Top Banner

of 54

A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

Jul 07, 2018

Download

Documents

Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    1/54

    Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas, com aintenÁ„o de dar aos cegos a oportunidade de apreciarem mais umamanifestaÁ„o do pensamento humano..

    BRECHT, BERTOLT. A alma boa de Setsuan. TtaduÁ„o de GEIR CAMPOS e ANTıNIO BULHıES. Notados tradutores. Rio de janeiro, Antunes & Cia. Ltda., 1959.

    XII + 167 + 5 P is X 13,5 em brObs.: TÌtulo da ediÁ„o alem„:Der gute Mensch von SezuanCl): S32.91Ficha impressa do IBI3D n9 59-25O1

    #A ALMA BOA DE SUSUAN

    #BERTO LT BRECHTA ALMA BOA DE SUSUANTraduÁ„o de GEIR CAMPOS

    ANTONIO BULHOESANTUNESI-110

    #TÌtulo da ediÁ„o alem„:Der gute Mensch von SezuanJV2 115 91959 AN`IUNES & CIA. LTDA.Livreiros e EditÙresRua Alvaro Alvim, 48, 9. 5O3/4 Tel.: 22-514O, r. 32 e 33RIO DE JANEIRO (Cinel‚ndia), DF BRASILBiblioteca"Arthur Vianna, sala Haroldo Maranh„o

    NOTA DOS TRADUTORESAA ALMA BOA DE SETSUAN (Der gute Mensch von Sezuan), do famoso dramaturgo alem„o BertoltBrecht, que a qualificou como"uma f·bula", foi a primeira peÁa brechtiana encenada no Brasil por um elencoprofissional, tendo cabido a iniciativa ao Teatro Popular de Airie, sob a direÁ„o de FlamÌnio Bollini"Cerri, com Maria Della Costa no papelprincipal, intei?Pretando Chen TÍ e Chui Ta, e mais, pela ordem de -entrada em cena,Osualdo Louzada como Wang, o aguadeiro; EugÍnio Kusnet como o Primeiro Deus, Joaquim Guimar„es como Segundo Deus, e BenÌamin Cattan conw Terceiro Deus; Diana Morell comoa Senhora Chin; flema d˙, Castra como a Mulher; Geraldo Ferraz como a Marido; PauloQueirÛs como o Sobrinho; MoysÈs como o EsfarraDado; Aldo do Maio como o Marc

    eneiro Lin To; SydnÈa R,?ssi como a Cunhada; Suzy Arruda como a Senhora Mi Tsu; N. N. comoo Menino; TÙnio como o AvÙ; Elza Rian como a Sobrinha; Paulo CorrÍa como o Policial;Eukaris Moraes como a Velha Tapeceira; AntÙnio Ganzarolli como lang Sun; Sa

    di Cabral como Chu Fu; MoysÈs Tam4rozzi como o Velho Tapeceiro; jurema Magalh„es como aSenhora Iang; Ìo„o Pontes como o Bonzo; Aldo de Maio tambÈm como ;o GarÁ„o. ProdttÁ?„o deS4ndro PolÙnio, cen·rios de T˙lio Costa, direÁ,?o musical de Jorge KasZ·s

    .

    #Motivos de ordem tÈcnica, entretanto, levaram o diretor FlamÌnio Bolliui Cerri a cortar aPeÁa em cÍrca de meia bora, o que Íle fÍz ali·s com louv·vel habilidade.O texto com * Pieto, da peÁa, porÈm, È o que ora oferecemos ao b˙blico brasileiro, naPresente traduÁ„o, autorizada direlam-enle Pelos editÙres e pela vi˙va de Brecht, graÁas ‡

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    2/54

    valiom intei?er ncia do romancista Jorge Amado, amigo do dutor e d stes seus tradutores no Brasil.G.C. & A,B.PrOlo go- 1I -NUMA RUA DA CAPITAL DE SETSUAN

    (Entardecer. WANG., aguadeiro da cidade, apresenta-se ao p˙blico).WANG - Eu sou o aguadeiro, aqui na Capital de Setsuan. Duro ofÌcio: quando a ·gua È pouca,tenho que ir longe busc·-la; e quando È muita, fico sa,ni meu ganha-p„o. Ali·s, de modogeral, a pobreza impera em nossa ProvÌncia; pelo que dizem, sÛ os deuses

    ainda nos podem valer., Para inef·vel alegria minha, acabo de saber, por um tropeiromuito viajado, que alguns dos santos deuses ja est„o a caminho e devem ser esperadostambÈm em Setsuan. Os cÈus h„o de estar bastante inquietos, com tantas lamentaÁıes. H· trÍs dias que estou aqui, ‡ espera, na entrada da cidade, principalmente quando anoite cai, para ser o primeiro a saud·-los; deixando para depois eu n„o teria maisoportunidade, ficar„o cercados de gente importante e n„o ser· f·cil chegar atÈ

    Íles. Ah, se eu os pudesse reconhecer! Naturalmente n„o h„o de vir juntos: talvez cheguem

    um a um, para n„o dar na- 1 -

    #vista... AquÍles n„o podem ser, que voltam do trabalho (WANG observa uns Operanos quepas. -wm) : tÍm os ombros arriados de tanto carregar PÍ.l"O... Ooutro, l·, tambÈm È quaseimpossÌvel que seja um deus: com os dedos cheios de tinta, h· de ser, quando muito, escritur·rio na f·brica de cimento.. . E Ísses dois senhores, aÌ (dois se~esvÍm passando), tampouco me parecem deuses: tÍm cara de gente bruta que vive dando pancada,e os deuses n„o precisam disso. J· aquÍles trÍs... ai a coisa muda de f

    igura: s„o bem nutridos, n„o tÍm nenhum ar de trabalhadores, e trazem pÛ nos sapatos comoquem chega de longe... S„o Íles! Podeis dispor de mim, SantÌssÌmos! (WANG prosterna-se

    ante Íles.)PRIMEIRO DEUS, (satisfeito) - …ramos esperados?WANG (dando-lhes de beber) - H· muito tempo. Mas sÛ eu tinha certeza da vossa vinda.PRIMEIRO DEUS - Precisamos de alojamento para esta noite. Sabes de algum?WANG - Algum? In˙meros! A cidade est· ‡s vossas ordens, SantÌssimos! Onde quereis ficar?(Os deuses entreolham-se significativamente.)PRIMEIRO DEUS - Vai ‡ casa mais prÛxima, filho! Primeiro o que est· mais perto!WANG - Eu sÛ tenho receio de atrair sÙbre mim a ira dos poderosos, dando preferÍncia a umem prejuÌZo de outros.. .PR111EIRO DEUS - Por isso È que nÛs mesmos te ordenamos: vai ao mais prÛximo!WANG - Ali em frente mora o senhor Fo! Um niornentinhO!(WANG corre a uma casa, e bate. Abre-se a porta, mas ve-se que Íle n„o È bem recebido:volta hesitante.)

    WANG - Que tolice: O senhor Fo n„o est·, e os empregados n„o querem fazer nada semautorizaÁ„o, porque Íle È muito severo. A raiva dÍle n„o vai ser pouca È na volta, aosaber que vos recusaram, n„o È?OS DEUSES (rindo) - Sem d˙vida!WANG - Ainda um momento! A casa ao lado pertence ‡ vi˙va Su.. . ela vai delirar dealegria! (WANG corre atÈ l·, mas tambÈm se percebe que o mandaram embora.)WANG - Tenho que ir mais adiante: ela diz que sÛ dispıe de um quarto pequenÌssimo, semarrumaÁ„o nenhuma. you dar um pulo ‡ casa do senhor Tcheng.SEGUNDO DEUS - Um quarto, pequeno mesmo, basta para nÛs. Diga ‡ vi˙va que vamos... WANG -Sem arrumaÁ„o nenhuma? Deve estar cheio de aranhas!SEGUNDO DEUS - N„o faz mal: muita aranha, Pouca m‘sca!

    #TERCEIRO DEUS (amig‡velmente a WANG) Procura o senhor Tcheng ou qualquer outro, meufilho, que as aranhas me causam certo nojo.. .

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    3/54

    - 3 -

    #(WANG aproxima-se de outra porta, bate e È recebido.)UMA VOZ, DENTRO DA CASA - Deixem-nos em paz, vocÍ com os seus deuses! Temos mais o quefazer!

    WANG (volta para perto dos deuses) Osenhor Tcheng est· possesso, a casa cheia deparentes, e n„o se atreve a expor-se aos vossos olhos, SantÌssimos: aqui entre nÛs, achoque È gente bem ruÌm e Íle n„o vos quer mostrar. Est· È com mÍdo de vÛs!TERCEIRO DEUS - Seremos assim temÌveis? WANG - SÛ para a gente ruÌm, n„o È? Sabe-se que aProvÌncia de Kuan, por exemplo, h· dezenas de anos vem sendo castigada pelas inundaÁıes...SEGUNDO DEUS - Sim. E por que?WANG - Ora, porque l· nenhum deus È respeitado.SEGUNDO DEUS - Absurdo! SÛ porque deixaram desabar a reprÍsa.PRIMEIRO DEUS - Psst! (a WANG) Ainda tens esperanÁa, meu filho?WANG - Que pergunta! Basta eu ir a uma casa mais adiante e logo hei de achar acomodaÁ„opara vÛs! Todo mundo lambe os dedos para vos dar hospedagem... Infelizmente, haveis decompreender, a falta de sorte... L· you eu!(WANG afasta-se indeciso quanto ao caminho a tomar e p˙ra, vacilante, no meio da rua.)

    - 4 -SEC,UNDO DEUS Que f oi que eu disse? TERCEIRO DEUS Enfim, pode ser azar... SEGUNDODEUS - Azar em Chun, azar em Kuan, azar em Setsuan... N„o h· mais respeito a deus, essa Èa pura verdade que vocÍ-s n„o querem enfrentar! Nossa miss„o fracassou, tÍ

    m que admitir! PRIMEIRO DEUS - Ainda podemos encontrar uma alma boa, a qualquer momento.N„o vamos apressar as conclusıes!TERCEIRO DEUS - Nosso cÛdigo reza: "Omundo poder· permanecer como est· s8 nÍle seencontrar um n˙mero razo·vel de almas boas capazes de levar uma existÍncia condigna". Oueu muito me engano ou o prÛprio aguadeiro È uma dessas almas...(Aproxiina-se de WANG, que continua parado sem se decidir.)SEGUNDO DEUS - Est· redondamente enganado: enquanto o aguadeiro nos dava de beber, sabe oque eu percebi no copo dÍle? Veja! (Mostra o copo ao PRIMEIRO DEUS.)

    PRIMEIRO DEUS - Fundo falso... SEGUNDO DEUS - :… um impostor!PRIMEIRO DEUS - Bem. Elimina-se. Mas que importa, entre muitos, um homem corrompido? Logoacharemos gente bastante que preencha as condiÁıes. Ali·s, È necess·rio achar alguÈm! H·dois mil anos ouve-se clamar: "Omundo n„o

    #pode continuar como est·, ninguÈm consegue manter-se born,, . E agora, enfim, precisamoscitar, nome por- 5 -

    #nome, as pessoas em condiÁıes de observar os nos. sos mandamentos.TERCEIRO DEUS ( a WANG) - Ent„o È difÌcil, assim, um alojamento?WANG - N„o, para vÛs! Que idÈia! Se ainda n„o encontrei, a culpa È minha: procurei mal...

    TERCEIRO DEUS - N„o È bem isso!(Volta ‡ companhia dos outros.)WANG - les est„o escabriados. (Aborda um passante) Meu caro senhor, desculpe-me abord·-lo, mas trÍs dos supremos deuses, cuja vinda tÙda a cidade de Setsuan h· v·rios anosaguardava, acabarn de chegar realmente; precisam de um lugar para dormir. N„ov· passando assim, verifique o senhor mesmo: basta um simples olhar! Aproveite, por quemÈ: È uma oportunidade ˙nica! Seja o primeÌro a cham·-los, a acolhÍ-los sob o seu tetoantes que alguÈm os convide; Íles aceitar„o!(O homem prossegue em seu caminho.) WANG (,dirigindo-se a outro) - Meu caro, o senhorouviu o que dizia: n„o ter·, por acaso, um quarto livre? Nada de palacetes: a intenÁ„o Èque vale!HOMEM - Como È que eu you saber quem s„o Ísses teus deuses? A gente nunca sabe quem vaÌpÙr em casa...(O homem, entra numa tabacaria. WANG volta corr~ a-os trÍs deuses.)- 6 -

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    4/54

    WANG - Encontrei um senhor que certamente aceitar·.(WANG vÍ o copo no ch4ffo; olho os deuws, perturbado, apanha-o e volta correndo.)PRIMEIRO DEUS - N„o me bate a passarinha... WANG (ao sair o homem da tabacaria) - Ent„o, oque È que o senhor decidiu quanto ‡ hospedagem? HOMEM - Como sabes se eu prÛprio n„o moronuma hospedaria?PRIMEIRO DEUS - le n„o vai achar nada. Podemos riscar tambÈm Setsuan, da lista...

