1 COMPORTAS VAGÃO DE JUSANTE PARA PROTEÇÃO DE TURBINAS DE BAIXA QUEDA DOWNSTREAM FIXED WHEEL GATE FOR LOW HEAD TURBINES PROTECTION Adailson Vieira de Paula, ALSTOM Hydro França, Anselmo Monteiro Ilkiu, ALSTOM Hydro Brasil, Benedito Sérgio Rodrigues, ALSTOM Hydro Brasil, Gilvan César de Castro Correard, ALSTOM Hydro Brasil, Jacques Brémond, ALSTOM Hydro França, Ricardo Vasconcellos, ALSTOM Hydro Brasil. Resumo Este artigo apresenta a aplicação de comportas vagão de jusante, utilizadas como dispositivo de proteção de turbinas de baixa queda. Afim de melhor ilustrar a aplicação, são apresentados alguns detalhes de operação e também construtivos da comporta vagão instalada a jusante da turbina Bulbo da UHE Santo Antonio. Introdução Com a diminuição da disponibilidade dos recursos hídricos na região centro-sul do Brasil, estamos experimentando um crescente avanço dos aproveitamentos hidrelétricos em direção à região norte, onde predominarão as usinas de baixa queda com máquinas do tipo Kaplan e Bulbo. Estas usinas caracterizam-se por operarem sob baixas quedas e grandes vazões e por conseqüência tem turbinas de grande diâmetro e tubos de sucção de grandes dimensões. Em geral, a casa de força e a tomada d’água destas usinas estão montadas em uma única estrutura. Normalmente estas usinas não possuem conduto forçado e válvulas de proteção. A proteção das usinas com turbinas Kaplan é feita por comporta vagão colocada a montante ou a jusante destas, enquanto que para usinas com máquinas Bulbo a comporta é sempre colocada à jusante. Em turbinas Kaplan, dependendo das dimensões, a tomada d’água e o tubo de sucção são divididos em dois ou três vãos. Já nas turbinas Bulbo, independente da dimensão do tubo de sucção, se tem sempre um único vão. A disposição da comporta a jusante da turbina proporciona um fechamento de emergência sem instabilidade para a máquina, que pode ser parada em completa segurança. Além disto, esta disposição pode permitir outras funções, desde que devidamente previsto na especificação do cliente : comporta ensecadeira, dispositivo de controle da unidade e descarregador. As condições operacionais da comporta de jusante envolvem requisitos específicos a serem levados em consideração no projeto, dos quais citamos: - Guiamento da comporta usando roda guia lateral com mola, para suportar os esforços laterais induzidos pelo escoamento; - Rodas principais montadas sob dois rolamentos autocompensadores de rolos, para baixo atrito, bom alinhamento e resistência às cargas laterais;
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COMPORTAS VAGÃO DE JUSANTE PARA PROTEÇÃO DE TURBINAS DE BAIXA
QUEDA
DOWNSTREAM FIXED WHEEL GATE FOR LOW HEAD TURBINES PROTECTION
Adailson Vieira de Paula, ALSTOM Hydro França,
Anselmo Monteiro Ilkiu, ALSTOM Hydro Brasil,
Benedito Sérgio Rodrigues, ALSTOM Hydro Brasil,
Gilvan César de Castro Correard, ALSTOM Hydro Brasil,
Jacques Brémond, ALSTOM Hydro França,
Ricardo Vasconcellos, ALSTOM Hydro Brasil.
Resumo
Este artigo apresenta a aplicação de comportas vagão de jusante, utilizadas como dispositivo de
proteção de turbinas de baixa queda.
Afim de melhor ilustrar a aplicação, são apresentados alguns detalhes de operação e também
construtivos da comporta vagão instalada a jusante da turbina Bulbo da UHE Santo Antonio.
Introdução
Com a diminuição da disponibilidade dos recursos hídricos na região centro-sul do Brasil,
estamos experimentando um crescente avanço dos aproveitamentos hidrelétricos em direção à
região norte, onde predominarão as usinas de baixa queda com máquinas do tipo Kaplan e
Bulbo.
Estas usinas caracterizam-se por operarem sob baixas quedas e grandes vazões e por
conseqüência tem turbinas de grande diâmetro e tubos de sucção de grandes dimensões.
Em geral, a casa de força e a tomada d’água destas usinas estão montadas em uma única
estrutura.
Normalmente estas usinas não possuem conduto forçado e válvulas de proteção. A proteção das
usinas com turbinas Kaplan é feita por comporta vagão colocada a montante ou a jusante destas,
enquanto que para usinas com máquinas Bulbo a comporta é sempre colocada à jusante.
