HERMETISMO E MAONARIA Doutrina, Histria, Atualidade INTRODUO Faz
j mais de vinte anos foi publicado na Frana Science de l'Hommeet
Tradition 1; seu autor, o discutido Gilbert Durand, ao referir-se
decadncia do racionalismo, do positivismo, etc., quer dizer, das
cincias humanas atuais, sustenta que a nica possibilidade de
tir-las de seu beco sem sada, a presena do Hermetismo, ou seja a
aceitao de tudo aquilo que significam os deuses enquanto pautas,
enquadramentos e padres do pensamento, em particular o verstil
Hermes, deidade das adaptaes, mensageiro e portanto veculo da
comunicao e do Ensino (Psicopompo). Segundo G. Durand isto j
ocorreu outras vezes, o que est implcito, adicionamos ns, em sua
prpria denominao de Hermes Trismegisto, ou seja, de trs vezes
grande, que no s est em relao com sua prpria identidade, mas tambm
com sua atuao no devir, sua interveno histrica. De fato, esta
figura percorre toda a histria do Ocidente at nossos dias j que no
s o Trismegisto alexandrino, o Hermes grego e o Mercrio romano,
entidades to mveis e inquietas como seus mltiplos atributos, que
abrem caminhos e resolvem encruzilhadas, mas tambm da mesma forma o
Thot egpcio, deidade escritora que aparece aqui e acol como heri
cultural. De fato esta figura universal e pode assimil-la aos Odn e
Wotan Nrdicos, com os Enoque, Elias e Eliseu bblicos, com o
Zoroastro iraniano, e com o Quetzalcotl tolteca e seus anlogos em
toda a Amrica2, com quem compartilha muitos de seus atributos e
funes, dos quais se diz que no morreram, mas foram arrebatados ao
cu, esto vivos, e se afirma tm que voltar para final dos tempos,
quer dizer deste ciclo humano. De fato, estes deuses so
antediluvianos, atlantes, e ainda de origem anterior, hiperbreos, e
sua presena foi contnua ao longo da presente humanidade articulando
as tradies conhecidas por sua prpria funo, e at aquelas das quais
perdemos notcia. Inclusive muito importante na ltima revelao
religiosa, o Isl, onde conhecido como o profeta Idris (como tal
mencionado no Coro) e onde assimilado ao Mahdi, personagem que
tambm aparecer ao final dos tempos3, e que de fato se apresentou
cada vez que esta tradio esteve em perigo de extino ou corrupo. As
comparaes com Jesus, o Cristo, assim como suas
relaes com os deuses de distintos pantees, especialmente o grego
levar-nos-iam muito longe para os limites desta introduo, embora no
podemos deixar de assinalar as numerosas equiparaes da alquimia
crist4 Medieval e Renascentista entre o Mercrio Solar e a divindade
crstica, e igualmente as relaes hebraicas entre o Metatron e esta
divindade, filha direta do Pai, quer dizer, nosso irmo5. O Hermes
grego, segundo os hinos homricos, nasce na obscuridade de uma
gruta, como Jesus num prespio na noite, e finalmente tem que
converter-se no sol do amanhecer6. Seus pais so Zeus e Maia7
(relacionar este nome com o da me de Buda) e, como todas as
deidades anlogas, atravs de um processo ascendente alcana a
plenitude de suas possibilidades e o ser humano ento se deifica
atravs de cus, ou planos o mundo intermedirio, como o Corpus
Hermeticum e outros textos atestam; o que o mesmo que dizer que os
nmens ou anjos se fazem nele (de modo descendente)8, posto que o
recipiente de sua alma conseguiu lhes dar capacidade mediante uma
reciprocidade harmnica, possibilidade que pode se expressar em cada
alma individual, ou ser coletivo, ainda que em nossos dias
sombrios. Assinalamos a estreita vinculao do Hermetismo com o
Cristianismo, e tambm com a Tradio Hebraica (Enoque, Elias,
Metatron) mas queremos adicionar quanto a esta ltima sua relao com
o Egito, onde os judeus viveram cativos e foram liberados por meio
de Moiss, filho adotivo do Fara, que certamente recebeu
determinados conhecimentos tradicionais dessa civilizao. Igualmente
outra influncia muito destacada a caldia, j que o patriarca Abrao
era da cidade de Ur; isto se encontra vinculado, ento, a
importantes legados astrolgicos e "mgicos", j que na Antigidade
estes termos estavam identificados com o vocbulo caldeu. Isso sem
negar a absoluta originalidade da Tradio Judaica e sua lngua
sagrada. Entretanto, em pocas posteriores, na Idade Mdia, surgem na
Espanha com a apario do Zohar, e em toda a Europa, vrias correntes
relacionadas no somente com a rvore da Vida Cabalstica (Sepher
Yetsirah, Sepher Bahir), que tiveram parentesco com o pensamento
gnstico e neoplatnico, conforme autorizados investigadores; este o
caso de Gershom Scholem, e atinge o cerne do judasmo, pois tudo
isso foi incorporado doutrina, Cabala, termo cuja traduo, como se
sabe, literalmente "Tradio" e, portanto, ns adicionamos, igualmente
ligada por intermdio da Gnose com a Tradio Hermtica. Tudo isso sem
mencionar Cabala Crist que se denomina assim por constituir a
apario da Tradio judaica no seio do cristianismo, tal como o termo
Hermetismo Cristo com respeito a Hermes, na Tradio crist de
tanta
influncia no Renascimento (e ainda na Idade Mdia) e que se
projetar at nossos dias. No caso do Isl, um povo, o dos sabeus,
rendia culto a Hermes. Posteriormente foram islamizados e, como j
dissemos, seu antigo Deus passou a ser o profeta Idris9. Diz-se que
este povo "descendia" da Rainha de Sab, e da sua vinculao com
Salomo e seu Templo, deste modo tomado como modelo da Maonaria,
cujo parentesco com o Hermetismo se estudar no presente livro. Por
isso Hermes, Pastor do rebanho celeste, Deus verdadeiramente
Universal, ao mesmo tempo a deidade mais antiga de todos os pantees
sendo antediluviano e portanto um nmen que bem poderia ser
qualificado de Arquetpico, ou melhor, o Arqutipo da deidade no
plano intermedirio, ou identificado ao Ensino, como forma de
comunicao, por mediao do Conhecimento, com os planos mais altos da
Cosmogonia e a Ontologia, e da mesma forma com os autnticos
suportes da Metafsica10. Igualmente Hermes est vinculado com a
msica e a arte em geral, pois o inventor da lira -que entrega a
Apolo- e tem estreito parentesco com as Musas11, j que suas trs
primeiras irms, em Delfos, personificavam as cordas desse
instrumento.12 De fato, a msica, cuja origem divina, est
relacionada com o plano intermdio, e capaz de estabelecer vnculos
entre a audio e o Verbo, quer dizer entre o que se ouve e o sopro
do inaudvel. Comparou-se a estrutura do cosmo com uma arquitetura
musical, j que os sons e os nmeros expressam propores arquetpicas
de harmonia e movimento coincidentes tanto no macro como no
microcosmo. No s a msica teraputica e aqui preciso recordar a vara
mgica que Apolo deu a Hermes em troca da lira, que podia curar13,
ou despertar, tanto como dar o sonho e a morte, e que logo se
converte no eixo de seu caduceu, mas tambm manifesta estruturas
invisveis e inaudveis que se expressam por sua intermediao. Por
outra parte, sabido que a msica se propaga pelo ar e as asas do
caduceu mercurial representam esta idia, j que a deidade
transmissora se vale fundamentalmente deste meio para revelar suas
mensagens, assim como o vento anuncia a bno das chuvas. A.-J.
Festugire, em seu livro La Rvlation d'Herms Trismgiste, afirma que
h um hermetismo popular e um hermetismo culto. Estamos de acordo
com ele mas no por suas razes, j que parece confundir povo com
"massa". De outra parte, cataloga o hermetismo popular como
se expressando mediante mancias, tais como a astrologia, ou por
conjuros, ou talisms, o que considera supersties, ao mesmo tempo em
que s destaca os textos sapienciais (sem entend-los por seus
preconceitos, claro, embora este outro assunto). No obstante ns
queremos tambm destacar esse outro grupo de ensinos e costumes,
prprios de todas as tradies, e que s podem ser qualificadas de
supersticiosas quando se as compara com outros ritos que se
entendem como oficiais, ou apoiando-se no racionalismo mais
evidente e numa lgica que exclui o pensamento analgico. Se todo um
povo acreditar em certos amuletos em primeira instncia smbolos que
expressam a energia desse deus, que esse deus est vivo para eles, e
invocado permanentemente. Por isso que existe igualmente uma Tradio
Hermtica popular, to vlida quanto a sapiencial, pois o Deus ao qual
se invoca naquela se encontra to vivo como o que possa existir
nesta.14 Nos momentos em que Hermes presidiu um povo, uma
instituio, um grupo, pelo consentimento deste e, sobretudo, por Sua
graa, a diferena entre os conhecimentos s questo de grau numa
sociedade organizada de tal maneira que todos participem de acordo
com as suas capacidades e condies especiais, que tm sua funo dentro
dela, sem nenhuma excluso por motivos artificiais, ou por uma
diferenciao contundente, como nos possvel observar cotidianamente.
