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UNIOESTE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ Centro de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Geografia Doutorado EDSON LUIZ FLORES DE UM PROJETO DE DESENVOLVIMENTO NACIONAL À SUBORDINAÇÃO AO CAPITAL EXTERNO: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas FRANCISCO BELTRÃO PR 2021
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A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

Mar 20, 2023

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Page 1: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

UNIOESTE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

Centro de Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação em Geografia – Doutorado

EDSON LUIZ FLORES

DE UM PROJETO DE DESENVOLVIMENTO NACIONAL À

SUBORDINAÇÃO AO CAPITAL EXTERNO:

A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

FRANCISCO BELTRÃO – PR

2021

Page 2: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

ii

EDSON LUIZ FLORES

DE UM PROJETO DE DESENVOLVIMENTO NACIONAL À

SUBORDINAÇÃO AO CAPITAL EXTERNO:

A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

Tese de doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), campus de Francisco Beltrão – Linha de Pesquisa: Desenvolvimento Econômico e Dinâmicas Territoriais –, como requisito para obtenção do título de Doutor em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Marlon Clovis Medeiros

FRANCISCO BELTRÃO – PR

2021

Page 3: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

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Page 4: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

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Page 5: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

v

Dedico ao seu Adão e à dona Loni, meus

pais. Gente simples que, como outros tantos

brasileiros, não tiveram oportunidade de

conhecer uma Universidade, mas que,

apesar das dificuldades, não mediram

esforços para que os filhos estudassem.

Page 6: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

vi

AGRADECIMENTOS

Para a realização dessa pesquisa foi necessário a contribuição de muitas

pessoas, instituições e empresas. Correndo o risco de cometer esquecimentos, o

que não é minha intenção, listo e agradeço aqueles que auxiliaram nessa

importante empreitada:

Ao programa de pós-graduação em Geografia da UNIOESTE (campus de

Francisco Beltrão), por ter possibilitado a realização desse estudo.

Agradeço às empresas que me receberam na pesquisa de campo,

permitindo visitar suas unidades produtivas, bem como fornecendo importantes

informações.

Obrigado aos representantes comerciais de empresas fabricantes de

máquinas e implementos agrícolas que também repassaram informações,

especialmente em visitas de estudo realizadas à feiras agropecuárias.

Da mesma forma, agradeço aos professores da UNIOESTE (campus de

Francisco Beltrão – PR): Fabrício Pedroso Bauab, Rosana Biral Lemes e Nagla

Mehanna Mormul pelos conhecimentos que adquirimos em suas aulas.

Outro nome a ser lembrado é do professor Fernando dos Santos Sampaio.

Agradeço-lhe pelos ensinamentos que vem possibilitando desde o Mestrado, sendo

também muito importante no doutoramento.

Não posso deixar de agradecer aos os professores Carlos José Espíndola

(UFSC), Elias Marco Khalil Jabbour (UERJ) e Sidemar Presotto Nunes (da

UTFPR/Dois Vizinhos), membros da banca examinadora dessa Tese, pelas

importantes críticas a essa pesquisa.

Obrigado aos colegas de trabalho do Colégio Estadual João Paulo II. Vocês

me apoiaram quando mais precisei (agradeço a todos).

Também agradeço ao Fábio Sinhoratti, meu motorista em algumas das

cansativas viagens da pesquisa de campo.

Agradeço imensamente ao professor Marlon Clovis Medeiros por ter

aceitado orientar essa pesquisa. Ele foi efetivo em suas orientações, apontando

questões fundamentais para a realização dessa Tese.

Por fim, agradeço à minha esposa, Fabiana, e ao meu filho Breno, pois me

apoiaram inclusive quando os estudos me fizeram estar ausente.

Page 7: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

vii

Os países exportadores de capitais

partilharam (no sentido figurado da

palavra) o mundo entre si. Mas o capital

financeiro conduziu também à partilha

direta do globo.

(Lênin).

Page 8: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

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DE UM PROJETO DE DESENVOLVIMENTO NACIONAL À SUBORDINAÇÃO AO CAPITAL EXTERNO:

A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

RESUMO Essa pesquisa, em que estudamos a dinâmica da indústria brasileira de máquinas agrícolas, nos levou a defender a seguinte tese: no Brasil esse segmento industrial teve um desenvolvimento tardio se comparado ao de outros países, tais como os Estados Unidos, Alemanha e a Inglaterra. Ocorre que a formação social brasileira, cristalizada a partir da ocupação portuguesa, desenvolveu uma economia agroexportadora, em geral, apoiada no trabalho braçal o que contribuiu para atrasar a inserção de maquinaria na agricultura. As classes que controlaram a economia do país antes da década de 1930 (fazendeiros e o comércio exportador/importador), praticamente não apoiaram a industrialização, o que atrasou o desenvolvimento tecnológico, por exemplo, pouco desenvolvendo a siderurgia e o setor mecânico, imprescindíveis para a fabricação de máquinas agrícolas. Porém, a partir desse período (com a mudança no pacto de poder) a indústria de base (ferro, aço, petróleo, energia, entre outros) e o setor automotivo começaram despontar no Brasil, o que estimulou o segmento de fabricação de máquinas agrícolas, de modo que a partir dos anos 1960 já se produzia até tratores (especialmente por filiais de empresas estrangeiras), colheitadeiras automotrizes (com o predomínio de empresas nacionais) e os mais diversos implementos agrícolas, resultando que na década de 1970 praticamente estava consolidado esse setor industrial, com diversas empresas concentradas especialmente nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Esse processo foi estimulado por meio de políticas econômicas de apoio à indústria, como o Plano Nacional da Indústria de Tratores de Rodas (1959), Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND’s), além do incentivo à formação de demanda para a comercialização de máquinas agrícolas, particularmente por meio do crédito rural para investimentos. Porém, as políticas econômicas implantadas a partir da década de 1980 não apoiaram a industrialização e reduziram o crédito rural, o que resultou em um processo de subutilização da capacidade produtiva da indústria de máquinas agrícola instalada no Brasil, ampliando a recessão e causando, particularmente a partir dos anos 1990, a falência de importantes empresas nacionais, bem como facilitou a entrada do capital externo, que adquiriu outras destacadas unidades industriais desse segmento. Mesmo com a retomada do crédito rural, ocorrida particularmente no período 2006-2013, o que reaqueceu as vendas internas da indústria de máquinas agrícolas, a desnacionalização de empresas persistiu, de modo que na atualidade esse setor encontra-se oligopolizado, controlado por poucas marcas concentradas em três grandes grupos industriais estrangeiros: AGCO Corporation, CNH Industrial e Deere & Company. Aparentemente, são grupos industriais dominantes, mas que fundamentalmente são controlados pelo capital financeiro, por poucos fundos de investimentos (sedeados principalmente nos Estados Unidos e na Europa) que partilham praticamente todo o mundo, controlando, inclusive, corporações industrias de outros segmentos. Palavras-chave: Indústria de máquinas agrícolas; formação social; políticas econômicas, capital externo; desnacionalização da indústria; economia brasileira.

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OF A NATIONAL DEVELOPMENT PROJECT FOR SUBORDINATION TO EXTERNAL CAPITAL:

The Dynamics of the Brazilian Agricultural Machinery Industry

ABSTRACT

This research, in which we study the dynamics of the Brazilian agricultural machinery industry, led us to defend the following thesis: in Brazil, this industrial segment had a late development compared to that of other countries, such as the United States, Germany and England. It turns out that the Brazilian social formation, crystallized from the Portuguese occupation, developed an agro-export economy, in general, supported by manual labor contributed to delay the insertion of machinery in agriculture. The classes that controlled the country's economy before the 1930s (farmers and the export/import trade), practically did not support industrialization, which delayed technological development, for example, with little development in the steel industry and the mechanical sector, essential for the manufacture of agricultural machinery. However, from that period (with the change in the power pact) the basic industry (iron, steel, oil, energy, among others) and the automotive sector began to emerge in Brazil, which stimulated the agricultural machinery manufacturing segment, so that since the 1960s, even tractors (especially by branches of foreign companies), self-propelled harvesters (with a predominance of national companies) and the most diverse agricultural implements have been produced, resulting in the 1970s practically consolidating this industrial sector, with several companies concentrated especially in the states of São Paulo and Rio Grande do Sul. This process was stimulated through economic policies to support the industry, like the National Plan for the Wheel Tractor Industry (1959), National Development Plans (PND’s), in addition to encouraging the formation of demand for the sale of agricultural machinery, particularly through rural investments credit. However, the economic policies implemented since the 1980s did not supported the industrialization and reduced rural credit, which resulted in a process of underutilization of the productive capacity of the agricultural machinery industry installed in Brazil, widening the recession and causing, particularly the As of the 1990s, the bankruptcy of important national companies, as well as facilitating the entry of foreign capital, which acquired other outstanding industrial units in this segment. Even with the resumption of rural credit, which occurred particularly in the period 2006-2013, which rekindled domestic sales in the agricultural machinery industry, the denationalization of companies persisted, so that at present this sector is oligopolized, controlled by few brands concentrated in three major foreign industrial groups: AGCO Corporation, CNH Industrial and Deere & Company. Apparently, they are dominant industrial groups, but which are fundamentally controlled by financial capital, by few investment funds (based mainly in the United States and Europe) which share practically the entire world, including, controlling industrial corporations in other segments. Keywords: Agricultural machinery industry; social formation; economic policy; foreign capital; denationalization of the industry; Brazilian economy.

Page 10: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

x

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................. 1

SEÇÃO 1 DA SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES À CONSOLIDAÇÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS....

8

CAPÍTULO 1 AS CONDIÇÕES GERAIS PARA O SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS FÁBRICAS DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS NO BRASIL...............................................................................

9

1.1 O Desenvolvimento da Maquinaria.................................................... 9

1.2 As Máquinas e o Aumento da Produtividade do Trabalho.................. 11

1.3 A Importância da Mineração de Ferro e da Siderurgia para o Desenvolvimento da Indústria de Máquinas Agrícolas.......................

13

1.4 Abertura dos Portos e a Contraditória Política de Incentivos às Atividades Industriais.........................................................................

16

1.5 A Dualidade da Economia Brasileira e a Orientação para o Mercado Externo..............................................................................................

18

1.6 A Orientação para a Economia Agroexportadora e as Primeiras Fábricas de Máquinas Agrícolas no Brasil..........................................

24

1.7 A Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas e a Questão da Mão de Obra no Século XIX.......................................................................

29

CAPÍTULO 2 OS IMIGRANTES E A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS...................................................

36

2.1 A Dualidade Brasileira e as Primeiras Fábricas de Máquinas Agrícolas............................................................................................

36

2.2 Uma Nota Sobre as Exportações Agrícolas Brasileiras no Início do Século XX..........................................................................................

40

2.3 A Indústria Brasileira a partir da Fase de Importação de Capitais....... 42

2.4 A Participação dos Imigrantes na Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas............................................................................................

47

2.4.1 Particularidades da gênese da indústria de máquinas agrícolas em outros países.......................................................................

56

CAPÍTULO 3 O DESENVOLVIMENTISMO E A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS.......................

59

3.1 Uma Nota sobre a Economia Política................................................. 59

3.2 A Origem do Desenvolvimentismo e a Industrialização Brasileira...... 61

3.2.1 As políticas econômicas desenvolvimentistas e a indústria de máquinas agrícolas...................................................................

67

3.3 O Grande Impulso à Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas........ 78

Page 11: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

xi

3.3.1 O pioneirismo de empresas nacionais na fabricação de colheitadeiras automotrizes.......................................................

81

3.3.2 Alguns números sobre a indústria brasileira de máquinas agrícolas....................................................................................

83

3.4 A Localização da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas em 1970...................................................................................................

86

CAPÍTULO 4 A FORMAÇÃO DO MERCADO INTERNO PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS...

94

4.1 O Complexo Rural Brasileiro e a Indústria de Máquinas Agrícolas............................................................................................

94

4.2 A Industrialização do País e a Desintegração do Complexo Rural... 103

4.3 O Planejamento Econômico e a Indústria de Máquinas Agrícolas...... 118

4.3.1 O crédito rural e a formação do mercado interno para a indústria de máquinas agrícolas................................................

121

CONSIDERAÇÕES DA SEÇÃO I................................................................. 126

SEÇÃO 2 DO ESTADO PLANEJADOR AO DOMÍNIO DO CAPITAL EXTERNO SOBRE A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS........................................................

129

CAPÍTULO 5 A CRÍTICA À “INDUSTRIALIZAÇÃO A QUALQUER CUSTO” E OS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS.......................

130

5.1 Os “Choques do Petróleo” e os Rumos da Política Econômica Brasileira............................................................................................

130

5.1.1 A crise de 1973 e a política monetária dos Estados Unidos....... 131

5.1.2 A política econômica brasileira receitada pelo FMI e a indústria de máquinas agrícolas..............................................................

134

5.2 A Nova República e o “Problema da Inflação”..................................... 140

5.3 A Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas sob as Políticas Abertamente Liberais.........................................................................

145

5.4 Inflação Baixa, Juros Altos e a Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas nos Anos FHC....................................................................

148

CAPÍTULO 6 UM POUCO DE PLANEJAMENTO, O BOOM DAS COMMODITIES E UM FÔLEGO À INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS.......................

157

6.1 O Renascimento de Incentivos para o Setor de Máquinas Agrícolas.. 157

6.2 Políticas Econômicas dos Governos Lula e Dilma: Crescimento Econômico Mas com Persistência da Desindustrialização.................

170

6.3 Uma Nota sobre os Ciclos Econômicos.............................................. 178

6.4 Valorização Internacional das Commodities e as Vendas de Máquinas Agrícolas............................................................................

180

Page 12: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

xii

CAPÍTULO 7 PARTICULARIDADES DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS INSTALADA NO BRASIL...............................

190

7.1 A Localização da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas na Atualidade..........................................................................................

190

7.2 Fatores de Atração para a Indústria de Máquinas Agrícolas............... 203

7.2.1 Proximidade das fábricas às fornecedoras de componentes e autopeças..................................................................................

205

7.2.2 As importações de componentes e peças para a indústria de máquinas agrícolas....................................................................

207

7.2.3 A importância da força de trabalho............................................. 213

7.2.4 A relevância do mercado interno................................................ 220

7.3 O Papel das Inovações na Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas............................................................................................

230

CAPÍTULO 8 OS GRANDES GRUPOS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS E O CAPITAL FINANCEIRO IMPERIALISTA............................................

238

8.1 Uma Nota sobre a Dinâmica do Capital Financeiro............................ 238

8.2 A Formação dos Principais Grupos Industriais do Setor de Máquinas Agrícolas............................................................................................

239

8.3 A Partilha do Mundo pelos Grandes Grupos da Indústria de Máquinas Agrícolas............................................................................

247

8.4 O Processo de Desnacionalização da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas............................................................................

254

8.4.1 Os principais atrativos brasileiros para os players do segmento de máquinas agrícolas...............................................................

263

8.4.2 O controle do mercado brasileiro pelos grandes players de máquinas agrícolas....................................................................

266

8.5 Um País Aberto ao Capital Externo.................................................... 276

8.6 As Empresas Brasileiras que Resistem Fabricando Máquinas e Implementos Agrícolas.......................................................................

280

8.7 A Financeirização da Indústria de Máquinas Agrícolas....................... 284

8.8 A Indústria de Máquinas Agrícolas no País que Desafia o Capital Financeiro Imperialista.......................................................................

289

CONSIDERAÇÕES DA SEÇÃO II................................................................ 294

CONCLUSÃO............................................................................................... 296

REFERÊNCIAS............................................................................................ 306

ANEXOS....................................................................................................... 340

Page 13: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

xiii

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 Exemplar de trator agrícola modelo Imor Lanz Bulldog –

fabricado pela Máquinas Agrícolas Romi Ltda.....................

70

FIGURA 02 Exemplar de trator agrícola modelo Imor Toro – fabricado a partir de 1948....................................................................

71

FIGURA 03 Tratores 8 BR novos no pátio da fábrica da Ford do Ipiranga – SP.......................................................................

73

FIGURA 04 Exemplar de trilhadeira fabricada pela empresa SLC a partir de 1947.......................................................................

78

FIGURA 05 Colheitadeira SLC modelo 65-A........................................... 81

FIGURA 06 Colhedora de cana Santal (modelo SL) montada sobre trator de esteiras..................................................................

92

FIGURA 07 Fabricante de farinha........................................................... 102

FIGURA 08 Formação do grupo AGCO.................................................. 243

FIGURA 09 Formação do grupo CNH Industrial...................................... 245

FIGURA 10 Formação do grupo John Deere.......................................... 246

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 Evolução das exportações dos principais produtos

agrícolas brasileiros – 1821-1848.......................................

20

GRÁFICO 02 Evolução das exportações dos principais produtos agrícolas brasileiros – 1849-1899.......................................

22

GRÁFICO 03 Comparação dos preços de escravos de Pernambuco e do Rio Grande do Sul – 1800-1880.....................................

31

GRÁFICO 04 Evolução do valor dos escravos e da riqueza bruta dos proprietários de escravos de Campinas, SP – 1830-1887...

33

GRÁFICO 05 Desempenho da balança comercial brasileira – 1929-1934....................................................................................

66

GRÁFICO 06 Evolução dos salários rurais no estado de São Paulo – 1948-1978..........................................................................

105

GRÁFICO 07 Evolução dos empregos na indústria e em outros setores da economia brasileira – 1940-1980...................................

113

GRÁFICO 08 Evolução da produção e das vendas internas de tratores de rodas no Brasil – 1960-1980...........................................

117

GRÁFICO 09 Evolução da produção e das vendas internas de colheitadeiras de grãos no Brasil – 1976-1985....................

117

Page 14: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

xiv

GRÁFICO 10 Utilização da capacidade instalada da indústria brasileira – 1970-1989........................................................................

138

GRÁFICO 11 Participação dos investimentos em máquinas agrícolas e em terras sobre o total dos investimentos dos estabelecimentos rurais brasileiros – 1970-1985................

143

GRÁFICO 12 Taxas de juros reais praticados no Brasil – 1985-2003....... 153

GRÁFICO 13 Evolução do crédito rural para investimento em máquinas agrícolas no Brasil – 1980-2012..........................................

154

GRÁFICO 14 Crédito rural disponibilizado por tipo de máquina no Brasil – 1985-2012........................................................................

155

GRÁFICO 15 Evolução da produção e das vendas internas de tratores de rodas no Brasil – 1985-2019...........................................

158

GRÁFICO 16 Evolução da produção e das vendas internas de colheitadeiras de grãos no Brasil – 1985-2019....................

158

GRÁFICO 17 Desembolsos do BNDES – Finame – 1991-2018.............. 172

GRÁFICO 18 Taxa de investimentos (FBCF) públicos e privados sobre o PIB do Brasil – 1965-2018................................................

174

GRÁFICO 19 Evolução da FBCF na indústria brasileira de máquinas e equipamentos – 1980-2018................................................

176

GRÁFICO 20 Variação real da FBCF na indústria brasileira de máquinas e equipamentos – 1971-2018.............................................

177

GRÁFICO 21 Evolução dos preços internacionais do petróleo bruto – 1995-2018..........................................................................

181

GRÁFICO 22 Evolução dos preços internacionais dos minérios não preciosos – 1995-2018.......................................................

181

GRÁFICO 23 Preços internacionais de algumas commodities agrícolas selecionadas – 1995-2018..................................................

182

GRÁFICO 24 Evolução das exportações brasileiras de algumas commodities selecionadas – 1996-2018.............................

183

GRÁFICO 25 Relação de troca de trator agrícola por produtos agrícolas selecionados e vendas internas de tratores de rodas – 1998-2010..........................................................................

186

GRÁFICO 26 Relação de troca de trator agrícola por produtos agrícolas selecionados e vendas internas de tratores de rodas –2010-2017..........................................................................

186

GRÁFICO 27 Relação de troca de colheitadeira por produtos agrícolas selecionados e vendas internas de colheitadeiras de grãos – 2002-2010........................................................................

187

GRÁFICO 28 Relação de troca de colheitadeira por produtos agrícolas selecionados e vendas internas de colheitadeiras de grãos – 2010-2016........................................................................

188

Page 15: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

xv

GRÁFICO 29 Participação dos principais segmentos da indústria braliseira de máquinas agrícolas no valor da produção – 2017....................................................................................

191

GRÁFICO 30 Participação de algumas unidades da federação no valor bruto da produção da indústria brasileira de máquinas e implementos agrícolas – 2017............................................

194

GRÁFICO 31 Evolução do valor bruto da produção da indústria de máquinas e implementos agrícolas em SP, RS e no PR –2007- 2017..........................................................................

195

GRÁFICO 32 Evolução dos empregos na indústria de máquinas e implementos agrícolas nos estados de SP, RS e PR – 2006-2017..........................................................................

213

GRÁFICO 33 Evolução dos salários médios da indústria brasileira de máquinas agrícolas – 2006-2017........................................

215

GRÁFICO 34 Vendas internas de colhedoras de cana por unidades da federação – 2018................................................................

222

GRÁFICO 35 Vendas internas de colheitadeiras de grãos por unidades da federação – 2018...........................................................

223

GRÁFICO 36 Vendas internas de tratores de rodas por unidades da federação – 2018................................................................

225

GRÁFICO 37 Estoque brasileiro de tratores agrícolas por classes de tempo de uso – 1995-2016..................................................

229

GRÁFICO 38 Vendas de tratores de rodas no Brasil por grupos industriais – 2018................................................................

267

GRÁFICO 39 Vendas de colheitadeiras de grãos no Brasil por grupos industriais – 2018................................................................

268

GRÁFICO 40 Vendas de colhedoras de cana no Brasil por grupos industriais – 2018................................................................

270

LISTA DE MAPAS

MAPA 01 Localização das principais fábricas de máquinas e

implementos agrícolas no Brasil – 2020....................................

6

MAPA 02 Distribuição espacial da indústria de máquinas e implementos agrícolas no Brasil – 1970.........................................................

87

MAPA 03 Unidades locais e valor bruto da produção da indústria brasileira de máquinas agrícolas – 2017...................................

193

MAPA 04 Distribuição espacial da indústria de máquinas e implementos agrícolas no estado de São Paulo – 2020..................................

196

MAPA 05 Distribuição espacial da indústria de máquinas e implementos agrícolas no estado do Rio Grande do Sul – 2020.....................

199

Page 16: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

xvi

MAPA 06 A partilha do mundo pelos grandes grupos da indústria de máquinas agrícolas – 2019.......................................................

248

LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 Origem dos fundadores das primeiras fábricas de

máquinas agrícolas do Brasil – século XIX..........................

50

QUADRO 02 Máquinas e implementos agrícolas importados dos Estados Unidos pelo estado de Minas Gerais – 1952..........

75

QUADRO 03 Máquinas e implementos agrícolas importados dos Estados Unidos pelo Ministério da Agricultura do Brasil – 1952....................................................................................

75

QUADRO 04 Empresas selecionadas para fabricar tratores agrícolas no Brasil – 1959.......................................................................

79

QUADRO 05 Comparação da produtividade do trabalho agrícola mecanizado e não-mecanizado – 2005...............................

109

QUADRO 06 Evolução da produção industrial por classes de países selecionados – 1938-1973..................................................

112

QUADRO 07 Principais variáveis condicionantes da localização industrial segundo a classificação do ETENE – 1968..........

204

QUADRO 08 Principais acontecimentos que deram origem aos grandes grupos industriais fabricantes de máquinas agrícolas – séculos XIX e XX................................................................

240

QUADRO 09 O processo de aquisições na indústria de máquinas e implementos agrícolas instalada no Brasil..........................

255

QUADRO 10 Fases da industrialização em países pioneiros na indústria de máquinas agrícolas e no Brasil – 1830-2020..................

297

LISTA DE TABELAS

TABELA 01 Evolução da produção industrial brasileira – 1925-1938..... 45

TABELA 02 Produção e comercialização de tratores de rodas no Brasil – 1960-70............................................................................

79

TABELA 03 Desempenho da produção da indústria rural brasileira – 1939-1980...........................................................................

104

TABELA 04 Evolução da produção agrícola e da produtividade da força de trabalho na agricultura brasileira – 1940-1980................

108

TABELA 05 Taxa de juros do crédito rural e a inflação anual brasileira – 1969-1981........................................................................

123

Page 17: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

xvii

TABELA 06 Crédito rural para investimento em máquinas agrícolas e a venda de tratores e colheitadeiras no Brasil – 1969-1979...

124

TABELA 07 Exportações e importações da indústria brasileira de máquinas agrícolas automotrizes – 1989-1994...................

146

TABELA 08 Exportações e importações da indústria brasileira de máquinas agrícolas automotrizes – 1994-2002...................

150

TABELA 09 Vendas internas e exportações dos principais fabricantes de tratores de rodas no Brasil – 2004 e 2005.......................

165

TABELA 10 Vendas internas e exportações dos principais fabricantes de colheitadeiras de grãos no Brasil – 2004 e 2005.............

165

TABELA 11 Índice de mecanização com colheitadeiras agrícolas por países selecionados – 1990 e 2005.....................................

227

TABELA 12 Vendas internas de tratores de rodas, colheitadeiras de grãos e colhedoras de cana no Brasil por grupos industriais – 2018................................................................

266

TABELA 13 Concessionárias de máquinas agrícolas e rodoviárias por empresas nas grandes regiões do Brasil – 2018.................

270

LISTA DE SIGLAS

ABIMAQ – Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos

ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

BACEN – Banco Central do Brasil

BB – Banco do Brasil

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BNH – Banco Nacional da Habitação

CACEX – Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil

CBT – Companhia Brasileira de Tratores

CKD – Completely Knock-down (“kit ou conjunto de peças que compõe um determinado produto”)

CPR – Cédula de Produtor Rural

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CMBEU – Comissão Mista Brasil-Estados Unidos

CMN – Conselho Monetário Nacional

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas

Page 18: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

xviii

CNC – Conselho Nacional do Café

CNI – Confederação Nacional da Indústria

DGE – Diretoria Geral de Estatística

DNC – Departamento Nacional do Café

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ETENE – Escritório Técnico de Estudos do Banco do Nordeste do Brasil

ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

FAHOR – Faculdade Horizontina

FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

FATEP – Faculdade de Tecnologia de Piracicaba

FBCF – Formação Bruta de Capital Fixo

FGV – Fundação Getúlio Vargas

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FINAME – Agência Especial de Financiamento Industrial

FMI – Fundo Monetário Internacional

FNM – Fábrica Nacional de Motores

GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IGP-DI – Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna

IFRS – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDIC – Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços

MODERFROTA – Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo

ONU – Organização das Nações Unidas

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PASEP – Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PESA – Programa Especial de Saneamento de Ativos

Page 19: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

xix

PIA – Pesquisa Industrial Anual

PIS – Programa de Integração Social

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

PMAI – Programa Mais Alimentos Internacional

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRR – Partido Republicano Rio-grandense

PSI – Programa de Sustentação do Investimento

SECEX – Secretaria de Comércio Exterior

SELIC – Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (“taxa básica de juros”)

SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural

SUMOC – Superintendência da Moeda e do Crédito

TR – Taxa Referencial

UFPR – Universidade Federal do Paraná

ULBRA – Universidade Luterana do Brasil

UMC – Universidade de Mogi das Cruzes

UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

UNESP – Universidade Estadual Paulista

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

UNIP – Universidade Paulista

UNIRITTER – Centro Universitário Ritter dos Reis

UNISINOS – Universidade do Vale dos Sinos

USP – Universidade de São Paulo

UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Page 20: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

INTRODUÇÃO

Nessa tese, analisamos a dinâmica da indústria brasileira de máquinas

agrícolas objetivando compreender as suas múltiplas relações, isto é, estudando-a

no contexto da economia nacional, bem como em suas relações com a conjuntura

econômica mundial. Estudamos principalmente a indústria de tratores,

colheitadeiras, plantadeiras, entre outros implementos que contribuem com a maior

parte do valor da produção desse segmento industrial.

Esse setor industrial é relevante para o Brasil. Segundo dados do IBGE

(2019c), no ano de 2017 o segmento de fabricação de tratores e de máquinas e

equipamentos para a agricultura e pecuária empregava 65,3 mil pessoas e

contribuía com um valor bruto da produção industrial que alcançou R$ 24,1 bilhões;

sem contar a sua contribuição para a geração de renda na agricultura do país.

Basicamente, essa pesquisa se justifica porque, como observou Marx

(1984a), a indústria moderna é capaz de revolucionar a economia ao estimular não

só as atividades finais (comércio e serviços), mas também o setor fornecedor de

matérias-primas, inclusive a agricultura. O estudo de Lênin (1982), sobre a Rússia,

também ressaltou o protagonismo da indústria para a modernização da agricultura

daquele país. E Rangel (1986) chegou a afirmar que o desenvolvimento de um

Departamento I (fabricante de meios de produção), que no Brasil se consolidou a

partir da década de 1970, traria para o país um novo desafio, o de desenvolver

políticas econômicas que pudessem absorver nas cidades a grande quantidade de

trabalhadores dispensados da agricultura, que estava se modernizando (inclusive

com o uso de tratores e outros equipamentos), produzindo mais e com menor

quantidade de mão de obra ocupada.

Em outras palavras, entendemos que a análise da dinâmica desse ramo

industrial é de suma importância, pois pode apontar vários elementos auxiliares

para compreender a economia e a própria sociedade brasileira.

No entanto, até o momento não encontramos muitos estudos sobre essa

temática no Brasil. Nos deparamos com boas contribuições, mas que, em geral,

abordam determinadas variantes dessa questão, não analisando a dinâmica, isto

é, não abordando a conjuntura, as múltiplas relações que compõem essa

problemática. Por exemplo, o estudo de Amato Neto (1985), realizado no início da

Page 21: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

2

década de 1980, observou que naquela época estava se formando oligopólios no

setor de fabricação de máquinas agrícolas. No seu entendimento, as grandes

empresas começaram diversificar a produção (fabricando veículos etc.) porque o

mercado interno, em uma conjuntura de recessão econômica, já não absorvia a

capacidade produtiva desse segmento industrial. Inclusive, esse autor também

observou a necessidade de se lançar políticas econômicas voltadas à formação de

demanda, especialmente via crédito rural para aquisição de máquinas, bem como

por políticas fundiárias que estimulassem a modernização da agricultura do país.

No entanto, muitas mudanças ocorreram a partir daquela época, o que justifica a

realização de novos estudos sobre essa questão.

Outro estudo a ser destacado é o de Castilhos et al. (2008), que constatou a

presença de um novo elemento que seria marcante desde o final da década de

1970 (e mais intensamente a partir dos anos 1990), o processo de fusões e

aquisições na indústria brasileira de máquinas agrícolas, inclusive destacando a

presença do capital externo nesse setor, que passou a concentrar as marcas em

poucos conglomerados. A partir desse processo as grandes empresas passaram a

se dedicar às etapas mais lucrativas da atividade, repassando a produção de

peças, bem como de implementos para fábricas pequenas e médias, tornando-as

dependentes. Mas, ao se dedicarem a identificar a relevância das pequenas e

médias empresas para a economia do estado do Rio grande do Sul, essas autoras

não se aprofundaram em outros importantes aspectos dessa temática.

Em estudo mais recente, Calandro e Campos (2015) analisaram a indústria

brasileira de máquinas e implementos agrícolas. Mas, essas autoras também não

realizaram uma análise conjuntural, à medida que priorizaram a elaboração de um

estudo para embasar políticas públicas voltadas às aglomerações produtivas

industriais do estado do Rio Grande do Sul.

Inclusive, há de se ressaltar que esses estudos forneceram importantes

informações e dados para a nossa pesquisa. Porém, entendemos que essa

temática apresenta algumas lacunas a serem preenchidas.

Uma vez identificada a necessidade de se aprofundar os estudos sobre essa

problemática, objetivamos nessa pesquisa: 1) analisar as condições econômicas

que estimularam o desenvolvimento da indústria brasileira de máquinas agrícolas;

2) identificar a relevância da formação social brasileira (inclusive política) nesse

Page 22: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

3

processo; 3) averiguar a relevância do planejamento econômico (a “mão do

Estado”) sobre a industrialização do país, especialmente sobre o segmento de

fabricação de máquinas agrícolas; e 4) compreender a dinâmica de inserção do

capital externo (via fusões e aquisições de empresas brasileiras) nesse setor.

Quando apontamos como objetivo, analisar as condições econômicas para

o desenvolvimento da indústria de máquinas agrícolas, apoiamo-nos no referencial

teórico/metodológico elaborado por Rangel (1980, 1981 e 1990a), que afirma que

a industrialização brasileira se desenvolveu no contexto cíclico da economia

mundial, de modo que nas fases recessivas, quando diminui as possibilidades e

vantagens para se exportar, a economia do Brasil tende a se voltar para o mercado

interno. Nessa condição, acreditamos que é imperativo analisamos a dinâmica

econômica mundial, bem como suas consequências sobre a economia brasileira,

já que essas mudanças refletem sobre a indústria, inclusive sobre o segmento que

estamos estudando.

Sobre a importância das condições sociais para a gênese desse segmento

industrial no Brasil, apoiamo-nos no estudo de Santos (1977), que afirma que as

diferentes sociedades (a formação social) produzem arranjos espaciais específicos

e que eles são condicionantes para os modos de produção a serem desenvolvidos.

Da mesma forma, temos como base os estudos de Mamigonian (1976 e 2000), que

assinala que a industrialização brasileira foi impulsionada por imigrantes, devido à

importância do conhecimento técnico que eles trouxeram de países mais

industrializados e pela forma de articulação das atividades agrícolas, mercantis e

artesanais que se desenvolveu especialmente em colônias de imigrantes italianos

no estado de São Paulo e no Sul do país.

Em relação à importância das condições institucionais, também temos como

apoio o pensamento de Rangel (1981), que verificou que especialmente a partir do

processo de Independência (1822) a política brasileira se desenrolou por meio de

pactos de poder (as dualidades), firmados por classes sociais com interesses

comuns, mas também contraditórios e relacionados à dinâmica econômica e

política externa. Entender essas dualidades é de suma importância, pois é nelas

que se engendra o modelo de desenvolvimento econômico, é onde se escolhe os

setores da economia nacional que serão priorizados.

Há de se destacar que também recorremos ao pensamento de Keynes

Page 23: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

4

(1983), particularmente quando verificamos a necessidade de um planejamento

orientado para a formação de demanda para o segmento de bens de produção,

especialmente para a indústria de máquinas agrícolas.

Ao objetivarmos analisar a influência do grande capital financeiro sobre a

indústria brasileira de máquinas agrícolas, recorremos ao estudo de Lênin (1987),

que ainda no início do século passado observou que a economia mundial vem

sendo determinada pelo capital financeiro, aquele que começou partilhar

praticamente todo o planeta de acordo com seus interesses. Nessa ótica,

entendemos que não devemos estudar a dinâmica de determinado ramo industrial

sem considerar a influência do capital financeiro sobre ele.

Para a realização dessa pesquisa, recorremos ao materialismo histórico,

método que, grosso modo, concebe o objeto de estudo em sua totalidade, isto é,

sendo movido por múltiplas determinações, conforme observou o próprio Marx

(1982). Da mesma forma, apoiamo-nos em Marx (1983a) quando ele afirma que se

deve partir da análise das células, não do corpo todo, pois sendo este complexo

acaba por dificultar o estudo. No seu entendimento, só em seguida se deve

relacionar as particularidades ao todo, no qual o objeto de estudo está inserido.

A partir desse entendimento, iniciamos a análise pelas condições materiais

para o desenvolvimento da indústria brasileira de máquinas agrícolas, por exemplo,

analisando a evolução da produção siderúrgica, a instalação do setor automotivo

até chegarmos à consolidação do segmento de bens de produção, inclusive com a

presença de fábricas de tratores e outros equipamentos para a agricultura. Da

mesma forma, estudamos a importância das principais políticas econômicas

implantadas no país até chegarmos aos planos específicos que estimularam a

inserção das grandes empresas desse segmento industrial. Ou seja, procuramos

partir da análise dos elementos condicionantes do processo até chegarmos à

conjuntura na qual esse ramo da indústria está inserido; portanto, buscando

compreender a dinâmica, a complexidade desse processo.

Tendo como norte esse método, realizamos a coleta de dados e informações

em diversas publicações e de várias instituições, tais como do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE); da Associação Nacional dos Fabricantes de

Veículos Automotores (ANFAVEA); do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(Ipea); em visualizadores de mercado, como o Market Screener, entre outros.

Page 24: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

5

Também coletamos dados em estudos correlatos ao tema, como em livros,

pesquisas acadêmicas, revistas de estudos setoriais, entre outros.

Os dados primários, coletamos diretamente em pesquisa de campo,

visitando feiras agropecuárias em que se comercializa máquinas agrícolas – como

no Show Rural Coopavel (em 2019) –, onde pudemos entrevistar representantes

comerciais das principais empresas desse setor industrial.

Também obtivemos dados e informações por meio de visitas de estudo às

principais empresas desse segmento, nas quais conseguimos observar as suas

linhas de produção. Entre essas visitas, destacamos a pesquisa que realizamos na

unidade da John Deere, instalada no município de Horizontina – RS; na AGCO

Corporation, instalada no município de Canoas – RS, bem como na CNH Industrial,

instalada na cidade industrial de Curitiba – PR. Em anexo, apresentamos a lista de

visitas de estudo que realizamos na pesquisa de campo.

A seleção dessas unidades produtivas não foi aleatória, pois como podemos

observar pelo mapa 1, na atualidade esse segmento industrial se encontra

concentrado em poucos grupos. Ocorre que existem poucas marcas e que

pertencem, em maioria, aos três grandes conglomerados industriais acima citados.

Escrevemos essa tese em duas seções (compostas por quatro capítulos

cada), pois verificamos que a indústria brasileira de máquinas agrícolas se

desenvolveu, grosso modo, em duas fases: 1) a primeira marcada por sua gênese

à sua consolidação (mais ou menos, do final do século XIX até a década de 1970);

2) seguida por outra fase, caracterizada por um intenso processo de

desnacionalização da maioria das empresas brasileiras desse setor industrial.

No primeiro capítulo, estudamos as primeiras iniciativas de produção de ferro

no Brasil, bem como analisamos elementos da organização social e política

brasileira, verificando que ela privilegiou a economia agroexportadora, mas que ao

se apoiar no trabalho braçal acabou por utilizar pouca maquinaria agrícola, o que

contribuiu para atrasar a produção interna desse tipo de meios de produção.

No capítulo 2, observamos que no início do século passado surgiram

diversas fábricas (embora que artesanais) de instrumentos e máquinas agrícolas

que se instalaram nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, principalmente

nas regiões ocupadas por imigrantes italianos e alemães, que trouxeram de seus

países de origem conhecimentos técnicos sobre a produção industrial.

Page 25: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

Page 26: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

No capítulo seguinte, analisamos a influência do processo de

industrialização do país – que se intensificou a partir da chegada de Getúlio Vargas

ao poder – sobre o segmento de fabricação de máquinas e implementos agrícolas.

Nesse capítulo, também estudamos a influência das políticas econômicas voltas a

esse setor, especialmente durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961)

em que, por exemplo, iniciou a fabricação interna de tratores agrícolas.

No capítulo 4, analisamos a importância da industrialização do país ao

estimular a migração de grande parte da população do campo para a cidade, o que

abriu espaço para o processo de modernização da agricultura que, por sua vez,

contribuiu para formar demanda para os produtos da indústria de máquinas

agrícolas. Além disso, também observamos que o mercado interno para esse

segmento industrial foi efetivado por meio de políticas econômicas, especialmente

a partir do crédito rural para investimentos.

No capítulo 5, analisamos a dinâmica da indústria de máquinas agrícolas a

partir da década de 1980, quando ocorreram profundas mudanças na política

econômica nacional, que deixou de priorizar a industrialização e enfraqueceu o

mercado interno para esse segmento industrial, por exemplo, reduzindo o montante

de recursos para financiamentos rurais e aumentando as taxas de juros.

Em seguida, no capítulo 6, observamos que as vendas e a produção desse

segmento industrial só se recuperaram no país a partir da década de 2000 quando

surgiram novas políticas econômicas, tais como o Moderfrota e o PSI Rural, que

aumentaram o volume de crédito rural disponível e reduziram as taxas de juros.

No sétimo capítulo, abordamos as particularidades da indústria de máquinas

agrícolas instalada no Brasil, analisando a sua distribuição espacial, bem como os

fatores atrativos para esse segmento. Nesse capítulo, também estudamos a

relevância das inovações no processo produtivo no que se refere à competitividade

das empresas desse setor industrial.

No oitavo e último capítulo, analisamos a formação dos grandes grupos

internacionais que, na atualidade, controlam a indústria de máquinas agrícolas,

identificando o domínio do capital financeiro estrangeiro sobre esse setor industrial,

o que o tornou fortemente oligopolizado.

Enfim, acreditamos que se trata de uma temática complexa e que esse

estudo, dentro de seus limites, pretende contribuir para a sua interpretação.

Page 27: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

8

SEÇÃO I

DA SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES À CONSOLIDAÇÃO DA INDÚSTRIA

BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Page 28: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

9

CAPÍTULO I

AS CONDIÇÕES GERAIS PARA O SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS FÁBRICAS

DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS NO BRASIL

Igual a qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do trabalho, ela [a máquina] se destina a baratear mercadorias e a encurtar a parte da jornada de trabalho que o trabalhador precisa para si mesmo, a fim de encompridar a outra parte da sua jornada de trabalho que ela dá de graça para o capitalista. Ela é meio de produção de mais-valia (MARX, 1984a, p. 7).

Nesse capítulo, analisaremos as primeiras iniciativas de produção de ferro

no Brasil; o desempenho do setor agroexportador; bem como a importância da

organização política e social brasileira para a instalação das primeiras fábricas de

máquinas agrícolas do país, que surgiram ainda no final do século XIX.

1.1 O Desenvolvimento da Maquinaria

O termo “máquina” tem uma designação que, em geral, nos remete a um

“instrumento” ou a um conjunto de instrumentos que servem para auxiliar no

trabalho ou, até mesmo, para substituir o trabalho humano já que as máquinas

podem transmitir e transformar energia em movimento.

Aparentemente, trata-se de um termo simples, mas que por serem utilizadas

na relação sociedade e natureza (nas atividades econômicas) as máquinas se

inserem em um contexto que abriga múltiplas determinações, conforme mencionou

Marx (1984a).

De acordo com o dicionário Aurélio da língua portuguesa, o termo máquina

provém de machina (do latim) que deriva de machaná (grego dórico) ou de

mechané (do grego jônico). Designa um aparelho ou um instrumento para

comunicar movimento ou para aproveitar ou, ainda, para transformar uma energia

em movimento (FERREIRA, 2009).

Segundo o léxico grego-inglês de Liddell e Scott, máquina vem de machina,

do latim, e dos termos μηχανή (do grego jônico) e μαχανά (do grego dórico). O

termo designa: “instrument, machine for lifting weights and the like” (LIDDELL;

SCOTT, 1883, p. 964). Isto é, na primeira designação, trata-se de um instrumento

Page 29: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

10

“para levantar pesos e similares”. Segundo esse léxico, podemos verificar, também,

a existência dos termos μηχανή e μαχανά derivam de μῆχος (também do grego),

que remetem a: “a means, expedient, remedy.” (p. 965) – “meio”, “caminho,

“recurso”.

No entanto, a generalização ou a simplificação que esse termo recebeu pode

induzir a erros. Por exemplo, Marx menciona que os manuais de matemática e

mecânica, publicados até meados do século XIX, definiam: “[...] a ferramenta como

uma máquina simples e a máquina como uma ferramenta composta” (MARX,

1984a, p. 7). Dessa forma, uma alavanca, um parafuso, um fuso ou uma cunha

seriam “máquinas simples” ou “potências simples”.

Por outro lado, alguns estudiosos de mecânica e de produção industrial

procuraram distinguir as ferramentas das máquinas. Por exemplo, Schultz apud

Marx (1984a) afirma que quando o homem usa a ferramenta, ele é a força motriz,

enquanto que na máquina a ferramenta é movida por uma força motriz não-

humana, como por tração animal, força da água, do vento etc. Marx, verifica que,

nessa ótica, um arado – um instrumento simples e antigo – puxado por bois poderia

ser considerado uma “máquina”, mas um tear de Claussen1 – capaz de aprontar 96

mil malhas por minuto – seria considerado uma mera “ferramenta”, pois era movido

pela mão de um único trabalhador.

Ressaltamos que não é o tipo de força motriz aplicada que nos dirá se

estamos diante de uma ferramenta ou de uma máquina. Pelo contrário, Marx

verifica que toda maquinaria constitui-se de três partes essencialmente distintas: a

máquina motriz, o mecanismo de transmissão e a máquina ferramenta ou de

trabalho. A máquina motriz produz sua própria força, ela é a força motora de todo

o mecanismo. A máquina a vapor ou a máquina eletromagnética serviriam de

exemplo, de acordo com Marx. O mecanismo de transmissão é composto por

volantes, eixos, rodas dentadas, rodas-piões, correias, caixas de mudança de

movimento etc. E não podemos esquecer que tanto a máquina motriz, como o

mecanismo de transmissão, existem com a função de conduzir o movimento à

máquina-ferramenta, aquela que age sobre a matéria a ser transformada.

Ao rebater a ideia de que a força motriz seria determinante em uma máquina,

1 O tear circular ou de Claussen foi uma das invenções que contribuíram consideravelmente para o aumento da produtividade da indústria têxtil da Inglaterra (MARX, 1984a).

Page 30: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

11

Marx ressaltou que a máquina-ferramenta, por ser a única que age diretamente

sobre o objeto do trabalho, é a mais importante para a produção, pois: “é dessa

parte da maquinaria, a máquina-ferramenta, que se origina a revolução industrial

do século XVIII.” (MARX, 1984a, p. 8).

Entendemos que essa definição – apesar de ter sido levantada por Marx por

volta de 1860 – é fundamental, pois, como explicaremos adiante, as mudanças que

ocorreram a partir daquela época foram importantes, mas incrementais, isto é, não

revolucionando a maquinaria no sentido de invalidar essa definição de máquina em

três partes (motriz, transmissão e máquina-ferramenta). Por exemplo, mostraremos

a diante que um trator agrícola utilizado na atualidade, por “mais moderno” que seja

ainda conserva a mesma estrutura: 1) uma parte motriz, um motor movido

geralmente a óleo diesel; 2) um sistema de transmissão com suas engrenagens,

rodas dentadas, volantes, eixos, correias etc.; 3) e a máquina-ferramenta, isto é, os

mais variados implementos agrícolas acoplados ao trator.

A partir dessas considerações, ressaltamos que utilizaremos o termo

“máquina” contemplando os meios de produção mecânicos empregados na

agricultura, tais como tratores, colheitadeiras de grãos, pulverizadores (para a

aplicação de químicos), adubadores (autopropelidos), bem como máquinas para o

plantio e outros implementos utilizados nas lavouras, principalmente na produção

de grãos, tais como soja, milho, trigo, entre outros.

1.2 As Máquinas e o Aumento da Produtividade do Trabalho

Nas primeiras décadas do século XIX a maquinaria já começava se difundir,

especialmente na Inglaterra, o que levou alguns economistas a estudarem a sua

relevância para a produção. Inclusive, David Ricardo dedicou um capítulo de seu

livro Princípios de Economia Política e Tributação ao estudo da maquinaria. No

capítulo 31 do referido livro, Ricardo (1982) ressalta que inicialmente imaginava que

as máquinas seriam boas para todos, mas que em seguida verificou que com o

tempo, elas poderiam causar desemprego, pois substituíram parte dos

trabalhadores. Porém, Ricardo acreditava que o aumento da produtividade do

trabalho compensaria, pois a maquinaria estimularia o crescimento econômico,

abrindo novos postos de trabalho, de modo que os trabalhadores desempregados

Page 31: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

12

em alguns setores poderiam ser reempregados em outros.

No capítulo 13 (Maquinaria e a Grande Indústria) do livro primeiro de O

Capital, bem como no livro Teorias da Mais-Valia, Marx criticou a interpretação de

alguns economistas ingleses, especialmente o entendimento do próprio D. Ricardo,

em relação à utilização da maquinaria. Marx (1983b), afirma que Ricardo fez

apologia às máquinas, negando as consequências sociais provocadas pela sua

utilização no sistema capitalista; isto é, ocultando o fato de que nesse sistema de

produção as máquinas ajudam a agravar o processo de separação dos

trabalhadores dos meios de produção2. Por outro lado, Marx (1984a) concorda que

as máquinas são utilizadas para tornar o trabalho mais produtivo. No seu

entendimento, isso ocorre porque elas encurtam a parte da jornada de trabalho

necessária para pagar os custos da força de trabalho (salários etc.); portanto,

alongando a parte da jornada correspondente ao proprietário da máquina. Em

outras palavras, ele afirma que a maquinaria produz uma mais-valia relativa

(trabalho excedente), já que o custo da força de trabalho é diretamente reduzido.

Além disso, as máquinas reduzem indiretamente o custo da força de trabalho ao

baratear as mercadorias consumidas pelos trabalhadores. Portanto, Marx verifica

que as máquinas são importantes para os próprios trabalhadores.

Aliás, no volume terceiro de Teorias da Mais-Valia, ele escreve:

Sem dúvida, as máquinas barateiam por dois motivos: emprego de máquinas para produzir matérias-primas com que se constroem as máquinas; emprego de máquinas na transformação desse material em máquinas.” (MARX, 1985b, p. 1409).

Para além das discordâncias e concordâncias de Marx e Ricardo em relação

à maquinaria, ressaltamos que suas colocações nos levam à analisar o

desenvolvimento da indústria de máquinas agrícolas considerando o contexto

econômico e social, pois observamos que um determinado meio de produção para

ser utilizado na agricultura requer, além de uma estrutura industrial preexistente,

importantes transformações nas atividades agrícolas, no segmento que as utilizará.

2 No livro primeiro de O Capital, ele afirma que: “onde a máquina se apodera paulatinamente de um setor da produção, produz miséria crônica nas camadas de trabalhadores que concorrem com ela.” (MARX, 1984a, p. 48-49). Mas, como abordaremos nessa pesquisa, a utilização de maquinaria é de suma importância para a produção em geral.

Page 32: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

13

1.3 A Importância da Mineração de Ferro e da Siderurgia para o

Desenvolvimento da Indústria de Máquinas Agrícolas

As condições fundamentais para o desenvolvimento da indústria de

máquinas repousam sobre uma estrutura industrial preexistente, pois as matérias-

primas utilizadas em sua fabricação, apesar de terem origem no setor primário

(mineral), têm que ser industrializadas, sendo transformadas em blocos, chapas de

ferro, aço etc.

A partir desse entendimento, começaremos a análise realizando um breve

resgate sobre a evolução da mineração e da produção de ferro no Brasil.

Pela bibliografia, documentos históricos, entre outros materiais que tivemos

acesso, acreditamos que foi a partir da vinda da Corte portuguesa (1808) que a

mineração de ferro, bem como a produção de ferro, passaria a ser encarada como

importante para o desenvolvimento da colônia3. Ocorre que juntamente com família

real portuguesa, vieram para o Brasil alguns europeus com conhecimento técnico

sobre mineração e produção de ferro, como o engenheiro francês Jean-Antoine

Monlevade, o capitão alemão Frederico Luís Guilherme Varnhagen e seu

compatriota, Wilhelm Ludwig von Eschwege (também conhecido como “Barão de

Eschwege”), não raramente identificado como “o pai da Geologia brasileira”.

Observamos que a extração de minério de ferro, bem como a siderurgia e

até mesmo a fabricação de alguns instrumentos mais simples (atividades

metalúrgicas) para o trabalho agrícola, devem ter surgido no Brasil ainda durante o

período colonial. Pois, tanto os estudos de Vergueiro (1979) como os de Eschwege

(1979) – que foram publicados ainda no início do século XIX4 – assinalam que no

final do século XVI já existia, na região de Sorocaba – SP, uma pequena fábrica de

ferro, onde mais tarde seria instalada a Real Fábrica de Ferro de Ipanema, que

fabricava diversos tipos de instrumentos de ferro, mas que logo entraria em

decadência devido à falta de conhecimento técnico; à precariedade das vias de

3 Como destacou, Mamigonian (2000), até o início do século XIX era proibido (pela Coroa Portuguesa) desenvolver atividades industriais no Brasil. Mas, logo depois da vinda da Corte foi editado o Alvará de 28 de abril de 1809, que passou a autorizar a instalação de atividades fabris no território brasileiro. Ver: Brasil (1891, p. 46-48). 4 O estudo do senador Vergueiro – em que ele escreve sobre a História da fábrica de Ipanema – foi publicado em Portugal no ano de 1822. O estudo de Eschwege foi publicado na Alemanha em 1833 e trata-se de uma importante contribuição sobre as riquezas minerais do Brasil (Pluto Brasiliensis).

Page 33: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

14

transporte; ao escasso mercado consumidor interno e à falta de apoio

governamental. Aliás, Eschwege (1979), relatou que em 1803 conheceu em

Portugal alguns instrumentos simples, como facas e tesouras5, que foram

fabricados na província de Goiás por volta da última década do século XVIII.

Quando chegou ao Brasil, em 1811, ele constatou a existência de diversas forjas

de ferro na província de Minas Gerais, pois as próprias fazendas possuíam

pequenas fábricas artesanais para forjar instrumentos agrícolas. Geralmente, elas

eram conduzidas por escravos negros ou por mulatos libertos que possuíam

conhecimentos6 para trabalhar esse metal por meio de um sistema africano

conhecido como cadinho (em fornos baixos)7.

Apesar das dificuldades daquela época, verificamos que alguns

empreendimentos maiores começaram a ser instalados na colônia. Segundo

Vergueiro (1979), a partir de 1810 a corte portuguesa, já abrigada no Rio de Janeiro,

iniciou a instalação de uma fábrica de ferro que seria conduzida pelo capitão

Frederico Luís Guilherme Varnhagen, um alemão experiente em mineração e

siderurgia. O capital monetário necessário para a construção da Fábrica de Ferro

São João de Ipanema (instalada na atual região de Sorocaba – SP) saiu dos cofres

do governo português e da província de São Paulo, além da participação de

acionistas privados que foram conquistados junto aos contatos da Corte.

Outra fábrica de ferro construída com apoio financeiro da Coroa Real

portuguesa, foi a Real Fábrica de Ferro do Morro do Pilar, inaugurada em Minas

Gerais em 1815. Esse estabelecimento foi dirigido por um mineralogista (de origem

portuguesa) nascido na província de Minas Gerais, chamado Manuel Ferreira da

Câmara. Eschwege (1979), visitou essa fábrica e teve acesso a um relatório técnico

(feito por um mestre fundidor alemão), no qual ele verificou muitos problemas,

especialmente em relação às instalações, que precisavam ser reparadas

constantemente devido à falta de água, principal fonte de energia utilizada naquela

época. Também verificou que as despesas da fábrica eram enormes, inclusive com

5 Isso nos mostra que, provavelmente, também era possível a fabricação interna de ferramentas agrícolas mais simples, tais como enxadas, foices, pás, entre outras. 6 Como lembrou Prado Jr. (2000), muitos dos africanos que foram trazidos para o Brasil possuíam conhecimentos sobre artes em metais. 7 Na região de Itabira – MG, Eschwege encontrou algumas ferrarias que já possuíam condições para fabricar diversos produtos, inclusive armas de fogo: “o proprietário possuía várias forjas de ferreiro para fundição de ferro, e uma pequena máquina de perfurar, para fabricação de canos de espingarda.” (ESCHWEGE, 1979, p. 204).

Page 34: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

15

a perda de animais (bois e burros) utilizados no serviço, o que encarecia os custos

produtivos (gerando saldos negativos, inclusive).

O próprio Eschwege, com apoio de 10 acionistas particulares, fundou em

1811 uma fábrica de ferro (Fábrica de Ferro do Prata) em Congonhas – MG, que

começou produzir ainda em 1813. Nessa empresa, ele enfrentou diversos

problemas, tais como a precariedade no fornecimento de carvão e, principalmente,

a falta de mão de obra qualificada para a atividade. Apesar desses problemas a

sua fábrica teria obtido lucros, especialmente no biênio 1819-1820, ao contrário do

que ocorreu com as outras duas empresas citadas, que obtiveram prejuízos,

inclusive aos cofres do erário público8.

Nesse período, outras fábricas de ferro surgiram, especialmente na província

de Minas Gerais. Por exemplo, em 1817 o engenheiro francês, Jean-Antoine

Monlevade, veio para o Brasil e fundou a fábrica de ferro de Caeté – MG. Em 1825,

ele montou uma forja em Itabira e em 1827 construiu uma usina de ferro em São

Miguel de Piracicaba (no atual município de Rio Piracicaba – MG), empresa que

funcionaria até 1895.

Aliás, De Paula (1983) observou que nas primeiras décadas do século XIX,

praticamente em todo o território mineiro, a quantidade de forjas operando era

semelhante à de teares.

No entanto, naquele período a metalurgia não se desenvolveu como se

esperava. No entendimento do barão Eschwege, a falta de incentivos por parte do

governo português, foi o que mais contribuiu para o fracasso das fábricas de ferro

que surgiram nas primeiras décadas do século XIX. No seu entendimento, além

dos meios de transporte que eram precários, faltava também mão de obra

qualificada para a metalurgia, pois os negros na condição de escravos não se

motivavam para essa atividade e os brancos não eram afeitos à disciplina do

trabalho. Ele relata que mesmo os homens brancos pobres possuíam um ou dois

escravos para o trabalho, assim como não era raro encontrar até mesmo mulatos

8 Segundo os dados que Eschwege recebeu de seu compatriota, F. Varnhagen, de 1815 a 1821 a fábrica de ferro de Ipanema obteve uma produção com valor de 73.061.307 réis, mas as despesas do período alcançaram 100.350.479 réis, resultando, portanto, em 27.289.200 réis de prejuízo. Grande parte dessas despesas era resultado da má administração anterior e da reforma que Varnhagen teve que fazer na fábrica a partir de 1815. No período 1815 a 1821 a fábrica de ferro do Morro do Pilar obteve uma produção de 6.865 arrobas de ferro, avaliadas em 13.730.000 réis, mas as despesas do período totalizaram 44.284.000 réis, por conseguinte, resultando em 30.554.000 réis de prejuízo (ESCHWEGE, 1979).

Page 35: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

16

livres que possuíam seus escravos9.

De Paula (1983), também entende que naquela época praticamente não

ocorreu apoio governamental à indústria, pois quando havia uma política tributária

que beneficiava a produção manufatureira, logo surgia outra que reestabeleceria o

liberalismo comercial, favorecendo as exportações (o que era bom), mas também

as importações, o que atrasou o desenvolvimento industrial do Brasil.

O que pretendemos ressaltar é que essa política contraditória – que aliás já

foi destacada por Mamigonian (2000) – contribuiu para a falência da maioria das

fábricas de ferro que surgiram no início do século XIX10.

1.4 Abertura dos Portos e a Contraditória Política de Incentivos às Atividades

Industriais

Anteriormente, observamos que a vinda da família real portuguesa para o

Brasil gerou mudanças na economia colonial, inclusive fazendo surgir algumas

atividades industriais. Mas, também há de se mencionar que o processo de

Abertura dos Portos (1810) levantou alguns obstáculos para as atividades

industriais embrionárias, à medida que elas não estavam preparadas para enfrentar

a concorrência dos produtos estrangeiros.

Ao estudar a economia brasileira do período colonial, Mamigonian (2000)

verificou que, por estar articulada ao centro dinâmico da economia mundial, ela

gerou políticas economia que reagiram às mudanças ocorridas nos países

industrializados. Essas mudanças externas estimularam o surgimento de atividades

econômicas internas paralelas à economia principal. Em seu entendimento, ainda

no final do século XVII e início do XVIII a economia colonial já teve que reagir às

variações do fluxo do comércio exterior, quando a concorrência do açúcar de cana

produzido nas Antilhas reduziu as exportações brasileiras, resultando em

9 “O branco, mesmo quando pobre, não move uma palha, pois até na vadiagem encontra com que viver. O mais das vezes, limita-se a possuir um escravo, que se encarrega de sustentá-lo.” (ESCHWEGE, 1979, p. 264). 10 Em 1831 foi fechada a Real Fábrica de Ferro do Morro do Pilar e, em 1860, a Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema, que foi reaberta em 1865 para fabricar armas para a Guerra do Paraguai, mas que foi definitivamente fechada em 1895. Mas, apesar das dificuldades enfrentadas um relatório do engenheiro francês, Monlevade, aponta que em 1853 existiam 84 forjas na área central da província de Minas Gerais e que empregavam cerca de duas mil pessoas (DE PAULA, 1983).

Page 36: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

17

subutilização da mão de obra existente nas fazendas. Parte dos fazendeiros

conseguiu utilizar a força de trabalho ociosa liberando os escravos (um dia ou dois

por semana) para cultivar alimentos para subsistência.

Mamigonian, também apresenta outros exemplos de mudanças ocorridas na

economia colonial brasileira em períodos de recessão. Por exemplo, quando a

extração de ouro se tornou decadente em Minas Gerais (a partir de meados do

século XVIII) as fazendas daquela província começaram desenvolver uma série de

atividades artesanais, tais como a confecção de panos costurados em teares

rudimentares, de modo a utilizar a mão de obra ociosa e gerar renda alternativa.

A partir desse entendimento, constatamos que no período em que surgiu as

primeiras fábricas de ferro no Brasil se fazia imprescindível uma substituição de

importações, inclusive por meio de atividades industriais, pois coincidiu com uma

fase de instabilidade nas economias europeias, principalmente a partir da queda de

Napoleão Bonaparte (1815) e da diminuição do comércio exterior, conforme

observou Kondratieff (1947). Porém, como mencionamos anteriormente, a política

econômica utilizada pela Corte portuguesa para a sua colônia se mostrou

contraditória. Há de se frisar que a vinda da monarquia portuguesa traria, do ponto

de vista legal, a permissão para se instalar atividades industriais na colônia, pois,

como ressaltou Mamigonian (2000), o Alvará de 28 de abril de 1809 autorizava a

instalação de fábricas11. Mas, por outro lado, o Acordo de 19 de fevereiro de 1810

acabou debilitando a indústria brasileira nascente, pois os produtos manufaturados

ingleses foram beneficiados com tarifas especiais12.

Aliás, no capítulo 1 do livro quarto da Riqueza das nações, Smith (1996)

apontou o comércio externo como uma importante fonte de riqueza ao compensar

os limites do mercado interno13. E no capítulo 2 do referido livro, ele ressaltou que

11 O referido alvará contém 7 parágrafos, concedendo isenção de impostos na Alfândega para as importações de matérias-primas para a indústria instalada no país (parágrafos I e II); o Governo dava preferência de comprar fardamentos para as tropas de fábricas brasileiras (parágrafo III); dentro do possível não se recrutaria soldados que fossem operários das fábricas e da agricultura (IV); previa apoio financeiro para investimento em máquinas e expansão das fábricas (V); concederia patente de direito de invenção (com duração de 14 anos) para os inventores de máquinas e técnicas industriais, devendo ao término do período serem entregues ao domínio público (VI) e o parágrafo VII previa incentivos à marinha mercantil, inclusive reduzindo impostos na Alfândega (BRASIL, 1891, p. 46-48). 12 Como destacou Simonsen (1957), esse acordo com a Inglaterra aniquilou as manufaturas brasileiras. 13 No capítulo 7 do citado livro, Smith (1996) observou que o monopólio do comércio colonial permitiu à Inglaterra obter uma lucratividade muito superior à alcançada em seu mercado interno.

Page 37: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

18

uma das formas de proteger o mercado interno para as manufaturas nacionais é

restringir as importações de produtos similares por meio de tarifas alfandegárias

ou, simplesmente, proibindo os importados. Ou seja, segundo os apontamentos de

Smith acreditamos que a Inglaterra receitava um modelo de política liberal,

buscando favorecer suas exportações, porém “negava” os princípios do liberalismo

ao reservar o mercado doméstico para sua indústria14.

Em relação à produção de ferro, Eschwege (1979) inclusive criticou os

portugueses por serem despreparados do ponto de vista técnico e administrativo,

relatando que até os padres davam palpites na siderurgia. Mas, acreditamos que

as contradições expressas nas políticas econômicas implantadas no Brasil, sob o

comando dos portugueses, são resultado da própria relação contraditória entre

Portugal e a Inglaterra, um país influente econômica e militarmente que receitava o

liberalismo, mas que praticava o protecionismo.

1.5 A Dualidade da Economia Brasileira e a Orientação para o Mercado

Externo

Acreditamos que as decisões políticas, por insistirem no mercado externo

em uma conjuntura de recessão da economia mundial (e que resultou em

desvantagens à economia brasileira), não foi fortuito. Ao contrário, foi uma

alternativa que representou a vontade, embora que contraditória, das classes

sociais que estavam no poder na primeira metade do século XIX, pois essa política

econômica é fruto de um pacto de poder que se firmou nesse período. Ao analisar

a economia brasileira, Rangel (1981) verificou que nos períodos recessivos da

economia mundial – aquilo que o autor chama de fases “b” dos ciclos longos ou

ciclos Kondratiev15 – se formaram alianças entre duas classes sociais, uma mais

14 Ora, como destacou Chang (2004), no período 1821-1825 a Grã-Bretanha utilizou tarifas alfandegárias de 53,1% para proteger a sua indústria (e de 47,2% no período 1826-1830). Ou seja, o discurso liberal dos ingleses daquela época, na prática, já servia aos seus interesses econômicos expansionistas. Portanto, observamos que o “incompreensível” Acordo de 19 de fevereiro de 1810 (a sujeição da economia brasileira aos interesses mercantis ingleses) não foi acidental, pois ele surgiu em um período em que a monarquia portuguesa se viu obrigada a ceder aos interesses econômicos da Inglaterra, país que lhe deu apoio militar quando o exército de Napoleão invadiu o reino de Portugal. 15 O economista e estatístico russo Nicolai Kondratiev foi o primeiro que tentou explicar a existência dos chamados ciclos longos da economia. Grosso modo, esses ciclos se caracterizam por períodos

Page 38: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

19

madura para assumir o controle político, aliada a outra classe subalterna,

importante para o acordo, mas que na referida conjuntura não teria experiência

política suficiente para conduzir a economia nacional.

De acordo com esse autor, na fase recessiva ou “b” do 1º ciclo longo (1815

a 1848, mais ou menos) a aliança política foi forjada entre a classe dos fazendeiros

escravistas (de certa forma, com experiência política tecida no período colonial) e

o capital mercantil brasileiro, que era uma dissidência do velho capital mercantil

português, aquele que controlava (via monopólio mercantil) a economia brasileira

antes da vinda da Corte portuguesa. Portanto, o pacto entre fazendeiros escravistas

e os comerciantes brasileiros, caracterizava-se por uma unidade que visava

controlar a economia, mas contendo interesses conflitantes como, por exemplo, o

dos comerciantes que lutavam por um livre mercado articulado às atividades

urbanas, o que não interessava aos senhores de escravos que se beneficiavam

das exportações agrícolas, mas que não se interessavam em produzir para o

mercado interno que naquela época era porco expressivo. A esses pactos, firmados

entre classes com interesses, por um lado, comuns e, por outro, contraditórios,

Rangel (1981) chamou de dualidade básica da economia brasileira.

Há de se ressaltar que as alianças desse período, de certa forma, retardaram

a industrialização brasileira, inclusive do setor de máquinas agrícolas que

analisamos nessa pesquisa, pois a poderosa classe dos fazendeiros julgou que

seria mais lucrativo investir nas exportações, inclusive em um período recessivo

para a economia dos países centrais. Pelo gráfico 1, podemos observar o

desempenho das exportações agrícolas brasileiras no período 1821-1848. Se

analisarmos a evolução das exportações desse período, especialmente de café e

de açúcar, verificaremos que ocorreu um considerável aumento, particularmente a

partir da década de 1830, ao contrário das exportações de algodão que estiveram

praticamente estagnadas nesse período. Porém, se analisarmos o valor das

exportações – o que mais interessa quando se analisa o desempenho da balança

comercial –, perceberemos que a recessão desse período fez cair a cotação

internacional desses produtos. Por exemplo, em 1821 a tonelada de algodão em

de mais ou menos 25 anos de prosperidade, sucedidos por períodos (de semelhante duração) marcados por crise e recessão. Nessa pesquisa, utilizaremos a datação dos ciclos longos fornecida pelo próprio Kondratieff (1946).

Page 39: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

20

pluma foi exportada a 86,7 libras esterlinas (£), mas em 1848 o preço caiu para £

44,7 a tonelada. O açúcar foi exportado, em 1821, a £ 31,2 a tonelada, mas em

1848 caiu para £ 14,4. Ou seja, o aumento na quantidade das exportações de

açúcar reflete um falso sucesso, pois as vendas saltaram de 35.168 para 114.101

toneladas no período 1821-1848, porém o valor total das exportações desse

produto estiveram praticamente estagnadas, passando de £ 1,1 milhão para £ 1,7

milhão (IBGE, 1941).

Gráfico 1 Evolução das exportações dos principais produtos agrícolas brasileiros – 1821-1848

Nota: Para o café os números foram arredondados porque transformamos os dados originais, que estavam em sacas de 60 kg, para toneladas.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Comércio Exterior do Brasil (IBGE, 1941).

Em relação ao valor das exportações de café, observamos que a queda foi

ainda maior. Em 1821 a tonelada foi exportada a £ 91,9, mas caiu para £ 20,9 em

1848. O valor total das exportações desse produto passou de £ 704 mil, em 1821,

para £ 2,9 milhões em 1848, o que demostra crescimento nesse período. Mas, até

1831 o valor das exportações de café também esteve estagnado, pois a

recuperação só ocorreu a partir da década de 1830 (IBGE, 1941).

Consequentemente, essa estagnação no valor das exportações brasileiras

refletiria no intercâmbio comercial com outros países. Pelos dados do Comércio

10

.63

1

9.3

00

7.7

00

14

0.1

00

35

.16

8

11

4.1

01

0

15000

30000

45000

60000

75000

90000

105000

120000

135000

150000

18

21

18

22

18

23

18

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18

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18

26

18

27

18

28

18

29

18

30

18

31

18

32

18

33

18

33/3

4

18

34/3

5

18

35/3

6

18

36/3

7

18

37/3

8

18

38/3

9

18

39/4

0

18

40/4

1

18

41/4

2

18

42/4

3

18

43/4

4

18

44/4

5

18

45/4

6

18

46/4

7

18

47/4

8

To

ne

lada

s

Algodão em pluma Café Açúcar

Page 40: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

21

Exterior do Brasil, podemos analisar a relação exportação/importação com seus

principais parceiros estrangeiros daquele período, que eram a Alemanha, França,

Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Com os Estados Unidos (3º maior parceiro da

época) o saldo comercial brasileiro foi positivo, tanto no biênio 1842/43 (com

114,1%) como em 1852/5316, no qual o saldo foi ainda mais expressivo, alcançando

312,4% (o Brasil exportou o equivalente a £ 2,6 milhões e importou £ 848,3 mil).

Com a Alemanha o Brasil também obteve saldo positivo (194,2%) no primeiro

biênio, mas foi negativo em 1852/53, quando o valor das exportações não

ultrapassou 69,5% do valor das importações. Com a França (2º maior parceiro da

época) o intercâmbio foi deficitário nos dois períodos, no primeiro biênio as

exportações alcançaram o equivalente a 40,6% das importações e em 1852/53 foi

de apenas 36,6%. Com a Grã-Bretanha (maior parceiro comercial do período)

também ocorreu déficit nas relações comerciais; em 1842/43 as exportações

equivaleram a 46,6% das importações daquele país e no biênio 1852/53

alcançaram 53,0% do valor das importações (IBGE, 1941)17.

Há de se mencionar que nessa conjuntura econômica desfavorável à

balança comercial a indústria brasileira, rudimentar, foi duramente atingida, devido

à concorrência dos produtos estrangeiros (principalmente dos ingleses). Nesse

período, até mesmo as maiores fábricas de ferro, inclusive as que receberam

financiamento do Estado, não resistiram à recessão. Por exemplo, em 1822 o barão

Eschwege retornou para a Europa e, aos poucos, a Fábrica Patriótica (que

fabricava ferro em Congonhas – MG) virou ruinas. E como destacamos

anteriormente, em 1831 foi fechada a Real Fábrica de Ferro do Morro do Pilar e em

1860 a Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema18.

Porém, ao contrário do que ocorreu no período anterior, a partir da segunda

metade do século XIX a balança comercial brasileira melhorou significativamente,

pois ao iniciar a fase ascendente do 2º ciclo longo (1849 a 1874) os países centrais

ampliaram suas exportações, expandindo, também, seus recursos para importar

produtos dos países periféricos, conforme destacou Rangel (1981).

16 Os dados do IBGE (1941), referem-se a apenas a dois biênios, 1842/1843 e 1852/1853. 17 Com Portugal (histórico parceiro comercial brasileiro) o déficit também foi grande. No primeiro período foi de -23,9% e no biênio 1852/53 foi de -47,9% (IBGE, 1941). 18 Aliás, Mamigonian (2000) observou que a concorrência das manufaturas inglesas não poupou nenhuma das fábricas recém instaladas no Brasil, inclusive as do setor têxtil que produziam para o mercado interno.

Page 41: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

22

Pelos dados do gráfico 2, podemos observar que as exportações de café

aumentaram constantemente de 1849-1899; as de açúcar aumentaram até 1887;

enquanto que as de algodão em pluma mantiveram-se, praticamente, estagnadas

nesse período. Além disso, a partir de 1849 os preços desses produtos

aumentaram consideravelmente. Por exemplo, no ano de 1849 a tonelada de

algodão em pluma era exportada a £ 29,0, aumentando para £ 56,0 no ano de 1861,

embora que tenha caído para £ 46,7 no ano de 1874. Mas, a partir da nova fase

recessiva da economia mundial os preços voltaram a cair. Em 1887 a tonelada de

algodão foi exportada por £ 50,5, mas caiu para £ 39,4 no ano de 1899.

Gráfico 2 Evolução das exportações dos principais produtos agrícolas brasileiros – 1849-1899

Nota: *Para o café os dados foram arredondados porque transformamos os dados originais, que estavam em sacas de 60 kg, para toneladas.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Comércio Exterior do Brasil (IBGE, 1941).

Para as exportações de açúcar, observamos que no ano de 1849 o valor era

de £ 13,2 a tonelada; passando para £ 18,0 no ano de 1861; para £ 12,3 em 1874;

para £ 5,6 em 1877 e para £ 12,8 no ano de 1899. Portanto, verificamos que o valor

do açúcar esteve mais estável (com exceção do ano de 1874), o que deve ter

favorecido as exportações, inclusive em um novo período depressivo da economia

180.075505.582

318.325 202.536

1.998.982

2.361.317

3.573.114

4.860.419

1.521.325

1.687.473

2.574.263

1.736.631

0

1000000

2000000

3000000

4000000

5000000

6000000

1849-1861 1862-1874 1875-1887 1888-1899

To

ne

lada

s

Período

Algodão em pluma Café Açúcar

Page 42: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

23

mundial (ocorrido entre 1874 e 1895, mais ou menos).

O preço do café subiu durante a fase expansiva do 2º ciclo longo, mas caiu

durante a fase recessiva, o que é de se esperar da conjuntura econômica mundial,

segundo o próprio Kondratieff (1946)19. Por exemplo, no ano de 1849 a saca de 60

kg. de café foi exportada a £ 1,06; em 1861 o valor subiu para £ 2,39 e no ano de

1874 para £ 4,31 a saca. Mas, ao iniciar a nova fase depressiva da economia

mundial o preço voltou a cair, para £ 2,39, em 1887, e para £ 1,48 no ano de 1899

(IBGE, 1941)20.

Assim como ocorreu no período anterior, a partir de 1849 a balança

comercial brasileira também foi desfavorável. No período 1862/63 o valor das

exportações à Grã-Bretanha equivaleram a 91,1% das importações daquele país,

subindo para 98,6% no biênio 1872/73, mas regredindo para 78,4% no ano de

1901, o que retrata um déficit comercial, apesar de ter sido menos desigual do que

ocorreu nos biênios 1842/43 e 1852/53, como abordamos anteriormente.

Enfim, ressaltamos que no período que abrange a Independência do Brasil

ao final do século XIX a orientação das classes dirigentes do país (fazendeiros

escravistas e os comerciantes exportadores/importadores) não foi favorável à

industrialização, pois se restringiu às atividades agrícolas voltadas ao mercado

externo. De certa forma, isso é compreensível, pois se utilizou a capacidade

produtiva já instalada como as lavouras formadas, engenhos de açúcar etc.

Ademais, o Brasil não possuía uma estrutura para servir de base à industrialização,

19 Em seu estudo, Kondratieff (1946) verificou que os preços das mercadorias começam aumentar nos períodos prósperos da economia, atingindo picos nas fases onde ocorre a cisão, isto é, quando a economia entra em crise e depois em recessão. A partir dessa fase os preços começam a cair. Portanto que para iniciar um novo ciclo de crescimento os preços não podem estar inflacionados. 20 Em relação às exportações de algodão os dados expostos no gráfico 2 já refletem a recessão que ocorreria especialmente a partir de 1874. Para o açúcar e o café os dados quantitativos expressam sucesso nas exportações brasileiras, inclusive a partir da fase depressiva do 2º ciclo longo. Mas, se analisarmos o valor total obtido pelas vendas, verificaremos que especialmente a partir de 1875 a economia agroexportadora brasileira esteve estagnada. Por exemplo, no ano de 1849 se obteve o total de £ 2,2 milhões para o total de 2,1 milhões de sacas de 60 kg de café; em 1874 o valor subiu para £ 12 milhões para 2,8 milhões de sacas e em 1899 subiu para £ 14,5 milhões, mas no total foi exportado 9,8 milhões de sacas de café. Ou seja, o período em que correu um aumento considerável na receita obtida com o café foi o de 1849-74 (fase “a” do 2º ciclo longo), pois no período posterior o país teve que aumentar consideravelmente a quantidade de produto exportado para obter um aumento discreto na receita, o que obrigaria a produção interna ter tido um aumento de produtividade fantástico (o que provavelmente não ocorreu) para manter a lucratividade. A exportação de açúcar evoluiu de modo que em 1849 a receita foi de £ 1,7 milhão para 125 mil toneladas; em 1874 se obteve £ 1,9 milhão para 155 mil toneladas e em 1900 a receita foi de £ 1,4 milhão para 92 mil toneladas. Isto é, a partir de 1875 a exportação de açúcar estagnou e passou a regredir, efeito da depressão da economia mundial (IBGE, 1941).

Page 43: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

24

o que deveria ser realizado por meio de políticas industriais específicas21.

Como indicamos anteriormente a orientação da economia do Brasil para o

mercado externo era receitada pela Inglaterra, inclusive apoiando-se na teoria de

Smith (1996) sobre as vantagens absolutas do comércio exterior, como do acesso

ao mercado consumidor, à matérias-primas e produtos diversificados. Além, disso

Ricardo (1982) mostrou que em determinados contextos o mercado externo pode

ser lucrativo inclusive às nações menos desenvolvidas, desde que elas atuem em

atividades em que o tempo de trabalho social gasto na produção seja relativamente

inferior; por conseguinte, resultando em vantagens (comparativas) a esses países

no comércio mundial22.

Nessa ótica, as atividades agrícolas para exportação eram consideradas

vantajosas ao Brasil se comparadas às de outros países.

1.6 A Orientação para a Economia Agroexportadora e as Primeiras Fábricas

de Máquinas Agrícolas no Brasil

Especialmente em relação à indústria de ferro, que é base para a fabricação

de máquinas agrícolas, o período que contempla a 1ª dualidade foi desastroso.

Inclusive, em 1880 o francês Henrique Gorceix, professor da Escola de Minas de

Ouro Preto23, fez apelos até em jornais de partidos políticos sobre a necessidade

do apoio governamental à siderurgia24, semelhante ao que W. Eschwege e o

senador Vergueiro fizeram no início do século XIX.

Aliás, o estudo de outro professor francês (Armand Bovet) da Escola de

Minas de Ouro Preto, publicado em 1883, nos mostra que no final do século XIX as

21 Apesar de estrangeiros, como o barão Eschwege (1979), mostrarem que seria possível instalar até a siderurgia no país; apesar de políticos como o senador Vergueiro (1979) defender a indústria de base, etc., não era uma classe industrial que estava no poder naquele período, o que contribuiu para essa situação: a negligencia com a industrialização do Brasil. 22 Ver capítulo 7 do livro Princípios de Economia Política e Tributação (RICARDO, 1982). 23 De acordo com Carvalho (2010), a Escola de Minas de Ouro Preto foi criada quando o próprio imperador D. Pedro II pediu para trazer da França o mineralogista Claude-Henri Gorceix, que em 1876 fundou a tal escola – inclusive sendo seu primeiro diretor – com o objetivo de estudar a mineralogia no Brasil. A partir de 1969 a Escola de Minas de Ouro Preto foi incorporada à Universidade Federal de Ouro Preto. 24 Por exemplo, em um artigo publicado em 01 de setembro de 1880, pelo jornal A Actualidade – do Partido Liberal de Minas Gerais –, H. Gorceix defendeu a importância da produção de ferro, inclusive sugerindo que o governo apoiasse a siderurgia (inclusive o ferro produzido no sistema de cadinho, mais antigo) por meio de prêmios para cada estabelecimento implantado; promovendo concursos e exposições, entre outras ações, o que poderia melhorar a qualidade do produto (GORCEIX, 1880).

Page 44: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

25

fábricas de ferro daquela província ainda utilizavam sistemas artesanais de

produção, semelhantes aos métodos que o geólogo alemão, W. Eschwege,

encontrou ao visitar as pequenas fundições de Minas Gerais, no início daquele

século. Ou seja, a siderurgia brasileira havia “parado no tempo” 25.

Nessas condições, as poucas fábricas que resistiram à falta de apoio

governamental se dedicaram à fabricação de ferramentas mais simples. Pelos

relatos de Bovet (1883), podemos observar que nos anos 1880 se fabricava até

implementos agrícolas em Minas Gerais, tais como arados e charruas26. Gorceix

também relatou ter encontrado um estabelecimento, naquela província, capaz de

produzir, além de outros objetos, 1500 enxadas de aço por ano (GORCEIX, 1980).

Apesar dessa conjuntura desfavorável à industrialização, Mamigonian

(2000) acredita que as primeiras unidades industriais do Brasil surgiram no

Nordeste (principalmente na Bahia) porque durante a fase recessiva do primeiro

ciclo longo (1815-1848) reduziu as exportações brasileiras de açúcar, então os

comerciantes daquela região passaram a investir em atividades industriais mais

simples (especialmente no setor têxtil), inclusive para utilizar a parte da mão de

obra ociosa.

Aliás, Suzigan (1986) aponta que em 1905 ainda existiam no Brasil alguns

estabelecimentos do setor têxtil que foram fundados ainda nas primeiras décadas

do século XIX. Existiam três estabelecimentos na Bahia, um fundado em 1834,

outro em 1835 e o terceiro em 1844; dois estabelecimentos no Rio de Janeiro, um

fundado em 1840 e outro no ano de 1849; além de um estabelecimento localizado

em Minas Gerais que foi fundado em 1847.

Destaca-se que a indústria de máquinas agrícolas, embora que artesanal,

também começou se desenvolver ainda no século XIX, especialmente a partir da

década de 1850. A partir de informações retiradas do estudo de Marson (2012) –

sobre a origem dos empresários da indústria de máquinas e equipamentos de São

Paulo –, constatamos que as primeiras fábricas surgiram a partir da iniciativa de

25 Segundo Bovet (1883), no início dos anos 1880 existia na área central de MG cerca de 75 fábricas de ferro produzindo ferraduras, pregos e instrumentos agrícolas. Mas, o relatório de Monlevade, de 1853, já apontava a existência de mais de 80 fábricas desse tipo, o que demonstra a estagnação do setor, pelo menos em quantidade de estabelecimentos (DE PAULA, 1981). 26 A charrua é um tipo de arado que foi inventado durante a Idade Média (a partir do século XI). Por ser um implemento agrícola construído com ferro, é mais resistente que os arados de madeira e mais eficiente no revolvimento do solo, o que o tornou importante para a agricultura europeia (FRANCO JÚNIOR, 2001).

Page 45: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

26

comerciantes importadores que possuíam oficinas destinadas ao conserto e à

fabricação de peças de reposição para as máquinas agrícolas importadas. Por

exemplo, em 1858 o imigrante Johan Ludwig Benjamin Faber (nascido em Berlim,

onde tinha uma fundição de ferro) abriu em Campinas – SP uma pequena fundição.

Além de consertar máquinas agrícolas, utilizadas especialmente no cultivo do café,

ele também começou fabricar peças para ferrovias e para máquinas agrícolas a

partir de matéria-prima importada da Alemanha27.

Outro exemplo é da Arens & Irmãos que foi fundada na década de 1870, no

Rio de Janeiro, por três irmãos formados em Engenharia Mecânica na Alemanha.

Ainda nos anos 1870 um dos proprietários se mudou para Campinas – SP, onde

começou montar e consertar máquinas agrícolas importadas, além de fabricar

alguns modelos mais simples. Inclusive, naquela época essa empresa era a única

importadora de máquinas a vapor e motores da Marshall Sons & Cia. da

Inglaterra28.

Também em Campinas surgiu, em 1875, a Cia. Mac-Hardy. Ela foi fundada

pelo imigrante escocês Guilherme Mac-Hardy, que veio para o Brasil para trabalhar

na Lidgerwood, uma importadora de máquinas. A empresa de Mac-Hardy expandiu

a partir da década de 1880, instalando uma fundição de peças para fabricar

máquinas especialmente para o beneficiamento de café. Inclusive, a partir dessa

época ela se tornaria uma sociedade anônima. Em 1893, Guilherme Mac-Hardy

retornou à Escócia, mas continuou como sócio da empresa que havia fundado no

Brasil (MARSON, 2012).

Marson, menciona que essas empresas importavam, consertavam e

fabricavam máquinas agrícolas utilizadas, especialmente na cafeicultura e nas

lavouras de cana-de-açúcar, mas não menciona que tipo de máquinas eram

produzidas no Brasil. Provavelmente, seriam máquinas do tipo transmissão e

ferramenta – conforme com a definição que utilizamos no início desse capítulo a

partir de Marx (1984a) –, portanto, não possuindo um motor próprio. Então,

acreditamos que elas deveriam ser acionadas por máquinas a vapor29.

27 Essa empresa existiu até 1909, quando paralisou totalmente as suas atividades (MARSON, 2012). 28 Segundo Marson, em 1889 essa empresa encerrou suas atividades em Campinas e teria se transferido para Jundiaí – SP. 29 Chegamos a essa hipótese porque naquela época já se utilizava máquinas a vapor no Brasil, pois, de acordo com o próprio estudo de Marson (2012), a empresa Arens & Irmãos importava máquinas a vapor da Marshall Sons & Cia, como mencionamos anteriormente.

Page 46: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

27

Há de se frisar que as unidades industriais que surgiram na segunda metade

do século XIX, como as fábricas de máquinas agrícolas da região de Campinas que

destacamos anteriormente, resistiram a uma política econômica “titubeante”, pois

se alternaram períodos com medidas, de certo modo, protecionistas, sucedidos por

períodos com medidas liberais. Por exemplo, Mamigonian (2000) destaca que em

1844 acabou a vigência do acordo firmado entre a Inglaterra e Portugal sobre a

Abertura dos Portos, então no dia 12 de agosto daquele ano foi editada a Tarifa

Alves Branco – nome do ministro da Fazenda daquela época – que elevou os

impostos de importação à 30% para produtos que não possuíssem produção de

similares no Brasil e à 60% para os importados que pudessem ser fabricados

internamente30.

Para a importação de aço – matéria-prima utilizada inclusive pelas fabricas

de máquinas agrícolas – a referida tarifa (Decreto nº. 376 de 12 de agosto de 1844)

previa um imposto de 25%, pois, como já ressaltamos, naquela época a produção

de ferro no Brasil era totalmente artesanal, por conseguinte, não atendendo à

demanda interna. Aliás, no Brasil nem se produzia aço naquela época, o que nos

faz pensar que o país era dependente da importação dessa matéria-prima, o que

justifica a utilização de uma tarifa menor que a utilizada para a importação de outros

produtos não fabricados internamente (BRASIL, 1844)31.

Porém, a política econômica utilizada no Brasil a partir dos anos 1860

novamente deixou desprotegida as atividades industriais. Por exemplo, a Tarifa

Silva Ferraz (Decreto nº. 2.684 de 3 de novembro de 1860), elaborada por Ângelo

Moniz da Silva Ferraz (Ministro da Fazenda), baixou os impostos de importação

para apenas 5% (BRASIL, 1860).

Aliás, o Decreto nº. 5.580 de 31 de março de 1874 (Tarifa Rio Branco) foi

ainda mais liberal, à medida que concedeu a isenção de impostos de consumo na

Alfandega para uma quantidade enorme de produtos. Entre eles: aos modelos de

30 Essa medida parece acertada, pois era praticada por outros países, como pela Inglaterra que utilizava altas tarifas para proteger a sua indústria (como citamos anteriormente). Aliás, os Estados Unidos também se valia desse instrumento. Por exemplo, nessa época os EUA utilizou tarifas de 40 a 50% (CHANG, 2004). 31 Essa tarifa decidia o que iria ser importado. Por exemplo, a importação de joias de ouro e prata pagava apenas 4% de impostos e a de diamantes, só 2% (BRASIL, 1844). Lembrando que durante a fase expansiva do 2º ciclo longo a classe dos fazendeiros passou a ter vida luxuosa, construindo palacetes nas cidades, importando móveis de luxo, cristais, louças e outros artigos da Europa, como destacaram Rangel (1981) e Mamigonian (2000).

Page 47: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

28

máquinas (§ 2º); aos instrumentos para a agricultura, oficinas mecânicas e aos

objetos de imigrantes colonos que viessem resistir no império (§ 3º); às máquinas

para a agricultura (para lavrar a terra e para preparar produtos agrícolas) e para

fábricas e oficinas – movidas a vapor, a água, ar, vento ou a eletricidade, ou

quaisquer outros motores, fixos ou locomóveis (§ 29º); às peças de máquinas para

reposição (§ 30º); à importação de alambiques, fornalhas, caldeiras, moinhos e

objetos semelhantes para uso da lavoura e das fábricas – artigo 31º (BRASIL,

1975).

Verificamos que essa tarifa foi extremamente agressiva à indústria brasileira,

pois no ano de 1874 – que marcaria o fim da fase ascendente do 2º ciclo longo,

entrando em uma fase recessiva, conforme destacou Kondratieff (1946) – iniciou

uma fase de falências no Brasil, a começar pelo Banco Mauá e pelo Banco

Nacional, conforme assinalou Luz (1957). Aliás, em outro artigo essa autora mostra

que ainda no ano de 1874 eclodiu diversos protestos, especialmente dos

fabricantes de chapéus do Rio de Janeiro que estavam falindo, devido à

concorrência de produtos mais baratos importados da Alemanha (LUZ, 1958a).

Porém, há de se destacar que a recessão que se instalou a partir dessa

época fez surgir uma nova tentativa de proteger a produção industrial brasileira. Por

exemplo, o Decreto nº. 7.552 de 22 de novembro de 1879 (de Affonso Celso de

Assis Figueiredo) elevou de 5% para 10% as tarifas sobre as importações. Mas, se

compararmos esses percentuais aos fixados pela Tarifa Alves Branco (de 1844),

que chegava a 60%, como destacamos anteriormente, verificaremos que a partir

de 1879 a incipiente indústria brasileira continuou desprotegida, sendo exposta à

concorrência dos produtos estrangeiros.

Mas, a partir do próprio estudo de Luz (1958a), verificamos que a essa altura

já “engatinhava” no Brasil uma classe industrial. Existiam desacordos, por exemplo,

entre industriais da tecelagem com os da indústria de fiação sobre alguns aspectos,

mas, por outro lado, já se cogitava a formação de associações industriais,

especialmente no Rio de Janeiro onde a indústria era mais madura.

Observamos que o próprio fato da classe latifundiária, nos anos 1880, ter se

levantado contra à industrialização, alegando que “faltaria mão de obra para a

agricultura”, considerada a única atividade lucrativa naquela época, conforme

observou Luz (1958a), também demostra que estava se engendrando conflitos

Page 48: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

29

internos que exigiam mudanças, inclusive a formação de um novo pacto de poder,

uma nova dualidade, como diria Rangel (1981).

Constatamos que naquele período (a partir do Decreto nº. 8.360 de 31 de

dezembro de 1881) o capital mercantil voltaria a “mostrar suas garras”, derrubando

os impostos alfandegários. Mas, segundo Luz (1858a), ao longo da década de 1880

um sentimento nacionalista se fortaleceria e tentaria resistir a essa política liberal.

Ela destaca que os industriais (e até mesmo parte dos pequenos agricultores)

passaram a criticar a classe dos comerciantes – especialmente os importadores –,

inclusive defendendo a ideia de que o comércio externo teria que ser nacionalizado

para evitar a drenagem de recursos para o exterior.

1.7 A Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas e a Questão da Mão de Obra

no Século XIX

Na introdução desse capítulo, expomos uma citação de Marx (1984a), na

qual ele afirma que as máquinas têm como finalidade aumentar a produtividade do

trabalho ao substituir parte da mão de obra, reduzindo custos produtivos, o que

permite aumentar a extração de mais-valia. Isto é, aumentar a lucratividade do

capital. Portanto que as máquinas só são utilizadas, seja na indústria, seja na

agricultura, se elas forem mais produtivas que os trabalhadores que são capazes

de substituir: “a autovalorização do capital por meio da máquina está na razão direta

do número de trabalhadores cujas condições de existência ela destrói.” (Marx,

1984a, p. 48).

Em seu estudo sobre a questão agrária na Alemanha, realizado na virada do

século XIX para o XX, Kautsky (1986) verificou que a agricultura possui

especificidades que atrasam a sua mecanização. No seu entendimento, uma

dessas singularidades é o caráter sazonal do trabalho no campo, onde se tem

atividades que concentram as tarefas em certos períodos (geralmente, no plantio e

na colheita), o que deixa as máquinas ociosas em grande parte do ano,

especialmente onde o tamanho dos estabelecimentos rurais é reduzido. Além

disso, ele menciona que o principal fator que dificulta a inserção de máquinas na

agricultura é o baixo custo da mão de obra camponesa, pois: “quanto mais baixos

os salários, tanto mais difícil a introdução da maquinaria.” (KAUTSKY, 1986, p. 42).

Page 49: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

30

Na mesma época, ao estudar as particularidades da agricultura na Rússia,

Lênin (1982) chegou a conclusões semelhantes às de Kautsky: “ora, é notório que

os baixos salários constituem um dos maiores obstáculos à introdução de

máquinas.” (LÊNIN, 1982, p. 147).

Celso Furtado, dedicou quatro capítulos de seu livro Formação Econômica

do Brasil, ao que ele chamou de “problema da mão-de-obra”. No seu entendimento,

por volta de 1850 o número de escravos no Brasil, provavelmente, não alcançasse

2 milhões de indivíduos e segundo o censo demográfico de 1872 havia diminuído

para 1,5 milhão de escravos; o que dificultaria o aumento da produção agrícola

devido à inelasticidade da oferta de trabalho. A alternativa, então, foi a busca de

trabalhadores estrangeiros, mas que se tornou cara em um primeiro momento,

obrigando o governo brasileiro a arcar com o custo do transporte dos imigrantes e

os cafeicultores com os gastos dos colonos até a colheita chegar32.

