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IVOMAR GOMES DUARTE
Características dos modelos de gestão dasorganizações sociais contratadas pela Secretaria deEstado da Saúde de São Paulo para o gerenciamento
de hospitais
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Coordenadoriade Controle de Doenças da Secretaria deEstado da Saúde de São Paulo, para aobtenção do Título de Doutor em Ciências.Área de Concentração: Infectologia em
Saúde PúblicaOrientador: Prof. Dr. Carlos Botazzo
SÃO PAULO
2009
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EPÍGRAFE
Trecho 333
Nenhum problema tem solução.
Nenhum de nós desata o nó górdio; todos nós ou desistimos ou o cortamos.
Resolvemos bruscamente, com o sentimento, os problemas da inteligência,
e fazemo-lo ou por cansaço de pensar ou por timidez de tirar conclusões,
ou pela necessidade absurda de encontrar um apoio,
ou pelo impulso gregário de regressar aos outros e à vida.
Como nunca podemos conhecer todos os elementos de uma questão,
nunca a podemos resolver.
Para atingir a verdade faltam-nos dados que bastem,
e processos intelectuais que esgotem a interpretação desses dados.
Fernando Pessoa
Sob o heterônimo de Bernardo Soares,
no ―Livro do Desassossego‖
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AGRADECIMENTOS
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AGRADEÇO
Ao Corpo Docente, funcionários e colegas do Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Coordenadoria de Controle de Doenças
- SESSP.
A todos os participantes desta pesquisa pelos dados e
informações fornecidos e pelas opiniões emitidas.
Ao Prof. Botazzo pela orientação e incentivo.
Ao acaso e ao destino, aos anos vividos, a tudo e a todos.
Em especial à minha família pelo apoio e pela compreensão.
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RESUMO
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RESUMO
DUARTE, I G - Características dos modelos de gestão das
organizações sociais contratadas pela Secretaria de Estado da Saúde deSão Paulo para o gerenciamento de hospitais‖.
Este estudo tem como objeto o gerenciamento dos hospitaispúblicos pelas Organizações Sociais (OS), tal como foram configuradas peloGoverno do Estado de São Paulo no final dos anos 90. A implantação destemodelo está ligada ao processo de reforma do Estado iniciado na Europa eEstados Unidos desde o final dos anos 80. Nos anos 90 o Governo Brasileiroreforçou seu papel regulador, com a criação de Agências Reguladoras eExecutivas, e ainda com a regulamentação das Organizações Sociais e dasOrganizações da Sociedade Civil de Interesse Público, transferindo paraessas entidades e outras do terceiro setor a execução de tarefas públicas.Nesse sentido, investigou-se as características do modelo de gestão das OSe as tecnologias gerenciais por elas utilizadas, tendo como referencia osprincípios do SUS. A pesquisa abrangeu diretores de hospitais gerenciadospor OS e outros sujeitos considerados representativos. Quanto às novastecnologias gerenciais utilizadas não se observou nenhuma práticaadministrativa que possa ser considerada como inovadora, pois a maioriadas práticas de gestão utilizada encontra-se presente em hospitais estatais,ainda que de forma pouco disseminada. A flexibilidade na gestão depessoas, a agilidade nas compras e nos contratos e a autonomia desseshospitais são os principais fatores que fazem a diferença. Observou-se oempenho no cumprimento das metas e obrigações previstas nos contratosde gestão, entretanto não existem mecanismos adequados para garantir aparticipação da comunidade e o controle público da assistência prestada.Concluiu-se que o modelo é bastante específico para novos hospitais semquadro de pessoal publico e válido para as peculiaridades do Estado de SãoPaulo. O estudo reconhece como possibilidade o gerenciamento de hospitaispelas OS desde que não se considere a única solução para a crise gerencialdo SUS.
Palavras-chave: Modernização do Setor Público; OrganizaçãoSocial; Administração Hospitalar; Gestão em Saúde; Hospitais Públicos /Organização e Administração; Contrato de Gestão.
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ABSTRACT
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ABSTRACT
DUARTE, I G – Characteristics of management models from social
organizations contracted by the State Secretary of health of São Paulo Statefor the hospitals management.
This study focuses on the management of public hospitals by SocialOrganizations (SO), as they were specified by the São Paulo StateGovernment by the end of the 90´s. The implementation of this model isconnected to the process of the State Reform originated in Europe andUnited States of America since the end of the 80`s. In the 90´s BrazilianGovernment reinforced its regulatory role creating Regulatory Agencies andExecutives, and yet regulating Social Organizations and Organizations of theCivil Society of Public Interest, transferring to those entities and others fromthird sector the execution of public duties. On this sense, the characteristicsfrom the SO management model were investigated, and the managementtechnologies used by them follow the SUS principles. The research encloseddirectors from hospitals managed by SO and persons consideredrepresentative. As the new management technologies used, there were notany management practices that can be considered as innovative, becausemany of them are present in state hospitals, but it’s not spread yet. Flexibilityon human resources management, agility on supply chain and contracts andautonomy of those hospitals are the main factors that make the difference. Itwas observed the effort of accomplishing the targets and duties specified onthe management contracts, however there are no adjusted mechanism toguarantee the community participation and public control of the assistancegiven. It can be concluded that the model is very specific for new hospitalswithout public employees group and valid for the peculiarities of the SãoPaulo State. The study recognizes as a possibility the management of publichospitals by SO since it is not considered as the only solution but onesolution among the possible solutions, for the management crises faced bySUS.
Keywords: Modernization of the Public Sector; Social Organization;
Hospital Administration; Health Management; Public Hospitals /Organizations and Administration; Management Contract.
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ABREVIATURAS E SIGLAS
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ABREVIATURAS E SIGLAS
ABONG – Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais
AIH – Autorização de Internação Hospitalar
ALESP – Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo
APM – Associação Paulista de Medicina
ANS – Agencia Nacional de Saúde Suplementar
ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária
BSC – Balanced Scorecard
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CCSS – Coordenadoria de Contratação de Serviços de Saúde
CES - Conselho Estadual de Saúde
CIR - Comissão Intergestora Regional
CLT – Consolidação da Legislação Trabalhista
CMS - Conselho Municipal de Saúde
CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social
CQH - Compromisso com a Qualidade HospitalarCREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
CSSM - Casa de Saúde Santa Marcelina
DIR - Diretoria Regional de Saúde
EUA - Estados Unidos da América
FFM - Fundação Faculdade de Medicina
FMI - Fundo Monetário Internacional
FUNABEM – Fundação Nacional para o Bem Estar do MenorFUNRURAL - Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural
GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas Sociais
HEVA - Hospital Estadual de Vila Alpina
HGGr – Hospital Geral do Grajaú
HGGu - Hospital Geral de Guarulhos
HGI – Hospital Geral de Itaquaquecetuba
HGPe - Hospital Geral de Pedreira
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HGPi - Hospital Geral de Pirajussara
HGIP – Hospital Geral de Itaim Paulista
HGIS - Hospital Geral de Itapecerica da Serra
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Média da Previdência Social
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
MARE - Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado
MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização de AdultosNOAS - Norma Operacional de Assistência à Saúde
NOB - Norma Operacional Básica
OMS - Organização Mundial da Saúde
ONA – Organização Nacional de Acreditação
ONG - Organização Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
OPAS - Organização Panamericana de SaúdeOS - Organização Social
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
OSEC – Organização Santamarense de Ensino e Cultura
OSS - Organização Social de Saúde
PAS - Plano de Atendimento à Saúde
PDRAE – Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado
PMS – Programa Metropolitano de SaúdePNGS – Prêmio Nacional de Gestão em Saúde
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PROAHSA – Programa de Estudos Avançados em Administração Hospitalar
e de Sistemas de Saúde do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo e da Fundação Getulio Vargas
RMSP - Região Metropolitana de São Paulo
SAU – Serviço de Atendimento ao Usuário
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SCS – Serviço Catalão de Saúde
SEADE - Sistema Estadual de Análise de Dados
SECONCI - Serviço Social da Indústria da Construção e do Mobiliário do
Estado de São Paulo
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SEPACO – Serviço Social da Indústria do Papel, Papelão e Celulose
SESC – Serviço Social do Comercio
SESI – Serviço Social da Indústria
SEST – Serviço Social do Setor de Transporte
SESSP - Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo
SIA – Sistema de Informação AmbulatorialSIH - Sistema de Informação Hospitalar
SIMESP – Sindicato dos Médicos de São Paulo
SINDHOSP - Sindicado dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde,
Laboratórios de Análises Clínicas, Instituições Beneficentes e Filantrópicas
do Estado de São Paulo
SPDM - Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina
SS - Secretaria da SaúdeSUS - Sistema Único de Saúde
TCE – Tribunal de Contas do Estado de São Paulo
TCU – Tribunal de Contas da União
UBS – Unidade Básica de Saúde
UNESP – Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para InfânciaUNIFESP - Universidade Federal de São Paulo
UNISA - Universidade Santo Amaro
WWF - World Wildlife Foundation
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L ISTA DE QUADROS
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LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Origem dos recursos das entidades do Terceiro