Como se pode apreciar, as revelaes do Deus Hermes so mltiplas e a
deidade aparece de muitssimos modos distintos no curso da
Histria.15Deste modo se poder observar neste estudo a ntima relao
de nosso deus com a Maonaria, como arauto do Grande Arquiteto do
Universo. Para nosso trabalho tomamos em geral modelos mticos
grecoromano-alexandrinos, que posteriormente podero ser assimilados
a outros pantees, mas a deidade, ou o conjunto de deidades
intermedirias, segue sendo o mesmo, agrupado sob a entidade chamada
Hermes (Hiram), que est to presente hoje em dia como o fora em
outros tempos e espaos, e se continua revelando de muitas
diferentes maneiras, de acordo s diversas mentalidades, grupos e
indivduos que habitam o planeta. O caduceu ou a vara junto com as
asas j mencionadas o elemento principal da iconografia do Hermes
greco-romano, mas estes elementos esto presentes de diversos modos
em outras muitas representaes. De fato, as serpentes enroscadas no
eixo da vara se encontram em diferentes tradies; no caso do
Hermes-Mercrio, bvio que elas representam dualidade, prpria de tudo
o que criado no Cosmo. E a interao destas serpentes enroladas no
eixo universal em trs nveis reflete, por um lado o plano do
Universo, e por outro a conjuno dos opostos efetuada
igualmente em todos os mundos. Mediante esta unio dos contrrios,
pode-se escalar atravs do eixo at que essa dualidade superada pela
funo polar do prprio eixo, que transcende os opostos, e vitorioso
se eleva para um espao definitivamente outro. Por sua agilidade,
nosso deus preparado, espontneo e rpido, por isso foi reconhecido
como o nmen de comerciantes16 e diplomatas, inclusive de ladres;
isso est claro em seu currculo, j que uma de suas primeiras faanhas
roubar cinqenta vacas do rebanho de Apolo, o que indigna a este,
embora que seja posteriormente perdoado. Alm das significaes
astronmicas atribudas a este mito, isto ao mesmo tempo o localiza
dentro das deidades "trapaceiras", ou seja, as que vivem em sua
raiz o paradoxo da dualidade csmica, qual so capazes de transcender
de sbito, atravs de uma conjuntura pela qual podem filtrar-se. Sem
dvida a Hermtica uma tradio complexa, como a vida, o plano do
Universo, e as relaes entre os homens; ousar quase necessrio para
nos tirarmos as cadeias que nos fazem escravos de nossa programao,
ou das que querem nos infligir outros, verdadeiros policiais do
pensamento, espritos totalitrios cujo refgio a norma, embora esta
seja notoriamente falsa. Ningum vem nos oferecer ou nos dar a
liberdade; uma das condies para obt-la faz-lo por ns mesmos, sem se
deixar enganar por qualquer "mestre" ou diretor espiritual, mas sim
por meio do plano intermedirio, invocando ao Mestre Interno. Apesar
da sua ambigidade, a entidade numnica ser capaz de nos guiar no
caminho, de tutelar nossas peregrinaes e de nos tirar dos
labirintos aos quais constantemente acedemos; e, se nos amparar com
sua graa, seremos capazes de encontr-la em cada volta da viagem, e
reconhec-la sob as diferentes maneiras e os diversos disfarces com
que se reveste. Por isso no sempre fcil para todos conseguir uma
filiao com esta Tradio tampouco Hermes tem que lha outorgar a
qualquer um sem que este pague seu preo nem a realizao nessa via,
que no se expressa de maneira religiosa ou sentimental-devocional,
que no possui ortodoxias teologais estritas, a no ser a vivncia de
sua doutrina por meio do Conhecimento, o que obriga constantemente
ao Aprendiz a constatar o que acontece no itinerrio de seu prprio
caminho, em seu ser interno, quer dizer, em sua Iniciao, sem o
consolo que lhe soem brindar determinadas crenas relativas ao
aparato religioso, que, entretanto, podem ser observadas desde
outro nvel simblico, depurando-as, ou seja, em termos alqumicos,
"retificando-as". Por isso que a denominou uma Tradio " intemprie"
e pode ser considerada
pouco apta para certos espritos pacatos que no se arriscam e,
portanto, desta forma no podem calar ou deixar de se queixar por
suas vicissitudes, ao invs de prosseguirem seu caminho, presidido
pelo silncio hermtico. Antes de finalizar estas palavras
preambulares, queremos destacar um meio do qual se vale o
hermetismo. De fato, para os hermetistas, o livro um transmissor
direto de conhecimentos, que se unem numa doutrina, que
absolutamente transformadora j que, tomando conscincia de ns
mesmos, conhecemos tambm nosso ser no mundo, quer dizer, os
segredos da cosmogonia em virtude das leis da analogia que
estabelecem as correspondncias entre macro e microcosmo. A
intermediao deste conhecimento do "Si", sempre pela mediao simblica
de um terceiro elemento, capaz de conectar duas proposies e
realizar o milagre da triunidade do Ser, tanto do homem quanto do
mundo, posto que sabemos que a cosmogonia o Ser (ontologia) do
Universo. Por este motivo se justifica que comecemos esta obra com
um captulo dedicado aos livros hermticos que fixam o ensino oral
onde se poder apreciar a histria desta deidade, tanto quanto de
suas doutrinas no mundo greco-romano e alexandrino, na Idade Mdia e
no Renascimento e seus epgonos atuais. Nesse sentido, o Corpus
Hermeticum, a coleo de escritos mais emblemtica da Tradio Hermtica,
no cap. XXIII (5-8) dos "Extratos de Estobeu", denominado a Pupila
do Cosmo ou Kor Kosmou, afirma:"Agora, oh maravilhoso filho meu,
Hrus, no num ser de raa mortal onde isto poderia se produzir de
fato nem sequer existia ainda, a no ser numa alma que possusse o
lao de simpatia com os mistrios do cu: eis a o que era Hermes, quem
tudo conheceu. Viu o conjunto das coisas; e, tendo visto,
compreendeu; e, tendo compreendido, teve poder de revelar e
ensinar. De fato, as coisas que conheceu, gravou, e, havendo-as
gravado, ocultou-as, tendo preferido melhor, a respeito da maior
parte delas, guardar um firme silncio antes que falar, a fim de que
tivesse que as buscar toda gerao nascida, depois, do mundo. Nisto,
Hermes se dispunha a remontar para os astros para escoltar os
deuses seus primos. Entretanto deixava por sucessores a Tat,
simultaneamente seu filho e o herdeiro destes ensinos, logo, pouco
depois, a Asclpios o Imuths, segundo os intuitos de Ptah-Hefaistos,
e a outros ainda, a todos aqueles que, pela vontade da Providncia
rainha de todas as coisas, deviam realizar uma busca exata e
conscienciosa da doutrina celeste. Hermes pois, estava a ponto de
dizer em sua defesa, ante o espao circundante, que nem sequer tinha
entregue a doutrina ntegra a seu filho, em vista da ainda muito
pouca idade deste, quando, havendo-se levantado o dia, sendo que,
com seus olhos que a tudo vem, contemplava o Oriente, percebeu algo
indistinto e, medida que o examinava, lentamente, ao fim, veio-lhe
a deciso precisa de depositar os smbolos sagrados dos elementos
csmicos perto
dos objetos secretos de Osris e, depois, assim que realizou
ainda uma prece e pronunciado tais e quais palavras, subiu ao cu."
"Mas no convm, meu menino, que deixe este relato incompleto:
necessrio que refira tudo o que disse Hermes no momento de
depositar os livros. Ele, pois, falou assim: 'oh livros sagrados
que foram escritos por minhas mos imperecveis, vs sobre os quais,
havendo-os ungido com o elixir da imortalidade, tenho todo poder,
permaneam imputrescveis e incorruptveis, atravs dos tempos de todos
os ciclos, sem que se lhes veja ou se lhes descubra nenhum daqueles
que tero que percorrer as plancies desta terra, at o dia em que o
cu envelhecido da luz a organismos dignos de vs, aqueles que o
Criador chamou Almas'."
NOTAS1
H edio em castelhano recente: Ciencia del Hombre y Tradicin, Ed.
Paids, Barcelona 1999. Quetzalcotl (serpente alada) tambm deus
Asteca e como tal se estendeu por toda a rea deste imprio,
inclusive o sudoeste dos E.U.A. A mesma deidade recebe os nomes de
Kukulcan, Gucumatz e Votam (notar o parentesco do nome com a
deidade nrdica) entre os Maias, Bochica nos Chibchas colombianos,
Viracocha entre as culturas incaicas, etc. etc., os quais bem
poderiam ser chamados os Hermes Atlantes. Ver L. Massignon, apndice
bibliogrfico sobre "L'Hermtisme Arabe", em La Rvlation d'Herms
Trismgiste: A.-J. Festugire, Les Belles Lettres, Paris 1989. Muitos
textos do conta dela. Virtualmente toda a alquimia ocidental est
posta sob o patrocnio de Hermes, invocado dentro da Tradio Crist.
Ver Charles Mopsik. Le Livre Hbreu d'Hnoch. Mosh Idel, Hnoch c'est
Mtatron. Ed. Verdier, Lagrasse, Frana 1989. Ou seja, a
possibilidade de cada um ser um Hermes no nascido, que
posteriormente far despontar a alvorada. Maia uma das Pliades,
filhas de Atlas, da sua relao com a civilizao Atlntida e suas
resultantes, ou seja: com a raa vermelha. Ainda que ambos
movimentos, ascendente-descendente, so na verdade simultneos. Ver
Henry Corbin, Historia de la Filosofa Islmica. Editorial Trotta,
Madrid 1994. Se houver uma tradio Primordial, quer dizer:
Arquetpica, e todas as formas em que se manifesta so s maneiras
diferentes devido a condies de tempo, espao e mentalidade, tambm h
deuses arquetpicos e unnimes em todos os pantees, e se revelam
tambm de diversas maneiras. De fato, Hermes, senhor do plano
intermedirio e condutor sutil nas estruturas do pensamento,
universal, e portanto csmico e capaz de nos levar pelos caminhos do
Conhecimento at os graus mais altos, e igualmente dos modos
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mais inesperados.11
Ver W. Otto, Las Musas, el origen divino del canto y del mito.
Eudeba, Bs. As. 1981. No incio, segundo Eraststenes em sua
Mitologia do Firmamento (Catasterismos = transformao em estrelas),
a lira estava feita "a partir da carapaa de uma tartaruga e dos
chifres das vacas de Apolo; tinha sete cordas, em lembrana das
filhas de Atlas [Pliades]. Foi entregue a Apolo, que, depois de
entoar um canto com ela, deu-a de presente a Orfeu, o filho de
Calope, uma das Musas, que ampliou o nmero de cordas a nove" em
honra das mesmas. (Alianza Ed. Madrid 1999). Quanto medicina, o
Caduceu preside at hoje atravs do basto de Esculpio (Asklepios) seu
filho, todas aquelas cincias no s vinculadas a esta mas tambm a
farmacopia. Recordemos aqui uma forma de Hermes, como a antiga
divindade Tracia, invocada pelos pastores para cuidar e reproduzir
seus rebanhos, da que na Arcdia fosse representado com o falo
ereto, o que chegou a ser extremamente popular entre os camponeses
que o colocavam nas frontarias de suas casas, passando
posteriormente como um poderoso talism s cidades gregas. Por
exemplo e para citar s um caso, nas tradies pr-colombianas,
Quetzalcotl e seus anlogos j citados possuem distintos atributos e
formas, mas no difcil reconhecer deidade em sua funo mediadora e
transmissora. "Salve Hermes, dispensador de alegria, mensageiro,
doador de bens!" (Hino Homrico XVIII). A presena de Hermes como
deus do comrcio est testemunhada em numerosas cidades de diversos
continentes nos edifcios dedicados s Bolsas, ao comrcio martimo,
(nossa deidade no s fundamental na viagem inicitica mas tambm em
todas as viagens, e especialmente nas grandes empresas de navegao
sem contar as terrestres que deram lugar ao descobrimento de novos
mundos), aos seguros, etc. Muitas destas esculturas ou
baixos-relevos, emblemas e alegorias, so verdadeiras obras de arte,
e em especial foram produzidas nos sculos XVIII e XIX.
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HERMETISMO E MAONARIA Doutrina, Histria, Atualidade Federico
Gonzlez
I OS LIVROS HERMTICOS (1)
Para o judasmo, o cristianismo e o islamismo, quer dizer, as
tradies"do livro", o Antigo, o Novo Testamento e o Coro so a base
de sua revelao e o centro ante o qual giram todos seus pensamentos
e atividades; de fato, estes textos sagrados so tambm livros
religiosos onde se encontram dogmas e leis morais. Mas este no o
caso de todos os livros sagrados, pois h outros onde os textos, que
so to reveladores como quaisquer, no so tomados com uma uno quase
supersticiosa, ou legalista, ou literal, mas sim como um testemunho
da luz da sabedoria que se expande em qualquer parte, sem imposies
ou limitaes de nenhum tipo, e qual o ser humano deve acessar por
sua prpria convenincia ao encarnar o papel que corresponde ao Homem
Verdadeiro1, ao Anthropos hermtico. Tal o caso do Corpus
Hermeticum, conjunto de livros sagrados emanados de uma corrente de
pensamento tradicional que se coloca sob a avocao do Deus Hermes,
ou Hermes Trismegisto, deidade greco-egpcia, considerada como o
deus da Palavra (Verbo, Logos), do Ensino e grande iniciador nos
Mistrios da Cosmogonia, psicopompo, cujo patrocnio se estende desde
os primeiros sculos de nossa era pelo mundo mediterrneo, tendo seu
ncleo de irradiao em Alexandria, at nossos dias, em tudo o que se
pode considerar o Ocidente ou sua rea de influncia cultural.
Assinalaremos que esta corrente de antiga linhagem, pois Hermes o
Deus egpcio Thot e os Hermetica os livros sagrados de Thot, inclui
importantes autores da Antigidade grega, romana e bizantina, assim
como foi determinante em personalidades muito destacadas do Isl.