A eliminação do trabalho escravo, no entendimento de Furtado, também não

resolveria satisfatoriamente o problema da oferta de trabalhadores, pois na região

cafeeira de São Paulo os negros libertos passaram a receber salários relativamente

altos a ponto de baixar a produtividade do trabalho, pois Furtado acredita que

homens que haviam sido escravizados não responderiam a estímulos econômicos,

não trabalhando além de suas necessidades de subsistência.

De acordo com o estudo de Eltis e Richardson (2003), no período de 1801 a

1850 foram trazidos para o Brasil o total de 1,8 milhão de escravos africanos. Mas,

no período de 1851 a 1867 entraram apenas 6,9 mil escravos, inclusive devido à

proibição do tráfico que havia ocorrido a partir de 185033. Portanto, se fizermos uma

média a partir dos dados levantados por esses autores, verificaremos que no

período 1801-1850 entraram cerca de 36 mil escravos por ano, mas no período

posterior (1851-1867) a média anual caiu para 406 escravos.

Se considerarmos que os salários baixos são um “obstáculo” para a inserção

de maquinaria na agricultura – de acordo com Marx (1984a), Kautsky, (1986) e

Lênin, (1982) – é mister que analisemos esse fator para o caso do Brasil. Mas,

como se sabe, os escravos não eram remunerados com salários. Contudo,

32 No estado de São Paulo, na década de 1860 entraram cerca 13 mil imigrantes; 184 mil nos anos 1870 e cerca de 609 mil imigrantes nos anos 1890, em maioria italianos (FURTADO, 1986). 33 Lei n.º 581 de 4 de setembro de 1850 (“Lei Euzébio de Queiroz”).

Page 50: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

31

podemos analisar o custo de aquisição e de reposição da mão de obra escrava,

especialmente nas províncias de Pernambuco e no Rio Grande do Sul. Se

analisarmos os dados do gráfico 3, observaremos que o preço de escravos cresceu

pouco até a década de 1820, mas começou aumentar consideravelmente a partir

desse período e se intensificou entre as décadas de 1840 e 1860. Porém, há de se

ressaltar que o preço começou cair especialmente a partir da década de 1870. Na

província de Pernambuco o preço dos escravos saltou de 144 mil réis, na década

de 1820, para 725 mil réis na década de 1860, fechando a década de 1880 em 514

mil réis. No Rio Grande do Sul o preço, no mesmo período, saltou de 169 mil para

952,7 mil, fechando em 387,9 mil réis na década de 188034.

Gráfico 3 Comparação dos preços de escravos de Pernambuco e do Rio Grande do Sul – 1800-1880

Nota: Para a década de 1880 os dados se referem até o ano de 1887.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Resende et al. (2013).

Para mostrar que esse processo não foi uma especificidade das duas

províncias citadas, resgatamos alguns dados levantados por Nogueról (2005), que

34 Esses autores entendem que a análise da variação dos preços em províncias geograficamente periféricas, e distantes entre si, é importante porque mostra que o processo não era isolado, tratando-se de uma situação que se manifestava, possivelmente, em todo o país.

102.954 115.098143.972

248.480

346.514

589.234

724.913

658.694 513.974

126.842 135.465169.142

320.716

430.771

637.660

952.734

816.613

387.880

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

900.000

1.000.000

1.100.000

1800 1810 1820 1830 1840 1850 1860 1870 1880

Réis

Década

PE RS

Page 51: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

32

estudou a variação do preço de escravos em Minas Gerais. De acordo com esse

autor, no ano de 1829 um escravo masculino adulto era avaliado em 200 mil réis

naquela província. Mas, a partir de 1850 o preço alcançou mais de 1 milhão de réis.

Em relação à variação do preço de escravos na região Sudeste do Brasil –

onde a agricultura já se mostrava dinâmica, especialmente na cafeicultura e na

produção de açúcar35 – podemos analisar a partir do estudo de Ribeiro (2017). Essa

autora analisou inventários de proprietários de escravos da região de Campinas –

SP, referente ao período 1830-1887. Pelos dados apresentados, verificamos que o

preço médio de um escravo adulto passou de 310 mil réis, no ano de 1830, para

1,3 milhão de réis no ano de 1869, mantendo-se esse mesmo valor no ano de

187336. Porém, a partir desse período o preço de escravos começou diminuir,

atingindo 683 mil réis em 1887, ano que antecedeu à Abolição.

Ribeiro, também apresenta dados que nos permitem analisar a evolução

percentual dos gastos com a mão de obra escrava na região de Campinas. Pelos

inventários dos fazendeiros analisados, no período 1830-1887, é possível

confrontar a evolução da participação do valor dos escravos com o valor da riqueza

bruta dos seus proprietários. Os dados demostram que a riqueza bruta dos

fazendeiros cresceu consideravelmente, especialmente a partir de 1850, mas que

passou a diminuir a partir de 1873, o que nos faz lembrar que por volta de 1849

teria iniciado a fase ascendente do 2º ciclo longo da economia, mas que a partir de

1874 iniciaria uma fase de recessão, conforme observou Kondratieff (1946). Isto é,

compreendemos que, grosso modo, a evolução da riqueza desses fazendeiros

acompanhou a onda cíclica da conjuntura da economia mundial (gráfico 4).

Outro fator importante a ser observado é que a participação do valor dos

escravos teve uma queda acentuada. Em 1830 o valor dos escravos alcançava

54,5% do total da riqueza bruta dos fazendeiros, mas caiu para 48,1%, em 1850;

para 46,4% em 1873; fechando em apenas 10,9% no ano de 1887, por conseguinte,

um ano antes da Abolição da escravidão. Portanto, verificamos que a maior queda

na participação do valor dos escravos, na renda bruta dos fazendeiros, ocorreu a

35 Em 1836, Campinas participava com apenas 1,4% da produção de café da província de São Paulo, mas passou para 9,4%, em 1854, e para 15% em 1886 (RIBEIRO, 2017). 36 Os escravos “de ofício” valiam ainda mais. Por exemplo, em 1863 um escravo ferreiro valia 3 milhões de réis; um escravo reparador de moendas (para açúcar) custava cerca de 2,6 milhões de réis no ano de 1869; enquanto que o preço de uma escrava costureira poderia alcançar até 2 milhões de réis em 1861 (RIBEIRO, 2017).

Page 52: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

33

partir da fase de recessão, de 1874 em diante.

Gráfico 4 Evolução do valor dos escravos e da riqueza bruta dos proprietários de escravos de Campinas, SP – 1830-1887

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Ribeiro (2017).

Não temos informação sobre o que formava as “riquezas brutas” dos

proprietários de escravos de Campinas. Mas, algumas considerações que fizemos

anteriormente nos apontam que, provavelmente, nesse período as fazendas

(especialmente as de São Paulo) já estavam utilizando algum tipo de maquinaria.

Por exemplo, pelos gráficos 1 e 2, nos quais expomos dados sobre as exportações

brasileiras, observamos que as vendas aumentaram mesmo durante a fase

recessiva do primeiro ciclo (1815 a 1848) e consideravelmente a partir do período

1849-1874 (fase ascendente do 2º ciclo longo). Além disso, os dados que expomos

anteriormente em relação às primeiras fábricas de máquinas agrícolas nos mostram

que elas surgiram, justamente, em Campinas – SP; o que nos faz pensar que

naquela região já estavam ocorrendo mudanças técnicas, isto é, uma

modernização na agricultura, apesar de predominar no Brasil um sistema apoiado

no trabalho braçal, inclusive escravista37.

37 Lembrando que essa indústria pioneira – empresas como a Arens & Irmãos e a Cia. Mac-Hardy – consertava e fabricava máquinas e implementos para as lavouras de café e de cana-de-açúcar da região de Campinas – SP, conforme observou Marson (2012).

91.111

382.733

1.302.564

855.104

49.661

184.220

604.000

92.875

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

900.000

1.000.000

1.100.000

1.200.000

1.300.000

1.400.000

1830 1850 1873 1887

Mil-

réis

Riqueza bruta Valor dos escravos

Page 53: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

34

Aliás, a modernização que começou ocorrer na agricultura paulista pode ser

observada, também, por um estudo de Alberto Passos Guimarães. Guimarães

(1968), ressalta que algumas experiências em latifúndios não-escravistas

começaram surgir nessa província desde meados do século XIX, como na fazenda

Ibicaba (propriedade do senador Vergueiro), onde já se utilizava a mão de obra de

imigrantes em um sistema de parceria. Inclusive, Guimarães menciona que a partir

de 1870 os latifúndios paulistas que utilizavam o trabalho livre já importavam

máquinas de ferro e aço, fazendo aumentar a produtividade do trabalho na cultura

do café, ao contrário do que ocorria no Rio de Janeiro, onde os cafeicultores

permaneciam com seus métodos tradicionais e pouco produtivos. Segundo

cálculos desse autor, por volta de 1883 o custo para se produzir uma saca de café

em fazendas com utilização de trabalho livre (e com maquinaria), em São Paulo,

era 50% menor do que o custo do café produzido em fazendas escravistas no Rio

de Janeiro, o que demonstra a superioridade técnica das fazendas paulistas.

Pelo recenseamento geral do Brasil de 1872 (publicado possivelmente em

1874), podemos observar que, de fato, antes da Abolição o trabalho escravo já

vinha sendo substituído, especialmente na província de São Paulo. Por esse censo,

podemos analisar o tipo de mão de obra utilizada na agricultura. A Diretoria Geral

de Estatística (DGE) forneceu dados sobre a categoria de “lavradores”38. Naquela

época, existia na província do Rio de Janeiro o total de 280 mil lavradores e, desses,

141,6 mil (50,5%) eram escravos. Por outro lado, na província de São Paulo existia

o total de 340,2 mil lavradores, sendo que desses 84,6 mil eram escravos, o que

resulta em 24,9%; demostrando que nesta província já se utilizava mais o trabalho

livre, que alcançava 75,1% dos lavradores (DGE, 1874?)39.

Outro indicativo de que a agricultura brasileira vinha se modernizando nessa

época, é o fato de que uma parte da mão de obra se transferiu do campo para as

cidades, ocupando-se em atividades não-agrícolas. Por exemplo, Mamigonian

(2000) ressalta que a partir da segunda metade do século XIX muitos barões do

café adquiriram fortunas e mudaram-se para as cidades maiores, retirando do

38 A DGE divide as “profissões agrícolas” em duas categorias, “lavradores” e “criadores”. Mas, na categoria de criadores não constava nenhum trabalhador na condição de escravo (DGE, 1874?). 39 A província de Minas Gerais apresentava uma situação parecida com a do Rio de Janeiro, pois do total de 565.685 lavradores, 278.767 (49,3%) eram escravos. Mas, em outras províncias o percentual de lavradores escravos era menor: 36,1% em São Pedro do Rio Grande do Sul; 18,3% na Bahia; 14,9% em Pernambuco, entre outros (DGE, 1874?).

Page 54: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

35

campo parte de sua criadagem que seria utilizada como negros de ganho. Aliás, ao

analisar o inventário de um imigrante português, chamado Vicente Pereira da Silva

Porto (residente no Rio de Janeiro), Engemann e Silva (2015) observaram que no

ano de 1865 o senhor Vicente possuía o total de 254 escravos e, desses, 219 eram

registrados como “trabalhadores ao ganho”40. Seus escravos eram lançados às

ruas para trabalhar em várias ocupações, tais como pedreiros, carpinteiros,

copeiros, cocheiros, pajens, cozinheiras, mucamas, lavadeiras, engomadores etc.

Enfim, se considerarmos a afirmação de Marx (1984a), de que as máquinas

só são utilizadas se forem mais produtivas do que a força de trabalho que elas

substituem, e considerando os dados que coletamos, acreditamos que a partir das

décadas de 1870 e 1880 já começava se inserir maquinaria (provavelmente mais

artesanal) na agricultura brasileira porque o custo da mão de obra (cada vez mais

elevado) compensaria o investimento em mecanização agrícola. E por essa ótica,

observamos que alguns imigrantes, tais como os irmãos Arens e Guilherme Mac-

Hardy, ao perceberem a demanda que já estava se formando naquela época

decidiram instalar suas empresas para importar máquinas agrícolas e, mais tarde,

também passaram a fabricar algumas máquinas mais simples.

Porém, fica evidente que ao longo do século XIX faltavam condições

materiais, tais como a produção de ferro e aço, bem como o apoio de políticas

econômicas para desenvolver uma indústria de máquinas agrícolas mais moderna

no Brasil, como já existia em países da Europa e nos Estados Unidos da América,

como mostraremos no capítulo a seguir. Ou seja, se a mão de obra relativamente

barata (especialmente antes da Abolição) se constituiu como um obstáculo para a

mecanização da agricultura brasileira, não é porque seja uma barreira

intransponível. É porque, de certa forma, até aquela época não ocorreu um estímulo

suficiente para a industrialização do país, já que a indústria moderna transforma

inclusive a agricultura, como destacou o próprio Marx.

40 De acordo com Engeman e Silva (2015), Vicente Pereira Silva, por volta de 1865, poderia ser considerado um homem rico em qualquer parte do mundo, pois sua fortuna era de 651 milhões de réis, o equivalente a 2/3 de toda a moeda cunhada no Brasil naquele ano, sendo que cerca de 46% de sua fortuna provinha da posse de escravos.

Page 55: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

CAPÍTULO II

OS IMIGRANTES E A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Chamamos “empreendimento” à realização de combinações novas; chamamos “empresários” aos indivíduos cuja função é realizá-las. (SCHUMPETER, 1982, p. 54).

Por um longo período a contribuição dos imigrantes para a industrialização

brasileira foi negligenciada, inclusive por importantes nomes do pensamento

econômico brasileiro, como Celso Furtado. Aliás, muitos dos intelectuais que

estudam a industrialização do país, na atualidade, também desvalorizam o

pioneirismo desses estrangeiros. Porém, observamos que desde os anos 1960

alguns autores, tais como Bresser-Pereira e Armen Mamigonian, têm ressaltado a

importância do conhecimento técnico trazido por imigrantes que vieram de países

mais industrializados e que souberam empreender no Brasil.

Nesse capítulo, analisaremos a instalação da indústria de máquinas

agrícolas no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, período em

que uma classe industrial começou despontar no cenário econômico e político

brasileiro, ressaltando também o pioneirismo dos imigrantes, principalmente de

alguns italianos e alemães.

2.1 A Dualidade Brasileira e as Primeiras Fábricas de Máquinas Agrícolas

Como observamos no primeiro capítulo, no final do século XIX se intensificou

uma forte recessão (iniciada por volta de 1874) que encolheu o comércio mundial,

por conseguinte, atingindo duramente a economia brasileira, baseada na

exportação de produtos agrícolas41. Nesse contexto, começou surgir no país

41 O período de recessão da década de 1880 foi agravado por um endividamento externo, pois devido à queda nas exportações o governo brasileiro começou tomar empréstimos no estrangeiro. Entre 1883 e 1889 o Brasil recebeu 37,2 milhões de libras de empréstimo do exterior, um volume maior que do total dos empréstimos obtidos nos 59 anos anteriores, que foi de 32,5 milhões de libras. Entre a Proclamação da República e o ano de 1891 iniciou um período que ficaria conhecido como “Encilhamento”, marcado pela especulação financeira. Só no Rio de Janeiro seriam constituídas sociedades com capital global de 3 trilhões de réis, bem maior que o capital de todas as associações existentes em 1889, que era de cerca de 800 bilhões de réis. Isso demostra que o capital da maioria das sociedades novas deveria ser fictício, só existindo no papel; com o objetivo de emitir ações, despejando-as no mercado de títulos, onde em seguida passariam rapidamente de mão em mão e sob valorizações sucessivas, como destacou Prado JR. (1981).

Page 56: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

37

intensos debates políticos, emergindo inclusive a pauta de novos segmentos

sociais. Como destacou Rangel (1981), os acontecimentos de 1888/89 (Abolição

da Escravatura/Proclamação da República) marcariam a passagem da 1ª para a 2ª

dualidade da economia brasileira, na qual a nova aliança seria formada pelo capital

mercantil brasileiro (muito mais forte politicamente do que em 1822) com seu sócio

menor, o latifúndio feudal, dissidente da velha estrutura escravista. Essa classe era

formada, especialmente, por fazendeiros de São Paulo que se modernizaram

(utilizando trabalhadores livres, maquinaria etc.), superando produtiva e

politicamente os cafeicultores mais conservadores42.

Há de se ressaltar que de acordo com o pensamento de Rangel, tais

relações só se consolidaram porque em plena 1ª dualidade ocorreram mudanças

institucionais, tais como a Proibição do Tráfico de Escravos e a Lei de Terras

(ambas de 1850), que garantiriam ao futuro latifúndio feudal a existência de uma

força de trabalho servil, formada por trabalhadores livres, mas sem acesso à terra,

o que lhes obrigaria a se agregarem aos seus novos “senhores”43.

Ressaltamos que a partir dessa nova dualidade se intensificou o comércio

exterior, o que obviamente era do agrado da nova classe hegemônica (os

comerciantes exportadores/importadores), inclusive porque a partir de meados da

década de 1890 iniciaria uma nova fase de prosperidade da economia mundial,

como mencionamos no capítulo anterior. Mas, há de se assinalar que “nas

entranhas” da classe dos comerciantes se engendrou novos e importantes atores,

com destaque para a classe de industriais. Essa economia mercantil também foi

contraditória, pois, por um lado, prejudicou a indústria nacional, mas, por outro, à

estimulou, como veremos adiante.

Autores, tais como Rangel (1981), Mamigonian (1976)44, Bresser-Pereira

(1964) e Marson (2012) contestam a tese defendida especialmente por Furtado

42 Guimarães (1968), também menciona que vários barões do café do Rio de Janeiro faliram, como foi o caso dos Breves, os Clemente Pinto, entre outros, que não se adaptaram às mudanças engendradas no processo da Abolição da Escravidão. 43 O recenseamento de 1872 já apresentava a quantia de 409.672 trabalhadores na condição de “criados e jornaleiros”, que a DGE enquadrava na categoria de “pessoas assalariadas”. Desses, 94.488 eram escravos, mas o restante, 315.184 jornaleiros, eram trabalhadores livres (DGE, 1874?). Ou seja, a grande maioria, 76,9% dos jornaleiros, já era formada por trabalhadores livres em 1872. A categoria que a DGE chamou de “criados e jornaleiros assalariados” não se refere a escravos e nem a trabalhadores totalmente livres, pois eram criados de um determinado “senhor”. 44 Há de se ressaltar que Mamigonian (1976), reconhece que em SP a indústria têxtil começou se

desenvolver a partir de 1873, inclusive com dinheiro de fazendeiros do algodão e do café, já que

Page 57: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

38

(1986), que afirma que a industrialização brasileira teria ocorrido,

fundamentalmente, devido à transferência de recursos provenientes da

cafeicultura. Porém, se utilizarmos informações retiradas do estudo de Marson

(2012), observaremos que muitos cafeicultores, aparentemente contrariando seus

interesses de classe, passaram a investir em atividades industriais, inclusive em

fábricas de máquinas agrícolas. Esse autor cita, por exemplo, o caso das empresas

Mac-Hardy e Irmãos Arens (que citamos no primeiro capítulo) que ao se tornarem

sociedades anônimas, atraíram o capital de muitos cafeicultores. A Cia. Arens, em

1891 apresentava um capital de 2 bilhões de réis, dividido em 10 mil ações, sendo

que os principais acionistas eram fazendeiros do café. A Mac-Hardy foi constituída

em 1891 com um capital de 4 bilhões de réis, dividido em 20 mil ações; sendo que

vários dos seus acionistas eram, também, fazendeiros do café ou políticos de

Campinas e de outras partes do estado de SP45.

Inclusive, muitos fazendeiros se aproximaram de industriais por alianças

familiares. Por exemplo, o imigrante italiano Alexandre Siciliano chegou em São

Paulo em 1869 (ainda criança) e começou trabalhar em Piracicaba em uma casa

de comércio de sua família. Em 1881, casou com Laura Augusta de Mello Coelho,

filha de um fazendeiro rico e influente da região. Logo depois, Siciliano começou

fabricar máquinas para beneficiar café. Mais tarde o jovem empresário se transferiu

para a capital paulista e fundou um banco, uma importadora, uma fundição e uma

oficina mecânica. Parte do capital original saiu das economias que ele adquiriu em

seus negócios em Piracicaba, o restante tratava-se de investimentos de seus

parentes (fazendeiros) e da venda de patentes de invenção de máquinas que

Siciliano comercializava em vários países, inclusive nos Estados Unidos46.

Parece contradição pensar que cafeicultores investiriam em atividades

econômicas não-agrícolas, como na indústria. De fato, são contradições, mas

não havia mais as indústrias artesanais nas fazendas, então no período depressivo que passaria a

economia mundial, e com efeitos na economia brasileira, alguns fazendeiros começaram investir em

estabelecimentos industriais maiores e instalados nas cidades. 45 Inclusive, na primeira diretoria dessa empresa estava o barão Ataliba Nogueira, importante fazendeiro da região. Em 1893 os maiores acionistas da Cia. Mac-Hardy eram o Banco dos Lavradores (ligado aos cafeicultores), com 27,9% das ações, e Guilherme Mac-Hardy (sócio fundador), que possuía 25,2% das ações (MARSON, 2012). 46 Vejamos que, enquanto nessa época, por exemplo, o Japão preferia comprar patentes e fabricar internamente as máquinas porque entendia que “o capital se faz em casa” – como observou Barbosa Lima Sobrinho (1990) –, o Brasil não valorizava seus inventores.

Page 58: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

39

inerentes à complexidade da economia e da sociedade brasileira. O que temos que

entender é que a classe dos grandes fazendeiros, que durante a 1ª dualidade foi

hegemônica sobre a burguesia comercial (sua sócia menor), a partir do final do

século XIX (quando iniciou o novo pacto de poder) já não era homogênea, sendo

constituída, tanto por fazendeiros mais conservadores como por homens com maior

visão sobre os negócios. Eles ainda eram produtores rurais, mas já aplicavam parte

de suas rendas inclusive em atividades industriais.

Há de se ressaltar que, mesmo em um período de recessão econômica e de

convulsão política, como temos enfatizado, novas fábricas de máquinas agrícolas

foram surgindo no Brasil. Por exemplo, em 1884 surgiu em Campinas – SP a fábrica

Lidgerwood & Comp., fundada por Guilherme van Wleck Lidgerwood, um

engenheiro mecânico estadunidense. Desde a década de 1860, ele já possuía um

estabelecimento comercial importador de máquinas, especialmente da marca

Eagle47. Mas, a partir de 1884 a sua empresa também começou produzir

descascadores, despolpadores, moinhos para fubá, serras circulares, moendas de

cana, alambiques, locomóveis (“máquinas a vapor sobre rodas”) e até turbinas de

motores. Ou seja, ele passou a fabricar máquinas não só para o beneficiamento de

café e açúcar, atividades tradicionais, mas também para outras culturas agrícolas

que estavam se desenvolvendo no país48.

No Sul do país, onde não se desenvolveu as principais culturas agrícolas do

período colonial (café, cana-de-açúcar e algodão), a indústria de máquinas

agrícolas surgiu mais tarde, mas na década de 1880 já se verificava a instalação

de pequenas fábricas voltadas às necessidades da agricultura regional. Por

exemplo, em Caxias do Sul foi fundada, em 1896, a Metalúrgica Eberle. Abramo

Eberle, imigrante italiano, começou com uma pequena funilaria, fabricando

principalmente lamparinas, mas atendendo às necessidades de produtores locais,

logo também começou fabricar máquinas específicas para a vitivinicultura

47 Inclusive, pelo Decreto nº 4.319 de 13 de janeiro de 1869 o Poder Executivo Federal concedeu direitos para o senhor Guilherme van Vleck Lidgerwood fabricar e comercializar, no império do Brasil, máquinas, especialmente para o beneficiamento de café: “Attendendo ao que Me requereu o cidadão dos Estados-Unidos da America do Norte, Guilherme Van Vleck Lidgerwood, e de conformidade com o parecer do Conselheiro Procurador da Corôa, Soberania e Fazenda Nacional, Hei por bem Conceder-lhe privilegio, por 15 annos, para fabricar, usar e vender no Imperio as machinas de despolpar, separar e beneficiar o café, nas quaes declarou haver feito os aperfeiçoamentos especificados em sua petição de 5 de Outubro ultimo.” (BRASIL, 1869). 48 Segundo Marson (2012), essa empresa funcionou até 1922.

Page 59: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

40

(PESAVENTO, 1985)49.

Adiante destacaremos que a dualidade, a aliança formada pelo capital

mercantil e os latifundiários agroexportadores, carregava “em suas entranhas” a

classe que, especialmente a partir da Revolução de 1930, buscaria ocupar o lugar

do capital mercantil em uma nova dualidade e, dessa vez, objetivando ser dirigente

da economia brasileira.

2.2 Uma Nota Sobre as Exportações Agrícolas Brasileiras no Início do Século

XX

A conjuntura da economia mundial a partir dos últimos anos do século XIX

seria de retomada do crescimento econômico – Kondratieff (1946) assinala o ano

de 1896 como início da fase ascendente do 3 ciclo longo –, o que deveria

impulsionar as exportações brasileiras. Porém, os dados do comércio exterior

mostram que o crescimento das exportações do país foi mais discreto que na fase

ascendente do 2º ciclo longo (1849-1874). As exportações de café aumentaram,

passando de 6,7 milhões de sacas, no ano de 1896, para 14,8 milhões no ano de

1901, mas a partir desse ano se estabilizaram e até diminuíram, especialmente

durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), caindo para 11,5 milhões de sacas

em 1920; ano em que ocorreria a passagem à fase recessiva daquele ciclo longo,

de acordo com Kondratieff. Nos anos 1920 e ao decorrer da década de 1930 a

quantidade de café exportada se manteve estável, atingindo o máximo de 17,9

milhões de sacas no ano de 1931, mas caindo para 16,5 milhões em 1939 (IBGE,

1941).

Aparentemente, o Brasil teria tido sucesso no comércio exterior nesse

período, mas se analisarmos os dados referentes aos valores obtidos com as

exportações, verificaremos que ocorreu uma fase crescente somente até 1920, pois

a partir dessa época o valor começaria cair a ponto de em 1931 ter obtido £ 14,9

milhões para 16,5 milhões de sacas, enquanto que em 1901 o valor havia sido de

£ 23,9 milhões, mas para 14,8 milhões de sacas. Ou seja, o crescimento nas

exportações de café, obtido até o final da década de 1920, deve-se mais ao

49 A empresa Eberle ainda existe, atua no setor de metais, mas se especializou na área de botões e pequenos acessórios para a indústria de confecções (TISOTT, 2011).

Page 60: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

41

aumento do preço desse produto no mercado mundial do que à quantidade de café

vendida (IBGE, 1941)50.

Quanto à exportação de açúcar, verificamos que mesmo durante a fase

ascendente do ciclo longo não ocorreu retomada do crescimento, decrescendo

inclusive, pois o volume que era de 172,9 mil toneladas, no ano de 1896, caiu para

apenas 31,9 mil toneladas em 1914, apesar de ter voltado a subir nos anos

seguintes, atingindo 109,1 mil toneladas no ano de 1920. Mas, em seguida as

exportações voltaram a cair para apenas 14,9 mil toneladas no ano da “grande

crise” (1929), mantendo-se oscilantes ao longo da década de 193051.

As exportações de borracha, couros, peles e de erva-mate cresceram no

período ascendente do 3º ciclo longo, mas a partir da década de 1920 decaíram,

especialmente se analisarmos o valor das exportações52. A exportação de cacau

cresceu, passando de 8,9 mil toneladas, em 1896, para 54,4 mil toneladas em 1920,

mantendo-se crescente, fechando em 132,2 mil toneladas em 1939. Porém, o valor

das exportações também caiu, devido à queda na cotação internacional desse

produto53.

O algodão em pluma foi um produto em que o volume das exportações

manteve-se, praticamente, crescente durante toda a fase expansiva do 3º ciclo

50 No período 1911-1920 a saca de café foi exportada a £ 3,03 e no período 1921-1930 chegou a alcançar £ 4,02, mas começou cair consideravelmente, passando a £ 1,43 a saca no período 1931-1939 (IBGE, 1941). 51 O valor obtido com as vendas do açúcar também foi decrescente, até mais intensamente do que ocorreu com o preço do café. Ocorre que o preço do açúcar caiu vertiginosamente no período, passando de £ 32,6 a tonelada, no período 1911-1920, para £ 14,1, no período 1921-1930, caindo para apenas £ 4,7 a tonelada no período 1931-1939 (IBGE, 1941). 52 A exportação de borracha aumentou de 17 mil toneladas, em 1888, para 24,4 mil toneladas em 1896, alcançou 42,2 mil toneladas em 1912, mas começou cair especialmente a partir de 1921 (coincidindo com o início da fase depressiva do 3º ciclo longo), fechando o ano de 1939 com apenas 11,9 mil toneladas exportadas. Não bastando a queda no volume exportado, caiu vertiginosamente o valor das exportações, devido à queda do preço da borracha no mercado mundial. No período 1901-1910 a tonelada desse produto foi exportada pela média de £ 389,5, caindo para £ 252,6 no período 1911-1920, para £ 101,8, de 1921 a 1930, e para apenas £ 31,9 a tonelada no período 1931-1939. A exportação de couros e peles saltou de 24,6 mil toneladas, no ano de 1896, para 59,5 mil toneladas em 1915, para 41,2 mil toneladas em 1920, fechando com 57,5 mil toneladas no ano de 1939. Porém, o valor das exportações caiu devido à queda do preço do produto. O valor da tonelada de couro e peles exportada foi de £ 94,6, no período 1911-1920; de £ 65,0 no período 1921-1930 e caiu para £ 30,7 no período 1931-1939. A erva mate teve crescimento nas exportações, passando de 27,6 mil toneladas, em 1896, para 90,7 mil toneladas em 1920, porém o volume exportado começou diminuir, fechando em 60,2 mil toneladas no ano de 1939. O valor das exportações também caiu consideravelmente devido à queda do preço da erva mate, que diminuiu de £ 29,1 a tonelada, no período 1911-1920, para £ 26,0 no período 1921-1930 e para apenas £ 11,0 no período 1931-1939 (IBGE, 1941). 53 O valor médio da tonelada de cacau exportada caiu, simultaneamente, de £ 56,5 para £ 40,5, fechando em £ 14,4 nos períodos 1911/1920, 1921/1930 e 1930/39 (IBGE, 1941).

Page 61: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

42

longo (1896-1920), porém agiu na contramão dos demais produtos ao subir

consideravelmente, justamente na fase recessiva, passando de 19,7 mil toneladas,

no ano de 1921, para 323,5 mil toneladas em 1939. O valor das exportações

também aumentou, passando de £ 1,2 milhão, em 1921, para £ 7,6 milhões no ano

de 193954. Porém, verificamos que o sucesso nas exportações de algodão não

salvaria a balança comercial brasileira porque esse produto não tinha grande

participação no valor total das exportações do país55.

Há de se ressaltar que foi nessa conjuntura econômica (de estagnação do

setor agroexportador) que a produção industrial do país começou se desenvolver.

Daremos ênfase à produção de ferro e aço, que são matérias-primas essenciais

para a fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura, objeto dessa

pesquisa.

2.3 A Indústria Brasileira a partir da Fase de Importação de Capitais

Verificamos que, apesar do atraso56, a partir da primeira década do século

XX a produção brasileira de ferro começou se desenvolver no Brasil. Segundo os

dados de Barros (2015), a produção siderúrgica brasileira cresceu notavelmente,

inclusive a partir da década de 1920, quando iniciaria a fase depressiva do 3º ciclo

longo, como temos enfatizado. Utilizando o índice 100 para o ano de 1901, Barros

apresenta a evolução do valor da produção desse setor da seguinte maneira: ano

1901 = 100; 1910 = 322; 1920 = 1.873 e ano de 1930 = 11.735. Isto é, observamos

que de 1901 a 1910 o segmento cresceu pouco mais de 3 vezes, no período 1911-

1920 cresceu 5,8 vezes e durante a década 1920 aumentou mais de 6 vezes.

Segundo De Paula (1983), no início da década de 1890 (já no período

54 Também ocorreu queda no preço da tonelada de algodão, passando de £ 90,6 (de 1911 a 1920) para £ 85,3 (de 1921 a 1930), fechando em £ 30,7 no período 1931-39 (IBGE, 1941). 55 Por exemplo, mesmo com o aumento das exportações de algodão e com a queda nas exportações de café (como mencionamos), enquanto que no ano de 1939 o valor total das vendas do algodão em pluma atingiu £ 7,6 milhões, o valor das exportações de café alcançou £ 14,9 milhões (IBGE, 1941). 56 Em relação a outros países a indústria siderúrgica brasileira demorou para se desenvolver. Por exemplo, de acordo com De Paula (1983) a produção mundial de aço havia se desenvolvido consideravelmente a partir da segunda metade do século XIX, passando de 70 mil toneladas, no ano de 1848, para 600 mil toneladas em 1867; para 9,9 milhões de toneladas em 1887 e para 18,4 milhões no ano de 1897. Portanto, a produção de aço (de extrema importância para a indústria de máquinas) cresceu espantosamente, inclusive no período depressivo que iniciou a partir de 1874 e se estendeu pelo menos até os primeiros anos da década de 1890.

Page 62: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

43

republicano) o governo brasileiro até tentou formar um truste das indústrias de ferro,

criando a Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros que adquiriu várias usinas,

mas que faliu ainda em 1896. Ao comparar o desenvolvimento da siderurgia

brasileira com a da Alemanha (a partir da “política de Bismarck”) e a do Japão (a

partir da era Meiji), De Paula chega a afirmar que no Brasil, especialmente devido

ao liberalismo implantado com a vinda da Corte Portuguesa, nunca existiu um

Estado agente, que acumulasse e reunisse capital para apoiar a indústria de base.

Essa afirmação de De Paula é pertinente, não só pelo exemplo dessa

experiência de complexo siderúrgico estatal que faliu, mas também pelos rumos

que a economia brasileira adotaria ainda nas primeiras duas décadas do século

XX, pois verificamos que nesse período o capital estrangeiro já penetrava

intensamente. Por exemplo, enquanto que no período 1899-1910 foram fundadas

41 sociedades anônimas com capital nacional, 160 empresas estrangeiras foram

autorizadas a atuar no país. O fluxo de capital estrangeiro para o Brasil foi tão

intenso que, em 1903, Felisbello Freire (ex-ministro das Relações Exteriores e da

Fazenda do governo Floriano Peixoto) fez uma fala na Câmara dos Deputados,

alegando que estava ocorrendo um maciço processo de desnacionalização (LUZ,

1958b).

Por outro lado, há de se destacar que foi a partir da entrada do capital

estrangeiro que se formou a primeira grande companhia siderúrgica de Minas

Gerais (e inclusive com relevância nacional). Por volta de 1917 a Cia. Mineira

(fabricante de ferro) era pequena, pois iniciou com pouco capital, cerca de 350

milhões de réis. Mas, logo surgiu o interesse do capital estrangeiro, quando a partir

de 1921 o grupo belga, ARBED – com apoio do governador de Minas Gerais, Artur

Bernardes –, conseguiu incorporar essa siderúrgica, formando a Cia. Siderúrgica

Belgo-Mineira (CSBM), que ampliou seu capital de 350 milhões de réis para 15

bilhões réis.

Há de se mencionar que a participação do capital estrangeiro na siderurgia

brasileira foi de suma importância. Segundo Pelaez (1970), no ano de 1939 a

metade da produção de aço do Brasil saiu da CSBM. Inicialmente, essa siderúrgica

produzia, diariamente, de 15 a 20 toneladas de lingotes, mas ainda na década de

1920 a sua capacidade produtiva foi ampliada para mais de 150 toneladas por dia.

Inclusive, há de se destacar que a Belgo-Mineira foi a primeira usina a produzir aço

Page 63: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

44

no Brasil57.

Há de se ressaltar que nessa época a participação do capital estrangeiro se

espalhou para outros setores. Ao estudar a industrialização no Rio Grande do Sul,

Pesavento (1985) verificou que na década de 1920 já ocorria um processo de

aquisições de pequenas empresas, bem como a união de empresas de um mesmo

setor para enfrentar a concorrência, além de também destacar a atuação do capital

estrangeiro. No Rio Grande do Sul o processo de aquisições ocorreu principalmente

nos setores fumageiro, cervejeiro, moageiro e na indústria calçadista58.

Não podemos esquecer que o início do século XX coincide com o período

em que Vladimir Lênin – em seu livro Imperialismo, fase superior do capitalismo –

identificou como de “exportação de capitais”. No seu entendimento, isso ocorre

porque falta oportunidades para investimentos nos países mais desenvolvidos, já

que a acumulação de capital é maior do que a capacidade de consumo da massa

dos trabalhadores e da agricultura menos tecnificada: “a necessidade de

exportação dos capitais resulta da ‘maturidade excessiva’ do capitalismo em certos

países, onde (sendo a agricultura atrasada e as massas miseráveis) o capital

carece de colocações ‘vantajosas’.” (LÊNIN, 1987, p. 61).

Ressaltamos que nessa conjuntura de desenvolvimento desigual do

capitalismo, como o próprio Lênin chamou, o Brasil figuraria como um país em

potencial para receber investimentos. Os próprios dados apresentados por Lênin

(1987) mostram que do total de 51 bilhões de marcos exportados à América (pelas

três potências financeiras do início do século XX), 37 bilhões (72,5%) foram

concedidos pela Inglaterra; 19,6% pela Alemanha e o restante, 7,9%, pela França.

Especificamente em relação à siderurgia, Lênin ressalta que ainda em 1904

foi criado, na Alemanha, um sindicato do aço e foi reconstituído o cartel

internacional dos carris, com liderança da Inglaterra (com 53,5% do seu capital),

57 A partir da década de 1930, João Monlevade – MG se tornaria uma cidade industrial, devido à ampliação das instalações dessa siderúrgica para produzir ferro gusa e aço (PELAEZ, 1970). 58 Em 1919, seis empresas se uniram em Santa Cruz – RS formando a Cia. de Fumos Santa Cruz para enfrentar a concorrência dos produtos da indústria dos Estados Unidos. Em 1924 as três maiores cervejarias de Porto Alegre (Bopp, Sassen e Ritter) se uniram formando a Cervejaria Continental para resistir à concorrência das cervejarias Brahma, do Rio de Janeiro, e da Antártica Paulista. No ano de 1924 o grupo internacional Bung and Bom adquiriu o Moinho Rio-Grandense, que possuía unidades em Porto Alegre, Rio Grande e em Pelotas; processo de aquisições que constituiu a Sociedade Anônima Moinhos Rio-Grandenses. Em 1928, quatro fábricas de calçados do Vale do Rio dos Sinos se uniram formando a Haas Sociedade Anônima – Indústria e Comércio de Novo Hamburgo (PESAVENTO, 1985).

Page 64: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

45

seguida pela Alemanha, com 28,8%, e pela Bélgica, que participava com 17,7%59.

Pelos dados a seguir, podemos verificar que a produção industrial brasileira

cresceu, inclusive na fase recessiva que se desenrolou a partir de 1920. Na tabela

1, selecionamos dados sobre alguns setores mais tradicionais, como o alimentício,

o têxtil e o de calçados para compararmos com a siderurgia e a produção de

cimento, que são importantes para a indústria de base e, inclusive, para estimular

o setor de meios de produção.

Tabela 1 Evolução da produção industrial brasileira – 1925-1938

Ano

Produtos selecionados

Carne (ton.)

Café(1) (ton.)

Açúcar (ton.)

Calçados(2) (mil

pares)

Tecidos de

algodão (mil m.)

Cimento (ton.)

Ferro gusa (ton.)

Aço (ton.)

1925 723.935 33.069 816.443 25.486 535.909 - 30.046 7.559 1926 634.393 36.188 903.950 24.186 539.023 13.382 21.299 9.875 1927 739.949 38.208 849.964 28.258 594.313 54.623 15.353 8.205 1928 711.560 39.735 884.660 30.057 581.951 87.964 25.761 21.390 1929 677.005 43.549 1.007.238 34.243 477.995 96.208 33.707 26.842 1930 757.385 43.822 1.144.178 25.611 476.088 87.160 35.305 20.985 1931 745.312 28.881 1.050.250 26.276 633.893 167.115 28.114 23.130 1932 673.888 42.507 981.610 23.000 630.738 149.453 28.809 34.192 1933 864.266 45.704 1.026.456 24.226 638.803 225.680 46.774 53.567 1934 934.154 48.663 1.084.572 26.342 715.814 323.909 58.559 61.675 1935 1.075.808 52.484 1.155.042 33.407 752.891 366.261 64.082 64.231 1936 1.072.176 57.907 1.199.171 38.797 914.529 485.064 78.418 73.667 1937 1.122.424 60.718 939.991 42.763 963.766 571.452 98.101 76.430 1938 1.081.416 72.324 955.496 37.265 845.984 617.896 122.352 92.420

Nota: (1)Café torrado e moído, (2)Inclui: botas de montar, botinas e coturnos, sapatos, sandálias e chinelos, galochas, sapatos para banho e perneiras.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE (1941).

Esses dados nos mostram que o desempenho da produção de ferro gusa,

aço e cimento foi consideravelmente maior que dos setores tradicionais da indústria

do país. Observamos que enquanto a produção de carne, açúcar, calçados e

tecidos (apesar do bom desempenho) não conseguiu duplicar no período 1925-

1938, a produção de ferro gusa cresceu 307%. Se realizarmos o mesmo cálculo

para a produção de aço e cimento, constataremos que o crescimento foi ainda

maior, pois o aço cresceu 1.123% e o cimento 4.517%60.

59 Lembrando que a Bélgica é o país de origem do grupo ARBED, que a partir da década de 1920 investiu na siderurgia brasileira, constituindo a empresa Belgo-Mineira. 60 O crescimento da produção de ferro e aço nos faz pensar que já havia na década de 1920, e especialmente na de 30, um considerável processo de substituição de importações nesse segmento. Aliás, pelo estudo de Barros (2015), verificamos que em 1901 o Brasil importava 71,7% do ferro

Page 65: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

46

De acordo com Pelaez (1970), a partir de 1925 o próprio governo federal

começou conceder empréstimos e isenção de impostos, por períodos de até 25

anos, além de oferecer fretes a custo mais baixo em ferrovias federais, o que

beneficiou as siderúrgicas e a metalurgia no país61. Inclusive, o empréstimo de 1,8

bilhão de réis à Cia. Belgo-Mineira – apesar de não ser grande quantidade perante

à participação dessa empresa na produção de aço no país – gerou uma forte crítica

de políticos e empresários nacionalistas da época, porque a empresa era

controlada pelo capital estrangeiro. Aliás, para Pelaez, essa política de

industrialização permitiu a formação de carteis e até de trustes62 dos produtores de

ferro e aço, o que resultou em elevação artificial dos preços, por exemplo, chegando

a duplicar o valor cobrado pelo ferro gusa63.

Mas, há de se ressaltar que em plena 2ª dualidade – na qual o capital

mercantil dirigia a economia brasileira, auxiliado por seu sócio menor, o latifúndio

feudal – uma nova classe se formava no Brasil, uma burguesia industrial ligada ao

capital financeiro externo, justamente a classe hegemônica no polo externo dessa

dualidade, de acordo com Rangel (1981).

Tanto pelo estudo de Armen Mamigonian como pelo de Sandra Pesavento,

podemos verificar que na segunda metade da década de 1920 já se manifestava,

gusa consumido; caindo para 82,1%, em 1910; para 32,9%, em 1920, e para apenas 5,5% no ano de 1930, apontando para uma quase autossuficiência da produção interna desse produto. 61 Já em 1910, pelo Decreto nº. 8.019 de 19 de maio de 1910, o governo garantia a redução de frete nas ferrovias federais para os produtos metalúrgicos e concedia isenção de impostos de consumo para o setor siderúrgico (BRASIL, 1911). Por meio do Decreto nº. 8.579 de 22 de fevereiro de 1911 o governo (Hermes da Fonseca) pretendia beneficiar uma empresa selecionada entre várias que buscavam uma concessão para fabricar aço. Esse decreto garantia a compra de dois terços da produção a preços vantajosos e mais um prêmio, um subsídio à produção no valor de 25 mil réis por tonelada (BRASIL, 1914). Mas, como lembrou Pelaez (1970), esse decreto seria abolido logo em 2012 devido a protestos que o acusavam de ser “paternalista”, já que os benefícios não se estendiam a outros setores da indústria. E pelo Decreto nº. 12.944 de 30 de março de 1918 o presidente (Wenceslau Braz), atendendo ao pedido do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio para estimular a produção de ferro e aço no país, previa o empréstimo de capital para a instalação de empresas (com juros anuais de 5% e com até 12 anos para quitar a dívida), devendo essas ficarem hipotecadas ao governo. Para acessar o benefício a empresa deveria: produzir no mínimo 20 toneladas diárias; admitir nas fábricas aprendizes, como alunos da Escola de Minas, do curso industrial da Escola Politécnica e outras congêneres e pagando-os remuneração estipulada pelo Governo, etc. (BRASIL, 1919). Aliás, Pelaez também menciona a preocupação do governo Brasileiro (a partir da década de 1920) de formar mão de obra para as siderúrgicas e metalúrgicas, especialmente por meio da Escola de Minas de Ouro Preto e da Escola Politécnica. 62 Ora, verificamos que a formação de um truste no setor siderúrgico brasileiro não seria novidade, pois não foge da lógica do que estava ocorrendo em outros países, já no início do século, de acordo com o importante estudo de Lênin (1987), mencionado anteriormente. 63 A lucratividade das empresas privilegiadas era gigantesca. Por exemplo, cogita-se que no final dos anos 1930 a Belgo-Mineira obtinha margem de lucro operacional de cerca de 200% (PELAEZ, 1970).

Page 66: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

47

não só economicamente, mas também politicamente, uma burguesia industrial no

Brasil. Por exemplo, Mamigonian (2000) destaca que ainda no ano de 1928 foi

criada a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), mostrando a

força da nova classe que estava emergindo, apesar do poder da classe mercantil

hegemônica e do latifúndio feudal.

Ao estudar a industrialização do Rio Grande do Sul, Pesavento (1985)

menciona que especialmente a partir de 1928 o próprio governo gaúcho passou a

incentivar a criação de associações e sindicatos por setores da indústria, tais como

o Sindicato dos Charqueadores, o Sindicato do Vinho, Sindicato da Banha, entre

outros. Inclusive, no período da revolução de 1930 os empresários gaúchos

começaram se articular para defender os interesses de sua indústria. Por exemplo,

Alberto Bins (do ramo da metalurgia e intendente de Porto Alegre) e Antônio Jacob

Renner (empresário do segmento têxtil), em 1930 criaram o Centro da Indústria

Fabril do Rio Grande do Sul com a intenção de fortalecer a indústria gaúcha que,

naquela época, era defasada tecnologicamente em relação à indústria de São

Paulo64.

2.4 A Participação dos Imigrantes na Indústria Brasileira de Máquinas

Agrícolas

Além da participação de cafeicultores, bem como de comerciantes

(exportadores/importadores) e do capital financeiro (inclusive estrangeiro) na

gênese da indústria siderúrgica e de máquinas agrícolas do Brasil, como temos

mencionado, não podemos menosprezar a participação dos imigrantes, tanto como

empreendedores como na força de trabalho utilizada. Mamigonian (1976 e 2000) –

na primeira obra estudando a industrialização de São Paulo e na segunda a

indústria brasileira – rebateu a teoria levantada por Celso Furtado (e aceita por

muitos outros estudiosos) de que a industrialização brasileira seria resultado da

transferência de capital da cafeicultura para o setor industrial, menosprezando ou

64 Verificamos que não só uma classe industrial se fortalecia em RS, mas também os movimentos operários, o que demostra que as forças produtivas e uma luta de classes já estavam se intensificando no início do século. Por exemplo, pelo estudo de Aravanis (2010), constatamos que na primeira década do século XX já existiam diversos jornais operários no Rio Grande do Sul. E segundo Pesavento (1985), no ano de 1917 ocorreu uma grande greve dos trabalhadores urbanos que paralisou Porto Alegre, o que obrigou os empresários aumentar os salários.

Page 67: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

48

até desconsiderando o papel dos imigrantes65.

Há de se ressaltar que outros autores também destacaram a importância dos

imigrantes para a industrialização brasileira. Por exemplo, o estudo de Bresser-

Pereira (1964), sobre a origem dos empresários paulistas, ressalta o papel

desempenhado pelos imigrantes e seus descendentes (especialmente pelo

conhecimento técnico) para a industrialização paulista. Estudos posteriores, tais

como os de Pelaez (1968 e 1970) e o de Marson (2012), também abordaram esse

tema. Pelaez, inclusive, enfatizou que a Cia. Belgo-Mineira surgiu devido à

presença do capital estrangeiro e não de capital “transferido da cafeicultura”66.

Marson, também verificou o empreendedorismo dos imigrantes, especialmente ao

estudar a indústria de máquinas e equipamentos em São Paulo, ressaltando que

além da experiência, muitos deles traziam capitais para investir, provenientes tanto

de suas poupanças quanto de sócios que mantinham em seus países de origem,

aos quais, inclusive, enviavam parte dos lucros67.

Para Mamigonian (1976 e 2000), os imigrantes contribuíram basicamente de

duas maneiras: 1) pelo maior conhecimento técnico trazido da Europa e, 2) por

formar um mercado consumidor interno mais dinâmico. Sobre o maior

conhecimento técnico em produção industrial, trataremos adiante. Em relação à

formação de um mercado consumidor, Mamigonian (1976) afirma que os colonos

estrangeiros, instalados em São Paulo, adquiriam produtos laticínios, calçados etc.

porque produziam excedentes agrícolas (cultivados intercalados aos cafezais),

65 Mamigonian (2000), compreende a ideia de que “os cafeicultores teriam industrializado o Brasil” em um contexto ideológico, no qual as elites rurais procuravam preservar sua hegemonia política, controlando a economia do país. 66 Aliás, Pelaez (1968) até tentou explicar para onde teria fluido o capital, antes aplicado na cafeicultura. Ele acredita que, notadamente a partir da década de 1930, com a crise do café grande parte dos fazendeiros, especialmente do estado de São Paulo, não passaram a investir na economia urbana, mas em outras atividades agrícolas, principalmente na produção do algodão. Pois, de 1933 a 1939 a produção de algodão de SP passou de apenas 9 mil para 273 mil toneladas. Nesse período a área cultivada com café caiu de 2,3 milhões para 1,9 milhões de hectares (ha.). Por outro lado, a área cultivada com algodão aumentou de 117,3 mil ha. para 1,3 milhão de hectares nesse período. E ao contrário do café, em que o preço caiu consideravelmente, o preço do algodão exportado aumentou de 3,1 mil para 3,6 milhões de réis a tonelada no período 1933/39. Mas, enfim, esses dados fazem Pelaez pensar que seria mais fácil transferir dinheiro, antes aplicado nos cafezais, para outras atividades agrícolas do que investir na indústria. 67 Também não podemos esquecer do estudo de Pesavento (1985) sobre a industrialização do Rio Grande do Sul, no qual a autora ressalta o pioneirismo dos imigrantes alemães e italianos, especialmente na economia de Porto Alegre, no Vale dos Sinos e na Serra Gaúcha. Só que ao contrário de Mamigonian, que destacou a participação dos imigrantes na industrialização, Pesavento destaca a participação dos imigrantes, especialmente na formação do mercado regional.

Page 68: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

49

podendo comercializá-los, ou recebiam salários68, ao contrário do que ocorria com

os escravos que não possuíam poder de compra, andando descalços etc.69

Sobre o mercado consumidor (pelo menos em potencial) que os imigrantes

formaram no Brasil, podemos ter noção se analisarmos o fluxo imigratório referente

às últimas décadas do século XIX. De acordo com os dados do IBGE (1941),

verificamos que no período 1884 a 1938 entrou no país o total de 4.158.717 de

pessoas, sendo que, dessas, 883.668 imigraram no período 1884-1893; outros

892.110 imigraram entre os anos de 1894-1903 e 1.006.617 entraram no país no

período 1904-1913 (o restante imigrou entre os anos de 1914 e 1939)70.

Pelo inquérito industrial de 1907, realizado pelo Centro Industrial Brasileiro

(CIB), também podemos identificar a presença de imigrantes, pois o referido estudo

fornece os sobrenomes dos proprietários das unidades industriais daquela época

(CIB, 1909). E pelo recenseamento de 1920, realizado pela Diretoria Geral de

Estatística (DGE) e pelo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC),

podemos ter acesso aos países de nascimento dos proprietários da indústria

brasileira, o que nos permite observar que do total de 9.190 firmas industriais

existentes (em 1º de setembro de 1920), 4.084 (44,4%) eram de propriedade de

estrangeiros, com destaque para italianos, que possuíam 2.119 firmas industriais;

portugueses, que possuíam 891; alemães com 268 e espanhóis, proprietários de

267 estabelecimentos industriais (DGE/MAIC, 1927)71.

Há de se recordar que no capítulo 1, destacamos que as poucas fábricas de

máquinas agrícolas que se instalaram no Brasil, ainda no século XIX, foram

fundadas por imigrantes (quadro 1):

68 Lembrando que Pesavento (1985) também verificou que nas regiões de colonização alemã e italiana, no Rio Grande do Sul, se produzia excedentes que eram comercializados, permitindo aos colonos a aquisição de manufaturas no comércio regional, ao contrário do que ocorria nas regiões de pecuária da Campanha Gaúcha, onde quase não existia assalariamento, pois os peões das fazendas recebiam casa e comida (os “agregados”), então não se formava um mercado consumidor regional mais robusto. 69 Aliás, Mamigonian (2000) destaca que os fazendeiros brasileiros não formavam mercado consumidor para a indústria nascente porque possuíam renda e gosto para importar mobiliário francês, roupas, cristais, louças e outras mercadorias da Europa. 70 Com destaque para imigrantes italianos, 1.412.263 de indivíduos, e para portugueses, que chegava a 1.204.394 de pessoas. 71 Não podemos esquecer do estudo de Bresser-Pereira (1964), que afirma que 84,3% dos empresários paulistas, no ano de 1962, eram de origem estrangeira sendo que, desses, 34,8% eram italianos.

Page 69: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

50

Quadro 1 Origem dos fundadores das primeiras fábricas de máquinas agrícolas do Brasil – século XIX

Nome do fundador

País de nascimento

Nome da empresa Local e data da

fundação

Irmãos Arens Alemanha Grande Officina Mechanica Arens

Campinas – SP/ década de 1870

Adolpho Sidow Alemanha Grande Fundição Sidow São Paulo/1874 Guilherme Mac Hardy

Escócia Cia. Mac Hardy Campinas – SP/1875

Guilherme van W. Lidgerwood

Estados Unidos

Lidgerwood & Comp. Campinas – SP/1884

Alexandre Siciliano

Itália Cia. Mecânica Importadora de São Paulo

São Paulo/1890

Alessandro De Antoni

Itália Oficina Mecânica e Agrícola De Antoni & Cia.

Caxias do Sul – RS/1894

Abramo Eberle Itália Metalúrgica Eberle Caxias do Sul – RS/ 1896

Fonte: Elaboração própria a partir informações contidas nos estudos de Bandeira Jr. (1901), Pesavento (1985) e Marson (2012).

A partir do estudo pioneiro de Bandeira Jr., sobre a indústria de São Paulo,

podemos verificar que não só a maioria dos industriais de SP eram estrangeiros

como também grande parte dos operários das fábricas, inclusive dos segmentos

da metalurgia e de máquinas agrícolas. Para algumas empresas não existe a

quantidade exata de empregados estrangeiros, mas para outras Bandeira Jr.

disponibilizou os dados. Mencionando apenas as fábricas de máquinas agrícolas,

destacamos a Companhia Mac-Hardy que em 1901 possuía o total de 300

empregados e, desses, 80 eram estrangeiros; a Grande Officina Mechanica Arens,

que possuía o total de 153 empregados e, desses, 104 eram estrangeiros e a

Grande Fundição Sidow, que possuía apenas 38 empregados, mas 20 eram

estrangeiros (BANDEIRA JR., 1901).

Aliás, Mamigonian (1976) cita o referido estudo de Antonio Bandeira Jr.,

afirmando que 75% dos operários da indústria paulista, naquela época, era formada

por imigrantes. Isto é, não se importava da Europa apenas tecnologia industrial,

mas também os próprios operários72.

Pelos dados do recenseamento de 1872, podemos verificar que naquela

época já era destacada a participação de imigrantes em atividades artesanais no

Brasil, o que a DGE chamou de “profissões manuais ou mecânicas”. Somando

72 Como não existiam mecânicos e técnicos no Brasil, muitas fábricas importavam da Europa as máquinas e, junto delas, os operários mais especializados (CALANDRO; CAMPOS, 2015).

Page 70: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

51

todos os setores73, constatamos que existiam 16.466 estrangeiros, com destaque

para 4.906 operários ocupados em atividades “em madeiras”; 2.882 “em metais” e

2.309 operários “em tecidos” (DGE, 1874?).

Além dessas empresas, também podemos destacar outras experiências

trazidas por imigrantes que instalaram fábricas de máquinas agrícolas nas

primeiras décadas do século XX, especialmente em São Paulo e no Rio Grande do

Sul, que aliás se tornariam os dois polos nacionais desse segmento industrial no

decorrer do século XX. A partir do estudo de Beskow (1986), verificamos que os

imigrantes alemães, que se instalaram na região de Cachoeira do Sul – RS, foram

pioneiros na produção de arroz irrigado mecanicamente no país. Ao perceberem

que esse cereal era básico para a alimentação dos brasileiros74, eles procuraram

aumentar a produtividade de suas lavouras75, primeiramente irrigando-as por meio

da gravidade e, a partir do início do século passado, irrigando mecanicamente por

meio de locomóveis (motores a vapor montados sobre rodas), bombas d’água e

centrífugas76.

Inicialmente, as lavouras de arroz do Rio Grande do Sul utilizavam tecnologia

importada. Geralmente eram locomóveis, bombas, centrifugas, motores e outros

equipamentos trazidos dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Alemanha. Por

exemplo, a empresa Comercial Bromberg – que foi fundada no final do século XIX

(em Porto Alegre) por um imigrante alemão – era a maior exportadora de produtos

da região colonial de RS para Hamburgo, na Alemanha, de onde importava a

maioria das máquinas a serem utilizadas na região arrozeira de Cachoeira do Sul

(PESAVENTO, 1985).

73 A DGE utilizou no recenseamento uma divisão em nove categorias de operários: em metais; em madeiras; em tecidos; em tinturaria; em couros e peles; de edificações; de vestuário; de chapéus e de calçados (DGE, 1874?). 74 Um fator que contribuiu para a orizicultura, foi que na virada do século XIX para o século XX o governo federal elevou a tarifa do arroz importado, o que beneficiou os produtores brasileiros. Ocorre que o país estava se urbanizando e necessitava desse produto básico, que já fazia parte do hábito alimentar da grande maioria da população brasileira (BESKOW, 1986). 75 O aumento da produtividade nos arrozais do Rio Grande do Sul foi considerável. Segundo Orlando Valverde apud Selbach (2007), a lucratividade com as lavouras de arroz irrigado atraiu inclusive muitos pecuaristas luso-brasileiros, que também passaram a investir nessa atividade, valendo-se da parceria, do arrendamento ou do assalariamento de colonos de origem alemã, que eram mais experientes na referida atividade. 76 Para Beskow (1986), a orizicultura irrigada mecanicamente, na região de Cachoeira do Sul, foi a primeira atividade agrícola brasileira a ter nascido com bases capitalistas: com mão de obra assalariada, arrendamentos, com a utilização de tecnologia e com produção voltada ao mercado; não apenas com a venda de excedentes como ocorria em outras regiões do país.

Page 71: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

52

Há de se ressaltar que, segundo Pesavento, a casa comercial e bancária

Bromberg financiou (ao lado do Banco da Província) as primeiras fábricas de

máquinas agrícolas que surgiram na região produtora de arroz, como foi o caso da

empresa Mernak, instalada em Cachoeira do Sul, em 1912, para produzir

equipamentos tais como bombas, centrifugas, caldeiras a vapor, locomóveis e

trilhadeiras77, especialmente para as lavouras de arroz. A Mernak e Cia. foi fundada

pelo imigrante alemão Otto Mernak.

A dinâmica formada na região arrozeira, de colonização alemã, fez surgir

outras indústrias de máquinas agrícolas no Rio Grande do Sul, tais como a fábrica

de trilhadeiras da marca “Tigre”, instalada no distrito cachoeirense de Faxinal do

Soturno (na atualidade, município emancipado). Essa empresa foi fundada por volta

de 1920 por Ângelo Bozzetto, filho de imigrantes italianos78. Outro exemplo é das

“Trilhadeiras Friedrich”, empresa instalada em Cachoeira do Sul por Adolfo Moritz

Friedrich79.

Inclusive, verificamos que o mercado consumidor regional fez surgir,

também, algumas fábricas na região de colonização italiana de RS. Por exemplo,

a Oficina Mecânica e Agrícola De Antoni & Cia. foi fundada em Caxias do Sul, em

1894, pelo imigrante italiano Alessandro De Antoni. De acordo com Pesavento

(1985), De Antoni se especializou na produção de máquinas para a colheita,

inclusive sendo premiado (em feiras agropecuárias) por ter inventado um dos

primeiros modelos de trilhadeiras que foram fabricadas no Brasil80.

Em São Paulo a dinâmica estimulada pelos imigrantes também contribuiu

para o surgimento de algumas fábricas de máquinas agrícolas. Por exemplo, em

1908 surgiu na cidade de Americana a Indústrias Nardini, fundada pelo imigrante

77 Trilhadoras (popularmente conhecidas como “trilhadeiras”) são máquinas colhedoras de cereais, leguminosas e oleaginosas que não são automotrizes, então têm que ser rebocadas, geralmente, por tração animal (juntas de bois) e acionadas por motores paralelos (ver figura 4, no capítulo a seguir). 78 No início da década de 1920, Ângelo Bozzetto e alguns sócios fundaram uma empresa agrícola para cultivar arroz, então surgiu a necessidade de adquirirem uma máquina para colher a produção. Eles adquiriram uma trilhadeira velha, então tiveram que consertá-la, o que proporcionou experiência a A. Bozzetto, que mais tarde decidiu fundar uma fábrica desse tipo de máquinas agrícolas (FUNDAÇÃO, 2017). 79 Segundo Aravanis (2010), os locomóveis fabricados pela Mernak e Cia. e as trilhadeiras Friedrich (vendidas para vários estados do país e até no exterior) foram de suma importância para a produção de arroz em Cachoeira do Sul. 80 De acordo com uma nota no jornal Cidade de Caxias, publicada no ano de 1912, a fábrica de máquinas agrícolas de Alessandro De Antoni foi premiada em 1º lugar na feira agropecuária de Porto Alegre (daquele ano) pela invenção de uma trilhadeira (MAIS UM, 2017).

Page 72: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

53

italiano Domingos Nardini. Em 1912 a sua empresa já fabricava arados, foices,

semeadeiras, machados, charretes e carroções, mas se destacou por ter adaptado

a lâmina dos arados norte-americanos com uma têmpera de aço mais resistente

aos solos brasileiros81, que são mais compactados do que os solos dos EUA

(ABIMAQ, 2006)82.

Outras unidades industriais fabricantes de máquinas agrícolas que surgiram

no estado de São Paulo pela iniciativa de imigrantes, foram a Dedini Indústria de

Base e a Indústrias Romi S.A. Ao realizar um estudo específico sobre essas

empresas, Marson (2014) menciona que Mário Dedini emigrou para o Brasil em

1914 a convite de um amigo que trabalhava consertando usinas de açúcar no

estado de São Paulo, pois ele possuía conhecimentos sobre esse tipo de atividade,

então auxiliou os engenheiros e técnicos franceses na montagem da usina Santa

Bárbara83. Mas, o seu empreendedorismo se revelou a partir de 1920, quando

fundou uma oficina na cidade de Piracicaba para consertar máquinas e

equipamentos agrícolas, o que lhe faria perceber a demanda que já existia,

especialmente em torno do setor açucareiro84.

De acordo com o mesmo estudo de Marson, Américo Romi nasceu no Brasil,

mas em 1912 emigrou para a Itália, pois seus pais pretendiam estudar os filhos em

seu país de origem. Foi lá que o jovem Américo estudou Eletromecânica e adquiriu

experiência profissional em importantes empresas de Milão, inclusive ao se tornar

mecânico do exército italiano durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1923, Romi

retornou ao Brasil onde passou a trabalhar de mecânico de veículos em Santo

Amaro – SP e, em 1929, fundou uma oficina mecânica de automóveis na cidade de

Santa Bárbara d’Oeste – SP, com um capital inicial de apenas dois contos de réis

emprestados por um amigo. Aliás, assim como ocorreu com Dedini a experiência

81 Há de se entender que a agricultura contém certas particularidades, tais como os condicionantes naturais, como os solos compactos do Brasil que obrigaram Domingos Nardini a adaptar a têmpera de seus arados, por exemplo. Aliás, tanto Kautsky (1986) como Lênin (1982) observaram que a inserção de maquinaria na agricultura enfrenta barreiras, como as exercidas pelas particularidades do solo. 82 Essa empresa ainda existe e se especializou em ferros fundidos e na fabricação de tornos industriais (NARDINI, 2017). 83 Dedini nasceu em uma região da Itália produtora de açúcar de beterraba e estudou Mecânica em uma escola técnica no seu país de origem, além de ter trabalhado em usinas de açúcar de beterraba na Itália (MARSON, 2014). 84 Segundo Marson, Dedini montou uma pequena fundição de ferro (com aquisição de máquinas usadas) para consertar e produzir peças de engenhos de cana-de-açúcar, tais como moendas, eixos, engrenagens, mancais, entre outros.

Page 73: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

54

de Romi com máquinas agrícolas também começou em oficinas de conserto, nesse

caso, reparando arados, semeadeiras estrangeiras, fabricando peças de reposição

e até alguns modelos de máquinas agrícolas de sua própria marca85.

Essas experiências empreendedoras, especialmente na indústria de

máquinas agrícolas que começou surgir no Rio Grande do Sul e em São Paulo,

ressaltam a importância do conhecimento técnico trazido pelos imigrantes,

especialmente pelos italianos e alemães. Há de se destacar que essas empresas

começaram artesanalmente, com pouco capital, mas conseguiram atender à

demanda interna que estava surgindo. Observamos que a indústria passou a

atender a uma demanda agrícola regional, especialmente a produção de arroz no

Rio Grande do Sul, bem como a cafeicultura e as lavouras de cana-de-açúcar de

São Paulo86.

Se analisarmos dados do censo agrícola de 1920 – contido no

recenseamento geral daquele ano –, verificaremos que a participação dos

imigrantes não ocorreu só na industrialização do país, mas também nas atividades

agrícolas. Por exemplo, em 1920 o país possuía 79.169 estabelecimentos rurais

em que o proprietário havia nascido no exterior, com destaque para os italianos que

eram proprietários de 35.894 estabelecimentos; para os portugueses, proprietários

de 9.552 e para os alemães, que possuíam 6.887 estabelecimentos rurais

(DGE/MAIC, 1923)87.

São Paulo e Rio Grande do Sul que, como ressaltamos, no início do século

passado já despontavam como os dois polos da indústria de máquinas e

implementos agrícolas (e fundadas por imigrantes), naquele período também se

destacavam na quantidade de estabelecimentos rurais nas mãos de imigrantes. Por

exemplo, em 1920 o estado de São Paulo possuía o total de 22.065

estabelecimentos rurais em que o proprietário nasceu em outro país, com destaque

para 11.825 estabelecimentos em que o proprietário era italiano e 3.875 em que

era português. Nesse ano o Rio Grande do Sul possuía o total de 25.485

85 Segundo Marson (2014), em 1939 a Máquinas Agrícolas Romi Ltda. já era considerada a maior indústria brasileira de máquinas agrícolas. 86 Lembrando que Rangel (1986), já havia afirmado que a indústria brasileira de bens de consumo imediato se apoiou em um DI (indústria de meios de produção) artesanal, pois o conserto de máquinas e a fabricação de peças de reposição prolongam a vida útil da maquinaria. 87 Verificamos que a área média dos estabelecimentos rurais dos brasileiros era de 266 hectares, enquanto que a dos estrangeiros era bem menor, 136 hectares (DGE/MAIC, 1923).

Page 74: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

55

estabelecimentos rurais em que o proprietário nasceu no estrangeiro, 13.810 eram

de italianos e 3.283 de alemães, entre outros.

Portanto, podemos afirmar que os imigrantes que vieram trabalhar no

campo, tanto em São Paulo como no Rio Grande do Sul, em maioria eram de

origem italiana, justamente a nacionalidade que foi pioneira na instalação da

indústria de máquinas agrícolas88. Isso nos faz pensar que, provavelmente, os

imigrantes empreendedores desse segmento da indústria vendiam suas máquinas

e implementos especialmente para agricultores que eram compatriotas89, inclusive

pelos laços culturais que os aproximava90 e pelo fato de que SP e RS, naquela

época, já se destacavam na produção agrícola nacional91.

É importante frisarmos que Mamigonian (1976) entende que não se trata de

uma “superioridade” étnica dos europeus em relação a população nativa do Brasil.

No seu entendimento, o que ocorre é que os imigrantes, especialmente os italianos

e alemães, vieram de países mais industrializados, então eles possuíam mais

conhecimentos técnicos sobre essa atividade92.

88 Há de se notar que no Rio Grande do Sul era considerável a quantidade de estabelecimentos rurais de alemães, nacionalidade que também contribuiu para a indústria, inclusive na fabricação de máquinas agrícolas, conforme mencionaram Pesavento (1985) e Selbach (2007). As máquinas eram vendidas especialmente para os produtores de arroz da região de Cachoeira do Sul, onde grande parte dos agricultores eram imigrantes alemães. 89 Em 1920 o estado de Santa Catarina possuía 7.800 estabelecimentos rurais em que o proprietário era estrangeiro. O Paraná possuía 9.420 estabelecimentos rurais nas mãos de estrangeiros (DGE/MAIC, 1923). Provavelmente os agricultores imigrantes de Santa Catarina adquiriam máquinas agrícolas fabricadas nas regiões coloniais do Rio Grande do Sul, enquanto que os do Paraná adquiriam, também, em RS e em São Paulo, levando-se em consideração a proximidade

geográfica em um período de pouca mobilidade nos transportes. 90 Por exemplo, em pesquisa que realizamos no Show Rural Coopavel de 2019, alguns vendedores de máquinas agrícolas nos informaram que, geralmente, os agricultores prezam por relações de confiança nos negócios, valorizando os costumes e hábitos. Inclusive, verificamos que algumas empresas até preferem levar vendedores do Sul para negociar com os fazendeiros sulistas que migraram para a região Centro-Oeste do país. São traços subjetivos, mas inerentes à cultura dos agricultores, especialmente dos descendentes de europeus, pelo o que percebemos. 91 Os dados referentes à safra 1919/20 indicam que naquela época São Paulo e Rio Grande do Sul já despontavam na produção agrícola nacional. Por exemplo, São Paulo contribuía com 42,4% do valor da produção de café, sendo seguido por Minas Gerais que contribuía com 32,1%. Minas Gerais contribuía com 25,4% do valor da produção de milho daquela safra, São Paulo com 23,9% e o Rio Grande do Sul com 23,0% do valor total da produção. São Paulo também se destacava na produção de algodão e arroz, contribuindo com 1/3 do valor da produção de algodão e com 41% do valor do arroz produzido no país. Minas Gerais, em segundo, e o Rio Grande do Sul em terceiro eram os outros destaques na orizicultura. Naquela safra o estado de São Paulo contribuiu com 29,4% do valor da produção de feijão, Minas Gerais com 21,4% e o Rio Grande do Sul com 16,7% da produção total (DGE/MAIC, 1924). 92 Em sua experiência em mineração e siderurgia no Brasil (realizada na segunda década do século XIX) o alemão, Eschwege (1979), verificou que os poucos homens experientes na produção de ferro eram escravos negros ou mulatos libertos e que eles traziam os conhecimentos de seus países de origem. Prado Jr. (2000), também verificou que muitos escravos trouxeram da África conhecimento

Page 75: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

56

Além disso, há de se destacar a importância da formação social para a

gênese da indústria brasileira de máquinas agrícolas. De acordo com Santos (1977,

p. 81) o espaço humano é um fato histórico, “pois a História não se escreve fora do

espaço, e não há sociedade a-espacial.” Por essa ótica, ele conclui que a formação

social diz respeito “[...] à evolução diferencial das sociedades, no seu quadro

próprio e em relação com as forças externas de onde mais frequentemente lhes

provém o impulso.” (p. 81-2). Em síntese, Santos afirma que “as diferenças entre

os lugares são o resultado do arranjo espacial dos modos de produção

particulares.” (p. 87)93.

Essa categoria de análise nos permite observar, por exemplo, que a

formação social de São Paulo e do Rio Grande do Sul, diferenciou-se das demais

formações brasileiras, particularmente devido à contribuição dos imigrantes que

organizaram um modo de produção que articulou uma economia mercantil –

apoiada em atividades agrícolas e artesanais – com o surgimento das primeiras

fábricas de máquinas agrícolas do país.

2.4.1 Particularidades da gênese da indústria de máquinas agrícolas em

outros países

Para mostrar que a importância do conhecimento técnico, articulado à

demanda regional da agricultura, não é um fato isolado, uma particularidade do

Brasil, traremos alguns exemplos do processo em outros países, especialmente na

Grã-Bretanha e nos Estados Unidos que foram pioneiros na fabricação de

máquinas e implementos agrícolas.

Para início de conversa, ressaltamos que as máquinas são tão importantes

que no período 1765-1789 o parlamento da Inglaterra aprovou várias leis proibindo

(inclusive, prevendo severas punições) a exportação de máquinas mais modernas,

bem como os seus planos de fabricação (os projetos de máquinas). Nem mesmo

os artesãos que operassem máquinas mais sofisticadas poderiam deixar o país.

Para Huberman, essas medidas visavam o monopólio do uso da maquinaria e de

técnico para trabalhar com metais. Portanto, isso nos mostra que realmente não se trata de superioridade étnica, mas de um estágio mais avançado de conhecimento. 93 Por entender que a sociedade e os modos de produção estão inseridos no espaço, inclusive diferenciando os lugares, Santos (1977) prefere utilizar o termo formação sócio espacial (F.S.E.).

Page 76: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

57

seus benefícios: “a Inglaterra iria ser a oficina do mundo.” (HUBERMAN, 1978, p.

127).

Fonseca (1990), menciona que até o século XVIII os implementos e

ferramentas agrícolas eram rudimentares, quase não se diferenciando das

ferramentas utilizadas há dois mil anos na Ásia Menor e na Europa. Porém, no

século XIX a população europeia aumentou em 200 milhões e passou por um

intenso processo de urbanização, obrigando a agricultura se modernizar para

aumentar a oferta de alimentos; situação que, aliás, já havia sido mencionada por

Marx em meados daquele século94.

Um dos fatores em comum entre a origem da indústria brasileira de

máquinas agrícolas com a de outros países, é a participação de agricultores como

inventores e promotores da utilização de maquinaria na agricultura. Por exemplo,

no final do século XVIII o político, agricultor e inventor britânico95, Thomas Coke,

utilizou em suas terras uma máquina para semear cereais que reduziu o

desperdício de sementes, aumentando consideravelmente a produtividade de suas

lavouras.

E observamos que não foi na Inglaterra, pioneira na industrialização, que

mais se intensificaria a indústria de máquinas agrícolas, mas em uma de suas

colônias, nos Estados Unidos. Por exemplo, em 1794 o engenheiro mecânico

estadunidense, Eli Whitney, patenteou a invenção de uma máquina de descaroçar

algodão que aumentou consideravelmente a produção algodoeira. Ao trabalhar em

uma fazenda na Carolina do Sul, ele inventou a máquina na intenção de substituir

os trabalhadores em uma tarefa que era extremamente árdua. Essa invenção foi

tão importante que ficou conhecida mundialmente. O próprio Marx – no volume

terceiro da obra Teorias da Mais-Valia – ressaltou a sua utilidade na lavoura: “parte

do algodão deteriorava-se no campo. A máquina de descaroçar algodão pôs um

fim a essa situação.” (MARX, 1985b, p. 1480).

De acordo com Guimarães (1979), por volta de 1785 foi fundada na Filadélfia

94 Verificamos que Marx (1983a) já havia destacado que com o desenvolvimento das forças produtivas a agricultura passa a ser encarregada de produzir mais alimentos, inclusive utilizando menos trabalhadores (aumentando a produtividade do trabalho), porque a indústria atrai para as cidades grande parte dos trabalhadores, portanto, ampliando o mercado consumidor. 95 De acordo com Guimarães (1979) e Fonseca (1990), observamos que nos Estados Unidos também ocorreu a participação de importantes políticos na mecanização da agricultura, tais como George Washington e Thomas Jefferson que chegaram a ser presidentes daquele país.

Page 77: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

58

– EUA uma sociedade para o desenvolvimento da agricultura e, em 1794, Charles

Newbold inventou uma charrua (arado) de ferro fundido, que em 1819 seria

aperfeiçoado por Jethro Wood.

Se como destacamos, alguns ferreiros ou mecânicos tiveram que adaptar

equipamentos agrícolas às especificidades do solo brasileiro (lembrando o caso de

Domingos Nardini), nos Estados Unidos alguns empreendedores também tiveram

que adaptar suas máquinas aos condicionantes naturais daquele país. Por

exemplo, ao se deparar com a situação que os arados de ferro fundido não

deslizavam nos solos de pradaria dos EUA, em 1837 um ferreiro de Illinois,

chamado John Deere, inventou um arado de ferro forjado liso, implemento que seria

bem aceito pelos agricultores daquele país (JOHN DEERE, 2019)96.

Portanto, verificamos que o desenvolvimento da indústria de máquinas

agrícolas, a partir da transformação artesanal e articulada às particularidades da

agricultura regional, não é um processo restrito às especificidades brasileiras, pois

faz parte da lógica do processo de desenvolvimento das forças produtivas que,

inclusive, são compostas por unidades fundamentalmente contraditórias, mas que

em determinados contextos formam combinações inovadoras.

Os primeiros industriais brasileiros, assim como os de outros países que

destacamos anteriormente, souberam combinar diferentes técnicas, de certa forma

inovando, o que nos faz lembrar do entendimento de Schumpeter (1982) expresso

na citação que utilizamos no início desse capítulo.

Porém, como destacaremos nos capítulos seguintes, o empreendedorismo

não é o único e nem o principal dos fatores que estimulam o desenvolvimento

industrial.

96 Na atualidade a Deere & Company é a maior fabricante de máquinas agrícolas do mundo, inclusive com atuação no Brasil, como destacaremos adiante.

Page 78: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

CAPÍTULO III

O DESENVOLVIMENTISMO E A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS

AGRÍCOLAS

A arte da programação deve, precipuamente ensinar a usar a influência do Estado para os fins de desenvolvimento econômico. Noutros termos, a intervenção do Estado na economia, que, antes da programação, se faz ao sabor de pressões ocasionais de grupos ou sob a inspiração de problemas emergentes, guiando-se, muitas vezes, por aparências ilusórias, como a antiga medicina se guiava pelos sintomas mais visíveis, deve processar-se de maneira ordenada e racional, tendo em conta os efeitos de cada ato de intervenção sobre todo corpo produtivo social. (RANGEL, 1980, p. 48-7).

Alguns economistas, como Celso Furtado, por exemplo, entendem que a

industrialização brasileira se intensificou a partir das mudanças econômicas e

políticas ocorridas a partir da década de 1930, apontando como marco a grande

crise de 1929 e a chegada de Getúlio Vargas ao poder (1930), que foram uma

alavanca para a mudança de rumo ou para o deslocamento do centro dinâmico da

economia. Mas, outro economista brasileiro, Ignácio Rangel, a partir de uma

interpretação praticamente singular, afirmou que o processo de industrialização

brasileira foi, de fato, influenciado pela conjuntura econômica e política

internacional, mas respondendo, também, a uma dinâmica interna, inerente às

especificidades econômicas, políticas e sociais do Brasil.

Nesse capítulo, analisaremos a indústria brasileira de máquinas e

equipamentos, com destaque para o segmento destinado a produzir meios de

produção para a agricultura, no contexto do desenvolvimento econômico do país.

3.1 Uma Nota sobre a Economia Política

Antes de analisar a influência das políticas econômicas durante o período

desenvolvimentista no Brasil, entendemos que é necessário fazer um resgate

(embora que breve) das principais características da chamada economia política;

isto é, em relação às teorias que versam sobre as relações sociais de produção,

sobre a circulação e a distribuição dos bens e serviços produzidos.

Page 79: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

60

Uma das primeiras e importantes contribuições sobre esse tema,

encontramos a partir dos estudos de Adam Smith (1723-1790). Smith (1996), partiu

do princípio da liberdade natural, afirmando que devemos privar pela liberdade

individual, na qual as pessoas e empresas poderão competir, ocorrendo a mínima

intervenção do Estado. Em seu entendimento, a função do governo (que ele chama

de soberano) consistiria em garantir um ambiente favorável às liberdades

individuais, inclusive priorizando o livre mercado.

Ressaltamos que Adam Smith publicou a sua obra A Riqueza das Nações

em 1776, portanto em uma época em que a Inglaterra estava impulsionando sua

industrialização, com o objetivo de conquistar o mercado externo e ter acesso à

matérias-primas e outros recursos produtivos. Portanto, tratando-se de um

ambiente favorável ao desenvolvimento de um estudo como esse de Smith.

Ainda durante a fase ascendente do primeiro ciclo longo da economia97 o

francês Jean-Baptiste Say (1767-1832) publicou seu Tratado de Economia Política

(lançado em 1803), livro em que ele desenvolveu uma lei que apontaria para um

equilíbrio entre a produção (a oferta) e o consumo (a demanda) o que, de certa

forma, não invalidou o pensamento de Smith sobre o livre mercado e, inclusive,

reforçou a “desnecessidade” da ação do governo sobre a economia (SAY, 1983).

Em 1817, David Ricardo (1772-1823) publicou seu livro Princípios de

Economia Política e Tributação, no qual também defendeu o livre comércio

internacional, inclusive desenvolvendo a teoria das vantagens comparativas que,

grosso modo, afirma que o comércio é benéfico inclusive entre países com

diferentes níveis de desenvolvimento, pois em certas atividades as nações menos

desenvolvidas poderiam obter vantagens em relação aos países mais adiantados

(RICARDO, 1982).

A. Smith, J. B. Say e D. Ricardo não foram os únicos nomes da chamada

economia clássica, mas os citamos devido à influência que tiveram sobre os

economistas que os sucederam, como os neoclássicos que se destacaram a partir

do final do século XIX e início do século seguinte.

Aliás, a partir da crítica do pensamento dos economistas clássicos (e

inclusive dos neoclássicos), John M. Keynes (1883-1946) analisou a conjuntura da

97 Lembrando que pela datação utilizada pelo próprio Kondratieff (1946) a fase próspera do 1º ciclo teria iniciado por volta de 1790 e teria durado mais ou menos até 1815.

Page 80: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

61

grande crise de 1929, lançando no ano de 1936 a sua “Teoria Geral”, que

apresentou importantes elementos não contidos nos estudos dos clássicos e dos

neoclássicos. Trata-se da importância do protagonismo do Estado, pois no seu

entendimento o caráter cíclico da economia capitalista gera riscos, desencorajando

os investimentos privados. Isso o levou a entender de que nos períodos de

prosperidade econômica a estrutura estatal não deve intervir, mas que nas fases

de crise e recessão os governos devem investir, especialmente nos setores de

longo tempo de maturação e em atividades que possam empregar a mão de obra

ociosa. Além disso, ele refutou a chamada Lei de Say (anteriormente destacada),

que grosso modo afirmava que a oferta criaria a sua demanda (KEYNES, 1983).

Há de se destacar que a teoria keynesiana foi influente sobre as políticas

econômicas implantadas em vários países mais desenvolvidos (especialmente na

Inglaterra e nos Estados Unidos) a partir dos anos 1930 e 1940, influenciando

também as economias de países mais atrasados, como da América Latina.

Inclusive, muitos aspectos do chamado “desenvolvimentismo” o aproximam de

elementos da economia keynesiana, como analisaremos a seguir.

3.2 A Origem do Desenvolvimentismo e a Industrialização Brasileira

No contexto de formação do pensamento “desenvolvimentista” brasileiro

(décadas de 1920 a 1950, mais ou menos) o pensamento liberal era marcante. Há

de se destacar, por exemplo, as ideias do economista brasileiro Eugênio Gudin que

criticava o apoio à industrialização (ocorrido principalmente durantes os governos

Vargas e JK) que, no seu entendimento, feriria os princípios de liberdade

econômica98 e retardaria o desenvolvimento da produtividade nesse setor;

defendendo, também, a abertura aos investimentos externos que seriam mais

eficientes (GUDIN, 1972)99.

Há de se mencionar que a influência do pensamento de Eugênio Gudin,

nesse período, não pode ser desprezada, pois ele chegou a ser Ministro da

98 De acordo com Bielschowsky (1996), naquela época Eugênio Gudin era o mais ortodoxo entre os economistas liberais brasileiros. 99 Inclusive, segundo Rodrigues e Jurgenfeld (2020), por ser defensor da teoria das vantagens comparativas (um conceito defendido pelos seguidores de David Ricardo, como mencionamos anteriormente), Gudin entendia que o Brasil deveria apoiar a agricultura e não o setor industrial.

Page 81: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

62

Fazenda (no período de 26 de agosto de 1954 a 12 de abril de 1955) do governo

de Café Filho (1954-1955).

Outro economista importante para o debate sobre o desenvolvimento

econômico brasileiro, foi Roberto Campos. Como destacou Bielschowsky (1996),

ele era assumidamente liberal, mas crítico a alguns postulados ortodoxos do

liberalismo. Por exemplo, ao contrário de Eugênio Gudin que era contra o

planejamento, pois partia da ideia de pleno emprego, acreditando que as

estratégias de industrialização prejudicariam a eficiência da economia de mercado,

Roberto Campos defendia a industrialização por meio da internacionalização de

capitais, mas com apoio do Estado. Em outras palavras, como liberal ele apoiava a

atração do capital externo, mas na condição de nacionalista (e politicamente de

direita) acreditava que o governo deveria organizar o desenvolvimento econômico,

porém não atuando em setores que a iniciativa privada pudesse participar100.

Campos foi importante para o desenvolvimento econômico brasileiro,

principalmente devido sua atuação no Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico (atual BNDES) e no Plano de Metas (que destacaremos adiante)101.

Porém, o pensamento chamado desenvolvimentista se desenrolou mais

intensamente a partir da contribuição de outros economistas. E sem dúvidas um

nome que tem que ser destacado é o de Celso Furtado. Ao contrário dos liberais,

Furtado (1986) entendia que o subdesenvolvimento não é uma etapa necessária

ao desenvolvimento econômico, sendo resultado da estrutura do desenvolvimento

econômico nos países centrais que exploram os países mais atrasados102. A partir

desse entendimento, ele defendeu a tese de que o desenvolvimento econômico

100 Inclusive, em artigo publicado em 1950, Roberto Campos criticou Keynes por ele desaprovar a exportação de capitais ao entender que concorreria com os investimentos domésticos. Ao contrário, Campos achava que o capital externo poderia ser complementar aos investimentos internos (CAMPOS, 1950). 101 Lembrando que em 1944, Campos integrou a delegação brasileira que participou da Conferência Monetário-Financeira da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em Bretton Woods (EUA). Em 1951, portanto, durante o segundo governo Vargas, ele integrou a Assessoria Econômica e participou da elaboração do anteprojeto para a criação da Petrobrás. Nesse mesmo ano, participou da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos e na condição de diretor do BNDE (em 1952) iniciou contatos com a Cepal, órgão da ONU que vinha fazendo estudos sobre modelos de desenvolvimento econômico aplicáveis à América Latina. Em meados de 1953, saiu do BNDE e foi designado cônsul em Los Angeles (EUA). Porém, em 1955 retornou ao Brasil, assumindo o cargo de diretor-superintendente do BNDE e em 1956 integrou o Conselho de Desenvolvimento, órgão diretamente vinculado à Presidência da República, com a finalidade de coordenar a política econômica do governo. Nesse conselho, ajudou a formular o Plano de Metas. 102 Inclusive, Celso Furtado é conhecido como um economista da escola estruturalista.

Page 82: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

63

nos países subdesenvolvidos, inclusive no Brasil, não seria espontâneo, portanto,

cabendo ao Estado estimulá-lo.

Foi a partir desse entendimento que ele se tornou um defensor da

industrialização para substituição de importações (naquele contexto, desvantajosas

ao país); defendendo a existência de políticas que estimulassem a formação do

mercado interno, o que no seu pensamento dependeria de uma profunda mudança

na distribuição de renda, inclusive entre as diferentes regiões do país103.

Celso Furtado foi importante para o setor público brasileiro. Por exemplo, a

partir de 1953 foi diretor do BNDE, produziu importantes estudos que embasaram

a elaboração do Plano de Metas (que destacaremos adiante) e foi Ministro do

Planejamento do governo Goulart, no período de 28 de setembro de 1962 a 31 de

março de 1964.

Outro grande economista – várias vezes citado nessa pesquisa – que

contribuiu para o planejamento e, consequentemente, para o desenvolvimento

econômico brasileiro, foi Ignácio Rangel, caracterizado por Bresser-Pereira e Rêgo

(1993) como “um mestre da economia brasileira”. Além de seus diversos trabalhos

teóricos, Rangel foi importante para a chamada tecnoestrutura do planejamento ao

ocupar cargos como na Assessoria Econômica do segundo governo Vargas, onde

a partir de 1952 colaborou para a elaboração dos projetos de grandes empresas

estatais, tais como da Eletrobrás e da Petrobrás. Também há de se destacar sua

atuação (como chefe de departamento econômico) no BNDE, onde atuou até 1965,

ano em que se licenciou devido a graves problemas de saúde (BRESSER

PEREIRA; RÊGO, 1993)

Bielschowsky (1996), entende que a origem do desenvolvimentismo no

Brasil ocorreu no período 1930-45. No setor público esse processo foi orientado por

diversas agências planejadoras voltadas à administração de problemas de alcance

nacional, como pelo Departamento Administrativo do Serviço Público; pelo

Conselho Federal do Comércio Exterior; Conselho Nacional do Petróleo e pelo

Conselho Nacional de Águas e Energia. No setor privado a representação do

desenvolvimentismo ocorreu, principalmente, por meio da Confederação Nacional

103 Furtado (1986), previa que no período 1950 a 1975 a indústria de bens de capital (especialmente de equipamentos) deveria crescer acima da média dos demais segmentos industriais para intensificar o processo de desenvolvimento econômico do país, o que poderia torna-lo menos dependente dos países centrais.

Page 83: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

64

da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP),

com liderança do empresário Roberto Simonsen.

Porém, a partir da segunda metade da década de 1940 a orientação liberal

do governo Dutra (1946-1951) imobilizou as agências criadas por Vargas. Mas,

Simonsen – que para Bielschowsky foi um dos pioneiros no planejamento

econômico no Brasil – criou um departamento na CNI (chefiado por Rômulo de

Almeida e Celso Furtado) com o objetivo de apoiar a indústria do país. Inclusive, a

partir da década de 1950 alguns desses nomes seriam recrutados para o setor

público, atuando em assessorias econômicas do próprio governo Vargas, como no

BNDE, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre outros.

Segundo Bielschowsky (1996), Roberto Simonsen defendia: 1) a

industrialização como forma de superar a pobreza do país, defendendo uma

indústria integrada ao setor de base, especialmente à metalurgia e à química; 2)

que o sucesso do projeto de industrialização dependeria do apoio governamental,

já que os mecanismos do mercado não seriam suficientes e, muitas vezes, até

nocivos à industrialização (defendendo inclusive o protecionismo e o planejamento

por parte do Estado); 3) o investimento direto do Estado em setores básicos que a

iniciativa privada não se fizesse presente.

Cano (2015), acredita que o período 1929-1945 representou para o Brasil

uma ruptura com o passado político liberal, que era marcado por uma política

econômica livre-cambista. No seu entendimento as mudanças ocorreram,

basicamente, de duas maneiras: 1) por meio de uma profunda reorganização do

Estado nacional, que passaria a ser fortemente intervencionista e, 2) com uma

radical mudança no processo de acumulação de capital, que alterou o centro

dinâmico da economia nacional.

Em 1948 foi formalizada a Comissão Econômica para a América Latina e o

Caribe (Cepal) – uma agência regional da Organização das Nações Unidas (ONU)

–, instituição que, em parte, daria continuidade às ações de Simonsen implantadas

na CNI e na FIESP. Inclusive, ao contrário de Simonsen a Cepal (que a partir de

1949 contaria com o nome de celso Furtado) forneceu um poderoso instrumental

analítico antiliberal, que inclusive seria parcialmente incorporado pelos

desenvolvimentistas privados e fielmente acionado pela maioria dos

desenvolvimentistas nacionalistas do setor público (BIELSCHOWSKY, 1996).

Page 84: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

65

Fonseca (2004), acredita que o desenvolvimentismo brasileiro nasceu no Rio

Grande do Sul, ainda na década de 1920, especialmente a partir de 1928 quando

Getúlio Vargas assumiu o governo daquele Estado. No seu entendimento, essa

corrente de pensamento teria brotado das experiências do Partido Republicano Rio-

grandense (PRR), pois desde aquele período o presidente estadual, Borges de

Medeiros – um positivista seguidor do pensamento de Auguste Comte104 –, já

demonstrava sua capacidade de conciliar classes com interesses contraditórios

como ocorreu, por exemplo, durante as greves de 1917 em que ele conseguiu

controlar tanto os empresários como a classe trabalhadora105.

No entanto, há de se assinalar que se a chegada de Vargas ao poder

representaria uma ruptura com o passado político liberal, como enfatizou Cano

(2015), isso não ocorreria imediatamente, pois as velhas classes oligárquicas que

foram afastadas do poder, principalmente os cafeicultores, ainda possuíam forte

representação no Congresso. Inclusive, em 1931, Vargas criou o Conselho

Nacional do Café (CNC) – substituído em 1933 pelo Departamento Nacional do

Café (DNC) – com o objetivo de defender a cafeicultura (COELHO, 2001).

De acordo com Coelho, a ação do governo em defesa da cafeicultura ocorreu

basicamente de duas maneiras, 1) controlando o plantio de cafezais (evitando a

expansão das lavouras) e, 2) por meio da compra e da eliminação de estoques

excedentes. Em 1932, foi estipulado que deveria ser destruído 1 milhão de sacas

de café por mês106.

Uma das explicações mais persuasivas para a contraditória política

econômica dos primeiros anos do governo Vargas, foi dada por Celso Furtado,

especialmente no capítulo 31 (Os mecanismos de defesa e a crise de 1929) do seu

livro Formação Econômica do Brasil107. Furtado (1986), entende que ao comprar

104 Fonseca (2004), destaca que o autor preferido de Vargas era Saint-Simon, o mesmo que Engels (2005) chamou de “socialista utópico” e que teve como secretário o jovem Augusto Conte. 105 Em 1917, Borges de Medeiros recebeu os grevistas no palácio do governo porque achava justa as suas reivindicações e, inclusive, concedeu aumento salarial ao funcionalismo público para servir de exemplo à iniciativa privada (FONSECA, 2004). 106 Coelho (2001) verificou que no período 1931-1944 o governo federal destruiu 78,2 milhões de sacas de café, o que resulta na média de mais de 5,6 milhões de sacas destruídas por ano. Mas, em alguns anos a média foi bem superior, como em 1933 em que se queimou 13,7 milhões de sacas e em 1937, em que se destruiu 17,2 milhões de sacas. 107 Não por acaso, pois Celso Furtado, no entendimento de Bielschowsky (1996), foi o mais destacado economista e planejador brasileiro, ligado ao setor público, entre os defensores do desenvolvimentismo.

