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A Conformação Dos Ecomuseus

Oct 07, 2015

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Andre Fabriccio

Analise histórica da formação dos ecomuseus
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  • A conformacodosecomuseus:elementos,paracompreensoe anlise*

    Heloisa BarbuyMuseu Paulista/Universidadede SoPaulo

    Introduo

    Ecomuseu:ummuseuvoltadopara o ambienteno qual estinserido.Mas com que sentidoe de que modo?A simplesmenoao termoecomuseu,umainfinidadede idias,noes,imagensfJodemvir mentedo muselogo,dohistoriador,do antroplogo,de qualquerprofissional,enfim,queatuenareadosmuseus.O tema,de to difundido,trazem seubojo o desafiode lidarcom asnoespr-estabelecidas- e as paixes- do leitorou do interlocutor.Mas entrensestasnoesparecemaindamuitoconfusase carecemde maiorembasamento.Emboracheguea serdesgastado,o assuntofoi, aqui, poucodebatidorealmente.H, freqentemente,umainterpretaodistorcidado que sejamos ecomuseus,frutoda poucainformaoquesetem,finalmente,sobreestetipode instituioedepolticacultural,ou-comodefiniuFranoisHubert(1985:186)- deferramentapatrimonial("outi/patrimonia/'lHouveumagrandedifusodo quesejaa filosofiade basedos ecomuseus,assimcomo,de ummodogeral, do movimentoquesedenomina/Inovamuseologia".Umafilosofiaguiadapelosentidodedessacralizaodos museuse, sobretudo,de socializao,de envolvimentodas populaesoucomunidadesimplicadasemseuraiode ao. Entretanto,raramenteessadifusonoschegouacompanhadade elementosque permitissemcompreendercomosedo, maisconcretamente,as experinciasdos ecomuseuse quaisas suaslinhasde filiao. Por istono poderemosescapar,destavez, de umtrabalhoem boaparteretrospectivoe descritivo.Porinspiraoemseuprprio/ldstico",queremos

    Anais do Museu Paulista.So Paulo.N. Ser.v.3 p.209.236jan./dez. 1995

    'Parte das afirmaescontidasnestetextofoielaboradacombaseem

    anotaesfeitasduranteduasviagensdeestudos Frana,apartirdaob-servaodiretaou dasexplicaesdadaspormeusinterlocutores:a

    primeiradelasfoi em1988,quandofiz est-giosno MuseudeArtese TradiesPopulares(Paris)e no Ecomuseude Saint-Nazaire,assimcomono MuseudaIle--de-France(Sceaux);asegundafoi em 1995,quandopudeparticiparde um programaparaprofissionaisdeCulturadaAmricaLatina,ofe-recidopeloMinistriodaCulturada Frana,emparterealizadono Mu.seuda Bretanha(Ren-nes),quetem,comoa-nexo,o EcornuseudoPaysde Rennes-LaBin-tinais.

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  • veros ecomuseus"notempoe noespao",deixandobrotaras questesao longode nossopercurso.E para tanto,vamosexaminaro caso francs,quese tornou,internacionalmente,a granderefernciadestetipode formaomuseolgica.

    Um novosentidopara o patrimnio

    A Frana,quandocomeoua criaraquelesqueviriama serchamadosde ecomuseus,tinhaj umalongatradiomuseolgica,comexaustivostrabalhosde tombamentos,coletase documentaode patrimniocultural(mvelou imvel),organizao, enfim,de acerv)s.Tinha mesmo,como era tambmo caso daItlia, Inglaterra,Alemanha, Austriae outrospases, um excessode espritoclassificatrio,herdadodos naturalistas.As novasexperinciasde museusmaispreocupadoscomseupapelsocialrepresentaram- e representam- umacorrentede ar frescodentrode umambientecujo ar chegavaa serviciado pelasantigasprticas,guiadasporum"patrimonialismo"comofimemsi.Mas mesmoassim,oujustamenteporcontaremcomumpassadodetradiopatrimonialista,osecomuseusnoabans:Jonaramsimplesmenteas idiasde acervoe de patrimnio,comocremalguns. E verdade que, em sua origem, contrapunham-ses tendnciaspatrimonialistas,no sentidode quererafirmar"o museupara o homem"e no "ohomempara o museu".Tinhamumansiaanti-patrimonialistamasrelativamenteao sentidoque se conferiaao patrimnioe no querendorealmenteabolir asnoesde patrimnioe de acervoe simtransform-Iase ampli-Ias,comode fatoocorreu.

    O acervo no indesejadoou banido; ao contrrio, ampliado,tantono sentidode sua naturezacomo no de seusignificado,abrangendoben~imveise territriosinteiros,alm de espcimesvivose de bens imateriais.Everdade que a posturados empreendedoresdos ecomuseuscausou certasinterpretaesindevidas,talvezpor chocar os partidriosdos acervos-fetiche.Neste sentido,os ecomuseuscriaramum paradoxo em relao aos acervos,negando,de incio,a irrefutabilidadede umcertovalordo objetopeloobieto-querendo,de certomodo, "paterle bourgeois"- paras depoisatribuir-lhevalormuitomaisamplo:

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    "Acrticaradical instituiomuseal-o deusobjeto- valor"adorado"emseustemplos- decorreda preocupao de "mudaro sentidodo trem":a ligao existentecom acomunidadehumanaque produz o obieto, que o utiliza,a significaoconcretaousimblicadesta ligao, torna-seo essencial,tendo como conseqnciauma novaabordagemdo patrimnio..."(Hubert, Joubeaux & Veillard, orgs. 1983:6)

    precisocompreendertodoesteprocesso,quesedeunumcontextoemqueoschamadosmuseustradicionaistinhamj- naFranaeemoutrospaseseuropeus- umasolideze umalcanceextraordinrios,e nocontexto,alis,dosmovimentosdecontracu/turadosanos70. Naquelemomentoa negaochocanteeraumaestratgiaparaprocessarummovimentoemnovosentido.Mas j l sevomaisdevinteanos...

    Os ecomuseusderamumagrandenfasea seu papel social epropuseramformas- porvezesromnticas-deinteraosocialdecomunidadese

  • por estamarcaficaramconhecidos.EntretantQ,todo o processosocial (ousocializante)desencadeadooudesejadopelosconceptoresdosecomuseusfoiproposto,exatamente,emtornodo patrimnio,esterepresentado,emgrandemedida,poracervos.MathildeBellaiguedefinequatroelementoscomoconstitutivosdosecomuseus:o territrio,a populao(comoagente),o tempoe-o patrimnio.Eacrescenta:"quandofalamosdepatrimnio,falamosdepatrimniototal:tantoospaisagens,stios,edificaes,comoosobietosquesoportadoresdehistriaoude memria"(Bellaigue1993:75). Que essesobjetossejamrecolhidosounoparadentrodeummuseu,istodependedecadacontextoculturale decadaprojetomuseolgicomasemnenhummomentoprops-sequeosobjetosdeixassemdeserinventariados.Emnenhummomentooscriadoresdosecomuseusnegarama importnciado objetocomodocumentohistricooudocumentode memria.Istoj setornouumequvocohistrico.Em1974,discorrendosobreo conceitodepatrimnio,numcursopromovidopelaFAU/USP,HuguesdeVarine,umadaspessoasmaisenvolvidascomo movimentodosecomuseus,abordouvriasquestesrelativasaosinventriose aosbensculturais.

    GeorgesHenriRiviere,provavelmentea maisimportantefiguradomovimentofrancsde renovaomuseolgicado ps-guerra,foi o responsvelpelacriaode muitosmuseuse ecomuseusnaFranae emoutrospasese deuimportnciaabsolutaaosacervoscomoportadoresde informao,assimcomodecargasimblicaeafetiva.Bastapercorreralgunsdosmuseusporeleprojetadosoucomosquaiscolaborouparatera certezada importnciaconferidoaosbensculturais-e pesquisaemtornodo patrimnio,geradorainclusivedeacervos.OMuseuNacionalde Artese TradiesPopulares,de Paris,porele criado,considerado,naFrana,umdospoucosmuseusdelinhauniversitriapoiscongregavriospesquisadoresdo CNRS (ConselhoNacionalde PesquisasCientficas),contratadosparaali desenvolverpesquisasemtornoda etnografiafrancesa(redundantedizer,emtornoda culturamaterial)1.