    WANG - TrÍs dos deuses principais. … fato! As est·tuas dÍles, nos templos, s„oparecidÌssimas. Se o senhor se apressar em convid·-los, talvez aceitem. . .HOMEM (rindo) - Vai-se ver, È uma trinca de malandros, procurando pousada.(O homem sai.)WANG (xingando-o) - HipÛcrita! N„o tem reli-91„O! Pois ser„o todos cozinhados em resina ardente, por essa indiferenÁa! Os deuses cagampara vOcÍs! Mas v„o se arrepender: atÈ a quarta gera«„O, vocÍs v„o responder por isto!Setsuan est· coberta de vergonha. (Pausa) Bem,

    #falta ainda CHEN Ti% a prostituta: ela n„o pode negar.(WANG chanw-a: "Chen TÍ!"" CHEN T… aparecc nuMa janela alta.)- 7 -

    #WANG - Est„o ali, e n„o h· meios de achar acomodaÁ„o. N„o podes recebÍ-los, por umanoite? CHEN Tr,, - Eu n„o sei, Wang: estou esperando um cliente. Mas como: n„o achasteoutro lugar para Íles?WANG - Agora n„o posso explicar. Setsuan. n„o passa de um monte de lixo!CHEN T… - SÛ se eu me esconder, quando e, cliente vier. Assim, talvez desista: Ílepretendia sair comigo.WANG - N„o podemos subir j·, de uma vez? CIlEN T - Mas sem barulho. A gente falaabertamente com Íles?WANG - N„o! Teu ofÌcio Íles n„o devem saber: Acho melhor esperarmos c· em baixo. Mas tun„o vais sair com teu cliente, vais?CHEN T - As coisas n„o me correm muito bem. Se n„o pagar o aluguel... serei despejada,amanh„ de manh„.

    WANG - N„o vamos fazer contas numa hora destas...CHEN T2 - F·cil dizer... OestÙmago reclama, mesmo no dia da festa do imperador. Mas,enfim... est· bem, you hosped·-los.(VÍ-se CITIEN T apagar a luz.)PRIMEIRO DEUS - Acho melhor perder as esperanÁas...(Os deuses aproximam-se de WANG).WANG (sobressaltafldo-se, 4aO vÍ-los perto de si) o quarto est· arranjado.(W_4NG enxuga a testa).OS DEUSES - Mesmo? Ent„o vamos entrar! WANG - Nada de pressa. Fiquem ‡ vontade. … preciso,primeiro, pÙ-lo em ordem.TERCEIRO DEUS - Ent„o vamos sentar-nos aqui e esperar!WANG - Receio que aqui haja muito movimento. E se fÙss.amos um pouco mais longe?...SEGUNDO DEUS - … um prazer, para nÛs, ver os homens de perto. Ali·s, para isso aqui

    estamos! WANG - Mas... e a corrente de ar? TERCEIRO DEUS - ste lugar n„o te agrada

    ?(Sentam-se no degrau de uma porta. WANG Senta-se no ch„o, a curta dist‚ncia.)WANG (num r-pente) - Ficareis em casa de uma m‘Áa solteira. … a melhor alma de Setsuan.TERCEIRO DEUS - Muito bem!WANG (ao p˙blico) - Ainda h· pouco, quando apanhei o copo, Íles me olharam de um jeitoesquisito! Teriam percebido alguma coisa? N„o tenho mais coragem de olh·-los nos olhos...TERCEIRO DEUS - Est·s bem fatigado... WANG - Um Pouco. De tanto correr. PRIMEIRO DEUS - Agente aqui vive em dificuldade?

    #WANG - Quem È born, vive.PRIMEIRO DEUS (sÈrio) - Tu tambÈm?- 8 -

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    5/54

    - 9 -

    #WANG - N„o sei aonde quereis chegar: eu n„o sou santo, mas tambÈm n„o tenho a vida f·cil.(Entrementes, um homem aparece em frente ?j casa de CHEN T e assobia v·rias vÍzes; a cadavez, WANG tem um sobressalto.)

    TERCEIRO DEUS (calmamente) - Agora creio que Íle vai-se embora...WANG (confuso) - ….(Levanta-se e atravessa correndo a praÁa, deixando atr·sa quartola de aguadeiro. Masd˙rante Ísse tempo, foi-se o homem que esperava e CHEN T apareceu na porta. Ela chamasuavemente: "Wang"! E desce a ma. WANG chama em voz baixa: "Chen TÍ!"-" Sem res

    posta.)WANG - Ela me deixou na m„o. Foi atr·s do dinheiro do aluguel, e eu fiquei sem pousadapara os deuses. les est„o cansados de esperar... Voltar para dizer-lhes "nada feito", eun„o posso... Do cano de esgÙto, que me s3rve de niorada, nem se fala: mesm

    o porque os deuses n„o iriam dormir com um sujeito apanhado em flagrante delito. N„o voltol·, por nada dÍste mundo. Mas a quartola ficou! E agora?... N„o me atrevo a ir busc·-la.

    J· que n„o posso fazer nada pelos deuses que adoro, you sair da Cidade para qualquer lugar onde n„o me ponham os olhos!- 1O -(Foge. Mal saiu ÍK volta CHEN T . Ela procura WANG, olhando Para o lado Oposto aO que Íletomou, e avista os deuses.)CHEN " - SOIS vÛs, os magnÌficos deuses? Eu me chamo CHEWM ficaria imensamente feliz sevos dign·sseis ocupar o meu pequeno quarto. TERCEIRO DEUS - Mas onde foi meter-se oaguadeiro?CHEN T - Na certa nos desencontramos. PRIMEIRO DEUS - Deve ter pensado que tu n„o virias,e n„o ousou voltar a nossa presenÁa. TERCEIRO DEUS (apanhando a ~Ola) - Vamos guardar istoem tua casa, Íle h· de precisar.(Guiados por CHEN T , entram na casa. Escurece. Clareia. A luz da aurora., sempreconduzidos por CHEN T…, que os ilumina com uma lanterna, os deuses cruzam a porta:

    desPedem-se.)PRIMEIRO DEUS - Minha boa CHEN T…, agradecemos a hospitalidade. Tu fÛste a ˙nica a nosacolher: jamais esqueceremos. Devolvendo a quartola ao aguadeiro, dize-lhe que tambÈm lhesomos Inuito gratos por nos ter indicado uma alma boa. CHEN T2 - Eu n„

    o sou boa. Devo confessar: quando Wang me Pediu para vos hospedar, a princÌPio hesitei.

    #PRL?1EIRO DEUS - A hesitaÁ„o n„o importa, quando se vence. Fica sabendo que nos destemuito r,aais do que um lugar onde dormir. Muitas pessoas,- 11 -

    #e atÈ deuses como nÛs, j· se punham em d˙vida quanto a ainda existirem almas boas. "Aindah· bondade na Terra?" Foi para esclarecer essa quest„o que nÛs, antes de mais nada,fizemos esta viagem. Agora, que j· encontramos alguÈm, vanios seguir caminho

    alegremente. Adeus!CHEN T? - Esperai, SantÌssimos! Eu n„o estou t„o c2rta de ser boa. Bem que eu queria ser,mas, como hei de pagar meu aluguel? Agora you contar: eu me vendo para poder viver, emesmo assim n„o ganho o suficiente. Muitas, como eu, precisam fazer isso.Estou disposta a tudo, mas quem n„o est·? Sem d˙vida eu gostaria de seguir os mandamentos,honrar pai e m„e e pregar a verdade, n„o invejar a casa do vizinho... Seria uma alegriapara mim, se eu pudesse viver sÛ para um homem, dedicada e fiel! Ainda s

    e eu n„o precisasse tirar dos outros o p„o, explorando os infelizes... Mas o que È que euyou fazer? Ofato È que, embora eu queira, n„o consigo sair disto.PRIMEIRO DEUS - Tudo isto, CHEN T…, s„o as d˙vidas de uma alma boa.

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    6/54

    TERCEIRO DEUS - Passar bem, CHEN TV Lerilbran as minhas, tamb m, ao aguadeiro! le foipara nÛs um bom amigo.SEGUNDO DEUS - com o que se deu mal, se n„o me engano...TERCEIRO DEUS - Que tudo te corra bem! PRIMEIRO DEUS - E, antes de tudo, que sejM boa,CHEN T ! Adeus!- 12 -

    c Voltan _$c par£& partir. id fazem sinais &adeus.) e,HEN T (angustiada) - Mas n„o estou segura de mim, SantÌssimos! Como ser boa,quando tudo est· t„o caro ?SEGUNDO DEUS - Quanto a isso, infelizmente, nada podemos f azer. N„o nos competem osproblemas econÙmicos.TERCEIRO DEUS - Um minutinho, esperem! Se ela possuÌsse alguma coisa, talvez pudassearranjar-se melhor!SEGUNDO DEUS - Nada lhe podemos -dar: como irÌamos explicar l· em cima?PRIMEIRO DEUS - E por que n„o?(Re˙nem-se, ?untando as oabeÁas, em aflita discuss„o.)PRIMEIRO DEGS (embaraÁado, a CHEN T ) Sabemos que n„o ganhaste para pagar o aluguel. PoisnÛs n„o somos nenhuns pobretıes e decerto pagaremos pelo nosso quarto. Aqui est·! (D·-lhedinheiro) . Mas n„o contes a ninguÈm! Poderia ser

    1W?l interpretado.

    #SEGUNDO DEUS - MalÌssimo!TERCEIRO DEUS - Ora, È nosso direito. Pode?1Os muito bem pagar a hospedagem: nada proÌbeIsso, em nosso cÛdigo. Mais uma vez, adeus!(O8 deUSes partem apressadamente.) "- 13 ?

    #NUMA PEQUENA TABACARIA(A loja ainda nıocstd de todo instalada, nft, aberta ao p˙blico.)CHEN T (ao p˙blico) - Faz trÍs dias que os deuses partiram, deixando dinheiro pela

    hospedag-?m . Quando olhei o que me haviam dado, vi que eram mais de mil dÛlar1?s deprata. com o dinheiro, comprei uma tabacaria. Mudei-me ontem pam c·, e agora espero ter muitas ocasiıes de praticar o bem. A senhora CHIN, por ex2mplo, ant?ga locatÌriadesta loja, ontem j· m3 pediu arroz para as crianÁas. E hoje l· vem, atravessando a praÁa,cora sua gamela.(Entra a senhora CHIN. As du~ inclinam-" uma diante da outra.) i CHEN Tn - bom dia,senhora CHINISENHORA CHIN - bom dia, senhorita CHEN TV Como se sente, em sua casa nova?14CHEN TB - Muito bem . E seus filhinhos, como ppssaram a noite?SENHORA CHIN - Ai da mim, em casa estranha... se se pode chamar de casa um barrac„odamieles! o menorzinho j· comeÁou a tossir. CHEN T - Oue pena!SENHORA CHIN - VocÍ n„o sabe o que È pena, tudo lhe corre bem... Mas n„o perde por

    esperar, an,11 nest%t bai˙ca. : ste bairro È uma miseria. CHEN " - Mas, pelo que a senhoradisse, ao meio-dia aparecem os oper·rios da f·brica de e!- m,mto. . .SENHORA CHIN - Mas È raro alguÈm que cornpr?. nem mesmo da vizinhanÁa...CHEN T - Disso a senhora n„o me falou nada, ao me nassar a loja.SENHORA CHIN - Ainda bem n„o comeÁa, e j· vem com censuras! Frimeiro nos"tira a casa, amim e a meus filhos, para denois dizer que È uma bal˙ca, que o bairro È uma misÈria... … oc˙mulo! (P611-se a chorar.)CHEN T2 (avressada) - J· you trazer o seu arroz.. SENHORA CHIN - TambÈm queria pedir queme emDrestasse um dinheiro...CHEN TP, (Pondo arroz na gamela da 3enhora CHIN) - Isto eu n„o Posso, ainda n„o vendinada! SENHORA CHIN - Mas eu preciso: hei de viver con" qu-?? VocÍ me privou de tudo, eagora pıe-me a corda no pescoÁo. Pois you colocar meus filhos na soleira desua Porta, sua usur·ria! (puxa a YanWla da8 ?n6O8 de CHEN T .)-15 .

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    7/54

    #CHEN T - N„o fique assim t„o nervosa, v&i ento?.-nar o arroz!(Entra um casal de meia idade, e mais um ho. mem mal vestido.)MULHER - Ah, minha boa CHEN T…, bein nos disseram que estavas melhor de vida: passaste amulher de negÛcios! Pois imagina que estarnos ao des-1.brigo. Perdemos a nossatabacaria... E atÈ vÌnhamos pensando se n„o seria possÌvel ficarmos, uma noite, aqu

    i contigo. Conheces meu sobrinho? V??io junto, Íle n„o nos abandona.SOBRINHO (,depois de olhar em tÙrno) - Bo. nita loja!SENHORA CHIN - Ent„o, que gente È essa? CHEN T - Meus primeiros senhorios, quando chegueido interior para a cidade. (Ao p˙blico) Quando esgotei uns cobrinhos que tinha, puserani-me na rua. Talvez estejam com mÍdo de que hoje eu lhes diga "n„o". les est„o pobres.Est„o sem amigo. Est?o sem lugar. Precisam de abrigo- quem pode negar?(Dirige-se cordialmente aos recÈm-chegados) Sejaril benvindos! n com prazer que os recebo.Mas sÛ tenho um quartinho de depÛsito, aÌ nos fundos da loja.MARIDO - in o quanto basta. N„o te incomodes! (E enquanto CHEN T traz o ch·) Ficaremos ln%„

    - 16lhor aqui no fundo, sem estorvar a passagem.. . Foi ein nienaÛria ao teu primeiro lar,hein, que escolheste uma tabacaria? NÛs poderemos dar-te alguns conselhos; essa f oi umadas razıes por que vieMos. . .SENHORA CIUN (ir‘nica) - Espero que os freguese a??bÈm venham.Ul M ,?R - Isso È indireta, para nÛs? MARIDO - Shhh! Olha aÌ um freguÍs!(Entra um homem esfarrapado.)ESFARRAPADO - Desculpem, eu estou desempregado...(A senhora CHIN d· risada.)CHEN T - Em que lhe posso servir? DESEMPREGADO - Ouvi diz-r que a senhora abria a lojaamanh„... Pensei que, na hora da abertura dos pacotes, talvez aparecesse alguma sobra. Temum cigarrinho, ai?MULHER - Mas que topete: mendigando fumo! Ainda se f‘sse p„o!

    DESEMPREGADO - o p„o È caro. E eu, com duas baforadas de cigarro, sinto-me um novo hon18m.Estou mesmo no fim...CHEN Ti? (dando-1h6 cigarros) - Oimportante È sentir-se um novo homem. Quero abrir minhaloja "On1 Osenhor, para dar sorte.