Page 85: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

66

café para destruir estava se deixando de formar capacidade produtiva, mas que em

período de recessão protegeria a estrutura já instalada, evitando a formação de

mais capacidade produtiva ociosa. Além disso, ele argumenta que no ano de 1931

o governo gastou 1 bilhão de cruzeiros para destruir café, mas que teria poupado

2 bilhões em investimentos108.

Há de se mencionar que apesar dessa conjuntura problemática, como temos

ressaltado, a política econômica do início do governo Vargas se mostrou, de certa

forma, resistente, inclusive conseguindo obter superavit na balança comercial,

mesmo no período da grande depressão de 1929, como podemos observar pelos

dados do gráfico 5:

Gráfico 5 Desempenho da balança comercial brasileira – 1929-1934

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Pelaez (1968).

Portanto, se efetuarmos os cálculos verificaremos que em 1929 o montante

das importações brasileiras atingiu 91% do valor das exportações daquele ano, mas

no ano de 1931 o valor das importações caiu para 58%. Contudo, notamos que de

108 No capítulo 32 de seu livro – intitulado Deslocamento do centro dinâmico –, Furtado (1986)

ressalta que essa política econômica beneficiou a indústria brasileira ao ter estimulado o mercado consumidor, pois naquela época a produção industrial do país se destinava, em sua totalidade, ao mercado interno.

94.831

65.746

49.544

34.330 35.790 35.240

86.653

53.619

28.756

21.744

28.13225.467

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

100.000

1929 1930 1931 1932 1933 1934

Milh

are

s d

e L

ibra

s

Exportações Importações

Page 86: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

67

1929 a 1931 foi enorme a queda no valor das exportações do país, o que demonstra

que estava na ordem do dia um processo de substituição de importações, como

defendiam os economistas chamados de desenvolvimentistas e entidades

industriais como a CNI.

3.2.1 As políticas econômicas desenvolvimentistas e a indústria de máquinas

agrícolas

Aparentemente a política econômica dos primeiros anos do governo Vargas

não priorizou a industrialização, pois dificultou a importação de máquinas e

equipamentos essenciais para esse setor produtivo. Aliás, o Decreto n.º 19.739 de

7 de março de 1931 proibia por três anos (mas que seria prorrogado até 1937) a

importação de máquinas pelas as empresas que estivessem com superprodução.

Porém, como observou Pelaez (1968), esse decreto beneficiou, por exemplo, a

indústria têxtil que estava com capacidade produtiva ociosa nesse período109.

Além disso, contrariando a maioria dos economistas brasileiros, Ignácio

Rangel observou que o início da industrialização do país não se limitou à produção

de bens de consumo, como dos segmentos têxtil, de alimentos etc., pois no seu

entendimento a indústria de bens de consumo se apoiou em um Departamento I

(DI) artesanal, como em oficinas de reparação de máquinas (que prolongam o

tempo útil do equipamento), pela fabricação de máquinas mais simples e inclusive

pela “cópia” de máquinas importadas (RANGEL, 1986)110.

De acordo com o primeiro recenseamento realizado pelo IBGE (1950),

referente ao ano de 1940, o Brasil possuía o total de 134 estabelecimentos do

segmento de construção de máquinas e aparelhos para a lavoura e indústrias

rurais, que empregavam o total de 3.603 pessoas. No ano de 1939 esse segmento

industrial apresentou 33,7 milhões de cruzeiros (Cr$) de despesas, sendo que Cr$

22,9 foram gastos em consumo de matérias primas, combustíveis, lubrificantes e

109 Cano (2015) é outro autor que afirma que o início do processo de industrialização brasileira foi facilitado pela existência de capacidade produtiva ociosa. 110 Aliás, verificamos que o próprio C. Furtado (1986) reconheceu que, provavelmente, no decorrer da década de 1930 parte dos equipamentos industriais para a manutenção e ampliação da produção já estaria sendo fabricada internamente, bastando ao governo estimular o seu uso (ver: capítulo 32 de Formação Econômica do Brasil).

Page 87: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

68

energia elétrica111. Por outro lado, os gastos com salários e vencimentos112

alcançaram Cr$ 10,8 milhões naquele ano. Portanto, verificamos que

aproximadamente 32% das despesas totais (da composição orgânica do capital)

equivaliam a gastos com a força de trabalho, com o capital variável (Cv).

Pelos dados do mesmo censo industrial de 1940, podemos comparar, por

exemplo, a composição orgânica do capital das fábricas de máquinas agrícolas com

os segmentos da indústria têxtil e de alimentos. Para o ano de 1939 o segmento

das indústrias têxteis apresentou o total de Cr$ 2,7 bilhões de despesas, Cr$ 2,2

bilhões gasto no consumo de matérias primas, combustíveis, lubrificantes e energia

elétrica (Cc) e mais Cr$ 482,9 milhões em despesas com salários e vencimentos

(Cv); o que resulta, portanto, em 17,9% da composição orgânica gasta em Cv.

No segmento da indústrias de produtos alimentares as despesas totais

alcançaram Cr$ 3,7 bilhões, Cr$ 3,4 bilhões gastos em consumo de matérias

primas, combustíveis, lubrificantes e energia elétrica, enquanto que as despesas

com salários e vencimentos totalizaram Cr$ 324,8 milhões, o que nos permite

verificar que 8,8% dos gastos produtivos eram despendidos em Cv.

Ou seja, verificamos que no final da década de 1930 a indústria brasileira de

máquinas agrícolas possuía uma baixa composição orgânica do capital, bem

inferior à dos segmentos da indústria têxtil e de alimentos, por exemplo.

Provavelmente, tratava-se de estabelecimentos industriais artesanais e que se

apoiavam no uso da força de trabalho (cerca de 32% do capital aplicado), o que

nos faz concordar com as observações de Rangel (1986), quando ele ressaltou a

existência de um Departamento I artesanal.

Há de se destacar que a partir do início da década de 1950, especialmente

a partir da volta de Getúlio Vargas ao poder, se intensificou algumas políticas

econômicas que visavam proteger a indústria brasileira. Pois, ainda no final do

primeiro governo Vargas (em fevereiro de 1945) foi criada a Superintendência da

Moeda e do Crédito (SUMOC), com o objetivo de coordenar as políticas monetárias

e de crédito. Uma das ações mais relevantes da SUMOC para a indústria brasileira,

foi a Instrução 70, promulgada em 9 de outubro de 1953 (BRASIL, 1953).

De acordo com Caputo e Melo (2009), no ano de 1952 o déficit na balança

111 O que faria parte do capital constante (Cc), de acordo com Marx (1984a). 112 O que Marx (1984a) chamaria de capital variável (Cv).

Page 88: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

69

comercial brasileira atingiu cerca de 4% do PIB, então a política econômica de

Vargas passou a sofrer duras críticas, fazendo-o mudar o Ministério da Fazenda

que seria confiado a Osvaldo Aranha. Na intenção de responder à falta de divisas

se lançou, em outubro de 1953, a Instrução 70 da SUMOC que estabelecia taxas

múltiplas de câmbio, diferenciadas para exportações e importações, visando

selecionar os produtos que seriam importados. Por um lado, essa medida protegeu

a indústria brasileira ao permitir que só se importasse os itens essenciais e, por

outro lado, ao reforçar as finanças do Estado para investimentos.

Há de se ressaltar que essa Instrução da SUMOC utilizava uma classificação

em cinco categorias de produtos que poderiam ser importados. Na primeira

categoria estavam os produtos de maior importância, enquanto que os demais

foram enquadrados nas classes 2, 3, 4 e 5. Pela Instrução 70, encontramos pelo

menos seis itens classificados na categoria 1 que eram destinados à agricultura:

- Maquinas e instrumentos agrícolas para preparar e cultivar o solo;

- Máquinas e instrumentos agrícolas para colher, debulhar e separar;

- Máquinas e instrumentos para ordenhar, desnatadeiras e outras maquinas

para indústria de laticínios.

- Máquinas e instrumentos para apicultura e avicultura;

- Tratores, exclusive a vapor;

- Pulverizadores, insufladores e semelhantes para agricultura (p. 8-9).

Na categoria 3, seria possível importar, entre outros itens:

- Motores a vapor, inclusive tratores a vapor, locomóveis e turbinas a vapor;

- Máquinas e aparelhos para beneficiamento de cereais e produtos agrícolas

(BRASIL, 1953, p. 19).

Como vários dos itens importados eram destinados à agricultura, verificamos

que na primeira metade da década de 1950 a indústria brasileira de máquinas

agrícolas ainda não conseguia atender a demanda interna.

Segundo Paiva (2004), Vargas tentou produzir até tratores agrícolas na

Fábrica Nacional de Motores (FNM)113, mas o primeiro modelo fabricado no Brasil

113 A FNM foi um dos projetos de industrialização do governo Vargas, posto em prática a partir de 1937 e que se consolidou a partir de 1943, por conseguinte, em plena Segunda Guerra Mundial, quando G. Vargas se encontrou com o então presidente dos Estados Unidos, F. D. Roosevelt, em Natal – RN, para afirmar acordos políticos, militares e econômicos. Nesse encontro se discutiu o apoio estadunidense à construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda (CSN) e de uma fábrica de motores para aviões (a FNM). No entanto, depois do término do conflito, e pelo rumo que a

Page 89: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

70

saiu da iniciativa privada nacional. O trator Imor Lanz Bulldog (ver figura 1) foi

montado pela Máquinas Agrícolas Romi Ltda., que importava os motores da

Alemanha e produzia o restante das peças114. Inclusive, a partir de 1948, em

parceria com André Toselo (professor do Instituto Agronômico de Campinas),

Amélio Romi lançou o trator agrícola Imor Toro115 que se baseava no modelo norte-

americano Allis-Chalmers triciclo (figura 2). Esse modelo possuía um motor de 32

cavalos-vapor (cv) de potência, mas era mais pesado e mais caro do que os

similares importados, o que inviabilizou a sua produção em série. Apenas 50

unidades desse modelo foram fabricadas (ROMI, 2018).

Figura 1 Exemplar de trator agrícola modelo Imor Lanz Bulldog – fabricado pela

Máquinas Agrícolas Romi Ltda. Fonte: Foto disponível em Romi (2018).

política econômica brasileira seguiu a partir do governo Dutra, a FNM perdeu importância, tendo que inclusive fabricar outros produtos para se manter. Vargas, a partir de seu segundo mandato tentou fazer com que a FNM pudesse fabricar até tratores agrícolas, mas os projetos não evoluíram. A empresa se tornaria importante na fabricação de caminhões pesados (acima de 30 toneladas), inclusive vencendo a concorrência contra multinacionais como a Scania e a Mercedes-Benz, mas essa estatal foi privatizada em 1968, sendo vendida para um grupo italiano (PAIVA, 2004). 114 Inclusive, Marson (2014) afirma que, prevendo os efeitos da crise de 1929 sobre as importações, na década de 1920, Emílio Romi importou uma grande quantidade de peças para estocar. 115 A partir da década de 1940 as máquinas e implementos (agrícolas e industriais) fabricados pela indústria de A. Romi passaram a utilizar a marca Imor, uma inversão do nome Romi, cuja origem italiana seria aconselhável ocultar na época em que o Brasil estava em guerra contra a Itália. Por outro lado, o nome Toro deriva das silabas iniciais dos nomes Toselo e Romi (ROMI, 2018).

Page 90: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

71

Figura 2 Exemplar de trator agrícola modelo Imor Toro – fabricado a partir de 1948 Fonte: Foto disponível em Romi (2018).

Outra Instrução da SUMOC que teve impacto sobre a industrialização

brasileira, foi a n.º 113, lançada em 17 de janeiro de 1955, portanto, durante o

governo Café Filho que foi sucessor de Vargas a partir do segundo semestre de

1954. Ao contrário da Instrução 70 que, como ressaltamos, visava proteger a

indústria brasileira, só importando o que ainda não fosse possível produzir

internamente, a Instrução 113 tinha como objetivo facilitar o licenciamento das

importações para atrair o capital externo; o que pode ser observado em sua

apresentação:

O Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito, considerando a necessidade de simplificar a regulamentação sobre o licenciamento de importações que independam de cobertura cambial, bem como as vantagens de criação de um clima favorável para os investimentos de capitais estrangeiros no País, resolve [...] (BRASIL, 1955, p. 1).

Na época da publicação da Instrução 113 o diretor executivo da SUMOC era

Otávio Gouvêa de Bulhões, que àquela altura já era considerado um expoente

nacional em estudos econômicos e financeiros. O Ministro da Fazenda era Eugênio

Page 91: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

72

Gudin que, como mencionamos anteriormente, era conhecido como um expoente

do liberalismo brasileiro. Aliás, em estudo publicado em 1972, ele criticou as

políticas implantadas antes de 1964 porque visaram proteger a indústria nacional,

garantindo-lhe o mercado interno, basicamente, por meio de barreiras

alfandegárias e pela lei dos similares nacionais, mas que no seu entendimento

atrapalharam a entrada dos investimentos estrangeiros (GUDIN, 1972)116.

Caputo e Melo (2009) realizaram um estudo específico sobre a Instrução 113

da SUMOC, mostrando que ela autorizava a Carteira de Comércio Exterior do

Banco do Brasil (CACEX) importar equipamentos até sem cobertura cambial, na

intenção de amenizar os efeitos da restrição de divisas causada pelo declínio das

exportações brasileiras. Essa instrução permitiu, inclusive, a importação de bens

de capital na forma de investimento direto estrangeiro. Isto é, a entrada de

máquinas e equipamentos importados pelas multinacionais estrangeiras. O objetivo

era modernizar a indústria sem comprometer o balanço de pagamentos.

Segundo essas autoras a Instrução 113 gerou resultados, pois entre 1955 e

1963 o valor dos investimentos diretos estrangeiros totalizou US$ 497,7 milhões,

sendo que a maior quantidade desses recursos entrou nos anos de 1957 e 1960,

alcançando 73,0% do total (US$ 363,1 milhões). Há de se ressaltar que a grande

maioria foi aplicada no setor automobilístico, que fazia parte da política econômica

do governo Juscelino Kubitschek (JK) e que, como destacaremos adiante,

estimularia inclusive a indústria de máquinas agrícolas.

No período 1955 a 1963 o continente que mais investiu no Brasil, através da

Instrução 113, foi a América do Norte, com 46,5% do total, seguido pela Europa

Ocidental, que participou com 43,5% dos investimentos externos. Juntos, esses

continentes representaram 90,0% do investimento total. Nesse período os Estados

Unidos foi o país que mais aplicou no Brasil, com US$ 216,5 milhões, enquanto que

a Alemanha investiu US$ 93,0 milhões. Inclusive, essa política econômica gerou

protestos no Brasil contra o capital estrangeiro, especialmente contra os Estados

Unidos, país que era considerado, pelos nacionalistas, como a principal ameaça ao

desenvolvimento brasileiro, devido às vantagens concedidas àquele país por meio

da referida Instrução da SUMOC (CAPUTO; MELO, 2009).

116 Gudin (1972), também expressou seu pensamento liberal, por exemplo, ao criticar a participação do governo na formação de capital fixo que no período 1947-1960 passou de 15,8 para 38,4%.

Page 92: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

73

Se analisarmos mais detalhadamente os dados expostos por essas autoras,

verificaremos que o segmento da indústria brasileira que mais recebeu

investimentos diretos através da Instrução 113, foi o de fabricação e montagem de

veículos automotores, reboques e carrocerias, que recebeu US$ 189,6 milhões, o

que equivale a 38,1% do total. O segmento de “fabricação de máquinas e

equipamentos” recebeu US$ 55,9 milhões nesse período (11,24% do total).

Acreditamos que esses dados são importantes porque o investimento no

segmento de automóveis, direta ou indiretamente, tem influência sobre a indústria

de máquinas agrícolas. Por exemplo, verificamos que no período 1955 a 1963 a

Ford Motor do Brasil S/A investiu 22,42 milhões de dólares no Brasil. Além dessa

empresa fazer parte do segmento de fabricação e montagem de veículos

automotores, reboques e carrocerias, naquela época também fabricava máquinas

agrícolas. Aliás, ela foi a primeira a fabricar um trator a diesel no Brasil e que teve

produção em série, o modelo Ford 8 BR (figura 3)

Figura 3 Tratores 8 BR novos no pátio da fábrica da Ford do Ipiranga – SP Fonte: Foto disponível em Ford (2018).

Esse modelo de trator agrícola foi lançado em 9 de dezembro de 1960, em

Brasília, com 70% de suas peças fabricadas internamente. Ele possuía um motor

de 56 cv e era pintado de verde e amarelo, explorando um contexto em que o

Page 93: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

74

próprio presidente da república (Juscelino Kubitschek), um entusiasta incentivador

da indústria automobilística, procurava estimular o orgulho nacional117.

Destacamos que a Instrução 113 da SUMOC favoreceu mais as importações

do que a indústria brasileira de máquinas agrícolas. Aliás, Graziano da Silva (1998)

ressaltou que no período 1950-1960 a quantidade de tratores utilizados na

agricultura brasileira passou de 8.372 para 61.345 unidades, mas praticamente

todas essas máquinas eram importadas.

Há de se frisar que desde o governo Dutra (1946-1951) o Brasil vinha

importando máquinas agrícolas, especialmente dos Estados Unidos. Ocorre que

Dutra rompeu com a política econômica desenvolvimentista, implantando no país

uma política liberal e se aproximando dos EUA. Uma de suas medidas, que

marcaria sua intenção de buscar uma aproximação ao capital financeiro dos

Estados Unidos118, foi a criação (ainda em 1949) de uma comissão composta por

nomes, tais como de Eugênio Gudin e Otávio Gouveia de Bulhões, para estudar

prioridades para a economia do país; o que resultou em diversos encontros com

técnicos dos EUA com o objetivo de criar a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos

(CMBEU).

A CMBEU foi oficializada em 1951, portanto durante o segundo mandato de

Getúlio Vargas119 e apresentou seu relatório final em novembro de 1954, por

conseguinte, já no governo de Café Filho. Pelos dados do relatório final da

Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, apresentado ao então Ministro da Fazenda,

Eugênio Gudin (em 1954), verificamos que o Brasil importou inclusive máquinas e

equipamentos agrícolas dos Estados Unidos. Os dados dos quadros 2 e 3, referem-

se a dois contratos de importação de máquinas e equipamentos provenientes

daquele país, um realizado pelo estado de Minas Gerais e outro pela União, ambos

efetivados no ano de 1952. Pela descrição dos itens, verificamos que se importou

desde tratores (de esteiras e de rodas) até colhedoras agrícolas e demais

117 A Ford do Brasil fabricou mais de 12 mil tratores do modelo 8 BR entre os anos de 1961 e 1967, sendo o segundo mais vendido naquele período, detendo cerca de 22% do mercado nacional (FORD, 2018). 118 Por exemplo, de 1947 a 1952 (que abarca todo o governo Dutra) entraram no Brasil 82 milhões de dólares como investimento estrangeiro (CAPUTO; MELO, 2009). 119 Para Caputo e Melo (2009), no segundo mandato de Vargas sua Assessoria Econômica era mais nacionalista, inclusive foi ela que formulou os projetos de criação da Petrobrás e da Eletrobrás, porém seu Ministro da Fazenda, o empresário da indústria, Horácio Lafer, tinha orientação ortodoxa e, inclusive, cooperou para a efetivação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos.

Page 94: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

75

implementos (semeadoras, arados, grades etc.).

Quadro 2 Máquinas e implementos agrícolas importados dos Estados Unidos pelo estado de Minas Gerais – 1952

Máquinas e implementos a serem importados 1° Grupo - 30 tratores tipo D6 ou TD14 - 30 lâminas angledozer - 30 desenraizadores - 30 grades “Rome” - 30 valetadeiras 2° Grupo - 100 tratores tipo D4 ou TD9 - 100 arados, 5 discos - 100 grades, 40 discos - 100 grades “Rome” - 50 lâminas angledozer 3° Grupo - 50 tratores tipo D2 ou TD6 - 50 arados, 4 discos - 50 grades, 40 discos - 50 grades “Rome”

4° Grupo - 20 tratores tipo TD9 - 20 arados, 5 discos - 20 grades, 40 discos 5° Grupo - 200 tratores, roda, 20 a 30 HP - 200 arados - 200 grades - 200 plantadeiras com adubadeiras - 200 cultivadores - 20 conjuntos para irrigação com tubulação e motor bomba Diesel - 100 camionetas Jeep - 200 jeeps agrícolas - 100 caminhões tipo T5 - 10 combinados modelo 55R para arroz - 50 combinados tipo 12A - 10 conjuntos rotorbailer completos - 10 conjuntos Thompson para cultivo de cana, completos

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU, 1954).

Quadro 3 Máquinas e implementos agrícolas importados dos Estados Unidos pelo Ministério da Agricultura do Brasil – 1952

Máquinas e implementos a serem importados - Tratores de rodas de 10 a 45 HP - Tratores de esteira de 18 a 130 HP - Arados de disco e aiveca - Grades de discos e dentes - Semeadeiras - Adubadeiras - Semeadeiras-adubadeiras - Distribuidores de esterco - Distribuidores de adubos - Cultivadores - Plantadeiras e colhedoras de batatas - Colhedoras de milho - Colhedoras de trigo, arroz (tracionadas) e automotrizes - Colhedoras de algodão - Colhedoras de cana de açúcar

- Colhedoras diversas - Ceifadeiras - Ceifadeiras-atadeiras - Ancinhos - Colhedora de feno - Motores, bombas e encanamentos para irrigação - Stumpers, root rakes, guinchos e outros equipamentos para desbravamento - Pulverizadores - Equipamento para conservação do solo - Máquinas, instrumentos, aparelhos e ferramentas diversos - Peças e sobressalentes - Equipamento para drenagem e irrigação

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU, 1954).

Page 95: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

76

Segundo D’Araújo (1992), a delegação de técnicos brasileiros enviados para

os Estados Unidos visou explorar a conjuntura política internacional, isto é, as

oportunidades que apareceriam no período da Guerra Fria. Uma fala de João

Neves da Fontoura, então Ministro das Relações Exteriores do Brasil – e que

também representou outros países latino-americanos –, enfatizou que o continente

americano estaria à perigo frente a uma ação comunista que agiria explorando a

miséria dos povos do continente. Com isso o embaixador brasileiro procurava

persuadir o governo norte-americano sobre a necessidade de investir na América

para combater a crise, marcada pelo endividamento, pela falta de estrutura

produtiva etc., o que no seu entendimento poderia levar a um terceiro conflito

mundial.

No entanto, nos parece que os acordos firmados junto a CMBEU não

beneficiaram diretamente a industrialização brasileira, muito menos o segmento

fabricante de máquinas agrícola que temos estudado120, apesar que foram

importantes para o setor de infraestrutura, especialmente para o segmento

ferroviário e para a geração de energia elétrica121.

Segundo os dados do IBGE (1953), referentes ao ano de 1949, o segmento

de construção de máquinas e aparelhos para a lavoura e indústrias rurais possuía

o total de 196 estabelecimentos e empregava o total de 4.442 pessoas (o IBGE

forneceu a média mensal). E as despesas com Cc – matérias-primas, combustíveis,

lubrificantes, embalagens e energia elétrica – alcançaram Cr$ 113,8 milhões,

enquanto que as despesas com Cv – salários e vencimentos – totalizaram Cr$ 52

milhões. Efetuando os cálculos, verificamos que a composição orgânica do capital,

investido nesse segmento da indústria, manteve-se praticamente inalterado no

período 1939 a 1949, pois o percentual de despesas com Cv passou de 32 para

31,4%; portanto, demostrando que naquela época a produção ainda era

120 Pelo o que apuramos pelo relatório final da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU, 1954), para a agricultura só foi aprovado os dois projetos do ano de 1952, que expomos nos quadros 2 e 3, o que nos mostra que a prioridade foi importar os equipamentos e não fabricá-los internamente. Aliás, pelos dados da Anfavea (2010), verificamos que naquele período aumentou as importações brasileiras de “máquinas agrícolas automotrizes”, passando de US$ 21 milhões, em 1953, para US$ 53 milhões no ano de 1954. Inclusive, em apenas 2 anos se importou mais do que entre os anos de 1940 e 1950, período em que o valor total atingiu US$ 70 milhões de dólares. 121 O custo total dos 41 projetos aprovados pela CMBU alcançou 21,9 bilhões de cruzeiros, sendo que a grande maioria foi destinado para estradas de ferro (48,6%) e para energia elétrica, que alcançou 33,1% do montante (D’ARAUJO, 1992).

Page 96: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

77

praticamente artesanal.

A vantagem é que o censo industrial de 1950 subdividiu a indústria de

máquinas agrícolas em três segmentos: a) “construção de máquinas e aparelhos

para a lavoura (tratores, arados, cultivadores, carpideiras e artigos congêneres)”;

b) “construção de máquinas, aparelhos e equipamentos para as indústrias rurais

(debulhadoras, desnatadeiras, máquinas para o beneficiamento do café e cereais,

descaroçamento de algodão, moendas de cana e artigos similares)”; c) “construção

de outros aparelhos agrícolas (incubadoras, pulverizadores, extintores de formiga

e aparelhos congêneres)”, o que nos permite analisar melhor esse segmento.

Há de se mencionar que, desses três subsetores da indústria de máquinas

agrícolas, destaca-se o segundo, “debulhadoras, desnatadeiras, máquinas para o

beneficiamento do café e cereais, descaroçamento de algodão, moendas de cana

e artigos similares, que participava com 77,6% do valor total da produção do ano

de 1949 (IBGE, 1953).

Por outro lado, observamos que a partir do final da década de 1940 já existia

uma diversificação na produção, inclusive com a fabricação de tratores,

cultivadores (segmento “a”), debulhadoras e máquinas para o beneficiamento do

café e cereais (segmento “b”).

Há de se destacar que os dados do censo industrial do IBGE, de certa forma,

confirmam nossas afirmações ao mostrarem que em 1949 já existia a fabricação

interna até de tratores agrícolas, como mencionamos anteriormente ao destacar a

experiência da empresa Máquinas Agrícolas Romi Ltda, que a partir de 1948 havia

lançado o modelo de trator Imor Toro.

Quanto à fabricação de máquinas “debulhadoras”, verificamos que a partir

de 1947 a empresa Schneider & Logemann Cia. Ltda. (marca SLC)122 começou

fabricar, em série, máquinas rebocadas (geralmente por tração animal) para a

debulha de cereais, conhecidas popularmente como “trilhadeiras”. Esse tipo de

máquina para a colheita dominaria o mercado até que a própria SLC fabricasse (a

partir de meados da década de 1960) a primeira colhedora automotriz, como

destacaremos adiante. Na figura 4, podemos observar um exemplar de trilhadeira

122 Em 1927 o engenheiro, Frederico Jorge Logemann, imigrante alemão, fundou a vila de Belo Horizonte (atual município de Horizontina – RS). Em 1945 os sócios Frederico Logemann e Balduíno Schneider (também imigrante alemão) fundaram uma oficina, a Schneider & Logemann Cia. Ltda., que fabricava ferramentas para os agricultores da região (GRUPO SLC, 2018).

Page 97: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

78

(traçada por uma junta de bois) produzida pela SLC:

Figura 4 Exemplar de trilhadeira fabricada pela empresa SLC a partir de 1947 Fonte: Foto disponível em SLC (2018).

Como mencionamos no primeiro capítulo, desde o início do século passado

existiam empresas, especialmente na região de Cachoeira do Sul – RS, que

fabricavam, artesanalmente, alguns modelos de trilhadeiras, mas o modelo da SLC

foi o primeiro fabricado integralmente no Brasil e que teve produção em série.

3.3 O Grande Impulso à Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

Se até a década de 1950 a indústria brasileira de máquinas agrícolas era

praticamente artesanal (como mencionamos) a partir dos anos 1960 esse setor se

modernizou. Pelos dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos

Automotores (ANFAVEA), observamos que começou se produzir tratores agrícolas

em série. Inclusive, os dados da tabela 2 nos mostram que em meados da década

de 1960 o Brasil já tinha resolvido sua dependência das importações, produzindo

internamente o equivalente à demanda interna.

Page 98: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

79

Tabela 2 Produção e comercialização de tratores de rodas no Brasil – 1960-70

Ano

Tratores de rodas (unidades)

Produção interna Vendas

domésticas Importação Exportação

1960 37 19 12.702 0 1961 1.679 1.645 6.382 0 1962 7.586 7.336 1.714 0 1963 9.908 9.368 1.330 0 1964 11.537 12.032 1.341 2 1965 8.401 8.072 374 0 1966 9.360 9.214 639 6 1967 6.295 5.474 342 31 1968 9.819 9.168 990 7 1969 9.841 9.664 423 7 1970 14.326 14.176 70 41

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

Há de se ressaltar que o grande impulso à indústria de máquinas agrícolas

no país, especialmente para a fabricação de tratores, resultou de iniciativas do

governo Juscelino Kubitschek (JK), que instituiu no ano de 1959 o Plano Nacional

da Indústria de Tratores de Rodas. Do total de vinte projetos apresentados, apenas

seis foram aprovados pelo Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA)

para fabricar tratores agrícolas no país (quadro 4):

Quadro 4 Empresas selecionadas para fabricar tratores agrícolas no Brasil – 1959

Fabricante Marca do trator Categoria do trator*

Origem da empresa

Massey-Ferguson do Brasil Massey-Ferguson Leve Canadá/Inglaterra Fendt do Brasil Fendt Leve Alemanha Valmet do Brasil Valmet Médio Finlândia Ford do Brasil Ford Médio Estados Unidos Demisa Deutz Pesado Alemanha Cia. Brasileira de Tratores (CBT) Oliver Pesado Brasil/EUA

Nota: *Categoria de tratores considerada pela potência na barra de tração: leves, de 25 a 35 cv; médios, de 36 a 45 cv e tratores pesados, acima de 45 cv.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Amato Neto (1985).

Dos 37 tratores agrícolas fabricados no Brasil no de 1960, 32 eram da Ford

do Brasil – unidade instalada no bairro Ipiranga, na cidade de São Paulo, desde

1953 – e apenas 5 da Valmet do Brasil, instalada em Mogi das Cruzes – SP em

1960. Como colocamos anteriormente, o pioneiro Ford 8 BR possuía 56 cv de

Page 99: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

80

potência, portanto sendo considerado um trator pesado, enquanto que o primeiro

modelo da Valmet (o 360-D) possuía 40 cv, classificado como um trator médio.

Outra empresa estrangeira, pioneira na fabricação de tratores no país, foi a

Massey-Ferguson do Brasil. Ela se instalou em Taboão da Serra, também no

estado de São Paulo, na década de 1950, mas seu primeiro modelo, o trator MF 50

(popular “cinquentinha”), só seria apresentado em 1962. Ele possuía 37 cv de

potência (trator médio) e logo conquistou o mercado brasileiro, tornando-se o mais

vendido no país a partir de 1963 (MASSEY-FERGUSON, 2018).

Outras duas empresas estrangeiras que participaram do projeto para fabricar

tratores no Brasil, foram as alemãs Fendt do Brasil e Demisa – Deutz-Minas S.A.

No entanto, elas não tiveram o mesmo sucesso que outras multinacionais. Com

uma fábrica instalada em Diadema – SP a Fendt lançou, em 1961, um trator modelo

F 51 com 50 cv de potência. Depois de ter fabricado 3.531 unidades, ela encerrou

suas atividades no país ainda no ano de 1969 (FENDT, 2018).

A Deutz fez uma parceria com empresários de Minas Gerais para produzir

tratores pesados em uma unidade fabril instalada na cidade de Contagem,

lançando seu primeiro modelo também no ano de 1961 (o DM-55), que possuía 55

cv de potência. Ela produziu mais de 8 mil tratores em 10 anos de funcionamento

no Brasil, mas encerrou suas atividades no país no ano de 1971 (DEUTZ, 2018).

Além das multinacionais estrangeiras, acima citadas, a Companhia Brasileira

de Tratores (CBT) foi outra selecionada pelo Plano Nacional da Indústria de

Tratores de Rodas. Essa empresa foi constituída em 1961, em São Carlos – SP,

com capital 100% nacional. Seus proprietários eram empresários das Indústrias

Pereira Lopes S.A. (fabricante de refrigeradores da marca Climax, entre outros

produtos) e da Mesbla S.A. (rede de lojas de departamentos). Seu primeiro modelo

lançado foi o trator CBT 950, com 72 cv de potência. Inicialmente a CBT utilizava

tecnologia da empresa Oliver dos Estados Unidos, mas a partir dos anos 1970

começou fabricar seus próprios modelos, destacando-se no segmento de tratores

pesados, inclusive chegando a exportar para a Argentina, Austrália, Estados

Unidos, entre outros países (CBT, 2018)123.

Apesar da maioria dos projetos selecionados pelo Plano Nacional da

123 Como abordaremos adiante, a CBT atuou até meados da década de 1990, inclusive chegando a fabricar veículos rurais, entre outros.

Page 100: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

81

Indústria de Tratores de Rodas ter sido de empresas estrangeiras, o governo da

época (JK) tinha a preocupação que, no mínimo, 70% do peso do trator (e no

mínimo 60% do peso do motor) fosse produzido internamente, na intenção de

dinamizar a indústria de autopeças que havia sido estimulada pela instalação de

várias montadoras de veículos no país124.

3.3.1 O pioneirismo de empresas nacionais na fabricação de colheitadeiras

automotrizes

Ao contrário da produção de tratores que, como destacamos, iniciou com o

predomínio de empresas estrangeiras, a fabricação das primeiras colhedoras (no

popular, “colheitadeiras”) brasileiras começou pela iniciativa de empresas

nacionais. A primeira a fabricar uma colheitadeira automotriz (ou autopropelida) no

Brasil foi a Schneider Logemann & Cia Ltda. (SLC), de Horizontina – RS. Portanto,

a mesma empresa que, como já citamos, fabricou a primeira trilhadeira inteiramente

nacional, em 1965 lançou a colheitadeira modelo 65-A (figura 5), com base no

modelo 55 da marca estadunidense John Deere (SCHNEIDER, 1995).

Figura 5 Colheitadeira SLC modelo 65-A Fonte: Foto disponível em John Deere (2019).

124 Além disso, o plano previa ampliar a nacionalização, pois a partir de 1 de janeiro de 1962 os tratores teriam que ter no mínimo 95% de peças e componentes nacionais (AMATO NETO, 1985).

Page 101: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

82

Como podemos observar pela figura 5, o modelo de colheitadeira 65-A da

SLC consistia em uma máquina automotriz, mas que ainda combinava certas

tarefas com o trabalho braçal, pois necessitava de um auxiliar de operador para

ensacar os grãos colhidos.

O crescimento da empresa Schneider & Logemann, a partir da fabricação de

colheitadeiras automotrizes, foi considerável. Por exemplo, no ano de 1965 ela

fabricou apenas uma colheitadeira, mas em 1966 passou para 12 unidades; em

1967 fabricou 28; em 1968 produziu 82 e em 1969 fabricou 157 máquinas,

superando a meta de produção para aquele ano, que era de 100 unidades. Em

1973 essa empresa já conseguiu fabricar 1.036 colheitadeiras, inclusive do modelo

SLC 1000 (mais moderna), lançado a partir de 1969 (SCHNEIDER, 1995)125.

No “rastro”126 da SLC, surgiu em Santa Rosa – RS, em 1953, a Indústria de

Máquinas Agrícolas Ideal Ltda. (S.A. a partir de 1966), que inicialmente fabricava

moinhos para trigo, mas que ao perceber a demanda existente (especialmente com

o cultivo da soja no Rio Grande do Sul), logo também passaria a fabricar trilhadeiras

e colhedoras combinadas (tracionadas por trator). A partir de 1968, essa empresa

também começou fabricar colheitadeiras automotrizes, que seriam comercializadas

com a marca Ideal. A partir de 1974 a Ideal S.A. firmou parceria coma a empresa

alemã Fahr, com o objetivo de adquirir tecnologia mais moderna para enfrentar a

concorrência (IDEAL, 2018)127.

De acordo com dados fornecidos por Amato Neto (1985), no ano de 1966

foram fabricadas apenas 12 colheitadeiras no Brasil; passando para 28 unidades

em 1967; para 84 no ano de 1968; para 282 em 1969 e para 730 no ano de 1970.

Para esse autor, foi o cultivo da soja e do trigo que mais estimulou o uso de

colheitadeiras automotrizes, pois por volta de 1985 cerca de 70% das máquinas

utilizadas na agricultura brasileira eram destinadas à colheita desses produtos.

Aliás, se analisarmos a evolução da área cultivada com trigo, observaremos

que ela passou de 515.671 hectares (ha.), no ano de 1949, para 2.057.898 ha. em

125 Em 1960 a SLC possuía 85 funcionários, em 1972 já possuía 400 e em 1976 empregava mais de 1000 funcionários (SCHNEIDER, 1995). 126 O engenheiro Fernando Krause, que participou da fabricação da primeira colheitadeira da SLC, posteriormente também participou da fabricação da primeira colheitadeira da empresa Ideal (IDEAL, 2018). 127 Como trataremos a diante, a partir de meados da década de 1980 a Ideal foi vendida para um grupo financeiro nacional e nos anos 1990 para o capital externo.

Page 102: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

83

1970 (IBGE, 1956a e 1975a). Infelizmente o IBGE não fornece dados sobre a área

cultivada com soja no censo de 1950, mas poderemos ter noção do crescimento do

cultivo dessa oleaginosa pela evolução da produção. De acordo com as mesmas

fontes, a produção de soja passou de 45 mil toneladas para 1,9 milhão de toneladas

no período 1949 a 1970. No ano de 1970 já se cultivava 2.165.632 hectares com

soja no Brasil128.

Portanto, verificamos que o pioneirismo do Rio Grande do Sul na fabricação

de colheitadeiras automotrizes não é acidental. É resultado das experiências

pioneiras que industriais desse Estado adquiriram ao fabricar máquinas mais

simples para a colheita – como as trilhadeiras produzidas pela empresa SLC, por

exemplo – e a partir da demanda que surgiu regionalmente, devido ao cultivo de

produtos agrícolas, tais como o trigo e a soja, que demandam uma colheita

mecanizada.

3.3.2 Alguns números sobre a indústria brasileira de máquinas agrícolas

O censo industrial de 1970, ao contrário dos anteriores, fornece dados da

produção física, o que nos permite ter acesso a informações importantes, como o

detalhamento das máquinas e implementos fabricados, bem como o seu valor

unitário. O IBGE (1975b) apresenta o gênero de fabricação de máquinas

agrícolas129 em 28 subgrupos, que contemplam desde implementos tais como

arados, grades, semeadeiras, trilhadeiras, até tratores agrícolas e colheitadeiras

automotrizes. Por exemplo, no ano de 1970 o país possuía 44 unidades industriais

que informaram fabricar 49.257 arados de aiveca (com lâmina no formato de “V”)

com valor de 4,6 milhões de cruzeiros (Cr$). Naquele ano, 49 unidades informaram

fabricar 13.238 arados de discos, com valor de Cr$ 28,5 milhões130.

128 Há de se lembrar que o Sul do país era responsável, naquele período, por grande parte da expansão das lavouras (e da produção) de trigo e de soja. Em 1949 o estado do Rio Grande do Sul contribuiu com 72,1% da área cultivada com trigo no país e em 1970 subiu para 81,3%. Na soja o estado de RS contribuiu com cerca de 99% da produção no ano de 1949 e com 69,5% da produção brasileira dessa oleaginosa do ano de 1970 (IBGE, 1956a e 1975a). 129 “Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais para agricultura, avicultura, cunicultura, apicultura, criação de outros pequenos animais e obtenção de produtos de origem animal e para beneficiamento ou preparação de produtos agrícolas – inclusive peças e acessórios.” (IBGE, 1975b). 130 Se efetuarmos os cálculos, verificaremos que o valor médio de cada unidade de arado de aiveca resulta em Cr$ 93,53. Por outro lado, o valor médio da unidade de arado de discos chega a Cr$ 2.152,14. Essa diferença mostra que os arados de aiveca eram mais simples (e geralmente puxados

Page 103: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

84

Outro tipo de implemento agrícola que possuía uma considerável

participação no valor da produção, era as grades de disco. No ano de 1970, 49

empresas informaram fabricar esse tipo de equipamento, o total de 14.165

unidades com valor de Cr$ 22,4 milhões (IBGE, 1975b). As grades de disco,

geralmente, são traçadas por trator131, por isso esse tipo de implemento já era

bastante fabricado naquela época, devido a expansão do uso de tratores na

agricultura brasileira.

A fabricação de pulverizadores e polvilhadeiras agrícolas132 é outro tipo de

equipamento que indica mudanças técnicas na agricultura, pois substitui a capina

física pela capina química da lavoura133. No ano de 1970, 39 empresas brasileiras

informaram fabricar 80.485 unidades desse tipo de implemento agrícola, com valor

de Cr$ 31,4 milhões.

Entre os implementos agrícolas que mais se destacaram no ano de 1970,

estava a fabricação de semeadeiras e plantadeiras134. No total, 39 empresas

informaram fabricar 9.463 unidades desse tipo de equipamento, com valor de Cr$

26,9 milhões.

Observamos que a fabricação de implementos agrícolas como arados,

grades (especialmente de discos), pulverizadores, semeadeiras e plantadeiras –

embora que existam versões utilizadas para tração animal –, de certa forma,

refletem o emprego de tratores na agricultura. Os dados da produção física do

censo industrial de 1970 mostram que, naquele ano, apenas três empresas

fabricavam tratores agrícolas no país, mas com grande participação no valor da

produção da indústria de máquinas agrícolas em geral, contribuindo com 21,9%. O

por tração animal), por isso custavam menos, ao contrário do que ocorria com os arados de discos, que eram rotativos e tracionados por tratores, sendo mais complexos e mais caros. 131 Por outro lado, verificamos que as grades de dente, puxadas por tração animal, já perdiam importância na agricultura brasileira no início dos anos 1970. Por exemplo, existiam 29 fabricantes para um total de 4.914 unidades com valor de apenas Cr$ 1.919,00 (IBGE, 1975b). 132 As máquinas pulverizadoras servem para aplicar químicos dissolvidos, líquidos, enquanto que as máquinas polvilhadeiras são utilizadas para expelir químicos em pó. Geralmente as polvilhadeiras são mais utilizadas em lavouras permanentes, em pomares (informações coletadas junto a técnicos da empresa Jacto, durante pesquisa de campo, que realizamos no Show Rural Coopavel em fevereiro de 2019). 133 Por exemplo, Graziano da Silva (2003) observou que a aplicação de químicos (os herbicidas) nas lavouras com equipamentos de pulverização substitui, tanto o trabalho braçal quanto a capina física, que era realizada à enxada ou à tração animal. 134 Tecnicamente, chama-se semeadoras e plantadoras. As primeiras se destinam à semeadura de grãos (soja, milho, trigo etc.), enquanto que o segundo equipamento se destina ao plantio de parte das plantas, como toletes, manivas e tubérculos (por exemplo, para o plantio de cana-de-açúcar, mandioca, batata etc.).

Page 104: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

85

IBGE (1975b) dividiu os fabricantes em duas categorias de tratores, até 55 cv e de

55 até 100 cv. No total, foram fabricados 1.930 tratores de até 55 cv – com valor de

Cr$ 13,8 milhões – e 2.564 unidades com potência de 55 até 100 cv, com valor de

Cr$ 72,5 milhões, o que totalizou Cr$ 86,3 milhões.

As máquinas para colheita são outro tipo de implemento agrícola importante.

Em 1970, apenas 8 empresas informaram fabricar 1.123 unidades de trilhadeiras

agrícolas combinadas (popularmente conhecidas como “batedor”) – máquinas

rebocadas e movidas por trator – com o valor de Cr$ 3,7 milhões. Por outro lado,

24 empresas informaram fabricar 8.252 trilhadeiras agrícolas – exclusive

combinadas (as trilhadeiras mais simples, rebocadas por tração animal), com valor

de Cr$ 21,2 milhões (IBGE, 1975b).

Portanto, podemos verificar que as trilhadeiras combinadas eram preteridas

em relação às trilhadeiras simples, provavelmente devido à grande quantidade de

estabelecimentos rurais do Brasil que ainda utilizavam a força animal nas

lavouras135.

Por outro lado, a indústria de colhedeiras agrícolas (colheitadeiras

automotrizes) já despontava no valor da produção do segmento de máquinas

agrícolas, o que, de certa forma, justifica o fato das trilhadeiras combinadas terem

sido pouco fabricadas. Em 1970, apenas 13 empresas informaram fabricar 1.092

colhedeiras com o valor de Cr$ 41,5 milhões. Observamos que cada colheitadeira,

em média, valia Cr$ 38 mil.

Se compararmos o valor das colheitadeiras com o valor dos tratores,

perceberemos que a aquisição de máquinas para colheita era de maior dispêndio

para os agricultores. Por exemplo, em 1970 os tratores de até 55 cv valiam, em

média, Cr$ 7,2 mil, enquanto que as unidades de 55 até 100 cv valiam (em média)

28,3 mil. Portanto, com o dinheiro pago por uma colhedeira automotriz, em seu

valor médio de Cr$ 38 mil, se compraria 5,3 tratores com tamanho de até 55 cv e

1,3 trator com tamanho de 55 a 100 cv136.

135 Segundo o censo agropecuário de 1970 o Brasil possuía o total de 4.924.019 estabelecimentos rurais, sendo que, desses, 3.242.544 (65,9%) ainda utilizam força humana no trabalho agrícola, além de outros 1.376.376 (28%) que utilizavam força animal (IBGE, 1975a). 136 Amato Neto (1985) já verificou que no início da década de 1980 o custo de uma colheitadeira equivalia a 2,5 ou a 3 tratores de porte médio. Em pesquisa de campo, realizada no Show Rural Coopavel, em 2019, também observamos que o preço das colheitadeiras é relativamente alto. Por exemplo, uma colhedora de grãos, modelo 7230 da marca Case IH, custava mais de 1,2 milhão de

Page 105: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

86

Enfim, observamos que tanto a fabricação de tratores quanto a de

colheitadeiras automotrizes já se destacava no segmento da indústria de máquinas

agrícolas do país, demostrando que no início dos anos 1970 esse ramo industrial

se encontrava em uma estágio avançado, provavelmente acompanhando o

departamento I (meios de produção), que nessa época já estava amadurecendo,

conforme observou Rangel (1986).

3.4 A Localização da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas em 1970

No segundo capítulo, ao analisarmos as primeiras fábricas de máquinas e

implementos agrícolas que surgiram no Brasil, já identificamos uma concentração

espacial das empresas desse segmento que, basicamente, se instalaram nos

estados de São Paulo e no Rio Grande do Sul. Se observarmos os dados do IBGE

(1975b), referentes ao ano 1970, constataremos que essa concentração persistiu,

grosso modo, com um polo de fábricas instaladas no estado de SP e outro em RS.

Pelos dados do censo industrial de 1970 – produção física –, observamos

que 55,5% do valor dos arados de aiveca produzidos naquele ano saíram de São

Paulo. Por outro lado, o Rio Grande do Sul participava com 70,3% do valor da

produção de arados de discos (SP contribuía com 27,4% do valor desse tipo de

equipamento). RS também se destacava na fabricação de grades de disco,

contribuindo com 58,6% do valor da produção, enquanto que SP contribuía com

30,4% (IBGE (1975b).

No mapa 2, apresentamos a distribuição espacial da indústria brasileira de

máquinas e implementos agrícolas, referente ao ano de 1970. Por esse mapa,

podemos verificar que existia uma concentração da indústria de tratores agrícolas

no estado de São Paulo, onde também se concentrava a fabricação de

pulverizadores agrícolas. Por outro lado, observamos que a produção de máquinas

para colheita e implementos para o plantio se realizava principalmente no Rio

Grande do Sul137.

reais, enquanto que um trator da mesma marca, como um Magnun 340 (com 340 cv de potência), estava sendo comercializado por cerca de R$ 750 mil. 137 Distribuímos os diferentes tipos de máquinas e implementos agrícolas, levando em consideração a participação do Estado no valor total da produção brasileira desse segmento industrial.

Page 106: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

MAPA 2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INDÚSTRIA DE MÁQUINASE IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS NO BRASIL - 1970

10ºN

40°W

40°W70°W

FONTE: Elaboração própria a partir de dados do censo industrial de 1970 - produção física (IBGE, 1975b).

AM PA

PR

MT

MG

BA

ES

RJ

SC

RS

ROAC

RRAP

MA

GO

DF

PI

CE RN

PEPB

AL

SE

30ºS

10ºN

0 1067 2134 Km70°W

30ºS SP

0 114 228 Km

RS

0 114 228 Km

RS

SP

Trator

LEGENDA

Colhedora

Trilhadora

Arado discos

Grade discos

Semeadora

Pulverizador

Page 107: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

88

De acordo com Castilho et al. (2008), em 1926 foi instalada uma unidade da

multinacional estadunidense, International Harvester, em São Paulo – SP para

fabricar arados e grades de discos. Mas, verificamos que, ao contrário do que

ocorreu com a indústria de tratores agrícolas, que se instalou no Brasil

principalmente por meio de filiais de empresas estrangeiras, para a fabricação de

implementos agrícolas se destacaram empresas nacionais. Por exemplo, em Matão

– SP surgiu, ainda no final da década de 1920, a firma Narciso Baldan & Irmãos (de

uma família de imigrantes italianos), que mais tarde se tornaria a empresa Baldan

Implementos Agrícolas S.A. Em 1952, ela foi a primeira a fabricar discos para

arados no país, reduzindo a necessidade de importação desse componente para

arados e grades. Inclusive, a Baldan se tornou uma referência mundial nesse

segmento (BALDAN, 2018).

Outra empresa de Matão – SP que se destacou no segmento da indústria de

implementos agrícolas, foi a Marchesan Implementos e Máquinas Agrícolas S.A

(marca “Tatu”). Ela iniciou suas atividades em 1946 quando dois irmãos, também

descendentes de italianos, fundaram a Oficina Brasil para fabricar implementos e

máquinas agrícolas, especialmente de tração animal, tais como charretes e

carroças. Mas, com o tempo a Marchesan acumulou experiência e começou

fabricar até discos para grades e arados, além de outros modernos implementos

agrícolas tracionados mecanicamente (MARCHESAN, 2018).

No Rio Grande do Sul surgiu outra importante fabricante de discos, arados

e demais implementos agrícolas, a Indústria de Máquinas Agrícolas Fuchs S.A.

(Imasa). Essa empresa se desenvolveu a partir de uma funilaria fundada no início

da década de 1920, no município de Ijuí (no Noroeste Rio-Grandense), criada por

Arthur Fuchs. A partir de 1942 a pequena funilaria foi transformada em fundição de

ferro e fábrica de máquinas agrícolas. No final da década de 1950 a Imasa S.A. já

fabricava discos, arados e grades (IMASA, 2018).

Quanto à produção de pulverizadores e polvilhadeiras agrícolas, São Paulo

concentrava a grande maioria do valor da produção do país, cerca de 95%,

segundo o censo industrial de 1970 (IBGE, 1975b). O pioneirismo desse estado se

deve a empresas como a Jacto, que foi fundada em 1948, na cidade de Pompéia

(região de Marília – SP), pelo imigrante japonês Shunji Nishimura. Nesse ano,

Nishimura lançou a primeira polvilhadeira (para aplicar agrotóxico em pó) e em

Page 108: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

89

1950 o primeiro pulverizador costal fabricado no Brasil, pois ele percebeu que

estava se formando uma demanda interna para equipamentos de aplicação de

agrotóxicos líquidos. Como analisaremos adiante, essa empresa se tornou uma

referência na produção de equipamentos agrícolas, especialmente para a aplicação

de defensivos agrícolas; inclusive chegando a exportar seus produtos para mais de

100 países (JACTO, 2018).

Há de se ressaltar que o desenvolvimento da indústria de máquinas e

implementos para a aplicação de químicos, é outro importante indicativo de

amadurecimento do setor. Pois, assim como a mecanização substitui grande parte

do trabalho braçal e praticamente toda a tração animal, a utilização de herbicidas

substitui a capina física, inclusive a mecanizada, como destacamos anteriormente.

Além disso, verificamos que a utilização de agrotóxicos na lavoura não está

condicionada só à aplicações mecanizadas, pois como descrevemos

anteriormente, a empresa Jacto iniciou suas atividades fabricando equipamentos

de uso pessoal, as máquinas polvilhadeiras e os pulverizadoras costais; que por

serem mais baratos são utilizados pelos pequenos produtores rurais.

Segundo o censo industrial de 1970 o Rio Grande do Sul contribuía com

65,7% do valor da produção de semeadeiras e plantadeiras do país, enquanto que

SP colaborava com 31,6% do valor. Infelizmente o IBGE (1975b) agrupa a

produção de semeadeiras e plantadeiras, então não temos como verificar a

proporção de fabricação de cada tipo de equipamento. Mas, acreditamos que o

destaque que o Rio Grande do Sul obteve na fabricação desse tipo de implemento

agrícola, relaciona-se ao seu desempenho na produção de cereais (como o trigo)

e oleaginosas (como a soja) que apresentam maior necessidade de mecanização,

como já ressaltamos anteriormente. Por outro lado, pensamos que provavelmente

SP fabricaria mais plantadeiras138 utilizadas nas lavouras de cana-de-açúcar, já que

naquela época detinha grande parte das lavouras de cana do país.

Entre as maiores fabricantes de semeadeiras e plantadeiras agrícolas do Rio

Grande do Sul, na década de 1970, estavam a já mencionada Imasa (instalada no

município de Ijuí), a Sfil e a Fankhauser. A Imasa, em 1968 já havia lançado uma

138 Em pesquisa de campo que realizamos no Show Rural Coopavel, 2019, bem como em visita de estudos à unidade da John Deere, em Horizontina – RS (em junho de 2019), verificamos que tanto os revendedores de máquinas agrícolas como as fábricas costumam utilizar o termo “plantadeira” para máquinas destinadas inclusive à semeadura de grãos, como de milho, soja etc.

Page 109: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

90

semeadeira de múltiplo uso, o que atraia os agricultores pela possibilidade de

utilizá-la em diversas culturas. A Industrial Agrícola Fortaleza Imp. Exp. Ltda. (Sfil)

surgiu em 1962 no município de Fortaleza dos Valos (no Noroeste Rio-grandense),

quando Walter Schaedler e filhos começaram fabricar implementos agrícolas,

especialmente plantadeiras de tração animal, tornando-se uma das maiores

fabricantes de implementos agrícolas do mundo (CASTILHOS et al. 2008).

A Fankhauser S.A., que se instalou no município de Tuparendi (também no

Noroeste Rio-Grandense), começou como uma pequena oficina para consertos

diversos, fundada pelo imigrante suíço Friedrich Fankhauser, que por volta de 1960

passou a fabricar ferramentas manuais. Em 1961 lançou uma plantadeira e

adubadora manual (utilizada principalmente no plantio da soja) que seria seu

principal produto durante os anos 1960. Inclusive, em meados daquela década ela

chegou lançar uma semeadora-adubadora com 9 linhas de plantio, tracionada por

animais e, alguns anos mais tarde, lançou sua primeira semeadora-adubadora

puxada por trator, que aliás seria bem aceita pelos agricultores durante as décadas

de 1970 e 80; inclusive conquistando o mercado do Paraguai, Argentina, Uruguai,

Chile e até em países da América Central (FANKHAUSER, 2018).

Em relação à fabricação de tratores o IBGE (1975b) não fornece dados por

unidades da federação para as máquinas com até 55 cv de potência, detalhando a

distribuição espacial apenas para as máquinas maiores, o que nos permite observar

que todos os tratores com potência entre 55 e 100 cv – que representava quase

80% do valor total dos tratores produzidos em 1970 – saíram do estado de SP

Como mencionamos anteriormente, a maioria das fábricas de tratores que

se instalaram no Brasil no início da década de 1960 escolheram o estado de SP.

As três empresas que informaram ao IBGE que fabricavam tratores agrícolas (de

55 a 100 cv), provavelmente seriam a Ford do Brasil (naquela época, ainda

instalada na cidade de São Paulo – SP); a Valmet do Brasil (com unidade produtiva

em Mogi das Cruzes) e a CBT, instalada no município de São Carlos.

A maioria das máquinas para colheita fabricadas no Brasil, em 1970, saíram

do Rio Grande do Sul. Por exemplo, essa unidade da federação participou com

52,2% do valor da produção de trilhadeiras, enquanto que Santa Catarina contribuiu

com 42,6% (IBGE, 1975b). Como mencionamos anteriormente, no RS as próprias

empresas Schneider Logemann & Cia. (SLC) – instalada no município de

Page 110: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

91

Horizontina – e Máquinas Agrícolas Ideal (no município de Santa Rosa), além de

colheitadeiras automotrizes, também fabricavam trilhadeiras.

Em Santa Catarina se destacavam empresas como a Cia. Branco Motores,

fundada por Caetano Natal Branco (filho de imigrantes italianos) ainda na década

de 1930, em Cruzeiro (atual município de Joaçaba – SC), no Oeste catarinense.

Até o início dos anos 1940 a pequena fábrica construía máquinas artesanalmente,

mas a partir de 1944 surgiu a Caetano Branco & Cia., se destacando na fabricação

de trilhadeiras da marca Vencedora, máquinas adaptadas para a colheita de feijão,

soja, aveia, girassol, lentilha, milho, centeio e alpiste139.

Outra empresa de SC que se destacou na fabricação de trilhadeiras, foi a

Isma Indústria e Comércio de Máquinas Agrícolas Ltda. Ela foi fundada ainda na

década de 1960 por Balduino Schneider, que foi um dos sócios fundadores da já

mencionada empresa SLC de Horizontina – RS. A Isma se instalou em São José

do Cedro – SC, também na região Oeste, na divisa com a Argentina (ISOL, 2019).

No ano de 1970 o Rio Grande do Sul já se destacava na produção de

colhedeiras automotrizes, contribuindo com 47,1% do valor total da produção. São

Paulo participava com 12,8% do valor. No Rio Grande do Sul já se sobressaíam,

naquela época, empresas como a SLC e a Ideal, como mencionamos

anteriormente. Mas, particularmente em São Paulo também já se fabricava

máquinas especialmente para a colheita de cana-de-açúcar. Por exemplo, a Santal

Equipamentos S.A. surgiu em 1960, em Ribeirão Preto – SP, fundada por Arnaldo

Ribeiro Pinto, proprietário da usina Santa Lydia que enfrentava problemas com a

escassez de mão de obra. Os primeiros projetos dessa empresa foram lançados

ainda no final da década de 1950, dando origem à primeira colhedora de cana (o

modelo Santal SL), que era montada sobre um trator de esteiras da marca

Caterpillar (figura 6). A partir da década de 1960 a Santal aperfeiçoou suas

colhedoras e também começou fabricar outros tipos de implementos para o cultivo

da cana-de-açúcar, tais como plantadeiras, entre outros (SANTAL, 2018).

139 Essa empresa – transformada em Fábrica de Motores Branco S.A. – se destacou também na fabricação de motores à gasolina, mudando suas instalações para o município de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba – PR, a partir de 1983. As trilhadeiras da marca Vencedora – um modelo de tração animal e outro uma trilhadora combinada (mais conhecida como “batedor”) – ainda são fabricadas pela empresa Maqtron, instalada no mesmo município de Joaçaba – SC (BRANCO, 2018).

Page 111: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

92

Figura 6 Colhedora de cana Santal (modelo SL) montada sobre trator de esteiras Fonte: Foto disponível em Santal (2018).

Há de se ressaltar que em 1970 até mesmo no estado do Rio de Janeiro,

que não se destacava na agricultura, também se fabricava colheitadeiras

automotrizes. Em RJ se utilizou a estrutura existente da Companhia Industrial Santa

Matilde, instalada no município de Três Rios. Essa empresa surgiu em 1916 como

siderúrgica e desde o final da década de 1940 fabricava vagões e carros

ferroviários, mas a partir do final da década de 1960 apresentava capacidade

produtiva ociosa, devido ao desestímulo às ferrovias. Na tentativa de fugir da crise,

a partir de 1970 diversificou sua produção, fabricando colheitadeiras com tecnologia

da multinacional estadunidense JI Case (SANTA MATILDE, 2018)140.

Observamos que em 1970 o número de fábricas de colheitadeiras agrícolas

era relativamente grande, demostrando que existia uma forte iniciativa de

140 A partir de 1970 a Case IH decidiu parar de exportar colheitadeiras para o Brasil, mas firmou uma parceria com a companhia Santa Matilde para fabricar colheitadeiras de grãos com tecnologia da Case (lançadas no mercado com a marca Santa Matilde). Inclusive, as máquinas foram bem aceitas nas lavouras de arroz do Rio Grande do Sul, devido à sua agilidade (SANTA MATILDE, 2018).

Page 112: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

93

empresários nacionais nesse segmento industrial. Mas, também há de se notar que

essas empresas pioneiras, ou estiveram diretamente ligadas à aquisição de

tecnologia estrangeira (parcerias, etc.) ou produziam máquinas baseadas nas

similares importadas (“engenharia reversa”), em modelos que há anos vinham

sendo utilizados na agricultura brasileira. Ocorre que até a década de 1960,

diversos modelos de marcas estrangeiras foram importados, como da JI Case

(posteriormente, Case IH); da Massey Ferguson; International Harvester e da John

Deere. Além dessas marcas mais conhecidas o Brasil também importava

colheitadeiras da marca argentina Vassalli Fabril S.A.; da marca canadense Oliver

(dos EUA); da alemã Gleaner; da belga Clayson e da polonesa Vistola.

Portanto, podemos afirmar que por volta de 1970 a indústria brasileira de

máquinas agrícolas estava consolidada. Na fabricação de tratores, destacavam-se

filiais de empresas multinacionais estrangeiras, enquanto que na produção de

colheitadeiras e outros implementos (arados, plantadeiras, pulverizadores etc.)

sobressaiam diversas empresas nacionais.

Quanto à distribuição espacial dessa indústria, reunida em dois polos, como

temos enfatizado, nos parece que se explica pela existência de “empresas

motrizes”141 (especialmente a indústria automotiva e de autopeças) que foram

capazes de estimular o surgimento das fábricas de tratores, enquanto que essas

instigaram o surgimento de fábricas de diversos tipos de implementos agrícolas.

Enfim, não podemos deixar de ressaltar o papel das políticas econômicas,

especialmente o Plano Nacional da Indústria de Tratores de Rodas (de 1959), ao

estimularem o desenvolvimento da indústria de máquinas agrícolas, inclusive

diversificando a produção do segmento de implementos para a agricultura. Essa

ação do governo JK é um exemplo de protagonismo do Estado no desenvolvimento

econômico; o planejamento propriamente dito, como sugere a citação de Rangel

(1980) que utilizamos no início desse capítulo.

No capítulo a seguir aprofundaremos a análise sobre a ação do Estado no

que concerne ao planejamento econômico, especialmente em relação à

consolidação da indústria brasileira de máquinas agrícolas.

141 Utilizamos o conceito de “polos de desenvolvimento” de acordo com o entendimento de Manuel Correia de Andrade. Grosso modo, ele afirma que os polos ou complexos industriais se desenvolvem a partir de empresas motrizes (ou de grandes áreas urbanas) que estimulam o surgimento de uma diversidade de atividades industriais articuladas a elas (ANDRADE, 1977).

Page 113: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

CAPÍTULO IV

A FORMAÇÃO DO MERCADO INTERNO PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE

MÁQUINAS AGRÍCOLAS

A expectativa de uma baixa no valor da moeda estimula o investimento e, em consequência, o emprego em geral, porque eleva a curva da eficiência marginal do capital, isto é, a escala da demanda de investimentos; a expectativa de uma alta no valor da moeda produz, ao contrário, efeito depressivo, porque reduz a escala da eficiência marginal do capital. [...] Convém notar que a expectativa de uma queda futura na taxa de juros terá por efeito fazer baixar a escala da eficiência marginal do capital, pois significa que a produção resultante do equipamento criado hoje terá de competir, durante parte de sua vida, com a produção proveniente de equipamento a que bastará uma retribuição menor (KEYNES, 1983, p. 104-5).

Entendemos que esse trecho, retirado de duas páginas do livro Teoria Geral,

resume a presença de vários instrumentos que, juntamente com a síntese realizada

por Rangel (1980) – inclusive, em parte, apoiando-se nos estudos de Keynes –, nos

auxiliará na análise da conjuntura, na qual se desenvolveu a indústria brasileira de

máquinas agrícolas.

Nesse capítulo, analisaremos a importância do planejamento econômico –

especialmente das políticas industriais e do crédito – para a industrialização

brasileira, sobretudo para o desenvolvendo do setor de máquinas agrícolas.

Estudaremos a relevância do planejamento no que se refere, particularmente, à

formação do mercado interno para esse segmento industrial.

4.1 O Complexo Rural Brasileiro e a Indústria de Máquinas Agrícolas

No primeiro capítulo, observamos que uma força de trabalho mais barata

pode atrasar a inserção de maquinaria na agricultura, principalmente em um país

com industrialização incipiente. Em outras palavras, se o custo da mão de obra for

menor que o gasto com a aquisição de máquinas, simplesmente elas não poderão

ser utilizadas porque tornariam as atividades inviáveis. Porém, há de se ressaltar

que, por outro lado, ao aumentar a produtividade do trabalho as máquinas podem

Page 114: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

95

se tornar viáveis. Primeiramente, analisaremos os fatores que possam ter repelido

a utilização de maquinaria na agricultura brasileira.

Podemos iniciar a análise a partir dos censos agrícolas do IBGE. Se

analisarmos dados referentes aos anos de 1940, 1950 e 1960, verificaremos que

nesse período existia uma base técnica na agricultura brasileira (bem como uma

estrutura social no campo) que, se não se constituía como um obstáculo à

introdução de maquinaria nesse setor, pelo menos atrasava a mecanização da

agricultura do país. Por exemplo, em 1940 o Brasil possuía 2,2 milhões de cabeças

de bois para trabalho na agricultura e apenas 3.380 tratores agrícolas (IBGE,

1950b), demostrando que se utilizava muito mais a força animal do que a

mecânica142.

Aliás, analisando o tipo de força utilizada na agricultura do país, segundo o

censo agrícola de 1960, verificamos que do total de 3,3 milhões de

estabelecimentos rurais informantes, 2,6 milhões (76,6%) utilizavam só a força

humana (IBGE, 1967a). E pelo censo demográfico de 1950, podemos verificar que

na categoria: “ocupações relativas à produção agrícola e extrativa”, existia o total

de 9,4 milhões de trabalhadores ocupados e; desses, 8,7 milhões eram homens e

720 mil eram mulheres. Há de se ressaltar que nesse ano, 9,1 milhões de pessoas

(8,4 milhões de homens e 713 mil mulheres), o que equivale a 96,3% do total,

estavam ocupados na categoria “trabalhadores agrícolas de enxada” (IBGE,

1956b)143.

Há de se destacar que o contingente de trabalhadores utilizados como força

na agricultura brasileira era abastecido, inclusive, por menores. Por exemplo, pelo

censo agrícola de 1940 podemos observar que do total de 10,2 milhões de pessoas

ocupadas, 2,6 milhões (25,67%) possuíam menos de 15 anos de idade. Desses

menores, 1,5 milhão eram “membros da família” do proprietário do estabelecimento

rural e outros 1,1 milhão pertenciam a “colonos e empregados” (IBGE, 1950b). Em

142 E se analisarmos os censos agrícolas de 1950 e 1960, verificaremos que a quantidade de bois utilizados na agricultura brasileira subiria para 2,3 milhões e para 2,6 milhões, respectivamente (IBGE, 1956a e 1970). Há de se ressaltar que a agricultura brasileira estava defasada tecnologicamente, pois na Europa e nos EUA, nesse período, vinha reduzindo drasticamente o uso de tração animal, conforme mencionou Guimarães (1979). 143 De acordo com o censo demográfico de 1960 a quantidade de pessoas classificadas como “trabalhadores de enxada” aumentou para 10.830.925. Se efetuarmos os cálculos, verificaremos que o percentual caiu para 94,1%, já que a quantidade total de trabalhadores rurais também subiu, passando para 11.509.526 pessoas (IBGE, s/d).

Page 115: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

96

1950, do total de 11 milhões de pessoas ocupadas na agricultura, 1,9 milhão eram

menores de 15 anos (IBGE, 1956a). Portanto, verificamos que nesse decênio

reduziu a quantidade de menores utilizados na agricultura do país, mas em 1950 a

quantidade ainda era alta, representando 17,23% do total de trabalhadores.

A partir do censo agrícola de 1960 o IBGE passou a fornecer dados dos

trabalhadores rurais com idade abaixo de 14 anos. Há de se ressaltar que a partir

dessa época a quantidade de menores utilizados na agricultura voltaria a aumentar,

passando para 2.980.422, em 1960 (IBGE, 1967a); para 2.900.330 no ano de 1970

(IBGE, 1975a) e para 4.390.214 em 1975. A maioria dos trabalhadores menores

estavam ocupados na categoria “família do proprietário do estabelecimento” (IBGE,

1979).

Pelo censo demográfico de 1950, também podemos identificar a utilização

de trabalho infantil na agricultura brasileira. Por exemplo, naquele ano existiam 1,7

milhão de trabalhadores na faixa etária de 15 a 19 anos ocupados no setor

“agricultura, pecuária e silvicultura” e mais 1 milhão de menores com idade contida

na faixa de 10 a 14 anos (IBGE, 1956b).

Portanto, verificamos que tanto os dados dos censos agrícolas como dos

censos demográficos do IBGE nos mostram que, pelo menos até o início da década

de 1960144, se utilizava na agricultura brasileira um contingente de força de

trabalho; em maioria, formado por membros da própria família do proprietário do

estabelecimento rural, sendo que uma parte considerável era constituída por

adolescentes e até por crianças, por conseguinte, apresentando características de

um país com agricultura defasada tecnologicamente145.

Essa situação nos faz lembrar dos estudos de Kautsky em relação à

Alemanha (e de outros países europeus) – realizado na virada do século XIX para

o XX –, no qual ele verificou que, especialmente nos pequenos estabelecimentos

rurais (e pouco tecnificados), o lavrador acabava explorando o trabalho dos próprios

membros da família: “o pequeno lavrador não só mete o chicote em si mesmo, mas

dele também se serve para pôr a trabalhar, igualmente, a sua família.” (KAUTSKY,

144 A partir do censo demográfico de 1970 podemos verificar que, naquele ano, ainda existiam 2.170.134 trabalhadores com idade entre 15 e 19 anos e 1.125.444 na faixa etária de 10 a 14 anos empregados no setor “agricultura, pecuária e silvicultura” (IBGE, 1973). 145 O atraso tecnológico da agricultura brasileira pode ser observado, por exemplo, ao compará-lo com o da agricultura da França naquele período: “na França, o número de trabalhadores ativos por trator diminuiu de 15, em 1954, para 3, em 1962.” (GUIMARÃES, 1979, p. 91).

Page 116: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

97

1986, p. 100). Mas, mesmo trabalhando de “sol a sol” os pequenos agricultores

tinham uma vida árdua, com dificuldades até mesmo para se vestirem e se

alimentarem minimamente; muitas vezes, tendo um poder de compra inferior ao

dos trabalhadores assalariados: “a propriedade que força o pequeno lavrador a

desgastar-se mais que o trabalhador assalariado, sem propriedade, também leva

seu dono a reduzir as próprias exigências a um nível mínimo” (KAUTSKY, 1986, p.

101).

Para Kautsky, esse contingente de trabalhadores, com longas jornadas de

trabalho e com o uso de mulheres e crianças, formaria uma força de trabalho com

custo relativamente baixo a ponto de atrasar a inserção de tecnologia (máquinas

etc.) na agricultura.

Sobre as “condições de vida” no Brasil, especialmente no período que

estamos analisando, podemos ter noção, por exemplo, pelo estudo de Josué de

Castro, publicado em meados da década de 1940 em seu livro Geografia da Fome.

Castro (1946), dividiu o país em cinco áreas de “geografia alimentar”: 1) “área da

Amazônia”; 2) “área da Mata do Nordeste ou “nordeste açucareiro”; 3) “área do

Sertão do Nordeste”; 4) “área do Centro-oeste” e, 5) “área do Extremo Sul”. Pela

figura A1 (ver: anexos), podemos verificar a delimitação geográfica da classificação

feita por esse autor: nas áreas 1 e 2 a fome é caracterizada como endêmica (as

pessoas praticamente conviviam com a fome) e no Sertão como epidêmica,

chegando a matar pessoas146. Mas, mesmo nas áreas 4 e 5 – que compreende

grande parte do que, atualmente, constitui a região Centro-Sul do Brasil – também

existia subnutrição147. Pela figura A2 (também anexada), podemos verificar a

carência de vitaminas, minerais etc. (necessários à nutrição humana), segundo os

mesmos estudos de Castro.

Pelos dados das séries histórias e estatísticas do IBGE, também podemos

146 “Das cinco diferentes áreas que formam o mosaico alimentar brasileiro, três são nitidamente áreas de fome: a Área Amazônica, a da Mata e a do Sertão Nordestino. Nelas vivem populações que em sua grande maioria – quase diria em sua totalidade – exibem permanente ou ciclicamente as marcas inconfundíveis da fome coletiva.” (CASTRO, 1946, p. 51). 147 Castro, verificou a ocorrência de carência alimentar, não só na região Norte e Nordeste, mas também na parte central do país. Por exemplo, na área Centro-Oeste, desde parte das serras de Minas Gerais, do sul de Goiás até a região pantaneira de Mato Grosso o milho era o principal alimento, associado ao feijão e à banha de porco. Inclusive, o médico e geógrafo, Josué de Castro, se surpreendeu, pois apesar de ser uma região de criação de gado a grande maioria da população não consumia proteínas animais, por não ter poder aquisitivo para comprar esses alimentos.

Page 117: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

98

ter noção sobre as condições de vida da população brasileira no período 1940-

1960. De acordo com o IBGE (2018b), no ano de 1940 a esperança de vida da

população do país era de apenas 43,1 anos. Em 1950 a média subiu para 52,3

anos, permanecendo igual até 1960148.

Há de se mencionar que essa precariedade das condições de vida da

população brasileira, inclusive na área rural, é reflexo da distribuição de renda no

país. Aliás, pelo censo demográfico de 1960, podemos constatar que o nível de

renda da população ocupada na “agricultura, pecuária e silvicultura” era bem

inferior ao da população empregada na indústria, no comércio e nos serviços. No

ano de 1960 existiam 11,8 milhões de pessoas com 10 anos e mais de idade

ocupadas na agricultura. Desses trabalhadores, 3 milhões (25,8%) possuíam

rendimento de até 2.100 cruzeiros (Cr$); 2 milhões (17,8%) na faixa salarial de

2.101 a 3.300 Cr$; 1,4 milhões (11,5%) com rendimentos na faixa de 3.301 a 4.500

Cr$ e 1,1 milhão de pessoas (8,9%) na faixa de 4.501 a 6.000 cruzeiros. Portanto,

verificamos que aproximadamente 64% dos trabalhadores ocupados na agricultura,

pecuária e silvicultura possuíam rendimentos enquadrados nas quatro primeiras

faixas, que correspondem a rendimentos de até Cr$ 6.000, o salário mínimo vigente

no ano de 1960.

Para termos ideia do que isso representa, podemos comparar com os

rendimentos dos trabalhadores de outros setores (indústria, comércio e serviços

em geral). Se efetuarmos os cálculos, chegaremos ao resultado de que 28,3% dos

trabalhadores de outros setores possuíam rendimentos de até um salário mínimo

(simultaneamente, 10,2; 6,7; 5,1 e 6,3% dos trabalhadores em cada faixa de

rendimento). Portanto, verificamos que nas atividades urbanas o percentual de

trabalhadores nas faixas mais baixas de renda era bem inferior aos já mencionados

64% observados para os trabalhadores agrícolas.

Não podemos desconsiderar o fato de que os rendimentos monetários na

agricultura podem não expressar a renda real, pois esse setor da produção,

especialmente até aquela época, se apoiava em relações de trabalho, tais como de

148 A baixa expectativa de vida da população brasileira, verificada para esse período, pode ser compreendida inclusive quando se considera as taxas de mortalidade da população. Por exemplo, no ano de 1950 a taxa bruta de mortalidade da população era de 19,7‰ (por mil). Para termos noção do que isso representa, no ano de 1980 a taxa de mortalidade havia caído para 8,9‰ e no ano de 2000 caiu para 6,9 mortos por 1000 (IBGE, 2018b).

Page 118: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

99

parceria, “agregamento” etc., portanto, não se valendo só de ganhos monetários149.

Mas, é também notável que grande parte da população rural, do ponto de vista dos

rendimentos monetários, constituía um mercado consumidor frágil, não

conseguindo fazer investimentos de maior vulto, como em máquinas agrícolas, por

exemplo. Enfim, como diria Rangel (1980), nessa época a agricultura brasileira

formava uma área de estrangulamento, um gargalo para investimentos.

Esses dados nos fazem lembrar da análise de Rangel (1990a), sobre o que

ele denominou “complexo rural” brasileiro. No seu entendimento, desde o período

colonial se desenvolveu uma série de atividades tipicamente não-agrícolas no

interior das fazendas e nas áreas de trabalho livre, onde atuavam as famílias

camponesas. Além das lavouras e da pecuária também se desenvolvia, no meio

rural, atividades tais como a confecção de artigos do vestuário (especialmente a

partir do trabalho feminino), calçados, utensílios de uso doméstico, artigos de

selaria, instrumentos agrícolas mais rudimentares, ferrarias, a construção de

benfeitorias, entre outros. Isto é, além de agricultores os trabalhadores do campo

também eram artesãos. No seu entendimento, nos anos 1950 – em que ele realizou

e publicou seu estudo – ainda existiam resquícios do complexo rural em certas

áreas do país.

Se analisarmos dados dos censos agrícolas e agropecuários do IBGE,

identificaremos a existência, nesse período, de uma “indústria rural”150, em que se

realizava nos próprios estabelecimentos rurais uma série de atividades não-

agrícolas e exercitadas artesanalmente. A partir do censo agrícola de 1940 (IBGE,

1950b), com dados referentes ao ano de 1939, notamos que existiam 195,4 mil

estabelecimentos rurais com algum tipo de “instalação de beneficiamento e de

transformação industrial”. Destacamos a existência de 140,3 mil estabelecimentos

rurais que possuíam moendas (geralmente para cana-de-açúcar), com destaque

para os estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul que possuíam,

respectivamente, as maiores quantidades de estabelecimentos rurais com esse tipo

149 Por exemplo, em seu livro Quatro Séculos de Latifúndio, publicado em meados da década de 1960, Alberto Passos Guimarães mencionou que ainda existiam muitos latifúndios no Brasil onde os lavradores eram obrigados (por contratos escritos ou verbais) a doar dias gratuitos de trabalho aos proprietários das terras, consertando cercas, limpando o pasto, beiras de estradas etc. Eram resquícios do feudalismo que persistiam na agricultura brasileira (GUIMARÃES, 1968). 150 O IBGE pesquisa pelos censos agrícolas e agropecuários as atividades de transformação e beneficiamento de produtos agropecuários (denominando “indústria rural”), realizadas nos próprios estabelecimentos rurais e que não são enquadradas como atividades industriais.

Page 119: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

100

de máquina. A maioria dessas moendas (89,9%) eram movidas a tração animal,

7,1% eram movidas a água e apenas 3% a vapor, o que demostra o caráter

artesanal da “indústria rural” brasileira naquele período.

Em 1939 também existiam 84,6 mil estabelecimentos rurais que possuíam

moinhos de fubá, com destaque para os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e

São Paulo, respectivamente. Com moinhos de trigo existia o total de 1.373

estabelecimentos rurais, todos localizados no Sul do Brasil (IBGE, 1950b).

Outra atividade tipicamente não-agrícola praticada no meio rural brasileiro,

era a produção de aguardente (principalmente de cana) em alambiques. No total,

existiam 11,3 mil estabelecimentos rurais com esse tipo de máquina, com destaque

para os estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Existiam, também, milhares de estabelecimentos rurais no país com

máquinas para beneficiamento de algodão, arroz e café (de café, especialmente

em São Paulo e Minas Gerais), além de outros 40 mil estabelecimentos rurais que

possuíam o que o IBGE (1950b) classificou como “maquinismos para a indústria de

laticínios”, tais como batedeiras, desnatadeiras e pasteurizadores (especialmente

nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e em Santa Catarina).

No entanto, o que mais se destacava naquele período era a quantidade de

estabelecimentos rurais com “indústria rural” de açúcar e de farinha de mandioca.

Em 1939 existia o total de 239,8 mil estabelecimentos rurais com produção de

derivados de cana-de-açúcar (açúcar, aguardente e rapadura), com destaque para

Minas Gerais, com 41,5 mil estabelecimentos; Santa Catarina com 15,8 mil

estabelecimentos; Bahia com cerca de 11 mil; Ceará com 8,5 mil; Rio Grande do

Sul com 7,5 mil estabelecimentos, entre outros. Com produção de derivados de

mandioca (farinha e polvilho) existia cerca de 400 mil estabelecimentos rurais, com

destaque para os estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Pernambuco,

Ceará, Santa Catarina e Piauí (por ordem decrescente)151.

Esses dados nos mostram, primeiramente, que essa “indústria” rural fazia

parte de uma economia natural, mais destinada ao autoconsumo dos agricultores

151 Enfim, existiam milhares de estabelecimentos rurais no interior do país com outras atividades artesanais, tais como a produção de vinho de uva (especialmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e no Paraná) e, especialmente, com produção de derivados de leite (creme, manteiga, queijo e requeijão), atividades em que existia o total de 157.040 estabelecimentos rurais, com destaque para os estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Santa Catarina.

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101

do que ao mercado. Aliás, não é por acaso que a produção de açúcar e de farinha

de mandioca tenha sido expressiva em estabelecimentos rurais, praticamente, de

“Norte a Sul” do Brasil, como destacamos anteriormente, pois naquela época esses

produtos faziam parte da alimentação da grande maioria da população do país,

conforme os estudos de Castro (1946) e Carvalho (1948).

Há de se ressaltar que a prática de atividades tipicamente industriais no meio

rural não é uma exclusividade do Brasil, pois, por exemplo, no final do século XIX

Lênin identificou a existência desse tipo de estabelecimento152 na Rússia,

especialmente em regiões onde subsistia uma economia natural:

Chamamos indústria doméstica à transformação dos produtos primários no mesmo estabelecimento (família camponesa) que os extrai. Esse tipo de indústria é um atributo necessário da economia natural e seus vestígios subsistem quase sempre onde existe um pequeno campesinato (LÊNIN, 1982, p. 215).

Em segundo lugar, observamos que ao abrigar atividades não agrícolas,

como da indústria artesanal rural153, o complexo rural brasileiro era importante para

empregar a mão de obra ociosa das atividades agrícolas, que geralmente

concentram as tarefas nos períodos de plantio, cultivo e na colheita, ao contrário

das atividades da “indústria rural” que costumam ocupar os trabalhadores ao longo

do ano ou durante as entressafras.

Aliás, o estudo de Eloísa de Carvalho, publicado no quadro “tipos e aspectos

do Brasil” (no 2º volume da Revista Brasileira de Geografia do ano de 1948),

embora que resumidamente, descreve a relevância da fabricação de mandioca no

território brasileiro naquela época:

A farinha de mandioca tem sido e continua a ser a base da alimentação de grande proporção de brasileiros [...] O processo de fabricação da farinha não evolveu; ela é obtida hoje da mesma forma que a produzia o indígena, no início da nossa colonização.

152 Naquela mesma época, ao estudar a agricultura da Alemanha, Kautsky (1986) verificou a existência do que ele chamou de “indústria rural” ou “indústria caseira rural”. 153 Em um estudo em que analisamos o processo de industrialização no Sudoeste do Paraná, verificamos que do início do povoamento – na década de 1940 – até a década de 1970, pelo menos, se desenvolveram atividades da indústria rural, a produção nos estabelecimentos rurais de artigos de consumo das famílias, inclusive a fabricação de farinha de fubá, açúcar de cana, queijos, além de utensílios domésticos e instrumentos para o trabalho agrícola (FLORES, 2009).

Page 121: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

102

Além disso, o sistema é semelhante de norte a sul do país [...] (CARVALHO, 1948, p. 151).

Isto é, na visão da autora a farinha de mandioca era a base da alimentação

da maioria dos brasileiros, sendo produzida artesanalmente e praticamente da

mesma maneira em todo o território brasileiro. Em outro trecho, ela afirma:

Homens, mulheres e crianças trabalham na fabricação da farinha, pois que, para todos há ocupação. Em certos pontos do país, especialmente no Piauí, como me foi referido, a “farinhada”, é notável acontecimento; ocorrem pessoas de diferentes sítios, há matança de gado para alimentação dos que nela estão colaborando. Os lavradores agem de modo a que não coincidam as épocas de farinhada, para poderem contar com o maior auxílio possível. (CARVALHO, 1948, p. 151).

Figura 7 Fabricante de farinha Fonte: Ilustração de Percy Lau apud Carvalho (1948).

O trecho transcrito de uma única página do estudo de Carvalho (1948) –

combinado com a bela ilustração do bico de pena do artista peruano, Percy Lau

(figura 7) –, intencionalmente ou não já descrevia, no final da década de 1940, a

Page 122: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

103

existência de um complexo rural, assim como viemos mencionando nesse capítulo;

caracterizado pela presença de atividades tipicamente não-agrícolas e realizadas,

inclusive, tanto pela força de trabalho de pessoas adultas, bem como por trabalho

infantil.

Aparentemente, a existência desse complexo rural se levantava como um

“obstáculo” à mecanização da agricultura brasileira já que ele ajudava a manter um

contingente de trabalhadores residindo no meio rural, inclusive podendo ser

recrutado pelas atividades agrícolas sempre que fosse necessário154. Porém, há de

se ressaltar que tal complexo começou se desintegrar, à medida que a

industrialização do país começou se desenvolver.

4.2 A Industrialização do País e a Desintegração do Complexo Rural

Se como mencionamos anteriormente, no período 1940-60 ainda existia no

Brasil um complexo rural, constituído por atividades tipicamente não agrícolas

paralelas à agricultura, verificamos que a partir da década de 1970 ocorreu um

processo de desintegração daquilo que temos chamado de “indústria rural”. Por

exemplo, pelos censos agropecuários de 1970 e 1980 (IBGE, 1975a e IBGE, 1984)

constatamos que a quantidade de estabelecimentos rurais que processavam

derivados de cana-de-açúcar diminuiu de 122,4 mil (em 1940) para cerca de 33 mil

estabelecimentos no ano de 1970 e para 19,9 mil em 1980. Porém, os

estabelecimentos rurais que produziam farinha de mandioca aumentaram,

passando de 399,9 mil, em 1940, para 955,8 mil em 1970, fechando em 461,5 mil

no ano de 1980.

A quantidade de estabelecimentos rurais que produziam creme de leite, no

mesmo período, evoluiu da seguinte maneira: de 13.162 para 24.668, caindo para

18.030. Na produção de manteiga os estabelecimentos passaram de 47,1 mil para

49,7 mil, caindo para 34,1 mil nesse período. Na produção de queijo e requeijão a

154 Pelos dados do censo demográfico de 1950, podemos verificar que as famílias eram numerosas

no meio rural brasileiro, o que incrementava a disponibilidade de força de trabalho para a agricultura

e outras atividades realizadas no campo. Por exemplo, existia naquele ano o total de 6,3 milhões de

famílias na área rural do país e, dessas, 538,5 mil possuíam entre 9 e 10 pessoas. Portanto, isso

representa 8,5% das famílias do campo. Naquele ano, por exemplo, se encontrava famílias com

mais de 25 pessoas residindo na área rural do Brasil (IBGE, 1956b).

Page 123: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

104

quantidade de estabelecimentos também aumentou no período, passando de 96,7

mil, em 1940, para 152,2 mil em 1970, fechando em 215,9 mil em 1980.

Observamos que em relação à produção de derivados de cana-de-açúcar a

evolução da quantidade de estabelecimentos rurais já demostra que a atividade

reduziu consideravelmente no período. Porém, em relação à produção de farinha

de mandioca e derivados de leite, aparentemente, os dados não confirmam uma

queda nas respectivas atividades. No entanto, se analisarmos a evolução da

produção, constataremos que também ocorreu uma redução considerável nessas

atividades (tabela 3)

Tabela 3 Desempenho da produção da indústria rural brasileira – 1939-1980

Ano

Derivados de cana de açúcar Farinha Derivados de leite

Açúcar Aguardente Rapadura Mandioca Milho Creme Manteiga Queijo e requeijão

Ton. Mil litros Ton. Ton. Ton. Ton. Ton. Ton. 1939 239.773 96.253 267.424 1.001.538 - 15.579 4.400 27.895

1970 11.783 35.041 194.916 2.191.294 165.775 8.468 4.354 46.065

1980 4.374 18.654 68.031 1.416.810 118.836 1.600 1.960 73.960

Fonte: Elaboração própria a partir de dados dos censos agrícola e agropecuários (IBGE, 1950b, IBGE, 1975a e IBGE, 1984a).

Ou seja, os dados mostram que em relação aos derivados de cana-de-

açúcar a produção diminuiu consideravelmente, reduzindo-se, provavelmente, ao

autoconsumo das famílias. A produção de farinha de mandioca cresceu

consideravelmente até 1970, mas decresceu a partir dessa época. Há de se

ressaltar que a grande maioria da produção saiu dos estados do Pará, Bahia e

Maranhão, respectivamente. Por exemplo, no ano de 1980 esses três estados

concentravam 56% dos estabelecimentos rurais com produção de farinha de

mandioca do país. Em outras palavras, verificamos que esse ramo da “indústria

rural” subsistiu em regiões onde a mecanização agrícola (e o agronegócio em geral)

ainda não tinham se desenvolvido.

A produção de creme e manteiga de leite também decresceu visivelmente,

mas a de queijo e requeijão aumentou. Porém, no ano de 1980 a produção desse

último produto se concentrava em Minas Gerais, que possuía 18,6% dos

estabelecimentos. Por outro lado, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, estados

onde a agricultura já havia se mecanizado nessa época, a quantidade de

Page 124: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

105

estabelecimentos rurais produtores de queijo ou requeijão já era pouco expressiva.

Juntos, SP e RG somavam apenas 6,1% do total de estabelecimentos fabricantes

desse tipo de produtos.

Considerando esses dados, podemos concluir que a partir da década de

1970 a chamada indústria rural, o beneficiamento ou transformação de produtos

agrícolas no campo, já se mostrava pouco expressiva, ao contrário do que ocorria

nos anos 1940 e 50, como destacamos no início desse capítulo. Esse processo é

importante porque o complexo rural, como demostrou Rangel (1990a), contribuía

para manter a força de trabalho ocupada nas entressafras, portanto, mantendo um

“exército de reserva” para os períodos agrícolas que necessitassem de maior

disponibilidade de mão de obra, como no plantio, cultivo e nas colheitas.

Para ilustrar o quanto o complexo rural era importante para reduzir o custo

da mão de obra na agricultura, podemos observar os dados do gráfico 6, referentes

à evolução dos salários agrícolas no estado de SP, no período 1948-1978:

Gráfico 6 Evolução dos salários rurais no estado de São Paulo – 1948-1978

Nota: Em 1970 = 100.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados organizados por Bacha (1979).

Bacha (1979), utilizou dados deflacionados – levantados pelo Instituto de

Economia Agrícola (IEA) de SP – o que nos permite analisar a evolução dos salários

80,2

100

69

87,381

100

141133

151

136

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19

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19

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19

77

19

78

Índic

e s

ala

rial

Trabalhadores diaristas Linear (Trabalhadores diaristas)

Page 125: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

106

reais. Pelos dados desse gráfico, podemos constatar que os salários rurais dos

trabalhadores diaristas do estado de São Paulo aumentaram durante o quinquênio

1948-1952, mas reduziram consideravelmente no periodo 1952 a 1963, por

conseguinte, mantendo-se em baixa justamente em uma época em que existia

grande disponibilidade de mão de obra no campo, inclusive devido à existência do

complexo rural que ocupava a força de trabalho nos períodos ociosos, como

ressaltamos anteriormente.

Esses dados são importantes porque nos mostram que especialmente até

meados dos anos 1960 os salários rurais eram baixos, então, provavelmente,

favoreciam a utilização do trabalho braçal. Isto é, o custo relativamente baixo da

força de trabalho desestimularia a utilização de maquinaria na agricultura brasileira,

consequentemente, atrapalhando a formação de demanda para a indústria de

máquinas e equipamentos para esse setor.

Para termos noção da composição do capital aplicado na agricultura do país,

naquela época, podemos utilizar dados dos censos agrícolas e agropecuários em

relação às despesas155 dos estabelecimentos rurais. Efetuado os cálculos,

chegaremos ao resultado que 64,8% das despesas dos estabelecimentos rurais,

no ano de 1939, eram despendidas em salários. No entanto, naquele mesmo ano

apenas 1,9% das despesas eram aplicadas em adubos e corretivos; 2,2% em

sementes e mudas e apenas 1,5% em defensivos agrícolas (IBGE, 1950b),

demonstrando que se tratava de uma agricultura extensiva, com baixa composição

orgânica do capital156.

Se ampliarmos a análise ao período posterior, perceberemos que até a

década de 1960 a participação dos salários nas despesas dos estabelecimentos

rurais do país ainda era consideravelmente alta, chegando a 50,1% no ano de 1949

e caindo para 39,2% em 1959 (IBGE, 1956a e 1970). Mas, no ano de 1970 o

percentual de gastos com salários caiu para 24,5% e no ano de 1980 diminuiu para

155 No total de despesas o IBGE inclui: salários, arrendamentos de terras, adubos e corretivos, sementes e mudas, inseticidas e fungicidas, rações para animais, entre outros. 156 Aliás, ao visitar as colônias de povoamento com imigrantes alemães no Sul do Brasil, na década de 1940, o geógrafo alemão, Leo Waibel (1949), constatou que aquilo que se chamava de “agricultura mais moderna do Brasil” ainda utilizava métodos arcaicos de produção, tais como queimadas e rotação de terras, o que esse autor identificou como semelhante à agricultura europeia medieval.

Page 126: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

107

20,3%. Nesse mesmo período o percentual gasto em adubos e corretivos, por

exemplo, subiu para 9,1% e 13,8%, respectivamente (IBGE, 1975a e 1984).

Portanto, verificamos que nas décadas de 1940, 50 e 60, quando os salários

rurais eram mais baixos (como expomos pelo gráfico 6), os percentuais de

despesas com salários eram maiores, mas à medida que os salários começaram

aumentar (especialmente a partir da década de 1970) a situação mudou. Se por

um lado, os salários baixos contribuem para atrasar a inserção de maquinaria na

agricultura (como temos colocado), por outro lado, quando eles aumentam a

situação começa a se inverter, isto é, se torna viável a mecanização da

agricultura157.

