Revista Brasileira de Cincia Poltica, n16. Braslia, janeiro -
abril de 2015, pp. 121-151. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/0103-335220151606Luiz Augusto Campos* e
Carlos Machado**A cor dos eleitos:determinantes da sub-representao
poltica dos no brancos no Brasil***Te color of the
elected:determinants of the political under-representation of
non-whites in BrazilPor que existem to poucos polticos negros nas
instncias decisrias brasileiras? Embora seja praticamente
consensual o diagnstico de que a poltica brasileira
majoritariamente branca (Johnson III, 1998; Uninegro, 2011; Paixo e
Carvano, 2008; Paixo et al., 2010), pouco se sabe sobre os
mecanismos polticos e sociais que levam sub-representao poltica dos
no brancos. verdade que a excluso da poltica no uma prerrogativa
dos negros, j que igualmente notrio que mulheres enfrentam enormes
difculdades para ascenderem a posies de poder. No entanto, a
prolfca bibliografa sobre os mecanismos que levam sub-representao
feminina contrastacomoreduzidonmerodetrabalhosdedicadosaentendera
marginalidade poltica dos negros
brasileiros.Adistnciaentreaidentifcaodoproblemaeodiagnsticodesuas
possveiscausasnoapenasobliteraaentradadessetemanaagendade debate
acadmico e poltico, ela restringe tambm a imaginao daqueles que
tentam pensar mecanismos para a incluso poltica desse grupo. Se no
temos informaes sobre as origens do problema, como formular medidas
para mitigar tal excluso?* professor de sociologia do Instituto de
Estudos Sociais e Polticos (IESP) na Universidade Estadual do Rio
de Janeiro (UERJ). E-mail:
.**professordoInstitutodeCinciaPoltica(IPOL)daUniversidadedeBraslia(UnB).E-mail:
.***Agradecemosa
ThyagoSimasdeOliveira,peloapoionaconstruodosistemadecatalogaoe
classicaodasfotosdoscandidatos;aIsadoraHarvey,BrunoViggiano,VictorRamoseLeandro
Guedes, por ajudarem na classicao das fotos; e aos pareceristas
annimos da RBCP.RBCPed16.indd 121 13/04/15 16:01122 Luiz Augusto
Campos e Carlos MachadoUm dos raros momentos em que a
sub-representao poltica dos negros entrou na agenda de debate
pblico coincidiu com o incio das discusses acerca da vacilante
reforma poltica, cogitada pela presidenta Dilma Roussef em resposta
s manifestaes de junho de 2013 (Falco, 2013; Braga, 2013;
Cardoso,2013).FoicolocadoempautaoProjetodeEmendaConstitu-cional PEC
116/2011 , que prope um sistema de voto plural, em que o eleitor
teria de escolher dois candidatos para cada cargo legislativo, um
dentro do rol de autodeclarados negros e outro candidato
concorrente no sistema universal. Aps a votao, os autodeclarados
negros com mais votos preencheriam uma proporo das cadeiras no
parlamento equivalente a dois teros da populao negra total do pas,
segundo o
IBGE1.Paraalmdopolmicoarranjoinstitucionalcolocadopelaproposta,
merece destaque o fato de ela ter sido redigida sem que houvesse um
conheci-mento mnimo dos processos que afastam os negros da poltica
formal. No caso das mulheres, por exemplo, parte de sua ausncia na
poltica deve-se aos obstculos enfrentados dentro dos prprios
partidos, que difcultam o lana-mento de candidaturas femininas
(Arajo, 2005). Provavelmente considerando esse diagnstico, o
Congresso Nacional optou por criar cotas eleitorais que visassem
garantir alguma proporcionalidade de gnero nas listas partidrias.
Ainda que a lei no exija o preenchimento da cota para mulheres
(Miguel, 2000), o que tem produzido resultados eleitorais andinos
(Arajo e Alves, 2007), ela foi formulada com base em algum
conhecimento sobre o fenmeno.O mesmo no se aplica sub-representao
racial. A ausncia de explicaes ou mesmo de hipteses na literatura
especializada deve-se a vrios fatores. Alm disso, a politizao da
desigualdade racial bem mais recente que a politizao da
desigualdade de gnero, incorrendo na falta de dados sobre a raa/cor
dos candidatos. J h algum tempo, o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE)
disponi-bilizainformaesdoscandidatosregistrados,comoprofsso,patrimnio,
gastos de campanha, escolaridade, gnero etc. No entanto, somente
nas ltimas eleies de 2014 a varivel raa/cor foi adicionada aos
registros do TSE.Por conta disso, as pesquisas feitas at hoje sobre
a sub-representao do negro na poltica nacional foram obrigadas a
gerar esse dado, seja pela het-eroclassifcao das fotos dos
candidatos (Campos, 2014; Bueno e Dunning,
2013),sejapelabuscadeinformaesjuntoaospartidosouaosprprios 1O
inteiro teor da PEC 116/2011 pode ser consultado em: . Acessado em
27 dez. 2014.RBCPed16.indd 122 13/04/15 16:01123 A cor dos
eleitospolticos (Oliveira, 1991; Meneguello, Mano e Gorski, 2012).
Logo, a adio
davarivelraa/cornosregistrosdoTSEterumaenormeimportncia
paraaspesquisasfuturassobreamarginalizaodosnegrosdapoltica.
Noentanto,aausnciadessainformaoatopresentemomentotorna difcil
transpor dois problemas. O primeiro deles: impossvel determinar
apenas com os dados do TSE em que medida a posio dos negros nas
listas partidrias em 2014 refete uma tendncia histrica ou, ao
contrrio, um
pontoforadastendnciastemporais.Emsegundolugar,aomenosatas eleies de
2016, teremos apenas os dados referentes aos pleitos federais. Se
entendermos que a excluso poltica dos negros provavelmente tem a
ver com obstculos prprios da carreira poltica no Brasil,
perceberemos que o foco nas eleies federais restringe as
investigaes aos pontos fnais da carreira poltica brasileira.Com o
intuito de preencher essas lacunas, o objetivo deste artigo
elucidar quais os principais fltros que afastam os no brancos da
poltica brasileira a partir de um estudo das eleies para vereador
de 2012. Diante da aus-ncia de registros sobre a raa/cor dos
candidatos nesse pleito, as fotos dos candidatos a vereador dos
dois maiores colgios eleitorais do pas (Rio de Janeiro e So Paulo)
foram submetidas heteroclassifcao de uma equipe de pesquisadores.
Os resultados desse experimento ajudam a compreender at que ponto o
alheamento poltico dos no brancos brasileiros se deve: (i) a vieses
no recrutamento partidrio; (ii) s diferenas de capital educacional
e poltico entre os candidatos brancos e no brancos; (iii) s
desigualdades
nadistribuiodosrecursospartidrioseeleitorais;ou(iv)sprprias
preferncias eleitorais dos votantes.Assim, este artigo inicialmente
apresentar os problemas e os potenci-ais da metodologia utilizada
para estabelecer a raa/cor dos candidatos. A seguir, se poder
observar quatro hipteses testadas para a sub-representao poltica
dos no brancos. E, por fm, so discutidas concluses parciais acerca
dos dados apresentados.MetodologiaDiante da ausncia de registros
sobre a raa/cor dos candidatos e polti-cos brasileiros, existem trs
opes metodolgicas para produzir esse dado. Na primeira delas,
pesquisadores entram em contato diretamente com os polticos
includos no recorte e os questionam sobre como eles se classifcam
RBCPed16.indd 123 13/04/15 16:01124 Luiz Augusto Campos e Carlos
Machadoracialmente. Esse o expediente adotado por Meneguello et al.
