Papagaio comeou mal para os militares. Na tarde de5 de
maiohouve o primeiro confronto entre as duas foras. Uma pequena
patrulha em busca de informaes foi emboscada prxima a um riacho. A
guerrilha atacou dispersando a tropa, ferindo umtenente, um
sargento e matando o cabo Odlio Cruz Rosa, da 5 Companhia de
Guardas de Belm. Seu corpo ficou uma semana no mato, sendo
recolhido j em estado de decomposio, porque a guerrilha
destacamento C, comandado por Osvaldo impedia o pequeno efetivo
militar disponvel na rea de chegar ao local.5:114. Em 1973-74, na
terceira e ltima campanha, por esse motivo os militares passariam a
adotar a mesma prtica, deixando insepultos na mata os corpos de
guerrilheiros abatidos.5:114Num novo choque, mais um soldado morto
e um sargento ferido. Vendo o que acontecia, o guia "China",
caboclo da regio arregimentado pelo Exrcito, temendo a represlia
posterior entrou no mato, se escondeu por dois dias e desapareceu
do Araguaia: "Resolvi cair fora daquela guerra. Se eu no morresse
ali iam me matar depois. Os soldados no entendiam nadinha de
mato".6:416Mateiros e guias locais no-simpatizantes dos
guerrilheiros eram citados em relatrios daAeronuticaexplicando o
porque das dificuldades das tropas regulares na floresta: "fazem
muito barulho, deixam muitas pistas, s se deslocam em estradas e
picadas e usam muito helicptero, fazendo com que a guerrilha saiba
de antemo de sua aproximao".5:126A maior vitria inicial,
entretanto, no foi notada. Com o ataque e o cerco do exrcito, ele
manteve fora do Araguaia o comandante-em-chefe Joo Amazonas ("Cid")
e Elza Monnerat ("Dona Maria"), organizadora geral da estrutura da
guerrilha, que chegando de So Paulo com novas instrues e novos
militantes uma delas,Rioko Kayano, presa em Marab, conheceria na
cadeia e viria a ser a mulher deJos Genono, com quem casada at
hoje10 foram obrigados a retornar da rodoviria pela vigilncia e
presso do exrcito em toda rea, sem conseguir entrar na
mata.6:418Nesta primeira operao, o exrcito conseguiu localizar e
infligir danos a apenas um dos destacamentos, o C, 25% do total de
combatentes. A soma de milcruzeirosera oferecida aos caboclos por
informao sobre os "paulistas" na poca, dinheiro suficiente para
comprar um bom terreno. Vrios foram assim localizados, presos ou
mortos. O primeiro a cair foi "Jorge", denunciado por um
mateiro.Bergson Gurjo Fariasera um ex-estudante de qumica
naUniversidade Federal do Ceare viria a ser o primeiro desaparecido
no Araguaia. Emboscado por uma patrulha de paraquedistas, foi
metralhado. Seu corpo foi pendurado numa rvore de cabea para baixo
e sua cabea chutada pelos soldados.5:117Mais dois seguiram o mesmo
caminho, Kleber Lemos da Silva, oeconomista"Carlito" e "Maria", a
nica mulher entre os irmos Petit,Maria Lcia Petit da Silva,
ex-professora de 22 anos, morta em tocaia com um tiro no peito pelo
campons a servio dos militares, Joo Coioi.6:420Foi enterrada em
Xambio em sepultura annima, envolta numparaquedase com a cabea
coberta com um plstico (Sua ossada, descoberta em 1991, foi
identificada por peritos daUnicampem 1996. um dos dois nicos
guerrilheiros mortos cujo corpo foi encontrado e identificado.)11A
colaborao dos caboclos da regio no veio, porm, apenas do
oferecimento de dinheiro. As Foras Armadas entraram na rea como uma
fora de ocupao.6:418Comerciantes, mascates e vendeiros acusados de
comercializar com a guerrilha foram presos, junto com umpadreque
incomodava oprefeitoe um lutador de circo, este porque tinha
cabelos grandes. Umfazendeirocapixaba que chegava no Araguaia para
tomar posse de uma terra recm-comprada foi preso e jogado por trs
dias num buraco na terra coberto com uma tampa de madeira, dentro
de um acampamento cercado com arame farpado onde j encontravam
vrios moradores do lugar.6:418-419. Um barqueiro da regio,Lourival
Paulino, 55 anos, que costumava transportar os guerrilheiros pelo
rio, foi preso no fim de maio, enfiado na cadeia de Xambio de onde
saiu morto, com umatestado de bitodesuicdioporenforcamento.6:419Um
lavrador que havia dado comida aOsvaldoteve a roa incendiada e
nunca mais foi visto.6:40512
Cabo Odilio Cruz Rosa, o primeiro morto na Guerrilha do
Araguaia.Entre junho e agosto a ofensiva militar estancou e
retraiu-se. Em quatro meses o exrcito tinha apenas conseguido
prender ou matar menos de uma dzia de militantes, localizar e
isolar a rea do Destacamento C sem chegar a nenhum de seus refgios,
ter informaes desconexas sobre o B, e nunca teve conhecimento do A.