Aliás, os dados do IBGE sobre a quantidade de tratores agrícolas utilizados

no Brasil corroboram essa afirmação. Por exemplo, os censos agrícolas e

agropecuários apontam que a quantidade de tratores agrícolas passou de 3.380

unidades, em 1940, para 8.372 em 1950; para 61.345 em 1960; para 165.870 em

1970, fechando em 545.205 no ano de 1980 (IBGE, 1950b, 1956a, 1970, 1975a e

1984)158.

Se analisarmos a evolução do tipo de força utilizada na agricultura brasileira,

também constataremos a modernização, pela qual, estava passando esse setor.

Por exemplo, anteriormente mencionamos que segundo o censo agrícola de 1960,

76,6% dos estabelecimentos rurais do país utilizavam só a força humana no

trabalho. Mas, verificamos que em 1970 o Brasil já possuía 112.374

estabelecimentos que utilizavam força mecânica e mais 192.725 que utilizavam a

força animal e mecânica (IBGE, 1975a). E segundo o censo de 1980 a quantidade

de estabelecimentos rurais que utilizavam força mecânica havia subido para

1.297.483, o que equivalia a 56,7% do total de estabelecimentos rurais existentes

no país naquele ano. Há de se acrescentar que outros 710.442 estabelecimentos

157 Como mencionou Rangel (2005), os fatores de produção (capital, terra e trabalho) concorrem, de modo que quando os salários são baixos a atividade econômica prefere utilizar o fator trabalho e não o capital. Nesse caso, se usava o trabalho braçal que era mais barato que a maquinaria. 158 A evolução na quantidade de tratores, ocorrida especialmente entre as décadas de 1950 e 1960, aumentando mais de 7 vezes, provavelmente se deve à utilização de máquinas em grandes propriedades, particularmente no Sudeste e no Sul do país. Por exemplo, na década de 1950, Monbeig (1957) verificou que nas grandes fazendas do estado de São Paulo já se utilizava tecnologia moderna para a época, como na fazenda Guatapará (localizada em Ribeirão Preto), que utilizava até aviões para combater pragas nos cafezais e na fazenda Cambuhi (em Matão), na época considerada a maior plantação do mundo (especialmente de algodão e frutas cítricas), com cerca de 22.984 alqueires paulistas (556,21 Km2), empresa que já utilizava cerca de 90 tratores agrícolas.

Page 127: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

108

informaram utilizar força animal ou mecânica alugada, o que nos mostra que a

mecanização não estava restrita aos estabelecimentos que possuíam maquinaria

(IBGE, 1984)159.

Também podemos ter noção sobre o nível de modernização da agricultura

brasileira, ocorrido após a década de 1960, se analisarmos a evolução da

produtividade do trabalho nas principais160 culturas agrícolas (tabela 4):

Tabela 4 Evolução da produção agrícola e da produtividade da força de trabalho na agricultura brasileira – 1940-1980

Ano Produção agrícola

(toneladas)*

Pessoas ocupadas

(nº.)

Produtividade da força de trabalho

(tonelada/trabalhador)

Índice de crescimento (1970 = 100

%

1940 36.648.641 11.343.415 3,2 41 -

1950 56.225.024 10.996.834 5,1 65 58,5

1960 90.656.520 15.633.985 5,8 74 13,8

1970 136.550.555 17.582.089 7,8 100 35,1

1980 222.089.589 21.163.735 10,5 140 40,0

Nota: *Soma da produção de arroz em casca, cana-de-açúcar, feijão, milho, soja, trigo e mandioca.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE (1990).

Portanto, notamos que a produtividade do trabalho na agricultura brasileira

cresceu consideravelmente nesse período. E podemos observar que o maior

crescimento ocorreu nos períodos 1940-50 e a partir de 1970. No primeiro período

o alto crescimento ocorreu, provavelmente, devido ao atraso tecnológico

encontrado na agricultura do país (como mencionamos anteriormente), então à

medida que foi se inserindo tecnologia (especialmente a partir dos anos 1950) a

produtividade do trabalho aumentou.

E se considerarmos, por exemplo, o incomensurável aumento na quantidade

de tratores utilizados na agricultura brasileira, como mostramos anteriormente,

constataremos que a partir de 1970 o ganho de produtividade do trabalho agrícola

se deve à inserção de tecnologia, como adubos, agrotóxicos e, em grande parte,

ao emprego de maquinaria que substituiu parte do trabalho braçal e sob tração

159 Infelizmente o IBGE (1984) forneceu dados conjuntos para o aluguel de força mecânica e animal, então não temos o percentual apenas da força mecânica. 160 Refere-se ao: arroz em casca, cana-de-açúcar, feijão, milho em grão, soja, trigo e mandioca. Analisamos os dados do IBGE (1990) e constatamos que os produtos agrupados na tabela 4 constituiam a grande maioria da produção agrícola do país daquela época.

Page 128: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

109

animal.

Sobre a mecanização da agricultura brasileira, não podemos deixar de

ressaltar que ela se intensificou justamente no período em que o complexo rural

brasileiro se desintegrou (década de 1970) e quando os salários rurais começaram

se elevar. Por exemplo, se retomarmos aos dados do gráfico 6, verificaremos que

a partir de 1963 os salários rurais do estado de São Paulo começaram aumentar,

mas o processo se intensificou a partir de 1969 a ponto do salário de 1977 ter sido

218,8% superior ao de 1963, ano em que o salário rural foi o menor de todo o

período 1948-1978.

Em outras palavras, podemos afirmar que a partir da década de 1970 as

barreiras levantadas contra a introdução de máquinas na agricultura brasileira –

especialmente o complexo rural que ajudava a manter um contingente de

trabalhadores no campo e, com isso, mantinha os salários relativamente baixos –

começaram a ser removidas.

Como praticamente não se encontra estudos que comparem a produtividade

do trabalho agrícola em diferentes sistemas, como entre as atividades mecanizadas

e o trabalho braçal, decidimos resgatar dados e informações que obtivemos a partir

de um estudo que realizamos em meados da década de 2000, analisando as

particularidades da agricultura no município de Francisco Beltrão, no Sudoeste do

Paraná (quadro 5):

Quadro 5 Comparação da produtividade do trabalho agrícola mecanizado e não-mecanizado – 2005

Sistema não-mecanizado Sistema mecanizado

Plantio: cerca de 480 minutos ou 8 horas para plantar um hectare (ha.) com semente de milho com uma máquina manual*.

Aproximadamente, 70 minutos para plantar um ha. de semente de milho com plantadeira de 4 linhas, traçada por trator de 85 cv.

Cultivo do solo: aproximadamente 180 horas de um trabalhador adulto para cultivar um ha. a partir de capina com enxada.

Capina química (aplicação de herbicidas): cerca de 8 minutos de um pulverizador de 2000 litros, traçado por trator de, pelo menos, 85 cv de potência para a capina de um ha.

Colheita: cerca de 56 horas de um trabalhador adulto para colher manualmente um hectare de milho (entre 60 e 80 sacas de 60 Kg)**.

Uma colheitadeira do tipo New Holland TC 57 (fabricada no BR desde 1993) consegue fazer o mesmo trabalho em cerca de 45 minutos e libera o produto em grãos.

Nota: *Máquina manual, simples, conhecida em algumas regiões por “matraca”. **Nesse caso o trabalhador apenas apanha as espigas de milho, então é necessário debulhar os grãos, por exemplo, com uma trilhadeira ou com um “batedor”.

Fonte: Pesquisa de campo realizada em Francisco Beltrão – PR no ano de 2005 (FLORES, 2007).

Page 129: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

110

Ao entrevistarmos alguns agricultores desse município, pedimos para que

comparassem a produtividade do trabalho em atividades agrícolas mecanizadas

com outras que utilizavam o trabalho braçal, já que os informantes de nossa

pesquisa conheciam os dois sistemas. Há de se observar que as diferenças de

produtividade do trabalho são expressivas, tanto no plantio, nos tratos culturais

como em atividades da colheita.

Mas, como esses dados são estimativas dos agricultores entrevistados e se

trata de um recorte espacial pequeno, devemos compará-los a outros estudos para

verificar se podem ser generalizados. Se utilizarmos informações de revistas e sites

especializados em agronegócio, verificaremos a capacidade que as máquinas têm

para substituir o trabalho humano na agricultura. Por exemplo, em 2013 o portal

Máquinas & Inovações Agrícolas exibiu uma reportagem, na qual entrevistou

produtores de uva do estado de São Paulo que começaram utilizar tratores na

viticultura como alternativa à falta de mão de obra. Alguns agricultores pesquisados

informaram que um trator pequeno pode substituir até 15 homens no roçado

(PRODUTORES, 2013)161.

Na colheita, os números são mais expressivos. Por exemplo, uma

reportagem da Gazeta Digital de 2010 informou que as colhedoras de cana-de-

açúcar, que estavam sendo utilizadas no estado de Mato Grosso, substituíam o

trabalho de 120 homens (REIS, 2010). Em 2007 o portal CaféPoint apresentou uma

matéria destacando que na 13ª Festa do Café e do Frango – realizada em Londrina,

PR – a empresa TDI162 exibiu uma máquina colhedora de café que seria capaz de

substituir o trabalho de 200 homens (COLHEITADEIRA, 2007). Na colheita

mecanizada de cereais e oleaginosas a produtividade do trabalho também tem sido

enorme. Por exemplo, o portal G1 exibiu uma matéria sobre a Agrishow 2015

(realizada em Ribeirão Preto, SP) que compara a produtividade da primeira

colheitadeira fabricada no Brasil – a SLC 65-A que, aliás, destacamos no capítulo

anterior – com uma máquina de grande porte (da marca John Deere), lançada em

2015; afirmando que a colheitadeira moderna colhe em 30 minutos o que a máquina

161 Agricultores de municípios como Jundiaí e Pilar do Sul (ambos em SP) estão utilizando tratores de pequeno porte, adaptados ao reduzido espaço entre as linhas das videiras. Por exemplo, a empresa Agritech, instalada no município paulista de Indaiatuba, tem fabricado esse tipo de trator com tecnologia da marca japonesa Yanmar (PRODUTORES, 2013). 162 A TDI Máquinas Agrícolas surgiu em 1985. Na atualidade, ela possui uma unidade instalada em Araguari – MG, especializada na fabricação de colhedoras de café (TDI, 2018).

Page 130: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

111

lançada em meados da década de 1960 levaria um dia inteiro. Isto é, que colheria

em meia hora cerca de 500 sacas de soja (OLIVEIRA, 2015).

Sobre a produtividade do trabalho na capina química, podemos citar dados

de nossas pesquisas de campo, como na que realizamos no Show Rural Coopavel,

na cidade de Cascavel – PR em fevereiro de 2019. Por exemplo, observamos que

a empresa Jacto (instalada em Pompéia – SP) possui pulverizadores automotrizes

capazes de aplicar defensivos agrícolas com rendimento de até 80 hectares por

hora (ou 800.000 m2/hora)163.

Ao observarmos que a partir da introdução de maquinaria, aumentou a

produtividade do trabalho na agricultura brasileira, isto é, aumentando a produção

e com menos trabalhadores ocupados nas atividades, constatamos que a própria

indústria de máquinas agrícolas contribuiu para a formação do mercado interno

para seus produtos.

Há de se destacar que o desenvolvimento industrial estimula, também, a

industrialização da própria agricultura, como já observaram Kautsky (1986), Lênin

(1982) e Rangel (2004).

Aliás, Rangel fornece dados que nos permitem avaliar a intensidade do

crescimento da indústria brasileira nesse período. Utilizando dados estatísticos da

Organização das Nações Unidas (ONU), ele comparou a evolução da produção

industrial de diversos países no período 1938-1973, mostrando que no Brasil a

produção cresceu 16 vezes, a um ritmo de 8,2% ao ano (a.a.); só perdendo para a

produção industrial da União Soviética, que cresceu 19 vezes, alcançando a média

de 8,8% a.a. Para termos noção do que isso representa, destacamos que nesse

mesmo período a indústria do mundo capitalista desenvolvido cresceu a 5,1% a.a.

(o equivalente 5,8 vezes). Aliás, o crescimento da produção industrial brasileira nas

décadas de 1940, 50 e 60 (e em grande parte dos anos 1970) foi superior ao da

indústria japonesa, que foi considerada uma referência para a economia mundial

no pós Segunda Guerra Mundial (quadro 6)164.

163 Segundo representantes dessa empresa o pulverizador agrícola Jacto - Uniport 4530 é o maior da categoria utilizado na agricultura brasileira. Ele possui um reservatório de 4.500 litros, barras de aplicação com 36 metros e consegue pulverizar com velocidade de até 35 quilômetros por hora. 164 Nesse mesmo período a produção industrial do México e da Argentina – países que se esperava um desempenho semelhante ao do Brasil – cresceu, respectivamente, cerca de 8 e 4 vezes. No período 1948 a 1973 – fase ascendente do 4º ciclo longo – a produção industrial dos Estado Unidos da América cresceu apenas 2,93 vezes, a 4,4% a.a. (RANGEL, 1990b).

Page 131: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

112

Quadro 6 Evolução da produção industrial por classes de países selecionados – 1938-1973

Categoria de países Crescimento da produção

Vezes no período (% a.a.)

Mundo capitalista 6,0 5,3 Mundo capitalista desenvolvido 5,8 5,1 Mercado Comum Europeu 4,8 4,6 Japão 11,7 7,3 Brasil 16,0 8,2 União Soviética 19,0 8,8

Fonte: Elaboração própria a partir de dados organizados por Rangel (1990b).

Há de se ressaltar que nesse contexto de significativa expansão das

atividades industriais o Brasil se urbanizou e, consequentemente, em um contexto

de diminuição da população rural. Pelos dados dos censos demográficos do IBGE,

podemos verificar que enquanto a população rural aumentou em apenas cerca de

6 milhões de habitantes no período 1950-1980 – passando de 33,2 milhões para

39,1 milhões de habitantes – a população urbana ganhou 63,2 milhões, passando

de 18,8 milhões, em 1950, para cerca de 82 milhões de habitantes no ano de 1980

(IBGE, 1956b; s/d.; 1973 e 1983).

Como nesse período analisado as taxas de fecundidade se mantiveram

consideráveis165 na área rural brasileira, não é de se estranhar que a estabilização

do número de habitantes residentes no campo se deva à migração de grande parte

da população para as cidades. Aliás, segundo os dados do censo demográfico de

1970 o Brasil possuía 5,4 milhões de pessoas residentes em área urbana não-

naturais do município que antes residiam em domicílios rurais. Portanto, que

migraram do campo para a cidade. Desses, 2,5 milhões migraram há 11 ou mais

anos (IBGE, 1973).

Em 1980 o Brasil já possuia 13,7 milhões de habitantes residentes em área

urbana (não-naturais do município) que migraram do campo, sendo que, desses,

7,5 milhões migraram há 10 anos ou mais. Há de se acrescentar outros 6,2 mihões

de pessoas naturais do município, que também migraram da área rural (IBGE,

165 Por exemplo, segundo o IBGE, no ano de 1970 a taxa de fecundidade na área rural brasileira era de 7,74 filhos por mulher, com destaque para a região Norte que apresentava uma taxa de 9,59 filhos (destacando-se o estado do Acre, com 10,97; Rondônia com 10,77 e o Amazonas com taxa de fecundidade de 10,18 filhos). No Nordeste a taxa era de 8,45, com destaque para o Rio Grande do Norte com 9,81 e o Sergipe com 9,29 filhos por mulher (IBGE, 1990).

Page 132: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

113

1983).

Alves, Souza e Marra (2011) – com base em dados do IBGE – verificaram

que no período 1950-1960 migraram do campo 5,4 milhões de pesoas, com

destaque para a região Nordeste, com 2,8 milhões de migrantes e o Sudeste, onde

a área rural perdeu 2,5 milhões de pessoas que mudaram para áreas urbanas. No

período 1960-1970 a quantidade de migrantes do campo aumentou para 8,9

milhões. A quantidade de migrantes do Nordeste caiu para 2,5 milhões de pessoas,

mas a região Sudeste obteve um aumento considerável, saltando para 5,7 milhões

de pessoas que trocaram a área rural pela cidade. Esses autores destacam que no

período 1960-70 a região Sudeste perdeu 40,3% de sua população rural que migrou

para as cidades, estimulada pelo processo de industrialização que se intensificou

nessa região naquele período166.

Pelo gráfico 7, podemos observar a evolução dos empregos nas atividades

urbanas: na indústria, comércio e nos serviços no período 1940 a 1980.

Gráfico 7 Evolução dos empregos na indústria e em outros setores da economia brasileira – 1940-1980

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE (1990).

166 De 1970 a 1980, 12,5 milhões de pessoas migraram da área rural para a urbana. Nesse período, também se destacaram as regiões Nordeste (com 3,5 milhões de migrantes) e o Sudeste (com 4,4 milhões), mas a novidade foi a região Sul que obteve um movimento de 4,1 milhões de pessoas que trocaram o campo pela cidade (ALVES; SOUZA; MARRA, 2011).

1.617.000

4.269.000

8.460.000

262.600

3.171.500

800.500

5.163.000

2.076.500

6.587.500

11.776.000

0

1000000

2000000

3000000

4000000

5000000

6000000

7000000

8000000

9000000

10000000

11000000

12000000

13000000

1940 1950 1960 1970 1980

Pe

ssoa

s o

cup

ad

as

Indústria de transformação Construção civil

Comércio Serviços

Page 133: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

114

Os dados desse gráfico nos mostram que, ao contrário do setor agrícola em

que a geração de empregos tende a se estabilizar ou até mesmo diminuir, como

mostramos pelos dados da tabela 4, na indústria, comércio e nos serviços a

quantidade de empregos pode aumentar, mesmo que a maquinaria aumente a

produtividade do trabalho167. Isso ocorre porque, como já observou Marx, a

indústria propicia um crescimento absoluto da produção que consegue ampliar os

empregos, ao contrário do que ocorre na agricultura:

É da natureza do modo de produção capitalista que ele continuamente diminua a população agrícola em relação à não agrícola, porque na indústria (em sentido estrito) o crescimento do capital constante em relação ao variável está ligado ao crescimento absoluto, apesar da diminuição relativa, do capital variável; enquanto na agricultura diminui em termos absolutos o capital variável exigido para a exploração de determinado pedaço de terra, só podendo, portanto, crescer à medida que novas terras são cultivadas, isso, porém, pressupõem por sua vez crescimento ainda maior da população não agrícola (MARX, 1985a, p. 139).

Podemos afirmar que a indústria brasileira estimulou os setores do comércio

e dos serviços e impulsionou a modernização da agricultura ao gerar empregos nas

cidades, atraindo grande parte da mão de obra que antes estava ocupada no meio

rural, portanto, desintegrando o complexo rural que contribuiu para atrasar a

mecanização agrícola no país. Em outras palavras, podemos afirmar que o

complexo rural e a mão de obra relativamente barata não eram, em si, empecilhos

para a inserção de maquinaria na agricultura, pois é a indústria moderna que

transforma as atividades agrícolas, não o contrário.

Há de se ressaltar que foi nesse contexto da industrialização brasileira,

marcado pela desintegração do complexo rural e da saída de grande parte da

população do campo para a cidade, que a indústria de máquinas agrícolas se

consolidou. A partir de dados da produção física dos censos industriais de 1975 e

1980, constatamos que do ponto de vista espacial praticamente não ocorreram

mudanças consideráveis, isto é, mantendo-se a bipolarização São Paulo/Rio

167 No período 1950/60 o emprego agrícola cresceu a uma taxa de 3,6% a.a., enquanto que o emprego industrial cresceu a apenas 1,9%. Mas, de 1960/70 o emprego agrícola caiu para uma taxa de 1,2% a.a., enquanto que o emprego industrial subiu para 5,2% ao ano. De 1970/74 o emprego agrícola voltaria a subir para 2,96% ao ano, mas no mesmo período o emprego na indústria cresceu a 8,4% a.a. (DELGADO, 1985).

Page 134: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

115

Grande do Sul, sintetizada no mapa 2. No entanto, algumas mudanças pontuais

podem ser identificadas, como na produção de colheitadeiras automotrizes. Por

exemplo, enquanto que em 1970 o RS contribuía com quase a metade do valor da

produção desse tipo de máquina (47,1%), a partir de 1975 ampliou sua participação

para 60,6%, sendo seguido pelo Paraná, com 23,7%, e por São Paulo, que

participou com apenas 6,6% do valor total da produção (IBGE, 1981).

Pelos dados do censo industrial de 1980, observamos que o Paraná

aumentou a sua participação na fabricação de colheitadeiras automotrizes,

contribuindo com 30,2% do valor total da produção, só perdendo para o estado do

RS, que contribuiu com 55,8% (IBGE, 1984).

A destacada participação do Paraná na produção de colheitadeiras se deve,

principalmente, à atuação da multinacional New Holland, que a partir de 1976

instalou uma unidade produtiva em Curitiba. Segundo Amato Neto (1985), a partir

do final da década de 1970 a New Holland já se destacava na produção e na venda

de colheitadeiras no país. Pelos dados levantados por esse autor, no ano de 1978

essa empresa já era líder no mercado interno de colheitadeiras, comercializando

1.227 unidades, o que correspondia a 33,6% das vendas totais daquele ano,

seguida de perto pela empresa sul-rio-grandense SLC, que comercializou 1.053

colheitadeiras (o equivalente a 28,7% do total das vendas internas).

Na fabricação de trilhadeiras o Rio Grande do Sul perdeu a liderança para o

estado de Santa Catarina, que de acordo com o censo industrial de 1975 passou a

contribuir com 62,5% do valor total da produção desse tipo de máquina (IBGE,

1981). Segundo o censo industrial de 1980, Santa Catarina havia perdido espaço

nesse segmento industrial, mas ainda liderava, participando com 47,9% do valor

total da produção de trilhadeiras (IBGE, 1984).

A queda da participação do Rio Grande do Sul na produção de trilhadeiras

agrícolas e, por outro lado, o aumento da participação de Santa Catarina se deve,

provavelmente, ao fato de que o avanço do cultivo da soja e do trigo – culturas com

alta exigência de mecanização, como mencionamos no capítulo anterior –

estimulou a substituição das simples trilhadeiras pelas colheitadeiras automotrizes

no RS. Além disso, Santa Catarina possui uma área agrícola bem menor que a do

RS e com maior grau de declividade do relevo, o que dificulta a mecanização, então

se utilizava, especialmente nos pequenos estabelecimentos rurais, trilhadeiras

Page 135: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

116

puxadas por tração animal que são mais adaptáveis a esse tipo de terreno.

Quanto à fabricação de outros implementos agrícolas, tais como

semeadeiras, plantadeiras, pulverizadores, arados, grades, entre outros,

praticamente não ocorreu consideráveis alterações em relação ao mapa 2 (exposto

no capítulo anterior). Isso é, a distribuição espacial da indústria de máquinas

agrícolas, em 1980, permaneceu concentrada nos estados de São Paulo e Rio

Grande do Sul.

Como os censos industriais não fornecem dados deflacionados, então não

temos como avaliar o desempenho da indústria brasileira de máquinas agrícolas

(se aumentou ou regrediu) no período 1970-80. Porém, podemos verificar a

evolução da participação percentual desse segmento em relação à indústria

mecânica e, dessa, em relação à indústria de transformação. Se efetuarmos os

cálculos a partir de dados dos censos industriais de 1970, 1975 e 1980 (IBGE,

1975b, 1981 e 1984), chegaremos ao resultado que a participação do setor

mecânico no valor da produção industrial do país passou de 4,9%, em 1970, para

6,7 em 1975, fechando em 6,1% no ano de 1980. No mesmo período a participação

da indústria de máquinas agrícolas168 no setor da indústria mecânica passou de

7,2, em 1970, para 10,2 em 1975, fechando em 8,2% em 1980; o que nos mostra

que a indústria de máquinas agrícolas cresceu acima da média do setor mecânico

que, aliás, já havia crescido acima da média da indústria de transformação.

A partir de dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos

Automotores (ANFAVEA), podemos analisar a evolução da produção e da

comercialização de tratores de rodas e de colheitadeiras de grãos no Brasil. Pelos

dados do gráfico 8, verificamos que a produção de tratores saltou de 9.841

unidades, no ano de 1969, para 64.175 em 1976. Porém, a partir de 1977 a

produção começou cair consideravelmente, atingindo 47.640 unidades no ano de

1978, fechando em 57.974 no ano de 1980. As vendas internas praticamente

acompanharam a produção, exceto a partir de 1977 em que a demanda doméstica

decaiu a um ritmo superior ao da produção desse segmento industrial.

168 Segundo os censos industriais do IBGE, consiste no gênero de “Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais para agricultura, avicultura, cunicultura, apicultura, criação de outros pequenos animais e obtenção de produtos de origem animal e para beneficiamento ou preparação de produtos agrícolas – inclusive peças e acessórios.”

Page 136: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

117

Gráfico 8 Evolução da produção e das vendas internas de tratores de rodas no Brasil – 1960-1980

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

Gráfico 9 Evolução da produção e das vendas internas de colheitadeiras de grãos no Brasil – 1976-1985

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

37

11

.53

7

6.2

95

14

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6

64

.17

5

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.64

0

57

.97

4

37

11

.53

5

6.5

06

14

.58

6

62

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0

41

.01

7

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.19

5

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

50000

55000

60000

65000

70000

19

60

19

61

19

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19

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19

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19

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19

66

19

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19

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69

19

70

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19

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19

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19

75

19

76

19

77

19

78

19

79

19

80

Un

idad

es

Produção Vendas

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

5500

6000

6500

1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985

6.4

81

3.7

19

6.0

03

3.4

34

3.3

23

6.4

27

5.3

15

3.4

57

5.4

10

3.2

85

3.5

12

5.7

75

Un

idad

es

Produção Vendas

Page 137: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

118

Como a fabricação interna de colheitadeiras automotrizes só se intensificou

a partir de meados da década de 1970 (inclusive, com a instalação de empresas

como a New Holland em Curitiba, como mencionamos anteriormente), a Anfavea

não disponibiliza dados anteriores a 1976. Mas, a partir de dados referentes à

evolução da produção da Schneider Logemann e Cia. (SLC), empresa pioneira

nesse segmento no Brasil, verificamos que sua produção passou de apenas uma

colheitadeira, no ano de 1965, para 157 unidades em 1969, saltando para 1.036

máquinas no ano de 1973 (SCHNEIDER, 1995), demonstrando que a produção

vinha aumentando constantemente durante a primeira metade da década de 1970.

Pelo gráfico 9, podemos constatar que o desempenho da fabricação, bem

como da comercialização de colheitadeiras automotrizes, foi semelhante ao da

indústria de tratores de rodas. Há de se ressaltar que no período 1976-78 ocorreu

uma redução, tanto da produção quanto da comercialização, embora que tenha

retomado o crescimento até 1980, ano em a produção e a comercialização

voltariam a cair.

Portanto, observamos que a indústria brasileira de máquinas agrícolas,

especialmente a fabricação de tratores e colheitadeiras automotrizes (vanguarda

desse segmento), alcançou seu auge no decorrer da década de 1970. Aliás, Rangel

(1986) ressaltou que no período 1969 a 1979 a produção da indústria de tratores

agrícolas aumentou cerca de 4,4 vezes, por exemplo, acima da produção de

cimento (que cresceu cerca de 3,3 vezes) e de aço bruto, que cresceu cerca de 2,8

vezes nesse período.

4.3 O Planejamento Econômico e a Indústria de Máquinas Agrícolas

Esse estudo tem nos revelado uma conjuntura em que a indústria,

especialmente o segmento de máquinas e implementos agrícolas, contribuiu para

modernizar a agricultura brasileira, substituindo parte de sua força de trabalho.

Esse processo intensificou a migração do campo para a cidade, pois nesse

contexto a indústria e demais atividades urbanas se intensificaram no país,

absorvendo grande parte da mão de obra proveniente da área rural.

No entanto, nos parece que esse processo não resultou apenas das

mudanças técnicas ocorridas na economia brasileira. Aliás, observamos que essas

Page 138: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

119

transformações não foram estimuladas apenas pelo empresariado nacional, mas

também por um Estado planejador. Como ressaltamos no segundo capítulo, os

empresários foram importantes para a industrialização do país. Mas, ao fazer parte

do setor produtor de bens de produção, a indústria de máquinas agrícolas necessita

de políticas econômicas de apoio não só em relação à produção propriamente dita,

mas também para a formação de demanda para seus produtos; o que requer a

existência de instrumentos de planejamento, inclusive de um sistema de crédito

rural eficiente.

Se o Plano Nacional da Indústria de Tratores de Rodas (de 1959) iniciou a

fabricação interna de máquinas agrícolas (mais modernas), como ressaltamos no

capítulo anterior, verificamos que a sua consolidação também foi estimulada pelo

planejamento econômico. Entre as políticas econômicas que mais contribuíram

para esse segmento industrial, destacamos os Planos Nacionais de

Desenvolvimento (PND’s).

O I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), foi lançado em dezembro

de 1971 com metas de desenvolvimento econômico para o triênio 1972-74. Esse

plano tinha como expectativa um crescimento entre 10 e 12% ao ano (a.a.) da

indústria de transformação. Nesse período, a meta era que o PIB do país crescesse

entre 8 e 10% a.a. (BRASIL, 1971).

Particularmente para a agricultura (e com consequências sobre a indústria

de máquinas agrícolas) esse PND tinha como meta aumentar 34% a mecanização

agrícola no referido período; sendo que a quantidade de tratores deveria aumentar

de 97 mil para 130 mil unidades. Mas, há de se ressaltar que para o setor agrícola

a maior atenção seria dada à fertilização do solo, que deveria crescer 56%; ao uso

de corretivos (calcário etc.) que deveria ser ampliada em 73% e à utilização de

defensivos agrícolas que deveria acrescer 89%169.

Além da necessidade de fertilização, que é compreensível, pois a maioria

dos solos brasileiros são cultivados há muitas décadas (por tanto, deveriam estar

enfraquecidos no início da década de 1970), constatamos que o I PND previa outros

gargalos para investimento na área rural, como nas linhas de transmissão de

169 Lembrando que, por um lado, a utilização de defensivos agrícolas, especialmente de herbicidas, acaba por competir com a própria maquinaria já que se substitui a capina mecânica pela química. Mas, por outro lado, o uso da capina química estimula a fabricação de máquinas e implementos para a pulverização agrícola.

Page 139: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

120

eletrificação rural, em que se pretendia aumentar 294% e na quantidade de

propriedades rurais beneficiadas com a eletrificação, que deveria crescer 259% no

período 1970-74. Entendemos que essas demandas, de certa forma, competiam

com os investimentos em maquinaria, já que também são importantes para a

produção agrícola.

Como política industrial direta o referido PND previa aumentar 107% a

produção de aço e 230% a fabricação de fertilizantes, por conseguinte, mais um

dado que nos mostra que, por exemplo, a indústria química seria prioritária se

comparada à indústria de máquinas agrícolas170.

Porém, em dezembro de 1974 foi lançado o II PND, com planejamento para

o quinquênio 1975-1979. Entre as principais metas desse plano, destacamos a que

visava um crescimento de 61% do PIB, sendo que o produto industrial deveria

crescer 76% (em média, a 12% a.a.), enquanto que o emprego na indústria deveria

aumentar 33%.

Em relação ao setor de bens de produção, destacamos as metas para a

produção de tratores, a qual se previa que deveria crescer 91%; a produção de aço,

que deveria aumentar 159% e a de fertilizantes (NPK), que se esperava que

aumentasse 105% (BRASIL, 1974).

Para a produção agrícola a meta do II PND previa aumentar 40%; portanto,

um crescimento menor que o previsto para a indústria, sendo que o consumo da

agricultura deveria ser ampliado da seguinte maneira: tratores agrícolas, 101%;

rações, 93%; fertilizantes, 94% e defensivos agrícolas, que deveria crescer 122%.

Portanto, enquanto que o I Plano Nacional de Desenvolvimento apoiou mais

a indústria química, por exemplo, ao priorizar a produção de adubos NPK, por outro

lado, constatamos que o II PND priorizou a indústria de máquinas agrícolas, pois

previa um crescimento de 91% na produção de tratores e buscava amentar 101%

o seu consumo na agricultura171.

170 Há de se ressaltar que o I PND também se deparou com a questão da habitação, em que a meta era aumentar em 89%, passando de 126 mil para 238 mil unidades residenciais, que no período 1970-74 seriam construídas pelo sistema financeiro BNH. Isso nos mostra que o país, que aliás vinha se urbanizando rapidamente como mencionamos anteriormente, enfrentava a problemática da falta de habitações. Todos esses gargalos para investimentos nos mostram que a indústria de máquinas agrícolas não era prioritária, apesar do período ser marcado pelo planejamento econômico. 171 Há de se destacar que o II PND partia do entendimento de que seria imprescindível a criação de grandes empresas, por meio de fusões e incorporações, inclusive com a formação de

Page 140: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

121

No capítulo IV – intitulado A estratégica econômica: opções básicas – do II

PND, é possível observar que esse plano visava a: “adoção de regime econômico

de mercado, como forma de realizar o desenvolvimento com descentralização de

decisões, mas com ação norteadora e impulsionadora do setor público.” (BRASIL,

1974, p. 31).

Em outras palavras, podemos afirmar que o II PND pretendia ter uma

economia forte, com empresários competitivos e norteados por um governo

planejador e investidor.

Aliás, se analisarmos a participação dos investimentos públicos na

Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), referente ao ano de 1976, por exemplo,

constataremos que alcançou 10,6% do PIB do país. Para termos noção do que

esse percentual representa, podemos destacar que essa foi a maior taxa de

investimento público em todo o período 1965-2018, sendo que a partir de 1991 a

participação do setor público na FBCF esteve sempre abaixo de 5% do PIB

(OBSERVATÓRIO, 2019b).

4.3.1 O crédito rural e a formação do mercado interno para a indústria de

máquinas agrícolas

Verificamos que o II PND foi importante para a economia brasileira, inclusive

por garantir uma sobrevida (pelo menos até o final da década de 1970) ao ciclo

expansivo iniciado em 1967, portanto, resistindo à fase recessiva do quarto ciclo

longo, que teria iniciado por volta de 1974, conforme mencionou Rangel (1986)172.

Porém, verificamos que o apoio efetivo à formação de demanda para a indústria de

máquinas agrícolas iniciou em meados da década anterior, com a instituição do

sistema nacional de financiamentos para o setor agrícola.

conglomerados financeiros; inclusive porque o governo compreendia que a participação do capital estrangeiro era pouco expressiva naquela época. O item 2 do II PND previa a formação de base empresarial, inclusive na agricultura, especialmente no Centro-Sul do país. Na estratégia para a agropecuária se buscava o uso da terra para fins produtivos porque o governo se preocupava com a elevação do preço de comercialização, especialmente das terras do Centro-Sul do país. De acordo com o referido PND a alternativa seria resolver esse problema com o uso de tributação para estimular o uso produtivo da terra (BRASIL, 1974). 172 Segundo Rangel (1986, p. 65), “(...) não era de todo fora de propósito definir o Brasil, aí pelo segundo lustro do passado decênio [a partir de meados da década de 1970], como uma ‘ilha de prosperidade’.”

Page 141: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

122

O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) foi instituído por meio do Art.

9º da Lei n.º 4.829 de 09 de novembro de 1965, que dividiu o crédito rural em duas

classes, 1) o custeio, financiamento de curto prazo como para a aquisição de

insumos para a safra e, 2) o investimento, destinado à obtenção de bens (inclusive

máquinas e implementos agrícolas) a serem consumidos em vários períodos ou

safras e que, por serem mais caros, necessitam de prazo maior para o pagamento

dos empréstimos (BRASIL, 1965).

Segundo Fürstenau (1987) o SNCR era supervisionado pelo Banco Central

que por meio do Conselho Monetário Nacional (CMN) formulava as diretrizes,

determinava a origem e a dotação dos recursos. As duas principais fontes de

financiamentos ao setor rural (a partir do final da década de 1960) eram: 1) os

saldos dos depósitos à vista dos bancos comerciais e, 2) os recursos dos fundos e

programas agrícolas. Por meio da Resolução nº. 69 de 22 de setembro de 1967 o

CMN estabeleceu a exigência de que, no mínimo, 10% do total dos depósitos à

vista, efetuados em bancos comerciais, fossem destinados ao financiamento

agrícola, além de estabelecer que as taxas de juros não poderiam ultrapassar 75%

das taxas adotadas para as demais operações de crédito.

No entanto, verificamos que a referida resolução do CMN teve pouco

sucesso na captação de recursos do setor privado, pois a participação dos bancos

comerciais no financiamento rural passou de 36,0%, no ano de 1960, para 45,7%

em 1965, mas passaria a decrescer, fechando o ano de 1980 em nada mais do que

20,8% do total de créditos. Nesse contexto, o setor público teve que arcar com o

restante, por meio do Banco do Brasil (BB)173. Por exemplo, de 1965 a 1980 a

participação do BB no crédito rural passou de 54,3 para 79,2%, conforme observou

Fürstenau (1987).

Na tabela 5, expomos alguns dados que nos permitem analisar a evolução

das taxas de juros nominais do crédito rural para o período 1969-1981, comparadas

à inflação nominal anual, o que nos possibilita termos noção sobre as taxas reais

de juros cobradas pelo sistema financeiro brasileiro naquele período, no qual se

observa um aumento considerável da inflação.

173 Eis as características de um período de forte participação estatal nos investimentos, conforme observamos anteriormente ao verificarmos, por exemplo, que em meados da década de 1970 os investimentos públicos em FBCF foram os maiores de todo o período 1965-2018.

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123

Tabela 5 Taxa de juros do crédito rural e a inflação anual brasileira – 1969-1981

Ano Taxa nominal de juros(1) Taxa de inflação anual

1969 18 20,8 1970 17 19,8 1971 7 20,2 1972 15 17 1973 15 15,1 1974 15 28,7 1975 15 27,7 1976 15 41,3 1977 15 42,7 1978 15 38,7 1979 38 53,9 1980 45 100,2 1981 45 109,9

Nota: (1) Refere-se às taxas anuais máximas de juros.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados organizados por Delgado (1985).

Os dados dessa tabela nos mostram, portanto, que mesmo com a elevação

das taxas de juros, ocorrida particularmente a partir de 1979, o crédito rural ainda

seria viável, pois os juros não acompanharam o ritmo da inflação que vinha

aumentando consideravelmente desde 1974 e que, aliás, dispararia a partir de

1980. Por conseguinte, observamos que as taxas reais de juros (obtidas a partir

das taxas nominais de juros, subtraindo-se a inflação do período) foram negativas,

especialmente a partir de 1974174.

Ocorre que até meados da década de 1970 os juros internacionais estavam

baixos, então o Brasil conseguiu grande volume de empréstimos no exterior175.

Essa conjuntura favoreceu inclusive o crédito rural que cresceu a 23,8% a.a. no

período 1969 a 1976, portanto, bem acima do crescimento real do produto agrícola

que, nesse período, foi de cerca de 5% a.a., conforme verificou Delgado (1985).

Pelos dados da tabela 6, podemos analisar o desempenho do crédito rural

174 Há de se ressaltar que para os pequenos produtores as taxas de juros nominais eram ainda menores. Por exemplo, segundo Fürstenau (1987), no período 1968 a 1976 a taxa de juros para os pequenos era de 10% a.a. 175 Por exemplo, até 1968 a taxa de juros dos Fundos Federais dos Estados Unidos (Fed) – “equivalente à taxa Selic” do Brasil – vinha se mantendo abaixo de 5% a.a., mas a partir de 1969 saltou para 8,2%. Nos anos de 1971 e 72 a taxa voltou a cair para pouco mais do que 4% a.a., mas em 1973 alcançou 8,7% e em 1974 chegou a 10,5% a.a. No triênio de 1975 a 1977 a taxa de juros se manteve a pouco mais do que 5% a.a., mas a partir de 1978 voltou a subir, alcançando 11,2% em 1979 e 16,4% a.a. em 1981 – a maior taxa de juros vigente em todo o período 1955-2015 (IPEADATA, 2019c).

Page 143: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

124

para a aquisição de máquinas agrícolas, bem como a quantidade de tratores de

rodas e de colheitadeiras automotrizes vendidos no Brasil no período 1969-1979:

Tabela 6 Crédito rural para investimento em máquinas agrícolas e a venda de tratores e colheitadeiras no Brasil – 1969-1979

Ano

Crédito rural para investimento em

máquinas e equipamentos

(R$)(1)

Venda no atacado de tratores de rodas e

colheitadeiras (unidades) Taxa de juros real (%)(2)

1969 694.000 9.977 -

1970 841.495.000 14.586 -1,85

1971 1.061.245.000 21.947 -2,34

1972 1.396.057.000 29.254 -0,43

1973 2.230.398.000 38.918 -0,61

1974 756.536.000 45.226 -14,5

1975 2.529.727.000 57.101 -11,13

1976 2.497.305.000 68.015 -21,34

1977 1.960.206.000 52.942 -14,99

1978 1.585.083.000 44.474 -16,19

1979 1.919.944.000 54.050 -31,72

Nota: (1) Valores deflacionados pelo IGP-DI (agosto de 1994 = 100). (2) Obtido pelo cálculo da taxa nominal (contratual) de juros, subtraindo-se a inflação do período.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados organizados por Baricelo e Vian (2017).

Observamos que, de certa forma, esses dados demostram uma relação

direta entre a quantidade de crédito disponibilizado e o volume de vendas. Pois,

não podemos deixar de verificar que quando o volume de crédito rural para

investimento em máquinas agrícolas começou diminuir, sobretudo a partir de 1976,

as vendas de tratores e colheitadeiras também regrediram, embora que se

mantendo em um nível superior ao do ano de 1973, por exemplo.

Provavelmente, o que manteve as vendas de máquinas agrícolas a partir da

segunda metade da década de 1970 foram as taxas de juros negativos. Como

podemos observar pelos dados da tabela 6 no ano de 1976 a taxa de juros foi de -

21% e em 1979 caiu para -31%, o que favoreceu os agricultores porque o preço

dos produtos agrícolas, provavelmente, cresceu a um ritmo semelhante ao da

inflação daquele período; por conseguinte, acima do crescimento das taxas

Page 144: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

125

nominais de juros para o crédito rural176.

Ressaltamos que a estabilidade das taxas de juros e, inclusive, os subsídios

praticados na década de 1970 beneficiaram os agricultores e, por conseguinte, a

indústria brasileira de máquinas agrícolas. Como citamos no início desse capítulo,

Keynes (1983) já observou a importância do controle das taxas de juros para o

investimento, pois juros altos são desinteressantes, mas a previsão de uma baixa

dos juros também desestimulará os investimentos, à medida que os

empreendimentos futuros (e concorrentes dos investimentos presentes) adquirirão

seus equipamentos a menor custo.

Outro fator importante para a eficiência marginal do capital177 em economias

não planificadas, é a estabilidade monetária. De acordo com o entendimento de

Keynes, além do controle das taxas de juros é imprescindível controlar a moeda,

pois uma previsão de desvalorização cambial futura estimulará o investimento.

Porém, uma expectativa de valorização monetária o desestimulará, à medida que

os novos investimentos serão beneficiados por uma moeda mais forte, tornando-os

mais competitivos.

Aliás, os dados utilizados no estudo de Almeida e Bacha (1999) – sobre as

políticas cambiais brasileiras – demostram que no período 1968 a 1978 as taxas de

câmbio praticamente não variaram178, o que nos faz pensar que assim como as

políticas de crédito para investimento, também foi importante a estabilidade

monetária. Aquela conjuntura beneficiou as vendas internas da indústria brasileira

de máquinas agrícolas.

Porém, verificamos que a partir da década de 1980 ocorreram profundas

mudanças na política econômica brasileira e que refletiram sobre a indústria de

máquinas agrícolas (o que trataremos na segunda seção).

176 O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas – o mesmo utilizado para aferir a inflação brasileira naquele período pelo estudo de Baricelo e Vian (2017) –, leva em consideração inclusive a evolução do preço das matérias-primas agrícolas, o que nos faz pensar que, especialmente nos últimos anos da década de 1970, o preço médio dos produtos agrícolas deve ter crescido acima das taxas nominais de juros dos financiamentos. 177 Keynes (1983), considera a eficiência marginal do capital como a relação, a diferença entre a renda esperada de um determinado bem de capital e seu custo de reposição. Grosso modo, é a taxa de lucro futura esperada para determinado investimento realizado no presente. 178 Almeida e Bacha (1999) observaram que de 1964 a 1968 predominou a política de maxivalorização cambial – pois nesse período ocorreram apenas três correções da taxa de câmbio –, que obteve sucesso na estabilização monetária, mas facilitou a especulação. Então, a partir de 1968 se optou pelas minidesvalorizações, que desestimularam a especulação e conseguiram manter as taxas cambiais relativamente estáveis.

Page 145: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

126

CONSIDERAÇÕES DA SEÇÃO I

A análise que realizamos nesses quatro capítulos nos mostra que o

desenvolvimento da indústria brasileira de máquinas agrícolas não foi condicionado

apenas por fatores técnicos, isto é, inerentes à produção industrial propriamente

dita, mas também por fatores institucionais, especialmente por alguns instrumentos

do planejamento econômico, comandado pelo Estado brasileiro.

Como abordamos no primeiro capítulo, pelo menos até o final do século XIX

não se estimulou o desenvolvimento de um setor siderúrgico interno que

conseguisse produzir ferro (matéria-prima essencial inclusive para a indústria de

máquinas agrícolas) de qualidade (e nem mesmo em quantidade). Em parte isso

se deve ao fato de que as atividades agroexportadoras (sobretudo o café),

especialmente até a crise de 1874, foram rentáveis, o que orientou as políticas

econômicas do período para a economia cafeeira e não ao investimento na

mineração de ferro, na siderurgia e na indústria em geral. Portanto que a partir das

décadas de 1870 e 1880, quando uma nova fase recessiva da economia mundial

prejudicou as exportações brasileiras, a economia do país, em parte, se voltou para

o mercado interno, investindo em setores mais simples (têxteis, alimentos, carnes)

e, especialmente no estado de São Paulo, inclusive em algumas fábricas de

máquinas que surgiram a partir do comércio importador, que além de consertar os

equipamentos importados, paulatinamente começou fabricar maquinaria mais

simples, geralmente para o beneficiamento de café e da cana-de-açúcar.

Também, não podemos esquecer que ao longo do século XIX, de certa

forma, existia mão de obra disponível, sendo que até 1888 por meio da utilização

do trabalho escravo e a partir dessa época com a utilização de colonos imigrantes.

Essa força de trabalho relativamente abundante, de certa forma, contribuiu para

atrasar a mecanização da agricultura do país. Aliás, constatamos que as primeiras

fábricas de máquinas agrícolas (como as empresas Arens & Irmãos e a Cia. Mac-

Hardy) surgiram especialmente na região de Campinas – SP, onde já se utilizava

menos o trabalho escravo que, paulatinamente, começou a ser substituído pela

força de trabalho de homens livres e com o uso de máquinas e implementos

importados.

Page 146: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

127

No segundo capítulo, verificamos que, por um lado, especialmente a partir

das últimas décadas do século XIX imigrantes europeus passaram a substituir a

mão de obra escrava na agricultura brasileira. Além disso, observamos que alguns

desses imigrantes trouxeram de seus países de origem conhecimento técnico sobre

produção industrial, inclusive sobre a fabricação de máquinas agrícolas. Além das

empresas acima citadas, fundadas por estrangeiros, ressaltamos que a partir das

primeiras décadas do século passado outras fábricas de máquinas agrícolas

começaram surgir no estado de São Paulo, como as Indústrias Nardini, Dedini

Indústria de Base e Indústrias Romi S.A., fundadas por imigrantes italianos.

Há de se lembrar que no Rio Grande do Sul, outro estado que recebeu

muitos imigrantes italianos e alemães, algumas fábricas de máquinas agrícolas

também começaram surgir a partir da última década do século XIX e início do

século passado, como a Oficina Mecânica e Agrícola De Antoni & Cia. e a

Metalúrgica Eberle (fundadas por imigrantes italianos); a Trilhadeiras Friedrich e a

Schneider Logemann & Cia (SLC), fundadas por descendentes de alemães, entre

outras.

Porém, a indústria mais moderna de máquinas agrícolas só se consolidou

no Brasil a partir das décadas de 1960 e 70 porque as condições técnicas e,

inclusive, institucionais começaram surgir. Por exemplo, no início da década de

1920 começou se desenvolver internamente a siderurgia (com empresas como a

Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira – CSBM), que se consolidou a partir da década de

1950 com estatais como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Fábrica

Nacional de Motores (FNM). Mas, a participação mais direta do Estado no que

concerne à indústria de máquinas agrícolas ocorreu a partir do final da década de

1950, quando no bojo do Plano de Metas (do governo JK) foi criado o Grupo

Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) e o Plano Nacional da Indústria de

Tratores de Rodas, atraindo para o país as multinacionais fabricantes de tratores

agrícolas (Massey-Ferguson, Fendt, Valmet, Ford e Demisa-Deutz) e inclusive uma

empresa de capital nacional, a Cia. Brasileira de Tratores (CBT).

Portanto, observamos que essas ações foram de suma importância porque

a indústria de máquinas agrícolas mais complexa (como a fabricação de tratores,

colhedoras, pulverizadores automotrizes etc.) depende, tanto da indústria de base

Page 147: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

128

(principalmente da produção de ferro e aço) como dos segmentos automotivo e de

autopeças.

Ressaltando que a ação do Estado não se limitou ao incentivo à produção

industrial, pois também ocorreu a partir da formação de demanda. Observamos que

foi imprescindível a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), ocorrido

em meados da década de 1960, à medida que é possível verificamos que a partir

da década de 1970 a venda de máquinas agrícolas, praticamente, acompanhou a

evolução do volume de crédito rural disponibilizado para investimento.

De certa forma, essa primeira seção da pesquisa nos mostrou que a indústria

brasileira de máquinas agrícolas se desenvolveu a partir do momento em que

existia, internamente, uma capacidade produtiva subutilizada, ociosa. Por exemplo,

a indústria de tratores agrícolas só se desenvolveu a partir da década de 1960, mas

desde o final da década de 1940 já se produzia (embora que artesanalmente)

tratores agrícolas, como foi o caso da empresa Romi que ainda em 1948 lançou um

modelo de trator (o Imor Toro).

Além disso, observamos que em meados do século passado a agricultura

brasileira necessitava de mecanização devido ao reduzido número de máquinas

existentes, como abordamos no quarto capítulo. Em outras palavras, constatamos

que a carência de mecanização no setor agrícola gerou oportunidades (um gargalo)

para investimentos na indústria de máquinas agrícolas que estava emergindo no

país.

Enfim, verificamos que especialmente a partir do final da década de 1950 se

utilizou no Brasil alguns instrumentos do planejamento econômico (tanto para o

incentivo da produção industrial como à formação de demanda para os seus

produtos) o que, de certa forma, conseguiu utilizar a capacidade produtiva ociosa

ao estimular a indústria de máquinas agrícolas a produzir para um setor que se

constituía como um gargalo para investimentos179.

179 Aliás, Rangel (1990b) observou que quando foi criado o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) já existia capacidade produtiva ociosa no país, pois se contava com cerca de 1.600 empresas que dariam apoio (autopeças etc.) às montadoras estrangeiras que se instalariam no Brasil.

Page 148: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

131

SEÇÃO II

DO ESTADO PLANEJADOR AO DOMÍNIO DO CAPITAL EXTERNO SOBRE A

INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Page 149: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

CAPÍTULO V

A CRÍTICA À “INDUSTRIALIZAÇÃO A QUALQUER CUSTO” E OS EFEITOS

SOBRE A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Sem a redução da ociosidade, a luta contra a inflação se converte em luta pela estagnação da economia, porque conduz à busca de um equilíbrio no estancamento ou na retração, e não no crescimento. (RANGEL, 1980, p. 25).

A conjuntura econômica que começou se desenvolver por volta de 1973,

quando ocorreu um brusco aumento no preço internacional do petróleo – e que,

aliás, se intensificou a partir do final daquela década – pesou consideravelmente

sobre a economia mundial. No Brasil esses acontecimentos repercutiram sobre a

política econômica e, consequentemente, no processo de industrialização.

Nesse capítulo, analisaremos as mudanças ocorridas especialmente no

sistema de crédito rural, bem como avaliaremos o comportamento das vendas e da

produção da indústria brasileira de máquinas agrícolas a partir da década de 1980.

5.1 Os “Choques do Petróleo” e os Rumos da Política Econômica Brasileira

Se analisarmos a evolução da cotação internacional do petróleo,

verificaremos que, de fato, principalmente nos períodos 1973-74 e 1978-79

ocorreram altas consideráveis. Por exemplo, ao longo da década de 1960 o preço

do barril esteve sempre abaixo de 1,85 dólares (US$), mas no ano de 1970

alcançou US$ 2,18; em 1973 já estava em US$ 3,24 e em 1974 saltou para US$

11,60. Desse período até 1978 o preço se manteve estável, por volta de US$ 12,

mas em 1979 chegou a US$ 29,83 e em 1980 alcançou 35,71 dólares o barril180.

Em 1985 o preço ainda estava em alta, US$ 27,37, mas a partir do ano seguinte

começou regredir, fechando em US$ 14,17, mantendo-se relativamente estável até

o final da década de 1990 (IPEADATA, 2019d)181.

180 O aumento do preço do petróleo faria, por exemplo, a CBT lançar, no ano de 1981, dois modelos de tratores agrícolas movidos a álcool (CBT, 2018). Aliás, no ano de 1984 a multinacional Massey Ferguson também lançou modelos de tratores a álcool (MASSEY FERGUSON, 2018). 181 Escrevemos, “relativamente” estável porque verificamos que o preço oscilou nesse período, por exemplo, fechando em US$ 14,77 no ano de 1988, mas subindo para US$ 22,99 em 1990, porém voltando a cair para US$ 13,07 o barril no ano de 1998 (IPEADATA, 2019d).

Page 150: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

131

Segundo Rangel (1990b), no período 1938-1973 ocorreu uma fase

ascendente (fase “a”) da economia, na qual a produção industrial no bloco de

países capitalistas cresceu a 5,3% ao ano (a.a.), sendo que no Japão e no Brasil

cresceu, respectivamente, a 11,7 e a 16%; enquanto que a indústria da URSS

cresceu a 19% a.a. Porém, a partir de 1973 iniciou a fase recessiva daquilo que

Rangel denominou o “quarto ciclo de Kondratiev” e ao contrário do que ocorreu na

fase anterior o desempenho da produção industrial foi bem inferior, crescendo a

apenas 2,1% a.a. no bloco de países capitalistas – inclusive no Japão e no Brasil,

onde cresceu a apenas 3,3% (nos dois países) – e a 4,6% a.a. na URSS.

Como mencionamos no primeiro capítulo, os ciclos longos da economia, em

parte, são impulsionados por matrizes tecnológicas que estimulam a produção e o

comércio mundial. Por exemplo, durante a fase “a” do 1º ciclo (1790-1815) o

crescimento econômico foi estimulado pelas inovações que surgiram em torno da

utilização da máquina a vapor; enquanto que na fase ascendente do 2º ciclo (1849-

1874) a economia foi impulsionada pelo uso das ferrovias e da siderurgia moderna;

na fase “a” do 3º ciclo (1896-1822) foi impelida pelas engenharias elétrica e química

e a partir do 4º ciclo (1949-1973) foi alavancada pela indústria petroquímica e de

automóveis182.

Portanto, em relação ao quarto ciclo longo nos parece que o que se chama

de “choques do petróleo” faz parte de um processo inerente a uma nova fase

recessiva da economia mundial, na qual se evidencia que a matriz tecnológica que

impulsionou o referente ciclo (a indústria petroquímica, como mencionamos) estava

se esgotando e que, portanto, teria que se criar urgentemente políticas econômicas

anticíclicas183.

5.1.1 A crise de 1973 e a política monetária dos Estados Unidos

Verificamos que desde o início dos anos 1970 algumas mudanças vinham

182 Sobre esse tema, ver: Kondratieff (1946) e Rangel (1990b). 183 Existe uma série de indícios de que a partir do final dos anos 1960 as forças impulsionadoras do 4º ciclo longo já estavam se esgotando. Por exemplo, Barros de Castro (1979) menciona que a inflação dos Estados Unidos, que no período 1961-1965 foi de apenas 0,4% a.a., de junho de 1973 a junho de 1974 alcançou 14%. Outro indício: até os anos 1950 os EUA era autossuficiente em matérias-primas, mas a partir do final da década de 1960 começou depender fortemente das importações, especialmente de combustíveis e de outros derivados do petróleo.

Page 151: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

132

ocorrendo, reagindo à conjuntura recessiva que começava se instalar nos países

mais desenvolvidos. Algumas dessas mudanças, aparentemente, seriam de

consenso universal e outras de caráter unilateral. Ambas impactariam sobre a

econômica brasileira, inclusive abalando o processo de industrialização.

Entre as mudanças desse período que praticamente se tornaram

“inquestionáveis”, destacamos o conceito de “desenvolvimento sustentável” que se

apoiava em um estudo produzido por pesquisadores do Massachusetts Institute of

Technology (MIT), que foi apresentado na primeira Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo (na Suécia) no ano de 1972. Esse

relatório anunciava um cenário de esgotamento dos recursos naturais (minérios,

fontes de energia etc.) – portanto, apresentando os “limites do crescimento” – e que

o grande dilema da humanidade seria apresentar um sistema produtivo alternativo,

menos agressivo ao meio ambiente (MEADOWS et al., 1978).

Porém, ainda no início daquela década alguns economistas verificaram o

aparato ideológico existente em torno do referido relatório do MIT, que foi

encomendado pelo Clube de Roma, instituição que reunia grandes empresários e

políticos importantes da época. Por exemplo, Celso Furtado criticou a ação das

grandes corporações capitalistas que utilizaram a problemática ambiental para

ocultar seus verdadeiros interesses que, no seu entendimento, seria paralisar o

crescimento, freando a industrialização nos países periféricos e, dessa forma,

preservar os recursos que estariam se esgotando (FURTADO, 1974)184.

Mas, verificamos que a “geopolítica ambientalista” não seria o único e nem

o mais importante dos instrumentos utilizados pelos países centrais para defender

seus interesses a partir da “crise do petróleo”. Antes mesmo da recessão se

apresentar o governo dos Estados Unidos, Richard Nixon, já havia agido sobre a

política monetária, rompendo com o acordo de Bretton Woods – aquele que

estabelecia que o dólar deveria ser lastreado pelo ouro (paridade dólar-ouro) –, que

havia sido selado no ano de 1944 no seu próprio país. Ocorre que a partir de 1971

o dólar-ouro seria substituído pela paridade dólar-dólar, isto é, transformando a

184 Oliveira (2012), chegou a comparar (parece-nos que acertadamente) o uso ideológico do conceito de “desenvolvimento sustentável” à teoria malthusiana, quando Malthus afirmava, grosso modo, que como o crescimento populacional seria muito grande, faltaria alimentos para toda a população. Isto é, Oliveira verifica que ambas as “teorias” servem como ideologias para justificar ou para naturalizar o processo, camuflando a concentração de renda e as desigualdades entre países.

Page 152: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

133

moeda estadunidense em fiduciária, fazendo com que os demais países

procurassem obter dólares como reserva, por conseguinte, subordinando-os ao

sistema financeiro controlado pelos EUA; o que permitiu a esse país se tornar um

captador de recursos, como observou Fiori (2008)185.

Aliás, há de se mencionar que desde o início da década de 1960 alguns

economistas liberais defendiam uma solução para os déficits no balanço de

pagamentos dos EUA, substituindo o padrão dólar-ouro pelo câmbio flexível. Por

exemplo, Milton Friedman, que na década de 1980 seria consultor do governo

Reagan, foi um dos defensores dessa política monetária (FRIEDMAN, 1984).

Segundo Gowan (2003), essa ruptura com o acordo de Bretton Woods

permitiu aos EUA uma condição de vantagem no sistema financeiro internacional,

de modo a não ser pressionado pelo balanço de pagamentos, podendo até importar

mais do que exporta. E o principal instrumento utilizado pelo governo dos EUA para

controlar o fluxo internacional de capitais, foi a taxa de juros, grosso modo,

mantendo-a baixa quando houver dólares disponíveis para serem emprestados e,

por outro lado, elevando os juros quando a moeda interna escassear, na intenção

de resgatar os dólares que estiverem fora do país186.

Se analisarmos a variação das taxas de juros do Federal Funds dos EUA

(Fed) – grosso modo, equivalentes à taxa Selic de juros no Brasil –, verificaremos

que, de fato, a partir de 1973 e 74 (primeiro choque do petróleo) os juros

começaram subir, se estabilizando a partir de 1975, mas voltando a crescer a partir

de 1979 (segundo choque do petróleo). Por exemplo, em 1972 a taxa de juros do

FED foi de 4,3% a.a., mas saltou para 8,7 em 1973 e para 10,5% no ano de 1974.

No triênio 1975-77 as taxas se estabilizaram em pouco mais do que 5%, mas em

1978 subiram para 7,9%; em 1979 para 11,2%; em 1980 para 13,4 e em 1981

atingiram 16,4% a.a., a maior taxa de juros observada para todo o período 1955-

185 Metri (2017), ressalta que ainda em 1971, Richard Nixon já havia firmado um acordo com a Arábia Saudita para garantir que os preços internacionais do petróleo fossem nominados apenas em dólares. E no início de 1973, portanto, antes do primeiro choque do petróleo, políticos e banqueiros internacionais (reunidos em um encontro na Suécia) se articularam vislumbrando a lucratividade que os bancos dos EUA e da Inglaterra teriam com o aumento do preço do petróleo; pois já se previa a futura ação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Então, o governo dos EUA procurou consolidar o dólar como a moeda de cotação dessa importante commodity. 186 Por exemplo, ao prever que a partir de 1979 ocorreria um novo “choque do petróleo” os EUA aumentou as taxas de juros na intenção de resgatar os dólares emprestados para os países em desenvolvimento o que, consequentemente, desestabilizou suas as economias (GOWAN, 2003).

Page 153: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

134

2015, como destacamos anteriormente (IPEADATA, 2019e).

Gowan (2003), realizou um estudo referente aos efeitos da elevação dos

juros sobre as economias dos países da América Latina, o qual lhe permitiu afirmar

que nesse continente (e no hemisfério Sul em geral) ocorreu uma forte fuga de

dólares em direção à Wall Street, o que fortaleceu o sistema financeiro dos EUA,

pois os países latino-americanos necessitavam de divisas (e em dólares) para

pagar os serviços de suas dívidas, além de dependerem da ajuda do Fundo

Monetário Internacional (FMI) para cobrir os riscos dos operadores financeiros187.

5.1.2 A política econômica brasileira receitada pelo FMI e a indústria de

máquinas agrícolas

Rangel (1981) e Mamigonian (2000), ressaltam que nas fases recessivas

dos ciclos longos a política econômica brasileira costuma reagir substituindo

importações. Por exemplo, a partir da década de 1830 surgiram várias indústrias

artesanais, especialmente no Rio de Janeiro e na Bahia, geralmente destinadas à

fabricação de tecidos; enquanto que nas últimas décadas do século XIX iniciou a

industrialização pelo setor de bens de consumo tradicional (vestuário, calçados,

moinhos para o processamento de cereais etc.) e a partir de 1930 com uma

industrialização mais moderna e induzida (planejada) pelo Estado.

Porém, verificamos que a partir da fase recessiva do quarto ciclo longo da

economia a industrialização não foi prioridade nas políticas econômicas brasileiras,

especialmente a partir das décadas de 1980 e 1990.

Ao estudar os rumos da economia brasileira no período que compreende os

primeiros anos da fase recessiva do referido 4º ciclo longo, Barros de Castro (1985)

verificou que durante o II PND (1975-79) o planejamento foi efetivo em relação à

industrialização. Ele afirma que o então Ministro do Planeamento, João Paulo dos

187 De acordo com Souza (1985), em 1967 a dívida externa bruta de médio e longo prazos do Brasil era de 3,3 milhões de dólares, passando a US$ 12,6 milhões em 1973; para US$ 43,5 milhões em 1978, alcançando mais de 91 milhões de dólares no ano de 1984. A situação financeira do país se tornou tão grave que em 1984 as reservas internacionais brasileiras eram de apenas 11,9 milhões de dólares, o equivalente a apenas 13,1% da dívida externa bruta daquele mesmo ano. Segundo Katz (2005), de 1979 a 1982, US$ 20 bilhões foram retirados da Argentina (fuga de capitais); no México foi retirado US$ 30 bilhões entre os anos de 1979 e 1983 e no Brasil 24 bilhões de dólares saíram do país no período 1984-1987. No seu entendimento, a desvalorização cambial, a elevação das taxas locais de juros, a especulação financeira e a alta inflação contribuíram para essa situação.

Page 154: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

135

Reis Velloso, mantinha diálogo constante com empresários da indústria de base188,

pois entendia que a indústria pesada (siderurgia, máquinas e equipamentos,

fertilizantes, petroquímica e metais não-ferrosos), tendo rentabilidade baixa e longo

tempo de maturação, desestimularia os investimentos do setor privado, cabendo

ao Estado incentivar esse setor.

Segundo Velloso (1998), o II PND realizou maciços investimentos em

insumos básicos (siderurgia, petroquímica, metais não-ferrosos, papel e celulose);

em bens de capital e energia (petróleo, energia elétrica, álcool). Mas, afirma que os

resultados desse projeto só apareceriam a partir de 1983/84; ressaltando que de

1974 a 1984 o Brasil passou de importador a exportador de bens de capital, saindo

de um déficit de US$ 2,6 bilhões para um superávit de quase 1 bilhão de dólares.

Portanto, verificamos que nesse período a equipe do Ministério do

Planejamento realizava a programação da economia de modo a prospectar as

possíveis áreas com capacidade produtiva ociosa. Além disso, captava recursos

para investir nas áreas prioritárias, nos gargalos para investimentos189, de certa

forma, conforme sugere Rangel (1980).

Porém, constatamos que ao iniciar a conjuntura de recessão, escancarada

a partir de meados da década de 1970, ocorreram profundas mudanças na política

econômica brasileira, refletindo no processo de industrialização que há anos vinha

sendo prioridade, como citamos nos capítulos 3 e 4. Ocorre que, de acordo com

Barros de Castro (1985), a partir de agosto de 1979, Delfim Netto assumiu o

Ministério do Planejamento e começou um ajuste ortodoxo da economia, inclusive

seguindo o receituário do FMI que defendia os preceitos da economia de mercado.

As sugestões do FMI levaram o governo brasileiro a: 1) acabar com os subsídios

188 Verificamos que mesmo antes do II PND já existia a prática de membros do governo dialogarem com empresários de setores estratégicos da indústria brasileira. Por exemplo, na página eletrônica da indústria Jacto – que produz, em Pompéia – SP, equipamentos para a aplicação de defensivos agrícolas etc. – encontramos a informação de que no ano de 1964 o proprietário dessa empresa (Shunji Nishimura ) foi recebido pelo presidente da República, que lhe concedeu benefícios para efetuar a importação de tecnologia: “1964 A Jacto importa da Alemanha uma máquina sopradora Kautex modelo B13, que permitiu substituir o metal pelo plástico nos pulverizadores costais. Com os defensivos líquidos, o uso do plástico permitiu resolver o problema da corrosão nos tanques dos pulverizadores. Para viabilizar essa nova era foi fundamental para a Jacto a dispensa do pagamento de um depósito compulsório exigido nas importações. O então presidente da República, Castelo Branco, recebeu Shunji Nishimura e liberou a exigência.” (JACTO, 2018 – Linha do Tempo). 189 Barros de Castro (1985), ressalta que, de certa forma, as diretrizes do II PND foram alcançadas, não ocorrendo problemas econômicos, mas aconteceram problemas políticos, principalmente devido à corrupção e à impunidade que, no seu entendimento, são comuns nas ditaduras.

Page 155: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

136

às exportações (o que afetou a balança comercial); 2) extinguir os depósitos prévios

(o que dificultou ao Estado captar recursos); 3) relaxar os critérios de similaridade

(o que desprotegeu a indústria nacional); 4 desmantelar os mecanismos de juros

subsidiados (o que prejudicaria, inclusive a agricultura e a indústria de máquinas

agrícolas); 5) promover uma brusca desvalorização cambial, o que aumentou

consideravelmente a dívida externa do país.

Além disso, a partir de 1979, Delfim Netto passou a criticar a “industrialização

a qualquer custo”, o que no seu entendimento seria o erro principal da política

econômica do governo Geisel (1974-79)190, afirmando que seria mais vantajoso ao

país exportar produtos agrícolas e minerais. De acordo com Barros de Castro, no

início da década de 1980 o referido Ministro do Planejamento acreditava que a

maior prioridade para o Brasil seria o Projeto Carajás.

Portanto, nos deparamos com uma teoria econômica tipicamente ricardiana.

Nesse caso, a exportação de commodities foi concebida como uma “vantagem

comparativa” do Brasil no comércio internacional (a “vocação nacional”)191.

Pelo estudo de Fürstenau (1987), podemos ter noção sobre as

consequências que essa política ortodoxa traria para a economia brasileira,

inclusive para o segmento de máquinas agrícolas. Essa autora ressalta que a taxa

de juros para o crédito rural, no período 1968-1976, foi de 10% a.a. para os

pequenos produtores e de 15% para os médios e grandes. Mas, a partir de 1979 a

taxa de juros para o custeio subiu, alcançando 24% a.a. para os mini e pequenos;

33% para os médios e 44% para os grandes produtores. No ano de 1980 a taxa de

juros foi ainda maior, alcançando 45% para os mini e pequenos, 54% para os

médios e 63% a.a. para os grandes agricultores.

Há de se destacar que a partir de 1983 o FMI intensificou sua influência

sobre a política de crédito rural no Brasil, por exemplo, receitando cortes nos

subsídios à agricultura, o que obrigou o Conselho Monetário Nacional (CMN)

modificar o sistema a partir de 1984, ano em que a taxa de juros passou a ser de

100% da correção monetária, acrescida de 3% a.a., o que resultou em uma redução

190 Parte da grande imprensa brasileira também criticava o governo Geisel por “intervir na economia”. Conforme lembrou Barros de Castro (1985), no início da década de 1980 o jornal O Estado de São Paulo chegou a acusar Geisel de ser “socialista”, devido à participação estatal na indústria de base. 191 Como mencionamos no capítulo 3, Ricardo (1982) acreditava que mesmo as nações mais atrasadas poderiam se beneficiar do comércio internacional, pois inclusive os países não-industrializadas poderiam ser competitivos em alguns produtos (geralmente, mais simples).

Page 156: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

137

de 40% no crédito rural disponibilizado no país, como observou Fürstenau.

Delgado (1985), já havia observado que devido ao aumento da taxa de juros

o percentual de crédito rural destinado à aquisição de tratores agrícolas havia

diminuído no período 1975-1980, caindo de 13,5 para 9,4% do total de crédito rural

disponibilizado. Nesse período a participação do crédito para a aquisição de

tratores agrícolas caiu, em média, a 6% a.a., enquanto que o destinado ao

investimento em máquinas e implementos agrícolas (o setor em geral) diminuiu

ainda mais, cerca de 7% a.a.; pois sua participação no total de crédito rural caiu de

10,5%, no ano de 1975, para 6,8% em 1980.

De acordo com o estudo de Baricelo e Vian (2017), podemos verificar que a

partir da década de 1980 o montante de crédito rural disponibilizado para a

aquisição de máquinas agrícolas caiu ainda mais bruscamente. Por exemplo, o

volume de crédito que havia alcançado 2,5 bilhões de reais, no ano de 1975, em

1979 caiu para 1,9 bilhões; no ano de 1982 caiu para 44,6 milhões e em 1984 para

apenas R$ 14,1 milhões. Portanto, se efetuarmos os cálculos verificamos que o

volume de crédito de 1984 equivale a apenas 0,6% do valor que havia sido

disponibilizado no ano de 1975192.

Segundo dados levantados por Baricelo e Vian, observamos que nesse

contexto – de diminuição do volume de crédito e de aumento das taxas de juros –

a quantidade de máquinas agrícolas vendidas no Brasil também reduziu, caindo de

68.015 unidades, no ano de 1976, para 27.900 em 1982 e para 26.058 no ano de

1983, como apresentamos pelos dados da tabela 6 (capítulo anterior).

Pelos dados do gráfico 10, podemos observar que a partir do ano de 1980

reduziu consideravelmente a utilização da capacidade produtiva da indústria

brasileira. Por exemplo, se em anos como 1973 e 74 a taxa de utilização chegou a

quase 90%, por outro lado, em anos como 1983 e 84 a taxa de utilização caiu para

73 e 74%, respectivamente. Ou seja, verificamos que nessa conjuntura de aumento

das taxas de juros e de mudanças na política econômica (especialmente quando

começou se combater a “industrialização a qualquer custo”), aumentou a

ociosidade, a subutilização da indústria brasileira em geral.

192 Se ao longo da década de 1970 a estabilidade monetária contribuiu para os investimentos, inclusive em máquinas agrícolas, verificamos que a partir de 1979 a intensa variação cambial – que pode ser observada pelo estudo de Almeida e Bacha (1999) e pelos dados do Ipeadata (2020) – dificultou os investimentos no Brasil, principalmente devido à desvalorização da moeda.

Page 157: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

138

Gráfico 10 Utilização da capacidade instalada da indústria brasileira – 1970-1989

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da FGV, organizados pelo IPEA (2011).

No segmento de fabricação de máquinas agrícolas a ociosidade foi ainda

maior nesse período. Delgado (1985), verificou que no segundo semestre de 1982

a capacidade ociosa da indústria de tratores e máquinas para a agricultura atingiu

em torno de 60%. Fonseca (1990), menciona que nesse mesmo ano a ociosidade

nas fábricas brasileiras de tratores agrícolas alcançou cerca de 62%, pois foram

fabricadas 30.346 unidades, mas naquela época as empresas já teriam capacidade

para produzir até 80.000 tratores.

Pelos dados da Anfavea (2019), também podemos observar a subutilização

da capacidade produtiva da indústria brasileira de máquinas agrícolas naquele

período, especialmente das fábricas de tratores e colheitadeiras de grãos. Por

exemplo, a Massey Ferguson do Brasil, que no ano de 1975 havia produzido 29.433

tratores de rodas, no ano de 1983 produziu apenas 9.241 unidades. Ou seja, se

efetuarmos os cálculos, verificaremos que a produção de 1983 alcançou apenas

31,4% da produção obtida no ano de 1975.

Se analisarmos a evolução da produção de tratores de rodas da Valmet do

Brasil (a partir de 1996, Valtra), observaremos que nesse período também

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Utilização da capacidade instalada

Linear (Utilização da capacidade instalada)

Page 158: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

139

aumentou sua capacidade produtiva ociosa. Por exemplo, em 1983 essa empresa

fabricou apenas 6.317 tratores, o que equivale a 41,9% da produção do ano de

1976, no qual havia produzido 15.071 unidades.

Outro indicativo da subutilização da capacidade produtiva da indústria

brasileira de máquinas agrícolas, pode ser observado ao analisarmos a evolução

da fabricação de colheitadeiras automotrizes. A empresa Ideal193, que em 1976

havia produzido 737 colheitadeiras, no ano de 1983 fabricou apenas 332 unidades,

portanto, uma produção 55% menor. A unidade brasileira da multinacional Massey

Ferguson, que em 1976 havia produzido 1.918 colheitadeiras, no ano de 1982

produziu apenas 591 máquinas (por conseguinte, o que equivale a apenas 30,8%

da produção de 1976). A produção de colheitadeiras automotrizes da SLC (que em

1999 seria adquirida pela multinacional, Deere & Company, dos EUA) caiu de 2.311

unidades, em 1976, para 1.153 no ano de 1982, isto é, uma queda de cerca de 50%

da produção (ANFAVEA, 2019).

Portanto, verificamos que no início da década de 1980 a indústria de

máquinas e implementos agrícolas, até mais que outros segmentos industriais, foi

fortemente atingida pela recessão (agravada pelas políticas econômicas

implantadas no país), manifestando uma enorme taxa de ociosidade194.

Observamos que esse segmento industrial, que depende da formação de

demanda195 (sobretudo via crédito rural e com favoráveis), em uma conjuntura de

aumento da taxa de juros e de diminuição no montante de crédito rural, como

ressaltamos anteriormente, só poderia passar por uma dura crise196.

Rangel (1980), ressalta que quando um determinado planejamento

econômico falha ou se esgota cabe ao programador (entenda-se, a equipe

193 Em 1984 a empresa Ideal foi adquirida pelo grupo financeiro nacional Iochpe (mais tarde surgindo a marca Maxion), mas na década de 1990, ela foi adquirida pelo grupo internacional AGCO (que também adquiriu as marcas Massey Ferguson e Valtra). 194 Por exemplo, no ano de 1981 a Companhia Brasileira de Tratores sofreu uma queda de quase 62% de sua produção (CBT, 2018). 195 Em pesquisa de campo que realizamos no Show Rural Coopavel, 2019, verificamos que um pulverizador autopropelido, como o Uniport 4530 (da marca Jacto), custa mais de 1,2 milhão de reais e uma colheitadeira automotriz da New Holland, como do modelo CR 8.90, por exemplo, custa cerca de 1,5 milhão de reais, o que faz os produtores rurais recorrerem ao crédito para investimento. 196 Observamos que mesmo com a diminuição do volume de crédito rural o aumento da taxa de juros fez com que, cada vez mais, os produtores rurais ficassem dependentes do capital financeiro. Por exemplo, pelos dados dos censos agropecuários do IBGE, verificamos que o percentual de despesas dos estabelecimentos rurais em pagamento de juros e custos bancários aumentou nesse período, passando de 4,3%, em 1970; para 5,2% em 1975; para 6,1% em 1980 e para 8,9% do total de despesas no ano de 1985 (IBGE, 1975a; 1979; 1984 e 1991).

Page 159: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

140

encarregada pelas políticas econômicas) desenvolver um novo programa

econômico e que contenha instrumentos de ação mais eficientes, pois não se deve

(de forma alguma) abandonar o projeto de desenvolvimento econômico.

Aliás, em outro estudo, Rangel (1990b) apresenta dados mostrando que é

possível crescer mesmo durante as fases recessivas dos ciclos longos, desde que

haja planejamento eficiente. Ele aponta que alguns países da Ásia – que mais tarde

seriam chamados de “tigres” e “novos tigres asiáticos” – obtiveram um crescimento

consistente da produção industrial no período 1980-86. Por exemplo, nesse período

a produção industrial chinesa cresceu a 10,9% a.a.; a da Coreia do Sul a 12,1%; a

do Vietnã a 13,2%, enquanto que a indústria das Filipinas cresceu a 17,1% ao ano.

No entanto, verificamos que a partir do final da década de 1970 e início dos

anos 1980 o projeto de industrialização brasileira foi, praticamente, abandonado.

5.2 A Nova República e o “Problema da Inflação”

A partir de 1985, com a chegada de José Sarney ao poder, a indústria

brasileira de máquinas agrícola começou se recuperar. Por exemplo, a produção

da Massey Ferguson do Brasil que, como mencionamos anteriormente, havia caído

para apenas 9.241 tratores no ano de 1983, em 1986 subiu para 20.400 unidades

e no ano de 1987 fechou em 20.141. Porém, observamos que sua produção voltou

a encolher a partir dos anos seguintes, fechando o ano de 1989 em 12.263

unidades. Ressalta-se que apesar da retomada da produção dessa empresa,

verificada para o biênio 1986/87, ela ainda esteve bem abaixo do desempenho

alcançado nos anos 1975 e 76, nos quais a sua produção anual foi superior a 29

mil unidades (ANFAVEA, 2019).

Na Valmet do Brasil ocorreu uma recuperação ainda no período anterior,

pois a sua produção saltou de 6.317 tratores, no de 1983, para 14,026 em 1984,

mas voltaria a caiu para 12.434 no ano de 1986, fechando em 8.359 unidades em

1989. Inclusive, observamos que em nenhum dos anos da década de 1980 a

produção de tratores dessa empresa atingiu os números que havia alcançado, por

exemplo, em 1976, no qual havia fabricado 15.071 unidades.

No segmento de fabricação de colheitadeiras também ocorreu uma

recuperação da produção a partir de meados dos anos 1980, mas semelhante ao

Page 160: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

141

que ocorreu na indústria de fabricação de tratores, a produção regrediu no final

dessa década. Por exemplo, a empresa Ideal (de Santa Rosa – RS) aumentou sua

produção de 333 colheitadeiras, no ano de 1983, para 1.110 unidades em 1986,

mas no ano de 1989 a sua produção já havia caído para 524 colheitadeiras

(ANFAVEA, 2019).

A Massey Ferguson do Brasil também obteve aumento da produção de

colheitadeiras a partir de 1984, especialmente em 1986 e 87. Inclusive, essa

multinacional obteve um desempenho mais estável do que das suas concorrentes.

Por exemplo, produzindo 1.757 unidades no ano de 1987 e 1.642 em 1989. Porém,

observamos que durante toda a década de 1980, ela não alcançou a quantidade

fabricada em 1976, que havia sido de 1.918 colheitadeiras de grãos.

Outras fabricantes de colheitadeiras que obtiveram recuperação da

produção, foram a New Holland do Brasil e a SLC/John Deere. E semelhante ao

que ocorreu com as empresas concorrentes, acima citadas, elas tiveram diminuição

da produção nos anos finais da década de 1980.

Enfim, esses dados nos mostram que no final da década de 1980 ainda

existia grande capacidade produtiva ociosa na indústria brasileira de máquinas

agrícolas, pois a produção regrediu nos últimos anos197. Inclusive, acreditamos que

a recuperação que esse segmento industrial obteve especialmente no ano de 1986,

refere-se à política de crédito rural contida no Plano Cruzado (lançado em fevereiro

daquele ano) que ampliou o montante de recursos disponibilizados para a aquisição

de máquinas agrícolas. Por exemplo, pelos dados elaborados por Baricelo e Vian

(2017), constatamos que o crédito disponibilizado para a aquisição de tratores de

rodas e colheitadeiras de grãos passou de 14,1 milhões de reais, em 1984, para

R$ 2,4 bilhões em 1986. Mas, nos anos seguintes o montante de crédito diminuiria

consideravelmente, especialmente no ano de 1989, no qual o volume caiu para

apenas R$ 322 milhões.

Há de se mencionar que essa política econômica implantada a partir da

década de 1980, fundamentalmente, se preocupava mais com os equilíbrios fiscais

197 Por exemplo, Baricelo e Vian (2017) observaram que no período 1980-89 a ociosidade desse segmento industrial atingiu uma média superior a 50%. Eduardo Logemann – filho de Jorge Logemann e neto de Frederico Logemann, um dos fundadores da SLC –, em uma fala de 1995 relatou que no ano de 1989 (logo depois dele ter assumido a presidência da empresa) o mercado para os produtos da SLC havia encolhido cerca de 60% (SCHNEIDER, 1995).

Page 161: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

142

do que com um projeto de desenvolvimento econômico. De acordo com Averbug

(2005), Tancredo Neves defendia reformas estruturais, além de demonstrar a

intenção de combater com firmeza a inflação. Aliás, a questão do equilíbrio fiscal

mereceu destaque em sua campanha eleitoral de 1984, ficando famosa a sua frase:

“é proibido gastar”.

Há de se ressaltar que no primeiro ano do governo Sarney (1985) a inflação

anual atingiu 235,1%, portanto que o principal objetivo do Plano Cruzado era

congelar os preços na tentativa de conter a hiperinflação, conforme pode ser

observado nos artigos 36 a 39 do decreto-lei 2.283 de 27 de fevereiro de 1986

(BRASIL, 1986).

Em sua crônica sobre o Plano Cruzado, Averbug ressalta que em um

primeiro momento ele foi eficiente no controle da inflação, pois a fez baixar para

cerca de 60% a.a., no ano de 1986. Mas, critica esse plano por não ter conseguido

estabilizar a inflação, que ainda no ano de 1987 havia subido novamente,

alcançando 416%. Além disso, ele repreende essa política econômica por ter

congelado os salários com valores altos o que, no seu entendimento, teria aquecido

a demanda a ponto de deixá-la acima da capacidade produtiva daquela época.

Porém, o próprio Averbug destacou que grande parte dos empresários

brasileiros sabotou o congelamento de preços, por exemplo, ao fabricarem

produtos de qualidade inferior, com mudanças só incrementais com a intenção de

aumentar o preço (os produtos plus); cobrando ágio sobre a comercialização de

insumos importantes (como do cimento, por exemplo); diminuído a oferta para

provocar a falta de produtos no mercado (especialmente no segundo semestre de

1986) com a intenção de forçar o aumento de preços, entre outras ações198.

Ora, esses fatos nos fazem acreditar que em meados da década de 1980 a

demanda não estava “superaquecida” como mencionou Averbug, pois verificamos

que, ao contrário, na maioria dos setores industriais existia capacidade produtiva

ociosa, justamente pela demanda ser insuficiente.

Como essa pesquisa não objetiva avaliar especificamente a política

econômica do governo Sarney, mas analisar os efeitos dela sobre o setor produtivo,

198 Averbug (2005), ressalta que algumas empresas deixaram de fabricar determinados produtos que foram congelados com preços considerados “muito baixos”, o que resultou inclusive na falta de insumos para a própria produção industrial.

Page 162: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

143

mais particularmente sobre a indústria de máquinas agrícolas, destacamos que o

problema central desse período não foi o superaquecimento da demanda e a

“consequente hiperinflação”, pois observamos que a questão principal reside na

recessão que tornou a produção industrial brasileira menos eficiente, devido à

redução de investimentos públicos e ao aumento das taxas de juros (como

mencionamos anteriormente) que contribuíram para encolher o mercado interno.

Além dessa recessão que, como temos enfatizado, penalizou duramente o

setor de bens de produção, setor que só cresce se a economia estiver aquecida, o

aumento da inflação gerou um processo de especulação na comercialização de

terras, o que contribuiu para reduzir os investimentos produtivos (como em

máquinas agrícolas).

O gráfico 11 retrata a evolução dos investimentos realizados na aquisição de

terras e em máquinas agrícolas, no período 1970-1985:

Gráfico 11 Participação dos investimentos em máquinas agrícolas e em terras sobre o total dos investimentos dos estabelecimentos rurais brasileiros – 1970-1985

Nota: Os investimentos totais se desdobram em: terras adquiridas; bens e imóveis; novas culturas permanentes e reflorestamento; animais de produção e trabalho; máquinas e instrumentos; veículos e outros meios de transporte.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados dos censos agropecuários (IBGE, 1975a; 1979;

1984 e 1991).

14,3

19,8

9,2

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19,8

18,4 15,6

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1970 1975 1980 1985

Pe

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al

Máquinas e implementos agrícolas Terras adquiridas

Page 163: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

144

Destacamos que os dados desse gráfico nos mostram que o percentual de

investimentos em máquinas agrícolas cresceu até 1975, alcançando quase 20% do

total de investimentos dos estabelecimentos rurais, mas teve uma queda

considerável a partir da segunda metade da década de 1970, o que coincide com

a fase recessiva do quarto ciclo longo, conforme mencionamos anteriormente, em

que se reduziu o volume de crédito rural e começou aumentar as taxas de juros.

Observamos que a partir de 1980 o percentual de investimentos em maquinaria e

implementos agrícolas começou se recuperar, mas não obteve o percentual

alcançado em 1970. No entanto, o percentual de investimentos em terras obteve

uma queda inferior, mantendo-se acima do percentual de investimentos em

máquinas, como pode ser observado pelos dados do referido gráfico.

Para Delgado (1985), na intenção de fomentar o desenvolvimento de

grandes empreendimentos rurais – por meio da colonização privada, incentivos

fiscais e financiamentos com juros negativos – os governos militares criaram um

ambiente para a especulação financeira na compra de terras. No seu entendimento,

o fator que fez “gente” da cidade (industriais, comerciantes, banqueiros etc.) investir

na aquisição de terras, foi a possibilidade de possuírem títulos de propriedades

rurais como reserva de valor, o que lhes possibilitava acesso a financiamentos com

juros subsidiados199.

Em um artigo publicado em 1986, Rangel (2004) mencionou que como o

Brasil havia construído estradas dando acesso a novas glebas de terra e como

vinha aumentando a produtividade da agricultura, a tendência seria o preço da terra

declinar. Porém, ele verificou que nesse período ocorreu justamente o oposto.

Aliás, para Delgado (1985) os próprios governos militares se articularam ao capital

financeiro, concedendo incentivos fiscais, licitando terras e emitindo títulos

privados, inclusive de terras devolutas e pertencentes à indígenas.

Sobre a comercialização de terras agrícolas no país, Reydon (1992) também

observou que ocorreu um aumento considerável no preço. Por exemplo, no ano de

1970 o valor médio de venda de terra para lavoura, foi de 132,7 mil cruzeiros (Cr$)

199 Entre as empresas que no início da década de 1980 investiram em terras no Brasil, destaca-se a: Dedini (indústria de máquinas agrícolas); Belgo-Mineira e Gerdau (siderurgia); Vale do Rio Doce (mineração); Hering (têxtil); Perdigão (avícola); Klabin e Aracruz (celulose); Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa (construtoras); Cotrijui, Cotia e Cotriguaçu (cooperativas); Sinop S.A. e Indeco S.A. (colonizadoras); Sul América, Itaú e Bamerindus (bancos e seguradoras), entre outras (DELGADO, 1985).

Page 164: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

145

por hectare, mas em 1975 subiu para Cr$ 465,2 mil. Isto é, aumentou 350% em um

período de seis anos. No ano de 1977 o valor subiu para Cr$ 471,2 mil e no final

da década caiu um pouco, fechando em Cr$ 448,4 mil no ano de 1980. Em 1983 o

preço médio voltou a cair, mas em seguida subiu novamente, fechando em Cr$

482,6 mil por hectare no ano de 1985200.

Enfim, observamos que nesse contexto de recessão, marcado pelo aumento

da inflação, o setor produtivo foi prejudicado pela falta de investimentos, inclusive

devido à preferência por investir em ativos (como em terras) para evitar os efeitos

inflacionários sobre a moeda.

5.3 A Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas sob as Políticas Abertamente

Liberais

Se o Plano Cruzado, como destacamos anteriormente, focou no combate à

inflação, porém praticamente abandonando o projeto de industrialização, o Plano

Collor (de 1990) intensificou a “luta contra a inflação”, bem como contra as

instituições estatais, buscando promover uma abertura de mercado, o que expos

as empresas brasileiras à concorrência dos produtos estrangeiros, debilitando

inclusive a indústria brasileira de máquinas agrícolas.

O governo Collor de Mello assumiu o poder no início de 1990 depois do país

ter passado por uma inflação anual de 1.783% no ano de 1989, o que lhe deu

argumentos para centralizar suas políticas no combate à hiperinflação, inclusive

tendo apoio de renomados economistas brasileiros201. Não foi por acaso que o

Plano Collor, priorizou a retenção de parte das poupanças, pois para os

economistas ortodoxos que o formularam a inflação seria resultado de um “excesso

200 Há de se ressaltar que Reydon (1992) utilizou valores deflacionados. 201 Alguns economistas brasileiros, tais como Marcos Cintra de Albuquerque e Mário Henrique Simonsen, pelo menos em um primeiro momento, concordaram com o Plano Collor, de que o principal problema do Brasil seria a estabilização da inflação. Por exemplo, Simonsen (1990) até se mostrou despreocupado com os problemas técnicos que esse plano poderia apresentar, mas se atentou para a sua execução, se preocupando com as possíveis rejeições que o plano poderia enfrentar por conter medidas impopulares. Albuquerque (1990) foi mais longe ao elogiar o Plano Collor e por defender a sua aplicação, mesmo que levasse o país a uma recessão, que aumentasse o desemprego e causasse perdas aos trabalhadores. Porém, há de se destacar que naquela época outro renomado economista, Paul Singer, já havia criticado o Plano Collor por se apoiar no receituário monetarista e não atacar o real problema que, no seu entendimento, seria à má distribuição de renda, histórica no país (SINGER, 1998).

Page 165: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

146

de dinheiro circulando”. Porém, a história nos mostrou que essa “panaceia” utilizada

para combater os males da inflação não obteve sucesso, pois ela não reduziu,

inclusive aumentou nos anos seguintes202.

Outro ponto a ser ressaltado é que o Plano Collor continha um programa de

desmantelamento da política tarifária (justificada pela ideia de “tornar a indústria

brasileira mais competitiva”), por conseguinte, destruindo um importante

instrumento que havia sido utilizado para proteger a indústria brasileira,

especialmente durante a década de 1970203.

Há de se enfatizar que essa política de abertura econômica refletiu

consideravelmente sobre a indústria brasileira de máquinas agrícolas, pois a

redução tarifária facilitou as importações. Por exemplo, se analisarmos os dados

referentes ao comércio exterior das empresas fabricantes de tratores,

colheitadeiras etc., constataremos que elas passaram a importar máquinas

agrícolas, portanto, aumentando a concorrência para a produção interna que já

estava debilitada (tabela 7):

Tabela 7 Exportações e importações da indústria brasileira de máquinas agrícolas automotrizes – 1989-1994*

Ano

Valor do comércio exterior das empresas**

Mil US$

Exportações Importações Saldo

1989 605 154 451 1990 512 200 312 1991 258 88 170 1992 364 107 257 1993 305 170 135 1994 454 316 138

Nota: *Refere-se ao comércio exterior das empresas associadas à Anfavea, que são as principais que atuam nesse segmento no Brasil. **Consiste no valor das máquinas agrícolas automotrizes, motores e componentes.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2010).

202 No ano de 1990 a inflação reduziu, mas permaneceu altíssima (1.477% a.a.); em 1991 teve uma queda maior, mas ainda se manteve alta (480%); porém em 1992 – ano em que F. Collor de Mello sofreu o impeachment – a inflação voltou a crescer consideravelmente, atingindo 1.158% e em 1993 (já no governo Itamar Franco) alcançou 2.708% a.a. (IPEADATA, 2019f). 203 A partir do estudo de Rossi Júnior e Ferreira (1999), podemos observar que no período 1985-88 a tarifa nominal média para as importações brasileiras foi de 105%, mas no período 1989-93 foi reduzida para 34% e de 1994 a 1997 caiu para 13,4%. Para a importação de produtos metalúrgicos, nesse período, as tarifas caíram na seguinte ordem: de 65,2% para 21,3% e para 12,4%. Para a importação de produtos do setor mecânico reduziu de 58,9% para 31,6%, fechando em 16,8% (nesse mesmo período).

Page 166: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

147

Portanto, verificamos que enquanto o valor das exportações da indústria

brasileira de máquinas agrícolas reduziu, o valor de suas importações aumentou.

Notamos que o valor do saldo do comércio exterior dessas empresas, no ano de

1994, por exemplo, equivale a 30,6% do valor obtido em 1989, no último ano do

governo Sarney (pois caiu de 451 mil para US$ 138 mil). Da mesma forma,

constamos que em 1989 o valor das importações equivalia a 25,5% do valor das

exportações, mas em 1994 subiu para 69,6%.

Infelizmente a Anfavea agrupa os dados sobre a comercialização, então não

temos como saber, por exemplo, qual a proporção das importações é despendida

na aquisição de máquinas e qual em peças. Mas, de certa forma, observamos que

as importações contribuíram para enfraquecer a produção interna. Pelos dados da

própria Anfavea (2019), podemos observar que nesse contexto de abertura

econômica (com o aumento das importações) reduziu consideravelmente a

produção brasileira de máquinas agrícolas. A produção interna de tratores regrediu,

pois caiu de 50,4 mil, no ano de 1986, para 31,7 mil unidades no ano de 1989 e

para 15,6 mil em 1992, embora que tenha subido a partir desse ano, fechando em

41,1 mil unidades produzidas no ano de 1994. Na produção de colheitadeiras o

desempenho foi semelhante, pois a produção caiu de 5 mil, em 1989, para 1,9 mil

unidades no ano de 1991, embora que tenha subido para 5,3 mil em 1994.