Por outra parte, este pensamento percorreu a Idade Mdia europia e o
prprio Corpus Hermeticum foi conhecido entre outros por Bernardo de
Tours e Teodorico de Chartres, sculo XII, este ltimo dado
importante, tendo em conta o que a escola desse lugar representou
no sculo posterior e em geral na Idade Mdia; entretanto no
Renascimento onde este pensamento e os livros da Hermetica
adquiriram seu maior significado ao ser o Corpus traduzido por
Marslio Ficino e completado depois por F. Patrizzi, e estes
escritos editados pela Academia platnica de Florena que veio
substituir histrica e geograficamente o farol luminoso de
Alexandria, cujo feixe se perpetuou pontualmente at hoje. Isto por
outra parte no se deve estranhar, j que a Tradio Hermtica tem
inegveis relaes e estreito parentesco com as religies mistricas
egpcias, gregas e romanas, com Plato e o neoplatonismo, as gnoses
no dualistas, e o cristianismo com os quais compartilha anlogos
conceitos cosmognicos e teognicos, sem excluir as fontes hebraicas
e "orientais", em especial a caldia. Deve se observar que, ao nos
referirmos aos textos sacros, iniciticos e sapienciais que so
tomados de modo "religioso", de forma devota ou de
maneira fantica, dogmtica, legalista ou literal, no discutimos
os textos em si, a maior parte dos quais admiramos e reverenciamos,
seno o nvel de leitura que se faz deles. Por outra parte esses
livros reveladores so transmitidos pelas religies oficiais dentro
de seu aparato, e a difuso desses livros esotricos justificaria,
acaso, a existncia de instituies religiosas cujo nico fim levar a
autntica mensagem, de Conhecimento salvfico, ao homem e portanto
sua nica funo ligar este com o Esprito, que nele reside, e
entretanto se ocupam de questes materiais (quando se sabe que a
matria no transcendente) ou sociais, para citar um par de exemplos
de inverso Alm disso deve se considerar que, para o leitor atual,
queira-o ou no, vtima de uma programao herdada e imposta pela
cultura profana, qualquer texto que no siga uma seqncia racional
inclusive explicativa em suas partes, ou que no inclua geralmente
uma tese e uma demonstrao, algo que no tem valor. De fato assim
ficariam desqualificados como o esto para os modernos todos os
textos sagrados universais por desconexos ou absurdos. Essa atitude
os leva igualmente a encontrar contradies na letra, o que vez por
outra ocorre, embora muitas delas sejam aparentes; o mesmo quando
se acusa de vago ou confuso algum livro, pois nem sempre o com
outros parmetros mais abertos de juzo. Na realidade o que se busca
algo fixo e oficial e da a repulsa, quando no a fobia, aos textos
chamados apcrifos, e ainda aos simples manuscritos que passaram por
numerosos copistas em diferentes pocas e lnguas, e tambm a
desconfiana que pode produzir uma literatura no datada com exatido;
igualmente se deve assinalar o preconceito ou o temor a respeito de
tudo aquilo que annimo.2
Baixo-relevo do Rameseum. O deus fala com Ramss o Grande. Trad.
J.F. Champollion. Principes gnraux de l'ecriture, Paris 1836
Mas o curioso que esta atitude inconsciente se encontra presente
na obra dos crticos, e ainda na dos comentaristas desses textos
que, de fato, so as pessoas que mais trabalharam com eles, e se d o
paradoxo de que, por outra parte, muitos estudiosos de livros
sapienciais, de Conhecimento, e obras sagradas transmitidas e
repetidas pela Tradio so lidos com condicionamentos culturais,
religiosos, cientficos (universitrios) e particulares, ao ponto de
que estes comentaristas no captam em ltima instncia o pensamento
que estudam e comentam. O melhor exemplo disto se constitui na obra
de Plato: por um lado seus "estudiosos" se queixam de sua
obscuridade "terica", agravada por sua expresso em forma de dilogos
que incluem diferentes pontos de vista sobre a cosmogonia e opinies
divergentes sobre algum tema exemplo que imitam de forma bitolada,
por outro no encontram em sua obra e pensamento algo fixo que
possam classificar, ou proposies lgicas, mas sim em alguns
fragmentos que nem sempre encaixam com os outros, ou a seu parecer
se contrapem. Por isso todo o aparato crtico e filolgico que
elaboram, que de um ponto de vista muito valioso (estabelecimento
de textos, tradues, notas eruditas), necessrio, til e esclarecedor
num aspecto horizontal, desde outro completamente nulo, j que no
constitui, na maioria dos casos, uma hermenutica, e nem sequer uma
exegese da obra, assunto que no figura em suas intenes embora seja
o mais importante; ainda mais quando no so capazes de compreender
que a linguagem em que esto escritos precisamente o da
metafsica, sempre evasivo. O Corpus Hermeticum, e os textos de
tipo filosfico nele includos (sem desprezar o corpus
astrolgico-mgico que corre paralelo) sofreram uma estranha sorte no
curso da histria. Mencionados calorosamente nos primeiros sculos do
cristianismo por autores esotricos e filsofos, passam Idade Mdia
onde conservam seu prestgio entre telogos e sbios (tal como a
vertente astrolgico-mgica: Picatrix, Turba Philosophorum) e chegam
ao Renascimento via G. Pletn, e o grego ortodoxo Bessarion, ambos
ligados aos ensinos do bizantino Miguel Pselos, onde a Academia de
Florena, dirigida por Marslio Ficino, consagr-los- publicando-os em
traduo do prprio Ficino, por encargo de Cosme de Mdicis, ao mesmo
tempo em que as obras de Plato. Posteriormente, F. Patrizzi (que
faz de Hermes um contemporneo de Moiss, e o mesmo pensa de suas
obras), "publicou seu 'Nova filosofia universal', acompanhando a de
uma verso do Corpus Hermeticum segundo o texto grego de Turnbe e
Foix de Candale, do qual levou a cabo uma nova traduo ao latim,
assim como do Asclepius e de alguns dos Hermetica conservados por
Estobeu, com a correspondente verso latina de tais textos. Deste
modo, Patrizzi recolheu em dito volume a mais extensa coleo da
Hermetica que jamais se reuniu at ento e tomou como base para a
construo de sua nova filosofia" (F. Yates, Giordano Bruno y la
Tradicin Hermtica. Ariel, Barcelona 1983). Sabe-se que foi tanto o
encontrado nestes textos pelos criadores do Renascimento
(filosfico, escultrico, pictrico, artesanal, cientfico, etc.,
etc.), quer dizer, os sbios autores de seu movimento revolucionrio
antes que a faco de pensamento "humanista" triunfasse sobre a
corrente hermtica (assunto que no podemos espraiar aqui mas que est
vinculado de todas as maneiras com a doutrina dos ciclos), que
inclusive chegaram a pensar que estes textos eram, por ser os mais
sapienciais, os mais antigos (prisca theologia) e deles derivavam
os do Moiss, Orfeu, Pitgoras, Plato, etc., e seu contedo revelava
os ensinos de Hermes-Nos, quer dizer, da Mente Divina.3 De fato,
como se v, estes textos inspiradores do Renascimento, junto com
Pitgoras, Plato, os neoplatnicos, a cabala hebraica, as cincias da
natureza, a magia natural e a Antigidade egpcia, grega e romana,
moldou a cultura desse perodo, e de algum jeito a nossa, a
contempornea, pois atravs do Renascimento estes livros e seu
contedo seguiram vivos at nossos dias, manifestados por uma
corrente hermetista que inclui alquimia, sempre espiritual, em seu
conjunto, e todas as cincias que invoquem a paternidade ou o amparo
de Hermes ou
estejam vinculadas a essa transmisso to singular de energias e
simpatias, cujo pensamento os Hermetica em seu conjunto expressam
com claridade, j que o prprio Hermes tomado como o mantenedor da
sabedoria oculta e seu transmissor, e seu nome deve ser considerado
mais como o de uma influncia espiritual, que o de uma pessoa. Por
isso o Renascimento venerou estes textos e praticou sua filosofia;
pois a Beleza, a Inteligncia e a Sabedoria neles contida uma
mensagem repetida de uma ou outra maneira por todas as gnoses, j
que deriva de uma Tradio Unnime, polar, quer dizer, vertical, qual
o homem pode ter acesso conforme o indicam estes mesmos textos. A
adequao da sociedade renascentista aos Hermetica marcou o esplendor
histrico deles, junto com os ensinos pitagricos, platnicos,
neoplatnicos, cabalsticos e cristos4 com os quais coincidem em
muito numerosos pontos, sem que nenhum deles seja necessariamente
"sincrtico" tal qual como se entende hoje esse vocbulo Da que nos
parea muito injusto o tratamento que certos eruditos modernos, ou
racionalistas de tipo "grego clssico", ou com preconceitos cristos,
ou "gramticos", todos influenciados pela viso literal do mundo
moderno, dispensaram a estes escritos, aos quais subestimam por
serem fragmentos diz que desconexos, ou obscuros, ou contraditrios,
sem pensar que todos os livros sagrados tm as mesmas caractersticas
e sem ver os constantes resplendores de luz, doutrina e poesia que
brotam de seus textos. Acreditam que talvez a datao exagerada e
acaso a supervalorizao destes livros no Renascimento, assim que no
s eram comparados vantajosamente com a Bblia qual eram anteriores
mas tambm quase com qualquer outro escrito, tenham determinado em
grande parte sua desvalorizao posterior, j que uma vez que Isaac
Casaubon em 1614 descobriu o engano de datao mediante um estudo
filolgico e estilstico de suas partes e o situou nos primeiros
sculos do cristianismo, o Corpus Hermeticum comeou a ser relegado e
menos considerado, quase culpado de uma fraude e de uma brincadeira
histrica que deviam pagar os prprios escritos, e cuja condenao
devia ser o esquecimento, quando no o desdm.5 Assim como o padre A.
J. Festugire, tradutor do Corpus Hermeticum e autor da obra em
quatro tomos La Rvlation d'Herms Trismgiste 6 e uma autoridade na
matria cujo mrito indisputvel, fala de uma contradio no pensamento
fixado nos Hermetica, que, inclusive, est presente na obra de
Plato. Por um lado assinala que uma doutrina inserida neles admite
que o mundo est penetrado pela divindade e portanto belo e bom e a
contemplao desse mundo, obra divina, uma aproximao a seu Criador.
Pelo outro observa que nos textos
tambm o mundo criado aparece como mau, no sendo a Obra do
Primeiro Deus, mas sim do Demiurgo, seu filho, a segunda pessoa da
Divindade, um Deus to terrvel como terrvel a Criao sujeita a
destruio, enfermidade, velhice e morte. De fato, s no nimo do P.
Festugire existe esta contradio que s justificvel no mbito de uma
mente racionalista. Por que nesta dupla percepo, que chama
"doutrina", seria incompatvel e excludente um dos termos com
respeito ao outro? Nas "doutrinas" de todos os povos se fala de uma
dupla natureza no homem, que por isso o intermedirio entre cu e
terra. Como qualquer cristo sabe, trata-se da distino entre a parte
mais sutil, associada ao esprito, e a mais grosseira, vinculada com
a matria. Isto que reconhecido no microcosmo vlido para o
macrocosmo. E a maravilhosa criao, a Obra de um Ser Infinito, no
incompatvel com um crcere em que o Esprito e a deidade se acham
presos; tampouco uma forma de ver diferente e simultnea do mundo
tem por que associarse necessariamente com algo to mutvel como uma
viso "otimista" ou "pessimista". mais, se no fora por esta priso
csmica, a Revelao Hermtica e o caminho que prope (assim como sua
cosmogonia) no teriam razo de existir, e inclusive seria nulo o
Mundo Intermedirio; mais quando se pensa em Hermes como um
psicopompo, ou o que o mesmo, em Poimandres como um Pastor capaz de
nos liberar, ao ponto de tornar o crcere em nossa casa, e ordenar
nossa sada do cosmo. Por outra parte, a queda do homem contemporneo
sumido nas trevas, que prefere luz, est descrita nestes livros na
Kor Kosmou e o Apocalipse de Asclpio que anunciam para o Egito
Mtico, Centro do Mundo, uma total inverso dos valores.7 Mas o mais
importante que esta dualidade do que voa e do que repta, ou das
trevas e a luz, est inscrita no corao mesmo da deidade, que
constantemente conjuga os opostos produzindo a harmonia csmica,
pois "tudo deve resultar da oposio e da contrariedade: e impossvel
que seja de outro modo" (X,10). Entretanto o Deus-Nos no tem nome,
mais, incognoscvel e no se pode aplicar-Lhe nenhuma determinao,
aparecendo s de maneira racional em termos negativos, o que faz ao
Conhecimento Divino um paradoxo imensamente majestoso. O homem pois
mediador, no s em sua funo central mas tambm como um pequeno
demiurgo numa criao que sempre existiu e que se encontra
permanentemente inacabada, viva, em constante metamorfose e que ele
pode transformar, j que aparece como o ponto ou a unidade onde
convergem todas as energias criacionais, coroando e dando sentido
ao plano divino ao restabelecer os contatos que revelam as
analogias, pois o mundo sensvel se reflete no inteligvel como o
inteligvel no
sensvel. Tudo isso graas a uma rede onde o Amor o protagonista e
o matrimnio (Hieros Gamos) entre o Cu e a Terra uma cpula perptua.