Setor........................................................................... 37
QUADRO 2 Natureza dos recursos das entidades do Terceiro
Setor............................................................................ 37
QUADRO 3 Evolução do Contrato de Gestão................................ 63
QUADRO 4 Características dos tipos de entidades do Terceiro
Setor............................................................................ 65
QUADRO 5 Interlocutores selecionados para o trabalho de
campo.......................................................................... 77
QUADRO 6 Grupo de Hospitais..................................................... 77
QUADRO 7 OSS qualificadas......................................................... 92
QUADRO 8 Avaliações externas.................................................... 133
QUADRO 9 Origem dos pacientes internados (HEVA).................. 147
QUADRO 10 Origem dos pacientes internados (HGI)...................... 148
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ÍNDICE
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ÍNDICE
Epigrafe
Agradecimentos
Resumo
Abstract
Lista de Abreviaturas e Siglas
Lista de Quadros
Índice
Introdução.......................................................................... 21
1. Referencial Teórico............................................................ 24
1.1. O Estado, O Governo e o Poder Público...................... 25
1.2. O Terceiro Setor...................................................... ..... 33
1.3. A Reforma do Estado e o Terceiro Setor...................... 39
1.4. A Reforma do Estado e o Setor Saúde......................... 48
1.5. Organizações Sociais e o Contrato de Gestão............. 592. Objetivos............................................................................. 71
2.1. Objetivo Geral............................................................... 72
2.2. Objetivos Secundários ................................................. 72
3. Metodologia........................................................................ 73
3.1. Pesquisa Bibliográfica................................................... 75
3.2. Sujeitos da Pesquisa.................................................... 76
3.3. Instrumento de Pesquisa.............................................. 783.4. Trabalho de Campo...................................................... 79
3.5. Categorias Analíticas.................................................... 82
3.6. Obstáculos na Pesquisa............................................... 83
4. Resultados e Discussão.................................................... 84
4.1. Gerenciamento por Terceiros....................................... 85
4.2. Características das OSS............................................... 95
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4.2.1. Modelo de Gerenciamento......................................... 95
4.2.2. Sistema de Liderança/Processo Decisório................ 98
4.2.3. Planejamento............................................................. 100
4.2.4. Informação e Conhecimento...................................... 104
4.2.5. Gestão de Pessoas.................................................... 105
4.2.6. Gestão Financeira ..................................................... 112
4.2.7. Gestão de Materiais e Equipamentos........................ 115
4.2.8. Responsabilidade Sócio-Ambiental........................... 120
4.3. Avaliação...................................................................... 124
4.3.1. Avaliação pelo Tribunal de Contas............................ 125
4.3.2. Avaliação pelo Usuário.............................................. 1264.3.3. Avaliação pela Comissão de Avaliação da
Execução do Contrato de Gestão.............................. 129
4.3.4. Avaliação por Entidades Externas............................. 130
4.3.5. Avaliação pelos Diretores dos Hospitais.................... 134
4.3.6. Avaliação pelos Dirigentes SESSP............................ 137
4.4. A OSS e o SUS............................................................. 139
4.4.1. Universalidade, Gratuidade e Igualdade na Assistência................................................................. 142
4.4.2. Descentralização, Regionalização e
Hierarquização........................................................... 145
4.4.3. Participação da Comunidade................................... .. 152
4.5. Privatização ou Publicização?...................................... 157
5. Conclusões......................................................................... 161
6. Referências Bibliográficas................................................ 167Anexos
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INTRODUÇÃO
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Introdução
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INTRODUÇÃO
Nos anos 80, como resultado do choque do petróleo e da
conseqüente crise dos estados nacionais, surge com maior força nos países
centrais a discussão sobre a quantidade e a qualidade dos serviços públicos
ofertados aos cidadãos, o papel e o tamanho do Estado e suas funções
típicas, a privatização ou não de setores considerados não estratégicos, as
parcerias público-privadas, entre outros. Discussões essas que marcaram o
debate político no final do século passado e início deste.
No Brasil, nas últimas décadas, observou-se também a centralidade
do tema ―Reforma do Estado‖ nos debates políticos, em parte como
conseqüência da pauta mundial, mas também como reflexo da insatisfação
dos usuários dos serviços públicos com as condições de acesso, de oferta e
da qualidade dos serviços prestados, notadamente nas áreas de segurança
pública, saúde e educação. Propostas para o enfrentamento desses
problemas, como a falta de agilidade da máquina administrativa pública e aineficiência do Estado, tem alimentado quase todas as plataformas político-
partidárias e freqüentado as pautas dos principais jornais e revistas.
Após a promulgação da Constituição de 1988, os vários governos
que se seguiram também fizeram da Reforma do Estado sua bandeira.
Muitas vezes, reformas administrativas ou apenas mudança de
subordinação de empresas estatais ou fusão de ministérios, foram
apresentados como reformas do Estado. Eleito, Fernando HenriqueCardoso, em seu programa de governo apresentou uma ampla e estruturada
proposta de reforma administrativa denominada ―Plano Diretor da Reforma
do Aparelho de Estado (PDRAE)‖, conduzida pelo Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado (Brasil, 1995a).
O plano de reforma proposto apontava no sentido de valorizar os
quadros burocráticos nas funções típicas de Estado e de buscar autonomia
para outros setores, com a criação de Agências Executivas e Agências
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Introdução
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Reguladoras e das figuras jurídicas das Organizações Sociais (OS) e
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), e ainda
regulamentando essas organizações do chamado Terceiro Setor, visando
estabelecer parcerias com tais entidades, para execução de determinadas
funções públicas.
Muitos desses conceitos e modelos de Parceria Público-Privada1
presentes nas discussões da última década, hoje estão implantados em
dezenas de países e alguns sendo adotados como instrumentos de gestão
governamental atualmente no Brasil. Destacam-se, neste momento, as
discussões sobre a criação de Fundações Estatais na área da saúde,
gerando muita polêmica e embora tal assunto não seja abordado nesteestudo, tangencialmente merecerá comentários.
Desde o surgimento das OS no Estado de São Paulo, as análises,
os diversos enfoques e os olhares vindos de variados grupos de interesse,
as interpretam de múltiplas, variadas e até opostas formas. Essas
organizações têm sido apresentadas como a salvação do SUS, no
entendimento de seus defensores mais entusiasmados, ou então como o
―PAS de Casaca‖2
(uma forma sutil de privatização dos serviços de saúde),conforme apontam seus adversários. Não raramente são vistas como forma
de precarizar relações trabalhistas e outras vezes identificadas como parte
do modelo neo-liberal, fruto do Consenso de Washington. Diante desses
entendimentos tão díspares é de se esperar que, um ente social tão
polêmico como a OS, necessariamente torne-se um instigante objeto de
estudo em Saúde Coletiva.
Além disso, a aproximação com esse tema como objeto de pesquisamotivou-se pela sua atualidade e caráter inovador, principalmente pela
inserção profissional do pesquisador à época da implantação das mesmas
1 O ESTADO DE SÃO PAULO – Economia&Negócios B1, São Paulo 10, agosto de 2003,
Conceito de PPP é adotado em pelo menos 50 países.
2 A verdadeira face das OS segundo palavras do Presidente do Sindicato dos Médicos de São
Paulo.(www.mpd.org.br , último acesso em 29.08.2007)
http://www.mpd.org.br/http://www.mpd.org.br/http://www.mpd.org.br/http://www.mpd.org.br/
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Introdução
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no Estado de São Paulo, ocasião em que seus sentidos e sua atenção
estavam mais aguçados e mais voltados nessa direção.
Assim, tomar como objeto de estudo as organizações sociais de
saúde implantadas pelo Governo do Estado de São Paulo e recortar nesse
objeto os limites da pesquisa e as características relevantes a ser analisadas
constituiu um grande desafio.
Conforme Botazzo, (1997; p.73) ―descrever objetos em saúde
coletiva é problema e exercício diverso que o colocado para a pesquisa
biomédica, médico-cirúrgica ou odontológica‖, pois a teoria do problema que
terá de ser construída é diferente para cada um dos campos de
investigação. Ainda segundo o autor, a saúde coletiva, embora gravitadapelas ciências sociais, não se esgota nelas, sobretudo pelo seu caráter
interdisciplinar.
Desse modo, este trabalho tem como cenário a reforma estrutural
dos serviços públicos na área da saúde em geral, e em particular as
Organizações Sociais de Saúde (OSS) tal como foram configuradas pelo
Governo do Estado de São Paulo no final dos anos 90.
A escolha deste tema como objeto de pesquisa justifica-se pela suaatualidade, seu conteúdo polêmico, bem como do consenso que vem se
formando sobre a necessidade de mudanças profundas no atual modelo de
gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente no gerenciamento
dos serviços hospitalares e daqueles classificados como alta complexidade.