Há de se ressaltar que o aumento da produção (tanto de tratores quanto de

colheitadeiras de grãos) obtido no ano de 1994, deve-se à maior quantidade de

crédito agrícola disponibilizado para investimento, pois verificamos que o volume

passou de 102,4 milhões de reais, em 1990, para R$ 1 bilhão em 1994, mas há de

se ressaltar que o montante de crédito voltaria a cair bruscamente, fechando em

apenas R$ 221,3 milhões no ano de 1995 (BARICELO; VIAN, 2017).

Portanto, verificamos que a política econômica centrada no combate à

inflação, que iniciou ainda na primeira metade da década de 1980 e foi, de certa

forma, continuada pelo governo Sarney, bem como intensificada a partir do governo

Collor, contribuiu para criar um cenário recessivo para a indústria brasileira de

máquinas agrícolas, pois se abandonou as políticas de incentivos à

industrialização, especialmente ao aumentar as taxas de juros, ao reduzir o volume

de crédito rural para investimento e devido à desvalorização cambial (o que mostra

que nem a inflação foi controlada).

Page 167: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

148

5.4 Inflação Baixa, Juros Altos e a Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

nos Anos FHC

Por um lado, em matéria de controle da inflação o governo Fernando

Henrique Cardoso (FHC) obteve mais sucesso que seus antecessores. Mas, por

outro lado, constatamos que a atividade econômica, especialmente a indústria de

máquinas agrícolas que temos estudado, passou por uma recessão ainda maior

que a verificada para o período 1980-1994.

Como destacamos anteriormente, a inflação de 1994 havia atingido 1.094%,

mas no primeiro ano do governo FHC, ela caiu para 14,8%; no ano seguinte para

9,3; em 1997 para 7,5 e em 1998 (último ano do 1º mandato de FHC) caiu para

apenas 1,7% a.a. (IPEADATA, 2019f).

Assim como o Plano Collor, que inicialmente foi elogiado por renomados

economistas brasileiros, o Plano Real (lançado em fevereiro de 1994 quando FHC

era Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco) também foi enaltecido por

alguns economistas liberais. Por exemplo, ao avaliar o Plano Real, Bacha (1998)

ressaltou seu sucesso ao ter conseguido reduzir a inflação e ao estabilizá-la. No

entanto, ele admitiu que as taxas de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) ainda

eram baixas para estimular o crescimento econômico. No seu entendimento a

alternativa seria aumentar a poupança interna e as exportações204.

Àquela altura, Bacha confiava nas reformas de FHC para os setores público

e de seguridade social, além de acreditar que a privatização do setor de serviços

de infraestrutura, bem como a abertura econômica, gerariam ganhos de

produtividade ao setor produtivo brasileiro. Ele acreditava que as receitas das

privatizações e a entrada de capitais externos financiariam esse processo, fazendo

cair as taxas de juros, bem como permitiria maior flexibilidade ao regime cambial.

Em parte, Delfim Netto (1998) concordou com Bacha, de que o Plano Real

foi eficiente ao estabilizar a inflação e até por ter estimulado a economia em um

primeiro momento, por ter aumentado o salário real – no seu entendimento, devido

à redução da inflação –, por conseguinte, aumentando o consumo interno. Porém,

ele ressaltou que esse plano continha armadilhas, especialmente o câmbio

204 Há de se lembrar que o Edmar Lisboa Bacha participou da equipe econômica que no ano de 1994 formulou o Plano Real.

Page 168: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

149

supervalorizado que gerou um déficit comercial, facilitando as importações, mas

prejudicando as exportações205. Delfim Netto, também criticou o governo FHC por

ter mantido os juros altos (justificando a intenção de atrair o capital externo) e por

não ter investido em infraestrutura206. Inclusive, ele ressaltou que o câmbio deveria

estar a serviço da produção e não da especulação financeira.

Outros autores foram mais críticos ao Plano Real e ao governo FHC. Por

exemplo, Gonçalves (1998) criticou a desestabilização macroeconômica criada,

que se caracterizou pela estagnação econômica, pelo desemprego crescente e

pela vulnerabilidade externa (pelos déficits comerciais). Ele criticou a falta de

políticas para o crescimento econômico, pois durante o governo FHC as taxas de

investimento foram baixas se comparadas, por exemplo, às de países do Sudeste

asiático. Ora, nos anos 1990 a taxa de FBCF no Brasil foi, em média, de 16% do

PIB, enquanto que no Sudeste asiático foi de cerca de 30%207.

Sobre os efeitos da política econômica de FHC sobre a indústria do país,

Singer destaca que entre agosto e dezembro de 1994 baixou os preços dos

produtos brasileiros industrializados, pois a importação de grande volume de

manufaturados obrigou a indústria interna reduzir o preço final. Em suas palavras:

“na véspera do lançamento da nova moeda, o governo liberou por decreto a

importação de milhares de produtos, levando a abertura gradativa do mercado

interno, começada por Collor, a um novo patamar.” (SINGER, 1999, p. 31).

Ora, há de se frisar que desde os anos 1960 FHC vinha defendendo a

abertura econômica para os países latino-americanos, inclusive para o Brasil. Em

livro escrito em parceria com Enzo Falleto, ele desacreditava na política

desenvolvimentista, criticando o nacionalismo e o populismo, alegando que os

países desse continente dependiam das exportações, o que inviabilizaria o

205 Por exemplo, enquanto que a partir da Rodada do Uruguai (1986) as exportações mundiais cresceram, em média, a 12% a.a. as do Brasil cresceram entre 4 e 8% (DELFIM NETTO, 1998). 206 Nos aos 1980 os investimentos em infraestrutura atingiam 5% do PIB do país, mas nos anos 1990 passaram a ser negativos, resultando na precariedade das redes ferroviária, rodoviária e portuária. No entendimento de Delfim Netto (1998), o dinheiro que poderia financiar a infraestrutura estava sendo gasto para financiar a dívida pública do Brasil, pois em 1996 o país pagou cerca de 38 bilhões de reais em juros. Ele centrou sua crítica sobre um possível gasto exagerado do Estado, mas não menciona, por exemplo, a falta de investimentos públicos em FBCF, o que foi destacado por Gonçalves (1998), por exemplo. 207 Enfim, Gonçalves concluiu que a política do governo FHC, que visava a estabilização inflacionária, foi uma “cortina de fumaça” para esconder as “bombas de efeito retardado”, que resultariam na desestabilização macroeconômica, no desmantelamento do aparelho de produção e na degradação do tecido social.

Page 169: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

150

direcionamento de investimentos em atividades para o mercado interno, como na

industrialização. Nessas condições, os autores afirmam que somente o capital

externo poderia financiar a sobrevivência dos países dependentes (CARDOSO;

FALLETO, 1970).

Há de se ressaltar que o próprio controle da inflação, que havia tido sucesso

no primeiro mandato de FHC, a partir de 1999 começou a ser abalado. Por exemplo,

a inflação brasileira (segundo o IGP-DI da FGV) saltou de 1,70% a.a., em 1998,

para 19,98% em 1999, regrediu nos anos de 2000 e 2001, mas voltou a subir,

fechando seu último ano de mandato (2002) em 26,41% a.a. (IPEADATA, 2019f).

Se analisarmos o saldo do comércio exterior das fábricas de máquinas

agrícolas instaladas no Brasil durante o governo FHC, verificaremos que

especialmente a partir de 1999 as exportações regrediram, mas as importações

aumentaram, particularmente nos anos de 1997 e 98. Inclusive, observamos que

no ano de 1999 o saldo dessas empresas foi negativo e nos anos seguintes foi

praticante inexpressivo, como podemos observar pelos dados da tabela 8.

Tabela 8 Exportações e importações da indústria brasileira de máquinas agrícolas automotrizes – 1994-2002*

Ano

Valor do comércio exterior das empresas**

Mil US$

Exportações Importações Saldo

1994 454 316 138 1995 449 279 170 1996 595 259 336 1997 759 613 146 1998 740 705 35 1999 450 486 -36 2000 465 451 14 2001 518 482 36 2002 580 573 7

Nota: *Refere-se ao comércio exterior das empresas associadas à Anfavea, que são as principais que atuam nesse segmento no Brasil. **Consiste no valor das máquinas agrícolas automotrizes, motores e componentes.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2010).

Destacamos que nesse contexto de aumento das importações a produção e

as vendas internas de máquinas agrícolas caíram consideravelmente. Por exemplo,

a produção de tratores de rodas, que no ano de 1994 havia alcançado mais de 41

mil unidades, em 1995 caiu para pouco mais do que 21 mil unidades e em 1996

Page 170: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

151

caiu para apenas 15.545208. Há de se ressaltar que nesse período as vendas

internas de tratores tiveram uma queda ainda maior que da sua produção, pois

caíram de 38,5 para 10,3 mil unidades comercializadas de 1994 a 1996. A produção

de colheitadeiras obteve um desempenho semelhante, pois caiu de 5,3 para 2,5 mil

unidades de 1994 a 1996, sendo que as vendas internas também tiveram uma

queda maior do que da sua produção, pois caíram de 4.049 para apenas 900

unidades (ANFAVEA, 2019).

Há de se notar que essa conjuntura recessiva da economia brasileira

atingiria fatalmente algumas empresas fabricantes de máquinas agrícolas. Por

exemplo, em outubro de 1997 a Companhia Brasileira de Tratores (CBT) teve a sua

falência decretada por não conseguir se manter no mercado, especialmente devido

à concorrência das empresas estrangeiras instaladas no país, bem como pelo

aumento das importações (CBT, 2018)209.

Portanto, verificamos que uma empresa que na primeira metade da década

de 1970 foi responsável por cerca de 19% das vendas de tratores agrícolas no

Brasil (mas que em 1974 chegou a controlar 23,1% do mercado nacional)210, a partir

da década de 1990, quando a abertura econômica se intensificou, mergulhou em

uma crise sem volta, a ponto de em 1991 ter fabricado apenas 883 unidades e em

1994 só 214 tratores agrícolas, interrompendo totalmente a sua produção no ano

de 1995211.

Outra fabricante nacional de máquinas agrícolas que não resistiu a

conjuntura recessiva da economia brasileira, intensificada na década de 1990, foi

a Máquinas Agrícolas Ideal S.A. (Ideal) que, como mencionamos no terceiro

capítulo, surgiu em Santa Rosa – RS em 1953 e que a partir do final da década de

1960 se especializou na produção de colheitadeiras automotrizes (IDEAL, 2018). A

208 Aliás, verificamos que a produção brasileira de tratores (em unidades) do ano de 1996 foi a menor em todo o período 1971-2018. 209 Os tratores dessa marca, em geral, ficaram conhecidos por sua resistência. Inclusive, ainda se encontra alguns exemplares pelo interior do Brasil como, por exemplo, no município de Dourado – SP, na região de São Carlos, onde se vê pelas ruas um CBT modelo 2105, fabricado no ano de 1965 (EM DOURADO, 2019). 210 Em quase 35 anos de existência a Companhia Brasileira de Tratores fabricou cerca de 111 mil tratores, atuando principalmente no segmento de máquinas pesadas (CBT, 2018). 211 Como essa empresa faliu, é difícil conseguir informações, mas segundo o Lexicar Brasil, na época da falência os trabalhadores acumulavam atrasos salariais de até dois anos e, inclusive, tentaram assumir a massa falida na intenção de continuar a produção, mas não tiveram sucesso. Enfim, no ano de 2000 as antigas instalações da CBT, localizadas próximo ao aeroporto de São Carlos – SP, foram vendidas à TAM Linhas Aéreas (CBT, 2018).

Page 171: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

152

partir de 1978 a Ideal importou tecnologia alemã (da empresa Fahr) e com parceria

da multinacional estadunidense International Harvester (IH), bem como do grupo

financeiro gaúcho Iochpe, ela conseguiu modernizar suas colheitadeiras, se

inserindo no mercado nacional e, inclusive, no mercado externo. Essa empresa

resistiu até meados da década de 1990, mas com uma produção regressiva. Por

exemplo, verificamos que ela havia fabricado 1.110 colheitadeiras no ano de 1986

– entre os anos 1985-88 fabricou, em média, 900 unidades por ano –, mas em 1995

sua produção caiu para apenas 97 unidades (ANFAVEA, 2019).

Enfim, no ano de 1996 a empresa gaúcha Ideal foi vendida à multinacional

AGCO Corporation, juntamente com a Massey Ferguson do Brasil, que desde 1983

havia passado para o controle acionário do grupo Iochpe, que detinha 57% de suas

ações (MASSEY FERGUSON, 2018)212.

Como temos enfatizado, a queda na produção do segmento de máquinas

agrícolas, intensificada a partir da década de 1990, se deve ao encolhimento do

mercado interno, à medida que esse segmento industrial requer uma política de

crédito agrícola para investimentos. Porém, se analisarmos a evolução das taxas

de juros, especialmente a partir do governo FHC, constataremos que elas

contribuíram para a estagnação do mercado interno. Por exemplo, no ano de 1997

a taxa Selic (básica) máxima de juros chegou a atingir 45,90% a.a. no período 01/11

a 30/11/1997. No ano de 1999, a taxa de juros alcançou 44,95% a.a. (no período

05/03 a 24/03/1999), como podemos observar pelos dados do quadro I no anexo 2

(BCB, 2019)213.

Pelos dados do gráfico 12, podemos verificar a evolução dos juros reais

praticados no Brasil no período 1985-2003, no qual é possível observar que, com

exceção do ano de 1989, em que os juros reais foram positivos, durante a segunda

metade da década de 1980 as taxas foram negativas devido à inflação que, como

212 Segundo informações do Lexicar Brasil, verificamos que por volta de 1996 a produção das marcas do grupo Iochpe-Maxion (tratores e colheitadeiras Massey Ferguson e colheitadeiras Ideal) havia caído aos níveis da década de 1960. Além disso o grupo financeiro Iochpe acumulava dívidas de mais de US$ 100 milhões, o que o faria vender os negócios de fabricação de máquinas agrícolas (MASSEY FERGUSON, 2018). 213 Aliás, Delfim Netto (1998) afirmou que nunca viu juros reais tão altos como os praticados no Brasil no ano de 1996, quando o governo aumentou a taxa de juros, justificando que esperava restringir o crédito interno para evitar o aumento da inflação, além de pretender atrair o capital externo que, no entendimento de sua equipe econômica, iria financiar o déficit brasileiro em contas correntes.

Page 172: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

153

mostramos anteriormente, atingiu patamares enormes nesse período. Porém,

constatamos que a partir de 1992 as taxas de juros começaram subir, atingindo

21,05% a.a. em 1993. Há de se notar que durante os sete primeiros anos do

governo FHC os juros foram positivos, só caindo no último ano (para -7,93% a.a.)

devido ao aumento da inflação, como ressaltamos anteriormente.

Gráfico 12 Taxas de juros reais praticados no Brasil – 1985-2003

Nota: Juro real: = juros nominais, subtraindo-se a inflação do período (a partir do deflator IGP-DI da FGV).

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Bacen organizados por Bacha, Danelon e Del Bel Filho (2006).

Portanto, verificamos que durante a segunda metade dos anos 1980

(governo Sarney) as vendas internas da indústria brasileira de máquinas agrícolas

foram prejudicadas porque como a inflação se tornou incontrolável o volume do

crédito rural disponibilizado para investimento foi reduzido. Por outro lado,

especialmente durante o primeiro mandato de FHC (1995-98) a inflação foi

controlada, mas o montante de crédito rural disponibilizado para investimento

esteve em baixa. Além disso, observamos que as altas taxas de juros

desencorajavam os produtores rurais a tomarem empréstimos para a aquisição de

máquinas agrícolas.

-1,32

-29,72

-19,38

-6,20

24,18

-10,69

-21,39

11,87

21,05

1,70

27,54

10,31

6,06

16,16

0,202,87 1,88

-7,93

14,05

-35

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

Perc

entu

al

Taxa real de juros Linear (Taxa real de juros)

Page 173: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

154

Os dados do gráfico 13 expressam a evolução do crédito rural para a

aquisição de máquinas agrícolas nesse período:

Gráfico 13 Evolução do crédito rural para investimento em máquinas agrícolas no Brasil – 1980-2012

Nota: Valores deflacionados pelo IGP-DI (agosto de1994 = 100).

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Anuário Estatístico do Crédito Rural, organizados por Baricelo e Vian (2017).

Os dados desse gráfico nos mostram que se considerarmos a evolução do

crédito rural, disponibilizado para investimento em máquinas agrícolas, utilizando

como base o ano de 1994 (em que o real estava supervalorizado, acima do dólar),

constataremos que desse ano até 1996 ocorreu uma queda enorme que chegou a

-89,8% (em apenas dois anos). Também podemos verificar que no triênio 1997-99

o volume de crédito permaneceu praticamente estagnado, só iniciando um

processo de recuperação a partir do ano de 2000 e, de forma mais intensa, a partir

de 2002, portanto já no último ano do governo FHC.

Pelos dados do gráfico 14, podemos avaliar a distribuição do crédito rural

disponibilizado para a aquisição de tratores e colheitadeiras agrícolas no período

1985-2012. Os dados desse gráfico, em dólares, mostram uma evolução do crédito

para investimento em máquinas agrícolas semelhante ao expresso pelo gráfico 13,

1.144.143.442

14.108.200

2.352.098.734

102.388.216

1.006.174.361

102.737.363

1.189.063.717

598.163.451

1.179.060.168

1.016.115.004

1.452.297.310

19

80

19

81

19

82

19

83

19

84

19

85

19

86

19

87

19

88

19

89

19

90

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

Reais

(R

$)

Crédito para investimento

Page 174: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

155

pois constatamos que os maiores volumes foram disponibilizados nos anos de 1986

e em 1994214:

Gráfico 14 Crédito rural disponibilizado por tipo de máquina no Brasil – 1985-2012

Nota: Preços de 2012, deflacionados pelo IGP-DI e convertidos em dólares pela taxa média de 2012.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do BACEN organizados pela Anfavea (2013).

De certa forma, podemos afirmar que a estagnação ocorrida na produção

industrial brasileira215 – especialmente no segmento de máquinas agrícolas, objeto

dessa pesquisa – é resultado das políticas econômicas implantadas a partir da

década de 1980, intensificadas nos anos 1990. Em outras palavras, entendemos

que os governos Sarney, Collor de Mello/Itamar e FHC tentaram combater a

inflação por meio de políticas econômicas contracionistas, retirando moeda de

214 Pelos dados do gráfico 14, observamos que nos anos de maior volume de crédito, destacou-se o empréstimo destinado à aquisição de tratores, o que é compreensível porque, ao contrário das colheitadeiras que têm utilidade específica para a colheita, os tratores são máquinas motrizes, então têm um emprego mais amplo na agricultura. Durante uma visita de estudo realizada à unidade da AGCO Corporation, instalada em Canos – RS que fabrica tratores agrícolas, recebemos a informação de que no Brasil esse tipo de máquina é utilizada praticamente o ano todo, pois as atividades agrícolas são praticadas ao longo do ano, não cessando no inverno, por exemplo, como ocorre nos países de clima frio. 215 Por exemplo, Suzigan (2000) observou que o PIB industrial brasileiro, que no período 1933-1980 havia crescido a 8,7 a.a., no período 1981-1999 cresceu a apenas 0,7% a.a.

1.094.454

3.137.238

1.208.398

255.798

2.823.539

110.132

1.006.899616.866

1.553.674

1.250.357

352.515

1.276.645

57.119 451.750 34.959

976.593

241.968

1.218.862

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Tratores Colheitadeiras

Page 175: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

156

circulação, inclusive reduzindo o crédito rural para investimentos e aumentando as

taxas de juros.

Como observaram Freitas e Prates (2001), a abertura financeira – tanto da

conta de capitais como a entrada de investimento estrangeiro direto – promovida

pelo governo FHC, mesmo mantendo altas taxas de juros só conseguiu atrair o

capital externo durante seu primeiro mandato216. Além disso, como destacou Pires

(2006), a liberalização da conta de capitais está relacionada com a elevação do

superávit primário, o que causa um comportamento preventivo-conservador por

parte da autoridade fiscal, de modo a não sacrificar a eficácia da política fiscal,

mesmo em períodos em que se faz necessário amenizar os efeitos dos ciclos

econômicos, o que demandaria aumento dos gastos do Estado.

Aliás, há de se observar que se, por um lado, a política econômica

keynesiana defende o protagonismo do Estado na economia, especialmente para

amenizar os efeitos das crises e recessões (como mencionamos no 3º capítulo);

por outro lado a partir da década de 1980 (e mais intensamente a partir dos anos

1990) começou se proliferar nos países latino-americanos, inclusive no Brasil, um

pensamento “antikeynesiano”, mais conhecido como neoliberal. Autores como

Friedrich Hayek passaram a influenciar o discurso das equipes econômicas em

governos como Collor de Mello e FHC. Lembrando que Hayek defendia, inclusive,

o federalismo para enfraquecer os Estados nacionais, que no seu entendimento

retirariam a liberdade econômica natural, levando os países do Ocidente ao

caminho da servidão (HAYEK, 1994).

Enfim, se analisarmos essa situação à luz do entendimento de Rangel

(1980), expressa na citação colocada no início desse capítulo, constataremos que

essas políticas econômicas jamais poderiam ter levado a economia brasileira ao

crescimento, o que se confirmou materialmente217.

216 Segundo Freitas e Prates (2001), de 1995 a 1999 o volume de investimentos estrangeiros em ações brasileiras passou de 1,7 bilhão de reais para R$ 206,4 bilhões, mas no ano de 2000 já havia caído para R$ 161,8 bilhões. Quanto à participação estrangeira nos ativos do sistema bancário brasileiro, passou de 11,9%, em 1995, para 27,4% no ano de 2000. Porém, verificamos que o percentual de crédito dos bancos estrangeiros sob o total de financiamento rural e da agroindústria brasileira era pequeno, 6,2% em 1998 e 5,8% no ano de 2000, portanto, pouco contribuindo para a formação de demanda no setor agropecuário brasileiro. 217 Segundo Rangel (1963 e 1980) o problema do Brasil é a baixa propensão a consumir, especialmente devido à concentração de renda. E nessas condições, para ocorrer crescimento econômico se faz necessário altas taxas de investimentos.

Page 176: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

157

CAPÍTULO VI

UM POUCO DE PLANEJAMENTO, O BOOM DAS COMMODITIES E UM

FÔLEGO À INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Com o desenvolvimento do processo, que se expressa na queda da taxa de lucro, a massa de mais-valia assim produzida se infla enormemente. [...] O conjunto da massa de mercadorias, o produto global, tanto a parte que substitui o capital constante e o variável, quanto a que representa a mais-valia, precisa ser vendido. [...] Isso é lei para a produção capitalista, dada pelas contínuas revoluções nos próprios métodos de produção, pela desvalorização sempre vinculada a elas do capital disponível, pela luta concorrencial geral e pela necessidade de melhorar a produção e de ampliar sua escala, meramente como meio de manutenção e sob pena de ruína. Por isso, o mercado precisa ser constantemente ampliado, de forma que suas conexões e as condições que as regulam assumam sempre mais a figura de uma lei natural independente dos produtores, tornando-se sempre mais incontroláveis. (MARX, 1984c, p. 185).

Essa citação, retirada de uma única página do livro terceiro de O Capital,

refere-se a uma circunstância que temos observado ao analisar a dinâmica da

indústria brasileira de máquinas agrícolas, isto é, o imperativo de que o sistema

econômico vigente necessita de uma reprodução ampliada do capital, sob pena de

perecer em crises quando esse objetivo não é alcançado.

Nesse capítulo, analisaremos a retomada da produção, embora que um

tanto acanhada, da indústria brasileira de máquinas agrícolas que se intensificou

especialmente a partir da segunda metade da década de 2000. Procuramos

compreender a importância do planejamento econômico, especialmente no que se

refere a incentivos à produção e à formação de demanda para os produtos desse

segmento industrial.

6.1 O Renascimento de Incentivos para o Setor de Máquinas Agrícolas

A partir dos dados dos gráficos 15 e 16, podemos analisar a evolução da

produção, bem como das vendas internas de tratores e colheitadeiras agrícolas no

período 1985-2019:

Page 177: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

158

Gráfico 15 Evolução da produção e das vendas internas de tratores de rodas no Brasil – 1985-2019

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019 e 2020).

GRÁFICO 16 Evolução da produção e das vendas internas de colheitadeiras de grãos no Brasil – 1985-2019

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019 e 2020).

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Unidades

Produção Vendas

Page 178: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

159

Há de se notar que os dados dos gráficos 15 e 16 nos mostram que tanto a

produção como as vendas desse segmento industrial são instáveis, alternando

períodos de crescimento (de 4 ou 5 anos) com outros de retração. É essa dinâmica

que procuraremos decifrar nesse capítulo.

Se na década de 1980 diminuíram drasticamente os incentivos ao segmento

da indústria brasileira de máquinas agrícolas (e à mecanização agrícola), como

destacamos no capítulo anterior, verificamos que a partir do início dos anos 1990

ressurgiram, apesar que acanhadamente, alguns incentivos a esse setor industrial.

Por exemplo, pela Lei n.º 8.171 (de 17/01/1991) foi criado o Finame Rural,

programa de uma agência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES) para financiar aos agricultores a aquisição de máquinas e

implementos (BRASIL, 1991a)218.

As condições exigidas pelo Finame Rural eram as seguintes: juros mínimos

de 8,5% ao ano mais a Taxa Referencial (TR), que era reajustada diariamente e

que deveria servir de referência para as taxas de juros vigentes no país. No entanto,

o prazo para a amortização da dívida de aquisição de máquinas – portanto, com

alto custo – era pequeno, entre 12 e 60 meses, e o Finame financiava no máximo

70% do investimento total nas regiões Sul e Sudeste e até 80% no Norte, Nordeste

e no Centro-Oeste do Brasil (BNDES, 1991)219.

Apesar desses entraves, constatamos que o Finame Rural obteve certo

impacto sobre a indústria de máquinas agrícolas, o que inclusive pode ser

observado pelos gráficos 15 e 16, pois observamos que aumentou as vendas a

partir de 1991. Segundo o Informe nº. 46 do BNDES, de outubro de 1991, o Finame

aprovou, de janeiro até meados de setembro daquele ano, a quantia de 7.344

operações no âmbito do Programa Agrícola, correspondendo a US$ 131 milhões.

A maior parte dos financiamentos beneficiou pessoas físicas, com 6.341 operações

no valor total de US$ 92 milhões. E houve 1.003 créditos aprovados para pessoas

jurídicas, totalizando US$ 39 milhões. As máquinas financiadas foram, na maioria,

tratores e colheitadeiras (BNDES, 1991).

218 O Programa Agrícola do Finame foi criado em setembro de 1990, mas só a partir de março de 1991 começou a conceder financiamentos a pessoas físicas, atendendo uma antiga reivindicação de produtores rurais (BNDES, 1991). 219 Há de se frisar que naquela época o Finame Rural era o único programa que financiava a aquisição de máquinas e implementos agrícolas, pois as linhas de crédito do Banco do Brasil financiavam apenas o custeio da produção agrícola – adubos, sementes etc. (BNDES, 1991).

Page 179: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

160

Pelo Informe nº. 67 do BNDES, podemos observar que no ano de 1993 a

fatia de investimentos do Finame Rural chegou a quase a metade do total de

desembolsos do Finame (Finame em geral). Por exemplo, dos 200 milhões de

dólares aplicados em setembro daquele ano, US$ 92 milhões destinaram-se ao

Finame Rural – para a aquisição de máquinas e equipamentos para a agricultura

(BNDES, 1993).

Há de se mencionar que durante o governo Itamar Franco (de 1992 a 1994)

o BNDES financiou, também, a própria indústria de máquinas agrícolas e as

fornecedoras de autopeças e componentes para esse segmento industrial. Por

exemplo, segundo o Informe nº. 78, por meio das linhas Qualidade e Produtividade

e Apoio à Indústria, esse banco concedeu um financiamento no valor de R$ 5

milhões à empresa New Rubner Flexible Usinagem para instalar em Curitiba uma

usinagem de autopeças com alto grau de automação, que forneceria peças (que

anteriormente eram importadas) para montadoras como a GM e a New Holland,

que naquela época já produzia colheitadeiras automotrizes na própria cidade

industrial de Curitiba (BNDES, 1994)220.

Aliás, pelos informes do BNDES também podemos analisar a evolução das

taxas de juros cobradas para a aquisição de máquinas agrícolas. Pelo Informe nº.

87, verificamos que ao longo do ano de 1995 as taxas de juros de longo prazo do

Finame Rural, apesar de terem caído, mantiveram-se altíssimas. Por exemplo, no

período de dezembro de 1994 a fevereiro de 1995 a taxa alcançou 26,01% a.a.; de

março a maio foi de 23,65%; de junho a agosto foi de 24,73% e no período de

setembro a novembro de 1995 fechou em 21,94% a.a. (BNDES, 1995)221.

No entanto, além do Finame Rural outras medidas do governo federal

beneficiaram ou, pelo menos, amenizaram os problemas dos produtores rurais e,

indiretamente, a própria indústria de máquinas e implementos agrícolas. Por

220 Mas, há de se notar que mesmo com essa iniciativa de se montar uma empresa para substituir importações no setor de autopeças, esse projeto também dependia de importações, pois do total de R$ 5 milhões financiados, R$ 3,7 milhões foram concedidos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com a condição que fosse importado dos Estados Unidos os equipamentos para a instalação dessa fábrica (BNDES, 1994). 221 Segundo o estudo de Afonso, Höhler e Freitas (2009), observamos que o spread bancário no Brasil – grosso modo, a diferença entre a taxa de juros cobrada pelas instituições financeiras e o custo financeiro de captação dos recursos – em março de 1995, por exemplo, ultrapassou os 100 pontos percentuais (p.p.) para empréstimos para pessoas jurídicas e esteve acima de 180 p.p. para pessoas físicas. Há de se notar que esse fator contribuiu para aumentar as taxas de juros para o próprio crédito rural.

Page 180: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

161

exemplo, em 1994 foi criada a Cédula de Produtor Rural (CPR) que se tratava de

um título que poderia ser emitido por produtores rurais, suas associações e

inclusive cooperativas que consistia na promessa de entrega de produtos agrícolas

a seu credor (BRASIL, 1994).

Segundo o estudo de Ramos e Martha Júnior (2010), a CPR não financiou

diretamente a aquisição de máquinas agrícolas ou de outro tipo de investimento,

pois o programa visava adquirir recursos para o capital de giro (custeio),

principalmente para a aquisição de insumos (adubos, sementes etc.). Mas, ao

melhorar a saúde financeira dos agricultores a CPR aumentou também, embora

que modestamente, a capacidade de investimentos deles.

Há de se ressaltar que a Lei n.º 10.200 (de 14/02/2001) alterou a CPR,

criando a Cédula de Produtor Rural Financeira (CPR-F), instrumento que permitia

aos produtores rurais adquirirem empréstimos e quitarem suas dívidas sem ter que

entregar produtos agrícolas, mas pagando em dinheiro, pois a CPR-F consiste em

um título líquido. Além disso, como trataremos adiante, essa lei instituiu uma

equalização das taxas de juros dos financiamentos concedidos pelo BNDES, o que

tornou menos oscilantes as dívidas de aquisição de máquinas e implementos

agrícolas222.

Outra política agrícola do governo federal que amenizou os problemas

financeiros dos produtores rurais, foi o Programa de Securitização, lançado em

1995 com o objetivo de alongar os prazos para a quitação das dívidas dos

agricultores com valor de até R$ 200 mil (Art. 5º, § 3º), com prazo de 7 a 10 anos e

com juros de 3% ao ano, acrescido pela variação do preço mínimo (BRASIL,

1995)223.

Para os grandes produtores rurais a negociação das dívidas veio a partir de

1998, quando foi instituído o Programa Especial de Saneamento de Ativos (PESA),

que permitiu a renegociação de dívidas rurais com valores acima de R$ 200 mil

(BRASIL, 1998). Como destacaram Ramos e Martha Júnior (2010), essas medidas

222 “Art. 3o Fica autorizada a equalização de taxas de juros de financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, para modernização da frota de tratores agrícolas e implementos associados, colheitadeiras e aquisição de equipamentos para preparo, secagem e beneficiamento de café, na forma da regulamentação baixada pelo Poder Executivo.” (BRASIL, 2001). 223 A securitização envolveu recursos no montante de R$ 8,1 bilhões, favorecendo inicialmente cerca de 350 mil produtores (RAMOS; MARTHA JÚNIOR, 2010).

Page 181: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

162

beneficiaram os grandes devedores uma vez que, de acordo com informações do

Banco do Brasil, 73,95% do valor dos contratos repactuados no âmbito do PESA

correspondiam a dívidas superiores a R$ 1 milhão, contemplando apenas 9,0% dos

beneficiários desse programa. Segundo esses autores, estima-se que o PESA

tenha envolvido recursos da ordem de R$ 8,5 bilhões, beneficiando

aproximadamente 146 mil produtores224.

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF),

criado em 1996, também foi importante ao ampliar a possibilidade de investimento

dos pequenos agricultores225, especialmente a partir de 2008 quando foi criada a

linha de crédito Pronaf Mais Alimentos – Investimento. Há de se lembrar que essa

linha do Pronaf passou a oferecer as menores taxas de juros226.

Conforme apontaram Pontes e Padula (2005), no final da década de 1990

alguns segmentos representantes do agronegócio clamavam por uma política de

crédito rural com taxas de juros prefixadas, que os encorajassem a tomar

empréstimos de maior volume. Foi na tentativa de atender a esse pedido que em

1998 foi instituído pelo BNDES o Programa FINAME Agrícola Especial, que

financiaria a aquisição de tratores, colheitadeiras, implementos agrícolas,

plantadeiras, equipamentos para armazenagem, ordenhadeiras mecânicas,

tanques de resfriamento e homogeneização de leite, sistemas de irrigação, entre

outros. O mais importante é que, ao contrário do Finame Rural que ainda utilizava

taxas variáveis de juros, como mencionamos anteriormente, o FINAME Agrícola

224 De acordo com Rezende e Kreter (2007), em 1995 a dívida dos produtores rurais era de R$ 42,3 bilhões, sendo que, desses, R$ 14,2 bilhões eram de dívidas de crédito para investimento. Os valores das dívidas caíram até 1997, fechando em R$ 37,1 bilhões, mas voltaram a subir no ano de 1998, fechando em R$ 40,2 bilhões (os autores usaram valores em R$ de maio de 2007, deflacionados pelo IPCA). 225 Verificamos que esse programa se tornou importante para as vendas, especialmente das empresas que produzem máquinas de pequeno porte. Por exemplo, no ano de 2014 a LS Mtron do Brasil – empresa sul-coreana que se instalou no país a partir de 2012 – vendeu no mercado interno o total de 1.930 tratores, 70% deles financiados pelo Pronaf Mais Alimentos (FERREIRA, 2020). Mas, observamos que os grandes grupos fabricantes de máquinas agrícolas (CNH Industrial e AGCO) também têm produzido tratores agrícolas de pequeno porte (de até 75 cv. de potência), visando atender a essa demanda de financiamentos, via Pronaf Mais Alimentos – Investimento (informações obtidas nas visitas de estudo às respectivas empresas). 226 Lembrando que a aquisição de tratores e colheitadeiras não entra nas menores taxas de juros do Pronaf Mais Alimentos – Investimento, mas ainda são inferiores às taxas cobradas em outras linhas de crédito. Por exemplo, para a aquisição de tratores agrícolas, no ano de 2019, o Pronaf Mais Alimentos – Investimento cobrava taxa de juros prefixada de até 4,6% a.a. ou pós-fixada de 0,2% a.a. mais a variação da inflação – IPCA (BNDES, 2019a).

Page 182: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

163

Especial apresentava encargos financeiros fixados em 11,95% a.a. (incluído o

spread do agente), além de financiar 100% do valor do bem adquirido.

Porém, a política econômica federal que mais se destacou na formação de

demanda para a indústria de máquinas agrícolas, foi o Programa de Modernização

da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras

(Moderfrota), instituído no ano de 2000. O Moderfrota se tornou importante porque,

assim como o Finame Agrícola Especial, apresentava taxas fixas de juros e que,

apesar de altas, eram inferiores às praticadas nos anos 1990. Por exemplo, para

produtores rurais e suas cooperativas que apresentassem renda bruta anual inferior

a R$ 250 mil o Moderfrota cobrava taxa efetiva de juros de 8,75% a.a. (incluindo o

spread do agente financeiro, que era de 2,95% a.a.), financiando 100% do bem

adquirido. Para beneficiários com renda bruta anual igual ou superior a R$ 250 mil

esse programa financiava até 90% do bem, cobrando taxa efetiva de juros de

10,75% a.a. (BRASIL, 2000)227.

Pelo Informe nº. 169 do BNDES (de abril de 2003), podemos ter noção do

alcance desse programa para as vendas internas de máquinas agrícolas:

A importância do Moderfrota pode ser aferida pelo aquecimento do mercado de máquinas agrícolas desde a criação do Programa, em março de 2000. As vendas de tratores agrícolas cresceram 36,6% e as de colheitadeiras 54,8% no período 2000/2002 (BNDES, 2003, p. 01).

Se retomarmos os dados dos gráficos 15 e 16, verificaremos que, de fato,

aumentou consideravelmente a produção e as vendas internas de máquinas

agrícolas no período 2000/2002. Por exemplo, a venda de tratores de rodas saltou

de 24.591 para 33.217 unidades nesse período, enquanto que a de colheitadeiras

de grãos passou de 3.780 para 5.648 unidades de 2000 a 2002.

Ocorre que no período 2001 a 2002 o BNDES aumentou os desembolsos

para o Moderfrota em mais de 60%, o que estimulou as vendas desse setor:

Os desembolsos no âmbito do Moderfrota tiveram, em 2002, um crescimento de 66,4% em relação ao ano anterior. O BNDES liberou R$ 2,83 bilhões no ano passado, enquanto em 2001 o total

227 Para a aquisição de tratores e implementos, pelo Moderfrota, o prazo de quitação dos financiamentos era de até 6 anos e para colheitadeiras automotrizes chegava a 8 anos (BRASIL, 2000).

Page 183: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

164

liberado foi de R$ 1,70 bilhão. Desde que foi criado, em março de 2000, o programa teve 118.735 operações realizadas até dezembro de 2002, gerando desembolsos de R$ 5,57 bilhões. (BNDES, 2003, p. 01).

Porém, verificamos que a partir de 2003 a taxa de juros aumentou,

especialmente para os agricultores mais capitalizados, pois esse programa

diminuiu o teto de renda dos produtores rurais (baixando de 250 mil para 150 mil

reais). Para produtores rurais e suas cooperativas que apresentassem renda bruta

anual inferior a R$ 150 mil o Moderfrota manteve o financiamento de 100% do bem

adquirido, mas a taxa efetiva de juros subiu de 8,75% para 9,75% a.a. Para os

beneficiários com renda igual ou superior a R$ 150 mil esse programa passou a

financiar até 80% (e não mais 90%) do bem adquirido e a taxa efetiva de juros subiu

de 10,75 para 12,75% a.a. (BRASIL, 2003)228.

Além do aumento da taxa de juros, verificamos que a partir de 2003 diminuiu

o montante de crédito disponibilizado para o Moderfrota. Por exemplo, no ano de

2002 o orçamento desse programa foi de R$ 2,8 bilhões (BNDES, 2003), mas na

safra 2004/2005 o volume de empréstimos caiu para R$ 2,3 bilhões, portanto,

reduzindo cerca de 18% (BNDES, 2004).

Além disso, de acordo com os dados do Ipeadata (2020), observamos que a

desvalorização cambial foi considerável nesse período, pois a cotação do dólar

subiu da média anual de 1,83 reais, no ano de 2000, para 3,08 reais no ano de

2003, o que reduziu o poder de investimento dos agricultores brasileiros.

Se analisarmos a evolução das vendas de tratores de rodas e colheitadeiras

de grãos, segundo os dados da Anfavea (2019 e 2020) expostos nos gráficos 15 e

16, observaremos que o mercado interno voltaria a encolher a partir de 2003. Por

exemplo, se compararmos as vendas de tratores de rodas nos anos de 2002 e

2005, verificaremos que ocorreu uma queda de 46,6% (pois caiu de 33.217

unidades, no ano de 2002, para 17.729 em 2005); enquanto que a queda nas

vendas internas de colheitadeiras de grãos foi ainda maior, caindo de 5.648

unidades, em 2002, para 1.030 no ano de 2006, portanto, uma queda de 81,8%.

Aliás, pelos dados da própria Anfavea (2019), verificamos que a partir de

228 Verificamos que o prazo máximo para quitar os financiamentos diminuiu a partir de 2003. Para tratores caiu de 6 para até 5 anos e para colheitadeiras caiu de 8 para 6 anos (BRASIL, 2003).

Page 184: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

165

2003 o que salvou as vendas da indústria brasileira de máquinas agrícolas, foi o

aumento das exportações. Por exemplo, nos anos de 2004 e 2005 o Brasil

exportou, respectivamente, 23.553 e 23.968 tratores de rodas. Pelos dados das

tabelas 9 e 10 podemos analisar as vendas internas, bem como as exportações de

tratores de rodas e de colheitadeiras de grãos (em unidades) nos anos 2004 e 2005:

Tabela 9 Vendas internas e exportações dos principais fabricantes de tratores de rodas no Brasil – 2004 e 2005

Ano

AGCO do Brasil CNH Industrial do Brasil Deere e Co. Marcas Marcas Marca

Massey Ferguson

Valtra Case IH New

Holland John Deere

Vendas internas

2004 9.740 7.062 290 6.264 3.040

2005 5.881 5.369 138 2.799 1.755

Exportações

2004 11.795 2.851 354 4.114 3.601

2005 13.077 2.464 114 4.028 2.946

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

Tabela 10 Vendas internas e exportações dos principais fabricantes de colheitadeiras de grãos no Brasil – 2004 e 2005

Ano

AGCO do Brasil CNH Industrial do Brasil Deere e Co. Marcas Marcas Marcas

Massey Ferguson

Valtra Case New

Holland John Deere

Vendas internas

2004 1.284 - 309 2.091 1.921

2005 332 - 137 516 549

Exportações

2004 1.006 - 274 957 2.147

2005 617 - 187 413 1.619

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

Os dados da tabela 9 nos mostram que, naquele período, a AGCO respondia

pela maioria das vendas internas de tratores agrícolas, especialmente da marca

Massey Ferguson. A Valtra, também pertencente ao AGCO, foi a segunda nas

vendas internas de tratores no biênio 2004/2005. Nas exportações de tratores as

Page 185: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

166

marcas que mais se destacaram foram a Massey Ferguson229 e a New Holland

(esta pertencente ao grupo CNH Industrial, na atualidade). Há de se ressaltar que

no ano de 2005 as exportações de tratores das marcas Massey Ferguson, New

Holland e John Deere foram maiores que suas vendas internas.

Pelos dados da tabela 10, podemos observar que naquele período as vendas

internas de colheitadeiras de grãos eram mais equilibradas, com um pequeno

destaque para o grupo CNH Industrial, especialmente com a marca New Holland.

Porém, quando analisamos as exportações desse tipo de máquina agrícola,

constatamos que a empresa que mais se destacou no biênio 2004/2005 foi a John

Deere. Também verificamos que no ano de 2005 as exportações das colheitadeiras

das marcas Massey Ferguson, Case e John Deere foram maiores que suas vendas

internas230.

Portanto, observamos que a partir de 2004, quando aumentou as taxas de

juros para a aquisição de máquinas agrícolas, as grandes empresas instaladas no

Brasil amenizaram os efeitos do encolhimento do mercado interno por meio das

exportações231.

Por outro lado, constatamos que a partir de 2006 iniciou uma nova fase de

crescimento. As vendas internas de tratores de rodas saltaram de 17.729 unidades,

em 2005, para 65.089 no ano de 2013, portanto, um crescimento de 367%. Nesse

período o crescimento nas vendas de colheitadeiras de grãos foi ainda maior,

alcançando 829%, pois passou de 1.030 unidades, em 2006, para 8.539

colheitadeiras vendidas no ano de 2013 (ANFAVEA, 2019).

Se analisarmos a evolução do crédito rural disponibilizado para a aquisição

de máquinas agrícolas (especialmente por meio do Moderfrota), verificaremos que,

229 Lembrando que no ano de 2005 a Massey Ferguson contribuiu com 54,6% do total das exportações brasileiras de tratores de rodas (13.077 unidades do total de 23.968). 230 Em visita de estudos que realizamos (em junho de 2019) à unidade da John Deere de Horizontina – RS, recebemos a informação de que na primeira metade da década de 2000 essa empresa exportava grande quantidade de colheitadeiras agrícolas, especialmente para a Argentina. 231 Em uma reportagem apresentada pela Gazeta Mercantil de 22 de maio de 2003 o diretor de exportações da AGCO do Brasil, André Rorato, informou que no primeiro quadrimestre de 2003 essa empresa havia exportado 300 colheitadeiras (produzidas na unidade de Santa Rosa – RS) para a Argentina. E segundo o diretor da John Deere para a América Latina, Martin Mundstock, nesse mesmo período essa empresa vendeu 150 tratores e 332 colheitadeiras (naquela época, ambos produzidos na unidade de Horizontina – RS) para a Argentina. Segundo esses diretores, os produtores rurais argentinos estavam capitalizados (inclusive, pagavam à vista) porque a moeda da Argentina estava desvalorizada, o que diminuiu suas dívidas (fixadas em pesos) em um contexto em que os preços internacionais das commodities agrícolas estavam em alta (ARGENTINO, 2019).

Page 186: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

167

aparentemente, o volume de desembolsos desse programa regrediu. Por exemplo,

na safra de 2005/2006 o volume disponibilizado por esse programa caiu para R$

1,4 bilhão e na safra de 2006/2007 foi de R$ 1,5 bilhão. Na safra 2008/2009 o

volume subiu para R$ 2,5 bilhões, mas na safra 2009/2010 voltou a cair, fechando

em 2 bilhões de reais (BRASIL/MAPA, 2009). Nas safras 2010/2011 e 2011/2012

o volume de desembolsos do Moderfrota foi de R$ 1 bilhão em cada safra,

acrescido de mais meio bilhão de reais, por safra, para a linha do Programa

Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) – que havia sido criado a

partir do plano safra 2010/2011 (BRASIL/MAPA, 2011) –, contido no próprio

Moderfrota. Na safra 2012/2013 o volume de recursos do Moderfrota caiu ainda

mais, fechando em R$ 150 milhões (BRASIL/MAPA, 2012) e na safra 2013/2014

em R$ 160 milhões (BRASIL/MAPA, 2015).

Porém, há de se lembrar que a partir de junho de 2009 um novo programa

de financiamento para investimento rural passou a atuar paralelo e, em alguns

momentos, acima do Moderfrota. Ocorre que na intenção de combater a crise de

2008, mantendo a política de crescimento econômico, o governo Luiz Inácio Lula

da Silva (Lula) lançou o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), também

vinculado ao BNDES, com a intenção de fomentar o setor de bens de capital.

Inclusive, esse programa continha uma linha de crédito para financiar a aquisição

de máquinas e implementos agrícolas, o PSI Rural (PSI/Moderfrota)232. A partir do

plano agrícola e pecuário 2011/2012, verificamos que o montante de empréstimos

concedido via PSI/Moderfrota233 começou superar a quantidade do orçamento do

Moderfrota. Na safra 2011/2012 o volume programado pelo PSI alcançou R$ 4

bilhões, contra R$ 1,5 bilhão do Moderfrota; na safra 2012/2013 os recursos do

PSI chegaram a R$ 6 bilhões, contra apenas R$ 150 milhões do Moderfrota; na

safra 2013/2014 o orçamento do PSI continuou em R$ 6 bilhões e o do Moderfrota

foi de R$ 160 milhões; na safra 2014/2015 o volume do Moderfrota ficou em R$ 940

milhões enquanto que o do PSI Rural subiu para R$ 9,5 bilhões; e na safra

232 O PSI Rural dividia-se em dois grupos, o PSI Cerealista para os produtores rurais investirem na construção de armazéns e o PSI/Moderfrota para a aquisição de máquinas e implementos agrícolas. A partir do plano agrícola e pecuário 2013/2014 o PSI/Moderfrota também passou a financiar aos produtores rurais a aquisição de caminhões, com taxas de juros de 4,0% ao ano (BRASIL/MAPA, 2013). 233 Citaremos dados apenas do PSI/Moderfrota destinado à aquisição de máquinas e implementos agrícolas. Lembrando que o programa Moderfrota original (criado em 2000) permaneceu paralelo ao PSI/Moderfrota, que portanto era uma linha de financiamentos do próprio Moderfrota.

Page 187: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

168

2015/2016 o volume do Moderfrota subiu para R$ 3,7 bilhões, enquanto que o do

PSI Rural caiu para R$ 6,4 bilhões (BRASIL/MAPA, 2011, 2012 e 2015).

Porém, no final de 2015, portanto já no segundo governo Dilma Rousseff

(Dilma), foi anunciado o fim do PSI, então o Moderfrota voltou a ser o principal

programa para financiar a aquisição de máquinas e implementos agrícolas.

Ao considerarmos o crescimento que ocorreu nas vendas internas, bem

como na produção de tratores de rodas e colheitadeiras agrícolas, ocorrido no

período 2006-2013 (gráficos 15 e 16), observamos que a retomada das vendas e

da produção desse segmento industrial coincide com um período em que as taxas

de juros para investimento rural baixaram. Pelos dados dos planos agrícolas e

pecuários, constatamos que os juros do Moderfrota baixaram de 9,5% a.a., na safra

2009/2010, para 5,5% a.a. a partir da safra 2012/2013. E há de se lembrar que a

partir da safra 2009/2010 já havia a linha Moderfrota do Pronamp (para médios

produtores) com taxas de juros de 7,5% a.a. O PSI Rural (PSI/Moderfrota) também

utilizou taxas de juros mais baixas, de 5,5% a.a. nas safras 2012/2013 e 2013/2014

e de 4,5% a.a. na safra 2014/2015 (e com juros de 6% a.a. para produtores com

renda maior que R$ 90 milhões)234.

Outro fator que beneficiou as vendas internas nesse período foi a valorização

cambial, pois a cotação do dólar caiu progressivamente, passando de 2,43 reais,

em 2005, para 1,67 no ano de 2011 (IPEADATA, 2020). Assim como ocorreu no

início daquela década, aumentou o poder de investimento dos agricultores.

Por outro lado, verificamos que a partir de 2015 os juros voltaram a subir.

Por exemplo, para a safra 2015/2016 o crédito via Moderfrota e PSI Rural (último

ano desse programa) foi de 7,5% a.a. para produtores com renda anual bruta de

até R$ 90 milhões e de 9% para os produtores com renda superior. Na safra

2016/2017 os juros do Moderfrota subiram ainda mais, para 8,5% a.a. para

produtores com renda bruta anual de até R$ 90 milhões e para 10,5% a.a. para os

produtores com renda superior (BRASIL/MAPA, 2015 e 2016).

Se no período 2006-2013 a redução das taxas de juros contribuiu para um

considerável aumento nas vendas internas, bem como na produção de tratores de

234 Como a inflação começou aumentar a partir de 2013 os juros reais se tornaram baixos, inclusive negativos. Por exemplo, na safra de 2012/2013 o juro real para investimento pela linha Pronamp foi de -1,59; na safra 2013/2014 foi de -1,90 e na safra 2014/2015 foi de -3,11% a.a. Mas, nas safras seguintes os juros voltaram a subir (BRASIL/MAPA, 2016).

Page 188: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

169

rodas e de colheitadeiras de grãos (como ressaltamos anteriormente), a partir de

2015 (com aumento dos juros) as vendas desse segmento industrial caíram

consideravelmente, mantendo-se em baixa até 2017. Por exemplo, as vendas de

tratores que haviam alcançado 65.089 unidades no ano de 2013, em 2015 caíram

para 37.381 e em 2017 para 35.622 unidades. As vendas internas de

colheitadeiras, que em 2013 haviam alcançado 8.539 máquinas, em 2015 caíram

para 3.917, também mantendo-se em baixa até 2017 (gráficos 15 e 16).

Como mencionamos anteriormente, durante a queda das vendas, ocorrida

no período 2004/2005, as grandes empresas amenizaram os efeitos do

encolhimento do mercado interno exportando uma parte significativa da produção.

Porém, a partir da nova recessão (especialmente a partir de 2015) a indústria

brasileira de máquinas agrícolas não conseguiu ampliar suas exportações. Por

exemplo, segundo os dados da Anfavea (2020), constatamos que no biênio

2014/2015 a quantidade exportada de tratores caiu de 9.428 para 7.338 unidades,

enquanto que a de colheitadeiras caiu de 1.026 para 386 unidades. No ano de 2017

o volume das exportações de tratores aumentou discretamente para 8.441

máquinas, enquanto que o de colheitadeiras subiu para 1.006235. Contudo, a partir

de 2018, tanto as vendas externas de tratores como as de colheitadeiras de grãos

voltaram a cair. No ano de 2019 as exportações de tratores reduziram-se a 6.497

unidades, enquanto que a de colheitadeiras caiu para apenas 486.

Há de se ressaltar que o pequeno aumento nas vendas internas de tratores

e colheitadeiras agrícolas que se verifica a partir de 2017 (pelos mesmos gráficos

15 e 16), coincide com os planos safra 2017/2018 e 2018/2019 (lançados pelo

governo Michel Temer), nos quais a taxa de juros do Moderfrota diminuiu de 8,5

para 7,5% para produtores com renda de até 90 milhões, permanecendo em 10,5%

a.a. para produtores com renda superior (na safra 2017/18). Mas, a partir da safra

2018/2019 os juros do Moderfrota voltaram a subir para 9,5%236.

235 De acordo com uma reportagem elaborada por Zafalon (2019), no período de janeiro a julho de 2017 as fábricas de máquinas agrícolas instaladas no Brasil exportaram 4.342 tratores agrícolas e 802 colheitadeiras de grãos à Argentina. Inclusive, nos últimos anos, Cuba também começou importar especialmente colhedoras de cana produzidas no Brasil. 236 O plano agrícola e pecuário 2019/2020 (lançado já durante o governo de Jair Bolsonaro) programou um investimento de R$ 9,7 bilhões para o Moderfrota, mas as taxas de juros voltaram a subir para 8,5% para os produtores rurais com faturamento anual de até R$ 90 milhões e para 10,5% a.a. para produtores com faturamentos acima desse valor. Além disso, desde 2017 o prazo máximo para quitar a dívida caiu de 8 para 7 anos (BRASIL/MAPA, 2019).

Page 189: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

170

Enfim, observamos que a produção e as vendas internas de máquinas

agrícolas respondem aos estímulos do volume de crédito rural disponibilizado

(crescendo juntamente com ele), bem como às taxas de juros utilizadas

(aumentando quando os juros caem).

Aliás, Bielschowsky, Squeff e Vasconcelos (2015) afirmam que no campo da

macroeconômica o que se requer é políticas que combinem a estabilidade de

preços com o crescimento econômico e os investimentos; isto é, uma política fiscal

que não barre os investimentos e uma política cambial favorável à estabilização

inflacionária, mas que não atrapalhe a competitividade da indústria nacional, que

melhore os salários e a distribuição de renda. Para esses autores, as taxas de juros

devem priorizar os investimentos produtivos, não a especulação financeira.

6.2 Políticas Econômicas dos Governos Lula e Dilma: Crescimento

Econômico Mas com Persistência da Desindustrialização

Para alguns autores os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) não

foram homogêneos. Por exemplo, Carvalho (2018) define esse momento da política

econômica brasileira com uma metáfora, chamando de “valsa brasileira”, pois no

seu entendimento esse período se caracterizaria por vários tempos: um marcado

por um “passo à frente”, seguido por outro que se definiria como um “passo ao

lado”, sucedido por outro com “um passo atrás”. Assim por diante.

Não analisaremos profundamente a política econômica desse período,

basicamente porque não é o principal objetivo dessa pesquisa e porque

demandaria um estudo específico, tamanha a complexidade. Porém, acreditamos

que é necessário realizar algumas considerações sobre as políticas desses

governos, mais particularmente no que concerne à indústria de máquinas agrícolas.

De acordo com o mesmo estudo de Carvalho, observamos que pelo menos

no primeiro triênio do primeiro governo Lula (2003-2005) – período no qual a

produção e as vendas internas da indústria de máquinas agrícolas regrediram,

como mencionamos anteriormente – não ocorreu um considerável crescimento

econômico, mas iniciou uma política de transferência de renda (principalmente via

Page 190: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

171

Bolsa Família)237, pois se manteve as taxas de juros altas238 (o que dificultou

inclusive o credito rural, como mencionamos anteriormente) e se investiu pouco,

pois teve que se priorizar o superávit primário (de cerca de 4,25%), o que

impossibilitou o governo de gastar em um contexto de baixas arrecadações.

Mas, segundo a própria Carvalho (2018) a partir do segundo mandato o

governo Lula conseguiu estimular o crescimento econômico, por meio da expansão

do crédito e dos investimentos públicos. Há de se ressaltar que o instrumento que

mais contribuiu para a retomada do desenvolvimento econômico, nesse período,

foi o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado no início de 2007239.

Como abordamos anteriormente, a ampliação de recursos do Moderfrota e

a criação do PSI Rural, ocorridos a partir do segundo governo Lula, bem como a

redução das taxas de juros para investimento rural, especialmente durante os

primeiros anos do primeiro governo Dilma, beneficiaram a indústria de máquinas

agrícolas instalada no país ao fomentar a demanda interna de tratores,

colheitadeiras e implementos agrícolas. Porém, como destacaremos a seguir, o

PAC não alcançou o estímulo esperado sobre a indústria brasileira em geral.

Aliás, o estudo de Ramos e Matha Júnior (2010) nos mostra que a

participação direta do governo federal no crédito rural vem diminuindo nas últimas

décadas. Por exemplo, na década de 1970 a participação do Tesouro Nacional

chegou à média de 84% do total de crédito rural disponibilizado, sendo que no ano

de 1979 alcançou 87,2%. Na primeira metade da década de 1980, como no ano de

1984, a sua participação atingiu 90,1%. A partir de 1986 foi criado a Caderneta de

Poupança Rural com a finalidade de captar recursos públicos para se aplicar na

agricultura. Inclusive, a partir dos últimos anos dessa década, bem como durante a

primeira metade dos anos 1990, os recursos da Poupança Rural se tornaram

importantes; em alguns anos, como em 1992, captando quase a metade do total de

237 A participação dos rendimentos dos trabalhadores na renda total do país, no período 2004 a 2013, aumentou de 52,5 para 57,4% (CARVALHO, 2018). 238 Por exemplo, em abril e maio de 2003 a taxa Selic chegou a 26,32% a.a.; em novembro e dezembro de 2004 caiu para 17,23%; em maio e junho de 2005 subiu para 19,75; no primeiro trimestre de 2006 alcançou 17,26% a.a. e só começou cair a partir de 2006 (último ano do primeiro governo Lula), até chegar à taxa de 10,66% em julho, agosto e setembro de 2010 (BACEN, 2019). 239 Criado em janeiro de 2007 e com metas para o período 2007-2010 o PAC continha um conjunto de medidas que objetivavam desonerar alguns setores produtivos, de modo a incentivar o investimento privado e aumentar os investimentos públicos. Grosso modo, esse programa do governo federal utilizava, principalmente, recursos do FGTS para aumentar o volume de crédito disponível, sobretudo para investir em saneamento, habitação e infraestrutura (MORAES, 2019).

Page 191: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

172

crédito rural disponibilizado. Porém, a participação do Tesouro Nacional no crédito

rural começou reduzir consideravelmente, caindo para apenas 0,1% em 1999,

zerando no ano de 2000240.

Na década de 2000 (“governos do PT”) a participação da Poupança Rural

voltou a ser importante, em alguns anos (como em 2005) alcançando 25,5% do

total de crédito, além dos recursos obrigatórios (captados dos depósitos à vista nos

bancos públicos) que em alguns anos, como em 2007, contribuíram com 55,5% do

total de crédito rural disponibilizado. Porém, observamos que a participação do

governo federal na dotação de recursos ao crédito rural, embora que tenha sido

retomada nesse período, foi bem aquém da participação do Tesouro Nacional

ocorrida na década de 1970241.

A partir do gráfico 17, podemos observar a evolução dos desembolsos do

BNDES no Finame, o que nos permite avaliar a sua participação nos investimentos

aplicados no setor de máquinas e equipamentos:

Gráfico 17 Desembolsos do BNDES – Finame – 1991-2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da FGV/IBRE organizados pelo Observatório (2019a).

240 Verificamos que na década de 2000 a maior participação do Tesouro Nacional no crédito rural foi de 3,8% no ano de 2004, mas em 2008, por exemplo, foi de apenas 0,6% (RAMOS; MARTHA JÚNIOR, 2010). 241 Ramos e Martha Júnior (2010) também ressaltam a participação que tem tido o BNDES no crédito rural, que em anos como 2004 contribuiu com 11,4% do total.

11

.56

5

15

.92

0

36

.17

8

21

.16

3

30

.65

1

24

.50

4 63

.89

5

57

.37

4 10

6.8

06

16

2.1

83 2

05

.43

1

16

7.7

49

21

9.1

29

47

.36

1

47

.73

6

0

15000

30000

45000

60000

75000

90000

105000

120000

135000

150000

165000

180000

195000

210000

225000

240000

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

20

16

20

17

20

18

Milh

ões d

e R

$ d

e jan./1995

BNDES - Finame Linear (BNDES - Finame)

Page 192: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

173

Como podemos observar, os investimentos do BNDES/Finame aumentaram

a partir do ano 2000, mas o grande salto ocorreu a partir do segundo governo Lula

(1997-2010) e durou até 2011, regredindo no ano de 2012, embora que se

mantendo em alta até 2014. Porém, durante o segundo mandato da presidente

Dilma (2015-2018) – que seria afastada do poder a partir de agosto de 2016, sendo

substituída pelo seu vice, Michael Temer – os desembolsos do BNDES no Finame

caíram vertiginosamente, de modo que nos anos de 2017 e 2018 os valores

voltaram a níveis de 2003. Há de se ressaltar que se de 2009 a 2011 o volume de

desembolsos duplicou, por outro lado, os recursos do ano de 2016 não chegaram

a 30% dos valores de 2014, por conseguinte ocorrendo uma queda de 71% em

apenas 2 anos242.

Há de se ressaltar que a participação efetiva do Estado no planejamento e

no fomento econômico não foi tão expressiva como, aparentemente, retratam os

dados referentes aos desembolsos do BNDES que organizamos no gráfico 17.

Acreditamos que uma análise mais cuidadosa nos mostraria que o crescimento que

ocorreu no período 2006-2014 foi expressivo, mas inclusive porque os níveis de

investimento na década de 1990 foram muito baixos, então ocorreu um

superdimensionamento do crescimento ocorrido a partir do segundo mandato do

governo Lula e no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

A partir dos dados do gráfico 18, podemos analisar a evolução da taxa de

Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – investimentos em maquinário e outros

bens de capital destinados à produção – no Brasil, além de comparar a participação

dos setores público e privado nos investimentos (em relação ao PIB do país), no

período 1965 a 2018. Os dados desse gráfico nos permitem observar que o

percentual de FBCF cresceu no período 1965 a 1975, mas reduziu no biênio

seguinte, voltando a crescer de 1977-1981, ano em que alcançou 24,3% do PIB;

mas voltaria a decrescer no período 1982-1985, se recuperando na segunda

metade da década de 1980, chegando a 26,9% no ano de 1989. Por outro lado,

verificamos que na década de 1990 a taxa de FBCF reduziu consideravelmente

(gráfico 18).

242 Se resgatarmos, mais uma vez, os dados dos gráficos 15 e 16, verificaremos que a produção e as vendas internas de máquinas agrícolas, grosso modo, acompanharam a dinâmica dos desembolsos do sistema BNDES, inclusive porque, como mencionamos anteriormente, o Moderfrota e o PSI Rural foram de suma importância para os investimentos em máquinas agrícolas.

Page 193: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

7

Gráfico 18 Taxa de investimentos (FBCF) públicos e privados sobre o PIB do Brasil – 1965-2018

Nota: O que se investe em máquinas e equipamentos; em construção civil e em inovações (OBSERVATÓRIO, 2019b).

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da FGV/IBRE organizados pelo Observatório (2019b).

14,71

19,11

23,33

21,35

24,31

18,01

26,86

18,11

20,75

17,0216,60

19,39

20,53 20,91

15,83

6,79

7,27 7,56

5,79

8,41

10,589,50

8,45

6,60

7,33

5,13

6,47

4,35

4,98

3,48

3,90

2,43

3,25

2,59

3,524,02

4,56

3,75

4,06 3,95

2,28

1,85

2,43

7,92

12,34

14,92

11,84

16,98

12,73

21,32

13,45

16,80

14,58

15,75

14,02

15,87

16,85

13,39

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

18,00

20,00

22,00

24,00

26,00

28,00

30,00

19

65

19

66

19

67

19

68

19

69

19

70

19

71

19

72

19

73

19

74

19

75

19

76

19

77

19

78

19

79

19

80

19

81

19

82

19

83

19

84

19

85

19

86

19

87

19

88

19

89

19

90

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

20

16

20

17

20

18

% P

IB

Taxa de investimento total (FBCF) Investimentos públicos Investimentos privados

Page 194: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

175

Há de se notar que a partir de meados da década de 2000 a taxa geral de

investimentos começou se recuperar, especialmente no período 2006-2010,

mantendo-se em alta até 2013, mas com percentuais inferiores aos alcançados na

década de 1970 e no final dos anos 1980. Porém, o que nos chama a atenção é a

queda na participação dos investimentos públicos a partir de 1976. Observamos

que naquele ano a participação pública na FBCF equivalia a 10,6% do PIB do país,

mas em 1980 já havia caído para 6,6%, fechando os últimos anos daquela década

com uma participação inferior a 6%. Há de se ressaltar que na década de 1990 a

participação do Estado brasileiro nos investimentos foi ainda menor, como em

1999, que alcançou apenas 2,4% do PIB.

Os dados do gráfico 18, também nos mostram que durante o primeiro

governo Lula (2003-2006) a participação dos investimentos públicos permaneceu

estagnada e abaixo de 3% do PIB. Durante seu segundo mandato a participação

estatal aumentou, atingindo 4,6% no ano de 2010. Porém, há de se notar que não

chegou à metade dos investimentos públicos do ano de 1976.

Observamos que durante o primeiro governo Dilma (2011-2014) a

participação dos investimentos públicos, manteve-se estagnada, não alcançando a

média anual de 4% e, inclusive, regredindo a partir do seu segundo mandado

(2015) a ponto de em 2017 (portanto, já no governo Temer) atingir a menor

participação em um período de 53 anos, apenas 1,85% do PIB. Há de se observar

que a taxa geral de investimentos (públicos e privados) no ano de 2017 voltou aos

níveis de 1966, alcançando pouco mais de 15% do PIB243.

Contrariando o entendimento de importantes intelectuais brasileiros, como

André Singer, que afirmou que a presidente Dilma realizou um ousado programa

de redução de juros, desvalorização da moeda, controle de capitais, subsídios ao

investimento público etc., mas que os empresários se uniram contra o

intervencionismo de um governo “desenvolvimentista”244, Carvalho (2018) critica

essa política econômica, pois, no seu entendimento, um governo que reduz

investimentos públicos jamais poderia ser considerado “desenvolvimentista” se

243 Carvalho (2018), nos lembra que no período 2006-2010 os investimentos públicos do governo federal cresceram a 17% a.a. (inclusive devido à queda dos investimentos nos anos 1990), mas que no período 2010-2014 caíram para 1% a.a. 244 Para mais informações, ver o artigo Cutucando onças com varas curtas (SINGER, 2015). Katz (2016), por exemplo, prefere caracterizar os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), como “neodesenvolvimentistas”.

Page 195: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

176

comparado, por exemplo, a governos de países como a China, que têm realizado

pesados investimentos públicos.

Ora, o Brasil tem realizado taxas de FBCF bem inferiores que da maioria dos

países em desenvolvimento. Por exemplo, pelo estudo de Ellery Júnior, Nascimento

Júnior e Sachsida (2018), constatamos que a taxa de FBCF do Brasil para 2016 foi

equivalente a 15,4% do seu PIB, ano em que a Argentina investiu 17,0%; que o

Peru aplicou 22,1%; o Chile, 22,2%; em que o México investiu 23,7%; o Equador,

25,2%; a Indonésia, 33,8% e que a China investiu o equivalente a 44,3% do seu

PIB. Há de se ressaltar que mesmo nos anos de 2010 e 2011, em que a taxa de

investimentos no Brasil alcançou 21,8% (nos dois anos), na China as taxas foram,

respectivamente, de 47,6 e 47,7%245.

Pelo gráfico 19, podemos observar a evolução da FBCF no segmento de

máquinas e equipamentos no período 1980-2018:

Gráfico 19 Evolução da FBCF na indústria brasileira de máquinas e equipamentos – 1980-2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE/SCN, organizados pelo Ipeadata (2019b).

245 Em 2016 o Vietnã obteve uma taxa de FBCF de 26,6%; a Turquia investiu 28,2%; a Índia aplicou 30,3%; Sri Lanka, 35,0%, entre outros. Nesse ano, do total de 23 países analisados, apenas a Guatemala obteve uma taxa de investimento menor que a do Brasil, 12,9% (ELLERY JÚNIOR; NASCIMENTO JUNIOR; SACHSIDA, 2018).

166.894

86.705

137.044

85.020

165.765

137.782

268.519

345.176

206.276

247.595

198

01

98

11

98

21

98

31

98

41

98

51

98

61

98

71

98

81

98

91

99

01

99

11

99

21

99

31

99

41

99

51

99

61

99

71

99

81

99

92

00

02

00

12

00

22

00

32

00

42

00

52

00

62

00

72

00

82

00

92

01

02

01

12

01

22

01

32

01

42

01

52

01

62

01

72

01

8

Em

milh

ões R

$ d

e 2

010

FBCF - Máquinas e equipamentos

Page 196: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

177

Os dados desse gráfico nos mostram que a partir de 2003 aumentou a

Formação Bruta de Capital Fixo na indústria de máquinas e equipamentos. Porém,

se analisarmos a sua variação real, verificaremos que o crescimento não foi tão

expressivo e que, inclusive, oscilou bastante nesse período. A partir dos dados do

gráfico 20, podemos observar que os investimentos foram positivos no início da

década de 1970, mas que a partir dessa época ocorreram alguns picos, como em

1986 e em 1994, inclusive devido à queda que ocorreu nos anos anteriores. A partir

de 2002 ocorreu uma nova fase de crescimento, mas que foi interrompida em 2011

e se agravou especialmente no biênio 2014-2015 (gráfico 20).

Gráfico 20 Variação real da FBCF na indústria brasileira de máquinas e equipamentos – 1971-2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE/SCN, organizados pelo Ipeadata (2019a).

Há de se observar que a indústria vem perdendo espaço no PIB brasileiro.

Por exemplo, durante o governo JK (1956-1961) a sua participação média foi de

24,4% (em alguns anos, como em 1961, atingindo 27,9%); no período 1972-1979

foi de 32,8%; de 1980-1989 subiu para 33,8%; de 1990 a 1994 caiu para 26,7%; no

período 1995-2002 (governo FHC) diminuiu para 15%; durante o governo Lula

19,67 21,11

-10,34

6,89

-21,91-22,63

29,07

-11,95

32,93

9,81

-15,76

9,711,7

21,6

-10,8

29,7

9,5

-22,3

15,44

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

197

1

197

3

197

5

197

7

197

9

198

1

198

3

198

5

198

7

198

9

199

1

199

3

199

5

199

7

199

9

200

1

200

3

200

5

200

7

200

9

201

1

201

3

201

5

201

7

Variação a

nual (%

a.a

.)

FBCF - Máquinas e equipamentosLinear (FBCF - Máquinas e equipamentos)

Page 197: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

178

(2003-2010) subiu para 16,5% e no período 2011-2018 (governos Dilma/Temer)

retraiu para 12,4%. Nos últimos anos a maior participação da indústria de

transformação ocorreu em 2011, alcançando 13,9%. Aliás, a menor participação de

todo o período 1947-2018 ocorreu no ano de 2018, no qual a indústria de

transformação contribuiu com apenas 11,3% do PIB brasileiro (IPEADATA, 2019g).

De certa forma, observamos que as opções de políticas econômicas

utilizadas no Brasil, após 1980, contribuiram para a desendustrialização. Falamos

em “opção” porque a busca incessante pelo ajuste fiscal, como vem ocorrendo no

país, não é um modelo inquestionável, à medida que, por exemplo, já se mostrou

que é possível condicionar os investimentos à capacidade (muitas vezes, não

aparente) de se criar recursos, portanto, escapando das amarras orçamentárias.

Ora, pois como escreveu Schacht (1999, p. 637): “ousei vincular o aumento de

produção não ao capital poupado, mas à criação de recursos”246.

6.3 Uma Nota sobre os Ciclos Econômicos

Se observarmos atentamente a evolução das vendas internas, bem como da

produção de tratores e colheitadeiras automotrizes (gráficos 15 e 16), verificaremos

que, grosso modo, tem ocorrido crescimento durante a segunda metade das

décadas, mas tem retraído durante os primeiros anos do seguinte decênio. Isso

pode parecer acidental, mas há estudos que nos mostram que pode não ser. Por

exemplo, além da existência dos ciclos longos ou de Kondratiev (como

mencionamos no primeiro capítulo), há de se destacar a existência de ciclos

médios, também chamados de “juglarianos” em alusão ao economista francês

Clément Juglar, que em meados do século XIX (reforçando seu estudo no final

daquele século) observou a existência de ciclos com “aparência” comercial, que

começam se desenvolver à medida que os países se industrializam, nos quais a

economia prospera por períodos de 5 ou de até 7 anos, mas que em seguida

246 Por exemplo, na condição de Ministro da Economia da Alemanha, no período 1934-1937, Hjalmar Schacht estimulou o desenvolvimento econômico de seu país a partir de um ousado plano de investimentos públicos, apoiado na credibilidade de suas grandes empresas (dos conglomerados industriais dos setores siderúrgico e elétrico), captando recursos financeiros (o que o governo alemão não possuía naquele período), via emissão de títulos (Mefo). Grosso modo, Schacht percebeu que seria possível investir sem gerar inflação, desde que se utilizasse a capacidade produtiva ociosa das grandes empresas alemãs, aplicando em seus gargalos para investimentos, como na construção de rodovias e em outras grandes obras públicas (SCHACHT, 1999).

Page 198: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

179

mergulha em crises, acompanhadas por um processo de liquidação (inclusive com

a falência das empresas mais fracas) e de recessão, que geralmente duram cerca

de 2 anos, mas que em alguns ciclos podem se estender por períodos maiores247.

Rangel (1983), verificou que no Brasil os ciclos médios possuem,

praticamente, 10 anos de duração, com a fase prospera coincidindo com a segunda

metade das décadas, enquanto que a fase recessiva ocorre nos primeiros anos da

década seguinte. Ou seja, verificamos que o desempenho da indústria brasileira de

máquinas agrícolas, grosso modo, tem acompanhado a conjuntura cíclica, os ciclos

médios da economia brasileira.

Outro fator importante apontado por Rangel, é que durante as fases

recessivas da economia brasileira não ocorre apenas uma instabilidade econômica,

mas também institucional. Por exemplo, ele lembra que a recessão da primeira

metade da década de 1950 culminou com a queda de Getúlio Vargas em 1954.

Depois de uma fase de prosperidade (no contexto do Plano de Metas do governo

JK), novamente ocorreu uma recessão nos primeiros anos da década de 1960,

levando ao afastamento do governo João Goulart (em 1964) e à chegada dos

governos militares; que por meio de planos, como o investimento em habitação e

outras obras pública, PND’s, entre outros, conseguiram estender a nova fase de

prosperidade até meados da década de 1970, inclusive resistindo com a economia

em um bom desempenho até o final dos anos 70. Aliás, verificamos que a recessão

da primeira metade da década de 1980 (logo após Rangel ter publicado seu artigo)

derrubou do poder o próprio governo militar.

Provavelmente, se tentássemos atualizar o entendimento de Rangel,

perceberíamos que apesar dos problemas do Plano Cruzado a economia brasileira

ensaiou uma recuperação durante a segunda metade dos anos 1980, mas que a

247 Juglar (1889), percebeu que esses ciclos ocorrem, basicamente, porque durante a fase de prosperidade aumentam os investimentos, pois a lucratividade é atraente e existe disponibilidade de capital e a juros baixos. Porém, a capacidade produtiva aumenta em um contexto em que ocorre um excesso de crédito, interrompendo a circulação de capitais (especialmente da moeda), o que faz aumentar os juros e desvalorizar a moeda, o que resulta em aumento dos preços (inflação), desde o custo das matérias-primas até do produto final. No seu entendimento, nos períodos de prosperidade ocorre especulação com o preço da terra e aumento dos alugueis, o que também contribui para a redução da taxa de lucros, de modo que em algum momento o processo entrará em crise. Em seguida a economia mergulhará em um processo de liquidação (dos estoques encalhados, o fechamento de parte das empresas etc.) e chegará à recessão. Um novo ciclo prospero só iniciará a partir do momento em que os preços das matérias-primas, dos salários e juros baixem a ponto de viabilizar novamente os investimentos. Com isso, se abre oportunidade para que grande quantidade de capital seja realocado.

Page 199: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

180

partir do início da década de 1990 se escancarou outra recessão, que inclusive

coincidiu com o impeachment do governo Collor de Mello em 1992. Poderíamos,

também, pensar que não ocorreu uma retomada do crescimento econômico

durante a segunda metade dos anos 1990, como deveria ter ocorrido, devido à

abertura econômica e às políticas contracionistas do governo FHC. Além disso,

verificaríamos que durante o primeiro governo Lula (primeira metade da década de

2000) a retomada do crescimento foi discreta, mas que a partir do seu segundo

mandato (mais uma vez durante a segunda metade da década) ocorreu uma nova

fase de prosperidade e que aconteceu justamente devido à retomada dos

investimentos públicos (programas como o PAC, PSI etc.), o que refletiu inclusive

no aumento das vendas e da produção de máquinas agrícolas.

Aliás, verificamos que o aumento da inflação (ainda que menos

intensamente do que ocorreu no início das décadas de 1980 e 1990), da ociosidade

do setor produtivo, do desemprego, enfim, a nova fase recessiva que começou se

evidenciar a partir de 2013 (portanto, no início da década de 2010) e, de forma mais

clara, a partir de 2015, mais uma vez levou à instabilidade institucional, inclusive

resultando no afastamento da presidente Dilma Rousseff (ocorrido em 2016).

Enfim, para não nos estendermos demasiadamente sobre essa questão, que

não é o objetivo principal dessa pesquisa, ressaltamos que o caráter cíclico da

economia (e com suas consequências sobre as instituições públicas) justifica a

importância do planejamento, tarefa que devido a sua complexidade exige o

protagonismo de importantes instituições estatais, especialmente dos ministérios

da Economia e do Planejamento.

6.4 Valorização Internacional das Commodities e as Vendas de Máquinas

Agrícolas

Quando se analisa a formação de demanda para a indústria de máquinas

agrícolas, além do crédito para investimento, como analisamos anteriormente, há

de se considerar outros fatores que possam influenciar nas vendas e,

consequentemente, na produção desse segmento industrial. Um desses fatores é

a dinâmica de preços das commodities, especialmente das agrícolas (ver gráficos

21 a 24).

Page 200: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

181

A partir dos dados do gráfico 21, podemos analisar a evolução do preço

internacional do petróleo e pelo gráfico 22 a variação do preço dos minérios não

preciosos no período 1995-2018:

Gráfico 21 Evolução dos preços internacionais do petróleo bruto – 1995-2018

Nota: *Brent API de mistura leve 38 °, preço local FOB do Reino Unido (US$/barril).

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da UNCTAD (2019a).

Gráfico 22 Evolução dos preços internacionais dos minérios não preciosos – 1995-2018

Nota: *Minerais, minérios e metais não preciosos.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da UNCTAD (2019b).

17,1 20,612,7

28,324,4

28,9

54,4

72,7

97,6

61,9

79,6

112

98,9

52,4

44

54,4

71,1

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

199

5

199

6

199

7

199

8

199

9

200

0

200

1

200

2

200

3

200

4

200

5

200

6

200

7

200

8

200

9

201

0

201

1

201

2

201

3

201

4

201

5

201

6

201

7

201

8

US

$ p

or

barr

il

Petróleo bruto* Linear (Petróleo bruto*)

58,352,8

44,3 44,949,2

124,5

164

122,4

170,1

190,8

158,8155,7

100

101,4

127,5130,8

0

15

30

45

60

75

90

105

120

135

150

165

180

195

210

199

5

199

6

199

7

199

8

199

9

200

0

200

1

200

2

200

3

200

4

200

5

200

6

200

7

200

8

200

9

201

0

201

1

201

2

201

3

201

4

201

5

201

6

201

7

201

8

Índic

e, 2

01

5 =

100

Minérios em geral* Linear (Minérios em geral*)

Page 201: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

182

Os dados do gráfico 21, referem-se a evolução dos preços internacionais do

petróleo bruto, no qual observamos que no período 2005-2012 eles subiram acima

da tendência (linear do gráfico). Por exemplo, de 2002 a 2008 o preço do petróleo

saltou de US$ 25,00 para US$ 97,60 o barril. Porém, há de se observar que a

cotação desse importante insumo produtivo decresceu bruscamente de 2014 a

2016.

Como podemos observar pelos dados do gráfico 22, no período 2006-2011

os preços internacionais dos minérios não preciosos, assim como ocorreu com o

petróleo bruto, também cresceram acima da tendência. Por exemplo, do ano de

2002 a 2008 os preços aumentaram 265%, mas de 2011 a 2015 (semelhante ao

que ocorreu com os preços do petróleo) também caíram consideravelmente.

No gráfico 23, expomos dados referentes à evolução dos preços

internacionais de algumas commodities agrícolas, tais como do milho e do

complexo da soja (grãos, farelo e óleo).

Gráfico 23 Preços internacionais de algumas commodities agrícolas selecionadas – 1995-2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da UNCTAD (2019a).

Esses dados nos mostram que os preços internacionais de algumas das

259,3

195,8

306,5 268,6

521,9

423,6

595,5

394,4

625,1 625,9

338,1

618,2544,6

1.260,8

853,1

1.297,7

755,6789,2

196,9275,8

165,2259,9

227,4

442,1 408,7

543,5

350,2 405,2

125,1 90123,1

227,9 195,1

300,7

172,4

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

199

5

199

6

199

7

199

8

199

9

200

0

200

1

200

2

200

3

200

4

200

5

200

6

200

7

200

8

200

9

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0

201

1

201

2

201

3

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4

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5

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6

201

7

201

8

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or

tonela

da

Soja a granel - EUA Óleo de soja a granel - Holanda

Farelo de soja a granel - Hamburgo Milho - EUA

Page 202: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

183

principais commodities agrícolas, também tiveram um aumento considerável no

período que coincide com o governo Lula (2003-2010) e durante os dois primeiros

anos do primeiro governo Dilma. Apesar das oscilações, de 2005 a 2012 o preço

da tonelada de milho passou de US$ 98,9 para US$ 300,7 e de 2002 a 2008 passou

de US$ 212,7 para US$ 521,9. Observamos que o preço da soja (do complexo,

inclusive) também disparou no triênio 2006-2008 e no biênio 2010-2011, mas

regrediu consideravelmente a partir de 2012, mais intensamente a partir de 2013.

Expomos esses dados sobre a evolução dos preços internacionais do

petróleo, minérios e de algumas commodities agrícolas porque verificamos que as

exportações brasileiras se beneficiaram do aumento dos preços internacionais

dessas commodities (gráfico 24).

Gráfico 24 Evolução das exportações brasileiras de algumas commodities selecionadas – 1996-2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Ipeadata (2019h).

Pelos dados desse gráfico, verificamos que do ano de 2003 a 2011 o valor

das exportações brasileiras de petróleo e gás natural aumentou 920%, enquanto

que o dos minerais metálicos aumentou 1.118%. Também observamos que a partir

de 2012 (até 2016) o valor total das exportações caíram notavelmente,

3,63

18,72

30,84

44,22

15,82 23,65

2,12

13,68

21,63

12,98

10,17

25,13

5,61 4,99

18,36

20,53

36,27

29,74

43,97

0

3

6

9

12

15

18

21

24

27

30

33

36

39

42

45

48

199

6

199

7

199

8

199

9

200

0

200

1

200

2

200

3

200

4

200

5

200

6

200

7

200

8

200

9

201

0

201

1

201

2

201

3

201

4

201

5

201

6

201

7

201

8

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e U

S$

Minerais metálicos Petróleo e gás natural Agricultura e pecuária

Page 203: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

184

provavelmente devido à queda nos preços internacionais dessa commodities, como

mostramos nos gráficos 21 a 23.

Como podemos verificar pelo gráfico 24, as exportações brasileiras de

produtos agrícolas não tiveram o mesmo desempenho das exportações de minerais

metálicos, especialmente no período 2009-2011, porém o desempenho das

exportações de grãos foi melhor no período 2012-2016 do que das demais

commodities. Notamos que até 2008 o valor das exportações agropecuárias,

praticamente, acompanhou o volume das exportações minerais, mas a partir de

2013 a importância do setor agrícola ampliou. Há de se notar que nos últimos anos

o valor das exportações agropecuárias tem sido bem superior que das vendas

externas de minérios.

Comparamos o desempenho do setor agrícola em relação ao de outros

segmentos exportadores de commodities porque entendemos que o aumento do

preço internacional dos produtos agrícolas, bem como o aumento da participação

da agricultura nas exportações brasileiras, foi importante inclusive para as vendas

internas de máquinas agrícolas, como mostraremos adiante.

De acordo com Medeiros (2009), a desvalorização cambial e a adoção do

câmbio flutuante, ocorridas a partir de 1999, fez retomar as exportações do país ao

baratear os produtos brasileiros e ao tornar os importados mais caros. Mas, para

esse autor as exportações só deram um salto a partir de 2002 e 2003, já que haviam

caído nos anos de 1998 e 1999, portanto só recuperado o campo perdido248.

Ao analisar as políticas econômicas dos governos Lula e Dilma, Carvalho

(2018) ressaltou que a indústria não foi protagonista nas atividades econômicas do

país, nem mesmo durante o segundo governo Lula, no qual o PIB obteve melhor

desempenho249. No seu entendimento, a âncora do crescimento econômico,

verificado especialmente no período 2006-2010, se apoiou no boom das

commodities, no forte aumento dos preços internacionais das principais matérias-

248 De acordo com Medeiros (2009), a participação das exportações no PIB brasileiro saltou de 8,9%, em 1999, para 16% em 2004. De 1990 a 2000 a participação do Brasil nas exportações mundiais agrícolas passou de 2,4 para 2,8% e em 2007 chegou a 4,3%. No período 1994-2005 a quantidade de soja exportada pelos portos brasileiros passou de 5.403 mil para 22.435 mil toneladas. 249 A média do crescimento do PIB real brasileiro (a preços de mercado) durante o governo Lula (2003-2010), foi de 4,1% a.a., sendo que no primeiro mandato cresceu a 3,5% e no segundo a 4,6% a.a. (sendo que, por exemplo, em 2010 cresceu a 7,5%). Porém, durante o primeiro governo Dilma (2011-2014) o crescimento do PIB foi de 2,3% a.a., portanto, menor que do período 1995-2002 (governo FHC), no qual havia crescido a 2,4% (IPEADATA, 2019i).

Page 204: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

185

primas (minérios, petróleo, farelo de soja etc.); portanto que quando os preços

declinaram o Brasil começou perder sua capacidade de financiar os programas

sociais e o aumento real do salário mínimo (programas de transferência de renda).

Apesar de concordarmos com Carvalho de que a indústria não foi a âncora

das políticas econômicas implantadas nesse período, há de se destacar que o

boom das commodities beneficiou o segmento da indústria de máquinas agrícolas

instalada no Brasil, particularmente ao formar demanda, ajudando a aumentar as

vendas internas250. Ocorre que, como aumentou o preço internacional dos produtos

agrícolas, também aumentou o poder de investimento (e de endividamento) dos

produtores rurais que inclusive expandiram a área cultivada, o que exigiu a

aquisição de novas máquinas e implementos agrícolas251.

Os dados dos gráficos a seguir nos permitem avaliar a importância do

aumento dos preços internacionais das commodities agrícolas, ao apresentarem a

relação de troca de produtos agrícolas por tratores e colheitadeiras de grãos.

Infelizmente a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não fornece dados

de períodos contínuos, o que dificulta a análise, inclusive porque os modelos de

máquinas agrícolas mudam periodicamente; o que nos obriga dividir os gráficos em

duas fases, conforme os dados são disponibilizados.

A partir dos dados do gráfico 25, verificamos que as vendas internas de

tratores aumentaram nos períodos em que diminuiu a quantidade de produtos

agrícolas necessária para adquirir esse tipo de máquina. Por exemplo, no período

1998-2002 (em que aumentou as vendas de máquinas) a quantidade de milho

necessária para adquirir um trator caiu de 3.881 para 2.793 sacas (exceto no ano

de 2001), enquanto que a quantidade de soja caiu de 2.144 para 1.310 sacas. Por

outro lado, no período 2002-2005 as vendas de tratores caíram, enquanto que a

quantidade de produtos agrícolas para adquiri-los aumentou. Da mesma forma,

observamos que no período 2006-2010 as vendas voltaram a aumentar

consideravelmente, justamente quando a quantidade de produtos agrícolas para

adquirir um trator agrícola voltou a cair.

250 A elevação dos preços das commodities agrícolas também contribuiu para aumentar as exportações brasileiras de máquinas agrícolas. Como mencionamos anteriormente, a partir de 2003 as fábricas expandiram suas vendas externas, especialmente para a Argentina. 251 Por exemplo, verificamos que a área ocupada com lavouras temporárias (soja, milho, cana-de-açúcar, trigo, algodão, entre outras culturas) passou de 45,4 milhões de hectares (ha.), no ano de 2001, para 58 milhões em 2005 e para 70,4 milhões de hectares no ano de 2014 (IBGE, 2019b).

Page 205: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

186

Gráfico 25 Relação de troca de trator agrícola por produtos agrícolas selecionados e vendas internas de tratores de rodas – 1998-2010*

Nota: *Quantidade necessária para adquirir um trator com potência de 75 cv. **Unidades vendidas.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do DERAL organizados pela Conab (2003, 2004 e 2010) e Anfavea (2019).

Gráfico 26 Relação de troca de trator agrícola por produtos agrícolas

selecionados e vendas internas de tratores de rodas – 2010-2017*

Nota: *Quantidade necessária para adquirir um trator com potência de 75 cv (4 x 2). **Unidades vendidas. A Conab utilizou o período de novembro a novembro.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do DERAL organizados pela Conab (2017 e 2018) e Anfavea (2019).

2.144 2.032 1.943 1.783 1.310 1.636 1.862 2.681 2.969 2.365 1.800 1.784 2.193

3.881 3.598 3.0964.369

2.793 3.949 4.509 5.117 5.9334.260 4.029 4.813 5.590

18.677 19.205

24.591

28.203

33.217

29.476 28.803

17.729

20.435

31.300

43.41445.437

56.420

03.0006.0009.000

12.00015.00018.00021.00024.00027.00030.00033.00036.00039.00042.00045.00048.00051.00054.00057.00060.000

Sa

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0 K

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Soja Milho Vendas internas**

1.828 1.470 1.412 1.427 1.484 1.379 1.601

3.540 3.348 4.115 4.409 4.246 3.013 4.418

52.29655.819

65.089

55.612

37.38135.956 35.622

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

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50.000

55.000

60.000

65.000

70.000

Sa

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0 K

g

Soja Milho Vendas internas**

Page 206: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

187

Os dados do gráfico 26 nos mostram que as vendas de tratores, no país,

aumentaram nos anos 2011 a 2013, período em que diminuiu a quantidade de

sacas de soja necessária para adquirir um trator (no caso do milho não se observa

essa condição). Por outro lado, verificamos que as vendas de tratores voltaram a

cair em um contexto de aumento (embora que discreto) da quantidade de produtos

agrícolas necessária para adquirir uma máquinas de 75 cv de potência.

Se realizarmos uma análise sobre a relação de troca de produtos agrícolas

por colheitadeiras, constataremos até com mais clareza o condicionamento das

vendas internas à variação dos preços da soja e do milho. Pelos dados do gráfico

27, observamos uma nítida relação de queda nas vendas internas nos períodos em

que também caiu os preços dessas commodities, portanto sendo necessário maior

quantidade de produtos para adquirir uma máquina, como ocorreu no período 2004-

2005, por exemplo. Por outro lado, verificamos que as vendas começaram se

recuperar a partir de 2006, ano em que a quantidade de sacas de

produto/colheitadeira começou diminuir.

Gráfico 27 Relação de troca de colheitadeira por produtos agrícolas selecionados e vendas internas de colheitadeiras de grãos – 2002-2010*

Nota: *Quantidade de produtos agrícolas necessária para adquirir uma colheitadeira com potência de 125 cv. **Unidades vendidas.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do DERAL organizados pela Conab (2010) e

Anfavea (2019).

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

22.000

Sa

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e 6

0 K

g

Soja Milho Vendas internas**

Page 207: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

188

A partir dos dados do gráfico 28, observamos que no período mais recente

as vendas de colheitadeiras, grosso modo, também variaram conforme o preço da

soja, aumentando quando o preço desse produto subiu e diminuindo quando a

cotação da soja regrediu, por conseguinte sendo necessário maior quantidade de

produtos agrícolas para se adquirir uma colheitadeira. No caso do milho, já não se

observa tão nitidamente essa relação.

Gráfico 28 Relação de troca de colheitadeira agrícola por produtos agrícolas selecionados e vendas internas de colheitadeiras de grãos – 2010-2016*

Nota: *Quantidade de produtos agrícolas necessária para adquirir uma colheitadeira AGCO, marca Massey Ferguson, modelo 5650, com potência de 175 cv. **Unidades vendidas.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do DERAL organizados pela Conab (2017) e Anfavea (2019).

Portanto, se recuperarmos os dados do gráfico 23, verificaremos que o

aumento nos preços intenacionais das principais commodities agrícolas, ocorrido

especialmente no período 2005 a 2012, também ajudou a aumentar o poder

aquisitivo dos proprietários rurais, à medida que reduziu o custo das máquinas

agrícolas em relação à cotação dos produtos agrícolas.

Como mencionamos anteriormente, a política nacional de crédito rural para

investimento (especialmente os programas Moderfrota e PSI Rural) foi de suma

importância para a indústria brasileira de máquinas e implementos agrícolas, no

6.8555.573 5.624 5.920 6.114 6.477

5.343 6.278

8.539

6.448

3.9174.498

13.27812.696

16.456 18.291

17.503

14.021

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

22.000

24.000

26.000

28.000

30.000

32.000

34.000

Sacas d

e 6

0 K

g

Soja Vendas internas** Milho

Page 208: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

189

que se refere à formação de demanda interna252. De acordo com o entendimento

de Marx (1984c), que citamos no início desse capítulo, verificamos que a indústria

de bens de produção necessita de uma taxa de investimentos considerável, tarefa

que só um Estado empreendedor consegue realizar, já que as taxas de juros para

esse tipo de financiamento têm que ser atraentes ao setor produtivo (nesse caso,

à agricultura), o que dificilmente ocorre a partir da iniciativa privada.

