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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA MESTRADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL (MCTA) RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) NA PERSPECTIVA DOS POVOS DO SEMIÁRIDO PARAIBANO. Campina Grande, Paraíba 2009
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A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

Apr 07, 2023

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Khang Minh
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Page 1: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

MESTRADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL (MCTA)

RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA

A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus

(Linnaeus, 1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus

Linnaeus, 1758) NA PERSPECTIVA DOS POVOS DO

SEMIÁRIDO PARAIBANO.

Campina Grande, Paraíba

2009

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RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA

A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus (Linnaeus,

1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) NA

PERSPECTIVA DOS POVOS DO SEMIÁRIDO PARAIBANO.

Dissertação apresentada ao Mestrado de Ciência e Tecnologia

Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre.

Orientador: Professor Dr. José da Silva Mourão

Co-orientador: Professor Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves

Campina Grande, Paraíba.

2009

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É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa

como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins

acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor, título,

instituição e ano da dissertação

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB

B238e Barboza, Raynner Rilke Duarte.

A etnoecologia dos tatus-peba (Euphractus sexcinctus

(Linnaeus, 1758) e tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus

Linnaeus, 1758) na perspectiva dos povos do semi-árido

paraibano [manuscrito] / Raynner Rilke Duarte Barboza. – 2009.

177 f. : il. color.

Digitado

Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental),

Centro de Ciências e Tecnologias, Universidade Estadual da

Paraíba, 2009.

“Orientação: Prof. Dr. José da Silva Mourão, Departamento

de Biologia”.

1. Etnoecologia. 2. Semi-árido. 3. Etnozoologia. 4. Caatinga.

I. Título.

22. ed. CDD 591.7

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RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA

A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus (Linnaeus,

1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) NA

PERSPECTIVA DOS POVOS DO SEMIÁRIDO PARAIBANO.

Dissertação apresentada ao Mestrado de Ciência e Tecnologia

Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José da Silva Mourão

Co-orientador: Professor Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves

COMISSÃO EXAMINADORA

Campina Grande, Paraíba, 22 de Junho de 2009

__________________________________

Prof. Dr. José da Silva Mourão

Universidade Estadual da Paraíba

__________________________________

Prof. Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves

Universidade Estadual da Paraíba

__________________________________

Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida

Universidade Federal da Paraíba

__________________________________

Prof. Dr. Luiz Carlos Serramo Lopez

Universidade Federal da Paraíba

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Dedicatória

Agradeço ao Meu Amado e Bom Deus por tudo o que me concedeu, desde nascituro, e

o que ainda fará por mim ao longo de minha vida, do momento em que escrevo essas linhas

até o cerramento dos meus olhos. Agradeço pela força, coragem, obstinação, disciplina,

inspiração e fé que me impulsionaram a concretizar mais um importante passo em minha

carreira. Agradeço ao Onipotente, Onipresente e Onisciente pelo dom de discernir os

ensinamentos que vem dos homens e os que vêm de Deus. A Ele dedico meu trabalho.

Agradeço aos meus Pais: Gerson Alves Barboza e Salete Duarte Barboza, pela honra

de tê-los como genitores, por serem minhas maiores referencias, as jóias indeléveis e os

pilares de minha vida e por mais uma vez estarem presentes e ostensivos em todos os

momentos possíveis e imagináveis. Agradeço-lhes grandiosamente por todas as lições,

princípios e ensinamentos de vida a qual me foram passados e que serão retribuídos e

perpetuados aos meus descendentes. Agradeço ao meu Pai pelo Amor, Dedicação e

Fidedignidade onde me possibilitou realizar e concretizar esse trabalho. A Minha Mãe pelo

Amor, Acolhimento e Ternura típicos e insubstituíveis de Mãe. A estes dedico meu trabalho.

Agradeço de forma ímpar todo apoio e dedicação, toda a presteza e prontidão, todo

Amor e Carinho de minha noiva Adma Henriques Costa e familiares em todos os momentos

passados. Agradeço a Adma toda solidariedade e ajuda nos momentos difíceis e todo

contentamento e entusiasmo dos momentos de alegria e sucesso. Agradeço por estar presente

em minha vida e por continuar a estar para sempre. A estes dedico meu trabalho.

Agradeço aos meus Irmãos: Vanessa Duarte Barboza, Walny Duarte Borborema,

Walkiria Duarte Borborema, Walnete Duarte Borborema, Walniza Duarte Borborema e

Walderez Duarte Borborema pela Presteza, Ajuda e Paciência necessária nesses dois anos de

dedicação. Agradeço especialmente ao meu irmão Walny e esposa Lucy pelos sinceros e

valiosos votos de Felicidade e Sucesso que sempre me foram desejados. A estes dedico meu

trabalho.

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A minha tia Leônia, e meu primo Jurandir (Danda); ao meu tio Leônidas e meu primo

Lindiberg, pelo incondicional apoio em minha estadia na cidade de Sumé, Sem eles,

certamente as chances de êxito não seriam grandes. A estes dedico meu trabalho.

Agradeço aos meus estimados e queridos, Amigos e Orientadores, José da Silva

Mourão e Rômulo Romeu da Nóbrega Alves pelas pessoas impolutas e de conduta ilibada que

são. Agradeço por toda ajuda, paciência e ensinamentos bem como por todo apoio que me foi

dado para a realização desse mestrado. A estes dedico meu trabalho.

Agradeço especialmente ao meu eterno e fiel amigo Wedson de Medeiros Silva Souto

por ter sido como um irmão desde a graduação, mestrado e continuará sendo por toda nossas

vidas. Agradeço pela solidariedade, apoio, sucesso e companhia, ao longo desses anos. Da

mesma forma agradeço em especial aos seus familiares Iracema Medeiros Silva (mãe);

Antônio Clarindo da Silva Neto (tio) e Dona Ana (avó) pelo acolhimento, carinho, presteza,

amizade e disposição que sempre tiveram a minha pessoa. A Estes dedico meu trabalho.

Não poderia esquecer outros amigos e companheiros de Mestrado que estiveram

presentes comigo e que me ajudaram em ampla escala para realização desse trabalho.

Francisco Pires de Castro Junior e Michelle da Silva Pimentel Rocha, Ana Maria, Ronaldo

Justino de Araújo Junior e Fabrício Borges. Agradeço especialmente ao Chico e a Mika por

tudo que aprendi em minha vida pessoal e pelo que foi somada a minha vida profissional. A

estes dedico meu trabalho.

Agradeço especialmente ao Professor José Cavalcanti da Silva por ter colaborado com

seus conselhos e ensinamentos mesmo antes de entrar no mestrado. A este dedico meu

trabalho.

Agradeço ao meu bom amigo e companheiro de viagens, Geraldo, pela paciência e boa

vontade em sempre prontificar-se a nos acompanhar nos tranalados as cidades de pesquisa.

Agradeço pelas palavras de confiança e solidariedade que sempre teve para minha pessoa. A

este dedico meu trabalho.

E em conjectura alguma poderia deixar de lembrar minha Amiga Ana Alice e

familiares, residentes do Município de Monteiro, por todo seleto e incomparável apoio que me

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foi concedido para realização das pesquisas nessa cidade. Sem sobra de dúvidas foram peças-

chave e insubstituíveis para a conclusão de minha dissertação. A estes dedico meu trabalho.

Agradeço a todos os familiares do Professor Rômulo Romeu da Nóbrega Alves,

residentes da cidade de São Mamede, pela frutuosa e calorosa estadia que me foi concedida de

modo à realização do meu trabalho de pesquisa. Agradeço e saúdo particularmente o Patriarca

da família, o senhor Obede, a quem devo meu prestigio e carinho e cuja alcunha popularmente

conhecida na cidade (“pebão”) me derão a certeza de estar na casa certa, no lugar certo e com

a família certa para concretizar minha pesquisa com as espécies de tatus estudadas. Ao senhor

Obede, sua esposa, aos filhos: Obedin, Fábiano, Marizinha e Alain, a estes dedico meu

trabalho.

A todos os participantes, entrevistados, residentes e informantes do semi-árido

paraibano a qual fizeram parte de minha pesquisa. Meus mais sinceros e humildes

agradecimentos. A estes dedico meu trabalho.

A concretização deste trabalho contou com a participação de diversas pessoas, que

direta e indiretamente apoiaram a causa. Desculpando-me pela omissão de alguns nomes

MEUS MAIS SINCEROS AGRADECIMENTOS. A estes, dedico meu trabalho.

Page 8: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

Dedico ao meu Criador e Senhor, ao meu Bom

Deus por tudo que me concedeu e por tudo que

Fez em minha vida.

Dedico esta dissertação a toda minha família,

composta por meus verdadeiros mestres,

modelos reais de perseverança, parceria,

dedicação e ética.

“...A diversidade de nossas opiniões não decorre de uns serem mais razoáveis que os outros,

mas somente porque conduzimos nossos pensamentos por diversas vias, e não consideramos

as mesmas coisas”

René Descartes

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Resumo

Este trabalho teve como objetivo geral obter informações junto a moradores de cinco

municípios do semi-árido do Estado da Paraíba (Campina Grande, Monteiro, São Mamede,

Sousa, Sumé) acerca dos conhecimentos ecológicos e comportamentais (alimentação,

reprodução, habitat, predação e utilização) que os mesmos possuem sobre os tatus-peba

(Euphractus sexcinctus) e tatus verdadeiros (Dasypus novemcinctus), bem como analisar e

descrever as atividades cinegéticas e finalidades da caça exercida sobre essas duas espécies de

tatus, visando subsidiar medidas de conservação e manejo. Para obtenção dos dados, utilizou-

se uma combinação de métodos qualitativos e quantitativos. Dentre os métodos qualitativos,

destacam-se: entrevistas livres, semi-estruturadas, bola de neve ou “snow Ball – em inglês” e

turnês guiadas já os dados quantitativos foram trabalhados em médias e porcentagens simples

no software Microsoft® Excel e analisados por meio do cálculo do Nível de Fidelidade (FL).

Os dados obtidos foram analisados por meio de uma abordagem emicista/eticista, na qual os

conhecimentos tradicionais foram comparados com aqueles correspondentes e/ou

correlacionados na literatura científica. Foram contactados 177 homens e 37 mulheres com

atividades relacionadas aos tatus, cujas idades variaram de 16 a 77 anos. Os resultados obtidos

mostraram que as informações referentes à alimentação, nicho ecológico e reprodução foram

descritas de maneira muito elucidativa pela maioria dos entrevistados, demonstrando um

profundo conhecimento e percepção sobre a ecologia e biologia das duas espécies de tatus

estudadas. Tais níveis de percepção estão diretamente associados a questões regionais e

culturais de cada localidade bem como as práticas de criação desses animais em cativeiro. As

principais técnicas de caça e captura desses animais foram: Caça com armas de fogo, com

cães e o uso de armadilhas como tatuzeiras ou pebeiras, também conhecidas como cachorro-

de-arame; e Balde com água. Os povos do semi-árido paraibano utilizam os E. sexcinctus e D.

novemcinctus tanto na gastronomia local como para fins medicinais e mágico-religiosos, onde

foram documentados usos para o tratamento de 10 condições ou doenças: asma, dor de

ouvido, ferimentos, furunculoses, mouquidão, nariz entupido, picadas de insetos, reumatismo,

varizes e verrugas. Destaca-se nessa pesquisa o registro da caça para fins recreacionais e

comercial por parte dos moradores das localidades estudadas. Sob uma ótica conservacionista,

as técnicas e modalidades de caça descritas nesse trabalho podem trazer grandes impactos na

dinâmica populacional dessas duas espécies de tatus. Estudos adicionais relativos a atividades

de caça serão úteis de modo a contribuir com propostas de normas e leis que possam regular a

caça controlada em cada região bem como para implementação de planos de manejo e uso

sustentável dessas espécies.

Palavras-chave: Etnoecologia, atividades cinegéticas, tatu-peba, tatu verdadeiro,

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Abstract

The ethnoecology of six-banded armadillo (Euphractus sexcinctus (Linnaeus,

1758) and nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) by

the perception of the people of semi-arid region, Paraiba.

This study addressed to obtain general information from the residents of five municipalities in

the semi-arid region of Paraiba State (Campina Grande, Monteiro, São Mamede, Sousa,

Sumé) about their knowledge on the ecological and behavioral (feeding, reproduction, habitat,

predation and use) of two specimens of armadillos (Euphractus sexcinctus) and (Dasypus

novemcinctus) that occurs in that area, as well as to describe and analyze the cinegetic

activities and purposes of game hunting carried on these two species, seeking support

conservation and management measures. Data collection was obtained through a combination

of qualitative and quantitative methods. Among the qualitative methods: free interviews,

semi-structured interviews, snow ball technique and guided tours were used; the quantitative

data were done on simple averages and percentages in Microsoft ® Excel software and

analyzed using the calculation of Fidelity Level (FL). Data were analyzed by an emic/ethics

approach in which traditional knowledge were compared with those involved and/or related to

the literature. 177 men and 37 women were contacted, whose ages ranged from 16 to 77

years. The results showed that the information regarding the foraging, ecological niche and

reproduction were described in a very elucidating way by most of the interviewees,

demonstrating a deep knowledge and perception on the ecology and biology of the two

species of armadillos studied. Such levels of perception are directly linked to regional and

cultural issues of each locality and the practices of creation of those animals in captivity also.

The main hunting techniques and capture of those animals were: firearms, with dogs, the use

of wire-dog and bucket with water. The people of the semi-arid of Paraiba use the E.

sexcinctus and D. novemcinctus such in the local gastronomy, as for medicinal and magical-

religious purposes, which were documented in this work for the treatment of 10 conditions or

diseases: asthma, earache, wounds, furunculosis, deafness, blocked nose, insect bites,

rheumatism, and varicose veins and warts. The practice of recreational and commercial

hunting was documented in this research by the residents of the studied localities. From a

conservation perspective, the techniques and methods of game described in this work can

bring major impacts on population dynamics of these two species of armadillos. Additional

studies on the activities of hunting will be useful to contribute to proposals for rules and laws

that may regulate the controlled hunting in each region and for implementation of

management plans and sustainable use of these species.

Keywords: Ethnoecology, game activities, six-banded armadillo, nine-banded armadillo,

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Lista de Ilustrações

Figuras

Figura 1. Localização da área de estudo................................................................................ 26

Figura 2. Isoieta de 1000m..................................................................................................... 44

Figura 3. Algumas diferenças visuais marcantes entre E. sexcinctus.................................... 68

Figura 4. Foto de E. sexcinctus com pênis parcialmente protuso.......................................... 68

Figura 5..................................................................................................................... ............. 121

Figura 6.................................................................................................................................. 122

Figura 7. Cães de caça usados na captura de tatus no semi-árido da Paraíba........................ 125

Figura 8. Tatuzeira de madeira.............................................................................................. 127

Figura 9. Tatuzeira de ferro.................................................................................................... 127

Figura 10. Instrumentos usados por caçadores de tatus-peba e verdadeiro........................... 129

Figura 11. Instrumentos usados por um caçador de tatus no município de São Mamede,

Paraíba...................................................................................................................... .............. 129

Figura 12. Tatus-peba criados em tonéis por um entrevistado do município de Campina

Grande....................................................................................................................... ............. 136

Figura 13. Registro do preparo de um tatu-peba na culinária do semi-árido paraibano........ 138

Figura 14. Foto do rabo de um tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé

para tratamento de mouquidão............................................................................................... 143

Figura 15. Registro do sebo tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé

para tratamento de várias enfermidades, sobretudo para reumatismo................................... 143

Figura 16. Rabos de tatus-peba e verdadeiros usados na proteção de residências contra “mau

olhado”...................................................................................................................... ............. 148

Figura 17. Registro de patas de tatu-peba usados em oferendas a deidades.......................... 148

Quadros

Quadro 1. Epíteto folk de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido da Paraíba......... 59

Quadro 2. Cognição comparada das principais diferenças entre tatu-peba e verdadeiro...... 62

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Perfil socioeconômico dos entrevistados.................................................................. 54

Tabela 2. Porcentagem dos informantes que relataram a facilidade ou não de se encontrar as

espécies em cada localidade visitada........................................................................................ 60

Tabela 3. Percepção de moradores do semi-árido da Paraíba quanto aos hábitos sociais de D.

novemcinctus e E. sexcinctus.................................................................................................... 71

Tabela 4. Horários de forrageio para as duas espécies de tatus (E. sexcinctus e D.

novemcinctus)........................................................................................................................... 73

Tabela 5. Percepção dos moradores locais quanto aos períodos de reprodução a parturição de

D. novemcinctus e E. sexcinctus............................................................................................... 82

Tabela 6. Cognição comparada do conhecimento dos entrevistados em função do

conhecimento científico sobre aspectos reprodutivos de tatus-peba e verdadeiro................... 86

Tabela 7. Nível de Fidelidade das categorias de finalidades de usos de D. novemcinctus e E.

seecinctus................................................................................................................................133

Tabela 8. Usos medicinais e mágico-religiosos de E. sexcinctus e D. novemcinctus.............144

Tabela 9. Valores para comércio de tatus-peba e verdadeiro registrados em

cada localidade........................................................................................................................153

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Abreviaturas

ADH.............. Atlas do Desenvolvimento Humano

CITES........... Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e

da Flora, sigla em inglês.

EMBRAPA... Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMEPA......... Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S. A.

IBGE............. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ITIS............... Sistema de Informação Taxonômica Integrada, sigla em inglês

IUCN............. União Internacional para Conservação da Natureza, sigla em inglês

MMA............. Ministério do Meio Ambiente do Brasil

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL....................................................................................................... 16

OBJETIVO GERAL.............................................................................................................. 20

OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................................. 20

ÁREA DE ESTUDO.............................................................................................................. 21

Município de Campina Grande.................................................................................. 21

Município de Monteiro.............................................................................................. 22

Município de Sumé.................................................................................................... 23

Município de São Mamede........................................................................................ 23

Município de Sousa.................................................................................................... 24

CAPÍTULO I. O Conhecimento ecológico local dos moradores do semi-árido paraibano em

relação às espécies de tatus: Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus...................... 27

1.1 Introdução........................................................................................................................ 28

1.2 Material e Métodos.......................................................................................................... 33

1.2.1 Da coleta dos dados........................................................................................... 33

1.2.2 Da análise dos dados......................................................................................... 34

1.2.3 Da identificação das espécies............................................................................ 34

1.3 Referencial Teórico.......................................................................................................... 36

1.3.1 As Ciências dos saberes: A Etnobiologia e a Etnoecologia.......................................... 36

1.3.2 O Conhecimento Ecológico Tradicional........................................................... 39

1.3.3 As Caatingas dos Sertões Paraibanos................................................................ 42

1.3.3.1 Característica Etimológica e Geográfica da Caatinga........................ 44

1.3.3.2 Características Físicas........................................................................ 45

1.3.3.3 Características biológicas................................................................... 46

1.3.3.4 Sobre a mastofauna da Caatinga........................................................ 47

1.3.4 A Ordem Xenarthra........................................................................................... 49

1.3.4.1 Características gerais, origem e filogenia........................................... 49

1.3.4.2 Distribuição........................................................................................ 52

1.4 Resultados e discussão..................................................................................................... 54

1.4.1 Aspectos socioeconômicos das populações estudadas...................................... 54

1.4.2 Percepção gerais dos entrevistados quanto as espécies de tatu estudada.......... 56

Page 15: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

1.4.2.1 Epítetos folk das espécies................................................................... 59

1.4.2.2 Sobre a disponibilidade das espécies nas localidades estudadas........ 60

1.4.2.3 Principais diferenças apontadas para ambas as espécies.................... 61

1.4.3 Nicho Ecológico................................................................................................ 69

1.4.3.1 Aspectos de comportamentos sociais................................................. 71

1.4.3.2 Atividades de Forrageio..................................................................... 73

1.4.4 Locas, buracos ou fossados............................................................................... 76

1.4.5 Percepção dos moradores quanto aos aspectos reprodutivos dos tatus-peba e

verdadeiro............................................................................................................................. ..79

1.5 Conclusões....................................................................................................................... 88

1.6 Referências....................................................................................................................... 89

CAPÍTULO II. A caça e usos tradicionais de tatus (Dasypus novemcinctus e Euphractus

sexcinctus) no semi-árido do Estado da Paraíba.................................................................... 113

2.1 Introdução....................................................................................................................... . 114

2.2 Objetivos.......................................................................................................................... 117

2.2.1 Geral.................................................................................................................. 117

2.2.2 Específicos........................................................................................................ 117

2.3 Material e Métodos.......................................................................................................... 118

2.3.1 Procedimentos das coletas dos dados................................................................ 118

2.3.2 Procedimentos de análises dos dados................................................................ 119

2.3.3 Da identificação das espécies............................................................................ 119

2.4 Resultados e Discussão.................................................................................................... 120

2.4.1 Técnicas e estratégias de caça aplicada aos tatus usados por caçadores do semi-

árido paraibano....................................................................................................................... 120

2.4.1.1 Armas de fogo.................................................................................... 120

2.4.1.2 Caça com cães.................................................................................... 123

2.4.1.3 Tatuzeira, Pebeira ou Cachorro-de-Arame......................................... 126

2.4.1.4 Balde com água.................................................................................. 127

2.4.1.5 Ferramentas utilizadas para caça........................................................ 128

2.4.2 Finalidades de usos de D. novemcinctus e E. sexcinctus por moradores do semi-

árido da Paraíba: Compreensões e perspectivas.................................................................... 133

Page 16: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

2.4.2.1 Os tatus (peba e verdadeiro) como iguaria gastronômica e seus tabus

alimentares............................................................................................................................. 134

2.4.2.2 Os tatus como seres medicinais e mágico-religiosos na percepção dos

povos do semi-árido paraibano.............................................................................................. 140

2.4.2.3 Caça Recreacional.............................................................................. 150

2.4.2.4 A Caça de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins

Comerciais............................................................................................................................. 152

2.4.3 Implicações para um manejo sustentável de D. novemcinctus e

E. sexcinctus........................................................................................................................... 154

2.5 Conclusões....................................................................................................................... 158

2.6 Referências....................................................................................................................... 159

APÊNDICE............................................................................................................................ 173

Apêndice A – Questionário semi-estruturado........................................................................ 174

Page 17: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

16

Introdução Geral

As etnociências, dado o atual panorama mundial, estão passando por um

questionamento epistemológico a partir da perspectiva da racionalidade ambiental, que leva à

análise do diálogo, ao amálgama e às relações de poder entre os saberes locais [autóctones e

tradicionais] com as ciências e as tecnologias modernas (LEFF, 2005). Uma nova discussão

parece estar sendo estabelecida neste momento – a revisão do papel da comunidade na

conservação dos recursos naturais. Cada comunidade possui suas peculiaridades no uso de

recursos e, portanto, o conhecimento delas pode ser extremamente útil na elaboração de

planos de manejo e conservação mais eficazes, uma vez que, segundo Gibson (1999), para

muitos defensores da comunidade, estas têm uma necessidade a longo prazo pelos recursos

renováveis próximos de onde estão e possuem mais conhecimentos acerca destes recursos do

que outros atores sociais potenciais.

Para Leff (2005) é fato que os saberes tradicionais certamente foram ignorados,

subjugados e substituídos pelos modelos científicos e pelos estilos de vida modernos. Portanto

é necessário esclarecer as relações de dominação, sujeição e desconhecimento dos saberes

tradicionais pela macrocultura modernizadora; libertar os saberes subjugados (FOUCAULT,

1980) não formalizados em códigos científicos, e interrogar os atuais processos de hibridação

entre a ciência e a sabedoria dos códigos culturais e as práticas tradicionais. As etnociências

participam assim da construção de uma racionalidade ambiental que tenha em seu cerne o

principio da diversidade cultural e de formas diferenciadas de apropriação da natureza. Os

saberes locais ou tradicionais inscrevem-se na construção de um novo paradigma,

estreitamente relacionado aos princípios do holismo (LEFF, 2005), motivo pelas quais várias

simbioses foram estabelecidas entre o conhecimento tradicional, expresso no prefixo etno

com a imagem das disciplinas da cultura letrada, o que fica expresso nas próprias designações

etnobotânica, etnozoologia, etnogeografia, entre outras (FRAZÃO-MOREIRA, 2001).

A Etnoecologia, neste âmbito, emerge para o estudo e compreensão do saber

acumulado, das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade humana a respeito da

natureza e dos diferentes usos e formas de manejo dos recursos naturais (TOLEDO, 1992).

Ela é um campo multidisciplinar que integra técnicas da Biologia, Antropologia, Etologia,

Linguística, Economia e outras áreas (GERIQUE, 2006) e que igualmente pressupõem a

investigação do conhecimento das populações humanas acerca da natureza, baseada nas

crenças, no conhecimento tradicional, nas percepções e manejo dos recursos naturais

Page 18: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

17

(TOLEDO, 1992). Marques (2002) corrobora de tal pensamento ampliando o estudo

etnoecológico para os sentimentos e comportamentos que intermediam as interações entre as

populações humanas e os demais elementos dos ecossistemas que as incluem, bem como os

impactos ambientais daí decorrentes. De maneira semelhante, para Nazarea (1999) a

etnoecologia é o estudo dos conhecimentos, estratégias, atitudes e ferramentas que permitem

às diferentes culturas produzir e reproduzir as condições materiais de sua existência social por

meio de um manejo apropriado dos recursos naturais. Ellen (1999) lembra que o

conhecimento local sobre os recursos naturais inclui também o conhecimento sobre a extração

e utilização dos recursos, atividades que em última análise aumentam a adaptabilidade da

população local, ou que são dinamicamente adaptativas.

Tais abordagens, de acordo com Guimarães e Mourão (2006), são importantes pelo

fato de não apenas levarem em consideração os recursos naturais, mas também as populações

humanas que sobrevivem destes. Os programas de manejo podem e devem ser úteis para uma

política ecológica e socialmente responsável ou ainda, para garantir o saber tradicional, o qual

torna a herança cultural humana universal. A natureza interdisciplinar da etnoecologia é outro

aspecto relevante a qual promove a articulação e integração entre o conhecimento científico e

o conhecimento das pessoas, sobretudo de camponeses ou povos indígenas.

A região semi-árida do nordeste do Brasil é um campo bastante fértil à aplicação deste

enfoque, em especial no que se refere aos recursos faunísticos e florísticos explorados. Neste

diapasão, Albuquerque e Andrade (2002a) destacam que a caatinga ainda é pouco estudada no

que diz respeito às relações seres humanos/natureza, não sendo identificados muitos dos usos

que são feitos de seus recursos. Para estes autores, o estudo destas relações possibilita

combinar o saber científico com o saber local visando contribuir com o planejamento de

estratégias para um desenvolvimento sustentável.

Nesta área, residem 30 milhões de pessoas (LEAL et al., 2003), muitas das quais

possuem uma estreita dependência do bioma local, de onde extraem madeira para uso como

combustível doméstico, além de plantas e animais silvestres, obtidos por meio de caça e

coleta, os quais são fontes de alimentos e de medicamentos, como constataram alguns

trabalhos prévios, a exemplo: Albuquerque e Andrade (2002a; b), Albuquerque et al. (2007a,

b), Alves et al. (2006, 2007, 2009), Alves e Rosa (2007a, b) e Silva et al. (2004). Poucos

estudos etnoecológicos desenvolvidos anteriormente confirmam a existência de um relevante

conhecimento tradicional dos moradores do semi-árido nordestino em relação às espécies que

os cercam. Araújo et al. (2005) realizaram um estudo etnoornitológico no município de

Soledade, Estado da Paraíba, onde identificaram uma forte correlação entre o conhecimento

Page 19: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

18

local sobre 30 aves com o prenúncio de chuvas. Mourão et al. (2006) encontraram entre os

caçadores do semi-árido paraibano um rico conhecimento da taxonomia folk da mastofauna da

região. O uso de algumas espécies de animais com finalidades medicinais no semi-árido

nordestino indica ser mais bem documentada à estudos etnoecológicos da fauna local (ver

ALMEIDA & ALBUQUERQUE, 2002; ALVES, 2009; ALVES & ROSA, 2006, 2007b;

ALVES et al., 2007, 2008; BARBOZA et al., 2007; COSTA-NETO, 1999a) o que implica em

uma urgente necessidade de mais trabalhos que possam dimensionar e compreender o

conhecimento das pessoas residentes nessa região do Brasil no tocante aos recursos naturais

que os cercam, possibilitando a posteriori, a aplicação do conhecimento local em estratégias

que visem à conservação da biodiversidade da caatinga.

Considerando-se que no Brasil, país caracterizado por sua megadiversidade (15-20%

do total mundial) (MMA, 2003), os animais vêm sendo usados para diversos fins por

sociedades indígenas e por descendentes de europeus desde o período colonial, é de se esperar

que a utilização da vida silvestre pelos moradores do semi-árido nordestino seja amplamente

variada. Relativo à fauna, o seu uso vem se perpetuando ao longo da história da humanidade

e, nas sociedades contemporâneas, animais silvestres vêm sendo utilizados para diversas

finalidades, desde alimentação, atividades culturais, comércio de animais vivos, partes deles

ou subprodutos usados como vestuário, ferramentas e para uso medicinal e mágico-religioso

(ALVES & PEREIRA-FILHO, 2007; ALVES & ROSA, 2006, 2007a; BENNETT &

ROBINSON, 1999, NARANJO et al., 2004).

Dentre os biomas brasileiros, a caatinga é, provavelmente, o mais desvalorizado e

menos conhecido botanicamente e faunisticamente (BRANDÃO & YAMAMOTO, 2004;

GIULIETTI et al., 2004) sendo descrita na maioria das vezes como um ecossistema pobre em

espécies e endemismos. Segundo Oliveira et al. (2003), o tradicional ponto de vista que os

mamíferos da caatinga são subconjunto da fauna daqueles do cerrado agora se apresenta de

forma enganosa. Dados recentes confirmam a presença de cerca de 150 espécies de

mamíferos neste bioma, sendo que ao menos 10 seriam endêmicas, contrapondo-se a

informação de que haveria oitenta espécies, com menção de um único caso de endemismo

(OLIVEIRA et al., 2003, 2004).

A ordem Xenarthra - representada pelos tamanduás, tatus e preguiças arborícolas - está

inserida na diversidade de espécies da mastofauna da Caatinga, sendo detentora de

significâncias ímpares para com os nordestinos, constituindo fonte de alimento, remédios

tradicionais, renda e ainda explorados para atividades cinegéticas e usos mágico-religiosos

(ALVES et al., 2008, 2009; ALVES, 2009; BARBOZA et al., 2007; COSTA-NETO, 2000a;

Page 20: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

19

MOURÃO et al., 2006). Tendo em vista que tais atividades freqüentemente acarretam na

morte de exemplares e que, de fato, são impactantes em maior ou menor grau sobre as

populações das espécies exploradas, é fundamental verificar o uso exercido pelas

comunidades das espécies dos ambientes que as cercam, assim como registrar o conhecimento

tradicional inserido neste contexto, tornando-se uma ferramenta valiosa na formulação de uma

gestão participativa e sustentável dos recursos naturais.

Em relação às espécies de Xenarthras que habitam o semi-árido paraibano e que são

popularmente exploradas, encontram-se os tatus verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e peba

(Euphractus sexcinctus). Contudo, há uma carência de estudos a despeito dos aspectos

culturais diretamente vinculados a ecologia, biologia e aos diversos usos que se fazem das

espécies anteriormente citadas.

Desta forma, o presente trabalho objetivou obter informações junto a moradores de 5

municípios do Estado da Paraíba sobre os conhecimentos bioecológicos (alimentação,

reprodução, habitat, predação), bem como identificar as principais técnicas de caça e

utilização que eles possuem sobre os tatus-peba (Euphractus sexcinctus) e tatu verdadeiro

(Dasypus novemcinctus); além de interagir o conhecimento tradicional com o conhecimento

científico, buscando contribuir para que as populações locais sejam inseridas de forma

participativa em futuros planos de manejo e conservação, além de identificar as estratégias de

caça e as finalidades de uso destas espécies.

Page 21: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

20

Objetivo Geral

Obter informações junto a moradores de cinco municípios do semi-árido do Estado da

Paraíba (Campina Grande, Monteiro, São Mamede, Sousa, Sumé) sobre os

conhecimentos ecológicos e comportamentais (alimentação, reprodução, habitat,

predação e utilização) que os mesmos possuem sobre os tatus-peba (Euphractus

sexcinctus) e tatus verdadeiros (Dasypus novemcinctus); e analisar as atividades

cinegéticas associados a tais usos

Objetivos específicos

Analisar o perfil socioeconômico dos entrevistados;

Estudar o conhecimento ecológico local dos moradores envolvidos na pesquisa;

Identificar os diversos usos de Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus

empregados pelos moradores dos municípios estudados;

Interagir o conhecimento ecológico local com o conhecimento científico;

Identificar as técnicas e estratégias de caça por parte dos moradores;

Indicar possíveis alternativas para inclusão em um futuro plano de manejo sustentável

das espécies alvo desse estudo;

Page 22: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

21

Área de Estudo

O presente estudo foi desenvolvido em cinco municípios do semi-árido paraibano

(bioma caatinga): Município de Campina Grande (mesorregião do Agreste), municípios de

Monteiro e Sumé (microrregião do Cariri Ocidental paraibano) e os municípios de São

Mamede e Sousa (Sertão paraibano) (Figura 1), todos descritos a seguir. A escolha da área de

estudo obedeceu aos seguintes critérios: (1) indicativo da existência de atividades de caça de

subsistência e/ou recreativa, (2) importância nas mesorregiões ou microrregiões onde estão

localizados, (3) acessibilidade, (4) conhecimento com os moradores locais, (5) carência de

estudos em etnoecologia e etnozoologia nas regiões citadas, (6) grande diversidade cultural,

(7) processo avançado de antropização.

Município de Campina Grande

Campina Grande possui uma população de 371.060 indivíduos e ocupa uma área

territorial de 621 km² (IBGE, 2008). Trata-se do município de maior população do interior do

estado da Paraíba e apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,721 (médio

desenvolvimento humano) (ADH, 2004). Embora possua uma população predominantemente

urbana (aproximadamente 91%), cerca de 31 mil pessoas residem na zona rural (ADH, 2004;

IBGE, 2008). As principais atividades do município são serviços e a indústria, as quais

contribuem com mais de 95% do Produto Interno Bruto (PIB) segundo o IBGE (2008).

Apresenta as coordenadas geográficas de (07º 13' 50" S 35º 52' 52" O) (Figura 1) e

situa-se na microrregião com o mesmo nome e na mesorregião do Agreste do Estado da

Paraíba (EMBRAPA, 2006; RODRIGUEZ et al., 2002). É considerada a maior e mais

importante cidade do interior do Nordeste. Pólo de cinco microrregiões homogêneas que

compõe o Compartimento da Borborema – área que abrange 79 municípios, cerca de 44% do

território paraibano e população que soma mais de um milhão de habitantes – a cidade exerce

influência geoeconômica em limites que transpõem fronteiras estaduais, tornando-se, assim,

uma das mais importantes do Nordeste do Brasil (HENRIQUE, 2006).

De acordo com a classificação de Köppen, o tipo de clima encontrado em Campina

Grande-PB é As‟(quente e úmido com chuva de outono-inverno) (HENRIQUE, op. cit.;

EMEPA, 2008). O período chuvoso inicia-se de fevereiro a março prolongando-se até agosto.

A amplitude térmica anual é muito pequena em função da baixa latitude. As temperaturas

Page 23: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

22

variam um pouco durante o ano e as médias anuais são elevadas, com valores compreendidos

entre 22 °C e 26 °C. Os meses mais quentes são janeiro e fevereiro e os menos quentes são

julho e agosto (HENRIQUE, 2006). A umidade relativa do ar apresenta médias de 80%

(EMEPA, 2008).

O solo do município de Campina Grande é raso e de natureza argilo-arenosa. Em

função da pequena camada de terreno sedimentar e da escassez de chuvas, este solo não

favorece a formação de associações florestais densas (HENRIQUE, 2006). Desses fatores

decorre a precariedade da cobertura vegetal. Não obstante, a paisagem florística é bastante

diversificada, apresentando formações de palmáceas, cactáceas em geral, leguminaceas e

bromeliáceas, além de rarefeitas associações de marmeleiros, juazeiros, umbuzeiros e

algarobas (Ibdem).

