A Abelha 1. A Abelha 1.1 Que abelhas são criadas no Brasil? A espécie de abelha mais comum, criada no Brasil e no mundo inteiro é a Apis mellifera (o seu nome científico). Também são criadas aqui algumas espécies de abelhas nativas (ou indígenas ou sem ferrão), que são menores e muito menos produtivas, mas que fornecem um tipo de mel diferente, muito apreciado por alguns. Este documento contém informações apenas sobre Apis mellifera. Para obter informações sobre abelhas nativas, consulte os grupos de discussão mencionados no item 12.9). 1.2 O que significa esse nome científico? A classificação dos seres vivos é feita em diversos níveis (reino, classe, ordem...). Ao se mencionar um determinado indivíduo, o mais comum é usar-se apenas o gênero e a espécie. No caso, a nossa abelha comum pertence ao gênero Apis e à espécie mellifera. Um outro nível é usado às vezes para identificar subespécies, variedades ou raças, como em Apis mellifera carnica. Ao final do nome científico, freqüentemente aparece o nome do responsável pela identificação da espécie, geralmente abreviado. Por exemplo, Apis mellifera mellifera L. (de Linnaeus). Quando se está fazendo referência a mais de uma espécie do mesmo gênero, ele é escrito seguido da abreviatura spp. Por exemplo, Apis spp. Os elementos do nome científico são palavras em Latim, ou latinizadas, quando a palavra correspondente não existe neste idioma. O gênero é grafado com a primeira letra em maiúscula, a espécie e subespécie, em minúscula. Nenhum deles leva acento.
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Transcript
A Abelha
1. A Abelha
1.1 Que abelhas são criadas no Brasil?
A espécie de abelha mais comum, criada no Brasil e no mundo inteiro é a Apis mellifera (o seu nome científico). Também são criadas aqui algumas espécies de abelhas nativas (ou indígenas
ou sem ferrão), que são menores e muito menos produtivas, mas que fornecem um tipo de mel
diferente, muito apreciado por alguns.
Este documento contém informações apenas sobre Apis mellifera. Para obter informações sobre
abelhas nativas, consulte os grupos de discussão mencionados no item 12.9).
1.2 O que significa esse nome científico?
A classificação dos seres vivos é feita em diversos níveis (reino, classe, ordem...). Ao se mencionar um determinado indivíduo, o mais comum é usar-se apenas o gênero e a espécie. No
caso, a nossa abelha comum pertence ao gênero Apis e à espécie mellifera.
Um outro nível é usado às vezes para identificar subespécies, variedades ou raças, como em
Apis mellifera carnica. Ao final do nome científico, freqüentemente aparece o nome do responsável pela identificação da espécie, geralmente abreviado. Por exemplo, Apis mellifera
mellifera L. (de Linnaeus).
Quando se está fazendo referência a mais de uma espécie do mesmo gênero, ele é escrito
seguido da abreviatura spp. Por exemplo, Apis spp.
Os elementos do nome científico são palavras em Latim, ou latinizadas, quando a palavra
correspondente não existe neste idioma. O gênero é grafado com a primeira letra em maiúscula,
a espécie e subespécie, em minúscula. Nenhum deles leva acento.
A Apis mellifera possui diversas subespécies (raças). Algumas são originárias da Europa e
outras da África. Entre as européias mais conhecidas, estão a mellifera, a ligustica
(popularmente conhecida como "italiana"), a carnica e a caucasica. Entre as africanas,
destacam-se a scutellata, a capensis, a monticola e a adansonii.
1.4 Que raças existem no Brasil?
No Brasil, e em quase toda a América Latina, a predominância é de uma raça híbrida entre a
A.m.scutellata e as raças européias citadas acima. Como essa hibridização não está padronizada,
ou seja, ainda há uma enorme variedade morfológica e comportamental, não foi registrada uma
raça específica, mas essas abelhas são genericamente referidas como abelhas africanizadas.
1.5 Como essas abelhas chegaram aqui?
Rainhas de A.m.scutellata (originalmente chamada de A.m.adansonii) foram introduzidas no Brasil em 1956, para uma experiência de melhoramento genético. Fora de controle, enxames
abandonaram as colméias e passaram a viver na natureza. A partir de então, enxameações
sucessivas e cruzamentos de zangões africanos com princesas européias deram início a uma longa e impressionante ocupação do continente. Em 1990, os genes africanos chegaram à
fronteira sul dos EUA, tendo percorrido cerca de 8.000 km em 34 anos.
Ao longo do tempo, os cruzamentos deram origem a enxames híbridos, com diferentes graus de
predominância dos caracteres genéticos africanos.
1.6 As abelhas africanizadas são mais agressivas?
Sim, em intensidade variada. Há enxames excepcionalmente agressivos e outros relativamente
mansos.
A propósito, a tendência de "correção política", amplamente difundida nos EUA e importada livremente pelo resto do mundo, caracteriza o comportamento da abelha como defensivo, e não
agressivo, porque o ataque seria sempre uma resposta a um estímulo externo. Na minha opinião,
isso é apenas uma confusão semântica. O intuito pode ser de defesa, mas a ação é de agressão.
Se um cachorro resolver estraçalhar uma pessoa na rua por se sentir ameaçado, alguém diria que
ele é muito defensivo? É claro que não.
Neste texto, apenas a expressão agressividade é usada para qualificar uma resposta de ataque.
1.7 Quando um ataque de abelhas pode ser fatal?
A literatura registra que um indivíduo hipersensível pode morrer em virtude de uma única
ferroada, mas isso é muito raro. Mais comum é morrer a pessoa ou o animal que,
impossibilitado de fugir por qualquer razão, fica exposto a um número muito grande de ferroadas. Crianças e deficientes físicos que estejam nas proximidades de um enxame agressor
correm maior risco. Animais amarrados ou cercados também. Apicultores bem protegidos
raramente sofrem mais do que umas poucas e inofensivas ferroadas.