Porém, entendemos que não se deve desprezar a influência que o boom do

preço das commodities agrícolas teve sobre o aumento das vendas de máquinas

agrícolas no Brasil, ocorrido especialmente na segunda metade da década de 2000.

Mas, em relação aos preços internacionais dos produtos agrícolas o governo

brasileiro não pode intervir o que, aliás, reforça o nosso entendimento sobre a

necessidade do planejamento econômico, isto é, o uso de instrumentos que

identifiquem as áreas com capacidade produtiva ociosa, que norteiem a captação

de recursos, bem como prospectem as áreas econômicas a serem impulsionadas

pelos investimentos.

No capítulo a seguir, analisaremos as particularidades da indústria brasileira

de máquinas agrícolas na atualidade.

252 Há de se ressaltar que especialmente a partir da segunda metade da década de 2000, além dessas políticas econômicas federais, outras políticas surgiram em alguns estados do Brasil com a intenção de aumentar as vendas de máquinas agrícolas a pequenos agricultores o que, consequente, beneficiou a indústria desse setor. Por exemplo, em 2006 (durante o governo de Roberto Requião) o Paraná criou o programa Trator Solidário, com a intenção de fomentar a venda de tratores agrícolas para os pequenos agricultores paranaenses (com estabelecimentos rurais com tamanho entre 12 e 80 hectares). Do ano de 2007 (quando iniciou o programa) até 2019 o Trator Solidário forneceu cerca de 12 mil tratores agrícolas a pequenos agricultores desse estado. Esse programa financia a aquisição de máquinas de 55 a 75 cv de potência, mas segundo os dados para os anos de 2017, 2018 e 2019, verificamos que ultimamente tem se financiado apenas tratores com 75 cv. Em média os tratores custam de 10 a 15% a menos que os preços de mercado. Desde 2015 esse programa também tem financiado a aquisição de pulverizadores agrícolas e colheitadeiras de grãos com motor acima de 175 cv. Detalhe, os tratores e as colheitadeiras financiados são da marca New Holland que, aliás, são fabricados na unidade da CNH Industrial, instalada na capital paranaense (SEAB, 2020).

Page 209: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

190

CAPÍTULO VII

PARTICULARIDADES DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

INSTALADA NO BRASIL

Mas, qualquer que seja o tipo, alguém só é um empresário quando efetivamente “levar a cabo novas combinações”, e perde esse caráter assim que tiver montado o seu negócio, quando dedicar-se a dirigi-lo, como outras pessoas dirigem seus negócios. Essa é a regra, certamente, e assim é tão raro alguém permanecer sempre como empresário através das décadas de sua vida ativa, quanto é raro um homem de negócios nunca passar por um momento em que seja empresário, mesmo que seja em menor grau. (SCHUMPETER, 1982, p. 56).

Na atualidade a indústria de máquinas agrícolas, instalada no Brasil,

apresenta uma produção diversificada e concentrada, basicamente, nos estados

do Rio Grande do Sul e em São Paulo.

Nesse capítulo, analisaremos a distribuição e a concentração espacial da

indústria brasileira de máquinas e implementos agrícolas, além de estudarmos suas

particularidades. Estudaremos os fatores atrativos para as empresas desse setor.

Abordaremos a importância dos fatores tecnológicos, inerentes à fábrica

propriamente dita, no que se refere às inovações no processo produtivo;

averiguando a relevância dessas combinações tecnológicas para o

desenvolvimento desse segmento industrial.

7.1 A Localização da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas na Atualidade

A partir dos dados do gráfico 29, podemos analisar a participação, por tipo

de equipamento, no valor total da produção da indústria brasileira de máquinas

agrícolas. Observamos que no ano de 2017 o valor da produção do segmento de

tratores agrícolas alcançou quase R$ 8 bilhões, sendo que R$ 7,09 bilhões veio da

produção de tratores (o restante foi da produção de componentes para tratores);

enquanto que o valor da produção de máquinas para a colheita alcançou R$ 4,39

bilhões, o que nos permite verificar que o maior valor da produção de tratores se

deve à maior quantidade de unidades produzidas, pois o preço unitário das

Page 210: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

191

colheitadeiras é maior253.

Gráfico 29 Participação dos principais segmentos da indústria braliseira de máquinas agrícolas no valor da produção – 2017

Nota: *Refere-se ao valor da produção de tratores (R$ 7,09 bilhões), acrescido do valor da fabricação de carrocerias para tratores; peças e acessórios para tratores e serviço de produção de tratores agrícolas.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Pesquisa Industrial Anual – Produto (IBGE, 2019d).

Por esse gráfico, observamos uma destacada participação das máquinas e

253 Se recorrermos mais uma vez aos gráficos 15 e 16 (no capítulo 6) e compararmos os dados, verificaremos que a quantidade de tratores produzida é bem maior que a de colheitadeiras de grãos. Por exemplo, no ano de 2018 foi produzido 49.851 tratores e 6.552 colheitadeiras no Brasil, por conseguinte, resultando na média de 7,6 tratores/colheitadeira. A maior quantidade de vendas de tratores é compreensível, devido ao seu custo/benefício. Observamos que enquanto as colheitadeiras são utilizadas apenas nos períodos de colheita, os tratores, por serem máquinas motrizes, são utilizados praticamente o ano todo e inclusive na pecuária, na fruticultura, entre outras atividades agrícolas. Pela pesquisa de campo – como pelas visitas de estudo que realizamos às unidades da John Deere, que fabrica colheitadeiras de grãos em Horizontina – RS; à AGCO Soluções Agrícolas, que fabrica tratores em Canoas – RS e à CNH Industrial, que fabrica colheitadeiras de grãos e tratores na cidade de Curitiba – PR – verificamos que existe uma grande quantidade de modelos, tanto de tratores agrícolas como de colheitadeiras de grãos, o que dificulta a comparação dos preços. Mas, podemos ter noção se compararmos, por exemplo, um trator da marca Case IH com uma colheitadeira da mesma marca. Enquanto que um trator Case IH, Magnun 340 (de grande porte), em fevereiro de 2019 estava sendo comercializado por, aproximadamente, R$ 750 mil, uma colheitadeira Case IH, Axial-Flow 7230 (também de grande porte) estava sendo vendida por cerca de 1,2 milhão de reais (informações que coletamos em pesquisa de campo realizada no Show Rural Coopavel, 2019).

7,09

0,24 0,17

1,95

0,47

4,39

2,39

7,98

0,861,32

0

1

2

3

4

5

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7

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$

Page 211: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

192

implementos destinados à pulverização e ao plantio no valor da produção do setor

em geral, que no ano de 2017 contribuíram, respectivamente, com 1,95 e 2,39

bilhões de reais. Temos que notar que nesse mesmo ano o valor da produção de

implementos mais tradicionais, como arados, charruas e outros implementos para

o preparo do solo, juntos, alcançaram apenas 701 milhões de reais.

Há de se ressaltar que a pequena participação dos implementos tradicionais

e, por outro lado, o maior desempenho dos pulverizadores e das plantadeiras,

referem-se à intensificação do plantio direto254 que, de acordo com Salton, Hernani

e Fontes (1998), trata-se de um sistema de produção agrícola que se fundamenta

na ausência de revolvimento do solo o que, por um lado, reduz drasticamente o uso

de instrumentos para o preparo do solo (como arados, grades etc.) e, por outro

lado, requer a utilização de máquinas para a “capina química”, isto é, o uso de

herbicidas para dessecar as ervas invasoras e a adubação verde (a cobertura

vegetal do solo). Por tanto, esse sistema tem contribuído para aumentar a produção

de pulverizadores agrícolas.

Da mesma forma, constatamos que a destacada participação das máquinas

de plantio no valor da produção, também se refere às condições do plantio direto,

que por exigir a operação em meio à palhada seca (sem revolver o solo) requer a

utilização de plantadeiras de maior porte e, por conseguinte, com maior valor de

componentes agregados255.

No mapa 3, apresentamos a distribuição espacial da indústria que na

atualidade fabrica máquinas e implementos agrícolas no Brasil256:

254 De acordo com os dados dos censos agropecuários a quantidade de estabelecimentos rurais do Brasil que utiliza o plantio direto na palha passou de 506,7 mil, no ano de 2006, para 2,3 milhões em 2017. Nesse mesmo período a área ocupada com esse sistema de plantio passou de 17,9 milhões de hectares (ha.) para 33,1 milhões de ha. (IBGE, 2009 e 2019a). 255 Entendemos que a mudança de sistema de plantio, bem como do tipo de equipamentos, refletiu inclusive no perfil da indústria brasileira de máquinas agrícolas. Por exemplo, em pesquisa que realizamos em fevereiro de 2019 (também no Show Rural Coopavel) junto à empresa Baldan (de Matão – SP), que foi uma pioneira na fabricação de discos, arados e grades agrícolas (como mencionamos no terceiro capítulo), recebemos a informação de que na atualidade, ela tem fabricado mais equipamentos (lâminas, grades etc.) para o setor de terraplanagem do que para a agricultura. Aliás, na mesma feira agropecuária, verificamos que outra empresa de Matão – SP, a Marchesan (“Tatu”), que também foi pioneira na fabricação de discos, arados, grades e outros equipamentos para o preparo do solo, na atualidade tem diversificado sua linha de produção, inclusive fabricando até plantadeiras para o sistema de plantio direto. 256 Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0), refere-se à classificação: 28.3 – Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária (IBGE, 2019c).

Page 212: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

193

Page 213: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

194

O IBGE não disponibiliza informações da Pesquisa Industrial Anual –

Empresa (PIA) para os estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, mas

os dados referentes às regiões Sul e Sudeste nos permitem observar que 91,5%

das unidades produtivas da indústria de máquinas e implementos agrícolas,

localizam-se nessas duas regiões, que também são responsáveis por 95,2% do

valor bruto da produção desse segmento industrial.

Além dessa concentração regional, também podemos constatar uma

concentração das unidades produtivas, bem como do valor da produção, nos

estados de São Paulo e no Rio Grande do Sul. Pelos dados do gráfico 30, podemos

observar que RS e SP concentram, juntos, 74,2% do valor bruto da produção desse

segmento industrial. O Paraná também se destaca (com 11,81%), porém, como

trataremos a seguir, nos últimos anos vem perdendo importância. Santa Catarina

está na quarta posição, mas com uma participação bem inferior.

Gráfico 30 Participação de algumas unidades da federação no valor bruto da produção da indústria brasileira de máquinas e implementos agrícolas – 2017

Nota: VBP: Valor bruto da produção.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Pesquisa Industrial Anual – Empresa (IBGE, 2019c).

40,99

33,25

11,81

6,35

2,814,79

Participação percentual no VBP

Rio Grande do Sul

São Paulo

Paraná

Santa Catarina

Minas Gerais

Outros

Page 214: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

195

Como destacamos no terceiro capítulo, no início dos anos 1970 já se

observava uma concentração espacial da indústria de máquinas agrícolas nos

estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. A diferença é que naquela época SP

liderava no valor da produção.

A partir do gráfico 31, podemos observar a participação das principias

unidades da federação produtoras de máquinas e implementos agrícolas, onde

verificamos que, de certa forma, os dados refletem a evolução da produção

brasileira de tratores de rodas e de colheitadeira de grãos, conforme expomos nos

gráficos 15 e 16. Em outras palavras, ressaltamos que o valor bruto da produção

desse segmento industrial em São Paulo e no Rio Grande do Sul cresceu no

período 2009-2013, mas regrediu de 2013 a 2015, recuperando-se moderadamente

a partir de 2016. A participação do Paraná no valor bruto da produção, com exceção

do ano 2013, esteve praticamente estagnada nesse período:

Gráfico 31 Evolução do valor bruto da produção da indústria de máquinas e implementos agrícolas em SP, RS e no PR –2007- 2017

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Pesquisa Industrial Anual – Empresa (IBGE, 2019c).

Pelo mapas 4, podemos observar a distribuição espacial da indústria de

máquinas agrícolas instalada no estado de São Paulo, segundo o tipo de atuação

da empresa e por subsegmento da produção industrial:

3,933,65

10,1

7,29

7,99

4,144,77

10,8

7,58

9,85

2,61 2,36

2,76

4,66

1,97

2,84

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

20

16

20

17

Bilh

õe

s d

e R

$

São Paulo Rio Grande do Sul Paraná

Page 215: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

175

Page 216: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

197

Nesse mapa expomos a localização das principais unidades fabricantes de

máquinas e implementos agrícolas em São Paulo, conforme informações que

retiramos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos

(ABIMAQ), dos anuários estatísticos da Anfavea, bem como da pesquisa de campo

(visitas de estudo) e dos sites das empresas (ver: referências). As empresas

pioneiras desse segmento se instalaram (ainda no final do século XIX) na região de

Campinas (como mencionamos nos capítulos 1 e 2) e posteriormente (a partir das

décadas de 1920 e 1930) em cidades como Americana (indústrias Nardini, por

exemplo), em Santa Bárbara D’Oeste (Indústrias Romi S.A.) e em Piracicaba

(empresa Dedini). Na região metropolitana de SP as cidades pioneiras nesse

segmento, foram Diadema (com empresas como a Fendt do Brasil, fábrica alemã

de tratores que atuou no país até o final dos anos 1960) e em Taboão da Serra,

com empresas como a Massey Ferguson (que atuou nesse município até o início

da década de 1980) e em Mogi das Cruzes (com empresas como a Valmet). No

município de São Carlos atuou, desde a década de 1960 até meados dos anos

1990, a Companhia Brasileira de Tratores (CBT).

Na atualidade, as principais empresas desse segmento industrial que atuam

em SP, são o grupo multinacional AGCO Corporation, que possui uma unidade

instalada no município de Mogi das Cruzes (que fabrica tratores pesados das

marcas Valtra e Massey Ferguson, bem como motores agrícolas) e outra em

Ribeirão Preto, que fabrica colhedoras de cana-de-açúcar (da marca Valtra) e

pulverizadores autopropelidos das marcas Valtra e Massey Ferguson. No município

de Sorocaba a multinacional CNH Industrial fabrica colheitadeiras de grãos das

marcas Case IH e New Holland e em Piracicaba está instalada uma unidade que

produz colhedoras de cana-de-açúcar e de café da marca Case IH, além de fabricar

pulverizadores autopropelidos das marcas Case IH e New Holland. Outra

multinacional que atua nesse estado é a Deere & Company, que possui um centro

de agricultura de precisão no município de Indaiatuba.

Além dos grupos estrangeiros, acima citados, destacamos a presença de

empresas nacionais que, na atualidade, fabricam máquinas ou implementos

agrícolas no estado de São Paulo. Por exemplo, na cidade de Pompéia (próximo à

Marília) está instalada a Jacto S.A., que fabrica especialmente pulverizadores

autopropelidos e colhedoras de café. Como destacamos no terceiro capítulo, essa

Page 217: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

198

empresa foi pioneira no Brasil, tanto na fabricação de equipamentos para

pulverização, bem como na fabricação de colhedoras de café. No município de

Espírito Santo do Pinhal (na divisa com Minas Gerais) está instalada outra

fabricante nacional de máquinas para colheita de café, trata-se da Pinhalense S.A.

Em outros municípios paulistas também atuam outras fábricas de máquinas

agrícolas como, por exemplo, em Batatais onde atuam empresas como a Jumil e a

Bertanha, que fabricam diversos tipos de máquinas e implementos, tais como

colhedoras de café, carretas agrícolas, plantadeiras de grãos etc. No município de

Pindorama, destacam-se empresas como a MIAC Máquinas Agrícolas (pertencente

ao grupo industrial Colombo)257.

Outra empresa de capital nacional que atua em SP é a Agritech Lavrale S.A.

– de propriedade do Grupo Stédile de Caxias do Sul – RS –, que fabrica tratores

agrícolas no município de Indaiatuba, com tecnologia da marca japonesa

Yanmar258.

Também destacamos as empresas Baldan Implementos Agrícolas e

Marchesan (“Tatu”), que atuam no município de Matão. Elas iniciaram suas

atividades fabricando discos, arados de discos e grades de discos (para preparo do

solo), mas na atualidade a Machesan fabrica inclusive máquinas para plantio de

grãos, como destacamos anteriormente.

Pelo mapa 5, podemos analisar a distribuição espacial da indústria de

máquinas e implementos agrícolas no estado do Rio Grande do Sul, no qual

podemos observar uma concentração das principais fábricas na região

metropolitana de Porto Alegre, bem como nas regiões Norte e Noroeste Rio-

grandense. Por exemplo, no município de Canoas está instalada uma unidade da

AGCO (a AGCO Soluções Agrícolas), que fabrica tratores agrícolas das marcas

Massey Ferguson e Valtra (com potência de 50 a 140 cv), bem como uma unidade

da John Deere que fabrica tratores agrícolas no município de Montenegro259.

257 Essa empresa fabrica, além de diversos tipos de implementos agrícolas para o preparo do solo, vários modelos de máquinas para a colheita de amendoim, café, feijão, mandioca. Inclusive, recentemente ela lançou um modelo de colheitadeira automotriz inovadora (modelo Avanti C 360), que colhe desde grãos (soja e milho) até amendoim (MIAC, 2019). 258 A partir de 2001 o Grupo Stédile (que aliás também fabrica tratores e micro tratores da marca Agrale em Caxias do Sul – RS) adquiriu a divisão de tratores e motores agrícolas da Yanmar do Brasil, que desde a década de 1960 atuava no município paulista de Indaiatuba. 259 No município de Canoas também está instalada a PLA, fabricante de pulverizadores que tem origem argentina, mas que recentemente foi adquirida pela multinacional Deere & Company.

Page 218: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

197

Page 219: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

200

Por esse mapa, também podemos identificar que Dois Irmãos (localizado a

60 Km de Porto Alegre), destaca-se no segmento de máquinas agrícolas. Nesse

município está instalada a unidade da Mahindra do Brasil, uma filial da empresa

indiana que, na atualidade, é a maior fabricante mundial (em unidades) de tratores

agrícolas (MAHINDRA, 2018)260.

Na Serra Gaúcha também existem empresas destacadas nesse segmento

industrial. Por exemplo, em Caxias do Sul está instalada uma unidade fabricante

de micro tratores e tratores agrícolas da marca Agrale, de propriedade do Grupo

Stédile, proprietário da Agritech Lavrale S.A que também fabrica tratores agrícolas

no estado de São Paulo, como mencionamos anteriormente. Há cerca de 19 Km

de Caxias do Sul, destaca-se também o município de Flores da Cunha que abriga

a Franzoni Ind. e Com. de Máquinas Especiais Ltda., fabricante de tratores,

reboques e pulverizadores de pequeno porte, destinados especialmente à

fruticultura (FRANZONI, 2019).

No noroeste do estado, nos municípios de Passo Fundo e Carazinho, estão

instaladas unidades da Semeato, fabricante de implementos agrícolas

especialmente para o plantio (SEMEATO, 2019). Também em Passo Fundo a

multinacional francesa Kuhn possui uma unidade que fabrica implementos,

especialmente plantadeiras e distribuidores autopropelidos de fertilizantes261.

No Noroeste Rio-Grandense também estão instaladas algumas empresas

brasileiras fabricantes de implementos agrícolas, com destaque para a Stara S.A.

e a Implementos Agrícolas Jan S.A., ambas alojadas no município de Não-Me-

Toque, popularmente conhecido como a “capital da agricultura de precisão”. Essas

unidades industriais fabricam pulverizadores, distribuidores autopropelidos de

fertilizantes, entre outros equipamentos262.

260 Aliás, em visita de estudo que realizamos (em novembro de 2019) à unidade da AGCO de Canoas – RS (que fabrica tratores de rodas), recebemos a informação de que a sua maior concorrente (especialmente na divisão de tratores leves) é a unidade da Mahindra instalada em Dois Irmãos – RS. Na pesquisa que realizamos no Show Rural Coopavel (em fevereiro de 2019) já havia nos chamado a atenção de que, enquanto outras marcas de tratores comercializados naquela feira agropecuária ofereciam cerca de três anos de garantia, a representante da Mahindra proporcionava até 5 anos. Inclusive, um representante comercial dessa marca (que atua no Paraná) nos informou que teria autonomia para oferecer até 6 anos de garantia. Esse vendedor inclusive argumentou que esse fato comprovaria a boa qualidade dos tratores dessa marca. 261 Essa empresa é líder mundial nas vendas de implementos agrícolas (KUHN-METASA, 2019). 262 A Stara também destaca-se na fabricação de plantadeiras, semeadoras e produtos para agricultura de precisão, tais como pilotos automáticos, sistemas de orientação, entre outros (STARA, 2019).

Page 220: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

201

Também no Noroeste do estado (a cerca de 94 Km de Passo Fundo), no

município de Ibirubá, está instalada outra unidade do grupo AGCO, fabricante de

implementos agrícolas, como plantadeiras, semeadoras, plataformas de milho,

distribuidores de fertilizantes etc. Em Ijuí está instalada a Imasa plantio direto, uma

empresa nacional que foi pioneira especialmente na fabricação de implementos

para o plantio direto. O município de Tuparendi abriga a fábrica de plantadeiras,

semeadoras, pulverizadores rebocados (entre outros) da Fankhauser S/A (também

nacional).

Por fim, destacamos que nessa mesma região atuam outras duas unidades

pertencentes à empresas multinacionais. No município de Santa Rosa está

instalada a fábrica de colheitadeiras de grãos das marcas Massey Ferguson e

Valtra (pertencentes ao grupo AGCO) e em Horizontina funciona uma fábrica de

colheitadeiras de grãos, de plataformas para colheitadeiras, bem como de

plantadeiras agrícolas da marca John Deere263.

Não elaboramos mapas sobre a distribuição da indústria de máquinas

agrícolas em outros estados do país porque essa exposição ficaria muito extensa

e até desnecessária, pois como mencionamos anteriormente o Rio Grande do Sul

e São Paulo detêm mais de 70% do valor da produção desse segmento. Mas,

faremos um breve destaque das empresas desse segmento instaladas em outras

unidades da federação, também de acordo com informações que levantamos junto

à Abimaq, Anfavea, pesquisa de campo e dos sites das referidas empresas. Por

exemplo, no Paraná se destaca a atuação dos grupos multinacionais CNH Industrial

e Kuhn. O primeiro possui uma unidade instalada em Curitiba, onde fabrica tratores

agrícolas das marcas New Holland e Case (com potência de 55 a 340 cv),

colheitadeiras de grãos convencionais (da marca New Holland – linha TC) e de

transmissões, que inclusive fabrica componentes para outras unidades do grupo

CNH264. A unidade da Kuhn está instalada em São José dos Pinhais, município que

se localiza a 19,5 Km da capital paranaense. Essa fábrica produz especialmente

pulverizadores agrícolas autopropelidos.

No Paraná também se encontra fábricas de implementos agrícolas no interior

263 Em junho de 2019 realizamos uma visita de estudo a essa unidade produtiva da Deere & Company, que é reconhecida como uma das mais modernas do mundo. A Deere & Co. é líder mundial no segmento de máquinas agrícolas, como destacaremos adiante. 264 Informações coletadas em visita de estudo a essa empresa, realizada em fevereiro de 2020.

Page 221: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

202

do estado. Por exemplo, no município de Pranchita, na divisa com a Argentina,

estão instaladas empresas, tais como a Dinâmika Equipamentos Agrícolas, que

produz pulverizadores rebocados e barras para pulverizadores agrícolas, bem

como a Gauruss Equipamentos Agrícolas, que também fabrica equipamentos para

pulverização e que, inclusive, já possui modelos de pulverizadores autopropelidos

(GAURUSS, 2020)265.

Como mencionamos no terceiro capítulo, na década de 1970 o estado de

Santa Catarina já se destacava no segmento de máquinas e implementos agrícolas.

Na atualidade, entre as principais empresas desse segmento que atuam em SC

está a LS Mtron Brasil, que pertence ao conglomerado industrial sul-coreano LG.

Essa multinacional, desde 2013, possui uma unidade produtiva instalada no

município de Garuva (localizado a apenas 36,8 Km de Joinville), que fabrica tratores

especialmente de pequeno porte (LS, 2019).

Além dessa multinacional, Santa Catarina abriga algumas empresas

nacionais que surgiram recentemente e que produzem principalmente para o

mercado regional. Por exemplo, no município de Massaranduba (a 54 Km de

Joinville) está instalada a Basélio Tratores, especializada em tratores, carretas,

semeadoras, pulverizadores e outros implementos utilizados na rizicultura266. O

município de Araquari (a 37 Km de Joinville) abriga a Gomes Máquinas Agrícolas,

que também fabrica tratores, pulverizadores e outros implementos. Além de atender

o mercado regional e nacional, essa empresa exporta para o Paraguai, Bolívia e

Argentina.

Porém, verificamos que em Santa Catarina também estão instaladas

fábricas de máquinas e implementos agrícolas em áreas mais afastadas do polo

metalomecânico. Por exemplo, a Budny Tratores e Implementos fabrica tratores

agrícolas e diversos equipamentos no município de Içara, ao Sul do estado,

localizado a 354,7 Km de Joinville. No município de Campo Erê, no Oeste

catarinense (a 638,7 Km da capital catarinense), destaca-se a Colheitadeiras

265 Existem outras fábricas de máquinas agrícolas no Paraná. Por exemplo, no município de Ponta Grossa está instalada uma filial da empresa argentina Metalfor, que fabrica pulverizadores agrícolas, além de importar colheitadeiras automotrizes (de sua marca), fabricadas na Argentina (METALFOR, 2019). 266 Produz tratores de pequeno porte, com motores da marca Yanmar importados do Japão, com potência entre 36,4 e 56 cv. Essa empresa já tem capacidade para exportar para todos os países da América do Sul, América Central e América do Norte (BASÉLIO, 2019).

Page 222: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

203

Werner, fabricante de colheitadeiras de grãos e plataformas para a colheita de

milho, soja e trigo. Como destacaremos adiante, essa empresa ainda está em fase

de testes, atuando principalmente no mercado regional.

Também destacamos algumas empresas do estado de Minas Gerais que

fabricam máquinas e implementos agrícolas, especialmente para a cafeicultura. Por

exemplo, no município de Araguari (a 37 Km de Uberlândia e a 567 de Belo

Horizonte) está instalada a TDI Máquinas Agrícolas que produz colhedoras de café

e outros implementos para essa atividade. Em MG se formou um polo de máquinas

agrícolas na cidade de Varginha, onde estão instaladas empresas, tais como a

Makreis, Electra Máquinas Agrícolas, Jaguar Máquinas e Avery Máquinas e

Implementos, todas fabricantes de colhedoras e implementos para a cafeicultura.

Em Contagem – MG está instalada, dedes 2013, uma unidade do grupo

multinacional italiano Argo Tractors S.P.A., que no Brasil fabrica tratores (com

potência entre 75 a 200 cv) da marca Landini.

Por fim, podemos destacar ainda a cidade de Catalão – GO (a 261 Km de

Goiânia e a 314 Km da cidade de Brasília), que desde o final da década de 1990

vem recebendo montadoras estrangeiras de veículos, como a Mitsubishi Motors e

a Suzuki e que desde 1999 abriga uma unidade da John Deere que fabrica

colhedoras de cana-de-açúcar e pulverizadores agrícolas autopropelidos.

De certa forma, podemos concluir que a indústria brasileira de máquinas e

implementos agrícolas se distribui, por ordem decrescente de participação no valor

da produção, nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Santa

Catarina, Minas Gerais e Goiás.

7.2 Fatores de Atração para a Indústria de Máquinas Agrícolas

Em seu estudo sobre os grandes tipos de complexos industriais o geógrafo

e economista francês, Jean Chardonnet, verificou que um complexo industrial se

caracteriza por apresentar: 1) uma forte tonelagem (ou volume) de produção; 2)

empregar grande quantidade de trabalhadores e; 3) ter um grande montante de

capital investido. No seu entendimento, a indústria de base, como o setor

siderúrgico, por exemplo, atrai ao seu redor grande quantidade de outras indústrias.

Ele acredita que esse tipo de complexo cria uma relação de dependência técnica,

Page 223: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

204

pois a siderurgia fornece matérias-primas para outros segmentos industriais, tais

como o aço e o ferro peneirado para as fundições, laminados diversos para as

indústrias metalúrgicas e mecânicas etc. (CHARDONNET, 1953).

A indústria de máquinas agrícolas não se constitui como um complexo

industrial, inclusive por não se caracterizar como indústria de base. Porém,

entendemos que ela figura como dependente ao consumir insumos e componentes,

tais como ferro fundido, laminados de aço, borracha, plásticos, eletrônicos, entre

outras matérias-primas e componentes.

Ao analisarmos o atual arranjo espacial da indústria de máquinas e

implementos agrícolas no Brasil (como expomos nos mapas 4 e 5), verificamos que

além das principais empresas estarem distribuídas em poucos estados do Brasil,

elas se concentram em determinados municípios, formando alguns “polos”

regionais267.

No início da década de 1960 o Escritório Técnico de Estudos do Banco do

Nordeste do Brasil (ETENE), elaborou um “manual de localização industrial”,

pontuando 9 variáveis primárias e mais 11 variáveis secundárias que seriam

condicionantes para a distribuição espacial da indústria (quadro 7).

Quadro 7 Principais variáveis condicionantes da localização industrial segundo a classificação do ETENE – 1968

Variáveis locacionais

Primárias Secundárias Baixo custo no transporte de matérias-primas Aproveitamento de economias de escala Baixo custo no transporte de produto final Aproveitamento de economias de localização Baixo custo no transporte dos materiais secundários

Aproveitamento de economias de urbanização

Facilidade de transporte para operários Existência de infraestrutura Baixo custo de mão de obra Facilidade de aquisição de terreno Existência de mão de obra técnica e especializada

Facilidade de financiamento

Baixo custo de energia Incentivos fiscais ao imposto de renda Proximidade do mercado consumidor Incentivos fiscais ao imposto de circulação de

mercadorias Acesso ao mercado nacional Incentivos fiscais ao imposto sobre exportação

Amenidades da região

Desejo de liderança

Fonte: Elaboração própria a partir de classificação do ETENE (1968).

267 O conceito de polos de desenvolvimento considera que empresas motrizes (ou grandes áreas urbanas) estimulariam a industrialização, atraindo até a indústria de outros segmentos. Inclusive, o próprio Manuel Correia de Andrade (1977), que desenvolveu esse conceito no Brasil, menciona que não via grandes diferenças entre os polos de desenvolvimento e o conceito de complexo industrial.

Page 224: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

205

Nos parece que pelo menos algumas dessas variáveis apontadas pelo

estudo do ETENE, também são condicionantes para a distribuição espacial da

indústria de máquinas e implementos agrícolas instalada no Brasil, como

destacaremos a seguir.

7.2.1 Proximidade das fábricas às fornecedoras de componentes e autopeças

Em visita de estudo que realizamos à unidade da AGCO de Canoas – RS,

recebemos a informação de que uma das dificuldades que essa unidade tem para

aumentar a produção, é a falta de fornecedores de componentes e peças já que a

indústria de tratores depende de fornecedores que também produzem para o setor

automotivo, o que torna a oferta menos elástica, muitas vezes não atendendo a

demanda do segmento de máquinas e implementos agrícolas.

Aliás, em visita à empresa Colheitadeiras Werner (realizada em fevereiro de

2019) de Campo Erê – SC, já havíamos recebido a informação de que esse

segmento depende de grande quantidade de fornecedores e que alguns

componentes como, por exemplo, eixos para colheitadeiras geralmente são

importadas de países como a China porque no Brasil não há muitos fornecedores.

Inclusive, ao visitarmos a CNH Industrial de Curitiba – PR, recebemos a

informação (e pudemos observar na linha de produção) que essa unidade, além de

produzir tratores e colheitadeiras, também tem um setor de usinagem que produz

componentes para as outras unidades do grupo CNH.

Inclusive, na visita que realizamos à unidade da AGCO, recebemos a

informação de que as fábricas de máquinas agrícolas procuram se aproveitar das

estruturas já existentes no que se refere ao uso de matérias-primas, peças,

componentes etc. Por isso as unidades produtivas, em geral, se instalam em

determinadas áreas, relativamente próximas268.

Pelos mapas 4 e 5, bem como pelas descrições que realizamos

anteriormente sobre as principais unidades que atuam nos estados de RS, SP,

entre outros, é possível verificarmos que há um relativo agrupamento entre as

268 Há de se frisar que o representante da AGCO que nos repassou essas informações atua na fabricação de tratores agrícolas há cerca de 20 anos, conhecendo essa atividade, tanto tecnicamente, pois já trabalhou na montagem, como em relação às matérias-primas e insumos, bem como conhece a logística de comercialização do produto final.

Page 225: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

206

diferentes empresas que compões esse segmento. Para termos ideia do que isso

representa, podemos citar o exemplo da PLA do Brasil, que era filial de uma

empresa argentina pioneira na fabricação de pulverizadores autopropelidos na

América Latina. Ela se instalou no Brasil a partir de 2004 na cidade de Canoas –

RS, a menos de 1 Km de distância da unidade produtiva da AGCO, já destacada

anteriormente269.

Se observarmos no mapa 5 (referente ao Rio Grande do Sul), notaremos

que existem outros agrupamentos de empresas. Por exemplo, em torno de Caxias

do Sul estão instaladas a Agrale, nesse próprio município, bem como a fábrica de

tratores da Mahindra no município de Dois Irmãos, a 73 Km. Da mesma forma,

verificamos que a fábrica de tratores e implementos agrícolas da Franzoni está

instalada em Flores da Cunha, a uma distância de apenas 20 Km de Caxias do Sul.

O município de Não-Me-Toque (onde estão instaladas empresas como a Stara e a

Jan), localiza-se a 66 Km de Passo Fundo, que abriga empresas como a Kuhn e a

Semeato, sendo que essa última também possui uma unidade produtiva no

município de Carazinho, a 46 Km de Passo Fundo. Da mesma forma, verificamos

outro agrupamento na região Noroeste de RS, pois os municípios de Santa Rosa

(onde está instalada uma unidade da AGCO), localiza-se a 43 Km de Horizontina,

que abriga uma unidade da John Deere. Aliás, no município de Tuparendi, a apenas

18 Km de Santa Rosa, está instalada a Fankhauser que fabrica plantadeiras e

outros implementos agrícolas.

Se ampliarmos à análise ao estado de São Paulo, verificaremos certa

semelhança. Por exemplo, Mogi das Cruzes, onde está instalada a fábrica de

tratores da AGCO, possui uma indústria de autopeças da GM e se localiza a menos

de 70 Km dos municípios do ABC Paulista (Santo André, São Bernardo do Campo

e São Caetano do Sul), polo metalúrgico, da indústria automotiva e de autopeças

que abastece também a indústria de tratores. Na outra unidade da AGCO, em

Sorocaba, também existe um polo automotivo, com destaque para montadoras de

veículos como a Toyota do Brasil270.

269 Em 2018 a multinacional estadunidense, John Deere, adquiriu a empresa argentina PLA, inclusive sua filial instalada no Brasil (JOHN, 2019b). 270 Lembrando que no início da década de 1960 a Massey Ferguson do Brasil havia se instalado no município de Taboão da Serra, enquanto que a Fendt do Brasil (ambas fabricantes de tratores agrícolas) se instalou em Diadema, portanto, próximas da capital de SP e do ABC Paulista.

Page 226: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

207

Como mencionamos anteriormente, a cidade de Varginha, no estado de

Minas Gerais, abriga várias fábricas de máquinas agrícolas. Outro exemplo é da

unidade da John Deere do estado de Goiás, que está instalada em Catalão,

município que também vem se destacando no setor de montagem de veículos.

Ainda podemos destacar a atuação da fábrica da CNH em Curitiba, bem como a

unidade da Kuhn instalada em São José dos Pinhais, localizadas junto ao polo

automotivo da região metropolitana de Curitiba que abriga montadoras de veículos,

tais como a Renault, Volkswagen/Audi e fábricas de caminhões como a Volvo.

7.2.2 As importações de componentes e peças para a indústria de máquinas

agrícolas

Como destacamos anteriormente, o complexo de autopeças e componentes

é importante para a alocação espacial das fábricas de máquinas agrícolas. Porém,

esse não é o mais importante dos condicionantes, pois verificamos que uma parte

significativa das peças e componentes são importados. Lembrando que quando se

instalou a indústria automotiva no Brasil (final da década de 1950) o índice de

nacionalização, em geral, era superior a 70% e que para a fabricação de tratores o

Plano Nacional da Indústria de Tratores de Rodas (de 1959) exigia 70% do peso

do trator, mas que se previa passar para 95% a partir de 1962. Mas, na atualidade

a exigência de nacionalização para os fabricantes de máquinas e equipamentos

caiu para o índice mínimo de 60% em valor e peso para poder acessar as linhas de

crédito do sistema BNDES, sendo que em determinados períodos se reduziu o

índice para 50% (BNDES, 2019b)271.

Uma das dificuldades que se encontra quando se analisa a importação de

peças e componentes (bens intermediários), é que o Ministério da Indústria,

Comércio Exterior e Serviços (MDIC) não fornece dados específicos de

importações da indústria de máquinas agrícolas, inclusive porque as máquinas

automotrizes (tratores, colheitadeiras, pulverizadores etc.) utilizam grande parte

271 Aliás, em 2011 a Abimaq publicou um informe de que o BNDES estava preocupado com as fábricas de máquinas e equipamentos que estavam importando grande percentual (provavelmente, acima da margem de 40%) de matérias-primas e componentes para reduzir custos, devido à valorização cambial. No entanto, naquela época o BNDES procurava não abrir mão do índice mínimo de 60% de nacionalização (ÍNDICE, 2011).

Page 227: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

208

dos componentes utilizados na fabricação de caminhões e de máquinas para o

setor rodoviário (tratores, retroescavadeiras etc.). Então, temos que analisar

indiretamente os dados apresentados pelo MDIC, comparando com as informações

que levantamos pela pesquisa de campo.

Primeiramente, ressaltamos que o MDIC não fornece dados das importações

por empresas, mas apresenta por município importador. Ocorre que grande parte

das unidades industriais fabricantes de máquinas e implementos agrícolas, como

já mencionamos, estão localizadas em municípios que possuem fábricas de

veículos ou caminhões (como em Curitiba e São José dos Pinhais – PR; em

Sorocaba, Mogi das Cruzes e em Piracicaba – SP e em Catalão – GO), o que

dificulta nossa análise. Porém, as visitas de estudo nos apresentaram importantes

informações sobre as importações das unidades produtivas desse segmento. Por

exemplo, o grupo AGCO (com unidades em Canoas, Santa Rosa e Ibirubá em RS

e em Mogi das Cruzes e Ribeirão Preto em SP) importa componentes, como os

sistemas de transmissão dos tratores, da Índia que são fabricados pela TAFE272.

Os pilotos automáticos (para agricultura de precisão) que equipam muitos modelos

de tratores da marca Massey Ferguson são fornecidos pela empresa Topcon

Positioning Systems, Inc.273 dos Estados Unidos, que pertencia à Topcon

Corporation que tem origem japonesa.

Até mesmo empresas pequenas como, por exemplo, a Werner Implementos

Agrícolas Ltda. utilizam componentes importados, como eixos para as

colheitadeiras automotrizes de grãos que, segundo informações que obtivemos em

pesquisa e campo, são importadas da China, pois há poucas empresas brasileiras

que fabricam esse tipo de componente (como destacamos anteriormente)274.

No entanto, para empresas que estão instaladas em municípios de pequeno

porte e onde não há unidades montadoras de veículos, máquinas rodoviárias ou

272 A TAFE é uma importante fábrica de tratores e implementos agrícolas da índia. Desde os anos 1950 essa empresa tem parceria com a Massey Ferguson e nos últimos anos firmou parceria com a AGCO Corporation. Além de tratores agrícolas a TAFE exporta componentes automotivos, tais como transmissões, baterias, bombas, cilindros hidráulicos, entre outros (TAFE, 2019). 273 Entre os produtos oferecidos por essa empresa estão: o controle de máquinas agrícolas (popularmente, conhecido como “piloto automático”); consoles e visores para a agricultura; receptores Global Navigation Satellite System (GNSS) – utilizados principalmente para a topografia; sensoriamento de colheita, entre outros (TOPCON, 2019). 274 Segundo o proprietário e projetista das colheitadeiras Werner, na atualidade existe apenas duas empresas no Brasil que fabricam eixos para o tipo de máquina que ele fabrica, o que tem lhe obrigado adquirir produtos importados.

Page 228: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

209

caminhões, podemos ter noção sobre as importações de autopeças e componentes

para a indústria de máquinas agrícolas a partir dos próprios dados do MDIC, que

apresenta os valores das importações municipais por produtos adquiridos. Por

exemplo, no ano de 2018 (o MDIC utiliza o período jan./out. do referido ano) o

município paulista de Pompéia importou o equivalente à US$ 3,61 milhões em

sistemas de transmissão275, que podem ser utilizados na fabricação de veículos

automotores e, inclusive, em máquinas agrícolas automotrizes. Esse município

também importou US$ 2,03 milhões em produtos do NCM 8424276 – aparelhos para

“dispersar ou pulverizar líquidos” etc. (MDIC, 2019a).

Pela pesquisa que realizamos, acreditamos que essas importações

(sistemas de transmissão e aparelhos para pulverização) sejam feitas por

empresas como a Jacto S/A, produtora de pulverizadores agrícolas e colhedoras

de café, como mencionamos anteriormente, já que o pequeno município de

Pompéia – SP não possui montadoras de veículos ou de outro tipo de máquina

automotriz277.

Outro exemplo de importação de componentes, possivelmente, utilizada na

fabricação de máquinas agrícolas, encontramos para o caso do município de

Pindorama – SP. Pelos dados da MDIC, verificamos que 66% (o equivalente a US$

510,16 mil) das importações desse município, no ano de 2018, foram do NCM 8483

que, como já destacamos, trata-se de sistemas de transmissão para veículos ou

máquinas automotrizes278.

Como destacamos anteriormente, nesse pequeno município paulista – que

segundo o censo demográfico de 2010, possuía apenas 15.039 habitantes – atua

(desde o início da década de 1970) a MIAC Máquinas Agrícolas, que fabrica

diversos modelos de máquinas utilizadas especialmente na colheita e que

275 Trata-se do NCM (Nomenclatura Comum Mercosul) 8483: Árvores (Veios*) de transmissão (incluindo as árvores de cames e virabrequins (cambotas*) e manivelas; mancais (chumaceiras) e "bronzes"; engrenagens e rodas de fricção; eixos de esferas ou de roletes; redutores, multiplicadores, caixas de transmissão e variadores de velocidade, incluindo os conversores de torque (binários*); volantes e polias, incluindo as polias para cadernais; embreagens e dispositivos de acoplamento, incluindo as juntas de articulação. 276 NCM 8424: Aparelhos mecânicos (mesmo manuais) para projetar, dispersar ou pulverizar líquidos ou pós; extintores, mesmo carregados; pistolas aerográficas e aparelhos semelhantes; máquinas e aparelhos de jato de areia, de jato de vapor e aparelhos de jato semelhantes. 277 Segundo o censo demográfico de 2010, a população total do município de Pompéia – SP era de apenas 19.964 habitantes (IBGE, 2019f). 278 Segundo o MDIC (2019a), no período de janeiro a outubro de 2019 o município de Pindorama – SP importou US$ 629,23 mil em produtos do NCM 8483.

Page 229: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

210

recentemente tem fabricado até colheitadeiras automotrizes. Portanto, verificamos

que os sistemas de transmissão importados por esse município devem ser

utilizados na fabricação dessas colheitadeiras, já que esse município também não

possui outras montadoras que utilizem esse tipo de componente.

Se analisarmos as importações de Garuva – SC (que segundo o censo

demográfico de 2010 possuía apenas 14.761 habitantes) para o ano de 2018,

constataremos que 22% de suas compras (o equivalente a US$ 23,57 milhões)

eram de produtos do NCM 8707 – Carroçarias para os veículos automóveis das

posições 87.01 a 87.05, incluindo as cabinas (MDIC, 2019a).

Provavelmente, essas importações sejam de componentes utilizados pela

unidade da empresa sul-coreana LS Mtron, que desde 2013 fabrica tratores

agrícolas no município catarinense de Garuva. Aliás, um forte indício de que as

carrocerias e cabinas importadas são utilizadas na fabricação de tratores, é que

17% (US$ 17,9 milhões) dessas importações têm origem na Coréia do Sul,

portanto, no país onde essa multinacional tem sua sede.

O município de Não-Me-Toque – RS (que em 2010 possuía apenas 15.936

habitantes) apresentou, no ano de 2018, US$ 2,23 milhões de importações de

produtos do NCM 8483 (o já mencionado, sistemas de transmissões) e US$ e 1,6

milhão em produtos do NCM 8708 – Partes e acessórios dos veículos automóveis

das posições 87.01 a 87.05. – que se destinam especialmente à fabricação de

tratores279. Esse município também importou US$ 1,05 milhão de componentes do

NCM 8526 – Aparelhos de radiodetecção e de radiossondagem (radar), aparelhos

de radionavegação e aparelhos de radiotelecomando.

Como nesse município atuam empresas, tais como a Stara S/A e a Jan S/A,

acreditamos que as importações de sistemas de transmissão sejam utilizados na

fabricação de pulverizadores e distribuidores de fertilizantes autopropelidos e que

os produtos do NCM 8708 sejam utilizados na fabricação de tratores agrícolas, já

que desde 2013 a empresa Stara também vem fabricando esse tipo de máquina

em parceria com a empresa italiana Argo Tractors (STARA, 2019) 280.

279 O NCM 8701, refere-se a: Tratores (exceto os carros-tratores da posição 87.09) (MDIC, 2019a). 280 Em pesquisa de campo, realizada no Show Rural Coopavel, 2019, entrevistamos um representante comercial da Stara que nos informou que os tratores fabricados por essa empresa (modelos ST MAX 105 e ST MAX 180) possuem tecnologia de ponta, sendo de excelente qualidade, mas que esse fator encareceria os tratores, dificultando a comercialização. Os tratores da Stara

Page 230: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

211

Acreditamos que os itens importados por esse município, que fazem parte

do NCM 8526, são utilizados na fabricação de máquinas e implementos para a

agricultura de precisão, pois essa nomenclatura contempla itens, tais como de

radionavegação (GPS) e de radiotelecomando. Lembrando que desde 1999 a Stara

formou uma joint venture com a Amazone Werke (STARA, 2018 e 2019), empresa

centenária alemã e pioneira na fabricação de pulverizadores, semeadoras e

distribuidores, que é especializada em agricultura de precisão. Aliás, observamos

que em seu portfólio de produtos, além de implementos para a pulverização,

plantio, fertilização etc. a Amazone oferece eletrônicos para a navegação por GPS;

sistemas de GPS que controlam o plantio, a pulverização e que mapeiam áreas;

visores de consoles; piloto automático, entre outros (AMAZONE, 2019)281.

O município de Santa Rosa – RS (que em 2010 possuia 68.587 habitantes),

também importa componentes utilazados na indústria automotiva e de máquinas

agrícolas automotrizes. Por exemplo, no ano de 2019 (de janeiro a outubro) esse

município importou US$ 2,75 milhões de produtos do NCM 8404 (motores a diesel);

US$ 2,23 milhões de sistemas de transmissão (NCM 8483); e mais US$ 6,58

milhões de produtos do NCM 8433, que consiste em máquinas para a colheita

(MDIC, 2019a).

Como Santa Rosa não possui montadoras de veículos, caminhões ou

tratores, acreditamos que essas importações devem ser utilizadas para a

fabricação de colheitadeiras agrícolas. Como mencionamos anteriormente, esse

município abriga uma unidade da AGCO que fabrica colheitadeiras de grãos das

marcas Massey Ferguson e Valtra. Recentemente, essa unidade passou a fabricar

colheitadeiras da marca alemã Fendt, que também pertencente ao grupo AGCO.

Inclusive, provavelmente as importações de máquinas para a colheita (NCM 8433),

sejam realizadas pela unidade da AGCO que importa grande parte dos

componentes e peças, bem como alguns modelos de colheitadeiras, especialmente

a Fendt Ideal que ainda não é completamente fabricada no Brasil, por não atender

utilizam tecnologia da marca McCormick (empresa pioneira em máquinas agrícolas nos EUA), que na atualidade pertence ao grupo italiano Argo Tractors (STARA, 2019). 281 Inclusive, verificamos que as máquinas e implementos produzidos pela Stara S/A possuem a mesma cor (verde e laranja) dos produtos de sua parceira alemã, Amazone Werke. Desde 1999 essa empresa é acionista minoritária da Stara S/A (STARA, 2019). Há de se ressaltar que no ano de 2018, 17% das importações do pequeno município de Não-Me-Toque – RS vieram da Alemanha, o que equivale a US$ 3,59 milhões (MDIC, 2019a).

Page 231: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

212

à exigência mínima de 60% de nacionalização282.

Mas, o município do Rio Grande do Sul que mais chama a atenção em

relação à importação de componentes para a indústria automotiva e de máquinas

agrícolas, é Horizontina que segundo o IBGE (2019f) possuía apenas 18.348

habitantes no ano de 2010. No ano de 2019, Horizontina importou US$ 53,36

milhões de sistemas de transmissão (NCM 8483), US$ 30,92 milhões de produtos

do NCM 8408 (motores a diesel) – o que equivale a 44% das importações

municipais –, além de ter importado US$ 34,49 milhões de produtos do NCM 8433,

que consistem em máquinas para colheita.

Como esse município também não possui fábricas de veículos, caminhões

etc., acreditamos que esses produtos importados devem ser utilizados pela fábrica

da multinacional John Deere, que produz colheitadeiras de grãos em Horizontina.

Aliás, em visita de estudo que realizamos à essa unidade produtiva (realizada em

junho de 2019), recebemos a informação de que os motores utilizados por essa

marca (em colheitadeiras, tratores etc.) são produzidos na unidade da John Deere

de Rosário, na Argentina, sendo que outros componentes e peças são importados

de países, tais como dos Estados Unidos, da Alemanha e da China283. Inclusive,

verificamos que no ano de 2019 Horizontina importou produtos no valor de US$

107,61 milhões (o equivalente a 57% de suas importações) dos Estados Unidos e

mais US$ 23,42 milhões da Argentina (MDIC, 2019).

Enfim, esses dados nos mostram que a proximidade com a indústria de

autopeças e demais componentes não é o principal fator que condiciona a alocação

espacial da indústria de máquinas agrícolas no Brasil. Além disso, como trataremos

adiante, esses dados retratam, mesmo que indiretamente, uma fragilidade do

segmento de autopeças do Brasil, o que tem tornado o país dependente das

importações284.

282 Informações coletadas em visita de estudo, realizada à unidade da AGCO de Canoas – RS em novembro de 2019. 283 Nessa visita de estudo recebemos a informação de que um dos requisitos para trabalhar no setor administrativo da John Deere é falar fluentemente o inglês, pois essa empresa necessita de funcionários que possam, por exemplo, adquirir peças e componentes em outras unidades dessa multinacional, que tem sede em Illinois, nos Estados Unidos, mas que possui unidades produtivas em diversos países, inclusive na Alemanha. 284 De acordo com Silva (2015), grande parte dos motores dos tratores da AGCO que são vendidos no mundo são fabricados em sua unidade fabril da Finlândia, de onde essa empresa importa, por exemplo, os blocos de motores da linha Valtra que são montados no Brasil.

Page 232: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

213

7.2.3 A importância da força de trabalho

Como mostramos anteriormente (quadro 7), o estudo do ETENE (1968)

também apontou a questão da mão de obra como uma “variável primária”, já que a

facilidade de transporte para os trabalhadores, o custo mais baixo dos salários, bem

como a disponibilidade de trabalhadores qualificados conferem vantagens às

unidades industriais que se instalam nessas regiões.

Em estudo mais recente, Chesnais (1996) apontou, basicamente, dois

atrativos para as empresas multinacionais, 1) a busca para se instalar perto do seu

mercado consumidor e, 2) onde os salários sejam mais baixos.

Pelos dados do IBGE, verificamos que no ano de 2017 o Brasil possuía

66.195 empregados na indústria de tratores e demais máquinas e implementos

agrícolas285. Desses trabalhadores, a maior parte estava empregada nos estados

de São Paulo e no Rio Grande do Sul, como podemos observar pelo gráfico 32:

Gráfico 32 Evolução dos empregos na indústria de máquinas e implementos agrícolas nos estados de SP, RS e PR – 2006-2017

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Cadastro Central de Empresas – CEMPRE (IBGE, 2019e).

285 Categoria: 28.3 Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária do CNAE 2.0 (IBGE, 2019e).

15.651

22.89621.807

28.607

31.565

26.916 27.455

13.463

17.486

19.81718.603

21.39122.801

27.093

21.83320.847

3.436

5.561 5.1016.298

7.1516.381 6.984

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

20000

22000

24000

26000

28000

30000

32000

34000

Em

pre

ga

do

s

São Paulo Rio Grande do Sul Paraná

Page 233: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

214

Observamos que, de certa forma, esses dados refletem a concentração

espacial desse segmento industrial, que ocorre nos estados de SP e RS, como

temos ressaltado. Também, percebemos que a geração de empregos nesse

segmento industrial, grosso modo, acompanhou o desempenho da produção da

indústria de tratores e colheitadeiras agrícolas que cresceu no período 2006-2013,

mas que regrediu e estagnou a partir dos últimos anos, como também já

destacamos no capítulo anterior.

O que pretendemos mostrar com esses dados é que o segmento de

fabricação de máquinas agrícolas, apesar de não empregar grande quantidade de

trabalhadores – tais como, por exemplo, os segmentos da indústria do vestuário e

de alimentos –, também necessita de mão de obra, especializada inclusive286.

Em seu estudo sobre o complexo da indústria automotiva do Brasil,

Luedemann (2003) verificou uma considerável variação nos salários médios dos

metalúrgicos, quando comparou diferentes estados e regiões do Brasil. Essa autora

observou que, por exemplo, enquanto que o salário médio do estado de São Paulo,

no ano de 2001, era de R$ 1.302,66; o salário do Paraná era de R$ 996,69; do Rio

Grande do Sul era de R$ 880,57 e o de Goiás era de R$ 432,65. Ou seja, ela

observou que dentro de um mesmo país ocorre variação salarial, o que pode

estimular a mudança de plantas produtivas na intenção de reduzir custos

produtivos.

A partir dos dados do gráfico 33, podemos analisar a evolução dos salários

médios da indústria de máquinas e implementos agrícolas nos principais estados

produtores do país. Esses dados nos mostram que, por exemplo, o estado de Minas

Gerais, até 2011, tinha uma média salarial bem inferior à das demais unidades da

federação onde atuam empresas desse segmento industrial. Porém, há de se

observar que nos útimos anos ocorreu um aumento brusco nos salários em MG,

tornando-se mais altos que em SP e RS. Observamos que os salários em Goiás,

embora que oscilantes, cresceram no peíodo 2006-2010, estagnaram nos quatro

anos seguintes, mas voltaram a crescer consideravelmente a partir de 2015, se

estabilizando a partir desse ano, mas a ponto de se manterem no topo dos salários

286 Por exemplo, nas visitas de estudo, realizadas entre junho de 2019 e fevereiro de 2020, verificamos que as fábricas da AGCO de Canoas – RS; da John Deere de Horizontina – RS e da unidade da CNH Industrial de Curitiba – PR possuem em torno de 2000 funcionários em cada unidade produtiva.

Page 234: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

215

médios desse segmento. Santa Catarina é o estado em que os salários desse setor

se mostraram mais estáveis (apesar de terem aumentado discretamente no período

2008-2014) e sensivelmente abaixo da média nacional.

Gráfico 33 Evolução dos salários médios da indústria brasileira de máquinas agrícolas – 2006-2017

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Cadastro Central de Empresas – CEMPRE (IBGE, 2019e).

Também podemos observar que em São Paulo os salários se mantiveram,

praticamente, estáveis (crescendo discretamente de 2010-2013 e no biênio 2014-

2016, mas voltando a cair a partir desse ano), só que se mantendo acima da média

nacional. No Rio Grande do Sul, onde os salários médios eram de 4,9 salários

mínimos no ano de 2006, decresceu consideravelmente até 2014, ano em que

atingiu a média 3,5 salários mínimos, portanto, inferior à média nacional daquele

ano que foi de 4 salários mínimos. Inclusive, esteve abaixo de SP que foi de 4,5

salários e de Goiás, que atingiu 4,9 salários mínimos. No Paraná, onde nos anos

de 2008 e 2011 os salários médios desse segmento atingiram, respectivamente,

5,2 e 5,1 salários mínimos, a partir desse ano também regrediram, de certa forma,

acompanhando a evolução dos salários no estado de RS, inclusive fechando o ano

de 2017 em 4 salários mínimos.

4,7

4,7 4,8

4,84,5

4,9

3,9

5

5,25,1

4

2,9

2,7

3,4

33

3,2

2,4

5,1

5,5

3,63,2

3,7

54,9

4,5 44

2

2,3

2,6

2,9

3,2

3,5

3,8

4,1

4,4

4,7

5

5,3

5,6

5,9

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Sa

lários m

ínim

os

SP RS PR SC MG GO BR

Page 235: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

216

Se considerarmos que os salários mais baixos são um condicionante para a

alocação espacial da indústria, como sugerem, por exemplo, o manual da ETENE

(1968) e o estudo de Chesnais (1996), podemos pensar que a diferença salarial de

Minas Gerais, com salários mais baixos, especialmente no período 2006-2011

(como expomos pelo gráfico 33), seria um condicionante para atrair algumas

empresas do segmento de fabricação de máquinas agrícolas, pois observamos que

a Electra, Jaguar, Avery e Landini do Brasil se instalaram em MG nesse período,

enquanto que outras como a TDI e a Makreis, que surgiram anteriormente,

intensificaram a produção a partir de 2006.

Por essa ótica, também poderíamos acreditar que o estado de Santa

Catarina, que apresenta o menor salário médio para o segmento de máquinas e

implementos agrícolas, também seria atraente para a instalação de empresas

desse setor. Ora, não faltaria exemplos, como das empresas Basélio Tratores,

Gomes Máquinas Agrícolas e Budny Tratores e Implementos, que surgiram na

década de 1990, mas que ampliaram seu portfólio de produtos, por exemplo,

fabricando até tratores agrícolas a partir da década de 2000. A Colheitadeiras

Werner é outro exemplo de empresa que também surgiu anteriormente, mas que

intensificou sua produção, inclusive fabricando até colheitadeiras de grãos a partir

dos últimos anos. Outro exemplo de empresa que se instalou em SC, é a LS Mtron

Brasil que, como ressaltamos anteriormente, trata-se de uma multinacional sul-

coreana que desde 2013 possui uma unidade produtiva no município de Garuva.

Se ampliarmos a análise ao caso do Rio Grande do Sul, constataremos que

algumas empresas devem ter se instalado nesse estado motivadas pela redução

salarial, verificada para o período 2006-2014 (gráfico 33). No ano de 2005 o grupo

francês Kuhn (líder mundial em implementos agrícolas) adquiriu a unidade da

Metasa S.A. do município de Passo Fundo – RS, que se destacava na fabricação

de implementos especialmente para o plantio. No ano de 2007 o grupo

multinacional AGCO adquiriu a empresa sul-rio-grandense Sfil (que na época era

líder em implementos agrícolas, também para o plantio), com fábrica instalada no

município de Ibirubá – RS. E em 2012 uma filial da empresa indiana Mahindra se

instalou no município de Dois Irmãos – RS.

Anteriormente, verificamos que o Paraná reduziu sua participação no valor

bruto da produção da indústria de máquinas agrícolas, passando de 22,09%, no

Page 236: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

217

ano de 2007, para 11,81% em 2017 (IBGE, 2019c). Se considerarmos que os

salários mais baixos seriam um atrativo para a alocação da indústria, como viemos

mencionando, poderíamos pensar que a queda da participação desse estado

poderia estar relacionada ao fato de que até 2011 os salários médios eram mais

altos, inclusive acima da média nacional e dos estados de RS e SP, os maiores

destaques nesse segmento.

No entanto, se analisarmos a composição orgânica do capital aplicado no

segmento de máquinas agrícolas e compará-lo à da indústria brasileira em geral,

especialmente a segmentos mais tradicionais, constataremos que esse setor não é

tão intenso em trabalho (despesas em folha de pagamento etc.) como o é, por

exemplo, o segmento de confecção de artigos do vestuário, mas também não é tão

intenso em capital constante (matérias-primas, etc.) como é a indústria de produtos

químicos, por exemplo. Destacamos que no de 2017, 15,9% do total de despesas

da indústria de máquinas e implementos agrícolas287 foi despendido em gastos de

pessoal (salários etc.), um percentual levemente superior à média da indústria

brasileira em geral (todos os segmentos), que para aquele ano foi de 14,1%288. No

segmento de produtos químicos289 o percentual de gastos com pessoal é menor,

pois em 2017 foi de 10,2%. Por outro lado, no segmento de confecção de artigos

do vestuário290 foi bem superior, alcançando 30,4% das despesas totais (IBGE,

2019g)291.

Há de se notar que o percentual de despesas com a força de tratabalho, no

setor de máquinas e implementos agrícolas, não é alto como no segmento de

artigos do vestuário (indústria mais tradicional), porém não é tão baixo a ponto de

ser desprezado. Nessas condições, verificamos que a existência de mão de obra

287 Refere-se à já mencionada classificação: 28.3 Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária (IBGE, 2019g). 288 No total de custos e despesas se inclui: gastos de pessoal; consumo de matérias-primas, materiais auxiliares e componentes; custo das mercadorias adquiridas para revenda; compras de energia elétrica e consumo de combustíveis; consumo de peças, acessórios e pequenas ferramentas; serviços industriais prestados por terceiros e de manutenção; aluguéis e arrendamentos; despesas com arrendamento mercantil; impostos e taxas; depreciação; despesas com vendas, inclusive comissões; água e esgoto; demais custos e despesas operacionais e despesas não-operacionais (IBGE, 2019g). 289 Refere-se à classificação: 20 Fabricação de produtos químicos (IBGE, 2019g). 290 Refere-se à classificação: 14 Confecção de artigos do vestuário e acessórios (IBGE, 2019g). 291 Se analisarmos as despesas da indústria brasileira, verificaremos que em: consumo de matérias-primas, materiais auxiliares e componentes, o segmento de máquinas agrícolas gastou, no ano de 2017, 47,8% do total de suas despesas; na indústria em geral foi 40,5%. Na indústria química foi 50,7% e no setor de confecções foi de 35,4% (IBGE, 2019g).

Page 237: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

218

mais barata tem sua importância na alocação desse segmento industrial, embora

que também não seja o fator principal.

Um dos fatores relacionados à força de trabalho que é de suma importância

para a distribuição espacial da indústria de máquinas e implementos agrícolas, é a

qualificação dos trabalhadores292. Pela pesquisa de campo, observamos que as

principais empresas desse segmento têm estimulado a qualificação de seus

empregados. Por exemplo, em visita de estudos que realizamos à unidade da John

Deere de Horizontina – RS, verificamos a presença de uma turma de estudantes e

professores do curso de Engenharia Mecânica do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), campus de Ibirubá – RS293.

Nessa visita recebemos a informação de que essa multinacional seleciona

estagiários, tanto de cursos técnicos, bem como de cursos superiores ligados às

engenharias da produção industrial (Engenharia Mecânica, especialmente).

Em visita de estudos que realizamos à unidade da AGCO de Canoas – RS,

também verificamos a presença de estudantes estagiários, especialmente de

cursos técnicos e superiores ligados a esse segmento, devido à demanda que uma

grande empresa tem em mão de obra qualificada.

Se realizarmos um levantamento sobre as instituições de ensino superior,

bem como dos cursos oferecidos nas cidades onde está instalada a indústria de

máquinas agrícolas, observaremos que essas empresas estão servidas de diversos

cursos que podem qualificar sua força de trabalho294. Por exemplo, verificamos que

na própria cidade de Canoas – RS (onde atuam empresas como a AGCO

Corporation) existe um campus da UniRitter, instituição privada que oferece cursos

tais como de engenharias Mecânica, Elétrica e de Produção, bem como de Gestão

da Produção Industrial (tecnólogo). Outro exemplo é da Universidade Luterana do

Brasil (Ulbra), que no campus de Canoas também oferece cursos de engenharias

Mecânica, Elétrica, de Produção e de Mecânica Automotiva. Além disso, no

município de São Leopoldo, há cerca de 15 Km da cidade de Canoas, existe um

292 A qualificação dos funcionários é mais importante do que aparenta. Por exemplo, Arrighi (2008) entende que, ao contrário do que muitos acreditam, a China não é atraente por ter somente mão de obra barata, mas por ter trabalhadores qualificados, com saúde, educação e capacidade de autogerenciamento. No final da década de 1960, Galbraith (1982) já havia ressaltado a importância das Universidades na qualificação dos profissionais que constituem a tecnoestrutura – os diretores, engenheiros e demais membros –, responsável pelo planejamento nas grandes empresas. 293 Há de se ressaltar que esse campus do IFRS também oferece o curso técnico em Mecânica. 294 Pesquisamos nos próprios sites das instituições de ensino técnico e superior.

Page 238: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

219

campus da Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS), que também oferece

cursos de engenharias, como da Produção, Mecânica e Elétrica. Na própria capital,

Porto Alegre (a 18 Km de Canoas), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS) oferece, além de bacharelado, pós-graduação (mestrado e doutorado)

em Engenharia Mecânica, com várias linhas de pesquisa.

Na cidade de Horizontina – RS, onde atua a John Deere, como já

destacamos, a Faculdade Horizontina (FAHOR), instituição privada, também

oferece cursos de Engenharia de Produção e Engenharia Mecânica. Há 47 Km,

localiza-se a cidade de Santa Rosa – RS, onde está instalada uma unidade da

AGCO. Nesse município existe um campus da Universidade Regional do Noroeste

do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), que também oferece os cursos de

Engenharia de Produção e Mecânica.

Em Passo Fundo – RS, onde estão instaladas fábricas de máquinas como a

Kuhn e a Semeato, também se oferece os cursos de Engenharia Mecânica e da

Produção na Universidade de Passo Fundo (UPF).

A indústria de máquinas agrícolas instalada no Paraná, também conta com

diversos cursos de qualificação de seus trabalhadores. Por exemplo, a

Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no campus de Curitiba295,

oferece o curso de Engenharia Mecânica (bacharelado), inclusive com pós-

graduação (mestrado e doutorado). Também na capital paranaense a Universidade

Federal do Paraná (UFPR) oferece cursos de graduação, mestrado e doutorado em

Engenharia Mecânica, bem como de Engenharia de Produção (graduação e

mestrado).

No estado de São Paulo, que abriga o maior centro universitário do país, não

é de se estranhar que também exista qualificação da força de trabalho para a

indústria de máquinas agrícolas. Por exemplo, no município de Mogi das Cruzes,

onde está instalada uma fábrica de tratores e motores da multinacional AGCO, a

Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), instituição privada, também oferece os

cursos de Engenharia de Produção e Engenharia Mecânica. Em Sorocaba (onde

está instalada uma unidade produtiva da CNH) se oferta o curso de bacharelado

em Engenharia Mecânica na Universidade Paulista (UNIP), bem como mestrado e

295 Lembrando que em Curitiba está instalada uma unidade da CNH Industrial, fabricante de tratores agrícolas e colheitadeiras de grãos.

Page 239: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

220

doutorado em Engenharia Elétrica na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Em

Piracicaba – chamada de “Vale do Silício” brasileiro de tecnologia para a agricultura

–, que abriga indústrias desse segmento (como a fábrica de colhedoras de cana da

Case IH), também se oferece cursos como o de Engenharia de Produção na

Faculdade de Tecnologia de Piracicaba (FATEP) e especialmente pós-graduação

(mestrado e doutorado) em Engenharia de Sistemas Agrícolas na Escola Superior

de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), que na atualidade é um campus da

Universidade de São Paulo (USP).

Também, podemos verificar que no pequeno município de Pompéia – SP,

onde está instalada a empresa Jacto S/A, existe qualificação de mão de obra para

o segmento de máquinas agrícolas. Por exemplo, na Faculdade de Tecnologia

(Fatec), criada e mantida pela Fundação Shunji Nishimura (fundador da própria

empresa Jacto), oferta-se cursos superiores tais como o Big Data no Agronegócio

e Mecanização em Agricultura de Precisão.

Enfim, verificamos que próximo às grandes unidades produtivas desse

segmento industrial se oferece diversos cursos, tanto técnicos como superiores que

se destinam à qualificação de sua força de trabalho. Por conseguinte, constatamos

que provavelmente esses cursos se configuram como um atrativo para as fábricas

de máquinas agrícolas. Por outro lado, as fábricas devem ter motivado a instalação

desses cursos, inclusive em cidades pequenas como as que citamos anteriormente.

7.2.4 A relevância do mercado interno

Um dos principais atrativos (provavelmente o principal) para a indústria de

máquinas agrícolas é a proximidade com a sua demanda, com as principais áreas

agrícolas296. Por exemplo, as empresas SLC e Ideal, instaladas, respectivamente,

nos municípios de Horizontina e Santa Rosa (em RS), a partir da segunda metade

do século passado se especializaram na fabricação de colheitadeiras de grãos para

atender, primeiramente, a demanda regional já que foi naquela região que se

introduziu (nas primeiras décadas do século XX) o cultivo da soja297, uma cultura

296 Entenda-se como “agrícolas” não apenas as lavouras, mas também a pecuária e a fruticultura que, embora que em menor quantidade, também utilizam máquinas e implementos agrícolas. 297 Segundo o censo agropecuário de 1970 a região Sul cultivava 95,4% da área ocupada com soja no Brasil, com destaque para o estado de RS que cultivava 1,6 milhão de hectares, o equivalente a

Page 240: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

221

que requer uma colheita rápida, portanto, mecanizada como mencionamos no

terceiro capítulo298. Aliás, não foi por acaso que em meados da década de 1970 a

multinacional, New Holland, instalou uma fábrica de colheitadeiras na cidade

industrial de Curitiba, em uma época em que o Paraná era conhecido como o

“celeiro agrícola nacional”299.

No estado de São Paulo a agricultura também estimulou o surgimento de

empresas fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas específicos. Como

mencionamos no terceiro capítulo a Santal Equipamentos S.A. surgiu em 1960, em

Ribeirão Preto – SP, fundada por Arnaldo Ribeiro Pinto, proprietário da usina Santa

Lydia que enfrentava problemas com a escassez de mão de obra e decidiu inovar

fabricando a primeira colhedora de cana-de-açúcar do Brasil. No final da década

de 1970 a empresa Dedini – que foi fundada pelo imigrante italiano Mário Dedini,

ainda na primeira metade do século passado – também percebeu a demanda que

estava crescendo no Brasil por máquinas para a colheita de cana-de-açúcar300,

então firmou uma parceria com a empresa australiana Austoft, que na época era

líder mundial na fabricação desse tipo de colhedoras, instalando no município de

Piracicaba – SP a empresa Brastoft (CNH, 2019).

Já mencionamos, também, que a empresa Jacto S/A surgiu na década de

1950 fabricando implementos para a pulverização agrícola, atendendo

principalmente aos cafeicultores do Centro-Oeste paulista, região que naquela

época contribuía com grande parte da produção de café de São Paulo. Aliás, a

necessidade de mecanizar a cafeicultura (atividade que utilizava muita mão de

obra) fez com que no final da década de 1970 a empresa Jacto lançasse no

73,2% da área total cultivada com essa oleaginosa no país. A região Sul também se destacava no cultivo de trigo, detendo 99,3% da área total ocupada com esse cereal, com destaque também para o estado de RS que cultivava 1,7 milhão de hectares, o equivalente a 81,3% da área total cultivada no país (IBGE, 1975a). 298 Como ressaltamos no capítulo 3, naquela época o Rio Grande do Sul também já se destacava no cultivo de arroz e de trigo, culturas agrícolas que também demandam uma colheita mecanizada. 299 Em 1970 a região Sul contribuía com 43,7% da área total cultivada com milho no Brasil, com destaque para o Paraná que cultivava 2,1 milhões de hectares, o equivalente a 19,9% da área total cultivada com esse cereal no país. Do total de 98.184 colheitadeiras automotrizes e combinadas existentes (trilhadeiras etc.) – infelizmente o IBGE não separou por tipo de máquina – a região Sul possuía mais da metade, 54.499 unidades, com destaque para o estado do Paraná que possuía 19.719 máquinas para a colheita (IBGE, 1975a). 300 Em 1970 o estado de São Paulo detinha 34,2% da área total cultivada com cana-de-açúcar no Brasil (IBGE, 1975a).

Page 241: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

222

mercado nacional o primeiro modelo de colhedora de café fabricado no Brasil301.

Se analisarmos os dados da Anfavea sobre as vendas internas de máquinas

agrícolas, verificaremos que na atualidade as principais unidades produtivas desse

segmento industrial também têm procurado se instalar próximo ao seu mercado

consumidor. Por exemplo, observamos que as três fábricas de colhedoras de cana

estão instaladas junto às áreas agrícolas que mais cultivam cana-de-açúcar no

país, isto é, nos estados de São Paulo (disparado o maior produtor nacional) e

Goiás, que atualmente possui a segunda maior área cultivada com esse produto302.

A partir do gráfico 34, podemos analisar a distribuição espacial das vendas

internas de colhedoras de cana-de-açúcar na atualidade:

Gráfico 34 Vendas internas de colhedoras de cana por unidades da federação – 2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

301 No ano de 1970 o estado de SP cultivou 650.877 hectares de café, o que equivalia a 39,8% da área total ocupada com essa cultura agrícola no país naquela época (IBGE, 1975a). 302 Segundo o censo agropecuário de 2017, naquele ano o estado de São Paulo cultivou 4,8 milhões de hectares com cana-de-açúcar, o equivalente a 52,9% da área total cultivada com esse produto no país. Nesse ano, o estado de Goiás detinha a segunda maior área cultivada com cana, 942.289 hectares, o equivalente a 10,3% da área total (IBGE, 2019a).

61,915,9

6,1

6,1

5,34,5

0,3

Percentual

São Paulo

Goiás

Minas Gerais

Paraná

M. Grosso do Sul

Mato Grosso

Outros

Page 242: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

223

Observamos que os dados apontam que no ano de 2018, mais de 60% das

vendas foram feitas para o estado de São Paulo (o equivalente a 398 unidades),

seguido (embora que de longe) pelo estado de Goiás que, como mostramos

anteriormente, possui a segunda maior área cultivada com cana no país. Ressalta-

se que naquele ano essas duas unidades da federação, juntas, adquiriram 77,8%

do total de colhedoras de cana comercializadas no Brasil303.

Pelo gráfico 35, podemos analisar a distribuição espacial das vendas

internas de colheitadeiras de grãos no Brasil:

Gráfico 35 Vendas internas de colheitadeiras de grãos por unidades da federação – 2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

Há de se observar que as principais fábricas de colheitadeiras de grãos (para

milho, soja etc.) também estão instaladas perto de seus mercados consumidores.

O estado de Mato Grosso, o que mais adquiriu colheitadeiras de grãos no ano de

303 Porém, uma análise mais cuidadosa nos mostra que 97% das vendas estão concentradas nas filiais da John Deere, que em 2018 deteve 56,8% do mercado interno de colhedoras de cana (vendendo 365 unidades), e da Case IH, que comercializou 258 colhedoras (40,1% do mercado). A marca Valtra vendeu apenas 20 unidades no ano de 2018, o que equivale a apenas 3,1% do total de vendas internas daquele ano (ANFAVEA, 2019).

22,4

20

16,7

10,2

7

6,7

5,3

2,2 9,4

Percentual

Mato Grosso

Paraná

R. Grande do Sul

Goiás

São Paulo

M. Grosso do Sul

Minas Gerais

Santa Catarina

Outros

Page 243: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

224

2018 (o total de 1.291 unidades, o equivalente a 22,4% do total de vendas internas),

não possui fábricas desse tipo de máquina agrícola, mas os estados do Rio Grande

do Sul e o Paraná, que também se destacam no agronegócio, abrigam as fábricas

de colheitadeiras de grãos da John Deere e da AGCO (em RS) e da CNH em

Curitiba – PR. O estado de SP não figura entre os maiores compradores de

colheitadeiras de grãos (contribuindo com apenas 7% das vendas internas), mas

abriga no município de Sorocaba uma unidade da CNH Industrial que fabrica

colheitadeiras de grãos das marcas New Holland e Case IH, como destacamos

anteriormente304.

Aliás, verificamos que o controle do mercado interno de colheitadeiras de

grãos também é concentrado em dois grupos. Por exemplo, no ano de 2018 a John

Deere do Brasil deteve 41,2% das vendas internas desse tipo de máquina

(comercializando 2.372 unidades), enquanto que o grupo CNH Industrial

abocanhou 50,7% do mercado, comercializando 1.018 colheitadeiras da marca

Case e outras 1.902 da marca New Holland. O grupo AGCO deteve apenas 8,1%

das vendas internas, comercializando 387 colheitadeiras de grãos da marca

Massey Ferguson e 80 da marca Valtra (ANFAVEA, 2019).

Se analisarmos a comercialização interna de tratores de rodas, no ano de

2018, constataremos que os maiores consumidores são os estados de SP (que

adquiriu 8.486 tratores), RS, PR e MG. Portanto, observamos que os maiores

compradores desse tipo de máquina também são unidades da federação onde

atuam as grandes fábricas, como em São Paulo (especialmente a fábrica de

tratores das marcas Valtra e Massey Ferguson do grupo AGCO); no Rio Grande do

Sul – onde se fabrica tratores dos grupos John Deere, AGCO, Mahindra e Agrale –

e no Paraná, onde se fabrica tratores das marcas Case e New Holland (do grupo

CNH Industrial).

As vendas internas de tratores de rodas também são concentradas em

poucos grupos, embora que com menor concentração do que nas vendas de

colheitadeiras de grãos e de cana, como observamos anteriormente. Por exemplo,

304 Há de se ressaltar que o estado de São Paulo não é um grande comprador de colheitadeiras de grãos, mas se considerarmos que a proximidade seria importante para a comercialização, poderíamos constatar que juntando o mercado paulista com o sul-mato-grossense, com o de Minas Gerais e o de Goiás, verificaremos que a indústria de colheitadeiras de SP teria cerca de 29% do mercado brasileiro desse tipo de máquinas.

Page 244: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

225

no ano de 2018 o grupo AGCO deteve 40,8% do mercado interno, comercializando

8.931 tratores da marca Massey Ferguson e 6.903 da marca Valtra. A John Deere

comercializou 11.614 unidades, o que equivale a 29,9%, enquanto que o grupo

CNH comercializou 8.014 tratores New Holland e 2.969 unidades da marca Case,

detendo 28,4% do mercado nacional (gráfico 36)305:

Gráfico 36 Vendas internas de tratores de rodas por unidades da federação – 2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

Pelos censos agropecuários, de certa forma, também podermos verificar que

as empresas procuram se instalar perto de seu mercado consumidor. Os dados do

último censo agropecuário (referente a 2017) nos permitem observar a distribuição

de tratores agrícolas nos estabelecimentos agropecuários, por unidades da

305 Em relação às vendas internas de tratores, há de se ressaltar que outras empresas também têm se destacado nos últimos anos. Por exemplo, segundo a própria Anfavea (2019), verificamos que no ano de 2018 a Agrale vendeu 372 tratores de rodas. Segundo uma reportagem produzida por Copetti (2019), a Mahindra do Brasil – empresa que, como já mencionamos, é líder mundial na venda de tratores em unidades – tem capacidade produtiva de 1,2 mil tratores por ano e, inclusive, pretende ampliar sua produção para até 9 mil tratores/ano nos próximos anos. Segundo Brambilla (2019), no primeiro semestre de 2019 as vendas da Mahindra do Brasil aumentaram mais de 40% em relação ao ano de 2018. Lembrando que, como citamos anteriormente, outras empresas tais como a sul-coreana LS Tractor e a italiana Landini também comercializam tratores no Brasil.

21,9

15,1

12,610,8

6,8

5,1

4,9

3,2

19,6

Percentual

São Paulo

R. Grande do Sul

Paraná

Minas Gerais

Mato Grosso

Santa Catarina

Goiás

M. Grosso do Sul

Outros

Page 245: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

226

federação e por classes de potência das máquinas. Infelizmente o IBGE fornece

dados agrupados em apenas duas classes, tratores com menos de 100 cv e com

100 cv e mais de potência. Mas, esses dados nos permitem observar, por exemplo,

que o estado do Rio Grande do Sul é o que possui mais tratores na agricultura,

242.274 unidades, sendo que, desses, 189.860 (78,4%) têm menos de 100 cv.

Santa Catarina possui menos tratores, 108.375 unidades, mas, desses, 98.132

(90,5%) possuem menos de 100 cv de potência (IBGE, 2019a).

Ressaltamos que não é por acaso que na região Sul do país se instalaram,

como já mencionamos, empresas como a Agrale, Mahindra e a LS Tractor que

produzem tratores de pequeno porte, em grande maioria com potência inferior a 75

cv. Notemos que o mercado regional é atraente para fabricantes de máquinas com

essa classe de potência. Aliás, em pesquisa de campo, fomos informados de que

a unidade da AGCO de Canoas – RS, que há anos vinha fabricando apenas tratores

da marca Massey Ferguson (em todas as faixas de potência), a partir de 2019

também passou a fabricar tratores da maca Valtra, porém com potência de até 140

cv, repassando a fabricação dos tratores maiores para a sua unidade de Mogi das

Cruzes – SP, já que naquele estado e arredores se utiliza preferencialmente os

tratores de maior potência306.

Aliás, Chesnais (1996) também apontou o mercado consumidor como um

fator atraente para a instalação de plantas industriais, no que ele chamou de

“mundialização do capital”.

Quando estudamos a demanda em potencial que se forma na agricultura

brasileira para a utilização de máquinas e implementos agrícolas, não podemos

esquecer da importância do país no comércio agrícola mundial. Segundo um estudo

recente publicado pela Embrapa, realizado por Vieira et. al. (2019), o Brasil pode

ser visto como uma fonte estratégica na geopolítica dos alimentos. Esses autores

verificaram que no ano de 2017 o país possuía o maior saldo na balança comercial

de alimentos, totalizando US$ 76 bilhões307.

306 Constatamos que nos estabelecimentos rurais do estado de São Paulo o percentual de tratores com menos de 100 cv é menor que no RS e em SC, pois é de 76,2%. Em Goiás é de 58,6%; em Mato Grosso do Sul é de 53,8% e em Mato Grosso é de 49,2%, demonstrando que na região Centro-Oeste se utiliza preferencialmente os tratores maiores (IBGE, 2019a). 307 Há de se ressaltar que o Brasil vem aumentando sua participação no comércio mundial de alimentos, inclusive em um contexto em que outros grandes exportadores vêm perdendo importância na balança comercial. Por exemplo, os EUA assistiu seu saldo comercial, na balança de alimentos, cair de US$ 19 bilhões, em 1990, para apenas US$ 70 milhões no ano de 2017. Por

Page 246: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

227

Além desse protagonismo no comércio mundial de commodities agrícolas,

verificamos que o Brasil também tem se tornado um atrativo para a indústria de

máquinas agrícolas, devido ao seu menor índice de mecanização da agricultura. O

anuário estatístico da Anfavea (de 2006) apresenta uma análise sobre a evolução

da mecanização na agricultura brasileira, na qual podemos observar que o índice

de mecanização no Brasil aumentou no período 1960-1985, porém estagnou e

inclusive até regrediu ao longo da década de 1990 e nos primeiros anos da década

seguinte. Por exemplo, em 1960 o Brasil possuía 410 hectares (ha.) por trator de

rodas; caindo para 359 em 1970; para 99 em 1980; para 90 em 1985, mas voltando

a subir para 92 em 1990 e para 118 ha./trator no ano de 2000.

De acordo com o estudo de Sarti, Sebbatini e Vian (2009), no ano de 2003

a média de hectares por trator no Brasil havia subido para 170. Só para termos

noção do que isso representa os autores apresentam dados para outros países,

que nos permitem verificar que o índice de mecanização na Argentina era bem

maior, de 93 ha./trator. Na América do Sul era ainda maior, 81; na Ásia era de 59

ha./trator e a média mundial era de 51, sendo que, por exemplo, na Europa a média

era de 26 e nos Estados Unido era de 36 ha./trator.

Pelos dados da tabela a seguir podemos comparar o índice brasileiro de

mecanização agrícola por colheitadeiras com a média de outros países:

Tabela 11 Índice de mecanização com colheitadeiras agrícolas por países selecionados – 1990 e 2005

País Hectares/colheitadeira

1990 2005

Alemanha 80 90 Itália 255 189 França 155 245 China 3.393 391 Estados Unidos 283 433 Argentina 561 590 Canadá 295 603 Rússia 361 958 Brasil 1.230 1.233 Índia 57.437 38.557

Nota: Refere-se a terrar aráveis, inclusive em cultivo permanente.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados levantados por Sarti, Sebbatini e Vian (2009).

outro lado, o Brasil aumentou seu saldo de 7 para US$ 76 bilhões nesse período (VIEIRA et. al. 2019).

Page 247: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

228

Os dados dessa tabela nos mostram que no período 1990-2005 vários

países, tais como EUA, Canadá, Rússia e Argentina tiveram aumento de área

cultivada por colheitadeiras agrícolas. Por outro lado, os dados também nos

mostram que especialmente na China e na Índia (apesar desse último país ainda

ter um índice de mecanização baixo em relação aos demais países) ocorreu um

considerável aumento da mecanização, o que pode ser observado pela redução de

área colhida por máquina.

Observamos que um aumento moderado da área por máquina é

compreensível, pois tem-se produzido equipamentos de maior porte e mais

produtivos, o que permite se reduzir a quantidade de colheitadeiras, inclusive

mantendo ou até ampliando a área colhida. Como retratam os dados da tabela 11,

até mesmo em países desenvolvidos como nos EUA e na França tem aumentado

a área por colheitadeiras. Porém, o que nos chama a atenção é que o índice de

mecanização da agricultura brasileira é muito baixo, bem inferior ao dos EUA e,

inclusive, menor que a média de países da América Latina, como da Argentina.

De certa forma, verificamos que o baixo índice de mecanização da

agricultura brasileira faz do país um mercado em potencial, possuindo uma grande

margem para expansão do comércio de máquinas agrícolas; por conseguinte,

tornando-se um atrativo para a indústria desse setor.

Outra situação da agricultura brasileira que torna o país um atrativo para a

indústria de máquinas agrícolas, é a demanda em potencial que surge devido ao

envelhecimento das máquinas utilizadas. Silva, Baricelo e Vian (2015) analisaram

o que eles chamaram de “estoque de tratores”, apontando um envelhecimento e,

inclusive, o sucateamento da frota brasileira de tratores agrícolas. A partir dos

dados levantados por esses autores, constatamos que no ano de 1995 a maioria

dos tratores agrícolas do país possuía entre 10 e 20 anos de uso, mas em 2005 a

frota brasileira estava ainda mais velha, pois 58% dos tratores apresentavam idade

entre 20 e 35 anos. E se juntarmos as duas últimas classes, chegaremos à

conclusão de que 77% dos tratores possuíam mais do que 20 anos de uso. No ano

de 2016308 a parcela de tratores com mais de 35 anos de uso alcançou 49%, o que

nos mostra que naquela época quase a metade dos tratores agrícolas utilizados no

308 Como os tratores envelhecem anualmente os autores conseguiram realizar o cálculo para o ano de 2016, mesmo publicando o artigo um ano antes.

Page 248: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

229

Brasil estavam, provavelmente, sucateados (gráfico 37)309.

Gráfico 37 Estoque brasileiro de tratores agrícolas por classes de tempo de uso – 1995-2016

Fonte: Elaboração própria a partir de dados levantados por Silva, Baricelo e Vian (2015).

Outro fator a ser considerado sobre a agricultura brasileira, é a demanda em

potencial que tem surgido devido à grande quantidade de estabelecimentos rurais

que ainda não possuem força mecânica. Segundo o censo agropecuário de 2006,

do total de 5.175.485 estabelecimentos rurais existentes, em 978.277 se utilizava

apenas força motriz e em mais 591.421 se utilizava força animal e mecânica. E há

de se destacar que entre os estabelecimentos que usavam só força motriz, em

apenas 440.606 as máquinas e equipamentos eram próprias, pois no restante se

utilizava força motriz por meio de uso comunitário, de empreiteiras, cedidas por

terceiros, alugadas, cedidas pelo governo (federal, estadual ou municipal) e

principalmente por meio de serviço contratado com operador310, que no ano de

309 Pois, segundo fabricantes e a literatura especializada a vida útil ideal de um trator agrícola varia de 10 a 21 anos (SILVA; BARICELO; VIAN, 2015). 310 Em pesquisa que realizamos, inclusive naquela época, já observamos que na região Sudoeste do Paraná (mais particularmente no município de Francisco Beltrão) os agricultores menores, que não possuíam máquinas agrícolas, contratavam o serviço de máquinas agrícolas e de seus operadores. Em geral, os agricultores que possuem tratores, colheitadeiras e demais implementos

21

5

26

45

18

2

34

58

23

0

19

49

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

1995 2005 2016

Pe

rce

ntu

al

Tratores com até 10 anos Tratores de 10 a 20 anos

Tratores de 20 a 35 anos Tratores acima de 35 anos

Page 249: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

230

2006 alcançou 285.768 estabelecimentos rurais do país. Entre os estabelecimentos

que utilizavam os dois tipos de força, em 199.215 também se contratava o serviço

de operador de máquinas agrícolas (IBGE, 2009).

Observamos que o aluguel de maquinário (na prática, a contratação do

serviço de máquinas agrícolas e seus operadores) tem sido uma alternativa para

contornar o problema da falta de acesso à força mecânica, que ocorre

principalmente nas regiões onde predominam as pequenas propriedades rurais

(normalmente, chamadas de “agricultura familiar”). Aliás, esse fator também nos

mostra que, especialmente nos pequenos estabelecimentos rurais, existe uma

demanda em potencial para a aquisição de máquinas agrícolas311.

A partir desses dados e considerando que as vendas de máquinas agrícolas

diminuíram a partir de 2013 (como mencionamos no capítulo anterior), podemos

ressaltar que na atualidade o Brasil possui uma demanda enorme para esse tipo

de equipamento, especialmente de tratores e colheitadeiras agrícolas312. Portanto

que, como ressaltamos anteriormente, as fábricas desse segmento têm procurado

se instalar perto de seu mercado consumidor em potencial.

7.3 O Papel das Inovações na Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas

Ao analisarmos as primeiras fábricas de máquinas agrícolas que surgiram

no Brasil, ainda nas primeiras décadas do século passado, identificamos o

pioneirismo de alguns imigrantes, como Domingos Nardini que em uma pequena

fábrica, instalada em Americana – SP, inovou na têmpera do aço dos arados

costumam prestar serviços externos (para seus vizinhos etc.), inclusive como uma forma de aumentar as suas receitas para pagar os próprios maquinários adquiridos (FLORES, 2006). 311 Inclusive, em 2014 o programa Globo Rural (da TV Globo) exibiu uma reportagem sobre a lucratividade de algumas empresas rurais especializadas na prestação de serviços com máquinas agrícolas, mostrando, por exemplo, que existem produtores rurais do Oeste paranaense que realizam colheitas nos estados de RS, MT, MG, GO e no PA (ALUGAR, 2014). Aliás, desde 2016 existem ferramentas digitais, como a startup Agrishare, que têm servido para aproximar os agricultores às empresas que prestam serviço com máquinas agrícolas (AGRISHARE, 2020). Outra startup criada com a finalidade de locar máquinas agrícolas é a Alluagro, que atua principalmente nos estados do Matopiba (MA, TO, PI e BA). Popularmente, essa ferramenta digital tem sido chamada de “Uber de máquinas agrícolas” (UBER, 2019). 312 Aliás, Silva, Baricelo e Vian (2015), observaram que há um intenso comércio de tratores agrícolas usados no Brasil, processo em que os proprietários mais capitalizados revendem seus tratores usados para agricultores menores, que em geral não possuem capital suficiente para adquirir máquinas novas e, também, porque em muitos casos suas áreas de cultivo não compensariam o investimento em uma máquina que seria pouco utilizada em grande parte do ano.

Page 250: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

231

importados, adaptando-os aos diferentes tipos de solos brasileiros313.

Ocorre que, mesmo com o emprego de tecnologia moderna as máquinas

agrícolas são utilizadas no campo, o que obriga os fabricantes a adaptá-las às

especificidades naturais (relevo, solo, clima etc.) que muitas vezes se levantam

como barreiras a seu uso na agricultura. Por exemplo, em pesquisa de campo que

realizamos na Werner Implementos Agrícolas Ltda (localizada em Campo Erê –

SC), recebemos a informação de que essa empresa possui diversas colheitadeiras

de grãos espalhadas, especialmente pelo estado de Santa Catarina, que

periodicamente têm que receber manutenção no sentido de adaptá-las às

especificidades das lavouras e das diferentes culturas agrícolas a serem colhidas.

Em visita realizada à unidade da Deere e Company, instalada em Horizontina

– RS, recebemos a informação de que quando se lança um determinado modelo

de colheitadeira, ele só é comercializado em série depois de ter passado por um

período de testes. Como os modelos que são fabricados internamente, geralmente

são projetados nos Estados Unidos (matriz da empresa), então a unidade do Brasil

produz um projeto piloto, com 25 ou 30 máquinas, colocando-as no campo e aí os

engenheiros, mecânicos, técnicos etc. as aperfeiçoam, adaptando-as às exigências

dos agricultores brasileiros. Segundo informações repassadas por um funcionário

dessa empresa que trabalhou como supervisor na fabricação de colheitadeiras de

grãos por cerca de 35 anos314, muitas vezes um determinado modelo pode

permanecer por cerca de cinco anos sendo adaptado para a venda em série. Esse

processo é conhecido como “tropicalização” do projeto315.

Quando visitamos a unidade da AGCO Corporation de Canoas – RS,

também recebemos informações sobre a necessidade de tropicalização dos

modelos estrangeiros, devido às particularidades do clima e do solo brasileiro, bem

como da intensidade do uso das máquinas no país. O informante da pesquisa, que

313 Sobre os diferentes tipos de solos brasileiros, consultar a classificação da Embrapa (2018). 314 Na atualidade, ele é aposentado, mas abriu uma empresa com outros colegas e presta serviço à essa unidade da John Deere, recepcionando visitantes (clientes, estudantes etc.). 315 Em um estudo realizado na década de 1940 o geógrafo francês André Cholley observou que os domínios geográficos se caracterizam por combinações de complexos, nas quais convergem elementos físicos, biológicos e antrópicos, afirmando que nas sociedades industrializadas predominam os elementos antrópicos, os meios técnicos desenvolvidos com o objetivo de produzir os mais diversos bens, tornando a participação dos elementos naturais menos evidentes, apesar de sua importância (CHOLLEY, 1964a e 1964b). Aliás, acreditamos que a tecnologia aplicada na fabricação de máquinas agrícolas responde aos desafios impostos por elementos naturais, particularmente as especificidades dos solos, relevo e até do clima.