    #(O DE"EMPREGADO acende r·pido um cigarro, d· uma tragada e 8"i tossindo.)- 17 -

    #MULHER - Estava direitoTi? ? isso, minha boa CIMX SENHORA CHIN - Se vai abrir a sua loja aSsir., daqui a trÍsdias n„o ter· mais nada.

    MARIDO - Aposto que Íla tinha dinheiro no bol. so!CHEN T… - …le disse que n„o tinha... SOBRINHO - E como vai saber que n„o mentiu? CHEN Ti?(irritada) - E como you saber que Íle mentiu!MULHER (balanÁando a cabeÁa) - Ela n„o sabe dizer que "n„o"! 1?s boa demais, CHEN T ! Masse pretendes continuar com a loja, precisas aprend.,r a recusar um ou outro pedido.MARIDO - Diz que a loja n„o È tua, diz que pertence a um parente e Íle te exige contasmuito exatas. N„o poderias?SENHORA CHIN - Poderia, se n„o quisesse fa. zegEsempre o papel da benfeitora...N T… (rindo) - Continu,-m falando: you acabar negando-lhes o quarto e pedindo a devoluÁ„odo arroz!MULHER (surpresa) - Oarroz tambÈm È teu? CHEN T (ao p˙blico) les s„o maus.N„o s„o amigos de ninguÈm, Ples n„o podem ver ninguÈmque tenha um pote, a mais, de arroz. De tudo fazem quest„o...

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    8/54

    Quem pode zangar com les? (Entra um homem baixote.)SF,NI-JORA CMN (dando por Íle e saindo ‡s pres. sa.8) - Veio-os de novo, amanh„! (Sai.)J3AIXOTE (correndo atr·s dela) - Espere, senhora CHIN! Eu ando ‡ sua procura!MULHER (para CHEN T…) - Essa mulher costwna vir aqui? D?wes a ela alguma obrigaÁ„o? CHENT2 - N„o tenho obrigaÁ„o nenhuma; e ela tem fome, o que È pior!BAIXOTE - Ela sabe por que corre. A senhora È a nova propriet·ria? Ah, j· est· arrumando

    as prateleiras.. . que ali·s n„o lhe pertencem, minha senhora! A menos que queira pagar:aquela vigarista, que estava aqui, nunca me pagou! (Dirigindo-se aos dema

    is.) Eu sou o marceneiro.CHEN TP, - Pens3i que tudo pertencesse ‡ instalaÁ„o, e eu j· paguei...MARCENEIRO - Patifaria! SÛ patifaria! Naturalmente j· tramou, com essa CHIN, algum acÙrdo!F?a„o quest„o dos meus cem dÛlares de prata, ou n„o me chamo LIN TO!CHEN T - Como È que eu posso pagar isso? J· n„o tenho mais dinheiro.

    #MARCEINEIRO - Ent„o you pÙr em 1,-Ìl„o! 2 agora! Ou paga Ou Ponho tudo em leil„o!MARIDO (Zprando a CHE, N T…) - Oprimo! CHEN T2 - N„o Pode deixar para o mÍs que vem?MARCENEIRO (aos gritos) N„o!

    CHEN T2 - N„o seja mau,-senhor LIN TO! Eu "ao Posso atender a tantas exigÍlleias. (Aop˙blico) Um Pouco de indulgÍncia e duplicam-se as fÙrÁas.Olha: , C11a1O da carroÁa Parou em frente ‡ moita de capim. "U"" faz-de-conta-que-n„o-vÍe Íle ainda Puxar· melhor,- 19 -

    #TambÈm em junho um pouco de paciÍncia, e a ·rvor, em agÙsto redobrar· de pÍssegos. . .Podemos conviver, sem paciÍncia? com apenas um pouco esperanÁa atingem-se quaisquerobjetivos!(AO MARCENEIRO) Tenha mais um POuquinho de paciÍncia, senhor LIN TO!MARCENEIRO - E quem vai"ter paciÍncia corni. go e a minha famÌlia? (Arranca, umaPrateleira da parede, como se tencionasse lev·-la.) Ou a senhora me paga, ou eu levo as

    prateleiras!MULHER - Minha boa CHEN T , por que n„o deixas o assunto aos cuidados de teu primo? (AoMARCENEIRO): Anote por escrito a dÌvida pendente, e o primo de CHEN T logo lhe pagar·.MARCENEIRO - ConheÁo bem Ísses primos! SOBRINHO - Pare de rir feito um bÙbo

    ! ConheÁo Íle, em pessoa.MARIDO - Um homem ‡s direitas! MARCENEIRO - Se È assim, Íle vai ver. (Emborca aprateleira, senta-se em cimadela e escreve a nota.)MULHER (a CHEN T ) - Por causa de uni par de t·buas, Íle te acaba levando a roupa docorpo, se a gente n„o der logo um jeito nisso. N„o aceites reclamaÁ„o alguma, justificadaou n„o, para n„o s3res esmagada entre reclamaÁıes, justificadas Ou n„o. Joga

    um naco de carne na lata do lixo, e todos os c„es vadios do bairro vir„o brigar no teu

    quintal. Para que serve a JustiÁa?CHEN T - Me fÍz o trabalho e n„o h· de sair2O -m„os vazias . AlÈm do niais,? tem famÌlia. … pena de n„o poder pagar . Oque e que osdeuses v„o eudizer? rte dando-nos aeolhlUARII)O - Fizeste a tua pa: ,mento: È mais do que suficiente!(Entram um homem capenga e uma mulher gr·vida.) - Ah, est„o aqui" VOcÍs CApENGA (aocasal)s„o uns parentes formid·veis: deixar nÛs dois sÛzinhos l· na esquina!MULHER (acanhada, a CHEN T ) - … WUNG, meu irm„o, com a minha cunhada. (Aos dois) Deixemde resmungar e sentem-se quietos num canto, para n„o atrapalhar a nossa amiga CHEN U!(Falando a CHEN T ) Creio que temos de acolher os dois, porque a cunhada est· no quinto mÍs... Ou Ès de outra opini„o?CHEN T2 - Sejam benvidos!

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    9/54

    MULHER - Agrade am! A "lou a est· l· atras. (A CHEN T ) J· n„o sabiam mais para onde ir:que born, teres esta loja!

    #CHEN T (rindo para o p˙blico e trazffldo o ch·)2, sim, que born!

    (Entra a dona do PrÈdio, senhora MI TSU, com formul·rio na m„o.)SENHORA MI TSU - Senhorita CHEN U, eu sou a dona do prÈdio, s?mhora MI TSU. Espero que nosentendamos bem. Isto È o contrato de locaÁ„o. (Enquanto CHEN T examina o contrato) lP, um- 21 -

    #momento magnÌfico,, a abertura de um pequerio nN gÛcio: n„?o È mesmo, senhoras esenhores? (O1h, em redor) Ainda h· espaÁos vazios nos arin·rios, porÈm isto se arranja...Pode indicar alguÈ-m que me dÍ referÍncias?CHEN T - …, indispens·vel?SENHORA MI TSU - Bem, eu ainda n„o sei quen, È a senhora...MARIDO - Talvez possamos ser fiadores da nhorita CHEN T…? Ela È nossa conhecida, desdequando chegou a esta cidade, e por ela porio? a m„o no Ìogo.

    SENHORA MI TSU - E os se-inhores, quem s„o? -MARIDO - Eu sou MA FU, negociante de furio.SENHORA MI TSU - Ond2 fica a sua loja? MARIDO - No momento, estou sem loja: veja asenhora, acabo de vendÍ-la!SENHORA MI TSU - E ent„o? (,i criEN T ) A senhorita n„o tem mais ninguÈm que me dÍinformaÁıes a seu respeito?MULHE R (soprando) - Oprimo! O " primo! SENHORA MI TSU - … preciso t3r aiguÈm que Es4asirva de fiador a quem ponho em minha casa.È uma casa de respeito, minha cara. Sem isso, n„o podemos fechar contrato algum.4CHEN TP, (lentamente, de olhos baixos) Eu tenho um primo...SENHORA MI TSU - Ah, tem um prM1O praca? Podemos ir vÍ-lo, juntas. D?? quem se trata?cidade-CH…N T:… - N„o mora aqui, Íle È de outra MULHER - 2 de Chung, n„o foi o que disseste CHEN

    T… - … o senhor CHUI TA, de Chung-uito bem: ?WDO - Quanto a Ísse, eu conheÁo M -wn alto, magro . . - ARCENEIRO) - ste senhor SOBRINFIO (O,O XtambÈm. j· fÍz negÛcio com o primo da senhorita CHEN T : as prateleiras!MARCENEIRO (resmungando) - Acabo de fazer a conta, justamente para Íle. Aqui est·!(Entreg".) Volto amanh„, de manh„. (Sai.) SOBRINHO (aos gritos 11 olhando de esguelhaa propriet·ria) - Esteja descansado, o primo vai pagar!SENHORA MI TSU (sÈria, fixando CHEN T ) Pois eu tambÈm terei prazer em conhecÍ-lo. Boatarde, senhorita! (Sai.)MULHER (apÛs breve pausa) - Vai tudo por ·gua abaixo! Podes contar, amanh„ cedo ela ter·as informaÁıes a teu respeito.CUN~A (em voz baixa,,ao SOBRINHO) - Isto n„o vai durar muito!

    #(Entra um anci„o, guiado M um menino.) MENINO (para tr·s) - AÌ est„o Íles!IbUOJMI"HdoER - bom dia, avÙ! (A CHEN T…) P, o raenino velho! Deve estar sentidoconosco. E Ísse , n„o est· crescido? Come que nem uma debulhadeira! Quem È que veio comvocÍs?MARIDO (a olhar para fora) - Mais a sobrinha... (Para CREN T ) Uma jovem parenta dointerior. Esperamos n„o ser demais... Quando moravas conOsco ainda n„o Èramos tantos,lembras? Fomow aulnentando sempre: quanto pior iam as coisas, t"tO rIlais gente s

    urgia., . e quanto mais gente23 -".: O,

    #surgia, tanto pior iam as coisas . Vamos trane,,, nos aqui, sen„o n„o teremos paz!

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    10/54

    (Aferrolham a porta e sentam-setodos.)MULHER - Oess2ncial È n„o te atrapalharnios Q negÛcio: sen„o, com que È que a chaminÈ vaifu. megar? Por isso mesmo, resolvemos: durante o dia saem os mais moÁos, ficando sÛ o avÙ,a cunhada, e talvez eu. Os outros vir„o ‡ loja, no m·xijuo, uma ou duas vÍzes por dia. Est· bem? Ent„o acen. dam essa l‚mpada, e fiquem ‡ vontade.

    SOBRINHO (corn humor) - A menos que hoje ainda apareÁa o primo, o bravo senhor = TA.(Ri-se a CUNHADA.)CAPENGA (apanhando um cigarro) - Um a niais, um a menos... n„o faz mal!MARIDO - Claro que n„o!(Todos pıem-se a fumar. OCAPENG-4 fO passar uma botija de vinho.)SOBRINHO - Oprimo paga!AVı (a CHEN T , solenemente) _ Muito boAl dia!(CHEN T inclina-se, perturbada com a 8a14O Á„o intempestiva: tem numa dm m„os a "4* ta doMARCENEIRO, na outra o contratO d6 aluguel.)24 -]F, vocÈs n„o cantam nada, para ale-9 s-sa anfitri„ ?grar a 11 AVı comeÁa: (cantam.) SO]3RINHO - O

    CAN«" O DA FUMA«AO Avı:Antes, antes do cabelo me embranquecer, sonhei vencer nesta vida pela raz„o. I.loje,coisa diferente vim a saber:raz„o n„o enche barriga de um cidad„o. Ora, eu Aigo: "Deixa!Olha, a fumaÁavai sumindo fria, fria como a tua vida passa!"O MARIDO:Vendo sofrer taito OS bons e os esforÁados, tentei o caminho torto, que È mais brando massÛ leva para o fundo os desgraÁadose enfim, sem pedir conselho, vou-me arranjando.Ora, eu digo: "Deixa!

    #Olha, a fumaÁavai sumindo fria, fria como a tua vida passa!"4 SOBRINHA:Dizem: nada resta aos velhos, sÛ a idade; tudo, nÍles, È a vida terminada.Dizem: tÛda porta se abre ‡ mocidade, dizem, mas sÛ vejo aberta para o Nada.Ora, eu digo: "Deixa!Olha, a fumaÁavai sumindo fria, fria como a tua vida passa!"- 25 -O :

    #SOBRINHO (ao CAPENGA) - Onde arranjat, Ísse vinho?CUNHADA - 21e trocou pelo saco de fumo MARIDO - Oque? Pois aquÍle fumo era t?do que nosrestava! NÛs nunca tocamos nÍle, nem parao pagar um quarto! Cachorro!CAPENGA - Me chamas de cachorro, porque iiii. nha mulher est· com frio? J· bebeste,tambÈru, Passa o jarro para o·!(Atracam-se os dois. Prateleiras desabarn.) CHEN "F» (ffluplicante) - Oli, tenham pena daloja, n„o v„o arrebentar tudo! Isto È presente dos deuses: podem levar, mas n„o quebrem!MULHER (descrente) - A loja È bem menor do que eu pensava. Talvez n„o devÍsser-nos terfalado com a tia e os outros... Agora, se Íles vierem vamos ficar apertados.CUNHADA - A nossa anfitri„ j· est· esfriando. . .(De fora chegam vozec, batem ‡ porta.) VOZES - Abram! J· estamos aqui!MULHER - … a senhora, Titia? Como È que vamos fazer?CHEN T» - Minha lojinha! Ali, meu sonho! Mal abriu, e loja n„o h· mais! (Ao p˙blico)Vai de uma vez ao fundo o barco salvadorcorn n·ufragos demais agarrando-o em redor! VOZES (de fora) - Abram!