Há casos registrados de morte com 100-300 ferroadas, e há um caso de sobrevivência registrada
com 2.243 ferroadas. Em geral, a dose letal mediana (para a qual 50% das vítimas morrem) fica
em torno de 19 ferroadas por quilo, para adultos [SCH92].
1.8 A apicultura pode ser considerada uma atividade perigosa?
Mexer com abelhas, sem conhecimento, pode ser considerado perigoso. A apicultura racional,
praticada com os critérios de segurança bem conhecidos, é provavelmente uma atividade muito
menos perigosa que algumas outras profissões e passatempos. Ao longo deste texto, há várias considerações sobre segurança. Independentemente disso, fazer um bom curso teórico-prático é
uma condição essencial à formação de um bom apicultor.
1.9 Quantas vezes uma abelha pode ferroar?
Normalmente, uma única vez. O ferrão é uma estrutura que se parece com um arpão e que fica
cravado na vítima. Ao se desprender, a abelha deixa para trás não apenas o ferrão, mas também
o saco de veneno e parte do seu aparelho digestivo. Enquanto o ferrão permanece cravado, o veneno continua a ser instilado por ação involuntária (veja os itens 4.13 e 4.14). A abelha morre
em horas ou dias.
1.10 A rainha ferroa? E os zangões?
Normalmente, a rainha só ferroa outra rainha, quando em disputa pela colméia. Ferroada de
rainha em humanos é bastante rara, e, quando acontece, geralmente é após a manipulação de outra rainha pelo apicultor. O ferrão da rainha é mais firme que o das operárias e tem menos
rebarbas, o que quase sempre evita o seu arrancamento após a ferroada.
Zangões não ferroam porque não possuem ferrão.
1.11 Afinal, por que as abelhas ferroam?
As abelhas ferroam quando sentem que a sua própria integridade ou a de sua família está
ameaçada. Por isso, uma abelha longe de sua colméia nunca ataca ninguém, a menos que seja
molestada diretamente, ou que tenha saído há pouco de uma colméia atacada. Pessoas que desconhecem esse fato assustam-se desmesuradamente quando uma abelha voa próximo a elas,
imaginando que se trata de um ataque, e não uma simples investigação sobre a possível
utilidade daquelas vestes coloridas ou daquele perfume exótico.
1.12 As abelhas são criaturas boas?
Nem boas, nem más. São apenas insetos, que apresentam um comportamento baseado num
conjunto limitado de respostas aos diferentes estímulos que sofrem. Abelhas não raciocinam, não planejam, não ficam de mau ou de bom humor. Também não se afeiçoam ao apicultor nem
se acostumam a ser manipuladas. Todos esse sentimentos são próprios de alguns vertebrados,
especialmente os mamíferos, mas não de insetos.
1.13 Como as abelhas não planejam, se elas guardam mel para o inverno?
Elas não guardam mel para o inverno, simplesmente porque a grande maioria das abelhas que estocam o mel nunca viram e nem verão o inverno, já que elas raramente chegam a viver dois
meses na época de forrageamento. Elas simplesmente respondem ao estímulo "secreção de
néctar nas proximidades" coletando e armazenando tudo o que podem. Do ponto de vista da
seleção natural, os enxames que assim procedem conseguem sobreviver aos tempos difíceis e têm oportunidade de passar seus genes adiante. Os demais simplesmente morrem, sem
conseguir perpetuar esse comportamento na espécie.
1.14 O que as abelhas reconhecem como ameaça?
Barulhos normais, como o ruído de passos e conversa raramente perturbam as abelhas. Elas são
estimuladas por vibrações fortes (de motores, por exemplo), odores (suor, perfumes),
movimento (quanto mais rápido, pior) e cores (as escuras mais do que as claras). Pêlos em geral,
cabelos e roupas felpudas estimulam fortemente o ataque, mais ainda se forem escuros.
Dentre os maiores estímulos, pode-se destacar o dióxido de carbono, exalado em quantidade
pelos humanos. Por essa razão, evite, sempre que possível, respirar ou soprar próximo às
abelhas.
Um detalhe interessante é que as condições ambientais parecem influir decisivamente no
comportamento mais ou menos agressivo das abelhas. Dias nublados, úmidos e ventosos são, quase com certeza, dias de manejo difícil (embora também haja uma boa surpresa de vez em
quando).
1.15 O que são as castas de abelhas?
Casta é cada um dos tipos de abelha existentes nos enxames: rainhas, operárias e zangões.
1.16 O que diferencia a rainha das operárias?
Visualmente, a rainha é muito maior que as operárias. Uma rainha é produzida pelas operárias
sempre que necessário, a partir de uma larva jovem, de operária, de até 3 dias de vida.
Três fatores determinam que uma larva comum se transformará numa rainha, e não numa
operária [WIN03]. Primeiro, a qualidade da alimentação. Larvas de rainhas são alimentadas com geléia real, uma mistura de secreções das glândulas mandibulares e hipofaringeanas das
operárias. Larvas de operárias são alimentadas com uma mistura semelhante, mas com uma
proporção muito menor da substância mandibular e ainda com a adição de pólen.
Segundo, a quantidade de alimentação. As larvas de rainha não apenas "bóiam" numa quantidade enorme de geléia real, como a ingerem com muito mais apetite do que as larvas de
operária. Isso acontece porque elas são estimuladas pelo conteúdo maior de açúcar na geléia real
do que na comida das larvas nos primeiros dias.