Diante disso, retomou a ofensiva em setembro com um efetivo de
3.000 homens e de maneira diferente, tentando conquistar o povo da
regio e dissociando-se da atitude policialesca da primeira
investida. Desembarcaram 2,5 toneladas de medicamentos, mdicos e
dentistas em Marab, panfletaram toda a regio com mensagens de
guerrilheiros j capturados e obrigaram fazendeiros a
reconheceremdireitos trabalhistasde seus empregados.6:422-423Duas
vitrias importantes foram conseguidas neste ms, com a morte deJoo
Carlos Haas Sobrinho, o "Dr. Juca", comandante-mdico da guerrilha,
morto em combate, eHelenira Resende, integrante do destacamento C,
procurada em todo pas e jurada de morte em So Paulo pelo
delegadoSrgio Fleury,13executada aps captura.6:424A segunda
investida, entretanto, teve resultados gerais ainda piores que a
primeira. Programada para durar vinte dias durou apenas dez. No
perodo, a guerrilha atacou uma base do 2 Batalho de Infantaria da
Selva e matou o sargento Mrio Abrahim da Silva.14:431-438A ajuda
dos mateiros pagos no produziu nenhuma emboscada de vulto.
AFABjogou bombas incendirias numa serra careca onde jamais os
guerrilheiros tinham pisado. Trs reas da mata sofreram bombardeio
comnapalm.15Uma guerrilheira comeava a criar fama no campo.Dinalva
Oliveira Teixeira, a "Dina", ex-geloga baiana que tinha virado
parteira na regio, sobrevivera a trs combates, enfrentara sozinha
um grupo de soldados, escapara ferida no pescoo e acertara no ombro
o capito paraquedista lvaro Pinheiro, filho do comandante da Escola
Nacional de Informaes, general nio Pinheiro.6:425Os militares
tinham especial determinao em ach-la, considerando-a uma ameaa ao
militar na regio, no intuito de destruir omitocriado entre o povo
do Araguaia para desmoralizar a guerrilha.5:67O disfarce da operao
em manobra militar de rotina mais prejudicou mais do que ajudou. O
governo impedia a publicao de manifestos do PCdoB mas o partido
distribua panfletos por todo o Araguaia, que chegaram at o sul.