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    11/54

    86i n t e r 1 U d i oEM BAIXO DE UMA PONTE(A beira-rio, o aguadeiro agachado.)WANG (olhando em redor) - Tudo tranq¸ilo. H· quatro dias que me escondo. A mim Íles n„o mepegam, porque estou sempre da Ùlho. De propÛsito fugi pelo mesmo caminho dÈles: ante-ontem

    passaram nesta ponte, eu ouvi bem os passos por cima de mim, J· n„o preciso ter mÍdo, Íles devem estar longe. . .(WANG deita-se de costas e adormece, M˙si. ca. Obarranco toma-se transparente, o os DEUSESaparecem.)WANG (cobrindo o rosto com o braÁo, como a evztar pancadas) - N„o precisais falar, eu seide tudo: È que eu n„o encontrei ninguem que vos qtusesse dar abrigo, em casa alguma!Sabeis, agora. Prossegui em vosso caminho!PR1311EIRO DEUS - Ao contr·rio, achaste ijma Pessoa: chegou enquanto fugias. Acolheu-nosuma11Oke, velou Pelo nosso sono, e ainda nos acompa,- 27

    #BibiloÌ,*,a p˙blica "Arthir Manna ·L? Sala HarOldo Maranh„o

    #nhou ‡ porta com uma l‚mpada, de madrugada ],, hora da partida. E fÙste tu quem nos faloudessa alma boa... e era de fato!WANG - Ent„o, CHEN T… vos hospedow TERCEIRO DEUS - Naturalmente.WANG - E eu, que fugi, homem de pouca fÈ! por que pensei: "ela n„o h· de vir, È t„operdida que n„o h· de vir!"OS DEUSES (cantam):ı t„o dÈbil criatura, de bom corac„o!Acha que, onde h· MisÈria, o Bem n„o pode estar. Acha que, onde h· Perigo, a Aud·cia n„oir·. Nem um fio de cabelo quer sacrificar...

    ı pressa de julgar! ı frÌvolo desesperar!WANG - Ali. santos deuses, quanto me envergo. nho!PRIMEIRO DEUS - Pois agora, aguadeiro, faze-nos um favor: volta ligeiro ‡ capital, vÍ bemo que houve com CHEN T , para depois nos contar! Ela agora est· bem: ganhou dinheiro edeve ter comprado uma pequena loja, para melhor poder seguir o que lhe inspira o seu bondoso coraÁ„o. Mostra interÍsse pelo que ela faz, porqu2 ning,?Èffl b¡ deser bom se o bem n„o fÙr sempre exigido! E quanto a nÛs, vamos ainda mais longe, a b,1seare a encontrar outras criaturas que nos pareÁam t„O boas como essa de Setsuan... para desinentir o boato de que a vida neste mundo j· n„o d· vez Para os bons.(Desaparecem.)IINA TABACAM(Gente dormindo por tÙda parte. ainda acesa. Batem ‡" porta.)

    LdinpadaMULHER (sonolenta, levantando-se) - CHEN TV1 Est„o batendo!... Onde estar· ela?SOBRINHA - Foi arranjar o cafÈ da manh„... Quem paga È o primo.(A velha ri-se, e a vassos arrastados vai abrir a porta. Entra CHUI TA, um jovem senhor.O MARCENEIRO segue-o.)CRM TA - Eu sou o primo.MULHER (caindo das nuvens) - Quem È, mesmo? CHM TA - Meu nome È CHUI TA.OS H”SPEDES (sacudindo-se uns -aos outros) -O primo! Era uma simples brincadeira, ela n„o tem Prinlo nenhum.. . e agora vem Ísse aÌdizer que È Primo dela!

    #Incrivel, na prim24ra hora do dia! SOBRINHO - Se È mesmo o primo de nossa hos-- 29

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    12/54

    #pedeira, meu senhor, j· pode ir providenciando o que nos dar como primeira refeiÁ„o.CHUI TA (apagando a Z‚mpada) - Os primeiros freguÍses n„o demoram. Queiram vestir-sedepres. sa, para eu poder abrir a minha loja!MARIDO - Sua loja? Pensei que fÙsse da nossa amiga CHEN T…! (CHUI TA balanÁa a cabeÁanegativamente) Esta loja n„o È dela?

    CUNHADA - Ent„o, passou-nos o lÙgro! E agora, onde se meteu?CHUI TA - Ela n„o pÙde vir. Mandou dizer que, de agora em diante, eu estando aqui, n„opoder· fazer mais nada por vocÍs.MULHER (perturbada) - E nÛs pensando que ela fÙsse uma alma boa!SOBRINHA - N„o creiam nÍle! Procurem CHEN T !MARIDO - Isso mesmo: vamos procur·-la! (Distribuindo as tarefas) Tu, e tu, e tu, e tu,procurai por tÙda parte! NÛs e o AVı ficaremos por aqui, tomando conta. Nesse meio-tempo,o garÙto vai arranjar comida (Ao menino) VÍs a confeitaria, ali na esquina

    ? Vai, enche a barriga e a blusa! CUNHADA - VÍ se me trazes dois biscoitos ela" ros!MARIDO - Mas abre o Ùlho, e que o padeiro n„o te pegue! Nem v·s mudar o itiner·rio dapolicia! (O menino assente com a cabeÁa, e sai . Os Oll" tros acabam de vestir-se.)CHUI TA - com Ísse furto de doces... n„o acham

    - soprejudicar o bom nome desta casa que que Poder" .1 ?lhes deu asi o *aos outros) - N„o dÍem confianÁa SOBRINHO ( pouco acharemos a jnÙÁaj e elaÈ a Íle: daqui aquem vai dizer-lhe umas verdades! hada.) (Sa.em o sobrinho., Oirff14O e acunCUNHADA (ao sair) - Guardem um pouco da comida para nÛs! N„o v„o encontrar ninguÈm. CHUITA (calmo) - rima sente muito n„o poder Naturalmentz minha p da hospitalidade. sempreobservar as boas normas .. Isto, afinal, Pena, serem vocÍs t„o numer

    osos.È uma tabacaria: È o ganha-p„o da senhorita CHEN TP,!MARIDO - Nunca a nossa CHEN Tt ergueria a voz para falar assim conosco.nham raz„o... (Ao MARCRM TA - Talvez te . . 1 . o azax È que, nesta cidade, a miseria

    CENEIRO)A grande demais para que uma pessoa sÛ possa acabar com ela! Nesse ponto,

    #nada mudou, de onze sÈculos para c·, e j· naquele tempo alguÈm resumiu tudo eui quatroversos:"Bem disse o Governador, perguntado que fazer quando o frio tudo invade: Um cobertor dedez mil pÈs quadrados. que dÍ para cobrir tÙda a cidade!"(CHUI TA pıe-se a arrumar a loja.) MARCENEIRO - Eu estou vendo que o 5M11Or quer pÙr emordem os negÛcios de sua prima.... si -

    #Pois tem a liquid4r uma pequena dÌvida, aceita com testemunhas, que È o preÁo das

    prateleiras: cem dÛlares de prata!CHUI TA (sem rudeza, puxando a fatura do boIm -3O) - N„o acha que cem dÛlares de prata Èum tanto exorbitante?MARCENEIRO - N„o, e n„o faÁo abatimento algum: t?mho mulher e filhos para sustentar!CHUI TA (corn firmeza) - Quantos filhos? MARCENEIRO - Quatro.CHUI TA - Eu lhe ofereÁo vinte dÛlares de prata.(Ri-se o MARIDO.)MARCENEIRO - Osenhor est· louco?"S„o armaÁıe% de nogueira!CHUI TA - Pois ent„o leve-as de volta. MARCENEIRO - Que qu?-r dizer isso?CHUI TA - S„o muito caras para mim: rogo-lha que leve de volta as armaÁıes de nogueira.MULHER - Bem feito! (ComeÁa a rir, tambÈm.) MARCENEIRO (hesitante) - Exijo a presenÁa dasenhorita CHEN-T : vÍ-se quz ela È uma pessoa sup3rior ao senhor!CHUI TA - com certeza: est· arruinada. MARCENEIRO (apanhando resolutamente uma dasarmaÁıes, carregando-a em direÁ„o ‡ porta) Pois j· pode ir empilhando no ch„o as caixas decharutos! Para mim. tantO faz.

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    13/54

    CHUI TA (ao MARIDO) - Ajude!MARIDO (apanha outra armaÁ„o e leva para a porta, mal disfarÁando o riso) - Prateleirasfora!MARCENEIRO - Cachorro! Minha famÌlia que fiqu3 com fome?Ci-lUI TA - Mais uma vez eu lhe ofereÁo vinte dÛlares sÛ para as caixas n„o ficarem aÌempilhadas no ch„o...

    MARCENEIRO - Cem!(CHUI TA, impassÌvel, lanÁa o olhar pela janela. OMARIDO apressa-se a colocar as armaÁıesdo lado de fora.)MARCENEIRO - Ao menos vÍ se n„o quebra isso contra o portal, idiota! (Desesperado) Mas£oram feitas sob medida: sÛ cabem neste covil, e em nenhum outro lugar. As t·buas est„ocortadas, nieu wnhor!CHUI TA - Pois 6, e por isso eu lhe ofereÁo vinte dÛlares: porque as t·buas j· est„ocortadas"(A MULHER guincha de gÙzo.) MARCENEIRO (esmorecendo s˙bitamente) - Eu n„o ag¸ento mais.Fique com as prateleiras, e pague quanto quiser!CHUI TA - Vinte dÛlares de prata.

    #(Pıe sÙbre a mesa dum grandes moedas, que o MARCENEIRO pega.)MARIDO (trazendo de volta as armaÁ6es) - E basta, por Ísse feixe de lenha!

    #MARCENEIRO - Talvez dÍ para tomar um pileque! (Vai saindo.)MARIDO - Isto n„o È conosco.MULHER (a rem6dar, enxugando l·grimas de riao) - "S„o de nogueira!" - "Pode levar!" - "CemdÛlares de prata! Sou pai de quatro filhos! - "Ent„o eu pago vinte!" - "As t·buas j· est„ocortadas!" - "Por isso vinte dÛlares!"... Assim È que se tratam Ísses

    tipos!CHUI TA - Pois È! (Falando sÈrio) E agora, saiam depressa!MARIDO - NÛs?

    CHUI TA - Sim, vocÍs mesmos, parasitas e ladrıes. Se fÙrem depressa embora, sem perdertempo em discuss„o in˙til, talvez ainda consigam escapar...MARIDO - Omelhor mesmo È n„o responder nada: n„o se grita de estÙmago vazio. Eu sÛ queriasab2r por onde anda o menino...CI1U1 TA - Por onde anda o menino? Eu j· lhes disse: n„o o quero em minha loja com docesroubados. (De repente, num grito) Pela ˙ltima vez: v„o-se embora!(Continuam sentados.)CHUI TA (de novo muito calmo) rem...Como quise-(Vai atÈ ‡ porta e curva-se para fora, em respeitosa cortesia. A entrada surge umpolicial.)- 34 -CHUI TA - Presumo ter diante de mim o oficial encarregado dÍste bairro?

    POLIClAL - Precisamente, senhor...CHUI TA - Chui Ta, È o meu nome. (Sorriem um para o outro.) Otempo hoje est· bonito!POLICIAL Quente um pouquinho, talvez. CHU1 TA Talvez um pouquinho quente. MARIDO (emvoz baixa., ‡ MULHER) - Se Íle vai puxar conversa atÈ o menino voltar, estamos fritos!(Tenta fazer discretos sinais a CHUI TA.)CHUI TA (sem lhe dar atenÁıo) - H· diferenÁa de temperatura, conforme a gente esteja emcasa fresca ou na rua empoeirada...POLICIAL - H· uma diferenÁa grande. MULHER (ao MARIDO) - Fique tranq¸ilo: o menino n„oentra, vendo a polÌcia parada na porta. CHUI TA - Queira entrar um pouquinho: aqui est·bem mais fresco. Abrimos esta loja, minha prima e eu. Permita que lha diga:È para nÛs da maior import‚ncia estar em boas relaÁıes com as autoridades!

    #POLICIAL (entrando) - … muito am·vel, senhor CHUI TA! Aqui est· fresco, de fato.

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    14/54

    MARIDO (baixinho) - F z o pol cia entrar, s de prop sito, para o menino n„o ver.. .CHUI TA - Tenho visitas: amigos distantes de minha prima, pelo que ouvi dizer. Est„o-sepreparando para uma viagem. (Fazem curvaturas.) J· est·vamos, atÈ, nos despedindo.- 35 .I il

    #MARIDO (roucamente) - 2, ent„o j· vamos. CHUI TA - Direi a minha prima qua vocÍs ficarammuito agradecidos pelo acolhimento, mas n„o tiveram tempo de esperar que ela voltasse., .(Na rua ouvem-se rumores e gritos: "Pega, Ia. dr„o!-"-")POLICIAL - Que È isto?(Em pÈ, na porta, o MENINO. Biscoitos e doces caem-lhe da blusa. A MULHER acena-lhedesesperadamente para dar o fora. …le faz meia-volta e vai sair.)POLICIAL - Alto! (Segura o MENINO.) Onde arranjou Ísses doces?MENINO - L·!POLICIAL - Ent„o foi furto, n„o foi? MULHER - NÛs nem tomamos conh3cimento: Èsse meninon„o presta. FÍz tudo por conta dÍle! POLICIAL - Senhor CHUI TA, n„o pode esclarecer ofato?(CHUI TA guarda -silÍncio.)