(2012) no estudo exploratrio sobre o dfcit de representao poltica
de negros em quatro estados brasileiros. Tal conduta tem a vantagem
de respeitar normas
internacionais,querecomendamaautoclassifcaoparaaatribuiode
identidadetnica,edeproduzirdadoscomparveis,aprincpiocomos
dadoslevantadospeloIBGE,quetambmadotaaautoclassifcao.Por outro
lado, quase nunca possvel obter informaes sobre todos os polticos
includos num dado recorte devido s difculdades de acesso a esse
grupo, j que muitos deles se recusam a responder tal questo.
Umasegundaopointermediriaemenosdispendiosarecorrers
burocraciasdospartidosoudasinstituiesestataisembuscadedados
secundrios, como fez Cloves Oliveira (1991). No obstante essa
estratgia contorne as difculdades de acessar determinados polticos,
ou mesmo suas resistncias pessoais, ela coloca todos os problemas
relativos arbitrariedade dos dados fornecidos, que difcilmente
podem ter sua validade testada.Uma terceira alternativa, cada vez
mais utilizada, a heteroclassifcao, em que fotos dos candidatos so
submetidas avaliao de outras pessoas (Bueno e Dunning, 2013). A
despeito da sua difuso, essa alternativa tambm suscita alguns
problemas. Alm de questes ticas relacionadas imposio de identidades
sociais, pois nem sempre algum classifcado como branco se enxerga
como branco, existe tambm toda uma srie de problemas relacio-nados
comparao com os dados levantados pelo IBGE. Ademais, em um pas com
classifcaes raciais fuidas, difcil crer que a heteroclassifcao
fornea dados vlidos para toda a realidade nacional.Por outro lado,
a heteroclassifcao apresenta ao menos trs vantagens. Em primeiro
lugar, ela capta como determinados polticos tendem a ser
clas-sifcados pelos outros. Ora, se raa um conceito sociolgico e no
biolgico (Guimares, 1999), o negro no pode ser visto como quem
possui apenas marcas objetivas de negritude, mas quem tende a ser
classifcado como tal pelos outros por conta dessas marcas. Em
segundo lugar, diferentes pesqui-sas tm demonstrado grande correlao
entre o modo como as pessoas se autodeclaram racialmente e so
percebidas pelos outros (Silva, 1999; Muniz, 2012; Prandi, 1996), o
que relativiza a ideia de que as classifcaes raciais brasileiras so
arbitrrias ou absurdamente contingentes. Em terceiro lugar, o
problema da fuidez do modelo de classifcao racial brasileiro pode
ser contornado pela heteroclassifcao mltipla, isto , pela
classifcao das fotos RBCPed16.indd 124 13/04/15 16:01125 A cor dos
eleitospor mais de uma pessoa. A partir disso, podemos no apenas
produzir dados mais confveis, mas tambm medir a fuidez do nosso
sistema
classifcatrio.Sendoassim,osdadosqueseseguemsereferemaomodocomouma
equipedeclassifcadoresatribuiuumacor2aoscandidatosavereadorem 2012
nas duas maiores metrpoles brasileiras, Rio de Janeiro e So Paulo.
Usamos as trs principais categorias empregadas pelo IBGE (branco,
pardo
epreto),ignorandoascategoriasresiduais(amareloeindgena),asquais
costumam congregar menos de 2% da populao das regies pesquisadas.
Seguindo uma operao j costumeira na bibliografa especializada,
fundimos os candidatos classifcados como pardos e pretos na
categoria no brancos3. Isso se justifca porque os percentuais de
heteroclassifcados pretos costumam ser baixos e tambm porque as
pesquisas da rea tendem a mostrar estreita proximidade em termos
demogrfcos entre os dois
grupos.Aotodo,foramobtidasnositedoTribunalSuperiorEleitoral(TSE)
2.733candidaturas4,dasquais1.596referiam-seacandidatosavereador
pelo municpio do Rio de Janeiro e 1.137 pela cidade de So Paulo.
Todas foram submetidas classifcao de quatro pesquisadores. Embora
todos os classifcadores pertenam ao meio acadmico e possuam um
perfl socioec-onmico similar, o que pode sugerir um vis
classifcatrio, fundamental lembrar que no se pretende com tal
classifcao estabelecer objetivamente qual a cor dos candidatos. A
validade da heteroclassifcao mltipla tem de ser avaliada
pragmaticamente: se o modo como os candidatos foram clas-sifcados
acompanhar desigualdades estatisticamente relevantes, isso por si s
j sugere que tais classifcaes tm alguma validade. Isto , embora no
saibamos se o preto ou pardo que classifcado por outros se percebam
as-sim, ou se so percebidos como tais pela sociedade em geral, o
fato de eles 2Embora concordemos que o termo cor funcione no Brasil
como eufemismo para se falar do problema da raa e do racismo no
Brasil (Guimares, 1999), preferimos utiliz-lo por questes
metodolgicas, haja vista que a heteroclassicao feita por ns buscou
estabelecer somente a cor dos candidatos segundo as categorias do
IBGE (preta, parda ou branca).3H uma grande polmica tambm sobre a
utilizao do uso dessa expresso para designar a soma de pretos e
pardos. Como um de ns explorou em outra oportunidade (Campos,
2013), a maneira com que os estudiosos lidam com a categoria pardo
em seus estudos deixou de ser uma simples questo metodolgica para
se tornar um dilema poltico. Por conta disso, muitos autores tm
defendido que pretos e pardos devem ser considerados negros.
Entretanto, acreditamos que esse debate mais complexo e que aqueles
que se autodeclaram pardos no Brasil possuem uma heterogeneidade
identitria que deve ser considerada, como alguns estudos tm
indicado (Silva e Leo, 2012). Ademais, como optamos por trabalhar
com a heteroclassicao, torna-se ainda mais delicado atribuir uma
negritude a indivduos que certamente teriam sido classicados de
outro modo caso utilizssemos um modelo categorial
dicotmico.4Trabalhamos apenas com as candidaturas deferidas em 26
de dezembro de 2013.RBCPed16.indd 125 13/04/15 16:01126 Luiz
Augusto Campos e Carlos Machadoexperimentarem desigualdades de
forma especfca j pode ser visto como um indcio da validade dessas
heteroclassifcaes.A Tabela 1 contm as concordncias entre as
classifcaes obtidas. Em mais da metade dos casos (62,9%), houve
unanimidade classifcatria, isto , todos os quatro classifcadores
concordaram. Em um quarto dos casos (25%), houve grande coincidncia
nas classifcaes, j que apenas um classifcador optou por uma cor
diferente dos outros trs. Em apenas 12,1% dos casos houve empate.