Em24 de setembro, o jornalO Estado de So Paulopublicava longa
matria - driblando a censura para notcias de movimentao de tropas -
sobre as manobras militares. Dois dias depois a guerrilha
brasileira era noticiada noThe New York Times.6:428Em outubro de
1972, as tropas retiraram-se. Para a guerrilha, mesmo que ainda
operativa, as baixas foram significativas. Entre abril e outubro
ela perdeu dezenove combatentes, oito mortos em combate, quatro
assassinados depois da captura e sete presos e transferidos
paraBraslia.6:424O Exrcito nunca declarou seu nmero oficial de
mortos e feridos. O general Viana Moog deixou a regio falando em
vitria e declarando que "o xito da manobra excedeu as expectativas
deste comandante".6:425. Porm, o estrategista da campanha militar,
generalAntnio Bandeira, foi transferido da tropa para a direo
daPolcia Federal, em Braslia. O capito Pinheiro, ferido por "Dina",
23 anos depois j comocoronelda reserva, listou as deficincias da
operao: a) concepo equivocada nos nveis operacional e ttico b)
falta de unidade de comando c) informaes deficientes sobre o
terreno e o inimigo d) falta de continuidade nas operaes e) grande
diversidade de unidades empregadas e deficincias no
treinamento.6:426Com relao ao ltimo tpico assinalado pelo militar,
a grande maioria dos soldados empregados no combate guerrilha nesta
operao, foi, na verdade, de recrutas cumprindo o servio militar
obrigatrio, garotos de 18-19 anos sem nenhuma experincia.14:430Dona
Domingas, uma moradora deSo Geraldo do Araguaia, resumiu o quadro:
"Eles passaram tudo por aqui chorando, tudo recruta na bolia do
caminho cheio, chorando".6:427A Operao Papagaio havia terminado. O
Exrcito havia feito a maior mobilizao de tropas da sua histria
desde a campanha daFEBnaItlia, maior que trs das quatro expedies
contraCanudos,6:400usara um efetivo humano na proporo de 50 para
1,5:126e a guerrilha do Araguaia continuava onde sempre esteve. Mas
o governo do generalEmlio Garrastazu Mdiciestava determinado a
extingui-la. Em 1973, entrariam em cena os soldados profissionais
da elite das Foras Armadas. Ia comear a Operao Sucuri.6:433Operao
Sucuri[editar|editar cdigo-fonte]A retirada das tropas deu nos
caboclos e camponeses a impresso de que os "paulistas" tinham
vencido a guerra. Um bate-pau que ajudou os militares, encontrado
casualmente na mata por trs guerrilheiros, foi assassinado
tiros.6:424Joo Coioi, o matador de Lcia Petit, juntou a famlia e
desapareceu da regio.6:423Outros fingiram-se de ineptos. Com o fim
do segredo entre a populao do Araguaia sobre quem eram os
"paulistas", a guerrilha lanou-se propaganda, distribuindo folhetos
com mensagens socialistas e at fazendo chegar cartas a jornais.
Segundo um caboclo, "eles falavam em comunismo, mas ningum sabia o
que era aquilo".6:429No primeiro semestre de 1973, a guerrilha
reorganizou-se. Depsitos de mantimentos e munies foram espalhados
em refgios pela floresta. Recrutaram mais dois combatentes entre os
moradores da regio e formaram treze grupos clandestinos de apoio,
num total de 39 pessoas. Mataram trs colaboradores dos militares,
um deles umjagunoda regio e atacaram um posto da PM na
estradaTransamaznica. Cercaram a base, atearam fogo no telhado de
palha, renderam os cinco soldados da guarnio e fugiram levando as
fardas, seis fuzis e um revlver.6:431Em agosto, a direo da
guerrilha "justiou" (fuzilou), aps julgamento na selva, um dos
militantes por fraqueza ideolgica eadultrio.5:56. Eram at ento um
total de 56 homens e mulheres, dos quais seis camponeses. Faltava
roupa, calados e munio e no houve mais reforos porque o PCdoB j
havia sido desbaratado em seis estados. As armas continuavam
insuficientes, mas o moral estava alto. A proximidade do perodo
chuvoso no Araguaia, que impedia a movimentao de grandes veculos,
lhes dava a suposio de que o exrcito s voltaria no comeo de
1974.
Grupo de guerrilheiros no Araguaia.Em abril de 1973 comeou a
segunda investida, denominada Operao Sucuri. Diferente da anterior,
esta foi uma operao de Inteligncia. O fracasso em derrotar a
guerrilha em 1972 tinha tirado da estrutura convencional do exrcito
o planejamento das operaes, agora feito pelo CIE, sob o comando do
generalMilton Tavares de Souza. Em maio, oficiais, sargentos e
cabos doDOIde Braslia e da3 Brigada de Infantaria Motorizada, em
nmero reduzido, comearam a se infiltrar na regio. Ao invs da
ostentao da Operao Papagaio, os militares chegavam disfarados, a
maioria sem documentos ou documentos falsos, vestidos como civis.
Um pseudo-agrnomodoINCRAestabeleceu-se em Xambio com o nome de "Dr.
