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A Condição Humana e a Obra de Arte na Era da Imaterialidade The Human Condition and the Work of Art in the Age of Immaterial Production Nicole Chagas Lima Bolsista CAPES - Mestranda do PPGAV – CEART-UDESC [email protected] Resumo: A inserção de novas tecnologias no campo da arte sempre gerou discussões acerca do que passaria ou deixaria de ser considerado arte propriamente a partir delas. Desde a dita “era da reprodutibilidade técnica” em que Walter Benjamin anunciava a perda da “Aura”, ao minimalismo industrial de Donald Judd, o objeto artístico foi progressivamente desvinculando-se de seu gênio- criador, questionando valores que iam desde a sua execução por máquinas que substituíam progressivamente a mão do virtuoso artista, perdendo seu valor de culto e exposição, a medida que não distinguíamos cópia e original, conquistando espaços cada vez mais diluídos, expandindo o interior da galeria ao plano real: o urbano. Nesse artigo apresento e analiso uma série de recentes trabalhos de artemídia à luz das reflexões de Hanna Arendt em seu livro “A Condição Humana”. Como se dão as relações humanas em trabalhos mecanizados por interfaces eletrônicas? Palavras-chave: interação; espaço; condição humana; espectador. Abstract: The introduction of new technologies in the field of art always has sparked discussions about what would or would not be considered art itself. From the so called “Age of mechanical reproduction” in which Walter Benjamin announced the loss of the “Aura”, to the industrial minimalism of Donald Judd, the art object has been gradually divesting itself of its genius-creator, questioning values since its very production, progressively favoring machines over the hand of the virtuous artist and occupying increasingly diluted spaces as these works expand from the interior of the gallery to the real plan: the city. In this article I present and analyze a series of recent works of media art in the light of the writings of Hannah Arendt in her book "The Human Condition." Where do our human relations stand in such mechanized works produced by these electronic interfaces? Keywords: interaction; space; human condition; viewer.
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Feb 06, 2018

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A Condição Humana e a Obra de Arte na Era da Imaterialidade

The Human Condition and the Work of Art in the Age of Immaterial

Production

Nicole Chagas Lima Bolsista CAPES - Mestranda do PPGAV – CEART-UDESC

[email protected]

Resumo: A inserção de novas tecnologias no campo da arte sempre gerou discussões acerca do que passaria ou deixaria de ser considerado arte propriamente a partir delas. Desde a dita “era da reprodutibilidade técnica” em que Walter Benjamin anunciava a perda da “Aura”, ao minimalismo industrial de Donald Judd, o objeto artístico foi progressivamente desvinculando-se de seu gênio-criador, questionando valores que iam desde a sua execução por máquinas que substituíam progressivamente a mão do virtuoso artista, perdendo seu valor de culto e exposição, a medida que não distinguíamos cópia e original, conquistando espaços cada vez mais diluídos, expandindo o interior da galeria ao plano real: o urbano. Nesse artigo apresento e analiso uma série de recentes trabalhos de artemídia à luz das reflexões de Hanna Arendt em seu livro “A Condição Humana”. Como se dão as relações humanas em trabalhos mecanizados por interfaces eletrônicas?

Palavras-chave: interação; espaço; condição humana; espectador.

Abstract: The introduction of new technologies in the field of art always has sparked discussions about what would or would not be considered art itself. From the so called “Age of mechanical reproduction” in which Walter Benjamin announced the loss of the “Aura”, to the industrial minimalism of Donald Judd, the art object has been gradually divesting itself of its genius-creator, questioning values since its very production, progressively favoring machines over the hand of the virtuous artist and occupying increasingly diluted spaces as these works expand from the interior of the gallery to the real plan: the city. In this article I present and analyze a series of recent works of media art in the light of the writings of Hannah Arendt in her book "The Human Condition." Where do our human relations stand in such mechanized works produced by these electronic interfaces?

Keywords: interaction; space; human condition; viewer.

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“Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.

– Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? – pergunta Kublai Khan.

– A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra – responde Marco -,

mas pela curva do arco que estas formam.

Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta:

– Por que falar das pedras? Só o arco me interessa.

Polo responde:

Sem pedras, o arco não existe” 1

Arbitremos que por volta dos anos 1960, a arte pensou ter alcançado o que seria o

ápice do objeto artístico: o NÃO objeto, o limite em que obra e criador se fundiam no corpo

físico do artista que a produzia em pensamento e ação: a performance. Contudo, havia

ainda mais um limite a ultrapassar: o limite da obra que se (re)produz como um vírus ou

fractal, sem a presença do próprio artista. Obras mutantes que tomam novos corpos a partir

de interações ou alterações de seus usuários.

É fato que a recente revolução midiática vem subvertendo a produção artística nas

últimas duas décadas. Mas o que permanece sendo Arte nisso que não é palpável no espaço,

que sequer tem nome, lugar, autor? Quem é o artista? O programador do software ou seus

usuários? Com base em diversas leituras e análise de algumas obras representativas da

crescente produção artística em novas mídias, tentarei aqui traçar um paralelo entre essa

produção e o livro A Condição Humana de Hannah Arendt (Forense Universitária, 2001),

com o intuito de discutir o que permanece e o que é volátil nessas obras.

Cartografias Relacionais, uma nova escrita? “(...) aquilo que é visto e ouvido pelos outros e por nós mesmos, constitui a realidade.” (ARENDT, p. 59)

Muitos trabalhos de artemídia são formulados sob forma de infográficos,

apresentados como mapas resultantes, não de uma geografia, mas de uma sociografia de

1 diálogo entre Marco Polo e o Grão Cã, em Cidades Invisíveis, de Italo Calvino

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relações abertas a novas e constantes transformações. Sob uma ótica tecnológica e,

portanto, supostamente imparcial, cidades são analisadas em novos campos muitas vezes

minuciosamente subjetivos. O hardware, software ou o que o venha substituir nada mais é

do que um sistema de agenciamento de relações possíveis, um campo de virtualidades

(re)construídas em um ambiente digital dinâmico. Bancos de dados são alimentados com

fotografias, desenhos, vídeos, sons, textos, palavras ou qualquer fragmento que represente

ou descreva essa nova cartografia. Algoritmos calculam a quantidade de vezes que cada

dado é acessado, acrescendo-lhes de direção, agregando-os por semelhança em campos de

forças e fluxos, capazes de gerar imagens e sons que se materializam em um meio físico.

Por serem dados digitais, os usuários de qualquer parte do mundo em rede podem

não somente visualizar o resultado desses trabalhos, mas alterá-los com seus próprios

dados. Assim a obra nunca se encerra, pois não está no objeto resultante, mas no ato de

torná-lo presente. Os meios digitais não servem para ver ou representar imageticamente

essa cidade, mas para que as pessoas, através dessas interfaces, marquem sua presença e

vejam a si próprias em RELAÇÃO às outras. Ao trocarmos o foco da visibilidade pelo da

presença, geramos reflexões sobre nós mesmos: onde estamos, o que pensamos, o que

vemos e que todos podem ver, ouvir, experienciar. Ainda que sob forma de ilusão,

acreditamos que em uma rede todos os pontos estão interligados, e já não estamos sós.

Ao contrário da ciência que vê na evolução da máquina um fim em si (cada vez

mais rápida, mais autônoma, mais humana?) a arte em novas mídias utiliza a máquina para

questionar a própria máquina. No capítulo 6 “A Promoção do Social” (p. 51) de A

Condição Humana, Hannah Arendt atenta para a suposição de que os homens “se

comportam” ao invés de “agir” em relação aos outros, e que esse comportamento é também

supostamente previsível e mensurável pela estatística, pergunto então: o que (ou quem) é a

máquina, um produto da ciência, ou a própria sociedade? O fato de a arte se utilizar de

dados para agenciar realidades, (ex)põe essa condição em um lugar intermediário, uma

fresta que torna visíveis os comportamentos padronizados. A artemídia se coloca então

nesse lugar resultante, extraído do sumo que passa pelo filtro: substância maquínica,

interface mundana, interstício e trânsito entre ciência e sociedade, arte e vida.