Diante disso, optou-se por considerar como a cor do candidato
aquela que foi classifcada pela maioria dos codifcadores. Como os
casos em que houve em-pate no so estatisticamente relevantes, eles
foram submetidos ao julgamento de um quinto pesquisador incumbido
de desempatar a classifcao.Tabela 1 - Concordncias entre as
classifcaes binrias (branco e no branco)N %concordncia total (4x0)
1.718 62,9concordncia alta (3x1) 683 25concordncia baixa (2x2) 332
12,1total 2.733 100Fonte: Elaborada pelos
autores.HiptesesRecrutamento de candidaturas. Uma primeira hiptese
explicativa para a sub-representao dos pretos e pardos na poltica a
escassez de candida-turas. Ao menos em relao aos postos no
Legislativo federal, a sub-repre-sentao de mulheres parece refetir
a pequena participao delas nas listas lanadas pelos partidos
(Arajo, 2001). Todavia, esse efeito no uniforme nos diferentes
nveis federativos. Como mostram Miguel e Queiroz (2006), as chances
de sucesso eleitoral das mulheres aumentam consideravelmente quando
elas disputam os pleitos municipais do que as eleies
federais.Nossos dados indicam que algo semelhante acontece com os
pretos e par-dos no nvel municipal, sobretudo quando levamos em
conta a participao dos mesmos nas listas partidrias. Quando
comparamos a quantidade relativa de no brancos na populao dos dois
municpios com a proporo de no brancos candidatos, percebemos que as
disparidades so leves. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo,
37,8% dos candidatos lanados a vereador em 2012 foram classifcados
como no brancos, contra 31,6% em So Paulo. RBCPed16.indd 126
13/04/15 16:01127 A cor dos eleitosAinda que nas duas cidades
tenham percentuais maiores de pessoas que se autodeclaram pretas e
pardas (48% e 37,1%, respectivamente), a distncia entre as duas
propores no sufciente para explicar a presena diminuta de no
brancos entre os eleitos, como se pode observar no Grfco
1.Grfco1-Distribuiopercentualdosgruposdecornapopulao,candidaturaseeleitospara
vereador em 2012, nos municpios de Rio de Janeiro e So Paulo Fonte:
Elaborado pelos autores a partir de dados do TSE.Embora j seja
possvel perceber um fltro que impede os no brancos de se
candidatarem nas duas cidades, o fltro maior parece no estar na
oferta de candidaturas. Sendo assim, resta avaliar ainda trs
hipteses alternativas, a saber: aquela que explica a
sub-representao de pretos e pardos por de-sigualdades de capital
simblico; aquela que a explica a sub-representao por desigualdades
na distribuio de recursos de campanha; e aquela que presume um vis
discriminador nas escolhas eleitorais dos votantes.Capital
simblico. Pesquisas sobre recrutamento poltico vm chamando a ateno
para o fato de que recursos sociais mais simblicos, como nvel de
instruo, origem de classe, gnero etc., tm grande peso nas chances
eleitorais dos candidatos (Norris e Lovenduski, 1995). Constata-se,
por exemplo, que candidatos com nvel escolar maior tendem a receber
mais votos, do mesmo modo que indivduos oriundos das classes mais
altas da sociedade (Rodrigues, 2002; Perissinotto, Costa e Tribess,
2009; Norris, 1997). Para estimar em que medida o acesso a uma
classe social e instruo podem refetir nas chances eleitorais
menores de no brancos, levamos em considerao o patrimnio e a
populao(censo de 2010)populao(censo de 2010)candidaturas(2012)Rio
de Janeirobrancos brancos no brancos no brancosSo
Paulocandidaturas(2012)eleitos(2012)eleitos(2012)RBCPed16.indd 127
13/04/15 16:01128 Luiz Augusto Campos e Carlos Machadoescolaridade
declarada pelos candidatos ao TSE. Como indica o Grfco 2, os
candidatos no brancos aparecem concentrados no grupo dos sem
patrimnio declarado. J quando observamos aqueles com um patrimnio
valorado em at 100 mil reais, a presena dos dois grupos bastante
similar. A partir dessa faixa, a quantidade de no brancos decresce
em relao de brancos, sugerindo que a origem de classe pode ter
impacto nas chances eleitorais desse grupo:Grfco 2- Distribuio
percentual da cor dos candidatos de acordo com o patrimnio
declarado em reais ao TSE, nos municpios do Rio de Janeiro e So
Paulo (2012)Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do
TSE.Um padro semelhante acontece em relao educao formal. Como
indicamoGrfco3eoGrfco4,osbrancosestosobrerrepresentados
nosestratoscommaioreducaoformal.Essedadoimportanamedida em que a
posse de diploma de ensino superior costuma ser visto como um
importante ndice da posse de qualidades pessoais relevantes
politicamen-te. O ensino superior no afeta as chances de sucesso
eleitoral apenas pelo
acessoaconhecimentosespecfcos,mastambmpelasredesdecontato
sociaisquesoestabelecidasnoambienteuniversitrio,recorrentemente
umespaodeiniciaonavidapoltico-partidriadosaspirantesvida
pblica;pelaobtenodehabilidadesimportantesnojogopolticocomo boa
oratria, por exemplo.sem patrimnio patrimnio baixo(menos de 100
mil)patrimnio mdio(menos de 100 mile 400 mil)patrimnio alto(menos
de 400 mile 800 mil)patrimnio muito alto (mais de 800 mil)brancos
no brancosRBCPed16.indd 128 13/04/15 16:01129 A cor dos
eleitosGrfco 3 - Percentual dos candidatos conforme a cor e o nvel
de instruo, no municpio do Rio de Janeiro (2012)Fonte: Elaborado
pelos autores a partir de dados do TSE.Grfco 4 - Percentual dos
candidatos conforme a cor e o nvel de instruo, no municpio de So
Paulo (2012)Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do
TSE.ensinofundamentalincompletoensinomdioincompletoensinomdiocompletoensinosuperiorincompletoensinosuperiorescompletoensinofundamentalcompleto80.70.60.50.40.30.20.10.0.brancos
no
brancosensinofundamentalincompletoensinomdioincompletoensinomdiocompletoensinosuperiorincompletoensinosuperiorescompletoensinofundamentalcompleto80.70.60.50.40.30.20.10.0.brancos
no brancosRBCPed16.indd 129 13/04/15 16:01130 Luiz Augusto Campos e
Carlos MachadoContudo,emboraessesdadossugiramquenobrancostmmenos
chances eleitorais por possurem menor patrimnio e instruo, eles
tam-bmnosoconclusivos.Talvez,elesapenasindiquemqueospartidos
polticos preferem recrutar candidatos com maior nvel de instruo e,
por
conseguinte,tendemarecrutarmenosnobrancos,postoqueessecon-tingentedemogrfcotemrealmentemenosoportunidadeseducacionais
na sociedade. Novamente, preciso ponderar o peso estimado que ser
no branco tem na recepo de votos, sobretudo isolando outras
variveis como sexo, ocupao, instruo etc., o que ser feito a
seguir.Recursos de campanha. Os gastos de campanha tm um papel
central nas chances eleitorais dos candidatos e partidos polticos.
Essa a terceira hiptese. Como muitos estudos indicam, alta a
correlao entre as despesas
decampanhaeavotaoobtidapeloscandidatosnaseleiesbrasileiras (Lemos,
Marcelino e Pederiva, 2010). Porm, preciso tomar cuidado para no se
deduzir uma relao causal entre essas duas variveis. Embora seja
intuitivo supor que com mais recursos um candidato tenha mais meios
para convencermaiseleitores,htambmumarelaoinversaentreasverbas
investidas e as votaes. Isso porque candidatos que so vistos como
mais competitivos, a quem se atribui mais chances de ganhar, tendem
a ter mais
facilidadedecaptarrecursosdecampanha.Logo,aaltacorrelaoentre
despesas e votaes pode refetir, tambm, a maior facilidade daqueles
com votaes potenciais maiores em obter recursos.De todo modo, as
despesas de campanha so um fator fundamental para o acesso de
determinados indivduos a posies de poder e, em ambos os casos
analisados, verifca-se alta correlao entre votao e receita de
campanha. Nas eleies cariocas, a correlao entre receita da campanha
em reais e a proporo de votos recebidos pelo candidato a partir do
R de Pearson foi de 0,744; enquanto em So Paulo este indicador
assume o valor de 0,762. Sendo a receita de campanha um preditor da
votao aferida, a compreen-so da interao entre recursos disponveis a
candidatos no brancos pode contribuir para elucidar a baixa
representao desse
grupo.Apartirdosnossosdados,possvelperceberquebrancosdeclaram
receitas de campanha em mdia bem maiores que no brancos. No Rio de
Janeiro, brancos declararam ao TSE gastar em mdia 34 mil reais,
enquanto no brancos declararam receitas da ordem de 12 mil reais.