Luchini". Era o capitoSebastio Rodrigues de Moura, vulgo
Curi.6:434Alm da guerrilha, agora o exrcito tambm tinha
codinomes.Homens com aparncia de caboclos abriam bodegas na
estrada, tornavam-se comerciantes dealho, compravamroas,
abriampadarias, madeireiras de pequeno porte, e um chegou a
vendermuniopara os guerrilheiros para no levantar suspeitas. Tinham
sido todos ambientados vida rural passando um tempo em chcaras ao
redor de Braslia.6:434Os novos moradores anotavam as informaes do
que viam, conseguiam pistas da movimentao pela rea, identificavam
os guerrilheiros e os camponeses que tinham contato com eles e
"Curi" passava de lancha voadora pelo rio no fim de semana
recolhendo os relatrios.16:151Entre abril e outubro a guerrilha foi
mapeada, nomes catalogados, caboclos e mateiros ligados aos
guerrilheiros identificados. Em abril, um fichrio sigiloso continha
51 nomes de moradores da regio. Em setembro, passou para 400
nomes.6:434O sigilo de tudo relacionado guerrilha era justificado
pelos militares como "um propsito para negar aos guerrilheiros o
reconhecimento de que as Foras Armadas estavam sendo empregadas num
problema de defesa interna desta natureza."17O general Mdici temia
que a propagao de notcias de combates desse notoriedade guerrilha e
transformasse o Araguaia numa "zona liberada", como o que ocorria
em regies doSudeste Asitico.18:36Terminado o levantamento de
Inteligncia - Plano de Informaes Sucuri N 119- em que at quadros
com fotografias e biografias de guerrilheiros e moradores foram
montados no centro de operaes em Marab, em outubro de 1973 os
soldados voltaram. Diferente da primeira investida com soldados e
recrutas conscritos, agora a tropa, sem uniformes, cabeludos e
barbudos como os locais, era composta por homens daBrigada
Paraquedista, doCorpo de Fuzileiros Navais,Batalho da Selva,Batalho
de Foras Especiaise helicpteros da FAB descaracterizados, a elite
das Foras Armadas.6:436-437Em quantidade menor e sem identificao. O
segredo deEstadona luta no Araguaia produziu a clandestinidade das
aes. Diferente do combate luta armada nas cidades, no houve
inquritos policiais-militares, nem denncias formais, nem sentenas
judiciais. A ordem era no fazer prisioneiros, e prisioneiros no
seriam feitos.6:432Tinha incio a terceira e ltima investida militar
no Araguaia, a Operao Marajoara.Operao Marajoara[editar|editar
cdigo-fonte]Em 7 de outubro de 1973 a tropa voltou ao Araguaia. Um
efetivo menor, cerca de 400 homens, disfarados e sem uniforme mas
com grande quantidade de armamento, que eram deixados em vrios
povoados da rea ocupada pelos guerrilheiros. Alguns deles chegavam
escondidos em caixotes ocos dentro de caminhes de transporte de
madeira. Para os locais, eram funcionrios da "Agropecuria Araguaia"
e da "Minerao Aripuan".6:436Chegaram prendendo moradores.
Lavradores e pequenos comerciantes foram levados para prises em
Xambio e Marab. Alguns colocados em buracos abertos em clareiras
com grade em cima. Em Taboco, onde havia dezessete homens, foram
todos presos e relatos de tortura comeavam a aparecer: "Moo, tinha
nego l que tava azul que nem carne roxa."6:437Antes das refeies os
presos eram colocados em fila, nus, e obrigados a cantar" um tal de
soca soca, um tal de pula pula"; quem errasse a letra, apanhava. Um
campons, de quem se suspeitava saber informaes dos guerrilheiros,
foi colocado num pau de arara em cima de umformigueiro, com o corpo
lambuzado deacare comido pelasformigasat confessar o que
sabia.20Nas duas primeiras campanhas os caboclos eram convencidos
muitas vezes a colaborar com os militares em troca de prmios em
dinheiro. Na Operao Marajoara a escolha era outra. Mais de 20 se
tornaram guias do exrcito. "Z Catingueiro", um caboclo local, nos
meses anteriores colaborava com os guerrilheiros levando mensagens
deles aos locais convidando-os a se juntarem ao grupo. Com a
chegada da tropa, meses depois matou a guerrilheira "Cristina",Jana
Moroni.21O matuto ngelo Lopes de Souza, 40 anos, conhecia bem a
guerrilha e os lugares por onde andavam. Levado para o campo de
arame farpado montado na base de Bacaba, passou um ms preso.