Analisar criticamente os vários modelos gerenciais praticados, inclusive os
atuais, visando contribuir com a construção de um novo ou de vários, que
propiciem maior grau de satisfação das necessidades da clientela assistida,constitui matéria relevante para o desenvolvimento gerencial e a
consolidação do SUS.
Nesse sentido, a interrogação a ser respondida nesta pesquisa é a
seguinte: as características do modelo de gestão das OSS e as tecnologias
gerenciais por elas utilizadas, que as diferenciam da administração pública
direta, obedecem aos princípios do SUS?
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1. REFERENCIAL TEÓRICO
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Referencial Teórico
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1. REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo são apresentados os principais conceitos e
definições balizadores deste trabalho, tomados como marco teórico-
metodológico a ser observado na análise e nas discussões dos resultados e
observações da pesquisa.
Na escolha ou seleção dos autores, com os quais este trabalho
busca dialogar, representativos dos vários campos de conhecimento –
Direito, Ciências Sociais, Administração, Saúde – procurou-se contemplar os
principais aspectos e objetivos desta pesquisa.
Nesse sentido, a título de justificativa, observa-se que no campo da
saúde coletiva, em decorrência do espírito da interdisciplinaridade, a
construção de marcos conceituais freqüentemente leva o pesquisador a
utilizar-se de um quadro diversificado de referenciais teóricos (Turato, 2005).
1.1. O ESTADO, O GOVERNO E O PODER PÚBLICO
Estado, conforme o dicionário Aurélio, tem pelo menos dezoito
significados distintos dos quais para os fins deste estudo, destacam-se dois:
1) é o conjunto dos poderes políticos de uma nação; 2) organismo político
administrativo que, como nação soberana ou divisão territorial, ocupa
território determinado, é dirigido por governo próprio e se constitui em
pessoa de direito público internacionalmente reconhecida (Ferreira, 1986,
p.713).
―Estado‖ pode apresentar diversos significados. Pode indicar
sociedade, governo, uma forma especial de governo, sujeitos do governo,
nação ou território, dificultando a compreensão e os estudos relacionados
com o tema.
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Referencial Teórico
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Estudos e análises políticas mais detalhadas provavelmente
indicariam a necessidade de diferenciar conceitualmente as seguintes
categorias: 1) aparelho de Estado e poder de Estado; 2) classe dominante e
classe (ou fração ou grupo) politicamente governante; 3) poder estatal e
poder governamental ou o poder real e o poder nominal das classes sociais.
Entretanto, para os limites deste trabalho, conceituar-se-á, Governo, Estado
e Poder Público.
Para este trabalho, Estado deve ser entendido como organismo
político-administrativo detentor dos poderes políticos de um país nos níveis
federal, estadual e municipal, o que, resumidamente, pode ser denominado
como Poder Público.Segundo Bobbio et al.(1986; p. 553),
―o termo Governo está habitualmenteassociado à noção de Estado. Porém o Estadonão é senão uma das formas de organizaçãopolítica que a sociedade assumiu no decorrer dahistória (a mais evoluída e a mais complexa) naqual se manifestou um poder de Governo‖.
Conforme esses autores, Governo pode ser definido como o
conjunto de pessoas que exercem o poder político e que determinam a
orientação política de uma sociedade.
Max Weber (1999) observou que o Estado está relacionado com a
coação física, não a considerando como meio normal ou único, mas como
meio específico. Para esse autor, o Estado pode ser conceituado como
comunidade humana que, dentro de determinado território, reclamou para si
e com êxito o monopólio da coação física legítima e reuniu para este fim os
meios materiais de organização. Ele é a única fonte do direito de exercer a
coação.
Bobbio et al.(1986; p. 553) afirmam que:
―a existência de um Governo central quedetém o monopólio da força é indubitavelmenteum aspecto típico do Estado moderno, erepresenta portanto o ponto de chegada de umalonga e complexa evolução histórica. O uso daforça ou a ameaça de recorrer a ela foi sempre o
meio específico que as autoridades de Governo
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Referencial Teórico
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tiveram à disposição para garantir a supremaciado seu poder.‖
Contudo, há que se distinguir ainda a figura do Estado, com suas
características estruturais, da figura de Governo, este com características
operacionais e de processo. Tal distinção é importante neste estudo, uma
vez que a legislação referente às Agências Reguladoras e Organizações
Sociais fazem parte do arcabouço jurídico do Estado, enquanto o Governo,
transitório nas democracias, tem seus rumos e direções definidas segundo
os compromissos assumidos com suas bases de sustentação política,
determinado pela correlação de forças.
Gramsci (1978) define Estado como algo mais que simplesmente oaparato governamental, pois é constituído também pelo aparato privado de
hegemonia, que denomina de sociedade civil. Segundo o autor, o Estado é
todo esse conjunto de atividades práticas e teóricas com as quais a classe
dirigente justifica e procura perpetuar a sua dominação, e também consegue
obter o consentimento e o apoio dos seus governados. Ele apóia-se na
hegemonia da classe dominante que usa sua liderança política, moral e
intelectual para impor sua visão de mundo como inteiramente abrangente euniversal. Esta concepção de mundo está presente nas escolas, nas igrejas,
nas universidades, nos tribunais, nos museus e nas bibliotecas.
Louis Althusser (1985) retoma as concepções de Gramsci com base
no conceito de Estado da teoria marxista. Para o autor, o Estado é antes de
tudo o que os clássicos do marxismo denominam de o Aparelho de Estado,
termo este que abrange não só o aparelho administrativo do Governo, mas
também dois outros aparelhos que o autor chama de Aparelho Ideológico do
Estado (AIE) e Repressivo do Estado (ARE). Além do governo, da
administração, do exército, da polícia, dos tribunais, das prisões,
denominado como aparelho repressivo do Estado, o autor conceitua também
como aparelhos ideológicos do Estado: igrejas, escolas públicas e privadas,
a família, o direito, o sistema político, os sindicatos, a imprensa, os meios de
comunicação e os museus. Eles são múltiplos, distintos, privados e
relativamente autônomos. Esses aparelhos funcionam pela coerção e pela
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Referencial Teórico
28
violência, estão relacionados ao domínio político e do poder público e
constituem um todo organizado, articulado e centralizado. O autor é enfático
ao afirmar que uma classe só deterá o poder de Estado de forma duradoura
se dominar a maioria e os principais aparelhos ideológicos do Estado.
Analisando os aparelhos ideológicos, Althusser (1985) afirma que a
escola seja ela pública ou privada, substitui a igreja como principal aparelho
ideológico na sociedade capitalista moderna. A Escola mantém contato
intenso e por vários anos com as crianças na sua fase mais vulnerável, a de
formação e crescimento. A ideologia está contida e disseminada nas
disciplinas como literatura, história, ciências e filosofia.
Dados os variados tipos de Estado, torna-se necessário oestabelecimento de certa taxonomia para melhor entendimento. Norberto
Bobbio (1992) observa que as tipologias ou classificações sobre formas de
Estado são variadas e mutáveis, sugerindo dois critérios para essa
classificação: o histórico e o relativo a maior ou menor expansão do Estado
em detrimento da sociedade. O histórico divide o Estado em feudal,
estamental, absolutista e representativo. O segundo, conforme a dimensão
do aparato estatal, em intervencionista e mínimo.O Estado, quanto à sua relação com a sociedade civil, conforme a
tipologia de Norberto Bobbio apresentada anteriormente pode ser
classificado em Estado intervencionista e Estado mínimo ou liberal. O
Estado intervencionista caracteriza-se por regular a produção de bens, e
muitas vezes produzi-los nas companhias estatais; distribuir riquezas
mediante políticas de rendas e ainda, por fomentar, facilitar ou obstaculizar
determinadas atividades. Em geral, define a direção econômica do país.Para Gramsci, o Estado intervencionista não raro está relacionado com
correntes protecionistas ou de nacionalismo econômico, ou então à tentativa
de proteção das classes trabalhadoras locais da concorrência internacional e
ainda contra os excessos do capitalismo.
A forma intervencionista, em diferentes gradações, pode ser
evidenciada já no mercantilismo e mais recentemente nos países socialistas
e no Estado de bem-estar social ou social-democrático (―Welfare State‖). Já
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o Estado mínimo ou liberal tem como principal característica a tendência à
abstenção da esfera econômica. Seu objetivo é assegurar os direitos civis, a
defesa da moeda, a ordem interna e a defesa externa. O Estado, neste caso,
é aceito como um mal necessário.