    POLICIAL Ah, sim! V„o todos para o distrito! CHUI TA Mal posso acreditar que em minhacasa haja uma coisa dessas.MULHER - le bem viu quando o menino foi... CHUI TA - Eu posso garantir, senhor oficial,que n„o 1h2 pediria para entrar se tivesse algum roubo a esconder!36-POLICIAL - ]… claro. E o senhor tambÈm h· de compreender, senhor CHUI TA, que È meu deverlevar prÈsa essa gente. (CHUI TA faz uma rfverÍncia.) Sigam na minha fr.-nte! (OPOLICIAL empurra os outros para fora.)AVı (calmamente, da porta) - bom dia!,,(Saem todos, menos CHUI TA, que continua a arrumaÁ„o. Entra a senhora MI TSU, dona doprÈdio.)SENHORA MI TSU - Ent„o, o senhor È o tal primo! Que significa isso: policia levando genteda minha casa? E como foi que sua prima veio parar aqui, fazer isto de estalagem? … o qua-

    se pode esperar, cedendo a casa a quem, ainda ontem, morava num quarti

    nho de cinco vintÈns e mendigava bolachas na padaria da esquina! J· sei da histÛria, comoo senhor vÍ...CHUI TA - Sim, estou vendo. Diss?xam cobras e lagartos, ‡ senhora: minha prima È condenadapor ter f ome. Ela vivia na misÈria, isso È notÛrio. E n„o podia ter pior reputaÁ„o: È umainfeliz! SENHORA MI TSU - Afinal, era uma mulher... CHUI TA - "Necess

    itada": use a palavra exata. SENHORA. MI TSU - Ora, faÁa o favor, nada de sentimentalismo!Falo da vida que levava, e

    #n„o dos rendimentos. N„o ponho em d˙vida que os soubesse ganhar, e a prova est· nestaloja. As pes: soas de bem h„o de estar desconfiadas: como e que se monta uma loja

    assim?... Esta È uma casa de respeito, meu senhor! Pessoas que me pagam aluguel n„

    o se sujeitam a estar sob o mesmo teto corn- 37 --, -..t- -

    #uma criatura dessa espÈcie. (Pausa.) Pois È: tam. bÈm sou humana, mas È preciso guardaras conveniÍncias.CHUI TA (frio) - Estou muito ocupado, senhora MI TSU. DÌga-me sÛ quanto nos vai custar oaluguel desta casa de respeito!SENHORA MI TSU - Devo dizer que, em todo caso, o sangue-frio n„o lhe falta!CHUI TA (apanhando o contrato na gaveta do balc„o) - P, muito alto o aluguel. E vejo que,pelo contrato, o pagamento È mensal.. .SENHORA MI TSU (interrompendo) - N„o para gente como a sua prima!

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    15/54

    CHUI TA - Que quer dizer?SENHORA MI TSU - Quero dizer que uma pessoa como a sua prima tem que pagar meio anoadÌantado, quaro dizer, duzentos dÛlares de lVata! CHUI TA - Duzentos dÛlares? 2 umaextors„o! Onde irei arranjar isso? E aqui nem posso contar com grandes negÛcios.A minha ˙nica esperanÁa s„o as mulheres da f·brica de cimento, que fumam muito, ouvidizer, porque o trabalho de cos2r os sacos È muito cansativo. No entanto, ganham t„o

    mal...SENHORA MI TSU - Devia ter pensado nisso, antes!CHUI TA -Senhora MI TSU, tenha coraÁ„o! Minha prima, em verdade, cometeu a inexplic·velfalta de dar pousada, aqui, a uns inf 2lizes. . . Mas ainda pode emendar-se, farei com queela se emende! Por outro lado, que inquilino a senhora espera achar melhor do que ela, conhecendo bem o abis-mo Por ter saÌdo dÍle? Ela h· de trabalhar atÈ gastar os dedos, para pagar pontualmente oaluguel; tudo far·, de tudo abrir· m„o, vender· tudo, sem recuar diante de nada... massempre humilda feito uma ratinha, discreta feito uma abelha, fazendo o que

    a senhora aconselhar, para n„o ter que voltar ‡ situaÁ„o antiga. Uma inquilina assim valeo seu pÍso em ouro!SENHORA MI TSU - Duzentos dÛlares de prata. adiantados; caso contr·rio, ponha-se na rua!

    (Entra o policial.)POLICIAL - Senhor CHUI TA, n„o se preocupe mais!SENHORA MI TSU - A polÌcia demonstra, realmente, um interÍsse especial por esta loja...POLICIAL - Sanhora MI TSU, espero que n„o faÁa mal juizo: Íste senhor prestou-nos umserviÁo e eu venho simplesmente agradecer, em nome da PolÌcia.SENHORA MI TSU - Bem, isso n„o È comigo. Espero, senhor CHUI TA, que a proposta convenha ‡sua prima... Gosto de viver bem com os inquilinos. bom dia, meus senhores! (Sai.)

    #CHUI TA - Adeus, senhora MI TSU!POLICIAL - Algum embaraÁo com a senhora MI TSU?CHUI TA - Est· exigindo o adiantamento do aluguel: minha prima n„o lhe infunde r2speito.POLICIAL - E o senhor n„o tem dinheiro? (CHUI TA fica em silÍncio.) Ora, um homem como o

    senhor deve ter crÈdito. . . 1- 39

    #CHM TA - Talvez. Mas que crÈdito tem uma mu. lher como CHEN Tr,?POLICIAL - Osenhor n„o vai ficar?CHUI TA - N„o, n„o fico. E nem volto mais aqui. SÛ pud3 dar uma m„ozinha, de passagem,afastando as desgraÁas mais prementes. Logo ela volta a con. tar sÛ consigo mesma... Comovai ser? essa È a quest„o que me preocupa.POLICIAL - Senhor CHUI TA, d·-me pena vÍ-lo em dificuldade por causa do aluguel. Devoconfessar que, a princÌpio, esta lojinha n„o nos dava boa impress„o... Mas sua enÈrgicaatitude, ainda h· pouco, mostrou quem o senhor È. NÛs, da autoridade, temos f

    aro: reconhecemos de longe os baluartes da ord2m!CHUI TA (amargo) - Senhor, para manter esta pequena loja, que È para minha prima umpresente dos deuses, estou disposto a ir atÈ aos limites permitidos por lei. Entretanto, .1 dur-za e o artifÌcio sÛ s„o usados contra os pequeninos: os limites s„o traÁos muito finos... Sinto-me, nisto, como aquÍle cidad„o que se viu livre dos ratos masficou com a inundaÁ„o! (ApÛs breve pausa) Osenhor fuma? POLICIAL (embolsando doischarutos) - NÛs, l· do pÙsto, vamos ficar desconsolados se o perd2rmos, senhorCHUl TA. Mas È preciso que entenda a senhora MI TSU. Essa CHEN T , falando sem rodeios,vivia por aÌ, vendendo o corpo aos homens. Dir· o senhor: que havia de faz3r? Como pagar oaluguel, por exemplo? Mas o fato permanece: n„o È respeit·vel. Por que?Primeiro: amor n„o se- 4O -vende, ou ent„o È amor venal. Segundo: o amor È respeit·vel com aquÈle a quem se d·, n„ocom aquÍle que paga. Terceiro, È o que diz o refr„o:44por amor sim, por-arroz n„o!" Bem, responder· o s3nhor, mas de que serve a liÁ„o se o

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    16/54

    leite j· est· no ch„o? Oque que ela h· de fazer? Como pagar seis m ses de aluguel?Senhor CHUI TA, confesso que n„o sei! (Pıe-se a meditar ansiosamente.) Senhor CHUI TA, descobri: basta arranjar-lhe um marido!(Entra uma VELHA.)VELHA - Um bom charuto para o meu maxido, e que n„o seja muito caro. Completamosamanh„ quarenta anos de casados, vamos comemorar... CHUI TA (polidamente) - Quarenta anos,

    e ainda comemoram!VELHA - AtÈ onde nossos meios nos permitem! Temos a loja de tapetes, aÌ em frente: esperoque s2jamos bons vizinhos. E È necess·rio, os tempoe andam t„o difÌceis!CHUI TA (abrindo diante dela v·rias caixas de charutos) - Receio que isto

    #seja coisa antiga. . . POLICIAL - Senhor CHUI TA, falta-nos capital. Bem, eu sugiro umcasamento...CHUI TA (‡ VELHA, desculpando-se) - Eu acabei importunando o senhor oficial, com minhaspreocupaÁı:!s pessoais.POLICIAL - N„o temos os seis meses de aluguel. Pois bem: o jeito È casar com dinheiro!CHUI TA - N„o È t„o f·cil assim.41

    #POLICIAL - E por que n„o? CHEN n È um bom partido, tem uma loja em franca prosperidade.-(Dirige-se ‡ VELHA) Que acha a senhora?VELHA (indecisa) - Eu... bem...POLICIAL - Um an˙ncio no jornal.VELHA (contendo-se) - Se a mÙÁa estiver de acÙrdo...POLICIAL - Por que haveria de estar contra? you redigir. Fica um serviÁo pelo outro. N„ojulgue a autoridade insensÌvel ao esfÙrÁo do p8quena comerciante: o senhor nos deu a m„oe, em troca, lhe redigimos um pedido de casamento! Ha! Ha! Ha!(SoZenemente apanha um bloco, molha o MpÌs na lÌngua e p6e-sea escrever.)CRUI TA (vagarosamente) - A IdÈia n„o È m·.. POLICIAL (enqua2?o escreve) - "Desejariaconhecer cavalh.2iro... remediado.. . com pequeno pec˙lio... podendo ser vi˙vo.. .disposto a assoruar-se, pelo matrimÙnÌo... a uma pequena e prÛs pera tabacaria.

    " Podemos acrescentar: "Sou atraente e simp·tica". Que tal?CRUI TA - Se o senhor acha que n„o h· exagÍro.. . 1VELHA (am·vel) - Certamente que n„o: conheÁo a mÙÁa de vista!(o POLICIAL tira a fÙlha do bloco e entrega a CHU1 TA.)CRM TA - Vejo, com espanto, que È preciso muita sorte para a gente n„o ser atropelada:Cada IdÈia! Cada amigo! (Ao POLICIAL) Eu, por exampio, apesar de tÙda a energia, j· estavaperdendo a graÁa sem ver como pagar os aluguÈis, atÈ que chegam vocÍs eme socorrem com um bom aonselho. De fato, agora vejo uma saÌda!43

    #ANOITECER NO PARQLTE(Um homem mÙ,Áo, de roupa em molamboa IANG SUN - acompanha com os olhos o vÙo de

    umaeroplano, aparentemente em curva umito alta sÙbre o parque da cidade. Tira do bolso umacorda e espia em tÙrno de si. Enqu=to, Íle vai em direÁ„o a um grande salgueiro, surgem na estrada duas prostitutas: uma È jd velha MATRONA, e a outra RAPARIGA È amesma sobrinha da famÌlia de oito membros.)RAPARIGA - Boa noite, benzinho! N„o quer vir comigo?SUN - Pode ser, minhas senhoras, se m,3 pagarem qualquer coisa de comer...MATRONA - Est· maluco? (A RAPARIGA) Vamos em frente, com Íle perdemos tempo: Ísse È oaviador desempregado!RAPARIGA - N„o h· mais ninguÈm no parque, parece que vai chover.MATRONA - Talvez ainda haja alguÈm..- 44(Passam adiante. SUN, espiando em redor, puxa a corda para fora e atira-a por sÙbre umgalho do salgueiro. Mas È outra vez atrapalhado: voltam correndo as duas prostÌti-,tas,sem dar por Íle.)RAPARIGA - Vai cair um aguaceiro!

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    17/54

    (CHEN T vem passeando pela estrada.)MATRONA - Olha, l· vem aquÍle monstro! Trou xe a infelicidade a ti e aos teus!RAPARIGA - Ela, n„o! Foi o primo. Ela nos acolheu, e atÈ mais tarde prom-eteu pagar osbiscoitos roubados. Nada tenho contra ela.MATRONA - Mas eu tenho! (Em voz alta) Ora, est· ai a nossa boa irm„, com o seu pote deouro! Tem uma loja, mas ainda quer pescar os nossos namorados!

    CHEN T… - Pare de mostrar-me os dentes! you ‡ casa de ch·, ‡ beira do lago.SOBRINHA - … verdade que vais casar com um vi˙vo, pai de trÍs filhos?CHEN T - …. you agora encontrar-me com Íle. WN (impaciente) - Vejam se v„o dando o fora,suas galinhas! J· n„o se pode mais estar em paz9 NIATRONA - Dobre a lÌngua!(Saem as duas prostitutas.)SUN (gritando para elas) - Urubus! (Ao p˙blico) AtÈ num lugar retirado, como Èste, elasvÍm- 45 -

    #sem descanso, atr·s de vitimas: atÈ no mato, atÈ -corn chuva, vÍm doidas procurandocomprador... CHEN T (irritada) - Por que xing·-las assim? (Da com osolhos na corda) Oli!SUN - Que È que est· olhando? CHEN Tn - Para que, essa corda?

    SUN - V· embora, irm„, v·-se embora! Dinheiro eu n„o tenho; nada, nem um nÌquel.. . E setivesse compraria um copo d"·gua, n„o ia dar a vocÍ!(Principia a chover.)CHEN Tn - Para que, essa corda".," Osephor A„o tem direito!SUN - Que tem vocÍ com isso! DÍ o fora! CHEN Ti? - Est· chovendo.SUN - N„o vai querer ficar em baixo desta ·rvore...CHEN T (im,6vel sob a chuva) - Eu, n„o, $UN - Desista, irm„, n„o adianta! N„o h· negÛcioa fazer comigo. AlÈm do mais, eu a acho feia: pernas tortas. . .CHEN T - Isso n„o È verdade.SUN - N„o mostre, n„o! com os diabos. F?qUe aqui embaixo da ·rvore, que est· chovendo!(Ela avanÁa -dewgar e senta-se sob a drvore.)CHEN T - Por que pensa em fazer isso?SUN - Quer saber, mesmo? Pois eu digo, sÛ para ficar livre de vocÍ! Sabe o que e um

    aviador? CHEN TZ - Bem, ja vi um aviador, numa cas4 de ch·...46SUN - Aviador, n„o, vocÍ nunca viu. Talvez alguma junta de imbecis, que andam no ar comseus eapacet??s de couro, uns aprendizes sem ouvido para o moto-r sem afeiÁ„o pelam·quina. SÛ entram numa c?rlinga dando gorjeta ao chefe do hangar. Diga, a algum dÍles: "Leve o aparelho a dois mil pÈs de altura e dÍ um mergulho atravÈs das nuvens,endireitando-o num golpe de mancho" ... e Íle dir· "Isso n„o consta no contrato!" Se n„oencosta o avi„o na ista como quem senta com as proprias l?1 ,n·degas, n„o e um aviador: È um imbecil! Eu sou um aviador, e tambÈm o maior dos imbecis:li todos os livros de aviaÁ„o, na escola de Pequim. SÛ h· uma p·gina de livro que eu n„oli, e nessa p·gina diz que aviadores j· n„o s„o mais necess·rios. E assi

    m fiquei aviador sem avi„o, correio-aÈreo sem mala. Mas o que isto significa, vocÍ n„o

    pode eutender.CHEN T - E acho que entendo...SUN - N„o; se eu digo que n„o pode entender, È que n„o pode entender.