Município de Monteiro

O município de Monteiro possui uma área de 986 km2 e está localizado na

mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Ocidental da Paraíba (RODRIGUEZ et

al., 2002; IBGE, 2008). Suas coordenadas geográficas são 07º 53' 22" S 37º 07' 12" O

(EMBRAPA, 2006)

A população total do município é estimada em 29.980 habitantes (IBGE, 2008),

consistindo a maior população do Cariri Ocidental do Estado da Paraíba e apresenta um

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,603 (médio desenvolvimento humano)

(ADH, 2004). Destes habitantes, 16.684 (55,6%) residem na zona urbana e o restante (44,4%)

na zona rural.

O tipo climático é Bsh - semi-árido quente, correspondendo, estando inserido na área

mais seca do Estado com precipitações médias anuais muito baixas (média de 500 mm), e

uma estação seca que pode atingir onze meses (EMEPA, 2008). A vegetação desta unidade é

formada por florestas subcaducifólica e caducifólica, compondo o que se conhece por

caatinga, próprias das áreas interioranas do Nordeste do Brasil e a temperatura média é de

28ºC (BRASIL, 2005a).

O município de Monteiro está inserido na unidade geoambiental da Depressão

Sertaneja, que representa a paisagem típica do semi-árido nordestino, caracterizada por uma

superfície de pediplanação bastante monótona, relevo predominantemente suave-ondulado,

cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou

outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados testemunham os ciclos intensos

Page 24: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

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de erosão que atingiram grande parte do sertão nordestino (BRASIL, 2005a). Com respeitos

aos solos, nos Patamares Compridos e Baixas Vertentes do relevo suave ondulado ocorrem os

Planossolos, mal drenados, fertilidade natural média e problemas de sais; Topos e Altas

Vertentes, os solos Brunos não Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas

Vertentes do relevo ondulado ocorrem os Podzólicos, drenados e fertilidade natural média e

as Elevações Residuais com os solos Litólicos, rasos, pedregosos e fertilidade natural média

(Ibdem).

Município de Sumé

Igualmente localizada na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri

Ocidental da Paraíba possui uma área de 838 km2

(ADH, 2004; RODRIGUEZ et al., 2002).

De acordo com o IBGE (2008), a população total do município é de 16.456 habitantes,

consistindo, em termos populacionais, no segundo maior município de Cariri Ocidental

paraibano. Destes habitantes, 10.877 (66,1%) residem na zona urbana e o restante (33,9%) na

zona rural. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,658 (médio desenvolvimento

humano) (ADH, 2004).

Segundo a classificação de Köppen, o clima é do tipo Bsh – semi-árido quente

(EMEPA, 2008). A vegetação é basicamente composta por Caatinga hiperxerófila com

trechos de Floresta caducifólia, com o clima caracteristicamente do tipo tropical semi-árido,

com a pluviosidade média anual de cerca de 695mm e temperatura média anual de 26,5ºC

(ALBUQUERQUE et al., 2002). Em relação ao solo, em geral, são pouco profundos, podendo

apresentar elevada saturação de bases, argilas de atividade alta no horizonte B e capacidade de

retenção de água disponível média a baixa, necessitando de um manejo eficiente para sua

utilização agrícola (EMEPA, 2008).

Município de São Mamede

O município de São Mamede (coordenadas 06º 55' 36" S 37º 05' 44" O) localiza-se na

mesorregião do Sertão do Estado da Paraíba e na microrregião do Seridó Oriental,

correspondendo ao segundo município-pólo desta (ADH, 2004; RODRIGUEZ et al., 2002). A

população total do município é de 7.782 habitantes, dos quais 5.567 (71,5%) residem na zona

urbana e 2.215 moram na zona rural (IBGE, 2008). O IDH desta população é de 0,646 (médio

desenvolvimento humano), contudo, a renda per capita mensal é baixa, cerca de R$ 108,45

Page 25: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

24

(ADH, 2004). As atividades ligadas ao setor agropecuário representam de 50,1 a 75% da

economia local (BRASIL, 2005b). A pecuária local tem como principais rebanhos bovinos

(6953 cabeças), caprinos (3303 cabeças) e ovinos (1359 cabeças).

A vegetação é basicamente composta por Caatinga hiperxerófila com trechos de

Floresta caducifólia, com o clima caracteristicamente do tipo climático AW' - quente e úmido

com chuvas de verão e outono e a pluviosidade média anual de cerca de 431,8 mm (BRASIL,

2005b).

Relativo aos aspectos fisiográficos, o município de São Mamede, está inserido na

unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, que representa a paisagem típica do semi-árido

nordestino, caracterizada por uma superfície de pediplanação bastante monótona, relevo

predominantemente suave-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas.

Elevações residuais, cristas e/ou outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados

testemunham os ciclos intensos de erosão que atingiram grande parte do sertão nordestino

(BRASIL, 2005b). Nos Patamares Compridos e Baixas Vertentes do relevo suave ondulado

ocorrem os Planossolos, mal drenados, fertilidade natural média e problemas de sais; Topos e

Altas Vertentes, os solos Brunos não Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas

Vertentes do relevo ondulado ocorrem os Podzólicos, drenados e fertilidade natural média e

as Elevações Residuais com os solos Litólicos, rasos, pedregosos e fertilidade natural média

(Ibdem).

Município de Sousa

O município de Sousa (coordenadas centrais 06º 45' 33" S, 38º 13' 41" W; Figura 1)

está localizado na mesorregião do Sertão do Estado da Paraíba. Devido à importância

econômica e educacional, é principal pólo e atribui o mesmo nome da microrregião onde está

inserido.

Possui um a população total de 63.783 habitantes, sendo que 46.200 (72,4%) são

residentes da zona urbana e os demais (17.583) vivem na zona rural (IBGE, 2008). A

atividade agropecuária constitui uma das principais atividades de ordem econômica no

município (BRASIL, 2005c). Na produção agrícola, destaca-se a produção de bananas (15 mil

toneladas) e coco-da-baía (19 mil fritos) e na pecuária as principais criações são de boi

(22.000 cabeças), ovinos (6.600 cabeças) e caprinos (4.500 cabeças) (IBGE, 2008).

O clima é do tipo AW' (classificação de Köppen), com chuvas de verão. O período

chuvoso se inicia em novembro com término em abril e a pluviosidade média de 690 mm

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25

(PARAÍBA, 2008). A vegetação – similarmente a que ocorre em São Mamede - é composta

por Caatinga Hiperxerófila com trechos de Floresta Caducifólia (Ibdem). Os solos são, de um

modo geral, argilosos e a drenagem é de moderada a imperfeita, além de apresentar em alguns

casos excessiva pedregosidade (EMEPA, 2008).

Page 27: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

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Figura 1. Localização da área de estudo

Legenda: A. Município de Campina Grande (07º 13'

50" S 35º 52' 52" W), B. Município de Monteiro

(07º 53' 22" S 37º 07' 12" W), C. Município de

Sumé (07º 40' 18" S 36º 52' 48" W), D. Município

de São Mamede (06º 55' 36" S 37º 05' 44" W), E.

Município de Sousa (06º 45' 3" S 38º 13' 41" W)

Sousa São Mamede

Monteiro

Sumé

Campina Grande

Page 28: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

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CAPÍTULO I

O Conhecimento ecológico local dos moradores do semi-árido

paraibano em relação às espécies de tatus: Dasypus

novemcinctus e Euphractus sexcinctus

Page 29: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

28

1.1 Introdução

Estudar o conhecimento ecológico tradicional dos moradores do semi-árido paraibano

é bastante difícil em virtude da carência de estudos etnoecológicos prévios o que pode, em

maior ou menor medida, interferir significativamente no desenvolvimento de um trabalho

recém-esboçado. Embora haja muita discussão a respeito do que são comunidades

tradicionais, neste trabalho, compartilho da definição provida por Diegues et al. (1999) que

insere os sertanejos/vaqueiros como um grupo tradicional não-indígena, conceito este que

abarca grande parte dos moradores de pequenas e médias localidades do interior do Nordeste

do Brasil e que corrobora em grande parte com o decreto-lei nº 6.040 de 7 de fevereiro de

2007 a qual define povos ou comunidades tradicionais como “grupos culturalmente

diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização

social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução

cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e

práticas gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007).

Compreender o saber e o saber-fazer de sertanejos/vaqueiros relativo ao uso de

recursos naturais implica necessariamente em entender como ocorreu a ocupação européia

pelo interior nordestino, processo marcado pelo aprendizado e assimilação de conhecimentos

dos indígenas locais, assim como a execução de conhecimentos e práticas daqueles em um

processo que, além de duradouro, foi altamente impactante para o bioma caatinga. O período

de ocupação européia do interior do Brasil, em especial no Norte e Nordeste, reflete, pois,

apenas um dos mais variados exemplos de interações ser humano-natureza, haja vista que tal

processo foi marcado pela transferência de espécies, invasão de novas, predatismo intenso e

impactos ecológicos por um modelo de ocupação onde basicamente era sustentado pelo

tríade: gado-exploração-gente, onde a pecuária certamente foi à principal atividade econômica

(para uma leitura mais detalhada ver CROSBY, 1993; DIEGUES et al., 1999; GUEDES,

2006; MESGRAVIS & PINSKY, 2000) e elemento fixador de populações humanas

descendentes de europeus no interior das novas terras. A despeito dos conflitos com os

indígenas locais decorrentes desta ocupação, a qual foge do escopo de nossa abordagem, não

é difícil deduzir que os “invasores” europeus assimilaram, à medida que se expandiam com

seus rebanhos pela vastidão do interior da neoeuropa sul-americana, conhecimentos dos

nativos no que diz respeito a espécies locais com utilidade para o homem (e.g., fontes de

alimento, remédios, utilitários, entre outros) (ver CARVALHO, 2000; HUE, 2008;

Page 30: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

29

MESGRAVIS & PINSKY, 2000). Fruto da interação com os indígenas locais, a mandioca,

bananas e cajus, além de animais silvestres como antas, tatus, pacas e peixes-boi consistiram

importantes fontes de alimentos para os portugueses que vinham ao Brasil no século XVI

(CARVALHO, 2000). Em outro exemplo, pode-se inferir que a diversidade cultural brasileira

contribuiu para o estabelecimento de um rico e complexo conhecimento acerca de plantas e

animais medicinais e seus potenciais usos terapêuticos. Animais como o teju Tupinambis

merianae (Duméril & Bibron, 1839), a jibóia Boa constrictor (Linnaeus, 1758), o tatu-peba

Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), o tatu verdadeiro Dasypus novemcinctus (Linnaeus,

1758) e tamanduás (e.g., tamanduá bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 e o

tamanduá mirim Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) explorados para fins medicinais no

Brasil (ver ALVES et al., 2007), provavelmente tiveram seus usos a partir dos conhecimentos

de indígenas.

Os colonizadores [ocupadores, grifo meu] procuraram descrever e entender a

realidade ecológica brasileira nos dois primeiros séculos de colonização, destacando,

sobretudo, o caráter utilitário das espécies, revelando a necessidade por parte dos

colonizadores em conhecer a realidade ecológica na qual estavam inseridos e, neste particular,

as informações recolhidas junto aos índios eram imprescindíveis (GUEDES, 2006). Esta

situação reflete apenas a questão trabalhada por Turner et al. (2003) de que, extremidades

culturais, constituindo lugar de zonas de borda entre entidades sociais discretas, tornam-se

zonas de interação social, cruzamento de conhecimento e sinergia, onde as pessoas não só

trocam bens materiais, mas também ocorre aprendizado entre ambas as partes.

O uso de animais da fauna brasileira por sociedades indígenas e por descendentes dos

colonizadores europeus justifica a construção de um conhecimento tradicional a qual vem se

perpetuando durante séculos, transferido de geração a geração, sobretudo oralmente entre os

neoocupantes dos sertões brasileiros – descendentes de europeus e mestiços destes com outras

etnias. Esse tipo de conhecimento destaca-se por seu vasto campo e variedade que

comportam: “técnicas de manejo de recursos naturais, métodos de caça e pesca,

conhecimentos sobre os diversos ecossistemas e sobre propriedades farmacêuticas,

alimentícias e agrícolas de espécies e as próprias categorizações e classifcações de espécies da

fauna e da flora utilizadas pelas populações tradicionais” (SANTILLI, 2005, p. 192).

O estudo do conhecimento tradicional das relações ser humano e natureza é abordado

à luz das Etnociências, em especial da Etnoecologia, onde inicialmente definida como o

estudo dos sistemas de conhecimento desenvolvido por uma dada cultura para classificar os

objetos, atividades, e eventos do universo dos povos tradicionais (HARDESTY, 1977),

Page 31: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

30

transcede a questão etnotaxonômica (ver BERKES, 1999) e engloba o estudo das relações

ambientais de comunidades e culturas particulares (SLIKKERVEER, 2000), permitindo

convergir os aspectos concretos do manejo de recursos naturais sem ignorar os aspectos gerais

socias, culturais e cognitivos relatados (RIST & DAHDOUH-GUEBAS, 2006). De acordo

com Albuquerque e Andrade (2002a) a Etnoecologia, juntamente com a Etnobiologia, têm

sido campos que vêm contribuindo no fornecimento de dados que muitas vezes corroboram a

idéia de que as práticas locais são ecologicamente sustentáveis e podem fornecer alternativas

para as práticas importadas pelos cientistas, que não raro olvidam a realidade local.

Contraposto a esta afirmação, destaca-se o fato de que as práticas locais podem ser

impactantes, a exemplo das técnicas de “arremedo” ou “facheado” usada por caçadores do

semi-árido paraibano (ver ALVES et al., 2009) ou mesmo o uso de animais silvestres para

fins medicinais, tal como a exploração para esta finalidade de diversas espécies ameaçadas de

ursos na China (ver FENG et al., 2009), ou ainda no Nordeste do Brasil, onde 230 das cerca

de 250 espécies de animais usadas com propósitos medicinais são silvestres e 52 estão em

listas de espécies ameaçadas (e.g., IUCN, CITES, MMA) (ALVES, 2009), refletindo numa

forte pressão sobre as populações exploradas.

No entanto, mesmo em situações nas quais esses tipos de usos de recursos são

impactantes, o conhecimento local pode ser útil para a elaboração de planos de uso e manejo

de recursos naturais. É fato que comunidades locais, as quais exploram determinadas espécies

para fins específicos, possuem um valioso conhecimento etnobioecológicos das mesmas. Ad

exemplum, 68 espécies são exploradas como recursos pesqueiros no Estuário do Rio

Mamanguape no Estado da Paraíba (ROCHA et al., 2008), e nesta mesma área, Alves e

Nishida (2002), constataram que percepção dos pescadores locais relativo ao processo de

ecdise do caranguejo-uçá - U. cordatus corrobora em muitas das informações fornecidas com

aquelas existentes na literatura. O conhecimento que os pescadores possuem das dimensões

espaço-temporais do estuário do rio Mamanguape é igualmente rico, de tal maneira que estes

conseguem diferir duas estações climáticas que sobrepõem às variações de salinidade na

região estuarina e, conseqüentemente, afetam na distribuição das espécies nesses períodos

(ver MOURÃO & NORDI, 2006).

Na região semi-árida do Nordeste brasileiro a carência de estudos ecológicos e

etnoecológicos são marcantes, como constataram previamente alguns autores, a exemplo de

Albuquerque et al. (2007b), Almeida et al. (2006). Isto acarreta algumas preocupações, visto

que algumas perguntas - tais como: Como as comunidades que vivem na caatinga, ou nos seus

domínios, se relacionam com os recursos faunísticos? Como se dá a apropriação dos recursos

Page 32: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

31

neste bioma? ou Como os recursos da caatinga são percebidos? - tornam-se, no máximo,

parcialmente respondidas pela comunidade científica.

No caso específico da mastofauna, a Caatinga, paulatinamente, começa a ser

desmistificada em termos de pobreza e diversidade; contudo, ainda permanece pouco

estudada do ponto de vista das interações estabelecidas entre os moradores locais com os

mamíferos da região. Sabe-se, no entanto, que alguns grupos de espécies desempenham

papéis-chave no imaginário e na cultura popular dos nordestinos, sobretudo daqueles que

vivem no Sertão. Entre esses grupos, estão os Xenarthras – tamanduás, tatus e preguiças.

Etnozoologicamente, esses animais têm tido uma longa história de inter-relações com os

povos americanos, desempenhando papéis importantes na dieta, folclore, medicina, língua,

religião, recreação, economia e cosmologia de diferentes culturas ameríndias, tanto presentes

quanto passadas (GILMORE, 1986; MARTÍNEZ, 1995; SÁNCHES & ROMERO, 1994;

SETZ, 1991).

Os tatus, em especial o tatu-peba (E. sexcinctus) e o tatu verdadeiro (D.

novemcinctus), são animais intrinsecamente associados à cultura do Nordeste brasileiro.

Linguisticamente, o termo tatu relaciona-se com expressões populares, tais como: “cara de

tatu”, que se refere aquele com rosto comprido; “levar um tatu”, que significa cair (COSTA-

NETO, 2000a). Há registros do uso de E. sexcinctus e D. novemcinctus na farmacopéia da

região Nordeste para o tratamento de várias enfermidades, incluindo asma, dor de ouvido,

edema, ferimentos, pneumonia, sinusite, trombose entre outras (ver ALVES, 2009). Essas

práticas normalmente exigem a morte de espécimes dos tatus supracitados, o que implica,

necessariamente, em atividades de caça. Tais espécies têm sido exploradas para fins

alimentares e recreacionais (caça esportiva) de forma freqüente no interior do Brasil (ver

ALVES et al., 2009; MOURÃO et al., 2006; MEDRI, 2008).

Torna-se uma questão central o fato de que caçar implica à necessidade de um

conhecimento tradicional detalhado da ecologia dos animais explorados assim como de outros

aspectos ecológicos locais, fato este confirmado por outros autores, como Henfrey (2002). A

partir deste contexto, o presente estudo teve por finalidade registrar o conhecimento ecológico

tradicional de moradores do semi-árido paraibano em relação à ecologia dos tatus-peba

(Euphractus sexcinctus) e tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus), contribuindo para que

esse conhecimento seja um dos fatores a ser inserido de forma participativa em futuros planos

de manejo e conservação destas espécies. Nosso estudo parte da premissa de que, apesar do

valioso conhecimento ecológico tradicional de muitos moradores do semi-árido paraibano,

Page 33: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

32

esse corpus raramente recebe atenção ou análise necessária perante aqueles que se preocupam

com o uso e manejo de recursos.

Page 34: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

33

1.2 Material e Métodos

O trabalho de campo foi desenvolvido em dois períodos distintos. O primeiro deles foi

de janeiro a março de 2008, onde os dados foram coletados no município de Sousa. O

segundo período ocorreu de outubro de 2008 a abril de 2009, no qual os foram coletados nos

demais municípios. Em ambos os casos a freqüência de visita à área de estudo foi quinzenal

com permanência de quatro dias, normalmente das quintas-feiras aos domingos. Os dados

foram obtidos e analisados mediante a aplicação de um conjunto de técnicas qualitativas e

quantitativas descritas a seguir.

1.2.1 Coleta dos dados

A coleta dos dados consistiu fundamentalmente na realização de entrevistas, as quais

eram sempre precedidas pela identificação do entrevistador, por uma rápida explanação sobre

o trabalho e por um pedido de permissão para realização das entrevistas. Inicialmente foram

realizadas entrevistas livres com informantes encontrados ad libitum (ao acaso), tendo por

objetivo compreender de forma mais ampla o conhecimento dos moradores locais em relação

às espécies de tatus enfocadas nesse estudo.

De acordo com Mourão & Nordi (2006), este tipo de entrevista é de extrema

importância, pois permite ao entrevistado discorrer livremente sobre o assunto tratado. Por

este motivo, muitos estudos etnobiológicos e etnoecológicos fizeram uso dessa técnica, a

exemplo de Araújo et al. (2005), Costa-Neto (1999b), Mourão et al. (2006), Rocha et al.

(2008), Thé (2003). Após esta etapa inicial, foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas

com residentes locais, incluindo aqueles identificados como especialistas. Um especialista

pode ser definido como uma pessoa reconhecida pela comunidade como sendo detentora de

um profundo conhecimento acerca do uso de animais para propósitos diversos (BAILEY,

1994). Esta etapa foi pautada por um questionário semi-estruturado (ver Apêndice A) que

englobava os seguintes aspectos: características físicas e biológicas, preferências alimentares,

de habitat, reprodução e outros aspectos bioecológicos.

Também foram realizadas turnês guiadas com especialistas em trilhas escolhidas pelos

mesmos, quando foi possível fazer registros fotográficos e identificar in loco as espécies de

tatus estudadas, além de podermos constatar parte das interações (positivas ou negativas)

estabelecidas destas pessoas com esses animais.

Page 35: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

34

O universo de entrevistados foi determinado principalmente por meio da técnica bola

de neve (snow Ball – em inglês) (BERNARD, 1988). Tal técnica consiste na seqüência de

indicação (ões) feita(s) por moradores de uma determinada área o qual possibilita reconhecer os

indivíduos culturalmente competentes em relação a um determinado assunto. As entrevistas

individuais ou coletivas ocorreram tanto na zona urbana quanto na zona rural dos municípios

estudados. Muito embora os tempos de cada sessão tenham sido variados, quase sempre as

entrevistas tiveram duração superior a 40 minutos. A amostra total foi de 214 indivíduos, 177

homens e 37 mulheres, assim distribuídos: 109 de Campina Grande (76 homens e 33

mulheres), 18 de Monteiro (todos homens), 23 de São Mamede (todos homens), 32 de Sousa

(28 homens e 04 mulheres) e 32 de Sumé (todos homens). A média de idade dos entrevistados

foi de 40,1 anos.

1.2.2 Análise dos dados

Qualitativamente, os dados obtidos foram analisados por meio de uma abordagem

emicista/eticista, na qual os conhecimentos tradicionais foram comparados com aqueles

correspondentes e/ou correlacionados na literatura científica (POSEY, 1986), assim como

pelo modelo de união das diversas competências individuais (HAYS, 1976). Segundo este

modelo, toda informação pertinente ao assunto pesquisado é considerada. A confirmação das

informações fornecidas pelos entrevistados ocorreu principalmente de forma sincrônica, que

consiste em perguntas idênticas feitas a indivíduos diferentes em tempos muito próximos

(MARANHÃO, 1975).

A análise do conhecimento ecológico tradicional dos moradores das áreas estudadas

foi fundamentalmente realizada por meio de tabelas de cognição. Este tipo de análise,

essencialmente qualitativa, consiste na geração de uma “tabela” que compara fragmentos do

conhecimento dos entrevistados com fragmentos do corpus da literatura científica, buscando-

se convergências ou divergências. Por esse motivo, tal comparação entre os diferentes corpus

citados é um técnica amplamente utilizada em trabalhos de etnoecologia (ANDRADE et al.,

2006; COSTA-NETO, 2000b; MARQUES, 1995; MOURA, 2002; SOUZA, 2004).

1.2.3 Identificação das espécies

Similar ao procedimento realizado por Alves e Rosa (2006), os animais foram

identificados das seguintes formas: 1) análise dos espécimes doados pelos entrevistados; 2)

Page 36: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

35

fotografias 3) através dos nomes vernaculares, com o auxílio de taxonomistas familiarizados

com a fauna das áreas de estudo do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade

Federal da Paraíba (UFPB).

Page 37: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

36

1.3 Referencial Teórico

1.3.1 As Ciências dos saberes locais: A Etnobiologia e a Etnoecologia

As questões ambientais emergidas ao longo dos dois últimos séculos vieram interrogar

o papel dominante da ciência como sintetizadora e direcionadora dos conhecimentos da

humanidade.

A crise ambiental – a qual toma proporções marcantes a partir da segunda metade do

século XX transcende a superexploração dos recursos naturais. O cartesianismo da ciência

moderna subjugou saberes e gerou, no seio de nossa sociedade, a idéia de única verdade como

sendo aquela a qual poderia ser metodologicamente testada, mediante parâmetros pré-

estabelecidos que, somente após repetidos testes e produção de resultados é que assim seria

efetivada (CHEN, 2004). A existência de Etnociências, em primeiro lugar, e o

estabelecimento de relações possíveis entre elas e as Ciências, em segundo lugar,

permaneceram para além dos limites do pensável, durante muito tempo (DIAS & JANEIRA,

2005). Ou seja, era impensável que pudesse existir a possibilidade de juntar o prefixo <éthos-

> a <scientiae>; também não se podia conceber que pudessem existir outras realidades, com o

mesmo radical, fora das ciências modernas (DIAS & JANEIRA, op. cit.).

No auge desta crise, os demais saberes não científicos, outrora subjugados, agora

passariam a ganhar destaque, como atesta Leff (2005). Este contexto é o marco do início da

popularização das etnociências (COTTON, 1996; MARTIN, 1995) a qual engloba, por

exemplo, a etnobotânica (CUNNINGHAM, 2001; MINNIS, 2000), a etnozoologia, a

palaeoetnobotânica, zooetnoarqueologia, etnoecologia (NAZAREA, 1999), etnoagronomia

(ALTIERI, 1993), etnopedologia (WINKLERPRINS & SANDOR, 2003), e outras áreas

relacionadas como a etnoclimatologia (ORLOVE et al., 2002), a etnoastronomia (FABIAN,

2001), etnomedicina (NICHTER, 1992), ou etnofarmacologia e nutrição (PIERONI &

PRICE, 2005); assim como na matemática (D‟AMBROSIO, 1999; HUYLEBROUCK, 2005),

ou seja, as „etno abordagens‟ estão tornando-se mais disponíveis (RIST & DAHDOUH-

GUEBAS, 2006).

Ao invés de desagregar as práticas encontradas nos modos de vida de agricultores,

mercadantes, artesãos e xamãs [assim como outros grupos tradicionais], empacotando-as em

disciplinas altamente especializadas da ecologia, agronomia, botânica, medicina, entre outras;

as etno-abordagens estão adotando uma visão mais compreensiva focada sobre as mais

Page 38: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

37

variadas dimensões culturais subjacentes (ATRAN, 1991; NAZAREA, 1999; POSEY &

PLENDERLEITH, 2002; RIST & DAHDOUH-GUEBAS, 2006; WINKLERPRINS &

BARRERA-BASSOLS, 2004). Isto reflete apenas a questão de que outras culturas, e não

apenas a ocidental, tem gerado um conhecimento confiável acerca dos fenômenos naturais, o

que convida a exploração da atividade que outras culturas possam ter diferentes “ciências”

(POMEROY, 1992).

Para Rist e Dahdouh-Guebas (2006) as etnociências podem desempenhar um

importante papel no avanço da transdisciplinaridade e desenvolvimento sustentável, uma vez

que o principal desafio para os estudos transdisciplinares consiste em encontrar modos de

encorajar o diálogo e cooperação entre grupos heterogêneos de atores sociais com diferentes

formas de conhecimento, ao invés de impor uma visão ampla e coerente do mundo por meio

de um discurso hegemônico que silencia todos os outros discursos pelo posicionamento destes

fora das questões tratadas.

Este ponto certamente constitui um avanço das discussões sobre o papel da ciência e

das interações estabelecidas por esta com outros saberes considerados não científicos. Por

suas características, a ciência ocidental moderna foi [ou quase sempre o foi] considerada

como sendo a única capaz de descrever o mundo e de dar a ele um sentido lógico (COSTA-

NETO, 1999c). Seus princípios, métodos e técnicas foram levados para todos os recantos do

mundo e tomados como universais. Nessa perspectiva, qualquer hipótese ou interpretação de

fatos que não afinem com as idéias vigentes era ignorada; qualquer tentativa de incluir

explicações criadas fora do rigor científico ocidental, que fuja da objetividade, era banida dos

templos acadêmicos (Ibdem).

Dentre as etnociências, a etnobiologia merece uma atenção especial por envolver a

análise de classificação de sistemas sobre a natureza e por ter uma profunda ligação com os

temas da botânica, zoologia e ecologia (MOURÃO et al., 2006). Embora não haja uma

definição universal de etnobiologia podemos considerar clássica a que afirma: “o estudo do

papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes,

relacionando-se, nesse sentido, à ecologia humana, além de dar ênfase às categorias e

conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo” (POSEY, 1986). Benthall (1993)

define a etnobiologia como um novo ramo da ciência a qual une duas áreas do conhecimento

humano – a etnologia, o estudo de culturas, e a biologia, o estudo da vida. A etnobiologia

abrange as mais diferentes áreas da botânica, zoologia, ecologia, etc., mas que no saber

indígena [ou local], estão integradas formando um amálgama de plantas, animais, atividades

de caça e coleta, horticultura, espíritos, mitos, cerimônias, ritos, reuniões, energias, cantos e

Page 39: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

38

danças e que não se enquadram nas categorias e subdivisões que são definidas dentro das

Ciências Biológicas [grifo meu] (COSTA, 2002). Valendo-se dos paradigmas e da

epistemologia da ciência moderna, a etnobiologia, desta maneira, fornece um arcabouço

teórico para interligar diferentes áreas das ciências sociais e naturais com outros sistemas de

conhecimentos não-acadêmicos (SANTOS-FITA & COSTA-NETO, 2007).

De acordo com Diegues et al. (1999), este ramo das etnociências ainda está

construindo seu método e sua teoria a respeito da maneira pela qual os povos classificam os

seres vivos, seu ambiente físico e cultural. Ainda segundo estes autores, pressupõe-se que

cada povo possua um sistema único de perceber e organizar as coisas, os eventos e os

comportamentos. Begossi et al. (2002), definem a etnobiologia de forma semelhante a

Diegues (2000), onde esta “busca entender os processos de interação das populações humanas

com os recursos naturais, com especial atenção à percepção, conhecimento e usos (incluindo o

manejo de recursos), contribuindo para esclarecer diferenças culturais e analisar a diversidade

ou heterogeneidade cultural”.

No entanto, estas definições não compreendem os aspectos epistemológicos e

metodológicos questionados, de modo que a etnobiologia pode ser confundida ou sobreposta

a alguns enfoques teórico-metodológicos mais recentes, como é o da etnoecologia (SOUZA,

2004). Ela caracteriza-se como um enfoque ou abordagem teórico-metodológica no estudo da

relação sociedade-natureza onde enfatiza o papel da cognição no comportamento humano,

apresentando-se como uma ferramenta útil para analisar problemas relacionados com o

manejo, sustentabilidade, conservação e direito de propriedade intelectual (Ibdem).

Estudos inseridos neste contexto antecedem o século XIX; a designação etnobotânica

foi datada academicamente em 1890 (FEWKES, 1896; HARSHBERGER, 1896) e

etnozoologia foi o nome dado por Mason nos Estados Unidos, em 1899, para definir a

“zoologia da região como exatamente descrita por indígenas” (MOURÃO et al., 2006).

Posteriormente, a etnociência assume um caráter multidisciplinar, ramificando-se em diversas

áreas do conhecimento como, por exemplo: etnopedologia, etnofarmacologia, etnozoologia,

etnoentomologia, entre outras. (VALLE, 2007)

De modo muito similar a Toledo (1992), Marques (1995), define a etnoecologia como:

“(...) o estudo das interações entre a humanidade e o resto da ecosfera,

através da busca da compreensão dos sentimentos, comportamentos, conhecimentos e crenças a respeito da natureza, característicos de uma espécie biológica (Homo

sapiens) altamente polimórfica, fenotipicamente plástica e ontogeneticamente

dinâmica, cujas novas propriedades emergentes geram-lhe múltiplas

descontinuidades com o resto da própria natureza. Sua ênfase, pois, deve ser na

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39

diversidade biocultural e o seu objetivo principal, a integração entre o conhecimento

ecológico tradicional e o conhecimento ecológico científico”.

Para Toledo (op. cit.), a etnoecologia está integrada em três dimensões em seu

universo de estudo: o complexo cosmos – corpus – práxis. O cosmos se refere aos sistemas de

crenças, mitos e rituais que englobam uma relação com o meio ambiente (CABRERA et al.,

2002). O corpus refere-se, no enfoque etnoecológico, a todo o repertório de conhecimento que

se enquadram dentro das mentes dos produtores e que geralmente não são escritos, ao passo

que dentro da esfera da práxis, encontra-se todo o conjunto de práticas produtivas que tomam

lugar durante a apropriação dos recursos naturais (Ibdem).

As definições de etnobiologia e etnoecologia mostradas aqui podem, segundo

Bandeira (2001), nos levar a concluir que estas têm aspectos em comum e estabelecem como

enfoque principal dessa disciplina, as relações sociedade-cultura-natureza. Para Descola

(1996), a etnobiologia busca entender basicamente os mesmos problemas centrais de outras

disciplinas, enfoques, tradições e escolas, como a etnoecologia, a ecologia humana, dentre

outras. As dificuldades de se delimitar epistemologicamente o campo científico da

etnobiologia e da etnoecologia estão fundadas em sua natureza interdisciplinar e em seu

recente desenvolvimento teórico-metodológico. Portanto, as ferramentas de que dispõem

pertencem a diferentes campos científicos (antropologia, botânica, zoologia, ecologia,

história, geografia) (Souza, 2004).

Segundo Bandeira (2001), essa sobreposição é o resultado do rápido desenvolvimento

da etnobiologia, assim como a proliferação de escolas, enfoques e tendências teóricas, o que

caracteriza o estado atual de desenvolvimento de disciplinas. Na verdade, a etnobiologia e a

etnoecologia estão intimamente associadas, haja vista que ambas possuem como essência de

estudo o Conhecimento Tradicional (CT) ou Conhecimento Ecológico Tradicional (CET) dos

mais variados povos.

1.3.2 O Conhecimento Ecológico Tradicional

O estudo do conhecimento humano é tão antigo quanto à história da humanidade. O

Conhecimento Ecológico Tradicional integra complicados vínculos entre os seres humanos e

os recursos naturais (EYSSARTIER et al., 2008). Esta construção tem sido definida como o

conhecimento adquirido através das gerações, que compreende um amplo espectro de povos

os quais incluem modos materiais, espirituais e culturais, tais como a agricultura, a caça e

práticas medicinais.

Page 41: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

40

As sociedades tradicionais possuem um conhecimento apurado sobre o ambiente onde

vivem o que lhes permite adaptarem-se às condições desse ambiente (COSTA-NETO, 1999c).

A questão do conhecimento tem sido um tema central da filosofia e da epistemologia desde o

período grego. Contudo, não se tem alcançado um consenso em relação a uma definição geral

da palavra. Nos anos recentes o conhecimento começou a ganhar uma nova onda de atenção.

(RAHMAN, 2000).

Apesar destes esforços e avanços, ainda existem muitas propostas para a definição do

Conhecimento Tradicional (CT), mas segundo alguns autores (e.g., BERKES, 1993;

BERKES & HENLEY, 1997; JOHNSON, 1992; McCORKLE, 1994; QUIROZ 1996) todas

são incompletas, pois o conceito é relativamente novo e ainda está sendo construído.

Entretanto, alguns deles são marcantes e nos permite obter um mínimo de compreensão

pertinente a este termo.

De acordo com Wenzel (1999), Kimmerer (2002) e Mourão et al. (2006), o

conhecimento sobre o mundo natural os quais as pessoas detêm através das gerações é

usualmente denominado de “local” ou “tradicional”. Esse tipo de conhecimento caracteriza-se

por responder à cosmovisão de sua cultura e, portanto, o tipo de conhecimento tradicional

detido por cada povo ou comunidade local, difere um do outro. (GERMAN-CASTELLI,

2004). Não obstante, o termo conhecimento tradicional, em virtude de sua pluralidade de

conceituações, caracteriza-se por igual diversidade de sinônimos, onde podemos destacar:

“Conhecimento Ecológico Tradicional (CET)” ou (TEK do inglês Traditional Ecological

Knowledge) (DREW, 2005; GUIMARÃES & MOURÃO, 2006; HUNN, 2007; KNUDSEN,

2008), “Conhecimento Ecológico e Sistemas de Manejo Tradicionais (CETSM)” (GERMAN-

CASTELLI, 2004), “Conhecimento Local (CL)” ou (LK do inglês Local Knowledge)

(BEGOSSI & SILVANO, 2008; PEDROSO-JÚNIOR, 2002), “Conhecimento Indígena (CI)”

ou (IK do inglês Indigenous Knowledge) (EL-HANI & BANDEIRA, 2008), “Conhecimento

Comunitário (CC)” (do inglês Community Knowledge) (JOHANNES, 1989), “Conhecimento

dos Habitantes Rurais (CHR)” (do inglês Rural Peoples‟ Knowledge) (THOMPSON &

SCOONES, 1994) e “Conhecimento dos Produtores (CP)” ou (FK do inglês Farmers‟

knowledge) (ETTEN, 2004).