    Quadrogeralde bibliografia

    Quanto bibliografia, bastantedispersaemartigospublicadosemrevistasacadmicasou no,emcatlogose guiasde museuse ecomuseusealgumasanlisesemlivros,comoas de Dagognet(1984),Davallon(1986)ePoulot(1994).No inciodosanos70,quandoeclodiao movimentodosecomuseus,vriosartigosforampublicadosna revistade divulgaoMuseum,da Unesco,organizaoemcujoseiohaviasidofundadoo ConselhoInternacionaldeMuseus- ICOM, porRivieree seugrupo,logoapsa II GuerraMundial.Em 1985,quandofaleceuRiviere,foi publicadoumnmerodestarevistaespecialmentededicadoao tema,sobo ttulo"Imagesde I'comuse".Antesdisso,em1983,preocupadocoma faltade critrioscomquesevinhatratandoo assunto,osdesviossofridose a formaindiscriminadacomquesevinhadenominandode"ecomuseu"asmaisdiferentesiniciativas,umgruporepresentativodeprofissionaisreuniu-senoMuseuda Bretanhaparadebatera questo.DoencontroresultouapublicaoDcouvrirlescomuses(Hubert,Joubeaux& Veillard,orgs.1983),quesetornouumadasfontesmaisimportantesparaquemqueiracompreenderofenmeno.H, ainda,vriosanaisde outrosencontrosvoltadosparao tema,

    1. As indicaes dasinflunciastericasli-gadassorigensdoMu-seuNacionaldeArtese

    TradiesPopularessodadaspor Cuisenier&Tricomot(1987;15):"adosfolcloristas, claro,naprimeiralinha,entreos quais precisocitarAmoldVanGennep,cu-jo monumentalManualfoi publicadode 1937a1958;adossocilogosedaEscolafrancesadeSo-ciologiatambm,condu-zidosporMareelMauss;adoshistoriadorese daEscola dos Annales,conduzidospor LucienFebvre;eadosgegrafose doslingistas,trazidaporAlbertDemangeoneAlbertDauzat".Thdole-

    va,peloquesepodever,aoquepoderamoshojechamardeantropologiahistricadoquotidiano.

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  • 2.IsabelleCollet(l987a)utiliza-sedosseguintesdocumentos:"L'Ethno-

    graphietraditionnelleetlesmusescantonaux"(Sbillot1886-1887:.9-20)e"Instructionssom-mairesrelativesauxcol-lections provincialesd'objets ethnographi-ques"(Sbillot& Lan-drin 1897:465-475).Sbillotera secretriogeralda SociedadedeTradiesPopulareseLandrin, conservador(curador)do MuseudeEtnografiadoTrocadero,amaIMuseudoHomem.

    3.Listade campospro-posta por Sbillot &Landrin,em1896/97.

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    entreeles umorganizadopela SecretariaMunicipalde Culturado RiodeJaneiro,em 1992.

    EspecialmentesobreRiviere,LaMusologieselonGeorgesHenriRiviere(1989) obra de referncia, organizada por seus alunos e seguidores, a partirde anotaes de aulas e de vrias experinciasprofissionais.Um "Dossiercomuse"constatambmdestelivro(p.146-165).

    De todo modo,no caso dos ecomuseus,a bibliografiano basta:as"obra completas"incluem,por certo,os prpriosecomuseuse, como veremos,algumasoutrasformaesmuseolgicas.

    Genealogia: da etnografiaregionalaos ecomuseus

    Vejamos,antesde maisnada,comoe porquesurgiramosecomuseus.A Histria,recentemente,temprivilegiadoa anlisedos processosde rupturaenoa buscade razes.No casodosecomuseus,as razesrepresentam,justamente,a rupturacomcertospadresde museuse de Museologia.O desenvolvimentoea maturaode movimentosvoltados para uma chamada culturapopular,engendradosdesdeo finaldo sculoXIX,ganharamvultoe espao na rea dosmuseusno sculoXX e, em termosde Museologia, no incio dos anos 1970,romperam(ouapresentaram-secomoalternativa)comastradiesvindasdo sculoXIX,dos museusde belasartesfixadosnas obras primase nicas,dos museusenciclopdicosde histrianaturale dos museusde histria,calcadosna histriafactuale oficial. Por istomesmovalea pena nos remetermosaos seusprimeirostempose aos movimentosqueos antecederam,

    Para istopodemosdeternossaslentes,ainda que rapidamente,sobreas prpriasorigensdos museusde antropologiahistrica( distoque se trata,afinal),naFranado sculoXIX,emduasde suasvertentes:a primeira,os museusregionaisde folcloreou tradiespopulares(etnografiaregional);a segunda,interligada primeira,as representaesdo mundoruralnasexposiesuniversais.

    No sculoXIX,enquantoos modelosmaisprestigiososde museuseramos de belas artese os de histrianatural,outrosmovimentosse fortaleciam,germinandoos museusde culturaslocais,os museusde folclore.E enquantonodecorrerdo sculoXIX,dentrodosinteressesimperialistas,osmuseusdeantropologiaganhavamtambmdestaquecomo centrosde estudode culturasexticas,naviradaparao sculoXXiniciam-seascorrentesregionais,que,nosmuseuseuropeus,tendemmais auto-representaoculturaldo que representaodo outro.

    Para traaras origensdos museusfrancesesde etnografiaregional,IsabelleColletanalisadois textosde PaulSbillot(o segundoemco-autoriacomArmandLandrin)que, produzidosnofinaldo sculoXIX,tinham"o objetivode darindicaestericase prticasaos coletoresde objetosetnogrficosdestinadosaseremconservadosno museu"(CoIlet1987a)2,A partirdessesdois documentosela nosmostraumaetnografiaregionalnascentee umacorrespondentemuseologiaetnogrfica,dando tambm- e conjuntamente- seusprimeirospassos:a buscados grandescamposde anlisee coletade testemunhosmateriais("habitao,mobilirioe interiores,dependnciasda casa, agricultura,alimentao,ofciosno agrcolas, indumentria,vida humana, jogos, artes populares, cultos,supersties"j3;as tentativasde circunscriodas tipologiasde interesse(objetos

  • "rsticos","habituais","deusocorrente");oscortestemporais(operodode longaduraoanteriorao desenvolvimentodos meiosde transportee comunicaoqueromperamo isolamentodo campo);a identificaodo indivduopeloseuofcioedas populaespelo modode vida que se associaao trabalhoque marcasuasrespectivasregies,talcomoo plantioda uvae a produode vinhoou outros.

    Para os que conhecem,hoje, os museusde etnografiaregionale osecomuseusvoltadosparaculturasrurais,nadadissosoa estranho.Ao contrrio,fcil reconhecercertaspermanncias,ao menosquantoa aspectosformais.Aolongo de sua histria,os museusde etnografiaregionalreceberamdiferentesorientaese sentidos.Na Frana,inicialmentetenderama umsentidode registrocientficode culturasruraisem desaparecimento,em face do acelerao dosprocessosde industrializa04.A estruturaagrriafrancesahaviasofridopoucastransformaesduranteos sculosXVIIIe primeirametadedo XIX masde todomodo,a industrializaoe todasas mudanassociaisa elacorrelatasavanavam.A desestabilizaodasantigasestruturascoincide- e no por acaso - com acriaodas primeirassociedadescientficasparaestudodas tradiespopularesregionais(floclore)e dos primeirosmuseusde etnografiaregional.Ao lado docartercientfico,revestiram-se,tambm,de tendnciasnostlgicasromnticas,seja como trincheirasde resistnciacontrao capitalismo,seia como pontosdeconvergnciade afirmaesregionalistas.Mas a emergnciadas coletas eformaode coleesque testemunhamaspectosescolhidosde determinadasculturaspopularesso tambm,como afirmaCoIlet, sinalde "umotomadadeconscincia,porcertoseruditos,do interessee da fecundidadede umasabedoriapopularque o caso de interrogare mesmode reutilizar"(Collet1987a: 88)5.

    As exposiesuniversaisda segundametadedo sculoXIXe primeirasdcadas do sculoXX so outramatrizde representaesdo mundorurale,freqentemente,eramos cientistas-curadoresde museusqueorganizavam,nestasocasies, as partesconsideradasde cunho cientfico,como era o caso dasexposiesde etnografia.Ali, a tipificaodas regiesconformeseusprodutosumaconstante:

    "Cada regio da Frana est ali representadapelo conjuntode seusprodutos;umaregio produzos txteis,outraos leos; estaos vinhos,aquela o trigo. E umaespciede geografia agrcola etiquetadae catalogada com seguranae comprovao. Emcinqentaminutospode-seaprendera estatsticacompletada produovegetal.Com exceo dos rbanhose dos animaisdomsticos,que tero uma exposio parte,tudoo que constituia vida ruralestrepresentadono Quai d'Orsay".UulesRichard(1889: 143), sobrea partededicada agriculturana ExposioUniversalde 1889, Paris).

    Seja nas partes relativas agricultura,seja em outrassees, asexposiesuniversaisso ocasiesem que se estabelecempadresexpositivos(ou,pode-sedizer,museogrficos).Ainda nade 1889, a ExposioRetrospectivado Trabalho mostra,por exemplo, a reconstituiodo interiorde uma casacamponesa(Fig. 1)ou a oficinade umfabricantede alades(Fig.5),ambasdosculoXVlll,temticase prticasexpositivasqueveremosrepetidaatos dias dehoje(d. Figs.3 e 6).Vemosconfigurar-se,nasexposiesuniversais,umatipificaodeculturase detiposregionais,atravsdasatividadesde produoe dosprodutos,o indivduosendoidentificadoporseuofcio,assimcomoporseumodode vestir,

    4.Assim tambmnoBrasil,a Emografiaga-nhouidentificaocomosestudossobrecultu-rasindigenasemviasdedesaparecimento.

    5.UmCasosignificativodemuseuoriginadonofinal do sculoXIX, apartirdecoleesdecu-lturaregionalodoMu-seu da Bretanha(cf.Veillard1987).

    6. Em um nmerodarevista Museum de-dicadoaotema"museue agricultura", IvnBalassa(1972)afirmaqueosmuseusdeagri-culturatmsuaorigemnasexposiesnacio-naise universaisdase-

    gundametadedosculoXIX e fazum brevea-

    panhadodahistriaedi-ferentescaractersticas

    dessetipodemuseu.