Em So Paulo,
ondeascampanhascostumamserbemmaiscaras,brancosgastaramem mdia 100
mil reais, enquanto no brancos gastaram em mdia 73 mil
reais.RBCPed16.indd 130 13/04/15 16:01131 A cor dos eleitosContudo,
essas mdias so infuenciadas pelo fato de haver alguns can-didatos
brancos com receitas vultuosas, bem como muitos candidatos no
brancos com despesas irrisrias. Para neutralizar os efeitos desses
outliers, preciso observar a distribuio dos candidatos de acordo
com a cor em cada faixa de renda (Grfco 5). Em ambas as capitais,
os no brancos esto concentrados nas faixas inferiores de renda, mas
as distncias so pequenas. Novamente, o universo de candidaturas em
So Paulo apresenta um cenrio menos desigual que o do Rio, o que
talvez explique por que a seletividade
racialnaseleiescariocasforammaiores.Porm,quandoobservamos
osestratosreferentessdespesasdecampanhasuperiores(maisde100
milreais),percebemosquehumasobrerrepresentaodebrancos.No Rio, esse
estrato superior concentra 8% dos candidatos brancos e apenas 2%
dos no brancos; enquanto em So Paulo ele composto por 15% dos
brancos e 10% dos no brancos.Grfco 5 - Distribuio percentual dos
grupos de cor por faixa de despesas de campanha em reais, nos
municpios do Rio de Janeiro e So Paulo (2012)Fonte: Elaborado pelos
autores a partir de dados do
TSE.Entretanto,essesdadosnososufcientesparaqueseatribuacor dos
candidatos desigualdade no acesso a recursos de campanha. Para tal,
preciso ponderar o peso relativo da cor em relao a outras variveis,
tradi-cionalmente levadas em conta quando se estima a maior ou
menor facilidade em se obter fnanciamento para campanha. Baseado
nisso, utilizamos um modelo de regresso linear para estimar o
impacto da cor do candidato so-menos de1 mil reais(585)menos de1
mil reais(585)de 1 mil e 10 mil reais(669)de 1 mil e 10 mil
reais(669)de 1 mil a 100 mil reais(247)de 1 mil a 100 mil
reais(247)mais de 100 mil reais(95)mais de 100 mil reais(95)Rio de
Janeirobrancos brancos no brancos no brancosSo
Paulo34.41.39.46.18.11.8.2.16.18.41.47.27.26.15.10.RBCPed16.indd
131 13/04/15 16:01132 Luiz Augusto Campos e Carlos Machadobre o
montante de recursos capitalizados para a campanha5. Consideramos
nos modelos trs variveis independentes, alm da cor: o sexo6, a
posse de diploma de ensino superior7 e a pertena a uma ocupao
profssional tra-dicionalmente da classe alta segundo o modelo
EGP8.Apesar da signifcncia estatstica entre cor do candidato e
acesso a recur-sos de campanha, o controle desta relao com demais
variveis evidencia que ela tem um impacto menor do que as outras
caractersticas do candidato sobre o incremento dos recursos de
campanha disponveis. De acordo com o modelo 1 da Tabela 2,
candidaturas de no brancos9 captam 53% menos receita do que
candidatos brancos. Entretanto, o controle desse efeito com outras
variveis como sexo, instruo e profsso do candidato aponta a cor do
candidato como um trao secundrio, apesar da manuteno do
efeito.Tabela 2 - Modelos de regresso linear (varivel dependente:
log da porcentagem de receita)modelo 1 (R=,018) modelo 2 (R=,071)
modelo 3 (R=,092)B std. B B std. B B std. B(constante) -4,387*
-4,523* -4,818* no branco -,529* -,134 -,369* -,093 -,305*
-,077feminino -,687* -,165 -,581* -,140ensino superior ,651* ,171
,457* ,120classe alta ,599* ,159Fonte: Elaborada pelos autores a
partir de dados do TSE.* Signifcativo a 5%5Para o tratamento da
receita de campanha como varivel dependente do modelo de regresso
linear
proposto,foinecessriomodicaravarivel.Aprincpiofoicalculadaaproporoentreosvotos
recebidos pelos candidatos e o somatrio de votos recebidos por
todos os candidatos. A partir desses dados, calculou-se o log
natural proporo de votos.6O sexo dos candidatos foi tratado nos
modelos de regresso atravs da classicao de candidaturas do sexo
feminino com o valor 1 e do sexo masculino com o valor
0.7Aformaodoscandidatosfoitratadanosmodelosderegressoapartirdauniodascategorias
Ensino superior incompleto e Ensino superior completo com a
atribuio do valor 1 para candidatos que tiveram alguma passagem
pelo ensino superior e o valor 0 em caso negativo. 8Para agrupar as
ocupaes prossionais em classes, utilizamos o modelo EGP proposto
por Erikson, Goldthorpe e Portocarero (1979). No anexo ao nal deste
artigo, explicamos os critrios de classicao das ocupaes desse
esquema. Nas anlises a seguir, o tratamento das ocupaes se refere
ao efeito
deocandidatopossuirumaocupaoclassicadacomopertencenteclassealta,asquaisforam
categorizadas com o valor 1, enquanto s demais ocupaes atribuiu-se
valor 0.9A cor dos candidatos foi tratada nos modelos de regresso
atravs da classicao de candidaturas de no brancos com o valor 1 e
brancos com o valor 0.RBCPed16.indd 132 13/04/15 16:01133 A cor dos
eleitosCandidaturas de no brancos apresentam em mdia 37% menos
recursos de campanha do que brancos, ao se controlar pelo sexo e
pela formao, que, no entanto, apresentam um impacto maior sobre o
acesso receita de cam-panha. Em mdia, mulheres recebem 69% menos do
que homens e pessoas que tiveram acesso ao ensino superior recebem
65% a mais do que aqueles sem a mesma oportunidade. Contudo, o
ltimo modelo atesta a importncia
daocupaoprofssionaldocandidatoparaobtermaiorfnanciamentode
campanha, pois aqueles identifcados na classe alta recebem em mdia
mais de duas vezes o fnanciamento em relao queles em ocupaes
profssionais tra-dicionalmente de classe mdia ou baixa. Alm disso,
o efeito observado por ter frequentado o ensino superior atenuado
quando h o controle da ocupao. O modelo sugere que o efeito de ser
no branco perde poder explicativo
comaadiodeoutrosaspectosqueconstituemoperfldoscandidatos.