Terceiro, o tamanho da célula de rainha, chamada de realeira. Ela é muito mais ampla do que os
alvéolos de operárias, e permitem um crescimento muito maior da rainha.
Outra diferença é que a rainha é a única fêmea a acasalar e, portanto, somente ela é capaz de pôr
os ovos que gerarão novas operárias e zangões (veja o item 1.28 abaixo).
1.17 E o que é uma princesa?
É como é chamada uma rainha muito jovem, que ainda não foi fecundada.
1.18 Como é a fecundação da rainha?
Alguns dias após o seu nascimento, a princesa faz um ou mais vôos nupciais, nos quais copula
com diversos zangões (entre 7 e 17, provavelmente). Depois disso, retorna à colméia e nunca
mais acasala. O sêmen introduzido fica armazenado num órgão da rainha chamado espermateca,
pelo resto da sua vida reprodutiva. No momento da postura, o óvulo que desce pela vagina será fertilizado por um espermatozóide da espermateca, caso a rainha esteja pondo um ovo numa
célula de operária, ou não será fertilizado, caso a célula seja de zangão (que é maior que a de
operária).
1.19 Como podem os zangões nascer de ovos não fertilizados?
Trata-se de um fenômeno conhecido como partenogênese, comum também em vespas e
formigas. O indivíduo resultante não tem pai e é haplóide, isto é, possui metade dos cromossomos de sua mãe - apenas 16. Essa situação curiosa determina que a rainha que gerou
um zangão seja o "pai genético" das filhas desse zangão.
1.20 Qual é a função dos zangões?
Aparentemente, eles existem apenas para a procriação. Eles não defendem a colônia (não
possuem ferrão), nem coletam nada de útil para a colméia na natureza.
1.21 Como identificar um zangão?
O zangão é maior que as operárias e, por isso, é freqüentemente confundido com a rainha por
apicultores iniciantes. Na verdade, ele é completamente diferente, tanto das operárias quanto da rainha. O seu corpo é mais largo, e o abdômen termina numa forma rombuda, e não pontiaguda.
Além disso, os seus olhos compostos são muito grandes, juntando-se no topo da cabeça.
1.22 Zangões são sempre “puros”? [1]
Talvez em razão de os zangões serem haplóides, espalhou-se a crença de que eles são sempre de
raça pura. O filho de uma rainha pura também será puro (embora possa ter características
diferentes da sua mãe), e o filho de uma rainha mestiça poderá ser mestiço e, havendo
coincidência, também poderá até ser puro (veja item 1.23).
1.23 Os zangões irmãos são idênticos? [1]
Não necessariamente. Pode haver zangões irmãos idênticos, mas isso é apenas uma
coincidência. Ocorre que uma célula comum da rainha possui 32 cromossomos ligados dois a
dois (16 pares) e os óvulos produzidos possuem apenas 16 cromossomos, nenhum ligado a outro. Estes 16 cromossomos resultam da combinação aleatória de um dos cromossomos do par
1, mais um dos cromossomos do par 2, e assim por diante. Como em cada par de cromossomos
a carga genética varia de um cromossomo para outro, cada óvulo produzido – e cada zangão,
por conseqüência - carregará uma carga genética particular. Posto em números, uma rainha pode gerar 2
16 = 65.536 óvulos (zangões) diferentes, considerando-se apenas o agrupamento
randômico dos cromossomos durante a meiose. Na verdade, este número pode ser muito maior,
pois há um segundo fenômeno de variabilidade genética importante, conhecido por crossing
over [ARM01].
Pela mesma razão, zangões não são idênticos à sua mãe. Uma característica qualquer
(determinada por gene recessivo) que não se manifeste na rainha pode estar presente no zangão,
se ele ficar com o cromossomo que carrega este gene.
1.24 Qual é a função da rainha?
A rainha dá origem a todos os indivíduos da colméia, pela postura de ovos fertilizados (para
operárias) e não fertilizados (para zangões). Além disso, a sua presença (mais precisamente os
feromônios que ela produz) determina o comportamento "normal" das demais abelhas.
1.25 Quantos ovos a rainha põe por dia?
No pico da postura, ela chega a pôr 2.000 ovos por dia.
1.26 O que acontece quando a rainha morre?
A rainha pode morrer acidentalmente, por exemplo, durante um manejo de rotina do apicultor,
ou ser morta pelas próprias abelhas, caso o seu desempenho seja insatisfatório. Em qualquer dos
casos, as abelhas, assim que percebem a falta da rainha, tratam de produzir outra, a partir de
uma larva jovem de operária (de até 3 dias).
1.27 E se não houver uma larva jovem?
Se não houver uma larva disponível, ou se as rainhas produzidas não sobreviverem por qualquer motivo, o enxame não será mais capaz de produzir uma nova rainha. Se o apicultor estiver
atento, ele poderá fornecer ao enxame uma nova rainha ou um quadro de cria, para que elas
tentem de novo, caso contrário, a colméia tornar-se-á zanganeira.
1.28 O que é uma colméia zanganeira?
É a colméia em que as abelhas, na falta da rainha, começam a pôr ovos. Como não são fecundados, esses ovos geram apenas zangões, e a colméia acaba extinguindo-se com a morte
das operárias.
1.29 Por que as abelhas começam a pôr ovos?
Uma visão popular e antropomórfica explica que a postura das operárias é um "esforço
desesperado" de preservação da colônia, mas isso não é verdade. Elas simplesmente passam a
pôr ovos porque, sem rainha e sem crias, interrompe-se a produção de feromônios que inibem o
desenvolvimento dos seus ovários.