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    esteselementoscaracterizandoumadadacultura.Porexemplo,em 1889, "naexposiode agriculturae alimentao,ocorrea tipificaode culturasatravsdosprodutose dasatividadesde produomastambmda indumentriae deoutrosobjetos,comonocasoda exposiodasvacasbrets,emque,(aoladodosanimais),umamulhercomtrajestpicosde suaregio,inclinaumgalodeleite,tendo suafrenteumamesinhacomleiteirae xcaras,ondeterservidooprodutoordenhado(Fig.7). Enfim,culturae atividadeeconmica,ligadasporcerto,sofrem,naExposioUniversal,umprocessodesntese,cuioresultadosoimagens-signos,queensinamconceitosoudefiniesdeculturas'peloaspecto'",e istopormeiodeconfiguraesvisualmenteapreensveis(Barbuy1995:56).Asformasdeapresentaosoextremamenteprximasdasatuaismasa diferenaestnosentidoquesed a essasconfiguraes:nasexposiesuniversaisdofinaldosculoXIXestetipodereconstituiovisavaproduzirefeitoscomparativosparavalorizaro progressoe o tempopresente;nosecomuseusdofinaldosculoXXpretendemrepresentaridentidadesculturais.

    Algunsprincpiosestonaorigemdessasexposiesdecarterdidtico:o ensinopeloaspecto,a liodecoisassonoesqueseimprimemao ensinofrancsnofinaldosculoXIX(d. Gaulupeau1988:3,5),assimcomoosmodelosdidticosemcerae montagensdecenase cenrios.Etodoumdidatismoquesedesenvolve,nosmaisdiferentescampos,atravsdavisualidade:as"reconstituies"de ambientes,os dioramas,os manequinsrealsticos,tudoorganizadoparaacompreensopelaviso(d.Barbuy1995:36-47).Taisprticasestavampresentesnosmuseusde etnografia(exticae regional)e nasapresentaesetnogrficasdasexposiesuniversais.O prpriotermomuseu,naquelemomento,significa"aexposioorganizadade imagensou objetosquepossam,porseu'aspecto',ensinar,instruir.Assim,prioritariamenteatravsdesuasexposiesedaexperinciasensvelqueelaspermitem,queosmuseusdisseminama instruo"(Barbuy1995:46).

    FoitambmnombitodaExposioUniversalde 1889queserealizouo ICongressoInternacionaldeTradiesPopularesefoinestaocasioqueArmandLandrin,doMuseudeEtnografiadoTrocadero,apresentouo projetodeummuseudas provnciasda Frana- ummuseude artese tradiespopulares-, quesepropunhacomoumcentrodeestudos,ummuseucientfico(d. Dias1987: 191-194).

    Na ExposioUniversalde 1900,assimcomonasanteriores-eaindacommaisnfasepelapassagemdo sculo-, organizam-sevriasexposiesretrospectivas.Htambmumaparaa seoagrcola:o sentidogeralda seoera de fomentar,juntoaos agricultores,o usode equipamentosmodernos;aexposioretrospectiva,anexa,surtiriaefeitodecomparao,apresentandocercade 3.000 utensliosda antigaagricultura(d. CoIlet1987b: 101).E, senade89, a agriculturaocupavaumareaemseparado,no Quai d'Orsay,na de1900estavadentrodoPalciodasMquinas,juntamentecomoutrosequipamentosindustriais,o quesedevea seuprprioprocessodemecanizaoe conseqentedistanciamentodasantigasprticasagrcolas.Eraexatamenteparavalorizarosnovosmtodosqueseorganizavamasexposiesretrospectivas.

    Entretanto,muitoemboravariandode"aaz"quantoa seuspropsitos,tendncias,orientaesintelectuaisereceptividadepopular,osmuseusdeetnografia

  • regional- ou de antropologia histrica,em muitoscasos - (eas exposies universais,emseusaspectosetnogrficos),guardamdesdeos primeirostempos,natipologiade seusacervose emvriosaspectosde suasexposiescertascaractersticascomuns,que alcanaramo tempode Georges Henri Rivieree foram por elericamenteexploradas(a presenamarcada, nos acervos, de instrumentosdetrabalho,as indumentriasregionaiscomo usode manequins,astcnicasregionaisde construo,etc.). Ele foi, alis, no apenas um herdeirodessasprimeirasiniciativasmasquaseumseucontemporneo.

    Na verdade,o finaldo sculoXIXestbemligado aos anos 1930,quandoGeorgesHenriRivieredariaosprimeirospassosemdireoaosecomuseus,assumidamenteinspiradona frmulados museusao ar livre(ou museusa cuaberto,comosetem,tambm,traduzido),criadanaSuciaem18917.Inicialmentevisavaa valorizaoda arquiteturaruralfrancesa,o que continuousendo um

    aspect?particularmenteexploradoemsuasobrassubseguintese nadeseuscolegase seguidores.

    O primeiroprojetonestesentidodatade 1936e foi seguidode outrosque,comoeste,nopuderamserealizarnaformadesejada,o quesaconteceriabem maistarde. Em 1937- no entre-guerrase ainda no fluxodas exposiesuniversais- na"ExposioInternacionaldasArtese TcnicasdaVidaModerna",a parterelativa agriculturafica sob responsabilidadedo FrontPopular(partidosocialista),ao qual Georges Henri Riviereera ligad08.Rivieretorna-se,assim,responsvelpelaexposioretrospectivasobrea vida rural,a qued o nomede"museuda terra"(musedu terroir).O conjuntocorrespondias posiesdo FrontPopular,queerafavorvel modernizaodosequipamentos,desdequehouvesseum"equilbrioentreas organizaescoletivase a unidadefamiliarde produo"(d. Collet 1987b: 107-110).

    Ecomuseusde parquesregionais

    Somenteem 1969Riviereconseguiria,finalmente,inaugurarseumuseuao ar livre, trabalhandopatrimnionaturale culturaldentrode um programaantropolgico,emtornoda culturaregionaldas Landesde Gascogne (d. Riviere1987).

    Rivieredesenvolveuextensostrabalhosemtornode parquesregionaisfranceses9,a cujos resultadosse deu mais tarde o nomede ecomuseus.Estacorresponde,conformea anlise de Hubert (1985) primeiragerao deecom useus 1o.

    Aconstataodo empobrecimentoe xodode certasregiesfrancesas,nosanos60, d ensejoa umapolticade reaproveitamento,para o turismo,dealgumaszonas consideradasemdegradao.Com istocriam-sevriosparquesregionais,cercadospor umainfra-estruturade hotise outrosequipamentos.

    Convocadoa colaborar,relativamentea questesde patrimniocultural,GeorgesHenriRivierepassaa trabalharpelaidiade preservaode exemplaresde arquiteturaruraltradicionalfrancesadentrodos parques.Transportarou notransportarconstruesde outroslugarespara dentrodos parques;reunir,nummesmolocal, umasrieformadaporexemplaresde diferentesregiesou manterapenasconstruescaractersticasda regioa que pertencecada parque:estas

    7.Sobreo museusuecode Skansen/NordiskaMuseet,vetBaehrendtz,Birnstad & Palma(1982) e, tambm,Alexander(1978:84-86).

    8.SobreasrelaesdeRiviere com o Front

    Popular e sua impor-tncia na criao decentrose movimentos

    de folcloree artespo-pularesver Ory (1989:59-60).

    9.Paraumavisogeralsobre os parques re-gionais franceses,verMorineaux(1977).

    10. Franois Hubert(1985) identifica trsgeraesdeecomuseus:a primeira,dosde par-quesregionais;a segun-da,marcadapelo Eco-museu do Creusot; aterceiragerao,a dosecomuseuspoucoerite-ciosos,consideradosporHubertcomo"desvios".

    "A quarta gerao -escreviaeleem 1985-estporserinventada".

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  • 11.Sobreo nascimento

    doMuseudeEtnografiadeParis,hojeMuseudoHomem,ver NliaDias(1991). Nesta mesmaobra, um tem sobre"ArmandLandrin e oprojetode um museu"(lb.: 191-194)permitevera presena,j no fi-naldosculoXIX, dai-diadomuseu-snteseeda redede museusde

    provncia, que seriaalimentadae desenvol-

    vida, mais tarde, porGeorgesHenriRiviere.

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    so algumasdas questesque foramdebatidasna ocasio (d. Gestin 1989:155).De qualquerforma,porm,vingoua causada preservaoda arquiteturaruraltradicional,quesetornou,inclusive,temticarecorrentenosmuseusde "linhaRiviere",tantono mbitoda pesquisacomodas exposies(verFigs.8 e 9).

    A arquiteturaruralacabouporser,naverdade,ummduloinicialque,desenvolvendo-se,ampliou-separaa idiade umtrabalhomuseolgicoemtornode todo ummodode vida: chegava-se,assim,ao casamentoentreas tradiesdosmuseusde etnografiaregionaleas idiasde libertaodo museurelativamentea seusmurose seuelitismo,paracriarem-seos museusde territrio,de patrimniolatosensue queenvolvessemas populaeslocais,numprocessode revitalizao.