O que equivalente em outro simbolismo a uma cadeia de iniciados (O
fio de Ouro) que se transmite do Nos ao Poimandres, deste a Hermes,
d Hermes a Tat e deste a todos os Adeptos e teurgos da tradio
Hermtica. Da que o Corpus Hermeticum constitua uma revelao e que a
s compreenso de seus enunciados conforme uma Gnose, dado que somos
a matria do que conhecemos e o Verbo Primitivo se manifesta no
humano possibilitando o surgimento do homem pneumtico, paradigma do
iniciado, que sabe ler os sinais da natureza e os smbolos mutveis
de sua aventura csmica, adequando-se s circunstncias de sua viagem,
que se assemelha ao Conhecimento, e que o texto do Corpus
Hermeticum transmite. O Conhecimento, ou seja, a Realizao
Espiritual, est to longe da religio como da magia, segundo estes
termos so entendidos normalmente pelo mundo moderno; e mais: estas
soem constituir-se em inimigos implacveis num processo inicitico.
Conta disso do-nos o judasmo sionista, o cristianismo integrista e
o islamismo fundamentalista. Nada a dizer da literalidade da magia
chamada cerimoniosa (sempre sujeita dualidade causa-efeito) com
respeito s tradies arcaicas que utilizavam as frmulas,
encantamentos e talisms num contexto de crenas e smbolos
cosmognicos grupais, nunca isolados de sua razo de ser ltima, e
igualmente com respeito "magia natural" renascentista e que so
autenticamente as correspondncias e analogias como veculos de
acesso cosmogonia, ontologia e metafsica, quer dizer, a Via
Simblica em sua verticalidade ascendente, que se manifesta no
microcosmo como diversos estados do Ser Universal. Deve se dizer
que as palavras religio e magia, tomadas em seu sentido mais amplo
e esotrico, podem ser vlidas, como o caso em certos autores de
lngua inglesa, onde o costume as utiliza sem muita preciso;
inclusive nesse idioma os termos misticismo e ocultismo tm um
significado geral que o uso de algum jeito legitima. Entretanto em
matria de doutrina, quer dizer, da prpria compreenso intelectual de
tais conceitos, necessrio os redefinir j que podem significar idias
diametralmente opostas ao que verdadeiramente expressam e negar a
intuio da Suprema Identidade, e obstaculizar o trabalho dos
aprendizes da Cincia Sagrada. No Renascimento e na Tradio Hermtica
em geral (assim como nas arcaicas) sublinha-se a figura do teurgo
como ideal do Homem de Conhecimento (ainda que no seja um "erudito"
e, inclusive, no saiba ler ou escrever), a do Adepto, a do Filsofo
ou Artista, a do Mestre
Construtor mas nunca a do monge, frade ou religioso, embora
alguns deles o tenham sido. Como se v, a Teurgia, s vezes
involuntria, ou melhor, sem fins concretos ou especficos, est
includa no processo alqumico; na maioria dos casos este no passa
pela religio, onde paradoxalmente se encontram tambm os smbolos do
Conhecimento e onde se refugiam os que, por um ou outro motivo no
podem alcan-lo por si mesmos, ou seja, aqueles aos quais a graa que
lhes coube no lhes permite transcender este nvel, muitos dos quais,
em lugar de aceitar suas limitaes com serenidade, pretendem fazer
das "grandes religies" o meio ou caminho oficial do metafsico, o
que um engano que valoriza o menos e o confunde com o que mais.
Neste sentido, deve-se observar que os livros da Hermetica so
emanados num meio e num tempo onde a Teurgia e a Filosofia de mos
dadas, a tal ponto que a figura do sbio e do mago, ou melhor, do
teurgo, identificavam-se, e onde os textos pertencentes ao Corpus
Hermeticum aparecem simultaneamente com outros manuscritos e
autores, como o caso de um grande conjunto de colees com frmulas e
receitas mgicas, medicina, astronomia-astrologia, e alquimia, que
ainda hoje se conservam, e que se acham colocadas sob a avocao de
Hermes, ou Mercrio, ou Hermes-Trismegisto, consistentes sobretudo
em correspondncias e analogias entre os astros, o ser humano, o
reino mineral, vegetal e animal e outras prticas rituais
individuais relacionadas com a cosmogonia, o plano intermedirio e
as cincias da natureza. Festugire estabelece aqui tambm uma dupla
diviso entre magia popular e a filosofia do Corpus Hermeticum; a
ttulo provisrio parece aceitvel essa diviso enquanto tudo que
relacionado com a magia e com as prticas rituais muito apreciado e
sentido por uma grande quantidade de pessoas, cuja compreenso dos
smbolos, mitos e ritos muito relativa, embora participem tambm
destes ensinos; mas acreditam que essa diviso pode tomar-se em
conta caso se faa sob a condio de que, na Tradio Hermtica, a
corrente "popular" e a "filosfica" se encontrem indissoluvelmente
unidas, como os livros "populares" o esto com o Corpus Hermeticum
conforme pode apreciarse para citar s um exemplo quanto ao tema da
unidade da matria. Nomearemos aqui uma srie de livros e textos que
pertencem a estes Hermetica, chamados astrolgicos ou mgicos e que
no foram ainda objeto da ateno necessria pelos estudiosos, o que
seria de grande interesse. Um Livro das Tinturas Naturais atribudo
a Hermes, conhecido atravs das entrevistas e comentrios que faz
Zsimo em sua Conta Finale que d a impresso de ser mais um tratado
sobre o simbolismo da cor e seus significados mltiplos que um
tratado prtico sobre tingimento, dada a bvia impossibilidade de
conseguir certas tintas
em determinados materiais; O Transe de Salomo que comea com uma
contagem de nomes sagrados que Hermes Trismegisto tinha gravado em
hierglifos e que se ocupa tambm da fabricao de talisms conforme
dados astrolgicos, sejam estes estatuetas ocas de Hermes ou algumas
outras, que deviam possuir em seu interior um encantamento escrito
sobre um papiro, como foi o caso do descobrimento do texto da Tbua
de Esmeralda. Especial ateno deve se prestar ao Liber Hermetis
Trismegisti, considerado principalmente um tratado astrolgico (como
o Monomoirai, referente aos deuses de cada um dos 360 graus do
Zodaco, e que no se conserva, mas cujo tema constitui entretanto o
cap. 25 do Liber), traduo latina de um florilgio grego do Sc. V que
contm ensinos mais antigos de carter egpcio, que se pensa terem
sido retocados no Sc. II-III d. C., procedentes de um grande corpus
integral astrolgico hermtico articulado na poca ptolomaica, entre
as quais a que se refere aos decanatos (presente nos textos que se
guardavam nos templos desde 3.000 anos a.C., e tratada tambm no
Extrato VI de Estobeu); por outra parte, este manuscrito passou
diretamente atravs dos gregos ao ocidente medieval sem a participao
dos rabes, como foi pelo contrrio o caso do Picatrix e da Turba
Philosophorum; outro tratado astrolgico, como seu nome o indica, :
Sobre a dominao e a potncia dos doze lugares. Vrios volumes sempre
baseados na idia do movimento dos astros em relao com os elementos
csmicos e as simpatias secretas que os unem, tratam sobre medicina
e receitas com elementos minerais, vegetais e animais que devem ser
invocadas e combinadas de acordo a tempo e lugar com respeito relao
prpria de cada astro com o operador, em virtude da ntima relao
entre o macro e o microcosmo. Tal o caso do Livro sagrado de Hermes
a Asclpio e outros textos. Adicionaremos o De XV herbis lapidibus
et figuris, atribudo a Enoque; igualmente o De XV Stellis, escrito
por Hermes (recebido por via islmica) chamado deste modo em alguma
ocasio Quadripertitum Hermetis (pelo quaternrio dos temas:
estrelas, pedras, plantas e talisms, e um prlogo sobre as virtudes
do nmero 4), tambm atribudo a Enoque em uma de suas formas
resumidas. A estes ttulos devem somar-se Iatromathematika de Hermes
a Ammn o egpcio e as Kyranides, de Hermes, ao que lhe outorga
bastante importncia, e que principalmente trata sobre a atrao e a
repulso, ou seja, as simpatias e antipatias que animam o cosmo;
meno parte merece o manuscrito egpcio de Leyden, escrito em demtico
e grego, encontrado em Tebas no ano de 1828, dividido em duas
partes que se conservam uma na cidade do mesmo nome e outra no
Museu Britnico, cujo contedo, de frmulas oraculares e mgicas,
medicinais e botnicas, constitui um claro exemplo desta literatura
hermtica, na qual no faltam nem a astrologia, nem os lapidrios e
bestirios; igualmente Os sete captulos
ou livros de Hermes sero referncia de numerosos hermetistas e
textos de alquimia medievais e renascentistas e tem sido editado at
hoje.8 De outros livros similares h tambm referencias em outros
textos, embora ainda no tenham sido encontrados os originais em
questo. H autores que soem adicionar aos Hermetica as obras de
Bolos de Mendes, os escritos de Zsimo, de Sinesius, de Olimpiodoro
e de Stephanus da Alexandria produzidos do II ao VII sculos de
nossa era; igualmente o corpus dos alquimistas gregos e os
numerosos fragmentos alqumicos de Hermes que o conformam.9 Tambm
devem ser mencionados os textos chamados Definies, ou De Hermes
Trismegisto a Asclpio, textos armnios publicados pela primeira vez,
junto a uma traduo ao russo em 1956, e que P. Mahe, que os estudou,
situa no primeiro sculo anterior era crist, que embora tenham o
mesmo ttulo que o livro XVI do Poimandres, trata-se de textos
distintos.
Os Livros Hermticos II
NOTAS1
Seria muito saudvel que assim pudessem ser lidos certos livros
bblicos como os de Moiss, das profecias, dos salmos, dos de
sabedoria, dos evangelhos (especialmente o de S. Joo), So Paulo,
etc., tal como so e como foram escritos, sem nenhuma conotao
dogmtica a respeito. Costumou-se criticar o Corpus Hermeticum, no s
o Poimandres, que seu texto s vezes confuso, quando no contraditrio
ou devido mo de vrios autores. A respeito, queremos citar a
introduo ao Evangelho de So Joo, publicado na Bblia de Jerusalm
(Descle de Brouwer, Bilbao 1984): " bastante difcil descobrir o
plano preciso segundo o qual quis So Joo expor este mistrio de
Cristo. Notemos acima de tudo que a ordem em que se apresenta o
evangelho oferece certo nmero de dificuldades: sucesso difcil dos
caps. 4, 5, 6, 7 1-24; anomalia nos caps. 15-17 que vm depois da
despedida 14 31; situao fora do contexto de fragmentos como 3 31-36
e 12 44-50. possvel que estas anomalias provenham do modo como se
comps e editou o evangelho: na realidade, seria o resultado de uma
lenta elaborao, com elementos de pocas diversas, retoque, adies,
diversas redaes de um mesmo ensino, havendo-se publicado
definitivamente no pelo mesmo Joo seno, depois de sua morte, por
seus discpulos, 21 24; estes teriam inserido na trama primitiva do
evangelho fragmentos jonicos que no queriam que se perdessem e cujo
lugar no estava rigorosamente determinado." Para este e outros
temas ligados a Hermes e aos livros hermticos ver os muito valiosos
estudos de Antoine Faivre, especialmente: The Eternal
2
3
Hermes, from Greek God to Alchemical Magus, Phanes Press 1995,
Grand Rapids (MI) USA; do mesmo modo, de A. Faivre e colaboradores
(M. Sladek, P. Lory, M. Allen, C. Vasoli, I. Pantin, J. Telle),
Prsence d'Herms Trismgiste, Ed. Albin Michel, "Cahiers de
l'Hermtisme", Paris 1988.4
O cristianismo em geral e o catolicismo em particular, jamais
atacou ou censurou o contedo do Corpus Hermeticum; pelo contrrio,
foi conhecido e utilizado em algumas ocasies por seus prprios
telogos e muitos de seus sacerdotes. Em grande parte a importncia
dos livros Hermticos vem por Thot ser o escriba divino e o Deus da
escritura; alguns autores do final de sculo e princpio deste como
Frederic du Portal e E. A. Wallis Budge estudaram a relao entre os
hierglifos egpcios e distintas formas de expresso grfica. Ver para
este tema das linguagens simblicas hermticas: The Alphabetic
Labyrinth: The letters in History and imagination, Johanna Drucker,
Thames and Hudson, N. York 1995; logicamente tambm Principes Gnraux
de l'criture Sacre gyptienne, J. F. Champollion. Institut d'Orient,
Paris 1984. Ed. Les Belles Lettres. Pars 1989. " posto que convm
aos sbios conhecer por antecipao todas as coisas futuras, h uma que
necessrio que saibam. Vir um tempo em que parecer que os egpcios
honraram em vo seus deuses, com a venerao de seu corao, mediante um
rito assduo: toda sua sagrada adorao fracassar, ineficaz, ser
privada de seu fruto. Os deuses, deixando a terra, retornaro ao cu;
abandonaro o Egito; esta comarca, que foi antigamente o domiclio
das sagradas liturgias, viva agora de seus deuses, no desfrutar
mais de sua presena. Estrangeiros enchero este pas, esta terra, e
no somente j no se tomar cuidado das observncias, mas sim, coisa
mais penosa, ser estatudo por pretendidas leis, sob pena de
castigos prescritos, abster-se de toda prtica religiosa, de todo
ato de venerao ou de culto para os deuses. Ento esta terra muito
santa, ptria dos santurios e templos, ficar inteiramente coberta de
sepulcros e mortos. Oh, Egito, Egito! No ficar de seus cultos mais
que lendas e seus filhos, mais tarde, nem sequer acreditaro nisso"
(Asclpio, 24). "Os homens arrancaro as razes das plantas e
examinaro as qualidades dos sucos. Escrutaro as naturezas das
pedras e abriro de cima a baixo queles viventes carentes de razo;
que digo, dissecaro a seus semelhantes, em seu desejo de examinar
como foram formados. Tendero suas audazes mos at o mar e, abatendo
os bosques que crescem por si mesmos, transportar-se-o uns aos
outros de margem margem at as terras que esto alm. Investigaro
inclusive que natureza se oculta no fundo dos santurios
inacessveis. Perseguiro a realidade at no alto, vidos de conhecer
por suas observaes qual a ordem estabelecido do movimento celeste.