Pereira (2001b) classifica Estado observando o regime político e a
natureza de suas instituições, nas seguintes categorias: Estado absoluto,
Estado liberal, Estado social-democrático (do bem-estar social) e Estado
social-liberal (democrático). Conforme o autor, o Estado social-democrático é
aquele que procura assegurar, de forma universal, além dos direitos civis, os
direitos sociais tais como: educação fundamental, assistência à saúde, renda
mínima e um sistema básico de previdência.Na sua classificação de regime político de Estado, Pereira
acrescenta o modelo social-liberal. É social, pois continua comprometido
com os direitos sociais, e liberais porque adota mecanismos de regulação
dos mercados e da concorrência. Este modelo está intimamente relacionado
à administração pública gerencial e prioriza a eficiência dos serviços de
assistência social e das áreas de pesquisa científica. O autor, que é um dos
defensores deste modelo, afirma que no século XXI a democracia não seráneoliberal nem social-democrática, mas social-liberal. Afirma que os paises
com governos social-democratas mais bem sucedidos – Países
Escandinavos, Holanda e Inglaterra – estão deixando de ser social-
democratas para tornarem-se social-liberais. A principal mudança observada
está na gestão pública, centrada nas agências reguladoras, na
contratualização e nas parcerias com organizações públicas não estatais
para a realização de forma competitiva, de serviços ditos sociais.Pereira (2000), analisando o aparelho de Estado e os vários modos
de operá-lo, aponta a existência de três modalidades de gestão: a
administração patrimonialista, a administração burocrática e a administração
gerencial.
Tomando-se os aspectos mais relevantes, pode-se afirmar que a
administração patrimonialista é característica do Estado pré-capitalista onde
o ―Príncipe‖ ou o detentor dos poderes é incapaz, ou não tem interesse, em
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distinguir o patrimônio público dos seus bens particulares. O surgimento da
administração burocrática representou um avanço, e com a introdução de
um serviço público profissional e de um sistema administrativo formal,
racional e impessoal, foi instrumento de combate ao nepotismo e da
corrupção, dois traços presentes na administração patrimonialista.
Max Weber (1999), que desenvolveu um conceito positivo de
burocracia, aponta que o servidor burocrático, orientado pelas normas e
rotinas, costuma atuar com maior precisão e uniformidade. Esse autor
destaca a superioridade da autoridade racional-legal quando comparada
com o poder patrimonialista, pois a burocratização separa a atividade pública
da atividade privada, sendo os bens e equipamentos públicos nitidamenteseparados do patrimônio particular dos dirigentes e funcionários.
Conforme Pereira (2000, p.18),
―a reforma gerencial do Estado de 1995buscou criar novas instituições legais eorganizacionais que permitam que umaburocracia profissional e moderna tenhacondições de gerir o Estado brasileiro‖.
Conforme Tragtemberg (1974), Max Weber admite que aoperacionalidade da burocracia, caracterizada pela impessoalidade, a
objetividade, recrutamento impessoal, hierarquia fundada em critérios e
diplomas, o cargo como profissão, a direção monocrática, o ritual, o prazo, a
pontualidade, garantem formalmente o modus operandi burocrático. Porém
essa burocracia tecnicamente funcional no plano administrativo tende a
tornar-se irracional no campo político.
Przeworski (2001) aponta que em muitos sistemas políticos,
inclusive democráticos, as burocracias parecem adquirir autonomia em
relação a quaisquer controles. Como os burocratas nunca sabem com
certeza quais as forças políticas que o povo elegerá, tentam manter-se livres
que qualquer tipo de controle político. Já os políticos que temem perder o
poder, segundo o autor, sentem-se incentivados a deixar a burocracia fora
dos controles políticos, e em conseqüência, políticos e burocratas
estabelecem um acordo tácito que os mantêm autônomos.
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No núcleo estratégico, composto pela Presidência da República e
seus Ministérios, Parlamento, Tribunais e Forças Armadas, e também no
setor de atividades típicas de Estado, a propriedade deverá ser estatal e o
controle burocrático.
Para os serviços não exclusivos (saúde, educação, cultura, etc) o
autor propõe que os mesmos possam ser executados pelo setor privado não
lucrativo, que ele denomina de setor público não estatal.
Acrescenta Pereira (2001b,p.259),
―os serviços não exclusivos ou
competitivos do Estado são aqueles que emboranão envolvendo o poder do Estado, sãorealizados ou subsidiados por ele por seremconsiderados de alta relevância para os direitoshumanos‖.
Na área social, em particular na saúde, este será o espaço em que
o Estado irá oferecer o gerenciamento de seus hospitais para as OSs, ou
para a compra dos serviços produzidos nas OSCIPs mediante convênios,
redirecionando a atuação estatal para a área da regulação.
Conforme Carneiro Jr (2002, p.17),
―o caráter público das ações de saúdenão é concebido necessariamente como da esferaestatal, reconhecendo-se a existência e apertinência de prestadores de serviços que nãovisam lucro e desenvolvem atividadescomplementares e auxiliares ao Estado‖.
No final do século XX e neste início de século tornam-se mais
evidentes as complexidades das relações entre os vários agentes sociais(governo, estamentos da burocracia estatal, corporações profissionais,
movimentos autônomos da sociedade civil, universidades, sindicatos, etc). A
difusão de informações, a INTERNET, a chamada globalização e a
velocidade nas telecomunicações geram novas demandas e mundializam
questões aparentemente locais. Acrescente-se a isso a simultaneidade dos
acontecimentos, presenciados via TV por satélite, em todos os cantos do
planeta.
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Emerge como valor a responsabilidade social das empresas,
aumentam em número e atividades as Organizações Não Governamentais,
bem como se observa o crescimento de todo o terceiro setor. O controle
social dos aparelhos de Estado e o controle público das práticas do Governo
e de suas Agências tornam-se temas fundamentais e contemporâneos na
perspectiva do aprofundamento da democracia.
1.2. O TERCEIRO SETOR
Após a Segunda Grande Guerra começaram a adquirir visibilidade e
importância organizações que, no que se refere aos aspectos taxonômicos,
não se enquadravam nas características do campo do privado – mercado,
lucro e competição – e tampouco nas características e formalismos do
campo público estatal. Surgiam organizações privadas e sem fins lucrativos,
cujo corpo funcional era constituído basicamente por voluntários, que
dedicavam seu tempo disponível no atendimento aos diversos ramos de
atividade, em especial, na sua origem, na defesa dos direitos das minorias e
de vítimas de atrocidades da Guerra.
Dada a repercussão e o caráter público dessas organizações e para
distingui-las dos Estados e dos Governos, essas entidades passaram a ser
conhecidas como Organizações Não Governamentais ou simplesmente
ONGs, que em seu conjunto constituem o chamado Terceiro Setor.
Apesar dessas modalidades de associativismo terem crescido a
partir dos anos 70, trata-se de fenômeno antigo, algumas dessas
organizações surgiram no século XIX, sendo a mais conhecida delas a
União Internacional das Sociedades Protetoras de Animais (UIPA), fundada
em 1895.
Na classificação de Terceiro Setor, por ser bastante genérica,
cabem várias formas e modelos de organização cujo ponto comum é a
autonomia frente ao Estado. Diante da multiplicidade dessas organizações
bem como de sua diversidade de foco e modo de atuação, embasamento
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ideológico contraditório e até antagônico – ONG contra o aborto convivendo
e competindo com ONG que busca ampliação dos direitos civis e contra a
violência – constitui tarefa nada fácil definir, identificar e classificar seus
componentes.
Para definir as organizações como pertencentes ao Terceiro Setor,
a Organização das Nações Unidas (ONU) a Johns Hopkins University
estudaram formas e critérios para a definição e classificação dessas
organizações e elaboraram no ano de 2002 o ―Manual sobre Organizações
Não Lucrativas nos Sistemas de Contas Nacionais‖.
Segundo definição constante desse manual,
―..ter ceiro setor é definido como oformado por (a) organizações que (b) são semfins lucrativos e que por lei ou costume, nãodistribuem qualquer excedente, que possa sergerado para seus donos ou controladores; (c) sãoinstitucionalmente separadas do governo, (d) sãoauto-geridas e (e) não compulsórias‖. (Mapa do 3ºSetor, 2005; p.1).
No Brasil, a denominação Terceiro Setor tem sido utilizada para
identificar as atividades da sociedade civil que não se enquadram comoatividades estatais - Primeiro Setor - representado pela Administração
Pública ou como as atividades de mercado - Segundo Setor - representado
pelas empresas e organizações com finalidade lucrativa.
Segundo Pereira (2007, p.347), ―Terceiro Setor é o espaço ocupado
pelas organizações da sociedade civil sem fins lucrativos ou econômicos, de
interesse social e que não possuam finalidade, natureza ou legislação
específica‖. Juridicamente, segundo esse mesmo autor, existe um consenso
de que as figuras jurídicas básicas encontradas no terceiro setor são as
associações e fundações, ficando excluídas as cooperativas, os partidos
políticos e os sindicatos por terem caráter econômico ou finalidade particular.
Observa também que existem dois tipos fundamentais de organizações:
aquelas de benefício mútuo e as de interesse público. As organizações
privadas de benefício mútuo, não perseguem lucro, mas orientam-se para a
busca de benefício para os seus associados, como por exemplo, Associação
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de Moradores, de mutuários do SFH, Grupos de Auto Ajuda, enquanto as
entidades de fim público ultrapassam os limites de seu corpo de associados,
atendendo a um grupo bem amplo de pessoas, ou a interesses sociais
difusos.