Recebeu proposta de guiar os militares e aderiu: "Tinha certeza que
se no aceitasse seria morto".6:430Um lugarejo, o stio gua Boa, emSo
Domingos do Araguaia, foi totalmente incendiado.A chegada do CIEx e
das tropas de elite na regio decretou um toque de recolher
voluntrio entre os moradores. Ningum saa de casa noite. A estratgia
militar de intimidao provocou adeses aos dois lados; a eles, pelo
medo, e aos guerrilheiros, para fugir dos militares, incluindo
meninos alunos das aulas de alfabetizao de Jana Moroni eMaria Clia
Correa, a "Rosa", ex-bancria carioca e estudante
deFilosofianaUFRJ.6:440
Corpos de guerrilheiros mortos com as mos amarradas, observados
por militares. Araguaia, dcada de 1970.Entre outubro de 1973 e
outubro de 1974 a guerrilha foi sistematicamente exterminada.
Pequenos grupos de combate adentravam a selva com mais poder de
fogo cada um deles que todos os guerrilheiros juntos. Os oficiais e
sargentos carregavam um relatrio, chamado de "Normas Gerais de Ao -
Plano de Captura e Destruio", que trazia a identificao de
guerrilheiros a serem abatidos por prioridade. Os integrantes da
chamada Comisso Militar da Guerrilha deveriam ser os primeiros a
ser eliminados.20No dia de natal de 1973, houve a primeira grande
vitria dos militares, com a morte, numa emboscada, do comando
militar guerrilheiro.Maurcio Grabois, o chefe combatente do PCdoB
foi morto junto com seu genro,Gilberto Olmpio Maria, o "Pedro", e
mais trs combatentes.6:447A partir da a guerrilha perdeu a condio
de fora militar organizada, dividindo-se em colunas dizimadas aos
poucos, num perodo de seis meses. De um lado, tornou-se uma caada
humana; de outro, uma fuga pela vida. Helicpteros sobrevoavam a
floresta com alto-falantes oferecendo rendio aos guerrilheiros;
quem aceitava era assassinado.6:45322Osvaldo foi morto pelo mateiro
"Piau", liderando uma patrulha. Foi degolado e seu corpo
transportado pela floresta, pendurado pelas pernas numa corda
amarrada a um helicptero. "Piau" ganhou uma gleba de terra de
presente do exrcito e viveu da fama. Morreu na misria em 1993 e seu
sepultamento foi pago pelo governo.6:459"Snia" morreu em confronto
com uma patrulha, emboscada na beira de um rio, e antes de ser
metralhada feriu os dois comandantes da patrulha, o major Licnio e
o capito Curi. Pedro Alexandrino, o "Peri", encontrado sozinho na
mata apenas com umgarruchae um quilo desal, levou um tiro a cabea
e, transportado para a base de Xambio, teve seu corpo chutado pelos
soldados at a interveno de um oficial exigindo respeito pelo
inimigo morto.6:459Dinaelza Coqueiro, a "Mariadina", presa depois
de denunciada por camponeses, levada Curi na casa de telhado azul,
cuspiu-lhe na cara e morreu fuzilada sentada numa
clareira.23:208Vrios outros, atravs do depoimento de testemunhas,
foram presos e executados. A temida "Dina" foi presa em agosto de
1974 junto comLuiza Garlippe,enfermeirapaulista e comandante mdica
do que restava da guerrilha; as duas foram assassinadas. Os dois
irmos Petit at ento sobreviventes desapareceram.6:459Antnio de Pdua
Costa, o "Piau", ex-estudante deastronomiano Departamento de Fsica
da UFRJ que havia assumido o comando do principal destacamento da
guerrilha aps a morte de Grabois, foi preso depois de um luta
corporal na mata com o sargento Jos Vargas Jimnez - codinome na
selva "Chico Dlar" - entregue vivo ao CIEx e hoje um desaparecido
poltico.20Com o exrcito calculando que o nmero total de
guerrilheiros restantes no fosse maior do que vinte, as tropas
comearam a ser retiradas nos primeiros meses de 1974, deixando