Para Hannah Arendt, conviver no mundo significa essencialmente ter um mundo de

coisas em comum interposto entre os que nele habitam, como uma mesa se interpõe entre

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os que se assentam ao seu redor: “(...) O que torna tão difícil suportar a sociedade de

massas não é o número de pessoas que ela abrange, antes é o fato de que o mundo entre elas

perdeu a força de mantê-las juntas, de relacioná-las umas às outras e de separá-las.”

(ARENDT, p. 62) Isso faz pensar no que seja talvez o papel principal dessas obras: recriar

o mundo. Não o mundo das coisas que já existem, mas um mundo que se interponha, que

nos una e nos separe, redefinindo relações, devolvendo a nossa capacidade de estar juntos

onde o mais distante pode ser o estranho sentado ao lado e o mais próximo pode estar a

milhares de quilômetros em outro continente. Trabalhos que tomam o indivíduo como co-

autor que nessa rede, FAZ ao mesmo tempo em que também FAZ PARTE da obra.

A busca:

Em seu artigo “Tecnologias móveis: amigos ou inimigos disfarçados?”2 Martha

Gabriel afirma que a busca é a tecnologia que permeia todas as outras. Usamos ferramentas

de busca em computadores e aparelhos móveis para encontrar informações e pessoas na

web, em redes sociais, em sistemas GPS, e em qualquer outro sistema ou rede on-line.

Toda e qualquer informação pode ser localizada e acessada, o que nos faz ter a ilusão de

que tudo coexiste. Essa coexistência de tudo traz a necessidade de filtros e validações: o

que é real? onde eu estou, gota num oceano de informações? Martha Gabriel afirma que, de

acordo com o Paradoxo da Escolha3, “quando as opções de escolha aumentam, nos

sentimos mais angustiados ao invés de nos sentirmos mais livres e felizes para escolher.”

Na obra intitulada Bit Fall (2006, Figura 1), o artista alemão Julius Popp utiliza um

programa de software que busca as palavras mais citadas em sites de noticiários

internacionais, segundo a segundo. As palavras filtradas alimentam um sistema que as

escreve utilizando gotas d’água que caem numa espécie de cachoeira de dados. O trabalho

foi exposto em diversos locais do mundo, de galerias a espaços urbanos. Para cada nova

exposição a língua utilizada é adaptada ao local. Assim como esse, outros trabalhos de arte-

mídia funcionam como um filtro por onde as informações captadas não apenas se tornam

visíveis, mas palpáveis: objetos de reflexão.

2 GABRIEL, Martha, "tecnologias móveis: amigos ou inimigos disfarçados?” in: Apropriações do (In) Comum. Espaço público e privado em tempos de mobilidade. São Paulo: Instituto Sérgio Motta, 2009. (p. 61) 3 SCHWARTZ, B. 2005, The Paradox of Choice: Why More is Less. US: Harper Perennial.

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Figura 1

Em Energie_Passagen4 (Monika Fleischmann e Wolfgang Strauss, 2004) textos são

retirados de um veículo de massa: o jornal diário. Um computador analisa por processo

automatizado o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, e reduz as palavras ordenadas por

frequência (mais ou menos utilizadas). Os termos que são filtrados neste processo são

projetados como “informação” deste fluxo para uma a praça em Munique. O visitante tem

ainda a possibilidade de escolha de termos que pode selecionar e “jogar” no fluxo. Vozes

de computador reagem a essa seleção causando um eco de muitas vozes. Assim, os

movimentos de texto são iniciados pelos espectadores que tornam as ligações entre os

termos aparentes.