A Lei Federal nº 9.790/99 que regulamenta as Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) admite a qualificação como
interesse público apenas das entidades que beneficiem um público alvo
maior que seu círculo de associados, excluindo aquelas de benefício mútuo
e de defesa de interesses primordiais dos associados.
Morales (1998, p.126) sugere a denominação de Organizações
Públicas Não Estatais (OPNE), pois estas entidades caracterizam-se porações públicas não lucrativas, entretanto não fazem parte do aparelho de
Estado. Acrescenta o autor que essas organizações, cada vez mais,
desempenham importante papel nas relações Estado-Sociedade, pois essas
formas associativas criam e condensam uma teia de relações, gerando uma
nova arena de relações sociais e políticas, denominada de espaço público
não-estatal.
Essas organizações, de um modo geral, são bastante ágeis eflexíveis sob aspecto administrativo, e muitas delas prestam serviços sociais
com alto grau de eficiência. Seu corpo de funcionários costuma ser bastante
motivado, e como organizações gozam de prestígio e legitimidade junto a
segmentos sociais. Algumas ONGs atualmente exercem forte influência e
algumas delas – IDEC, SOS Mata Atlântica, Greenpeace, Anistia
Internacional, WWF – detêm a liderança nacional e até mundial na defesa de
determinados temas de interesse coletivo.Numa época de descrédito dos partidos políticos e das
representações partidárias formais, a mobilização popular tem ocorrido,
muitas vezes, capitaneada por entidades do Terceiro Setor. Os três fóruns
sociais mundiais realizados em Porto Alegre em 2001, 2002 e 2003 mostram
a capacidade de mobilização de caráter mundial dessas organizações, as
quais têm se destacado na defesa de demandas públicas nas esferas de
direitos humanos, defesa do consumidor, preservação do meio ambiente,
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diversidade sexual, defesa de portadores de necessidades especiais, defesa
de espécies animais, defesa de idosos, crianças, índios, e outros tantos.
Na área da saúde, desde 1498 com a criação das irmandades de
misericórdia e a implantação da Santa Casa de Lisboa em Portugal, esse
tipo de configuração de organização não estatal já é bastante conhecida.
Naquela ocasião a Coroa Portuguesa conclamava os ―cidadãos de posses‖ a
moverem-se pelos sentimentos cristãos e auxiliarem os necessitados e
desvalidos. No Brasil, desde 1543 com Brás Cubas fundando a primeira
delas em Santos, centenas de Santas Casas de Misericórdia foram erguidas
país afora. O movimento das Santas Casas de Misericórdia em nosso
Estado é bastante relevante e tem sido importante na construção do SUS,embora não seja propriamente uma ONG, dadas as várias personalidades
jurídicas privadas de cada uma dessas entidades. Entretanto, no setor
saúde, são as mais emblemáticas entidades do Terceiro Setor.
Conforme Barbosa (2002) em estudo patrocinado pelo BNDES, as
entidades do Terceiro Setor são responsáveis por um terço dos hospitais
existentes no país, algo em torno de 132 mil leitos, com características muito
variadas de porte e de complexidade, em sua maioria vinculados ao SUS,embora não exclusivamente.
Esse estudo identificou grande diversidade dessas entidades do
Terceiro Setor e ainda constatou que as áreas governamentais reguladoras
do setor filantrópico são bastante abrangentes, reunindo uma vasta
regulamentação com inúmeros órgãos atuantes. Envolve várias áreas de
atuação em organismos governamentais das esferas municipal, estadual e
federal, principalmente no sentido do reconhecimento da utilidade pública eda filantropia, o que possibilita a isenção de taxas e impostos e propicia
certa imunidade tributária.
Analisando as questões estratégicas da Reforma Sanitária Brasileira
e o desenvolvimento do Terceiro Setor, Oliveira e Junqueira (2003), mostram
a necessidade do fortalecimento das entidades desse setor como algo
importante para o desenvolvimento social do país. Apontam que o
movimento sanitário avançará ao incorporar ou se aliar ao que chamam de
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―iniciativa privada cidadã sem, entretanto pautar -se pelo paradigma
mercantilista que valoriza fundamentalmente o lucro, mas pela idéia do bem
estar da população‖ (p.235). Ainda segundo os autores as organizações
sociais como se apresentam em alguns outros países são importantes na
construção de um sistema democrático que privilegie a participação, a
cidadania e a equidade.
No Brasil dois importantes estudos realizados nos últimos anos
procuraram diagnosticar e dimensionar o chamado Terceiro Setor. O
principal deles é o único levantamento nacional de organizações sociais e foi
realizado pelo IBGE em parceria com o IPEA, GIFE e a ABONG, com o título
de ―As Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos no Brasil -2002‖. Esse estudo identificou 275.895 organizações, que empregavam, na
ocasião, 1.541.290 pessoas.
A outra pesquisa, de menor abrangência realizada pelo Centro de
Estudos do Terceiro Setor (CETS) da Fundação Getúlio Vargas produziu em
2005 o chamado Mapa do Terceiro Setor colhendo informações de 4.589
entidades, que analisadas, revelaram aspectos até então desconhecidos,
como por exemplo, no que se refere à origem e à natureza dos recursosfinanceiros, conforme se apresenta nos quadros abaixo:
Quadro 1 – Origem dos recursos das Entidades do Terceiro Setor
Origem dos recursos Porcentual
NACIONAL
MISTO
INTERNACIONAL
95%
4,2%
0,8%
FONTE : www.mapa.org.br
Quadro 2 – Natureza dos recursos das Entidades do Terceiro Setor
Natureza dos recursos Porcentual
PRÓPRIOS
PRIVADOS
PÚBLICOS
46%
33%
21%
FONTE : www.mapa.org.br
http://www.mapa.org.br/http://www.mapa.org.br/
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A reforma do Estado atualmente em curso tende a considerar o
Terceiro Setor como um espaço de interesse público, entendido por alguns
como um espaço público não estatal, cuja atuação deve ser complementar,
mas não substituta da ação estatal. Porém não se pode esquecer que ―o
Terceiro Setor na saúde também tem suas mazelas, tais como a falta de
eficiência e a baixa qualidade, precisando também se qualificar‖ (Santos
2006; p.4).
Serva (1997) analisando as relações de parceria entre o Estado e
as ONGs apontou as complexidades desta relação, principalmente pelo
polimorfismo característico destas instituições. Assim, orientam-se por
diversos objetivos; possuem métodos de trabalho informais em contrastecom o administrador público profissional; muitas vezes estabelecem relações
pessoais mais fortes do que as institucionais; seu corpo funcional envolve
assalariados, voluntários e avulsos; possuem várias fontes de recursos e
não raro, embora sejam entidades não estatais, dependem totalmente de
subsídios, contratos ou financiamentos do Estado.
Nesse sentido, Alcântara (2006) analisando o modelo gerencial das
organizações do terceiro setor, observou em muitos casos, a excessivadependência que muitas dessas organizações não governamentais têm em
relação ao governo, e afirma ser preocupante a existência de organizações
não estatais que sobrevivem, exclusivamente por conta do repasse de
verbas do Estado.
Em estudo sobre a incorporação de novos modelos de gestão no
setor público do estado de São Paulo, Sano (2003) avalia que grande parte
das OS e das OSCIP tem sido utilizadas pelos vários níveis de governo(municipal, estadual e federal) como possibilidades para contornar os
obstáculos e a alegada rigidez da legislação e do direito administrativo
aplicados na administração pública.
É impossível negar a importância das ONGs no cenário
contemporâneo, inclusive reconhecer que o aumento gradativo e expressivo
dessas organizações no Brasil, corresponde por um lado à sua agilidade e
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capacidade de mobilização, e por outro, multiplicam-se pela falta de
regulamentação e controles por parte do Estado.
1.3. A REFORMA DO ESTADO E O TERCEIRO SETOR
Como herança da colonização portuguesa, alguns traços culturais
introduzidos com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808,
enraizaram na administração pública brasileira. Podem-se destacar, entre
eles, o formalismo, o ritualismo e a centralização governamental, conformeaponta Duarte (1990).
A crítica à centralização da administração pública brasileira remonta
ao período imperial, pois já em 1862 o Visconde do Uruguay observava tal
situação:
―A absorção da gerência de todos osinteresses ainda secundários e locais pelogoverno central mata a vida das localidades, nadalhes deixa fazer, perpetua nelas a indiferença e aignorância de seus negócios, e fecha as portas daúnica escola em que a população pode aprender,habilitar-se praticamente para gerir os negóciospúblicos‖. Apud Mascarenhas (1949, p. 29).
A história da República brasileira na primeira metade do século xx
mostra uma sucessão de crises de governabilidade. A crise social e do
Estado que se revela nas revoluções de 1924, 1930 e 1932, cria condições
para a implantação do Estado Novo, que marca o fim do período
denominado de República Velha (1889-1930) caracterizado como
oligárquico, patrimonialista e clientelista nas suas relações público-privadas.