Uma questão interessante é por que esse mecanismo foi preservado ao longo da seleção natural,
se ele, aparentemente, é inútil. A resposta pode estar na subespécie africana A.m.capensis, que
apresenta uma característica interessante: os ovos não fertilizados podem produzir fêmeas também, além de machos. Assim, uma colméia pode produzir uma nova rainha a partir de um
ovo posto por uma operária e realmente conseguir voltar ao normal. Em freqüência muito
menor, a geração de fêmeas a partir de ovos não fertilizados ocorre também nas demais
subespécies, o que pode indicar que esse mecanismo já foi mais útil e mais eficiente no passado.
1.30 Como saber se uma colméia está sem rainha?[2]
A ausência de ovos em época de postura normal é um forte indicativo. Mas isso também pode significar preparação para a enxameação, se houver realeiras no ninho. Também pode indicar a
presença de uma rainha virgem, o que pode ser presumido se forem encontradas realeiras já
abertas.
Se a colméia fica sem rainha durante vários dias na época da safra, pode-se perceber a situação
visualmente, pelo acúmulo anormal de mel e pólen no centro dos favos de cria.
Apicultores mais experientes, porém, podem suspeitar da orfandade no instante em que abrem a colméia. O que acontece é que, à medida que aumenta o tempo de ausência da rainha, as
operárias começam a apresentar um padrão anormal de agitação. Muitas saem voando
imediatamente, não necessariamente para atacar, num comportamento visivelmente diferente
dos enxames normais.
1.31 Como saber se uma colméia está zanganeira?
Nada mais fácil: no momento da postura, as operárias não percebem (ou não fazem caso) se um
alvéolo já tem outro ovo nele depositado. Por isso, os ovos vão se empilhando, e cada alvéolo
acaba contendo vários deles, o que é facilmente percebido pelo apicultor.
Os ovos são depositados nas paredes dos alvéolos, porque o abdômen das operárias não alcança
o fundo. A operculação das células é protuberante, típica das de zangão. Depois de algum
tempo, os zangões começam a nascer, mas são todos pequenos, porque foram gerados em
alvéolos de operárias, que são muito menores.
1.32 Em quanto tempo uma colméia fica zanganeira?
Depende. Enquanto houver cria, aberta ou fechada, é pouco provável que as operárias ponham ovos. Quando não houver mais rainha e crias, as operárias começarão a pôr dentro de 14 dias,
em média [WIN03].
1.33 Como identificar a rainha?
A rainha se parece com uma operária, mas é maior e tem o abdômen proporcionalmente mais
alongado. Encontrar uma rainha pode ser uma das tarefas mais complicadas da apicultura. No
capítulo 7, são mencionadas algumas técnicas úteis.
1.34 Qual é a função das operárias?
Como o nome sugere, trabalho duro. Enquanto são jovens, dedicam-se ao trabalho interno: limpam as células, alimentam as larvas jovens e a rainha com substâncias nutritivas que elas
mesmas secretam, alimentam as larvas mais velhas com pólen e mel, empilham o pólen
recolhido nas células, secretam cera, constroem favos, recebem, processam e armazenam o néctar, vedam frestas com própolis, defendem e ventilam a colméia, operculam células. Quando
mais velhas, dedicam-se, principalmente à coleta de néctar, pólen, água e própolis. A coleta de
néctar ou mel pode ser feita também em outras colméias, especialmente as mais fracas, num
comportamento de pilhagem (saque).
1.35 Qual é a relação entre a idade das abelhas e as tarefas executadas?
Há uma grande variação na relação entre idade e atividades executadas. Há períodos de vida preferenciais para as abelhas executarem determinadas
tarefas, mas eles podem mudar completamente em caso de necessidade.
Além disso, a abelha pode executar diversas tarefas diferentes durante um dia. Uma relação comum, em situação normal da colméia é a seguinte
[WIN03]:
Tarefa Idade (dias)
Limpeza de alvéolos 0 a 8
Operculação de cria 2 a 9 Atendimento de cria 5 a 15
Atendimento da rainha 3 a 14
Recebimento de néctar 8 a 16 Remoção de detritos 7 a 21
Compactação de pólen 8 a 19
Construção de favos 11 a 22
Ventilação da colméia 13 a 22 Guarda da colméia 14 a 27
Primeiro forrageamento 18 a 28
1.36 Quanto tempo vive uma abelha?
Durante a safra, uma operária africanizada vive, em média, 38 dias, sendo 23 executando tarefas
domésticas e fazendo as primeiras coletas, e 15 somente forrageando. Na entressafra, a
expectativa de vida aumenta, e elas chegam a viver 5 meses ou mais em climas muito frios.
Uma operária européia chegou a viver 320 dias [WIN03].
Aparentemente, a distância total voada é um determinante muito mais importante para a
longevidade da abelha do que a sua idade. Um estudo de Neukirch, citado em [WIN03],
estabeleceu um limite teórico médio de 800 km voados, não importando se eles se acumulam ao
longo de 5 ou de 30 dias.
1.37 Quantas abelhas vivem numa colméia?
O número real é extremamente variável, a cada época do ano, de colméia para colméia. No pico
da safra, por exemplo, considere as seguintes hipóteses:
Postura diária de 2 mil ovos
Tempo de desenvolvimento ovo-adulto de 20 dias
Viabilidade de 100% da cria
Ciclo de vida de 38 dias para as operárias
Nesse caso, teoricamente, a colônia poderia crescer até chegar à população abaixo,
permanecendo em equilíbrio enquanto a postura se mantivesse.