Todos os termos acima são utilizados para expressar o mesmo tipo de conhecimento

que, segundo Kimmerer (2002), é racional e confiável tendo sido desenvolvido através das

gerações por meio do íntimo contato de povos nativos com suas terras. A transmissão do CET

é essencialmente distinta da transmissão do conhecimento científico que se dá por métodos

predominantemente vinculados à escrita. Símbolos, fonemas, narrativas, rituais, músicas e

Page 42: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

41

danças são impressos nas mentes das pessoas como memes, constituindo as principais formas

de transmissão do CET (MOURÃO et al., 2006).

No tocante aos memes, segundo Waizbort (2003), estes seriam replicadores de uma

natureza diferente. A informação de sua origem não está inscrita em fitas de DNA, mas em

substâncias muito mais tênues. De acordo com este autor, como os genes, os memes poderiam

ser compreendidos se prestarmos atenção: 1) ao processo hereditário pela qual as informações

culturais se reproduzem em populações de cérebros humanos (horizontal e verticalmente), 2)

ao processo que faz com que as informações culturais variem, e 3) ao processo de seleção de

informações culturais, dado o número limitado de cérebros e uma virtual infinidade de idéias,

fragmentos destas, bem como complexos delas.

Grandes expoentes dos estudos acerca da memética, Richard Dawkins e Susan

Blackmore, exprimiram definições valiosas a respeito dos memes. Em 1976, Richard

Dawkins defendeu pela primeira vez essa estranha idéia:

[O meme é] uma unidade de transmissão cultural, ou unidade de imitação.

“Mimeme” vem da raiz grega adequada, mas quero um termo que soe mais como

“gene”... Também se pode pensar que ele está relacionado com “memória” ou com a

palavra même, do francês (DAWKINS, 1976)

Em The meme machine, publicado nos EUA em 1999, Susan Blackmore defendeu que

a história evolutiva do homem tem sido perversamente guiada pela lógica de unidades

culturais de imitação chamadas memes. Basicamente, estes são idéias e/ou informações, que

se reproduzem de mente para mente, de ser humano para ser humano: memes são “instruções

para realizar comportamentos, estocadas no cérebro (ou em outros objetos), e passada adiante

por imitação” (BLACKMORE, 1999, p. 43)

Torna-se evidente que o conhecimento ecológico tradicional, em suas mais variadas

dimensões, constitui uma representação menemônica intrinsecamente associado à Biologia.

Conseqüentemente, os enfoques da memética associadas ao estudo do conhecimento

tradicional são recentes, sendo esta relação frequentemente citada a partir do final da década

de 1980 e com mais ênfase somente no começo deste século (e.g., ARAUJO et al., 2005;

BARBOZA et al., 2007; MOURA, 2002; MOURÃO et al., 2006).

Compreender as mais diversas interações estabelecidas entre os povos tradicionais ou

locais com os recursos que os cercam, bem como a transmissão do conhecimento ecológico

tradicional através das gerações, constitui uma demonstração da interdisciplinaridade

estabelecida entre as ciências humanas e naturais na construção dos estudos etnoecológicos.

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42

Este tipo de conhecimento, como afirma Mourão et al. (2006), é o objeto de estudos

etnocientíficos, onde o prefixo etno refere-se ao sistema de conhecimento e cognição que são

típicos de cada cultura. O aumento da apreciação das etnociências, antigas e contemporâneas,

como afirma Berkes (1999), pavimentou o caminho da aceitação da validade do conhecimento

tradicional em uma variedade de campos e alguns estudos demonstram como o Conhecimento

Ecológico Tradicional é uma ferramenta que deve ser considerada na elaboração de planos de

manejo, seja em casos onde as práticas tradicionais são positivas ou mesmo quando

impactantes, a exemplo daquelas que favorecem o desmatamento como em Loma Alta,

Equador (ver BECKER & GHIMIRE, 2003).

A compreensão das interações estabelecidas entre as comunidades locais e os biomas

que os cercam é de fundamental importância para estabelecimento de um plano de manejo

adequado e participativo, haja vista que o envolvimento de comunidades locais e a garantia

dos direitos de grupos pobres e marginalizados no manejo sustentável de recursos naturais é o

tema central na assistência internacional para o desenvolvimento (DINAMARCA, 2007).

Neste âmbito, destaca-se o fato de que no Brasil o manejo de recursos é comumente imposto

sobre as comunidades locais pelo Governo Federal (SILVANO & BEGOSSI, 2005).

Relativo à Caatinga, inventariar e/ou disseminar o conhecimento tradicional das

comunidades locais está inserido na perspectiva de geração de conhecimento e na formação

de recursos humanos para políticas públicas em recente identificação de áreas e ações

prioritárias para a conservação deste bioma (ver TABARELLI & SILVA, 2003).

1.3.3 As Caatingas dos Sertões Paraibanos

De forma a retratar com mais fidelidade o cenário multidiverso em que os secos

Sertões nordestinos e paraibanos se desvendaram a designação “as Caatingas” foi aqui

adotada da mesma forma com que Andrade-Lima (1966) já havia apontado, usando este termo

no plural, ao se referir das várias e diferentes fisionomias de vegetação, bem como de

numerosas fácies, denominadas por Sampaio (1995) de mosaicos de vegetação.

Historicamente, o processo de ocupação das Caatingas brasileiras e, principalmente, as

dos Sertões paraibanos por colonos europeus caracterizou-se por meio da pecuária extensiva a

qual foi inserida no Nordeste pelos portugueses no final século XVI onde se valiam de uma

mão-de-obra livre e barata (AB‟SABER, 2003; ANDRADE, 2005; DIÉGUES JÚNIOR,

1960; PIERSON, 1972; RIBEIRO, 1995). Em favor da preeminência dos Engenhos

açucareiros na Zona da Mata e da crescente demanda da população pelo gado, o qual além de

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oferecer suporte motriz e de carga; artefatos a base de couro e suprimento alimentar, estes

rebanhos já não encontravam mais o espaço necessário ao seu desenvolvimento. De acordo

com Ribeiro (1995), o contraste da condição de vida dos engenhos açucareiros,

possivelmente, tornou a criação de gado mais atrativa para os brancos pobres e para mestiços

dos núcleos litorâneos. Sendo assim, tendo como ponto de referência o Rio São Francisco,

grandes boiadas foram sendo conduzidas cada vez mais ao interior da região Nordeste, onde

depararam-se com grandes obstáculos como a escassez hídrica e de alimentos, as altas

temperaturas além dos fervorosos conflitos com os povos indígenas dos Sertões.

Segundo Andrade (2005), uma série de mudanças ocorreu nos últimos tempos, tanto

no que tange a configuração espacial desses Sertões quanto ao patrimônio comportamental

das populações que nele habitam. Devido às primitivas sesmarias, a sucessão hereditária

nessas áreas por meio das consecutivas divisões de terra fez com que se constituísse uma

grande população de pequenos proprietários latifundiários. Todavia, apesar de ter existido um

componente comum (a criação de gado) que tornou possível o processo de ocupação humana

do Mediterrâneo Nordestino, não se pode dizer que há nessa região uma “uniformidade

perfeita e completa” (DIÉGUES JÚNIOR, 1960).

Na Paraíba, dada a gradual estabilização das populações no processo de povoamento,

novos elementos de fixação e, por conseqüência, novas atividades apareceram, marcando com

traços próprios os modos de vida que se fundaram. Surgiu, então, uma diversidade de

aspectos peculiares dentro da unidade fundamental em que se desenvolveram as populações

dos Sertões paraibanos (ANDRADE, 2005; DIEGUES JÚNIOR, 1960). De acordo com

Andrade (2005), as intervenções governamentais feitas na região semi-árida reproduziram o

sistema de exploração colonial de áreas em processo de ocupação, relegando-se, a um

segundo plano, os indígenas e os caboclos, antigos ocupantes da terra. O autor ainda destaca

que, a partir da década de 1960, introduziu-se, sobretudo, no Sertão do São Francisco, a

agricultura voltada à exportação.

Para Vilaça e Albuquerque (2003), em meados da segunda metade do século XIX, o

processo de ocupação demográfica e produtiva dos interiores semi-áridos do Nordeste, e

destacadamente da Paraíba, embora ainda rarefeita, já apresentava grosseiramente, a sua atual

configuração. Dessa forma, o “modus vivendi” dos povos e trabalhadores sertanejos nas áreas

de caatinga até quase nossos dias vem se tecendo (ANDRADE, 2005).

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1.3.3.1 Característica Etimológica e Geográfica da Caatinga

A etimologia da palavra caatinga é de origem tupi e sua formação lexical significa

KAA (floresta, mata) e – TINGA (um sufixo que significa “branco”, “claro”) (AMANCIO

ALVES, 2007), referindo-se ao aspecto da vegetação durante a estação seca, quando a

maioria das árvores perde as folhas e os troncos esbranquiçados e brilhantes dominam a

paisagem (PRADO, 2003)

A despeito das várias definições existentes, a caatinga compreende basicamente um

mosaico de arbustos espinhosos e florestas sazonalmente secas que cobre a maior parte dos

estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia

e a parte nordeste de Minas Gerais, no vale do Jequitinhonha. Estendendo-se por cerca de

735.000 km2 a 800.000 km

2 (CASTELLETTI et al., 2003; LEAL et al., 2005; PRADO, 2003).

Este bioma representa 70% da região Nordeste e 11% do território nacional Bucher

(1982)1 apud Castelletti et al., (2003). Com características físicas e biológicas únicas, a

Caatinga no Nordeste brasileiro consiste de formações áridas e semi-áridas heterogêneas

rodeadas por mais formações mésicos-fitogeográficos, possuindo limite crítico da Caatinga

segue aproximadamente o da isoieta de 1000 mm, na qual extende-se a pouco mais de 3°-16°

de latitude Sul e de 35°-45° longitude Oeste (MARES et al., 1985; PRADO, 2003) (Figura 2).

No caso específico do Estado da Paraíba, 92% de toda sua área está inserida no Bioma

Caatinga (IBGE, 2004).

Figura 2. Isoieta de 1000m, parâmetro

de limite da região semi-árida da

caatinga nordestina. Em azul os limites

terrestres da Região Nordeste e em

amarelo os limites da isoieta de 1000mm

1 BUCHER, E.H. 1982. Chaco and caatinga – South American arid savannas, woodlands and thickets. Pp. 48-79

in: B. J. Huntey & B. H. Walther (eds.) Ecology of tropical savanas. Springer-Verlag, New York.

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1.3.3.2 Características Físicas

O principal e mais característico componente físico do bioma Caatinga é seu clima,

onde, segundo a classificação de Köppen, é do tipo semi-árido BSh (ANDRADE-LIMA,

1981). Temperaturas médias anuais muito elevadas é outra característica marcante das

Caatingas (REIS, 1976), com valores entre 26 a 28ºC (NIMER, 1972). Entretanto, todas as

áreas superiores a 250 m de altitude têm temperaturas médias mais baixas (20 – 22ºC)

(PRADO, 2003).

De acordo com Arruda (1997), a região Nordeste se caracteriza por apresentar

temperaturas elevadas e ser a região mais seca do país. A sua variabilidade espacial e

temporal de precipitação é elevada, o que é característico de climas semi-áridos. Os índices,

de um ano para outro, apresentam desvio de até 200%. A análise climatológica sugere que a

semi-aridez é causada por mecanismos da circulação geral da atmosfera, conhecida como

circulação de HADLEY-WALKER. A interação das células de HADLEY e WALKER

determinam a variabilidade e a intensidade de aridez (SILVA, 1980).

Esse clima apresenta precipitação anual de baixa a moderada, variando de 300 mm na

maioria das regiões áridas até mais de 1600 mm nas regiões de platô elevado os quais

recebem chuvas orográficas (MARES et al., 1985). Cerca de 50% da área recebe menos de

750 mm, enquanto certas regiões localizadas têm menos de 500 mm, tais como o raso da

Catarina, juntamente com uma grande área central dos Estados de Pernambuco e Paraíba

(PRADO, 2003). O semi-árido nordestino possui uma longa estação seca, onde as chuvas são

caracterizadas como torrenciais e irregulares, havendo períodos de extrema deficiência

hídrica, denominados de seca, que têm ocorrido com freqüência irregular a cada 10 a 20 anos

(RODAL et al., 1992).

Relativo aos solos, a origem geomorfológica e geológica das Caatingas têm resultado

em vários mosaicos complexos com características variadas mesmo dentro de pequenas

distâncias (SAMPAIO, 1995). Talvez a classe de solos mais comum seja a dos marrons sem

cálcio (BAUTISTA, 1986; BEEK & BRAMAO, 1968), freqüentemente variando de Vérticos

com características intermediárias a vertissolos (FIGUEIREDO-GOMES, 1981), com um

horizonte B textural e pedras e pedregulhos característicos na superfície. Dada a natureza

desta região, entissolos e, particularmente, latossolos são muito abundantes, derivados de

rochas-mãe sob ação do clima. Afloramentos extensivos de rochas são regionalmente

chamados de “lajedos”, que atuam ecologicamente como meios desérticos e como locais onde

apenas plantas suculentas são encontradas. Em muitas áreas, a base rochosa é exposta como

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acumulações de grandes rochas que se encontram em algumas áreas suficientemente extensas

surgindo como cordilheiras montanhosas baixas localmente conhecidas como serras (MARES

et al., 1985).

1.3.3.3 Características biológicas

As caatingas, segundo Prado (2003), podem ser caracterizadas como florestas arbóreas

ou arbustivas, compreendendo principalmente árvores e arbustos baixos muitos dos quais

apresentam espinhos, microfilia e algumas características xerofíticas. De acordo com este

autor, algumas das espécies lenhosas mais típicas da vegetação das Caatingas são: Amburana

cearensis (Fr.All.) A.C. Smith, (“imburana de cheiro”, Fabaceae –Papilionoideae),

Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebil (Griseb.) Altschul (“angico”, Fabaceae –

Mimosoideae), Aspidosperma pyrifolium Mart. (“pau-pereiro”, Apocynaceae), Caesalpinia

pyramidalis Tul. (“catingueira”, Fabaceae-Caesalpinioideae), Cnidoscolus phyllacanthus

(Müll. Arg.) Pax & Hoffm. (“faveleira”, Euphorbiaceae), Commiphora leptophloeos (Mart.)

Gillet (“imburana”, Burseraceae, também conhecida como Bursera leptophloeos Mart.),

várias espécies de Croton (“marmeleiros”e “velames”, Euphorbiaceae) e de Mimosa

(“calumbíes” e “juremas”, Fabaceae-Mimosoideae), Myracrodruon urundeuva Fr. All.,

(“aroeira”, Anacardiaceae), Schinopsis brasiliensis Engler (“baraúna”, Anacardiaceae), e

Tabebuia impetiginosa (Mart. ex A. DC.) Standley (“pau d‟arco roxo”, Bignoniaceae).

Apesar de ser a única grande região natural brasileira cujos limites estão inteiramente

restritos ao território nacional, pouca atenção tem sido dada à conservação da variada e

marcante paisagem da Caatinga, e a contribuição da sua biota à biodiversidade extremamente

alta do Brasil tem sido subestimada (SILVA et al., 2003). Tradicionalmente descrito como um

ecossistema pobre em espécies e endemismos, agora tem sido demonstrado a importância

deste bioma para a conservação da biodiversidade brasileira (LEAL et al., 2003, 2005).

Já foram registradas 932 espécies de plantas vasculares (380 endêmicas) (GIULIETTI

et al., 2004), 187 de abelhas (ZANELLA & MARTINS, 2003), 240 de peixes (ROSA et al.,

2003), 167 de répteis e anfíbios (RODRIGUES, 2003), 62 famílias e 510 espécies de aves

(SILVA el al., 2003). O nível de endemismo varia de 3% nas aves (15 das 510 espécies;

SILVA et al., 2003) a cerca de 7% para mamíferos (10 de 143) (OLIVEIRA et al., 2003) e

57% em peixes (136 de 240) (ROSA et al., 2003).

No tocante a fauna de mamíferos da caatinga esta tem sido geralmente reconhecida

como depauperada, representativa de apenas um subconjunto da fauna de mamíferos do

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cerrado, bioma esse mais extenso e mais úmido (ver MARES et al., 1981, 1985). Essa

proposição, no entanto, está longe de ser verdadeira (OLIVEIRA et al., 2003). Já foram

registradas 148 espécies de mamíferos, mas o número total para a Caatinga pode ser maior,

uma vez que alguns registros de roedores e de morcegos não foram comprovados no nível

específico e, portanto, foram excluídos da contagem final (Ibdem). A insuficiência amostral

mostra-se ainda consideravelmente agravada, dada à falta de informações sobre a comunidade

de mamíferos adequadamente levantados na região (OLIVEIRA, 2004).

De acordo com Oliveira (2004), a mastofauna das Caatingas pode ser dividida em três

grupos principais: (1) espécies endêmicas ou que apresentam grande parte da distribuição

neste bioma, somando 19 espécies; (2) espécies amplamente distribuídas em outros biomas,

mas que apresentam registros esporádicos na Caatinga, 18 espécies; e, (3) espécies

amplamente distribuídas na Caatinga e em outros biomas, todas as demais.

Inserido na biodiversidade deste bioma, estão os mamíferos da ordem Xenarthra, a

qual é representada atualmente pelos tatus, preguiças e tamanduás (ENGELMANN, 1985;

NOWAK, 1991). Dentre os animais desta ordem encontrados na caatinga do Nordeste do

Brasil, estão o a preguiça comum - Bradypus variegatus Schinz, 1825, o tamanduá-bandeira -

Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758, o tamanduá-mirim - Tamandua tetradactyla

(Linnaeus, 1758), o tatu-bola - Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758), o tatu-de-rabo-mole –

Cabassous tatouay (Desmarest, 1804), o tatu-de-rabo-mole - Cabassous unicinctus (Linnaeus,

1758), o tatu-verdadeiro - Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758, o tatu-mirim Dasypus

septemcinctus Linnaeus, 1758 e o tatu-peba - Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), das

quais apenas C. tatouay e D. septemcinctus não ocorrem no semi-árido paraibano (ver IUCN

EDENTATE SPECIALIST GROUP, 2004).

Os tatus-peba (E. sexcinctus) e verdadeiro (D. novemcinctus), em especial, indicam ser

aqueles de maior distribuição na caatinga (ver Oliveira et al., 2003) e estão entre os animais

mais caçados no semi-árido nordestino (ALVES, 2009; MOURÃO et al., 2006; VALLE,

2007). Este tipo de interação é um dos motivos que levam a necessidade de realização de

estudos para conhecer o nível de percepção de moradores locais com os xenarthras.

1.3.3.4 Sobre a mastofauna da Caatinga

Estudos realizados até o presente sobre os mamíferos da Caatinga têm revelado uma

mastofauna relativamente depauperada, com uma baixa incidência de endemismos e

representativa apenas de um subconjunto da fauna de mamíferos do cerrado, bioma esse mais

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extenso e mais úmido (MARES et al. 1981, 1985; OLIVEIRA, 2004). Essa baixa diversidade

e a ausência de adaptações fisiológicas para as condições áridas da região entre os pequenos

mamíferos mais ubíquos, também levaram a Mares et al. (1985) a concluir que a fauna de

mamíferos da Caatinga consiste, em sua maior parte, em um subconjunto da fauna do Cerrado

(OLIVEIRA et al., 2003). Essas constatações têm contribuído para a hipótese de que a maior

parte das áreas de caatinga registradas na atualidade seja relativamente recente em formação,

e possivelmente derivada de pequenos refúgios durante períodos mésicos do Pleistoceno,

quando as florestas tropicais ter-se-iam expandido consideravelmente através do Nordeste do

Brasil (SARMIENTO, 1975).

Quanto ao conjunto de mamíferos da Caatinga tal proposição, no entanto, está longe

de ser verdadeira (MONTEIRO DA CRUZ et al. 2005; OLIVEIRA et al, 2003; OLIVEIRA,

2004) e contrastam diametralmente com amostras de levantamentos prévios (FREITAS, 1957;

WILLING & MARES, 1989), indicando que não só o número de espécies características da

Caatinga é maior, como também os registros que têm suportado a hipótese do surgimento

recente do bioma são em um número relativamente pequeno frente ao número total de

espécies presentes. Este número pode ainda ser maior, uma vez que alguns registros de

roedores e de morcegos não foram comprovados ao nível específico e, portanto, foram

excluídos da contagem final (Ibdem). Outro exemplo foi à exceção dada aos registros de

Dasypodidae (Xenarthra), listados a partir de Santos (1993), cujo inventário foi realizado

principalmente a partir de entrevistas (OLIVEIRA, 2004).

Até a metade do século passado os mamíferos dos Sertões nordestinos eram analisados

segundo amostras bastante reduzidas. Pesquisa pioneira, porém restrita, sobre a fauna de

mamíferos dessa região, ficou a cargo do extinto Serviço Nacional da Peste (SNP), entre os

anos de 1952 e 1955 (FREITAS, 1957). Os dados foram coletados em cerca de 40 dos então

187 municípios do “polígono das secas”; e cerca de 60 mil espécimes de pequenos mamíferos

não voadores estão depositados no Museu Nacional (UFRJ). Outro levantamento realizado no

bioma através do projeto “Ecology, evolution and zoogeografy of mammals” por

pesquisadores do Carnigie Museum of Natural History, entre 1975 e 1978, na Chapada do

Araripe, resultou em uma lista limitada a 80 espécies, indicando uma fauna relativamente

pobre em riqueza, endemismo e adaptações (WILLING & MARES, 1989).

Os registros referentes aos tatus (Xenarthra, Dasypodidae), a partir de entrevistas,

incluem pontos através de toda a Caatinga. O tatu-de-rabo-mole (Cabassous sp.) estaria

representado em pelo menos 108 municípios, apesar de uma revisão baseada nas amostras de

34 coleções, incluindo as maiores brasileiras (WETZEL, 1980), não ter relacionado sequer um

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indivíduo para a Caatinga. Não foi possível, portanto, com base nas informações consultadas,

concluir a espécie ou espécies a que pertencem os registros de Cabassous do domínio da

Caatinga. Dasypus novemcinctus está listado, por entrevistas, em 189 municípios, mas

representado por material testemunho ou observação direta em apenas 18 Dasypus

septemcinctus foi relacionado por entrevistas em 54 e Euphractus sexcinctus em 191

municípios. O tatu-bola, Tolypeutes tricinctus consta das entrevistas em 76 municípios, mas

de apenas sete são os registros bibliográficos e de museus. (OLIVEIRA et al., 2003).

1.3.4 A Ordem Xenarthra

1.3.4.1 Características gerais, origem e filogenia

Previamente o termo Xenarthra ser estabelecido, a nomenclatura Edentada (cujo

significado é sem dentes), fora cunhada por Cuvier (1758) sendo comumente usada por

diversos autores para designar os tamanduás, tatus, preguiças, pangolins e aardvarks, sendo

melhor aplicado como sinônimo das ordens Pholidota e Tubulidentata (GLASS, 1985).

Porém, somente em 1872 o pesquisador Huxley achou melhor retirar os pangolins e aardvarks

da ordem Edentata. Posteriormente, após o século XVIII, foram aderidas à ordem Edentata

grupos de fósseis tais como preguiças terrícolas em 1796 e gliptodontídeos em 1838

(SIMPSON, 1945).

Dentre os xenarthros, os tamanduás são os únicos representantes que não possuem

dentes. Por outro lado os tatus e as preguiças do gênero Bradypus, possuem dentes molares e

as preguiças do gênero Choloepus, possuem dentes caninos e molares. Deste modo, Glass

(1985) considerou o nome Xenarthra (xenon = estranho + athros = articulação) como legítimo

e descritivo, para tamanduás, tatus e preguiças, sejam eles viventes ou fósseis. O uso deste

termo como nomenclatura da ordem, ao invés de Edentata, reconhece que os seus integrantes

são portadores de articulações adicionais entre as vértebras lambares chamadas de

“xenártricas”, “xenarthrales” ou “xenarthrous process”, que são estruturas ósseas que em

conjunto com o crânio formam o esqueleto axial, característica sinapomórfica do subfilo

Vertebrata, no qual os xenartros, assim como os outros mamíferos, aves, répteis, anfíbios e

peixes estão inclusos. Os membros também possuem articulações do ísquio com a coluna

vertebral, incorporando a vértebra sacral, que nos demais mamíferos pode compor elementos

caudais (GLASS, 1985). Estas articulações extras conferem maior resistência e flexibilidade

ao esqueleto axial que, em conjunto com membros terminados em garras fortes e robustas,

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facilita a realização de tarefas que exigem grande desgaste do esqueleto como a escavação

para os tatus, quebra de cupinzeiros para os tamanduás e a rotação do corpo em até 180° para

as preguiças arborícolas (MENDEL, 1985). Na escápula, os processos coracóide e acrômio

apresentam-se muito bem desenvolvidos, em relação aos outros mamíferos. Apresentam

dentição homodôntica, ou seja, a completa perda dos dentes (GLASS, 1985).

Outras peculiaridades anatômicas desta ordem são: (1) a presença de veia cava

posterior dupla enquanto a maioria dos mamíferos tem somente uma; (2) o número de

vértebras cervicais varia de seis a nove dependendo da espécie, enquanto na maioria dos

outros mamíferos há sete vértebras cervicais e (3) as fêmeas têm um ducto comum para os

tratos urinário e genital e os machos têm testículos internos (NOWAK, 1999; DICKMAN,

2001). Mesmo apresentando tais caracteres esqueléticos e fisiológicos comuns a todos os

membros desta ordem, a designação Edentata ainda continua sendo empregada erroneamente.

(BERGQVIST et al., 2000; GLASS, 1985; NOWAK, 1999; WETZEL, 1985a,b).

Todos os animais que fazem parte da superordem Xenarthra (tatus, tamanduás e

preguiças) apresentam temperaturas corporais mais baixas (média = 34,1ºC, amplitude = 32,7º

a 35,5ºC) do que os demais mamíferos placentários que regulam suas temperaturas entre 36º e

38ºC (McNAB, 1985; MEDRI, 2008). Além disso, os tatus, tamanduás e preguiças

apresentam taxas basais de metabolismo mais baixas do que o esperado para suas massas

corporais. Nos tatus, o hábito de utilizar tocas traz consigo alguns problemas como o

superaquecimento do corpo durante a escavação, e a troca insuficiente de gases entre a toca e

o ambiente externo. Entretanto, a taxa basal de metabolismo mais baixa nestes animais pode

contribuir para a redução destes problemas (McNAB, 1985; MEDRI, 2008).

Sobre os atributos sistemáticos e filogenéticos dos xenarthras, muito pouco se tem

documentado (DELSUC et al., 2001) e ainda há muitas lacunas na classificação taxonômica

para serem resolvidas, o que tem provocado um grande interesse no estudo desse grupo (ver

AMRINE-MADSEN et al., 2003; BARROS et al., 2003; De JONG et al., 1985; DELSUC et

al., 2001, 2002, 2003, 2004; EIZIRIK et al. 2001; ENGELMANN, 1985; MURPHY et al.,

2001a, b; SARICH, 1985). Segundo Gardner (2005a, b) os xenartros passam a ser divididos

em duas ordens: Pilosa [com o corpo recoberto por pelos] – onde estão inseridos os

tamanduás e preguiças arborícolas e Cingulata [com o corpo recoberto por osteodermos] –

compreendidos pelos tatus. Sendo assim o “status” taxonômico de Xenarthra foi elevado em

função das novas discussões sobre relações filogenéticas, tema este que não é mérito de

discussão desse trabalho.

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Estudos mostram que essa superordem é de grande importância para a compreensão da

filogenia dos mamíferos como atesta McKenna (1975) e Delsuc et al. (2001) onde os mesmos

destacaram que os Xenarthras representam o grupo irmão a todos os outros eutérios viventes

(antes chamados Epitérios), enfatizam que muitos pesquisadores moleculares têm usado os

seus representantes baseados na raiz filogenética dos eutério.

Vários estudos vêm utilizando técnicas bioquímicas e moleculares desde a década de

60, e estas tiveram significativo desenvolvimento trazendo contribuições para o

esclarecimento de diversos aspectos da biologia, ecologia, biogeografia e evolução, sendo

atualmente reconhecidas como ferramentas fundamentais para a aquisição de novos

conhecimentos a respeito dos indivíduos dessa ordem bem como de todas as outras.

Inserida na filogenia dos mamíferos placentários da infra-ordem Eutheria, as relações

filogenéticas da ordem Xenarthra ainda não estão completamente definitivas. Com objetivo de

verificar tais relações De Jong et al. (1985), utilizaram em experimento laboratorial um

exemplar de Bradypus variegatus (preguiça) e um exemplar de duas espécies de tamanduás

diferentes (Tamandua mexicana e Myrmecophaga tridactyla). Nesta experimentação os

pesquisadores isolaram e seqüenciaram os aminoácidos de uma proteína do cristalino, a α-

cristalina destes espécimes e os resultados mostraram uma origem monofilética das preguiças

e dos tamanduás, e posicionaram a ordem como um grupo-irmão de Eutheria.

Conclusões semelhantes sucederam em outro experimento laboratorial com isolamento

e seqüenciamento de dezoito genes (quinze nucleares e três mitocondriais), onde Murphy et

al. (2001a), trabalhando com uma extensa abordagem filogenética em 64 espécies de

mamíferos placentários, concluíram que os dados obtidos permitiram distribuir as espécies em

quatro grandes agrupamentos: Afrotheria [constituído por Sirenia, Proboscidea, Hyracoidea,

Tubulidentata, Terencidae e Macroscelidea]; Xenarthra [tatus, tamanduás e preguiças];

Euarchontoglires [Rodentia, Lagomorpha, Scandentia, Dermoptera e Primates]; e

Laurasiatheria contemplando todos os outros mamíferos placentários. Ainda de acordo com os

dados obtidos pelos autores a ordem Xenarthra apresentou forte indicativo de origem

monofilética, no entanto organizou-se em dois subgrupos: Pilosa [tamanduás e preguiças] e

Cingulata [tatus].

A filogenia mais completa da ordem Xenarthra foi inferida por Delsuc et al. (2001), a

partir das seqüências de três genes nucleares. Este estudo mostra as relações filogenéticas

dentro da ordem Xenarthra, evidenciando a monofilia dos agrupamentos Vermilingua

(tamanduá) e Folivora (preguiças). Estes dois agrupamentos formam a infra-ordem Pilosa, a

qual se separa da infra-ordem Cingulata, família Dasypodidae (tatus) pela deleção de genes

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específicos do seqüenciamento gênicos desses grupos. Esta família se subdivide em três

tribos: Dasypodinae, Tolypeutinae e Euphractinae, que se caracterizam pela deleção de quatro

genes do tipo (aa) do gene ADRA2B e três (aa) do gene BRCA1. Vale-se ressaltar que as

relações entre as espécies de Tolypeutinae e Euphractinae ainda não foram completamente

resolvidas

1.3.4.2 Distribuição

Segundo Engelmann (1985), grande parte dos fósseis de Xenarthra foi encontrada na

América do Sul e a especialização dessa ordem é posterior a separação entre África e América

do Sul, onde se desenvolveram com total isolamento da grande maioria dos mamíferos

placentários no Paleoceno Superior. Durante este momento geológico, a mastofauna sul

americana permaneceu separada, o que propiciou a estruturação, a adaptação e o

estabelecimento de novos modelos de mamíferos, capazes de colonizar os nichos presentes

neste ambiente (BERGQVIST et al., 2000).

Com esse acontecimento, de maneira geral, os xenarthros adquiriram formatos

legitimamente neotropicais, quando da junção das plataformas da América do Norte com a

América do Sul, estes migraram para o norte, mas não conseguindo se estabelecer nesse novo

continente (Ibdem). Segundo Couto (1973) um dos primeiros documentos escrito sobre os

xenarthros fósseis foi publicado em 1907 na Revista do Museu Paulista pelo paleontólogo

argentino Ameghino. Descobertas de fósseis de Xenarthras foram documentadas também por

Couto (1973) no Estado de São Paulo.

De acordo com Eisenberg (1981) e Bergqvist et al. (2000), entre o Paleoceno e o

Plioceno sucedeu a irradiação dos xenarthros e que, neste período, os indicativos fósseis

mostram a constituição de quase todas as formas principais que hoje estão vivas, exceto as

preguiças arborícolas. Para Couto (1973), do final do Pleistoceno até a contemporaneidade, o

clima na região Neotropical vem sofrendo alterações de uma tendência semi-árida e de baixa

pluviosidade para um regime úmido e de boa precipitação pluvial, o que pode ter contribuído

para a extinção de algumas espécies como as preguiças gigantes (megaloniquídeos,

megaterídeos, milodontídeos e nototerídeos) e os tatus gigantes (pampatérios e

gliptodontídeos) ou a migração para locais de clima favorável à sobrevivência.

A ordem Xenarthra contém 31 espécies vivas distribuídas em 13 gêneros, possui

representantes cuja origem e distribuição geográfica são restritos à região Neotropical, e

ocorrem predominantemente na América do Sul (FONSECA & AGUIAR, 2004; MEDRI,

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2008), com exceção da espécie Dasypus novemcinctus sendo o único a ocorrer na América do

Norte (McKENNA & BELL, 1997) . Dezenove dessas espécies, distribuídas em dez gêneros e

quatro famílias, podem ser encontradas no Brasil (FONSECA et al., 1996). Esta ordem está

substancialmente ligada à história evolutiva dos mamíferos (FONSECA, 2001) e é

potencialmente uma ramificação basal dos primeiros mamíferos placentários (MURPHY et

al., 2001a). Apesar da sua importância ecológica e da necessidade de destacar-los em

programas de conservação, os Xenarthros são muito pouco estudados, quando comparados a

outros mamíferos mais conhecidos (FONSECA, 2001).

A família Dasypodidae possui 14 gêneros e aproximadamente 30 espécies (FERRARI

et al., 1998), sendo cerca de 20 delas viventes (PEREIRA JUNIOR et al., 2003), praticamente

todas distribuídas pela região tropical da América (FERRARI et al., 1998).

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1.4 Resultados e discussão

1.4.1 Aspectos socioeconômicos das populações estudadas

As áreas estudadas englobam os municípios de Campina Grande (mesorregião do

Agreste), municípios de Monteiro e Sumé (microrregião do Cariri Ocidental paraibano) e os

municípios de São Mamede e Sousa (Sertão paraibano). Todas estas localidades se

caracterizam por ter seu modo de vida e seus conhecimentos tradicionais passados de geração

a geração até os dias atuais.

De modo geral a idade dos entrevistados variou de 16-77 anos. A faixa etária dos

entrevistados para cada localidade estudada variou entre 19-65 anos (mulheres) e 16-77 anos

(homens) em Campina Grande; 28-62 (homens) em Monteiro; 25-51 (homens) em São

Mamede; 33-38 (mulheres) e 21-59 (homens) em Sousa e finalmente 21-64 (homens) em

Sumé. Quanto a distribuição por faixa etária, em Campina Grande a maior parte dos

entrevistados se concentrou na faixa de até 29 anos (40,4%). Em Monteiro 44,4% dos

entrevistados apresentavam idade entre 30-39 anos. Em São Mamede se distribuíram quase

igualmente entre 30-39 anos (34,78%) e 40-49 anos (43,47%). Em Sumé 32% dos

entrevistados tinham entre 40-49 anos, ao passo que em Sousa 43,7% se enquadraram nessa

categoria de idade (Tabela 1). Em todas as localidades, a maioria dos entrevistados era casada

oficialmente ou apresentava união estável com seu respectivo cônjuge.