apenas alguns homens do CIE e do Batalho de Operaes Especiais. Em
seu lugar, foram formadas pequenas patrulhas de caadores chamadas
de Grupos Zebra. Compostas de mateiros e militares, especialmente
sargentos e cabos, adentraram a selva por meses caando os
guerrilheiros sobreviventes desgarrados. Vrios foram mortos assim e
recompensas financeiras pagas.6:459Para identificao de
guerrilheiros mortos, os militares os fotografavam antes de
enterr-los na mata. Mais de 40 foram fotografados. Quando no havia
uma cmera disponivel, cortava-se o polegar direito, a mo inteira do
cadver ou mesmo a cabea.24:39Em outubro de 1974, a ltima
sobrevivente foi encontrada, descala e mancando no mato. EraWalkria
Afonso Costa, a "Walk", ex-estudante dePedagogiadaUFMG. Levada
Xambio, foi executada em 25 de outubro de 1974.6:460Documentos
encontrados anos depois, constantes no arquivo daCmara dos
Deputadose liberados para consulta pblica, mostram ordens
detalhadas de oficiais daMarinha, um deles o comandante-geral
doCorpo de Fuzileiros Navais, Edmundo Drummond Bittencourt, ainda
em setembro de 1972, para a eliminao dos guerrilheiros
capturados.25Em 2009, o Major Curi revelou que as Foras Armadas
executaram 41 guerrilheiros no Araguaia depois de serem presos
vivos.26De todos os integrantes da guerrilha que atuavam no
Araguaia no incio da Operao Marajoara, apenas dois escaparam:ngelo
Arroyo, morto dois anos depois em So Paulo, no episdio conhecido
comoChacina da LapaeMicheas Gomes de Almeida, o "Zezinho do
Araguaia", que, acompanhando Arroyo na travessia doMaranhoe
doCearpara escapar da rea de conflito, desapareceu por mais de
vinte anos, sendo encontrado emGoiniaem 1996 depois de viver em So
Paulo com outra identidade, e ainda hoje vivo.6:451-452Do lado dos
militares, o nmero estimado de mortos de dezesseis.27Operao
Limpeza[editar|editar cdigo-fonte]No inicio de 1975, com a
guerrilha j exterminada, as Foras Armadas deram incio a uma operao
de ocultao de todos os fatos acontecidos no Araguaia, diante da
poltica de sigilo absoluto determinada pelo governo, agora do
generalErnesto Geisel. Chamada de Operao Limpeza, o objetivo era
apagar os rastros da luta e dos corpos deixados para trs,
enterrados pela selva. Aproximadamente 60 guerrilheiros haviam sido
mortos, cerca de deles assassinados aps captura e
tortura.26Documentos foram queimados, acampamentos desmontados e os
corpos retirados de suas covas, muitas delas rasas, e
queimados.Suely Kanayama, a "Chica", morta em fins de 1974 num
confronto com militares em que levou mais de cem tiros28, tinha
sido enterrada na base da Bacaba (hoje Vila Santana).29Seu corpo
foi desenterrado, enfiado num saco plstico, embarcado num
helicptero junto com outros e levado at o alto daSerra das
Andorinhas que passou a ser conhecida tambm como Serra dos Martrios
aps o episdio30 onde foi queimado entre pneus velhos encharcados de
gasolina. A operao durou cerca de dez dias, com corpos sendo
desenterrados e transportados nos helicpteros. Por causa do cheiro
da decomposio, os pilotos usavam mscaras contra gases e lenos
encharcados de perfume.27Relatos tambm indicam o transporte em
barcos de sacos contendo restos para a regio conhecida como
"inflamvel", a parte mais funda dorio Tocantins, perto de
Marab.31Nos anos seguintes, vieram tona registros de sucessivas
operaes de encobrimento na regio, atingindo inclusive os vivos,
caboclos que conheciam os guerrilheiros e tinham o hbito de falar
muito. Mesmo muitos anos depois, no perodo inicial da
redemocratizao no pas, h registros dessas atividades, feitas por