A Constituição de 1937 e a reforma do Estado mudaram indelevelmente o
perfil da administração pública e a face do país. O modelo burocrático-
gerencial profissional é implantado no Brasil em 1938, pelo Decreto-lei nº
579, que criou, junto à Presidência da República, o Departamento
Administrativo do Serviço Público (DASP).
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Segundo Pereira (1998), a criação do DASP deve ser considerada
como um marco histórico da primeira reforma do Estado brasileiro com a
incorporação dos princípios centralizadores e hierárquicos da burocracia
clássica.
A redemocratização de 1945 e a Assembléia Nacional Constituinte
de 1946 poucas alterações fizeram no sentido de desmontar o aparelho
administrativo do Estado Novo em face da nova ordem resultante da
redemocratização. O modelo burocrático-gerencial do serviço público estava
consolidado.
Ao longo do tempo, a administração pública foi se tornando, no
senso comum, sinônimo de burocracia, de ineficiência e de inoperância.Tanto que nas últimas décadas, propostas de reforma do Estado têm sido
constantes nas plataformas dos principais partidos políticos do país, reflexo
da insatisfação dos usuários dos serviços públicos com as condições de
acesso, oferta e da qualidade dos serviços prestados, notadamente nas
áreas de segurança pública, saúde e educação.
Durante o regime militar brasileiro, visando superar esses
problemas já então detectados, foi desencadeada uma reformaadministrativa cujo embasamento legal foi o Decreto-Lei nº 200 de 25 de
fevereiro de 1967, o qual introduziu na administração pública brasileira,
novos conceitos e instrumentos de planejamento, orçamento-programa,
controle orçamentário, além da separação das atividades da administração
direta daquela denominada de administração indireta. Foram
regulamentadas as autarquias, as sociedades de economia mista e foram
criadas várias empresas estatais (Portobras, Telebras, Siderbras, etc) etambém Fundações de Direito Público (FUNABEM, MOBRAL, etc) instituídas
com a expectativa de mudança na gestão pública com aumento da eficiência
e tendo maior agilidade, representando um salto de qualidade na
Administração Pública.
Ainda nesse período, foi criado o Ministério Extraordinário para a
Desburocratização, que elaborou um ambicioso e detalhado Plano de
Reforma Administrativa e Desburocratização, conforme Beltrão (1984), o
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qual diante da enorme resistência que teve que enfrentar, inclusive de
setores do próprio governo da época, nunca foi implementado. De acordo
com Pereira (2001a) a reforma administrativa do regime militar de 1967 foi
apenas um início de descentralização e desburocratização que acabou
sendo revertida com o passar dos anos.
No final da década de 70, em conseqüência dos dois choques do
petróleo (1973 e 1978) tem início uma grande crise econômica de caráter
global que encerrará um período de crescimento econômico que se
estendeu por mais de 30 anos e que ficou conhecido como ―anos dourados‖.
Alguns países, notadamente os de governo social-democrata,
principalmente europeus, desde 1945, no período chamado pós-guerra,vinham construindo o denominado Estado de Bem Estar Social (Welfare
State), cujos modelos mais avançados eram os da Suécia e Grã-Bretanha,
nos quais o papel do Estado compreendia a cobertura universal gratuita aos
cidadãos naturais, dos serviços sociais considerados básicos, como
educação fundamental, previdência e seguro social, assistência social e
saúde. Nos países da Europa Mediterrânea e mais especificamente na
Península Ibérica, esse estado de bem estar social foi de implantação maistardia ocorrendo com a chegada ao poder dos partidos Sociais Democratas,
Socialistas e seus aliados, após as quedas das ditaduras franquista e
portuguesa.
Abrucio (1997) aponta quatro fatores sócio-econômicos como
determinantes no desencadeamento da crise dos Estados montados no
período denominado pós-guerra. Primeiro, a crise no crescimento econômico
resultante do choque do petróleo. Em segundo lugar, a crise fiscal comgastos governamentais superando a arrecadação de tributos. Em terceiro a
ingovernabilidade desse Estado diante das demandas excessivas e
crescentes e os recursos escassos, e por último a globalização e o
enfraquecimento dos governos nacionais para controlar fluxos financeiros e
de capitais, o que resultou na perda da capacidade do Estado em controlar
muitas das variáveis macroeconômicas.
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No final dos anos 80 emergiram mudanças sociais impensáveis
poucos anos antes. Aumento brutal no fluxo de informações desencadeado
pela revolução da informática e das telecomunicações, principalmente pelo
advento da INTERNET e algumas novidades surgiram no campo político-
social como a multiplicação das Organizações Não Governamentais (ONG).
No Ocidente a democracia tornou-se valor universal e a queda do
Muro de Berlim em 1989, emblemática, acelerou o desmonte das economias
centralmente planificadas e baseadas na propriedade estatal dos meios de
produção. Por seu turno, os países baseados na economia de mercado,
também estavam mergulhados em crise profunda, com desemprego,
ataques especulativos, inflação e violência urbana. Imunes perante essacrise, somente os chamados tigres asiáticos, alguns países do sudeste da
Ásia, que mesmo nesse ambiente turbulento cresciam em ritmo acelerado. A
República Popular da China, que em 1984 sob a liderança de Deng Xiao
Ping4 iniciara um ambicioso programa de reformas econômicas tidas como
heterodoxas, começava um ciclo de crescimento econômico.
Na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, agora
Federação Russa, o desmonte dessa união nacional e reconstrução dosnovos estados nacionais passou pela fragmentação do estado soviético e
um processo de privatização dos meios de produção sem precedentes na
história. Diante desse novo rearranjo geopolítico econômico mundial, a
questão da reforma do Estado tornou-se tema presente em todos os países.
Conforme Morales (1998, p.120)
―a crise do Estado Social dos anos 80 foienfrentada com algumas medidas que rapidamente
adquiriram consenso geral. Ajuste fiscal e reformatributária, abertura comercial e privatização de algunssetores da economia foram providencias observadasem quase todos os paises. Porém na hora da definiçãodas características do novo Estado, uma grandedivisão se estabeleceu. De um lado propostasconservadoras, designadas genericamente como neo-liberais, propunham o estado mínimo, admitindopolíticas sociais focalizadas aos grupos mais carentese vulneráveis da sociedade. Do outro lado alinharam-
4 Não importa a cor do gato, o importante é que ele pegue os ratos.
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se os defensores das propostas de reforma do Estado,sem abrir mão dos direitos sociais e bensconsiderados públicos, enfatizando nessa reforma,aspectos gerenciais e a ampliação das funções deregulação e financiamento‖.
Formava-se na opinião pública uma corrente de pensamento que se
tornou majoritária, no sentido de apontar o aparelho e a burocracia de
Estado como um modelo dispendioso e ultrapassado, para os consumidores
(usuários) que não estavam dispostos a pagar mais impostos e taxas para
cobrir o déficit fiscal. Tal situação foi determinante para a vitória dos
Conservadores na Grã-Bretanha em 1979 e dos Republicanos nos Estados
Unidos em 1980.Os grupamentos políticos mais conservadores insistem em sua
cruzada de críticas referentes ao papel do Estado na economia. Esse
movimento teve forte repercussão nos EUA, encontrando apoio e
sustentação no governo Reagan. Em meados dos anos 80 no Governo de
Margareth Thatcher na Inglaterra, aprofundaram-se as discussões sobre a
quantidade e qualidade dos serviços públicos ofertados aos cidadãos, o
papel da livre iniciativa, o papel e o tamanho do Estado, as funções típicas
de Estado, a privatização de setores considerados não estratégicos, as
parcerias público-privadas, o que em síntese se convencionou chamar de
―discurso neo-liberal‖. No ideário neo-liberal mercado é sinônimo de
modernidade, eficiência e eficácia, enquanto setor público é igual a antigo,
ineficiente e ineficaz.
Como conseqüência da implantação dessas políticas conservadoras
foi ampliada as privatizações de empresas estatais e de serviços fornecidos
pelo Estado. Na Inglaterra, os organismos públicos passaram por profundas
modificações sendo criadas Agências Executivas com redefinição dos
papéis dos servidores públicos. Os gastos sociais foram reduzidos com a
reestruturação dos sistemas estatais de aposentadoria e pensão, seguros
sociais e com a introdução de modelos de focalização de benefícios aos
grupos mais carentes e vulneráveis.5
5 L’EXPRESS- Edition Internationale. L’Electrochoc Anglais – p.62-65; 19mai1979.
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As políticas econômicas de Thatcher na Inglaterra e o
Reaganomics6 nos EUA, emblematicamente caracterizados pelo Estado
Mínimo, provocam grande desgaste político e descontentamento da
população o que irá desembocar na vitória eleitoral das oposições em
ambos os países.
No início dos anos 90, os Democratas nos EUA e os Trabalhistas na
Inglaterra assumem o poder com compromissos de reconstrução do
aparelho estatal, agora reduzido e incapaz de viabilizar as políticas públicas
propostas pelos novos detentores do poder e pelas quais foram eleitos. A
introdução do modelo gerencial no setor público é, entre outros motivos,
também decorrência dessa avaliação. Não se tratou, contudo, de remontar ovelho Estado do pós-guerra, mas sim de reconstruir o aparelho de estado
com base em novos paradigmas, agora configurado segundo modelos e
equipado de instrumentos gerenciais utilizados pela iniciativa privada.