Tabela 1. Perfil socioeconômico dos entrevistados

Parâmetros

Municípios

Campina

Grande

(nTotal=109)

Monteiro

(nTotal=18)

São Mamede

(nTotal=23)

Sumé

(nTotal=32)

Sousa

(nTotal=32)

(%) (%) (%) (%) (%)

Sexo

Feminino 30.27 (n=33) 0 0 0 12.5 (n=4)

Masculino 69.73 (n=76) 100 (n=18) 100 (n=23) 100 (n=32) 87.5 (n=28)

Idade

Até 29 40,4 (n=44) 5,6 (n=1) 17,39 (n=4) 12,5 (n=4) 15,6 (n=5)

30- 39 17,4 (n=19) 44,4 (n=8) 34,78 (n=8) 32 (n=10) 43,7 (n=14)

40 – 49 15,6 (n=17) 27,8 (n=5) 43,47 (n=10) 18,75 (n=6) 25 (n=8)

50 – 59 9,2 (n=10) 11,1 (n=2) 4,34 (n=1) 25 (n=8) 15,6 (n=5)

60 – 69 11,9 (n=13) 11,1 (n=2) 0 12,5 (n=4) 0

70 ou mais 5,5 (n=6) 0 0 0 0

Estado Civil Casado 56,88 (n=62) 66,66 (n=12) 73,91 (n=17)

81,25 (n=26)

84,37 (n=27)

União Estável 11 (n=12) 0 4,34 (n=1) 0 0

Solteiro 24,77 (n=27) 16,66 (n=3) 21,73 (n=5) 18,75 (n=6) 15,62 (n=5)

Page 56: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

55

Viúvo 3,66 (n=4) 0 0 0 0

Divorciado/separado 3,66 (n=4) 16,66 (n=3) 0 0 0

Profissão

Agricultor, pecuarista e

relacionados 63,30 (n=69) 61,11 (n=11) 69,56 (n=16)

59,37

(n=19)

65,62

(n=21)

Caçador 14,67 (n=16) 0 0 15,62 (n=5) 9,37 (n=3)

Comércio e Serviços 2,75 (n=3) 38,88 (n=7) 21,73 (n=5) 18,75 (n=6) 12,5 (n=4)

Outras ocupações 16,51 (n=18) 0 8,69 (n=2) 6,25 (n=2) 12,5 (n=4)

Sem ocupação 2,75 (n=3) 0 0 0 0

Renda

Menos de 1 salário

mínimo 6,42 (n=7) 16,66 (n=3) 0 9,37 (n=3) 3,12 (n=1)

Entre 1 e 2 salários

mínimos 54,12 (n=59) 66,66 (n=12) 73,91 (n=17)

65,62

(n=21)

78,12

(n=25)

Entre 3 e 4 salários

mínimos 73,76 (n=15) 16,66 (n=3) 17,39 (n=4) 25 (n=8) 6,25 (n=2)

Entre 4 e 5 salários

mínimos 0 0 0 0 6,25 (n=2)

Não declarou 25,68 (n=28) 0 8,69 (n=2) 0 6,25 (n=2)

Grau de

Escolaridade

Analfabeto 0 0 0 0 0

Semi-analfabeto (lê

ou escreve com

dificuldade) 20,18 (n=22) 22,22 (n=4) 8,69 (n=2) 25 (n=8) 18,75 (n=6)

Ensino Fundamental

Incompleto 64,22 (n=70) 77,77 (n=14) 69,56 (n=16)

59,37

(n=19) 75 (n=24)

Fundamental

Completo 13,76 (n=15) 0 12,5 (n=4) 12,5 (n=4) 6,25 (n=2)

Médio incompleto 1,83 (n=2) 0 3,12 (n=1) 3,12 (n=1) 0

Médio completo 0 0 0 0 0

Habitação

Própria 53,21 (n=58) 83,33 (n=15) 86,95 (n=20)

84,37

(n=27)

68,75

(n=22)

Alugada 18,43 (20) 0 4,34 (n=1) 6,25 (n=2) 0

Outra situação 28,44 (n=31) 16,66 (n=3) 8,69 (n=2) 9,37 (n=3)

31,25

(n=10)

A maior parte dos entrevistados (82,7%) nesse estudo correspondeu a indivíduos do

sexo masculino uma vez que estes eram os mais acessíveis a diálogos e aproximações, além

de terem círculos de amizade voltados a pessoas do sexo o que permitiu indicações a outros

indivíduos de seus convívios do mesmo sexo.

Em relação a profissão, 63,5% dos entrevistados são primordialmente agricultores,

pecuaristas ou desempenham atividades relacionados a estas práticas. Em São Mamede,

69,56% dos entrevistados enquadraram-se nesta categoria. O exercício da atividade de caça

como profissão, de um modo geral, foi baixo nas localidades estudadas, com maior índice

para a cidade de Campina Grande (14,67%). Tais indicativos não devem figurar tal realidade

uma vez que esta pratica está direta ou indiretamente associada aos hábitos e culturas desses

povos, além de provocar receio e desconfiança aos que conhecem da ilegalidade dessa

atividade. A renda dos entrevistados é baixa, visto que 148 deles alegaram possuir renda de

Page 57: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

56

até 2 salários, sendo que destes, 136 afirmaram que a renda pessoal também coincidia com a

renda integral da família.

O nível de escolaridade é baixo. Dee uma amostra de 210 individuos, 98,1% eram

constituídos de semi-analfabetos, fundamental incompleto ou completo. Esses dados estão em

concordância com Alves e Nishida (2003), os quais destacam que o abandono dos estudos e a

inserção no mundo do trabalho resultam do contexto social e econômico em que essas

comunidades estão inseridas, no qual o exito na escola, por membros de seu grupo social,

constitui uma exceção.

Considerando estudos anteriores sobre uso de recursos faunísticos, é possível afirmar

que os fatores acima, em especial a renda e escolaridade baixas, contribuem para que esses

moradores das áreas estudadas possuam uma dependência de recursos faunísticos região para

fins de subsistência, medicinal ou mesmo recreacional (ver ALVES & ROSA, 2007b;

CHARDONNET et al., 2002; OMS, 2005). Surgik (2007), por exemplo, relacionou a baixa

renda com o aumento da probabilidade da prática de caça na Amazônia.

Obviamente, a diminuição da fauna e flora do Nordeste, assim como da flora é

agravada devido aos impactos antrópicos, em função da ocupação agrícola, urbana e,

sobretudo pela pobreza acentuada de boa parte da população, que busca sua fonte de

alimentação e de renda nos recursos naturais ali existentes (ALVES et al., 2008).

Sabendo-se que algumas espécies de animais do semi-árido nordestino sofrem

impactos derivados da caça, atividade vinculada quase sempre estimulada pela realidade

socioeconômica local, é de presumir que a solução desse problema certamente envolverá a

disponibilidade de fontes alternativas de renda e subsistência para a população local (THE

NATURE CONSERVANCY DO BRASIL/ASSOCIAÇÃO CAATINGA, 2004), assim como

o provimento de um sistema educacional de qualidade aos moradores da região.

1.4.2 Percepções gerais dos entrevistados quanto às espécies de tatus estudadas

Inserida na ordem Xenarthra a família Dasypodidae é a mais diversificada em número

de espécies e distribuição geográfica, com 20 espécies ocorrendo do sul da América do Sul

até o sul dos Estados Unidos (GARDNER, 1993 apud BONATO, 2002). Esta família engloba

os gêneros de tatus atualmente existentes: Cabassous, Chaetophractus, Chlamyphorus,

Dasypus, Euphractus, Priodontes, Tolypeutes e Zaedyus (ITIS, 2008; FONSECA &

AGUIAR, 2004). Dentre as espécies de tatus que ocupam o território americano, duas são as

mais importantes do ponto de vista de distribuição e número de indivíduos no bioma caatinga:

Page 58: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

57

o tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e o tatu-peba (Euphractus sexcinctus) (FONSECA

& AGUIAR, 2004).

De acordo com os entrevistados 47,66% (n = 102), sobre quantidade de espécies de

tatus que habitam as regiões estudadas, estes afirmaram existir apenas um único tipo de tatu, o

chamado tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus), não considerando a outra espécie

(Euphractus sexcinctus) como sendo da mesma “família” dos tatus uma que este não

apresenta a tenacidade, resistência e velocidade típica dos D. novemcinctus, mas sim por

apenas compartilhar uma relação de parentesco com o tatu verdadeiro (na ótica das

populações locais estudadas) como se pode ver em alguns depoimentos relatados.

“Só existi um tipo de tatu, que é o verdadeiro. O peba é o falso por

isso que só existe de tatu o verdadeiro. O tatu verdadeiro é o único que corre e pula mais”. (Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de

Sousa)

“Eu só conheço o nome “tatu” pro verdadeiro. O peba não tem “tatu”

não. Todo mundo só conhece por peba mermo (...) O verdadeiro corre, o

peba não.” (Sr. Inácio Laureiro, 47 anos, residente da zona rural de Campina Grande.”

“Tatu é uma coisa, peba é outra. Tatu mermo só existe o verdadeiro”.

(Sr. Lúcio Claudio, 36 anos, residente da cidade de Monteiro

“O peba não é tatu. O peba é parente....é o mermo que ser primo. São

de famílias diferentes”. (Sr. José louro, 41 anos, residente da zona rural de São Mamede)

Aos que consideraram haver dois tipos de tatus obteve-se um percentual total de

38,75% (n = 83). Para estes, o emprego exclusivo da palavra “peba”, referindo-se ao E.

sexcinctus, não o colocaria aparte da família dos tatus, mas sim por se tratar de uma alcunha

opcional para os indivíduos dessa espécie, podendo ou não empregar o termo “tatu” precedido

do nome popular, como em “tatu-peba”. Além dessa consideração, muitos dos entrevistados

afirmavam que as semelhanças externas entre as duas espécies, como por exemplo a presença

de uma carapaça contendo listras e unhas fortes para cavar, eram mais evidentes que suas

diferenças, por tanto, padronizá-los como tatus foi algo habitual sendo passado de forma

menemônica através das gerações. Tal suposição encontra-se de acordo com a literatura uma

vez que a carapaça é uma estrutura dérmica comum a todos os tatus, importante na proteção

contra predadores e que minimiza os danos causados pelo atrito com a vegetação bem como

unhas extremamente fortes usadas em escavações e na perfuração de cupinzeiros

(MCDONOUGH & LOUGHRY, 2003).

Page 59: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

58

“(...) por aqui nóis encontra tanto o tatu-peba como o tatu verdadeiro

(...) eu só conheço esses dois mermo”. (Sr. João Mendes, 28 anos, residente

na zona rural de Galante do município de campina Grande)

“(...) o peba também é um tatu só que tem gente que pensa que é outro

bixo (...) todos os dois tem “casco” nas costas (...) as unhas dos dois são

muito forte e pode cortar a pele se não segurar ele com cuidado”. (Sr. Leonidas Duarte, 59 anos, residente na cidade de Sumé)

Considerando o menor percentual dos entrevistados encontramos cerca de 13,55% (n =

29) dos que afirmaram conhecer mais de 2 tipos de tatus na região. O caso mais notório diz

respeito à presença de espécies raras de tatus nos municípios de São Mamede e Sumé como

pôde ser observado com o tatu-bola (provavelmente Tolypeutes tricinctus); a maioria

expressiva dos entrevistados acredita que esta espécie já não exista mais ou deixou de existir a

muitas décadas no local. Segundo um dos entrevistados uma carcaça em bom estado de

conservação de T. tricinctus esteve por muitos anos de posse de um vaqueiro, porém o mesmo

já não o teria mais; outros entrevistados afirmaram que, ocasionalmente, avistavam rastros

desse animal durante as caçadas em locais de difícil acesso; e ainda um jovem caçador que

relatou já ter pego três bolas, mas que é extremamente difícil encontrá-los ou mesmo capturá-

los. Por esses relatos pode-se inferir que, provavelmente, a população de tatus-bola nesses

locais de presença da espécie deve estar extremamente reduzida, o que em curto prazo pode

significar o desaparecimento deste animal no local, como já supõe alguns moradores

ratificando, inclusive, situação semelhante com o tatu verdadeiro (D. novemcinctus).

“eu nunca vi não, penso eu que já deve nem existi mais, mas um

vaqueiro do sítio de meu pai tinha um casco inteirin do bixo [tatu-bola], mas já faz muito tempo que ele vendeu”. (Sr. Belizario Santos, 34 anos, residente

da zona rural de Sumé)

“eu mermo já peguei três tatu-bola, mostrei a outros caçador e disseram

que era bola”. (Adelino Dantas, 23 anos, residente da zona rural de São

Mamede)

Segundo Monteiro da Cruz et al. (2005), em analise as variações da biodiversidade do

bioma caatinga, diagnosticaram através de relatos fornecidos por comunidades locais que o

tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) desapareceu em vários pontos dos Sertões paraibanos,

cearenses e pernambucanos. Porém, Valle (2007) em seu estudo sobre os vaqueiros da

comunidade de Lagoa Grande - PE e os mamíferos nativos das caatingas pernambucanas

documentou a ocorrência dessa espécie nessa localidade, inclusive sendo relatada como quase

Page 60: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

59

extinta, porém sendo usada para diversas finalidades inclusive medicinalmente e de forma

mágico-religiosa.

1.4.2.1 Epítetos folk das espécies

De acordo com o Dicionário Houaiss (2004), a etimologia da palavra “peba” tem

origem do tupi “pewa” ou “bewa” e quer dizer: chato, achatado, plano, liso, largo, podendo

também ser empregada gramaticalmente como adjetivo comum de dois gêneros possuindo os

mesmos significados mencionados. Mas também ela pode ser uma palavra presente em

regionalismo do Nordeste do Brasil, nesse caso assumindo um significado de: sem valor e/ou

importância, reles, ordinário. Exemplos do emprego desta palavra podem ser vistos em

jargões populares paraibanos como: “cara de peba”; “tudo que não presta é peba”; “gordo

feito um peba”; “come feito um peba”; “leso como um peba”, etc (CLEROT, 1959). Em

relação ao Dasypus novemcinctus, para Smith e Doughty (1984) a palavra “Dasypus” é de

origem Grega e quer dizer "coelho". Combinando-se Novem (nove) com cinctus (banda, faixa,

cinta) forma-se a palavra "coelho de nove-bandas". Segundo o mesmo autor, retirando-se a

carapaça do tatu de nove bandas [ou tatu verdadeiro como é mais conhecido na Paraíba] o

mesmo se assemelharia a um coelho.

A designação dos nomes populares para ambas as espécies estudadas foi bastante

diversa nessa pesquisa, principalmente em relação ao Euphractus sexcinctus (tatu-peba),

sendo a maioria destes vernáculos empregada de forma pluri-nominal. Algumas das

nomeações encontradas estão de acordo com as poucas literaturas disponíveis para as

espécies.

Quadro 1. Epíteto folk de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido da Paraíba

ESPECIE EPITETO FOLK REFERÊNCIAS

E. sexcinctus

Tatu-peba; peba; pebinha;

tatu-peludo, tatu de seis -

faixas, tatu papa-defunto,

papinha defunto.

Alves et al. (2007), Alves et

al. (2008), Alves (2009),

Barboza et al. (2007), Costa-

Neto (2000a), Valle (2007)

D. novemcinctus

Tatu-verdadeiro, tatu-galinha,

tatu cinza, tatu escuro, tatu de

nove-faixas

Alves et al. (2007), Alves

(2009), Costa-Neto (2000a),

Valle (2007)

Page 61: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

60

1.4.2.2 Sobre a disponibilidade das espécies nas localidades estudadas.

“O pebinha é mais fácil conseguir, o verdadeiro é muito difícil, tá quase

acabando”. (Sr. Genival Caldas, 30 anos, morador da zona rural de Sumé)

“aqui mermo quem pega tatu-peba é os meninos (...) já faz muito tempo

que vi um verdadeiro”. (Sra. Enedina Maria, 58 zona rural da cidade de

Campina Grande)

“(...) tatu-verdadeiro aqui acabou-se...” (Sr. Arnaldo, 45 anos, residente

da cidade de São Mamede)

Ao serem questionados sobre a facilidade ou não de encontrar ambas as espécies em

cada localidade especifica os entrevistados esboçaram respostas bem semelhantes, sobretudo

denotando certo reconhecimento e preocupação no que tange o destino de uma das espécies

estudada. (ver Tabela 2).

Tabela 2. Porcentagem dos informantes que relataram a facilidade ou não de se encontrar as

espécies em cada localidade visitada.

Os resultados obtidos mostraram que em quatro das cinco localidades estudadas 100%

dos entrevistados afirmaram ser bastante fácil encontrar os tatus-peba (E. sexcinctus) nas

localidades especificas, com ressalva para a cidade de Campina Grande onde 55,96% (n = 61)

alegaram ser muito difícil encontrá-los em sua zona rural. Uma possível explicação para este

fato pode ser devido as áreas de caatinga desse município apresentarem fragilidades

intrinsecamente alta, grau de alteração e pressão antrópica também alta (BRANDÃO et al.,

2004), o que justificaria uma significativa redução nas populações dessa espécie, assim como

de várias outras espécies da biodiversidade local.

De um modo geral, a facilidade de obtenção de E. sexcinctus pode ser explicada por

três motivos básicos: (1) Trata-se de uma espécies que permanece resistente aos distúrbios

humanos, (2) possui uma ampla distribuição (AGUIAR, 2004; HASS et al., 2003) e (3) dieta

caracteristicamente onívora (HASS et al., 2003), permitindo ampla ocupação de uma

variedade de habitats.

CIDADES

DISPONIBILIDADE AS ESPÉCIES

E.sexcimctus D. novemcinctus

Sim (%) Não (%) Sim (%) Não (%)

Campina Grande 44% 55,96% 23,85% 76,14%

Monteiro 100% - 100% -

São Mamede 100% - 13,04% 91,3%

Sousa 100% - 15,62% 84,37%

Sumé 100% - 25% 75%

Page 62: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

61

A cidade de Monteiro foi a única a qual obteve percentagem de 100% (n = 18) de

disponibilidade para ambas as espécies de tatus. Em relação ao tatu verdadeiro (D.

novemcinctus) a maior porcentagem em termos de dificuldade de encontrar essa espécie na

região foi da cidade de São Mamede onde 91,3% (n = 21) dos entrevistados alegaram

veementemente a escassez de encontrá-los na região. Em seqüência destacam-se as cidades de

Sousa, Sumé e Campina Grande, com respectivos 84,37% (n = 27), 75% (n = 24) e 76,14% (n

= 83) onde os entrevistados confirmaram a pouca disponibilidade dessa espécie na região. De

forma a se obter elucidações mais presumíveis quanto a real disponibilidade dessas espécies

em cada localidade estudada faz-se necessário pesquisas sobre dinâmica populacional, tema

este que não será abordado ao longo do trabalho.

1.4.2.3 Principais diferenças apontadas para ambas as espécies

De acordo com os moradores, quando questionados sobre a facilidade ou não de

diferenciá-los visualmente a resposta foi positiva e unânime para os 214 entrevistados, sendo,

portanto, um dos poucos itens do questionário aplicado (ver Apêndice) a qual obteve 100% de

universalidade das respostas. No âmbito das diferenças anatômicas meramente visuais entre

as duas espécies de tatus, de acordo com a literatura essas vão bem mais além daquelas

apontadas pelos entrevistados. Porém, vale ressaltar que os caracteres: tamanho corporal,

tamanho das orelhas, focinho, peso (kg), cor e presença ou não de dentição foram os itens

mais explicitados e caracterizados quando questionados sobre as principais diferenças

externas para ambas as espécies. Tal comparação pode ser melhor compreendida no quadro de

cognição comparada (ver Quadro 2, Figura 3).

Page 63: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

62

Quadro 2. Cognição comparada das principais diferenças entre tatu-peba e verdadeiro

Principais

Diferenças

Apontadas

Informações dos entrevistados Informações científicas

Tatu-peba

Tatu verdadeiro

E. suxcinctus

D. novemcinctus

TAMANHO

DO CORPO

“ele é pouco

menor que o

verdadeiro...ele mede mais ou

menos uns dois

palmos podendo passar um pouco

(...) ele chega a

uns 40 – 50 cm

(...) as femi são sempre

menorzinha”

(Sr. Vilmar dias, 64 anos

residente da

zona rural de Sumé)

“dependendo da idade o bixo

chega a mais de

meio metro do fucinho ao rabo

(...) é do mesmo

tamanho que o

veradeiro” (Inaldo lima, 27

anos, residente

da cidade de Sousa)

“é muito maior que o

verdadeiro, nem

se compara. Mede mais de

50 cm e mais de

um palmo de

largura (Sr. João Batista, 32 anos,

residente na

zona rural de São Mamede)

“é igual ao peba,

mais já peguei

uns que passavam de meio metro de

cumprimento até

o rabo” (Sr. Jurandir, 47

residente da zona

rural de Sumé)

“ahh, mede uns

50 cm ou mais (...) alguns bixo

são do mermo

tamanho do peba

senão maior” (Sr. Arnaldo, residente

da cidade de São

Mamede) “as veiz chega ao

tamanho do peba, mais é menor (...)

os macho são

pouca coisa maior que as fêmi” (Sr.

Edilvan, 36 anos,

residente na zona

rural de Campina Grande)

Os adultos de

Euphractus

sexcinctus podem medir mais de 40

cm de

comprimento cabeça-corpo

(REDFORD &

WETZEL 1985)

Os tatus-peba

apresentam um tamanho corporal

bastante relativo

podendo chegar

até 50 cm de comprimento,

machos e fêmeas,

com tendência das fêmeas serem

menores (MEDRI,

2008)

Os tatus de nove-

bandas são animais

de porte médio, podendo chegar até

64,5 cm de

comprimento do focinho a parte final

da calda. (SMITH &

DOUGHTY, 1984)

D. novemcinctus são

animais com musculatura muito

bem desenvolvida

podendo variar de 50

cm a pouco mais de 60 cm. Machos

maiores que as

fêmeas (HUMPHREY,

1974)

TAMANHO

DAS

ORELHAS

“ele tem as orelhinhas bem

pequenininhas,

bem menor que

“é grande demais, nem se compara

ao do Peba”.

(Idalina Sousa, 33

Animal com carapaça em quase

todas as partes do

corpo, excetuando

Tem orelhas longas, bem juntas no alto da

cabeça e coberta por

placas dérmicas

Page 64: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

63

as do tatu-

verdadeiro”

(Sra. Maria de

Lurdes, 54 anos, residente da

zona rural de

Campina Grande)

“tem duas orelhinhas bem

curtinhas (Sr.

Mario, 33, residente da

cidade de

Monteiro)

anos, moradora da

zona rural de

Sousa)

“E muito

cumprida, bem mais que a do

tatu-peba. Até

parece cum orelha

de burro”. (Sr. Jurandir, residente

da zona rural de

Sumé)

a parte ventral e as

orelhas e estas

apresentando

tamanho pequeno em relação ao

porte (CARTER

& ENCARNAÇAO,

1983)

Os tatus-peba são

distinguíveis dos

demais por apresentarem

orelhas curtas,

cabeça achatada

tornando-se triangular em

direção ao focinho

(NOWAK, 1999)

(TAULMAN &

ROBBINS, 1996)

FOCINHO

“são muito

diferentes, a do

peba é mais

grossa e pequena a do

verdadeiro não”

(Sr. Claudio, 44, residente na

zona rural de

Campina Grande)

“a cabeça é grande e grossa

da ponta da

venta até o fim da cabeça” (Sra

Enedina Maria,

residente da

zona rural de Campina

Grande)

“o fucin é bem

afiladinho, bem

mais bunito que o

do peba” (Sr. Damião, 58 anos,

residente da

cidade de São Mamede)

“é bem cumprido e tem a „ventinha‟

bem pequena e a

boquinha também” (Sr. José louro, 41

anos, residente da zona rural de São

Mamede)

A cabeça é triangular e o

escudo que a

cobre é composto de muitas escamas

ósseas, deixando

de fora o focinho

de comprimento curto e os olhos

pequenos

(MEDRI, 2008)

O comprimento da trufa a occiptal

(focinho) é comprido

e afilado (LAYNE &

GLOVER, 1977)

PESO (Kg)

“é o mermo peso do

verdadeiro...vari

a de 3,0 a 5,0 kg

(...) as fême são menor um

pouco” (Sr.

Apolinário Gusmão, 49

anos, residente

da cidade de

Sousa)

“tem bixo de todo peso, mas penso

que eles tem peso

parecido...é 3 -4 -

5 kg...depende” (Janilson,

residente da

cidade de Campina Grande)

“é tudo igual pros dois...já peguei

Os adultos de Euphractus

sexcinctus podem

medir massa

corporal variando de 3,2 a 6,5 kg

(REDFORD &

WETZEL 1985) No habitat natural

pode chegar aos 5 kg, podendo

Indivíduos machos adultos podem pesar

cerca de 5,0 kg

(DALPONTE &

TAVARES-FILHO, 2004)

A variação média de

peso para os D.

novemcinctus é de

5,35 kg aproximadamente,

Page 65: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

64

“a base é a

merma pros dois... é 3 – 4

kilo” (Fabio

Lacerda, 29 anos, residente

da cidade de São

Mamede)

“Já peguei um

que pesava 4,2 kg, mas em casa

eles sempre

engorda mais

porque tem mais cumida né?” (Sr

Francisco, 51

anos, morador da cidade de

Sousa)

tanto do grande

como do pequeno,

o maior tinha

mais de 5 kilo” (Sr. Leonidas

Duarte, 59 anos,

residente na cidade de Sumé)

atingir valores

maiores tanto para

os machos como

as fêmeas (MEDRI, 2008)

Variação média de

3,0 a 5,0 kg

(DALPONTE &

TAVARES-FILHO, 2004)

com variação para

menos no caso de

fêmeas

(MONTGOMERY, 1985)

PADRÃO

DE COR

“é meio

amarronzado, mais tem deles

que é bem clarin

num sabe” (Sra. Fátima, 65 anos,

moradora da

zona rural de

Campina Grande)

“olhe, tem deles

que tem o couro

e o casco bem

amarelinho, mas tem outros que

são vermelho

como barro” (Sr. Vilmar dias, 64

anos residente

da zona rural de Sumé

“ahh, depende da terra que nois

encontra eles,

mas quando lava na água fica bem

clarin‟

(Lindiberg

Dantas, 23 anos, residente da

zona rural de

“são preto, tanto

no casco quanto no couro” (Sr.

José de Lara, 35

anos, residente da cidade de

Campina Grande)

“tem deles que

são branquinho, mas tem deles que

tem o casco

preto” (Sr. Damião, residente

da cidade de São

Mamede) “eles tem cor de

chumbo....é um cinza, bem

parecido com

cimento” (Inaldo lima, 27 anos,

residente da

cidade de Sousa)

Apresentam

carapaça de coloração pardo-

amarelada a

marrom clara, esparsamente

coberta com pêlos esbranquiçados e

longos, e possuem de 6 a 8 cintas

móveis (MEDRI,

2008)

A cor da couraça é amarelo-

avermelhada, com

a pele fina que une as peças de

cor enegrecida,

porém como está

sempre coberta de terra parece de cor

parda assim como

os pêlos. (CARTER &

ENCARNAÇAO,

1983

A coloração da

carapaça varia do escuro ao branco-

amarelado (SMITH

& DOUGHTY, 1984).

A grande maioria dos D. novemcinctus

apresentam

colorações que varia do cinza ao marrom,

dependendo do

substrato que tenham

contato. (WILSON & REEDER, 1993)

Page 66: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

65

São Mamede)

DENTIÇÃO

“eles tem dente,

e se pegar no

dedo, tira sangue mermo” (Sr.

José Quirino, 45

anos, residente na zona rural de

Sousa)

“os dente deles

são muito duro.

Eles moi (moem) até osso

de bixo morto se

encontrar”. (Sr.

Apolinário, 69 residente da

cidade de

Monteiro) “esses bixin

morde de mais. Uma vez um me

mordeu e foi

tive que estancar o sangue

depois” (Sr.

Severino Santos,

residente da zona rural

Sumé)

“ahhh tem não,

eles não tem força

pra morder e mastigar não

mode o fucin se

bem estreitin” (Sr. Genival Caldas,

50 anos, residente

da zona rural de

Sumé). “tem dente não. Pode colocar o

dedo dentro da

boquinha dele que

ele num faiz nada” ( Maria de

Lurdes, 33 anos,

residente na zona rural de Sousa)

“os dentinho são miudinho de

mais, tem deles

que nem tem. Num morde

porque não tem

força na boca”

(Denilson mota, 22, morador do

município de

Campina Grande)

O E. sexcinctus é

o representante

dos tatus com a maior e mais

poderosa dentição

dentre os tatus

ajudando-o a macerar a e

triturar carnes,

peles e ossos (TAVARES-

FILHO, 2006)

Os D. novemcinctus

não possuem incisivos ou caninos

e os dentes são

enraizados

individualmente. Os adultos não possuem

dentes esmaltados

(NOWAK, 1999)

De forma geral, os itens que mais ganharam destaque, estão de acordo ou muito

próximos com o que aborda as referências da literatura. Porém, vale ressaltar outras

características peculiares sobre as duas espécies complementando os depoimentos

apresentados.

De acordo com Nowak (1999), a cor da couraça dos E. sexcinctus varia de uma

tonalidade amarela a amarelo-avermelhada apresentando uma fina pele que une as peças

dérmicas de cor enegrecida, entretanto, como geralmente estão em contatos com os mais

diferentes tipos de substratos, é muito provável que ocorra variações de padrões de cor. Em

relação aos D. novemcicntus, Silva Júnior e Nunes (2001) afirmam que a maioria apresenta

colorações que vão do marrom ao cinza-escuro, apresentando pequeninos pelos

esbranquiçados. Quanto aos escudos dorsais, anterior e posterior, estes são compostas por

Page 67: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

66

múltiplas pequenas peças as quais se apresentam soldadas entre si. Esses escudos estão

separados uns dos outros por 5 ou 6 faixas transversais móveis (tatu-peba) ou por 7 a 11

faixas (tatu verdadeiro), as quais funcionam como um elástico (comprimindo e expandindo)

quando preciso, e desse modo a pele se estica e as faixas se mexem, favorecendo ao corpo a

capacidade de virar-se e dobrar-se (LOUGHRY et al., 2002). A cabeça do E. sexcinctus

apresenta um formato triangular e o escudo que a cobre é composto de muitas escamas ósseas,

deixando de fora o focinho, os pequenos olhos e as orelhas que não são muito compridas

(MEDRI, 2008). A cauda não é muito extensa, é cônica e coberta por fortes escamas. As patas

são curtas e se apresentam com 5 fortes unhas. A parte inferior da cabeça, corpo e a região

interna das patas são cobertas por pele muito grossa, tuberculosa e provida de pêlos longos,

grossos, ásperos que nascem de verrugas ou tubérculos na pele. A parte exterior e posterior

das patas apresenta longas e abundantes cerdas (BEZERRA et al., 2001). Da mesma forma,

os D. novemcinctus possuem uma carapaça que recobre desde a cabeça até os pés, com

exceção dos olhos e a parte ventral a qual é recoberta por uma espessa camada de pele

(TAULMAN & ROBBINS, 1996). Esta carapaça é dividida em três secções: Um escudo

escapular, um escudo pélvico e uma série de faixas em torno da secção do meio.

(MONTGOMERY, 1985)

O Euphractus sexcinctus possui cinco dedos em cada membro, todos com garras,

sendo que o segundo dedo é o mais desenvolvido (POCOCK, 1924), por outro lado o D.

novemcicntus apresenta apenas 4 dedos nos membros dianteiros e traseiros, porém com garras

bem fortes e desenvolvidas (HUMPHREY, 1974). Ambas as espécies apresentam na região

dorsal da cintura pélvica 2 a 4 glândulas odoríferas na carapaça, tanto de machos como de

fêmeas (REDFORD & WETZEL, 1985). A secreção destas glândulas é provavelmente

utilizada para a demarcação de tocas, e também pode ser importante na identificação e na

informação da receptividade sexual dos indivíduos (McDONOUGH & LOUGHRY, 2003).

Segundo a literatura não há dimorfismo sexual evidente em ambas as espécies de tatus,

muito embora o sexo possa ser facilmente determinado pela observação das genitálias.

Ressalta-se que tal forma de diferenciação entre machos e fêmeas exclusivamente pelas

genitálias foi a única apontada pelos entrevistados. Os tatus machos apresentam um dos pênis

mais longos (proporcionalmente ao corpo) dentre os mamíferos, estendendo-se até cerca de

2/3 do comprimento do corpo em algumas espécies (McDONOUGH & LOUGHRY, 2001)

(Figura 4). A vida social deste grupo provavelmente é dominada pelo sentido do olfato, órgão

bastante desenvolvido, pois todas as espécies produzem secreções odoríferas em glândulas

anais, que são utilizadas para marcar trajetos, árvores ou objetos conspícuos. Estas secreções

Page 68: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

67

são provavelmente ferormônios, utilizados para advertir a presença, e possivelmente a

condição sexual de cada indivíduo (DICKMAN, 2001). Esses animais usam tanto o sentido

do olfato para localizar o alimento e perceber os predadores bem como o sentido da audição,

complementando o sentido da visão uma vez que é pobre. (REDFORD & WETZEL, 1985)

A existência ou não de dentição, segundo os (n=203)/94,85% entrevistados afirmaram

contundentemente não haver presença de dentes para os D. novemcinctus uma vez que o

tamanho de sua boca bem como os componentes de sua dieta não o faria dependente dos

mesmos. Por outro lado, 5,14% (n = 11) alegaram acreditar na presença de dentes ou mesmo

em vestígios destes. Segundo a literatura científica, o crânio do tatu verdadeiro é

caracterizado por um longo e estreito rostro. A parte posterior do crânio é expandida

lateralmente, chegando a medir até quatro vezes a largura transversal do focinho. Os Dasypus

novemcinctus são desprovidos de dentes incisivos e caninos, porém apresentam molares que

são arredondados e cada um possui uma única raiz (MCBEE & BAKER, 1982).

Quanto ao E. sexcinctus, 100% (n = 214) dos entrevistados alegaram possuir dentes,

inclusive destacando sua dureza. Segundo Nowak (1999) o crânio dos tatus-pebas é

relativamente pesado, apresentando poderosas mandíbulas. Mesmo sem a presença do esmalte

dos dentes, estes são realmente fortes, apresentando 9 pares de dentes no maxilar superior, e

10 pares no maxilar inferior.

Page 69: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

68

Figura 3. Algumas diferenças visuais marcantes entre E. sexcinctus (3A e 3B) e D. novemcinctus (3C

e 3D) apontadas entre os entrevistados. Cor: E. sexcinctus – mais alaranjado; D. novemcinctus –

tonalidades de cinza. Orelhas: E. sexcinctus – pequenas e levemente arredondadas; D. novemcinctus – finas e longas. Características do corpo: E. sexcinctus – largo e mais achatado do que D. novemcinctus.

Focinho: E. sexcinctus – pequeno e largo, D. novemcinctus – estreito e cumprido. Fotos: 3A e 3B,

zona rural de Campina Grande, por Raynner R. D. Barboza; 3C e 3D, município de São Mamede, por

Wedson M. S. Souto.

Figura 4. Foto: do Autor. E. sexcinctus com pênis parcialmente protuso disposto em uma mesa.

Município de Campina Grande.

A B

C D

Page 70: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

69

1.4.3 Nicho Ecológico

No Brasil, os dasipodideos são animais bastante comuns, principalmente os da espécie

E. sexcinctus e D. novemcinctus, ocorrendo em vários biomas como Mata Atlântica,

Amazônia, Pantanal, Cerrado e Caatinga (FONSECA et al., 1996; WETZEL, 1985a). Estas

duas espécies se adaptaram muito bem ao bioma caatinga, onde encontraram pouca variação

sazonal e as várias fisionomias de sua vegetação promoveu-os uma gama de opções de

habitats. (OLIVEIRA-FILHO & RATTER, 2002; SILVA & BATES, 2002).

De acordo com os informantes, os locais de maiores ocorrência dessas espécies em

cada uma das localidades estudadas são em áreas de: várzea, baixio, serras e serrotes para o

E. sexcinctus (tatu-peba); e serras densas e fechadas para o D. novemcicntus (tatu verdadeiro)

como mostra a transcrição de alguns depoimentos:

“onde eles sempre tão é em alto de serra, em baixil de serra, alguns em vázea, depende”. (Sr. Isaias, 30 anos, residente na zona rural do

Municipio de campina Grande”

“O peba você encontra em baixil e em serrote e o verdadeiro só em

serra alta mermo”. (Sr. Mario, 33, residente da cidade de Monteiro)

“eles faiz as toca em baixil de serra e em vázea (tatu-peba) (...) o

verdadeiro é mais difícil de encontrar (...) ele só vive em serra alta e

fechada” (Sr. Hildânio, 59 anos, residente da zona rural de Sousa)

“eles veve em serrote, baixil de serra e em vázea as veiz veim até o

quintal de casa” (Sr. Damião, 58 anos, residente da cidade de São Mamede)

O conhecimento sobre as áreas de vida dos tatus, principalmente as dos tatus-peba,

Euphractus sexcinctus, é bastante limitado. Destacam-se os trabalhos de Encarnação (1987)

como uma das poucas documentações onde foi abordada a ecologia de diversas espécies de

tatus no Parque Nacional da Serra da Canastra – MG, e a de Medri (2008) onde estudou a

Ecologia e História Natural do Tatu-peba no Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul.