Outro trabalho que traz uma reflexão sobre a transcodificação e visualização de

dados é a obra Ursonography5 (2005, Figura 2), em que o poeta e vocalista holandês Jaap

Blonk faz uma interpretação da Ur Sonata (1932) de Kurt Schwitters, uma obra-prima da

poesia concreta do século XX em que a fala é reduzida aos seus elementos mais abstratos e

musicais. Blonk apresenta a Ur Sonata com a ajuda do computador, que transcodifica as

sua falas, que são projetadas no espaço em tempo real. Seguindo a dinâmica da voz de

Blonk, as projeções sofrem transformações tipográficas que revelam novas dimensões da

estrutura do poema.

4 Energie_Passagen [Energia_Passagem] – Lendo e (D)escrevendo a Cidade. Monika Fleischmann e Wolfgang Strauss. Munique, 2004. Link para o site: http://energie-passagen.de/projekt_engl.html 5 Ursonography. Jaap Blonk & Golan Levin, 2005. Link para o site: http://www.vimeo.com/2365557

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Figura 2

Pluralidade:

“(...) a pluralidade é a condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista, ou venha a existir.” (ARENDT, p. 16)

No capítulo 1, “Vita Activa e a Condição Humana” (p.15 -20), Hanna Arendt

subdivide as atividades humanas em três ordens: Labor, Trabalho e Ação. O Labor trata

apenas de suprir nossas carências elementares como a fome, o sono e o frio. Já o Trabalho

produz um mundo artificial de coisas “(...) a condição humana do trabalho é a

mundanidade.” As coisas e o mundo que criamos a partir do trabalho se destinam não à

sobrevivência da espécie, mas à construção da sociedade. Contudo é a Ação a atividade

que corresponde à pluralidade, ao fato de que homens, e não o homem, vivem na terra e

habitam o mundo. “(...) essa pluralidade é especificamente a condição, não apenas a

conditio sine qua non, mas a conditio perquam, de toda vida política.” (ARENDT, p. 15)

Essa condição de pluralidade está presente em diversos trabalhos de artemídia.

Neles o espectador não é apenas um convidado que interage com elementos presentes na

obra, e sim um co-autor, um elemento que por sua presença a altera permanentemente.

Assim, as obras de artemídia se aproximam muito mais do campo da ação como

performance, interconexão no tempo, espaço e plano, do que propriamente no seu

subproduto-objeto. O artefato (objeto resultante) é apenas um índice da arte que ali ocorre e

não necessariamente a arte propriamente dita.

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A obra Reface (2007, Figura 4), de Golan Levin and Zachary Lieberman, é mais um

exemplo desse tipo de interação que implica a alteração da obra. O trabalho se utiliza de

um software de vídeo que compõe infinitas combinações dos rostos de seus visitantes. Uma

câmera registra e dinamicamente remonta fatias dos olhos, sobrancelhas e vozes dos

espectadores que interagem com uma imagem construída a partir de seu histórico de visitas.

A mistura resultante das personalidades e características genéticas de seus visitantes cria

um “retrato de grupo”, num jogo de aparências e identidades.

Figura 4

Da Eternidade x Imortalidade “Os homens são os mortais, as únicas coisas mortais que existem porque, ao contrário dos animais, não existem apenas como membros de uma espécie cuja vida imortal é garantida pela procriação. (...) Essa vida difere de todas as outras pelo curso retilíneo de seu movimento que intercepta o movimento circular da vida biológica. É isso a mortalidade: mover-se ao longo de uma linha reta num universo em que tudo o que se move o faz num sentido cíclico." (ARENDT, p. 27)

Ainda que o possamos gerar descendentes, não podemos gerar uma cópia de nós

mesmos. Como não somos iguais, nem reproduzíveis, angustiamo-nos com a idéia de

nossas mortes. Goethe observou certa vez que envelhecer é “desaparecer gradualmente”.