1 rainha
algumas centenas de zangões
38 mil crias (ovos, larvas, pupas)
44 mil operárias domésticas/campeiras (até 23 dias)
32 mil campeiras
1.38 Quando as abelhas pilham as colméias vizinhas?
Geralmente quando a produção de néctar é baixa, e uma colméia vizinha tem mel em estoque e
está desprotegida por falta de operárias. Esse comportamento freqüentemente é ativado pelo
próprio apicultor que, durante o manejo, expõe o estoque de mel das colméias à investigação das vizinhas ou fornece alimentação artificial com xarope de forma descuidada ou em
alimentadores deficientes (veja capítulo 6).
1.39 Como as abelhas se comunicam?
Principalmente, por meio de interações químicas. Essas interações se processam pela produção
de feromônios, substâncias secretadas por diversas glândulas que são percebidas pelo olfato. Os
feromônios são o principal meio de estimulação e coordenação de quase todas as atividades das abelhas. Os feromônios produzidos pela rainha, por exemplo, inibem a construção de realeiras
pelas operárias, inibem o crescimento dos ovários das operárias, atraem zangões nos vôos
nupciais, atraem as operárias em geral e particularmente as nutrizes, que alimentam a rainha
com geléia real.
Feromônios de operárias estão muito ligados à defesa da colméia. A ferroada libera um feromônio que induz outras abelhas a atacarem. Por esta razão, é comum a ocorrência de várias
ferroadas no mesmo local. Também por isso, é conveniente a limpeza freqüente das roupas de
proteção.
Um outro feromônio de operária é o de localização, usado para atrair ou orientar outras abelhas em direção ao alvado, água ou fonte de alimento. A liberação desse feromônio se dá numa
posição bastante familiar aos apicultores: a abelha ergue o seu abdômen, expõe a glândula de
Nasanov, localizada próximo à extremidade, e bate as asas para dispersar a substância.
As crias também produzem feromônios que estimulam as operárias a atendê-las e ajudam a
inibir o desenvolvimento dos ovários das operárias.
1.40 E a dança das abelhas?
Feromônios são o principal, mas não único meio de comunicação. Interações táteis e sonoras, como o roçar de antenas ou as danças também são muito usadas. As danças são padrões de
movimento, vibração, ruído e direção utilizados com diferentes propósitos, dos quais o mais
conhecido é a passagem de informações sobre uma fonte de alimento. Nessa dança, por exemplo, a abelha percorre um trecho reto do favo "requebrando-se" e depois volta ao início
desse trecho num trajeto de semicírculo. Em seguida, percorre de novo o mesmo trecho reto e
volta em outro semicírculo, mas desta vez pelo lado oposto.
Para saber a qualidade e a distância dessa fonte, as abelhas levam em conta o entusiasmo da
dançarina, o tempo gasto no trecho reto e o número de vezes em que os passos foram executados. Já a direção da fonte é passada como um ângulo, formado entre o trecho reto da
dança e uma linha vertical. Este ângulo corresponde ao formado pelos pontos sol-colméia-fonte
(a colméia no vértice).
Assim como o achado de alimento, o de novas casas no momento da enxameação também é comunicado por danças. Além disso, elas também estimulam determinadas atividades, como o
forrageamento e a enxameação [WIN03].
1.41 Como elas fazem quando o sol não está visível?
O sol pode não estar visível para nós, mas estar para as abelhas. Ocorre que elas enxergam um
espectro de luz diferente dos humanos, que não inclui as freqüências mais baixas (próximas do
vermelho), mas inclui as mais altas, já na faixa ultravioleta. E as freqüências ultravioletas atravessam camadas finas de nuvens, de forma que o sol permanece visível para as abelhas
mesmo em muitos dias nublados.
Mas é possível que a visualização do sol não seja tão importante. Acontece que as abelhas são
capazes de se orientar após o pôr-do-sol e, eventualmente, até de forragear à noite. Para isso,
elas consideram a posição exata do sol no momento, como se pudessem enxergá-lo através da
Terra ou estimar a sua posição.
1.42 Como elas informam uma posição atrás de um obstáculo?
A direção é informada como se ele não existisse. Por exemplo, uma florada atrás de um morro é
indicada na dança como se as abelhas tivessem de atravessá-lo para chegar lá. A distância informada, porém, corresponde ao gasto de energia necessário para alcançar o objetivo e ela,
nesse caso, é maior do que seria se não houvesse morro. Na busca, as campeiras que assistiram a
dança fazem as voltas que forem necessárias para alcançar o destino.
1.43 A que velocidade voa uma abelha?
Em média, a 24 km/h.
1.44 Quanto tempo uma abelha leva para nascer?
Este tempo, ao contrário do que muitos imaginam, é variável. Temperaturas altas na área de cria
podem acelerar o processo, enquanto que as temperaturas baixas retardam-no. O ciclo médio de
desenvolvimento das abelhas européias, em dias, é o seguinte:
Casta Ovo Larva Pupa Total
Rainha 3 5,5 7,5 16
Operária 3 6 12 21
Zangão 3 6,5 14,5 24
Já as africanizadas são um pouco mais precoces, a rainha nasce em 15 dias, e a operária, em 19-
20 dias.
1.45 O que as abelhas comem?
Resumidamente, néctar e mel, como fonte de carboidratos, e pólen, como fonte de proteínas,
gorduras, vitaminas e minerais, além de água. As larvas de operárias e zangões, até 4 dias de
vida, são alimentadas pelas abelhas com secreções nutritivas, produzidas pelas glândulas
hipofaringeanas e mandibulares das operárias. Após o 4º dia, a alimentação das larvas muda para outros tipos de geléia e uma mistura de néctar, mel diluído e pólen. Após o nascimento,
durante cerca de duas semanas, a operária consome muito pólen, pois depende dele para, nessa
fase da vida, produzir as substâncias que alimentarão as larvas e a rainha. Gradualmente, a dieta da operária começa a mudar para néctar e mel, à medida que ela abandona o serviço de
alimentação e assume outros serviços, como a coleta de água, néctar, pólen e própolis.