Mas ainda isto ser pouco." (Extratos de Estobeu, XXIII 45). Los
Siete Captulos de Hermes. Ed. Atalanta, Matar, Barcelona 1995.
Tambm El Papiro de Leyden, mesmo editora e ano. E o Tratado de los
Talismanes o Figuras Astrales (1658), Obelisco, Barcelona 1995.
Para mais informao e referncias bibliogrficas e inclusive traduo de
textos, ver Festugire: La Rvlation d'Herms Trismgiste, T. I.
5
6 7
8
9
HERMETISMO E MAONARIA Doutrina, Histria, Atualidade Federico
Gonzlez
I OS LIVROS HERMTICOS (2) Quanto a autores antigos que conheciam
o Corpus Hermeticum ou osHermetica, ou ainda se pensava que, em
algum caso, eram os responsveis por estes livros, nomearemos a
Plutarco,10 Jmblico,11 Hermias,12 e inclusive Apuleio, iniciado nos
mistrios "egpcios", ao qual se atribuiu posteriormente a autoria do
Asclpio.13 Eis aqui o que diz por sua parte o neoplatnico Proclo
com relao a nossa deidade: e de fato este deus o foro dos ginsios
(razo pela qual se colocavam esttuas de Hermes nas palestras), da
msica (por isso que honrado como Hermes da lira no cu), das cincias
(a ele se atribui o descobrimento da geometria, dos raciocnios,
etc.) e da dialtica (j que este deus o inventor de todo discurso,
se for verdade que ele quem imaginou a fala, como se aprende no
Crtilo). Posto que preside toda a educao, compreende-se que seja o
guia, aquele que nos conduz para o inteligvel, que eleva nossa alma
fora do lugar mortal, que dirige os diversos grupos de almas, que
dispersa seu sonho e seu esquecimento, que o dispensador da
reminiscncia, cujo fim a inteleco inteiramente pura dos seres
divinos.14
Mas isto no nada; o mesmo Proclo no ano 453, quando tinha 41
anos, recebe em sonhos a revelao de que sua alma pertence corrente
de Hermes, conforme o narra seu bigrafo e discpulo Marinus (Vida de
Proclo, 28). Esta revelao a obtm de Asclpio, deus muito popular na
Atenas de seu tempo. Hiplito de Roma (Sc. II - ca. 236), grecfono
radicado nesta cidade, refere-se tambm em seus Refutatio a
representaes de Hermes de origem egpcia, especialmente uma
existente na cidade de Cilene:Os gregos receberam este mistrio dos
egpcios e o custodiam at o dia de hoje. Vemos, efetivamente, aos
Hermes honrados por eles sob esta forma. Veneram-no como o
intrprete e artfice do que era, e ser, e se levanta representado
sob esta forma, isto , com o membro viril mostrando o impulso das
coisas inferiores para as superiores (V, 7. 29). No templo da
Samotracia se levantam duas esttuas de
homens nus, com ambas as mos estendidas para o cu e ereto o
membro viril tal como a esttua de Hermes em Cilene. Tais imagens
representam o homem primitivo e o espiritualmente regenerado, em
tudo consubstancial quele homem (V, 8. 10).15
Tambm conheceram o Asclpio Lactncio,16 Santo Agostinho e Zsimo17
e da mesma maneira Frmico Materno, astrlogo romano e hermetista do
Sc. IV (que se envaidece de haver transcrito as revelaes de
Hermes), So Cirilo de Alexandria,18 Miguel Pselos.19 Na Cidade de
Deus (livro VIII, 23), Agostinho (354-430: Confisses, De Trinitate,
Questes sobre o Heptateuco, Sobre a origem da alma, Sobre a presena
de Deus, etc.) refere-se ao Asclpio e ao famoso tema das esttuas
animadas: "de modo diverso sentiu e escreveu deles Hermes, egpcio,
a quem chamam Trismegisto; pois Apuleio, mesmo que conceda que no
so deuses, mas dizendo que so mediadores entre os deuses e os
homens, de modo que so necessrios aos homens para o tratamento com
os prprios deuses, no diferencia seu culto da religio dos deuses
superiores. Mas o egpcio diz que h uns deuses que os fez o supremo
Deus, e outros que os fizeram os homens." A crtica de Agostinho ao
Asclpio muito violenta e segue at o final do livro VIII. Proclo,
por outra parte em sua Teologia Platnica (livro I, 1) diz: " que
foram seus discpulos e que alcanaram tal perfeio que podemos
compar-los a esttuas".20 Nesse mesmo tratado (I, 29) Proclo compara
os Nomes divinos com essas esttuas: "Posto que produz os nomes
dessa maneira, nosso conhecimento cientfico os apresenta a este
ltimo nvel como imagens dos seres divinos; efetivamente, produz
cada nome como uma esttua dos deuses, e o mesmo que a teurgia,
mediante certos sinais simblicos, invoca a bondade generosa dos
deuses em vista da iluminao das esttuas confeccionadas
artificialmente, igualmente o conhecimento intelectivo relativo aos
seres divinos, mediante composies e divises de sons articulados,
revela o ser oculto dos deuses." Estes discpulos tambm aparecem no
texto das Argonuticas rficas, obra provavelmente do sc. IV atribuda
a Orfeu, onde se narra o mito dos Argonautas (outras que tratam o
tema so atribudas ao Apolnio de Rodes, e a Valrio Flaco):
"Contemplei ilustre e trplice descendncia do Hermes" (Gredos,
Madrid 1987). Isidoro de Sevilha (560?-636) escreve em suas
Etimologias (Livro VIII, 49):O nome grego de Hermes deriva de
hermeneia, que o latim traduz por 'intrprete'. Por seu poder e
conhecimento de numerosas artes conhecida como Trismegisto, quer
dizer, "o trs vezes mximo".
Igualmente se afirma que Valentin, o melhor representante do
pensamento gnstico cristo, conhecia estes textos,21 e ainda que o
autor do prlogo do evangelho de So Joo estava impregnado da
atmosfera de muitos destes escritos, assim como o autor ou autores
do livro da Sabedoria bblico, um manuscrito grego do primeiro sculo
de nossa era. Outra obra que devemos mencionar so Os hinos rficos e
duas colees: os Orculos Caldeus,22 e a chamada Textos de Magia em
papiros gregos,23 obtidos estes ltimos do sculo XVIII em Tebas e
ElFayum e que esto depositados em vrias bibliotecas europias,
manuscritos na mesma poca que os Hermetica e escritos em copta.24
Anotemos que a palavra caldeu era sinnimo do teurgo, assim como se
costumou associar este ltimo termo, de igual modo, ao de
hermetista; voltaremos mais adiante sobre isso. A influncia dos
Hermtica parece ter sido tambm muito importante no Isl, j que foram
conhecidos e citados os textos filosficos, e os livros mdicos,
astrolgicos, mgicos, e em geral aquilo que na atualidade pode
considerar o Hermetismo. O pensamento hermtico penetra no Isl por
vrias direes e no s atravs dos escritos gregos, mas tambm por meio
de seitas srias, como a dos sabeus, e da astrologia snscrita
conhecida em Bagd no Sc. VIII e exposta por Kanata, um hindu.
Imediatamente, Hermes foi identificado com Idris e por certo com
Enoque e Agathodaimon, conhecidos em muitos pases do Isl tal como
Seth. Tambm se pensava que era contemporneo do surgimento das
Pliades, no ponto vernal, que 3.300 anos antes de nossa Era tinha
sido o ponto de partida do calendrio egpcio; igualmente encabeava
com seu nome (Thot) o primeiro ms de dito calendrio. Deste modo
deve se destacar que uma das pirmides era e considerada como a
"tumba de Hermes" (o nome rabe para pirmide haram), no porque ali
jaza seu corpo que, idntico a Enoque, foi levado ao cu e no morreu
(assunto que, por outra parte, sucede com o Hermetismo), seno que
nesse lugar jazem enterrados, ou melhor, ocultos, os grandes
segredos da Cincia Sagrada, seus mistrios e revelaes.25 Numerosos
so os textos da literatura hermtica rabe que subsistem atribudos a
Hermes Trismegisto. Jean Doresse26 limita-se a citar trs exemplos
chaves:1. "O Livro do segredo da Criao, compilado por volta do 825
na poca, pois, em que as doutrinas sabias e a astrologia hermtica
indianizada reforavam, em Bagd, as sobrevivncias diretas foi
extrado de um tratado de Hermes Sobre as causas e atribudo
ficticiamente ao Apolnio de Tiana, chamado em rabe Balinus. Oferece
como motivo de duplo interesse, uma exposio da criao e o
clebre relato do descobrimento da Tbua de Esmeralda." 2. "Turba
philosophorum, segundo sua traduo latina medieval, uma compilao,
sem dvida diretamente elaborada em rabe, em que se incluem
fragmentos dos Physika e Mystika democriteus. O relato pretende ser
a narrao de uma reunio dos grandes filsofos da Antigidade,
presididos por Pitgoras, que apresentado como discpulo de Hermes:
nela, os reunidos intercambiam suas idias sobre a criao, antes de
passar a discutir os temas alqumicos." 3. "A meta dos sbios, manual
de astrologia talismnica, inspirado em fontes sabias, que data do
sculo XI; obra fictcia de Hipcrates, cujo nome, deformado pelo rabe
e transformado de novo na traduo latina, ficou convertido em
Picatrix, nome com o qual conhecida a prpria obra."
Com respeito ao descobrimento da Tbua de Esmeralda expressaremos
que Titus Burckhardt em seu livro Alquimia,27 assinala que: a mais
antiga referncia a ele foi achada num escrito de Dybir Ibn Hayyn,
do sculo VIII e sua verso latina era conhecida j por Alberto
Magno.