Page 251: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

232

trabalha no segmento de fabricação de tratores agrícolas há mais de 20 anos, citou

que enquanto na Europa, por exemplo, um trator trabalha cerca de três meses por

ano, no Brasil opera praticamente o ano todo, pois os estabelecimentos rurais são

policultores (especialmente os menores), utilizando as máquinas mais

intensamente, sendo necessário adaptá-las à condições mais severas de uso316.

No segundo capítulo, também observamos o pioneirismo de outros

imigrantes, tais como Mário Dedini e Américo Romi, que no estado de São Paulo

desenvolveram máquinas e implementos especialmente para as lavouras de cana-

de-açúcar (lembrando que a Romi chegou a fabricar até tratores agrícolas a partir

do final da década de 1940). Da mesma forma, identificamos o pioneirismo dos

imigrantes alemães Frederico Jorge Logemann e Balduíno Schneider, que

inovaram na fabricação de máquinas para colheita a partir de uma fábrica (SLC)

instalada no noroeste do Rio Grande do Sul.

O empreendedorismo, apoiado basicamente na inovação tecnológica, é um

ponto que tem sido valorizado quando se estuda o processo de industrialização.

Alguns autores, como o sul-coreano Linsu Kim, por exemplo, partem do princípio

que é a empresa que estimula as transformações nos produtos e processos, como

alternativa de sobrevivência em um mercado que é altamente competitivo. Em seu

livro, ele visa analisar como ocorre o aprendizado tecnológico microeconômico, isto

é, na empresa, no chão de fábrica (KIM, 2005)317.

Ao estudar a industrialização de seu país, Kim observou que o Estado foi

importante no que se refere ao desenvolvimento tecnológico, especialmente ao

apoiar a educação318. Porém, ele lamenta que mesmo tendo aumentado os

316 Outro exemplo de como as condições naturais obrigam a indústria a adaptar as suas máquinas agrícolas, se tem pelo fato de que os solos de outros países exigem pneus e outros componentes específicos. Por exemplo, os tratores agrícolas exportados pela unidade da AGCO de Canoas – RS para os Estados Unidos são enviados sem rodas e pneus, pois os solos daquele país exigem pneus diferentes dos utilizados no Brasil. Aliás, o tipo de pneu utilizado em máquinas agrícolas é de suma importância porque determinados modelos compactam mais os solos, dependendo se eles são mais argilosos, mais arenosos etc. (informações obtidas na pesquisa de campo – nov. 2019).

317 Em outro capítulo do mesmo livro, Kim e Nelson (2005) chegaram a intitular sua corrente de estudos como teóricos da assimilação. Inclusive, esses autores acreditam que o aprendizado, o espírito empreendedor e a inovação, foram de suma importância para o desenvolvimento econômico dos países de industrialização recente, como a Coreia do Sul, por exemplo. 318 Por exemplo, de 1951 a 1966 o percentual de gastos públicos em educação na Coreia do Sul, passou de 2,5 para 17% do total de despesas do Estado. De 1960 a 1980 o número de engenheiros nesse país passou de 4.425 para 44.999. Em 1995 o número de coreanos que conseguiram o doutorado no exterior atingiu 12.088, em grande maioria (mais de 60%) obtidos nos EUA e uma parte menor que estudaram no Japão (KIM, 2005).

Page 252: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

233

investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) a Coreia do Sul ainda

investiria menos do que a maioria dos países desenvolvidos.

Ao estudar o caso brasileiro, Bielschowsky (2012) sugere que a retomada do

desenvolvimento econômico considere o que ele chamou de frentes de expansão,

no qual o Estado deve estimular o consumo em massa, explorar os recursos

naturais e melhorar a infraestrutura. No seu entendimento, para a realização de tal

projeto se faz necessário o uso de alguns instrumentos “turbinadores”,

especialmente a inovação tecnológica e o apoio aos setores tradicionais

fragilizados.

Ao analisarmos a indústria brasileira de máquinas agrícolas, verificamos que

o investimento tecnológico tem sido importante. Por exemplo, em pesquisa de

campo, realizada no Show Rural Coopavel, 2019, recebemos informações,

inclusive de representantes comerciais ligados à empresas concorrentes, que o

diferencial das máquinas e implementos fabricados pela John Deere seria a

tecnologia embarcada. Em visita de estudo que realizamos à unidade dessa

empresa instalada em Horizontina – RS, recebemos a informação de que a Deere

& Company (global) investe, diariamente, cerca de US$ 4 milhões em P&D. Por

exemplo, só no sistema de pintura por imersão, implantado nessa unidade a partir

de 2003, foi gasto cerca de US$ 12,5 milhões319.

Na visita à fábrica, pudemos observar que a John Deere utiliza um sistema

flexível de produção, pois ela tem uma capacidade produtiva de até 24

colheitadeiras de grãos por dia, mas que a produção efetiva varia conforme a

demanda, com suas vendas320. Na linha de produção, constatamos a utilização do

sistema Kan-Ban de gestão de estoques que, grosso modo, consiste em um

319 Segundo o informante da pesquisa – que trabalhou como supervisor na fabricação de colheitadeiras agrícolas por mais de 30 anos e que, mesmo depois de aposentado, ainda presta serviços recepcionando visitantes na unidade de Horizontina – o sistema de pintura por imersão via eletrodeposição (e-coat) aumentou a capacidade de pintura em mais de 40%, o que tornou essa unidade da John Deere uma referência mundial nesse segmento industrial. Segundo esse informante, apenas quatro empresas no mundo utilizam esse sistema de pintura. Pelo o que observamos na pesquisa de campo, grosso modo, trata-se de um sistema de pintura totalmente automatizado, em que os módulos de peças são conduzidos mecanicamente (por uma linha ou esteira comandada por softwares) até os tanques de imersão, de onde saem, também mecanicamente, para a estufa de secagem. De modo geral, verificamos que os módulos de peças recebem uma carga elétrica oposta à carga de eletricidade contida nas partículas de tinta, de modo que ocorra atração da tinta pelas peças a serem pintadas. 320 Por exemplo, no dia em que realizamos a visita de estudo (17 de junho de 2019), a unidade de Horizontina – RS estava fabricando o total de 13 colheitadeiras de grãos.

Page 253: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

234

processo produtivo pensado pela demanda, no qual a linha de montagem é dividida

em postos de trabalho e que os estoques de peças e componentes são alimentados

e controlados pelos próprios trabalhadores, evitando desperdícios, estoques

desnecessários e atrasos de tempo de produção, conforme já observou, por

exemplo, Coriat (1994) em seu estudo sobre o sistema toyotista de produção321.

No início da década de 2000, Gramkow (2002) realizou um estudo sobre as

estratégias do grupo AGCO do Brasil, no qual ela verificou que as unidades

instaladas no país não investem diretamente em P&D porque essa multinacional

adquire tecnologia de outras unidades do grupo alojadas no exterior, adaptando-a

ao mercado brasileiro (a já mencionada “tropicalização”).

Em visita de estudo que realizamos à unidade da AGCO de Canoas RS,

também observamos que essa empresa importa tecnologia, mas constatamos que

essa unidade produtiva possui um departamento destinado ao desenvolvimento

tecnológico. Inclusive, observamos a presença de estudantes de cursos como de

Engenharia Mecânica que fazem estágios, tanto no setor de montagem como no

de pesquisa e desenvolvimento322.

Ao visitarmos a CNH Industrial de Curitiba, que fabrica tratores agrícolas e

colheitadeiras de grãos, pudemos observar que essa multinacional também investe

pesado em tecnologia323, tanto no setor de fabricação como no de montagem o

que, segundo o informante da pesquisa324, aumenta a qualidade da produção, bem

como a produtividade dessa unidade industrial.

Outro fator apontado por Kim (2005), que foi relevante à industrialização da

Coréia do Sul e que observamos ocorrer na indústria de máquinas agrícolas

321 Essa unidade da John Deere que visitamos utiliza diversos postos automatizados (robôs) na produção, desde o sistema de transporte de peças e componentes até os processos de dobra de chapas, perfuração, solda, bem como na pintura das colheitadeiras. 322 Na linha de montagem de tratores agrícolas, também observamos a utilização do sistema Kan-Ban de gestão de estoques. Fomos informados de que em alguns processos produtivos, como de soldas, a unidade da AGCO de Santa Rosa, RS – como já destacamos, fabricante de colheitadeiras de grãos – é uma referência, pois possui modernos robôs com essa finalidade. Como adquirir novos robôs seria relativamente dispendioso para todas as unidades do grupo, então a unidade de Santa Rosa passou a prestar serviço de solda de determinados módulos de peças, inclusive para a montagem de tratores agrícolas, que é realizada em Canoas – RS e em Mogi das Cruzes – SP. 323 Por exemplo, no ano de 2018 a CNH Industrial (global) informou que investiu US$ 485 milhões em P&D no segmento de máquinas e equipamentos agrícolas (CNH, 2020). 324 Ele nos informou que trabalhou na unidade de Curitiba por 40 anos, desde a instalação da New Holland em 1975 até o ano de 2015 quando se aposentou. Mas, foi convidado a continuar trabalhando na recepção de clientes e outros visitantes a essa unidade, que na atualidade pertence ao grupo CNH Industrial (visita de estudo realizada em fevereiro de 2020).

Page 254: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

235

instalada no Brasil, é a assimilação de tecnologia por meio de engenharia reversa;

que consiste, grosso modo, na aquisição de máquinas (ou de patentes de invenção

delas) para conhecê-las com o objetivo de reconstruí-las por meio de combinações,

isto é, inovando a partir de modelos já aprovados e que estejam disponíveis. Por

exemplo, como mencionamos no capítulo 3, na década de 1940 a empresa

Schneider Logemann (SLC) começou fabricar trilhadeiras por meio de engenharia

reversa, desmontando máquinas mais antigas fabricadas na região de Cachoeira

do Sul – RS para “aprender como se faz”, com a intenção de lançar novas

combinações325. Aliás, no início da década de 1960 essa empresa utilizaria,

basicamente, a mesma tática ao adquirir uma velha colheitadeira importada (marca

John Deere, modelo 55), desmontando-a para aprender como se produz esse tipo

de máquina326.

Na atualidade, encontramos empresas desse segmento que ainda se valem

da engenharia reversa. Por exemplo, no município de Campo Erê, no Oeste

catarinense, está instalada uma fábrica de máquinas agrícolas (marca Werner) que

combina modelos de colhedoras acopladas a tratores com trilhadoras-combinadas

(mais conhecidas como “batedores”), produzindo um modelo de colheitadeira de

grãos que já está sendo testado em lavouras de várias regiões do Brasil327.

325 As trilhadeiras que começaram a ser fabricadas pela Schneider e Logemann (no final da década de 1940) se diferenciavam das velhas trilhadeiras utilizadas na região arrozeira de Cachoeira do Sul porque, além de arroz, elas também trilhavam feijão, milho e soja, produtos agrícolas que já eram cultivados na região Noroeste do RS naquela época. Outra combinação importante é que a SLC inovou a partir da utilização de matérias-primas simples e mais baratas. Por exemplo, devido ao alto custo do ferro, essa empresa fabricava suas máquinas utilizando o máximo possível de madeira, material que era mais acessível naquela região que contava com inúmeras madeireiras (o próprio grupo Schneider Logemann possuía uma serraria instalada, também, em Horizontina) e com mão de obra relativamente qualificada para essa atividade (marceneiros etc.). Aliás, os mecânicos e sócios fundadores dessa empresa ficaram surpresos quando lançaram uma trilhadeira toda de ferro (pensando que seria um sucesso), mas os agricultores rejeitaram esse modelo, alegando que preferiam as máquinas feitas de madeira, pois facilitavam a manutenção e com menor custo (SCHNEIDER, 1995). 326 Como mencionamos no terceiro capítulo, em 1965 a SLC lançou a primeira colheitadeira fabricada no Brasil, o modelo A 65. O interessante é que em pouco tempo essa máquina seria nacionalizada, pois em um anúncio de vendas desse modelo, publicado ainda na década de 1960, verificamos que seu índice de nacionalização já alcançava 98,86% em relação ao peso e 98,81% em relação ao seu custo (SCHNEIDER, 1995). 327 Em visita de estudos, realizada em fevereiro de 2019, fomos recebidos pelo proprietário dessa empresa, que é o seu principal projetista. Trata-se de um senhor entusiasmado pelo estudo e pela criação de máquinas e implementos agrícolas. Aliás, ele nos informou que já possui diversas patentes de invenções nesse segmento e que tem como filosofia de vida contribuir para a criação de novos produtos. Inclusive, quando perguntamos a ele se não se preocupava, por exemplo, com a concorrência ou com o assédio de empresários que pudessem querer adquirir suas patentes ou sua própria empresa, ele nos respondeu que o que mais lhe interessava seria “a satisfação de poder ajudar a sociedade com suas invenções”.

Page 255: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

236

Há de se ressaltar que o desenvolvimento tecnológico também tem se

difundido no setor de fabricação de máquinas agrícolas por meio de empresas

fornecedoras de componentes. Por exemplo, em Caldas Novas – GO (a 168 Km de

Goiânia) está instalada a J.ASSY Agrícola, especialista em soluções tecnológicas

para o gerenciamento de dosagem de sementes e para o monitoramento do plantio

(plantio de precisão)328. Essa empresa fornece seus produtos para fábricas de

plantadeiras e semeadoras, tais como a Marchesan, Fankhauser, KF, Imasa e

inclusive para filiais de multinacionais como a Kuhn (J.ASSY, 2019).

Portanto, observamos que, por um lado, a tecnologia passa a ser importante

para a competitividade industrial, mas, por outro, ela é popularizada, o que

praticamente anula suas vantagens frente à concorrência já que todas as empresas

do setor passam a ter acesso a essas inovações329.

As inovações são imprescindíveis para o desenvolvimento econômico,

porém verificamos que a inserção de tecnologia na indústria brasileira de máquinas

agrícolas é limitada, devido ao atraso tecnológico de alguns setores da indústria do

país330. Como analisamos anteriormente, esse segmento tem importado desde

eixos, sistemas de transmissão, motores, carenagens, itens eletrônicos para a

agricultura de precisão, entre outros bens intermediários331.

Pelas visitas de estudo que realizamos à unidades produtivas, observamos

as particularidades do Brasil em relação ao acesso à tecnologia. Por exemplo, a

CNH Industrial de Curitiba produz colheitadeiras da linha TC da New Holland que

são máquinas mais simples, com menos tecnologia embarcada do que as

máquinas da linha CR (dessa mesma marca), fabricadas em Sorocaba – SP, que

328 Entre as soluções inovadoras oferecidas por essa empresa brasileira, estão os dosadores de sementes pneumáticos Selenium e o dosador mecânico Titanium. Ela também fabrica sensores de fluxo Visum Adubo e o Visum Grãos Finos e os discos de plantio Apollo (J.ASSY, 2019). 329 Por exemplo, no Show Rural Coopavel, 2019, entrevistamos um representante comercial da empresa Marchesan (“Tatu”). Quando perguntamos se, por acaso, essa empresa que historicamente se desenvolveu fabricando implementos para o preparo do solo (grades, arados etc.) não teria dificuldades para competir com a tecnologia de outras empresas especializadas na fabricação de máquinas para o plantio, ele nos respondeu que a tecnologia utilizada em sua plantadeira “é a mesma utilizada nas outras plantadeiras fabricadas no Brasil, os dosadores fornecidos pela Titanium”. 330 Inclusive, recentemente a telefônica TIM lançou o projeto “4G TIM no Campo”, com o objetivo de oferecer internet para os grandes grupos agrícolas que atuam no Brasil, como para a SLC Agrícola controlar seus tratores e colheitadeiras, já que o serviço de internet ainda é precário em grande parte da área rural do país, o que atrapalha a agricultura de precisão, por exemplo (TIM, 2020). 331 Lembrando que a indústria de máquinas agrícolas instalada no Brasil pode importar até 40% do valor ou do peso das peças e componentes. Recentemente (a partir de 2018), mudou as regras no credenciamento do Finame do BNDES, em alguns casos podendo importar até 50% (BNDES, 2020).

Page 256: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

237

são adaptadas à agricultura de precisão. Isso ocorre porque grande parte dos

agricultores brasileiros ainda não possuem acesso à tecnologia, pois não há, por

exemplo, uma internet mais eficiente na área rural. Inclusive, nessa mesma visita

de estudos observamos que grande parte dos tratores fabricados nessa unidade

produtiva (das marcas New Holland e Case) não saem de fábrica com os itens para

a agricultura de precisão (piloto automático, sensores de mapeamentos, entre

outros). Aliás, ao visitarmos a linha produtiva da AGCO Corporation de Canoas –

RS, também verificamos que um determinado modelo de trator pode sair de fábrica

com diversas configurações, dependendo do bolso e das necessidades do cliente.

Além disso, há de se diferenciar pesquisa e desenvolvimento das inovações

propriamente ditas. Mazzucato (2014) adverte que o processo de P&D não pode

ser concebido como sinônimo de inovação, pois, por exemplo, nas décadas de

1970 e 80 o Japão obteve melhor desempenho econômico que a Rússia, porém

investindo proporcionalmente menos em pesquisa e desenvolvimento.

Como verificou Galbraith (1982), nas economias capitalistas a mesma

tecnologia capaz de tornar as empresas mais competitivas contribui para

intensificar a concorrência no setor industrial, por conseguinte, tornando o mercado

inseguro, o que acaba por dificultar a própria difusão tecnológica.

Inclusive, Rosenberg e Frischtak (1983) mencionaram que não há provas de

que as inovações tecnológicas seriam determinantes dos ciclos econômicos – isto

é, que a matriz tecnológica seria o motor das ondas ascendentes da conjuntura

econômica – e das mudanças estruturais ocorridas na dinâmica do capitalismo

avançado como pensam, por exemplo, os autores neoschumpeterianos.

Aliás, o próprio Schumpeter (1982) ressalta – como na citação que utilizamos

no início desse capítulo – que alguém só é empresário quando consegue,

efetivamente, realizar novas combinações, de modo que se torna comum que os

homens de negócios, assim que se estabeleçam em uma determinada atividade,

deixem de inovar, o que acaba por debilitar a competitividade de suas empresas.

Nessas condições, verificamos que as inovações têm sido condicionantes

para a indústria brasileira de máquinas agrícolas, mas não têm sido suficientes para

manter as empresas no mercado, à medida que notamos que o capital externo tem

se inserido no país, adquirindo a maioria das empresas nacionais desse segmento,

como analisaremos no capítulo a seguir.

Page 257: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

238

CAPÍTULO VIII

OS GRANDES GRUPOS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS

AGRÍCOLAS E O CAPITAL FINANCEIRO IMPERIALISTA

O imperialismo é o capitalismo chegado a uma fase de desenvolvimento onde se afirma a dominação dos monopólios e do capital financeiro, onde a exportação dos capitais adquiriu uma importância de primeiro plano, onde começou a partilha do mundo entre os trustes internacionais e onde se pôs termo à partilha de todo o território do globo, entre as maiores potências capitalistas (LÊNIN, 1987, p. 88).

A economia periférica pode ser estudada como um organismo primitivo, que tem parte do seu corpo dentro e outra parte fora do território nacional. (RANGEL, 1986, p. 53-4).

Apesar de escrita há mais de 100 anos essa colocação feita por Vladimir

Lênin nos apresenta importantes instrumentos para analisarmos a dinâmica do

capital financeiro na atualidade, bem como para estudar a sua ação sobre os

grandes grupos industriais que partilham o mundo de acordo com seus interesses.

Da mesma forma, verificamos a atualidade do pensamento de Ignácio

Rangel, ao nos mostrar que não é possível entender a economia brasileira sem

considerar suas relações com o centro dinâmico da economia mundial.

A partir dessa linha de entendimento, nesse capítulo analisaremos a

formação dos principais grupos industriais que controlam a fabricação mundial de

máquinas agrícolas. Estudaremos a ação do capital financeiro sobre esses grupos

internacionais, bem como o processo de desnacionalização de importantes

empresas brasileiras desse segmento industrial.

8.1 Uma Nota sobre a Dinâmica do Capital Financeiro

A ação do capital financeiro sobre os principais grupos internacionais

fabricantes de máquinas agrícolas nos faz recorrer aos estudos de Marx, Hilferding

e Lênin. Na seção III (Lei da Queda Tendencial da Taxa de Lucro) do livro terceiro

de O Capital, Marx (1984c) observou que é característico do sistema capitalista que

a parte do capital variável (gastos com a força de trabalho) decresça em relação ao

capital global aplicado (ao capital constante: meios de produção, matérias-primas

Page 258: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

239

e auxiliares); resultando em redução da taxa de lucro (já que a mais-valia só pode

sair da parte do capital variável). Porém, Marx observou que a massa de lucro pode

aumentar, desde que se intensifique a acumulação e a concentração de capital.

Aliás, no início do século passado, Hilferding (1985) – apoiado nos estudos

do próprio Marx – analisou a formação do capital financeiro, observando que a

queda da taxa de lucro intensificou a acumulação de capital, pois os grandes

bancos e investidores começaram ampliar o que ele chamou de “território

econômico”. No seu entendimento, esse processo resultou na concentração de

capitais, pois os capitalistas deixaram de ser empresários industriais para se

tornarem acionistas, formando empresas gigantescas com a intenção de controlar

a economia mundial; portanto, retirando o protagonismo do capital industrial:

[...] o capital financeiro não quer liberdade, mas dominação; não tem interesse pela autonomia do capital industrial, mas exige seu atrelamento; detesta a anarquia da concorrência e quer a organização, certamente apenas para poder retomar a concorrência numa escala mais alta. (HILFERDING, 1985, p. 314).

Alguns anos mais tarde, Lênin (1987) não só confirmou que Marx estava

certo, ao afirmar que a concorrência capitalista levaria à concentração de capital,

como também observou que o protagonismo do capital financeiro – mencionado

por Hilferding – resultaria em uma fase superior do capitalismo, na qual o capital

financeiro se tornaria imperialista, pois o capital concentrado em “meia dúzia” de

bancos partilharia praticamente todo o planeta em busca de vantagens.

Como mencionamos no capítulo 5, a partir da década de 1980 o capital

financeiro se fortaleceu, especialmente devido às mudanças propostas pelos

Estados Unidos por meio de organismos financeiros internacionais (como o FMI), o

que resultou em um processo de financeirização, no qual o capital financeiro

passou a subordinar o capital produtivo, inclusive a grande indústria.

8.2 A Formação dos Principais Grupos Industriais do Setor de Máquinas

Agrícolas

No quadro 8, sintetizamos os principais acontecimentos que marcam a

formação dos grandes grupos fabricantes de máquinas agrícolas, bem como a

Page 259: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

240

evolução das principais empresas brasileiras desse setor.

Quadro 8 Principais acontecimentos que deram origem aos grandes grupos industriais fabricantes de máquinas agrícolas – séculos XIX, XX

Ano Acontecimento Origem do

capital

1834 Cyrus McCormick patenteia o aperfeiçoamento de uma colheitadeira (uma ceifa puxada a cavalos) que se tornaria muito conhecida.

Virgínia/EUA

1837 O ferreiro John Deere fabrica o primeiro arado com ferro forjado.

Illinois/EUA

1842 Fundação da JI Case Threshing Machine Company. Wisconsin/ EUA

1847 Fundação da Massey Manufacturing Co. Toronto/

Canadá

É criada a McCormick Harvesting Machine Company. Chicago/EUA

1864

Surge a empresa Motorenfabrik N.A. Otto & Cie (Deutz A.G.), primeira fábrica de motores do mundo.

Colônia/ Alemanha

A empresa Kuhn começa fabricar implementos agrícolas. França 1868 Fundação da empresa Deere & Company. Illinois, EUA 1857 Fundação da Harris, Son and Company Limited. Ontário/

Canadá 1869 A JI Case Co. lançou o primeiro trator movido a vapor. Wisconsin/

EUA 1892 John Froehlich fabrica o primeiro trator a gasolina. EUA 1893 Fundação da empresa Waterloo Gasoline Engine Company. Iowa/ EUA 1895 Fundação da New Holland Machine Company. Pensilvânia/

EUA 1902 A International Harvester adquire a empresa McCormick e Co. Illinois/EUA 1905 Fundação da Hart-Parr Company, primeira fábrica específica

de tratores. Iowa/EUA

1913 É fundada a empresa Claas, fabricante de colheitadeiras, tratores e outras máquinas agrícolas.

Harsewinkel/ Alemanha

1917 A Ford lança o trator Fordson, que dominaria o mercado dos e EUA e do Canadá ao longo da década de 1920.

EUA

1921 A empresa Henrich Lanz AG fabrica o trator Lanz Bulldog, que funcionava tanto a gasolina como a óleo vegetal.

Manheim/ Alemanha

1925 A International Harvester (IH) fabrica o Farmall, primeiro trator para uso geral na agricultura.

EUA

1927 A empresa Deutz A.G. fabrica seu primeiro trator a diesel. Alemanha

Os irmãos Francesco e Eugenio Cassani fabricam um dos primeiros tratores agrícolas do mundo com motor a diesel.

Triviglio/ Itália

1934 Fundação da empresa Ferguson-Brown Company. Yorkshire/ Inglaterra

1942 É estabelecida a Società Accomandita Motori Endotermici (SAME), fábrica de tratores agrícolas (marca Cassani).

Triviglio/ Itália

1946 A empresa francesa Kuhn (fabricante de implementos agrícolas) é adquirida pelo grupo financeiro suíço Bucher.

Suíça

1951 Fundação da estatal Valtion Metallitehtaat (Valmet Oy). Finlândia 1953 Fusão das empresas Massey-Harris e Ferguson-Brown,

dando origem à Massey Ferguson. EUA/Inglaterra

Page 260: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

241

Ano Acontecimento Origem do

capital

1956 A empresa Henrich Lanz AG. é adquirida pela Deere & Company dos EUA.

Illinois, EUA

1957 É instalada a Massey Ferguson do Brasil. São Paulo/BR 1960 É instalada a Valmet do Brasil. São Paulo/BR 1962 Surge a empresa Ford Tractors Operations. EUA 1965 A empresa brasileira Schneider Logemann (SLC) lança a

primeira colheitadeira automotriz fabricada no Brasil. Rio Grande do Sul/BR

1968 O grupo Deutz A.G. adquire parte das ações da empresa Fahr A.G., surgindo a empresa Deutz-Fahr.

Alemanha

1979 A Deere e Co. adquire parte das ações da empresa SLC. EUA 1983 O grupo financeiro brasileiro Iochpe adquire o controle

acionário da Massey Ferguson do Brasil. Rio Grande do Sul/BR

1985 Fusão das empresas JI Case com a International Harvester, dando origem à Case IH.

EUA

1986 A Ford Tractors Operations adquire a New Holland, surgindo a Ford New Holland Inc.

EUA

1990 Fundação do grupo AGCO Corporation. Geórgia/EUA 1991 A FiatAgri adquire a Ford New Holland Inc. Itália

1994 A AGCO Corporation adquire as ações globais da Massey Ferguson.

Geórgia/ EUA

1995

A Case IH adquire a marca australiana Austoft de colhedoras de cana-de-açúcar.

EUA

A SAME adquire a empresa alemã Deutz-Fahr, surgindo a SAME, Deutz-Fahr (SDF), fabricante de máquinas agrícolas em geral.

Triviglio/ Itália

1996

A AGCO Corporation adquire a marca Massey Ferguson do Brasil.

Geórgia/ EUA

Fundação da empresa Montana Indústria de Máquinas S.A. Paraná/BR

1997

É fundada a divisão de máquinas agrícolas da Metasa S.A. Rio Grande do Sul/BR

AGCO Corporation adquire a empresa alemã Fendt, fabricante de tratores e colheitadeiras.

Geórgia/EUA

1999

Fusão das empresas FiatAgri com a Case Corporation, dando origem à CNH Global.

Itália

A Deere e Company adquire o restante das ações da empresa brasileira SLC.

EUA

2004 A AGCO Corporation adquire a Valtra Corporation. Geórgia/EUA 2005 O Kuhn Group adquire a divisão agrícola da empresa

brasileira Metasa S.A. França/Suíça

2007 A AGCO Corporation adquire a empresa brasileira Sfil. Geórgia/EUA 2011 Fundação da Fiat Industrial Spa. Itália 2012 A AGCO Corporation adquire a maioria das ações da empresa

brasileira Santal, que foi totalmente adquirida no ano de 2014 Geórgia/ EUA

2013 Fusão das marcas Fiat Industrial com a CNH Global, dando origem ao grupo CNH Industrial N.V.

Itália

2014 O Kuhn Group adquire a empresa brasileira Montana Indústria de Máquinas.

França/Suíça

Fonte: Elaboração própria a partir de dados retirados de AGCO (2019a), Bucher (2019), Case IH (2019), Claas (2019a), CNH (2019c), Deutz-Fahr (2019), Fonseca (1990), Kuhn (2019) e SDF (2019).

Page 261: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

242

A partir das informações apresentadas nesse quadro, podemos observar

que uma grande quantidade de empresas fabricantes de máquinas e implementos

agrícolas surgiram nos últimos dois séculos. Lembrando que não expomos a

totalidade de empresas atuantes nesse setor. Mas, uma análise mais atenta nos

mostrará que, na atualidade, a maioria dessas empresas está concentrada em

poucas corporações, basicamente em apenas três grades grupos: AGCO

Corporation, CNH Industrial e Deere & Company.

Na figura 8, podemos observar a formação das principais empresas que na

atualidade fazem parte da AGCO Corporation. Observamos que uma das

“vertentes” de empresas que mais tarde passariam a fazer parte desse grupo está

no Canadá, quando em 1847 foi fundada, em Toronto, a Massey e dez anos mais

tarde a Harris Company, em Ontário. Essas empresas se fundiram no final do

século XIX, dando origem à Massey-Harris Limited. Mas, a internacionalização

dessas marcas ocorreu a partir da década de 1950, depois da fusão da Massey-

Harris e da companhia inglesa Ferguson-Brown, dando origem à Massey Ferguson.

Há de se lembrar que logo depois de sua fusão a Massey Ferguson instalou

uma filial no Brasil (no ano de 1957), na cidade de Taboão da Serra – SP. No início

da década de 1980 o controle acionário dessa marca, no Brasil, passou para o

grupo financeiro nacional Iochpe332, que inclusive mudaria a linha de produção para

a cidade gaúcha de Canoas. Mas, em 1996 essa marca foi vendida ao grupo

estrangeiro AGCO, que em 1992 já havia adquirido a marca Massey Ferguson

internacional.

Outra ramificação da AGCO e que tem influência no Brasil, data de meados

do século passado quando surgiu a Valmet, uma companhia estatal finlandesa

fabricante especialmente de tratores agrícolas que, como já mencionamos no

terceiro capítulo, em 1960 instalou uma unidade em Mogi das Cruzes – SP, também

para fabricar tratores agrícolas. Essa empresa que, em 1997 foi privatizada e

mudou a razão social para Valtra, a partir de 2004 também foi adquirida pelo grupo

AGCO (figura 8)333.

332 Adiante, analisaremos a ação do grupo financeiro nacional Iochpe no segmento de máquinas agrícolas. 333 No ano de 2012 a AGCO também adquiriu a empresa brasileira Santal S.A., especializada na fabricação de máquinas agrícolas para o cultivo de cana-de-açúcar. No Brasil a AGCO fabrica máquinas e implementos das marcas Massey Ferguson e Valtra.

Page 262: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

197

Page 263: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

244

O grupo CNH Industrial (figura 9) se constituiu a partir de 2013, mas também

tem raízes em empresas que surgiram no século XIX. Pelo lado da marca New

Holland a sua formação iniciou em 1895, quando surgiu (na Pensilvânia – EUA) a

New Holland Machine Company, que em 1947 foi adquirida pelo grupo financeiro

nova-iorquino Sperry Gyroscope Company (especialista em equipamentos

eletrônicos), dando origem à Sperry New Holland, Inc. Em 1986 essa empresa foi

adquirida pela Ford Tractors Operations – divisão agrícola da Ford Motors que

havia sido criada em 1962 –, dando origem à Ford New Holland, Inc. que em 1991

seria adquirida pela divisão agrícola da empresa italiana Fiat (FiatAgri).

No Brasil a New Holland iniciou suas atividades em 1975, quando foi

instalada uma fábrica de colheitadeiras na cidade industrial de Curitiba – PR.

A outra ramificação do CNH iniciou na década de 1840, quando surgiram

nos EUA as empresas JI Case Threshing Machine Company (em Wisconsin) e

McCormick Harvesting Machine Company (em Chicago). Em 1902 essa última

empresa foi adquirida pela International Harvester Company (de Illinois – EUA). A

Fusão da Case com a International Harvester ocorreria em 1985, dando origem à

Case IH. Em 1994 essa companhia também foi adquirida pela FiatAgri, que a partir

de 2011 se fundiria com a Fiat Industrial Spa. Dois anos mais tarde seria criado,

com sede administrativa na Holanda, o grupo CNH Industrial NV (figura 9)334.

A Deere & Company também possui uma história centenária, pois começou

suas atividades na década de 1830 a partir das experiências do ferreiro John Deere

(em Illinois – EUA), mas foi a partir de 1868 que se tornou fabricante de máquinas

agrícolas em geral. Assim como os outros grupos citados a Deere e Co. expandiu

suas atividades por meio de aquisições. Por exemplo, em 1918 ela adquiriu a

Waterloo Gasoline Engine Company, empresa estadunidense que havia sido

fundada em Iowa, em 1893, conhecida por ter sido a primeira a fabricar um trator a

gasolina. Outra empresa centenária adquirida pela John Deere (no ano de 1956),

foi a Heinrich Lanz AG. que surgiu em Mannheim, na Alemanha, em 1856.

No Brasil a Deere & Co. começou a se inserir a partir de 1979 ao adquirir

parte das ações da empresa gaúcha SLC, que seria totalmente desnacionalizada

em 1999 (figura 10).

334 No Brasil a Case se instalou a partir de 1971 (em São Paulo, capital) e em 1977 instalou uma fábrica na cidade de Sorocaba – SP.

Page 264: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

197

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246

Page 266: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

247

Além dessas três corporações que fabricam desde tratores, colheitadeiras e

uma diversidade de implementos agrícolas (para preparo do solo, plantio,

pulverização etc.), outro grupo que tem se expandido e atuado inclusive no Brasil,

é o Kuhn S/A que tem origem em Servene, na França (no final da década de 1820),

e que desde meados do século XIX passou a atuar nesse segmento industrial.

Até a década de 1930 o grupo Kuhn atuou basicamente na França, mas em

1946 ganhou apoio do centenário grupo financeiro suíço Bucher-Guyer AG

(fundado em 1807. A partir desse período as unidades produtivas se espalharam

para outros países. Na atualidade o Group Kuhn possui cinco unidades produtivas

na França que são: a Kuhn SA, em Servene; a Kuhn MGM em Monswiller; Kuhn-

Huard SA, em Châteaubriant; a Kuhn-Audureau SA em La Copechagnière; a Kuhn-

Blanchard SAS em Chaumes-en Retz e a Artec Pulvérisation SAS (uma subsidiária)

em Corpe. Na Holanda também está instalada uma unidade produtiva, a Kuhn-

Geldrop B.V., em Geldrop. E nos EUA estão instaladas a Kuhn North America, Inc.

(em Brodhead) e a Kuhn Krause, Inc. em Hutchinson335.

No Brasil a Kuhn iniciou suas ativiadades a partir de 2005 quando adquiriu a

divisão agrícola da Metasa S.A. (destacada na produção de máquinas para o

plantio direto), ampliando sua participação a partir de 2014 ao adquirir a empresa

paranaense Montana Indústria de Máquinas S/A, que se destacava na fabricação

de pulverizadores autopropelidos (KUNH, 2019).

Enfim, observamos que as empresas expostas no quadro 8, praticamente,

foram incorporados por apenas três ou quatro corporações industriais. Adiante

analisaremos a importância do capital financeiro sobre esse processo.

8.3 A Partilha do Mundo pelos Grandes Grupos da Indústria de Máquinas

Agrícolas

A partir do mapa 6, podemos analisar as vendas dos principais grupos da

indústria de máquinas agrícolas por regiões do mundo:

335 Há de se destacar que no ano de 2017, 40,6% das vendas líquidas desse conglomerado vieram do segmento de máquinas e equipamentos agrícolas: tratores, arados, cultivadores, semeadoras, espalhadores de fertilizantes, pulverizadores, ceifeiras, cultivadores de restolho, segadoras, aradoras, trituradores, colheitadeiras de forragem, etc., que são fabricados por empresas do Kuhn Group (BUCHER, 2019).

Page 267: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

240

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249

Aparentemente, existiria na atualidade várias empresas que atuam no

segmento de máquinas e implementos agrícolas. Porém, uma análise mais atenta

nos mostrará que o mercado está controlado por apenas dois ou três grandes

grupos industriais. Por exemplo, pelo mapa 6 podemos verificar que o grupo Kuhn

tem atuação global, mas que sua participação no mercado é pequena se

comparada aos demais conglomerados. De acordo com o relatório contábil do

Bucher Industries AG (grupo financeiro suíço detentor da marca Kuhn), no ano de

2019 a Kuhn obteve 1,18 bilhão de francos suíços (CHF)336 de receitas com vendas,

sendo que 67% (CHF 791 milhões) dessas receitas têm origem na Europa; 27%

(CHF 319 milhões) nas Américas; apenas 3% (cerca de 35 milhões de francos

suíços) na Ásia e outros 3% de receitas que resultam de vendas em outros países

(BUCHER, 2020).

Ou seja, apesar de ter expandido nas últimas décadas, inclusive adquirindo

até algumas empresas brasileiras, o grupo Kuhn ainda tem uma participação

acanhada no mercado se comparado, por exemplo, à participação da John Deere,

líder nesse segmento. Inclusive, verificamos que na Europa a fatia de mercado

apropriada pela Kuhn é inferior à parte controlada pela empresa alemã CLAAS

Group, por exemplo. Na atualidade a CLASS – empresa que surgiu em 1913, em

Harsewinkel, na Westphalia – é líder mundial na fabricação de colheitadeiras

autopropelidas para forragem337 e líder europeia na comercialização de

colheitadeiras de grãos338. No ano de 2019 suas vendas na Europa ultrapassaram

os 3 bilhões de euros (€), com destaque para as receitas de vendas ocorridas na

própria Alemanha, que alcançaram € 800 milhões, bem como na França que

336 O que equivale a US$ 1,2 bilhão, segundo o conversor de moedas do Banco Central do Brasil (BCB, 2020). 337 Por exemplo, no Show Rural Coopavel 2019, pudemos verificar a exposição de alguns modelos de colheitadeiras para forragem, de enfardadeiras e de outros equipamentos da marca CLAAS destinados à pecuária. Essa empresa não possui fábrica no Brasil, mas detém uma unidade comercial na cidade de Porto Alegre – RS que distribui os produtos dessa marca, especialmente no Sul do Brasil (CLAAS, 2019). 338 A CLAAS ainda é uma empresa familiar e na atualidade possui mais de 11 mil empregados, atuando em 19 países. Ela possui unidades produtivas em Indiana – EUA (a CLAAS Omaha Inc.). Na França possui unidades em Le Mans (CLAAS Tractor S.A.S.), em Metz-Woippy (Usines CLAAS France S.A.S.) e em Vélizy (CLAAS Tractor S.A.S.). Na Alemanha, possui unidades produtivas em Bad Saulgau, em Hamm e em Paderborn. Na Hungria tem uma unidade em Torokszentmiklós. No Uzbequistão, ela possui uma fábrica em Taschkent. Na Índia possui fábricas em Chandigarh e em Nova Délhi. Na Rússia possui uma unidade em Krasnodar e na China tem uma fábrica em Shandong (CLAAS, 2019).

Page 269: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

250

totalizaram € 760 milhões no referido ano (CLAAS, 2020)339.

Outro grupo industrial que, assim como a CLAAS, possui um mercado

regionalizado é a Kubota Corporation, que surgiu no Japão em 1890 (como

fundição de metais) e que a partir de 1960 também começou fabricar tratores e

demais equipamentos agrícolas. Em 2019 a sua receita com vendas alcançou 1,92

trilhão de ienes (JPY), o que equivale a cerca de US$ 17,51 bilhões, segundo o

conversor do BCB (2020). Do total de receitas, 65,7% (US$ 11,50 bilhões) resultam

da venda de máquinas agrícolas, tais como tratores, colheitadeiras,

transplantadoras de arroz, entre outros equipamentos (KUBOTA, 2020b)340.

Como podemos observar pelo mapa 6 a Kubota possui um mercado

concentrado na Ásia e nos EUA341, mas também detém um considerável volume

de vendas em outras regiões. Por exemplo, só no Japão essa empresa obteve

cerca de US$ 3,78 bilhões342 com a venda de máquinas agrícolas no ano de 2019;

nos EUA obteve cerca de US$ 3,71 bilhões e em outros países da Ásia (exceto no

Japão) alcançou mais US$ 1,95 bilhão. Há de se ressaltar que na Europa as suas

vendas alcançaram, aproximadamente, US$ 1,45 bilhão (KUBOTA, 2020a)343.

Pelo o que pudemos apurar, apesar de forte na Ásia e nos EUA, na

atualidade a Kubota não atua no mercado brasileiro. Na década de 1950, ela

instalou em Diadema – SP uma fábrica de micro tratores e cultivadores agrícolas,

que eram comercializados com a marca Tobata344. Mas, em meados da década de

339 Em 2019 as vendas da CLAAS, em outros países fora da Europa, totalizaram € 660 milhões, portanto, menos do que essa empresa vendeu só na Alemanha ou na França naquele ano, demostrando que suas vendas se concentram no continente europeu (CLAAS, 2020). 340 Essa companhia também fabrica ferro fundido, tubos de aço, purificadores de água, entre outros (KUBOTA, 2019). 341 A Kubota começou sua expansão para os EUA em 1972, quando instalou uma fábrica de tratores. Em 2006 instalou uma nova fábrica para produzir implementos agrícolas e em 2013 abriu nesse país uma fábrica de tratores compactos. Em 2009 instalou uma fábrica de tratores na Tailândia, em 2010 também começou fabricar colheitadeiras e, em 2015, lançou um novo centro de P&D dedicado à máquinas agrícolas nesse país. Em 2011 abriu uma fábrica de máquinas para construção na China e, em 2012, também começou fabricar motores nesse país. Finalmente, a partir de 2014 a Kubota se expandiu para a Europa, inaugurando uma fábrica de tratores na França, a Kubota Farm Machinery Europe S.A. (KUBOTA, 2019). 342 Como o relatório contábil dessa empresa não fornece dados só das vendas de máquinas agrícolas por regiões, então pegamos os dados totais e subtraímos os 34,3% que fazem parte das vendas de outros produtos. Ou seja, nesse mapa apresentamos uma média aproximada das receitas da Kubota, mas só com a venda de máquinas e implementos agrícolas. 343 Em estudo recente, Silva e Vian (2017) verificaram que no Japão os grandes players de máquinas agrícolas não atuam. Por outro lado, a Kubota detém um considerável mercado, não apenas nesse país como, também, em outros países da Ásia. 344 Inclusive, os micro tratores e cultivadores da marca Tobata fizeram sucesso nas colônias de imigrantes japoneses do estado de São Paulo (KUBOTA-TEKKO, 2019).

Page 270: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

251

1990, provavelmente devido à queda nas vendas, ela encerrou suas atividades no

Brasil.

A AGCO Corporation, que surgiu na Geórgia – EUA no ano de 1990, é um

dos grandes grupos industriais do segmento de máquinas agrícolas. Ela atua no

mercado internacional com as marcas Massey Ferguson, Valtra, Fendt, Challenger

(máquinas e implementos) e GSI, que produz silos armazenadores de grãos,

secador de grãos, silo para ração, comedouros para aves, suínos e bovinos, entre

outros (AGCO, 2019).

No mapa 6, podemos verificar que a AGCO atua globalmente, apesar de que

as suas vendas se concentram na Europa. Por exemplo, segundo o seu relatório

anual referente a 2019, esse grupo obteve US$ 9,04 bilhões de receitas líquidas

com vendas, sendo que US$ 5,26 bilhões (58,2% das receitas) foram adquiridos

nesse continente, com destaque para a Alemanha com US$ 1,19 bilhão; para a

França com 1,10 bilhão de dólares e para a Finlândia e Escandinávia, onde as

vendas atingiram US$ 773 milhões. Por outro lado, na Ásia as vendas da AGCO

alcançaram apenas US$ 345 milhões; na Austrália e Nova Zelândia chegaram a

258 milhões de dólares e na África totalizaram apenas US$ 116 milhões. Na

América do Sul o seu volume de vendas alcançou US$ 790 milhões e nos EUA e

no Canadá totalizaram US$ 2,09 bilhões, sendo que 1,8 bilhão (o equivalente a

20% das vendas) ocorreram nos EUA (AGCO, 2020)345.

O CNH Industrial NV, ligado ao grupo Fiat da Itália, no segmento de

máquinas e implementos agrícolas também atua globalmente com as marcas

Steyer (tratores)346, Case IH e New Holland (CNH, 2019b). Segundo o seu relatório

contábil, em 31 de dezembro de 2019 o CNH empregava o total de 25,2 mil

colaboradores no segmento de máquinas agrícolas, com unidades fabris instaladas

em diversos países. A sua receita total com vendas, somente nesse segmento,

alcançou US$ 10,96 bilhões, concentrando-se principalmente na Europa e na

América do Norte, como podemos observar pelo mapa 6. Por exemplo, no ano de

2019 o valor de suas vendas de equipamentos agrícolas na Europa alcançou US$

345 No ano de 2019, 57,3% das receitas da AGCO Corporation resultaram da comercialização de tratores; 14,9% da venda de peças de reposição e apenas 3,1% da venda de colheitadeiras (AGCO, 2020). 346 Empresa austríaca que desde o final da década de 1940 fabrica tratores agrícolas. Em 1996, ela foi adquirida pela Case Corporation e a partir de 1999 passou a integrar a linha de máquinas agrícolas da Fiat, mais tarde passando a fazer parte do grupo CNH Industrial (CNH, 2019b).

Page 271: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

252

3,88 bilhões; na América do Sul chegou a US$ 1,61 bilhão, enquanto que na

América do Norte alcançou US$ 3,94 bilhões. No restante dos países (da Ásia,

África, Oceania e América Central) a sua receita com a venda de máquinas e

equipamentos agrícolas totalizou US$ 1,53 bilhão (CNH, 2020)347.

A líder nas vendas globais de máquinas e equipamentos agrícolas é a

Deere & Company, uma centenária empresa estadunidense que atua em mais de

30 países e emprega cerca de 68.000 pessoas (JOHN DEERE, 2020). No ano de

2019 essa companhia obteve US$ 39,3 bilhões de receitas com vendas348, com

lucro líquido de US$ 3,3 bilhões. Ela atua na fabricação de máquinas para a

construção e floresta, bem como de máquinas agrícolas e para jardinagem. Em

2019 esse último segmento respondeu por 60,3% do total de suas receitas,

portanto, alcançando US$ 23,67 bilhões. Ressaltamos que somente no segmento

de máquinas agrícolas a Deere & Co. obteve um resultado superior à soma das

receitas dos seus maiores concorrentes, o CNH Industrial e a AGCO Corporation

que, juntos, obtiveram cerca de US$ 20 bilhões no mesmo ano de 2019.

Basicamente, essa companhia atua com a marca John Deere e a maioria de

suas vendas (como pode ser observado pelo mapa 6) ocorre na América do Norte,

grande parte nos Estados Unidos. Infelizmente, seu relatório anual só disponibiliza

dados referentes às vendas por regiões, agrupando todos os seus segmentos,

então tivemos que realizar cálculos percentuais para regionalizar as vendas do

segmento de máquinas agrícolas e jardinagem349. Na América do Norte as receitas

desse setor, no ano de 2019, alcançaram aproximadamente US$ 14,2 bilhões; na

Europa chegaram a US$ 4,6 bilhões; na América Latina alcançaram US$ 2,3

bilhões, mesmo valor das receitas obtidas no conjunto de países que formam a

Ásia, Oriente Médio, África e Oceania (DEERE, 2020a e 2020b).

Como podemos observar pelo mapa 6, além de predominar nos EUA a John

Deere também se destaca na Europa (só perdendo para o grupo AGCO), na

347 Do ano de 2018 para 2019 a receita total com vendas de máquinas e equipamentos agrícolas do CNH industrial caíram de 11,79 para 10,96 bilhões de dólares, portanto, ocorrendo uma queda de 7% (CNH, 2020). 348 Observamos que o mercado dessa companhia vem crescendo. Por exemplo, no ano de 2009 suas receitas foram de US$ 20,8 bilhões e em 2016 alcançaram US$ 23,4 bilhões (DEERE, 2020b). 349 Em seu annual report a Deere & Company disponibiliza os dados das receitas totais por regiões, mas não a regionalização por segmentos. Como a fabricação de máquinas e equipamentos agrícolas contribui com 60,3% do total das receitas dessa companhia, então utilizamos esse percentual para extrair as vendas regionais apenas para esse segmento industrial (DEERE, 2020a).

Page 272: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

253

América Latina e inclusive na Ásia, onde atuam fortes empresas regionais, como a

já mencionada Kubota Corporation.

Ou seja, o segmento de máquinas agrícolas é mais oligopolizado do que

aparenta, pois poucos grupos controlam a produção e a oferta desse tipo de bens

de produção.

Há de se destacar que esses grupos industriais atuam nas regiões com

mercado consumidor em potencial. Pelo estudo de Silva (2015), podemos observar

a distribuição da frota mundial de máquinas agrícolas o que nos permite observar,

por exemplo, que no ano de 2000 o Japão possuía a maior frota mundial de

colheitadeiras, com 1,05 milhão de unidades e a terceira maior de tratores, com

2,03 milhões de unidades. Nesse mesmo ano a Índia possuía 348,3 mil

colheitadeiras e 2,09 milhões de tratores, enquanto que a China possuía 232,1 mil

colheitadeiras e 989,1 mil tratores; demonstrando que empresas como a Kubota,

Mahindra350, entre outras, atuam em uma região com um considerável mercado em

potencial para a indústria de máquinas e implementos agrícolas351.

Constatamos que na Europa também existe um considerável mercado, pois

a frota de tratores é destacável. Por exemplo, no ano de 2002 a Itália possuía 1,75

milhão de tratores; em 2009 a Polônia possuía 1,58 milhão; em 2005 a França

possuía 1,18 milhão de unidades e a Alemanha (no ano de 2000) possuía 989,5 mil

tratores (SILVA, 2015)352.

350 A Mahindra & Mahindra possui plantas produtivas (fabricantes de máquinas agrícolas) nas cidades indianas de Jaipur, Kandivali, Mohali, Rudrapur, Nagpur e em Zaheerabad. No ano de 2019 essa empresa obteve INR 220,8 bilhões (rupias indianas), o que equivale a cerca de US$ 3,09 bilhões – segundo o conversor de moedas do Banco Central do Brasil –, em vendas do segmento de equipamentos agrícolas, sendo que 64,9% dessas receitas foram realizadas na própria Índia (MAHINDRA, 2020). 351 Outra empresa que atua na Ásia, especialmente na China, é a Lovol Heavy Industry Co. LTD (Lovol) que fabrica e comercializa equipamentos industriais e agrícolas, máquinas para construção, veículos e serviços financeiros. Fundada em 1998, essa companhia possuia, no ano de 2015, 15.000 funcionários e ativos totais no valor de 2,2 bilhões de euros, com receita de vendas de 2,95 bilhões de euros. Na atualidade a Lovol é a maior fabricante de equipamentos agrícolas da China, com produção anual de 100 mil tratores, 50 mil colheitadeiras, 120 mil motores a diesel e quase 350 mil conjuntos de eixos e transmissão. No exterior, ela comercializa tratores agrícolas da marca Foton e recentemente adquiriu a empresa italiana Arbo, fabricante de tratores e colheitadeiras. Na China a Lovol é identificada como uma "empresa nacional de alta tecnologia" ou High-tech (LOVOL, 2019). 352 O expressivo mercado consumidor europeu para máquinas agrícolas tem atraído, além dos conglomerados industriais internacionais que temos destacado, empresas locais como o já citado CLAAS Group e o SAME Deutz-Fahr (SDF) que tem sede em Treviglio, Itália, e que atua especialmente no continente europeu. O SDF possui três marcas famosas naquele continente, que são a SAME (fábrica italiana de tratores da marca Cassani) e as alemãs Deutz (tratores) e Fahr

(colheitadeiras). O grupo SDF possui subsidiárias na Croácia, na Alemanha, França, Holanda, Polônia, Portugal, Rússia, Ucrânia e Espanha. Na Ásia tem subsidiárias na China e na Índia. Em

Page 273: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

254

Por outro lado, verificamos que na América do Sul o mercado é formado,

basicamente, pelo Brasil e a Argentina. Por exemplo, no ano de 2006 o Brasil

possuía uma frota de 788,1 tratores, enquanto que em 2002 a Argentina possuía o

total de 244,3 unidades (SILVA, 2015).

O volume de vendas, observado para a América do Norte (mapa 6), pode

ser compreendido se compararmos com o tamanho da frota de tratores daquele

continente. Segundo os dados fornecidos por Silva (2015), no ano de 2006 o

Canadá possuía 733,2 mil tratores, enquanto que no ano de 2007 os Estados

Unidos possuía 346,9 mil colheitadeiras e 4,39 milhões de tratores, possuindo a

maior frota mundial, o que atrai para esse país os grandes grupos industriais desse

segmento, tais como a John Deere, AGCO, CNH Industrial e a Kubota.

8.4 O Processo de Desnacionalização da Indústria Brasileira de Máquinas

Agrícolas

Como mencionamos no capítulo 5, a recessão da economia brasileira,

ocorrida praticamente ao longo das décadas de 1980 e 90, encolheu o mercado

interno brasileiro aumentando a capacidade produtiva ociosa da indústria de

máquinas agrícolas, o que resultou em falências, como da empresa CBT, bem

como na desnacionalização de outras importantes empresas desse segmento.

Há de se destacar que até a década de 1970 a indústria brasileira de

máquinas agrícolas vinha se consolidando, tanto pela instalação de filiais de

empresas estrangeiras (Ford, Massey Ferguson, Valmet, entre outras), como pelo

fortalecimento de empresas nacionais, tais como a CBT (tratores), SLC e Ideal

(colheitadeiras), Baldan, Marchesan e Imasa (implementos agrícolas), entre outras.

Porém, verificamos que a partir das décadas de 1990 e 2000 a maioria dessas

empresas foi adquirida por grupos industriais estrangeiros.

No quadro 9, sintetizamos o processo de aquisições das principais empresas

2018 o SDF obteve € 1,37 bilhão de receitas, cerca de 1,46 bilhão de dólares. Dessas, € 1,04 bilhão foi obtido com a venda de tratores; € 52,9 milhões em colheitadeiras; € 238 milhões em componentes; € 36 milhões com a venda de colhedoras de uva e azeitona e 1,5 milhão de euros com outras receitas. Destacando que 75,6% das receitas desse grupo vem da comercialização de máquinas e equipamentos da marca Deutz-Fahr. Por regiões o SDF obteve de receitas, no ano de 2018, € 996,8 milhões em países da União Europeia (72,6% do total de receitas) e € 375,8 milhões (27,4%) em países de outros continentes (SDF, 2019).

Page 274: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

255

brasileiras, fabricantes de máquinas agrícolas, pelos grandes grupos estrangeiros:

Quadro 9 O processo de aquisições na indústria de máquinas e implementos agrícolas instalada no Brasil

Ano Empresa adquirida Comprador Origem do

capital

1978 Indústria de Máquinas Agrícolas Ideal Ltda., que surgiu em Santa Rosa – RS em 1953.

Grupo financeiro Iochpe Nacional

1979 20% das ações da Schneider Logemann e Cia. Ltda. (SLC), que surgiu em RS em 1945.

Deere & Company Estrangeiro

1983 Parte das ações da Massey Ferguson do Brasil, instalada no país desde 1961.

Grupo financeiro Iochpe Nacional

1986 New Holland, instalada no Brasil desde 1975.

Ford Tractors Operations, surgindo a Ford New Holland, Inc.

Estrangeiro

1988 Empresa Ford New Holland, Inc. FiatAgri Estrangeiro

1989 Dedini-Toft, instalada em Piracicaba –SP desde 1979, dando origem (a partir de 1996) à empresa Brastoft.

Grupo Ometto Misto

1990 A Massey Ferguson do Brasil muda a razão social para Iochpe-Maxion S.A.

Grupo financeiro Iochpe Nacional

1996

Mais 20% das ações da SLC, surgindo a SLC-John Deere.

Deere & Company Estrangeiro

Divisão agrícola da Iochpe-Maxion, (marcas Massey Ferguson do Brasil e Ideal).

AGCO Corporation Estrangeiro

1997 Empresa nacional Brastoft, que foi criada em 1996.

Case IH Estrangeiro

1999

Aquisição da totalidade das ações da empresa gaúcha SLC.

Deere & Company

Estrangeiro Arrendamento da fábrica e da marca Baldan, que havia surgido em Matão – SP em 1928.

Agri-Tillage

2005

Empresa Valtra (antiga Valmet), inclusive a unidade instalada no Brasil desde 1960.

AGCO Corporation Estrangeiro

Divisão agrícola da Metasa S.A., que desde 1997 estava instalada em Passo Fundo – RS.

Kuhn Group Estrangeiro

2007 Empresa brasileira Sfil (instalada em Ibirubá – RS), que surgiu em 1962.

AGCO Corporation Estrangeiro

2012 Empresa Santal Equipamentos S.A., que surgiu em Ribeirão Preto – SP em 1960.

AGCO Corporation Estrangeiro

2014 Empresa Montana Indústria de Máquinas, fundada em 1996 em São José dos Pinhais – PR.

Kuhn Group Estrangeiro

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de Castilhos et. al. (2008) e do histórico das referidas empresas (ver nas referências).

Page 275: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

256

Portanto, constatamos que o processo de aquisições, que se intensificou nas

últimas décadas, iniciou ainda no final dos anos 1970 com a atuação de grupos

financeiros nacionais, mas também com a entrada do capital estrangeiro. Um grupo

financeiro nacional que teve destacada participação nesse processo, foi o Iochpe353

que surgiu no noroeste do Rio Grande do Sul no final da década de 1960354. Em

1978, ele se inseriu nas atividades industriais ao adquirir o controle acionário da

Indústria de Máquinas Agrícolas Ideal – empresa gaúcha que se destacava,

nacionalmente, na fabricação de colheitadeiras automotrizes – e em 1983 deu um

grande salto ao adquirir a maioria das ações da Massey Ferguson do Brasil, que

na época possuía fábricas em Taboão da Serra – SP (tratores) e em Canoas – RS

(implementos agrícolas), adquirindo também a Perkins S.A., uma fábrica de

motores a diesel utilizados inclusive em máquinas agrícolas.

Há de se destacar que o grupo Iochpe contou com o apoio do BNDES para

efetuar a compra dessa marca estrangeira, pois esse banco público deu as

garantias para a aquisição de cerca de 43% das ações que naquela época eram de

propriedade de um grupo financeiro estadunidense, chamado Varity. Inclusive,

segundo Ferreira (1995) o BNDES teria recebido parte das ações da empresa

adquirida. Apesar de ser uma companhia aberta355, por volta de 1993 a família

Iochpe possuía o controle dessa empresa, detendo 64% de suas ações ordinárias.

Em 1990 a fábrica de máquinas agrícolas e de motores teve a razão social alterada

para Iochpe-Maxion. Inclusive, na intenção de projetar uma nova marca nacional

no início dos anos 1990 alguns modelos de tratores foram lançados apenas com a

marca Maxion (MASSEY FERGUSON, 2018).

No entanto, apesar de ter inovado na produção de tratores pesados (na

353 A família Iochpe (as vezes escrito, “Ioschpe”) emigrou do Leste europeu a partir de 1912 fazendo parte de uma corrente imigratória trazida para o Brasil pela Jewish Colonization Association (JCA) – “Associação de Colonização Judaica” –, que havia sido criada na Rússia no final do século XIX com o objetivo de organizar a colonização de judeus, instalando-os na América, especialmente na Argentina e no Brasil. No Rio Grande do Sul a família Iochpe se instalou na colônia de Quatro Irmãos (na atualidade, município), localizada a cerca de 32 Km do município de Erechim (IOCHPE, 2019). 354 Em 1956 o grupo Iochpe, que nas três décadas anteriores havia atuado no ramo da madeira (serrarias), assumiu a representação da marca Massey Ferguson, comercializando máquinas agrícolas no Rio Grande do Sul. Em 1968 foi criado o banco Iochpe S.A. (que mais tarde, inclusive, se associou ao Bankers Trust dos Estados Unidos) e também uma distribuidora de títulos e valores mobiliários, o que inseriu esse grupo nas atividades financeiras (IOCHPE, 2019). 355 Por exemplo, a partir de uma matéria publicada pela Gazeta Mercantil de 05/05/1993, Ferreira (1995) verificou que no mês de fevereiro daquele ano a Iochpe-Maxion emitiu US$ 45 milhões de eurobônus como dividendos de seus acionistas no exterior.

Page 276: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

257

época, acima de 110 cv de potência) a Maxion não resistiu356 à investida do capital

externo e, em 1996, vendeu a sua divisão de máquinas agrícolas ao grupo

estadunidense AGCO Corporation. A partir dessa época o grupo Iochpe passou a

investir, principalmente, no segmento de componentes para a indústria

automotiva357.

Outra empresa nacional que começou ser adquirida, ainda no final da

década de 1970, foi a Schneider Logemann e Cia. (SLC). Pelo livro comemorativo

do cinquentenário da SLC (SCHNEIDER, 1995), podemos ter acesso às falas de

diversos ex-diretores e de outros cargos executivos dessa empresa, o que nos

permite ter noção sobre os motivos que levaram as famílias Logemann e Schneider

(principais sócios fundadores da empresa) buscarem apoio do capital externo.

Verificamos que apesar de sua liderança nas vendas internas de colheitadeiras, no

final da década de 1970 seus proprietários começaram se preocupar com a

concorrência de empresas nacionais e estrangeiras, o que lhes obrigava buscar

tecnologia moderna e capitalização358. Em uma fala de 1995, Eduardo Logemann

(último diretor-presidente da SLC) descreveu os motivos que levavam sua empresa

356 A própria recessão da economia brasileira, verificada nos anos 1990 (como mencionamos no capítulo 5), deve ter contribuído para a saída do grupo Iochpe do segmento de fabricação de máquinas agrícolas, pois a marca Massey Ferguson, que no biênio 1986-87 (portanto, já sob controle da Iochpe) chegou a comercializar no mercado interno, respectivamente, 18.108 e 17.078 tratores, no biênio 1995-96 assistiu suas vendas caíram para apenas 7.879 e 4.048 unidades, respectivamente. Na comercialização de colheitadeiras o grupo Iochpe também viu sua participação regredir, pois enquanto que no ano de 1986 havia vendido 1.643 unidades no mercado interno, no ano de 1996 vendeu apenas 222 unidades. A venda interna de colheitadeiras da marca Ideal (também pertencente ao grupo Iochpe), que em 1986 havia comercializado 1.046 unidades, no biênio 1995-96 vendeu, respectivamente, apenas 44 e 76 colheitadeiras (ANFAVEA, 2019). 357 Em 1990 o grupo Iochpe adquiriu a Fábrica Nacional de Vagões (FNV) e em 1992 adquiriu a linha de produção de rodas sem câmaras da empresa Fumagalli (e em 2009 adquiriu todas as unidades dessa empresa instaladas no Brasil), o que lhe permitiu entrar no ramo da indústria de autopeças. Em 2008 inaugurou uma fábrica de rodas automotivas de aço na China; em 2011 adquiriu 50% das ações da Montich S.A., fabricante argentina de longarinas e em 2012 adquiriu a Hayes Lemmerz, tradicional fabricante internacional de rodas automotivas de aço e alumínio, além de ter adquirido o grupo Galaz/Inmagusa, tradicional fabricante mexicano de longarinas de aço para veículos comerciais (IOCHPE, 2019). Em 30 de setembro de 2019 a Iochpe-Maxion apresentava um patrimônio de cerca de R$ 10 bilhões em ativos, com uma receita de vendas de R$ 7,2 bilhões (no ano de 2018) e lucro de R$ 357,9 milhões (IOCHPE-MAXION, 2019). Na atualidade esse grupo produz rodas de aço (para veículos leves, comerciais e inclusive para máquinas agrícolas); rodas de alumínio para veículos leves; componentes estruturais para veículos, vagões e rodas ferroviárias, bem como peças em ferro fundido. Emprega cerca de 15 mil pessoas e a família Iochpe é detentora de 11,8% de suas ações (IOCHPE-MAXION, 2020). 358 Por exemplo, em 1979 a SLC vendeu 1.967 colheitadeiras de grãos no mercado interno, ano em que a sua concorrente, Ideal, comercializou 401 unidades e que a multinacional Massey Ferguson vendeu 772 colheitadeiras. Mas, nessa época já aparecia outra forte concorrente, a New Holland (com unidade produtiva instalada em Curitiba – PR) que em 1979 comercializou 1.947 colheitadeiras de grãos, portanto, seguindo de perto a empresa SLC (ANFAVEA, 2019).

Page 277: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

258

a se aproximar da multinacional Deere & Company:

Nós oferecemos a eles um mercado emergente, uma empresa líder não endividada, com perspectiva de resultados positivos. E eles passaram a nos garantir uma tecnologia moderna. Estabelecemos também um acordo de permanente capitalização da SLC (SCHNEIDER, 1995, p. 97).

Em outra passagem, Eduardo Logemann menciona: “era muito mais eficaz

estar associado com o que é bom no mundo, formar uma parceria com uma

empresa do primeiro nível internacional, como a Deere” (SCHNEIDER, 1995, p. 98).

Pelos relatos de alguns ex-funcionários que ocuparam cargos importantes

na SLC, verificamos que em meados da década de 1970 a Deere & Company tinha

a intenção de abrir uma empresa associada, uma joint venture com a SLC para

fabricar tratores de grande porte no Brasil, mas em 1976 o projeto foi rejeitado pelo

Conselho de Desenvolvimento Industrial, ligado ao Ministério da Indústria e

Comércio, porque o Brasil já possuía várias fábricas de tratores e o governo federal

procurava protegê-las. Então, a SLC dividiu os vários segmentos em que atuava

(fabricação de máquinas agrícolas, fundição de peças em metais, agropecuária e

hotelaria), separando-as em empresas autônomas reunidas a uma holding. Então,

a partir de 1979 a fábrica de máquinas agrícolas passou a se chamar SLC S.A.,

empresa de capital fechado e, da qual, a Deere & Co. adquiriu 20% das ações. A

partir de 1983 as colheitadeiras e plantadeiras começaram a ser fabricadas com

tecnologia e, inclusive, com as cores verde e amarela da marca John Deere. A partir

de meados da década de 1990 essa multinacional ampliou sua participação

acionária para 40% e as colheitadeiras passaram a ser comercializadas com a

marca SLC-John Deere (SCHNEIDER, 1995).

Apesar da recessão da economia brasileira intensificada na década de 1990,

como mencionamos especialmente no capítulo 5, a SLC seguiu forte no segmento

de colheitadeiras de grãos. Por exemplo, em 1999 (quando essa empresa foi

completamente desnacionalizada) comercializou 1.145 colheitadeiras no mercado

interno, ano em que a empresa Ideal vendeu apenas 27 unidades; em que a

multinacional Case IH vendeu 58 colheitadeiras e que a Massey Ferguson vendeu

400 unidades. A SLC só perdeu para a filial da multinacional New Holland, que

naquele ano comercializou 1.267 colheitadeiras no mercado brasileiro (ANFAVEA,

Page 278: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

259

2019)359.

No entanto, apesar de sua importante presença no segmento de fabricação

de máquinas agrícolas, em 1999 a empresa nacional SLC S/A foi totalmente

adquirida pela multinacional estadunidense Deere & Company360. Sobre os motivos

que levaram à venda dessa empresa ao capital externo, podemos destacar a

intensificação da concorrência internacional que culminou na concentração da

produção, formando oligopólios inclusive na indústria de máquinas agrícolas. Em

uma matéria elaborada por Sérgio Bueno e publicada na Folha de Londrina, em 28

de junho de 1999, podemos ter noção sobre o que pensava o então diretor-

presidente da SLC-John Deere, Eduardo Logemann:

Segundo o diretor-presidente da SLC-John Deere, Eduardo Logemann, a transferência do controle foi motivada pela "globalização" dos mercados, que exige maior liberdade de ação para a Deere e provoca a concentração da produção nas mãos de poucos fabricantes mundiais. Ele afirmou que a empresa estava capitalizada, mas admitiu que este foi um processo em que “o maior engoliu o menor” (BUENO, 1999, n. p.).

Observamos que a empresa SLC se deparou com um processo que inclusive

já foi verificado por Marx (1984c), quando ele constatou que não é a concentração

de capital que prejudicaria a concorrência, como defendiam muitos nomes da

economia clássica, mas que, ao contrário, a concorrência leva à concentração da

produção, à formação de grandes conglomerados industriais.

Outro exemplo de desnacionalização ocorreu a partir da parceria da Dedini

Máquinas e Sistemas (outra pioneira na fabricação de máquinas agrícolas no Brasil,

como mencionamos no segundo capítulo) com a empresa australiana Austoft,

359 Apesar da concorrência, a unidade da SLC, instalada na pequena cidade de Horizontina – RS, mantinha-se forte, não só na fabricação de colheitadeiras agrícolas e máquinas para o plantio, como também estava se inserindo na fabricação de tratores agrícolas. Desde 1996 essa empresa vinha fabricando tratores com tecnologia da Deere & Co. De 1996 a 1999, 9.272 tratores foram produzidos pela SLC na unidade produtiva de Horizontina (ANFAVEA, 2019). 360 Depois da venda da fábrica de máquinas agrícolas à Deere & Company os antigos proprietários da SLC começaram investir no setor do agronegócio, mais particularmente na empresa SLC Agrícola que havia sido criada em 1977. Na atualidade essa empresa possui o total de 457,7 mil hectares de terra, distribuídos nas regiões Centro-Oeste (quatro fazendas em Mato Grosso, duas em Mato Grosso do Sul e uma em Goiás) e no Nordeste (cinco fazendas na Bahia, duas no Piauí e duas no Maranhão), cultivando principalmente soja, milho e algodão (SLC AGRÍCOLA, 2020). Em 30 de setembro de 2019 seus ativos totais alcançaram R$ 6,9 bilhões e sua receita com vendas, no ano de 2018, foi de R$ 1,9 bilhão, com lucro de R$ 373 milhões. Seu maior acionista, em 30 de abril de 2019, era a Slc Participações S.A., com 53% de suas ações ordinárias (SLC AGRÍCOLA, 2019).

Page 279: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

260

pioneira mundial na fabricação de colhedoras de cana-de-açúcar361, criando no final

da década de 1970 a Dedini-Toft com a finalidade de produzir, em Piracicaba – SP,

máquinas para a colheita de cana. Ainda em 1980, Dedini adquiriu a parte de seu

sócio australiano e, em 1989, vendeu a empresa ao grupo nacional Ometto, atuante

no segmento de açúcar e álcool. As colhedoras passaram a ser fabricadas com a

marca EngeAgro. Em 1996 a empresa australiana Austoft voltou a se associar,

dessa vez com o grupo Ometto, formando a empresa Brastoft que foi

desnacionalizada no ano seguinte ao ser vendida (juntamente com a australiana

Austoft) para a multinacional Case Corporation (BRASTOFT, 2018)362.

Outra empresa brasileira desnacionalizada na última década, foi a Santal

Equipamentos S.A., fundada 1960, em Ribeirão Preto, por proprietários da usina

Santa Lydia que naquela época passava por problemas referentes à falta de mão

de obra. Apesar da Santal se destacar no mercado interno na fabricação de

colhedoras de cana e, inclusive, mundialmente na fabricação de transbordos para

esse segmento agrícola, em 2012 ela vendeu 60% de suas ações (por US$ 31

milhões) para a multinacional AGCO Corporation, que em 2016 adquiriu o restante

de suas ações (SANTAL, 2018).

Em meados da década de 2000 a Santal estava em franca expansão,

acompanhando o desenvolvimento da cultura da cana, inclusive exportando para o

México e para a América do Sul, mas a concorrência das empresas multinacionais

chegou forte. A partir de 2005, ao ver que suas receitas cresceram cerca de 50%,

ela decidiu investir R$ 1,1 milhão em uma linha de montagem de colhedoras e

plantadeiras de cana com capacidade para produzir até 48 colhedoras por ano

(EXPANSÃO, 2019), mas as multinacionais John Deere (na época, com a marca

Cameco) e o grupo CNH Industrial (com a marca Case) já controlavam entre 90 e

95% do mercado interno de máquinas para esse segmento, o que levou à venda

de parte das ações da Santal ao grupo estrangeiro AGCO Corporation, que

pretendia se inserir no mercado brasileiro de máquinas para o setor sucroalcooleiro,

361 No ano de 2019 a Case IH comemorou os 75 anos da fundação da empresa australiana Austoft, criada pelos irmãos Harold e Collin Toft, pioneiros na fabricação de máquinas para a colheita de cana-de-açúcar. As colhedoras começaram a ser fabricadas a partir de 1944 com o objetivo de substituir a mão de obra que estava escassa na Austrália, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial (75 ANOS, 2019). 362 As colhedoras de cana passaram a ser fabricadas com a cor vermelha (típica da marca Case) e a partir de 2004 toda a linha de produção foi transferida da Austrália para a nova fábrica construída em Piracicaba – SP (75 ANOS, 2019).

Page 280: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

261

como mencionamos anteriormente.

O grupo industrial francês Kuhn, também utilizou a tática de adquirir

empresas consolidadas no mercado brasileiro e inclusive no mercado sul-

americano. Por exemplo, em 2005 esse grupo multinacional, especialista em

implementos agrícolas, adquiriu a divisão agrícola da Metasa S.A. que desde a

década de 1980 fabricava implementos agrícolas e que a partir de meados da

década de 1990 se especializou na fabricação de semeadoras e plantadeiras para

o plantio direto (e para agricultura de precisão).

Em uma entrevista publicada no Diário da Manhã, podemos ter noção sobre

os motivos que levaram os proprietários dessa empresa gaúcha vender sua fábrica

de máquinas agrícolas para o grupo Kuhn. Segundo Antônio Roso, presidente da

Metasa naquela época, a conjuntura econômica os obrigou a se associarem a

grupos fortes para enfrentar a concorrência:

Ou nos associamos a grupos fortes, ou ficamos estacionados no mercado, em função de estarmos instalados numa economia brasileira com juros altos. Isso dificulta muito as empresas e os agricultores de girarem com capital no mercado. A parceria com gigantes nos dará melhores oportunidades de ampliar nossas exportações e abocanhar a fatia do mercado mundial que temos condições de participar (KUHN-METASA, 2005, n. p.).

Apesar de estar em um bom momento (pois no ano anterior a Metasa S.A.

havia faturado R$ 72 milhões, com lucro de R$ 19 milhões), em 2005 a fábrica

instalada em Passo Fundo – RS foi vendida ao grupo Kuhn, permanecendo ao

grupo Metasa apenas sua metalúrgica (especializada em estruturas metálicas),

instalada no município de Marau – RS.

Outra empresa brasileira, e também conceituada no mercado, adquirida pelo

grupo multinacional Kuhn, foi a Montana Indústria de Máquinas que havia sido

fundada em 1996, no município de São José dos Pinhais – PR. No início de 2014

ela foi avaliada em cerca de 400 milhões, destacando-se na fabricação de

pulverizadores agrícolas e adubadores autopropelidos, detendo uma importante

fatia do mercado interno363. Além disso, ela exportava para alguns países da

América do Sul e inclusive de outros continentes, pois além de suas unidades fabris

363 Por exemplo, em 2013 o faturamento da Montana foi de R$ 225 milhões (GRUPO KUHN, 2019).

Page 281: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

262

instaladas no Brasil (a sede em São José dos Pinhais – PR e uma filial em Fraiburgo

– SC) possuía uma filial alojada na província de Santa Fé, na Argentina (RIBEIRO,

2019).

Em uma matéria publicada na Gazeta do Povo, em 31 de janeiro 2014, o

fundador e executivo da indústria Montana, Gilberto Zancopé, revelou a Cassiano

Ribeiro os motivos que o fizeram vender a sua empresa ao grupo estrangeiro Kuhn:

Ele destacou que a "empresa teve o melhor ano de sua vida em 2013", com vendas que somaram R$ 280 milhões, R$ 60 milhões a mais do que no ano anterior. A participação da marca no mercado de pulverizadores, por outro lado, vinha caindo. De 30% em 2012, passou a ter 20% do comércio desse tipo de máquina, usada principalmente para aplicação de agroquímicos no campo. "Perdemos mercado com entrada de novos entrances (concorrentes). Esse foi um dos motivos que me levou a vender a empresa. A oferta também foi muito boa", comemora. (RIBEIRO, 2014, n. p.).

Em outra passagem, Gilberto Zancopé conclui:

A Kuhn vai entregar capital, tecnologia e mercado, porque tem presença muito forte em países como Austrália, Rússia e Estados Unidos, que são compradores tradicionais, Nos últimos anos, nós perdemos a África e estávamos perdendo a América Latina também. Com esse câmbio, devemos ganhar competitividade ante americanos e europeus (RIBEIRO, 2014, n. p.).

Em outras palavras, podemos concluir que o proprietário da Montana

Indústria de Máquinas se desfez de sua empresa, devido às dificuldades de se

manter em um mercado tão concentrado, controlado por fortes grupos estrangeiros.

Portanto, verificamos que o processo de desnacionalização da indústria

brasileira de máquinas e implementos agrícolas, deve-se à entrada do capital

externo que tem se aproveitado da frágil competitividade dessas empresas, que

são penalizadas pela falta de políticas econômicas de apoio à indústria e à

formação de demanda para seus produtos, como viemos ressaltando.

Para Galbraith (1982), a formação dos conglomerados industriais é resultado

das próprias incertezas do mercado que obrigam as grandes empresas planejarem

o controle de preços, desde os meios de produção e das matérias-primas até a sua

reserva de mercado. É nesse processo que as empresas mais fortes adquirem

grande parte de suas concorrentes.

Page 282: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

263

8.4.1 Os principais atrativos brasileiros para os players do segmento de

máquinas agrícolas

No capítulo anterior, quando analisamos a distribuição geográfica da

indústria de máquinas agrícolas no Brasil, observamos que a força de trabalho

também é um atrativo, pois as empresas procuram se instalar em regiões onde há

disponibilidades de trabalhadores qualificados. Se analisarmos a variação dos

salários por países, constataremos que as diferenças são consideráveis, portanto

que mesmo em setores de maior composição orgânica do capital364 os países com

salários menores se tornam atrativos para as empresas multinacionais. Como

destacou Moraes (2009), esse processo vem se intensificando basicamente desde

a queda da URSS (1990) quando se abriu caminho para o deslocamento do fluxo

de capitais que busca lucratividade, inclusive explorando mão de obra mais barata

nas periferias do sistema365.

A partir de dados coletados pela Organização Internacional do Trabalho

(OIT), podemos comparar os salários nominais médios366 em diferentes países. Por

exemplo, enquanto que no ano de 2017 o salário nominal médio no Brasil foi

equivalente367 a US$ 641, nos Estados Unidos foi de US$ 3.926. Ou seja, se a

empresa John Deere, por exemplo, fosse fabricar em seu país sede as máquinas

que produz no Brasil, pagaria salários que são, em média, 5,1 vezes mais altos. Da

mesma forma, verificamos que se a CNH Industrial, em vez de produzir um trator

ou colheitadeira agrícola no Brasil, o fabricasse na Itália (origem do grupo CNH),

pagaria salários que são, em média, 4,1 vezes mais altos, pois no ano de 2017 o

364 Como mencionamos no capítulo 7, a partir de dados do IBGE verificamos que 15,8% dos custos de produção da indústria brasileira de máquinas agrícolas é despendido em gastos com salários. 365 Na década de 1970, Mandel (1982) já havia destacado que nos países colônias ou semicolônias o exército industrial de reserva é maior – concordando com Marx (1983a) –, o que atrai o interesse das empresas multinacionais sedentas por maiores taxas de lucro. 366 Não obtivemos dados referentes aos salários médios na indústria de máquinas agrícolas propriamente dita, mas entendemos que os salários nominais médios são significativos, pois a pesquisa de campo nos mostrou que as empresas desse segmento utilizam desde mão de obra operária até o trabalho de engenheiros, designers, gerentes da produção etc. Então, acreditamos que a comparação das diferenças do salário nominal médio, em diferentes países, pode nos auxiliar na investigação sobre os atrativos do Brasil para esse setor industrial. 367 O relatório salarial global, publicado pela International Labour Office (ILO) da OIT, apresenta os salários nominais médios em valores das respectivas moedas de cada país, então tivemos que equipará-los ao dólar americano (US$). Para isso, utilizamos o conversor de moedas do Banco Central do Brasil (BCB, 2020), aplicando como referência o último dia útil do referido ano. Por exemplo: em 2017 foi o dia 29 de dezembro (sexta feira); para o ano de 2016 foi o dia 30/12 (também uma sexta feira) e para o ano de 2015 foi o dia 31 de dezembro, uma quinta feira.

Page 283: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

264

salário nominal médio nesse país europeu equivalia a US$ 2.632. Podemos,

também, realizar a seguinte constatação, ao fabricar, por exemplo, um pulverizador

autopropelido no Brasil e não em seu país de origem (na França) o Kuhn Group

paga salários que são, em média, 5,6 vezes menores, pois enquanto que no ano

de 2015 o salário nominal médio na França era equivalente a US$ 3.196, no Brasil

equivalia a US$ 481 (ILO, 2018)368.

Provavelmente, os salários mais baixos no Brasil têm atraído o capital

estrangeiro de vários setores369, porém há de se verificar que se o menor custo da

mão de obra fosse o fator determinante para a alocação da indústria de máquinas

agrícolas, ela se instalaria em alguns países da África, da Ásia ou mesmo em outros

países da América Latina, onde os salários médios são ainda mais baixos370. Além

disso, não podemos esquecer que se tratando da indústria de bens de produção,

como faz parte o segmento de fabricação de máquinas agrícolas, o fator demanda

(o mercado consumidor) acaba sendo mais importante. E nesse quesito o Brasil

leva vantagens por se constituir como um país estratégico na produção de

alimentos.

Em um livro publicado recentemente pela Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (Embrapa), que analisa a importância do Brasil como fonte de

alimentos para a humanidade na atual “geopolítica do alimento”, Elverdin e Piñeiro

368 Além disso, verificamos que no ano de 2017 o salário nominal médio no Canadá (onde surgiu empresas como a Massey) era de US$ 3.367, portanto, 4,3 vezes maior que no Brasil. Na Finlândia (onde surgiu, por exemplo, a empresa Valmet) o salário nominal médio, nesse mesmo ano, alcançou US$ 4.072, portanto, 5,4 vezes maior que no Brasil. Ao mudar a fábrica de colhedoras de cana da Austrália para o Brasil a CNH Industrial, grosso modo, pagaria um salário, em média, 5,3 vezes menor, pois no ano de 2017 o salário naquele país era de US$ 4.012. Na Alemanha o salário nominal médio atingiu US$ 3.417; no Japão alcançou US$ 2.967 e na Coréia do Sul foi ainda maior, US$ 3.291. Inclusive, o salário nominal médio na China já ultrapassou o brasileiro, chegando a 952 dólares no ano de 2017 (ILO, 2018). 369 Além disso, pelos próprios dados da OIT (ILO, 2018) observamos que no Brasil a jornada de trabalho é maior que na maioria dos países com destaque na produção de máquinas agrícolas, o que ajuda a tornar os salários brasileiros mais atraentes às grandes empresas estrangeiras. 370 Por exemplo, na Índia (país onde surgiram fábricas de máquinas agrícolas como a Mahindra e a TAFE) o salário nominal médio é bem inferior ao brasileiro, pois no ano de 2016 foi de apenas US$ 172 dólares; na Tailândia (onde a empresa japonesa Kubota tem instalado unidades produtivas) o salário médio, nesse mesmo ano, foi de 384 dólares. Na América do Sul os salários também são baixos. Por exemplo, no Paraguai, no ano de 2016, foi de US$ 424 e no México, em 2017, foi de 362 dólares. Na maioria dos países da África os salários também são inferiores aos brasileiros. Por exemplo, em Senegal, Quênia e em Gana – países que, segundo Pinto, Belmonte e Pádua (2015) são importadores de máquinas agrícolas fabricadas no Brasil –, no ano de em 2017 os salários nominais médios foram, respectivamente, de 266, 552 e 231 dólares (os dados referentes à Gana são de 2015). Por outro lado, Zimbábue – um dos principais importadores africanos de máquinas agrícolas fabricadas no Brasil – apresentava, no ano de 2015, um salário nominal médio 58,8% superior ao brasileiro, alcançando US$ 764 contra US$ 481 no Brasil (ILO, 2018).

Page 284: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

265

(2019) mencionam que até 2050 a produção de alimentos precisará aumentar cerca

de 60% para atender à demanda global que existirá nessa época. Esses autores

ressaltam que o país mais importante para a oferta de alimentos é justamente o

Brasil, que contribui com 22,8% das exportações líquidas (subtraindo-se as

importações). Além disso, as estimativas da Organização das Nações Unidas para

a Alimentação e a Agricultura (FAO) apontam que a América Latina possui 28% do

total de terras disponíveis para expansão da área cultivada. Aliás, essas estimativas

assinalam que até 2025 a área agrícola deverá crescer em até 42 milhões de

hectares e o Brasil e a Argentina contribuirão com a metade dessa área371.

Há de se mencionar que esse atrativo para a instalação dos players da

indústria de máquinas agrícolas não pode ser desprezado, pois o Brasil e os países

vizinhos (especialmente a Argentina), constituem-se como a maior área em

potencial para expansão das lavouras, o que forma um promissor mercado para

esse segmento industrial.

Além disso, se resgatarmos os dados da tabela 11 (que expomos no capítulo

7), identificaremos outro atrativo para os conglomerados da indústria de máquinas

agrícolas, o baixo índice de mecanização da agricultura brasileira se comparada a

de outros países372. Ainda, se lembrarmos dos dados do gráfico 34, observaremos

que a frota brasileira de tratores agrícolas está envelhecida. Entendemos que esses

fatores constituem outro forte atrativo para esse segmento industrial, pois uma

renovação da frota de tratores demandaria uma oferta expressiva desse tipo de

máquina.

Portanto, acreditamos que o principal atrativo para a instalação dos grandes

conglomerados da indústria de máquinas agrícolas no Brasil não é a mão de obra

371 A Argentina é outro pais importante para a segurança alimentar global, pois na atualidade contribui com 12,2% das exportações líquidas de alimentos, só perdendo para o Brasil. Há de se acrescentar que se incluir a participação do Paraguai, com 1,7%, e a do Uruguai, com 1,3% das exportações, observaremos que os países do Mercosul são os maiores exportadores líquidos de alimentos, suprindo 38% do déficit agroalimentar global (ELVERDIN; PIÑEIRO, 2019). 372 Lembrando que no ano de 2003 o Brasil possuía um trator para cada 170 hectares de terra cultivada, enquanto que a Média sul-americana era de 81 hectares por trator; na Ásia era de 59 ha./trator e na Europa, 26 ha./trator. Enfim, verificamos que o índice de mecanização com trator agrícola no Brasil era inferior à média mundial, que em 2003 era de 51 ha./trator. No índice de colheitadeiras agrícolas o Brasil também se mostrou defasado, pois no ano de 2005 apresentava a média de uma colheitadeira para cada 1.233 hectares cultivados; enquanto que, por exemplo, a Argentina possuía 590 ha./colheitadeira; os EUA possuíam 433 ha./colheitadeira; a China possuía 391; a Itália 189 e a Alemanha apenas 90 ha. por colheitadeira agrícola (SARTI; SEBBATINI; VIAN, 2009).

Page 285: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

266

mais barata, pois apesar desse fator ser importante, os grandes grupos

estrangeiros têm procurado se inserir em um país onde há um mercado consumidor

importante e com possibilidade de ser expandido.

8.4.2 O controle do mercado brasileiro pelos grandes players de máquinas

agrícolas

Pelos dados da tabela 12, podemos observar as vendas internas de

máquinas agrícolas por grupos industriais. Ressalta-se que no ano de 2018 a

empresa John Deere comercializou a maior quantidade de tratores de rodas, sendo

seguida pelas marcas Massey Ferguson (do grupo AGCO) e pela New Holland (do

grupo CNH)373:

Tabela 12 Vendas internas de tratores de rodas, colheitadeiras de grãos e colhedoras de cana no Brasil por grupos industriais – 2018

Grupo industrial Marca Tratores de

rodas Colheitadeiras

de grãos Colhedoras

de cana

AGCO Corporation Massey Ferguson 8.931 387 0 Valtra 6.903 80 20

CNH Industrial Case IH 2.969 1.018 258 New Holland 8.014 1.902 0

Deere & Company John Deere 11.614 2.372 365

Total - 38.431 5.759 643

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

A partir do gráfico 38, podemos observar que o grupo AGCO mantém a

liderança nas vendas de tratores de rodas no mercado interno, pois, como

destacamos na tabela 12, esse conglomerado atua no mercado brasileiro com duas

marcas renomadas, a Massey Ferguson e a Valtra que fabricam tratores agrícolas

no Brasil desde o início da década de 1960, tendo um mercado consumidor

consolidado. O grupo CNH Industrial atua no Brasil com uma marca de tratores

agrícolas que também é renomada, a New Holland que é herdeira da divisão de

373 Destacamos que a marca Massey Ferguson, que no ano de 1975 vendeu 50,8% (29.018 unidades) dos tratores de rodas comercializados no Brasil, no ano de 2018 participou com 23% das vendas internas. A New Holland vem mantendo sua fatia do mercado, pois enquanto que no ano de 2013 comercializou 12.705 tratores (19,5% do total), em 2018 vendeu 8.014, o equivalente a 20,7%. A John Deere vem aumentando sua participação no mercado interno, pois passou de 20,7%, no ano de 2013, para 29,9% no ano de 2018, comercializando 11.614 unidades (ANFAVEA, 2019).

Page 286: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

267

tratores da Ford e que também atua no país desde a década de 1960 (gráfico 38).

Gráfico 38 Vendas de tratores de rodas no Brasil por grupos industriais – 2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

Porém, como podemos observar na tabela 12, a marca Case tem uma

participação menor nas vendas internas de tratores, o que faz com que o grupo

CNH tenha uma participação inferior à do grupo AGCO.

Apesar de atuar com apenas uma marca de tratores agrícolas a John Deere

já controla a segunda maior fatia do mercado brasileiro. E há de se acrescentar que

essa empresa só começou produzir tratores no país mais recentemente, a partir de

meados da década de 1990, primeiramente fabricando-os em Horizontina – RS e a

partir de 2008 em uma nova fábrica instalada em outro município gaúcho, em

Montenegro.

Na venda interna de colheitadeiras de grãos a concentração é ainda maior.

Por exemplo, pelos dados do gráfico 39 podemos observar que no ano de 2018 o

grupo AGCO Corporation comercializou apenas 8,1% do total de unidades

comercializadas:

41,2

28,6

30,2

% das unidades vendidas

AGCO Corporation CNH Industrial John Deere

Page 287: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

268

Gráfico 39 Vendas de colheitadeiras de grãos no Brasil por grupos industriais – 2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

A Massey Ferguson fabrica colheitadeiras no Brasil desde 1976 e em 1986

chegou a dominar 25,1% das vendas internas, comercializando 1.643 unidades,

mas em 2013 (ano em que mais se vendeu colheitadeiras no país, o total de 8.539

unidades) sua participação no mercado havia caído para 10,5% e em 2018 fechou

em apenas 6,7%, comercializando 387 colheitadeiras. A outra marca de

colheitadeira fabricada pelo grupo AGCO é a Valtra, reconhecida no Brasil na

fabricação de tratores (como mencionamos anteriormente), mas nova no ramo de

colheitadeiras de grãos, pois só começou fabricar a partir de 2007. No ano de 2018

a Valtra comercializou 80 unidades, o equivalente a apenas 1,4% do total desse

tipo de máquina vendidas no mercado interno374.

Por outro lado, verificamos que a John Deere, que vem se destacando na

374 As colheitadeiras de grãos da marca Valtra são fabricadas em Santa Rosa – RS, onde também se produz as colheitadeiras da marca Massey Ferguson, do mesmo grupo AGCO. Inclusive, essa unidade também tem fabricado colheitadeiras da marca Fendt (também pertencente ao AGCO), modelo IDEAL, de uma renomada fabricante de colheitadeiras agrícolas da Alemanha. A intenção é nacionalizar esse modelo de colheitadeiras com o objetivo de melhorar as vendas do AGCO nesse segmento, já que em tratores é líder de vendas (informações coletadas em pesquisa de campo).

8,1

50,7

41,2

% das unidades vendidas

AGCO Corporation CNH Industrial John Deere

Page 288: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

269

venda de tratores, também tem se fortalecido no comércio de colheitadeiras de

grãos. Como desde o final da década de 1970, ela manteve uma parceria com a

SLC, fabricante brasileira de colheitadeiras, sua marca é consolidada no mercado

brasileiro. Em 1976 a SLC comercializou 1.637 unidades, o equivalente a 30,8%

das vendas internas daquele ano; participou com 28,5% das vendas em 1986; com

36,6% (3.124 unidades) no ano de 2013 (já com a marca John Deere) e controlou

41,2% do mercado interno em 2018 ao vender 2.372 unidades.

Outro grupo que permanece forte nas vendas de colheitadeiras de grãos no

Brasil, é o CNH. A marca New Holland atua no país desde 1976 (com fábrica em

Curitiba – PR) e naquele ano já comercializou 1.225 colheitadeiras, o equivalente

a 23% do total de vendas; em 2013 abocanhou 31,1% do mercado brasileiro e em

2018 chegou a 33%, comercializando 1.902 unidades. A outra marca do CNH que

também comercializa colheitadeiras é a Case IH, que possui fábrica em Sorocaba

– SP. No Brasil ela produz esse tipo de máquina desde 1998 e em 2013 já detinha

18,3% das vendas internas, fechando o ano de 2018 com participação de 17,7%,

comercializando 1.018 unidades. Com essas duas marcas conhecidas o CNH

Industrial abocanha a metade do mercado brasileiro de colheitadeiras de grãos375.

Na fabricação de colhedoras de cana-de-açúcar os grandes grupos

estrangeiros atuam há poucos anos, mas verificamos que a concentração do

mercado é gigantesca. Como pode-se observar pela tabela 12, existe basicamente

apenas três empresas que fabricam esse tipo de máquina agrícola no país, mas

quase 97% das vendas se concentram nas marcas John Deere e Case IH. A John

Deere fabrica esse tipo de colhedora em Catalão – GO e no ano de 2018

comercializou 365 unidades, enquanto que a Case vendeu 258 colhedoras. A Case

fabrica esse tipo de máquinas em sua unidade instalada em Piracicaba – SP. O

grupo AGCO possui uma pequena fatia do mercado brasileiro de colhedoras de

cana, fabricando-as em sua unidade instalada em Ribeirão Preto – SP (gráfico

40)376.