Em turbinas Kaplan, dependendo das dimensões, a tomada d’água e o tubo de sucção são
divididos em dois ou três vãos. Já nas turbinas Bulbo, independente da dimensão do tubo de
sucção, se tem sempre um único vão.
A disposição da comporta a jusante da turbina proporciona um fechamento de emergência sem
instabilidade para a máquina, que pode ser parada em completa segurança. Além disto, esta
disposição pode permitir outras funções, desde que devidamente previsto na especificação do
cliente : comporta ensecadeira, dispositivo de controle da unidade e descarregador.
As condições operacionais da comporta de jusante envolvem requisitos específicos a serem
levados em consideração no projeto, dos quais citamos:
- Guiamento da comporta usando roda guia lateral com mola, para suportar os esforços
laterais induzidos pelo escoamento;
- Rodas principais montadas sob dois rolamentos autocompensadores de rolos, para
baixo atrito, bom alinhamento e resistência às cargas laterais;
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- Estas comportas têm grande largura e o projeto da vedação de frontal deve compensar
as deflexões da estrutura, para assegurar a vedação;
- Montagem das seções da comporta por tirantes, porcas esféricas e arruelas,
assegurando boa flexibilidade da conexão, para uma melhor distribuição da carga
sobre as rodas principais.[1]
Como marco no avanço dos empreendimentos hidrelétricos brasileiros para a região Norte,
podemos citar o complexo do Rio Madeira, formado pelas UHE Santo Antonio e UHE Jirau.
Na sequência deste artigo apresentam-se mais detalhes da comporta vagão a jusante da UHE
Santo Antônio.
Figura 1 - Tipica usina com turbina Kaplan Comporta Vagão a montante
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Figura 2 - Tipica usina com turbina Kaplan e Comporta Vagão a jusante
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Figura 3 – Tipica usina com turbina Bulbo e Comporta Vagão a jusante
Comporta Vagão de Jusante da UHE Santo Antonio
A UHE Santo Antonio localizada no Rio Madeira é dotada de 44 turbinas bulbo de potência
máxima 75,55 (MW) que operam sob queda líquida nominal de 13,9 (m) e vazão normal máxima
de 604,5 (m³/s).
Para proteção destas turbinas, cada unidade é dotada de uma comporta vagão de emergência de
jusante, de dimensões livres L x H = 13,88 x 13,88 (m), projetada para, em casos emergenciais,
interromper o fluxo correspondente à máxima vazão pela turbina, sob ação de seu peso próprio.
A comporta está dimensionada para uma carga de 31,9 (mca) como comporta vagão e 39,1 (mca)
como comporta ensecadeira.
Para permitir uma manutenção mais complexa da comporta, em que haja a necessidade de retirar
a mesma da ranhura, a UHE Santo Antonio conta com comportas ensecadeiras que utilizam a
mesma ranhura da comporta vagão, permitindo ensecar o tubo de sucção para que a turbina possa
ser reparada simultaneamente.
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Devido às grandes dimensões da comporta, sua execução demandou o estudo e aplicação de
soluções de engenharia, fruto da experiência e dos avanços tecnológicos do fabricante.
O desafio foi construir um equipamento seguro o suficiente para cumprir sua função de proteção
de emergência e ao mesmo tempo ser economicamente viável.
Figura 4 – Desenho de implantação de UHE Santo Antonio
Principais Características da Comporta
A comporta vagão do tubo de sucção da UHE Santo Antonio foi calculada, projetada e
construída com os seguintes dados técnicos:
Vão Livre: 13880 (mm)
Altura Livre: 13880 (mm)
Vão Vedado como Comporta Ensecadeira: 14270 (mm)
Vão Vedado como Comporta Vagão: 14030 (mm)
Vão entre rodas principais: 14992 (mm)
Altura vedada como Comporta vagão: 14250 (mm)
Altura vedada como Comporta Ensecadeira: 14370 (mm)
Elevação da soleira: 26.41 (m)
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Nível d’Agua Máximo Normal de Montante: 70,00 (m)
Nível d’Agua Máximo Maximórum de Montante: 72,00 (m)
Nível d’Agua Mínimo de Jusante: 44,94 (m)
Nível d’Agua Máximo Normal de Jusante: 55,80 (m)
Nível d’Agua Máximo Maximórum de Jusante: 65,26 (m)
Critérios de Projeto
O equipamento foi projetado conforme critérios de projeto e funcionamento estabelecidos pelas
especificações do cliente e dimensionado conforme a norma NBR 8883.