Apesar desses estudos supracitados não tratarem diretamente o uso de hábitats do tatu-

peba ou tatu verdadeiro, pode-se encontrar em alguns poucos trabalhos informações sobre

esse tema, por exemplo: Bonato et al. (2008), Carter e Encarnação (1983), Hass et al. (2003),

Schaller (1983), Trolle (2003), Vizcaíno e Giallombardo (2001).

Para Medri (2008), o estudo do monitoramento de 20 exemplares de tatus-peba no

Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul, mostrou uma maior porcentagem de

localizações desses indivíduos em habitats com dossel de vegetação mais densa, como em

Page 71: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

70

matas fechadas, campos cerrado, do que em áreas abertas como campos úmidos. Ainda para a

autora, diferenças podem ser encontradas quanto ao uso do hábitat dos E. sexcicntus devido às

características peculiares de cada região e de cada hábitat dentro destas regiões, como por

exemplo: diferentes disponibilidades de alimento, diversidade de características do solo (que

podem facilitar ou dificultar a escavação de tocas) e diferentes disponibilidades de parceiros

para a reprodução.

Em relação às áreas de habitat do D. novemcinctus nos biomas em que ele está

presente, pouco é documentado. Segundo Taulman e Robbins (1996), os habitats dos tatus

verdadeiros tendem a ser em áreas de florestas temperadas bem como de variedades de

regiões tropicais e sub-tropicias, com preferência a vegetação densa e fechada.

Para Humphrey (1974), os tatus, de um modo geral, habitam áreas de cobertura

vegetal densa e fechada como florestas arborícolas ou em regiões que apresentam feições de

caatingas hipo e hiperxerófilas, cujos componentes predominantes são árvores e arbustos com

dominância de poucas espécies.

Comparando os relatos dos entrevistados com a literatura disponível, pode-se dizer

que estes foram bem próximos dos resultados que já foram previamente documentados uma

vez que os locais de ocorrência de nicho ecológico das duas espécies de tatus são bem típicos

de cada localidade estudada e no caso específico da Caatinga paraibana, há escassez de

estudos quanto à ecologia e biologia dessas duas espécies.

Fato curioso constatado diz respeito ao emprego dos termos locais “baixio e várzea”,

por 80,84% (n = 173) dos entrevistados (em todas as localidades visitadas) designando locais

bem específicos de ocorrência e habitat dos tatus-peba (E. sexcinctus).

“nois anda pelos baixil porque é onde eles fica e é mais fácil de pegá

(...) baixil é como um campo descampado ou com capim alto”. (Sr. Severino Santos, residente da zona rural de Sumé)

“tem muito é em vázea, e „serração‟. No mei de duas cerras daqui tem uma grande (várzea) que sempre os meninos daqui vão” (Sra. Ana

Lucia, 34 anos, residente da zona rural de Sousa)

Segundo os informantes o “baixio” seria uma extensão de área plana que se conecta

com as bases de Serras e as “várzeas” seriam extensões de terra presente entre serras

desprovidas de arvores ou cobertas por gramas altas ou mesmo vegetação rasteira. De acordo

com Kalliola et al. (1993) os baixios são depressões, circundada por cumes de montes, onde

existem depósitos de águas subterrâneas e normalmente apresentam menor diversidade de

Page 72: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

71

espécies quando comparadas a outras extensões de terra e abrigam animais e plantas

adaptados a condições hidrológicas sazonais. As várzeas são terrenos baixos e mais ou menos

planos, à margem de um rio ou ribeirão (SILVA et al., 1992).

Verifica-se que o uso de tais colocações bem como suas descrições para designar as

áreas de habitat dos tatus-peba (E. sexcinctus) está bem próximo com o que trata as

referencias científicas, no entanto, ainda de acordo com a literatura, tais localidades podem

abrigar córregos, rios e depósitos de água em suas áreas. Quando questionados se alguma das

duas espécies de tatus habitam ou podem habitar áreas que apresentem rios, córregos ou

açudes, 68,22% (n = 146) dos entrevistados alegaram que não. Os demais, 19,15% (n = 41)

afirmaram que esses animais podem habitar locais com presença de água, e apenas 12,61% (n

= 27) dos entrevistados afirmaram não saber.

1.4.3.1 Aspectos de comportamentos sociais

Em relação aos hábitos sociais dessas duas espécies as opiniões foram bem divididas

em cada localidade (Tabela 3).

Tabela 3. Percepção de moradores do semi-árido da Paraíba quanto aos hábitos sociais de D.

novemcinctus e E. sexcinctus

CIDADE

HÁBITO SOCIAL

Tatu-peba (E. sexcinctus) Tatu verdadeiro (D.novemcinctus)

Sozinho

(%)

Casal

(%)

Grupos

(%)

Sozinho

(%)

Casal

(%)

Grupos

(%)

Campina

Grande

(n=109)

54,12%

(n=59)

37,61%

(n=41)

8,25%

(n=9)

72,47%

(n=79)

20,18%

(n=22)

7,33%

(n=8)

Monteiro

(n=18)

38,88%

(n=7)

61,11%

(n=11)

- 72,22%

(n=13)

27,77%

(n=5)

-

São Mamede

(n=23)

86,95%

(n=20)

13,04%

(n=3)

- 91,30%

(n=21)

4,34%

(n=1)

4,34%

(n=1)

Sousa

(n=32)

43,75%

(n=14)

50%

(n=16)

6,25%

(n=2)

81,25%

(n=26)

18,75%

(n=6)

-

Sumé

(n=32)

59,37%

(n=19)

28,12%

(n=9)

12,5%

(n=4)

78,12%

(n=25)

21,87%

(n=7)

-

De acordo com as percentagens gerais, conclui-se que a grande maioria dos

entrevistados afirmou que tanto o tatu-peba 55,60% (n = 119) quanto o tatu verdadeiro

76,63% (n = 164) apresentam hábito solitário. Porém, em relação ao convívio em casal,

37,38% (n = 80) e 19,15% (n = 41) dos entrevistados afirmaram que os tatus-peba e os tatus

Page 73: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

72

verdadeiros (respectivamente), na maioria das vezes estão em companhia de sua(s) parceira(s)

e apenas 7% (n = 15) e 4,20% (n = 9) alegam que os pebas e os verdadeiros estão sempre

dispostos em grupos, porém se debandam muito rapidamente quando estão ameaçados.

Segundo Medri (2008), o E. sexcinctus apresenta hábito solitário, com ressalva para a

época reprodutiva onde as fêmeas com seu(s) filhote(s) estão juntos. Outras situações também

podem levar ao agrupamento ocasional desta espécie. Desbiez et al. (2006) registraram

comportamentos de perseguição em grupos envolvendo indivíduos dessa espécie no Pantanal,

porém muitos poucos estudos retrataram sobre esse raro fenômeno entre os tatus-peba e sua

função ainda é considerada bastante enigmática, porém há provas que este copmportamento

tenha haver com períodos de acasalamento. Tal caracteristica dá-se pelo fato de indivíduos

machos correrem um atrás dos outros em fileiras, percorrendo por várias distancias outros

grupos ou mesmo fêmeas.

Em relação ao D. novemcinctus, estes podem viver de forma solitária e nômade, ou em

pares ou mesmo em pequenos grupos de indivíduos (McDONOUGH, 1994). Conclusão

semelhante teve o pesquisador Clark (1951) em seu estudo sobre ecologia e história dos tatus

no Platô oeste de Edwards (Texas – EUA), onde afirmou a dificuldade de pesquisas sobre

mortalidades de D. novemcinctus devido suas freqüentes mudanças de moradias e hábito

solitário. McDonough (2000) ainda complementa que, nesta espécie, a permuta de moradias

entre machos e fêmeas proporciona a estes indivíduos interatuar e dividir o espaço demarcado

uns com os outros, dependendo da densidade de indivíduos.

Tratando-se do comportamento social com outros animais (nativos ou silvestres) os

quais compartilham do mesmo espaço físico, menos de 3% (n = 5) dos entrevistados

comentaram a respeito. De forma geral, essa questão ficou mais na suposição uma vez que os

momentos que depreendem maior atenção sobre a ecologia das duas espécies estudadas são

em oportunidade de caça, e como essa atividade sempre gera momentos de agitação e

estresse, muitos detalhes ecológicos são despercebidos nessa ocasião, principalmente quando

se refere ao D. novemcinctus, pois, segundo os informantes, o acesso ao seu nicho é muito

mais restrito quando comparado ao E. sexcinctus. De acordo com a literatura, aspectos sobre o

comportamento social da maioria dos tatus ainda não são totalmente conhecidos (CARTER &

ENCARNAÇÃO, 1983).

Page 74: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

73

1.4.3.2 Atividades de Forrageio

O conhecimento que os informantes possuem sobre os horários de forrageio das duas

espécies de tatus estão quase sempre associadas aos horários de caça por parte dos praticantes

ou das informações que estes transmitem aos demais membros que os cercam, como os

indivíduos da própria família ou da comunidade. O período noturno ou crepuscular

correspondeu à maior porcentagem dos relatos como sendo o principal período de forrageio

para ambas as espécies de tatus (ver Tabela 4). Para muitos que praticam a atividade de caça,

esse horário é o preferível para a captura e/ou abate desses animais, pois a necessidade de

procurar alimentos força os tatus a saírem de suas locas, conseqüentemente, tornando-os alvos

fáceis aos cães, armas de fogo ou armadilhas preparadas.

“tudo que eles faiz é a noite (...) seja pra comer, beber, procriar e

morrer”. (Sr. Genival Caldas, 30 anos, morador da zona rural de Sumé)

“a noite é hora que eles mais sai, tanto peba como o verdadeiro (...) o

verdadeiro sai lá pelas altas hora da madrugada e o peba sai mais cedo”

(Venâncio da silva, 27 anos, morador da zuna rural de Campina Grande)

“nois sempre caça a noite (...) entra na mata de noite e fica até o dia

raiá (...) as veiz eles (tatus) demora a sair (...) tem dia que num pega nada

(...) o verdadeiro é mais demorado poque ele só sai quase amanhecendo”.

(Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede)

Tabela 4. Horários de forrageio para as duas espécies de tatus (E. sexcinctus e D.

novemcinctus)

Cidades

PERÍODO DIÁRIO

DIURNO VESPERTINO NOTURNO/CREPUSCULA

Campina

Grande

2,80% (n = 6) 8,25% (n = 9) 43,92% (n = 94)

Monteiro 5,55% (n = 1) 5,55% (n = 1) 88,88% (n = 16)

São Mamede 21,73% (n = 5) 4,34% (n = 1) 73,9% (n = 17)

Sousa - 12,5% (n = 4) 87,5% (n = 28)

Sumé 3,12% (n = 1) - 96,87% (n = 31)

Page 75: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

74

O quadro mostra que a grande maioria dos informantes, 86,91% (n = 186), atribui ao

horário da noite como o principal para as atividades de alimentação dos E. sexcinctus e D.

novemcinctus, e o menor índice de relatos foi em relação ao período diurno com 6,07% (n =

13).

Quando comparados com a literatura, notamos que a grande porcentagem de

informações fornecidas pelos entrevistados no que diz respeito aos horários de forrageio dos

E. sexcinctus serem preferencialmente noturnos são discrepantes, uma vez que a procura por

alimentos ocorre principalmente no período diurno, embora ocasionalmente podem estar

ativos à noite (REDFORD & WETZEL, 1985). Porém, em relação aos tatus verdadeiros (D.

novemcinctus), os dados obtidos estão de acordo com as referencias cientificas, uma vez que

os indivíduos adultos possuem hábito preferencial crepuscular e/ou noturno, mas também

podem ser ocasionalmente observados durante o dia, dependendo da temperatura ambiente.

No entanto vale destacar que os indivíduos juvenis têm o máximo de atividade durante a

manhã e no fim da tarde (MCDONOUGH & LOUGHRY, 2001).

Em relação aos componentes da dieta alimentar de ambos os tatus estudados, os dados

obtidos pelos informantes estão bem próximas com a literatura cientifica disponível. Estes

comumente destacavam a incrível capacidade e diversidade alimentar dos tatus-peba

comparando-os aos suínos, sendo essa habilidade, provavelmente, um dos motivos da

capacidade de criação e manejo dessa espécie em cativeiro, habito comum em muitos dos

locais estudados. Quanto aos tatus verdadeiros, os informantes relataram que, diferentemente

dos tatus-peba, este é bem mais seletivo em sua dieta, sendo, portanto, uma das características

que a maioria das pessoas creditam forçar a espécie a cobrir maiores áreas de domínio, e

assim, dificultar o acesso a seus habitats de remanescência. Alguns depoimentos podem ser

vistos e comparados com a literatura, como segue:

“O peba como de tudo, de tudo mermo; é mermo que vê um poico [porco] (...) o verdadeiro só come bichinho miudinho, besoro, formiga”.

(Izoulda de Lurdes, 19 anos, residente da zona rural de Campina)

“(...) come de TUDO. Tudo que encontrar pela frente o bixo come; o que colocar pra ele come também. Num tem diferença prum porco (...) o tatu-

verdadeiro num come porquera [porcaria] não, só rama de feijão, raiz de

batata, furmiga, besoro, aranha...”. (Sr. Jurandir, residente da zona rural de Sumé)

Page 76: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

75

“o verdadero é mais limpo que o peba porque só come raiz, fruitinha, e

bixo pequenininho; logo ele num tem dente pra morder como o peba que come

de tudo, ele tem que buscar essas cumida cada veiz mais longe” “já vi o bixo [tatu-peba] cumer até uma carcaça de vaca morta...passei

por ela [carcaça] e vi um troço se bulino [mexendo] lá dento; pensei que era

inté um tejú, mais deixa que era um peba se intrufando [caminhando] dentro

da carniça...é um poico direitinho....come de tudo (...) o verdadeiro come esses bixinho miúdo [pequeno]...é grilo, galfanhoto, barata, cupim, fuimiga, rama

de fejão, raiz de batata...”. (Sr. Genival Caldas, 30 anos, morador da zona rural

de Sumé)

De acordo com os relatos deve-se realçar o emprego da palavra “tudo” referindo-se a

dieta dos E. sexcinctus. O uso desse termo faz correlação com o que diz a literatura que

aponta os tatus-peba como sendo onívoros, alimentando-se de uma grande variedade de itens,

incluindo material vegetal (frutos de bromélias e palmeiras, tubérculos, etc.), invertebrados,

pequenos vertebrados e até mesmo matéria orgânica em decomposição (BEZERRA et al.,

2001; DALPONTE & TAVERES-FILHO, 2004; MCDONOUGH & LOUGHRY, 2003;

REDFORD, 1985). Analises de tratos digestivos ou de fezes não foi realizado com nenhuma

das duas espécies de tatus nessa pesquisa, estudo este que seria de grande importância para

efeito de elucidações quanto às variedades de componentes alimentares das duas espécies.

Pesquisas sobre dieta alimentar dos E. sexcinctus foram realizadas por Dalponte e

Taveres-Filho (2004) que analisaram o trato digestivo de 74 exemplares encontrados mortos

em estradas e rodovias dos municípios de Ribeirão Preto, Luis Antonio e Pradópolis, região

nordeste de São Paulo. Além desses animais, mais 4 exemplares de E. sexcinctus foram

coletados em dois outros municípios de São Paulo (Guareí e São José do Rio Preto) e no Mato

Grosso (Cuiabá e Vila Bela), todos em estradas que cruzavam campos cultivados. Os

resultados obtidos mostraram que, pelo menos 21 itens alimentares estavam presentes nos

estômagos dos tatus-peba. Desses, itens como: sementes de milho, arroz, sementes e polpa de

laranja, cana-de-açúcar e outras sementes não identificadas faziam parte dos componentes

vegetal encontrado. Dentre os invertebrados foram encontrados: formigas, besouros, cupins,

larvas de borboleta, grilos e alguns aracnídeos. Algumas espécies de vertebrados também

foram registradas: alguns mamíferos, ofídios, aves e alguns outros vertebrados não

identificados. Tais resultados foram comparados aos estudos prévios feitos por Schaller

(1983) onde foram feitas analises de conteúdo estomacal de oito E. sexcinctus no Pantanal

Mato-Grossense demonstrando semelhança nas composições alimentares dessa espécie.

Baseando-se nos relatos obtidos, o termo “limpo” foi bastante empregado ao longo das

entrevistas para o tatu verdadeiro, colocando-o, muitas vezes, em preferência para o consumo

humano ao tatu-peba. Notou-se quase uma unanimidade entre os informantes das localidades

Page 77: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

76

estudadas o fato de acreditarem que os D. novemcinctus não se alimentam de animais

(vertebrados) muito menos possuírem hábito saprófago. Pode-se inferir que este meme

poderia estar correlacionado aos testemunhos de indivíduos que presenciaram

comportamentos de forrageio dessa espécie em seu habitat natural ou mesmo quando houve

tentativa de criação da espécie em cativeiro possibilitando comparação direta com os E.

sexcinctus, uma vez que é bastante comum indivíduos dessa espécie serem mantidos em

cativeiro; ou mesmo pelo fato de acreditarem que os tatus verdadeiro são destituído de dentes,

portanto, não teriam capacidade de ingerirem itens com certa consistência. Segundo a

literatura os tatus verdadeiros são animais que consomem raízes de forma bem generalista e,

em relação à matéria animal, estão presentes em sua dieta invertebrados como: artrópodes,

minhocas bem como pequenos vertebrados a exemplo de repteis, anfíbios e até aves. O hábito

saprófago também está presente nos indivíduos dessa espécie, porém sendo uma característica

não muito marcante (SCHAEFER & HOSTETLER, 2003). Analises dos conteúdos

estomacais de mais de 800 indivíduos de D. novemcinctus revelaram quase 500 itens

diferentes, com componentes animais representando 90% de sua dieta em termos de volume

(DAVIS & SCHMIDLY, 1997). Os tatus-verdadeiros inclusive conseguem nadar e se

alimentar na água (PARERA, 2002).

Destaca-se que todos os itens alimentares abordados na literatura são encontrados nas

áreas de habitat das duas espécies de tatus estudadas. Suas distribuições são amplas e com o

passar dos tempos adaptaram-se da melhor forma possível a escassez hídrica, aridez e altas

temperaturas do semi-árido paraibano.

1.4.4 Locas, buracos ou fossados

Dentro do conhecimento dos entrevistados no que diz respeito à construção dos

buracos pelos tatus, estes o costumam denominá-los de “locas” e afirmam não apresentarem

muitas diferenças de construção de uma espécie para outra, no entanto, reconhecem a incrível

habilidade de escavação dos tatus-peba e a dificuldade de encontrar os buracos feitos pelos

tatus verdadeiros, sendo um dos motivos justificados na dificuldade de acesso aos locais de

ocorrência da espécie. Porém, quando questionados sobre os motivos pelos quais esses

animais constroem tais cavidades alegaram que serviria tanto para descanso, abrigo, proteção

e nascimento dos filhotes.

Page 78: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

77

“já vi loca de todo tamanho e de toda fundura (...) eles tem as cria lá

e dormi Tb”. (Sr. Sebastião Deda, 47 anos, morador da zona rural de Sumé)

“cavar como o peba tem igual não (...) com dois minutu o bixo se

„entuma” [esconde] debaixo da terra e não tem cristão quem tire (...) o

verdadeiro cava mas né muito não (...) algumas loca são do mermo tamanho

outras são menor” (Sr. Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de Sousa)

“eles veve [vivem] lá dentro (...) come, bebe, se esconde, se protege dos cachorro e tem as cria tudo lá” (Sr. Genival Caldas, 32 anos, morador da

cidade de Monteiro)

De acordo com Carter e Encarnação (1987) os buracos construídos pelos tatus, de um

modo geral, são usados para acolhê-los durante o sono; como local de nidificação; refúgio de

predadores; como local de procriação e como reservatórios de insetos a exemplo de formigas

e cupins. Em relação à nidificação, alguns adultos e jovens costumam recolher folhas secas e

capins e os trazem até suas tocas adentrando de costas até o fim do túnel. Além disso, podem

formar aglomerados de tocas em áreas abertas (LIMA BORGES & TOMÁS, 2004)

A atividade de escavar tocas é uma das características mais notáveis dos tatus, e em

relação ao E. sexcinctus, essa torna-se uma habilidade a parte. O hábito de escavar também

auxilia no processo de alimentação do tatu-peba. Em relação aos tipos de buracos construídos,

têm-se os “fossados” os quais são escavados com propósito de busca por alimento

(ANACLETO, 2006), e as “tocas” ou “locas” que são buracos típicos para refúgio e/ou abrigo

dos filhotes. Tanto os fossados como as locas podem chegar entre 1 a 2 m de profundidade

(NOWAK, 1999). Sabe-se que, ao contrário de algumas outras espécies de tatus, quando se

sentem ameaçados, cavam tocas para se esconderem de possíveis predadores, porém a

primeira reação de defesa do tatu-peba é correr, podendo morder quando capturado. Logo, tão

rápido encontre a toca mais próxima, o tatu-peba não hesita em entrar neste refúgio de modo a

livrar-se de qualquer situação de perigo (REDFORD & WETZEL, 1985).

Um dos fatos mais marcantes dessa pesquisa veio de depoimentos de moradores de 3

das cinco localidades estudadas (São Mamede, Sumé e Sousa), os quais afirmaram a presença

de cobras da espécie cascavel (Crotalus durissus) em buracos abandonados ou ocupados por

tatus-peba. Devido à falta de acesso a alguns locais de habitat das espécies de tatus estudadas

nessa pesquisa, tal relato não pode ser devidamente comprovado por filmagem ou fotografia.

“(...) quando os cachorros já tinha acuado ele (tatu-peba) dentro do buraco, eu coloquei os troço no chão <instrumentos de caça> e comecei a

cavar (...) peguei ele pelo rabo e fui trazendo ele pra cima, assim que o bixo

saiu, saiu também uma cascavel grande, era quase da grossura do meu braço.

Page 79: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

78

Larguei o peba e os cachorro começaro a latir em cima dela (..) matei a bixa

(cobra) e larguei o peba) (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São

Mamede)

“(...) quando abaixei e cutuquei o buraco ouvi um chiado. Pensei que

era o peba fungando, quando menos esperei saiu uma cascavel de dentro da

loca (...) nunca pensei que ali podia ter uma cobra (...) não, ela não fez nada com o peba”. (Sr. Severino Santos, residente da zona rural Sumé)

“(...) pelo tempo que já cacei foi a primeira vez que eu vi um bixo desse (cobra) dentro de uma loca de peba (...) quase me mordeu (...) nunca

mais ando sem „chibanca‟ <picareta> e lanterna” (Sr. Apolinário Gusmão,

49 anos, residente da cidade de Sousa)

Para os informantes que relataram ter visto tal acontecimento, nenhuma explicação

especial foi dada a não ser que esses dois animais (tatu-peba e cascavel) convivem

harmonicamente num tipo de proto-cooperação onde a cascavel, possivelmente, lhes trazia

segurança contra outros invasores e o tatu-peba abrigo em sua morada. Nenhum relato quanto

a episódio semelhante foi documentado em relação aos tatus verdadeiros (D. novemcinctus).

De acordo com a literatura, Medri (2008) afirma que as escavações feitas pelos tatus-peba

(Euphractus sexcinctus) também servem como refúgio para outras espécies de animais. A

autora ainda complementa que em sua pesquisa, realizado com 70 tocas de tatus-peba, a fauna

comensal encontrada consistiu em espécies de vespas, anfíbios e espécies de répteis como

lagartos e uma cobra venenosa, nesse caso uma boca-de-sapo ou jararaca, Bothrops

mattogrossensis Amaral, 1925.

Sabe-se que a temperatura corporal e o nível basal de metabolismo dos integrantes da

superordem Xenarthra (tatus, tamanduás e preguiças) são mais baixos do que os valores

esperados para mamíferos placentários com massa corporal semelhante (McNAB, 1985).

Estes animais possuem estratégias fisiológicas e comportamentais para contornar problemas

relacionados à exposição a temperaturas ambientais extremas. Desse modo, outra possível

conclusão para a construção de fossados e tocas pode estar provavelmente relacionada com a

termorregulação dos tatus, logo as temperaturas em seu interior propiciariam local adequado a

uma série de visitantes.

Page 80: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

79

1.4.5 Percepção dos moradores quanto aos aspectos reprodutivos dos tatus-peba e

verdadeiro

“quando é o tempo deles procriá os peba fica tudo doido procurando

no mato as pebinha-femi. (...) os verdadeiro são do mermo jeito, só que é

mais complicado de vê mode [devido] eles são ligero [veloz] demais e corre de vorta pras loca”. (Sr. Lucenildo, 52 anos residente da zona rural de Sumé)

“acho que eles pari o ano todo, principarmente o peba”. (Sra Severina Carmo, 42 anos, residente da zona rural de Campina Grande)

“eles começa a procriar em Junho inté começo de Agosto, se a bixa [a peba fêmea] vingá [garantir o cio] no máximo em Dezembro os bixin

[filhotes] já nasce. (...) é a merma coisa pro verdadero, o tempo é igual” (Sr.

Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede)

Dentro do universo de conhecimento dos informantes quanto ao tema reprodução,

pôde-se notar que a grande maioria mencionava meses específicos do ano onde ocorria o

inicio do processo reprodutivo [procura por fêmeas e acasalamento] e fim deste [gestação e

parturição] para ambas as espécies de tatus. Segundo a maioria dos informantes, tão logo as

fêmeas entrem no cio os machos ficam em estados de frenesi com saídas mais frequentes de

seus abrigos ou mesmo cobrindo áreas maiores em busca por fêmeas disponíveis. Para os

informantes, entre os meses de Julho a Setembro ou Junho a Agosto a busca de fêmeas por

machos inicia-se podendo durar entre um ou dois meses de investidas.

Os informantes ainda reiteram que este processo, o qual ocorre durante o período que

eles compreendem como reprodutivo, acontece em comum para ambas às espécies de tatus

estudadas. Dessa forma, tão logo termine o processo de procura por fêmeas férteis e copula, o

que geralmente leva de um a dois meses, os machos separam-se de suas parceiras e estas

ficam gestantes por períodos de 50 a no máximo 90 dias (na ótica dos entrevistados). Ainda

segundo os entrevistados, esse longo período de acasalamento é uma forma que os machos

têm de garantir a “prenhes” das fêmeas e de garantir que a futura prole seja bem sucedida.

Desse modo, os meses em que ocorreria o fim da gestação até a parturição seriam entre

Novembro a Fevereiro ou Dezembro a Março.

De acordo com o quadro (Tabela 5), os meses de Julho a Setembro apresentaram as

maiores citações por parte dos informantes em relação aos períodos de acasalamento dos

tatus-peba, com um percentual de 44,85% (n=96) contra 27,10% (n=58) para os meses de

Junho a Setembro. Em relação aos tatus verdadeiros, percebe-se que os meses de Julho a

Setembro novamente se destacaram, com percentual 53,27% (n=114) contra 34,57% (n=74).

Page 81: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

80

Tal fato pode ser justificado pelos numerosos relatos obtidos pelos informantes onde a

reprodução de ambas as espécies ocorria em sincronia.

Destacam-se ainda os percentuais de 20,09% (n=43) e 3,73% (n=8) para os

informantes que afirmaram ocorrer atividades reprodutivas para ambas as espécies de tatus (E.

sexcinctus e D. novemcinctus respectivamente) ao longo de todo o ano. Uma pequena parcela

dos informantes, 7,94% (n=17) [tatu-peba] e 8,41% (n=18) [tatu verdadeiro], os quais

afirmaram não saber ou não ter certeza.

Comparando-se os dados com os da literatura cientifica, estes apresentaram bastante

coerentes. Durante o período de acasalamento dos tatus verdadeiro (D. novemcinctus) estes

são bastante ávidos em seguir as fêmeas de modo a estabelecerem contatos mais próximos e

forragearem juntos por vários dias (MCDONOUGH & LOUGHRY, 2003). De acordo com

Guimarães (1997) uma fêmea adulta de tatu verdadeiro sendo perseguida por dois machos

adultos da mesma espécie foi documentada. Segundo o autor, os machos desta espécie

mostraram comportamento agressivo uns com os outros, seja se interpondo na frente da fêmea

e expulsando outros intrusos ou mesmo pulando em cima e rolando pelo chão.

De acordo com Enders (1966) o tempo de ovulação das fêmeas de D. novemcinctus

pode variar espacialmente e temporalmente de acordo com as condições ambientais. Esse tipo

de variação é bem exemplificado pelos dados de pesquisas feitas no Texas – EUA. Hamlett

(1932) atribuiu o dia 15 de Julho como sendo a data média do acasalamento, porém, Talmage

& Buchanan (1954) consideraram que o período de ovulação poderia apenas se aproximar aos

meses de junho a agosto. Dessa forma, seguindo o modelo do ciclo reprodutivo generalista de

Enders (1966), o estro ocorreria de Junho a julho. Notou-se que a maioria das fêmeas

multíparas ovularam no mês de Setembro comparando com o mês de novembro para os

indivíduos nulíparas.

Em relação aos E. sexcinctus, Desbiez et al. (2006) registraram, em duas ocasiões, o

comportamento de perseguição envolvendo três e oito indivíduos da espécie, na região do

Pantanal do Mato Grosso do Sul. Durante estes eventos os tatus-peba correram uns atrás dos

outros, formando fileiras. Suspeitava-se que este comportamento de perseguição estivesse

relacionado com a reprodução da espécie. Esta suspeita foi confirmada com observações

posteriores, também no Pantanal, onde foi constatada a cópula após esses momentos de

perseguição. Os povos pantaneiros locais acreditam piamente que essas perseguições

envolvendo os machos de tatus-peba (E. sexcinctus) em busca das fêmeas realmente ocorrem

motivadas pelo período de estro das fêmeas, desse modo, as perseguições poderiam ser uma

forma de competição dos machos por fêmeas. Atualmente muito pouco se tem documentado

Page 82: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

81

sobre esse tipo de comportamento dos E. sexcinctus, desse modo, para uma melhor

compreensão dessa característica peculiar, uma série de informações precisariam ser

levantadas tais como sexo, idade e estado reprodutivo dos indivíduos envolvidos. O período

de gestação registrado em cativeiro para a espécie foi de 60 a 64 dias, com os nascimentos

ocorrendo ao longo do ano.

Page 83: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

82

Tabela 5. Percepção dos moradores locais quanto aos períodos de reprodução a parturição de D. novemcinctus e E. sexcinctus

1Período de acasalamento

2Final da gestação e parturição

CIDADES

PERIODOS DE REPRODUÇÃO A PARTURIÇÃO

E. sexcinctus D. novemcinctus

JUL-SET1

NOV-FEV

2

JUN-AGO

1

DEZ-MAR

2 ANO

TODO

NÃO

SABE

JUL-SET1

NOV-

FEV2

JUN-SET1

DEZ-

MAR2

ANO

TODO

ÑÃO

SABE

Campina

Grande

52,29% (n=57) 11,92% (n=13) 21,10%

(n=23)

14,67%

(n=16)

60,55% (n=66) 33,02% (n=36) - 6,42%

(n=7)

Monteiro 22,22% (n=4) 44,44% (n=8) 33,33%

(n=6)

- 33,33% (n=6) 38,88% (n=7) - 27,77%

(n=5)

São

Mamede

39,13% (n=9) 34,78% (n=8) 26,08%

(n=6)

- 56,52% (n=13) 30,43% (n=7) 8,69%

(n=2)

4,34%

(n=1)

Sousa 28,12% (n=9) 50% (n=16) 18,75%

(n=6)

3,12%

(n=1)

37,5% (n=12) 34,37% (n=11) 12,5%

(n=4)

15,62%

(n=5)

Sumé 53,12% (n=17) 40,62% (n=13) 6,25% (n=2)

- 53,12% (n=17) 40,62% (n=13) 6,25% (n=2)

-

Page 84: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

83

De maneira geral, todos os itens abordados pelos entrevistados, no que diz respeito à

reprodução das duas espécies de tatus, tiveram coerência com o que aborda a literatura

científica. Ao longo das pesquisas notou-se que a variação da quantidade de filhotes obtidos

por ninhada, de acordo com a visão dos informantes, ou eram de 2, entre 2 e 4 ou mais que

quatro filhotes para ambas as espécies de tatus. Dessa forma, destacam-se percentuais de

65,42% dos informantes que relataram a quantidade de 2 a 4 filhotes para o tatu verdadeiro

(D. novencicntus) e de 65,88% para os que afirmaram ninhadas de apenas 2 filhotes para a

espécie tatu-peba (E. sexcinctus) (Tabela 6). Estas percentagens mostram que os informantes

possuem, de um modo geral, um conhecimento bastante concordante com a literatura uma vez

que, para ambas as espécies, a quantidade de filhotes pode variar de um a três

(GUCWINSKA, 1971; McDONOUGH, 2000). Dentre os relatos obtidos, destaca-se a forma

de conhecimento e percepção por parte dos informantes quanto à reprodução dos tatus-

verdadeiros. Alguns afirmaram veementemente que sua prole era composta por dois ou quatro

filhotes e que ao nascerem, todos são de um mesmo sexo. Tal afirmação pode ser assim

conferida:

“...a fêmi do verdadero só pari de par. E tem mais, se um deles for

macho, o resto todo é macho, se um deles for fêmi, o resto tudin é femi

também” (Sr. Severino Santos, residente da zona rural Sumé)

“é muito difícil de ver eles parindo [tatu-verdadeiro], mas uma vez

eu vi quatro tatuzinho saindo da toca e cheguei perto eles correro pra dento, a mãe num tava por perto, coloquei a mão e tirei todos 4...era tudo machinho

(...) divia ter uns 2 meis mais ou meno” (Sr. Arnaldo, residente da zona rural

de São Mamede)

“o peba só pari de dois e o verdadeiro é de quatro. E tudin é de um

mermo sexo. Se for macho os irmão vão ser macho, se for femi, tudin é femi

também,” (Sr. Jurandir, residente da zona rural de Sumé)

Analisando os relatos apontados, tal particularidade, percebida apenas com o tatu

verdadeiro (D. novemcinctus), é conhecida cientificamente como o fenômeno da

poliembrionia. A poliembrionia é o sistema reprodutivo que se caracteriza pelo

desenvolvimento de mais de um indivíduo a partir de uma única célula-ovo, sendo este

sistema relatado no gênero Dasypus (GALBREATH, 1985; PRODÖHL et al., 1998).

De acordo com Benirschke et al. (1964), análises com transplante de pele foram

realizadas nessa espécie (Dasypus novemcinctus) de modo a confirmar a existência de

diferenças entre os filhotes de uma mesma ninhada. Os animais transplantados apresentaram

quadros de rejeição (na região do transplante ocorreu aumento da atividade imunológica para

Page 85: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

84

expulsar o tecido de origem desconhecida), o que mostrou haver diferenciação entre os

indivíduos de mesma ninhada, provavelmente devido a estímulo do ambiente intra-uterino,

uma vez que cada indivíduo da ninhada é gestado na sua própria placenta. Outro fenômeno

associado à poliembrionia é a chamada “Implantação Tardia”, que consiste no retardo do

processo de desenvolvimento da célula-ovo e sua implantação na parede uterina por certo

período de tempo (PRODÖHL et al., 1998). Portanto, para Nowak (1999), na espécie

Dasypus novemcinctus demora aproximadamente quatro meses para suceder à implantação no

útero e reiniciar o ciclo de desenvolvimento. Especula-se que a implantação tardia seja a

causa da poliembrionia, todavia não há argumentos científicos a favor desta hipótese.

Em relação aos tatus-peba (E. sexcinctus), constatou-se que muitos dos depoimentos

obtidos são baseados em modos de criações próprias (cativeiro) ou convívio com pessoas as

quais fazem manejo dessa espécie, o que reflete em conhecimentos detalhados e específicos

para estes indivíduos. Quanto aos tatus verdadeiros (D. novemcinctus), mesmo sendo a

espécie com mais ressalvas apontadas (segundos os entrevistados) quanto a sua ecologia e

biologia, ainda sim os relatos demonstraram coesão quando comparados a literatura cientifica.