    O MuseuNacional de Artese TradiesPopulares,Paris:padresmuseolgicosde referncia

    Naquelemesmoanode 1969, a seofrancesado Museudo Homemde Paris,sustentadapor Rivieredesdeos anos 1930,ganhariafinalmentesedeprpria,como Museu Nacional de Artese TradiesPopulares,conhecidonaFranasimplesmentecomoATP.A compreensodo ATPpermiteo acessos linhasmestrasde todoo pensamentoe do mtodode Riviere,da Museologiaque eleimplantouemdiversosmuseuse ecomuseusfrancesese estrangeiros.

    Desdesuacriao, em 1898,o Museude Etnografiado Trocadero,em Paris (hoje Museu do Homem),contavacom acervos relativosa culturastradicionaisfrancesas.Em 1937seriacriado ummuseuparaestencleofrancs(quaseautnomo,masaindadentrodo mesmoprdio),soba direode GeorgesHenriRiviere,que fez deleuma espciede "central"de sua obra, por maisdetrintaanos. Estacentralno o era apenas no sentidode sedeoperacionaI mastambm- e principalmente- no sentidoconceitual:Riviereo concebeucomo um"museu-sntese"dasculturastradicionaisfrancesas,quese interligariacommuseusmaispontuais,noprojetodeumarededemuseusdeetnografiaregionaP1.Algunsdessesmuseuschegarama serimplantadosmasa idiada redenosecompletou.Entretanto,athojeno difcilidentificara marcade Riviereemvriosmuseusnointeriorda Frana,sejamorganizadospor ele prprio,sejampor sua influncia.

    Podemosapontaralgunsdesseselementosa partirdo prprioATPdeParis,que, como dissemos,pode serentendidocomo umaespciede central.Dizemrespeito naturezadosacervoscoletadosemfunode linhasde pesquisapr-definidase s formasde explor-Iosmuseologicamente.

    Observe-sequeRiviereinsistiuconstantementenaformaosistemticade acervoscomo resultadoconsistentede pesquisas,sobretudopesquisasdecampo. Propunhaque para o estudodas culturasfrancesasfossemaplicadososmtodosde pesquisae coletaj utilizadosnosestudosrelativos etnografiadoextico(culturasdas colniasfrancesas).No sentidode no provocarperdadeinformaessobrea correlaoexistenteentrediferentesobjetos,Rivieredefendia,entreoutrosmeios,a coletae a exibiode ambientesinteiros:

    "ascoisasreaisintegradassoosobjetosqueparticiparamdeummesmomeio,adquiridasemsuaintegridadeoureagrupadaspelomuseu,asquaispodemoschamarde'unidadesecolgicas".Interpretadasdessemodo,decodificadaspelovisitante,testemunhamocontextohumano,commaisintensidadedo queo fazemascoisasisoladas.Assim o

  • contedocompletode uminteriordomstico(periodroam),de umnavio,de umtmulo,transferidopara o museu,comou semseusubcontextode arquiteturadomstica,navalou funerria" (Riviere 1973:28).

    UmdentreasexemRlosquepaderamasdar nestesentida a da Salade Guillaume e Catherine Deuffic (Fig. 3) (d. Cuisenier & Tricarnat 1987:79-81)au a da Queijaria, na regio.da Cantal (Fig. 4) (d. Cuisenier & Tricarnat 1987:106-107).Trata-sede ambientesinteirasque se mantiveramem meias no.alcanadas pela pracessa de industrializao.. Estavam prestes a seremdesmantadase demalidas.quandafaramlacalizadas par equipesde pesquisada ATPe adquiridascamaacervo..Remantadasdentro.da Museu,so.cercadaspar certas dispasitivasmuseagrficascama iluminao.varivel e narrativasgravadas, dispasiada visitante,que explicamas atividadesdesenvalvidasem cada umdas ambientes,envolvendo.as diversasabjetasque as campem.So., assim, ambientesque padem ser inseridasna quadra das chamadas"recanstituiesmuseolgicas".

    Duas.so. as principais discussesque se abrem em relao.srecanstituies.A primeira,que pade ser encantrada,entrens em MyriamSeplvedadas Santas (apud Abreu 1994) diz respeita artificialidadedasambientescanstrudasemmuseus.Emrelao.a isto.,asinteriaresquese exibemna ATP,embaratarnanda-seinevitavelmenteartificializadaspela simplesfato.deserem apresentadas em um museu, so. casas diferentes das chamadas"recanstituiesde ambiente",nasquaisfaltaa canfianaemquetadasasabjetasreunidas,cada qualde umapracednciadiferente(aindaqueprxima),pudessemterformada,de fato.,umambienteemseucantextade origem.

    A segunda formuladapela italianaAlberta Cirese, que, tambmvoltadapara museusde falclarede culturasruraise buscando.,ele tambm,umasoluo.cientficaparaexpasiesde abjetasetnagrficas,privilegiaas relaesexistentesentreas abjetas,apreensveisapenas se levarmasem cansideraaautrastantaselementas-cancretase abstratas- relativasa seusrespectivascantextas.PaderamaspresumirqueCireseestivessede acordacama quesefez na Galeriade estudasda ATP,masnemsemprecama quesefez naGaleria Culturaldaquelemuseuauemvriasecamuseusemuseusde etnagrafiaregianal:as recanstituiesde quadrasde vida. "A vida de ummuseu- diz Cirese- estem recanstru-Iaemseu prprianvel,dispandaa realsegundalinhasde inteligibilidadeque a realno.apresentaimediatamente"(Cirese 1967:49). Esclarecendo.este panta,vejamas,noATP,duasabardagensmuseagrficasdiferentes,relativasao.espaadamstica,cada qualcamseuvaiar:a primeira,a salada famliaDeuffic,que jmencianamasacima(Fig.3), que recanstituiumambientetalcamaele fai vivida,passibilitandaestabelecerquasequalquerrelao.entreas abjetas,canfarmeasreferenciaisda prpriaabservadare exercendo.,talvezmaisquetudo.,umafuno.evacativa,transpartandaa visitantepara uma espcie de "histriavivida"; asegundaabordagem(Fig.2) cria umsistemaarticuladade abjetasrelacianadascama preparao.e a cansumadamsticasde alimentas,justamenteretirando-asde seuespaa habitual(a casa)e permitindo.umaleituramaisdiretada relao.existenteentreeles. Estaleitura,ento.,seria maisevidentena expasiaassimcancebidada quena prpriaespaadamsticade arigem.(O mesmaraciacnia

    217

  • 12.Atualmente,nestadcadade 1990,o ATPvempassandopor vriasrevisese jnoseres-tringe,emsuaslinhasdepesquisae emsuasex-posiestemporrias,Franapr-industrial.Vriasdiscussesa res-

    peitodeseusobjetivosvm se desenrolando,tendo-seaventado,re-centemente,atmesmoa absurdahiptesedeseuretomoaoMuseudo

    Homem,oquefoiobjetodereaesimediatasporparte de intelectuaisfranceses,entre elesClaudeLvi-Strauss.

    13.OATPfoipioneironacriaode duasreasdiferenciadasdeexposi-es:a primeira,paraograndepblico,chama-se Galeria Cultural;asegunda,aGaleriadeEs-tudos,destina-seprefe-rencialmenteapblicosespecializadose conta,alm das exposiesconcebidassistematica-menteem tornode te-

    mticasde pesquisaet-nolgica,comimagenseinformaesem audio-visuais.

    14.Parater um pano-ramacompleto,verMu-senationaldesartset

    traditionspopulaires:guide (Cuisenier &Tricornot1987).

    15.Entreas iniciativasbrasileirasnestalinha,chamoatenoparaocasodoMuseudaCida-de deSalto,no interiordoEstadodeSoPaulo,emquefoiestabelecidoummuseusede,doisn-cleosexternos,consti-tuidospordoisparquesem torno de patrim-nioshistricosenattl-

    218

    pode serfeitoemrelaos figuras5 e 6).Quantoaos recortesdas linhasde pesquisado ATP,de quedecorreram

    as grandescoletasde acervosentre1937e 1971, so explicadospor Riviere&Cuisenier(1972), numbreveartigode balano:voltando-se,prioritariamenteparaa Franaruralpr-industrial,emvistada aceleradaextinode seustestemunhosmateriais,elegeram-secomopreferenciaisastemticasda agriculturae da criaode animais,comoatividadesbsicas12.Vriasenquetese pesquisasnestesentidoforam desenvolvidaspelo ATP ao longo dos anos, entreelas, apenas paraexemplificar,umaenquetesobrea antigaagricultura,com baseemquestionriorespondidopor diretoresde serviosagrcolasde departamentosadministrativosfranceses(1937-38), uma outrasobre o mobiliriorural,conduzida por umaequipede antigosalunosdeescolasde arteaplicada(1941-47)ou umapesquisaprogramadadesenvolvidapor umaequipepluridisciplinarde cerca de quarentapesquisadores, organizada pelo CNRS (Conselho Nacional de PesquisasCientficas),sobreA regiodeAubrac:estudoetnolgico,lingstico,agronmicoe econmicode um assentamentohumano(1963-65), do qual decorreuumaextensacoletade acervosde todasas ordenspara o ATP.