375 A linha de colheitadeiras de grãos dos modelos TC, da New Holland, são fabricadas em Curitiba – PR, enquanto que as colheitadeiras maiores e com mais tecnologia (colheitadeiras axiais), das marcas Case e New Holland, são fabricadas na unidade da CNH de Sorocaba – SP (pesquisa de campo). 376 Como mencionamos anteriormente, em 2012 o AGCO adquiriu a empresa brasileira Santal S.A. e, na atualidade, fabrica colhedoras de cana-de-açúcar e as comercializa com a marca Valtra (pesquisa de campo).

Page 289: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

270

Gráfico 40 Vendas de colhedoras de cana no Brasil por grupos industriais – 2018

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

Há de se ressaltar que esses grupos industriais concretizam seus

territórios377 de vendas por meio de uma rede de concessionárias. Pela tabela 13,

podemos observar a quantidade de representantes por regiões do Brasil:

Tabela 13 Concessionárias de máquinas agrícolas e rodoviárias por empresas nas grandes regiões do Brasil – 2018

Região Grupo industrial

AGCO Corporation CNH Industrial John Deere

Norte 19 36 18

Nordeste 37 46 20

Sudeste 125 98 67

Sul 133 136 87

Centro-Oeste 65 95 64

Total 379 411 256

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anfavea (2019).

377 Utilizamos o conceito de território de acordo com o entendimento de Raffestin (1993), que o concebe como resultado da ação de um ator sintagmático, isto é, que programa a sua ação sobre uma determinada área. Em outras palavras, utilizamos o termo “território” como uma área determinada por relações de poder. Nesse caso, verificamos que os controladores dos territórios são os grandes grupos multinacionais da indústria de máquinas agrícolas.

3,1

40,1

56,8

% das unidades vendidas

AGCO Corporation CNH Industrial John Deere

Page 290: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

271

Segundo os dados referentes ao ano de 2018 o grupo AGCO possui

concessionárias em todos os estados do país, com destaque para São Paulo, onde

possui 68 revendedoras e para o Rio Grande do Sul, onde possui 66 pontos de

comercialização. O grupo CNH industrial também possui revendedores em todos

os estados brasileiros, com destaque para SP com 54 representantes e para RS

com 60. A John Deere possui representantes comerciais na maioria dos estados,

com exceção do Amazonas, Amapá e Rio Grande do Norte. A maiorias de suas

revendedoras também estão localizadas em São Paulo (40 lojas) e em RS, com 41

concessionárias (ANFAVEA, 2019)378.

Inclusive, verificamos que as multinacionais da indústria de máquinas

agrícolas têm como clientes as grandes empresas do agronegócio brasileiro. Por

exemplo, no ano de 2003 as usinas São Martinho e Iracema (controladas pela

família Ometto do estado de SP) adquiriram um lote de máquinas agrícolas da

marca Case IH (do CNH industrial). Essa usina investiu no negócio R$ 19,1

milhões: adquirindo 51 tratores no valor de R$ 16,4 milhões; duas colhedoras de

cana-de-açúcar, no valor de R$ 1,3 milhão, e 18 veículos de transbordo, por R$ 1,4

milhão (USINAS, 2020)379.

Aliás, segundo Ramos (2019), recentemente a usina São Martinho, que

possui 135 mil hectares de canaviais localizados no município de Pradópolis – SP,

conectou todas as suas máquinas e equipamentos por meio de um sistema de troca

de informações em tempo real, utilizando uma rede própria de internet com

tecnologia 4G. A intenção é integrar todo o seu maquinário e a Case IH é que tem

fornecido as máquinas e equipamentos preparados para esse sistema.

Na atualidade a SLC Agrícola – empresa que surgiu no final da década de

1970 como uma divisão das atividades da Schneider Logemann & Cia., que era

uma fábrica de colheitadeiras agrícolas – é uma das grandes clientes internas da

John Deere. A SLC Agrícola, na atualidade, cultiva cerca de 458 mil hectares em

fazendas espalhadas por seis estados do Brasil. Em seu site consta que essa

378 Destacamos que as grandes empresas se empenham no controle da demanda. Segundo Galbraith (1982, p. 154): “o controle da demanda consiste em projetar uma estratégia de vendas para determinado produto.” No seu entendimento, as grandes empresas agem na formação de demanda com a intenção de evitar ou, pelo menos, amenizar as incertezas do mercado (provocadas pelos ciclos econômicos). 379 Lembrando que o grupo Ometto era proprietário da Brastoft, fabricante de colhedoras de cana-de-açúcar que foi adquirida pelo CNH Industrial, que na atualidade fabrica as máquinas com a marca Case IH.

Page 291: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

272

empresa possui 219 tratores agrícolas; 217 colheitadeiras de grãos; 76 colhedoras

de algodão; 211 plantadeiras e 153 pulverizadores autopropelidos380.

A John Deere também possui como cliente o grupo Amaggi – de propriedade

do ex-senador da república e ex-Ministro da Agricultura, Blairo Maggi –, que produz

grãos e fibras em uma área de aproximadamente 280 mil hectares (AMAGGI,

2020), bem como o grupo Scheffer (também de Mato Grosso) que cultiva uma área

de cerca de 78 mil hectares (SCHEFFER, 2020). O grupo agrícola Bom Futuro (o

maior produtor brasileiro de algodão), que cultiva uma área total de

aproximadamente 530 mil hectares, também utiliza máquinas e implementos da

John Deere (BOM FUTURO, 2020)381.

As máquinas e implementos fabricados pelo AGCO, também têm se inserido

nas grandes empresas agrícolas do Brasil. Recentemente esse grupo industrial

instalou um escritório de vendas (e com peças de reposição) no município de

Sorriso – MT, em uma das regiões mais promissoras do agronegócio brasileiro. A

intenção é trazer para o país alguns modelos de máquinas fabricados na Europa,

como os renomados tratores e colheitadeiras da marca Fendt (que pertencem ao

AGCO Corporation). Por exemplo, no início de 2019 o grupo agrícola Bom Futuro

– líder nacional na produção de algodão, como destacamos anteriormente –

adquiriu os primeiros tratores agrícolas Fendt, modelo 1050 Vario (com 517 cv de

potência), que o grupo AGCO importou da Alemanha. Cada unidade custou US$

450 mil no início de 2019 (FERRARI, 2020).

A Anfavea não fornece dados sobre a produção e comercialização de

380 As imagens mostram que esse grupo utiliza máquinas e equipamentos da marca John Deere (SLC AGRÍCOLA, 2020). Em pesquisa de campo, que realizamos na unidade da John Deere de Horizontina – RS, recebemos a informação de que o grupo SLC ainda possui algumas concessionárias, especialmente no norte do RS, que comercializam máquinas e implementos agrícolas fabricados pela John Deere. Portanto, assim como o grupo Ometto que é cliente da Case, compradora da empesa Brastoft (que pertencia ao mesmo grupo Ometto), verificamos que o grupo SLC Agrícola, ex-proprietário da empresa brasileira que foi adquirida pela John Deere, também virou cliente da compradora de sua fábrica de máquinas agrícolas. Além disso, observamos que outros grandes grupos agrícolas do Brasil também utilizam máquinas e implementos do grupo CNH Industrial, como as próprias empresas Amaggi (AMAGGI, 2020); Bom Futuro (BOM FUTURO, 2020), Scheffer (SCHEFFER, 2020), entre outras. 381 Verificamos que a Deere & Company tem a prática de conquistar grandes clientes e manter uma relação de fidelidade. Por exemplo, no ano de 2018, ela homenageou um de seus clientes dos EUA – um homem chamado Chad Olsen, proprietário da empresa Olsen Custom Farms, especializada na prestação de serviços de colheita – por ter adquirido sua colheitadeira John Deere número 500. Inclusive, a própria Deere & Co. financiou as primeiras máquinas que a empresa de Olsen adquiriu ainda no início da década de 1990. Na atualidade a Olsen Custom Farms mantém uma frota de cerca de 80 colheitadeiras, todas da marca John Deere (CONHEÇAM, 2019).

Page 292: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

273

máquinas agrícolas realizadas pelas empresas estrangeiras que se instalaram mais

recentemente no Brasil, tais como a LS Mtron, Mahindra e Landini, o que dificulta

nossa análise. Mas, a partir de um estudo elaborado por Ferreira (2020),

verificamos que no ano de 2014 essas empresas já estavam se inserindo no

mercado brasileiro, principalmente na venda de tratores agrícolas. Por exemplo,

naquele ano a LS Mtron do Brasil vendeu no mercado interno 1.930 tratores; a

Mahindra comercializou mais de 400 unidades, enquanto que a Landini

comercializou cerca de 80 máquinas, na época todas importadas porque essa

empresa só começaria produzir internamente a partir de 2015. Segundo essa

autora, naquela época essas três empresas planejavam aumentar a produção

interna de tratores agrícolas.

Há de se ressaltar que além de deterem grande parte do mercado brasileiro

de tratores e colheitadeiras agrícolas, esses grupos industriais também utilizam

suas fábricas, instaladas no Brasil, como “plataformas” de exportação. Inclusive,

observamos que em determinados anos as exportações ajudaram a amenizar os

efeitos da queda nas vendas internas. Por exemplo, no ano de 2004 as vendas

internas de tratores de rodas alcançaram 28.803 unidades, mas em 2005 caíram

para 17.729. Nesse biênio as exportações dessas fábricas foram, respectivamente,

de 23.553 e 23.968 tratores. Ou seja, verificamos que em 2004 as exportações

equivaleram a 81,8% das vendas internas e no ano de 2005 foram 35,2%

maiores382, ressaltando a importância do mercado externo para essas empresas

(ANFAVEA, 2019)383.

No biênio 2004/05 as exportações de colheitadeiras de grãos, também

ajudaram a amenizar os efeitos da queda das vendas internas desse segmento

industrial. Por exemplo, no ano de 2004 se vendeu 5.605 colheitadeiras no mercado

brasileiro e se exportou 4.533 unidades. Em 2005 se comercializou 1.534

colheitadeiras no mercado interno e se exportou 3.001 unidades (ANFAVEA, 2019).

Destacando que grande parte dos tratores e colheitadeiras exportados

naquele período se destinou a países vizinhos, especialmente para a Argentina.

Conforme uma reportagem publicada pela Gazeta Mercantil, em maio de 2003,

382 Por exemplo, no ano de 2005 a Massey Ferguson (unidade de Canoas – RS) exportou o total de 13.077 tratores de rodas (ANFAVEA, 2019). 383 Aliás, Ferreira e Vegro (2006) já observaram que no período 2004-2005 as exportações brasileiras serviram para amortecer a crise nas vendas internas de tratores e colheitadeiras.

Page 293: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

274

observamos que a desvalorização cambial argentina fez aumentar as suas

exportações agrícolas, o que fortaleceu os seus agricultores, somado ao fato de

que suas dívidas estavam fixadas em peso (ARS), então com a depreciação

cambial, elas caíram para cerca de 1/3 já que o preço das commodities agrícolas é

dolarizado. Portanto que representantes de empresas como a AGCO e a John

Deere, relataram que os agricultores argentinos passaram a ter dinheiro para pagar

à vista pelas máquinas que importavam do Brasil. Por exemplo, no primeiro

quadrimestre de 2003 a AGCO exportou 300 colheitadeiras para a Argentina,

enquanto que naquele período a John Deere exportou 150 tratores e 332

colheitadeiras (ARGENTINO, 2003).

No ano de 2008 as exportações de máquinas agrícolas também foram

expressivas, atingindo o número de 23.056 tratores de rodas, com destaque para

10.797 exportados pela Massey Ferguson, 5.012 pela New Holland e 3.536

unidades exportadas pela John Deere. Nesse ano o Brasil exportou o total de 3.579

colheitadeiras de grãos, com destaque para a John Deere que exportou 1.672

unidades; para a New Holland que exportou 783 e para a Case, exportadora de 623

colheitadeiras.

Acreditamos que o desempenho das exportações brasileiras de máquinas

agrícolas, obtido na década de 2000, também deve ter sido estimulado pelo

aumento dos preços das principais commodities agrícolas que ocorreu desde o ano

de 2000 e, de forma mais intensa, no período 2006/08, como expomos pelo gráfico

23 (capítulo 6). A valorização dos principais produtos agrícolas (soja, milho etc.)

contribuiu para aquecer a demanda ao aumentar o poder de compra dos produtores

rurais, tanto dos brasileiros como dos argentinos.

Na última década o auge do volume de exportações brasileiras de tratores

agrícolas ocorreu em 2013, quando se exportou 11.217 unidades, com destaque

para a Massey Ferguson que vendeu 5.962 tratores; para a Valtra que exportou

1.925 e para a John Deere, exportadora de 1.546 unidades.

Há de se ressaltar que nesse período ocorreu um empenho do próprio

BNDES para estimular as exportações de máquinas agrícolas, especialmente para

dois mercados emergentes, para o continente africano e para o Caribe. Pinto,

Belmonte e Pádua (2015) realizaram um estudo (publicado pelo BNDES Setorial)

sobre as exportações brasileiras de máquinas agrícolas para o continente africano

Page 294: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

275

e para Cuba, no qual os autores verificaram que 69,6% do valor das exportações

para a África, obtido no ano de 2013, referem-se à venda de tratores agrícolas.

Ocorre que em 2014 foi criado o Programa Mais Alimentos Internacional

(PMAI) – coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) – com o

objetivo de conceder financiamentos para que cinco países da África (Zimbábue,

Moçambique, Senegal, Gana e Quênia) e Cuba pudessem adquirir máquinas

agrícolas do Brasil. Por meio do PMAI o BNDES financiou, em 2014, R$ 224,1

milhões para o Zimbábue; R$ 221,5 milhões para Moçambique; R$ 216,8 milhões

para Gana; R$ 192,9 milhões para Senegal; R$ 181,6 milhões para o Quênia e R$

158,9 milhões para Cuba384.

Por esse programa do BNDES foi exportado, no ano de 2014, 320 tratores

para o Zimbábue; 400 para Cuba; 513 para Moçambique; 549 para Gana e 175

para o Senegal (PINTO; BELMONTE; PÁDUA, 2015)385.

Porém, nos últimos anos as exportações caíram consideravelmente.

Segundo os dados da Anfavea (2019) a quantidade de tratores de rodas exportada

pelo Brasil no ano de 2018 é a menor dos últimos 17 anos, alcançando apenas

6.271 unidades. A marca que mais exporta ainda é a Massey Ferguson, com 2.341

unidades, seguida pela New Holland com 1.238 e pela John Deere, que nesse ano

exportou 1.115 tratores. Nas exportações de colheitadeiras de grãos a queda

também foi grande, no ano de 2018 deduziu-se a apenas 759 unidades; com

destaque para a New Holland que exportou 339 colheitadeiras e para a John Deere

que exportou 231 unidades. No ano de 2015 as exportações brasileiras de

colheitadeiras já havia caído para 383 unidades, o menor número desde 1984, ano

em que o país havia exportado apenas 310 máquinas.

No biênio 2003/04, bem como no ano de 2008 as exportações amenizaram

os efeitos da recessão interna, como mencionamos anteriormente, mas nos últimos

anos o mercado externo para máquinas agrícolas também desaqueceu. Portanto

384 Os financiamentos foram concedidos com prazo para pagamento de até 15 anos e com juros semestrais de, no máximo, 1% para os países da África e de 2% para Cuba (PINTO; BELMONTE; PÁDUA, 2015). 385 Segundo esses autores, no período 2011-2013, 27,4% das exportações brasileiras que se destinaram para o continente africano, foram para a África do Sul; 12,3% para a Argélia; 11,6% para o Quênia; 9,4% para a Angola e 9,4% destinaram-se ao Sudão. Como as máquinas exportadas para o continente africano são, em geral, de pequeno porte as empresas especializadas nesse tipo de equipamento têm se destacado nessas exportações. Por exemplo, no início de 2015 a LS Mtron do Brasil fechou um acordo para exportar 513 tratores para Moçambique (LS, 2020).

Page 295: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

276

que as empresas instaladas no Brasil têm procurado mercados alternativos para

amenizar os efeitos da queda das vendas internas, inclusive exportando, por

exemplo, para a Oceania e para a América do Norte386.

8.5 Um País Aberto ao Capital Externo

Segundo o “Atlas do agronegócio”, organizado por Santos e Glass (2018),

os grandes produtores rurais brasileiros têm tido forte influência em Brasília. Para

essas autoras, desde 2008 se instituiu (formalmente) uma “frente parlamentar da

agropecuária” e que se fortaleceu nos últimos anos, à ponto de decidir até eleições

presidenciais. O número de deputados da chamada “bancada ruralista” saltou de

104, na eleição de 2006, para 142 em 2010, voltando para 104 em 2014. Nessas

três eleições o número de senadores representantes do agronegócio passou,

respectivamente, de 16 para 18, fechando em 17.

Porém, observamos que o aumento de representação do setor agrícola em

Brasília não tem refletido em uma notável participação da indústria de máquinas

agrícolas, apesar dessa produzir meios de produção para a agricultura. Ora, o

agronegócio tem muitos interesses, inclusive o de adquirir máquinas e implementos

agrícolas, mas os objetivos dos produtores rurais excedem os desígnios de formar

demanda para esse segmento industrial. Notemos que, como destaca Cuenca

(2020), ultimamente a representação ruralista tem enfocado em políticas para

exportação, logística de escoamento da produção e, mais recentemente, vem

pautando a questão da mudança da legislação ambiental, além de priorizar a lei

que autoriza a compra de terras por estrangeiros, bem como a Medida Provisória

do Agro que trata sobre a questão do endividamento dos produtores rurais.

Aliás, verificamos que nas últimas décadas o setor industrial, em geral, vem

perdendo importância no cenário político nacional. Lembrando que no início da

386 Por exemplo, em julho de 2018 o grupo CNH industrial anunciou que exportaria para a Austrália um lote de 15 colheitadeiras de grãos (do modelo axial 6130) que são fabricadas em sua unidade de Sorocaba – SP (CNH, 2019a). Segundo um artigo elaborado por Bednarski (publicado em junho de 2019) a unidade da AGCO de Canoas – RS fabricaria, no segundo semestre de 2019, de 3 mil a 4 mil unidades de colheitadeiras a mais para exportá-las aos Estados Unidos. Ocorre que a disputa comercial entre os EUA e a China dificultou as exportações da unidade chinesa da AGCO. Como alternativa a AGCO passou a exportar colheitadeiras Massey Ferguson produzidas no Brasil, já que a unidade de Santa Rosa – RS fabrica o mesmo modelo de máquinas que os EUA importava da China (BEDNARSKI, 2019).

Page 296: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

277

industrialização brasileira, entidades patronais como a CNI e a FIESP foram ativas

em torno de um projeto nacional de industrialização387. Porém, verificamos que a

posição dessas entidades mudou consideravelmente a partir da década de 1990.

Como destacou Diniz (2010), o empresariado apoiou as políticas econômicas de

Vargas, JK, Médici e Geisel, período em que a produção industrial nacional cresceu

acima da média mundial. Porém, especialmente a partir do segundo choque do

petróleo (1979), atendendo a agenda proposta pelo FMI que rejeita a ação do

Estado sobre a economia, muitas entidades empresariais deixaram de apoiar a

industrialização, inclusive passando a criticá-la em nome da abertura econômica.

Por exemplo, Diniz lembra que durante o governo Collor de Mello (1990-92)

entidades como a Fiesp intensificaram uma agenda neoliberal, apoiando as

reformas estruturais do governo (privatizações etc.) em nome do que essa entidade

chamou de “livre para crescer, proposta para um Brasil moderno”, que foi título de

um de seus documentos publicado no ano de 1990.

Esse autor também nos lembra que a Fiesp e a CNI apoiaram as reformas

estruturais do governo FHC (1995-2002), tais como a estabilização inflacionária e

o controle fiscal, mesmo em um contexto de intensa recessão nas atividades

industriais, isto é, que exigiam que o Estado investisse mais.

Diniz, acredita que durante o governo Lula ocorreu uma retomada nos

projetos de industrialização, inclusive com a participação de entidades patronais

em importantes setores do governo. Por exemplo, além do próprio vice-presidente

(José Alencar) que era industrial, Lula chamou para o Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior o empresário Luiz Fernando

Furlan, naquela época ligado ao grupo Sadia. Para a presidência do BNDES foi

chamado o economista Carlos Lessa, que seria sucedido por Guido Mantega, os

dois tidos como desenvolvimentistas e defensores da industrialização.

Porém, Diniz ressalta que em 2004 o empresário Paulo Skaf (ligado à

indústria têxtil e de confecções) assumiria a presidência da Fiesp defendendo o

projeto de redução do custo Brasil – redução da carga tributária, redução dos custos

dos financiamentos produtivos, melhoria da infraestrutura e flexibilização da

387 Por exemplo, Bielschowsky (1996) observou que alguns empresários, tais como Roberto Simonsen, com liderança sobre a CNI e a Fiesp, apesar de serem adversários de Getúlio Vargas apoiaram a política econômica desenvolvimentista, já que essa estimularia a industrialização brasileira que estava emergindo naquela época.

Page 297: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

278

legislação trabalhista –, apoiando a estabilização econômica e a redução de juros.

Como mencionamos no capítulo 6, o governo Dilma (2011-2014) apoiou sua política

econômica naquilo que a economista Laura de Carvalho (2018) chamou de “agenda

Fiesp”, que consistia, grosso modo, em um conjunto de medidas como a renúncia

fiscal e a redução de taxas de juros que, porém, não fizeram reaquecer a economia

brasileira388.

O que pretendemos ressaltar é que essa nova política “industrializante” que

foi anunciada a partir da década de 1990 não contribuiu, como seria necessário,

para a retomada da industrialização brasileira. Aliás, ela permitiu a entrada do

capital externo, como ressaltamos anteriormente ao nos referirmos ao processo de

desnacionalização de parte da indústria brasileira de máquinas agrícolas, por

exemplo. Em outras palavras, podemos assinalar que as políticas liberais ao não

apoiarem a indústria nacional acabaram por facilitar a entrada de fortes

concorrentes estrangeiros.

Nos capítulos 3, 4, 5 e 6, observamos que as políticas econômicas são de

suma importância para a indústria. Aliás, há de se ressaltar que elas são tão

importantes que as próprias filiais de empresas estrangeiras têm auxiliado na

elaboração de programas para a indústria de máquinas agrícolas; portanto, fazendo

o papel que deveria ser feito por entidades, tais como a CNI, a Fiesp e

principalmente pelo próprio Estado brasileiro. Por exemplo, ao estudar as

estratégias do grupo AGCO no Brasil, Gramkow (2002) verificou que no final da

década de 1990 essa multinacional participou efetivamente da elaboração do

Moderfrota que, como mencionamos nos capítulos 5 e 6, foi de suma importância

para o aumento das vendas internas de máquinas e implementos agrícolas.

Essa autora entrevistou vários diretores e gerentes da AGCO, que lhe

relataram as ações dessa multinacional junto à entidades de classe e ao próprio

governo com a intenção de estimular o segmento de fabricação de máquinas

agrícolas, como podemos observar a partir do relato de um de seus funcionários,

transcrito por Gramkow:

388 Como destacamos no capítulo 6, a participação da indústria de transformação vem perdendo espaço no PIB brasileiro. Por exemplo, no período 1995-2002 (governos FHC) a sua participação média foi de 15% do PIB; durante o governo Lula (2003-2010) subiu para 16,5%, mas no período 2011-2018 (governos Dilma/Temer) caiu para 12,4%. Lembrando que durante o governo JK (1956-1961) a participação média da indústria de transformação foi de 24,4% do PIB e no perído 1972-1979 (vigência dos PND’s) foi de 32,8% (IPEADATA, 2019g).

Page 298: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

279

Ela é mais proativa, porque aqui no Brasil nós tradicionalmente participamos por exemplo de todas as associações e entidades, procuramos influenciar, procuramos influenciar nas decisões do governo quanto ao financiamento por exemplo esse financiamento para produtos agrícolas. Então nessa área eu acho que a empresa é bastante proativa, em relação ao ambiente externo. Em relação à concorrência às vezes eu acho que, em muitas ocasiões nós somos, não seguidores, nós acompanhamos, mas não somos tão proativos, somos mais oportunistas, eu acho que isso é natural do líder do mercado, a gente procura acompanhar o mercado em relação a tecnologia (GRAMKOW, 2002, p. 70).

Pela pesquisa de campo, pudemos verificar que a política econômica

brasileira tem sido mais branda que a de países vizinhos em relação à concorrência

das empresas estrangeiras. Por exemplo, em visita de estudo que realizamos à

unidade da AGCO de Canoas – RS, recebemos a informação de que durante os

governos de Néstor Kirchner (2003-2007) e de Cristina Kirchner (2008-2015) essa

empresa foi obrigada a exportar em regime Completely Knock-Down (CKD) que,

grosso modo, consiste na exportação de um kit de peças e componentes, nesse

caso, de tratores que seriam montados na Argentina, já que para proteger sua

indústria os argentinos dificultavam a entrada de produtos estrangeiros acabados.

Outro exemplo de que a economia brasileira tem sido mais aberta ao capital

externo do que a economia argentina, encontramos a partir de uma visita de

estudos que realizamos à unidade da John Deere de Horizontina – RS, em que

recebemos a informação de que em 2018 a Deere & Company utilizou a estratégia

de adquirir uma empresa da Argentina especializada na produção de

pulverizadores agrícolas – que inclusive possui uma filial instalada em Canoas –

RS –, mantendo o seu nome original (“PLA”) com a intenção de se inserir em um

mercado que costuma ser fechado às empresas estrangeiras389.

O que pretendemos ressaltar com esses exemplos é que a política

econômica brasileira tem sido, de certa forma, receptiva ao capital externo, sendo

um atrativo para os grandes grupos internacionais, inclusive para aqueles que

dominam a produção mundial de máquinas agrícolas.

Quando observamos que a classe industrial brasileira não tem tido uma ação

389 Segundo a informante da pesquisa – que tem 35 anos de experiência no setor de fabricação de colheitadeiras agrícolas – a estratégia da Deere & Company, que costuma utilizar apenas a marca John Deere, foi adquirir essa empresa, mas mantendo a marca que é conhecida dos agricultores argentinos, já que a PLA atuava naquele país desde a década de 1970.

Page 299: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

280

efetiva no sentido de retomar um projeto de industrialização no país, verificamos

que o tal protagonismo que o economista Ignácio Rangel acreditava que poderia

ocorrer em uma “quarta dualidade” da economia brasileira, pelo menos até o

momento não se realizou. Lembrando que Rangel (1981 e 1986) mencionou que a

partir da fase recessiva do quarto ciclo longo da economia (que iniciou por volta de

1973) os grandes fazendeiros brasileiros, apoiados na posse da terra,

enfraqueceriam, emergindo uma classe de grandes fazendeiros capitalistas (os que

se adaptariam às mudanças), mas que a classe mais madura para assumir o poder

(influente politicamente) seria a industrial, a mais fortalecida nesse contexto.

Além disso, Rangel mencionou que seria necessário desenvolver um

sistema financeiro nacional, de modo que se levantasse fundos para utilizar a

capacidade produtiva ociosa, investindo em setores atrasados que, por tanto, se

constituíam como gargalos para investimentos.

Mas, como a história tem nos mostrado, nos últimos anos o Brasil não tem

feito direito, nem uma coisa, nem a outra. Ou seja, a classe industrial não liderou

um projeto nacional de industrialização (e de desenvolvimento econômico em geral)

e o setor financeiro nacional também não estimulou o quanto deveria o setor

produtivo brasileiro (abandonando a própria indústria já instalada). Por outro lado,

verificamos que o capital financeiro internacional tem realizado, mas de acordo com

os seus interesses, o que analisaremos à diante.

8.6 As Empresas Brasileiras que Resistem Fabricando Máquinas e

Implementos Agrícolas

Apesar da ação dos grandes grupos internacionais que controlam o

segmento de máquinas agrícolas, há de se destacar algumas empresas nacionais

que têm tido um bom desempenho no mercado interno e, inclusive, nas

exportações. O Grupo Stedile, de Caxias do Sul – RS (já mencionado no capítulo

7), é um exemplo. Segundo dados da Anfavea (2019) a empresa Agrale S.A.

produziu, no ano de 2018, 406 tratores de rodas e comercializou 372 unidades no

mercado interno, além de exportar 17 tratores390. Porém, verificamos que em

390 Essa empresa surgiu em Sapucaia do Sul – RS, em 1962, como Indústria Gaúcha de Implementos Agrícolas S.A. (Agrisa). Em 1965 o Grupo Stedile adquiriu o controle acionário da

Page 300: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

281

períodos que a demanda esteve mais aquecida essa empresa foi mais atuante. Por

exemplo, no ano de 2016, ela produziu 1.077 unidades e vendeu 1.099 no mercado

interno. No ano de 2013 fabricou 2.345 tratores e comercializou 2.087 unidades no

Brasil. Inclusive, no ano de 2014 a Agrale exportou 454 tratores de rodas.

Aliás, anteriormente mencionamos que a partir de 2010 foi criado o

Programa Mais Alimentos Internacionais (PMAI), com o objetivo de financiar a

exportação de máquinas agrícolas para alguns países da África e para Cuba. Entre

as empresas que usaram o PMAI, destaca-se a Agrale que, por exemplo, no ano

de 2014 acertou um contrato para exportar 320 tratores ao Zimbábue (AGRALE,

2020a) e que no final de 2015 exportou mais 156 tratores para esse mesmo país

africano (AGRALE, 2020b).

A Agritech Lavrale S.A. é outra empresa do Grupo Stédile. Ela foi

incorporada a partir do início da década de 2000, quando a Lavrale adquiriu a

divisão de tratores da Yanmar do Brasil, empresa japonesa que havia se instalado

no país a partir de 1960 e que se destacou na fabricação de motores e micro

tratores391. Na atualidade a Agritech fabrica micro tratores e tratores com até 85 cv

de potência em uma unidade produtiva instalada em Indaiatuba – SP (AGRITECH,

2020a). Além de atuar no mercado interno, também exporta máquinas e

implementos agrícolas para países da África. Por exemplo, no ano de 2014, vendeu

36 tratores e 30 micro tratores para o Senegal e para Gana. Em 2019 fechou um

contrato para exportar 1.085 micro tratores e 3.750 implementos agrícolas (como

arados, plantadeiras, enxadas rotativas etc.) para esses dois países africanos

(AGRITECH, 2020b)392.

Outra empresa nacional que tem sido forte no segmento de máquinas e

implementos agrícolas é a Stara S.A. que, como mencionamos no capítulo 7, surgiu

Agrisa, mudando o nome para Agrale S.A. e transferindo-a para Caxias do Sul – RS. Em 1968 lançou seu primeiro micro trator com quatro rodas. Na atualidade, fabrica tratores e motores na unidade I em Caxias do Sul – RS. Desde 2013, também fabrica tratores em Mercedez, província de Buenos Aires, na Argentina, na sua unidade Agrale Argentina S.A. Além de tratores o Grupo Stedile também fabrica máquinas agrícolas (arados, grades de discos, carretas agrícolas etc.), caminhões, ônibus e motores. Na atualidade, ela produz tratores com potência que varia de 13,2 cv a 220 cv (AGRALE, 2019). 391 A Yanmar do Brasil S.A. continuou produzindo motores em uma fábrica instalada em Indaiatuba – SP e em 2007 mudou a sua razão social para Yanmar South America. Aliás, a partir de 2018 essa empresa voltou a atuar na venda interna de tratores, importando máquinas da marca indiana Solis e comercializando-as com a com vermelha, tradicional da Yanmar (YANMAR, 2020). 392 Geralmente, esses equipamentos são utilizados em pequenas lavouras que cultivam arroz ou produtos da horticultura (AGRITECH, 2020b).

Page 301: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

282

no município gaúcho de Não-Me-Toque – RS no início da década de 1950393. Ela

está instalada em uma área de 130 hectares e com 102 mil2 de área construída,

fabricando tratores agrícolas e diversos tipos de implementos, tais como

pulverizadores, distribuidores de adubo autopropelidos, plantadeiras, entre outros.

Ela atua em todos os estados do Brasil e exporta para mais de 35 países, com

atuação em todos os continentes (STARA, 2018).

Ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990 a Stara incrementou seu

portfólio de produtos (fabricando arados, grades, plantadeiras etc.), mas seu grande

salto qualitativo ocorreu a partir de 1999 quando firmou uma parceria com a

empresa alemã Amazone Werke394, especialista em pulverizadores agrícolas, o

que lhe permitiu ampliar e modernizar a sua linha de pulverizadores agrícolas

(STARA, 2018). Como mencionamos anteriormente, a parceria da Stara com a

empresa italiana Argo Tractors também lhe permitiu ampliar o seu portfólio de

produtos, inclusive fabricando até tratores agrícolas com tecnologia da renomada

marca McCormick (STARA, 2019)395.

Os ativos da Stara S.A., segundo a cotação da BM&FBovespa (referente a

30 de setembro de 2019), totalizavam R$ 934,2 milhões. No período de 01 de

janeiro de 2019 a 30 de setembro de 2019, ela obteve uma receita de vendas de

771,2 milhões de reais, com lucro de R$ 97,8 milhões (STARA S.A., 2020)396.

393 A Stara surgiu a partir de 1953 quando Johannes Stapelbroek e Gerrit Jan Rauwers (imigrantes holandeses) fundaram no município de Não-Me-Toque – RS uma ferraria, chamada Stapelbroek, Rauwers & Cia. Ltda, com o objetivo de montar máquinas e implementos agrícolas importados da Europa. Em 1960 a sociedade se desfez e apenas a família de Stapelbroek permaneceu na empresa, que passou a se chamar Stapelbroek & Cia. Ltda. (mais tarde, Stara S.A.), dedicando-se à fabricação de implementos agrícolas (STARA, 2018). 394 A Amazone Werke possui participação acionária na empresa Stara S.A. (STARA, 2019). Essa empresa é familiar (com controle acionário e executivo da família Dreyer) e surgiu em Hasbergen, Alemanha, em 1883, especializando-se em distribuidores de fertilizantes, semeadoras, cultivadores rotativos de solo (cultivadores e grades de discos), semeadoras pneumáticas de precisão, pulverizadores de defensivos agrícolas e equipamentos para agricultura de precisão (piloto automático, sensores diversos etc.). Ela possui fábricas nas cidades de Hude, Altmoorhausen, Leipzig, Bramsche e em Leeden, na Alemanha; uma unidade em em Forbach, na França; outra em Samara, na Rússia; e uma em Mosonmagyaróvár, na Hungria. No ano de 2018 a Amazone obteve vendas no valor de € 481 milhões, exportando cerca de 80% de sua produção para mais de 70 países (AMAZONEN, 2019). 395 Aliás, essas informações ressaltam as colocações que fizemos no capítulo anterior, sobre o atraso tecnológico de alguns setores da indústria brasileira, o que tem obrigado empresas como a Stara firmar parcerias com grupos estrangeiros para adquirir tecnologia de ponta. 396 A composição do capital social da Stara S.A., em 25/04/2019, totalizava 31.484.081 ações ordinárias sendo que, dessas, 89,42% são de controle familiar (do St E Filhos Participações Societárias Ltda.); 10,26% pertencem ao Bndes Participações S.A. (Bndespar) e apenas 0,32% das ações pertencem a Augustín & Cia Ltda., empresa instalada, também, no município de Não-Me-Toque – RS, que atua principalmente no comércio de máquinas agrícolas (STARA S.A., 2020).

Page 302: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

283

Não obtivemos informações sobre a quantidade de implementos

comercializados internamente e nem a parte exportada pela Stara, inclusive porque

se trata de um portfólio diversificado de produtos e de modelos. Mas, pudemos

verificar que sua produção já está se inserindo inclusive nos grandes grupos

agrícolas que atuam no país. Além disso, pela pesquisa de campo que realizamos

no Show Rural Coopavel (em fevereiro de 2019), recebemos a informação de que

essa empresa possui diversas patentes de produtos inovadores que, inclusive, são

cobiçados até por grandes concorrentes397.

Outra empresa brasileira desse segmento que é multinacional, é Jacto S.A.

que surgiu no final da década de 1940, pela iniciativa de um imigrante japonês. Na

atualidade, ela possui 15 unidades distribuídas em cinco países. No Brasil, possui

unidades no estado de São Paulo, como no município de Pompéia, onde estão

instaladas a matriz, unidades de armazenagem, borracha, cerâmica, centro de

pesquisa (a Síntegra Surgical Sciences), comércio e uma fábrica de reservatórios

de plásticos (a Unipac que possui mais duas unidades, uma em Limeira e outra em

Paulínia); no município de Quintana está a Jacto agrícola (uma fundição); no

município de Oriente – SP uma unidade de distribuição e no estado do Ceará há

uma unidade da Unipac em Maracanaú. Fora do Brasil ela possui unidades em

Arrecifes, na província de Buenos Aires (a Jacto – Argentina); em Rayong (na

Tailândia) possui a unidade da Jacto Small Farm Solutions – Thailand (fábrica de

pulverizadores portáteis ou costais)398; em Zapopan está instalada a unidade da

Jacto Small Farm Solutions – México (comercial) e no estado do Oregon, nos EUA,

também possui uma unidade comercial (GRUPO JACTO, 2019)399.

Para termos noção da solidez dessa empresa, ressaltamos que no ano fiscal

de 2018 a Jacto obteve uma receita líquida de R$ 1,5 bilhão. Seus ativos totais

397 Por exemplo, um representante comercial da Stara nos relatou que o Imperador 3.0 – que é pulverizador, aplicador de fertilizantes e semeador – é tão importante que quando essa máquina automotriz foi lançada, um concorrente tentou adquirir a sua patente de invenção e que, inclusive, teria ofertado cerca de 150 milhões de reais. Detalhe, em fevereiro de 2019 essa empresa apresentou um mapa (no Show Rural Coopavel) com os clientes por estados do Brasil que já haviam adquirido essa máquina. Até aquele momento já havia comercializado 750 unidades (por cerca de 1 milhão de reais cada), com clientes espalhados em todas as regiões do Brasil. 398 Informações conseguidas junto a um funcionário dessa empresa no Show Rural Coopavel, em fev. 2019. 399 Na atualidade a Jacto está presente em 110 países. Mas, 90% de seu faturamento vem da América Latina, especialmente de clientes do Brasil, Argentina, Paraguai, México, Peru, Equador e Bolívia (GRUPO JACTO, 2019).

Page 303: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

284

alcançaram 1,5 bilhão de reais, com lucro líquido de R$ 154,7 milhões e com

margem de lucro de 11,7% (JACTO, 2020)400.

Observamos que as empresas citadas possuem experiência no segmento

de fabricação de máquinas e implementos agrícolas, pois a Jacto e a Stara

surgiram ainda na década de 1950 e o Grupo Stedile no início da década de 1960.

Esse fator é importante, pois aumenta a credibilidade junto aos clientes.

Também, verificamos que essas empresas possuem estratégias de

expansão de mercado. Por exemplo, o Grupo Stedile adquiriu uma concorrente

estrangeira, a divisão de tratores da Yanmar do Brasil, portanto, retirando uma

concorrente do mercado e adquirindo tecnologia dela. A Stara e a Jacto também

possuem suas estratégias de expansão, pois a Stara, como mencionamos

anteriormente, procura lançar produtos inovadores no mercado e faz parcerias de

transferência de tecnologia com importantes empresas internacionais desse

segmento. E observamos que a Jacto tem instalado unidades produtivas em outros

países, além de investir forte em P&D401.

Ou seja, os exemplos dessas empresas nos mostram que o Brasil é capaz

de possuir uma indústria competitiva, especialmente no segmento de máquinas e

implementos agrícolas que temos estudado.

Porém, como mencionou Kupfer (2004) uma nova política industrial deverá

ter em foco que o setor de bens de capital necessita de apoio governamental,

inclusive para sua consolidação patrimonial, bem como para assegurar seu

mercado. Caso contrário essas empresas terão dificuldades para enfrentar a

concorrência estrangeira (o que aliás temos verificado nessa pesquisa).

8.7 A Financeirização da Indústria de Máquinas Agrícolas

Quando falamos em “financeirização da indústria de máquinas agrícolas”,

estamos nos referindo à dinâmica do capital financeiro que, particularmente a partir

400 No ano de 2019 a Jacto foi eleita a mais importante empresa (com atuação no Brasil) do setor de máquinas e equipamentos pelo ranking CIE do Estadão (Empresas Mais), superando outras importantes empresas brasileiras, como a Weg Equipamentos e a Avibrás, e estrangeiras como a Thyssen-Krupp Elevadores (JACTO, 2020). 401 A empresa Jacto tem como meta investir 5% de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento, inclusive fazendo parceria de estudo com importantes universidades, como com o departamento de Engenharia da USP e com o Fatec, instituto criado pela própria Jacto na cidade de Pompéia – SP (informações fornecidas por um funcionário dessa empresa – Show Rural Coopavel, 2019).

Page 304: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

285

da década de 1980, passou a controlar o capital produtivo, inclusive a indústria.

Os dados e informações que apresentamos, especialmente nesse capítulo,

nos mostram que o “motor” da dinâmica espacial dos grandes grupos da indústria

de máquinas agrícolas é o capital internacional. Esses conglomerados industriais

possuem grande capitalização. Por exemplo, no ano de 2019 a Deere & Company

apresentou uma capitalização de US$ 54,3 bilhões e seu faturamento com vendas

alcançou US$ 39,3 bilhões, com lucro líquido de US$ 3,3 bilhões (DEERE, 2020b).

Quando na pesquisa de campo perguntamos a uma experiente

funcionária402, quem seriam os principais acionistas da Deere & Co., ela nos relatou

que seria Bill Gates, fundador da empresa Microsoft.

De fato, verificamos que no ano de 2019 o maior acionista dessa companhia

era a Cascade Investment LLC, que possuía 8,86% de suas ações (DEERE,

2020a). Essa investidora, trata-se de uma holding que foi criada em meados da

década de 1990 com o objetivo de gerir a fortuna e os investimentos do senhor Bill

Gates (WARWICK-CHING, 2019).

Na atualidade (em 2020), o maior acionista da Deere & Company é o Capital

Research & Management Co., que possui 12,4% de suas ações, enquanto que a

Cascade Investment LLC aumentou sua participação para 10,1%, colocando-se

como a segunda maior acionista dessa gigantesca fabricante de máquinas

agrícolas. Entre os demais acionistas, destacam-se The Vanguard Group, Inc. e

BlackRock Fund Advisors que participam, respectivamente, com 7,37% e 2,42%

das ações da Deere & Co. (DEERE, 2020a).

O Capital Research & Management Company surgiu no estado de Delaware

– EUA, no início da década de 1930, como subsidiário do The Capital Group

Companies, Inc. e atua na gestão de investimentos (fundos de aposentadoria,

pensão etc.) em escala global. Para termos noção da amplitude de atuação desse

fundo de gestão de investimentos, podemos colocar que em 30 de junho de 2019

ele gerenciava aproximadamente US$ 2,2 trilhões de ativos discricionários (que o

Capital Research tem autonomia para executar a ordem sem consultar os

investidores) e mais US$ 6,1 bilhões de ativos não discricionários (CAPITAL

402 Essa informante da pesquisa trabalha no setor de fabricação de máquinas agrícolas há 35 anos, pois se aposentou e continua prestando serviços à unidade da John Deere de Horizontina – RS (pesquisa de campo).

Page 305: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

286

GROUP, 2020)403.

The Vanguard Group, Inc. também é um dos maiores fundos de

investimentos do mundo. Em 31 de dezembro de 2018 possuía mais de 20 milhões

de investidores, distribuidos em cerca de 170 países, sendo que em 31 de janeiro

de 2019 seus ativos totais alcançavam 5,3 trilhões de dólares. Esse fundo de

investimentos surgiu em 1975 e sua sede se localiza na Pensilvânia – EUA

(VANGUARD, 2019).

Outro fundo de investimentos de destaque é o BlackRock Fund Advisors que

surgiu em 1988, com sede em Nova York. Em 31 de dezembro de 2018, possuia o

total de 5,98 trilhões de dólares em ativos (LIM, 2019).

Há de se ressaltar que esses fundos de investimentos atuam inclusive em

empresas concorrentes, pois além de serem os principais acionistas da Deere &

Co., como mencionamos anteriormente, The Vanguard e BlackRock também

figuram entre os principais investidores de outros grupos do segmento de máquinas

e implementos agrícolas. Por exemplo, The Vanguard é o 2º maior acionista do

AGCO Corporation, detendo 8,15% de suas ações, enquanto que o BlackRock

aparece na décima posição, sendo proprietário de 2,89% de suas ações (AGCO,

2020)404.

Destacando que a maior acionista do AGCO Corporation é Mallika

Srinivasan, uma empresária indiana que na atualidade é presidente da TAFE Reach

Ltd. e da United Nilgiri Tea Estates Co. Ltd.; presidente executiva e diretora

executiva da TAFE Motors & Tractors Ltd e presidente e Chief Executive Officer

(CEO) da Tractors & Farm Equipment Ltd. Inclusive, em 2011 ela foi diretora do

próprio grupo AGCO Corporation (MALLIKA, 2020). De acordo com o relatório

financeiro anual do AGCO, Malika Srinivasan detém 16,1% do total de suas ações

(AGCO, 2020).

O CNH Industrial NV, em 2018, possuía uma capitalização de US$ 14,5

bilhões, ano em que obteve um faturamento (com vendas) de € 29,7 bilhões, com

lucro líquido de 1,1 bilhão de euros. Esse grupo industrial também tem como

403 Esse fundo de gestão de investimentos gerencia contas de clientes com o mínimo de US$ 1 milhão por contrato (CAPITAL, GROUP, 2020). 404 Lembrando que o grupo AGCO apresenta uma capitalização de 5,5 bilhões de dólares, seu faturamento com vendas, em 2019, totalizou US$ 9,2 bilhões e seu lucro líquido atingiu 337 milhões de dólares (AGCO, 2020).

Page 306: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

287

acionistas fundos de investimentos, tais como The Vanguard Group, Inc., que

possui 2,2% de suas ações. Mas, a grande acionista desse conglomerado é a Exor

NV, detentora de 27,2% de suas ações (CNH, 2020).

A Exor NV, com sede em Amsterdã, na Holanda, é uma holding que investe

em diferentes empresas, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, tendo

participação na Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e no CNH Industrial, além de ser

proprietária da Juventus F.C. (clube de futebol) da Itália. Sua capitalização é de

18,5 bilões de dólares, obtendo, em 2018, uma receita de € 143,8 bilhões – 76,8%

dessa receita vem da Fiat Chrysler Automobiles e 17,3% do CNH Industrial – e lucro

líquido de 1,3 bilhão de euros. Há de se ressaltar que 53,0% das ações da Exor

pertencem à família Agnelli, fundadora do grupo Fiat de Turim (EXOR, 2020).

Há de se ressaltar que essas holdings e fundos de investimentos controlam

até as maiores corporações industriais dos Estados Unidos. Por exemplo, The

Vanguard Group, Inc., detendo 7,95% das ações, é o maior acionista da Microsoft

Corporation (fabricante de softwares), que na atualidade possui capitalização de

US$ 1,5 trilhão e lucro líquido de US$ 39 bilhões (ano de 2019), constituindo-se

como a segunda maior empresa mundial. O seu segundo maior acionista é o

Capital Research & Management Company, detentor de 7,34% de suas ações,

enquanto que o BlackRock Fund Advisors é o sexto maior acionista, controlando

2,46% das ações da Microsoft405. The Vanguard Group, com 7,29% das ações,

também é o maior acionista da Apple Inc. (fabricante de smartphones, entre outros),

empresa que em 2019 possuía uma capitalização de US$ 1,6 trilhão e lucro líquido

de US$ 55,3 bilhões, constituindo-se como a maior corporação mundial. O

BlackRock é o quarto maior acionista da Apple, controlando 2,32% de suas

ações406.

Capital Research & Management Co., The Vanguard Group e BlackRock têm

atuação internacional, possuindo ações de empresas, tais como a Nestlé S.A.,

405 Os dados sobre essas empresas podem ser acessados pelo visualizador de mercado MarketScreener (no endereço eletrônico: <https://www.marketscreener.com/>). 406 Esses fundos de investimento também são acionistas de outras destacadas empresas. Por exemplo, The Vanguard Group é o maior acionista (com 7,35% das ações) da empresa Alphabet Inc., uma holding que controla sites como o Google e o YouTube e que possui uma capitalização de aproximadamente US$ 1 trilhão, com lucro líquido de 34,3 bilhões de dólares (no ano de 2019). O segundo maior acionista da Alphabet é o Capital Research & Management Co., que controla 4,98% de suas ações, enquanto que e o BlackRock é proprietário de 2,42% das ações dessa empresa, sendo o seu quinto maior acionista.

Page 307: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

288

Roche Holding AG e Novartis (suíças); Royal Dutch Shell e Unilever N.V. (anglo-

holandesas); SAP AG, Siemens AG e ThyssenKrupp AG (alemãs); L’Oréal e Total

(francesas), entre outras. No Brasil esses fundos são acionistas de empresas, tais

como a Petrobras S.A.; Ambev S.A.; Banco do Brasil S.A.; Weg S.A.; JBS S.A.,

entre outras407.

Aparentemente, os grandes grupos fabricantes de máquinas agrícolas são

independentes, pois são os líderes mundiais nesse segmento. Porém, quando

analisamos a sua distribuição acionária, verificamos que eles são controlados por

“meia dúzia” de fundos de investimentos, um capital financeiro imperialista que,

praticamente, partilha o mundo de acordo com seus interesses.

Como mencionamos anteriormente, devido às incertezas de uma economia

cíclica, na qual periodicamente os custos produtivos aumentam e a demanda

encolhe, as empresas mais fortes acabam por “engolir” grande parte de suas

concorrentes. Esse fator também pode ser observado ao analisarmos as taxas de

lucro dessas empresas. Por exemplo, ao efetuarmos os cálculos do percentual de

lucro líquido sobre as receitas da Deere & Company, referente ao ano de 2019,

verificamos que a sua lucratividade alcançou 9,32% (um lucro líquido de 3,25

bilhões de dólares para uma receita com vendas de US$ 34,89 bilhões). Porém, no

mesmo ano a taxa de lucro do grupo CNH Industrial foi de 5,06%, enquanto que a

lucratividade do grupo AGCO Corporation foi ainda menor, de 1,38%408. Ou seja a

queda na lucratividade tem feito esses grupos buscarem compensar suas perdas

por meio da concentração de capitais, buscando ganhar em escala ao controlarem

grande parte do mercado.

É essa conjuntura que tem resultado na financeirização, no controle da

indústria de máquinas agrícolas pelos fundos de investimentos e pelas holdings

gestoras de fortunas (enfim, pelo grande capital financeiro). Aliás, se analisarmos

a lucratividade dos grandes bancos do mundo, verificaremos que o setor financeiro

tem sido mais atraente aos homens de negócios do que as atividades industriais.

Por exemplo, no mesmo ano de 2019 a lucratividade do Morgan Stanley S.A. (2º

maior banco do mundo) atingiu 23,42%; o Mitsubishi UFJ Financial Group alcançou

407 Consultar: MarketScreener. 408 Os dados podem ser acessados pelos relatórios contábeis das referidas empresas em visualizadores de mercado, como pelo MarketScreener, por exemplo.

Page 308: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

289

23,42%; o Bank of America obteve 28,31% e o maior banco do mundo, o Bank of

China Limited, obteve lucro líquido de 34,12%, o equivalente a cerca de 30 bilhões

de dólares409. Aliás, nesse ano o Banco do Brasil também obteve uma taxa de lucro

alta, 34,21%410.

8.8 A Indústria de Máquinas Agrícolas no País que Desafia o Capital

Financeiro Imperialista

Apesar da ação imperialista dos fundos ocidentais de investimentos que têm

controlado a indústria de máquinas agrícolas, como temos destacado, observamos

que no lado oriental do planeta existem países que têm impulsionado uma dinâmica

político-econômica que se diferencia da grande maioria dos países ocidentais,

especialmente do Brasil que temos estudado.

Além do Japão, que tem se destacado inclusive em outros continentes na

fabricação de máquinas agrícolas, como mencionamos anteriormente, verificamos

que a China, ainda que tenha uma inserção mais recente nesse segmento

industrial, também vem se despontando em nível regional e, inclusive, com

potencial para expandir para o mercado mundial. Uma das maiores empresas

chinesas desse setor é a Lovol Heavy Industry Co., LTD (Lovol), que atua no ramo

de fabricação e comercialização de equipamentos industriais em grande escala,

especializada em equipamentos agrícolas, máquinas para construção, veículos e

serviços financeiros. Trata-se de uma empresa nova, fundada em 1998 com sede

em Jinan, mas que no ano de 2015 já empregava 15 mil funcionários e possuía o

total de US$ 2,4 bilhões de ativos, com receita de vendas de 3,2 bilhões de dólares

(LOVOL, 2019).

No exterior a Lovol comercializa tratores agrícolas da marca Foton. Mas, o

que nos chama a atenção é que apesar de ser jovem, como já ressaltamos, ela

está expandindo suas atividades para o exterior. Por exemplo, a partir de 2011 a

409 Há de se destacar que 67,91% das ações do Bank of China são estatais; sendo que 64,02% de suas ações ordinárias pertencem à Central Huijin Investment Co. Ltd. – que é uma subsidiária da China Investment Corporation (CIC), instituição que administra os investimentos do Estado chinês em seus bancos, como no China Development Bank; no Industrial and Commercial; no Agricultural Bank of China Limited; no China Construction Bank Corporation, entre outros – e mais 3,89% que pertencem à “cooperativas” ou associações também estatais (BANK OF CHINA, 2020). 410 Ver os dados em: <https://www.marketscreener.com/>.

Page 309: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

290

Lovol adquiriu a Arbo, renomada empresa italiana fabricante de tratores e

colheitadeiras. A intenção dessa empresa chinesa é se inserir no mercado europeu

e, inclusive, expandir para outros continentes por meio de tecnologia mais

conhecida no Ocidente411.

Na atualidade a Lovol é a maior fabricante chinesa de equipamentos

agrícolas, com produção anual de 100 mil tratores, 50 mil colheitadeiras, 120 mil

motores a diesel e quase 350 mil conjuntos de eixos e sistemas de transmissão.

Na China, ela é identificada como “national high-tech Company” (LOVOL, 2019)412.

Outra empresa chinesa a ser destacada é a First Tractor Company Limited,

que surgiu em 1955 como um projeto do Primeiro Plano Quinquenal (1953-1957).

Sua sede é em Henan, onde produz máquinas agrícolas (segmento responsável

por mais de 80% de suas receitas), componentes e peças. Ela possui quatro

fábricas de tratores de esteiras e de rodas, além de também fabricar motores de

alta potência. Seus ativos totais são de 10,73 bilhões de yuans o que equivale a,

aproximadamente, 1,5 bilhão de dólares. No ano de 2018 a First Tractor obteve 5,5

bilhões de yuans (RMB) de receitas operacionais. Dessas, RMB 5,1 bilhões saíram

das vendas de maquinaria agrícola o que equivale a, aproximadamente, US$ 735

milhões413. Cerca de 96% de suas vendas são realizadas na própria China (FIRST

TRACTOR, 2020a e 2020b).

O que nos chama a atenção é que ao contrário do que ocorre com empresas

instaladas em países ocidentais, em que a maioria das ações pertencem a fundos

de investimentos, holdings administradoras de fortunas etc., verificamos que o

maior acionista da First Tractor é o próprio Estado chinês, que é detentor de 60,2%

de suas ações (FIRST TRACTOR, 2020b).

O governo chinês controla as ações estatais por meio da State-Owned

Assets Supervision and Administration Commission of the State Council (SASAC)

– Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais do Conselho de

Estado da China (SASAC, 2019). A SASAC foi criada em 2003 (WU, 2019) e a

quantidade de ativos de empresas chinesas que ela administrava, no ano de 2017,

411 Ver matéria publicada pelo portal CompreRural, intitulada: “Chineses querem dominar o mundo com marca italiana de máquinas agrícolas” (CHINESES, 2019). 412 Em seu portfólio de produtos essa empresa oferece, inclusive, sistemas de navegação por GPS e outros componentes para a agricultura de precisão. 413 Cálculo realizado pelo conversor de moedas do Banco Central do Brasil (BCB, 2020).

Page 310: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

291

já alcançava 160,5 trilhões de yuans, o que equivale a cerca de US$ 23 trilhões;

portanto, podendo ser apontada como a maior entidade econômica do mundo

(CHINA’S, 2018).

Há de se assinalar que o segundo maior acionista da First Tractor é a China

Huarong Asset Management Co. Ltd., uma holding chinesa de investimentos que

se dedica principalmente à gestão de ativos. Essa gestora opera por meio de três

segmentos: em operações de gestão de ativos em perigo (56,7% dos seus

négócios em 2017); em serviços financeiros e de gestão de ativos e em operações

de investimentos. Apresenta uma capitalização de US$ 6,8 bilhões. Detalhe, o

maior acionista da Huarong Asset é a própria SASAC, que é detentora de 49,4%

de suas ações, enquanto que o segundo acionista é a holding estadunidese

Warburg Pincus LLC, que participa com 8,23% (CHINA HUARONG, 2019).

Ou seja, verificamos que a participação do Estado chinês (especialmente por

meio da SASAC) em empresas de bens de produção, como na First Tractor, por

exemplo, é maior do que aparenta414.

Para não se estender demasiadamente na análise da participação do Estado

chinês em sua economia, o que não é o objetivo principal dessa pesquisa,

ressaltamos que a participação da SASAC é expressiva em setores considerados

estratégicos para aquela nação. Por exemplo, constatamos que o Estado chinês

detém 43,7% das ações do China Merchants Bank Co.; 51,9% das ações da CRRC

Corporation Limited (fabricante de locomotivas ferroviárias etc.); 53,8% da China

United Network Communications (telecomunicações); 54,9% da AVIC Aircraft

Corporation (aviação e defesa); 55,1 das ações da Aviation Industry Corporation of

China (conglomerado aeroespacial chinês); 55,8% da China YangTze Power Co.

(energia elétrica); 55,9% da China Eastern Airlines Corporation Limited (transporte

áereo); 57,4% da China State Construction Engineering Corporation (engenharia

civil); 64,4% da CNOOC Limited (petróleo e gás); 64,5% do controle acionário da

China Railway Group Limited (construtora de ferrovias); 71,1% da China National

Nuclear Power Corporation (usinas nocleares); 71,8% da BAOSTEEL (ferro e aço),

414 O restante das ações da First Tractor, 39,76%, pertencem a estrangeiros. O quinto maior acionista da First Tractor é o já mencionado The Vanguard Group, Inc. dos Estados Unidos, mas que participa com apenas 0,22% do total das ações dessa empresa chinesa.

Page 311: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

292

72,2% das ações da China Petroleum Engineering Corporation, entre outras415.

Aliás, Jabbour (2012) entende que a pré-condição do complexo político-

econômico chinês reside, justamente, no controle estatal sobre os setores

estratégicos de sua economia, principalmente sobre o sistema financeiro,

combinado com um eficiente planejamento que tem permitido a essa nação

enfrentar as fortes crises; ao contrário do que tem ocorrido com os países que

aceitaram os preceitos neoliberais – como a abertura desenfreada de mercado e a

desregulação do seu sistema financeiro – e que têm sido duramente atingidos por

essas crises (como o Brasil, por exemplo).

Jabbour, menciona que durante a crise asiática de 2007 a China se voltou

para o mercado interno, utilizando sua capacidade produtiva ociosa ao investir (e

com juros baixos) em grandes obras das quais o país necessitava (nos seus

gargalos para investimentos), além de financiar o próprio consumo interno (isto é,

contribuindo para a formação de demanda)416.

Em relação à indústria de máquinas agrícolas, como mencionamos

anteriormente, há de se observar que desde o Primeiro Plano Quinquenal o

governo da China vem investindo nesse setor, por exemplo, ao estimular o

desenvolvimento de empresas como a já mencionada First Tractor417.

Nessa breve análise, na qual estudamos as ações do governo chinês sobre

a sua economia, nos deparamos com estratégias de planejamento semelhantes às

415 Os dados sobre essas empresas, também podem ser acessados pelo visualizador de mercado MarketScreener (acessamos esses dados em 28 de abril de 2020). 416 Observamos que especialmente em períodos de crise o governo chinês costuma agir imediatamente sobre a sua economia. Por exemplo, verificamos que no início de 2020 o Ministério da Agricultura da China já havia lançado alguns programas para modernizar a sua agricultura, em parte, com a intenção de evitar aglomerações de trabalhadores no setor agrícola, o que não seria aconselhável em tempos de pandemias como da Covid-19. O projeto consiste em linhas de subsídios para os agricultores adquirirem veículos aéreos não tripulados (drones) para a pulverização (o país já possui mais de 30 mil unidades), bem como tratores automáticos e outras máquinas agrícolas inteligentes que são auxiliados pelo Beidou, o sistema de posicionamento por satélite chinês (CHINA, 2020). 417 Há de se destacar que, segundo Guimarães (1979) – em estudo publicado no final da década de 1970 –, a modernização da agricultura chinesa não se apoiou somente na mecanização, mas principalmente no melhoramento genético de sementes, na irrigação de lavouras e na fertilização do solo, pois naquela época a China se valia de um grande contingente de mão de obra existente no campo. Por exemplo, do total de cerca de 107 milhões de hectares de área cultivada, no ano de 1971, um terço delas era irrigada e a produção de fertilizantes químicos passou de 20 mil toneladas, em 1969, para 20 milhões de toneladas no ano de 1973. Enfim, entendemos que esses dados ressaltam a ação do governo chinês sobre a sua economia, especialmente ao prospectar os seus gargalos para investimento e ao planejar as ações a serem efetivadas (e inclusive a dotação de recursos).

Page 312: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

293

que o economista brasileiro Ignácio Rangel colocava como alternativas para o

desenvolvimento econômico brasileiro. Ou seja, basicamente a questão do

planejamento e dos investimentos: a utilização da capacidade produtiva ociosa e o

investimento nas áreas de estrangulamento, nos gargalos a serem impulsionados

(RANGEL, 1980).

Pelo menos até o momento, verificamos que o modelo de política econômica

implantado na China tem conseguido estimular sua indústria de máquinas

agrícolas, inclusive por meio de empresas fortemente controladas pelo Estado,

além de possuir empresas de capital nacional que têm expandido para outros

continentes, como a Lovol, por exemplo.

Aliás, há de se frisar que recentemente (em janeiro de 2021) a própria

empresa Lovol Heavy Industry Co., LTD. foi incorporada ao Weichai Group (que

adquiriu 60% de suas ações), uma subsidiária do Shandong Heavy Industry Group

que é um conglomerado industrial controlado pela SASAC da província de

Shandong (WEICHAI, 2021).

Por outro lado, essa pesquisa tem nos mostrado que em um contexto de

abandono da industrialização (ocorrido particularmente a partir da década de 1980)

as principais empresas brasileiras, inclusive do segmento de máquinas agrícolas,

foram desnacionalizadas, sendo engolidas por poucos grupos internacionais

controlados pelo grande capital financeiro ocidental.

Page 313: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

294

CONSIDERAÇÕES DA SEÇÃO II

Na segunda seção, verificamos que a política econômica implantada no país

a partir da década de 1980 (apesar de terem passado pelo poder vários governos)

não priorizou o desenvolvimento industrial, o que prejudicou as fábricas nacionais

de máquinas agrícolas.

Como analisamos no quinto capítulo, ainda durante o último governo militar

o país mudou sua política econômica ao atender às sugestões do Fundo Monetário

Internacional, grosso modo, redundando em torno de políticas contracionistas,

visando conter a inflação, restringindo consideravelmente os investimentos e

aumentando as taxas de juros (agravando a recessão). Essa situação contribuiu

para aumentar a capacidade produtiva ociosa da indústria de máquinas agrícolas,

pois o mercado interno encolheu consideravelmente.

No capítulo 6, observamos que durante o governo FHC (1995-2002)

ressurgiram algumas políticas econômicas que amenizaram os efeitos da recessão

sobre a indústria de máquinas agrícolas, especialmente ao se criar planos como de

negociação das dívidas dos produtores rurais, o que deu certo fôlego e até

capacidade de investimentos para os agricultores. Além disso, a partir do

lançamento do Moderfrota (no ano 2000) se fixou as taxas de juros e se ampliou o

tempo para a quitação das dívidas dos financiamentos. Porém, verificamos que o

aumento das vendas, bem como da produção de máquinas agrícolas, só se

intensificou a partir do segundo governo Lula (2006-2010), período em que o

volume de crédito rural aumentou consideravelmente (via PSI Rural) e que os juros

baixaram.

Porém, nesse mesmo capítulo observamos que a partir de 2015 o volume

de crédito rural para investimento voltou a cair consideravelmente, inclusive com a

extinção do programa PSI Rural que desde 2012 vinha oferecendo grande volume

de crédito, inclusive a juros mais baixos. Essas medidas fizeram reduzir

drasticamente as vendas internas e, consequentemente, a produção desse

segmento industrial.

Como analisamos no sétimo capítulo, na atualidade a indústria de máquinas

e implementos agrícolas instalada no Brasil se concentra, basicamente, em dois

estados, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Também destacamos que essa

Page 314: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

295

indústria é atraída por vários fatores, tais como pela proximidade à indústria de

autopeças e componentes, pela força de trabalho qualificada para essa atividade

e, principalmente, pelo seu mercado consumidor. Isto é, se instalando

preferencialmente em regiões com destaque no setor agrícola.

Também no sétimo capítulo, observamos que as empresas desse segmento

procuram se modernizar, mas que elas têm sido obrigadas a recorrer às onerosas

importações, à medida que vários setores da indústria brasileira têm apresentado

defasagem tecnológica, inclusive devido à falta de apoio governamental.

Por fim, no capítulo 8 observamos que a indústria de máquinas agrícolas que

atua no Brasil, atualmente, é oligopolizada, pois a produção de tratores,

colheitadeiras e implementos agrícolas, em grande parte, é controlada por “meia

dúzia” de marcas pertencentes a apenas três grandes grupos industriais. Aliás,

esses conglomerados estão subordinados ao grande capital financeiro

internacional que, inclusive, tem controlado as principais empresas globais, com

exceção das economias de alguns países do Oriente, particularmente da China.

Page 315: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

296

CONCLUSÃO

Essa pesquisa nos levou a defender a seguinte tese:

1) A formação social brasileira contribuiu para que o desenvolvimento de

sua indústria de máquinas agrícolas fosse tardio e dependente do capital

externo. Porém, há de se ressaltar que foram elementos de sua própria

sociedade que, mais tarde, promoveram a industrialização do país,

inclusive desse segmento industrial;

2) As condições para o desenvolvimento da indústria brasileira de máquinas

agrícolas foram impulsionadas pelo Estado. Portanto que a mudança de

rumo na política econômica nacional (pós 1980) representou um duro

golpe sobre as empresas desse setor;

3) O principal atrativo para a instalação da indústria de máquinas agrícolas

no Brasil é, basicamente, o potencial agrícola do país que contém terras

para expandir as lavouras e uma frota de máquinas a ser renovada. Isto

é, um mercado consumidor em potencial.

4) Nessas condições, verificamos que para ocorrer uma retomada da

industrialização brasileira (levando-se em consideração os interesses

nacionais) se torna mister a ação do Estado, que deverá se empenhar na

criação de instrumentos de planejamento econômico capazes de

enfrentar o protagonismo do capital financeiro imperialista.

Quando escrevemos que a formação social do país contribuiu para atrasar

seu desenvolvimento industrial, nos referimos ao que Rangel (1981) chamou de

dualidade básica da economia brasileira; isto é, que o Brasil vem sendo comandado

por pactos de poder, sintetizados por classes sociais com interesses comuns, mas

também contraditórios. Por exemplo, no capítulo 1 mencionamos que até o final do

século XIX praticamente não existiam condições materiais para o desenvolvimento

da indústria de máquinas agrícolas (faltando produção de ferro, etc.) porque as

classes que estiveram no poder priorizaram a agricultura para exportação, porém

apoiada no trabalho braçal (inclusive no trabalho escravo), não mecanizado.

A partir das informações do quadro 10, podemos comparar as fases de

desenvolvimento da indústria de máquinas agrícolas do Brasil com a de outros

países:

Page 316: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

297

Quadro 10 Fases da industrialização em países pioneiros na indústria de máquinas agrícolas e no Brasil – 1830-2020

Período Principais acontecimentos

Em outros países No Brasil 1830-1850 1834 – Nos EUA, Cyrus McCormick

lança uma colheitadeira puxada por cavalos. 1837 - O ferreiro John Deere, nos EUA, fabrica o primeiro arado com ferro forjado. 1847 - Surge, no Canadá, a empresa Massey Manufacturing Co.

1830 a 1850 - Surgimento de diversas fábricas artesanais de ferramentas agrícolas, localizadas especialmente na província de Minas Gerais.

1850-1900 1864 - Surge a empresa (Deutz A.G., na Alemanha, primeira fábrica de motores do mundo. A empresa Kuhn começa fabricar implementos agrícolas na França. 1869 - A JI Case Co., dos EUA, lança o primeiro trator movido a vapor. 1892 - John Froehlich fabrica nos EUA o primeiro trator a gasolina. 1895 - É fundada a New Holland Machine Company nos EUA.

1874 a 1890 - Ocorre a instalação (especialmente na província de São Paulo) de algumas importadoras de máquinas agrícolas, tais como a Grande Fundição Sidow; Cia. Mac Hardy; Grande Officina Mechanica Arens; Lidgerwood & Comp.; Cia. Mecânica Importadora de São Paulo e a Oficina Mecânica e Agrícola De Antoni & Cia., essa instalada no Rio Grande do Sul. Elas também passaram a fabricar máquinas e equipamentos mais simples para a agricultura.

1900-1930 1917 - A Ford lança nos EUA o trator Fordson que dominaria o mercado desse país ao longo da década de 1920. 1921 - A empresa Henrich Lanz AG da Alemanha fabrica o trator Lanz Bulldog, que funcionava tanto a gasolina como a óleo vegetal. 1925 - A International Harvester (IH) dos EUA fabrica o Farmall, primeiro trator para uso geral na agricultura.

1908 - Surge em SP a Indústrias Nardini (ferramentas e implementos agrícolas). 1912 - Surge em RS a empresa Mernak e Cia. (trilhadeiras e outras máquinas agrícolas). 1919 - Se instala no estado de SP a Ford do Brasil, inclusive importando tratores agrícolas dos EUA. 1920 - Instalação em SP da Dedini Indústria de Base (máquinas para o setor de cana-de-açúcar). 1929 - Instalação em SP da Indústrias Romi S.A. (máquinas para o setor de cana-de-açúcar).

1930-1960 1951 - Surge a empresa Valtion Metallitehtaat (Valmet Oy) na Finlândia. 1953 - Fusão das empresas Massey-Harris, dos EUA, e Ferguson-Brown, da Inglaterra, dando origem à Massey Ferguson.

1945 - Surge em RS a empresa Schneider & Logemann (SLC). 1953 - Surge em RS a empresa Moinhos Santa Rosa Ltda. (mais tarde, Ideal S.A.). 1957 - É instalada a Massey Ferguson do Brasil no estado de SP. 1959 - Lançamento do Plano Nacional da Indústria de Tratores de Rodas. 1960 - É instalada no estado de SP a Valmet do Brasil. 1960 - É criada no estado de SP a Companhia Brasileira de Tratores (CBT).

Page 317: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

298

1960-1980 1962 - Surge nos EUA a empresa Ford Tractors Operations. 1968 - O grupo Deutz A.G. adquire parte das ações da empresa Fahr A.G., surgindo a Deutz-Fahr na Alemanha. 1979 - Inserção da Deere & Company, dos EUA, na fabricação de máquinas agrícolas no Brasil ao adquirir parte das ações da SLC.

1965 - Criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). 1965 - A empresa nacional Schneider Logemann (SLC) fabrica a primeira colheitadeira automotriz do Brasil. 1970 - A Indústria de Máquinas Agrícolas Ideal S.A. (nacional) fabrica sua primeira colheitadeira automotriz. 1971 - Instituição do I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND). 1974 - Lançamento do II PND. 1975 - A multinacional New Holland instala uma fábrica de colheitadeiras automotrizes no estado do PR.

1980-2000 1986 - A Ford Tractors Operations dos EUA adquire a New Holland, surgindo a Ford New Holland Inc. 1990 – Surge, nos EUA, o grupo AGCO Corporation. 1991 - A FiatAgri da Itália adquire a Ford New Holland Inc. 1994 - A AGCO Corporation adquire as ações globais da Massey Ferguson. 1999 - Fusão das empresas FiatAgri, da Itália, com a Case Corporation dos EUA, dando origem à CNH Global.

1983 - O grupo financeiro nacional Iochpe adquire o controle acionário da Massey Ferguson do Brasil. 1984 - O grupo financeiro Iochpe adquire o controle acionário da fábrica de colheitadeiras Ideal S.A. 1996 - A AGCO Corporation adquire do grupo financeiro Iochpe-Maxion a marca Massey Ferguson do Brasil, bem como a Ideal S.A. E surge no estado do PR a Montana Indústria de Máquinas S.A. 1997 - Falência da Companhia Brasileira de Tratores (CBT). É fundada no estado do RS a divisão de máquinas agrícolas da Metasa S.A. 1999 - A multinacional Deere e Co. adquire a totalidade das ações da empresa brasileira SLC.

2000-2020 2004 - A AGCO Corporation adquire a empresa finlandesa Valtra Corporation (inclusive a unidade instalada no BR). 2011 – Criação, na Itália, da Fiat Industrial Spa. 2013 – Fusão, na Holanda, das marcas Fiat Industrial e CNH Global, dando origem ao grupo CNH Industrial N.V.

2005 - O Kuhn Group da França adquire a empresa brasileira Metasa S.A. 2007 - A AGCO Corporation adquire a empresa brasileira Sfil. 2014 - A AGCO Corporation adquire a totalidade das ações da empresa brasileira Santal. 2014 - O Kuhn Group adquire a empresa brasileira Montana Indústria de Máquinas.

Fonte: Dados apresentados nos quadros 1 e 8 e outros coletados em pesquisa de campo.

Portanto, os dados do quadro 10 nos mostram que na segunda metade do

século XIX, em países como os Estados Unidos e a Alemanha já se produzia

motores, máquinas a vapor e outros equipamentos agrícolas. Porém, no Brasil (e

praticamente apenas na província de São Paulo) ainda estava se instalando as

primeiras oficinas para o conserto de máquinas importadas e para a fabricação de

instrumentos agrícolas mais simples, utilizados especialmente nas lavouras de café

e de cana-de-açúcar. Da mesma forma, observamos que nas três primeiras

décadas do século passado já se intensificava a fabricação de tratores agrícolas

Page 318: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

299

nos EUA e na Alemanha, mas no Brasil ainda predominavam algumas pequenas

fábricas destinadas ao reparo de máquinas agrícolas importadas e que,

paulatinamente, também começaram fabricar implementos (em maioria de tração

animal), geralmente utilizados nas lavouras de cana-de-açúcar do estado de São

Paulo e nas lavouras de arroz do Rio Grande do Sul.

Por outro lado, pelos dados do mesmo quadro 10 podemos constatar que a

partir da década de 1960 reduziu o atraso tecnológico da indústria brasileira de

máquinas agrícolas, que começou fabricar até tratores, colheitadeiras e outros

implementos mais sofisticados. Lembrando que a fabricação de tratores, em

maioria, era realizada por filiais de multinacionais estrangeiras (que importavam

tecnologia de seus países de origem), mas a produção de colheitadeiras era feita

por empresas nacionais que, em meado da década de 1970, já apresentavam um

estágio tecnológico que lhes permitia competir com as máquinas importadas.

Há de se ressaltar que o pacto de poder firmado a partir dos anos 1930

introduziu na política brasileira um novo elemento, o interesse dos agricultores mais

modernos aliado aos objetivos de uma classe industrial que emergia no país,

primeiramente representada pelo governo Vargas e, a partir da segunda metade da

década de 1950, por Juscelino Kubitschek (JK).

Quando assinalamos que o Estado contribuiu para o desenvolvimento da

indústria brasileira de máquinas agrícolas, ressaltamos que isso ocorreu porque,

especialmente a partir das décadas de 1940 e 50, ele passou a estimular a

industrialização ao planejar a economia. Entre as principais iniciativas, destacamos

que desde a década de 1930 vinha aumentando consideravelmente a produção

siderúrgica (com empresas como a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira), que se

consolidou a partir do início da década de 1940 com a criação de estatais como a

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Portanto, com empresas que melhoraram

a oferta e a qualidade da matéria-prima (ferro e aço) essencial para esse segmento

industrial. Além disso, observamos que a partir da segunda metade da década de

1950 a indústria de máquinas agrícolas se beneficiou da estrutura fomentada pelo

setor automotivo (autopeças e componentes) que também havia se instalado no

país a partir do apoio estatal, especialmente pelos diversos instrumentos contidos

no Plano de Metas.

Page 319: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

300

Há de se ressaltar que a fabricação interna de tratores também foi

impulsionada diretamente pelas políticas econômicas, mais especificamente pelo

Plano Nacional da Indústria de Tratores de Rodas que a partir de 1959 atraiu para

o país as fábricas estrangeiras de tratores agrícolas que, por sua vez, estimularam

a instalação das fornecedoras de autopeças e componentes, empresas que

inclusive dariam condições para a instalação das primeiras fábricas nacionais de

colheitadeiras agrícolas.

Outra ação governamental influente para o desenvolvimento da indústria

brasileira de máquinas agrícolas, foi a elaboração dos Planos Nacionais de

Desenvolvimento, especialmente o II PND (de 1974), que tinham como meta

aumentar a produção interna de tratores e máquinas para a agricultura, bem como

fomentar a formação de demanda para esse segmento industrial ao enfocar na

modernização da agricultura do país. Da mesma forma, há de se destacar a criação

do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), ocorrido em 1965, que organizou o

crédito rural, estimulando consideravelmente as vendas de máquinas agrícolas,

particularmente durante a década de 1970.

Ressaltamos que as políticas econômicas de incentivo à indústria, bem como

à formação de demanda, são tão importantes que a partir da década de 1980,

quando a industrialização deixou de ser prioridade – e que o volume de crédito rural

diminuiu consideravelmente (inclusive com aumento das taxas de juros) –, as

vendas internas de máquinas e implementos agrícolas caíram drasticamente,

refletindo nas principais empresas desse segmento industrial, que passaram a

operar com grande capacidade produtiva ociosa, praticamente, em todo o período

que abrange as décadas de 1980 e 1990.

Aliás, verificamos que a retomada da produção brasileira de máquinas e

implementos agrícolas só ocorreria a partir da década de 2000 (especialmente em

sua segunda metade) porque, de certa forma, renasceu o apoio a esse setor,

especialmente por meio da formação de demanda, pois se criou programas de

crédito rural para investimento, tais como o Moderfrota (no ano de 2000) e o PSI

Rural (em 2009). Inclusive, observamos que a demanda para a indústria de

máquinas agrícolas voltou a desaquecer a partir de 2013, justamente quando

novamente diminuiu o volume de crédito rural para investimento e as taxas de juros

voltaram a subir.

Page 320: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

301

No capítulo 7, ressaltamos que a indústria de máquinas agrícolas instalada

no Brasil tem se beneficiado da oferta de trabalhadores qualificados para esse

segmento. Há de se lembrar que a qualificação dessa mão de obra não ocorre

apenas em faculdades e universidades privadas, mas principalmente a partir de

cursos técnicos, de graduação e pós-graduação (de Engenharia Mecânica, entre

outros) ofertados por instituições públicas, tais como pela UFRGS, UTFPR, UFPR

e USP. Isso mostra que nesse sentido as empresas desse setor têm sido apoiadas

pelo Estado brasileiro.

Porém, como abordamos também no sétimo capítulo, o Brasil tem sido mais

atraente ao grande capital que investe na indústria de máquinas agrícolas, devido

ao seu potencial agrícola; por apresentar um índice de mecanização inferior ao dos

países desenvolvidos (inclusive abaixo da média mundial); por possuir uma frota

de tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas envelhecida e, principalmente,

por possuir uma grande área cultivada, inclusive com possibilidade de ser ampliada.

A pesquisa de campo nos mostrou que a defasagem tecnológica de vários

setores da indústria brasileira tem prejudicado a fabricação de máquinas agrícolas,

pois as empresas têm que importar grande parte das peças e componentes

utilizados na produção devido à falta de fornecedores nacionais. Constatamos que

os principais componentes que esse segmento industrial tem importado são os

eletrônicos, especialmente itens para a chamada agricultura de precisão, tais como

pilotos automáticos, sensores diversos para o plantio, sensores para a colheita,

sistemas de mapeamento de lavouras, entre outros, que geralmente são trazidos

dos Estados Unidos e da Alemanha. Mas, também identificamos a importação de

motores a diesel (trazidos da Argentina e da China, por exemplo), eixos, sistemas

de transmissão (importados especialmente da Índia e da China) e até itens mais

simples, tais como carrocerias e cabines para tratores (entre outros) que têm sido

importados de países como a Coreia do Sul.

Aliás, a instabilidade monetária (“adoçada” com o termo câmbio flutuante)

também tem se levantado como um obstáculo, à medida que encarece as peças e

componentes importados, especialmente nos períodos de desvalorização cambial.

Por outro lado, quando o real está supervalorizado ocorre o oposto, isto é, favorece

as importações, mas inclusive as de máquinas agrícolas, o que também prejudica

a produção interna desse setor.

Page 321: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

302

De certa forma, essa pesquisa nos mostrou que as indústrias multinacionais

têm fornecido produtos de qualidade à agricultura brasileira, além de gerar

empregos, entre outros benefícios. Mas, não podemos deixar de mencionar que o

Brasil carece de políticas de apoio a sua indústria, pois se isso ocorresse poderia

aumentar a geração de receitas ao próprio Estado; geraria mais empregos e,

inclusive, com melhores remunerações (já que os salários médios no país estão

entre os menores do mundo, como abordamos no capítulo 8); além de poder

promover um reinvestimento interno, o que poderia tornar a indústria nacional

menos dependente das importações.

Aliás, Kupfer (2004) apontou como uma das diretrizes para uma nova política

industrial brasileira a atração de filiais de empresas multinacionais, porém sob uma

política de regulação do capital estrangeiro. No seu entendimento, nessa condição

os grupos estrangeiros serão mais importantes para o desenvolvimento industrial

do país.

Bielschowsky, Squeff e Vasconcelos (2015), também verificaram que as

multinacionais podem ser importantes para o desenvolvimento econômico do país,

mas com a condição de que se formem joint-ventures com as empresas nacionais,

tanto do setor privado quanto do público. Para esses autores, essa seria uma forma

de se apropriar de tecnologia e recursos que auxiliariam na formação de grandes

grupos empresariais brasileiros, inclusive com capacidade para atuar em escala

global.

Quando afirmamos que o Estado brasileiro deveria estimular o

desenvolvimento industrial, estamos nos referindo à própria história econômica do

país, recordando de planos, tais como de instalação da indústria automotiva; das

primeiras fábricas de tratores de rodas; dos PND’s, entre outros. Também,

apoiamo-nos nos caminhos trilhados por alguns países da Ásia. Por exemplo,

ressaltamos a experiência do Japão (com empresas como a Kubota); da Índia (com

empresas como a TAFE e a Mahindra); da Coreia do Sul (LS Tractor) e

especialmente da China (com empresas como a Lovol e a First Tractor), que têm

se mantido em seus mercados internos e, inclusive, até expandido para a Europa

e América do Norte. Aliás, há de se notar que na China tem ocorrido uma

participação estatal direta em sua indústria de máquinas agrícolas, como

destacamos no último capítulo.

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303

Como escreveu Rangel (2005), um projeto de industrialização tem que levar

em consideração a combinação dos fatores (os meios de produção, as matérias-

primas e insumos, bem como a força de trabalho), tendo em mente que,

preferencialmente, a fabricação dos bens de produção têm que ser realizada

internamente, só importando o que ainda não for possível produzir no país, mas

com a condição de pelo menos exportar o equivalente ao valor dos equipamentos

importados.

Mas, como abordamos nos capítulos 5 e 6, nas últimas décadas as políticas

econômicas desregularam a economia do país, abriram as contas de capitas,

colocaram o controle inflacionário e o superávit primário como imperativos,

apostando que essas ações atrairiam investimentos externos e que esses

cuidariam do “destino da nação”. Porém, como verificamos (especialmente no

capítulo 8) o objetivo do grande capital externo (dos fundos de investimentos etc.),

que têm partilhado praticamente todo o planeta, é o controle do mercado e a

garantia de lucratividade o que, em si, não garante que a sociedade brasileira será

beneficiada.

O Brasil se industrializou (inclusive o segmento de fabricação de máquinas

agrícolas) utilizando a sua capacidade produtiva ociosa, os meios técnicos

cristalizados nas fases anteriores, pois as políticas governamentais estimularam a

formação de polos industriais que, grosso modo, constituíam-se em complexos de

empresas (e de diversos setores da produção) reunidas em determinadas áreas.

No caso da indústria de máquinas agrícolas as fábricas se concentraram nos

estados de São Paulo e no Rio Grande do Sul. O desempenho desses polos na

produção industrial (e para o desenvolvimento econômico em geral) apontava que

seria aconselhável o planejamento estatal, já que o sistema econômico sendo

cíclico (com fases de prosperidade, mas sucedidas por períodos de crise e

recessão) tornaria a sobrevivência dos negócios incerta, como destacaram, por

exemplo, Keynes (1983) e Galbraith (1982).

Porém, essa pesquisa nos mostrou que o planejamento, cada vez mais, terá

que atuar contra um agente praticamente “invisível”, mas que controla toda a

economia. Estamos falando dos grandes grupos financeiros internacionais, aqueles

que já chamaram a atenção de Lênin (1987) ainda no início do século passado e

que, provavelmente, também o impressionariam na atualidade pelo seu

Page 323: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

304

protagonismo.

Aliás, em um estudo recente, Jabbour et al. (2020) afirmam – inclusive

fundamentados no pensamento de Rangel – que a China é um exemplo de país

que avançou no planejamento a ponto de atingir uma “economia do projetamento”,

que tem buscado superar as incertezas keynesianas (típicas das economias

capitalistas) ao substituir os valores de troca e de uso por outra forma de regulação,

o custo benefício. Isto é, se apoiando na produção com utilidade social, inclusive

conseguindo evitar o desemprego que tem sido um problema comum nos países

onde não há uma atuação estatal eficiente. Para esses autores a China tem

conseguido implantar essa nova forma de regulação econômica ao controlar o seu

sistema financeiro, bem como sua moeda.

Há de se observar que esse tipo de iniciativa depende fundamentalmente do

protagonismo do Estado porque, como mencionamos anteriormente, inclusive com

base no pensamento keynesiano, as incertezas do mercado (derivadas do caráter

cíclico da economia) desencorajam os investimentos da iniciativa privada,

especialmente os que são de longo tempo de maturação. Além disso, como

destacou Schacht (1999), especialmente nas fases recessivas da economia se

exige uma eficiente engenharia de criação de recursos, já que eles são mais

escassos nesses períodos.

Por essa linha de entendimento, podemos pensar que se a intenção for

resgatar o projeto de industrialização brasileira, especialmente no que se refere ao

segmento de fabricação de máquinas agrícolas (imprescindível para um país com

destaque mundial no agronegócio), é imperativa a ação estatal. Grosso modo,

acreditamos que é necessário a presença de um Estado forte que apoie a formação

de grandes empresas nacionais, pois devido à concorrência estrangeira se torna

mister a produção em escala e, de preferência, que controle desde o acesso à

matérias-primas até a logística de distribuição da produção final. Em outras

palavras, que aproxime a indústria a seus fornecedores e ao mercado consumidor.

Tomando emprestado um termo utilizado por Barbosa Lima Sobrinho (1990),

diríamos que o capital se faz em casa.

Acreditamos que se persistirem as políticas econômicas calcadas no ajuste

fiscal (com medidas contracionistas), tendo como objetivo o superávit primário e

cortando radicalmente os investimentos públicos, como vem ocorrendo no Brasil

Page 324: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

305

nas últimas décadas, podemos imaginar que continuará o processo de

desmantelamento da indústria do país, inclusive com a desnacionalização das

poucas fábricas de máquinas agrícolas que restaram.

Essa é a lógica aparente, a lógica formal do processo. Porém, como a

história vem nos mostrando, o desenvolvimento econômico não é simples e formal.

Ao contrário, é conflitante. Por exemplo, como mencionaram Rangel (1981) e

Mamigonian (2000) o Brasil se industrializou por uma “via prussiana” – semelhante

ao que Lênin (1982) observou ocorrer na Rússia –, liderada por uma classe

empresarial dissidente do velho comércio agroexportador; mais particularmente por

empresários e políticos progressistas, tais como Getúlio Vargas, oriundo do

latifúndio ainda com características feudais, porém com a mente aberta à

modernização, ao desenvolvimento econômico do país.

Aliás, há de se lembrar que foi nesse país, movido pelas contradições, que

surgiram grandes empreendedores da indústria de máquinas agrícolas, tais como

Américo Romi (fabricante do primeiro trator brasileiro); Mário Dedini (pioneiro na

fabricação de máquinas para o setor sucroalcooleiro); Mário Pereira Lopes

(fundador da CBT, empresa que ousou competir com as multinacionais fabricantes

de tratores agrícolas) e Jorge Logemann e Baldoíno Schneider (fabricantes da

primeira colheitadeira automotriz do país). Inclusive, é nesse mesmo país que na

atualidade atuam grupos empresariais como das famílias Nishimura (empresa

Jacto), Stapelbroek (empresa Stara) e Stedile (Agrale e Agritech), que têm se

destacado em escala nacional e internacional.

Acreditamos que com apoio de políticas econômicas mais eficientes a

industrialização brasileira poderá ser retomada e esses grupos empresariais serão

importantes nesse processo, pois possuem experiência forjada na concorrência

com os grandes grupos internacionais que atuam no país.

Enfim, entendemos que o título dessa tese, “de um projeto de

desenvolvimento nacional à subordinação ao capital externo”, resume a

complexidade abordada nessa pesquisa, que versa sobre a dinâmica da indústria

brasileira de máquinas agrícolas.

Page 325: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

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Page 358: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

339

YANMAR. Lexicar Brasil. Disponível em: <http://www.lexicarbrasil.com.br/yanmar>. Acesso em: 13 jan. 2020. ZAFALON, Mauro. Venda de máquinas agrícolas dobra na Argentina e favorece Brasil. União Nacional da Bioenergia. Disponível em: <https://www.udop.com.br/in dex.php?item=noticias&cod=1153618>. Acesso em: 24 out. 2019. 75 ANOS de Austoft: Case IH celebra início da mecanização da colheita de cana. CNH Industrial – press. Disponível em: <http://www.cnhpress.com/pagina/352/visu alizarelease.aspx?codigo=NTcwMw==>. Acesso em: 20 out. 2019.

Page 359: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

340

ANEXOS

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ANEXO 1

LISTA DE EMPRESAS SELECIONADAS PARA A PESQUISA DE CAMPO

AGCO do Brasil Soluções Agrícolas. Visita de estudo. Local: Canoas – RS, 14 nov. 2019. CNH Industrial (CNH Latino América). Visita de estudo. Local: Curitiba – PR, 12 fev. 2020. John Deere do Brasil. Visita de estudo. Local: Horizontina – RS, 17 jun. 2019. Show Rural Coopavel. Visita de estudo. Local: Cascavel – PR, 08 fev. 2019. Werner Implementos Agrícolas Ltda. Visita de estudo. Local: Campo Erê – SC, 08 abr. 2019.

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342

ANEXO 2

Quadro I Evolução da taxa Selic de juros no Brasil – 1996-2018

Ano Período de vigência

Taxa Selic

(% a.a.) Período de vigência

Taxa Selic

(% a.a.)

Mínima Máxima

2018 21/06/2018 a 01/08/2018 6,40 08/02/2018 a 21/03/2018 6,65 2017 08/09/2017 a 25/10/2017 8,15 12/01/2017 a 22/02/2017 12,90 2016 20/10/2016 a 30/11/2016 13,90 28/04/2016 a 08/06/2016 14,15 2015 22/01/2015 a 04/03/2015 12,15 30/07/2015 a 02/09/2015 14,15 2014 16/01/2014 a 26/02/2014 10,40 30/10/2014 a 03/12/2014 11,15 2013 17/01/2013 a 06/03/2013 7,12 10/10/2013 a 27/11/2013 9,40 2012 11/10/2012 a 28/11/2012 7,14 19/01/2012 a 07/03/2012 10,40 2011 20/01/2011 a 02/03/2011 11,17 21/07/2011 a 31/08/2011 12,42 2010 18/03/2010 a 28/04/2010 8,65 22/07/2010 a 01/09/2010 10,66 2009 23/07/2009 a 02/09/2009 8,65 22/01/2009 a 11/03/2009 12,66 2008 06/03/2008 a 16/04/2008 11,18 11/09/2008 a 29/10/2008 13,66 2007 06/09/2007 a 17/10/2007 11,18 25/01/2007 a 07/03/2007 12,93 2006 18/10/2006 a 29/11/2006 13,67 19/01/2006 a 08/03/2006 17,26 2005 20/01/2005 a 16/02/2005 18,25 19/05/2005 a 15/06/2005 19,75 2004 20/05/2004 a 16/06/2004 15,79 18/11/2004 a 15/12/2004 17,23 2003 20/11/2003 a 17/12/2003 17,32 24/04/2003 a 21/05/2003 26,32 2002 18/07/2002 a 21/08/2002 17,86 21/11/2002 a 18/12/2002 21,90 2001 18/01/2001 a 14/02/2001 15,19 20/09/2001 a 17/10/2001 19,07 2000 23/11/2000 a 20/12/2000 16,38 16/12/1999 a 19/01/2000 19,00 1999 07/10/1999 a 10/11/1999 18,87 05/03/1999 a 24/03/1999 44,95 1998 30/07/1998 a 02/09/1998 19,25 08/10/1998 a 11/11/1998 42,12 1997 01/07/1997 a 31/07/1997 19,04 01/11/1997 a 30/11/1997 45,90 1996 01/07/1996 a 31/07/1996 23,98 01/09/1996 a 30/09/1996 25,40

Nota: Como são muitas reuniões anuais, cada qual estabelecendo uma taxa básica de juros (SELIC), o que tornaria essa exposição muito extensa e exaustiva, optamos por utilizar apenas as menores e as maiores taxas anuais.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do BCB (2019).

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343

AMAZÔNIA

SERTÃONORDESTINO

NORDESTEAÇUCAREIRO

CENTROOESTE

EXTREMOSUL

FIGURA A1 ÁREAS ALIMENTARES DO BRASIL - ANOS 1940

Fonte: Elaborada pelo autor a partir de mapa organizado por Castro (1946)

LEGENDA

Área de fomeendêmica

Área de epidemiasde fome

Área de sub-nutrição

.

Page 363: A Dinâmica da Indústria Brasileira de Máquinas Agrícolas

344

FIGURA A2 PRINCIPAIS CARÊNCIAS EXISTENTES NASDIFERENTES ÁREAS ALIMENTARES DO BRASIL - ANOS 1940

Fonte: Elaborada pelo autor a partir de mapa organizado por Castro (1946)

LEGENDA

C

+T

T

Formas frustas (leves)

Casos esporádicos

Crises epidêmicas

Formas endêmicas

+

C

C

+

CC

C +

+

Carências protéicas

Carências de cálcio

Carências de ferro - anemiasalimentares

Carências de cloreto de sódio

Carências de iodo

Carências de vitamina A

Carências de vitamina B1

Carências de vitamina B2

Carências de ácido nicotínico

pelagra

Carências de vitamina C

Carências de vitamina D -raquitismo