Para terminar com o hermetismo islmico citaremos de Henri
Corbin, reconhecido especialista, algumas passagens de sua Histria
da Filosofia Islmica28: os sabeus de Harran faziam chegar sua linha
genealgica a Hermes e Agathodaimon. Seu mais clebre doutor, Thbit
ibn Qorra (288/901), escreveu em siraco e traduziu ao rabe um livro
das Instituies de Hermes. De fato, a filosofia hermtica se
considera uma hikmat ladonya, uma sabedoria inspirada, quer dizer
uma filosofia proftica. Tal como muitas "grandes personalidades" da
poca, o filsofo iraniano Sarakhsh (286/899), aluno do filsofo
al-Kind, era shiita ou passava por tal. Sarakhsh tinha escrito uma
obra (hoje perdida) sobre a religio dos sabeus. Seu mestre, alKind,
tinha lido igualmente o que Hermes ensinava a seu filho (referncia
implcita, sem dvida, ao "Poimandres"), relativo ao mistrio da
transcendncia divina, e afirmava que um filsofo muulmano como ele
no teria podido express-lo melhor. Os neoplatnicos do Isl, que
levam a cabo a sntese de especulao filosfica e experincia
espiritual, reivindicam para si uma cadeia inicitica (isnd) que se
remonta a Hermes: assim o fizeram, por exemplo, Sohravard
(587/1191) e Ibn Sab'in (669/1270).29
Como vemos, no Isl Hermes e o hermetismo sofreram diversas
transformaes, tanto o nome do deus, quanto sua forma segundo se
adapta a lugar e tempo, ou a determinados grupos centralizados em
tal ou qual mestre, embora sempre mantendo suas caractersticas de
"inventor" da palavra, educador, psicopompo e energia verstil que
sabe adaptar-se s circunstncias espao-temporais e particulares, sem
que esta plasticidade altere seu carter fundamental de
intermedirio, de mensageiro dos deuses, nmen tutelar de toda
invocao que se dirija ao Deus Desconhecido, a sua ocultao e
revelao. Para o Isl era tambm claro o que hoje em dia se
estabeleceu abundantemente: a relao destes livros com o Egito, de
onde se recebeu um fundo mitolgico, cosmognico e soteriolgico de
base, tal como frmulas mdicas, astrolgicas e mgicas que adquirem a
forma de uma Filosofia, ou melhor, de uma Gnose, no perodo
greco-romano desse pas e deve se estender por todo o Mediterrneo at
Roma e, inclusive, at a Prsia e a ndia. Portanto a investigao pode
seguir os rastros e traar um panorama desta antiga concepo teosfica
egpcio-grega e pag que subsistiu e se testemunha na Alexandria nos
primeiros sculos de nossa era e que, graas a sua expanso para e em
Roma (como o cristianismo), subsistiu em forma mais ou menos oculta
e subterrnea at o presente no Ocidente;30 no so s lendas as viagens
de Pitgoras e de Plato ao Egito narradas por Jmblico e outros
autores antigos. O Corpus Hermeticum sustenta que entre o Nos e o
homem no h intermedirios posto que o Nos do homem que se revela a
si mesmo. A nica mediao a da Inteligncia que ilumina esta relao
estabelecida sempre, possibilidade que todo homem leva em si. por
isso que a Tradio Hermtica no constitui nem constituiu uma religio,
com autoridades por um lado e fervores pelo outro, o que no tira o
reconhecimento das hierarquias divinas, tema fundamental no
Hermetismo, nem tampouco determinados cultos particulares ou
grupais realizados segundo a estrutura csmica, outra das matrias
prprias da Tradio Hermtica e da Maonaria. Por isso tambm bvio que
no haja ministros, nenhuma autoridade comum, nenhuma doutrina vista
de um s ponto de vista dogmtico, nem ningum que possa adotar a
paternidade destes ensinamentos. Por outra parte, evidente que sem
o dogma religioso e o aparato eclesistico de um lado, e de outro a
carncia de grupos especficos "autorizados", a iniciao se deixa a
cargo do individual, quer dizer s pessoas postas sob a avocao de
Hermes, ou seja queles buscadores do Conhecimento e da Sabedoria,
Adeptos aos Mistrios da Cincia Sagrada, recipiendrios de uma
Influncia Espiritual vinda das mais remotas origens (verticais e
horizontais) e que, feito uma corrente de
ouro, prolonga-se, sempre nova, inclume, at nossos dias, que se
pode perceber inclusive em sua projeo histrica e nos documentos
espirituais-intelectuais que a abonam. Nesta questo das cerimnias
coletivas o hermetismo no s difere do cristianismo, que hoje
inclusive renega todo esoterismo, mas tambm das outras religies do
livro (embora nelas tambm esteja contemplada a figura do
"solitrio")31, mas no do Taosmo, e outros numerosos modos
tradicionais e arcaicos de Conhecimento, vivos e mortos, que tm
tantas formas iniciticas quanto iniciados. Mas isso no impede
tampouco que ao longo de sua histria tenha tomado diversas
maneiras, como o caso de numerosas escolas e grupos no passado e
como aconteceu na Idade Moderna com a Maonaria, cuja origem
Hermtica baseada desde o comeo na quase assimilao do nome Hiram com
o de Hermes, sendo HRM a raiz comum, cabalstica, astrolgica,
pitagrica, construtiva e alqumica indiscutvel j que se encontra
presente em seus mesmos smbolos e ritos conformando seus prprio
andaime, e inclusive a totalidade de seu edifcio. Neste ponto
anotaremos que o Mestre interno, do que de uma ou de outra maneira
falam todas as tradies, revela-se diretamente na Tradio Hermtica, e
to generosa possibilidade lhe proporcionada por Deus mesmo, capaz
no s de gerar o mundo mas tambm de criar ao homem pneumtico, ao
Verdadeiro Anthropos. Supe-se que aquele que recebeu tal presente
(que imaginamos muito grande para qualquer) para a Tradio Hermtica,
um gnstico. Entretanto o Hermetismo e o Corpus Hermeticum so duas
coisas diferenciadas, embora com muito estreito contato entre si, j
que o ltimo codifica uma srie de idias, imagens e formas de um tipo
de pensamento baseado em anlogas premissas, que por sua vez outros
grupos conhecem, par que so transmissoras de sabedoria e de uma
influncia espiritual que muitas vezes cristaliza em mtodos de
trabalho no caminho inicitico. Em todo caso, o que fica claro, que
nenhum hermetista utilizou os textos do Corpus Hermeticum inclusive
muitos deles no os conheceram como uma "bblia", seno mais como uma
fonte permanente de inspirao e um compndio de sabedoria.32
Histoire de la vie, miracles, enchentements et prophecies de
Merlin, Paris 1498
De fato o Corpus Hermeticum perfeitamente compatvel com o resto
dos Hermetica, assim como com os desenvolvimentos que alquimistas,
filsofos, astrlogos, cabalistas os teurgos, artistas da pedra, ou
Adeptos ao Conhecimento manifestaram posteriormente, embora em
alguns casos no os conhecessem de maneira direta, tal a
energia-fora que a influncia tradicional do Hermetismo capaz de
transmitir, s vezes atravs de "inocentes jogos mgicos" como o caso
do Tarot, chamado s vezes "o livro de Toth". O certo que os livros
que formam o Corpus Hermeticum (Poimandres, Asclpio, Extratos de
Estobeu) tm uma unidade em seu conjunto: o Asclpio pode, ele s, dar
conta disso. No acontece o mesmo com o Poimandres em sua
totalidade, embora haja alguns livros que o compem que formam um
bloco, e fica algum outro que est mais relacionado com este ou com
aquele; entretanto h uma unidade entre eles, assim como entre o
Poimandres e o Asclpio e ambos com os Extratos de Estobeu,
participando de uma atmosfera, uma linguagem, e um desenho que
tambm est presente na Tbua de Esmeralda e em geral em toda a
literatura hermtica.33 Tambm no substancial concordam as tradues
que realizaram L. Mnard, W. Scott e o P. Festugire, e outras mais
recentes como a inglesa de B. P. Copenhaver;34 como concordam
igualmente no substancial o manuscrito latino do Asclpio com cuja
cpia se trabalha at hoje, com o manuscrito copta do mesmo
nome encontrado em 1945 com o resto da biblioteca de
Nag-Hammadi, precisamente no Egito, e traduzido e anotado por P.
Mahe.35 Entretanto a relativa homogeneidade do Corpus Hermeticum se
v alterada por seu livro X. Este livro fundamentalmente a pedra de
escndalo no Poimandres. Efetivamente, para comear, alguns acreditam
ter visto uma contradio nele ao fazer-se no compartimento 14 ao
homem filho do Cosmo e no de Deus, quer dizer, neto do Nos, e no
seu filho, como se diz claramente no livro I, e se repete ou se faz
referncia a isso com o passar do Corpus. Isto deve se ressalvar
completamente, posto que o homem do qual aqui se trata o ser humano
individual, no o Arqutipo incriado do Homem, o Anthropos ou Homem
Universal ao qual se refere o 1. livro (12 e subseqentes at 17), e
portanto tambm filho do Cosmo j que sua matria foi extrada dele,
posto que anlogo ao mesmo, e embora filho de Deus de modo direto
tambm pode ser considerado seu neto no sentido de um maior
afastamento ou obnubilamento do Nos devido a sua maior aproximao
substancialidade, ao se consider-lo tambm filho do Demiurgo, e
portanto partcipe da matria do Cosmo. O mesmo acontece com a
Natureza que, no primeiro livro, vista igualmente como arquetpica e
incriada, quer dizer, a Substncia Universal (nesse caso o Nos-Deus
seria a primeira hipstase, o Nos-cosmo-demiurgo a segunda e o Homem
a terceira), mas que considerada de maneira material no livro III,
1. Na realidade, este livro X de que falamos, chamado s vezes X A
Chave, parece obra de outra mo e seu estilo muito mais grosseiro e
abrupto que o resto como o afirma em nota W. Scott.36 Na parte 7 se
diz textualmente:Pois numerosas so as metamorfoses dessas almas: as
de umas para uma sorte mais feliz, as de outras para uma sorte
contrria: porque as almas reptantes passam a animais aquticos, as
almas aquticas a animais terrestres, as almas terrestres a volteis,
as almas areas a homens
O que, alm de ser uma prefigurao das teorias evolucionistas, que
pretendem que as espcies no so fixas, no uma doutrina Hermtica
propriamente dita se a tem de uma maneira no alegrica, e no se
repete ao longo desta obra, nem de outros tratados postos sob a
avocao de Hermes. De todas as maneiras, no pargrafo 19 se sublinha
que nenhuma alma humana pode encarnar num corpo animal. O que
definitivamente contrariado no pargrafo 8 onde se afirma que a alma
do mpio segue
uma ordem involutiva: seno que, voltando atrs, percorre ao
inverso o caminho que seguiu, que conduz at os rpteis.
Pessoalmente pensamos que esta contradio num mesmo texto, a
poucas pginas de onde se afirmava o oposto, foi uma das causas mais
importantes da subestimao atual do Poimandres entre os estudiosos.
Na realidade, a afirmao veemente de 19: a alma humana no reencarna
de maneira animal, que contradiz a teoria
evolucionista-involucionista de 7-8 igualmente prpria do hermetismo
posterior ao Corpus. Nesse caso o que se descreve ali (7-8) poderia
tambm ser uma utilizao metafrica da linguagem aonde se queria dar
uma viso da Alma Universal cuja energia se individualiza num ser
que anlogo aos macrocosmos tem componentes universais que
correspondem a estados distintos do Ser Universal. Entretanto no se
mencionam outros "reinos" onde a alma possa encarnar, como o
mineral, ou melhor, no vegetal, que a simples vista est animado. No
animal coincide com o dito por Porfrio a respeito de Pitgoras, em
sua Vida do Pitgoras: era especialmente notria sua afirmao de que a
alma, em primeiro lugar era imortal, e logo se transladava a outras
espcies de seres vivos, tambm assegurava que tudo o que de ndole
animada existia era necessrio se considerar da mesma parentela"
Por outra parte, tanto na obra de Porfrio, como na de Jmblico,
do mesmo ttulo, destaca-se uma particular relao com os animais
(Jmblico XIII, 60; Porfrio 23-25). Quanto a sua lembrana de vidas
passadas estes autores so unnimes em destac-lo, e era to bvia sua
crena que, refere-se, interrogava s pessoas sobre esse tema. Quanto
a Plato, citamos aqui alguns pargrafos com os quais fecha o
Timeu37:A espcie terrestre e bestial nasceu dos que no praticavam
absolutamente a filosofia nem observavam nada da natureza celeste
porque j no utilizavam as revolues que se encontram na cabea, mas
sim tinham como governantes s partes da alma que aninham no tronco.