    A distribuiotemticadosacervospelasexposies,tantonaGaleriaCulturalCOIAOna Galeria de Estudos13,d-nosum panoramados camposdeatuaodo'Museu: a Galeria Cultural,dirigida ao grande pblico, prope-secomo sntesee apresenta,em sequncia:umpanoramada regio naturalcor-respondente Frana(geografiafsicae humana,lingstica,etc.);o meio-ambienteno qualse implantaramas culturas;tcnicasdiversasrelativasa atividadescomoa pesca,a criao de animais,a confecode roupas(lidatosa roupa"),dafabricaodo vinho(lidavinhaao vinho")oudo po (lidotrigoao po");costumese ritosde passagem,e assimpordiante.A Galeria de Estudosfoi concebidaparaatenderespecialistas,estudantes,colecionadores.Enfim,aquelesquese interessampordeterminadosassuntos,podemencontrar,emexposio,seqnciasde objetossistematicamentedispostosem funode determinadasprticasculturais,comoas atividadesde colheita,caa e pesca, fabricao de instrumentosmusicais,etc., etc14.

    Paratrabalharmuseograficamenteosacervos,Rivierepropse realizouexposiesquecriamsistemasde articulaoemtornode determinadostemasequestes.Isto- dentrode umatendnciamaisgeralde nossotempo- contraps-ses antigasexposiesexcessivamenteclassificatriase tipolgicas.Veja-se,comoexemplo,a tigura6, em que vrias ferramentase partesde instrumentossodispostasde modoa permitira compreensoda articulaoexistenteentreelas,emfunode umaatividadetradicional:a fabricaode certosinstrumentosdecordas.Almdisso,paradarcontade realizarexposiestemticase pedaggicas-emgeralseupropsitoemtermosde exposies-GeorgesHenriRivieredefendeue incentivouo usode audiovisuais,maquetes,modelose qualqueroutrorecursoque auxiliassena articulaodos objetos,que continuaram- precisofrisar-comodocumentoscentraisdas exposies.Sobreas tcnicasno usode recursosaudiovisuaisemmuseus,apselencarsuasvantagens,ressalva:liaemissovisuale sonoradosaparelhostrazo risco,todavia,de prejudicaro ambientedosobietose modelos,os componentesmaisimportantesda exposio.Da a necessidadede se realizarumisolamentoacsticoou ptico dos camposa seremcobertos

  • pelasemisses"(Riviere1973:29, grifosnossos).A grandepreocupaode Rivierecoma comunicaonasexposies

    museolgicase os recursosde apoio paracriarosdesejadossistemasarticulados,levou, muitasvezes, a uma interpretaoerrnea de alguns observadoressuperficiais,no sentidode que a pesquisae o acervo j no teriam,talvez,na"linhaRiviere",a mesmaimportnciaqueteriamemoutrostiposde museus.Graveengano:comojvimosataqui, portudoo querepresentaramos "museusRiviere"em termosde pesquisa, de coleta e documentaode acervos, marcaramjustamenteo contrrio.Ampliaram-se- istosim-as noesdeacervoe de patrimnio,passando-sea valorizar,enquantodocumentosde histriae cultura,tiposde objetosqueanteseramconsideradosde pouca relevncia.

    Se os museusde artese tradiespopularestrouxeramnovostiposdeacervospara dentrode suassedes,os ecomuseus,almdisto,foramresponsveispela inclusono mbitodos trabalhosmuseolgicos,de territriosinteiros,comseuspatrimrtiosnaturaise culturais,dizendo-sedelesqueso "museusdo tempoe do espao",expressocalcada pelo prprioRiviere15.

    Os ecomuseuse a preservaode bensculturais

    No inciodos anos 1970, umaoutrarealizaomarcante- maisrevolucionriaqueas anteriores- foi a criao,emCreusot-Montceau-LesMines,do primeiroecomuseuem rea industrial16.Justamentepor trabalharumareacominmerosproblemassociais,desenvolveu-sebastantenosentidoda militnciapolticae foi colocado como um instrumentoda populao para resoluodeseusproblemas.Foi apresentadocomo "Museu do Homeme da Indstria"epropunha-secomo"semlimitesquenoaquelesda comunidadea queeleserve"(Varine-Bohan1973:244).Defendia-sea tesedo ecomuseucomoinstrumentodeautogestode umacomunidade.O carterpolticoe libertriodo EcomuseudoCreusotfoi sempremuitofrisado,exatamentepor seresteo pontofortede suaproposta.Entretanto,elenofoiestruturadoe geridosemrefernciaaostestemunhosmateriais,talcomotemsido tantasvezesinterpretado.O trabalhopropostoo foiemtornode umterritrioe de umpatrimnio,nuncasedescuidandoda contribuiocientficaque poderiadar,tendosido, inclusive,pioneiro,na Frana,na readaarqueologiaindustrial17.Quandosefalouemnorecolherao museutodoe qualquerbemcultural,deixando-os,enquantoe quandofosseo caso, emseulocal de uso,noseestavaretirandodelessuaimportncia- comosetem,porvezes,entendido- e nemse estavaabrindomoda idia de preserv-Ios.

    "Todoobjeto que mantm,para seu possuidornatural,seja umvalor funcional,seioemocional,deve permanecerfisicamenteem seu lugare, a estettulo,fazer partedacoleo geral; todoobjetoque perdeutantoseuvalorfuncionalcomo emocionale querepresentaumtestemunhonecessrio comunidadee suahistriaoude seuambiente,deve ser recolhidoe depositado nas reservasdo museu,para ser ali conservadoeutilizado".(Varine-Bohan1973:2451

    Pelotrechoacimapode-sepercebernosa importnciaquedadaaosobjetosenquantodocumentos,comotambma especificidadedeumcontextoemquesejapossvela preservaoconscientedetestemunhosmateriaisporseus

    rais,almdedezpontosdereferncianoespaourbano.Cito estecaso

    porconhec-Iodeperto:comomuselogadoMu-seu PaulistajUSPe naqualidadede assessorapudeparticiparde suaequipedeconcepoeimplantao,sobacoor-denaodo arquitetoemuselogoJulio AbeWakaharae aoladodahistoriadoraAnicleide

    ZequiniRossi,autoradeumatesesobrea hist-ria da cidadede Salto

    (1991)e do arquitetoAlcinoIzzoJ r.Tratou-sede uma iniciativa da

    PrefeituraMunicipaldeSaltoe fizerampartedaequipe,tambme entreoutros,o jornalistaehis-toriador local, EttoreLiberalessoe umamu-se-Iogadacidade,Thal-maDi Lelli.Sobreo pro-jetoe a implantaodoMuseu da Cidade deSalto,verRossi&Barbuy(1992).Sobreoutrosca-sosbrasileiros,consultaros anaisdo Primeiroencontrointernacionaldeecomuseus(1992).

    16. SegundoMathildeBellaigue(1989:164),"GeorgesRenriRiviereeRuguesdeVarineforamos padrinhosativosdoecomuseuda Comuni-dadeLe Creusot-Mont-

    ceau-les-Mines,cujo cria-

    dor,diretore inspiradorat 1983 foi MarcelEvrard".

    17.Um museude sitio

    arqueolgico quemarcou,poucoantes,area da arqueologiaindustrial, foi o deIronbridge Gorge,nointeriordaInglaterra.

    219

    AndreDestacar

    AndreDestacar

  • 18.Trata-sedeum rela,-

    trioelaboradoporMaxQuerrien,quehaviasidoincumbido,pelominis-trodaCulruradaFrana,deestudareproporumapoltica global paraopatrimlo,envolvendouma espciede cura-doria:dostombamentos

    aosprogramasde pes-quisa,da conservaoaos programaseduca-tivos.

    19.A expressoneigh-bourbood museum,traduzidasemprecomomuseude vizinhana,poderiatambmequi-valeramuseudebairro.Sobreo MuseudeAna-costia, ver Kinard &Nighbert(1972)esobreumaavaliaode espe-cialistasfrancesesa seu

    respeito,ver Hubert,}ubeaux&Veillard,orgs.(1983).

    220

    prpriosproprietriose as boasrelaesentreestese os gestoresdo ecomuseu,apontode serpermitido, instituio,inventariar,comobensculturais,aquelesdepropriedadeparticular.Mas istoexigeumtalprocessoe umatalconscincia,emqueos documentosno precisemserrecolhidosaos museusouaos arquivosparaserempreservados,que beiraa utopia.

    Mesmona Frana,estetipode idia mostrou-se,ao longodo tempo,comode difcil realizao.Mas o maisimportantefoi, na verdade,mostrarquequalquer objeto, construo, paisagem ou conhecimentopoderia ter valordocumentale queo desejoe o encargodesuapreservaopoderiamserexpressose assumidospelosprprios grupossociaisenvolvidos:

    "Todoob,

    'eto,mvelou imvel,queseencontreno interiordo permetroda comunidade,faz moramentepartedo museu'(Varine-Bohan1973:244).

    Querrien(1982:62-63)18observouque"nascidonacontradio,oecomuseunelavive.Suaveia patrimonialo impulsionaa inventariar, coletar,conservar.Masseuverdadeiropatrimniono outrosenoa memriacoletiva,da qualemergeumaidentidadeque,emsuasingularidade,quer-senocombateda histriapresentee nagestaodofuturo.(00')Masestmaispreocupadocoma 'preservaodossaber-fazer(sovoir-foire)'do quecoma 'museificaodosobjetos'". Ora, a preservaodos"saber-fazer",dastcnicas,dasprticasnopressupe,necessariamenJe,a preservaode seussuportesmateriais?Acompreensode umdado universoscio-cultural,desenvolvidoemtornodedeterminadasatividades,talcomopropemosecomuseus,necessitar,porcerto,dacompreensodetodoummundomaterial.Eparaistosernecessriopreserv-Io.