Aspectos bem singulares a ambas as espécies como: cuidado parental, tempo de

maturidade sexual, presença de rituais de cortejos e monogamia ou poligamia, foram

respondidas pelos informantes com uma ampla margem de fidedignidade com o que se tem

documentado. Para o tatu-peba (E. sexcinctus) tem-se que as fêmeas em geral parem quatro

crias, apesar de que pesquisadores já tenham detectado a presença de 2-6 embriões, e muito

embora que alguns fetos possam morrer no decurso da gestação. Ao nascerem, os filhotes

pesam cerca de 85 gramas e têm uma carapaça rosada e muito fina. As crias crescem

rapidamente, aos 60 – 80 dias já se tornam independentes, apesar de serem amamentados até

os 3 meses, visto que os membros da mesma ninhada permanecem juntos durante varias

semanas antes de iniciarem uma vida solitária. Com cerca de 16 meses de idade, as fêmeas e

os machos alcançam a maturidade sexual, embora o seu desenvolvimento físico venha a estar

completo por volta dos 3-4 anos (CARTER & ENCARNAÇAO, 1983; GUCWINSKA, 1971;

HASS, 2003) . Em cativeiro, o período de gestação registrado para a espécie foi de 60 a 65

dias, o nascimento dos filhotes ocorreu ao longo do ano, com prole de um a três filhotes de

sexos iguais ou diferentes, de massa corpórea entre 95 e 115 g (GUCWINSKA, 1971). Os

filhotes atingiram a maturidade em torno de nove meses (GUCWINSKA, 1971). Em

cativeiro, um indivíduo desta espécie viveu por 18 anos e dez meses (NOWAK 1999, p. 160).

Para o tatu verdadeiro (D. novemcinctus), sabe-se que as fêmeas dão a luz a filhotes

muito precoces. Os nascituros apresentam uma massa de aproximadamente 85 – 113g

Page 86: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

85

(McDONOUGH et al., 1998; STORRS, 1967). Os olhos se abrem ao nascer e os indivíduos já

se tornam ativos desde então. Os jovens assemelham-se aos adultos, porém suas carapaças

permanecem com consistência macia até certo tempo de vida, em seguida adquirem textura

rígida. Alguns dados foram verificados com indivíduos mantidos em cativeiro experimental:

entre 20 e 22 dias de nascidos, os filhotes, machos e fêmeas de D. novemcinctus, começaram

a sair dos ninhos, entre 21 e 25 dias já bebiam água, de 35 – 42 dias consumiam alimento

solido; entre 71 e 74 dias começaram a incluir invertebrados em sua dieta; e entre 82 a 140

dias para fêmeas e 89 a 160 dias para os machos, acontece o desmame (McDONOUGH,

2000). Em habitat natural Os jovens começam a acompanhar suas mães fora dos buracos por

volta dos 2 – 3 meses e começam a se tornarem auto-suficientes entre os 3 – 4 meses de idade.

De acordo com Talmage e Buchanan (1954) os machos adquirem maturidade sexual por volta

dos 6 meses de idade, porém McCusker (1985) encontrou espermátides em machos com

idades variando de 7-12 meses. Em relação às fêmeas não há muito consenso entre os

pesquisadores quanto à idade propicia a gerar a primeira ninhada. Estimam entre 1

(TALMAGE & BUCHANAN, 1954) a 2 anos de idade (GALBREATH, 1980; GAUSE,

1980).

Em relação à ocorrência ou não de rituais de cortejo entre os indivíduos das duas

espécies de tatus estudados, notam-se percentuais bem próximos para os informantes que

negaram a existência desse comportamento (55,14% e 56,54%) e os que não souberam

(44,85% e 41,12%) para o D. novemcinctus e E. sexcinctus respectivamente (Tabela 6). A

ausência ou desconhecimento de rituais de acasalamento dessas espécies já foi anteriormente

afirmada Desbiez et al. (2006) e McDonough e Loughry (2003), embora não haja consenso

nessa questão.

Quanto à presença de monogamia ou poligamia nas duas espécies estudada, os

informantes destacaram a característica poligâmica presente entre os indivíduos de tatus com

79,43% e 82,24% das citações para os tatus-peba e verdadeiro, respectivamente (ver Tabela

6). De acordo com Peppler et al., (1986) o processo de acasalamento entre os tatus, de forma

geral, é do tipo poligâmico, uma vez que a maioria dos reprodutores machos procuram se

emparelhar com mais de uma fêmea durante esse período, muito embora as fêmeas prefiram a

monogamia. A poligamia é uma forma de competição dos machos por parceiras e uma forma

de garantir o sucesso reprodutivo da espécie.

Page 87: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

86

Tabela 6. Cognição comparada do conhecimento dos entrevistados em função do conhecimento científico sobre aspectos reprodutivos de

tatus-peba e verdadeiro.

CARACTERÍSTICAS Informações dos entrevistados Informações científicas

D. novemcinctus (tatu verdadeiro) E. sexcinctus (tatu peba) D. novemcinctus (tatu

verdadeiro) E. sexcinctus (tatu peba)

Quanto ao nº de

filhotes nascidos 2 filhotes

(n=52) 24,29% 2 filhotes

(n=141)* 65,88% Sabe-se que algumas espécies

podem dar a luz a mais de 1 filhotes e alguns outros variar

entre 1 – 3 (McDONOUGH,

2000)

o nascimento dos filhotes

ocorre ao longo do ano, com prole de um a três filhotes

de sexos iguais ou diferentes

(GUCWINSKA, 1971)

2-4 filhotes (n=140)

65,42% 2-4 filhotes

(n=47) 21,96%

+4 filhotes (n=22)

10,28% +4 filhotes

(n=24) 11,21%

Quanto ao local onde

as fêmeas parem buraco no

chão, oco de

árvore

morta; em

loca, toca,

embaixo de

pedra, perto

de cupinzeiro

100%

buraco no

chão, oco de

árvore

morta; em

loca, toca,

embaixo de

pedra, perto

de cupinzeiro

100%

Os buracos de tatus, além de

servirem de abrigo contra

incêndio e predadores ainda

abrigam as ninhadas. Desde que bem protegidos podem usar

outros locais como aberturas de

rochas e cavernas (TALMAGE & BUCHANAN, 1954;

TAULMAN & ROBBINS,

1996)

A construção dos buracos

ou fossos são lugares idéias

para as fêmeas derem a luz a

salvo dos predadores. (CARTER &

ENCARNAÇÃO, 1983)

Cuidado Parental Apenas a

fêmea (n=195)

91,12% Apenas a

fêmea (n=191)

89,25% O cuidado parental é trabalho

exclusivo das fêmeas

(McDONOUGH & LOUGHRY, 2001)

As fêmeas passam a

amamentar e cuidar de sua

prole (MEDRI, 2008) Ambos (n=19)

8,87% Ambos (n=23)

10,74%

Quanto ao período de

cuidado parental 2 – 4 (meses)

(n=140) 65,42% 2 – 4 (meses)

(n=181) 84,57% A partir dos 3-4 os filhotes

iniciam a independência (STORRS, 1978)

Com 4 meses de idades os

filhotes já se alimentam por conta própria

(ENCARNAÇÃO, 1987) + 4

(meses) (n=74)

34,57% + 4 (meses) (n=33)

15,42%

Quanto ao tempo para

se atingir a

4 – 10 meses (n = 129)

60,28% 4 – 10 Meses

55,60% Machos adquirem idade sexual por volta dos 6 meses, podendo

Os indivíduos machos atingem a maturidade por

Page 88: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

87

maturidade sexual (n=119) chegar até os 12 meses, e as fêmeas entre 1 e 2 anos.

(McCUSKER,1985;

TALMAGE & BUCHANAN,

1954)

volta dos 9 meses de idade quanto as fêmeas pode

variar entre um ano ou mais.

(GUCWINSKA, 1971)

> 10 meses (n=85)

39,71% > 10 meses (n=95)

44,39%

Quanto à presença de

corte de acasalamento

pelos machos

Sim (n=5)

2,33% Sim

(n=0)

- Apesar de o macho forragear

junto à fêmea por dias durante o

período de acasalamento não há indícios característicos de corte

como é aparente em outros

mamíferos (McDONOUGH &

LOUGHRY, 2003)

Não há evidencias claras de

cortejo entre os indivíduos

(DESBIEZ et al., 2006)

Não (n=118)

55,14% Não (n=121)

56,54%

Não Sabe (n=96)

44,85% Não Sabe (n=88)

41,12%

Quanto à monogamia

ou poligamia durante

o período reprodutivo

Monogâmico (n=4)

1,86% Monogâmico (n=13)

6,07% Tanto a poligamia como a

monogamia podem estar

presente na maioria dos dasipodideos (PEPPLER et al.,

1986)

Tanto a poligamia como a

monogamia podem estar

presente na maioria dos dasipodideos (PEPPLER et

al., 1986)

Poligâmico (n=170)

79,43% Poligâmico (n=176)

82,24%

Não Sabem (n=40)

18,69% Não Sabem (n=25)

11,68%

Page 89: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

88

1.5 Conclusões

Os moradores das 5 localidades estudadas (Campina Grande, Monteiro, São Mamede,

Sousa e Sumé) apresentaram um significativo conhecimento sobre as espécies de tatus

estudadas (E. sexcinctus e D. novemcinctus) o que inclui aspectos da taxonomia, biologia,

hábitat, ecologia, disponibilidades, reprodução e várias características comportamentais

típicos de cada uma das espécies.

Verificou-se uma grande quantidade de nomes populares para cada uma das espécies,

dessa forma considera-se que tanto o tatu-peba como o tatu verdadeiro estão dentre as

espécies endêmicas da fauna da Caatinga intimamente associados à cultura local de cada

região.

Apesar das amplas áreas de habitat as quais essas duas espécies de tatus se adaptaram

tão bem, constatou-se que a espécie D. novemcinctus (tatu verdadeiro) foi tida como a mais

difícil de encontrar e a mais requisitada para fins gastronômicos. Tal situação de escassez foi

mencionada pelos entrevistados como preocupante para o futuro dessa espécie devido à super-

exploração que a mesma vem sofrendo. Porém, o tatu-peba (É. Sexcinctus) foi tido como o

mais fácil de captura e localização.

Questões relacionadas aos horários de forrageio e de reprodução dessas duas espécies

estão diretamente ligadas às condições favorecidas para cada local de habitat a qual estão

inseridas, podendo estas condições influenciar na biologia e comportamento dos animais,

além de serem percebidas de múltiplas formas pelas pessoas que caçam ou fazem algum uso

dessas espécies em cada região. Constatou-se uma grande correlação com a literatura quanto

aos períodos de acasalamento e parturição relatados pelos informantes.

O perfil socioeconômico dos moradores das localidades estudada revela que a grande

maioria dos entrevistados possui como profissão atividades ligada a agricultura e pecuária,

porém com condições precárias de educação e renda. Essas condições contribuem de forma

direta para que esses moradores dependam dos recursos faunísticos da região

socioeconômicos aliadas ao conhecimento empírico devem ser levadas em consideração no

estabelecimento de planos e leis de manejo.

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Page 114: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

113

CAPÍTULO II

A caça e usos tradicionais de tatus (Dasypus novemcinctus e

Euphractus sexcinctus) no semi-árido do Estado da Paraíba

Page 115: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

114

2.1 Introdução

As relações entre humanos e os outros animais remonta aos primordios da história de

nossa espécie. Mesmo antes da domesticação desses, a base de subsistência da espécie

humana era a caça e a coleta (BLAIN, s.d.; GUPTA, 2004). Como Holland (1994) destacou,

sociedades pré-históricas usaram animais e seus produtos para diversas finalidades,

especialmente com propósitos de alimento. Animais silvestres e partes de seus corpos ou

subprodutos são usados em uma ampla variedade de modos por sociedades contemporâneas:

como recursos alimentares, como pets, em atividades culturais, em propósitos mágico-

religiosos, como roupas e ferramentas (ALVES & ROSA, 2008; BENNETT & ROBINSON,

1999; NARANJO et al., 2004; ROCHA et al., 2008).

Os vários usos de recursos faunísticos tem sempre estimulado a caça, a qual persiste,

em menor ou maior escala, nos dias atuais (AYRES & AYRES, 1979; CALOURO, 1995;

SMITH, 1976) e que pode representar um impacto negativo sobre as populações silvestres

(ALVARD, 1994; ALVARD et al., 1997; BODMER, 1994; PERES 1990). Em ambientes

Neotropicais, povos rurais tem historicamente usado a vida selvagem primariamente para

propósitos de subsistência, religião e comércio (BARRERA-BASSOLS & TOLEDO, 2005;

MONTIEL et al., 1999; QUIJANO-HERNÁNDEZ & CALMÉ, 2002; RAMÍREZ, 1992;

SCHENCK et al., 2006).

A persistência de atividades ilegais de caça está amplamente associada a questões

culturais e pelo fato de que animais têm importância nutricional para famílias de baixa renda

as quais não obtêm recursos protéicos suficientes da criação (ALVES et al., 2009) ou compra

de animais. No Nordeste do Brasil aspectos socioeconômicos e culturais específicos atuam

como elemento catalisador no estímulo a atividades cinegéticas e estas, por sua vez,

desempenham um importante papel nas formas de obtenção de alimentos e remédios, além de

constituir meios de obtenção ou complementação de renda (ver ALVES, 2009; ALVES et al.,

2009; COSTA-NETO, 2000). Na caatinga, grande parte da população rural é extremamente

pobre e os longos períodos de seca diminuem ainda mais a produtividade da região,

aumentando o sofrimento da população (SAMPAIO & BATISTA, 2004), desse modo a caça

de animais juntamente com práticas extrativistas e agropecuárias insustentáveis constituem as

principais ameaças aquele bioma (LEAL et al., 2005).

No entanto, questões relacionadas à prática de atividades cinegéticas e sua importância

entre as populações tradicionais brasileiras têm sido desconsideradas no manejo das Unidades

Page 116: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

115

de Conservação e na elaboração de políticas de conservação do país (ANDRIGUETTO-

FILHO et al., 1998). No caso específico do bioma caatinga isto é particularmente importante

uma vez que ela tem o menor número e a menor extensão protegida dentre todos os biomas

brasileiros (LEAL et al., 2005) e poucos são os programas de manejo e conservação

desenvolvidos nessa área do Brasil que englobem de maneira participativa comunidades

locais.

Compartilhando com a visão de Holmern et al. (2004), a conservação exige uma

perspectiva que se estende para os limites de áreas protegidas e necessita envolver programas

que afetam a subsistência de comunidades locais. Dessa maneira, conforme apontado por

Trinca e Ferrari (2006), conhecer quais espécies são escolhidas e quais as finalidades de uso

estão entre os aspectos fundamentais para compreender a forma de uso e grau de ameaça da

caça sobre cada espécie silvestre.

Neste contexto, os tatus, em especial o peba (E. sexcinctus) e verdadeiro (D.

novemcinctus), são espécies-chave no universo cultural nordestino. Atividades cinegéticas

com propósito de usos dessas espécies para fins alimentares (ALVES et al., 2009; VALLE,

2007) e medicinais (ALVES & ROSA, 2006; ALVES & ROSA 2007a,b; ALVES, 2009;

BARBOZA et al., 2007) já foram registrados no Nordeste do Brasil. Estes estudos podem ser

considerados indicativos de como essas espécies desempenham uma relevante importância

para as populações locais.

Especificamente no semi-árido da Paraíba não há praticamente nenhum estudo das

interações estabelecidas entre as comunidades locais com essas espécies de tal forma que se

torna uma questão de extrema importância determinar quais são as principais formas de

pressões antrópicas e impactos sobre elas. Essa realidade também se estende ao continente

americano onde poucos estudos foram realizados a respeito da dinâmica atual e importância

das práticas de uso da vida silvestre (como parte das estratégias de subsistência) que diferem

em magnitude e são muito diversas em formas e propósitos (LEON & MONTIEL, 2008). Isto

ressalta a importância de abordagens ecológicas, sociais e locais, para avaliação do uso da

fauna silvestre em contextos regionais específicos, sobretudo onde o desenvolvimento e a

implementação de programas de manejo e conservação da vida selvagem são necessários (a

exemplo do bioma Caatinga).

Mediante isto, nosso estudo teve como objetivo principal identificar quais as técnicas e

principais finalidades da caça do tatu verdadeiro (D. novemcinctus) e do tatu-peba (E.

sexcinctus), espécies popularmente caçadas no semi-árido nordestino e paraibano, porém

pouco estudadas do ponto de vista etnoecológico e de percepções de moradores locais, em

Page 117: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

116

relação ao futuro das populações dessas espécies. Nossos dados poderão ser utilizados na

elaboração de programas de manejo sustentável de D. novemcinctus e E. sexcinctus, visando a

manutenção dos estoques populacionais desses tatus.

Nossa análise é baseada em uma abordagem metodológica mista envolvendo

questionários aplicados com caçadores de tatus. Usando uma análise qualitativa e quantitativa

registramos a caça tradicional de tatus-peba e verdadeiro no semi-árido paraibano, assim

como os tipos principais de finalidades de predação, objetivando contribuir para inserção

desses dados em futuras políticas públicas que visem à conservação dessas espécies.

Page 118: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

117

2.2 Objetivos

2.2.1 Geral

Analisar as atividades cinegéticas e finalidades da caça do tatu verdadeiro (D.

novemcinctus) e do tatu peba (E. sexcinctus) em cinco municípios do semi-árido

paraibano;

2.2.2 Específicos

Descrever as técnicas e estratégias de caça usadas por caçadores de tatus;

Identificar os diversos usos de Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus

empregados pelos moradores dos municípios estudados;

Registrar eventuais tabus relativos aos usos das espécies citadas;

Verificar a percepção dos moradores locais em relação ao status das populações de

tatu peba e tatu verdadeiro;

Page 119: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

118

2.3 Material e Métodos

Os dados referentes aos aspectos da caça aos tatus-peba e verdadeiro foram coletados

em dois momentos: O primeiro deles foi de janeiro a março de 2008, onde os dados foram

coletados no município de Sousa. O segundo ocorreu de outubro de 2008 a abril de 2009, no

qual os foram coletados nos demais municípios. Em ambos os casos a freqüência de visita à

área de estudo foi quinzenal com permanência de quatro dias, normalmente das quintas-feiras

aos domingos.

2.3.1 Procedimentos das coletas dos dados

Foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas com residentes locais, incluindo aqueles

identificados como especialistas. Nesta aplicou-se um questionário semi-estruturado (ver

Apêndice A) que englobava aspectos de caça e comércio dos tatus-peba e verdadeiro, além da

finalidades de uso dessas espécies. Turnês guiadas foram conduzidas com especialistas

nativos em trilhas escolhidas por eles mesmos, quando foi possível fazer registros

fotográficos e identificar in loco as espécies de tatus estudadas, além de podermos constatar

parte das interações estabelecidas destas pessoas com esses animais.

O universo de entrevistados foi determinado principalmente por meio da técnica de

bola de neve (snow ball – em inglês) (BERNARD, 1988), de tal maneira que a partir da

seqüência de indicação(ões) feita(s) por moradores da área estudada, foi possível reconhecer os

indivíduos culturalmente competentes em relação as atividades de caça e/ou finalidades de usos

de D. novemcinctus e E. sexcinctus. As entrevistas individuais ou coletivas ocorreram tanto na

zona urbana quanto na zona rural dos municípios estudados. Muito embora os tempos de cada

sessão tenham sido variados, quase sempre, as entrevistas tiveram duração superior a 40

minutos. A amostra total foi de 214 indivíduos, 177 homens e 37 mulheres, assim distribuídos

por municípios onde residem: 109 de Campina Grande (76 homens e 33 mulheres), 18 de

Monteiro (18 todos homens), 23 de São Mamede (23 todos homens), 32 são de Sousa (28

homens e 04 mulheres) e 32 de Sumé (32 todos homens). A média de idade dos entrevistados

foi de 40,1 anos.

Page 120: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

119

2.3.2 Procedimentos de análises dos dados

Utilizou-se um conjunto de técnicas qualitativas e quantitativas para a análise dos

dados. Nós utilizamos o modelo de união das diversas competências individuais (HAYS,

1976), onde toda informação pertinente ao assunto pesquisado é considerada para a análise e

interpretação dos dados. Em virtude do n de entrevistados ter sido relativamente grande

(ntotal>100), em função do tempo, optou-se por realizar a confirmação das informações de

maneira sincrônica, procedimento que, segundo Maranhão (1975), consiste em perguntas

idênticas feitas a indivíduos diferentes em tempos muito próximos.

A fim de determinar quais as principais finalidades de usos locais de D. novemcinctus

e E. sexcinctus no semi-árido paraibano, a parte quantitativa foi analisada por meio do cálculo

do Nível de Fidelidade (FL) de Friedman et al, (1986), adaptado por Mahawar e Jaroli (2007),

que demonstra a porcentagem de entrevistados que afirmaram usar um determinado animal

para um propósito específico, e foi calculado como:

𝑭𝑳 % = (𝑁𝑝 𝑥 100)

𝑁

Onde: Np é o número de entrevistados que afirmaram fazer uso de D. novemcinctus ou

E. sexcinctus para uma finalidade particular e N, neste trabalho, é o número de entrevistados

que usaram das espécies para um propósito qualquer.

2.3.3 Identificação das espécies

Semelhante ao procedimento realizado por Alves e Rosa (2006), os animais serão

identificados das seguintes formas: 1) análise dos espécimes doados pelos entrevistados; 2)

fotografias ou 3) através dos nomes vernaculares, com o auxílio de taxonomistas

familiarizados com a fauna das áreas de estudo do Departamento de Sistemática e Ecologia da

Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Page 121: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

120

2.4 Resultados e Discussão

A vida silvestre é um importante recurso para muitos povos na América Latina, os

quais se beneficiam destes para diversos propósitos, embora a alimentação e obtenção de

renda sejam os mais comuns (FANG et al., 1999; FRAGOSO et al. 2004; OJASTI, 1996;

PRESCOTT-ALLEN & PRESCOTT-ALLEN, 1982; ROBINSON & BENNET 2000a;

SILVIUS et al. 2004). Muitos estudos mostraram que a caça de subsistência tem um forte

impacto sobre as populações selvagens, geralmente acarretando extirpações locais (CULLEN

et al., 2004; BENNET & ROBINSON, 2000; ROBINSON & BENNET, 2000b). Além do

mais, quando há uma relação conflituosa e estreita entre os povos locais e a vida silvestre, o

desafio está em encontrar um equilíbrio entre as necessidades desses e a conservação da

biodiversidade (ALTRICHTER, 2006). O papel da biodiversidade na vida desses povos

locais, contudo, é amplamente variável, refletindo diferenças sócio-econômicas, ambientais e

culturais.

No Brasil, de um modo geral, a caça de tatus para diversos fins tais como alimento,

animal de estimação ou criação e uso de partes especificas como suvenires e adornos é uma

prática comum (ver MEDRI, 2008; MEDRI et al., 2006). Nas áreas de caatinga, a caça é um

conhecimento passado de forma transgeracional e é parte da cultura dos povos locais (ALVES

et al., 2009) e, por meio dela, estes obtêm alimentos protéicos, remédios zooterapêuticos e

para outros fins. Nessa região é popularmente difundida a captura de Euphractus sexcinctus e

Dasypus novemcinctus tanto como fins de subsistência, comércio ou lazer.

A captura desses animais seja entre jovens e adultos é realizada por meio de

diferentes técnicas que são adaptadas a diferentes situações. Nesse âmbito, nosso primeiro

objetivo é descrevê-las a fim de obter uma maior compreensão dos impactos das técnicas

usadas pelos caçadores nesta atividade.

2.4.1 Técnicas e estratégias de caça aplicada aos tatus usados por caçadores do semi-

árido paraibano

2.4.1.1 Armas de fogo

De acordo com Alves et al. (2009), as armas de fogo constituem a ferramenta básica

dos caçadores do semi-árido paraibano, mesmo quando elas não são usadas diretamente para

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121

abater a presa. Em nosso estudo 25,23 % de um total de 214 entrevistados afirmaram fazer

uso freqüente desse recurso durante as caçadas de tatus-peba e verdadeiro.

As armas de fogo usadas pelos caçadores podem ser artesanais ou industriais, desse

modo as armas do tipo “sovaqueira” (Figura 5A e B), também conhecidas como “soqueiras”

ou “soca-soca”, são aquelas frequentemente apoiadas abaixo das axilas e caracterizadas por

serem fabricadas artesanalmente com partes de outras armas e cujo corpo é predominante de

madeira. Para este tipo de instrumento a munição utilizada é composta exclusivamente de

pólvora com pequeninas esferas de chumbo, sendo necessário o auxilio de uma vareta de ferro

para prensar a pólvora no interior do cano. Já as “garruncheiras” (Figura 6) são armas do tipo

espingardas, podendo ser conhecidas localmente como “cartucheiras” ou “carabinas”; são

industrializadas podend apresentar cano longo ou curto de acordo com a preferência de cada

caçador. Este tipo de instrumento é preparado para receber munição de cartuchos (múltiplos

projéteis) ou balas (projéteis individuais).

Figura 5. (A) Seu Olegário, antigo caçador de tatus da zona rural do município de Campina Grande

empunhando uma arma do tipo “sovaqueira”. (B) Detalhe da sovaqueira destacando seu caráter artesanal. Fotos: do autor.

A B

-

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122

Figura 6. Seu Vander (azul) e companheiro de caçadas José (amarelo) empunhando uma arma tipo garruncheira empregadas para abater tatus-peba ou verdadeiro. Local da Foto: Sumé, PB.

Constatou-se que todos os entrevistados que desempenhavam atividades de caça

tinham preferência por estas armas (de maior porte) àquelas de uso pessoal e de pequeno

porte, conhecidas como pistolas ou revólveres. Possíveis explicações para este fato deve-se a

alguns motivos, tais como: manutenção barata, munição de fácil acesso e de baixo custo, além

do hábito tradicional do uso e porte desses instrumentos. Ressalta-se que, mesmo as

espingardas confeccionadas de modo artesanal, estão sob suspensão de uso e porte, sendo

possíveis de aplicação penal (Lei Federal 9.437/97).

Outros estudos já constataram que o uso de armas de fogo é uma prática quase

universal (ALMEIDA et al., 2002), além de ser uma técnica que tem favorecido muito na

facilidade de captura da fauna local (MENA et al., 2000; STEARMAN, 2000). No caso

especifico dos caçadores entrevistados, esta técnica indica ser uma das formas mais

impactantes empregada, uma vez que, em um determinado período de tempo, ela possibilita o

abate de mais espécimes caçados quando comparados a outras estratégias de caça. Tal fato é

confirmado por outros autores, como Bennett e Robinson (2000), os quais afirmam que a

mudança de armas tradicionais para o uso de armas de fogo, como método primário de caça

pela tribo Huaorani do Equador, acarretou num aumento de 15% em número de animais e

biomassa capturados.

Pôde-se perceber que tal estratégia não é uma técnica exclusiva aos tatus, visto que os

caçadores das áreas estudadas empregam também essa modalidade no abate de outros

animais, a exemplo de répteis como a cascavel Crotalus durissus e o tejuaçu Tupinambis

merianae, mas principalmente para mamíferos de pequeno ou médio porte, como o mocó

-

-

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123

Kerodon rupestris; a ticaca Conepatus semistriatus; o tamanduá-mirim Tamandua

tetradactyla; o gato maracajá Leopardus tigrinus, o gato vermelho Puma yagouaroundi, a

raposa Cerdocyon thous e do preá Cavia aperea.

2.4.1.2 Caça com cães

Muito embora ninguém saiba exatamente quando os cães foram domesticados,

arqueólogos constataram que várias culturas ao redor do globo começaram a tratar os cães

como membros de suas tribos por volta de 14.000 anos atrás. Esta aliança com os cães foi tão

profunda que em muitos cemitérios antigos, esqueletos desses animais foram encontrados

enterrados em mesmas sepulturas que seres humanos (CAMPBELL, 1997; GUPTA, 2004;

PONTING, 1995).

Inúmeros informativos resumem a domesticação do cão no Oriente Médio e dão

detalhes desse processo de desenvolvimento no relacionamento estabelecido entre seres

humanos neolíticos e o Canis sp. selvagem daquela região. A maioria destes cenários sugere o

fato de que uma ou mais subespécies de lobos do sudoeste asiático (C. lupus pallipes, C.

lupus arabs) seriam os canídeos que provavelmente se envolveram neste processo. Por

conseguinte, este contato inicial foi seguido pela rápida dispersão destes seres humanos

primitivos e seus "cães-lobos" para fora do Oriente Médio, se movendo para o sul em direção

a África, e para o leste, atravessando a Índia em direção ao sudoeste asiático (BRISBIN &

RISCH, 1997). No entanto, ainda existe uma notável carência de informações sobre as

características destes cães-lobos, precocemente domesticados, e sobre seu relacionamento

durante o desenvolvimento do vínculo homem-cão. (Ibdem).

As raças caninas, como atualmente são conhecidas, só vieram a se estabelecer de

maneira organizada há aproximadamente 200 anos. Mas antes disso o homem já selecionava

os cães para funções específicas como pastoreio, companhia, guarda de territórios e a caça em

sua associação (LANTZMAN, 2000).

Neste estudo, dentre as técnicas de caça empregada para captura e abate dos tatus

observou-se durante as visitas nas localidades estudadas que os cães são os aliados mais

importantes aos caçadores nessa atividade, e em consórcio com as armas de fogo, as chances

de êxito durante as caçadas são bem maiores quando comparadas àquelas sem o auxilio de um

desses meios.

No que diz respeito a algumas excepcionais modalidades de caça profissional

permitidas por lei no Brasil (Lei N° 5197/67), o auxilio de cães de raça é mandatório e

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124

essencial. Nas áreas pesquisadas constatou-se que a grande maioria 85,98% (n=184) dos que

praticam ou afirmaram já ter praticado atividades de caça utilizaram, preferencialmente, cães

sem raça-definida ou com alguma consangüinidade com possíveis raças típicas de caça

(brasileiras ou estrangeiras) (Figura 7). Esses cães, tidos como sem raça-definida, são

habitualmente conhecidos pelos caçadores como: vira-latas; crioulos; pé-duros ou bragados

(Figura 7). Para tal, mesmo trazendo em seus nomes populares significados de cunho

pejorativo como: ordinário, sem valor, de cor escura ou desbotada, nota-se um grande apreço,

por parte daqueles que caçam, a estes cães. A primazia por esses animais seguem contextos

simples, tais quais: a rusticidade e obstinação para adaptar-se a diversas condições de

sobrevivência; a não necessidade de cuidados veterinários constantes, o baixo custo de

mantimento; a facilidade de acondicionamento e adestramento para atividades de caça, e o

alto valor comercial que podem atingir.

O treinamento desses cães por parte dos caçadores de tatus segue técnicas de

condicionamento bem simples, sendo iniciado a partir do terceiro mês de vida, onde o filhote

participa de brincadeiras estimulativas com animais mortos ou vivos, colocados em sacolas ou

amarrados em troncos de árvores, em alturas alternadas com o decorrer do treinamento. Aos 5

meses, estes já participam de caçadas junto a outros cães já condicionados. Segundo os

caçadores, o contato com esses cães experientes é o fator mais importante para o cão iniciante,

e será através desses momentos que revelará ao caçador se o cão jovem terá aptidão natural ou

não para desempenhar a caça.

Nem todos os cães tidos como vira-latas trazem aptidão natural para a caça dos tatus,

segundo os informantes. Os mais valorizados são aqueles que descendem de animais cuja

qualidade e tenacidade são conhecidas e reconhecidas na comunidade. De acordo com os

entrevistados essa é a justificativa para o fato desses animais poderem atingir altíssimos

valores de venda. Segundo alguns informantes, valores já pagos por caçadores a bons cães de

caça variavam de R$500,00 a 5.000,00.

Numa das visitas a cidade de Sumé (microrregião do Cariri paraibano), pôde-se

acompanhar uma caçada noturna realizada por dois jovens caçadores e com cães emprestados

de outros caçadores da região. Percebeu-se que essa prática, além de comum, mostra

coletividade ao grupo das pessoas que praticam esse tipo de atividade. As caçadas de tatus

com cães, normalmente conduzidas à noite e com a presença de mais de um homem, foi

previamente documentada por Mourão et al. (2006) e Alves et al. (2009). Trinca e Ferrari

(2006) registraram que este tipo de caça é o segundo mais usado por moradores de um

assentamento em Novo Horizonte, Amazônia mato-grossense.

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125

Durante as pesquisas nas áreas estudadas, notou-se que os caçadores não têm

preferência por cães machos ou fêmeas nas caçadas, porém, durante as turnês guiadas (survey

– em inglês), percebeu-se que os cães os quais nos acompanhavam estavam em casal. Tal

justificativa foi pelo fato de alegaram a maior atenção das fêmeas e a agressividade dos

machos para as presas. O intuito da caçada era exclusiva para tatus (E. sexciinctus ou D.

novemcinctus) e pôde-se observar o vigor físico e a obstinação dos cães quando em atividade

de atenção, perseguição e estresse.

Figura 7. Cães de caça usados na captura de tatus no semi-árido da Paraíba. (6A) Um exemplo de cão

de raça (Neste caso, Pointer alemão); (6B, C e D) Cães sem raça definida (“vira-latas”). (6C e D) Cães

sendo estimulados por caçador a morderem um exemplar de tatu-peba.

A

B

D

C

-

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126

2.4.1.3 Tatuzeira, Pebeira ou Cachorro-de-Arame

Outra modalidade de captura de tatus é o uso de armadilhas preparadas em locais

estratégicos de ocorrência dessas espécies. Verificou-se que o uso dessas armadilhas como

técnicas de caça não são as preferenciais aos caçadores uma vez que é preciso mais tempo e

paciência quando comparado ao emprego de armas de fogo e cães. Tal preferência não é

restrita apenas ao semi-árido nordestino, uma vez que Johnson et al. (2003) constataram que

armas de fogo são as opções mais comuns e oportunas para a captura de animais silvestres em

uma área tropical protegida no Laos na Indochina.

A origem e a forma de confecção desses dispositivos possivelmente remontam a

longas datas e estariam associadas às culturas e tradições locais de cada região. Essas

armadilhas são conhecidas popularmente como tatuzeiras e/ou pebeiras, podendo também ser

chamadas de “cachorro-de-arame”, e são confeccionadas de forma artesanal de madeira ou

ferro (Figura 8A, B e 9A, B). Linguisticamente, apesar da palavra pebeira sugerir seu uso

especifico para os tatus-peba (E. sexcinctus) e o termo tatuzeira aparentar ser especifica para

os tatus verdadeiros (D. novemcinctus), tais dispositivos podem ser usados indistintamente

para essas espécies.

Segundo os caçadores, o mecanismo de funcionamento desses dispositivos é bastante

simples e funcional, sendo o local de disposição dessas armadilhas dentro dos próprios

buracos dos tatus. Tanto na pebeira como na tatuzeira existe uma porta de entrada numa das

extremidades e esta se fecha tão logo o animal adentre a armadilha, desse modo a sua saída

fica impossibilitada. Esta técnica requer dos caçadores retornos mais constantes aos locais

onde as mesmas foram armadas uma vez que dependem dos oportunismos de captura desses

animais em seus abrigos. Percebe-se que, em relação aos caçadores que não possuem

condições de desempenhar atividades de caça com cães ou que possuem receio de apreensão

civil ou federal por porte indevido de armas, a utilização dessas armadilhas torna-se uma

opção atrativa e de baixo custo. Porém dependendo do tamanho da tatuzeira, seu impacto pode ser

agravado, uma vez que pode ocasionar a captura apenas de indivíduos jovens.

De acordo com Alves et al. (2009) uma outra modalidade de armadilha artesanal foi

apontada por caçadores do semi-árido nordestino como útil na captura de E. sexcinctus,

conhecida por “Arataca”. Esse tipo de dispositivo de ferro consiste em duas "queixas"

(mandíbulas) impelidas por uma mola extremamente forte e sob grande tensão. Quando

armada, as queixas ficam abertas e uma isca é colocada no centro das mesmas de modo a

Page 128: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

127

atrair a presa. Quando o animal pisa no gatilho perto da base da arataca o mecanismo funciona

e prende, geralmente, as patas do animal entre as duas queixas.

Figura 8. Tatuzeira de madeira. (A) Vista lateral e superior, (B) Tatuzeira armada. Local: São

Mamede, Paraíba. Fotos: do autor

Figura 9. Tatuzeira de ferro. (A) Visão Geral, (B) Comparação de uma tatuzeira, encontrada em posse de entrevistado no município de Campina Grande, com um tatu-peba adulto. Fotos: do autor.