    #CHEN Tn (entre rindo e chorando) - NÛs, em crianÁas, tÌnhamos um grou aleijado de umaasa. Era um bicho muito manso, incapaz de uma falsÍta, e pavoneava atr·s de nÛs, gritando,para n„o irmos depressa demais... Mas no outono e no princÌpio do ano, qu

    ando outras aves passavam em bando por sÙbre a aldeia, ent„o Íle ficava muito inquieto...e eu o entendia bem.SUN - N„o chore! CHEN T2 - N4o...47

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    18/54

    #SUN - Vai manchar a pintura. CHEN T - J· passou.(Enxuga as l·grimas com a manga do vestido. Encostado ‡ ·rvore, sev?, se voltar, Íleestende as m„os para o rosto dela.)SUN - com isso vocÍ n„o enxuga bem o rosto.(Pıe-se a enxugar-lhe as faces com um lenÁo. Pausa.)SUN - Se acha preciso ficar aÌ sentada, para que eu n„o me enf orque, ao menos solte a

    voz!CHEN T - Eu n„o sei nada...SUN - Por que È que ins.ste em me arrancar do galho, irm„ ?CHEN T - Estou horrorizada. Certamente o senhor quis fazer isso porque, esta tarde. ocÈu est· encoberto. (Ao p˙blico)Em nossa terran„o devia haver tardes t„o nubladas nem pontes elevadas sÙbre os. rios nem aquela horaentre-noite-e-manh„ nem o tempo do inverno: È perigoso. Em face da misÈriabasta uma coisa ‡ toa para a criaturadizer adeus ‡ vida de amargura.SUN - Fale de vocÍ!«HEN T - De que? Tenho uma lojinha...48 -

    SUN (troÁando) - Ah, ent„o vocÍ È dona de negocios: n„o faz a vida!CHEN T ," (firme) - Agora tenho a loja; antes, fazia...SUN - E a loja? Alguma d·diva dos deuses? CHEN T2 - Exato!SUN - Foi numa bela tarde, apareceram e lhe disseram: "Tens aqui o dinheiro!"CHEN T (sorrindo) - Foi numa bela manh„... SUN - VocÍ n„o deixa de ser divertida.CHEN T (apÛs breve pausa) - Sei tocar cÌtara, regularmente, e arremedar pessoas. (Imitaum homem respeit·vel, corn, voz grossa) : "Hom"ssa agora, acho que esqueci a carteira!"Depois, ganhei a loja. Comecei por me desfazer da citara, dizendo comigo m

    esma: "De hoje em diante eu posso emudecer feito uma carpa, sem que nada aconteÁa."Sou rica, disse corni£o: sÛzinha eu ando e me deito, passarei um ano inteirosem pÙr homem no meu leito.SUN - Mas j· n„o vai casar, com Ísse da casa de ch· ‡ beira do lago?

    (CHEN T n& responde.)SUN - Que sabe vocÍ do amor? CHEN T - Tudo.

    #SUN - Nada, irm„. Tinha algum prazer naquilo? CHEN T - N„o.- 49

    #gUN (pas‡a-lhe a ~ p?-,lÛ rosto, ~ se voltar para ela) - E isto, lhe d· prazer?CHEN T - D·.SUN - VocÍ È simples. Ali, mas que cidade! CHEN T… - Amigos... tem algum?SUN - Aos montes! Mas nenhum disposto a ouvir que vivo sem emprÍgo. Fazem uma cara, comose ouvissem dizer que ainda existe ·gua no mar! E vocÍ, tem amigo?

    CHEN T (hesitante) - Um primo... SUN - Ent„o, cuidado com Íle!CHEN Ti? - SÛ veio uma vez, aqui; partiu e n„o volta mais. Mas por que fala assimdesesperado? Diz-se: "Falar sem esperanÁa, È falar sem bondade!" SUN - Continue falando!Uma voz È sempre uma VOZ.CHEN Tn (entusi·stica) - Ainda h· gente bondosa, apesar da misÈria. Quando eu erapequenina, uma vez levei um tombo com um f eixe de lenha; um velho me levantou e ainda medeu um nÌquel. Muitas vÍzes tenho pensado nisso: quase sempre os que tÍm menos d„o com mais boa vontade. Na verdade, as pessoas gostam de mostrar do que s„o capazes; ecomo demonstrar isso melhor do que sendo bondosas? A maldade È uma espÈcie deincapacidade. Se a gente canta uma canÁ„o, ou planta arroz, ou constrÛi uma maquina, isso tudo faz parte da bondade. VocÍ tambÈm È born.SUN - N„o È difÌcil, pelo seu critÈrio. CHEN T - Agora senti uma gÙta de chuva. SUN -Onde?CHEN T - Entre os olhos.5O

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    19/54

    SUN - MaIs para o lh direito ou mais para o lho esquerdo ?CHEN T - Mais para o esquerdo.SUN - Bem. (ApÛs um instante, sonolento.) Ent„o, n„o quer mais nada com homens?CHEN T (rindo) - Mas pernas tortas n„o tenho...SUN - Talvez n„o.CHEN T2 - Certo que n„o.

    SUN (fatigado, voltando a encostar-&e ‡ ·rvore)- Mas h· um dia que n„o bebo e h· dois dias que n„o como; assim, irm„, por mais quedesejasse, eu n„o ia poder amar vocÍ.CHEN TP, - Quem born... a chuva! (WANG, o aguadeiro, aparece. E canta.)CAIN(;" O DO AGUADEIRO SOB A CHUVA12 ·gua! … ·gua! £ ·gua 1

    #Tenho ·gua, ·gua para vender.E agora, que eu vim, comeÁou a chover. Tive tanto que andar, para a ·gua arranjar! Tivetanto que andar, para a ·gua arranjar... E agora eu grito: "Olha a ·gua!"NinguÈm vem-me comprar: ninguÈm, morto de sÍde, para beber, para pagar.… ·gua, seus filhos da m‡e!

    Se eu ao menos pudesse acabar com o chuveiro! Outro dia sonhei, e no meu sonho visete anos sem a chuva cair. . .51II

    #TÙda a ·gua eu vendia, e por gÙtas media. Ah, como clamavam: " " gua!"Quem queria minha ·gua, antes de tudo eu ia espiar pra ver se a cara do ?,aio era capaz deme agradar ...Que sÍde, hein, seus filhos da m„e? (RINDO)E agora vocÍs ficam todos contentes, satisfeitos sugando as maminhas das nuvens. semsaber quanto custa, sem o preÁo indagar, sem saber quanto vale, sem ter nada a pagar...E entretanto eu grito: "Olha a ·gua!" NinguÈm vem me comorar,

    ninguÈm, morto de sÍde, para beber, para pagar...… ·gua, seus filhos da m„e-!(Cessou a chuva. CHEN T avista WANG e corre para Íle.)CHEN T - Que born, WANG, voltaste! Tua quartola est· comigo.WANG - Muito obrigado, por tomares conta. E tu, CHEN T , como vais?CHEN T2 - you bem. Acabo de encontrar uma pessoa muito am·vel e muito corajosa. Eu queriacomprar um copo de tua ·gua!WANG - Ora, levanta a cabeÁa e fica de bÙca aberta: assim ter·s tÙda a ·gua que quiseres.Ali, o salgueiro ainda est· gotejando.- 52C~ T - Mas È da tua ·gua que eu quero, WANG:¡gua trazida de longe, que tanto trabalho deu e dificil de vender porque esta tardechoveu. Preciso dela, para aquÍle mÙÁo: È aviador. Um bom aviador

    È um homem que tem. dos outros, o destemor.Na companhia das nuvens, quando ruge a tempestade, rasga o cÈu no vÙo, levandoa outros homens, noutras terras, a mensagem da amizade!(CHEN T pag

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    20/54

    realmente.PRIMEIRO DEUS - D· gÙsto ouvir! Esperemos que isso a encoraje no caminho do bern!WANG - Sem d˙vida: ela faz todos os benefÌcios que pode!PRIMEIRO DEUS - Que espÈcie de benefÌcios? Conta-nos algo, meu caro WANG!WANG - Tem sempre uma palavra boa, para todo mundo...PRIMEIRO DEUS (ansioso) - Sim, e que mais?

    - 55 -

    #WANG- - Da loja dela ninguÈm sai sem fumo, ainda que n„o tenha dinheiro...PRIMEIRO DEUS - N„o est· mal. Que mais? WANG - Deu pousada a uma famÌlia de oito bÙcas...PRIMEIRO DEUS (ao SEGUNDO, exultante) Oito pessoas! (A WANG) Algo mais, por acaso? WANG -A mim comprou um copo d"·gua, e estava chovendo a c‚ntaros...PRIMEIRO DEUS - Naturalmente s„o benefÌcios mi˙dos. Compreende-se.WANG - Sim, mas custam dinheiro: uma lojinha n„o d· tanto assim!PRIMEIRO DEUS - Bem, bem. Mas o jardineiro h·bil, ‡s vÍzes, num terrenozinho ‡ toa,consegue verdadeiras maravilhas!WANG - … o que ela est· fazendo! TÙda manh„ reparte o seu arroz, e podeis crer que vainisso mais da metade dos gr„os.

    PRIMEIRO DEUS (algo desiludido) - N„o digo nada. Como comÍÁo, n„o È dos piores.WANG - VÍde que os tempos n„o ajudam! Ela atÈ pr2cisou chamar um primo, porque a lojaestava em dificuldades.Assim que houve um ref˙gio contra o vento, comeÁaram a vir, de todo o cÈu friorento, avesarrepiadas, brigando por lugar;e a rapÙsa mordia a parede, esfaimada, e o lÙbo capengava lambendo o alguidar.56 -Em suma: ela n„o chega para as encomendas! Mas todos, a uma voz, dizem que È boa mÙÁa:chamam-lhe, em tÙda parte, "OAnjo dos Sub˙rbios", Portanto, È sÛmente o bem o que sai dacasa dela. E o marceneiro LIN TO que continue a falar!PRIMEIRO DEUS - Que significa isso? Omarceneiro LIN TO anda falando mal dela?WANG - Ora, Íle diz que as armaÁoes n„o foram pagas...SEGUNDO DEUS - Que est·s dizendo? N„o foi pago o marceneiro, na loja do CHEN T ? E ela

    deixou ?WANG - Creio que na hora n„o tinha o dinheiro... SEGUNDO DEUS - , Mesmo assim: deve-sepagar o que se deve! … necess·rio evitar a menor sombra de injustiÁa: os mandamentos devems??r observados, primeiro no texto, depois no espÌrito!WANG - Mas nem foi ela, foi o primo, SantÌssimos...SEGUNDO DEUS - Pois que Ísse primo n„o lhe passe mais da porta!WANG (abatido) - Eu compreendo, SantÌssimo. Mas quero fazer constar, em def??sa de CHENT , que o primo dela È tido em conta de Ûtimo homem de negÛcios!

    #AtÈ a polÌcia o respeita.PRIMEIRO DEUS - TambÈm n„o vamos condenar o senhor primo, sem ouvir-lhe as razıes. Euconfesso que nada ent??ndo de negÛcios; talvez antes devÍssemos tomar informaÁıes, comoali·s È de praxe. Enfim, negÛcios s„o assim t„o importantes.?