    Apesardisto,verdadequehlinhasdetrabalhoquetendemaeliminara preservaode acervoscomoumade suasincumbnciasounecessidad,es,limitando-seorganizaode bancosde dadossobreo patrimniolocal.E ocasodosneighbourhoodmuseumsamericanos,emespecialo primeirodeles,ode Anacostia,Washington,criadoem 196719.Semprecitadospelosprpriosespecialistasfrancesescomo"parentesprximos"dosecomuseus,eleso so,porcerto,noaspectodotrabalhocomunitrioesocialquedesenvolvemmasa questodosacervosouno-acervoscontinuasuscitandopolmica.

    Comoestruturadestinadaa organizarexposiespedaggicassemacervos,difundem-se,noCanad,oschamados"centrosdeinterpretao",comoporexemplo,o CentrodeInterpretaodoPortoouo CentrodeInterpretaodaCidade,ambosnacapitaldeQubec.Podemserconsideradoscomoderivaesdos ecomuseus.Neles, entretanto,emborasejamutilizados,eventualmente,documentosmateriais,nohcompromissoscoma produode conhecimentoemtornodeacervose, muitomenos,comsuapreservao.Mas oscentrosdeinterpretaosocolocadosestritamentecomoinstrumentosdidticos;nosomuseuse nempretendemser.

    Ecomuseus:"museusdesociedade"

    A nfasedada funosocialdosecomuseus,apesarde muitojustae procedente,acabouservindoa distoresdevriostiposnoentendimentoquesepassoua ter,pelomundoafora,a respeitodoqueelesseriam.Constituiram-se

    AndreDestacar

    AndreSublinhado

    AndreSublinhado

  • ecomuseuscomosefossemumaagremiaoqualquer,umpartidopolticoouatumpostode assistnciasocial.Umfrumqualquerpara reuniescomunitrias.Pormelhorquesejamas intenes,nose tratariamais,ento,de trabalhosmuseolgicos.

    Assim, importantefazernotarqueos primeirosecomuseus- os deparquesregionais,comovimosacima- nosurgiraminformalmente,nascidosdavontadedeumapequenacomunidadeidealistanointeriorda Frana(sendoesta,muitocomumenteiaimagemquesefaz)esimcomoconseqnciadeumapolticaoficial.

    verdadeque,ao longodo tempo,vriosecomuseusforamcriadossobrebasesassociativase representam,hoje, umagama de ecomuseusdenominadoscomunitrios,colocando-se,emmuitoscasos,comocentrosderesistnciacultural.Fundamentam-se,juridicamente,numaleifrancesade 1901,criadaparafacilitara livreformaodeassociaesemgeral,semfinslucrativos2o.Entretanto,osecomuseuscomunitriostmsidomuitasvezesalvodecrticaspelafaltadecritrioscomquesoconduzidosporleigos.Ademais,boapartedeles,assimqueatingeumcertograude desenvolvimento,acabaporintegrar-seaossistemasoficiais,institucionalizando-se.

    Masassimcomoosprimeiros,athojea maiorpart~dosecomuseusorganizadadentrode programasoficiais,sejade nveh)aciooal,regionaloulocal.Alis,assimcomeaa Dfinitionvolutivedel'cyRluse,deGeorgesHenriRiviere: .

    "oecomuseu uminstrumentoqueumpodere umapopulaoconcebem,fabricameexploramjuntos.O poder,comosespecialistas,asfacilidadeseosrecursosquefornece.A populao,segundosuasaspiraes,seussaberes,suacapacidadede anlise"(Riviere1983).

    Na Frana, durantea dcada de 1980, o patrimnioculturalfoioficialmentetratadocomoumaferramentaparao desenvolvimento,comoatestaoestudodirigidopor IsabelleVande Walle: partindoda idiade que"o patrimnioest no centrode um processode desenvolvimentolocal, que se apoia navalorizaodo conjuntode potencialidadesde umterritrio,potencialidadesfsicos,culturais,humanas,econmicas"(VandeWalle 1987:9), implementaram-seamplaspolticasoficiais,envolvendomaisde umministrio(Ministriosda Agricultura,daCultura, do Meio Ambientee a Fundao de Frana), visando estabelecerprogramasde revitalizaoe desenvolvimentoem tornode patrimnioslocais,programasestesemque museuse ecomuseustomaramparte,almde inmerasoutrasinstituiese organizaes.

    Dequalquermodo,formam-semuseuse ecomuseuscomosmaisdiversosfins. So comuns,por exemplo, casos de museuslocais e regionais ou deecomuseusque se constituemem tornode umpatrimniomasno o trabalhamcomodocumento,comoobjetode estudos,nemmesmono tocante suacargasimblica; coloca-se o patrimnio,nestescasos, apenas como smbolo dedeterminadascausas,pretextopara militnciasde todosos tipos. Ironicamente,agindoassim,est-seretornando,porcaminhostortos,ao objeto-fetiche,quetantose combateu:

    20. o texto legal de 1/

    7/1901 foi reproduzido,entre outros, no Vade-

    mecum culturel juri-

    dique (Frana [1993]:57-(3).

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    AndreSublinhado

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  • "Umprogramade ecomuseu- afirmaHubert(1985:189)- mobilizaumaparteimportanteda populao e intensificaa vida social, o riscodo ecomuseucomunitrioresidindo,precisamente,emnuncairalmdessepapel. Pois a ausnciade dimensocientfica,na maiorpartedos processos,que destiladesviose contradies".

    Emsentidoinverso,numoutrotipo de caso, apropriaesindevidaspromoverama criaode ecomuseussemcompromissosouenvolvimentocomasrespectivaspopulaese, nestescasos, o termoecomuseuacaba mascarandotendncias passadistas e mitificadoras, inclusive com conotaes "micro-nacionalistas"(Hubert1985:187-188).

    Eisa a problemticacentraldos ecomuseus:o limiteentreo carterrevolucionrioou conservadorda construode identidadesculturais.

    Ainda seguindoo fio do desenvolvimentodos ecomuseusfranceses,vejamoscomo elesse apresentam,maisrecentemente,para o grande pblico,atravsde algumasfrasesencontradasemfolhetosde divulgao:

    "Avantememria"

    (s/ogancriado em 1986e encontradoem maisde umfolheto,como no da Federaodos Ecomuseus e dos Museus de Sociedade, ainda em circulao em 1993).

    "Visiteosecomuseuse os museusde sociedadeparacompreendere guardarna memriaaquilo que se transmitee se transforma suavolta".(Folhetoda Federaodos Ecomuseuse dosMuseusde Sociedade, c. 1986, ainda emcirculaoem 1993).

    "Objetos, ofcios e gestos,stios industriaise paisagens, histriasocial, culturasdeonteme de hoje.(ib.).

    "Umpassado infinitamentepresente"(Folhetodo Ecomuseude Marqueze, Grande Lande,c.1986, ainda emcirculaoem1993).

    "A grande aventuramartimae industrialde Saint-Nazairecomeouem meadosdosculoXIX(H.).Hoje comoontem,a indstrianazairianademonstraumaculturatcnicade alto nvele capacidades de inovaoe adaptao. (...)Mas a aventuracontinua(...).Eestaaventura

  • formulou uma reflexo neste sentido, com a preocupao em criar umadiferenciaoemrelaoao governoanterior(Giscardd'Estaing),quehaviatratadoa questodo patrimniode forma bastante~onvencional,como poltica depreservaode monumentos,por assimdizer. E o que ponderaPoulot(1994:73), assinalando,inclusive,que Leslieuxde mmoire,obra dirigida por P.Nora(1984/86), foi organizadanestamesmapoca e com preocupaode mesmaordem,de refletirsobrea identidadefrancesae a memriacoletiva.

    O problemada identidadenos museusfoi abordado com acuidadeporUlpianoT.BezerradeMeneses,numartigocujaleiturapodetrazerinquietao,justamentepor questionarum "dogma".Apontandopara uma perda geral desentidocrtico,mostraquea identidadepassoua serconsiderada,desdeos anos60, no seio das ideologiasdifundidasnos museus(comoem outroscampos),como "umasubstncia,quintessnciade valorese qualidadesa prioripositivos,imunesa qualquercrivo.E o museucomoseusanturio"(Meneses1993: 208).O autornonegao saldopositivoquea polticaemtornodas identidadesculturaistrouxenumquadrogeralde militnciasnosmuseus.Mas assinalaqueo dogmatismoem tornode umpretensocartersalvadorda noo/sentimentode identidadeculturalpode serbastanteprejudicialquandose perdea capacidadede anlisecrtica.

    Os ecomuseussempretrabalharammuitoacentuadamenteem tornodo conceito de identidade, a comear j por seusantecessores(os museusregionais),emboraemdiferentesdireese comdiferentesconotaesao longodo tempoe do espao.A prpriaDefinioevolutivado ecomuseu,de GeorgesHenri Riviere(1983)21,conhecidae repetidaem coro por toda umagama demuselogosno mundotodo, trazem seu bojo a noo de identidade,quandoJefineo ecomuseucomoespelhopara auto-reconhecimentode umapopulao.E a istoque maisse temapegado a maioriamas precisolero textode Rivieretodo, prestandoateno evoluo de idias, no esquecendoos outrosdefinidores,quealmdo espelhocompema complexidadedo ecomuseu- e danoode identidadecomoprocessodinmico:instrumentoconjuntode umpodere de umapopulao;expressodo homeme da natureza;expressodo tempo;interpretaodo espao; laboratriode estudos;conservatriodo patrimnionaturale cultyral;escola.