2.4.1.4 Balde com água

A mais simples das técnicas relatadas diz respeito ao uso de um recipiente (bacia ou

balde) repleto de água a qual é entornado sobre os buracos de tatus. Essa modalidade de uso

pode ser empregada para ambas as espécies estudadas facilitando suas capturas uma vez que a

água torna o meio onde estão abrigados impróprio para sua permanência, pois provocaria

afogamento, logo são forçados a subir a superfície onde são rapidamente capturados. A

técnica de balde pode ser utilizada em associação com as tatuzeiras ou pebeiras garantindo

A B

A B

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128

maiores chances de captura desses animais vivos, porém é raramente utilizada uma vez que a

água utilizada normalmente deriva de localidades com estoques ou córregos e está associada a

proximidade desses locais aos buracos dos tatus ou em épocas do ano em que o período de

chuvas é mais intenso como no inverno (meses de Maio a Agosto) onde o acumulo de água

nessas áreas é maior.

2.4.1.5 Ferramentas utilizadas na caça

De acordo com os entrevistados, além das principais técnicas da caça aos tatus, o uso

de outras instrumentárias é essencial aos caçadores de modo a garantir o sucesso da captura

e/ou abate dos animais ou mesmo para segurança dos próprios caçadores. Itens como:

Enxadeco (meia picareta); cavador (semelhante ao enxadeco, mas com a base reta em relação

ao corpo da ferramenta), bisaco (sacola); lanterna ou lampião; perneiras (proteção para as

pernas feitas de couro); gancho (ferramenta de ferro usada para “içar” o tatu da toca ou de

locais onde o mesmo procura refúgio durante uma perseguição de caçada), facas e fósforos

estão sempre presentes aos caçadores (Figuras 10 e 11).

“Nois num pode ir pra mata sem a lanterna, o enxadeco, os cachorro,

e o bisaco. Se for pra uma mata fechada ainda levo as pernera mode picada

de cobra”. (Sr. Francisco José, 44 anos, residente na zona rural de Sousa)

“(...) tem enxadeco, lampião ou uma boa lanterna, o bisaco pra levá os fosfro [fósforos] e outros troço menor. Tudo isso tem que levá”. (Sr. Paulo

Amaral, 29 anos, residente do Município de Campina Grande)

Dentre os entrevistados que ainda praticam a caça aos tatus (21,02%, n=45) ou que já

caçaram (64,95%, n=139), afirmaram ter preferência por desempenhar essa atividade em

associação com um ou dois companheiros. Esse hábito, além de caracterizar uma forma de

coletividade e cooperação entre os praticantes, assegura uma divisão de tarefas durante as

caçadas. Tomando como exemplo a caça noturna, a qual é a mais comum, normalmente um

dos caçadores que segue a frente da trilha conduz a lanterna e os cães e os demais, os

instrumentos de caça. Não raro, crianças e adolescentes podem estar presentes durante as

caçadas, e na maioria das vezes estas desempenham funções de “carregadores” de pequenos

objetos ou ferramentas. É comum parentes como irmãos, primos ou sobrinhos seguirem os

caçadores mais velhos durante as caçadas, evidenciando que a atividade de caça surge

precocemente na vida das crianças as quais estão sempre ávidas e imperativas quando são

convidadas a acompanhar os caçadores.

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129

Figura 10. Instrumentos usados por caçadores de tatus-peba e verdadeiro. Da esquerda para direita:

(1) Bisaco, (2) Lanterna artesanal (lampião), (3) Espingarda do tipo sovaqueira, (4) Faca, (5)

Enxadeco. Local da foto: município de Sumé, cariri ocidental do Estado da Paraíba. Foto: do autor.

(3)

(5) (1) (1)

(2)

(4)

(1)

(2)

(3) (4)

(5)

-

-

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130

Figura 11. Instrumentos usados por um caçador de tatus no município de São Mamede, Paraíba. Da

esquerda para direita: (1) Lâmina do Enxadeco, (2) Lanterna elétrica, (3) Cavador, (4) Gancho, (5)

Bisaco. Detalhe para o tatu verdadeiro Dasypus novemcinctus capturado pelo caçador, Seu “A” na noite do dia 18 de abril de 2009. Data da foto: 19 de abril de 2009. Foto: Wedson de Medeiros S.

Souto

Tal fato já é disseminado no imaginário popular dessas crianças que encaram a

atividade como sinônimo de aventura ou diversão.

“as veiz vai primo ou subrinho de 10 – 11 anos....eles vão

carregando alguma coisa, as veiz faiz o fogo e esquenta o café lá na mata”. (Sr. Galdino Ferreira, 36 anos, morador da zona rural de Souza)

“tem caçador que gosta de ir de escoteiro [solitário] e tem deles que vão em grupo de dois a três. As veiz um ou dois mininote [meninos]

acumpanha só pra ele [caçador] não ir só” (Sr. Sebastião, morador da zona

rural de Monteiro).

Os períodos e horários de caça não são pré-estabelecidos por regras ou princípios.

Cada caçador ou praticante decide qual melhor momento pretende caçar, apesar de que os dias

e horários estão, na maioria das vezes, associados a percepção e conhecimentos dos caçadores

aos hábitos de cada animal. No caso especifico da caça aos tatus estudados (E. sexcinctus e D.

novemcinctus), o horário preferencial praticado na atividade de caça inicia-se a noite e

transcorre até o inicio da manhã seguinte, muito embora horários diurnos ou vespertinos

possam ocorrer livremente.

Nas caças noturnas de tatus (peba e verdadeiro), observamos que as fases lunares

podem influenciar as atividades de caça, sendo associadas a benefícios ou dificuldades. Para

31,77% (n=68) as melhores caçadas ocorrem durante as fases de lua Cheia, uma vez que a

quantidade de luz resplandecente da lua possibilita aos caçadores e os cães (quando

acompanhados) maiores dinamismos, melhor alcance de visão bem como maiores percursos

de áreas em locais de vegetação alta e fechada, a exemplo de serras. Para 45,32% (n=97) dos

informantes, as caçadas durante luas Minguante e Nova são ideais, pois favorece uma maior

liberdade de saída dos tatus de seus refugios. Segundo os informantes, o mínimo de

luminosidade da lua garante aos animis forrageios mais longos e distantes, conseqüentemente,

tornando-os alvos mais vulneráveis as perseguições dos cães e as investidas dos caçadores. E

para 22,89% (n=49), estes alegaram que o maior ou menor sucesso de caçadas independe das

fases lunares, uma vez que o grau de experiência dos caçadores bem como da qualidade dos

cães são suficientes para conseguir capturar ou abater os tatus.

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131

“Eu sempre caço nos dia de lua cheia porque dá pra vê tudo

inclusive onde eles tão intumado [entocado]...tem veiz que eu pego peba inté

sem cachorro, só tirando os bixo com a mão. (...) os verdadeiro, os cachorro corre mais fácil e consegue pega”. (Sr Arnaldo, residente da zona rural de

São Mamede)

“(...) só presta quando tá quase sem lua ou com muitas nuve [nuvem], assim os bixo sempre sai atraiz de cumida ou das parceras (...) e

devagarinho nois pega eles de surpresa”. (Sr. Jurandir, 47 anos, residente da

zona rural de Sumé)

“(...) eu acredito que num faiz diferença não, meus minino desde

quando vão caçar, outros homens perto daqui vão também e num faz questão

de lua não” (Sra. Enedina Maria, 58 anos, zona rural da cidade de Campina Grande)

Similarmente ao verificado nessa pesquisa, as influências das fases lunares estão

presentes nas formas de percepção e cultura não apenas de caçadores do semi-árido

paraibano, mas também nos pescadores do litoral do referido Estado, os quais são regidos por

condições de tempo e amplitude de marés bem como as fases lunares, como apontado por

Nishida et al. (2006)

Dentre as inúmeras características da atividade de caça aos tatus, foram obtidos relatos

e testemunhos relacionados às crenças a deidades regionais, as quais fazem parte do ideário

popular nas áreas pesquisadas, e representam sinônimos de respeito e temor. Os seres mais

relatados foram a “Mãe do Mato”, e a “Cumade Florzinha”, que segundo as definições

relatadas, parecem tratar-se dos mesmos seres, relacionados com a proteção das matas e dos

animais, temidos por perseguir os caçadores e seus cães, e conhecidos por possuírem os

hábitos de fumar e assobiar. Foi relatado que, para certos momentos, de modo a quebrar o

encanto da “Cumade Florzinha” sobre os cães quando estes estão acuados, latindo e não se

consegue enxergar nada, (acredita-se que esta entidade esteja por perto) batem-se dois ferros

(o exadeco com o cano da espingarda) e o feitiço é cortado. Muitos moradores acreditam na

existência dessas entidades, porém outros não, e embora não acreditem pelo fato de nunca

terem presenciado nenhum episódio, mesmo assim temem seus encantos. Os entrevistados

também relataram fazer uso de alguns amuletos oriundos de partes das espécies de tatus (E.

sexcinctus e D. novemcinctus). As partes citadas foram patas, unhas ou rabos, as quais podem

estar presentes na indumentária pessoal de cada caçador. Segundo eles, é sempre

recomendável levar consigo um desses itens de modo a garantir uma boa caça ou livrar-lhes

de algum eventual confronto com alguma das deidades supracitadas.

Page 133: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

132

“quando caço, tenho que levar, seja um pouco de fumo ou amarrar

no meu cinto um rabo de peba ou verdadero pra num ter pobrema com

“cumadi flozinha”. (Sr. Luiz Albino de Sousa, 39 anos, residente da zona rural de Sumé)

“no tempo que eu caçava já ouvi muitos gritos de cachorros levando

pisas da Mãe do Mato, e já ouvi muito assobio que me arrupiava da cabeça pus [aos] pés. É sempre bom levar arguma oferenda a ela mode deixar uma

boa caçada”. (Sr. José Santo, 70, residente da zona rural de Sousa)

“se ouvir ela assubiar pode para no canto que você está e esperar, se

os cachorro começarem a latir, é certeza que ela tá perto. Coloque o que

você trouxe [oferencda] no chão e faça uma prece, se os cachorro ainda

continuarem a latir, pegue o enxadeco e bata no cano da garrucha e depois pode ir andando normalmente” (Sr. Inácio Laureiro, 47 anos, residente da

zona rural de Campina Grande)

De acordo com a literatura, a cultura popular tem como cerne o imaginário, o qual

configura uma riqueza incomensurável, e é nesse cenário fértil que o imaginário popular atua,

revelando sentimentos que desabrocham em lendas, mitos, contos, crendices, superstições e

em outras belezas que retratam a nossa cultura (LÓSSIO, 2006). Há de se considerar, que as

lendas são narrativas que enriquecem e caracterizam o lugar, acompanhadas de mistérios,

assombrações e medo. Elas acompanham fatos e acontecimentos comuns, ilustradas por

cenários exóticos e de curta extensão. Muitas vezes são fatos verídicos acrescentados de

novos dados ou até mesmo recriados, podendo ser muitas vezes confundidas com os mitos

(LÓSSIO, 2006). As crenças religiosas são componentes importantes da cultura (HONGMAO

et al., 2002) e todas as principais religiões do mundo são sensitivas a importância do ambiente

natural e da biodiversidade (DAVID & JOY, 1998; HAMILTON, 1993; MCNEELY, 2000;

PUSPA, 1996) estabelecendo com elas conexões interativas positivas ou negativas,

dependendo de cada cultura regional. Compreender essas crenças torna-se uma questão chave,

possibilitando a inserção de um elemento memético na multidimensionalidade de planos de

manejo e conservação de espécies silvestres contemporâneas.

2.4.2 Finalidades de usos de D. novemcinctus e E. sexcinctus por moradores do semi-árido

da Paraíba: Compreensões e perspectivas

Page 134: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

133

A Tabela 7 resume os dados relativos aos Níveis de Fidelidade das categorias de uso

de D. novemcinctus e E. sexcinctus. Considerou-se como categorias essenciais o uso dessas

espécies para: a alimentação, medicinal, mágico religioso, caça esportiva e comércio. Todas

essas categorias necessitam da caça aos tatus, motivo pelo qual fizemos uma abordagem

prévia das técnicas empregadas na captura de D. novemcinctus e E. sexcinctus. A categoria

“caça esportiva” corresponde aquela onde os tatus são capturados com propósito principal

recreacional, muito embora nesta atividade o consumo e a venda desses animais possam

ocorrer como uma prática derivada.

Tabela 7. Nível de Fidelidade das categorias de finalidades de usos de D. novemcinctus e E.

seecinctus.

Os dados indicam um Nível de Fidelidade elevado do uso de D. novemcinctus e E.

sexcintus para alimentação (NF=100% para ambas), para uso medicinal (NF=14,95% para D.

novemcinctus e 37,85% para E. sexcintus) e mágico-religioso (NF=13,08% para D.

novemcinctus e 30,37% para E. sexcintus). Contudo, por razões a serem discutidas a

posteriori, D. novemcinctus tem uma importância maior para fins comerciais do que para fins

medicinais ou mágicos.

A importância desses tatus para a subsistência dos moradores da área estudada é

evidenciada nas próprias declarações deles, ao passo que afirmam, em variados graus, a

dependência que exercem dos tatus-peba e verdadeiro:

Categorias de usos Espécie

Nº de

entrevistados que

citaram a espécie

para algum uso

Nº de entrevistados

que citaram a espécie

para a categoria de

uso

Nível de

Fidelidade (%)

ALIMENTAÇÃO D. novemcinctus 214 214 100,00

E. sexcinctus 214 214 100,00

MEDICINAL

D. novemcinctus 214 32 14,95

E. sexcinctus 214 81 37,85

MÁGICO-

RELIGIOSO

D. novemcinctus 214 28 13,08

E. sexcinctus 214 65 30,37

CAÇA-

RECREACIONAL

D. novemcinctus 214 35 16,36

E. sexcinctus 214 52 24,30

COMÉRCIO

D. novemcinctus 214 44 20,56

E. sexcinctus 214 40 18,69

Page 135: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

134

“Nós sai pra pegar o tatu e peba quando não tem mistura [termo

popular usado para se referir a qualquer tipo de carne] (...) nós prefere pegar

o tatu, mas ele é mais difici, aí se tiver um peba ou outro bicho como a rolinha nós pega” (Maza, 28 anos, caçador no município de Sumé)

“teve de tempo que a única coisa que nois comia em casa era o que

vinha das caçada e no tempo que tinha muito peba, era o que nois comia mais” (Lourivaldo Agripino, 77 anos, morador do município de Campina

Grande)

Verificamos que, apesar de constante, a caça de subsistência ocorre mais intensamente

durante determinados períodos, tais como épocas de secas prolongadas. Amir (2006)

encontrou similar situação na Somália, onde constatou que a caça de subsistência é mais

freqüente em épocas de escassez de chuvas ou condições de sazonalidade intensa, e a cadeia

de consumo é extremamente simples e frequentemente envolve apenas o caçador e sua família

(WCS & TRAFFIC, 2004). Por subsistência, nesse estudo, englobamos tanto os usos dos

tatus-peba e verdadeiro para fins alimentares bem como para propósitos medicinais e mágico-

religoso, uma vez que estes itens simbolizam necessidades essenciais aos seres humanos bem

como de elementos arraigadas no repertorio culturais de certos povos. A seguir nós

descrevemos o uso e importância de D. novemcinctus e E. sexcinctus como fontes de alimento

e remédios, incluindo os registros dessas espécies como finalidades mágico-religiosas.

2.4.2.1 Os tatus (peba e verdadeiro) como iguaria gastronômica e seus tabus alimentares

Nois cria peba aqui mermo e abate ainda cedo

A carne é bem macia e é do caba lambê os dedo

Nois limpa e tempera ele cum tempero especiá

Amoqueia numa vazia, tampa bem pra mode descansá

Coloca numa chapa quente no nosso fogo de lenha

Cum manteiga da terra é que faiz a diferença

Serve cum pirê de mandioca, arroi branco e pirão de queijo

Vinagrete, feijão verde e a proteção de São Pedro.

(Cantiga popular do tatu-peba na culinária

narrada pelo Sr. Apolinário, município de Sousa, Paraíba).

Nos últimos anos temos assistido a uma tendência para a exploração excessiva da vida

selvagem nos trópicos, especialmente na África e América do Sul (EVES & RUGGIERO,

2001; MILNER-GULLAND et al., 2003; PERES, 2000; ROWCLIFFE et al., 2005;

SCHENCK et al., 2006; WILKIE et al., 2001). Em conjunto com intensas transformações de

habitat, estas super-explorações representam uma das principais ameaças à biodiversidade

Page 136: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

135

mundial e para as pessoas que dependem dos animais silvestres para sua sobrevivência

(BARRERA-BASSOLS & TOLEDO, 2005; BODMER, 1995; ESCAMILLA et al., 2000;

MILNER-GULLAND et al., 2003; PERES, 2000; ROWCLIFFE et al. 2005).

Nessa pesquisa, observamos a unanimidade das respostas 100% (n = 214) para

apreciação das duas espécies de tatus na culinária regional, com maior preferência a carne dos

tatus verdadeiros (D. novemcinctus) 60,28 % (n=129) em relação aos tatus-peba (E.

sexcinctus) 39,71% (n=85). Foi constatado que esse destaque preferencial aos tatus

verdadeiros deve-se ao fato da população local vincular a qualidade da carne desse animal aos

seus hábitos de alimentação mais seletivos quando comparados aos tatus-peba, de habito mais

generalista, desse modo, acredita-se que estes animais são destituídos de quaisquer tabus

alimentares quando preparados para consumo.

Entre os entrevistados que consumem carne dos tatus-peba (E. sexcinctus) muitos

capturam o animal ainda vivo e os mantêm em cativeiro por períodos de cevagem, os quais

costumam também chamar de “engorda” (Figura 12). Nesse período costumam fornecer

alimentos selecionados e de fácil absorção por prazos que variam entre 30 a 90 dias,

dependendo da idade ou condição física do animal. Além de garantir um maior aumento de

massa aos animais que vão ser abatidos, os informantes alegaram que esse procedimento de

engorda traz melhorias ao sabor da carne e menores efeitos colaterais quando consumidos

uma vez que o conhecido hábito saprófago da espécie provoca a chamada “remosidade” ou

“carne carregada” típica dos tatus-peba.

“eu prefiro carne do verdadeiro do que o peba mode ela ser mais

limpa e mais gostosa. O peba é bom também, mais a do verdadeiro sempre é

mais gostosa” (Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de

Sousa)

“Carne de peba é boa mais tem que ter cuidado com ela, porque o

bixo é sujo e come de tudo que vê pela frente. É muito remosa, mas engordando ele por uns 2 a 3 meis [meses] ela fica melhor e mais limpa”

(Sra Severina Carmo, 42 anos, residente da zona rural de Campina Grande)

Page 137: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

136

“eu prefiro mais a carne do tatu-verdadero, mas como de peba

também quando nois caça (...) as veis me dá furunco [furunculose] e coçera

pelo corpo, mas depois passa” (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede)

Figura 12. Tatus-peba criados em tonéis por um entrevistado do município de Campina Grande.

A prática popular de criação desses animais é impactante, visto que são coletados espécimes da natureza e mantidos em cativeiro até o abate, sem reposição ao ambiente natural.

Durante as pesquisas na cidade de Campina Grande, foi possível presenciar in loco

todos os preparativos para abate e trato culinário de um exemplar de E. sexcinctus por um

caçador veterano onde, na ocasião, dispunha deste animal em cativeiro por cerca de 50 dias de

engorda. Os materiais utilizados são bastante comuns e de simples acesso tais como: bastão de

ferro ou madeira e facas de médio e grande porte (Figura 13A)

A técnica de abate do animal ocorre com fortes pancadas deferidas na região da cabeça

acarretando morte por traumatismo craniano (Figura 13B). Segundo o informante, este

método além de neutralizar e imobilizar o animal imediatamente garante uma morte mais

rápida quando comparado outros métodos tais como perfuração de artérias ou órgãos, os quais

deixariam os animais em estados agonizantes. Muito embora os relatos obtidos soassem de

forma fria e tranqüila, notou-se a intenção do respeito pela vida do animal mesmo que seja

destinado ao consumo humano. Logo após esse procedimento o animal é perfurado na região

da artéria aorta de modo a jorrar o sangue que está no seu corpo. Uma vez expelido grande

quantidade de sangue, iniciar-se a limpeza do animal a partir da desobstrução das glândulas

odoríferas que estão presentes na região dorsal da cintura pélvica da carapaça tanto de machos

como fêmeas desta espécie (Figura 13C). Lava-se em água corrente a fim de remover parte do

substrato a qual fica aderida na pele e casco, em seguida um grande recipiente contendo água

fervente é preparado onde o animal é submergido de modo a retirar a pele e as placas

Page 138: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

137

dérmicas do casco, sendo finalizado com um rápido contato com fogo (nesse caso, fogão a

gás) onde pêlos remanescentes são eliminados (Figura 13D e E).

Em seguida, cabeças, patas e rabo são cortados e separados para algum fim medicinal

ou mágico-religioso ou simplesmente descartados (Figura 13F) e inicia-se a limpeza interna

do animal onde todo o trato digestivo e tecido adiposo sobressalente é descartado ou guardado

para utilizações especiais como em propósitos mágico-religiosos. Depois de totalmente limpo,

o animal pode ser preparado a gosto tanto de forma assada, torrada ou guisada, e servido com

outros acompanhamentos, caracterizando uma iguaria gastronômica regional. Tal preparo

segue o mesmo padrão para os tatus verdadeiros (D. novemcinctus), sendo estes degustados

com mais apreciação quando comparados aos tatus-peba (E. sexcinctus).

Fato curioso relacionado aos tatus-peba está nos tabus alimentares apresentados pelos

informantes das localidades estudadas quando questionados da liberdade de consumo da carne

deste animal por qualquer individuo. A grande maioria 85,04% (n=182) dos informantes,

além de enfatizarem a capacidade de acarretar problemas de saúde após a ingestão da carne,

endossa que pessoas as quais apresentam certas características imunológicas ou físicas

estariam de sobreavisos para o consumo. Problemas como: infecções diversas, cortes,

arranhões, ferimentos, doenças venéreas, inchaços, rouquidão; hepatite, lumbago e mulheres

de resguardo ou no período menstrual estariam inseridos no quadro de restrições para aqueles

que pretendem ingerir dessa iguaria. E apenas uma pequena parcela 10,74% (n=23) afirmou

não haver qualquer restrição para o consumo da carne do tatu-peba, no entanto para outra

minoria 4,2% (n=9) as ressalvas existem para ambas as espécies de tatus.

Constata-se que esses tabus alimentares testemunhados ao longo das visitas nas

localidades estudadas têm origem devido ao hábito onívoro e saprófago dos E. sexcinctus. No

entanto essa característica também pode acontecer aos D. novemcinctus, porém não é

predominante (SCHAEFER & HOSTETLER, 2003). Relatos de óbitos por pessoas que

ingeriram exclusivamente da carne de tatus-peba foram raros, porém presentes 2,8% (n=6).

“um cumpadre meu morreu cinco depois que cumeu um peba (...)

sentiu umas dores nas costas e na bucho [estômago] e num agunetou” (Sr. Francisco de Pádua, 64 anos, residente da zona rural de Sumé)

Page 139: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

138

[email protected];

Figura 13. Registro do preparo de um tatu-peba na culinária do semi-árido paraibano. (A)

Ferramentas usadas no abate e “trato” do animal. (B) Exemplar morto por traumatismo

craniano – detalhe do bastão de ferro usado para abater o animal (C) Limpeza das glândulas

odoríferas, (D) Imersão em aguar fervente, (E) Retirada de pêlos remanescentes através de

fogo, (F) Animal “tratado” e pronto para cozimento. Foto: do autor.

De acordo com a literatura, um modo a justificar esse meme atribuído aos possíveis

efeitos colaterais acometidos aos indivíduos que consomem a carne desses animais ou aos

casos de óbitos humanos relacionados à ingestão desta, têm-se que os Xenarthras de maneira

geral são hospedeiros de alguns protozoários hemoflagelados como, Leishmania sp.

A B

C D

E F

Page 140: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

139

(protozoário causador da leishmaniose) o Trypanosoma cruzi (protozoário causador da doença

de Chagas) e Endotrypanum sp. (SHAW, 1985). Para Dias (2006) a ingestão de carne crua ou

mal cozida dos tatus-peba ou verdadeiro é, inclusive, uma das principais formas de

transmissão de T. cruzi, além disso, em indivíduos sujeitos a fatores imunossupressores a

ingestão desse tipo de carne pode transmitir a toxoplasmose, a zoonose capaz de provocar

aborto ou lesões fetais (NAIFF et al., 1986). Em relação aos tatus (E. sexcinctus e D.

novemcinctus) como são animais de vida livre, estes também podem se infectar com a

leptospirose, doença presente nos roedores, principalmente na ratazana de esgoto, um

importante reservatório. Como a leptospirose penetra pela pele, o simples fato de manusear o

animal já pode transmitir a doença a qualquer individuo (SHAW, 1985).

Dasypus novemcinctus e Cabassous centralis são hospedeiros e/ou reservatórios

naturais de alguns fungos patogênicos dimórficos, como por exemplo, o Paracoccidioides

brasiliensis (agente etiológico da Paracoccidioidomicose ou Blastomicose sul-americana,

micose sistêmica, que acomete principalmente os órgãos linfáticos e pulmões), cujo

isolamento ambiental é difícil, sendo o tatu a única espécie onde se consegue obter o

isolamento deste fungo, facilitando o estudo de sua forma saprofítica (ambiental) (BAGAGLI

et al, 1998; CORREDOR et al., 2004). O tatu verdadeiro, atualmente, é um animal que serve

de modelo experimental para infecção com bacilo de Hansen (Mycobacterium leprae) e há

estudos mostrando que 17% dos indivíduos possuem os anticorpos específicos

(McDONOUGH, 1997), pois a doença se apresenta da mesma maneira que a observada em

humanos, com formação de hansenomas. Pelo fato do bacilo de Hansen não ser cultivável em

laboratório, os tatus são usados experimentalmente para multiplicação desses patógenos,

possibilitando a obtenção de material biológico para o diagnóstico e a pesquisa de vacina para

a doença.

Constatamos que o hábito de caçar e consumir a carne de tatus é bastante comum nas

localidades estudadas. Isto corresponde a uma atividade rotineira nos sertões do Brasil uma

vez que mamíferos terrestres sofrem a pressão de caça, ainda que essa atividade seja ilegal no

país há mais de 35 anos (COSTA et al., 2005). No Nordeste e especificamente no semi-árido

paraibano os tatus-peba e verdadeiro estão entre os animais presentes nos hábitos alimentares

das populações rurais mais apreciados (ver ALVES et al., 2009; MOURÃO et al., 2006;

SILVA, 1993). Muito embora o acesso à carne desses animais seja quase sempre por meio da

caça de subsistência, esse costume está arraigado na cultura dos sertanejos e permanece

tradicionalmente até os dias atuais (PAIVA, 1995; SILVA 1993). Este panorama insere-se na

tendência atual de destruição e sobre-exploração dos recursos biológicos (LUGO-MORIN,

Page 141: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

140

2007), onde as estruturas das comunidades de animais silvestres se tornam afetadas de forma

negativa (GUEVARA et al., 2005; LUGO, 2001; MARES, 1986; MARES & OJEDA, 1984;

MOLINA & BARROS, 2005; OLIVERO et al., 1995; RUIZ, 2004; WHITMORE, 1997;

ZAPATA, 2001).

Além de questões de riscos sanitários, a contínua exploração de animais silvestres para

fins alimentares vem sendo apontada como uma das causas de extinção ou declínio

populacional de várias espécies da fauna silvestre (ALTRICHTER, 2005; CHIARELLO,

2000; FACHÍN-TERÁN et al., 2004; CALOURO & MARINHO-FILHO, 2005; NARANJO

et al., 2004; PERES, 1996; 2000; 2001; REDFORD, 1997; ROBINSON & BODMER, 1999;

THIOLLAY, 2005; THOISY et al., 2005). Nesse âmbito, nós sugerimos que este tipo de

prática venha a ser considerada na perspectiva de planos de manejo e conservação de Dasypus

novemcinctus e E. sexcinctus, já que o consumo gastronômico dessas espécies indica ser uma

atividade culturalmente disseminada no semi-árido do Estado da Paraíba e, muito

provavelmente, nas demais áreas do semi-árido Nordestino onde esses tatus ocorrem.

2.4.2.2 Os tatus como seres medicinais e mágico-religiosos na percepção dos povos do

semi-árido paraibano

“já usei banha de tatu [E. sexcinctus] pra tratar asma de um minino

meu e ele recupero-se bem” (Sr. Arnaldo, 46 anos, residente na zona rural de São Mamede)

“rabo de peba ou de verdadeiro é muito bom pra cutucar ouvido com

moquidão (...) inveiz [ao invés] de colocar pumada ou remédio de farmácia pode colocar o rabinho dentro do ouvido e deixá por uns 3 minuto que

passa” (Sra. Fátima, 65 anos, moradora da zona rural de Campina Grande)

“em casa tem uns rabo de peba pendurado (...) é bom pra espantar qualquer tipo de inseto [inseto aqui é apontado como todo e qualquer

animal peçonhento]” (Sr. José Quirino, 45 anos, residente na zona rural de

Sousa)

Diferentes povos têm usado a fauna ao longo dos séculos para fornecer carne, roupas,

medicamentos tradicionais e ornamentos, além de os abaterem para uso na proteção de

plantações e rebanhos (HAPPOLD, 1995). Documentos sobre o uso medicinal de animais

começaram a surgir juntamente com a invenção da escrita. Arquivos, papiros, e outras fontes

de registros históricos onde abordaram a pratica médica mostraram que os animais, e suas

partes ou subprodutos, eram comumente utilizados como remédios (LEV, 2003).

Page 142: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

141

Atualmente, os recursos faunísticos desempenham um papel significante nos processos

de cura e em rituais mágicos em todos os continentes (COSTA-NETO & MARQUES, 2000).

As populações tribais ou rurais têm uma ampla farmacopéia composta de plantas e animais

silvestres e, mesmo atualmente, elas dependem [em maior ou menor grau] do sistema

tradicional de cura para seus cuidados primários da saúde (JAIN et al., 2007). Nesse contexto,

a Organização Mundial da Saúde estima que 80% das pessoas no hemisfério Sul fazem uso da

medicina tradicional (ALCORN, 1995; WHO, 1993).

A cura de doenças humanas por meio do uso de remédios derivados de animais ou

partes deles é conhecida como zooterapia (COSTA-NETO, 2005). Nas sociedades modernas

esta prática constitui uma importante alternativa entre muitas outras conhecidas e praticadas

no mundo (ALVES & ROSA, 2005). Não obstante, o uso de animais para fins medicinais tem

sido mais frequentemente estudada nos últimos anos no Brasil (ver ALVES & ROSA, 2006,

2007a, b, ALVES et al., 2007; ALVES, 2009; BARBOZA et al., 2007; MOURA &

MARQUES, 2008). Pelo menos 290 animais são explorados para propósitos terapêuticos no

país (ALVES, 2008), sendo que na região Nordeste, 250 animais foram registrados para estes

fins (ALVES, 2009).

Na farmacopéia brasileira os tatus (peba e verdadeiro) foram previamente registrados

tanto para uso medicinal quanto mágico-religioso (ver ALVES & ROSA, 2006, 2007a,b;

ALVES, 2009; BRANCH & SILVA, 1983; COSTA-NETO, 1999a,b, 2000). Em nosso estudo

constatamos que o uso de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins medicinais e mágico-

religioso nas áreas estudadas foi de significativa importância, correspondendo, no caso

específico do tatu-peba, as categorias de exploração mais importantes após o uso para

subsistência (ver Tabela 7).

D. novemcinctus e E. sexcinctus são usados para o tratamento de 10 condições ou

doenças: Asma, dor de ouvido, ferimentos, furunculoses, mouquidão, nariz entupido, picadas

de insetos, reumatismo, varizes e verrugas. Houve ainda registros significantes do uso dessas

espécies para dois fins mágico-religiosos: proteção contra “mau olhado” e como oferendas a

deidades em atividades de caça

A Tabela 8 sumariza os usos medicinais e mágico-religiosos do tatu-peba e verdadeiro

nas localidades estudadas. Com o objetivo de dimensionar quais tipos de doenças ou usos

mágicos são mais empregadas as espécies citadas, separamos as informações por município e

Nível de Fidelidade de cada uso. Quanto maior o Nível de Fidelidade, maior a importância o

uso de uma espécie para aquela finalidade particular.

Page 143: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

142

Destacando-se os níveis de fidelidades para cada localidade, os dados demonstram que

tanto o rabo de E. sexcinctus (Figura 14) quanto o de D. novemcinctus são frequentemente

usados no tratamento de mouquidão, exceto em São Mamede e em Sousa. Nas cidades de

Campina Grande e Sumé o NF para o uso do rabo de tatu-peba para tratar esta enfermidade

foi extremamente alto, 60 e 65,22%, respectivamente. Outros autores igualmente registraram

o emprego dessas espécies como terapêuticas para esta condição, a exemplo de Alves e Rosa

(2007a), Alves et al. (2007), Costa-Neto (1999a, b), o que indica que este uso possivelmente é

disseminado em todo o Nordeste brasileiro.

Embora ainda não documentado na literatura, o uso de banha/sebo desses tatus no

tratamento de reumatismo foi significante, sobretudo em Campina Grande e Sumé, onde as

banhas de D. novencinctus e de E. sexcinctus foram bastante lembradas pelos moradores

locais (NF=46,67% e 47,83%, respectivamente) (Figura 15). Outros registrados que não

haviam sido previamente documentados foi o uso de banha de D. novemcinctus para

tratamento de furunculoses e obstrução nasal; a utilização da banha de E. sexcinctus para

picadas de insetos, além do sangue deste animal empregado no tratamento de varizes e

verrugas no município de São Mamede. À maioria dos entrevistados (n=87) que usam tatus-

peba e verdadeiro como zooterapêuticos alegaram que esses correspondem a fontes de

medicamento eficazes no tratamento das enfermidades por eles listadas, a exemplo das

declarações abaixo:

“A banha do pebinha é o melhó remédio pra quando um bicho

[inseto] morde a pessoa” (Sr. Josafá, 57 anos, morador do município de São

Mamede).

“Pra junta dura [reumatismo] não tem outra. Derrete a banha do

peba e passa em cima” (Sr. Antônio Domiciano, 62 anos, morador do município de Monteiro).

“A banha do verdadeiro só é boa mesma pra furuncú [furúnculos]”

(Sr. Jakson Moura, 46 anos, residente na zona rural do muncípio de Sousa)

Page 144: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

143

Figura 14: Rabo de um tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé para

tratamento de mouquidão.