Para os vivos, a morte é, antes de mais nada, esse desaparecimento rumo à incapacidade de

estar entre e portanto de agir sobre o outro. a questão da morte no tempo e no espaço vem

sendo retratada por inúmeros artistas ao longo dos séculos. A novidade trazida por alguns

recentes trabalhos tem sido tratar não do desaparecimento do autor, mas da obra em si que

se desfaz a cada gesto ou olhar do espectador. Paradoxalmente, à medida que se desfaz,

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constrói sua própria eternidade: história que poderá ser recontada ou reencenada por todos

que assim quiserem, bastando seguir as instruções deixadas pelo autor.

Na década de 1990, Felix Gonzalez-Torres apresentou dois trabalhos que

exemplificam bem essa questão, ainda que distantes do universo das mídias eletrônicas.

Tanto em Public Opinion – uma pilha de balas doces amontoada contra a parede contendo

exatamente o peso do corpo do artista. (1991, Figura 5), como em Passport – uma pilha de

folhas brancas de papel (1991, Figura 6), o público é convidado a retirar partes da obra, que

eventualmente desaparecem antes do término da exposição. Por outro lado a obra levada

pelo expectador o contamina, se tornando parte dele, que a reconstrói na exata proporção

em que a destruiu.

Figura 5 Figura 6

Outro exemplo de interação que produz ao mesmo tempo aparições e

desaparecimentos é a obra The Protean Image (2008), do artista REAS6 onde participantes

modificam a raiz do software, preenchendo um cartão de programação que está inserido em

uma máquina que os lê e faz alterações que geram novas projeções na parede. A ênfase

desta ação é a relação entre as escolhas dos visitantes e as mudanças resultantes do

software.

Em Healing Pool7 (2008, Figura 7), Brian Knep usa algoritmos para criar uma

imagem incandescente de padrões orgânicos no chão. Quando uma pessoa anda por essa

superfície luminosa, os padrões se movem sob seus pés num movimento de rasgar e

reconstruir, mas nunca exatamente como antes. Para Brian, “A mudança é semelhante a

6 site oficial do artista: http://www.reas.com/ 7 site oficial do artista: http://blep.com

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uma cicatriz deixada para trás pela cura das feridas.” Assim, a obra tem uma história, ou

memória, de todas as interações que nela ocorreram desde que a peça foi ligada pela

primeira vez.

Figura 7

Considerações Finais:

Ainda que aparentemente frios e desconectados de uma realidade sensível, esses

trabalhos de arte em novas mídias permanecem sendo fruto de questões trazidas pela

condição humana. Continuamos incessantemente buscando-nos uns aos outros e a nós

mesmos, construindo mundos para então agirmos e nos relacionarmos através deles. O que

vemos nessas obras de artemídia, é a materialização dos nossos próprios sistemas de

relações no mundo. É possível que a partir dessas obras possamos refletir sobre o lugar, ou

lugares, que ocupamos, tecendo e identificando novas relações que nos devolverão a

capacidade de estar juntos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. In: Magia e técnica

arte e política: ensaios sobre literatura e historia da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BEIGUELMAN, Gisele; BAMBOZZI, Lucas; BASTUS, Marcus;MINELLI, Rodrigo. (Orgs.).

Apropriações do (In) Comum. Espaço público e privado em tempos de mobilidade. São Paulo:

Instituto Sérgio Motta, 2009.

Link para o arquivo digital: http://www.ism.org.br/ebooks/artemov_port.pdf

GUASQUE, Yara. Cineinstalações, jogos para celular e redes virais. Como o pensamento crítico

que acompanhou a produção estética pode contribuir para a análise da produção artística mais

recente em arte e tecnologia. In: GORDILHO, Viga; HÉRNADEZ, Maria Hermínia Olivera.

(Orgs.). 18o Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas,

ANPAP, Transversalidades nas artes visuais. Salvador: EDUFBA, 2009.

IPPOLITO, Jon. Death by Wall Label. In: PAUL, Christiane. New Media in the White Cube

and Beyond: Curatorial Models for Digital Art. Berkeley: University of California Press,

2008.