A rainha alimenta-se quase que somente de geléia real, tanto na fase larval quanto em toda a sua
vida adulta. A geléia real é um produto semelhante à comida da larva, mas com uma proporção muito maior da secreção mandibular e, por essa razão, mais rica em algumas substâncias
nutritivas.
Zangões adultos são alimentados pelas operárias nos primeiros dias, e depois se alimentam
sozinhos, basicamente de néctar e mel.
1.46 Como os enxames se reproduzem?
Em algumas situações, uma colônia resolve se dividir, e a isso se dá o nome de enxameação.
Ela ocorre com freqüência durante floradas abundantes, quando o espaço na colméia torna-se
insuficiente para armazenar o néctar que entra e a nova prole que está sendo gerada pela rainha.
Quando a rainha não produz feromônios em quantidade suficiente para todo o enxame, a
enxameação também pode ocorrer (é o que acontece com rainhas mais velhas).
O primeiro passo do processo de enxameação é a produção de princesas.
Antes de nascerem as princesas, as operárias submetem a rainha a um regime forçado, negando-lhe alimento e tratando-a rudemente, para que não fique parada. Supostamente, isso serve para
interromper a postura e deixá-la mais leve para a viagem da enxameação. No dia da saída,
muitas operárias engolem o máximo de mel, para garantir a sua sobrevivência até que uma nova
morada seja encontrada, e para poderem produzir cera para a construção dos primeiros favos. Muitas operárias, especialmente as mais jovens, abandonam a colméia, levando junto a rainha
(ou arrastando-a, em alguns casos).
Ao abandonar a colméia, o enxame agrupa-se nas imediações, num galho de árvore, num poste,
num automóvel, onde ele achar mais conveniente. Em seguida, abelhas batedoras saem em busca de um lugar seguro para formar a nova colméia (em alguns casos, essa pesquisa pode
iniciar antes mesmo da saída do enxame). Elas avaliam ocos de árvores, cupins abandonados e
cavidades em rochas, além de espaços em telhados, caixas vazias, tonéis abandonados e muitos outros. Quando uma batedora acha um bom lugar, volta ao enxame e comunica a boa notícia
dançando. Mais abelhas aparecem para avaliar a escolha e, se ela for melhor que as alternativas
encontradas por outras batedoras, o enxame decide fazer a nova colméia ali.
1.47 O que acontece com a colméia que perdeu um enxame? [2]
Fica com a casa, toda a cria, as reservas de pólen, parte das reservas de néctar e mel, parte das
operárias, especialmente as mais velhas, e uma ou mais princesas ou rainhas novas, que lutarão
até a morte até que só sobre uma para comandar a colméia.
Dependendo do tamanho original do enxame e das condições da colméia, outros enxames
podem ser produzidos - os enxames secundários. Eles são menores e podem conter uma ou mais
princesas.
Numa colméia de um apiário, a enxameação representa um prejuízo certo, uma vez que, não
apenas parte do mel foi levada embora, como foi drasticamente diminuída a força de trabalho para coletar mais. Em geral, de colméias que enxameiam, não se consegue nenhuma produção
significativa de mel na temporada. Algumas vezes, porém, especialmente se houver bastante
espaço para crias e mel na colméia, a enxameação ocorre suficientemente tarde, para que
bastante mel já tenha sido estocado.
1.48 Por que as abelhas abandonam a colméia?
Quando as abelhas são submetidas a um nível de estresse ou privação muito grande, elas podem
abandonar a colméia e tentar a sorte em outro lugar. Uma causa comum é o calor excessivo.
Caixas com pouco espaço e sem ventilação, quando deixadas ao sol, provocam abandono (é o
caso de caixas-isca de papelão, por exemplo). Períodos de carência alimentar muito prolongados
e ataque de formigas também. O mesmo com manejos descuidados ou muito freqüentes.
1.49 Por que as abelhas às vezes matam a sua rainha?
Diversos fatores podem provocar a substituição da rainha. Quando ela já não produz feromônios
em quantidade suficiente, as abelhas podem resolver trocá-la. Também quando o seu
desempenho é baixo (postura deficiente) ou o seu estoque de esperma acaba (ela só consegue produzir zangões). Em alguns casos, as abelhas parecem culpar a rainha por algum distúrbio
maior na colméia, e liquidam-na por "peloteamento" (formam uma bola em torno dela até
sufocá-la). Em qualquer caso, o propósito parece ser sempre obter uma rainha nova, melhor que
a atual.
1.50 Como as abelhas lidam com as variações de temperatura?
A capacidade de as abelhas lidarem com variações de temperatura está ligada ao tamanho do enxame. Uma abelha sozinha tem mínima proteção, uma colméia numerosa pode manter o seu
centro a 35 ºC, em situações externas de extremo calor (até 70 ºC) e de extremo frio (até -80 ºC)
[SOU92].
Para resfriar uma colméia, as abelhas utilizam a evaporação da água, um processo eficiente,
porque absorve grande quantidade de calor ao ocorrer. Elas expõem a água, na forma de películas nas suas mandíbulas ou gotículas espalhadas pela colméia, a uma corrente de ar
provocada por elas mesmas, com o bater de suas asas. Dessa forma, conseguem sobreviver em
ambientes muito quentes, desde que haja água suficiente disponível.