Por causa destes costumes, inclinaram os membros superiores e a
cabea para a terra, empurrados pela afinidade, e suas cabeas
obtiveram formas alargadas e mltiplas, conforme tivessem sido
comprimidas as revolues de cada uma pela inatividade. Por esta razo
nasceu o gnero dos quadrpedes e do de ps mltiplos, quando deus deu
mais pontos de apoio aos mais insensatos, para arrast-los mais para
a terra. Aos mais torpes entre estes, que inclinavam todo o corpo
para a terra, como j no tinham nenhuma necessidade de ps os
engendraram sem ps e arrastando-se sobre o
cho. A quarta espcie, a aqutica, nasceu dos mais carentes de
inteligncia e mais ignorantes; aos que, quem transformava os
homens, no se consideraram nem sequer dignos de ar puro, porque
eram impuros em sua alma devido absoluta desordem, seno que os
empurraram a respirar gua turva e profunda em vez de ar suave e
puro. Assim nasceu a raa dos peixes, dos moluscos e dos animais
aquticos em geral, que receberam os habitculos extremos como
castigo por sua extrema ignorncia. Desta maneira, todos os animais,
ento e agora, convertem-se uns em outros e se transformam segundo a
perda ou aquisio de inteligncia ou demncia.
Isto, da mesma forma, pode ser tomado literalmente ou de modo
metafrico ou alegrico como uma imagem da degradao da alma que cai
na materialidade numa descida atravs de diferentes espcies animais.
Por sua parte Plotino em seu Enadas tambm parece acreditar em
transmigraes para o animal, poder-se-ia dizer que de modo quase
literal: quantos viveram s pela sensao, renascem animais; e sano
das almas que se reencarnam em bestas, quem assiste? Algum inferior
a um demon? (III 4.2, 15-20; e 6, 15-20).
Por isso a possvel leitura alegrica do Poimandres X, 7-8 no
sentido de que a alma do homem participa da Alma Universal e como
ela, devido analogia macro-microcosmo, conhece estados que
compartilha com o Universo, j que ambos participam de um mesmo
projeto, idia que est presente em outras partes do Corpus no
tampouco clara, embora isso no quer dizer que forosamente se tenha
que tomar como literais s metamorfoses hierrquicas descendentes que
so descritas. O certo que este tipo de crena era habitual, em
geral, nos meios neoplatnicos e neopitagricos onde presumivelmente
se originou o Corpus Hermeticum. Deve-se destacar que tanto para o
pensamento hermtico, quanto para as doutrinas tradicionais em geral
a transmigrao da alma considerada de modo vertical e associada
sempre com a transmutao que esta sofre no processo Alqumico onde
conhece outros estados do Ser Universal. Isto se deve Tradio
Hermtica considerar sempre o estado e tempo presente como condio
dessa transmutao, reflexo do Eterno Presente, onde tanto o passado
como o futuro so inexistentes. No h outra alternativa que assumir
hoje o processo vital e encarn-lo sacudindo-se os indefinidos
sonhos, as iluses e os condicionamentos, e enfrentar
agora mesmo a Iniciao, nica e verdadeira realizao do ser humano,
totalmente alheia a qualquer colocao ou veleidade
reencarnacionista.38 (em construo) NOTAS10
Plutarco (46-120): Vidas Paralelas e Moralia, que inclui o De
sis e Osiris. Nesta escreve: "Conforme se diz, nas obras
intituladas 'Livros de Hermes' ao tratar dos nomes sagrados se
afirma que o poder que regula a circunvoluo do sol chamado Hrus
pelos egpcios, e designado pelos gregos com o nome de APOLO". Isis
y Osiris, 61. Ed. Glosa, Barcelona 1976, pg. 46. Jmblico (S. I),
neoplatnico: "O conjunto foi completamente exposto por Hermes em
seus livros." (Jamblique: Les mystres d'Egypte. Les Belles Lettres,
Pars 1989). "Mas se propuser alguma pergunta filosfica,
respondla-emos para ti tambm segundo as antigas estelas de Hermes,
que j Plato e anteriormente Pitgoras tinham escrutado para
constituir sua filosofia." (ibid. I, 1). H. C. Puech, fala-nos de
um comentrio sobre o Fedro do qual autor Hermias de Alexandria (sc.
V) no qual se destaca a Hermes Trismegisto. (Ver En qute de la
Gnose. I La Gnose et le temps, cap.: "Hermes trois fois incarn".
Gallimard, Pars 1978.) muito significativo que a Apuleio
(114/125?-160/170?) -De Plato e sua doutrina, Do mundo, Sobre o
deus de Scrates, As Metamorfoses ou O Asno de Ouro, fosse atribuda
a paternidade do Asclpio; de fato se o considerava por um lado como
um filsofo platnico, tal o fez Santo Agostinho, por outro, como um
iniciado egpcio de influncias "hermetizantes" e, por ltimo, como um
mago, ou melhor, um teurgo, do qual por outra parte foi acusado e
teve que defender-se, o que deu lugar a sua obra Apologia, sua
alegao por escrito de defesa. Proclus: Sur le Premier Alcibiade de
Platon, T. II, pgs 253-254. Les Belles Lettres, Pars 1986. Texto
estabelecido e traduzido por A. Ph. Segonds, quem recorda em nota
um pouco antes, remetendo-se ao Plato (Rep. III 412), a comparao da
alma com uma lira da qual msica e ginstica so as cordas. Sobre o
tema das esttuas mgicas ver Raimon Arola: Las Estatuas vivas.
Obelisco, Barcelona 1995. Escritor latino cristo (250-325) discpulo
de Arnbio. "Trismegisto, de fato, que investigou no sei de que modo
quase toda a verdade, descreveu com freqncia a virtude e majestade
do verbo". Instituies divinas, IV 9. 3. "Pois bem, tratava-se de um
homem, embora muito antigo e to instrudo em todo tipo de doutrina
que seus conhecimentos em muitos temas e artes determinaram que se
lhe pusesse o nome de Trismegisto. Escreveu livros e concretamente
muitos deles referentes ao conhecimento de temas divinos; ". Ibid.,
I 6. 3-4.
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Zsimo de Panpolis (S. III), filsofo, mago e alquimista. Cita o
Crtera e outros textos em A conta final. Telogo grego doutor da
Igreja (meados do sc. V). Foi patriarca de Alexandria (376-444). Em
seu Contra Julianum, I 30: "Estimo tambm digno de memria o egpcio
Hermes ao qual seus contemporneos, como sinal de honra, concederam,
diz-se, o ttulo de trs vezes grande e ao qual alguns assimilam ao
legendrio filho do Jpiter e Maia." (F. Bonardel, L'Hermtisme,
P.U.F., Paris 1985). Tambm a mesma autora nos fala de que Ccero
(102-43 A. C.) em sua De natura deorum (III, 22) diz: "Os egpcios
lhe chamam Thoth e com essa mesma denominao que designam o primeiro
ms do ano". (Ibid). Miguel Pselos (1018-1096) menciona em sua obra
a Hermes Trismegisto e seus livros e presta especial ateno aos
chamados Orculos Caldeus, aos quais comenta. Proclus: Thologie
platonicienne. Livre I. Les Belles Lettres, Pars 1968. Segundo
Bentley Layton, em seu livro The Gnostic Scriptures (Doubleday
& CO., New York 1987, intr. pg. xVI), uma das duas correntes
mais importantes do pensamento de Valentin, por sua vez o mais
importante dos tegonos do pensamento gnstico, foi constituda pelos
escritos Hermticos. Ver tambm A. Orbe S. J., Teologa de San Ireneo,
BAC, Madrid 1985-88, 3 vol. Ver Oracles Chaldaques, traduo,
comentrios e notas E. Les Places. Les Belles Lettres. Pars 1989. H
verso castelhana com introduo, comentrio e notas do F. Garca Bazn
(Ed. Gredos. Madrid 1991). Observe-se a analogia destes textos com
alguns papis dos Hermtica com os quais compartilham
fundamentalmente a mesma cosmogonia, embora ambos os ensinos se
acham muito diferenciadas entre eles dado o carter incompleto,
misterioso e oracular dos textos "caldeus", mas com elementos
comuns, tambm presentes nas gnoses, dualistas ou no, no
neoplatonismo, e no cristianismo, sem nomear outras correntes
orientais coincidentes fora do Egito e Caldia na poca alexandrina
como o hindusmo e inclusive o budismo. Edio castelhana com
introduo, traduo e notas de J. L. Calvo y M D. Snchez. Ed. Gredos.
Madrid 1987. No livro citado na nota anterior, coleo de documentos
dos primeiros sculos da era crist, Hermes chamado "fundador dos
deuses", fala-nos tambm de um Hermes subterrneo e se lhe chama como
Trismegisto, o Deus de grande pensamento (papiro VII, 29-550);
igualmente, fala-se do corao de Hermes associando-o ao "orvalho de
todos os deuses" e como fundador da lngua, e se lhe invoca para
prticas mgicas que vo do pedido de uma iluminao ou um sonho at um
encantamento para apanhar um ladro. Ver R. Gunon: "La Tumba de
Hermes", trad. em Symbolos n 17-18, 1999. Ver Jean Doresse:
Historia de las Religiones, dirigida por H. Ch. Puech. Tomo 6, cap.
"El Hermetismo Egipcianizante". Siglo XXI, Madrid 1979.
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23
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25 26
27
Alquimia. Titus Burckhardt. Ed. Paids, Barcelona 1994; pg. 187.
[Ver tambin, de outra autoria, Herms Trismgiste: La Table d'meraude
et sa tradition alchimique. Les Belles Lettres, Pars, 1994, prface
de D. Kahn]. Historia de la Filosofa Islmica, Henry Corbin. Ed.
Trotta, Madrid 1994. " impossvel citar aqui os ttulos das obras que
figuram na tradio hermtica do Isl: tratados atribudos a Hermes, a
seus discpulos (Ostans, Zsimo, etc.), tradues" "No obstante,
preciso mencionar de forma particular o ttulo de duas grandes obras
hermticas rabes: 1) O Livro secreto da Criao e tcnica da Natureza
(sirr al-khlika) foi elaborado sob o califa Ma'mn (218/833) por um
muulmano annimo que o ps sob a denominao de Apolnio de Tiana. o
tratado que termina com a clebre 'Tbua de Esmeralda', Tabula
Smaragdina (deve se relacionar com o Livro dos tesouros,
enciclopdia de cincias naturais, redigida na mesma poca por Job de
Edessa, mdico nestoriano da corte abssida). 2) O objetivo do sbio
(Ghayt al-Hakm, erroneamente atribudo a Maslama Majrt, 398/1007).
Este tratado contm, alm de informaes muito valiosas sobre as
liturgias astrais dos sabeus, todo um ensinamento sobre a 'Natureza
Perfeita', atribuda a Scrates." "A viso que Hermes teve de sua
Natureza Perfeita comentada por Sohravard, e depois dele por toda a
escola ishrq (infra, VII), at o Moll Sadr e os discpulos de seus
discpulos." "pode-se seguir o rastro da 'Natureza Perfeita' sob
outros nomes: a ela a quem busca o peregrino das epopias msticas
persas de 'Attr; voltamo-la a encontrar na escola de Najm Kobr,
designada como 'Testemunha do Cu' ou 'guia invisvel'." " sem dvida
graas ao hermetismo que toda uma estirpe de sbios do Isl pde tomar
conscincia desse 'eu celeste', 'eu em segunda pessoa', que
constitui o fim de sua peregrinao interior, quer dizer, de sua
realizao pessoal." (P. 125-126). O mesmo poderia afirmar-se
daqueles que puderam aceder sabedoria hermtica por meio da Maonaria
e seu rito. Com respeito a Sohravard, notvel metafsico islmico
Henri Corbin em outra obra, O homem e seu anjo, diz-nos: "Trs
grandes nomes elogiados em sua obra como profetas guiam a inspirao
de Sohravard: Hermes, Zoroastro e Plato". Para a cosmogonia egpcia
ver Lucie Lamy: Misterios egipcios (Ed. Debate, Madrid 1989), e
Manfred Lurker: An Illustrated Dictionary of The Gods and Symbols
of Ancient Egypt (Thames & Hudson, London 1995); tambm Sacred
Science, The King of Pharaonic Theocracy, R. A. Schwaller de
Lubicz. Inner Traditions International, N. York 1982, Le Calendrier
Egyptien, une Oeuvre d'Eternit, Dr. A. S. von Bomhard, Periplus
Publishing, London 1999, Prefcio de Jean Yoyotte; etc. No Isl estes
"solitrios" esto diretamente vinculados com os frad, que esto sob o
amparo de El-Khidr. Esta entidade, que est viva, pode ser associada
ao profeta Elias que tambm permanece vivo (Elias Artista um dos
patronos da Alquimia), tal como Enoque, que foi arrebatado ao cu
num carro de fogo sem passar pela morte, o qual por sua vez o
profeta Idris (=Hermes). "Ouvi-me, poderosos libertadores!