Detalhes Construtivos
Figura 5. Tabuleiro da Comporta Vagão da UHE Santo Antonio
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Tabuleiro
O tabuleiro da comporta é composto de cinco painéis.
O painel inferior da comporta tem um perfil especial para se assentar sobre a soleira, que
tem as extremidades mais elevadas, para evitar o depósito de detritos. Adicionalmente a
instalação tem um sistema de limpeza do fundo das ranhuras.
A escolha por esta concepção, objetiva ter uma estrutura onde cada painel é uma estrutura
isostática e temos a garantia da distribuição da carga igualmente pelas rodas. Além disto,
este número de painéis foi selecionado estudando-se as necessidades de fabricação,
transporte, montagem, carga nas rodas, etc.
Considerando que a comporta tem dupla função, como comporta vagão, cada painel tem
quatro rodas montadas bi-apoiadas nas vigas de cabeceira. Como comporta ensecadeira,
as cabeceiras laterais descarregarão a carga do painel sobre o caminho de deslizamento.
Figura 6. Vista de jusante da comporta vagão de jusante da UHE Santo Antonio
Vedação
O sistema de vedação da comporta foi concebido de forma a garantir a estanqueidade de
montante para jusante, com a comporta operando como vagão e de jusante para montante,
com a comporta operando como ensecadeira.
Para cumprir estas funções, a vedação lateral da comporta é composta de nota musical de
duplo bulbo.
A vedação frontal, do tipo duplo bulbo e dupla haste é fixada ao paramento do painel
superior.
Entre os painéis a vedação é assegurada por borrachas chatas.
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Rodas Principais
Cada comporta é dotada de vinte rodas principais, sendo quatro por cada um dos cinco
painéis. Cada roda principal é montada com dois rolamentos autocompensadores de rolos
em eixo de aço inoxidável. As rodas têm a superfície de rolamento abaulada com raio de
abaulamento de 15 vezes o raio da roda.
Esta concepção foi selecionada pelo fabricante para ter uma maior garantia de que não
haverá travamento das mesmas durante os movimentos da comporta, especialmente no
fechamento de emergência, onde se tem uma velocidade mais elevada.
Roda Guia Lateral
Cada comporta é dotada de quatro rodas guia lateral com mola. A roda guia lateral tem a
função primordial de absorver as cargas laterais impostas pelo escoamento.
Figura 7 – Detalhe das rodas e vedação lateral
da Comporta vagão da UHE Santo Antonio
Ligação entre Elementos
Os painéis da comporta são ligados entre si por meio de sapatas articuladas e tirantes de
aço inoxidável.
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Ligação com o Cilindro Hidráulico
Cada Comporta é ligada ao cilindro hidráulico através de um conjunto de hastes
intermediárias, que se acoplam ao tabuleiro por meio de um olhal no painel inferior.
Figura 8. Comporta vagão da UHE Santo Antonio durante apresentação em fábrica
Peças Fixas de 2ª Concretagem
As peças fixas de 2ª concretagem são compostas de caminho de rolamento a jusante,
caminho de deslizamento a montante, soleira, frontal e guia lateral.
O caminho de rolamento é composto de um perfil tipo I com pista de aço inoxidável
temperado e revenido.
O caminho de deslizamento é composto de chapa para apoio da comporta na função
ensecadeira e pista de inox para apoio da vedação lateral e cabeceira da comporta.
A peça de soleira é composta de uma parte plana central e duas partes inclinadas laterais.
A face da soleira em contato com a vedação inferior da comporta será de aço inoxidável.
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A peça frontal, posicionada a montante, abriga a chapa de inox de apoio da vedação
frontal.
A peça fixa de guia lateral, onde se apóia a roda guia lateral da comporta é composta de
um perfil tipo U de aço inoxidável.
Cilindro Hidráulico
Cada comporta é manobrada por um cilindro hidráulico de simples efeito a tração, de
diâmetro 480 x 170 (mm) e curso 14750 (mm).
O cilindro hidráulico é apoiado sobre a viga suporte através de flange intermediário no
corpo do mesmo.
Figura 9. Montagem do cilindro hidráulico
Esta comporta tem as seguintes funções:
Em caso de emergência, sob ação de seu peso próprio, operar como comporta vagão para
interromper o fluxo pela turbina. Neste caso é imposta sobre a comporta uma carga
correspondente à diferença entre os níveis de montante e de jusante, acrescida de uma
sobrepressão decorrente do fechamento de emergência da comporta. O fechamento de
emergência é realizado sem paradas intermediarias no fluxo, obedecendo a uma lei de
manobra pré-estabelecida.