Entretanto,omodeloderegressoutilizadopressupealinearidadedos
efeitos entre as variveis, de modo que toda alterao de uma unidade
na varivel dependente, no caso a receita, pressupe substantiva
alterao na condiodocandidatoobservado.Adiferenaentreumcandidatoque
dispe de mil reais diante de outro com 21 mil reais tomada como
tendo o mesmo impacto que a diferena entre 21 mil reais e 41 mil
reais, mesmo se supondo que unicamente candidatos cujo investimento
ultrapasse 30 mil reais tenham efetivamente chance de sucesso
eleitoral.Considerandoquetodosistemaeleitoralcarregaemsiumalgicade
concentrao, a qual opera atravs de elementos de distino
poltico-social, a vasta maioria dos candidatos sequer pode sonhar
em ser eleito. Ser entre
oscandidatosdosestratosmaiselevadosdedistinopoltico-eleitoral mais
atraentes ao eleitorado e com real possibilidade de eleio10 que se
encontram os postulantes efetivos a cargos eletivos. Um modelo
linear no permite apreender esse acirramento da disputa por
recursos na competio por formao de diferenciao social necessria ao
sucesso eleitoral. Uma primeira vista sobre essa questo encontra-se
na Tabela 3, na qual a receita divulgada pelos candidatos foi
recortada em dez partes iguais e calculada a porcentagem de no
brancos em cada uma das
partes.10Emespecialdevidoaosefeitosdasregraseleitorais.Nocasobrasileiro,nobastaaconcentrao
devotaoemcandidatos,poisseroeleitossomentecandidatosdepartidosoucoligaesque
ultrapassem o quociente eleitoral (a diviso entre votos vlidos e o
nmero de vagas em disputa em dado distrito eleitoral).RBCPed16.indd
133 13/04/15 16:01134 Luiz Augusto Campos e Carlos MachadoTabela 3
- Proporo de no brancos por decil da receita, por municpio
(2012)receita Rio de Janeiro So Paulo1 e 2 decil*38,6% 33,0%3 decil
43,1% 35,1%4 decil 51,6% 36,0%5 decil 46,3% 39,5%6 decil 44,1%
27,4%7 decil 38,0% 30,2%8 decil 33,8% 34,8%9 decil 28,8% 21,9%10
decil 16,4% 24,8%Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados
do
TSE.*Parafacilitaraorganizaodosdadosforamunidososdoisprimeirosdecis,devidoquantidadedecandidatosque
apresentavam valores muito baixos ou inexistentes.A igualdade entre
perfs de brancos e no brancos pode ser assumida nas pri-meiras
divises da receita, mas a comparao com os cortes superiores
evidencia a diminuio no nmero de no brancos entre candidatos com
maior potencial de atrao de recursos. Portanto, no conjunto dos
estratos com maior chance de vitria eleitoral, onde h maior
acirramento da competio, que opera um entrave quanto ao acesso a
recursos importantes para candidatos no brancos. Quando se
considera estar no ltimo decil a quase a totalidade dos eleitos em
ambas as cidades, apenas cerca de 16% dos cariocas e 25% dos
paulistanos no so brancos. A igualdade de condies entre aqueles sem
chance de galgar uma
posioelevadanalistadaslegendasemnadacontribuiparaelevarosno brancos
a uma posio de efetivamente poderem almejar representao
poltica.Porm, uma vez que a Tabela 3 traz informaes apenas da cor
dos candida-tos, ainda possvel questionar se a relao observada se
refere ao efeito da cor dos eleitos, ou se traria o efeito especfco
da formao dos candidatos. A Tabela 2 atesta o pertencimento classe
alta como um componente fundamental ao acesso de recursos de
campanha, cujo efeito supera aquele apresentado para o acesso ao
ensino superior, caracterstica de praticamente todos os candidatos
eleitos. possvel que o baixo nmero de no brancos no ltimo decil da
receita
decampanhadecorradadifculdadedesseperfldecandidaturasacessaras
ocupaes de maior distino na sociedade. Dessa forma, foi observada a
dis-tribuio entre os decis da receita das candidaturas de classe
alta, diferenciando brancos e no brancos, como se pode observar no
Grfco 6.RBCPed16.indd 134 13/04/15 16:01135 A cor dos eleitosGrfco
6 - Distribuio percentual de candidatos com ensino superior, por
cor e decil da receita de campanha (2012)Fonte: Elaborado pelos
autores a partir de dados do TSE.A concentrao de no brancos de
classe alta ocorre no 9 decil. H, contu-do, grande disparidade
quando comparada com a quantidade de brancos com o perfl
selecionado no mesmo decil. At o 8 decil, a diferena da concentra-o
de brancos e no brancos de classe alta em cada diviso equivalente,
ou apresenta ligeira vantagem para no brancos. No entanto, a partir
do 9 decil, no por acaso onde se concentram as maiores somas de
dinheiro investidos em campanha, perceptvel a diferena na
quantidade de brancos e no brancos.Votao. Quanto votao obtida, no
brancos recebem em mdia menos da metade dos votos que brancos. Nas
eleies analisadas dos dois municpios, a proporo mdia de votos
recebidos11 por brancos foi de 0,0897% contra 0,0410% de no
brancos. Tal discrepncia similar em ambos os municpios. No Rio de
Janeiro, candidatos a vereador brancos receberam em mdia 0,0772%
dosvotoscontra0,0309%doscandidatosnobrancos;enquantoemSo Paulo, os
percentuais foram 0,1056% e 0,0579% para brancos e no brancos,
11Comoestamostrabalhandocomeleiesemmunicpiosdistintos,optamosportrabalharcoma
quantidade relativa de votos recebidos de modo a tornar os dados
comparveis.brancos no brancos1o e 2odecil30.25.20.15.10.5.0.3o
decil 4o decil 5o decil 6o decil 7o decil 8o decil 9o decil 10o
decilRBCPed16.indd 135 13/04/15 16:01136 Luiz Augusto Campos e
Carlos Machadorespectivamente. Em termos absolutos, candidatos
brancos no Rio de Janeiro receberam em mdia 2.200 votos contra 881
votos de no brancos; j em So Paulo, brancos tiveram em mdia 4.707
contra 2.581 de no brancos.No entanto, isso no basta para se afrmar
que existe maior preferncia dos eleitores por candidatos brancos.
As discrepncias apontadas podem refetir outras desigualdades, entre
elas menos capital poltico e menor acesso ao ensino superior dos no
brancos. Por isso, do mesmo modo que procedemos com as receitas de
campanha, fez-se necessrio estabelecer o peso ponderado da cor dos
candidatos em relao ao peso das outras variveis computadas, o que
aparece na Tabela 4.Tabela 4 - Modelos de regresso linear (varivel
dependente: log da porcentagem da votao) modelo 1 (R=,011) modelo 2
(R=,162) modelo 3 (R=,185)B std. B B std. B B std. B(constante)
-3,979* -3,886* -4,158* no branco -,361* -,102 -,175 -,050 -,120
-,034feminino -1,326* -,360 -1,218* -,331ensino superior ,592* ,172
,413* ,120classe alta ,556* ,165Fonte: Elaborada pelos autores a
partir de dados do TSE.* Signifcativo a
5%Candidatosnobrancosrecebemmenorvotaodoquecandidatos brancos, porm
esse efeito perde signifcncia estatstica ao se considerar o sexo
dos candidatos, a formao e sua ocupao. interessante notar que, com
a instituio das cotas femininas no Brasil, houve aumento no nmero
de candidaturas de mulheres12 de tal forma que provavelmente grande
parte dessas candidaturas sejam meramente formais, com o intuito de
cumprir a cota, sem haver um verdadeiro investimento dos partidos
em tais candidatu-ras. No entanto, faz-se necessrio esclarecer que
a comparao entre receber mais votos e efetivamente ser um candidato
com reais chances de eleio no plenamente evidente atravs do modelo
apresentado.Idealmente a competio eleitoral democrtica suporia
iguais chances de
vitriaentretodososcandidatos.Essasuposio,contudo,irrealquando
12Particularmente as eleies de 2012 destacam-se como as primeiras
em que quase todos os partidos
efetivamenteapresentaram30%decandidaturasfemininas.Issoconsistenteaoseobservarque
mulheres recebem em mdia votao muito abaixo daquela recebida por
homens. Agradecemos a Luis Felipe Miguel por apontar essa
questo.RBCPed16.indd 136 13/04/15 16:01137 A cor dos
eleitosselevaemcontaaseleiesconcretas.Apenaspouqussimascandidaturas
se distinguem entre tantas para que possam somar votos sufcientes e
terem alguma chance de vitria. Nas eleies para vereador no Rio de
Janeiro, por exemplo, praticamente no h uma distino em termos de
competividade entre um candidato que recebe dez votos e outro que
recebe 6 mil votos, pois ambos no seriam eleitos. Entretanto, a