Figura 15: Amostra do sebo tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé

para tratamento de várias enfermidades, sobretudo para reumatismo

Page 145: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

144

Tabela 8. Usos medicinais e mágico-religiosos de E. sexcinctus e D. novemcinctus

Município Espécie

Finalidades de

usos Partes usadas Nº de informantes

Nº total de informantes

que usam a espécie

para fins medicinais NF (%)

CAMPINA

GRANDE

E. sexcinctus MOUQUIDÃO RABO 36

60,00

REUMATISMO BANHA 24

40,00

ASMA BANHA 16 60 26,67

MAU OLHADO RABO 26

43,33

D. novemcinctus MOUQUIDÃO RABO 29

48,33

REUMATISMO BANHA/SEBO 28

46,67

ASMA BANHA 9

15,00

MAU OLHADO RABO 34

56,67

MONTEIRO

E. sexcinctus REUMATISMO BANHA 5

38,46

MOUQUIDÃO RABO 7

53,85

FURUNCULOSE BANHA 2 13 15,38

ASMA BANHA 2

15,38

MAU OLHADO RABO 7

53,85

OFERENDA A

ENTIDADES RABO 1

7,69

D. novemcinctus REUMATISMO BANHA 1

7,69

MOUQUIDÃO RABO 4

30,77

FURUNCULOSE BANHA 3

23,08

NARIZ ENTUPIDO BANHA 2

15,38

MAU OLHADO RABO 6

46,15

OFERENDA A

ENTIDADES RABO, PATAS 4

30,77

Page 146: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

145

SUMÉ

MOUQUIDÃO RABO 15

65,22

ASMA BANHA 6

26,09

E. sexcinctus NARIZ

ENTUPIDO BANHA 3 23 13,04

REUMATISMO BANHA/SEBO 11

47,83

PICADA DE

INSETO BANHA 8

34,78

PROTEÇÃO

MAU OLHADO RABO; UNHAS 12

52,17

D. novemcinctus MOUQUIDÃO RABO 9

39,13

NARIZ

ENTUPIDO BANHA 4

17,39

REUMATISMO BANHA 9

39,13

FERIMENTOS SEBO 2

8,70

PROTEÇÃO

MAU OLHADO RABO; UNHAS 8

34,78

USO COMO

OFERENDA RABO 8

34,78

SÃO MAMEDE

E. sexcinctus MOUQUIDÃO RABO 3

16,67

ASMA BANHA 5

27,78

NARIZ ENTUPIDO BANHA 5

27,78

REUMATISMO BANHA 5

27,78

PICADA DE

INSETO BANHA 8

44,44

DOR DE

OUVIDO SEBO/BANHA 8 18 44,44

VARIZE SANGUE 11

61,11

VERRUGA SANGUE 11

61,11

FURUNCULOSE BANHA 2

11,11

Page 147: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

146

PROTEÇÃO

MAU OLHADO RABO 14

77,78

D. novemcinctus ASMA BANHA 2

11,11

REUMATISMO BANHA 4

22,22

MOUQUIDÃO RABO 4

22,22

FURUNCULOSE BANHA 1

5,56

MAU OLHADO RABO 7

38,89

OFERENDA PATAS 4

22,22

SOUSA

E. sexcinctus MOUQUIDÃO RABO 4

17,39

REUMATISMO BANHA 7

30,43

ASMA BANHA 2

8,70

FURUNCULOSE SEBO/BANHA 5 23 21,74

FERIMENTOS SEBO 8

34,78

MAU OLHADO RABO 21

91,30

D. novemcinctus MOUQUIDÃO RABO 2

8,70

REUMATISMO BANHA 3

13,04

ASMA BANHA 1

4,35

MAU OLHADO RABO 8

34,78

OFERENDA RABO/PATAS 5 21,74

Page 148: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

147

É importante notar que por trás da eficácia desses medicamentos percebida pelos

usuários, a popularidade dos remédios derivados de animais é influenciada por aspectos

culturais, e as relações entre humanos e a biodiversidade na forma de práticas zooterapêuticas

é condicionada por relações sociais e econômicas entre humanos (ALVES et al., 2008).

Confirmando este fato, percebe-se que a renda de todos os entrevistados nesse estudo é

considerada baixa e a maioria (n=76) declararam que tinham acesso precário aos sistemas

públicos de saúde. Aliado a essa questão sabe-se que os tatus são popularmente caçados no

Brasil para diversos fins, além de serem parte do imaginário cultural de vários povos

americanos (cf. COSTA-NETO, 2000; MEDRI, 2008) o que possivelmente favorece a

exploração de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins medicinais.

Do ponto de vista farmacológico, é necessário destacar a importância da validação

científica dos efeitos desses remédios antes que eles possam ser recomendados para o uso.

Mais pesquisas são essenciais para estabelecer se tais usos medicinais de D. novemcinctus e

E. sexcinctus tem complicações adversas em longo prazo. Por outro lado é importante o

registro do conhecimento do uso de animais medicinais, uma vez que de acordo com a ONU

(2002) mais da metade das drogas modernas do mundo são derivadas de recursos biológicos,

ao passo que substâncias derivadas de 90 espécies são usadas mundialmente.

Além do papel na cura, produtos naturais frequentemente têm significância mágico-

religiosa, refletindo as diferentes visões de saúde e doença que existem dentro de diferentes

culturas (ALVES et al., 2008), ou mesmo expressando simbologicamente as relações dos

indivíduos com divindades de diferentes credos. O uso do rabo de tatus como amuleto de

proteção contra “mau olhado” foi algo constantemente registrado em todos os municípios

estudados (Figura 16A e B). De alguma maneira, esse fato aparenta estar associado com a

cultura local o que justifica um Nível de Fidelidade elevado em todos os municípios, sempre

acima de 30% e atingindo 91,30% em relação ao uso de E. sexcinctus para este fim no

município de Sousa. Alves e Rosa (2006, 2007a) constataram que o rabo de tatu peba é

considerado como amuleto na proteção de “olho gordo” no Estuário do Rio Mamanguape,

Paraíba e no município de Raposa, Maranhão. Outro uso mágico foi relatado em todos os

municípios, exceto em Campina Grande, foi o uso de patas e do rabo como oferendas para

“cumadre fulozinha” (Figura 17) uma deidade da cultura do Nordeste brasileiro, considerada

protetora da fauna e da flora. As oferendas são realizadas antes do início da atividade de caça

dos tatus, almejando uma boa captura das espécies.

Page 149: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

148

Figura 16. Rabos de tatus-peba e verdadeiros usados na proteção de residências contra “mau

olhado”. (A) Fotografia do telhado de uma casa de um entrevistado no município de

Monteiro. (B) Fotografia de rabos de peba e verdadeiro presos a um móvel doméstico, local:

Campina Grande, Paraíba. Fotos: do autor.

Figura 17. Patas de tatu-peba usados em oferendas a deidades (“cumadre fulozinha”). Local

da foto: município de Sumé, foto: do autor.

A

B

Page 150: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

149

A observação anterior está em concordância com as fornecidas por Alves et al. (2007)

o qual apontou que a medicina tradicional brasileira está frequentemente associada com

sistemas de crenças locais de simpatias e, estas crenças podem ter diferentes implicações na

maneira pela qual as espécies animais são usadas e as tradições da comunidade.

De acordo com Mello e Souza (1975), a magia, a medicina, as simpatias, a invocação

divina, a exploração da fauna e da flora e os conhecimentos agrícolas fundem-se de modo

único em um sistema que abrange, na mesma continuidade, o campo, a mata, a semente, o

animal, a água e o próprio céu. Aqueles autores ainda afirmam que “dobrado sobre si mesmo

pela economia de subsistência, encerrado no quadro dos agrupamentos vivinais, o homem

aparece ele próprio como segmento de um vasto meio, ao mesmo tempo natural, social e

sobrenatural”.

Paradoxal é a importância das espécies de animais usadas para fins medicinais ou

mágico-religiosos, na descoberta de novas drogas ou na elaboração de terapias que

possibilitem a cura ou bem-estar das pessoas, desse modo o uso de recursos faunísticos tem

consequências diretas sobre a conservação da biodiversidade. Das espécies zooterapêuticas

utilizadas na medicina tradicional brasileira, 71 estão listadas na Lista Vermelha da IUCN e

outras 54 estão ainda listadas na CITES. No caso específico de D. novemcinctus e de E.

sexcinctus, embora estes não estejam sobre risco preocupante de extinção, faz-se necessário

que este tipo de prática seja inserido em estratégias que visem a um uso sustentável dessas

espécies nas áreas estudadas, visto que a medicina tradicional é um dos importantes usos da

biodiversidade (CELSO, 1992) e pode contribuir para que espécies silvestres se tornem

ameaçadas (cf. ALVES et al., 2007; ASHWELL & WALSTON, 2008; FENG et al., 2009).

De acordo com os entrevistados, sempre que se fizesse uso de um tatu-peba ou

verdadeiro para fins medicinais o espécime era morto a fim de se extrair a parte do animal

com interesse na produção do remédio almejado. Segundo Alves e Rosa (2006) os impactos

de práticas zooterapêuticas sobre as populações da área estudada deve ser cuidadosamente

avaliadas, particularmente nessas condições onde a obtenção de produtos deriva de animais

mortos. Nesse contexto, Almeida e Albuquerque (2002) apontam para a necessidade do

aumento da sensibilização acerca da utilização sustentável dos remédios tradicionais

derivados de animais.

Page 151: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

150

2.4.2.3 Caça Recreacional

A caça de lazer ou recreacional possui uma diversidade de sinônimos. Segundo a

IUCN (2006), há dois grupos básicos de caça recreacional: a primeira representada por termos

como “caça de conservação”, “caça turística” e “caça de troféu” que se distingue de uma

segunda categoria cuja caça é estritamente voltada para o amadorismo com pouca

infraestrutura formal, essa sendo objeto deste estudo.

As relações entre caça de lazer e conservação da biodiversidade são alvos de polêmica.

A caça de lazer intensa pode perturbar populações silvestres, ameaçando sua sobrevivência

(DURIEZ et al., 2005; KEANE et al., 2005; TAMISIER et al., 2003); pode ser fonte de

contaminação (GRANDLIC et al., 2006; GUITART et al., 2002; MATSUDA, 2003) e pode

motivar a introdução de espécies exóticas invasoras (JESCHKE & STRAYER, 2006;

ZACCAGNINI, 2002). Por outro lado, a caça de lazer é uma forma de manejo de populações

abundantes (BONINO, 1986; DAVIDSON & FRASER, 1991) e dessa maneira motivou a

criação de áreas protegidas, refúgios de vida silvestre e aporte de fundos para programas de

conservação (GRAF & WADSACK, 2002; OLDFIELD et al., 2003).

Pessoas têm a caça como um esporte há milênios (CHARDONNET et al., 2002) e,

ainda hoje a caça recreativa tradicional desempenha um papel importante em muitos países

(KALCHREUTER, 1984). Em diversos lugares como a África, a Europa e a América do

Norte esta atividade adquiriu um grau avançado de exploração e, nestes locais esta atividade é

um sub-setor da indústria do turismo e desempenha um importante papel para alguns países e

sociedades, enquanto sofre oposição em outras (CHARDONNET et al., 2002). No Brasil,

entretanto, a caça para fins recreacionais ainda padece de investigação (GUADAGNIN et al.,

2007). Tal atividade não é claramente regulamentada neste país, sendo necessária, talvez, uma

revisão da legislação, sobretudo na lei 5197/67 a qual dispõe no artigo 1º -§ 1º e no artigo 11

de brechas para a execução da prática da caça recreacional, amadorística ou esportiva.

Embora não permitida por lei, constatamos que a caça recreacional de D.

novemcinctus e E. sexcinctus é uma prática relativamente comum nas áreas estudadas e, para

esta última espécie, é uma atividade exploratória a qual é superada, baseado no nível de

fidelidade (Ver Tabela 7), pelo uso da caça para fins alimentares, medicinal e mágico-

religioso. Os depoimentos abaixo mostram como a caça de tatu é uma atividade considerada

lúdica e frequente para os caçadores:

Page 152: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

151

“pra mim eu gosto de caçar mode [porque] eu disopilo (...) tem

muito tatu difícil de pega, esses eu ainda guardo ou o rabo ou o casco” (Sr.

Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede)

“quando dá eu vou caçar numas terras [propriedades particulares]

por ali e só volto depois de achar uns bixos [tatus] bons de peleja

[perseguição]. (Sr. Severino Santos, residente da zona rural de Sumé)

“antigamente, todo fim de semana eu ia caçar com um irmão e um

primo e nois sempre competia pra quem pegasse o primeiro verdadeiro (Edvânia Gurjão, 19 anos, residente na zona rural de Campina Grande)

A maioria dos entrevistados (n=48) afirmou preferir caçarem sozinhos ou com no

máximo outro colega a fim de evitar possíveis conflitos na distribuição dos benefícios da

caça, como demonstrado nos depoimentos abaixo:

“Nois caça de dois ou três, e sempre parente ou colega” (Sr. Claudio,

44, residente na zona rural de Campina Grande).

“Quem caça só prefere caçar em dupla ou só. Quando caçava só era

sozinho porque sempre acontecia de se desentender na hora de dividir” (Sr.

Genival Caldas, 50 anos, residente da zona rural de Sumé).

“Eu só caço só (...) eu fico mais à vontade pra pegar o bixo que

quiser e quantos eu quiser” (Sr. Mario, 33, residente da cidade de Monteiro)

Idêntica situação foi registrada por Léon e Montiel (2008) em estudo sobre a caça na

península de Yucatán, México. Altrichter (2006), constatou que os caçadores rurais da região

do Chaco, semi-árido argentino, geralmente caçam sozinhos ou com membros de sua família

de maneira amadoristica e quando não dispunham a caça no local de abate à carne da mesma

era partilhada pelo caçador e seus dependentes. Justificar o porquê grande parte dos caçadores

de tatus dão preferência a realizar a caça recreacional (11,21%, n=24) sozinhos ou com

poucos companheiros adentra em outra esfera: a caça comercial. O fato de capturar poucos

exemplares de tatus após uma caçada recreacional pressupõe a divisão dos lucros da venda de

espécimes de E. sexcinctus e D. novemcinctus. Torna-se difícil precisar quando uma caça é

apenas recreacional, para a subsistência, ou ainda para fins comerciais. Mas de um modo

geral, quando são capturados mais de um tatu em uma caçada, um exemplar é degustado pelos

participantes da “aventura”, ao passo que o outro é levado para a comunidade/cidade onde é

vendido a terceiros, ou mesmo mantido em cativeiro para venda posterior. A questão da caça

comercial de tatus é marcante, em especial a caça de D. novemcinctus o qual, devido às

Page 153: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

152

dificuldades de captura, possui um preço de venda superior ao de E. sexcinctus, sendo uma

espécie cobiçada por caçadores do semi-árido do Estado da Paraíba.

2.4.2.4 A Caça de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins Comerciais

“por aqui tem como comprar fácil. Se você quiser um peba eu

consigo, se você quiser um verdadeiro eu consigo também” (Sr. Josias Caldas, 46 anos, residente do Município de Sousa)

“tem caçador por aqui que aceita encomenda e vende pro pessoal aí (...) antigamente o povo encontrava inté nas feiras, mas hoje é proibido (...)

quem quer basta ter interesse e dinheiro na mão” (Sr. Francisco Luis, 52

anos, residente da cidade de Monteiro)

Nos últimos anos, houve uma progressiva e importantes transições das atividades

cinegéticas de subsistência para aquelas com propósitos comerciam, essencialmente devido ao

aumento da densidade populacional humana, a modernização das técnicas de caça e uma

maior acessibilidade as remotas áreas silvestres (FA & GARCÍA YUSTE, 2001; WILKIE &

CARPENTER, 1999). De acordo com Bisbal E. (1994), a caça para obtenção de alimento

diário deriva a caça comercial. Esta pode ser de diferentes formas e escalas, desde o ganho

excedente proveniente de uma caça para a subsistência, até a exploração comercial organizada

de certas espécies para a obtenção de carne, peles, chifres, ou mesmo animais vivos

(CHARDONNET et al., 2002).

A caça de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins de comércio nas áreas estudas é

considerada pelos caçadores da região como uma forma de obtenção de renda complementar

para os mesmos e seus dependentes.

“tem gente que caça aqui pra ajudar a inteirar o mês sabe [renda

extra ao salário]. Em época de muito peba, tem muitos [caçadores] que

vende e no tempo que tem pouca gente caçando mode [devido] a

fiscalização vendem caro. (Sr. Alcides José, 65, residente da zona rural de Campina Grande).

“quando eu pego de dois ou três eu sempre fico com um e vendo

os dois, ou crio em casa, engordo e vendo (...) O verdadeiro é sempre mais pedido” (Sr. Maza, 27 anos, residente do município de Sumé).

A caça comercial de tatus-peba e verdadeiros mostrou ser uma prática oportunística e

crescente uma vez que, segundo declarações dos próprios entrevistados, a carne desses

animais possui uma excelente aceitação entre os sertanejos, e nesta perspectiva, os tatus

verdadeiros são tidos, segundo 129 entrevistados (60,28%), como os mais requisitados para

Page 154: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

153

consumo. Este cenário torna-se particularmente preocupante, uma vez que, segundo Fa et al.

(1995) a caça comercial oferece um significativo incentivo monetário à população rural e,

desta maneira, exerce uma gradual pressão sobre as populações das espécies estudadas.

O real valor comercial de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido paraibano é

de difícil cômputo devido ao grande mercado informal e ilegal desses animais assim como a

inexistência de registros confiáveis de tal atividade. Associado a esta questão, percebeu-se

durante a atividade de campo que muitos moradores locais realizaram ou realizam o comércio

de tatus, mas esquivaram-se de ceder mais informações com receio de serem punidos por

órgãos como IBAMA. É provável que a prática comercial desses animais seja superior ao

hábito de uso delas para fins medicinais, apesar de que, em vias gerais, nossos resultados (ver

Tabela 7) não indiquem isso.

Adicionalmente, Reading et al. (1998) destaca que as análises sobre existência de

comércios clandestinos fornecem apenas uma indicação aproximada do que possa existir

atualmente. De acordo com estes autores, as atividades de caça podem muito bem ter

variações de ano para ano, sendo assim, a demanda por animais pode acompanhar períodos de

abundância ou escassez.

Contudo, foi possível determinar variações de valores comerciais para ambas às

espécies em cada localidade, como mostra a tabela abaixo.

Tabela 9. Valores para comércio de tatus-peba e verdadeiro registrados em cada localidade

Baseado nos dados acima percebe-se que tanto E. sexcinctus quanto D. novemcinctus

são importantes na obtenção de renda extra por parte dos moradores dos municípios

avaliados, sobretudo o tatu verdadeiro, cujo preço médio sempre foi acima do preço cotado

para o tatu-peba e, segundo 44 entrevistados, o valor para venda do tatu verdadeiro era acima

de R$ 40,00 o que, em junho de 2008, correspondia a quase 10% do valor do salário mínimo

brasileiro vigente a época (R$ 465,00). Relacionando esta informação ao perfil

socioeconômico dos entrevistados, percebe-se a significativa importância desses números,

Cidade

E. sexcinctus D. novemcinctus

Preço (R$) Preço (R$)

Mínimo Máximo Mínimo Máximo

Campina Grande R$ 15,00 R$ 25,00 R$ 15,00 R$ 40,00

Monteiro R$ 10,00 R$ 30,00 R$ 20,00 R$ 40,00

São Mamede R$ 15,00 R$ 20,00 R$ 15,00 R$ 40,00

Sousa R$ 15,00 R$ 20,00 R$ 20,00 R$ 50,00

Sumé R$ 20,00 R$ 25,00 R$ 20,00 R$ 35,00

Page 155: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

154

uma vez que a maioria (n=148) possuía renda de até dois salários mínimos no período de

realização do presente estudo e, muitas vezes, essa quantia correspondia a própria renda

familiar.

Os dados anteriores corroboram com o estudo realizado por Freitas et al. (2006) sobre

o tráfico de animais no Brasil, onde constata que comércio ilegal de animais silvestres está

associado a problemas culturais, de educação e pobreza e à falta de opções econômicas. Esta

prática é a terceira maior atividade ilícita do mundo, sendo suplantada apenas pelos tráficos de

armas e de drogas (RENCTAS, 2003).

Mediante o exposto, sugerimos que as análises sobre as atividades de caça comercial

podem fornecer uma oportunidade para pesquisas onde tragam indicadores de tendências reais

de populações silvestres ou endêmicas, além de sugerir quais espécies requerem análises mais

rigorosas sobre suas densidades populacionais. Os resultados indicam que há uma necessidade

ampla de elaboração de estratégias alternativas de geração de renda para aqueles que praticam

o uso comercial de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido paraibano.

2.4.3 Implicações para um manejo sustentável de D. novemcinctus e E. sexcinctus

Devido o crescimento populacional, as melhorias nos sistemas de transporte, a

exploração descontrolada da biodiversidade, as práticas de caça para subsistência e o consumo

de carnes de animais silvestres, o comércio de animais têm aumentado consideravelmente a

qual acompanha essa demanda acarretando níveis insustentáveis (BAKARR et al., 2001),

mesmo em âmbito local.

No caso específico do D. novemcinctus e E. sexcinctus ambas as espécies são listadas

como “LC” Least concern na Lista vermelha da IUCN (IUCN, 2008), ou seja, são espécies

que não se encontram ameaçadas. A justificativa fornecida para esta baixa preocupação de

ameaça dessas espécies está na ampla área de distribuição das mesmas, a tolerância de

alterações de habitat e a suposta ausência de declínio da população desses animais (AGUIAR,

2004; IUCN, 2008). Contudo, isto não impede que em nível local D. novemcinctus e E.

sexcinctus estejam sofrendo impactos severos podendo acarretar extinções em áreas

específicas. Não obstante, os entrevistados desse estudo afirmaram que o tatu verdadeiro é,

atualmente, de difícil obtenção, não sendo mais encontrado em determinados áreas dos

municípios de Monteiro e São Mamede. Esta realidade foi constatada localmente em visitas

realizadas nas áreas de estudo com caçadores nativos.

Page 156: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

155

“Tatu verdadeiro por aqui tá muito difícil de encontrar. Acho que

esses bixos tão perto de se acabar” (Sr. Mario, 33, residente da cidade de

Monteiro).

“(...) tá difícil de conseguir verdadeiro por aqui. Quem pega anda

muito e quem tem pra vender é muito caro” (Sr. Damião, 58 anos, residente

da cidade de São Mamede)

A exploração tradicional dessas espécies certamente foi intensificada após a ocupação

européia no Brasil, haja vista que os tatus, considerados como uma das melhores “caça do

mato”, eram pratos muito apreciados e constituíam importante fonte de proteínas para os

brancos, porque a abundância deles supria a falta dos diversos tipos de gado cuja criação

começava a ser implantada (MESGRAVIS & PINSKY, 2000). A intensificação da caça

desses animais também ocorreu pelo fato de que os europeus trouxeram dois elementos que

aumentaram a eficiência [impacto] da caça a qual foram também assimilados pelos indígenas:

o uso de cães e as armas de fogo (MELATTI, 1994).

Semelhante ao estudo de Alves et al. (2009) sobre as técnicas usadas por caçadores no

município de Pocinhos, Estado da Paraíba, independente do método usado na captura das

espécies de xenarthras aqui estudadas, a maioria das atividades de caça implicam no uso de

armas de fogo. O uso difundido desse tipo de artefato, o qual é mais eficiente que outros

métodos tradicionais são ainda mais impactantes, pois não é seletista quanto ao tamanho e ao

tempo de vida da presa.

A crescente dificuldade de se capturar os tatus (acima citados), em especial D.

novemcinctus, pode estar refletindo apenas os impactos locais que as populações desses

animais têm sofrido ao longo de séculos. Torna-se necessário, portanto, a realização de

estudos precisos de dinâmica populacional de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido

paraibano.

Similar aos resultados obtidos por Kellerts (1978), porém contrapondo-se aos

impactos gerados, os caçadores entrevistados nesse estudo exibiram certo interesse e afeição

pela vida silvestre, assim como uma preocupação quanto à possibilidade de desaparecimento

de tatus verdadeiro nas áreas estudadas:

“Daqui a uns tempo, encontrar tatu nessas banda [região] vai

ser como uma gota d‟água no mar (Elenildo J. Torres, 25 anos,

município de Sumé-PB)

Page 157: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

156

A conservação necessita envolver programas que afetem o sustento das comunidades

locais (HOLMERN et al., 2004). Considerando que pouca atenção tem sido dada ao uso social

da biodiversidade no Brasil, estudos que englobam o conhecimento tradicional a respeito do

uso de animais e sua importância para os grupos humanos devem ser realizados de modo a

conduzir mais adequadamente a exploração dos recursos naturais e, desta forma, contribuir

para sua conservação e para que as futuras gerações possam conhecê-los e gerenciá-los

(COSTA-NETO, 1999a).

Nessa perspectiva, nosso estudo, a qual abordou tanto a percepção dos povos do semi-

árido paraibano sobre a etnoecologia dos D. novemcinctus e de E. sexcinctus (primeira parte),

quanto o conhecimento local sobre a caça tradicional dessas espécies (segunda parte),

constituem ferramentas que devem ser inseridos em futuros programas de manejo sustentável

desses animais. Como exemplo a ser seguido, sugerimos o trabalho desenvolvido por Maass

(1999) na Guatemala, onde o conhecimento ecológico tradicional de caçadores locais foi

utilizado juntamente com o conhecimento científico na elaboração de um calendário

indicando as restrições temporais para as práticas de caça. Ainda segundo este autor,

integrando as informações sócio-econômicas com as ecológicas para combinar dados

qualitativos e quantitativos, pode fornecer novas perspectivas sobre a conservação da natureza

e usos sustentáveis de seus recursos.

No caso especifico de E. sexcinctus, há ainda possibilidades da criação dessa espécie

em cativeiro, uma vez que estes indivíduos apresentam: capacidade de se reproduzir em

cativeiro, hábito gregário, poligamia, prolificidade, precocidade, docilidade, período de

gestação curto e outros atributos biológicos desejáveis à domesticação, tornando-se possível

mitigar os efeitos da intensa exploração da mesma.

Uma sugestão seria transformar caçadores em criadores devidamente credenciados e

registrados. Tomando como exemplo um manejo de cutias atualmente realizado do Estado do

Rio Grande do Norte, onde o CEMAS em parceria com a AACC (Associação de Apoio às

Comunidades de Campo), uma organização não-governamental, estão fornecendo aos colonos

um par de matrizes e um macho de cutias, para serem criadas em cativeiro e estes, por sua

vez, se comprometem após um ano a devolverem o mesmo número de animais, de modo a se

tornar rotativo o empréstimo das matrizes e do reprodutor de cutias.

Os modelos acima apenas ilustram apenas algumas das ações prioritárias que

poderiam ser aproveitadas nas áreas em questão, no entanto, outros modelos foram sugeridos

por Velloso et al. (2004) para o bioma caatinga, as quais incluem: o incentivo à implantação

de criadouros comunitários (cooperativas) de animais silvestres (exemplos: caititu, preá,

Page 158: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

157

arribaçã, mocó, ema, peixes e outros escolhidos a partir de estudos); Identificação de

atividades alternativas como fonte de proteína e de renda, assim como a capacitação das

comunidades para executá-las. Nesse diapasão, esses exemplos são amostras de o quão

possível é interagir conhecimento tradicional dos moradores locais com seus modos de

subsistência e a caça de animais silvestres. Motivo pelo qual poderão prover uma base na

elaboração de um futuro plano de manejo local dos tatus-peba e verdadeiro no semi-árido da

Paraíba.

Page 159: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

158

2.5 Conclusões

A riqueza do conhecimento local foi notadamente demonstrada ao longo de toda a

experiência de campo, revestida por detalhes intrínsecos as atividades cinegéticas, e que em

alguns casos não podem ser corroborados com o conhecimento científico, por falta de

informações na literatura. O emprego de armas de fogo em associação a cães foi à técnica de

caça mais relatada e empregada pelos caçadores das cinco localidades estudadas, e com maior

índice de eficácia quando comparado a outras técnicas de caça como as armadilhas.

Verificou-se uma supervalorização aos cães destinados a caça especifica de tatus (peba

e verdadeiro) os quais podem chegar a valores de venda bastante elevados, o que pode,

inclusive, sugerir um comércio clandestino desses cães. Os caçadores exercem um

treinamento intenso com os cães desde muito jovens, o que condiciona esses animais a terem

aptidões para a caça mais rapidamente.

Tanto o tatu-peba (E. sexcinctus) como o tatu verdadeiro (D. novemcinctus) possuem

consideráveis finalidades de usos por moradores do semi-árido da Paraíba, onde se destaca o

maior Nível de Fidelidade dessas duas espécies na gastronomia local com (NF=100% para

ambas as espécies) para uso medicinal (NF=14,95% para D. novemcinctus e 37,85% para E.

sexcintus) e mágico-religioso (NF=13,08% para D. novemcinctus e 30,37% para E. sexcintus).

Além disso, essas duas espécies são usadas para o tratamento de 10 condições ou doenças:

Asma, dor de ouvido, ferimentos, furunculoses, mouquidão, nariz entupido, picadas de

insetos, reumatismo, varizes e verrugas. Bem como proteção contra “mau olhado” e como

oferendas a deidades em atividades de caça.

Apesar da noção das proibições de porte ilegal de armas de fogo e para o exercício da

caça de animais silvestres no Brasil, constata-se que, na maioria das vezes, os caçadores não

cumprem as normas ou leis para exercerem a caça nas regiões estudadas. Tal pratica ocorre de

livre vontade por parte daqueles que usam dessas atividades cinegéticas, seja para subsistência

ou para comércio. A caça para subsistência foi à principal justificativa para o desempenho

desta atividade, e no que se refere ao comércio desses animais, esta se destaca como sendo

uma forma complementar de renda aos que caçam os tatus (peba e verdadeiro) ou mesmo para

os que capturam e criam-nos em condições de cativeiro. Identificou-se, inclusive, registros de

práticas voltadas à caça recreativa, o que implica, necessariamente, no aumento das pressões

antrópicas exercida as populações desses animais nas áreas de ocorrência.

Page 160: A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus ...

159

2.6 Referências

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173

APÊNDICE

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO

ROTEIRO DAS ENTREVISTAS

1 – Quais tipos de Tatus existem na região?

2 – Como você os chama? Quais seus nomes?

3 – É fácil diferenciá-los?

( ) SIM ( ) NÃO

4 – Quais são as principais diferenças entre

eles?

a) Tatu peba * TAMANHO

* PESO

* COR

* DENTIÇÃO

b) Tatu Verdadeiro * TAMANHO

* PESO

* COR

* DENTIÇÃO

5 – É fácil encontrá-los na região?

( ) SIM ( ) NÃO

6 – São animais solitários ou vivem em

grupos?

( ) SIM ( ) NÃO

A L I M E N T Ç Ã O

1–De que se alimentam os Tatus?

a) Tatu Peba:

b) Tatu verdadeiro:

2 – É verdade que o “tatu-peba” come carniça

ou defunto?

( ) SIM ( ) NÃO

3 – Quais são os horários que eles saem para

suas atividades de alimentação? Por quê?

( ) manhã/matutino/diurno ( )

tarde/vespertino ( )

noite/noturno/crepúsculo

H A B I T A T

1 – Quais os locais que comumente

encontramos os tatus na região?

a) Tatu Peba

b) Tatu Verdadeiro

2 – Eles vivem perto de locais que tenham

água?

( ) SIM ( ) NÃO ( ) açude, rio, riacho,

ribeirão, poços, outros...

3 – Que tipo de vegetação eles vivem?

a) Tatu Peba

b) Tatu verdadeiro

4 – Convivem bem com outros animais ou são

ariscos?

( ) SIM convivem ( ) NÃO convivem ( )

SIM+ ariscos

R E P R O D U Ç Ã O

1 – Qual época/estação/mês do ano ocorre à

reprodução dos tatus?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

2 – Quantos filhotes em média as fêmeas

parem?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

3 – Em que local as fêmeas dão a luz?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

4 – Quem cuida dos filhotes?

a) Tatu Peba: ( ) só o macho ( ) só a

fêmea ( ) os2

b) Tatu Verdadeiro: ( ) só o macho ( )

só a fêmea ( ) os 2

5 – Como eles cuidam?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

6 – Com que idade (tempo de vida) os pais

deixam de cuidar dos filhotes?

a) Tatu peba:

b) Tatu verdadeiro:

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175

7 – Com que idade os tatus já são adultos e

prontos pra reprodução?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

8 – Existe algum tipo de ritual/dança/corte de

acasalamento do macho para a fêmea ou vice-

versa? Como seria?

a) Tatu Peba: ( ) SIM ( ) NÃO

b) Tatu Verdadeiro: ( ) SIM ( ) NÃO

9 – Os machos acasalam e vivem com apenas

1 única fêmea ou várias?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

10 – Um tatu de um tipo pode

acasalar/reproduzir com de outro tipo? Por

quê?

( ) SIM ( ) NÃO

USO DAS ESPÉCIES

GASTRONOMIA

1 – Quais dos dois tipos de tatus pode-se

comer?

( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( )

Ambos ( ) Nenhum

2 – Qual dos dois é mais saboroso?

( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( )

Ambos ( ) Nenhum

3 – Como se costuma tratá-los (prepará-los)?

4 – Algum deles possui a carne

carregada/remosa?

( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( )

Ambos ( ) Nenhum

5 – Qual(s) a(s) contra-indicação(s) para se

consumir tal carne?

6 – Com que freqüência você consome carne

de tatu?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro

CAÇA

1 – Existe muita caça/caçador (ainda) na

região?

( ) SIM ( ) NÃO

2 – Qual dos tatus se costuma caçar mais? Por

quê?

( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( ) os

dois

3 – Qual a finalidade da caça?

( ) consumo pessoal (familiar) ( ) venda

(comércio, demanda) ( ) esporte

4 – Qual dos dois é mais fácil ou difícil de

capturar ou abater? Por quê?

( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( ) os

dois

5 – Qual época/estação/mês do ano é melhor

para caçá-los?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

6 – Qual melhor horário para caçá-

los/capturá-los?

a) Tatu Peba: ( ) manhã/matutino/diurno (

) tarde/vespertino ( )

noite/noturno/crepúsculo

b) Tatu Verdadeiro: ( )

manhã/matutino/diurno ( )

tarde/vespertino ( )

noite/noturno/crepúsculo

7 – As fazes da Lua interferem para uma boa

caçada? Qual é a melhor?

( ) SIM ( ) NÃO

( ) NOVA ( ) MINGUANTE ( ) QUARTO-

CRESCENTE

( ) CHEIA

8 – Crianças participam das caçadas? A partir

de que idade?

( ) SIM ( ) NÃO

IDADE: __________

9 – Quais as armas ou ferramentas os

caçadores utilizam para caçar os tatus?

a) Tatu Peba:

b) tatu Verdadeiro:

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176

10 – Quando capturados vivos, onde o

caçador guarda esses animais?

a) Tatu Peba

b) Tatu Verdadeiro

11 – Há condições de criar esses animais em

casa?

12 – Quais os procedimentos antes de sair

para caçar?

13 – Costuma-se engordar/cevar esses

animais em casa? Quanto tempo de engorda?

( ) SIM ( ) Não

Tempo:

14 – O que costumam comer em cativeiro?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

15 – Como o caçador lida com seus cães antes

e depois da caça?

a) ANTES:

b) DEPOIS:

16 – Os cães usados para caçar os tatus são de

alguma raça definida ou “raceados”? Qual?

( ) SIM definida ( ) NÃO raceado

12 – Como se faz o adestramento dos cães?

17 – É comum a venda de cães (filhotes ou

adultos) com predisposição a caça ou já

adestrado para caça de tatus?

a) ( ) SIM - ( ) ADULTO ( ) FILHOTE ( )

ADESTRADO ( ) NÃO-ADESTRADO ( )

TODOS

b) ( ) NÃO

15 – Qual o valor de mercado desses cães?

18 – Qual tem melhor aceitação de mercado?

Por quê?

( ) fêmea ( ) macho ( ) ambos

MEDICINAL/MÁGICO-RELIGIOSO

1 – Qual o uso medicinal que se faz com

alguma das espécies de tatus?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

2 – Que ou quais partes são utilizadas?

3 – O caçador tem algum

ritual/crença/preparação antes, durante ou

depois da caça? Qual?

COMÉRCIO

1 – Os tatus podem ser encontrados vivos ou

abatidos em feiras-livres?

( ) SIM ( ) NÃO

( ) só o tatu peba ( ) só o tatu verdadeiro (

) ambos

2 – Qual o valor de mercado destes animais?

a) Tatu Peba:

b) Tatu Verdadeiro:

3 – Quais têm melhor aceitação de mercado?

Por quê?

a) Tatu Peba: ( ) Macho ( ) Fêmea ( ) ambos

b) Tatu Verdadeiro: ( ) Macho ( ) Fêmea ( )

ambos

4 – Os Preços diferenciam se vivos ou mortos?

Por quê?

a) Tatu Peba

b) Tatu Verdadeiro

5 – É fácil adquirir/comprar nas feiras ou sob

encomenda?

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TATU PEBA a) ( ) SIM: ( ) Feira ( )

Encomenda

b) ( ) NÃO

TATU VERDADEIRO

a) ( ) SIM: ( ) Feira ( )

Encomenda

b) ( ) NÃO

6 – O IBAMA atua de forma eficaz na região?

( ) SIM ( ) NÃO

VISÃO DO ENTREVISTADO

1 – Em sua opinião existem bastantes ou

poucos tatus na região?

a) Tatu Peba: ( ) MUITOS ( ) POUCOS

b) Tatu Verdadeiro: ( ) MUITOS ( )

POUCOS

2 – Em sua opinião nos tempos dos seus pais

ou avós existiam mais tatus, menos ou a

quantidade é igual a de hoje em dia? Por quê?

a) Tatu Peba: ( ) MAIS ( ) MENOS ( )

IGUAL

b) Tatu Verdadeiro: ( ) MAIS ( ) MENOS (

) IGUAL

3 – O que poderá acontecer com os tatus

durante os próximos 20 anos ou mais?