    - 57 -

    #Vivem fazendo negÛc?ios! E os Sete-Reis-Bons, fa. ziam negÛcios? Kung, o Justo, ma-readejava peixe? Que tÍm aver os negÛcios com uma vida humana reta e digna?SEGUNDO DEUS (melindrado) - Enfim, que tal coisa n„o torne a acontecer!(Volta-se, para partir; seguem-no os outrosTERCEIRO DEUS (por ˙ltimo, acaVhado) - Desculpa-nos o torn, hoie, um pouco rude: estamosexaustos e maldormidos. Ah. as hospedagens que nos d„o! Os ricos nos recomendam, da melhormaneira, aos pobres; e os pobres nunca tÍm lugar que chegve...OS DEUSES (remvngam, afastando-se) - DÈbeis, os melhores dÍles! Nada de impressionante:bagatelas! Miudezas! Todos tÍm coraÁ„o, È natural, mas a vis„o È curta. No mÌnimo, eladevia...(J· n„o se Pode ouvir o que Íles dizem.) WANG (chamando por Íles) - Mas n?o fiqueis de mau

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    21/54

    humor, Santissimos! 1O melhor n„o exigir muito, para come ar!- 58 -IVNUMA PRA«A EM FRENTE" TABACARIADE CHEN T»(Uma loja de barbeiro, uma casa de tapetes, e a tabacaria de CHEN T . … segund.q-feira. Em

    frente ‡ porta de CHEN T£ aguardam dois remanescentes da famÌlia de, oito, membros: o AVıe a CUNHADA, alÈm do DE$EXPREGADO e da SENHORA CHIN.)CUNHADA - Ontem ‡ noite ela n„o veio para casa!SENHORA CHIN - 2 um procedimento incrÌvel! Enfim o danado do primo foi-se embora, e agoran„o seria t„o difÌcil, ao menos de vez em quando, ela nos dar um pouco do arroz que lhesobra; e ainda fica a noite inteira fora, vagabundando, os deuses sabem o

    nde!(Ouvm-se altas vozes na loja do barbeiro: dali sai WANG, aos tropeÁıes, e atr·s dÍle ogordo barbeiro, senhor CHU FU, empunh~ um forro dk fri&ar.)- 59

    #CHU FU - you te ensinar a aborrecer os meus clientes, com essa tua ·gua choca! Apanha o

    copo, e cai fora!(WANG estende a ~ para o copo, e CHU FU aproveita paradar-lhe uma pancada com o ferro defrisar, fazendo-o soltar um grito.)CHU FU - Toma! E que isso te sirva de liÁ„o!(Volta, arquejante, ‡ barbearia.) DESEMPREGADO (apanha o copo e entrega a WANG) - Podesdar queixa ‡ polÌcia do golpe que Íle te deu.WANG - A m„o est· como morta... DESEMPREGADO - Ter· quebrado algum osso? WANG - Nem possomais mexer... DESEMPREGADO - Senta-te, e pıe um pouco d"·gua em cima!(Senta-se WANG.)SENHORA CHIN - Em todo caso, a ·gua te custa pouco...CUNHADA - E nÛs aqui, ‡s oito da manh„, sem poder arranjar um pedaÁo de pano! Ela È capazde ter tido alguma aventura... Que esc‚ndalo!SENHORA CIUN (l˙gubre) - Esquece‹-se de nÛs! (Surge CHEN T , descendo a ruazinha, com uma

    grande tijela de arroz.)CHEN T… (ao p˙blico) - Eu nunca havia visto a cidade, ao amanhecer: a essas horas sempreestava?? TI ;Z? ?deitada, a cara embaixo da coberta suja, com mÍdo de acordar. Hoj,,, caminhando, passeipor meninos jornaleiros, por hÛmens regando o asfalto, e atÈ por um carro-de-bois trazendolegumes frescos da roÁa. Fiz um longo percurso, desde a casa de SUN atÈ aqui, e a cada passo me sentia mais contente. Eu sempre ouvi dizer que a gente anda nasnuvens, quando ama... mas ainda È mais bonito andar na terra, no asfalto! … como eu digo:os quarteirıes, na hora do sol nascer, parecem montes de escombros em qu

    e se acendem fogos, sob o cÈu limpo de qualquer poeira, entre rosa e cristal. E digo mais:n„o sabeis o que estais p-rdendo, se n„o tendes amor nem tendes olhos para ver vossa

    cidade, nessa hora em que sai da toca - qual sÛbrio e velho artes„o que infla de ar puro os pulmıes e apanha os instrumentos com as m„os - como diria o poeta.(Dirigindo-se aos que a esperam) bom dia! Aqui est· o arroz (Faz a partilha e ent„o avistaWANG) bom dia, WANG! Hoje estou de alma leve. Pelo caminho vim olhando nas vitrinas, e acho que seria bom comprar um xale para mim... (Depois de curta hesitaÁ„o)Queria tanto parecer bonita!(Emcaminha-se, r·pida, ‡ casa de tapetes.)

    #CHU FU (de novo ‡ porta, falando ao p˙blico) Estou surpreso: como È bonita essa senhoritaCHEN Tn, a dona da tabacaria aÌ defronte! E atÈ agora eu n„o dera por isso? H· trÍsminutos que a estou contemplando, e atÈ parece que j· estou enamorado. … uma

    pessoa mais do"que simp·tica! (A WANG)- 6O -- 61 -

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    22/54

    #Vai dando o fora, patife! (Torna a entrar na barbearia.)(CHEN T… e um casal de VELHOS, o tapeceiro e a mulher, saem da loja de tapetes. CHEN T traz um xale, o tapeceiro um espelho.)VELHA - … vistoso e n„o sai caro, por ter um furinho embaixo.CHEN T (olhando o xale que a VELHA traz no braÁo) Overde tambÈm È lindo!

    VELHA - Pena que n„o tenha um defeitozinho! CHEN T2 - … pena! Eu n„o posso fazerextravag‚ncias, com a lojinha: ainda h· pouco rendimento e muita despesa.VELHA - Em benefÌcios... N„o faÁa tantos: no principio cada prato de arroz tem seu valor,n„o È? CHEN Tn (experimenta -o xale com o furinho) …, deve ser, mas hoje estou de almaleve. Esta cÙr assenta em mim?VELHA - Isso È preciso perguntar a um homem. CHEN T (virando-se para o VELHO - Assenta?VELHO - … melhor perguntar a...CHEN TP, (muito polida) N„o, eu pergunto ao senhor.VELHO (tambÈm polido) Oxale cai muito bem, mas ponha o lado claro para cima!(CHEN T… paga.)VELHA - Depois, se n„o lhe agradar, pode tro-- 62 -c·-lo sem susto. (Puxa a moÁa para um lado) le possui algum capitalzinho?...

    CHEN T2 (sorrindo) - Oli, n„o.VELHA - Ent„o, vocÍ È quem vai pagar os seis meses de aluguel?CHEN Tn - E o aluguel? Eu j· havia esquecido! VELHA - Eu logo vi! Segunda-feira È diaprimeiro! Queria propor-lhe uma coisa: saiba que, depois de conhecÍ-la melhor, meu maridoe eu ficamos um pouco descrentes daquele an˙ncio procurando casamento. Deci

    dimos ajud·-la, em caso de necessidade: temos um dinheiro guardado e lhe podemos emprestarduzentos dÛlares de prata. Pode-nos dar em garantia, se quiser, o seu estoque de fumo.Naturalmente, entre nÛs, n„o È preciso nada por escrito!CHEN Tn - Querem, mesmo, emprestar dinheiro, a uma pessoa irrespons·vel como eu?VELHA - Claro: ao senhor seu primo, que longe est· de ser irrespons·vel. talvez n„oemprest·ssamos. Mas a voce, emprestamos de bom grado. VELHO (acercando-se) - Combinado?CREN T - Eu so queria que os deuses ouvissem sua s3nhora falar, senhor Deng! …les andam a

    cata de almas boas que se sintam felizes: e vocÍs devem ser#muito felizes, para ajudarem a mim, que, por amor, me acho em dificuldades!(Os,dois VELHOS pıem-se a rir.)VELHO - Aqui t= o dinheiro.63 -

    #(Entrega a ela um envelope. CHEN T o recebe, fazendo uma curvatura. Curvam-se os dois,tambÈm, e voltam ‡ loja.)CHEN T (a WANG, levantando o envelope) Aqui est· o aluguel de meio ano! N„o parecemilagre? E que me dizes do meu xale novo, hein, WANG? WANG - Compraste por causa dÍle,daquele que eu vi no parque?(CHEN T confirma, de cabeÁa.)SENHORA CHIN - Talvez fÙsse melhor olhar a m„o dÍle, quebrada, em vez de lhe contar suas

    aventuras suspeitas!CHEN T (assustada) - Que houve com tua m„o? SENHORA CHIN - Obarbeiro quebrou-a, ‡ nossavista, com o ferro de frisar.CHEN T» (chocada com a prÛpria desatenÁ„o) E eu nem tinha reparado! Deves ir logo procurarum mÈdico, antes que essa m„o fique paralÌtica e n„o possas mais trabalhar direito. … umbruto azar. Depressa, fica em pÈ! Anda, depressa!DESEMPREGADO - N„o tem nada que ir ao mÈdico, e sim ao juiz! Pode exigir uma indenizaÁ„odo barbeiro, qw È rico.WANG - Queres dizer que h· possibilidade? SENHOR-i,", CHIN - Se estiver mesmo qwbrada...Mas, est·?WANG - Eu acredito. J· est· tÙda inchada. Ser· que d· ,,.ma pens„o vitalÌcia?SENHORA CHIN - Em todo caso, vais precisar de testemunhas.... 64 -WANG - Isso vocÍS todos viram! Qualquer um pode depor!(Passa a vista em redor: o DESEMPREGADO, o AVı e a CUNHADA, sentados junto ‡ parede,

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    23/54

    comem. Nenhum levanta os olhos.)CHEN T (‡ senhora CHIN) - A senhora mesmo viu!SENHORA CHIN - N„o, eu n„o quero nada com a polÌcia.CHEN T (‡ CUNHADA) - A senhora. tambÈm! CUNHADA - Eu? Nem estava olhando! SENHORA CHIN -Naturalmente que a senhora viu: eu vi que a senhora viu. Est· com mÍdo, sÛ porque obarbeiro tem prestÌgio.

    CHEN T (ao AVı) - Tenho certeza, o senhor depıe sÙbre o fato.CUNHADA - N„o ser· aceito o testemunho dÍle: est· gag·!CHEN " (ao DESEMPREGADO) - Talvez se trate de uma pens„o vitalÌcia.DESEMPREGADO - J· duas vÍzes fui prÍso por mendic‚ncia: meu testemunho È capaz deprejudicar...CHEN T (desconfiada) - Nenhum de vÛs quer falar... ent„o, È isto? Quebraram a m„o dÍle, ‡luz do dia, tudo em vossa presenÁa, e ninguÈm quer depor ?#(Irritada)65

    #Ah, infelizes!Olhais para o outro lado, enquanto vosso irm„o È maltratado! Grita de dor o ferido, epermaneceis calados?

    A fera faz a ronda e escolhe a prÍsa,e vÛs dizeis: - ainda nos poupa, n„o mostremos desagrado! E dizer que È uma cidade e ques„o sÍres humanos!Se uma cidade vÍ ocorrer uma injustiÁa, ent„o deve haver revolta, e se revolta n„o houver,melhor È desaparecer,num fogarÈu, tÙda a cidade, antes da noite escurecer!Wang, se ninguÈm te quer servir de testemunha, eu you contigo, you depor e you dizer quepresenciei tudo!SENHORA CHIN - Ser· falso testemunho. WANG - N„o sei se posso, mas talvez deva aceitar.(Olhando a m„o, preocupado) Acha grossa o bastante? Tenho a impress„o de j· estardesinchado.. .DESEMPREGADO (tranq¸ilizando-o) - N„o, fiqua certo, ela n„o desinchou. "k%lk, WANG -N„o, mesmo? 2, eu tambÈm acho q˙e ainda aumenta um pouco mais.,Talvez tenha quebrado o

    polegar! Melhor È ir logo ao juiz. (Segurando cuidadosamente a m„o, da qual n

    „o tira os olhos, sai ‡s pressas.)(Corre a SENHORA CHIN ‡ loja do barbeiro.) DESEMPREGADO - L· vai a outra ao barbeiro,bajular.CUNHADA - NÛs n„o podemos reformar o mundo.CHEN T (desalentada) - Eu n„o quis ofender- 66 -ninguÈm. Estou meio atordoada. … isso mesmo: eu quis ofender, sim! Sumam da minha vista!(Comendo e resmungando saem o DESEMPREGADO,o AVı e a CUNHADA.)CHEN T (ao p˙blico) -j· nem respondem. Ficamonde a gente os coloca, e, despedidos, deixam logo o lugar!

    Nada os comove, mais:sÛ o cheiro da comida È que os faz despertar.(Chega uma mulher, a correr: È a SENHORA IANG, m„e de SUN.)SENHORA IANG, (sem fÙlego) - … a senhorita CHEN T ? Meu filho me disse tudo: eu sou asenhora IANG, m„e de SUN! Imagine: Íle j· tem Possibilidade de um novo emprÍgo de aviador!Ainda h· pouco, hoje de manh„, veio uma carta de#Pequim: de um chefe de hangar do correio-aÈreo. CHEN T2 - le, ent„o, volta a voar? Queborn, senhora IANG!SENHORA IANG - Mas Ísse emprÍgo custa um dinheir„o: quinhentos dÛlares!CHEN T - … muito, mesmo, mas n„o se pode perder pelo dinheiro: enfim, eu tenho a loja...SENHORA IANG - Se pudesse fazer alguma coisa! CHEN T2 - Se me f‘sse possÌvel ajudar!SENHORA IANG Seria dar uma chance a um hO1nara de valor!- 67

    #CHEN T - Como se pode impedir alguÈm de tornar-se ˙til? (ApÛs uma pausa) SÛ que da loja

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    24/54

    tiro muito pouco, e stes duzentos d lares contados s„o dinheiro de empr stimo ... Mas asenhora leva de uma vez; eu vendo o estoque de fumo e reponho essa impor

    t‚ncia.(Entrega a ela o dinheiro do casal de VELHOS.)SENHORA IANG - Ah senhorita CHEN T ! a ajuda vem a calhar! TÙd? a cidade j· dizia que Íle

    era aviador morto, certos de que n„o voaria mais do que um defunto!CHEN T - Mas ainda faltam trezentos, para conseguir o emprÍgo. Precisamos pensar, senhoraIANG! (Vagarosamente) ConheÁo alguÈm que talvez ainda pudess- ajudar: uma pessoa que umavez j· me valeu. Eu n„o queria mais chamar por Íle, porque È severo e l

    adino. Esp,,ero que esta seja a ˙ltima vez. Mas est· claro: "k?n aviador deve voar!(RuÌdo de motor, ‡ dist‚ncia.)SENHORA IANG - Se Ísse, de quem fala a senhorita, pudesse conseguir-nos o dinheiro! Olha,È o correio-aÈreo matinal, que vai rumo a Pequim! CHEN T2 (resolvida) - FaÁa sinais,senhora IANG! Tenho certeza de que o pilÙto nos vÍ (Acenando com o xale) FaÁa sinais, a senhora tambÈm!68 -

    SENHORA IANG (acenando) - Conhece o que est· voando?CHEN T - Eu, n„o. Mas conheÁo o que vai voar. H· de voar o desesperanÁado, senhora IANG!Ao menos um h· de passar por cima desta misÈria, ao menos um h· de subir acima de todosnÛs! (Ao p˙blico)Iang Sun, meu amor, na companhia das nuvens, quando ruge a tempestade,- singrar o cÈu, levando- outros homens, noutras terras,- mensagem da amizade!- 69 -

    #I n t e r I U d i oNA FRENTE DA CORTINA(CHEN T aparece, trazendo nas m„os a m‡a. cara e o terno de CHUI TA, e recita e canta.)