militares disfarados de parentes, ainda retirando ossos de locais
determinados e dissolvendo-os emcido, com os fragmentos enterrados
em outros lugares ou jogados nos rios da regio.31De parte do
governo brasileiro, Ernesto Geisel foi o nico presidente a falar,
superficialmente, sobre o assunto, numa mensagem enviada ao
Congresso, em 15 de maro de 1975, onde dizia que houve tentativas
de se organizar "bases de guerrilheiros no interior desprotegido e
distante", em "Xambio-Marab, ao norte de Gois e sudeste do Par" e
que todas tinham sido "completamente reduzidas".27Depois disso
houve apenas a instalao de uma comisso no Congresso que no chegou a
nenhum resultado e os militares, oficialmente, nunca quebraram o
silncio sobre a luta no Araguaia.27Legado[editar|editar
cdigo-fonte]Assunto tabu mesmo entre os militares,32os fatos
relativos guerrilha foram envoltos num vu de silncio por muitos
anos e mesmo hoje, quando vrios livros foram escritos sobre o
episdio, inclusive por militares, mas nenhum deles endossado por
fontes governamentais, a verso oficial do conflito pelas Foras
Armadas e pelo extinto regime militar desconhecida. Alguns livros e
reportagens tiveram acesso a documentos oficiais descobertos, mas
as Foras Armadas nunca se pronunciaram oficialmente sobre
eles.32Nos anos posteriores, mesmo ainda durante a ditadura
militar, parentes e organizaes de direitos humanos comearam a busca
pelos desaparecidos. J em 1980, familiares dos mortos percorriam a
regio do Araguaia em busca de informaes. Em 1982, no governoJoo
Figueiredo, 22 parentes de guerrilheiros instauraram um processo
contra a Unio, pedindo que a Justia exigisse do Exrcito documentos
comprobatrios das mortes para que fossem providenciados atestados
de bito.33Em 1991, por conta prpria, parentes comearam escavaes no
Cemitrio de Xambio, o que resultou no encontro e posterior
identificao - em 1996 - dos ossos da guerrilheira Lcia Petit, a
primeira ossada de guerrilheiro identificada porDNA.33No mesmo ano
da identificao dos restos de Lcia, uma nova ossada foi achada em
Xambio. Em 2009, foi identificada com sendo do guerrilheiroBergson
Gurjo Farias, morto em 1972 durante a primeira fase de operaes, a
Operao Papagaio.34So os dois nicos casos de recuperao de ossos e
identificao positiva at hoje.35Aps aredemocratizao, entidades de
parentes das vtimas e de direitos humanos passaram a pressionar os
sucessivos governos e aJustiapor informaes sobre os guerrilheiros
desaparecidos e a localizao de seus restos. Em 1995, depois de duas
dcadas de silncio oficial, familiares, atravs da organizao
internacionalHuman Rights Watche do Centro pela Justia e o Direito
Internacional (CEJIL) enviaram petio Corte Interamericana de
Direitos Humanos daOrganizao dos Estados Americanos(OEA), pela
interveno junto ao governo brasileiro pelo direito informao.33Em
julho de 2003, a 1 Vara Federal do Distrito Federal ordenou a
quebra de sigilo das informaes militares sobre a Guerrilha do
Araguaia, dando um prazo de 120 dias Unio para que fosse informado
onde se encontram sepultados os restos mortais dos familiares dos
autores do processo, assim como rigorosa investigao no mbito das
Foras Armadas brasileiras. Em agosto, aAdvocacia-Geral da
Unioapelou da sentena que determinava de abertura dos arquivos,
embora reconhecesse o direito dos autores de tentar localizar os
restos mortais de seus familiares desaparecidos. O governo deLus
Incio Lula da Silvacriou em3 de outubrouma comisso interministerial
para localizar restos mortais. Esta comisso solicitou os
documentos, sendo informada de que os mesmos no existiam.