diferena entre receber 6 mil votos e 6.015 garante uma cadeira
parlamentar13. A diferenciao entre candidaturas a partir do acmulo
de votos trata candidaturas muito dspares em relao efetiva chance
de obterem sucesso eleitoral. Logo, considerar a competitividade
das candidaturas pode auxiliar a com-preender de forma mais precisa
o impacto da cor sobre as chances de sucesso eleitoral. Para
diferenciar uma candidatura competitiva de outra no compe-titiva,
usamos como critrio a proximidade de votao de um candidato com
aqueles eleitos que receberam as menores votaes. Isso nos levou a
distinguir as candidaturas com apelo eleitoral substantivo daquelas
que so meramente fgurativas e usadas para preencher as listas
eleitorais. Dessa feita, foram cate-gorizadas como candidaturas
competitivas aquelas que obtiveram ao menos 20% da votao recebida
pelo ltimo candidato eleito. A partir dessa informa-o, tornou-se
possvel averiguar o efeito das caractersticas dos candidatos sobre
a sua chance de apresentar uma candidatura eleitoralmente
competitiva, como abordado atravs da regresso logstica apresentada
na Tabela 5.Tabela 5 - Modelos de regresso logstica (varivel
dependente: candidatura competitiva) modelo 1 (C&S=,011) modelo
2 (C&S=,032) modelo 3 (C&S=,044)B exp (B) B exp (B) B exp
(B)no branco -1,12* ,33 -,89* ,41 -,79* ,45feminino -,98* ,38 -,79*
,46ensino superior 1,11* 3,03 ,79* 2,20classe alta 1,25* 3,48Fonte:
Elaborada pelos autores a partir de dados do TSE.* Signifcativo a
5%O tratamento do efeito da cor do candidato apresenta impacto
signifcativo no primeiro modelo, o qual se mantm a despeito das
contribuies de sexo, formao escolar e ocupao profssional. Com base
no modelo 2, candidatos/13Nesse caso, o fato de ser eleito com
6.015 votos no se deve apenas votao do candidato, mas posio que o
mesmo ocuparia na lista da coligao da referida eleio. RBCPed16.indd
137 13/04/15 16:01138 Luiz Augusto Campos e Carlos Machadoas no
brancos/as teriam chance 41% menor de apresentar uma candidatura
competitiva em comparao a brancos/as, efeito muito parecido com a
con-diodemulheres,comumachance38%menordeseremcaracterizadas como
competitivas. importante ressaltar a variao do efeito da cor entre
o modelo 1 e 2, pois o controle do acesso ao ensino superior
tratado no segundo modelo acirra o efeito de ser no branco. Mas, ao
se considerar a diferena relativa classe, as caractersticas
testadas anteriormente apresentam um efeito comparativamente
reduzido, em particular aquele referente ao ensino superior. Mas
tal como fora observado na anlise sobre a receita dos candidatos,
os modelos considerados na regresso no se adquam bem s
desigualdades que caracterizam a distribuio de votos. Os
constrangimentos para o sucesso eleitoral de polticos no brancos no
so similares em toda a estrutura com-petitiva e, ao que parece, se
fazem mais fortes especifcamente na competio entre aqueles que
recebem mais votos. Por isso, necessrio analisar mais atentamente a
distribuio da votao dos candidatos. Novamente o que se observa uma
igualdade entre brancos e no brancos nas faixas de menor votao com
uma abrupta reduo no nmero de candidatos no brancos no ltimo decil,
como se pode observar na Tabela 6. Tabela 6 - Proporo de no brancos
por decil de votao, por municpio (2012)receita Rio de Janeiro So
Paulo1 decil 31,4% 29,2%2 decil 52,2% 42,6%3 decil 43,4% 35,4%4
decil 43,8% 30,7%5 decil 34% 41,1%6 decil 41,9% 33,3%7 decil 37,1%
35,1%8 decil 41,3% 27,2%9 decil 36,9% 23,7%10 decil 17% 19,5%Fonte:
Elaborada pelos autores a partir de dados do TSE.O que se percebe
com a anlise dos decis de votao na Tabela 6 e da receita na Tabela
3 a abrupta alterao da composio das faixas com maior concentrao de
votos e recursos em termos raciais. Isso pode indicar que o
RBCPed16.indd 138 13/04/15 16:01139 A cor dos eleitosperfl de
candidaturas no brancas recebido pelos fnanciadores de campa-nha, e
pelos eleitores, como um trao no desejado entre o grupo de pessoas
cuja estima social se concentra. O municpio de So Paulo apresenta
dados ainda mais contundentes. Se o ltimo decil da receita
apresentava em torno de 24% de no brancos, o mesmo decil em relao
quantidade de votos composto por apenas 19% desse grupo de cor. No
caso do Rio de Janeiro, nem sequer h o descompasso entre as duas
situaes, pois o ltimo decil contm cerca de 16% (quanto receita) e
17% (quanto votao) de no
brancos.Damesmaformacomofoitrabalhadonaanlisesobreareceitade
campanha, necessrio distinguir que a anlise com base na distribuio
da votao apresenta um vis especfco decorrente da cor dos
candidatos,
mesmoquandocontrolamosapassagempelaclassealta.Comoindicao Grfco 7,
candidatos no brancos de classe alta, porm pouco competitivos
(localizados entre o 1 e o 8 decil de votao), se distribuem nesse
estrato de modo semelhante aos candidatos no brancos com o mesmo
perfl. Porm, essa situao se inverte no ltimo decil de votos:Grfco 7
- Distribuio percentual de candidatos com passagem pela classe
alta, por cor e decil de votao (2012)Fonte: Elaborado pelos autores
a partir de dados do TSE.brancos no brancos1o
decil30.25.20.15.10.5.0.3o decil 4o decil 5o decil 6o decil 7o
decil 8o decil 9o decil 10o decilRBCPed16.indd 139 13/04/15
16:01140 Luiz Augusto Campos e Carlos
MachadoTalcomonocontextodareceita,praticamenteinexistemvariaesno
perfl das candidaturas de brancos e no brancos at o 9 decil. Mas
como j foi abordado anteriormente, no ltimo decil, onde a
concentrao de votos maior, que se localizam praticamente todos os
eleitos. nesse estrato em que a competio poltica mais importante
para se obter uma cadeira legislativa que a distncia entre brancos
e no brancos se torna mais forte, mesmo se consideramos apenas
aqueles que possuem ensino superior. Cerca de 28% dos brancos com
algum vnculo a ocupaes profssionais tidas como de classe alta
encontram-se no ltimo decil, ao passo que apenas 17% dos
nobrancosapresentamesseperfl.Quandoadisputairrelevante,raa no
importa, mas o mesmo no se pode afrmar quando se caracteriza um
cenrio de competio poltica.ConclusoPor vrias razes, os dados
discutidos at aqui no permitem responder de forma conclusiva a
questo que abre este artigo, a saber: Por que exis-tem poucos
polticos pretos e pardos nas instncias decisrias brasileiras?
Trabalhamos aqui com um conjunto restrito de informaes, referentes
s eleiesparavereadorde2012emdoisgrandesmunicpios.Ademais,o mtodo de
atribuio da pertena racial dos candidatos pode ser criticado em
vrias frentes. Contudo, essas informaes apresentam evidncias
con-tundentes para testar algumas hipteses explicativas para a
marginalidade poltica dos negros. possvel, a partir desses dados,
descartar algumas respostas aparente-mente plausveis para o
problema. Em primeiro lugar, no possvel atribuir a sub-representao
de no brancos relativa escassez de candidatos com esse perfl. De
fato, existem menos candidatos no brancos nas listas partidrias
doqueaproporodessegruponapopulaodeambososmunicpios. Porm, esse
hiato no grande o sufciente para explicar a magnitude da
sub-representao deles na poltica, o que, alis, corrobora os dados
encon-trados por Bueno e Dunning (2013).No Rio de Janeiro, cidade
que continha 48% de no brancos autodeclara-dos em 2010, 37,8% dos
candidatos foram classifcados como pretos ou par-dos. Em So Paulo,
cidade em que 37,1% da populao se autodeclarou preta ou parda em
2010, 31,6% das candidaturas foi composta de pretos e pardos.
Embora haja uma diminuio na proporo de candidatos no brancos em
RBCPed16.indd 140 13/04/15 16:01141 A cor dos eleitosrelao populao
desses municpios, a proporo de eleitos sofre um corte bem maior, j
que apenas 9,8% dos vereados do Rio de Janeiro e 16,4% dos
representantes de So Paulo foram classifcados como pretos ou
pardos. possvel explicar esses hiatos de diferentes formas. Como
vimos, can-didatos no brancos possuem menos recursos simblicos
eleitoralmente
valiosos(instruoepatrimnio,basicamente)queseusconcorrentes brancos.