A introdução desse novo modelo gerencial (―new public
management ‖) na administração pública dos Estados Unidos tem em David
Osborne, co-autor do livro ―Reiventing Government ‖ e assessor especial do
Presidente Bill Clinton, seu grande ideólogo e formulador.Na apresentação do referido livro os autores tornam explícitas suas
crenças sobre o tema, com as seguintes afirmações:
―Em primeiro lugar, acreditamosprofundamente em Governo. Não achamos queseja um mal necessário‖
―Em segundo lugar, acreditamos que asociedade civilizada não pode funcionar de modoefetivo sem um Governo efetivo, que hoje é umararidade‖;
―Em terceiro lugar, acr editamos que oproblema do Governo não está nas pessoas quetrabalham nele, mas sim nos sistemas com quetrabalham‖;
6 Política econômica de características ultra-liberais implantada pelo Presidente Ronald Reagan.
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―Em quarto lugar, acreditamos que nem oliberalismo nem o conservadorismo tradicionaltêm muita relevância para os problemasenfrentados hoje pelos governos‖;
―Finalmente, acreditamos profundamentena equidade – na igualdade de oportunidadespara todos os cidadãos‖.
(Osborne e Gaebler, 1992, p.8)
Segundo o diagnóstico desses autores, a administração clássica
weberiana não responde mais às necessidades da administração pública da
sociedade pós-industrial baseada na informação e no conhecimento.
A nova gestão público gerencial, como denominam os autores, é
componente de um mundo policêntrico, mais pragmático e menos
ideológico, focado na busca da maior eficiência, aumento da produtividade e
de melhor qualidade nos serviços públicos.
Segundo Pereira (1998) este modelo gerencial foi implantado com
maior amplitude na Grã-Bretanha e exerceu forte influência nos demais
países da Comunidade Européia, enquanto nos EUA sua implantação foi
menos profunda e mais dispersa por alguns Condados, alguns Estados e
setores da Administração Federal.
Na América Latina, organismos multilaterais como a Organização
Panamericana de Saúde (OPAS) e o Banco Mundial, tem tido papel de
destaque no apoio e fomento das reformas do aparelho de Estado com
ênfase nos setores de previdência e saúde. Em quase todos os países da
região ocorreram, ou ainda ocorrem, reformas administrativas ou reformasde Estado. A maior parte dos processos no setor saúde que desde os anos
90 está se desenvolvendo na América Latina, declara que seus propósitos
são melhorar um ou vários dos seguintes aspectos de seu sistema de saúde:
efetividade, equidade, eficiência, qualidade, participação social e
sustentabilidade (OPAS, 2004; p.52-53).
No Brasil, o Congresso Constituinte de 1988 retomou os controles
centralizados pela administração direta e reforçou aspectos hierárquicos,
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centralizadores e burocráticos e a autonomia das empresas estatais ficou
bastante reduzida. Para Pereira (2001a, p.249) ―os constituintes de 1988 não
perceberam a crise fiscal, muito menos a crise do aparelho de Estado‖.
A nova Constituição Federal, no que se refere à gestão do
funcionalismo público civil, introduziu uma série de vantagens e benefícios,
que se por um lado corrigiam injustiças e iniqüidades, por outro engessavam
a gestão de recursos humanos no aparelho de Estado em todos os níveis e
em todos os Poderes. Tal situação fica patente quando se observa o artigo
39 da Constituição Federal tal como aprovado em 1988:
Art. 39. A União, os Estados, o DistritoFederal e os Municípios instituirão, no âmbito desua competência, regime jurídico único e planosde carreira para os servidores da administraçãopública direta, das autarquias e das fundaçõespúblicas.
§ 1º. A lei assegurará, aos servidores daadministração direta, isonomia de vencimentospara cargos de atribuições iguais ouassemelhados do mesmo Poder ou entre
servidores dos Poderes Executivo, Legislativo eJudiciário, ressalvadas as vantagens de caráterindividual e as relativas à natureza ou ao local detrabalho.7
Os governos que se sucederam, sob a égide da Constituição de
1988, também fizeram da reforma do Estado a sua bandeira. Assim foi com
Collor de Mello e Itamar Franco. Eleito, Fernando Henrique Cardoso em seu
programa de governo apresentou uma ampla e estruturada proposta de
reforma administrativa dos órgãos do Poder Executivo o PDRAE, conduzido
pelo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado – MARE.
Dentre os objetivos técnico-gerenciais que nortearam a elaboração
do projeto de lei e a promulgação da Lei nº 9637 de 15 de maio de 1998,
que dispõe sobre a qualificação de entidades como Organizações Sociais e
cria o Programa Nacional de Publicização destacam-se:
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1.4. A REFORMA DO ESTADO E O SETOR SAÚDE
Como repercussão dessa nova orientação política nos países
centrais, e principalmente por estarem sentindo os efeitos da crise fiscal, da
queda no ritmo do crescimento econômico e a demanda crescente por
serviços públicos diante de um Estado cada vez mais sem recursos para
atendê-la, os países da América Latina também foram obrigados a dar início
aos seus processos de reforma do Estado. Os sistemas sociais e
principalmente os de saúde da América Latina, em particular o do Brasil
sofreram os impactos do avanço das políticas neo-liberais ( Cordeiro, 2001).O primeiro sistema previdenciário no Brasil foi estabelecido em 1923
com a Lei Eloy Chaves que instituiu a caixa de aposentadoria e pensão para
os trabalhadores ferroviários. A partir de então as outras categorias
profissionais foram estabelecendo seus institutos de aposentadoria e
pensão, a maioria dos quais passou a fornecer também algum nível de
assistência médica. Esses institutos de previdência das várias categorias
profissionais urbanas foram unificados e centralizados em 1966, com oDecreto nº 72, que criou o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). A
extensão parcial dos benefícios previdenciários ao trabalhador da zona rural
é posterior e vem com a criação do Fundo de Assistência ao Trabalhador
Rural (FUNRURAL) em 1970.
Enquanto nos países centrais foram tomadas medidas
racionalizadoras e de redução dos custos nos programas sociais,
caracterizadas por ampla cobertura, no Brasil a montagem dos sistemas de
proteção social, dignos dessa denominação, inclusive o SUS, datavam de
1988 com a nova Constituição. Conforme Santos (2006; p. 2) ―no Brasil a
crise do Estado surgiu nos anos 90 e não foi a do Estado-Previdência
porque ele nunca chegou a existir‖.
Segundo Tanaka e Melo (2002, p.11),
―a crise dos sistemas de saúde é umasituação reconhecida e vivenciada em todo o
mundo, inclusive no Brasil. A experiência
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internacional tem tentado demonstrar que aineficiência no desempenho dos sistemas desaúde é dada quase que exclusivamente pelairracionalidade econômica e gerencial. Esquece
portanto o componente político do processo dedecisão e implementação das políticas públicas‖.
Observando-se esse processo de reformas na América Latina,
percebe-se uma grande diversidade de modelos, propostas e graus de
implementação, nos vários Sistemas de Proteção Social e nos de Saúde. E
feita avaliação, existem poucas provas que respaldem que as reformas
tenham contribuído para melhorar substancialmente a efetividade global, a
qualidade, a equidade, a eficiência e a sustentabilidade financeira de médio
e longo prazo (OPAS, 2004; p.57).
Na Suécia, a reforma do sistema de saúde por meio de uma
estratégia de ―competição pública‖ conferiu autonomia aos hospitais,
transformando-os em empresas públicas. Isso fez com que os hospitais
suecos passassem a concorrer entre si na atração de novos clientes. Criou-
se uma situação de ―quase mercado‖ (Piola et al., 2000, p.19).
Na França, com a Lei Hospitalar de 1991, os hospitais estatais
passaram a ter maior autonomia gerencial, principalmente nas áreas de
gestão de pessoal e de compras, podendo inclusive associar-se com
parceiros públicos ou privados, e ainda, podendo definir sua organização
interna para o trabalho e sua estrutura organizacional. Cada hospital passou
a ter autonomia para definir sua organização assistencial incentivando a
busca de novos modelos (... à época...) assistenciais tais como: hospital-dia,
hospitalização domiciliar e cirurgia ambulatorial. Foi introduzido um novo
processo de contratualização entre a Previdência Social e as entidades
hospitalares públicas e privadas.
O controle do Estado sobre os hospitais públicos está presente na
elaboração dos planos estratégico, de atividades e orçamentário do hospital,
principalmente no acompanhamento dos mesmos. Embora não tenha a
denominação de contrato de gestão, o controle que o governo francês
executa por meio desses planos reproduz as mesmas intenções e
características dos contratos com as OSS aqui em São Paulo. A Lei de 1991
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acabou com a separação entre os dois sistemas hospitalares, público e
privado, submetendo-os as mesmas regras da organização sanitária.