Para esquentar uma colméia, as abelhas agrupam-se em torno do centro, onde estão as crias. Quanto mais baixa a temperatura, mais apertado será o agrupamento. As abelhas, nessa
situação, assumem uma posição relativa que força o entrelaçamento dos seus pêlos torácicos,
aumentando a capacidade de isolamento térmico das sucessivas camadas. Essas camadas são
formadas por abelhas voltadas para o centro do grupo, e há um revezamento entre as que estão
em posição mais externa e as que estão mais ao centro.
Elas também são ajudadas pela presença de alvéolos vazios, que formam câmaras de ar parado,
que é um bom isolante. Se ainda assim a temperatura continuar caindo, as abelhas passam a
produzir calor pela vibração da sua musculatura torácica. Nesse caso, porém, elas necessitam ingerir quantidades maiores de mel para repor a energia perdida. Em outras palavras,
transformam-se em estufas movidas a mel.
1.51 Por que o apicultor põe fumaça nas abelhas?
A principal razão é bloquear ou diminuir a resposta agressiva. Um dos efeitos da fumaça é
impedir que os feromônios de alarme sejam bem percebidos pelas operárias, o que evita que
muitas abelhas saiam da colméia para defendê-la.
Muitos acreditam também que a fumaça dispare na colméia um comportamento de preparação para a fuga: as operárias passariam a engolir mel e armazená-lo na vesícula melífera, para um
eventual abandono da colméia. Isso, ocuparia as abelhas por algum tempo e alteraria o seu
comportamento de defesa, mudando de agressão para fuga. As abelhas que engolem mel também teriam maior dificuldade para ferroar. Este efeito, porém, não está bem documentado na
literatura, e, pessoalmente, admito sérias dúvidas sobre a sua realidade.
Outra utilidade muito importante da fumaça é a condução das abelhas. Como elas geralmente
são repelidas pela fumaça, o apicultor a utiliza para afastar as abelhas de terminados locais,
como a superfície da caixa antes da recolocação da tampa.
1.52 A fumaça não estressa as abelhas?
Sim, bastante. Manejos muito freqüentes podem até provocar o abandono de toda a colméia. A fumaça é quase sempre necessária, mas, por qualquer ângulo que se examine (estresse das
abelhas, contaminação de favos e mel), sempre será preferível usar a menor quantidade possível
de fumaça numa manipulação.
1.53 Quanto pesa uma abelha?
Em média, uma abelha recém nascida (com o aparelho digestivo vazio) pesa cerca de 65 mg
(africanizada) e 83 mg (européia). Isso dá 15.000 africanizadas/kg e 12.000 européias/kg, mas
não use esses dados para calcular o peso de um enxame, pois nele, as abelhas possuem um conteúdo intestinal variável, que pode chegar a 80% do seu peso líquido. Em média, estima-se
de 7.000 a 10.000 abelhas por quilograma.
1.54 Como a abelha coleta néctar?
A abelha suga a substância adocicada (néctar, pseudonéctar, calda, suco, refrigerante, etc.) com
a ajuda da sua prosbócide (língua). A substância é então conduzida até uma porção do aparelho
digestivo chamado de vesícula melífera, uma espécie de antecâmara do estômago, que pode ser
amplamente distendida.
1.55 Quanto néctar a abelha pode transportar?
Em média, a carga de néctar de uma européia situa-se entre 20 e 40 mg, podendo chegar,
ocasionalmente a 80 mg. A carga média da africanizada é um pouco menor, e a máxima pode
chegar a 60 mg ou um pouco mais.
1.56 A que distância uma abelha voa para colher néctar?
O mais próximo possível. Três quilômetros é uma distância máxima freqüentemente
mencionada, mas as abelhas voarão mais do que isso se necessário. Economicamente, quanto mais próxima do apiário estiverem as flores, melhor, pois as abelhas consumirão menos mel
durante a atividade da coleta.
Na prática, freqüentemente considera-se que a flora apícola útil ao apiário está circunscrita num
raio de 1 a 1,5 km, o que corresponde a uma área circular de 300 a 700 hectares.
A certificação de apicultura orgânica exige que não haja cultura convencional (não orgânica)
num raio de 3 km do apiário.
1.57 Como a abelha coleta pólen?
Ela usa a língua e as mandíbulas para tirar algum pólen das anteras e umedecê-lo. Muitos grãos
também ficam presos ao seu pêlo na operação. Depois, ela "escova" esses grãos, geralmente
durante o vôo, mistura-os ao pólen umedecido e compacta tudo na corbícula, uma reentrância
existente no seu par de pernas posterior. A medida que mais pólen vai sendo coletado, a carga nas corbículas aumenta, e alguns pêlos são envolvidos pelas bolotas, para que elas permaneçam
firmes no lugar.
1.58 Como a abelha coleta própolis?
Com ajuda das mandíbulas e do primeiro par de patas, ela remove o material resinoso da planta.
Depois, armazena-o na corbícula, de forma semelhante ao que faz com o pólen. Antes de usar a própolis, a abelha ainda mistura-a com cera, numa proporção que pode chegar a 30%, para
tornar a sua consistência mais trabalhável.
1.59 Como a abelha coleta água?
Ela suga a água e armazena-a tal como faz com o néctar, na vesícula melífera.
1.60 O que estimula as abelhas para a colheita?
Basicamente, a necessidade das abelhas, a disponibilidade de espaço na colméia e a abundância
local dos recursos. Num clima quente, por exemplo, a necessidade de refrigerar a colméia
comanda a busca de água. Em floradas grandes, a necessidade por pólen e néctar e o espaço de
armazenamento disponível orientam a sua colheita.