    CAN«" O DA FRAQUEZA DOS DEUSES E DOS BONSJ¡

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    25/54

    SENHORA CIIIN - Uma lojinha como esta fica arruinada num instante, quando certos boatos seespalham pelo bairro, pode crer: j· era tempo do senhor, que È um homem ordeiro, botar ampratos limpos essa histÛria excusa da senhorita CHEN T com o tal IANG SUN da rua Amarela. N„o esqueÁa que CHU FU, o barbeiro aÌ do lado, que possui dozeprÈdios e uma ˙nica mulher, ali·s bem velha, ainda ont2m me deu a entender o lisonjeirointerÍsse que tem pela senhorita CLIEN T . Chegou mesmo a tomar informaÁıes sÙ

    bre os recursos dela: o que prova, eu diria, a m-lhor das intenÁıes!(Como n„o obtÈm resposta, -acaba saindo em o balde.)- 72 -- 78 -111 " ?

    #VOZ DE SUN (fora) - in a loja da senhorita CHEN T ?VOZ DA SENHORA CHIN - 2, mas hoje o primo est· aÌ.(corn os passos ligeiros de CHEN T…, CHUI TA corre a um espÍlho , ia comeÁando aarrumar -os cabelos; percebe seu Írro, ao espÍlho, e volta-se, rindo baixo. Entra IANGSUN. Atr‡s dÍle a SENHORA CHIN , curiosa; passa por Íle e vai para os fun

    dos.)SUN - Eu sou IANG SUN. (CHUI TA inclina-se.) -CHEN T est· aÌ?CHUI TA - N„o, n„o est·.SUN - Mas o senhor com certeza j· est· a par do que existe entre nÛs! (Pıe-se a examinar aloja.) ]… uma loja de verdade! Pensei que fÙsse, mais, um pouco de garganta. (Satisfeitoolha dentro das caixas e potes de porcelana.) Homem, eu you mesmo voar de novo! (Pega um charuto e CHU1 TA lhe oferece fogo.) Acha que por trezentos dÛlaresainda se pode vender esta loja?CHUI TA - Permita-me perguntar: tem a intenÁao de vendÍ-la imediatam.-nte?SUN - Ent„o, temos trezentos dÛlares em caixa? (CHUI TA nega, de cabeÁa.) Foi muitoam·vel, da parte dela, soltV logo os duzentos; mas n„o me adiantam, sem oibtrez2ntos quefaltam.CHUI TA - Talvez fÙsse um pouco apressado ela prometer o dinheiro. Isso pode custar-lhe a

    loja. r)iz-se que: "apressado, È o vento, que pıe abaixo os andaimes."74SUN - Preciso do dinheiro, agora ou nunca. E a mÙÁa n„o È das que ficam vacilando, quandoacha que vale a pena. Aqui, entre nÛs, de homem para homem: atÈ agora n„o vacilou em nada.CHUI TA - Ali, sim!SUN - Oque, ali·s, sÛ conta a favor dela!CHUI TA - Posso saber que fim ter„o Ísses quinhentos dÛlare-s ?SUN - Claro. Percebo que me quer sondar. Ochefe do hangar de Pequim, colega meu da escolade aeron·utica, sÛ me consegue o lugar se eu espichar quinhentos dÛlares.CHUI TA - N„o È uma soma elevada demais? SUN - N„o, n„o. le precisa despedir, pornegligÍncia, um outro pilÙto muito zeloso, que tem famÌlia numerosa a sustentar. Osenhorsabe: isto eu lhe digo em confianÁa, CHEN TP, n„o precisa ouvir.CHUI TA - Talvez n„o. Mas, uma coisa: e Ísse chefe de hangar n„o vender·

    #o senhor tambÈm, no mÍs seguinte?SUN - Eu, n„o. Comigo n„o h· negligÍncia. J· passei muito tempo sem emprÍgo.CHUI TA (aprovando de cabeÁa) - Oc„o faminto puxa melhor o trenÛ... (Observa-oIongamente, com -ar prescrutador.) … uma responsabilidade enorme: o senhor quer que minhaprima renuncie aos poucos bens que possui, aos amigos que tem nesta cidade, eponha o destino dela inteiramente em suas m„os. Suponho que tem intenÁ„o de casar-se comCHEN T !SUN - Isso estou pronto a fazer.- 75

    #CRM TA - Mas ent„o, n„o È uma pena queimar a loja por duas patacas? A gente nunca temnada, quando vende tudo ‡s pressas. com Ísses duzentos dÛlares que o senhor j· tem na m„o,seria pago meio ano de aluguel. N„o o entusiasma, tanibÈm, ser gerente de uma tabacaria?SUN - Eu? Pode-se l· imaginar IANG SUN, o aviador, parado atr·s de um balc„o! "Quer

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    26/54

    charuto forte ou suave, cavalheiro?" Para IANG SUN Isso n„o neg cio, no s culo em quevivemos!CHUI TA - Permita-me outra pergunta: a aviaÁ„o È negÛcio?SUN (tira do bolso uma carta) - Duzentos e cinq¸enta dÛlares por mÍs! Veja a carta, osenhor mesmo. Aqui o sÍlo, e o carimbo: Pequim.CHU1 TA - Duzentos e cinq¸enta dÛlares de prata... £ um bocado!

    SUN - Pensa que eu vÙo de graÁa?CHUI TA - OemprÍgo parece born. - Senhor IANG SUN, minha prima incumbiu-me de ajud·-lo aobter Ísse lugar, que È tudo para o senhor. Do ponto de vista de minha prima, n„o vejonenhum empecilho a que ela siga o impulso do coraÁ„o: tem pleno direito acompartilhar as alegrias do amor. Estou pronto a converter, tudo isto aqui, em dinheiro.AÌ vem a dona do prÈdio, senhora MI TSU, a quem.eu quero consultar sÙbre a venda.ac?1) SENH? A MI TSU (entrando) - bom dia, se-nhor C TA. Trata-se do aluguel da lo?a: Oprazo ac Ija depois de amanh„.CHUI TA - Senhora MI TSU, por imprevistas circunst‚ncias tornou-se pouco prov·vel queminha- 76 -prima continue com a loja. Est· pensando em casar-se, e seu futuro marido (apresenta), o

    senhor IANG-SUN, vai com ela para Pequim, onde esperam comeÁar vida nova. Se eu conseguiro bastante, vendo o fumo.SENHORA MI TSU - De quanto o senhor precisa? SUN - Trezentos, batidos.CHUI TA (muito depressa) - N„o, quinhentos! SENHORA MI TSU (a SUN) - Talvez eu possa fazernegÛcio. (A CHUI TA) Quanto custou Ísse fumo?CHUI TA - Minha prima deu, por Íle, mil dÛlares de prata; e n„o vendeu quase nada.SENHORA MI TSU - Mil dÛlares de prata! Naturalmente ela foi embrulhada. Uma coisa - eu lhedigo: eu dou trezentos pela loja inteira, se fÙr entregue depois de amanh„.

    #SUN - Entregamos. Olha ai, velho! CHUI TA - ]a muito pouco.SUN - 2 o bastante.CHUI TA - Preciso de, no mÌnimo, quinhentos. SUN - Para que?CHUI TA - Permita-me dizer duas palavras ao noivo de minha prima. (A SUN, de parte) Todo

    Ísse fumo est· empenhado a um casal de velhos, pelos duzentos dÛlares de prata que osenhor recebeu ontem. - 1 SUN (hesitante) - H· algum documento escrito? CRM

    TA - N„o.SUN (‡ senhora MI TSU, apÛs breve pausa) Podemos fazer por trezentos.77L?,xnmnwk?

    #SENHORA MI TSU - Ainda precise saber se a loja n„o est· hipotecada.SUN - Responda.CHUI TA - A loja est· desimpedida.SUN - E os trezentos, quando È que vÍm? SENHORA MI TSU - Depois de amanh„, e vocÍs ainda

    podem desistir. Se tivessem um mes para vender, haviam de arranjar mais. Eu dou trezentossÛ pelo prazer de contribuir para a felicidade dos jovens namorados. (Sa

    i.)SUN (gritando para ela) - Est· feito o negÛcio: caixinhas e potinhos e saquinhos, tudoisso por trezentos, e chega de amolaÁ„o. (A CHUI TA) Talvez tenhamos oferta melhor, atÈdepois de amanh„, e poderemos repor os duzentos dÛlares.CHUI TA - N„o em t„o pouco tempo. N„o teremos nem um dÛlar alÈm dos trezentos da senhoraMI TSU. Para a viagem dos dois e para os primeiros dias, o senhor j· tem dinheiro?SUN - Decerto! CHUI TA - Quanto?SUN - Hei de arranj·4o de qualquer maneira, nem que tenha de roubar!CHUI TA - Ah, ent„o essa quantia ainda falta arranjar tambÈm?SUN - Na%perca as botinas, velho! Eu you chegar a Pequi&.ClIM TA - Mas para duas pessoas n„o custa assim t„o barato...SUN - Duas? A pequena fica aqui. Ela seria, nos

  • 8/19/2019 A Alma Boa de Setsuan - Bertodt Brecht

    27/54

    primeiros tempos, uma pedra amarrada ao meu pesco o.CHUI TA - Compreendo.SUN - Por que olha para mim como se eu fÙsse um odre de azeite furado? … preciso a genteir-se conformando...CHUI TA - E minha prima, de que vai viver? SUN - Osenhor n„o pode f azer nada por ela?CHUI TA - Farei o que fÙr possÌvel. (Pausa.) Queria que o senhor me desse aqueles duzentos

    dÛlares e que os deixasse comigo, senhor IANG.SUN, atÈ que esteja em condiÁıes de me mostrar dois bilhetes para Pequim.SUN - Caro cunhado, e eu queria que vocÍ n„o se metesse.CHU1 TA - A senhorita CHEN Tig,1-. SUN - Deixe a pequena comigo!CHUI TA - . . . talvez ela n„o queira mais vender a loja, se souber...SUN - Nada: ela vende sim!CRM TA - E o senhor n„o receia a minha oposiÁ„o?SUN - Ora, meu caro!CHUI TA - AtÈ parece esquecer que ela È humana e tem juizo.SUN Czombeteiro) - Eu sempre achei formid·vel o que certas pessoas pensam#das mulheres da familia, e do efeito que produzem os conselhos ponderados. E dos encantosdo amor ou das fraquezas da carne, nunca ouviu falar? Quer cham·-la ‡ raz„o! Raz„o ela n„otem. Ao contr·rio: ela foi maltratada a vida inteira, pobre bichinho!

    Basta Áu- 78 -- 79 -

    #lhe pÙr a m„o no ombro e dizer "Anda comigo,, ela ouve sinos celestiais e desconhece aprÛpria m„e. . .= TA (corn esfÙrÁo) - Senhor IANG SUN, SUN - Senhor... sei l·!= TA - Minha prima È dedicada ao senhor, porque...SUN - Digamos: porque lhe pus a m„o no cora- 1 Á„o. Enfia isso no pito e vai fumando!(Apanha outro charuto, mete no bÙlso mai3 dois, e afinal pıe debaixo do braÁo a CaixatÙda.)SUN - N„o me apareÁas l· de m„os vazias: isso È parte do nosso casamento! Ela leva

    trezentos dÛlares, ou sen„o tu mesmo trazes. Ou ela ou tu! (Sai.)SENHORA CHIN (assomando a cabeÁa pela porta do depÛsito, nos fundos) - N„o È nadasimp·tico! E tÙda a rua Amarela sabe que Íle tem a mÙÁa inteiramente nas m„os.MUI TA (num grito) - L· se vai a loja! N„o h· amor! P, a ruÌna! Estamos perdidos! (Pıe-sea andar em roda, como animal enjaulado, sempre repetindo "L· se vai a loja!". De repente,p·ra e agarra a senhora CHIN. ) CHIN, vocÍ cresceu ao relento, e eu tam

    bÈm. Somos idiotas? N„o. Falta-nos a brutalidade necess·ria? N„o! estou pronta a agarrarvoce pela garganta e sacudir atÈ vÍ-la cuspir o a ...Reijo que me roubou, vocÍ bem sabe! Os tempos "gm terrÌveis, esta cidade È um buraco,nias assim mesmo vamos tentando subir enfiando de lisa. De repente a desgraÁa as tinhasna pareabate em cima de um: comeÁa a amar e pronto, est· perdido! Um deseuido, e acabou-sel Mas

    como a gente se pode livrar de tÙdas essas L;aquezas? e do amor, que È de tÙdas a maisfatal? Totalmente impossÌvel: o amor sai caro demais! Diga, com sinceridade: pode a gente viver sempre de pÈ atr·s? Afinal, que mundo È Íste?CarÌcias tornam-se estrangulamentos, Cada suspiro È um grito de pavor:- Por que esvoaÁam corvos agourentos?… alguÈm y.ie vai a um encontro de amor!SENHORA CHIN - Acho melhor chamar logo o barbeiro. Osenhor deve conversar com Íle: aquiloÈ que È homem direito. Parece feito para a sua prima!(Como n„o obtÈm resposta alguma, sai a senhora CHIN. CHUI TA pıe-se de novo a andar, atÈque entra o senhor CHU FU. Atr·s vem a senhora CHIN, que a um#winal de CHU FU È obrigada a sair.)CHUI TA (dirigindo-seao visitante) - Meu caro, acaba de chegar a meus ouvidos que o senhortem por minha prima um interÍsse todo especial. Deixe-me pÙr de lado as cerimÙnias, queexigem discriÁ„o, visto que no momento a senhorita se expıe ao maior per

  • 8/19/2019 A Al