Todavia, vale notar que as distncias entre brancos e no brancos
aumenta somente quando observamos os estratos superiores de
patrimnio e instruo. O nmero de no brancos entre os candidatos sem
patrimnio oucomumpatrimniomdioprximodaquantidadedebrancos.O mesmo
no acontece entre aqueles com um patrimnio alto ou muito alto. Isso
vale tambm para os nveis de instruo. Abstraindo as nuances de cada
cidade, os no brancos aparecem sub-representados mormente nos
estratos com mais instruo, em especfco naqueles que congregam quem
possui ensino superior incompleto ou completo.Mas essas
desigualdades no servem por si s para que se atribua uma
desvantagem competitiva aos no brancos. Como notrio, esse estrato
da populao brasileira costuma advir das classes mais baixas de
nossa hierar-quia socioeconmica e, por isso, sempre delicado afrmar
que as desvan-tagens que eles enfrentam podem ser atribudas sua
pertena racial. Na tentativa de isolar o efeito da raa sobre o
efeito da instruo ou da classe, se fez necessrio correlacionar o
acesso dos candidatos a recursos eleitorais
relevantes(basicamentefnanciamentosparacampanhaevotos)aoutras
variveis em modelos multivariados de regresso.Quando tomamos o
acesso a fnanciamento de campanha como varivel
dependente,percebemosmaiordifculdadedoscandidatosnobrancos
emobterrecursos,oquepersistiumesmoquandocontrolamosoefeito do sexo
e do grau de instruo. Embora ter o ensino superior e uma ocu-pao
profssional tradicionalmente da classe alta e ser homem facilitem o
acesso a fnanciamento, ser no branco tem ainda assim um efeito
sobre esse recurso. Contudo, a regresso deve ser lida com cautela,
haja vista a
distribuioabsurdamentedesigualnosnveisdereceita,comoindicou
aanlisedosdecis.Porcontadisso,precisocontrolaroefeitodaraa
sobreoacessoafnanciamentodecampanhadeoutraforma.Optamos por fazer
esse controle verifcando em que medida h uma desigualdade de acesso
a recursos de campanha entre candidatos brancos e no brancos
RBCPed16.indd 141 13/04/15 16:01142 Luiz Augusto Campos e Carlos
Machadoidentifcadoscomoclassealta,critriofundamentalparaaobtenode
mais recursos de campanha, como observado na regresso tratada
anteri-ormente. Essa anlise indica que os no brancos com ocupaes de
classe alta se concentram relativamente mais entre o 3 e o 8 decis
de despesas eleitorais. Essa situao se inverte apenas nos dois
ltimos decis, nos quais os brancos predominam. Em outros termos, s
possvel notar
desigual-dadesnoacessoareceitasdecampanhaporcorquandocontrolamosa
instruo nos ltimos
decis.Algodistintoocorrequandoobservamosasvotaesrecebidaspor
brancos e no brancos. A raa aqui no apresentou um efeito
signifcativo ao controlarmos seu efeito na recepo de votos levando
em conta outras variveis como sexo, ensino superior ou ter de uma
profsso tradicional-mente de classe alta. Mas, novamente, essa
regresso tem limites, haja vista
adistribuioaindamaisdesigualdosvotospeloscandidatos.Portanto,
maisimportantequeconsiderarototaldevotosrecebidosobservarem que
medida h uma desigualdade de acesso dos no brancos a um piso de
votos capaz de tornar sua candidatura minimamente competitiva. E
aqui que as desigualdades de oportunidades polticas entre brancos e
no brancos se torna maior. Ser no branco difculta sobremaneira o
acesso aos estratos
maiscompetitivosdaseleies,mesmoquandolevamosemcontaoutras variveis.
O efeito negativo de no ser branco se torna comparvel ao efeito
desermulher,entendendo-searelevnciadoltimodevidoaoimpacto
persistente nos modelos abordados anteriormente. Quando controlamos
o peso de ser no branco no acesso aos votos e, ao mesmo tempo,
isolamos a posse de diploma de ensino superior, h um padro de
desigualdade se-melhante ao que ocorre no acesso a fnanciamento.
Brancos e no brancos se distribuem pelas faixas de votos de modo
bastante semelhante. A nica exceo est no estrato que congrega as
maiores votaes, em que h absoluta predominncia de
brancos.Essasobservaesnospermitemensaiaralgumasconcluses.Em
primeiro lugar, parece haver uma perniciosa interao entre as
dinmicas sociolgicas da discriminao racial no Brasil e o
funcionamento prprio do nosso sistema eleitoral. Do ponto de vista
sociolgico, nossos dados parecem corroborar a ideia de que os no
brancos enfrentam difculdades maiores de ascenso medida que se
acirra a competitividade por recursos socialmente valiosos nas
esferas em que eles penetram. Essa ideia j se faz presente na
RBCPed16.indd 142 13/04/15 16:01143 A cor dos eleitosliteratura
acadmica brasileira sobre relaes raciais desde trabalhos como o de
Charles Wagley (1963), que em seus estudos no Recncavo baiano j
reconheciaquedadoqueacompetioparapertenceraessaclassealta local e
que a competio por prestgio dentro dela relativamente intensa,
nesse ponto da hierarquia social que o critrio raa se torna mais
crucial nadeterminaodaposiosocial(Wagley,1963,p.52;traduodos
autores). Porm, tal hiptese s se torna central nas explicaes de
nossas desigualdades a partir dos estudos de Carlos Hasenbalg e
Nelson do Vale Silva (Hasenbalg e Silva, 1988, 1984; Hasenbalg,
2007). Para esses autores, a difuso no Brasil de uma ordem
competitiva capitalista e moderna no foi sufciente
parareduzirasubalternidadesocialdonegro,comoconjecturavaalguns
expoentesdasegundageraodoProjetoUnesco,emespecial,Florestan
Fernandes(2007).Aocontrrio,onegroparecepermanecerenfrentando
difculdadesdeascensomesmonessaordemcompetitiva.Comoafrma Hasenbalg
(2007, p. 123), se as pessoas entram na arena competitiva com
osmesmosrecursos,excetonoquesereferefliaoracial,oresultado
(posiodeclasse,ocupao,rendaeprestgio)dar-se-emdetrimento dos no
brancos.Lendo nossos dados luz da bibliografa recente sobre as
difculdades deascensodosnegrosnoBrasil,possvelconjecturarquecenrios
competitivosnoapenaspermanecemdiscriminandoessegrupo,mas
discriminam-no ainda mais. Noutros termos, a discriminao racial no
apenas permanece operando em cenrios de competio, mas o aumento
dessa competio parece aumentar a marginalizao dos negros. Nas
faixas de receita e votao das eleies em que a competitividade dos
candida-tosmenor,asituaodosnobrancospoucodiferentedaquelados
brancos. J nas faixas que concentram as candidaturas mais
competitivas,
asdistnciasentreosdoisgruposaumentamsensivelmente,sempreem prejuzo
dos no brancos.Mas para responder questo que nos motiva aqui
preciso conectar essa hiptese sociolgica com o funcionamento
especfco das democracias rep-resentativas como a nossa. A despeito
do discurso igualitrio, subjacente aos mecanismos de seleo
eleitoral prprios das democracias representativas, a eleio no
garante por si s a igualdade de oportunidades. Ao contrrio,
ocomponentedemocrticodaseleiesnodecorredaigualdadede oportunidade
entre os competidores, mas do igual peso de cada eleitor em
RBCPed16.indd 143 13/04/15 16:01144 Luiz Augusto Campos e Carlos
Machadoum contexto de sufrgio universal. Como destaca Bernard Manin
(2002),
eleieslivresdoaoeleitorapossibilidadedeescolherorepresentante
poltico a partir da caracterstica que ele reputar mais relevante e,
por isso, sero selecionadas pela via do voto candidaturas cuja
proeza ser se destacar-se em meio diversidade de opes (Manin, 2002,
p. 136). Logo, nenhum dos mecanismos das eleies ao redor do mundo,
atualmente consideradas
democrticas,pretendetrataroscandidatoscomalgumajustiassuas
caractersticas. Uma das caractersticas centrais da eleio ,
portanto, que ela no visa produzir representantes similares aos
eleitores, mas o oposto
disso(Manin,2002,p.160).Notoa,humatendnciaemboaparte das
democracias atuais de que a representao parlamentar [fornea] uma
imagem invertida da estrutura social (Gaxie, 2012, p. 166).Por
conta desse elemento aristocrtico das democracias representati-vas,
as chances de sucesso eleitoral esto condicionadas capacidade de
acesso de um dado grupo social a uma elite de candidatos
competitivos. No basta apenas que uma parte considervel das
candidaturas seja de no brancos ou que as desigualdades
prejudiciais a eles sejam pequenas para a maioria dos candidatos.