    Everdadeque,ao seapresentarcomosntesee espelhode identidade,esse tipo de museupode tendera simplificarquestese "desproblematizar"problemashistricosmasa propostasemprefoi, ao contrrio,fazerdelescentrosdinmicosde reflexointelectuale poltica.Sobreo conservadorismo(ouno)danoode identidadeculturalvaleacrescentarqueessesmuseus(quegeralmentetrabalham em linhas de antropologia histrica), muitasvezes formalmentedesignadoscomomuseusde identidade,passarammaistardea sechamarmuseusdesociedade(deinteraosociale/ou tendoa sociedadecomoobjetode estudose campo de atuao),justamenteporquea tnica da identidadeculturalteriarazesmuitoprximasdas que desencadearame desencadeiamos racismoseoutrosfatoresdesegregaessociais.A expressomuseusdesociedade utilizadaoficialmentepara designar,na Frana,inclusiveadministrativamente,museusdeetnografiaregional,ecomuseuse afins.Seusentidofoi definidopor Claude Lvi-Strausscomo sendoo de "ensinars pessoas,especialmentes crianase aos

    21. o mesmo texto, e-

    laborado em 1980, foi

    publicado, por vezes

    com pequenas modifi-

    caes,em vriosve-culos, tais como o jornal

    Ecomusenformations(1983: 1),do Creusot;na

    antologia reunida ao fi-

    naldolivrode Dagognet(1984: 168-169); e non.148 da revista Mu-

    seum (1985), sobre osecomuseus.

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    AndreSublinhado

    AndreSublinhado

  • 22.Sobreo trabalhom-terdisciplinarna forma-odoMuseudaBreta-nha,verVeillard(1972).

    224

    adolescentes,como melhorsituar-sena sociedadeem que vivem"(Lvi-Strauss1992:168).

    Mais recentemente,criou-se,no Canad, a expressomuseudecivilizao (ou das civilizaes),que, pouco esclarecedora primeiravista,corresponde soluoconceituala quesechegounaevoluodosantigos"museusde identidade",pretendendocontinuaremsualinhade atuaosocial localizadamasemplenasintoniacoma erada "globalizao".Istopodeparecerparadoxal,porumlado e, poroutro,pode reconduzir,de certomodo,aos museusuniversais,masassimse apresentam:

    "Ummuseunacionalde histriahumanadesempenhaumpapel particular(...).Tendeadefinirnossaidentidadeculturale nossoprpriopas, incentivaros canadensesa teremorgulhode suacultura,d a conhecerao mundoa originalidadedo Canad e mostracomo povosde diferentesculturasmoldaramo pas e forampor ele moldados.(...)Hoje acessvelao mundotodo, o MuseuCanadensedas Civilizaes()o microcosmoda aldeiaglobal. (...)O pensamentodestegrandepioneirocanadensedascomunicaese mdias,que foi Marshall McLuhantevetal influnciana concepo do museu,quemereceserconsideradocomo umdos mentoresdo projeto".(MacDonald&Alsford(1989:2-4),sobreo MuseudasCivilizaes,nacidadedeHull(Qubec),Canad).

    "O complexodo Museuconstituiumainstituioculturale educativaquetem,entresuasvocaes, as de difundira Histriado Qubec e de estabelecercomparaescomoutrasmaneirasde verou de fazer pelo mundoafora".(Mariejos Rivires(1991:1), sobreo Museu da Civilizao, na cidade de Qubec(Qubec),Canad).

    Interd isci pl ina ridade 1i nterao

    Desde 1980, quando o Comit de Museologia do ConselhoInternacionalde Museus (lCOFOM-ICOM) definiu, formalmente,o carterinterdisciplinarda Museologia (Museo/ogicalWorkingPapers1980), muitosfiostm-se cruzado (e emaranhado) na compreenso do sentido dessainterdisciplinaridade.

    Nos ecomuseus e em vrios museus regionais franceses, ainterdisciplinaridadefoipraticadacomodecorrnciade umanecessidadede fazerinteragirdiferentesespecialistase conhecimentospara trabalhar,emtoda a suacomplexidade,umadada cultura.

    Assim,Histria,ArqueologiaeAntropologiaregionaissoapresentadascomodisciplinasde basede museuscomo, porexemplo,o Museuda Bretanha,emRennes,observando-sequesetratade umaregioricaemstiosarqueolgicos,com umaculturae umahistriabastanteparticulares22. _

    Quantoaosecomuseus,almda interaodasdisciplinasacima,seriacomuminterviremtambmespecialistasem cinciasda natureza,em tcnicaetecnologia,alm de portadoresde conhecimentono acadmico, detido poraquelesque viverame agiramnumdado tempolespao, ao qual se dedica oecomuseu.A dependerda rea de atuaodo ecomuseu,umantigominerador,umchapeleiroou umex-tripulantede umsubmarino,por exemplo,poderatuarjuntoao ecomuseu,naqualidadede membroda comunidadeenvolvida,quetraztambmseusaberao conjuntode conhecimentosqueinteragemparaa formao

  • e a atuaodo ecomuseu23.Houveumaespciedefrmulaideal,propostaporRivire-e dificilmente

    aplicadana ntegra-emqueosecomuseusseriamconduzidospelaao conjuntae solidriade trscomits:o de gesto(administradoresmunicipaisou regionaisLo de usurios(membrosda comunidadeenvolvida)e o cientfico(acadmicospertencentesaos quadros de universidadesprximas,estudiososde questesimplicadosna propostado ecomuseu)(d. Barbuy1989).

    Territrio/Comunidade

    A partirda primeirafasedosecomuseus- a dos parquesregionais- foialavancadaa idia-chavedo envolvimentode todo umterritrio(de onde teriasurgido,inclusive,o termoeco-museu,museudedicado a umterritrio,seumeio-ambiente,seja natural,rural,urbanoe/ou industrial).Mas a prpria idia deterritriopodesertomadaemseusentidomaisespacialou no. H umatendnciaemseconferirao termoterritrio,umsentidomaisantropolgico,ou seja,aquelede umterritrioconstrudopor umadada populaoe a ela pertencente,comelaidentificado(d. Davallon1986: 105-114).

    Mas o mbitoespacial, naverdade,o diferenciadormaisvisveldosecomuseus; istoqueostornadiferentessvistasdo visitantecomum:o Ecomuseude Rennes(LaBintinaisLporexemplo,constituiu-senosdomniosde umafazendado sculoxvn, preservadanummeio hoje totalmenteurbanizado(Fig. 9)24;oEcomuseude Saint-Nazairetevesua sede instaladadentroda rea porturia.Ambos foram criados em 1988, e correspondem gerao mais recente deecomuseusfranceses(umaquartagerao).O primeiro,na linhados ecomuseusde culturasrurais,dedica-seaos modosde vida ligados culturaruralda regiode Rennes,marcado,"antesde maisnada,peloritmoda vidaquotidiana,reguladapelo desenrolardas estaese a sucessodos trabalhosagrcolas"(trechodotextode fechamentoda exposiocentral,que, intituladoVivreaupaysde Rennes,indicao sentidode snteseda exposiopermanenteinstaladana casa-sededafazendada Bintinais).Seusgrandestemasso "0 desenvolvimentodemogrficoeurbanode Rennese de sua regio;as geraesde proprietrios,fazendeiroseempregados,ligados Bintinais;a vida quotidiana(cozinha,lazer,linguagem,vestimentase arranjosde espaosinteriores;a histriadas produesagrcolaseas tcnicas,do Antigo Regimeaos nossosdias" (d. Clarke, Maillard & Veillard1991:3) (Figs. 10)25.O segundo caso, o Ecomuseude Saint-Nazaire] na linhados ecomuseusde culturasindustriais,dedica-sea uma cidade porturia,depopulaomajoritariamentemigrante,vindaemfunoda indstrianavale, hoje,tambmaeroespacial.Quase totalmentedestrudadurantea 1IGuerra Mundial,ao ser reconstruda,Saint-Nazaireseguiuumplano urbansticoque promoviaaseparaoentrea zona urbanapropriamenteditae a zona porturia.O ecomuseufoi instaladoemfunode umanovapoltica,quevisavaa religaoda cidadecomseuporto(d. Saint-Nazaire1985).

    Algunsecomuseus,quelevaramfrentea idiade um11espalhar-se"pelo territrio(clatemen~,implantaramas chamadas antenas,centrosmuseolgicosque, interligados a uma sede-sntese, tratariam de temas especficos, formandouma rede espalhada pelo territrioao qual o ecomuseu se dedica (por exemplo,

    ----

    23. Observe-seque omuseue a Museologiasovistos,dessemodo,comointerdisciplinaresmasisto no se esten-

    deriaparaomuselogo,comotofreqentemen-tesetementendido.

    24.Sobrea histriadaFazendada Bintinaise

    suatransformaoemecomuseu;ver Hubert,Maillard & Veillard(1987).