Em vários estudos, observou-se que a alocação de campeiras para colheita de um recurso
específico estava relacionada à pronta aceitação deste recurso pelas abelhas domésticas na hora
da chegada da campeira. Por exemplo, se uma campeira que coletou água é imediatamente
aliviada da sua carga na chegada à colméia, ela provavelmente voltará para buscar mais água. Se, por outro lado, ela demora muito a conseguir livrar-se da sua carga, ela provavelmente
dirigirá seus esforços a outro produto na próxima viagem.
1.61 Onde as abelhas guardam esses produtos?
O pólen é armazenado nos alvéolos próximos à área de cria, que é o seu principal consumidor.
O néctar é armazenado nos alvéolos que estão acima e ao lado da área de cria e pólen. A própolis é usada diretamente no objetivo: tapar frestas e envolver corpos estranhos que não
puderam ser removidos. A água não é armazenada nos favos, mas distribuída entre diversas
abelhas jovens, que a manterão nas suas vesículas melíferas até que ela seja necessária.
1.62 Como as abelhas produzem cera?
Operárias, normalmente entre 8 e 17 dias de idade, secretam cera na forma de flocos, através de
glândulas cerígenas, localizadas na parte frontal do abdômen. Para produzir cera, as abelhas
precisam ingerir muito mel.
1.63 Quanto mel deve ser ingerido para a produção de 1 kg de cera?
Em média, as abelhas ingerem 8 kg de mel para produzir 1 kg de cera.
1.64 Que abelha devo criar, européia ou africanizada?
Essa pergunta é nitroglicerina na apicultura brasileira. Desconheço algum estudo formal que
tenha comparado o desempenho das duas raças no Brasil, mas os relatos informais de
apicultores que tentaram trabalhar com européias (inclusive eu) sistematicamente indicam
produtividade e agressividade significativamente menores do que as das africanizadas.
No entanto, ainda pairam dúvidas sobre a qualidade das européias testadas por aqui, grande parte delas proveniente de um mesmo fornecedor brasileiro. O sucesso das européias em outros
países, inclusive de clima mais quente, como a Austrália, entusiasma muitos criadores, embora
muito mais no plano teórico do que no prático.
Por enquanto, a criação de africanizadas parece ser quase um consenso nacional, apesar de algumas vozes contrárias. O argumento decisivo é a rusticidade muito maior das africanizadas,
que podem ser criadas sem nenhum medicamento, o que não ocorre com as européias, em quase
todo o resto do mundo.
Uma lista parcial das vantagens e argumentos favoráveis a umas e outras encontra-se a seguir:
Pró Africanizadas:
Estudos já confirmaram que a africanizada é uma abelha mais rústica, menos sujeitas a doenças. Por exemplo, a podridão de cria americana, que atinge
colméias européias argentinas, nunca chegou aqui.
Talvez pelo mesmo motivo, o comportamento higiênico mais apurado, parasitas como a varroa, que infernizam as européias, não costumam causar maiores
prejuízos às africanizadas. É verdade que o clima quente da maior parte do
Brasil é desfavorável à varroa, mas alguns estudos já determinaram a
superioridade das africanizadas em condições idênticas.
Por essa razão, é possível manter-se um apiário de africanizadas mais natural,
sem o uso de medicações, o que é uma grande vantagem. Pelo que se sabe de outros países, essa é uma situação bastante incomum em colméias européias,
que normalmente dependem de antibióticos e acaricidas para se manter
produtivas.
A maior agressividade das africanas é às vezes uma aliada do apicultor, pois
dificulta o roubo das colméias.
Diversos relatos informais de apicultores brasileiros dão conta que a produtividade das africanizadas é, quase sempre, muito maior do que a das
européias.
Pró Européias:
São muito menos agressivas. Demoram mais a iniciar um ataque, atacam com menos abelhas, perseguem a vítima por uma distância muito menor e
recompõem-se em um tempo muito menor do que as africanizadas.
Têm menor propensão a enxamear.
Têm menor propensão a abandonar o ninho.
Pilham menos.
Quando um quadro é manipulado, comportam-se mais calmamente, sem correrias frenéticas de um lado para outro. Isso facilita muito o manejo em
geral e a localização da rainha, especificamente.
São maiores e carregam cargas maiores - precisam de menos viagens para
colher a mesma quantidade de néctar, por exemplo.
Vivem mais.
Muitos países que usam apenas européias têm produtividades médias que
chegam a três ou quatro vezes a do Brasil.
A Colméia
2. A Colméia
2.1 O que é uma colméia?
É a casa das abelhas. Por extensão, a palavra também é usada para fazer
referência às abelhas que a habitam.
2.2 Como é uma colméia?
A colméia dita racional é uma caixa, ou um conjunto de caixas empilháveis,
dispostas sobre um fundo (ou chão) e cobertas por uma tampa (ou teto). Geralmente, é feita de madeira. Dentro das caixas, ficam os quadros (ou
caixilhos), que são estruturas retangulares, como molduras, destinadas a
conter os favos feitos pelas abelhas.
Esse é o modelo moderno básico, mas inúmeros outros são possíveis. No
passado, as colméias eram cestos de palha emborcados. Caixas comuns,
sem quadros, também foram usados por décadas.
2.3 De que outros materiais podem ser feitas as colméias?
Há muitos anos existe no mercado internacional colméias feitas de material
sintético, como o poliuretano. Embora ocasionalmente alguém se manifeste
favoravelmente a elas, o mais comum é ouvir-se queixas e suspeitas. Seja como for, elas parecem estar no mercado há tempo demais para ainda não
terem emplacado, já que o peso leve é um grande atrativo para os
apicultores. Talvez com a adoção de melhores tecnologias e materiais, a
colméia sintética acabe se tornando uma boa alternativa.