Os eleitos permanecem sendo aqueles que esto no topo tanto em
termos da distribuio de recursos de campanha como
nosltimosestratosdevotao.Noutrostermos,nobastaapenaster maior
acesso mdio a recursos e votos para se eleger, preciso ter acesso
ao seleto grupo com mais recursos do que todos os
demais.Deumlado,adiscriminaoracialnasociedadebrasileiraparecese
tornar mais presente em cenrios em que a competio por recursos
sociais mais acirrada. De outro lado, o princpio aristocrtico de
distino que
caracterizaaseleiesnasdemocraciasrepresentativasfazcomqueos eleitos
sejam recrutados mormente das candidaturas mais competitivas. E
justamente desse estrato que os negros esto excludos. Isso sugere
que uma partilha mdia mais equnime das receitas de campanha ou uma
cota para pretos e pardos nas listas partidrias possam ser medidas
de ganhos duvidososparaamitigaodasub-representaodenegrosnasesferas
decisrias.Maisdoqueisso,precisoinclu-losnosestratossuperiores de
competitividade.RBCPed16.indd 144 13/04/15 16:01145 A cor dos
eleitosAnexos Anexo 1 - Classifcao de ocupaes segundo o modelo
EGPPara estabelecer em que medida as desigualdades entre brancos e
no brancospodemseratribudassdesigualdadesdeclasse,optamospor
classifcaroscandidatosdeacordocomomodeloEGPdeclasses,pro-posto por
Robert Erikson, John Goldthorpe e Luciene Portocarero (1979). Nesse
modelo neoweberiano, as classes se defnem basicamente pelas re-laes
empregatcias que seus membros estabelecem dentro do mercado
detrabalho(empregadores,autnomoseempregados)esuassituaes no mercado
(nveis de renda, graus de segurana econmica etc.) e suas
situaesdetrabalho(autoridadesobreoutrosempregados,autonomia de suas
atividades etc.). Baseado nisso, os autores propem uma diviso
analtica em sete classes (ver Quadro 1). Uma vantagem desse modelo
a sua versatilidade analtica, j que ele permite diferentes
redefnies das
classesapartirdassuasfusesemgruposmaiores.OQuadro1mostra no apenas
essa tipologia, mas nossa proposta de fuso em trs grandes grupos.
Decidimos restringir a extenso da categoria classe alta primeira
classe do esquema EGP basicamente, porque a maior parte dos
candidatos provm dessas ocupaes mais altas.Quadro 1 Modelo EGP de
classesclassifcao nmero ocupaes e/ou situaes de trabalhoclasse alta
IProfssionais, administradores e encarregados de alto nvel;
gerentes de grandes indstrias e grandes proprietrios.classe
mdiaIIProfssionais de baixo nvel, tcnicos de alto nvel,
administradores de baixo nvel, gerentes em grandes estabelecimentos
industriais e de servios; e supervisores de trabalhadores no
manuais.III Empregados no setor no manual de rotina.IVPequenos
proprietrios, artesos por conta prpria e outros trabalhadores por
conta prpria.classe baixaV Tcnicos de baixo nvel e supervisores de
trabalhadores manuais.VI Trabalhadores manuais qualifcados na
indstria. VIITrabalhadores manuais semiqualifcados ou sem qualifcao
e trabalhadores na agricultura.Fonte: Erikson, Goldthorpe e
Portocarero (1979).RBCPed16.indd 145 13/04/15 16:01146 Luiz Augusto
Campos e Carlos MachadoAnexo 1 - Anlise dos resduos da regresso da
porcentagem da receitaNormal P-P Plot of Regression Standardized
ResidualDependent Variable: receita_porc_InExpected Cum
ProbObserved Cum ProbScatterplotDependent Variable:
receita_porc_InRegression Standardized Predicted ValueRegression
Standardized ResidualRBCPed16.indd 146 13/04/15 16:01147 A cor dos
eleitosAnexo 2 - Anlise dos resduos da regresso da porcentagem da
votaoNormal P-P Plot of Regression Standardized ResidualDependent
Variable: votos_porc_InExpected Cum ProbObserved Cum
ProbScatterplotDependent Variable: votos_porc_InRegression
Standardized Predicted ValueRegression Standardized
ResidualRBCPed16.indd 147 13/04/15 16:01148 Luiz Augusto Campos e
Carlos
MachadoRefernciasARAJO,Clara(2001).Ascotasporsexoparaacompetiolegislativa:
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fato de que a poltica nacional majoritariamente
branca.Levantamentosrecentesindicamqueaproporodenegrosnoparlamento
federal nunca ultrapassou os mseros 9%. Mas a despeito dessa
evidente marginalidade,
poucosesabesobreascausasdessasub-representaopoltica.Esteartigopretende
elucidar quais so os principais fltros que afastam os no brancos,
pretos e pardos, da poltica brasileira. Para tal, foi feito um
levantamento sobre a cor dos candidatos a verea-dor nas eleies de
2012 nas duas maiores cidades brasileiras: So Paulo e Rio de
Janeiro. Diante da carncia de registros ofciais sobre a raa ou cor
desses candidatos, optamos por submeter suas fotos,
disponibilizadas pelo TSE, classifcao de uma equipe de
pes-RBCPed16.indd 150 13/04/15 16:01151 A cor dos
eleitosquisadores. Os resultados permitiram entender at que ponto o
alheamento poltico dos no brancos brasileiros se deve: (i) a vieses
no recrutamento partidrio; (ii) s diferenas de capital educacional
e patrimnio entre os candidatos brancos e no brancos; (iii) s
desigualdadesnadistribuiodosrecursospartidrioseeleitorais;ou(iv)sprprias
prefernciaseleitoraisdosvotantes.Aoqueparece,aschanceseleitoraisdospretose
pardos refetem as difculdades que esses grupos tm em ascender
pequena elite de candidatos que possuem os maiores fnanciamentos e
as maiores
votaes.Palavras-chave:Raa,eleies,representaopoltica,desigualdadepoltica,eleies
municipais.AbstractItseemsbeyondcontroversythatnationalpoliticsinBrazilismostlywhite.Recent
assessments indicate that the proportion of blacks in the federal
parliament has never exceeded a mere 9%. Despite this apparent
marginalization, there is scant information
aboutthecausesofthispoliticalunder-representation.Thisarticleaimstoclarifythe
flters that keep non-white, black and brown people out of Brazilian
politics. Therefore, an evaluation was conducted on the colors of
candidates running for city councilor in the 2012 elections in the
countrys two largest cities: So Paulo and Rio de Janeiro. Given the
lack of ofcial records on the race or color of those candidates, we
decided to submit their photos provided by the Electoral Supreme
Court, to be classifed by a team of researchers. The results
allowed understanding to what extent the political alienation of
non-white Brazilians is a result of: (i) biases in party
recruitment; (ii) diferences in educational capital and property
between white and non-white candidates; (iii) inequalities in the
distribution of party and electoral resources; or (iv) voters own
electoral preferences. Apparently, the electoral chances of blacks
and browns refect those groups difculties to ascend to the small
elite of candidates who have the largest funds and most
votes.Keywords:Race,elections,politicalrepresentation,politicalinequality,municipal
elections.Recebido em 8 de setembro de 2014.Aprovado em 3 de
dezembro de 2014.RBCPed16.indd 151 13/04/15 16:01