    25.ABintinaisnoguar-daacervosemreservas

    mas a exposio noprescindedeles.E,almdisso, um ecomuseuanexoaoMuseudaBre-tanha:"no local,nohcoleesagerir,nohreservas:estatarefacon-

    tinuafazendopartedasmissesdo Museu daBretanha"(Hubert1991:53).

    225

    AndreSublinhado

  • umaantigaescolapodesetransformarnumaantena- ummuseu- parapesquisas,coletasde acervo,exposiese todotipode atividademuseolgicaemtornodahistriadaquelaescolaou, de modomaisamplo,da pedagogia naquelaregioe assimpor diante).

    Sentidode atualidade

    Algunsecomuseusseguiramexplicitamentepelocaminhoda nostalgiapassadista.Entretanto,comoprincpio,o ecomuseufoi propostocomoinstrumentopermanentede ligao entreo passado e questescandentesde atualidadesocial.

    A grande revoluodeste tipo de museologiafoi, na verdade, apropulsodos museusemdireoao tempopresentee tambmao futuro.Emsuaconcepo,o passadodeixa de serumaespciede "tempoforte",mitificadoeparalisadoem umaexistnciaestanquede algo que no se relacionacom aatualidadeparaserabordadoemperspectiva,sendo-Iheconferidaumanoodedinmicaqueo inter-relacionacomo presentee faz tudopertencera ummesmoe complexoprocessohistrico(ouantropolgico-histrico,essencialmente).Mesmonocamposimblico,osobjetosdo passadodeixamdesersimplesmentereificados,congeladose a seguirreverenciadoscomoalgodistantee intocvelparareassumirumpapeldinmicono sistemasimblicodo tempopresente.

    Hoje, numexemplodo que seriaumecomuseude ltimagerao,com o sentidoda atualidadeque, em suasreas ao ar livre,o EcomuseudeRennes,na antiga fazenda da Bintinais,mantma criao de espcimesemextino,animaise vegetais(Fig.11), no sentidono de passadismomas depreservaoecolgica:emfunodosobjetivosde produtividadequetmorientadoas atividadesagropecurias,vriasraasde animaise tiposde plantastmsidodeixadosde lado e passa,por isto,a havera preocupaocomsuaextinoecomo conseqenteempobrecimentodo patrimniogenticodo planeta.O tema,dosmaisatuais, ali tratadocientificamentee amplamenteexploradoematividadeseducativas.

    Inmemoriam

    A Waldisa RssioCamargoGuarnieri.

    226

    -- -------

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  • Pratose maispratos:louadomstica,divisesculturaise limitessociaisno Riodejaneiro, sculoXIX

    TaniaAndradeLima

    A grandequantidadede louadomsticaquevemsendorecuperadaemescavaesarqueolgicas,realizadasem unidadesresidenciaisdo sc.XIX,no Rio de janeiro, levoua umareflexosobre osignificadodessesobjetospara a sociedadeque os incorporouto intensamenteao seucotidiano.O presenteartigoanalisade quemodoelasforamutilizadasparaa manutenodos limites,reforandoprincpiossociais,e de que modoconstituramumaexpressoda ordementovigenteno pas.Unitermos:Louadomstica.Rio deJaneiro,sc.XIX.ArqueologiahistricaAnaisdo MuseuPaulista,n.sr.,v.3,p.129-191,1995.

    Dishesand moredishes:domesticearthenware,culturalsegments,and sociallimits in 19th-centuryRiodejaneiro, Brasil

    TaniaAndradeLima

    The hugeamountof domesticearthenwarerescuedby currentarchaeologicalexcavationsachievedin habitationsitesin 19th-centuryRiode Janeiro, asksfora reflectionon themeaningof sucha kindof artifactfora societythatso intensivelyincorporatedit intoitseverydaylife.Thisarticleanalyzestheways use was made of earthenwarein order to keep on social limits,thusstrengtheningsocialprincipies,and how it becamean expressionof theprevailingorder.Unitenns:Domesticearthenware.Rio deJaneiro, 19th-century.HistoricalArchaeo1ogy.Anaisdo MuseuPaulista,n.scr.,v.3,p.129-191,1995.

    O espetculodo Ipiranga: reflexespreliminaressobreo imaginrioda IndependnciaCeciliaHelenade SallesOliveira

    Esteartigoconstituiumaincursoinicialemrelaoao temado imaginrioda Independncia.Tomacomo questocentrala construode um monumentono Ipiranga,celebrativoda data de 7 deSetembrode 1822,e se propea discutirtalprojeto,conformefoi formuladona dcada de 1870.Unitermos:Monumentodo Ipiranga.Independnciado Brasil.imaginrio.Anaisdo MuseuPaulista,n.sr.v.3,p.I95-208,1995.

    The spectacle of Ipiranga: introductory remarks on the 'imaginaire' of Brasil's Independence

    Cecilia Helena de Salles Oliveira

    This article is a firstapproach on the 'imaginaire' of Brasil's Independence and deals with the projectof a monument intended to celebrate the place where it was declared (the Ipiranga fields in SoPaulol and the date (September 8, 1822). The discussion focus on the construction project putforward in the seventies of last century.Unitenns:IpirangaMonument.Brasil'sIndependence.Historyofthe'imaginaire'.AnaisdoMuseuPaulista,n.sr.v.3,p.I95-208,1995

    A conformaodos ecomuseus:elementospara compreensoe anlise

    HeloisaBarbuy

    Apresentaumahistriados ecomuseusenraizada nosmovimentosde folcloree etnografiaregional,do finaldo sculoXIXat os dias de hoje, examinandoo caso francs.Exploraaspectosemgeralmenosenfatizadosnestecampo,talcomoa naturezae o papelatribudoaosacervose ao patrimnioculturale padresmuseogrticos.UItermos:Ecomuseu.Histriado ecomuseu.Museologia.Museografia.Museude Folclore.Anaisdo MuseuPaulista,n.sr.v.3, p. 209-236,1995.

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  • Theshapingof ecomuseums:elementsfor analysisand understanding

    Heloisa Barbuy

    This article seeks to trace an overall history of ecomuseums - especially in France - and to detect itsroots in folkloristic as well as regional ethnography movements, trom the end of the 19th-century untilnow. Aspects usually underrated are emphasized, as the role of collections and cultural heritage andthe museographic patterns.Uniterms:Ecomuseum.Histoyof theecomuseum.Museology.Museogmphy.Folk1oreMuseum.AnaisdoMuseuPaulista,n.sr.v.3,p.209-236,1995.

    F.Braudel:tempohistricoe civilizao material.Umensaio bibliogrfico.

    Antonio PenalvesRocha

    A publicao recenteda traduobrasileirada obra de FernandBraudel,Civilisationmatrielleetcapitalisme,oferece uma boa oportunidadepara o reexamede alguns aspectosdeste livro. Opresenteensaio pretendedestacar a importncia dada por Braudel s questes tericas - principalmentesuaconcepo de tempohistricoe seuesforopara criara unidadedas cinciasdo homem- e opapel que desempenhamna delimitaodo objetodo livro.Unitermos:FemandBraude!.Tempohistrico.Civilizaomaterial.Anaisdo MuseuPaulista,n.sr.v.3,p.239-249,1995.

    F.Braudel: historicaI time and material civilization. A bibliographical essay.

    PenalvesRocha

    The recentappearance of a Brasiliantranslationof FernandBraudel'sCivilisationmatrielleetcapitalismeis a good opportunifyto reexaminesomeaspectsof thisseminalbook and to seektobound itscentralobject.Specialattentionis called to theimportanceassignedby Braudelto sometheoreticalissues,undertheaegis of "materialcivilization",mainlyhisconceptof historicaltimeandhiseffortto unify thesocial sciences.Uniterms:FemandBraude!.Historicaltime.Materialcivilization.

    Anaisdo MuseuPaulista,n.sr.v.3,p.239-249,1995.

    Indumentriae moda: umaseleobibliogrficaem Portugus

    AdilsonJos de Almeida

    Foram descritivamente listados livros e captulos de livros, traduzidos ou originalmente escritos emportugus, entre 1979 e 1996 e referentes a vrios aspectos da indumentria e da moda. Oobjetivo fornecer um quadro de referncia de acesso imediato tanto para o especialista, comopara o leigo. A lista propriamente dita est precedida por uma caracterizao geral da bibliografiae por um tratamento mais demorado daqueles autores que se considerou representarem algumasimportantes vertentes neste domnio.Unitermos:lndumentria.Moda.Bibliografiaseletivaedescritiva.AnaisdoMuseuPaulista,n.sr.v.3,p.251-2%,1995.

    Clothesand fashion:a selectbibliographyin Portuguese

    AdilsonJos deAlmeida

    Booksand book chapters,originallywittenin Portugueseor translatedinto it, fom 1979 to 1996,and relatedto severaIaspectsof clothes,clothingand fashionare listedinorderto providean easil'y'availableframeof referencesforspecialistsas well as for laymen.The listingis precededbya briefcharacterizationof thebibliographyand bya moredetailedtreatmentof thoseauthorsconsideredtorepresentsomeimpotantstreamsin thisfield.Uniterms:Clothes.Fashion.SelectdescriptivebibliogmphyAnaisdo MuseuPaulista,n.sr.v.3,p.251-296,1995 299