Atualmente, aps passar peloSuperior Tribunal de Justiae peloSupremo
Tribunal Federal, o processo voltou justia de primeira instncia
para a fase de cumprimento de sentena. O processo est sob apreciao
da Juza Federal Solange Salgado.36
Pesquisadores do GTA realizam escavaes na regio de Xambio e
Marab, no Araguaia.Foto: Divulgao / Ministrio da Defesa.Em abril
de2009, a Comisso Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), rgo
daOrganizao dos Estados Americanos(OEA) que cuida da observncia dos
direitos humanos nos pases pertencentes organizao, abriu uma ao
contra o governo brasileiro por deteno arbitrria, tortura e
desaparecimento de 70 pessoas - entre guerrilheiros, moradores da
regio e camponeses ligados Guerrilha do Araguaia durante aditadura
militar brasileira.37Em dezembro de 2010, a Corte acatou a denncia
da CIDH e condenou o Estado brasileiro por utilizar aLei da
Anistiacomo pretexto para no julgar os oficiais envolvidos na
represso guerrilha.38Em agosto de 2011, sob sigilo,
aAeronuticaorganizou a Operao Marab, primeira misso militar
governamental ao local onde se encontra o provvel crematrio dos
guerrilheiros desaparecidos, na Serra das Andorinhas, Par. A
expedio contou com representantes da FAB,Ministrio da
Justia,Ministrio da Defesa,Secretaria Especial de Direitos
HumanosePolcia Federal. Os militares foram guiados pelocoronelda
reserva da aeronutica Pedro Corra dos Santos Cabral, autor do
livroXambio - Guerrilha do Araguaia, onde conta, como testemunha
ocular, detalhes do transporte e queima destes corpos, piloto de
helicptero que foi na poca da guerrilha. Visava descobrir o local
exato onde os corpos teriam sido queimados e osso enterrados, mas
no se conhece ainda o teor completo do relatrio final da
expedio.39A instalao daComisso Nacional da Verdadeem 16 de maio de
2012, criada para investigar violaes dedireitos humanosocorridas
entre1946e1988no Brasil por agentes do Estado,40 mais uma tentativa
de se conseguir esclarecer, entre outros do perodo, os fatos
referentes guerrilha e a obter documentos e depoimentos que possam
levar localizao dos desaparecidos no Araguaia. Est inclusive
prevista a obteno de ajuda tecnolgica estrangeira para exames de
DNA nas ossadas que atravs dos anos foram encontradas na regio, mas
ainda no puderam ser identificadas por causa do alto estado de
degradao dos ossos.41O Grupo de Trabalho Araguaia (GTA), rgo criado
pelo Estado brasileiro em 2011, que envolve vrios rgos pblicos com
a misso de "coordenar e executar, conforme padres de metodologia
cientfica adequada, as atividades necessrias para a localizao,
recolhimento, sistematizao de todas as informaes existentes e
identificao dos corpos de pessoas mortas na Guerrilha do Araguaia"
e realiza buscas e escavaes na rea, teve o prazo final para suas
investigaes prorrogado at 6 de maio de 2014.42Ver
tambm[editar|editar cdigo-fonte]
OCommonspossui umacategoriacom multimdias sobreGuerrilha do
Araguaia Lista de guerrilheiros do Araguaia Guerra dos Perdidos
Araguaya - A Conspirao do Silncio, filme baseado no
movimentoReferncias1. Ir para:abMORAIS, Tais de. SILVA, Eumano.
Operao Araguaia: os arquivos secretos da guerrilha. So Paulo: Gerao
Editorial, 2005. 656p.ISBN 85750911902. Ir para cimaNGELO, Vitor
Amorim de. Guerrilha do Araguaia: Luta armada no
campo,http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/guerrilha-araguaia.jhtmem
11/10/20013. Ir para cimaDossi dos Mortos e Desaparecidos Polticos
a partir de 1964 (CEPE - Companhia Editora de Pernambuco Governo do
Estado de Pernambuco, Recife 1995)4. Ir para:abcGaspari, Elio - A
Ditadura Escancarada, As Iluses Armadas, Companhia das Letras,
2003ISBN 85-359-0299-65. Ir para:abcdefghijStudart, Hugo, Gerao
Editorial,A Lei Da Selva: Estratgias, Imaginrio e Discurso dos
Militares Sobre a Guerrilha do Araguaia, 2006.ISBN
9788575091395.