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Em caso de manutenção da turbina, operar como comporta ensecadeira para permitir o
esvaziamento do tubo de sucção.
Esta comporta opera sob as seguintes condições operacionais:
Abertura
A abertura da comporta é obtida pela aplicação de óleo sob pressão na câmara inferior do
cilindro hidráulico. Cada Comporta é acionada por um cilindro hidráulico e respectiva unidade
hidráulica, que tem capacidade para operar duas comportas. A comporta é aberta após a parada
da turbina, sob pressões equilibradas. O equilíbrio de pressões é obtido pela abertura da válvula
de enchimento do tubo de sucção e confirmado por um sistema detector, que habilita a abertura
da comporta.
O movimento de abertura estará intertravado com a posição das palhetas diretrizes da turbina.
A abertura somente é autorizada estando ambas, as palhetas e as portas de inspeções
fechadas.
Fechamento Normal
Esta operação é realizada com a turbina hidráulica parada.
O movimento de fechamento normal estará intertravado com a posição das palhetas diretrizes
da turbina. O fechamento normal somente é autorizado estando as palhetas fechadas.
O comando de fechamento é dado a partir do quadro elétrico da sala de operação.
Fechamento de Emergência
O cilindro hidráulico suportará todas as forças hidráulicas e de gravidade, quando do
fechamento da comporta sob o fluxo máximo através das turbinas.
O fechamento de emergência será iniciado automaticamente pelo acionamento das válvulas
solenóides para fechamento das comportas. As válvulas são acionadas por:
1. Sinal de comando do SDSC;
2. Botoeira no painel de comando local da unidade;
3. Dispositivos de detecção de comporta à deriva;
4. Bloqueio hidráulico ou sobrevelocidade.
Dado a ordem de “fechamento de emergência da comporta”, as operações serão realizadas na
seguinte condição:
1º estágio – comporta 100 % aberta até 30% de abertura: Velocidade = 10,0 m/min;
2º estágio – comporta 30 % aberta até 5% de abertura: Velocidade = 3,0 m/min;
3º estágio – comporta 05 % aberta até 0% de abertura: Velocidade = 0,5 m/min;
O fechamento de emergência é continuo, sem paradas intermediarias sob fluxo.
Reposição de posição da Comporta
Quando a comporta descer involuntariamente abaixo da posição pré-determinada, 100 ou 200
(mm) desta posição, dois fins de curso (reposição 1 e reposição 2 respectivamente),
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independentes, serão atuados, acionando o grupo moto-bomba, reconduzindo a comporta a sua
posição inicial de abertura.
Quando houver falha na recuperação da posição da comporta, um terceiro fim de curso (deriva)
atuará comandando a parada da respectiva unidade geradora e o fechamento em emergência da
comporta vagão, caracterizando a condição de comporta em deriva.
Amortecimento de fim de curso
Quando a comporta, em sua operação de fechamento normal ou de emergência, estiver a 200
(mm) da soleira, a saída principal de óleo do cilindro hidráulico será bloqueada pelo êmbolo do
mesmo, obrigando, com isso, o óleo a ser escoado através da válvula de controle de fluxo
embutida no cilindro, a qual reduzirá a velocidade de descida da comporta.
Conclusão
As novas usinas brasileiras que estão em fase de estudo e que num futuro próximo se tornarão
realidade são em sua maioria destinadas às regiões norte-nordeste do país, e são do tipo baixa
queda. Todas estas usinas serão muito provavelmente equipadas com turbinas do tipo Kaplan ou
Bulbo e consecutivamente protegidas por comportas do tipo vagão, sejam elas instaladas a
montante ou a jusante.
As comportas vagão de emergência a jusante possuem um importante papel nas usinas de baixa
queda e exigem do fabricante contínuos estudos e inovações.
Para ambos os tipos de turbinas (Kaplan ou Bulbo), a escolha de um único fornecedor para
projetar e fornecer ambos os equipamentos (turbina e comporta) é certamente um meio
importante para evitar riscos devido a difícil interface entre estes produtos.
No momento da redação deste artigo, as primeiras comportas vagão de jusante da UHE Santo
Antônio já se encontram em operação, consolidando este importante desafio, uma vez que se
trata de uma das maiores comportas deste tipo atualmente em operação no mundo.
Referências Bibliográficas
[1] Magno J., Cardis M. , Paula A. V. , Choulian O. “Operational Performance and Safety