Concedei-me, pela compreenso dos livros divinos e dissipando a
treva que me rodeia, uma luz pura e Santa a fim de que possa
compreender com claridade ao Deus incorruptvel e
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tambm ao homem que eu sou". Hinos, IV. Proclo.33
"A unidade geral das doutrinas expostas nos livros hermticos
permite referir-se a uma mesma escola". Herms Trismgiste. Louis
Mnard. Guy Trdaniel, Paris 1977. Hermetica. Brian P. Copenhaver.
University Press, Cambridge 1995. Ed. castelhana, Corpus Hermeticum
y Asclepio: Siruela, Madrid 1999. Pierre Mahe. Bibliothque Copte de
Nag Hammadi. 2 T. Les Presses de l'Universit Laval, Quebec 1978-82.
H tambm traduo inglesa: The Nag Hammadi Library, J. M. Robinson
(ed.). HarperCollins, N. York 1990. A lista completa dos textos
hermticos desta biblioteca que J. Doresse a quem seguimos nisto
chama de Khenoboskion, inclui vrios ttulos fora o Asclpio 21-29.
Ver L'Evangile selon Thomas. Editions du Rocher, Paris 1988. Walter
Scott. Hermetica. Shamballa, Boston 1993. (Timeu 91-92). Dilogos,
vol. VI. Gredos, Madrid 1992. Ver para este tema: Ren Gunon.
L'Erreur Spirite, cap. "La rincarnation". Ed. Traditionnelles,
Paris 1991, e Ananda K. Coomaraswamy, What is Civilization? caps.
6, 7 e 8.
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36 37 38
TRADIO HERMTICA E MAONARIA (1)FEDERICO GONZALEZ
No antigo manuscrito manico Cooke, (cerca de 1.400) da
BibliotecaBritnica, l-se nos pargrafos 281-326 que toda a sabedoria
antediluviana foi escrita em duas grandes colunas. Depois do dilvio
de No, uma delas foi descoberta por Pitgoras, a outra por Hermes, o
Filsofo, que se dedicaram a ensinar os textos ali gravados. Isto se
encontra em perfeita concordncia com o testemunhado por uma lenda
egpcia, da qual j dava conta Manethon, segundo o mesmo Cooke,
vinculada tambm com Hermes. bvio que essas colunas, ou obeliscos,
semelhantes aos pilares J. e B., so as que sustentam o templo
manico e, ao mesmo tempo, permitem o acesso ao mesmo e configuram
os dois grandes afluentes sapienciais que nutriro a Ordem: o
hermetismo, que assegurar o amparo do deus atravs da Filosofia,
quer dizer do Conhecimento, e o pitagorismo, que dar os elementos
aritmticos e geomtricos necessrios, que reclama o simbolismo
construtivo; deve-se considerar que ambas as correntes so direta ou
indiretamente de origem egpcia. Igualmente que essas duas colunas,
so as pernas da Me loja, pelas quais parido o Nefito, quer dizer
pela sabedoria de Hermes, o grande iniciador, e por Pitgoras, o
instrutor gnstico.
De fato, na mais antiga Constituio Manica editada, a de Roberts
publicada na Inglaterra em 1722 (portanto anterior de Anderson),
mas que no mais que a codificao de antigos usos e costumes
operativos que derivam da Idade Mdia, e que sero desenvolvidos
posteriormente na Maonaria especulativa, menciona-se
especificamente a Hermes, na parte chamada "Histria dos
Franco-maons". Efetivamente, ali aparece na genealogia manica com
esse nome e tambm com o de Grande Hermarmes, filho de Sem e neto de
No, que depois do dilvio encontrou as j mencionadas colunas de
pedra onde se achava inscrita a sabedoria antediluviana (atlntica)
e l (decifra) numa delas o que em seguida ensinar aos homens. O
outro pilar, como se mencionou, foi interpretado por Pitgoras
enquanto pai da Aritmtica e da Geometria, elementos essenciais na
estrutura da loja, e portanto ambos os personagens formam, como
vimos, a "alma mater" da Ordem, em particular em seu aspecto
operativo, ligado s Artes liberais. No manuscrito Grand Lodge n 1
(1583) s subsiste a coluna de Hermes, reencontrada pelo "Grande
Hermarines" (a quem se faz descendente de Sem) "que foi chamado
mais tarde Hermes, o pai da sabedoria". Note-se que Pitgoras no
figura j como o intrprete da outra coluna. No manuscrito Dumfries n
4 (C. 1710) tambm aparece, como "o grande Hermorian", "que foi
chamado 'o pai da sabedoria' ", mas, neste caso, retificou-se sua
origem de acordo com o texto bblico que o faz descendente de Cam e
no de Sem, por intermdio de Kush; como diz J.F. Var em La
franc-maonnerie: documents fondateurs, Ed. L'Herne, P. 207, N. 33:
"Agora, na Gnese (10, 6-8), Kush o filho de Cam e no de Sem. O
redator do Dumfries retificou conseqentemente a filiao. Ao mesmo
tempo, esta filiao resulta em ser a que a Escritura d com relao a
Nemrod. Daqui a assimilao de Hermes com Nemrod, contrariamente a
outras verses que fazem deles dois personagens distintos." Assim o
destaca tambm o manuscrito chamado Regius, descoberto por Haliwell,
no Museu Britnico em 1840, ao qual reproduz J. G. Findel na Histria
Geral da Franco-maonaria (1861), em sua extensa primeira parte que
trata das origens at 1717, embora nele no se inclua Pitgoras como o
hermeneuta que, junto com Hermes, decifra os mistrios que sero
herdados pelos maons, seno a Euclides, a quem se faz filho de
Abrao; a este respeito, deve se recordar que o teorema do tringulo
retngulo de Pitgoras foi enunciado na proposio quarenta e sete de
Euclides. O mesmo Findel, referindo-se quantidade de elementos
gnsticos e operativos que constituem a Maonaria, e concretamente
ocupando-se
dos canteiros alemes, afirma: "Se a conformidade que resulta
entre o organismo social, os usos e os ensinos da franco-maonaria e
os das companhias de maons da Idade Mdia j indica a existncia de
relaes histricas entre estas diversas instituies, os resultados das
investigaes feitas nos arcanos da histria e o concurso de uma
multido de circunstncias irrecusveis estabelecem de modo positivo
que a Sociedade dos Franco-maons descende, direta e imediatamente,
daquelas companhias de maons da Idade Mdia." E adiciona: "a histria
da franco-maonaria e da Sociedade dos Maons est por isso mesmo
intimamente unida das corporaes de maons e histria da arte de
construir na Idade Mdia; , pois, indispensvel dirigir um rpido
olhar sobre esta histria para chegar a que nos ocupa." O
interessante destas referncias provenientes da Alemanha que sua
Histria Geral... considerada como a primeira histria (no sentido
moderno do termo) da Maonaria, e desde o comeo o autor estabelece
que: "a histria da Franco-maonaria, assim como a histria do mundo,
tem sua base na tradio" 1. Desta forma resulta bvio que os Antigos
Usos e Costumes, os smbolos e os ritos e os segredos do ofcio,
transmitiram-se sem soluo de continuidade desde datas muito remotas
e certamente nas corporaes medievais, e a passagem do operativo ao
especulativo no foi seno a adaptao de verdades transcendentes a
novas circunstncias cclicas, fazendo notar que o termo operativo no
s se refere ao trabalho fsico ou de construo, projeo ou
planejamento material e profissional das obras, mas tambm
possibilidade de que a Maonaria opere no iniciado o Conhecimento,
por meio das ferramentas proporcionadas pela Cincia Sagrada, seus
smbolos e ritos. Precisamente isto o que procura a Maonaria como
Organizao Inicitica, e o confirma na continuidade da passagem
tradicional, que faz com que, igualmente, seja encontrada na
Maonaria especulativa, de modo reflexo, a virtude operativa e a
comunicao com a loja manica Celeste, quer dizer, a recepo de seus
eflvios que so os que garantem qualquer iniciao verdadeira,
principalmente quando os ensinos so emanados do deus Hermes e do
sbio Pitgoras. 2 De todas as maneiras, tanto uma quanto outra so os
ramos de um tronco comum que tem os Old Charges (Antigos Deveres)
como modelo; destes se encontraram numerosos fragmentos e
manuscritos em forma de cilindro do sculo XIV em diversas
bibliotecas. 3 Quanto a Hermes, no mencionado nas constituies de
Anderson, em particular o Hermes Trismegisto grego (o Thot egpcio),
uma figura to familiar Maonaria dos mais distintos ritos e
obedincias como o poderia ser para os alquimistas, forjadores da
imensa literatura posta sob
seu patrocnio. No s o Hermetismo o tema de abundantes pranchas e
livros manicos, e inumerveis lojas manicas se chamam Hermes, mas
tambm existem ritos e graus que levam seu nome. Assim, h um Rito
chamado os discpulos de Hermes; outro o Rito Hermtico da loja Me
Escocesa de Avignon (que no a de Dom Pernety), Filsofo de Hermes o
ttulo de um Grau cujo catecismo se encontra nos arquivos da "loja
dos amigos reunidos de So Luis", Hermes Trismegisto outro grau
arcaico do qual nos d conta Ragn, Cavaleiro Hermtico uma hierarquia
contida em um manuscrito atribudo ao irmo Peuvret onde tambm se
fala de outro denominado Tesouro Hermtico, que corresponde ao grau
148 da nomenclatura chamada da Universidade, aonde existem outros
como Filsofo Aprendiz Hermtico, Intrprete Hermtico, Grande
Chanceler Hermtico, Grande Tesofo Hermtico (correspondente ao grau
140), O Grande Hermes, etc. Igualmente no Rito do Memphis o grau 40
da srie Filosfica se chama Sublime Filsofo Hermtico, e o grau 77 (9
srie) do Captulo Metropolitano nomeado Maom Hermtico. No faltam
tampouco na atualidade, em revistas e dicionrios manicos,
referncias diretas Filosofia Hermtica e ao Corpus Hermeticum, 4
onde esta se encontra fixada, seno que incluem analogias com a
terminologia alqumica; eis aqui um s exemplo tirado do Dictionnaire
de la franc-maonnerie de D. Ligou (pg. 571): "Citaremos uma
interpretao hermtica de alguns termos utilizados no vocabulrio
manico: Enxofre (Venervel), Mercrio (1. Vigilante), Sal (2.
Vigilante), Fogo (Orador), Ar (Secretrio), gua (Hospitaleiro),
Terra (Tesoureiro). Encontram-se aqui os trs princpios e os quatro
elementos dos alquimistas." Por isso que Hermes e o Hermetismo so
referncias habituais na Maonaria, como o so tambm Pitgoras e a
geometria. Por outra parte ambas as correntes histricas de
pensamento derivam atravs da Grcia, Roma e Alexandria, do Egito
mais remoto e por seu intermdio da Atlntida e da Hiperbrea, como em
ltima instncia acontece com toda Organizao Inicitica, capaz de
religar o homem com sua Origem. E naturalmente que esta
impressionante genealogia na qual esto compreendidos os deuses, os
sbios (sacerdotes) e os reis (tanto de Tiro e Israel, quanto da
Esccia: a realeza no desdenhava a construo e o rei era mais um
mestre operativo) forma um mbito sagrado, um espao interior
construdo de silncio, lugar onde se efetivam todas as virtualidades
e, assim, pode refletir o Ser Universal de modo especu