Passaram a vigorar regras únicas e um mesmo regime para autorização de
abertura de novos hospitais e de novos serviços, ou ainda a ampliação de
leitos ou aquisição de equipamentos de porte. A referida lei instaurou um
processo de avaliação sistemática da qualidade dos serviços ofertados e a
implantação de modelos mais refinados de apuração de custos hospitalares
por patologia (Castelar et al., 1995).
Uma característica importante do sistema de saúde francês é a livre
escolha do estabelecimento hospitalar por parte do usuário, resultando neste
caso num modelo híbrido que contém princípios liberais combinados comfinanciamento socializado.
A Grã-Bretanha, onde historicamente as universidades e os
hospitais sempre foram estatais, estimulou a criação de alguns serviços
privados e outros comunitários não estatais e os operadores do sistema de
saúde podem adquirir serviços hospitalares dos hospitais públicos, dos
comunitários ou dos hospitais privados, que passaram a competir pelo
financiamento exclusivamente público.Na Itália, a reforma sanitária de 1978 colocou o país no padrão
europeu de políticas sociais garantindo aos cidadãos o acesso universal, a
gratuidade e a integralidade da assistência à saúde. O ―Servizio Sanitário
Nacionale‖ passou a ser constituído pela articulação dos sub-sistemas de
saúde regionais, com ênfase na gestão municipal ou regionalizada dos
serviços de saúde, porém garantindo níveis uniformes de assistência e
buscando a eficiência no uso dos recursos. A reforma sanitária de 1978instituiu também o modelo único de Unidade Local de Saúde (ULS), a
territorialização e o domicílio sanitário.
No início dos anos 90, o sistema italiano entrou em crise de
financiamento e de gestão. Em algumas localidades ficou evidente a
ineficiência da gestão municipal, caracterizada pela baixa qualidade dos
serviços prestados, déficit financeiro crescente e pouca capacidade de
inovação e de flexibilidade para responder as mudanças tecnológicas.
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Com a intenção de garantir a estabilidade econômico-financeira do
sistema, aumentar a qualidade dos serviços prestados e ampliar o nível de
satisfação dos usuários, em 1992 foram implantadas importantes
modificações no sistema de saúde italiano, o que ficou conhecida como ―a
reforma da reforma sanitária‖ (Tasca, 2002). Resultaram dessa
reformulação, a criação de empresas públicas para a gestão de regiões de
saúde, as Aziende Sanitarie Locale (ASL), e de empresas de personalidade
jurídica pública com autonomia empresarial para a gestão de hospitais de
relevância nacional, ou inter-regional ou ainda, de alta complexidade ou grau
de especialização, chamadas de Aziende Ospedaliere (AO).
Como medida geral desse novo modelo estimulou-se a competiçãocolaborativa entre hospitais públicos e a rede conveniada, e a livre escolha
pelo cidadão do acesso a determinados tipos de serviços. Como
instrumentos dessa nova formatação, foram introduzidos:
a contratualização das relações entre a ASL e AO e os prestadores
de serviços públicos e privados;
a acreditação dos prestadores de serviços como instrumento de
avaliação e incentivo à melhoria da qualidade.Para a gestão da ASL foram destacadas três características inovadoras:
Introdução de instrumentos gerenciais típicos da gestão privada;
Transparência nos orçamentos e gastos;
Autonomia administrativa e responsabilização dos dirigentes.
Ao final de 1999, considerando-se as mudanças do perfil
demográfico e epidemiológico do país, as desigualdades regionais e a
necessidade de se preservar as conquistas da reforma sanitária, entre elas auniversalidade da atenção e a centralidade do usuário, foram introduzidos os
seguintes mecanismos:
Envolvimento das municipalidades;
Ênfase na atenção básica e nos médicos de família;
Montagem de redes de referência e contra-referência;
Criação de um fundo de solidariedade para cobrir os déficits
financeiros das regiões menos desenvolvidas.
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Na Espanha, na Região da Catalunha, o impacto da reforma do
Estado nos serviços de saúde propiciou a criação de um modelo de gestão
bem diferente do até então praticado.
Em 1991, entrou em funcionamento o Servei Catalá de la Salut — o
Serviço Catalão de Saúde (SCS) que resultou de uma ampla reformulação,
envolvendo desde os órgãos centrais da Administração Sanitária como
também todos os centros da rede sanitária pública. Essa reforma tinha como
eixo a separação das funções de financiamento e provisão de serviços, e a
adoção progressiva de novas fórmulas de gestão empresarial no sistema de
saúde marcaram essa nova fase na organização sanitária da Catalunha.
Como elemento fundamental dessa reforma, partindo da otimizaçãodos recursos, o SCS definiu objetivos em três direções prioritárias;
Promoção da saúde e a prevenção da enfermidade;
Eqüidade, a qualidade e a eficiência dos serviços sanitários;
Aumento da satisfação dos usuários.
O SCS divide-se territorialmente em regiões e setores sanitários,
tanto para o planejamento e fixação de políticas territoriais, como para a
gestão, tendo por finalidade o estabelecimento de um sistema de saúdebaseado na coordenação dos recursos existentes permitindo uma maior e
mais eficaz atenção à saúde dos cidadãos.
É importante destacar que o sistema de saúde da Catalunha faz
uma clara distinção entre o financiamento e a provisão de serviços. A
provisão de serviços está aberta a instituições públicas e privadas
detentoras de uma oferta adequada. O financiamento e a contratação, ao
contrário, são funções exclusivas do SCS, que atua em nome de todos osclientes da saúde pública (Husenman e Sullà,1997).
Desse modo, o Governo Catalão passa a ser a principal fonte de
financiamento dos serviços, porém progressivamente vai deixando a
condição de prestador desses serviços, os quais são contratados de
terceiros. Os hospitais, rede de unidades sanitárias e rede de serviços
passam a ser gerenciados por organizações não governamentais mediante
contratos de gestão. Paralelamente foi criado um modelo autônomo de
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auditoria por terceira parte, denominado de Acreditação Hospitalar, para
avaliação da qualidade da assistência médico-hospitalar prestada aos
usuários.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) é uma das poucas
unanimidades nacionais. Não existe partido político ou grupamento social
que proponha sua extinção. Seu principal enfrentamento veio de uma
proposta demagógica, que foi a implantação do Plano de Assistência a
Saúde (PAS) durante a Gestão do Prefeito Paulo Maluf na cidade de São
Paulo no final de 1995 e início de 1996.
Lançado as vésperas de uma eleição, o PAS, que foi apresentado
como algo inovador, acenava para a população mais carente como ummodelo de atendimento de características similares aos planos de saúde
privados, inclusive com a emissão da cobiçadas carteirinhas plásticas.
Para a implantação do PAS a cidade foi dividida em várias sub-
regiões (módulos) e os equipamentos de saúde municipais e os respectivos
funcionários foram colocados à disposição de uma cooperativa que fazia a
gestão dos serviços de saúde da área de abrangência, chamado de módulo.
Ao contrário do antigo modelo INAMPS de pós-pagamento, indutor defraudes e procedimentos desnecessários, o modelo PAS adotava uma lógica
inversa, a de securitização, caracterizada pelo pré-pagamento que a
Prefeitura fazia mensalmente para as Cooperativas, baseado em um
determinado valor per-capita.
Passada a eleição, o PAS mostrou-se eficaz eleitoralmente, porém
em poucos meses, revelou-se um modelo de gestão da saúde pública
inadequado, ineficiente e vulnerável a toda sorte de fraudes
8
. A maximizaçãodos ganhos estava na existência de cadastramento de pacientes
inexistentes e na sonegação de procedimentos, pelo lado assistencial. No
aspecto gerencial as contratações de serviços terceirizados por preços
incompatíveis, alugueres acima do valor de mercado, além de compras
superfaturadas, conforme se apurou com o tempo. No entendimento de
8 Conforme relatório da CPI do PAS na Câmara Municipal de São Paulo.
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Abreu Filho (2002), o PAS sustentava-se na proposta de que quanto menos
se gastava com o paciente, mais a cooperativa lucrava, pois os valores
pagos eram fixados por paciente cadastrado (per-capita) e não por
procedimentos realizados. Por conta dessa escolha, a cidade de São Paulo,
durante o período de funcionamento do PAS, não foi enquadrada em
nenhum pleito de gestão junto ao SUS conforme a NOB 019, deixando de
receber repasses de recursos federais e estaduais para a área da saúde.
O fracasso do PAS e a desorganização do sistema de saúde na
cidade de São Paulo deixaram poucas alternativas. A rigor, apenas duas:
retornar ao antigo modelo desacreditado ou buscar novas alternativas de
gestão dos serviços de saúde.O governo municipal que sucedeu, quando da remontagem da
Secretaria Municipal de Saúde, para compor as estruturas hospitalares e de
pronto-socorro, optou pela implantação de cinco Autarquias Especiais, cada
uma delas com jurisdição sobre uma das reg